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LingüísticaInterfaces Externas e Internas
JORGE CAMPOS / PUCRS
Lógica, Cognição e Comunicação Inferência Lógica: Numa ilha, ou uma
pessoa é verdadeira e sempre diz a verdade, ou é falsa e sempre mente.
Um estrangeiro pergunta a A. Quem és? A fala baixo demais e B diz: A disse que ele
é um falso. C diz, então, B está mentindo. Infira quem são A, B e C
Lógica, Cognição e Comunicação Na ilha, existem só duas pessoas, sendo
uma verdadeira e uma falsa. A diz, com olhar malandro: pelo menos um de nós é falso
Quem são A e B? A diz: eu sou um falso, ou B é verdadeiro
Quem são A e B?
Lógica, Cognição e Comunicação Inferência lógico-formal
Princípios: Identidade A=A
Não-contradição – (A ^ - A)
Terceiro Excluído A V – A
P -> Q, P, I- Q 1 P-> Q S
2 P S
3 Q 1 e 2 Modus Ponens
Lógica, Cognição e Comunicação Inferência Lógico-cognitiva
Se isto é uma flor, então é uma rosa
é uma rosa
-----------------------------------------------------
é uma flor
a forma lógica é inválida, e o conteúdo parece validar o argumento
Lógica, Cognição e Comunicação Inferência Lógico-cognitiva
o conteúdo envolve conhecimento de mundo estocado na memória. Testadas, pessoas considerariam o argumento válido.
Um experimento poderia mostrar que as pessoas não raciocinam por regras, mas pelo conteúdo.
Lógica, Cognição e Comunicação Inferência Lógico-comunicativa
A e B dialogam no contexto político atual
A: o que você acha de Lula?
B: bem, sua mãe nasceu ignorante
A: e sobre o mensalão?
B: não sei nada
Cognição, Relevância e Interface
Semântica/PragmáticaJorge Campos / PUCRS
Teoria da Relevância / Motivação Diálogo entre A e B (que carrega um livro) A - Você já leu Kant ? B - Estou com ele aqui B entende que A se refere à obra de Kant A entende a proposição que B afirmou A entende que B quis dizer que leu Kant A vê o livro nas mãos de B A entende que B tem familiaridade com a CRPura Significado da sentença X Significado do falante
Fundamentos da TR / Sperber&Wilson
Princípio Cognitivo da Relevância
A Cognição humana é dirigida para a maximização da relevância
Princípio Comunicativo da Relevância
Cada estímulo ostensivo carrega a presunção de relevância ótima
Fundamentos da TR Relevância – propriedade de um input –
enunciados, pensamentos, memórias, conclusão de inferências...(para um indivíduo)
Relação efeito-esforço Quanto maior o efeito cognitivo positivo, maior a
relevância Quanto maior o esforço de processamento,
menor a relevância
Fundamentos da TR Comunicação Ostensivo-inferencial Intenção Informativa - intenção de informar
algo a uma audiência Intenção Comunicativa – intenção de ter
sua intenção informativa reconhecida Deve haver manifestabilidade mútua Raciocínio prático / inferência não-trivial
A Teoria da Relevância TR como Psicologia Cognitiva
Cognição - decodificação e inferenciação
Modularidade e Sistemas Centrais
Chomsky, Fodor e Sperber
Teoria da Relevância e Ilustração Diálogo : A - João devolveu o seu livro?
B - Ele foi viajar
Explicatura / João foi viajar nesse momento
Implicatura forte / não devolveu o livro
Implicatura fraca / devolverá quando voltar
Teoria da Relevância: Ilustração Maria é alérgica a frango / Contexto Diálogo com o garçon que diz:
A) O prato do dia tem carne
B) O prato do dia tem frango
C) O prato do dia tem frango e outras coisas
Relevância : mais benefício, menor custo
Teoria da Relevância / Ilustração Contexto: Maria e João encontram-se no
bar e João está interessado nela, embora já a tenha visto acompanhada no cinema.
J: morar sozinha é bom para estudar, não? M: para mim, não faz diferença J: e ele te dá força M: meu amigo, sim
Teoria da Relevância / Ilustração Ilustrando o impacto de inferências / emoções de aula
Aumentando o conhecimento Contexto (C) João e Maria caminham pelo corredor da
Universidade. Diz ela: 307? - Sim, diz ele, que infere que ela é estudante de Semântica. Estou começando a pós, acrescenta ela, e ele infere que ela é mestranda. Ela conclui que ele é colega dela, mas não sabe, ainda, qual o nível dele.
