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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO
INSTITUTO DE ECONOMIA - IE
Relatrio Tcnico Final
Projeto: Medindo o Grau de Averso
Desigualdade da Populao Brasileira Atravs dos
Resultados do Bolsa-Famlia
Convnio FINEP 01.06.1064.00
Rio de Janeiro, 19 de dezembro de 2012
COORDENAO GERAL
Lena Lavinas (IE-UFRJ)
PESQUISADORES SENIORS
Brbara Cobo (IE-UFRJ)
Alinne Veiga (UERJ)
Fbio Waltenberg (UFF)
ASSISTNCIA GESTO
Juliana Fajardo
DOUTORANDA
Yasmn Salazar (UFF)
MESTRANDA
Thais Babosa (IE-UFRJ)
ESTAGIRIA
Tatiana Ferro (IE-UFRJ)
APOIO
Max Hubert Merlone (IE-UFRJ)
Carolina Guimares (IE-UFRJ)
Lista de Figuras
Figura 1 Carto para Auxlio na Coleta dos Dados ................................................ 30
Figura 2 Mtodo utilizado para clculo e alocao probabilstica das unidades amostrais ................................................................................................................... 33
Figura 3 Coleta de Dados....................................................................................... 37
Figura 4 Sntese esquemtica dos determinantes do apoio redistribuio ......... 85
Lista de grficos
Grfico 1 Evoluo dos Rendimentos do Trabalho 2001-2011 .............................. 15
Grfico 2 Taxa de desocupao de 10 anos ou mais idade por sexo .................... 17
Grfico 3 Distribuio das pessoas de 10 anos ou mais por categoria de emprego .................................................................................................................................. 17
Grfico 4 Distribuio da populao de 16 anos ou mais de idade por sexo (%) - Brasil 2012 ............................................................................................................. 42
Grfico 5 Distribuio da populao de 16 anos ou mais de idade por grupos de idade (%) Brasil - 2012 .......................................................................................... 43
Grfico 6 Distribuio da populao de 16 anos ou mais de idade por cor ou raa (%) Brasil - 2012 ..................................................................................................... 44
Grfico 7 Distribuio da populao de 16 anos ou mais de idade por religio declarada (%) Brasil - 2012 .................................................................................... 45
Grfico 8 Distribuio da populao de 16 anos ou mais de idade que declarou ter alguma religio, segundo a prtica da mesma (%) Brasil 2012 ........................... 45
Grfico 9 Distribuio da populao de 16 anos ou mais de idade por nvel de ensino concludo (%) Brasil - 2012 ......................................................................... 46
Grfico 10 Distribuio da populao de 16 anos ou mais de idade por exerccio de trabalho remunerado (%) Brasil 2012 .................................................................. 47
Grfico 11 Distribuio da populao de 16 anos ou mais de idade por posio na ocupao do trabalho principal (%) Brasil 2012 .................................................. 48
Grfico 12 Distribuio da populao de 16 anos ou mais de idade, ocupada, por classes de rendimento mensal do trabalho principal (%) Brasil 2012 .................. 49
Grfico 13 Distribuio da populao de 16 anos ou mais de idade que no exerceram trabalho remunerado na semana de referncia por principal atividade exercida (%) Brasil 2012 ..................................................................................... 49
Grfico 14 Distribuio da populao de 16 anos ou mais de idade por classes de rendimento mensal bruto familiar (%) Brasil 2012 .............................................. 51
Grfico 15 Proporo de pessoas de 16 anos ou mais de idade que contribuam para a Previdncia Social pblica, que recebiam rendimentos de aposentadoria ou penso ou eram beneficirias de programas de transferncia de renda (%) Brasil 2012 .......................................................................................................................... 51
Grfico 16 Distribuio percentual das pessoas de 16 anos ou mais de idade por grau de satisfao com a vida, segundo o sexo (%) Brasil 2012 ........................ 52
Grfico 17 Distribuio percentual das pessoas de 16 anos ou mais de idade pela maneira que percebiam a situao da sua famlia, segundo o sexo (%) Brasil 2012 .......................................................................................................................... 54
Grfico 18 Distribuio percentual das pessoas de 16 anos ou mais de idade por grau de concordncia com a afirmao "tem gente que permanece pobre principalmente porque no tem oportunidades na vida", segundo o sexo (%) Brasil
2012 ....................................................................................................................... 56
Grfico 19 Distribuio percentual das pessoas de 16 anos ou mais de idade por grau de concordncia com as afirmativas de apoio polticas de carter redistributivo e papel ativo do Estado na redistribuio (%) Brasil 2012 ............. 58
Grfico 20 Distribuio percentual das pessoas de 16 anos ou mais de idade por grau de concordncia com as afirmativas de apoio polticas de carter redistributivo e papel ativo do Estado na redistribuio com foco nos programas e polticas sociais em vigor (%) Brasil 2012 ........................................................... 64
Grfico 21 Distribuio percentual das pessoas de 16 anos ou mais de idade por grau de concordncia com as afirmativas de apoio polticas de carter redistributivo e papel ativo do Estado na redistribuio (outras opinies) (%) Brasil
2012 ....................................................................................................................... 67
Grfico 22 Distribuio percentual das pessoas de 16 anos ou mais de idade por grau de concordncia com as afirmativas quanto definio do salrio (%) - Brasil 2012 .......................................................................................................................... 70
Grfico 23 Distribuio percentual das pessoas de 16 anos ou mais de idade por avaliao de sua situao econmica atual Brasil 2012 ..................................... 72
Grfico 24 Efeito da Idade na mudana das probabilidades estimadas V18 .... 106
Grfico 24.1 Efeito da Idade na mudana das probabilidades estimadas V18 .. 109
Grfico 25 ndice de Apoio a medidas de combate a pobreza e desigualdade de distribuio de renda realizadas pelo Estado: Histograma suavizado ..................... 111
Grfico 26 Efeito da varivel Idade por Regio Geogrfica - Focalizao ........... 116
Grfico 27 Efeito da varivel Idade por Regio Geogrfica Progressividade .... 116
Grfico 28 ndice de apoio a polticas universalistas: Histograma suavizado....... 117
Grfico 29 Efeito da varivel V1 por Regio Geogrfica - O governo deve intervir para reduzir as desigualdades entre ricos e pobres. ............................................... 119
Grfico 30 Efeito da varivel V21 por Regio Geogrfica - Se o governo quiser, tem meios de erradicar a misria no Brasil ............................................................. 120
Grfico 31 ndice de apoio redistribuio: histograma com suavizao e curva normal sobreposta ................................................................................................... 125
Lista de Tabelas
Tabela 1 Evoluo da proporo de pobres e indigentes no Brasil 2001-2011 (percentuais, segundo origem do rendimento PNADs, renda domiciliar per capita) .................................................................................................................................. 18
Tabela 2 Evoluo da proporo de pobres e indigentes no Brasil 2001-2011 (nmeros absolutos, segundo origem do rendimento PNADs, renda domiciliar per capita) ....................................................................................................................... 19
Tabela 3 Evoluo da Parcela da Renda Nacional Apropriada por Cada Quintil da Distribuio. ............................................................................................................... 21
Tabela 4 Alocao da Amostra .............................................................................. 35
Tabela 5 Totais amostrais e populacionais, segundo sexo do respondente e estimativa do erro amostral ....................................................................................... 38
Tabela 6 Totais amostrais e populacionais, segundo grandes regies do respondente e estimativa do erro amostral .............................................................. 39
Tabela 7 Totais amostrais e populacionais, segundo faixa etria do respondente e estimativa do erro amostral ....................................................................................... 39
Tabela 8 Totais amostrais e populacionais, segundo classes de rendimento familiar do respondente e estimativa do erro amostral .......................................................... 39
Tabela 9 Totais amostrais e populacionais, segundo a escolaridade do respondente, populao estimada referente e estimativa do erro amostral .............. 40
Tabela 10 Pesos de expanso (wh) populacional por sexo, faixa de idade e regio geogrfica.................................................................................................................. 41
Tabela 11 Nmero de entrevistas realizadas nos estratos de determinao das cotas (Tamcota) ........................................................................................................ 41
Tabela 12 Populao por sexo, faixa de idade e regio geogrfica (CENSO 2010) Em milhes de habitantes (PopBr) ......................................................................... 41
Tabela 13 Distribuio percentual das pessoas de 16 anos ou mais de idade por grau de satisfao com a vida, segundo Grandes Regies, classes de rendimento familiar e nvel de escolaridade (%) 2012 .............................................................. 53
Tabela 14 Distribuio percentual das pessoas de 16 anos ou mais de idade pela maneira que viam a situao da sua famlia, segundo Grandes Regies, classes de rendimento familiar e nvel de escolaridade (%) 2012 ............................................ 55
Tabela 15 Distribuio percentual das pessoas de 16 anos ou mais de idade por grau de concordncia com a afirmao "tem gente que permanece pobre principalmente porque no tem oportunidades na vida", segundo Grandes Regies, classes de rendimento familiar e nvel de escolaridade (%) 2012 .......................... 57
Tabela 16 Distribuio percentual das pessoas de 16 anos ou mais de idade por total concordncia (escala 5) com as afirmativas de apoio polticas de carter redistributivo e papel ativo do Estado na redistribuio, segundo Grandes Regies (%) 2012 ................................................................................................................. 60
Tabela 17 Distribuio percentual das pessoas de 16 anos ou mais de idade por total concordncia (escala 5) com as afirmativas de apoio polticas de carter redistributivo e papel ativo do Estado na redistribuio, com foco nos programas e polticas sociais em vigor, segundo Grandes Regies (%) 2012 ............................ 66
Tabela 18 Distribuio percentual das pessoas de 16 anos ou mais de idade por total concordncia (escala 5) com as afirmativas de apoio polticas de carter redistributivo e papel ativo do Estado na redistribuio (outras opinies), segundo Grandes Regies (a) 2012 ..................................................................................... 69
Tabela 19 Distribuio percentual das pessoas de 16 anos ou mais de idade por total concordncia (escala 5) com as afirmativas quanto definio do salrio, segundo Grandes Regies 2012 ............................................................................ 71
Tabela 20 Distribuio percentual das pessoas de 16 anos ou mais de idade de acordo com sua percepo sobre sua situao econmica atual, segundo Grandes Regies 2012 ......................................................................................................... 73
