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1 COLOSSENSES 2:16
Leandro Bertoldo
COLOSSENSES 2:16
Leandro Bertoldo
2 COLOSSENSES 2:16
Leandro Bertoldo
Dedicatória
Dedico este livro às três mulheres da minha vida:
Anita, Daisy e Beatriz,
respectivamente,
mãe, esposa e filha querida.
3 COLOSSENSES 2:16
Leandro Bertoldo
“Muitos há que procuram confundir estes dois sistemas, usando os textos
que falam da Lei Cerimonial para provar que a Lei Moral foi abolida; mas isto é perversão das
Escrituras”. (Patriarca e Profetas, 365).
Ellen Gould White
Escritora, conferencista, conselheira,
e educadora norte-americana.
(1827-1915)
4 COLOSSENSES 2:16
Leandro Bertoldo
Sumário
Dados biográficos
Prefácio
Capítulo 1 “Havendo riscado a cédula”
Capítulo 2
“que era contra nós”
Capítulo 3
“Nas suas ordenanças”
Capítulo 4
“a qual de alguma maneira nos era contrária”
Capítulo 5
“tirou do meio de nós”
Capítulo 6
“cravando-a na cruz”
Capítulo 7
“Portanto ninguém vos julgue”
Capítulo 8
“pelo comer, ou pelo beber”
Capítulo 9
“por causa dos dias de festa”
Capítulo 10
“da lua nova”
Capítulo 11
“dos sábados”
Capítulo 12
“que são sombras das coisas futuras”
Capítulo 13
“mas o corpo é de Cristo”
Bibliografia
Relação de Endereços
5 COLOSSENSES 2:16
Leandro Bertoldo
Dados biográficos
Leandro Bertoldo é o primeiro filho do casal José Bertoldo Sobrinho e Anita Leandro
Bezerra. Tem um irmão chamado Francisco Leandro Bertoldo. Os dois seguiram a carreira no
judiciário paulista, incentivados pelo pai, que via algo de desejável na estabilidade do serviço
público.
Leandro fez as faculdades de Física e de Direito na Universidade de Mogi das Cruzes –
UMC. Seu interesse sempre crescente pela área das exatas vem desde os seus 17 anos, quando
começou a escrever algumas teses sérias a respeito do assunto. Em 1995, publicou o seu
primeiro livro de Física, que foi um grande sucesso entre os professores universitários. O seu
comprometimento com o Direito é resultado de suas atividades junto ao Tribunal de Justiça do
Estado de São Paulo.
Em 1986, influenciado pela colega de trabalho Célia Regina de Souza Xavier, converteu-
se ao cristianismo, recebendo as suas primeiras orientações doutrinarias do professor Valdir
Gonçalves Xavier. Posteriormente estudou na Classe Bíblica com o eminente professor Pedro
B’ärg. Pouco tempo depois começou a ministrar estudos bíblicos nos lares de diversos
interessados.
Mais tarde, ao assumir a direção da Classe Bíblica, teve grande êxito em preparar
algumas almas sinceras para o santo batismo. Porém, a sua atividade principal tem sido
realizada na Classe Pós-batismal, onde tem preparado dezenas de novos lideres para trabalharem
nos ministérios da igreja e na obra evangelística voluntária.
Leandro casou-se duas vezes e teve uma linda filha do primeiro matrimônio chamada
Beatriz Maciel Bertoldo. Sua segunda esposa Daisy Menezes Bertoldo tem sido sua grande
companheira e amiga inseparável de todas as horas. Muitas de suas alegrias são proporcionadas
pelos seus cachorros: Fofa, Pitucha, Calma e Mimo.
Durante sua carreira como cientista contabilizou centenas de artigos e dezenas de livros,
todos defendendo teses originais em Física e Matemática, destacando-se: “Teoria Matemática e
Mecânica do Dinamismo” (2002); “Teses da Física Clássica e Moderna” (2003); “Cálculo
Seguimental” (2005); “Artigos Matemáticos” (2006) e “Geometria Leandroniana” (2007), os
quais estão sendo discutidos por vários grupos de pesquisas avançadas nas grandes
universidades do país. Em teologia suas principais obras são as seguintes: “Estudos Bíblicos
Avançados” (2006); “Exercícios de Estudos Bíblicos” (2008); “Profecias Sobre o Tempo do
Fim” (2009); “A Lei, o Sábado e o Domingo” (2010) e “Perguntas e Respostas” (2011), os quais
estão sendo utilizados em pequenos grupos e classes bíblicas. Muitas igrejas estão realizando
seminários bem-sucedidos com o livro “Profecias Sobre o Tempo do Fim”.
No primeiro semestre de 2012, a convite do dedicado missionário voluntário “Edson
Felix” – pioneiro em organizar e dirigir duas igrejas em César de Souza – teve o privilégio de
realizar todos os domingos, durante um período de seis meses, um enriquecedor seminário
intitulado “Profecias Sobre o Tempo do Fim”, baseado em seu livro “Conflito Final”.
Em sua denominação religiosa foi Secretário do Ministério Pessoal, Tesoureiro,
Professor da Escola Sabatina, Promotor de Literatura, Professor da Classe de Visitas, Ancião e,
atualmente, Coordenador de Classe Bíblica.
6 COLOSSENSES 2:16
Leandro Bertoldo
Prefácio
A razão da existência desta obra surgiu da necessidade de realizar um estudo popular e
sistemático de caráter didático, exegético, sintático e intertextual dos seguintes versículos:
“Havendo riscado a cédula que era contra nós nas suas ordenanças, a qual de alguma maneira
nos era contrária, e a tirou do meio de nós, cravando-a na cruz. Portanto ninguém vos julgue
pelo comer, ou pelo beber ou por causa dos dias de festa, ou da lua nova, ou dos sábados, que
são sombras das coisas futuras, mas o corpo é de Cristo” (Colossenses 2:14 e 16-17).
A estrutura básica deste livro está fundamentada na análise lógica indutiva das idéias
expressas nos versículos bíblicos acima considerados. A obra leva em consideração o contexto
imediato e mediato dos referidos versículos. Também considera o capítulo, a epístola e toda as
Escrituras Sagradas que porventura tenham relação com o assunto em pauta. Entre os princípios
bíblicos adotados nesta obra, destacam-se os seguintes:
1º. O princípio da sola Scriptura, que etimologicamente significa “somente a Escritura”,
estabelece que a Bíblia e somente a Bíblia Sagrada é a norma de fé, conduta e doutrina.