Teoria da Relevância / Ilustração Fortalecendo suposições Contexto: João acha Maria interessante e
supõe que ela o tenha achado atraente. Na sala ela procura um lugar ao lado dele. João fortalece sua suposição. Ele supõe que ela não tenha namorado. Ela diz que passou o fim de semana estudando. Ele fortalece a segunda suposição.
Teoria da Relevância / Ilustração Enfraquecendo suposições Na semana seguinte, João nota que Maria
senta ao lado de John, um americano que, na primeira aula, fez observações inteligentes e bem humoradas. João infere que ele talvez não seja tão atraente para ela como pensava, enfraquecendo sua suposição anterior. Mas ainda está em dúvida.
Teoria da Relevância / Ilustração Eliminando suposições Maria comenta com John que João é um
chato ao perguntar ao professor qual a utilidade prática da Semântica. João ouve parcialmente, mas infere o resto pela expressão de Maria, falando ao ouvido de John. João elimina a suposição de que ela o ache atraente.
Teoria da Relevância / Ilustração Gerando dúvida / desfazendo dúvida Anny, comenta com João que Maria age
assim para provocar ciúme nele. João gera dúvida e pesa as duas possibilidades. Na saída, entretanto, nota que Maria pega carona no carro de John, um conversível importado, beijando-o carinhosamente. É demais. João desfaz a dúvida
Teoria da Relevância / Ilustração Cadeias inferenciais Dado tal contexto, João infere que Maria:
valoriza John, americano, rico e inteligente
não irá mudar seu sentimento
é oportunista
representa um tipo de mulher superficial
deve ser esquecida
Teoria da Relevância / Ilustração Impacto das emoções sobre as inferências João continua envolvido emocionalmente com
Maria e infere que ela é infantil, quer aparecer, e, ainda, é atraída por um egocêntrico. Mas como sofre por ela, infere que gosta dela ainda. Presta atenção em suas bobagens, acompanha cada gesto seu e não consegue se envolver com a aula. Pior de tudo, ela o ignora cada vez mais.
João está dividido, quer deixar de pensar nela, mas não quer deixar de pensar nela.
Teoria da Relevância / Ilustração Linguagem e inferência Finalmente, Maria diz a João que John é o
homem da vida dela. Dada a forma como ela o diz, João infere que ela quer que ele saiba que não terá mais qualquer chance. Os indícios se transformaram em ditos, em fatos, fim. Mas João parece magnetizado por ela e confessa: ainda estou apaixonado por ti e quero que saibas disso.
Se algum dia mudares, estarei por perto. Maria diz arrogante, azar é teu.
TR - Exemplos Cruciais
A verdade das conclusões mais crucial do que a verdade das premissas.
Maria ao telefone: Amanhã à mesma hora
João supõe corretamente que ela fala com um homem e conclui erradamente que é seu amante
TR - Exemplos Cruciais Maria ao telefone: Amanhã à mesma horaJoão supõe erradamente que é um homem E conclui corretamente que é seu amante SW dizem que a primeira suposição
parecia apenas relevante, mas não o era. A segunda suposição era falsa, mas foi relevante. Input relevante depende do output
TR - Exemplos Cruciais Custo-benefício: Maria quer compartilhar
uma das três afirmações com João:- a) eu estarei fora de casa das 4h às 6h- b) eu estarei na casa de Cris das 4h às 6h- c) estarei na casa de Cris em reunião das
4h às 6h : SW argumentam que ela dependerá na escolha do que ela julga relevante para João
TR – Exemplos Cruciais
Explicaturas, implicaturas e atos de fala
João:Você me devolverá o dinheiro na terça?
Maria: Devolverei o dinheiro até lá.
Explicatura de ordem mais alta: João pergunta à Maria se ela devolverá o dinheiro até terça. Explicatura básica. Maria devolverá o dinheiro até terça.
TR – Exemplos Cruciais Explicaturas de ordem mais alta
a) Maria promete devolver o dinheiro na terça
b) Maria acredita devolver o dinheiro na terça
TR – Exemplos Cruciais Metáforas, Hipérboles e Ironias
João: o que você acha da aula do Jorge?
Maria: me faz dormir
João: foi uma aula fantástica.
Maria: (alegremente) fantástica.
(de forma incerta) fantástica?