Tabela 21 Variveis escolhidas para compor a anlise dos determinantes do apoio interveno do Estado no combate pobreza e na defesa de direitos sem condicionalidades ...................................................................................................... 97
Tabela 22 Modelagem Logit e Probit V2 ......................................................... 101
Tabela 23 Perfis com base nas probabilidades estimadas V2 ........................ 103
Tabela 24 Modelagem Logit e Probit V18 ........................................................ 104
Tabela 25 Perfis com base nas probabilidades estimadas V18 ...................... 106
Tabela 26 Perfis com base nas probabilidades estimadas V18 ...................... 108
Tabela 27 Dois Modelos para ndice de Apoio s Medidas do Estado: Focalizao e Progressividade .................................................................................................... 113
Tabela 28 Estatsticas descritivas bsicas variveis do modelo ....................... 118
Tabela 29 Variveis escolhidas para compor o ndice de apoio redistribuio (ARi) ........................................................................................................................ 122
Tabela 30 Correlao entre variveis candidatas a compor ndice de apoio redistribuio. .......................................................................................................... 123
Tabela 31 ndice de apoio redistribuio: estatsticas descritivas bsicas ....... 124
Tabela 32 Variveis explicativas binrias, discretas ou contnuas: estatsticas descritivas. .............................................................................................................. 127
Tabela 33 Variveis explicativas categricas: estatsticas descritivas. .............. 128
Tabela 34 Resultados das estimativas (Continua) ............................................. 132
Tabela 34.1 Resultados das estimativas (Continua) .......................................... 133
Tabela 34.2 Resultados das estimativas (Fim) .................................................... 135
Tabela 4.1. Modelagem Logit e Probit V2 ............................................................ 183
Tabela 4.2. Modelagem Logit e Probit V18 .......................................................... 183
Tabela 4.3. Modelagem Probit Ordenado ............................................................... 184
SUMRIO
SUMRIO-EXECUTIVO ........................................................................................... 13
INTRODUO .......................................................................................................... 12
O desafio das desigualdades no topo das agendas .................................................. 12
1. Metodologia da pesquisa ............................................................................... 28
1.1. O questionrio ................................................................................................... 28
1.2. O plano amostral ............................................................................................... 32
1.3. A coleta de dados ............................................................................................. 36
1.4. Detalhamento da amostra ................................................................................. 38
1.5. Ponderao da amostra e erros amostrais ....................................................... 40
2. Anlise Descritiva dos Resultados do Survey ................................................. 42
2.1. Universo da pesquisa ....................................................................................... 42
2.2. Grau de Satisfao com a Vida Presente - Blocos S e X ................................. 52
2.3. Tendncia a no apoiar ou apoiar redistribuio - Bloco V (V1 a V10) ............. 57
2.4. Programas Sociais - Bloco V (V11 a V22) ........................................................ 61
2.5. Outras opinies - Bloco V (V23 a V26) ............................................................. 66
2.6. Meritocracia, responsabilidades e necessidades - Bloco O (O1 a O5) ............. 69
2.7. Mobilidade social - Bloco M (M1 a M4) ............................................................. 71
3. Apoio Redistribuio: resultados do Survey brasileiro................................ 75
3.1. Introduo ......................................................................................................... 75
3.3. Diretrizes para anlise economtrica de apoio redistribuio ........................ 87
3.4. Anlise economtrica: metodologia geral ......................................................... 90
3.5. Apoio redistribuio atravs da construo de perfis socioeconmicos via estimao por probit ordenado .................................................................................. 96
3.6. Modelagem por MQO: ndice composto para o apoio s aes do Estado e defesa de poltica universais ................................................................................... 109
3.7. ndice composto de apoio redistribuio (AR) e estimao por MQO .......... 122
4. CONSIDERAES FINAIS ................................................................................ 136
ANEXOS ................................................................................................................. 141
Anexo 1: Questionrio ............................................................................................. 142
Anexo 2: Manual da Entrevista ................................................................................ 148
Anexo 3: Relatrios da Overview Pesquisa ............................................................ 158
Anexo 3.1: Relatrio de Avaliao do Preteste ...................................................... 159
Anexo 3.2: Plano Amostral ...................................................................................... 170
Anexo 3.3: Relatrio de Campo .............................................................................. 179
Anexo 4: Tabelas do Captulo 3 .............................................................................. 183
BIBLIOGRAFIA ...................................................................................................... 185
SUMRIO-EXECUTIVO
1. O survey
nacional, teve por objetivo apreender a percepo da populao brasileira adulta,
de 16 anos ou mais, sobre a recente reduo da misria, da pobreza e da
desigualdade no pas. imagem de outras pesquisas internacionais similares,
esta pesquisa tratou do tema a partir da concordncia ou discordncia com um
conjunto de valores consagrados na literatura sobre bem-estar, poltica social e
polticas pblicas em geral, como favorveis redistribuio e igualdade. Tais
valores foram estruturados em 4 grandes temas: apoio a polticas universais; ao
papel do governo no combate s desigualdades e na promoo do bem-estar;
progressividade do sistema tributrio; ao reconhecimento do direito, em caso de
necessidade, proteo de forma incondicional.
2. O questionrio contemplou um total de 54 perguntas fechadas, subdivididas em
oito mdulos que representam as dimenses tratadas pela pesquisa: i) Satisfao
com a vida; ii) Tendncia a apoiar ou no a redistribuio; iii) Programas sociais;
iv) Outras opinies; v) Pobreza e desigualdade; vi) Princpio da igualdade; vii)
Mobilidade social; e viii) Demografia e variveis de autointeresse.
3. Estudos e pesquisas internacionais na temtica de averso desigualdade
orientaram a construo do questionrio, que adotou como forma de resposta s
perguntas um gradiente variando de 1 a 5, que reflete o nvel de concordncia (
afirmao direita do questionrio) a princpios mais igualitrios, redistributivos e
universais.
Os trs nveis intermedirios traduzem graus diferenciados de adeso ou rejeio
s ideias formuladas, ou de indiferena.
4. Foram realizadas cerca de 2.200 entrevistas, sendo garantida representatividade
nacional. De acordo com o plano amostral, o processo de seleo foi realizado
em 3 estgios, envolvendo (i) seleo de 12 Unidades de Federao (UPA); (ii)
seleo de 36 municpios (USA) oriundos das UPAs selecionadas, incluindo 12
capitais; e (iii) indivduos selecionados de forma sistemtica, seguindo uma
abordagem intencional, para adequao e cobertura de uma tabela de cotas
proporcionais de sexo e quatro faixas de idade.
5. A anlise descritiva delineou o perfil do universo da pesquisa realizada e indicou
os primeiros resultados sobre as questes propostas. A populao adulta em
idade ativa era maioria (63,7% de pessoas entre 25 e 59 anos); quase 60% eram
pretas ou pardas; 44% tinham o ensino mdio completo; e 73,2% estavam
ocupadas no mercado de trabalho (42% empregados com carteira e 29,3%
autnomos). No trabalho principal, 44% percebiam rendimentos de at R$1.000
(71,1% at R$2.000) e a renda familiar bruta da maioria tambm girava em torno
desses valores (51,2% at R$2.000). O grau de insero no sistema de proteo
social era relativamente elevado, uma vez que 49,7% contribuam para
Previdncia Social oficial; 20,6% tinham rendimentos de aposentadoria ou penso
e 10,9% eram beneficirios de algum programa de transferncia de renda.
6. A anlise descritiva mostrou que as regies mais pobres do Norte e Nordeste,
com renda domiciliar per capita inferior mdia nacional, tendem a apoiar mais
medidas de carter redistributivo do que as demais, que tm renda mais alta. O
brasileiro mdio julga relevante o papel do governo na reduo das desigualdades
entre ricos e pobres e na garantia do bem-estar das pessoas, e reconhece que a
distribuio de renda, a despeito dos progressos observados, segue preocupante
no pas. Por fim, mais da metade estava absolutamente satisfeita com a vida
afirmaram que sua situao econmica no s melhorou nos anos recentes,
como mostraram-se otimistas, com expectativas muito favorveis de que ela
melhorar ainda mais nos prximos cinco anos. Os brasileiros do Norte e
Nordeste so os mais otimistas. A insatisfao aumenta medida que cai a renda
e a escolaridade.
7. As razes da pobreza dividem a populao brasileira: 23% concordaram
totalmente que as pessoas permanecem na pobreza principalmente por falta de
oportunidades, 24,4% mostraram- em
total desacordo (logo, viam a permanncia da pobreza mais por uma perspectiva
de esforo individual do que as mulheres. Mas predomina a viso de que pobreza
falta de esforo individual, viso que responsabiliza em primeiro lugar os
prprios pobres por sua condio social.
8. Da mesma maneira, a populao est francamente dividida no que tange o apoio
a um aumento do valor do benefcio do Bolsa Famlia, embora a maioria julgue
que ele baixo e por isso pouco contribui para retirar gente da pobreza (s 16%
acreditam que o Bolsa Famlia eficaz e elimina a pobreza): 42% aprovam um
aumento e outros 42%, desaprovam. Porm, 73,2% dos brasileiros adultos
defendem a manuteno do BF.
9. Posies contraditrias expressam-se: cerca de 63% dos brasileiros julgam que
educao e sade devem ser bens pblicos e universais, porm percentual
semelhante desaprova a ideia de pagar mais impostos para ter mais sade e mais
educao gratuitas e de qualidade. Em paralelo, 1/3 da populao adulta
brasileira acredita que o servio pblico deve destinar-se aos menos favorecidos
na sociedade, o que pressupe a proviso de servios em escopo e qualidade
limitados. Portanto, quem pode paga e quem no pode ganha um servio pblico
ruim, de segunda linha.
10. De fato, o brasileiro mdio no se mostra propenso a apoiar polticas universais.
Ao contrrio, generalizada a aprovao da focalizao nas polticas de
transferncia de renda no combate pobreza. Ademais, esse mesmo cidado
tende a apoiar majoritariamente as condicionalidades impostas aos beneficirios
de programas como o Bolsa Famlia, o que significa no compartilhar da ideia de
que pobres e indigentes devem ser auxiliados de forma incondicional e
permanente, na base em um direito assegurado constitucionalmente. Mostra-se
pois, apesar da queda constante da fecundidade em todas as classes de renda,
inclusive entre os grupos mais desfavorecidos, cr que as mulheres pobres ho
de querer ter mais filhos para aumentar o valor dos benefcios recebidos por
criana.