(Deuteronômio 4:2; Lucas 10:26; João 5:39; 10:35; Atos 17:11; Tiago 1:22);
2º. O princípio da nuda Scriptura, estabelece que a “Escritura interpreta-se com a
própria Escritura”. Na Hermenêutica tal princípio é conhecido como “interpretação contextual”.
(Eclesiastes 7:27; Isaías 8:20; II Coríntios 13:8);
3º. O princípio da tota Scriptura, considera a análise da totalidade das Escrituras
Sagradas: Antigo e Novo Testamento. (Mateus 4:4; Romanos 15:4; II Timóteo 3:16-17).
Este livro apresenta um caráter didático-popular de grau médio. Encontra-se dividido em
treze capítulos razoavelmente eqüitativos, que destrincham metodicamente as diferentes partes
constituintes dos versículos bíblicos registrados em Colossenses 2:14; 16-17. Tudo com vista a
uma profunda análise da anatomia do texto bíblico em observação.
Devido ao meticuloso estudo dos versículos recortados, bem como à sua análise
sistemática, algumas repetições são simplesmente inevitáveis, para não dizer que são até mesmo
necessárias à perfeita compreensão da passagem bíblica considerada.
O livro faz uma profunda análise hermenêutica do significado bíblico das palavras
“cédula”, “ordenanças” e “sombras”; e das frases “contra nós”, “dias de festa”, “lua nova”, “dos
sábados” etc. Na maior parte das vezes a obra procura confrontar a Lei Moral com a Lei
Cerimonial e o Sábado Semanal com o Sábado Cerimonial, com o fito de destacar suas
principais diferenças.
Em alguns aspectos a obra é inovadora, sem querer ser pretensiosa. Os assuntos aqui
abordados foram maciçamente pautados em dezenas de versículos bíblicos de natureza clara e
objetiva a qualquer leitor médio.
Espero de coração, que os temas aqui ventilados sejam do maior interesse ao leitor, e que
os meus esforços numa área tão difícil, sejam bem sucedidos em ajudar os estudiosos a
compreenderem um pouco mais do rico e imenso universo que caracteriza as Escrituras
Sagradas.
leandrobertoldo@ig.com.br
7 COLOSSENSES 2:16
Leandro Bertoldo
Capítulo 1 “Havendo riscado a cédula”
“Havendo riscado a cédula que era contra nós nas suas ordenanças, a qual de alguma maneira
nos era contrária, e a tirou do meio de nós, cravando-a na cruz”.
Colossenses 2:14
Em sua epístola aos Colossenses, o apóstolo Paulo afirma o seguinte: “havendo riscado
a cédula”. Com essa expressão ele procura informar aos seus leitores que uma determinada
cédula foi riscada.
O vocábulo “riscado” e “cédula” que aparecem no versículo bíblico em análise precisam
ser estudados mais minuciosamente para que o seu verdadeiro sentido, significado e alcance
sejam plenamente compreendidos.
A princípio, as perguntas que se manifestam na mente de qualquer pessoa interessada no
assunto são as seguintes:
– O que é uma “cédula”?
– Qual é a definição apresentada pelas Escrituras Sagradas para a palavra “cédula”?
– Em qual contexto as Escrituras Sagradas empregam a expressão “cédula”?
– Em qual contexto a palavra “cédula” foi empregada pelo apostolo Paulo em sua
epístola?
Essas são algumas questões fundamentais que o presente capítulo vai procurar responder.
1.2 A definição dos dicionários
Pela definição do “Dicionário on-line de Português”, a expressão “cédula” é sinônimo de
chapa, apontamento, bilhete, lembrança, nota e voto.
O “Minidicionário Ediouro da Língua Portuguesa” define “cédula” do seguinte modo:
“documento escrito, de natureza variada”.
O “Dicionário Completo da Língua Portuguesa Folha da Tarde” define “cédula” como
“documento escrito, para efeitos legais”, “papel representativo de moeda de curso legal”,
“simples declaração de dívida, escrita, mas sem caráter legal”, “papelada com nome ou nomes
de candidato(s) a cargo eletivo”.
A Enciclopédia e Dicionário Ilustrado Koogan/Houaiss define o vocábulo “cédula” como
“papel representativo de dinheiro de curso legal”; “papel com nome de candidato a cargo
eletivo”; “chapa eleitoral”; “documento escrito”; “confissão de dívida escrita, mas não
legalizada”; etc.
1.3 A definição do texto original
A Bíblia Sagrada foi escrita em hebraico, aramaico e grego. Sendo que o Novo
Testamento foi totalmente escrito em grego. Do ponto de vista etimológico, a palavra traduzida
em português por “cédula” na Bíblia Sagrada produzida por João Ferreira de Almeida, vem do
vocábulo grego χειρογραφον (“Textus Receptus”, Ed 1894), que corresponde a “keirographon”
e tem o significado de “manuscrito”.
Ao traduzir a Bíblia Sagrada do grego para o latim, Jerônimo verteu o vocábulo grego
“keirographon” para “chirographum”.
8 COLOSSENSES 2:16
Leandro Bertoldo
O Padre Matos Soares, ao traduzir as Escrituras Sagradas, a partir da tradução latina feita
por Jerônimo para a língua portuguesa, transliterou o vocábulo “chirographum” para
“quirógrafo”. Sabe-se que “quiro” tem o significado de mão, e “grafo” tem o significado de
descrever. Portanto, trata-se da mesma coisa que um “autógrafo”.
De “quirógrafo” originou-se o adjetivo “quirografário” que juridicamente são os atos e
contratos, que constam de documento particular não reconhecido em juízo. Por exemplo,
“credor quirografário”, “dívida quirografária” etc.
A “Sociedade Bíblia Britânica” e a “Almeida Revisada Imprensa Bíblica” verteram a
expressão grega “keirographon” para “escrito de dívida”.
A “Versão Revisada” da Tradução de João Ferreira de Almeida verteu a referida
expressão para “documento escrito”.
A “Bíblia de Jerusalém” verteu tal expressão para “título de dívida”.
A tradução feita pelo “Centro Bíblico Católico” a partir da versão dos monges de
maredsous (Bélgica) verteu a referida expressão para a língua portuguesa como “documento
escrito”.
1.4 A espécie de cédula
Pesquisando a Bíblia Sagrada pode-se constatar que a palavra “cédula” (keirographon)
aparece apenas uma vez em toda a extensão das Escrituras Sagradas. Ela foi aplicada
unicamente pelo apóstolo Paulo na passagem de Colossenses 2:14.