(desdenhosamente) fantástica!
TR – Exemplos Cruciais
TR, Grice e Implicaturas
João: Onde mora Vera?
Maria: em algum lugar de Poa
Implicaturas: Maria não sabe onde ela mora /
Maria está relutante em dizer
TR Exemplos Cruciais
Relevância comparativa
Contexto:
Pessoas que vão-se casar deviam consultar o médico
Se ambas as pessoas têm Talassemia deviam ser aconselhadas a não casar
Susana tem Talassemia
TR/ Exemplos Cruciais
A Susana, que tem Talassemia, vai se casar com Guilherme
O Guilherme, que tem Talassemia, vai-se casar com Susana
Implicação contextual: Ela e ele deveriam consultar o médico sobre os riscos para os filhos
TR/Exemplos CruciaisImplicação contextual adicionalSusana e Guilherme deviam ser
aconselhados a não ter filhosComparação pelo processamento:O Guilherme, que tem Talassemia, vai-se
casar com SusanaO Guilherme, que tem Talassemia, vai-se
casar com Susana, e o Brasil progride
TR/Exemplos cruciaisEfeitos contextuais diversos
Pedro é mais rico que Maria(certa)
Samuel é mais rico que Guilherme(certa)
Guilherme é mais rico que Jaime(certa)
Jaime é mais rico que Carlos(certa)
Samuel é mais rico que Susana(forte)
Susana é mais rica que Jaime(muito fraca)
Susana é mais rica que Carlos(forte)
TR/Exemplos cruciais
Susana é mais rica que Jaime
Susana é mais rica que Pedro
A primeira tem dois efeitos contextuais
A segunda tem cinco efeitos contextuais
Implica Susana é mais rica que Samuel e mais rica que Guilherme
Interface Semântica - Pragmática
Wittgenstein, Austin, Searle, Strawson Grice, ...
Filosofia da Linguagem- Filosofia da Mente Significado da sentença - do falante Proposição complementada pela atribuição
da referência e desambiguação
Interface Semântica-Pragmática Grice (75) O dito e o implicado A Semântica - a proposição, o dito A Pragmática - o enunciado, o implicado Sperber&Wilson(86/95) – decodificado e
inferido A Semântica - proposição indeterminada Pragmática - inferências complementares
Interface Semântica - Pragmática Recanati(2004) – Sperber&Wilson(2005) Duas concepções de Interface: Pragmática complementar - Literalismo Pragmática constitutiva – Contextualismo Últimos trinta anos direção contextualista
Interface Semântica - Pragmática Contexto dialógico de dois irmãos A e B
A - Estava em casa e não tinha o que comer
B - Eu fui a um restaurante aqui perto
Explicatura - Eu para B, perto da casa, hoje
Implicatura forte - comi
Implicatura fraca - A pode ir ao restaurante
Interface Semântica - Pragmática Problemas:
Proposição totalmente indeterminada Semântica enfraquecida Pragmática Radical (tudo é Pragmática) TR - Relevância controla a interface TR - Inferência no explícito e implícito
Interface Semântica - Pragmática Problemas:
Proliferação de informações contextuais Ajustamento infinito Noção trivial de contexto Léxico, sentença e proposição vagos, Interface problemática com a Lingüística
Teoria das Interfaces Externas e Internas
Interfaces Externas:- Ciências Naturais, Formais e Sociais Interfaces Internas:- Lingüística – Fonologia, Morfologia,
Lexicologia, Sintaxe, Semântica e Pragmática
Teoria das Interfaces Externas e Internas
Lingüística e Ciência Formal: Montague / Semântica Formal (livre-de-contexto) Pragmática Formal Lingüística e Ciência Natural: Chomsky / Semântica Cognitiva e Pragmática Cognitiva
(cérebro/mente) Lingüística e Ciência Social: Saussure / Semântica e Pragmática sócio-comunicativas
Considerações ConclusivasTR e Interface Semântica / Pragmática
Comunicação / Cognição / Ciências Sociais
Tensão descritivo-explanatória problemática
Noção de Relevância – risco de trivialização
Formalização problemática
Dificuldades de investigação experimental
Riqueza analítica – comunicação dialógica
Bibliografia Básica : Sperber&Wilson (86/95) Relevance Theory Carston(99) The Semantics/Pragmatics
Distinction- a View From Relevance Theory Costa(2004) Os Enigmas do Nome Campos(2007) Ciências da Linguagem
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