11. Posicionamentos contraditrios emanam mais uma vez das opinies coletadas:
61,9% aprovam a manuteno do piso das aposentadorias do INSS no valor de
um salrio mnimo, o que indica que a maioria da populao brasileira defende
uma poltica redistributiva que apoia o bem-estar na velhice. Ou seja, a
redistribuio ao longo do ciclo de vida para os que contriburam massivamente
aprovada.
12. Valores meritocrticos so francamente compartilhados pela populao: 81,9%
tendem a concordar que o salrio seja funo da qualidade do resultado do
trabalho, e 80,9%, que seja decorrente do grau de responsabilidade na execuo
do mesmo. Nesse item, a populao brasileira no expressa clivagens.
13. As anlises economtricas validaram muitos desses resultados, com a vantagem
de control-los por uma srie de variveis e confront-los com as hipteses
iniciais da pesquisa de defesa das polticas universais, reconhecimento do papel
relevante e insubstituvel do Estado, reconhecimento do direito de obter renda
compensatria por todos que sofrem privaes e de adeso ao princpio da
progressividade. Foram testados vrios modelos a partir de metodologias
distintas. A significncia de relaes multivariadas foi examinada buscando
identificar perfis de grupos de pessoas com maior ou menor tendncia a apoiar
medidas redistributivas.
14. No que tange o reconhecimento do papel do Estado na proviso de bem-estar,
notam-se efeitos significativos da renda familiar e das regies geogrficas nos
resultados: indivduos com faixas de renda familiar mais baixas (inferior a R$
3.000 mensais) so mais propensos a ver no Estado um agente de promoo de
mais igualdade, tal como ocorre com os indivduos no Sudeste, Nordeste e Norte.
Atente-se que os maiores coeficientes de apoio interveno do Estado foram
registrados para os grupos de menor renda e regies menos desenvolvidas. Ou
seja, quanto maior a renda, menor o apoio interveno do Estado em prol da
redistribuio. Temos, portanto, uma viso de classe claramente manifesta.
15. Por outro lado, aqueles que acreditam que a pobreza causada por falta de
esforo tendem a ser menos favorveis interveno do Estado para dirimir
desigualdades e atenuar a misria.
16.
portanto, os
mais contrrios aplicao de condicionalidades so: homem, preto ou pardo,
morador das regies Sul e Sudeste. J o contrrio, os que mais apoiam as
condicionalidades so: mulher; branca; vivendo no Norte-Nordeste. De qualquer
forma importante realar que a tendncia que predomina (para ambos os
grupos) de apoio exigncia das contrapartidas e condicionalidades para
pagamento dos benefcios do Bolsa Famlia. Os indivduos de negros ou pardos
so o nico grupo da categoria cor/raa que se mostra contrrio a adoo de
condicionalidades.
17. O brasileiro no apoiaria substituir a transferncia de renda condicionada por
uma renda de igual valor, a ser paga uniforme e igualmente a todos os cidados,
embora o Brasil seja nico pas do mundo a ter uma lei em vigor para garantia de
uma renda de cidadania.
18. A modelagem para construo do ndice de apoio s aes do Estado na
proviso de bem-estar evidenciou que a viso predominante percebe o pblico-
o com o Estado - o que
inviabiliza o apoio a polticas de carter universal, em favor da manuteno de
intervenes focalizadas, seletivas e residuais, sujeitas a controles e ao bom
comportamento dos pobres. Observa-se que o apoio a polticas pblicas de
combate pobreza condicionado ao exerccio compulsrio de determinadas
prticas por parte dos beneficirios, em lugar de ser entendido como um direito de
cidadania.
19. Os resultados economtricos indicam tambm que o brasileiro mdio aprova o
princpio da progressividade: quanto maior sua propenso a pagar impostos para
usufruir de mais sade e educao pblicas, maior o reconhecimento que
expressa no papel relevante do Estado na condio de promotor do bem-estar
social coletivo.
20. Quanto mais velhos os brasileiros, menos parecem aprovar medidas universais
e mais tendem a apoiar condicionalidades e controles.
21. Brasileiros com nvel de escolaridade superior so mais propensos a apoiar
polticas universais e redistributivas.
22. O brasileiro mdio mostra-se a favor do financiamento do bem comum e da
promoo da coeso social (no sentido de que apoiam o princpio da
progressividade), porm, tal esforo coletivo, em conformidade com a capacidade
financeira de cada um, no deve pavimentar a via da universalidade e da
redistribuio ampla e incondicional no acesso a direitos, seno assegurar uma
interveno residual e focalizada por parte do Estado.
23. Ao final, um modelo mais abrangente e geral de apoio redistribuio foi
construdo de forma a avaliar seus determinantes. O exerccio de agregar
continuamente variveis e testar seus resultados foi importante para concluir que,
utilizando o conjunto de variveis mais comumente encontrado na literatura,
mostram-se relevantes os coeficientes associados a mulher, negro, Nordeste,
Norte e Sudeste; os parmetros referentes a religio esprita/umbanda/outras
religies; as variveis clssicas de pobreza associada falta de oportunidades e
de conhecimento de beneficirio de transferncia de renda; e a varivel indicativa
de meritocracia na remunerao. Mais uma vez, os resultados mostraram que a
populao brasileira mostra-se contrria a um desenho de poltica que garanta
uma renda universal e incondicional de igual valor a todos os brasileiros.
24. Resumidamente, o cidado brasileiro mdio mostra-se favorvel interveno
do Estado na promoo do bem-estar, reconhece nele papel de destaque na
superao da pobreza e da desigualdade, mas no se mostra comprometido com
uma proviso pblica universal. Reconhece que o valor da linha de indigncia
adotada no Bolsa Famlia baixa, tal como pequeno o valor do benefcio mdio
assegurado s famlias beneficirias, julga que o Estado poderia acabar com a
misria se assim o desejasse, porm no aprova que os mais pobres e menos
favorecidos sejam tratados de forma igual, com base em direitos. Logo, a
cooperao e o apoio na necessidade no constituem, aos olhos da maioria dos
brasileiros, direito inalienvel a ser assegurado, dissociado de qualquer outro
critrio. Isso denota uma sociedade, onde as preferncias sociais existentes
indicam baixo nvel de coeso social e solidariedade.
25. Embora no tenha sido possvel construir e estimar um ndice nico do grau de
averso desigualdade, tarefa que pretendemos desenvolver nos artigos futuros
que sero subproduto desta pesquisa, podemos desde j indicar que: a
preferncia por polticas universais baixa entre ns; mostram-se mais favorveis
interveno do Estados para fins de redistribuio os grupos de menor renda,
vivendo nas regies mais pobres, mas so tambm eles os mais propensos a
apoiar condicionalidades e controles ou polticas seletivas que dividem a
populao entre os necessitados e os demais. Somente os negros e pardos so
contrrios adoo de condicionalidades. O apoio progressividade no implica
automaticamente a defesa de polticas pblicas e universais; apoiar o Estado e
reconhecer seu papel relevante na luta contra a pobreza, a desigualdade e a
misria tampouco implica na prevalncia de preferncias sociais universalistas e
onde valores de justia social e igualdade so dominantes.
26. O apoio redistribuio mostra-se, portanto, no apenas condicionado, mas
restrito.
12
INTRODUO
O desafio das desigualdades no topo das agendas1
A segunda dcada do sculo XXI reformatou os termos do debate social em
escala global, trazendo tona o espectro bem conhecido do maior de nossos males,
seja na Amrica Latina, seja no Brasil: a desigualdade, cujo recrudescimento avana
em marcha acelerada. A recesso que se seguiu, em muitos pases, crise de
2008, revelou a magnitude daquilo que muitos j apontavam como uma das
consequncias mais nefastas de dcadas de desregulamentao financeira,
globalizao sem controles, flexibilizao do emprego e dos salrios, supresso do
piso mnimo de remunerao, reduo do tamanho e das funes do Estado, corte
do gasto pblico e mudana na estrutura do gasto, juntamente com reformas
estruturais e privatizantes dos sistemas de proteo social e uma poltica fiscal que
promove a competitividade com corte de impostos, desonerao dos custos do
trabalho e mais regressividade. Todos esses fatores conjugados num novo modelo
de acumulao aprofundaram o fosso social, reduziram oportunidades,
enfraqueceram valores universais e passaram a premiar o individualismo
desenfreado. A sociedade que emerge desse processo parece enxergar o mrito por
1 Este captulo contou com a preciosa colaborao da assistente de pesquisa, Tatiana Matos, estudante na graduao do IE-UFRJ, responsvel pela elaborao de grficos e tabelas, a quem agradecemos. E tambm com a igualmente valiosa colaborao da economista Thais Barbosa, mestranda do PPED-IE/UFRJ, na construo dos dados oriundos da PNAD.
13
lentes que distorcem quase tudo, exceto cifras e sinais de grande riqueza, que se
tornam, assim, e dramaticamente, a expresso do valor intrnseco de cada um.
Esse processo de reproduo de um novo padro de desigualdade, cuja
inrcia mostra-se alheia a valores coletivos de solidariedade, domina hoje o debate
internacional tanto na seara poltica quanto acadmica. A desigualdade ocupa as
manchetes da grande imprensa, perpassa todos os noticirios e o tema recorrente
de grande nmero de livros recm-publicados, todos voltados para demonstrar por
que uma sociedade dividida compromete o futuro (Stiglitz, 2012) e destri a coeso
social, fator indispensvel ao bom funcionamento do capitalismo e sua expanso.
Foi justamente a prpria dinmica instvel e destrutiva do capitalismo que levou ao
surgimento e enraizamento do Estado do Bem-estar, que se tornou no sculo XX
uma de suas mais estveis e efetivas instituies.