Portanto, a análise rigorosa desse vocábulo depende somente da etimologia da palavra,
da definição apresentada pelos dicionários e do contexto empregado por Paulo em sua carta aos
Colossenses.
Como foi dito, a “Enciclopédia e Dicionário Ilustrado Koogan/Houaiss”, define a
expressão “cédula” como uma “confissão de dívida escrita, mas não legalizada”.
O “Dicionário Completo da Língua Portuguesa da Folha da Tarde” define “cédula” como
“simples declaração de dívida, escrita, mas sem caráter legal”.
No mundo civilizado do Império Romano da época do apóstolo Paulo, a expressão
“keirographon” referia-se juridicamente a um documento escrito pelo qual o devedor reconhecia
a sua divida, mas sem o caráter legal.
No contexto da passagem bíblica de Colossenses, o sentido para a expressão “cédula”
(keirographon) indica, com toda certeza, uma dívida insolvente. Era um escrito de dívida, cujo
preço estipulado teríamos que pagar. O preço era a morte eterna do pecador. Todavia, “Cristo
pagou preço infinito pela redenção do homem”. (I Testemunhos Seletos, 464).
Para compreendermos o sentido de “keirographon” dentro do seu real contexto é
necessário continuarmos dissecando o versículo bíblico em suas demais partes.
1.5 O vocábulo “riscado”
A outra palavra que precisamos analisar é o vocábulo “riscado”. Segundo informações
contidas no “Dicionário on-line de Português”, o vocábulo “riscado” é definido do seguinte
modo: “que se riscou ou que tem riscos”; “marcado com riscos para fins de realce ou de
exclusão” etc.
Pela simples leitura do contexto bíblico do versículo considerado em Colossenses está
claro que o vocábulo “riscado” tem fins de “exclusão”.
Portanto, o “keirographon” (cédula) foi riscado, ou seja, excluído, invalidado, suprimido,
cassado, cessado, abolido, eliminado, extinguido, apagado, cancelado, anulado, acabado,
consumido, revogado, ab-rogado, derrogado, descontinuado, detido, interrompido, sobrestado,
sustado, obstruído etc.
9 COLOSSENSES 2:16
Leandro Bertoldo
1.6 A lei moral
Sem nenhuma base nas evidências apresentadas pelas Escrituras Sagradas, algumas
pessoas, de forma inconseqüente, advogam a suposição ilusória de que a cédula riscada é uma
referência à Lei Moral, ou seja: Os Dez Mandamentos. Ocorre que as conseqüências dessa
obtusa suposição são totalmente absurdas. Observe:
1ª. A Bíblia Sagrada ensina que o pecado não existe onde não há lei (Romanos 4:15;
5:13). Porém, caso a Lei Moral tivesse sido riscada na cruz isto implicaria na total abolição do
pecado. Porém, como o pecado ainda continua sendo imputado aos pecadores, isto prova que a
Lei Moral não é a cédula que foi riscada;
2ª. Caso a Lei Moral tivesse sido riscada, então o apóstolo Paulo estaria sendo
contraditório em suas cartas pastorais, especialmente porque em muitas passagens outras
passagens ele defende vigorosamente a observância da Lei Moral (Romanos 3:20; 3:31; 7:7;
13:9);
3ª. Considerando que a Lei Moral tenha sido riscada na cruz, então Jesus Cristo ensinou
inutilmente os Seus seguidores a observar estritamente os mandamentos de uma lei que seria
abolida alguns meses depois, com a sua morte na cruz (Mateus 5:27-28; Mateus 19:9; Marcos
7:21; Lucas 18:20);
4ª. Supondo que a Lei Moral tenha sido riscada, então porque o apóstolo Paulo afirmou
que ela não foi anulada. Eis o que ele disse em alto e bom som: “Anulamos, pois, a lei pela fé?
De maneira nenhuma, antes estabelecemos a lei”. (Romanos 3:31);
5ª. Conforme anunciou o apóstolo Paulo, aqueles que estão vivendo na carne não se
sujeitam à lei de Deus. Obviamente, aqueles que estão vivendo no espírito sujeitam-se à lei de
Deus. Eis o que diz a Bíblia Sagrada: “Porquanto a inclinação da carne é inimizade contra
Deus, pois não é sujeita à lei de Deus, nem, em verdade, o pode ser. Portanto, os que estão na
carne não podem agradar a Deus”. (Romanos 8:7-8).
6ª. Por meio do argumento de que a Lei Moral foi riscada na cruz, alguns desmentem o
fato bíblico de que Jesus e os santos apóstolos guardaram e ensinaram por preceito e exemplo os
cristãos a observarem todos os Dez Mandamentos expressos na Lei Moral.
7ª. Supondo que a Lei Moral tenha sido riscada na cruz, então porque Jesus Cristo
ensinou a observar os mandamentos dessa lei de maneira mais profunda e rigorosa do que vinha
até então sendo observada? Eis o que disse Jesus: “Ouvistes que foi dito aos antigos: Não
cometerás adultério. Eu porém, vos digo que qualquer que atentar numa mulher para a cobiçar,
já em seu coração cometeu adultério com ela”. (Mateus 5:27-28).
8ª. Através da suposição destituída de fundamento bíblico de que a Lei Moral foi riscada
na cruz, os antagonistas da lei, contradizem o texto sagrado do Novo Testamento, o qual ensina
que: “qualquer que guardar toda a lei, e tropeçar em um só ponto, tornou-se culpado de
todos”. (Tiago 2:10).
9ª. Caso a Lei Moral tenha sido riscada na cruz, então a qual lei Jesus Cristo, os santos
apóstolos, o apóstolo Paulo e todos os demais escritores bíblicos estariam fazendo referência em
suas mensagens divinamente inspiradas?
10ª. Supondo que a Lei Moral tenha sido riscada na cruz, então por que Jesus Cristo nada
comentou a respeito dessa questão? Por que Paulo e todos os demais escritores bíblicos
permaneceram no mais ensurdecedor silêncio sobre a suposta abolição da Lei Moral? A resposta
é muito simples: A Lei Moral jamais foi riscada na cruz.
1.7 As espécies de leis
A Bíblia Sagrada faz referência a várias espécies de leis, as quais estão esparsas por toda
extensão do livro intitulado “Lei de Moisés”, que são os primeiros cinco livros da Bíblia
Sagrada, e que são conhecidos como Pentateuco.