A severidade do processo de polarizao social ora em curso nos Estados
Unidos e em grande parte das democracias ocidentais parece indicar que o
capitalismo do bem-estar (welfare capitalism) agoniza l onde se consolidou,
algumas poucas excees parte2. Essa disfuno ao invs de ser corrigida pelas
polticas pblicas, como ocorria na fase do ps Segunda Grande Guerra, passou a
ser retroalimentada pela apropriao da poltica e dos governos pelas novas elites
financeiras e pelas corporaes (Hacker & Pierson, 2010), cuja organizao de
interesses se profissionaliza e passa a comandar o processo de tomada de deciso
na esfera pblica. Como definem Hacker & Pierson, medida que se edifica a
sociedade dos vencedores que levam tudo (a winner-take-all-society, expresso
cunhada por Frank & Cook, 1996) faz-se indispensvel formatar tambm o processo
poltico que propicia aos vencedores e poderosos ficarem efetivamente com tudo
(winner-take-all politics). ali que se estabelecem as regras de como o mercado vai
funcionar para reproduzir vantagens e privilgios, concentrar renda, riqueza e poder.
Ou como enfatiza Krugman (2009, op. cit Wilkinson and Pickett, 2010), no foram
nas instituies, nas n
2 Modelo da flexsecurity dinamarqus, e demais sistemas de proteo social dos pases escandinavos.
14
Frente a esse quadro de evidente e profunda deteriorao socioeconmica e
cvica, expressa no apenas na elevao brutal das taxas de desemprego, da
pobreza e do nmero de sem teto, na reduo da renda mdia, no aumento da
desproteo, na progresso dos ndices de Gini e na parcela crescente da renda
nacional apropriada pelos que se encontram no topo mais alto da distribuio3, o
Brasil destaca-se pela sua excepcionalidade. E com ele, a Amrica Latina como um
todo4, une fois nest pas coutme!
O sculo XXI parece abrir-se com a redeno daquilo que sempre nos
diferenciou e marcou nossa identidade como nao. Assim, o pas de propores
continentais mais desigual do planeta, na regio que permanece a mais desigual
(Bastagli F. et alii, 2012) frente s demais, vai na contramo da conjuntura
internacional danosa e devastadora, e parece, enfim, predisposto a uma trajetria de
crescimento com reduo das desigualdades e mais incluso social.
o que mostram os dados das pesquisas domiciliares, como a PNAD
(Pesquisa Nacional por Amostra de Domiclios), e tambm o ltimo Censo
Demogrfico. Segundo o IBGE (2012), o ndice de Gini medido pelos rendimentos
do trabalho caiu de forma significativa e sustentada notadamente a partir de 2006
(Figura 1), passando de 0,566 em 2001 a 0,501 em 2011. Tal queda da
desigualdade salarial deu-se em meio elevao dos rendimentos mdios do
trabalho, que registram aumento em termos reais da ordem de 14,5% no perodo,
como indica o mesmo grfico.
3 Atkinson, Piketty & Saez (2011) demonstram que, nos Estados Unidos, os 10% mais ricos da populao passaram a controlar praticamente 50% da renda nacional em 2007, magnitude essa jamais observada em qualquer ano anterior da srie que tem incio em 1917. Do imediato ps Segunda Guerra at o incio dos anos 80, logo, por mais de 30 anos, essa proporo sempre se manteve abaixo de 35%. Eles revelam ainda que tal distoro se explica pela altssima concentrao que passa a ter lugar no topo da distribuio: enquanto o 1% mais rico, que detinha 8,9% da renda em 1976, passa a apropriar-se de 23,5% em 2007, o 0,1% dos extremamente ricos multiplicam por 4 sua participao na renda nacional no mesmo perodo, abocanhando 12,3% dela em 2007, contra 2,6% em 1976.
4 Ver a este repeito CEPAL 2011, Panorama Social da Amrica Latina 2011, Santiago do Chile.
15
Grfico 1 Evoluo dos Rendimentos do Trabalho 2001-2011
Os Grficos 2 e 3 confirmam ter havido igualmente uma diminuio
importante das taxas de desemprego e de informalidade desde meados da dcada
passada, o que significa que, de fato, o mercado de trabalho atuou favoravelmente
na reduo das desigualdades. Deu-se o contrrio, por exemplo, nos Estados
Unidos e no Reino Unido, onde a desigualdade se reflete primeiramente na
polarizao dos salrios, no corrigida, nem compensada a posteriori por
transferncias fiscais ou pela tributao (Wilkinson & Pickett, 2010; Hacker &
Pierson, 2010; Stiglitz, 2012).
Assim, no Brasil, a taxa de desocupao retorna, em 2011, a nveis
semelhantes aos de 1993 (Grfico 2), embora as mulheres no tenham sido to
contempladas nessa dinmica como os homens (a taxa de desocupao feminina
segue mais elevada em 2011 do que em 1993, enquanto a masculina a menor da
srie). Da mesma maneira, observa-se uma reverso de tendncia no que tange a
informalizao do mercado de trabalho, com o emprego formal5 tornando-se
majoritrio entre os ocupados a partir de 2006 (Grfico 3). Segundo dados do
5 O IBGE considera como formais os ocupados assalariados com carteira de trabalho, os servidores e militares.
16
CAGED6, o saldo de criao de empregos formais entre 2003 e 2011 supera 12
milhes de postos de trabalho, um recorde (Lavinas, 2012). Chama ateno no
Grfico 3, a progresso acentuada do emprego formal desde 2007: representa
52,2% da ocupao em 2011 contra 40% nos anos 90.
Igualmente relevante constatar a forte retrao do trabalho no-
remunerado na fase recente. Ele se manteve, ao longo da dcada de 90, em
patamares invariavelmente superiores a 13%. Contudo, com a retomada do
crescimento e o surgimento de novas oportunidades de emprego remunerado nos
anos 2000, recua para ficar abaixo de 7% em 2011. Um dos fatores que muito
contribuiu para esse declnio foi provavelmente a perda de importncia do trabalho
infantil, j que costuma ser expressivo o peso das crianas e adolescentes em
atividades no-remuneradas. Dados do IBGE indicam que a taxa de atividade dos
menores na faixa 10-15 anos cai pela metade entre 2001 e 2011, passando de 16%
para 8,9%7. Em termos absolutos, deixaram o mercado de trabalho nesse perodo
1,4 milho de crianas e jovens.
A recuperao econmica com aumento da oferta de empregos de
qualidade (protegidos pelo seguro social) refletiu-se igualmente na variao negativa
do nmero absoluto e da proporo de pobres e indigentes na sociedade brasileira,
reduzindo sua participao a nveis antes desconhecidos. A Tabela 1 mostra a
magnitude da retrao da pobreza e da misria no Brasil, considerando-se como
linhas de pobreza e indigncia, respectivamente, aquelas adotadas pelo Programa
Bolsa Famlia. Embora o pas ainda carea de uma linha oficial, essas tm sido
utilizadas para informar as polticas pblicas do governo no enfrentamento da
destituio aguda e so, por isso mesmo, o parmetro empregado nesta estimativa8.
6 Cadastro Geral de Empregados e Desempregados do Ministrio do Trabalho.
7 Estimativas prprias, rodadas a partir das bases PNAD. Em 2001 havia 3,2 milhes de menores declarados como ativos, nmero que recua para 1,8 milho em 2011.
8 Para 2011, a linha de indigncia utilizada foi R$ 70,00 para a renda familiar per capita. No caso da pobreza, o valor foi o intervalo entre R$ 70,01 e R$ 140,00. Para os anos anteriores usaram-se os valores correntes ento vigentes.
17
Grfico 2 Taxa de desocupao de 10 anos ou mais idade por sexo
Grfico 3 Distribuio das pessoas de 10 anos ou mais por categoria de
emprego
A partir da construo da renda domiciliar per capita, a PNAD autoriza uma
decomposio da mesma, segundo as trs fontes de rendimentos que a compem,
a saber i) rendimentos do trabalho remunerado, ii) rendimentos oriundos do
18
recebimento de aposentadorias e penses e iii) rendimentos provenientes de outras
fontes9 que, no caso das pessoas vivendo abaixo da linha da pobreza, indicam muito
provavelmente que se trata dos benefcios assistenciais recebidos no mbito dos
programas condicionados de transferncia de renda. Trata-se, portanto, de verificar,
considerando-se apenas os rendimentos do trabalho, - antes das transferncias
fiscais -, como evolui o percentual de pobres na populao brasileira nessa dcada
de retomada do crescimento. Em seguida, feito o mesmo exerccio, somando-se
os rendimentos oriundos de transferncias fiscais, sejam elas contributivas ou
compensatrias. Isso permite estimar qual a contribuio real de cada tipo de renda
reduo do nmero de pobres.
Tabela 1 Evoluo da proporo de pobres e indigentes no Brasil 2001-
2011 (percentuais, segundo origem do rendimento PNADs, renda domiciliar
per capita)
BRASIL
2001 2003 2005 2007 2009 2011
Pobres
Todos os Rendimentos (inclui outras fontes) 35.75% 27.68% 20.32% 17.69% 15.49% 10.98%
Rendimentos do Trabalho + Aposent e Penses 37.01% 29.28% 23.37% 20.51% 18.82% 14.80%
Apenas Rendimento do Trabalho 47.90% 41.69% 35.16% 32.47% 30.64% 26.34%
Indigentes
Todos os Rendimentos (inclui outras fontes) 15.83% 10.79% 6.69% 6.20% 5.36% 4.37%
Rendimentos do Trabalho + Aposent e Penses 17.28% 12.84% 9.67% 8.92% 8.28% 6.90%
Apenas Rendimento do Trabalho 28.28% 24.11% 19.73% 18.96% 18.32% 16.99%Fonte: PNAD-IBGE, para os anos enunciados, usando a
l inha de pobreza e indigncia do BF
9 trabalho ou na realizao de alguma atividade econmica, nem de aposentadorias e penses. Trata-se de rendas oriundas de aluguis, dividendos, bem como de transferncias compensatrias, de carter no-contributivo.