10 COLOSSENSES 2:16
Leandro Bertoldo
Entre essas leis constatam-se claramente a existência de distintos grupos normativos, que
podem ser classificados didaticamente do seguinte modo: “Leis Morais”, “Leis Cerimoniais”,
“Leis Civis”, “Leis Criminais”, “Leis de Saúde”, “Leis de Higiene” etc.
Evidentemente tais nomes não estão registrados nas páginas das Escrituras Sagradas,
como também não estão registradas as palavras: Bíblia Sagrada, Trindade, Onisciência,
Onipresença, Onipotência, Milênio, Milagre, Plano da Redenção etc. Porém, as “ideias” e os
“conteúdos” que todas essas palavras expressam estão perfeitamente contidos nas Escrituras
Sagradas, por essa razão é lícito o emprego de tais palavras. Porém, palavras e idéias que não
estão registradas na Bíblia sagrada podem ser antibíblicas. A exemplo tem-se a expressão latina
“domingo”, cuja palavra e a idéia de dia santo não estão registradas nas Escrituras Sagradas.
Entre todas essas leis, dois conjuntos normativos merecem uma análise especial para
uma perfeita compreensão dos assuntos em discussão nesta obra. São elas: a “Lei Moral” e a
“Lei Cerimonial”.
A “Lei Moral” concretiza a conduta que todo homem deve ter para com Deus e para com
os seus semelhantes. Essa lei distingue-se de todas as demais porque foi a única a ser escrita
pessoalmente pelo dedo de Deus em duas tábuas de pedras (Êxodo 31:18), e posteriormente foi
transcrita por Moisés (Êxodo 20:3-17) para o livro intitulado Lei de Moisés.
A “Lei Cerimonial” tornava possível a expiação dos pecados cometidos pelos homens.
Esses pecados resultavam diretamente da transgressão da Lei Moral. O interessante é que a Lei
Cerimonial não foi escrita em tábuas de pedras e tampouco escrita pelo dedo de Deus; mas
Moisés a recebeu por inspiração divina e a escreveu diretamente para o chamado Livro da Lei
de Moisés.
1.8 As Leis Moral e Cerimonial em Levítico
Além de centenas de passagens bíblicas esparsas por toda extensão das Escrituras
Sagradas, considere o exemplo logo a seguir, onde a distinção e a relação existente entre a “Lei
Moral” e a “Lei Cerimonial” estão apresentadas na Bíblia Sagrada:
“E se qualquer outra pessoa do povo da terra pecar por erro, fazendo contra algum dos
mandamentos do Senhor, aquilo que se não deve fazer, e assim for culpada. Ou se o seu
pecado, no qual pecou, lhe for notificado, [Lei Moral] então trará por sua oferta uma cabra
fêmea sem mancha, pelo seu pecado que pecou. E porá a sua mão sobre a cabeça da expiação
do pecado, e degolará a expiação do pecado no lugar do holocausto [Lei Cerimonial]”.
(Levítico 4:27-29).
Nos três versículos supramencionados vislumbram-se claramente a existência de duas
espécies de leis:
Uma que é “transgredida”, quando o homem faz alguma coisa “contra algum dos
mandamentos do Senhor” (Levítico 4:27). Essa lei é conhecida como “Lei Moral”. Nos mesmos
versículos também se pode constatar a existência de outra lei que “foi ordenada por causa das
transgressões” (Gálatas 3:19) e que tem a função exclusiva de fazer “expiação do pecado”
(Levítico 4:29) por meio do holocausto de animais no “culto divino” do “santuário terrestre”.
Essa lei é conhecida como “Lei Cerimonial”.
A transgressão da Lei Moral, expressa nos Dez Mandamentos levou o Senhor Deus a dar
ao homem as ordenanças da Lei Cerimonial. A expiação de pecados por meio do holocausto de
animais eram sombras prefigurativas que apontavam para o sacrifício do “Cordeiro de Deus, que
tira o pecado do mundo” (João 1:29).
1.9 As Leis Moral e Cerimonial em Isaías
11 COLOSSENSES 2:16
Leandro Bertoldo
Assim como no livro de Levítico, o profeta Isaías também faz uma clara distinção entre a
“Lei Moral” e a “Lei Cerimonial” no antigo culto divino realizado no santuário terrestre. Eis o
que o profeta diz:
“E aos filhos dos estrangeiros, que se chegarem ao Senhor, para o servirem, e para
amarem o nome do Senhor, sendo deste modo servos seus, todos os que guardarem o sábado,
não o profanando, e os que abraçarem o meu concerto [Lei Moral]. Também os levarei ao
meu santo monte, e os festejarei na minha casa de oração; os seus holocaustos e os seus
sacrifícios serão aceitos no meu altar [Lei Cerimonial], porque a minha casa será chamada
casa de oração para todos os povos”. (Isaías 56:6-7).
Nos versículos supramencionados pode-se constatar facilmente que o profeta Isaías
distinguia duas espécies de leis, caso contrário ele estaria sendo redundante.
O profeta faz clara referência à Lei Moral quando menciona os estrangeiros convertidos
que guardariam “o sábado, não o profanando, e os que abraçarem o meu concerto” (Isaías
56:6). Também faz referência à Lei Cerimonial ao afirmar que “os seus holocaustos e os seus
sacrifícios serão aceitos no meu altar” (Isaías 56:7).
A Lei Cerimonial de holocausto de animais vigoraria “até que viesse a posteridade”
(Gálatas 3:19), isto é “o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo”. (João 1:29).
Quando Cristo expirou na cruz essa cédula foi riscada. Com isso chegou ao fim a
eficácia dos sacrifícios dos animais para remissão de pecados, que estavam fiados no sacrifício
de Cristo. Nessas condições, a expiação de pecados não poderia mais ser alcançada com base no
sangue de animais imolados no santuário terrestre. Agora a expiação de pecados somente é
alcançada com base na eficácia do sangue de Cristo Jesus.
12 COLOSSENSES 2:16
Leandro Bertoldo
Capítulo 2 “que era contra nós”
“Havendo riscado a cédula que era contra nós nas suas ordenanças, a qual de alguma maneira
nos era contrária, e a tirou do meio de nós, cravando-a na cruz”.
Colossenses 2:14
O versículo bíblico em apreciação afirma que a cédula “era contra nós” (Colossenses
2:14). Essa expressão será objeto de dissecação no presente capítulo. A princípio, as grandes
questões que surgem em nossa mente são as seguintes: Qual cédula era contra nós? Por quê a
cédula era contra nós? No que a cédula era contra nós?
Essas são algumas perguntas fundamentais que o presente capítulo procurará responder
empregando a própria Bíblia Sagrada.
Usando uma simples “Concordância Bíblica” podemos facilmente constatar que existem
várias coisas que eram contra nós. A título de exemplo, observe as seguintes passagens bíblicas:
1º. “as nossas maldades testifiquem contra nós” (Jeremias 14:7); 2º. “os nossos pecados
testificam contra nós” (Isaías 59:12); 3º. “o furor do Senhor, que se acendeu contra nós” (II
Reis 22:13); 4º. “a ira do Senhor se acenda contra vós” (Deuteronômio 11:17).
Examinando meticulosamente as coisas que era contra nós podemos identificar
claramente qual delas o apóstolo Paulo tinha em mente quando escreveu a sua célebre carta aos
Colossenses.
2.2 A Lei Moral e “keirographon”
Alguns comentaristas, profundamente arraigados numa descabida oposição ao que a
Bíblia Sagrada designa por “Lei de Deus” (Romanos 7:22; 25), procuram por todo tipo de
argumento, por mais absurdo que seja, encontrar algum fiapo de evidência que venha justificar o
seu total desprezo pela observância da lei divina, a qual foi pelo próprio dedo de Deus registrada
em duas tábuas de pedra. Tamanha era sua importância que, posteriormente, foi transcrita por
Moisés para o Livro da Lei.
Esses comentaristas afirmam que o “keirographon” (cédula) “que era contra nós” tratava-
se de uma simples metáfora referente à “Lei Moral”. Conforme o baixo “Quociente de
Inteligência” desses comentaristas, a Lei Moral era contra nós porque, ao proibir o pecado,
fazia-o mais abundante, tornando-nos escravos e condenando-nos à morte. Todavia, o raciocínio
míope de que a “Lei Moral” era contra nós está totalmente desfocado dos fatos, especialmente
porque o referido argumento contradiz dezenas de passagens bíblicas que ensinam justamente o
contrário. Tais comentaristas deixam transparecer nas entrelinhas que seria melhor que a Lei
Moral nunca tivesse existido, do que existindo levar o homem à escravidão e à morte. Para esses
comentaristas seria melhor o homem ter ficado em seu estado carnal de depravação, sem
nenhuma restrição para dar vazão aos seus desejos pecaminosos e maléficos, do que ter uma lei
para restringir tais práticas.
1º. Não é a lei que torna o pecado abundante. A lei não produz e nem cria os pecados.
Essa não é a sua função. Além disso, a própria lei não é pecado. Pelo menos é isso que diz a
Bíblia Sagrada: “Que diremos pois? É a lei pecado? De modo nenhum”. (Romanos 7:7). Na
realidade o pecado é abundante por causa da natureza carnal decaída do ser humano. A lei não
amplia, não multiplica e nem desenvolve o pecado. Sua função primordial consiste em
“mostrar” ao homem o que é pecado, justamente para restringir o pecado e não para aumentá-lo.
13 COLOSSENSES 2:16
Leandro Bertoldo
Caso todos os homens fossem santos, puros e perfeitos, não haveria pecado no mundo e a
existência da lei divina em nada alteraria o estado de pureza e santidade do homem. É claro que
onde há pecadores, também há pecados, razão pela qual o pecado mostra-se abundante. Quem
comete pecados são os seres humanos e não a lei divina. Como foi dito, a lei simplesmente
mostra ao homem o pecado. Eis o que diz a Bíblia Sagrada: “Porque pela lei vem o
conhecimento do pecado”. “Eu não conheci o pecado senão pela lei”. (Romanos 3:20; 7:7).
2º. Não é a lei que nos torna escravos, mas sim o pecado em nossa natureza carnal que
nos escraviza. Em outros termos, os homens não são escravos da lei, mas escravos do pecado.
Pelo menos este é o ensino bíblico: “Todo o que comete pecado é escravo do pecado”. (João
8:34). “Não sabeis vós que a quem vos apresentardes por servos para lhe obedecer, sois servos
daquele a quem obedeceis, ou do pecado para a morte, ou da obediência para a justiça?”.
(Romanos 6:16).
3º. Não é a lei que nos leva à morte, mas sim o pecado. Eis o que diz a Bíblia Sagrada:
“Porque o salário do pecado é a morte”. (Romanos 6:23). “O pecado, sendo consumado, gera
a morte” (Tiago 1:15). “Ora o aguilhão da morte é o pecado”. (I Coríntios 15:56).
4º. A única conclusão lógica e honesta que faz sentido com a suposta abolição da lei é a
seguinte: Ao morrer Jesus Cristo aboliu os Dez Mandamentos, sacrificando a Sua própria vida
para que pudéssemos pecar.
Diante do exposto não é possível enquadrar a Lei Moral como uma cédula que era contra
nós com base na obtusa suposição de que ela torna o pecado abundante, levando o homem à
escravidão e à morte, simplesmente porque ela não faz nada disso.
2.3 A cédula riscada “que era contra nós”
A cédula riscada e “que era contra nós” não se refere à Lei Moral, simplesmente porque
o próprio apóstolo Paulo afirma que “a lei é boa, se alguém dela usa legitimamente” (I Timóteo
1:8). Também afirma que “a lei é santa, e o mandamento santo, justo e bom” (Romanos 7:12).
Como pode a lei que é boa ser contra nós? Como pode o mandamento da lei que é santo, justo e
bom ser contra nós? Tenha paciência!
Paulo apresentou o seguinte testemunho pessoal a respeito da Lei de Deus: “segundo o
homem interior, tenho prazer na lei de Deus”. Em outro passo o referido escritor diz: “eu
mesmo com o entendimento sirvo à lei de Deus”. (Romanos 7:22; 25). Como pode o apóstolo
Paulo ter “prazer” em “servir” a uma lei riscada e que ainda “era contra nós”?
Supondo que a Lei de Deus seja “contra nós”, então porque Paulo afirmou que “a lei não
é feita para o justo, mas para os injustos e obstinados, para os ímpios e pecadores, para os
profanos e irreligiosos, para os parricidas e matricidas, para os homicidas. Para os
fornicários, para os sodomitas, para os roubadores de homens, para os mentirosos, para os
perjuros, e para o que for contrário à sã doutrina”. (I Timóteo 1:9-10)?
Caso a Lei de Deus pudesse ser contra nós, então porque Paulo apresentou o seguinte os
seguintes argumentos: “Que diremos pois? É a lei pecado? De modo nenhum”. (Romanos 7:7).