19
Tabela 2 Evoluo da proporo de pobres e indigentes no Brasil 2001-
2011 (nmeros absolutos, segundo origem do rendimento PNADs, renda
domiciliar per capita)
BRASIL
2001 2003 2005 2007 2009 2011
POBRES
Todos os Rendimentos (inclui outras fontes) 59,526,291 47,408,501 36,580,530 32,270,862 28,672,014 20,212,411
Rendimentos do Trabalho + Aposent e Pensoes 61,598,304 50,139,747 42,085,504 37,414,489 34,828,055 27,250,786
Apenas Rendimento do Trabalho 79,646,007 71,391,102 63,316,316 59,238,488 56,716,531 48,501,002
INDIGENTES
Todos os Rendimentos (inclui outras fontes) 26,481,009 18,486,432 12,051,795 11,303,082 9,915,183 8,043,978
Rendimentos do Trabalho + Aposent e Pensoes 28,810,218 21,980,776 17,409,897 16,276,404 15,320,303 12,701,661
Apenas Rendimento do Trabalho 47,024,294 41,284,142 35,532,253 34,588,116 33,919,999 31,287,361
Fonte: PNAD-IBGE para os anos enunciados, usando a linha de pobreza e
indigncia do BF
Conforme a Tabela 1, entre 2001 e 2011 o percentual de pobres (renda
domiciliar per capita entre as linhas de indigncia e pobreza ou no intervalo de
rendimentos superiores a R$ 70 at R$140 mensais em 2011) cai 40 por cento (de
47,9% para 26,3%). Em termos absolutos, significa dizer que os rendimentos do
trabalho por si s no so suficientes para evitar que escapem da pobreza, em
2011, 48,5 milhes de pessoas, segundo nmeros absolutos dispostos na Tabela 2.
Esse cenrio era, fato, bem mais dramtico h 10 anos, quando tal montante
alcanava 79,6 milhes de brasileiros. Portanto - e apesar de ter aumentado a
populao ativa10 - 31 milhes de pessoas saem da pobreza em uma dcada,
graas ao impacto do crescimento no desempenho do mercado de trabalho,
associado recuperao do valor do salrio mnimo11, que registrou aumento real
na ltima dcada de 93% (para o perodo janeiro de 2001 e maio de 2012).
Ora se, adicionarmos aos rendimentos do trabalho as transferncias fiscais
ditas previdencirias (na sua grande maioria, contributivas), vemos que, em 2011,
elas conseguem reduzir a pobreza em mais 12 pontos percentuais: a participao
dos pobres cuja renda soma trabalho e benefcios previdencirios cai para 14,8%,
contra 37,1% em 2001. Mostram-se, portanto, mais eficazes, que em 2001, quando
10 Segundo a PNAD, a PIA na faixa etria 16 a 64 anos contabilizava 107,8 milhes de pessoas em
2001 e passa a ter 130,1 milhes em 2011. Em termos percentuais, a variao no perodo foi de 63,1% para 66,6% da populao.
11 Acerca da centralidade do salrio mnimo, ler Cardoso Jr. J.C. (2012).
20
contriburam para um declnio da pobreza em 10,8 pontos percentuais. Novamente,
em termos absolutos, temos que, em 2011, as transferncias previdencirias so
responsveis por sacar da pobreza 21,2 milhes de pessoas, total esse que era de
18,1 milhes em 2001 (Tabela 2). Logo, h um ganho efetivo de mais de 3 milhes
de pessoas levadas para cima da linha de pobreza em 2011 vis a vis 2001,
considerando-se apenas o efeito aposentadorias e penses sobre os rendimentos
do trabalho. Tal efeito ampliado reflete os ganhos derivados da vinculao do piso
previdencirio ao salrio mnimo e demonstra de forma cabal que, apesar de o
seguro social ser contributivo, o desenho do sistema de proteo social, ao estender
benefcios a grupos com baixa capacidade contributiva (no caso os rurais), ganha
em progressividade e promove redistribuio.
No outro extremo, constatamos que houve tambm uma ampliao do efeito
das transferncias compensatrias, uma vez que em 2011 elas somam
positivamente, contribuindo para reduzir a pobreza em mais 4 pontos percentuais,
contra 1,2 ponto percentual em 2001. Cerca de 7 milhes de pessoas deixam a
pobreza, em 2011, por fora da criao e expanso da cobertura do Programa Bolsa
Famlia e de seu escopo, pois passa a incluir categorias beneficirias, inicialmente
no elegveis. Em 2001, a eficcia das transferncias compensatrias, ainda de
alcance bem mais modesto, era bem menor (retirou da pobreza 2 milhes de
pessoas), como mostra a Tabela 2.
A evoluo da indigncia (renda domiciliar per capi
em 2011, ou abaixo a cada ano da LI) acompanha a curva de diminuio da
pobreza, porm registrando maior eficcia por parte das transferncias focalizadas
(rendimentos de outras fontes): somadas s duas outras fontes de rendimentos
(mercado de trabalho e rendas previdencirias) estas reduzem o nmero final de
indigentes em pouco mais de 1/3 em 2011. No caso da pobreza, tal relao de 1/4.
O balano, por conseguinte, surpreendente e impactante na dcada. Esta
tem incio com um total de aproximadamente 85,7 milhes de pessoas vivendo na
pobreza ou na indigncia, e isto representa 50% da populao brasileira em 2001.
21
Em 10 anos tal proporo cai para 15%, o equivalente a cerca de 28,2 milhes de
pessoas12.
Pelo lado da desigualdade medida pela renda domiciliar per capita, o quintil
mais rico da distribuio ainda detm, em 2011, mais de 50% da renda nacional13
(Tabela 3). Essa proporo diminui significativamente entre 2001 e 2011, porm sua
magnitude to elevada ainda surpreende e incomoda. J a parcela da renda
apropriada pelos 20% mais pobres aumenta de 2,39%, em 2001, para 3,25%, em
201114 (Tabela 3).
Tabela 3 Evoluo da Parcela da Renda Nacional Apropriada por Cada
Quintil da Distribuio.
BRASIL
2001 2003 2005 2007 2009 2011
Apropriaes incluindo a separatriz na classe inferior
Apropriao da renda pelo 1 quintil 2,39 2,83 2,93 2,93 3,14 3,25
Apropriao da renda pelo 2 quintil 5,89 5,89 6,45 6,85 7,68 7,57
Apropriao da renda pelo 3 quintil 10,23 10,76 11,89 12,20 11,89 12,41
Apropriao da renda pelo 4 quintil 18,38 18,39 18,11 18,48 18,95 19,41
Apropriao da renda pelo 5 quintil 63,10 62,13 60,62 59,54 58,33 57,36
Fonte: PNAD-IBGE, para os anos enunciados.
Trata-se de crescimento a uma taxa expressiva, mas ainda assim em um
contexto estruturalmente indiferenciado do anterior, pois permanece marcado por
agudas e constrangedoras assimetrias no controle da renda nacional. No caso, dos
50% mais pobres, tal variao de 12,78% para 16,34% respectivamente.
12
Registre-se aqui o que j conhecido a estimativa de pobres e indigentes derivada da PNAD subestimada em relao produzida pelo Censo, uma vez que a amostra da PNAD no feita para estudos de pobreza e sim de mercado de trabalho. Logo, embora em queda a participao de pobres e indigentes na nossa sociedade deve ser mais elevada.
13 Vale lembrar que tais medidas de desigualdade consideram apenas a renda declarada, com
predominncia das rendas do trabalho e no a riqueza. Se ambas fossem computadas conjuntamente o grau de desigualdade seria bem mais elevado.
14 Renda domiciliar per capita, que soma todos os rendimentos, a saber do trabalho, de
aposentadorias e penses e de outras fontes, logo compreende transferncias de renda no-contributivas no caso de quem est na cauda da distribuio, e outros tipos de renda originrias de aluguis, ganhos financeiros, etc, medida que se sobe na distribuio. o que podemos chamar de renda pre-tax-and-post monetary transfers (logo, no renda disponvel, uma vez que no se deduzem os impostos diretos e indiretos e taxas que incidem sobre essa renda o correto seria estimar a renda disponvel (post-tax-and-post-monetary-tranfers), mas essa estimativa de difcil elaborao e o IBGE no a calcula por ora.
22
Entretanto, ao cotejarmos o percentual da renda apropriada pelos 50% mais pobres
da populao em 2011 com aquele que cabe ao 1% mais rico j que estamos em
tempos de expresso dos 99% -, constata-se que este grupo ultra-seleto segue
abocanhando em 2011 ainda 11,75% da renda nacional, contra 13,99% em 2001.
Pode-se afirmar, portanto, que, apesar de uma inflexo de tendncia, as grandezas
no variaram significativamente dado nosso cenrio de alta desigualdade.
O ndice de Gini calculado com base na renda domiciliar per capita segue
rota de queda, a exemplo do observado no que tange os rendimentos do trabalho, e
passa de 0,594, em 2001, para 0,529, em 2011. Mas a direo da trajetria no
deve ocultar a grandeza do desafio frente, de propores hercleas. Estamos
ainda distantes de um Gini inferior a 0,40015. O Gini calculado para os pases da
OCDE16, tomando a renda disponvel (ps-transferncias fiscais e incidncia da
tributao) , ao final da dcada de 2000, de 0,378, contra 0,316 nos anos 70.
Porm, se considerarmos a renda bruta (antes das transferncias fiscais e da
incidncia da tributao), o quadro menos alvissareiro: o Gini de fins da dcada de
2000 para os pases da OCDE de 0,486, j tendo sido de 0,406 em 1970. Ou seja,
mesmo nos anos ps-crise, de recesso aguda e deteriorao da grande maioria
dos indicadores sociais e econmicos, com cortes de gastos e agudizao da
desigualdade, a poltica social em todas as suas dimenses consegue reduzir o Gini
em um ponto, proeza que no logramos ainda alcanar entre ns. A polarizao
social mantm-se como a marca do nosso subdesenvolvimento, embora os nmeros
permitam uma leitura de que estamos convergindo para o padro OCDE, chegando
quase no grupo dos desenvolvidos.
A pergunta que se impe, nesse contexto, , portanto, de saber qual a
percepo que a populao brasileira tem de evoluo recente to favorvel em
termos de reduo da misria e da pobreza e de declnio da desigualdade, dado, em
particular, o contexto internacional.
Essa trajetria genuna e paradoxal nos faz crer que a desigualdade tornou-
se problema menor entre ns? Como os brasileiros se situam frente s perspectivas
15 Vale a pena informar que, segundo dados da CEPAL em 2012, somente a Venezuela registra, em 2011, um coeficiente de Gini inferior a 0,400 em todo o continente latino-americano.