“Anulamos, pois, a lei pela fé? De maneira nenhuma, antes estabelecemos a lei”. (Romanos
3:31). Decididamente, essas não são afirmações de uma lei riscada que era contra nós.
Supondo que a lei de Deus tivesse sido riscada não deveria haver mais pecadores na face
da Terra, especialmente porque “onde não há lei também não há transgressão” e “o pecado
não é imputado, não havendo lei”. (Romanos 4:15; 5:13).
A Bíblia Sagrada não contém contradições. As contrações encontram-se nas
interpretações que os homens dão às Escrituras Sagradas. Seria totalmente contraditório supor
que a epístola aos Colossenses advoga que os Dez Mandamentos foram riscados porque era
contra nós, enquanto que todo restante do Novo Testamento torna a repetir incisivamente a
obrigatoriedade de observar cada um dos Dez Mandamentos.
14 COLOSSENSES 2:16
Leandro Bertoldo
2.4 O Pecado e “keirographon”
Outros pesquisadores supõem que “keirographon” – expressão vertida para a língua
portuguesa por João Ferreira de Almeida como “cédula” – o qual “era contra nós”, refere-se aos
pecados. Realmente, “os nossos pecados testificam contra nós” (Isaías 59:12). Porém, a
suposição de que de que “keirographon” é uma referência ao pecado não está em harmonia com
o próprio contexto do versículo bíblico em análise. Vejamos:
1º. O versículo diz o seguinte: “Havendo riscado a cédula que era contra nós”.
(Colossenses 2:14). Ora, uma cédula foi riscada, logo ela não deveria vigorar mais contra nós.
No entanto, o pecado continua reinando contra nós. Eis o que diz a Bíblia Sagrada: “Não reine
portanto o pecado em vosso corpo mortal, para lhe obedecerdes em suas concupiscências”.
(Romanos 6:12). “Porque, se pecarmos voluntariamente, depois de termos recebido o
conhecimento da verdade, já não resta mais sacrifício pelos pecados”. (Hebreus 10:26). “Ainda
não resististes até ao sangue, combatendo contra o pecado”. (Hebreus 12:4). “Se dissermos que
não temos pecado, enganamo-nos a nós mesmos, e não há verdade em nós”. (I João 1:8).
2º. O versículo esclarece que a cédula “era contra nós”. Uma análise gramatical mostra
que o vocábulo designado pela expressão “era” trata-se de uma conjugação do pretérito
imperfeito do verbo irregular “ser”. Isto indica que no passado o “keirographon” era contra nós;
porém, tendo sido riscado ele não pode mais ser contra nós. Contudo o pecado ainda continua
em pleno vigor. Eis o que diz a Bíblia Sagrada: “Se dissermos que não temos pecado,
enganamo-nos a nós mesmos, e não há verdade em nós”. “Se dissermos que não pecamos,
fazemo-lo mentiroso, e a sua palavra não está em nós”. (I João 1:8 e 10). “Que diremos pois?
Permaneceremos no pecado, para que a graça abunde? De modo nenhum. Nós, que estamos
mortos para o pecado, como viveremos ainda nele?”. (Romanos 6:1-2). “Porque o salário do
pecado é a morte”. (Romanos 6:23).
2.5 A Lei Cerimonial e “keirographon”
Qual era o “keirographon” (cédula) que era contra nós e que foi riscado? Bem,
primeiramente devemos lembrar que a diferença entre a Lei Moral escrita por Deus em duas
tábuas de pedra e a Lei Cerimonial escrita por Moisés no livro da lei é muito grande. São leis
totalmente distintas. Enquanto as duas tábuas de pedra foram colocadas dentro da arca do
concerto, o livro da lei foi colocado do lado de fora ao lado da arca do concerto: “Tomai este
livro da lei, e ponde-o ao lado da arca do concerto do Senhor vosso Deus, para que ali esteja
por testemunha contra ti”. (Deuteronômio 31:26).
O profeta Daniel afirmou que o Messias riscaria (suprimiria, cessaria, aboliria,
eliminaria, extinguiria, cancelaria, anularia, acabaria etc.) o concerto do cerimonial religioso de
culto divino representado pelo “sacrifício e a oferta de manjares”, que eram realizados pelos
sacerdotes levitas no santuário terrestre. Observe o que diz a Bíblia Sagrada:
“E ele [Messias] firmará um concerto com muitos por uma semana: e na metade da
semana fará cessar o sacrifício e a oferta de manjares”. (Daniel 9:27).
Portanto, está claro que a cédula que era contra nós encontra perfeito respaldo no Antigo
Concerto expresso pelas ordenanças da Lei Cerimonial, a qual estabelecia a remissão de pecados
pelo holocausto de animais porque “sem derramamento de sangue não há remissão”. (Hebreus
9:22).
Além disso, as Escrituras Sagradas ensinam que a cédula representada pelas ordenanças
da Lei Cerimonial “é uma alegoria para o tempo presente, em que se oferecem dons e
sacrifícios... consistindo somente em manjares, e bebidas, e várias abluções e justificações da
carne, impostas até ao tempo da correção”. (Hebreus 9:9-10).
15 COLOSSENSES 2:16
Leandro Bertoldo
Os cerimoniais de purificação de pecados realizados sob a vigência daquela cédula
“servem de exemplar e sombra das coisas celestiais”. (Hebreus 8:5). “De sorte que era bem
necessário que as figuras das coisas que estão no céu assim se purificassem; mas as próprias
coisas celestiais com sacrifícios melhores do que estes”. (Hebreus 9:23).
Como “alegoria para o tempo presente”, “exemplar das coisas celestiais” e “figuras
das coisas que estão no céu”, as ordenanças da Lei Cerimonial não possuíam, em si mesmas,
nenhuma eficácia, mas estavam fiadas unicamente no sucesso do sacrifício do Messias. “Porque
é impossível que o sangue dos touros e dos bodes tire os pecados”. (Hebreus 10:14). Essas
ordenanças cerimoniais simplesmente apontavam para o sacrifício supremo do “Cordeiro de
Deus, que tira o pecado do mundo”. (João 1:29). Com a morte do “Cordeiro de Deus”, as
ordenanças de sacrifícios de animais perderam sua eficácia porque cumpriram seu desígnio.
2.6 Uma cédula contra nós
A seguir apresentamos brevemente duas perguntas que exigem uma resposta clara e
objetiva da Bíblia Sagrada: Como a cédula (keirographon) em suas ordenanças cerimoniais “era
contra nós”? Em que essa cédula era contra nós?
Bem, as razões são várias, mas vamos deixar que a própria Bíblia Sagrada aponte para as
respostas corretas:
1º. O keirographon (cédula) cerimonial expresso no primeiro concerto era contra nós
porque era repreensível: “Porque, se aquele primeiro fora irrepreensível, nunca se teria
buscado lugar para o segundo”. (Hebreus 8:7).
2º. O keirographon (cédula) cerimonial expresso no antigo concerto era contra nós
porque havia envelhecido e deveria acabar: “Dizendo Novo Concerto, envelheceu o primeiro.
Ora, o que foi tornado velho, e se envelhece, perto está de acabar”. (Hebreus 8:13).
3º. O keirographon (cédula) cerimonial era contra nós porque os sacrifícios realizados no
“santuário terrestre” eram inferiores aos celestiais: “De sorte que era bem necessário que as
figuras das coisas que estão no céu assim se purificassem; mas as próprias coisas celestiais
com sacrifícios melhores do que estes”. (Hebreus 9:23).
4º. O keirographon (cédula) cerimonial do primeiro concerto era contra nós porque
claramente “nenhuma coisa aperfeiçoou”. (Hebreus 7:19).
5º. O keirographon (cédula) cerimonial do antigo concerto era contra nós porque “nunca,
pelos mesmos sacrifícios que continuamente se oferecem cada ano, pode aperfeiçoar os que a
eles se chegam”. (Hebreus 10:1).
6º. O keirographon (cédula) cerimonial do primeiro concerto era contra nós porque os
adoradores continuavam com a consciência de pecado: “Doutra maneira, teriam deixado de se
oferecer, porque, purificados uma vez os ministrantes, nunca mais teriam consciência de
pecado”. (Hebreus 10:2)
7º. O keirographon (cédula) cerimonial do antigo concerto era contra nós porque os
sacrifícios de animais jamais podem tirar pecados: “E assim todo sacerdote aparece cada dia,
ministrando e oferecendo muitas vezes os mesmos sacrifícios, que nunca podem tirar pecados”
(Hebreus 10:11).
8º. O keirographon (cédula) cerimonial do primeiro concerto era contra nós “porque é
impossível que o sangue dos touros e dos bodes tire os pecados”. (Hebreus 10:14).
“À medida que se apartavam de Deus, os judeus perderam de vista em grande parte os
ensinos do serviço ritual. Esse serviço fora instituído pelo próprio Cristo. Era, em cada uma de
suas partes, um símbolo dEle; e mostrara-se cheio de vitalidade e beleza espiritual. Mas os
judeus perderam a vida espiritual de suas cerimônias, apegando-se às formas mortas. Confiavam
nos sacrifícios e ordenanças em si mesmos, em lugar de descansar nAquele a quem apontavam.
A fim de suprir o que haviam perdido, os sacerdotes e rabis multiplicavam exigências por sua
conta; e quanto mais rígidos se tornavam, menos manifestavam o amor de Deus”. (O Desejado
de Todas as Nações, 29).
16 COLOSSENSES 2:16
Leandro Bertoldo
2.7 Cédula riscada
As Escrituras Sagradas deixam claro que o “keirographon” – concerto de expiação de
pecados pelo holocausto de animais ministrado pelo sacerdócio levítico – foi totalmente riscado,
razão pela qual nenhum cristão realiza sacrifícios de animais para alcançar o perdão dos seus
pecados. Lembre-se que o vocábulo “riscado” tem o sentido de suprimir, cessar, abolir, eliminar,
extinguir, apagar, cancelar, anular, acabar, consumir, revogar, excluir etc. Agora observe como
essa cédula foi riscada:
1º. A Bíblia Sagrada ensina que na metade da semana profética (3,5 anos) o Messias
riscaria (cessaria) o concerto de “sacrifício” de animais e “ofertas de manjares” ministrados
pelos sacerdotes levitas no “santuário terrestre”. Observe: “E ele firmará um concerto com
muitos por uma semana: e na metade da semana fará cessar o sacrifício e a oferta de
manjares”. (Daniel 9:27).
2º. A cédula que era contra nós foi riscada porque o Senhor não se agradou com
sacrifício e oferta de manjares. Eis o que diz a Bíblia Sagrada: “Sacrifício e oferta, e
holocaustos e oblações pelo pecado não quiseste, nem te agradaram (os quais se oferecem
segundo a lei)”. (Hebreus 10:8).
3º. O sacerdócio levítico foi levantado segundo a ordem de Aarão, mas foi riscado e
substituído pelo sacerdócio de Cristo, que foi levantado segundo a ordem de Melquisedeque:
“De sorte que, se a perfeição fosse pelo sacerdócio levítico (porque sob ele o povo recebeu a
lei), que necessidade havia logo de que outro sacerdote se levantasse, segundo a ordem de
Melquisedeque, e não fosse chamado segundo a ordem de Aarão?” (Hebreus 7:11).
4º. A cédula que era contra nós foi riscada e substituída por outra: “Tira o primeiro, para
estabelecer o segundo”. (Hebreus 10:9). O vocábulo “primeiro” é uma referência ao Antigo
Concerto de expiação de pecados pelo sacrifício de animais; enquanto que o vocábulo
“segundo” é uma referência ao Novo Concerto de expiação de pecados pelo sacrifício de Cristo.
5º. A cédula que era contra nós foi riscada causando a mudança do sacerdócio e da lei
sacerdotal. Eis o que diz a Bíblia Sagrada: “Porque, mudando-se o sacerdócio, necessariamente
se faz também mudança da lei”. (Hebreus 7:12). Destarte, a mudança do sacerdócio acarretou a
mudança da lei do sacerdócio levítico para a lei do sacerdócio de Cristo.
6º. A cédula que era contra nós foi riscada por causa de sua fraqueza e inutilidade:
“Porque o precedente mandamento é ab-rogado por causa da sua fraqueza e inutilidade”.
(Hebreus 7:18). Por essa razão a lei sacerdotal do ministério levítico foi removida e em seu
lugar foi estabelecida a lei sacerdotal do ministério de Cristo, “perfeito para sempre” (Hebreus
7:28) e estabeleceu o “mais perfeito tabernáculo”. (Hebreus 9:11).
7º. A cédula de remissão dos pecados pelo sangue de animais foi riscada e perdeu a sua
eficácia, passando vigorar o concerto de remissão dos pecados pelo sangue de Cristo, o qual “se
entregou a si mesmo por nós, em oferta e sacrifício a Deus, em cheiro suave” (Efésios 5:2). Eis
o que disse Jesus: “Porque isto é o meu sangue, o sangue do Novo Testamento, que é
derramado por muitos, para remissão dos pecados”. (Mateus 26:28).