16 Fonte OCDE: http://stats.oecd.org/Index.aspx?QueryId=26068.
23
futuras de mobilidade social? Julgam-nas asseguradas? E como se posicionam
quando comparam sua trajetria presente com a passada, de seus pais? Qual sua
avaliao acerca do Programa Bolsa Famlia como mecanismo de reduo da
pobreza? Aprovam seu desenho, suas condicionalidades? Como percebem o
comportamento e o grau de responsabilidade daqueles que no conseguem usufruir
da conjuntura de crescimento para alavancar-se e deixar para trs uma situao de
altssima vulnerabilidade? Consideram que se d muito ou pouco aos pobres
brasileiros? Concordam com o valor do benefcio mdio do Bolsa Famlia? Sonham
com uma sociedade mais igualitria? O que estariam dispostos a fazer para alcanar
um grau de bem-estar mais elevado que possa ser compartilhado por todos? Qual o
grau de averso desigualdade que nos caracteriza? Somos muito tolerantes ou
pouco tolerantes com a desigualdade? Compartilhamos valores universais ou
apostamos no sucesso e na retribuio individual?
Para responder a tantas indagaes, conduzimos nos meses de setembro e
outubro de 2012 um survey nacional cujo questionrio foi formulado levando em
considerao os resultados de um outro survey, realizado no mbito desta mesma
pesquisa, mas em 2008 e limitado cidade do Recife, tendo como pblico-alvo a
populao beneficiria do Bolsa Famlia. poca, foi implementado um survey
probabilstico junto a uma amostra representativa de 121 mil famlias, cadastradas
no Cadnico do Ministrio do Desenvolvimento Social e Combate Fome17 como
habilitadas a receber o benefcio do Bolsa-Famlia. Destas, 80% eram, de fato,
beneficirias do Programa (grupo sob interveno), e 20% (grupo controle)
constituam-se de famlias que foram habilitadas a receber o benefcio, mas que ou
jamais o receberam ou deixaram de o receber. Isso representava aproximadamente
500 mil pessoas ou 1/3 dos moradores do Recife naquele ano. Esse primeiro survey
foi aplicado atravs de um questionrio impresso, de 44 pginas, 10 mdulos e
aproximadamente 230 questes. As questes contemplaram por vezes todos os
membros das famlias e por vezes apenas o/a responsvel ou cnjuge.
Naquela etapa da pesquisa, a finalidade era apreender o que pensavam e
como se comportavam os mais pobres frente nova institucionalidade da poltica
17 Relatrio Tcnico Parcial IV - FINEP Medindo o Grau de Averso Desigualdade da Populao
Brasileira Atravs dos Resultados do Programa Bolsa-Fam
24
social que passava a reconhec-los como detentores de direitos. Era importante
conhecer sua avaliao do Programa Bolsa Famlia, identificar se o benefcio
poderia funcionar como um desincentivo ao trabalho dos adultos vivendo na pobreza
e se haveria riscos de elevao da taxa de fecundidade no mbito de uma estratgia
de aumento da renda familiar em funo da presena de mais crianas, que se
tornariam automaticamente elegveis a mais um benefcio monetrio. Ademais,
tratava-se ainda de medir a efetiva contribuio do benefcio do Bolsa Famlia
mitigao da pobreza e da indigncia, bem como estimar a ampliao no grau de
acessibilidade dessa populao carente s polticas ditas universais, como servios
de sade, creche e educao, e infraestrutura urbana e de comunicao.
A segunda etapa da pesquisa, ora em vias de concluso, tem por objetivo
captar no mais o que pensam os pobres e como vivem, como se processa sua
participao crescente na sociedade, como reagem a estmulos e como manejam
uma nova identidade social dada pelo reconhecimento da sua condio de pobreza
(Simmel, 1998), seno sistematizar a viso que tem a sociedade brasileira no seu
conjunto dos progressos alcanados e das lacunas persistentes na trajetria traada
para enfrentar a pobreza e a desigualdade entre ns.
Vale assinalar que pesquisas empricas que buscam apreender qual a
percepo da populao sobre as polticas implementadas em seus pases para
promover a igualdade, reduzir a pobreza e combater a desigualdade tm-se
multiplicado e formam hoje um acervo relevante e referencial no campo da
Economia do Bem-estar. Neher18 (2012), por exemplo, recm-publicou os
resultados de uma pesquisa de cunho internacional, onde compara os determinantes
a favor da preferncia pela redistribuio entre pases da OECD e pases no-
OECD. Tal como outros autores repertoriados na introduo da seo 3 deste
Relatrio, Neher identifica fatores como renda, educao, classe social e crena
como altamente significantes na determinao de um posicionamento mais ou
menos favorvel redistribuio. Apoiando-se em Corneo (2002) notadamente,
18 Em um estudo arrojado Neher reuniu mais de 350 mil observaes para 100 pases, procedendo a uma anlise cross-country por um largo intervalo de tempo, de modo a interpretar quais os determinantes a favor de polticas redistributivas nesses dois conjuntos de pases. Seus resultados so interessantssimos, por revelarem padres diferenciados. A referncia do estudo de Neher completa encontra-se na bibliografia.
25
Neher identifica trs grupos de determinantes na explicao das preferncias por
mais ou menos redistribuio:
e socioeconmicas que configuram o auto-interesse material. O segundo grupo diz respeito a preferncias interdependentes, que resultam em externalidades redistributivas. Um terceiro e ltimo grupo busca captar as crenas (NT: valores) sobre o que seria um mundo justo e o que responsabilidade individual (p.4).
Seu ponto de partida ou hiptese bsica, frequente e dominante nesse tipo
de pesquisa, que todo indivduo votar a favor de mais redistribuio, sempre que
sua renda disponvel19 aumentar com a distribuio. Ou seja, baseia-se no
autointeresse, fator crucial na construo dos modelos e estudos sobre o tema.
Outros modelos voltados para a identificao dos determinantes no apoio
redistribuio sero tratados neste documento.
Cabe, entretanto, destacar uma pesquisa de escopo internacional, na sua
sexta onda, que nos serviu de fonte de inspirao no desenho deste survey e em
particular na formulao do questionrio (blocos e perguntas). Trata-se do World
Values Survey, de iniciativa de uma rede internacional de pesquisadores, j aplicado
em mais de 95 pases. O foco da pesquisa so as mudanas culturais em curso em
nvel nacional, investigadas atravs de um questionrio padro, em torno a temas
tais como religiosidade, papeis de gnero, motivao para o trabalho, tolerncia,
proteo social, meio ambiente e demais percepes subjetivas que revelam valores
e princpios dominantes em cada sociedade.
Para levar a cabo iniciativa semelhante ainda que infinitamente mais
modesta para o caso brasileiro exclusivamente, iniciativa essa ainda assim indita,
foi desenhada uma pesquisa amostral, desta vez nacional, tomando como pblico-
alvo a populao com 16 anos ou mais. Essa pesquisa serve-se de um questionrio
que, imagem de outras iniciativas internacionais20, considera os grupos de
questes referidos por Neher na elaborao das perguntas, e adota um gradiente
numa escala de 1 a 5 no posicionamento individual frente a esse grupo de questes.
19 Renda disponvel a renda domiciliar, familiar ou individual ps-pagamento de taxas e impostos e ps-recebimento de transferncias fiscais, contributivas ou no.
20 Ver seo 3 deste Relatrio.
26
Nessa escala, 1 significa total desacordo em relao a uma afirmao relacionada
com o desenho e metas das polticas sociais, por exemplo, ou ainda na defesa de
paradigmas universalizantes ou de promoo da redistribuio. J 5 exprime total
acordo. H trs nveis intermedirios, que traduzem graus diferenciados de adeso
ou rejeio ao enunciado formulado. Em paralelo, variveis explicativas como idade,
sexo, faixa de renda familiar, nvel de escolaridade, religio, tipo de insero
ocupacional, regio de residncia, permitiro analisar com mais profundidade os
resultados, de modo a inferir se h percepes distintas e qui opostas, e como se
forjam grupos cuja viso e valores tendem a ser convergentes ou radicalmente
contrrios.
O captulo 1 detalha a metodologia e o plano amostral, alm de apresentar o
questionrio aplicado, onde figuram questes que retomam os conjuntos
identificados por Neher e outros autores internacionais.
O captulo 2 apresenta uma anlise descritiva dos resultados para situar o
contexto mais geral de apoio ou averso redistribuio que emana do survey. Dois
cortes prevalecem, o regional e o de sexo.
O captulo 3 retoma o debate internacional sobre preferncias em favor da
redistribuio, e sistematiza algumas concluses j confirmadas, a saber i) as
pessoas tm preferncias sociais e se preocupam pelas outras: ii) os indivduos
expressam percepes no apenas em funo do auto-interesse, mas tambm
formatadas por normas sociais e princpios de justia redistributiva vigentes; iii) tais
percepes so endgenas; iv) a cooperao e o apoio redistribuio tendem a
ser condicionais e v) a proximidade tende a interferir na deciso ou no de apoiar a
redistribuio, entre outras. Em seguida, a seo apresenta, a partir de modelos e
hipteses apoiados na experincia internacional - mas tambm nos propsitos da
pesquisa, onde boa parte das perguntas vem do desenho das polticas e programas
sociais brasileiros vigentes e do recuo da pobreza e da desigualdade derivados do
crescimento recente do pas os resultados, obtidos a partir de anlises
economtricas, acerca dos determinantes da redistribuio por parte da populao
brasileira adulta.
Um sumrio-executivo apresenta, de incio, as principais concluses desta
pesquisa e sua metodologia.
27
Neste documento, e na pesquisa em geral, o maior ou menor grau de
averso desigualdade e pobreza ser estimado a partir da concordncia ou
discordncia com um conjunto de valores, crenas, que foram consagrados, na
literatura sobre bem-estar, poltica social e polticas pblicas em geral, como
favorveis redistribuio e igualdade. Tais valores so convergentes nos
princpios ticos que os estruturam, princpios esses de justia social,
responsabilidade e liberdade:
Defesa das polticas universais que asseguram um padro de bem-estar
comum a ser compartilhado por todos, independentemente do valor de trabalho de
cada um ou da posse de propriedades e ativos.
Reconhecimento do papel relevante e insubstituvel do Estado em
assegurar tal padro de bem-estar, garantindo ainda que todos os cidados, sem
distino de classe ou status, tenham acesso ao melhor padro possvel de um
conjunto de servios considerados indispensveis (Briggs, 1961). Tais servios
devem ser providos pelo Estado e financiados com recursos fiscais.
Reconhecimento da necessidade de que todos aqueles que sofrem de
dficit de renda, independente da causa, sejam apoiados e tornem-se, portanto,
beneficirios de transferncias de renda como um direito de cidadania, sem
exigncia de contrapartidas ou outros mecanismos compulsrios.
Adeso ao princpio da progressividade no financiamento do bem comum
e da promoo da coeso social.
Universalismo, proviso pblica, justia tributria e a superao da pobreza
e da misria so as quatro dimenses que vo definir, no mbito desta pesquisa, os
perfis sociais mais ou menos favorveis redistribuio. E, portanto, quanto mais
favorvel redistribuio, maior o grau de averso desigualdade.
28
1. Metodologia da pesquisa
Esta seo detalha o conjunto de procedimentos que foram tomados para
aplicao do survey atravs de um questionrio desenhado especificamente a este
fim. O plano amostral, outro importante aspecto estratgico da metodologia da
pesquisa, tambm aqui apresentado e detalha a seleo das amostras de
indivduos, atravs de mltiplos estgios de seleo, que serviu para compor o
universo da populao adulta brasileira com mais de 16 anos.
1.1. O questionrio
O questionrio do survey que encontra-se em sua ntegra no Anexo 1
conduzido para fins da pesquisa Grau de Averso Desigualdade da Populao
Brasileira de carter estruturado, incluindo um total de 54 perguntas21 fechadas
que esto subdivididas em oito mdulos que representam as dimenses da pesquisa
assim como ilustrado na introduo, e estes so:
Satisfao com a vida;
Tendncia a apoiar ou no a redistribuio;
Programas sociais;
Outras opinies;
Pobreza e desigualdade;
Princpio da igualdade;
Mobilidade social; e
Demografia e variveis de autointeresse.
Por se tratar de uma pesquisa que tem como objetivo mensurar o grau de
percepo e averso desigualdade e pobreza, as perguntas deste questionrio
21
O banco de dados gerado pelo survey tem um total de 66 variveis: uma varivel para cada pergunta da pesquisa; algumas variveis identificadoras (localizao, gnero do entrevistado e nome do entrevistador) e fatores de ponderao da amostra.
29
foram formuladas seguindo a abordagem de Escalas de Likert22 onde as respostas
representam um gradiente, aqui variando de 1 a 5, e que refletem o nvel de
concordncia afirmao direita do questionrio, de princpios mais igualitrios,
redistributivos e universais, de propsito a colocada para dar coerncia leitura dos
resultados total desacordo em relao a
essa Os trs nveis
intermedirios traduzem graus diferenciados de adeso ou rejeio s ideias
formuladas.
Para os mdulos
afirmaes, como nos exemplos abaixo:
E a eles era pedido que:
ou outra. Caso concorde somente com a primeira frase diga o nmero 1; caso concorde em parte com a primeira frase diga o nmero 2, caso seja indiferente s
22
Likert, Rensis (1932). "A Technique for the Measurement of Attitudes". Archives of Psychology 140:
1 55.
30
duas respostas, ou concorde com as duas, diga o nmero 3; caso concorde em parte
E para facilitar sua compreenso acerca do gradiente das respostas, os
entrevistados ainda contaram com o auxlio de um carto resposta conforme exposto
na Figura 1, de tal forma que "1" correspondia ao total acordo contrafirmativa e,
logo, total desacordo com a afirmativa direita.
Figura 1 Carto para Auxlio na Coleta dos Dados
Os m
a 5, porm, sem que tal escala significasse percepes e posicionamentos
frontalmente opostos. Cabia aos respondentes expressar um ponto de vista dentro
de uma escala de satisfao e concordncia, como informam os exemplos a seguir:
31
Alm destes mdulos voltados para o objeto da pesquisa propriamente dito,
o questionrio contemplou, em um mdulo parte, variveis demogrficas, ou de
autointeresse, tais como idade, sexo, faixa de renda familiar, nvel de escolaridade,
religio, tipo de insero ocupacional e regio de residncia. Essas variveis sero
tratadas como variveis independentes na seo de modelagem economtrica
permitindo inferir e designar grupos que tendem a um maior ou menor grau de
averso desigualdade.
De uma forma geral, e exemplificando, Reif e Merlich (1993), o questionrio
incorporou itens referentes :
a) importncia de se lutar contra o desemprego;
b) necessidade de atenuar a intensidade da pobreza;
c) relevncia em diminuir as disparidades regionais ajudando as regies menos
desenvolvidas;
d) compromisso efetivo das autoridades pblicas em erradicar a pobreza.
Atravs das respostas dos indivduos, espera-se medir o grau de adeso ou
averso erradicao da pobreza e atenuao das desigualdades por parte da
populao brasileira, identificando, ao longo da escala, grupos que se posicionam ao
longo desse gradiente, a partir de seu perfil demogrfico, tambm investigado no
32
survey por meio de questes sobre sexo, idade, renda e condio de ocupao,
entre outras variveis.
1.2. O plano amostral
Esta seo descreve o planejamento da amostragem adotado pela
empresa23 contratada para a coleta e produo dos dados, seguindo as seguintes
orientaes da coordenao da pesquisa: a execuo de uma pesquisa amostral
(survey) de abrangncia nacional, considerando como populao alvo brasileiros
com 16 anos ou mais de idade. Este survey deveria ser conduzido durante os
meses de setembro e outubro de 2012 sendo as unidades pesquisadas, os
indivduos.
O plano de amostragem empregado para seleo das amostras de
indivduos contou com mltiplos estgios de seleo, incluindo amostragem por
conglomerados24 e estratificao25. A populao brasileira foi estratificada utilizando
a definio das cinco regies geogrficas, considerando as reas urbanas e rurais.
J os conglomerados, definidos pelas unidades de federao (unidades primrias de
amostragem 1 estgio) e pelos municpios (unidades secundrias de amostragem
2 estgio), foram selecionados em estgios subseqentes. O ltimo estgio (3)
se deu pela seleo dos indivduos, a unidade pesquisada, de forma sistemtica
condicional passagem pelo ponto de fluxo estabelecido pela empresa coletora dos
dados. A Figura 2 apresenta a definio oferecida para a seleo das unidades de
cada um dos trs estgios de seleo. Esta estratgia assegura a cobertura na
amostra em mbito nacional gerando, ento, uma amostra representativa da
populao de16 anos ou mais anos de idade no Brasil.
23
Overview Servios & Informao LTDA (Overview Pesquisa), que venceu a licitao para implementao do survey, na modalidade carta-convite.
24 Amostragem por conglomerados subdivide a populao pesquisada grupos os conglomerados
e a partir da, se extrai uma amostra de conglomerados e os indivduos dentro de cada conglomerado so ento selecionados para compor a amostra. Neste mtodo de amostragem, nem todos os grupos esto representados na amostra.
25 Amostragem estratificada, diferente da por conglomerados, subdivide a populao pesquisada em
grupos os estratos formados conforme as variveis de interesse (aqui sendo: Grande Regies). Em seguida, e dentro de cada estrato extrai-se ento uma amostra de unidades primrias de amostragem que foram as UFs. Neste mtodo de amostragem todos os grupos so representados na amostra.
33
Devido a restries de custo, o tamanho da amostra fora previamente fixado
para um total de cerca de 2.200 entrevistas. Todavia foi garantida representatividade
nacional para o grupo de 16 anos de idade e mais. Note-se que de acordo com o
plano amostral, o primeiro estgio envolveu a seleo de 12 unidades primrias de
amostragem (UPAs) - Unidades de Federao - enquanto o segundo estgio
envolveu a seleo de 36 unidades secundrias de amostragem (USAs)
municpios oriundos das UPAs selecionadas, incluindo 12 capitais. O procedimento
para o sorteio das UPAs e USAs, como explicitado na Figura 2, se deu atravs do
mtodo PPT (Probabilidade Proporcional ao Tamanho) que utiliza o tamanho da
populao residente, tendo o Censo 2010 como medida auxiliadora. No terceiro e
ltimo estgio26, os indivduos participantes da pesquisa foram selecionados de
abordagem intencional, para adequao e
cobertura de uma tabela de cotas proporcionais de gnero e quatro faixas de idade
(16 a 24 anos, 25 a 39 anos, 40 a 59 anos e 60 anos ou mais)
pontos de fluxo. Segundo tal metodologia, as entrevistas pessoais so realizadas
depois de o entrevistador abordar o transeunte morador do municpio que esteja
dentro das cotas estipuladas.
Figura 2 Mtodo utilizado para clculo e alocao probabilstica das
unidades amostrais
Fonte: Overview Pesquisas.
26
Ver a este respeito, Relatrio Plano Amostral - UFRJ Fluxo Brasil 2012, com 09 pginas, fornecido pela Overview Pesquisa; exposto no Anexo 3.2.
34
A Tabela 4 apresenta a alocao da amostra final, segundo municpios,
unidades de federao e grandes regies contidos na amostra.
Com o plano amostral empregado, a amostra final representativa das
grandes regies, com erro amostral mximo estimado por 5,27%. Para o total da
populao brasileira a estimativa de margem de erro mxima de 2,06%.
35
Tabela 4 Alocao da Amostra
Regio Unidade da
Federao Municpio Entrevistas
Norte
Rondnia Porto Velho 100 Rondnia Vilhena 40 Rondnia Ji-Paran 40 Par Belm 100 Par Pacaj 40 Par Redeno 40
Total na Regio 360
Nordeste
Cear Acopiara 30 Cear Fortaleza 80 Cear Jijoca de Jericoacoara 30 Paraba Campina Grande 80 Paraba Joo Pessoa 30 Paraba Patos 30 Pernambuco Recife 70 Pernambuco Jaboato dos Guararapes 30 Pernambuco Timbaba 30 Bahia Juazeiro 30 Bahia Poes 30 Bahia Salvador 80
Total na Regio 550
Sudeste
Rio de Janeiro Duque de Caxias 40 Rio de Janeiro Rio Bonito 40 Rio de Janeiro Rio de Janeiro 120 So Paulo Marlia 40 So Paulo Moji das Cruzes 40 So Paulo So Paulo 250
Total na Regio 530
Sul
Paran Curitiba 120 Paran Ponta Grossa 40 Paran Porecatu 40 Rio Grande do Sul Porto Alegre 120 Rio Grande do Sul Progresso 40 Rio Grande do Sul Vera Cruz 40
Total na Regio 400
Centro-Oeste
Mato Grosso Cuiab 120
Mato Grosso Jaciara 35
Mato Grosso Porto Esperidio 35
Distrito Federal e satlites Taguatinga 35 Distrito Federal e satlites Ceilndia 35
Distrito Federal e satlites Braslia 100
Total na Regio 360
Total Brasil 2.200
Fonte: Overview Pesquisas.
36
1.3. A coleta de dados
Previamente realizao do survey propriamente dito, foi aplicado um
preteste, cujos principais objetivos consistiram em: i) medir o tempo mdio de
aplicao do questionrio, simulando as condies reais do trabalho de campo; ii)
medir a consistncia das perguntas, acessando o nvel e dificuldades de
entendimento pelo pblico-alvo da pesquisa. Tal preteste teve lugar nos dias 16 e 17
de agosto de 2012, em dois pontos da cidade do Rio de Janeiro, concluindo um total
de 50 entrevistas pessoais, utilizando duas verses diferentes do questionrio, a fim
de testar a fluidez e a aceitao do melhor formato (sequncia das questes). Foram
entrevistados, nessa ocasio, 26 mulheres e 24 homens com idades variando entre
18 a 68 anos. Vale ressaltar que a amostra utilizada no preteste no demandou grau
de representatividade, no se podendo, portanto, realizar qualquer tipo de
inferncias no que tange seus resultados.
Embora no tenha havido diferena significativa no tempo de aplicao das
entrevistas a cada respondente - em mdia de 17 minutos -, o preteste permitiu
concluir que a verso do questionrio que partia de questes mais gerais para as
mais especficas, flua melhor, tendo sido esta, portanto, a adotada em definitivo (ver
Anexo 1). No obstante tal eleio, fez-se necessria a reformulao de algumas
questes, a partir da sistematizao dos problemas encontrados no preteste27.
Aps os ajustes feitos ao questionrio pr-testado, a pesquisa de campo
teve incio no dia 11 de Setembro de 2012, sendo finalizada em 2 de Outubro do
mesmo ano. A Figura 3 descreve o transcorrer da pesquisa de campo, que contou
com uma equipe formada por 30 entrevistadores, devidamente treinados28, inclusive
por membros da equipe de pesquisa, e identificados (uniformizados, munidos do
questionrio, do manual da entrevista, que est apresentado no Anexo 2, e de
cartes de resposta).
27
Ver a este respeito, Relatrio de Avaliao do Preteste fornecido pela Overview Pesquisa no Anexo 3.1.
28 O treinamento para o preteste foi fornecido por dois dos membros da equipe desta pesquisa e o
treinamento para a coleta final foi feita pela empresa contratada de forma presencial no Rio de Janeiro e So Paulo e via videoconferncia nas demais localidades. Detalhes sobre o treinamento esto contidos no relatrio de campo, no Anexo 3.3.
37
Ao final, o survey totalizou 2.226 entrevistas, realizadas em 36 municpios de
12 estados brasileiros, conforme o plano amostral previamente determinado. As
entrevistas foram de carter pessoal e presencial utilizando questionrio em papel,
por no haver tempo hbil para gerar uma verso informatizada.
Figura 3 Coleta de Dados
Data Diagnstico da Pesquisa de Campo
11 de Setembro de 2012 Iniciada
17 de Setembro de 2012
Concluda nas localidades: Bahia, Par, Pernambuco, Rio Grande do
Sul e Cear.
Ainda em andamento nas localidades: Paraba, Paran, Rondnia,
Rio de Janeiro, So Paulo, Distrito Federal e Mato Grosso.
24 de Setembro de 2012
Concluda: Paraba, Paran, Rondnia, Rio de Janeiro e So Paulo.
Ainda em andamento: Distrito Federal e Mato Grosso (com relatos
de dificuldades para a concluso da pesquisa por parte dos
entrevistadores).
30 de Setembro de 2012 Concluda: Distrito Federal e Mato Grosso.
2 de Outubro de 2012 Coleta de dados finalizada aps a verificao do material de campo,
que seguiu para digitao.
Fonte: Survey Percepo da Desigualdade / Setembro de 2012.
Foi relatado29 que, em alguns estados, os entrevistadores tiveram um
grande nmero de recusas. Esse problema ocorreu principalmente nas capitais: os
indivduos ao serem abordados alegavam falta de tempo ou falta de interesse em
responder a pesquisas em geral. Outra razo frequente para a recusa foi o fato de o
campo ter sido realizado em perodo pr-eleitoral, concomitante a outras pesquisas
(no caso, polticas) em curso. Por ltimo, fatores ambientais, como chuvas,
dificultaram a coleta em algumas localidades, acarretando extenso do campo.
Estas dificuldades, no entanto, no impediram que os entrevistadores
completassem as quantidades predefinidas de entrevistas em conformidade com os
29
Ver a esse respeito, no Relatrio de Campo (com 4 pginas), contido no Anexo 3.3, tambm produzido pela empresa Overview Pesquisa.
38
locais selecionados. Ademais, todas as recusas foram devidamente repostas e
compensadas.
A pesquisa de campo foi ento concluda com sucesso, tendo o material de
campo sido verificado e aprovado, seguindo, ento, para digitao e composio do
banco de dados.
1.4. Detalhamento da amostra
As tabelas 2 a 6 apresentam os totais amostrais e populacionais, juntamente
com as respectivas estimativas de erro, utilizados no desenho amostral. Pode-se
verificar que a amostra final est composta de um total de 2.226 indivduos com 16
anos de idade ou mais; sendo 1.146 homens e 1.080 mulheres, distribudas nas
grandes regies de acordo com a Tabela 3.
Para algumas classes de renda e faixas de escolaridade, a estimativa do
erro amostral supera a taxa de 10% (amostra por demais reduzida) indicando serem
necessrios precauo e rigor nas anlises envolvendo tais variveis, ou ainda
sugerindo uma eventual agregao de algumas classes para que se possam tirar
concluses mais robustas. O captulo 2 apresenta a anlise descritiva dos resultados
do survey, bem como sistematiza as decises tomadas para enfrentar tal problema.
Tabela 5 Totais amostrais e populacionais, segundo sexo do respondente
e estimativa do erro amostral
Sexo
Amostra
Observada
Populao
Estimada
Erro Amostral
Estimado
Masculino 1.146 68.238.274 2,89%
Feminino 1.080 73.010.302 2,98%
Total 2.226 141.248.576 2,08%
39
Tabela 6 Totais amostrais e populacionais, segundo grandes regies do
respondente e estimativa do erro amostral
Grandes Regies
Amostra
Observada Populao
Estimada Erro Amostral
Estimado
Norte 365 10.563.944 5,13%
Nordeste 551 37.880.127 4,17%
Centro-Oeste 360 10.353.107 5,16%
Sudeste 534 61.540.827 4,24%
Sul 416 20.910.571 4,80% Total 2.226 141.248.576 2,08%
Tabela 7 Totais amostrais e populacionais, segundo faixa etria do
respondente e estimativa do erro amostral
Faixa de idade
Amostra
Observada
Populao
Estimada
Erro Amostral
Estimado
De 16 24 anos 365 30.661.135 5,13%
De 25 39 anos 551 46.737.505 4,17%
De 40 59 anos 360 43.259.339 5,17%
60 anos ou mais 534 20.590.597 4,24%
Total 1.810 141.248.576 2,30%
Tabela 8 Totais amostrais e populacionais, segundo classes de
rendimento familiar do respondente e estimativa do erro amostral
Classe de Renda Familiar (Varivel Q11)
Amostra
Observada
Populao
Estimada
Erro Amostral
Estimado
Menos do que R$ 1.000,00 484 31.558.443 4,45%
De R$ 1.001,00 a R$ 2.000,00 617 40.765.713 3,95%
De R$ 2.001,00 a R$ 3.000,00 334 19.767.993 5,36%
De R$ 3.001,00 a R$ 4.000,00 212 12.236.071 6,73%
De R$ 4.001,00 a R$ 5.000,00 115 7.021.943 9,14%
De R$ 5.001,00 a R$ 8.000,00 122 8.096.282 8,87%
De R$ 8.001,00 a R$ 15.000,00 62 3.516.318 12,45%
De R$ 15.001,00 a R$ 20.000,00 13 979.864 27,18%
Mais do que R$ 20.000,00 9 768.922 32,67%
No sabe 143 9.473.838 8,20%
No responde 115 7.063.188 9,14% Total 2.226 141.248.576 2,08%
40
Tabela 9 Totais amostrais e populacionais, segundo a escolaridade do
respondente, populao estimada referente e estimativa do erro amostral
Escolaridade (Varivel Q6) Amostra
Observada Populao
Estimada Erro Amostral
Estimado
Ensino Fundamental / 1 grau at 4 SRIE /
Primrio / At 5 ano (atual) 309 21.484.409 5,57%
Ensino Fundamental / 1 grau - de 5 a 8 SRIE /
Ginsio / At 9 Ano (atual) 553 36.857.177 4,17%
Ensino mdio ou 2 Grau / Mdio (cientfico,
clssico) 996 62.189.196 3,11%
Superior 262 14.946.461 6,05%
Especializao, mestrado ou doutorado 68 3.770.357 11,88%
Alfabetizao de adulto 5 247.555 43,83%
Nenhum 31 1.666.441 17,60%
NS/NR 2 86.977 69,30%
Total 2.226 141.248.576 2,08%
1.5. Ponderao da amostra e erros amostrais
A ponderao da amostra deve ser feita atravs da utilizao de um fator de
expanso (wh) exposto na Tabela 10 , cujo procedimento de clculo parte das
fraes de amostragem de cada estgio do plano amostral, segundo:
.
Ou seja, o fator de expanso30 wh a razo entre o tamanho da amostra
observada nos estratos de determinao das cotas Tamcota , conforme a Tabela 11
e a populao brasileira dentro desses estratos PopBr,
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