8º. Com a morte de Cristo foi definitivamente riscada a eficácia das ordenanças
realizadas do “santuário terrestre” (Hebreus 8:13-9:1): “E eis que o véu do templo se rasgou
em dois, de alto a baixo; e tremeu a terra, e fenderam-se as pedras”. (Mateus 27:51).
“Na primavera de 31 d.C., Cristo, o verdadeiro sacrifício, foi oferecido no Calvário.
Então o véu do templo se rasgou em dois, mostrando que a santidade e significação do serviço
sacrifical desapareceram. Chegara o tempo de cessar o sacrifício terrestre e a oblação”
(Desejados de Todas as Nações, 233). “A ruptura do véu do templo mostrou que os
sacrifícios e ordenanças judaicos não mais seriam recebidos. O grande Sacrifício havia sido
oferecido e aceito, e o Espírito Santo, que desceu no dia de Pentecoste, levou a mente dos
discípulos do santuário terrestre para o celestial, onde Jesus havia entrado com o Seu próprio
sangue, a fim de derramar sobre os discípulos os benefícios de Sua expiação. Mas os judeus
17 COLOSSENSES 2:16
Leandro Bertoldo
foram deixados em trevas completas. Perderam toda a luz que podiam ter recebido sobre o plano
da salvação, e ainda confiavam em seus inúteis sacrifícios e ofertas”. (História da Redenção,
306).
Quando Cristo expirou na cruz, o ministério sacerdotal levítico com suas múltiplas
ordenanças de holocaustos e ofertas pelo pecado foi definitivamente abolido (Daniel 9:27;
Mateus 27:51; Colossenses 2:14,16-17), passando a vigorar em seu lugar o ministério sacerdotal
de Cristo. Isto implica que o “keirographon” (cédula), onde o pecador confessava a sua dívida
(pecado) perante o Senhor Deus foi riscada. Naquela cédula de confissão de dívida, o pecador
reconhecia que era devedor (culpado) e que merecia receber o salário do pecado (a morte).
Porém, em sua infinita misericórdia o Senhor Deus permitia que o pecador “confesso”
substituísse a sua própria morte pela morte sacrifical de um animal limpo, tudo conforme os
requisitos prescritos na Lei Cerimonial.
18 COLOSSENSES 2:16
Leandro Bertoldo
Capítulo 3 “nas suas ordenanças”
“Havendo riscado a cédula que era contra nós nas suas ordenanças, a qual de alguma maneira
nos era contrária, e a tirou do meio de nós, cravando-a na cruz”.
Colossenses 2:14
Em que o “keirographon” (cédula) era contra nós?
Eis como a Bíblia Sagrada responde a esta pergunta:
– “Nas suas ordenanças”.
Portanto, Paulo ensina claramente que a cédula era contra nós “nas suas ordenanças”.
Mas então o que significa a palavra “ordenanças”?
Pesquisando o “Dicionário online de Português” a expressão “ordenança” tem o
significado de ordem, lei ou regulamento militar. Por sua vez a palavra “ordem” apresenta
vários sentidos, a saber: disposição das coisas de acordo com a sua categoria. Regras, leis,
estruturas que constituem uma sociedade. Classe, categoria, posição, mérito. Lei geral
proveniente do costume, da autoridade. Sociedade religiosa cujos membros fazem voto de viver
sob certas regras etc.
O “Standard Dictionary” define claramente o vocábulo ordenança como sendo “um rito
religioso ou cerimonial ordenada por autoridade divina ou eclesiástica”.
O que a Bíblia Sagrada tem a dizer sobre o significado da expressão “ordenanças”? Em
qual contexto as Escrituras Sagradas empregam o vocábulo “ordenanças”? Em quais situações o
Antigo Testamento aplica a expressão “ordenanças”? Que ordenanças eram essas? Essas são
algumas perguntas fundamentais que o presente capítulo procurará responder.
3.2 Ordenanças cerimoniais
O que o “Novo Testamento” tem a dizer sobre o significado da expressão “ordenanças”?
Em que sentido a expressão “ordenanças” é empregada nas demais cartas do apóstolo Paulo?
Em resposta a essas perguntas primeiramente vamos considerar a carta endereçada aos
Hebreus, onde o autor mostra claramente o que ele entendia pela expressão bíblica
“ordenanças”, ao expor a todos como ela era aplicada e compreendida em sua época.
“Dizendo Novo Concerto, envelheceu o primeiro. Ora, o que foi tornado velho, e se
envelhece, perto está de acabar. Ora também o primeiro tinha ordenanças de culto divino, e
um santuário terrestre”. (Hebreus 8:13; 9:1).
Quando o escritor da carta aos Hebreus diz textualmente que o “primeiro” concerto
“tinha ordenanças de culto divino, e um santuário terrestre”, ele está deixando bem claro aos
seus leitores que as “ordenanças” não se referem aos Dez Mandamentos, mas referem-se ao
cerimonial religioso ministrado pelos sacerdotes levitas, com seus múltiplos sacrifícios de
expiação de pecados pelo sangue de animais, os quais eram realizados somente no lugar onde
estava instalado o “santuário terrestre”.
Depois de discorrer sobre a formação e constituição do “santuário terrestre”, o autor da
epístola aos Hebreus conclui o seu raciocínio sobre o significado das “ordenanças” afirmando
“que é uma alegoria para o tempo presente, em que se oferecem dons e sacrifícios que, quanto
à consciência, não podem aperfeiçoar aquele que faz o serviço; consistindo somente em
19 COLOSSENSES 2:16
Leandro Bertoldo
manjares, e bebidas, e várias abluções e justificações da carne, impostas até ao tempo da
correção”. (Hebreus 9:9-10).
Para um bom entender meia palavra basta. Está claro, claríssimo de que as “ordenanças”
estavam relacionadas com o “culto divino” e com o “santuário terrestre”, que faziam parte do
antigo concerto de sacrifícios de animais para expiação de pecados.
À luz da carta aos Hebreus é indefensável a suposição de que a expressão “ordenanças”
refere-se à Lei Moral, simplesmente porque o contexto de Hebreus vincula as ordenanças com o
cerimonial de “culto divino” realizado pela ordem sacerdotal levítica no “santuário terrestre”.
Pelas Escrituras Sagradas, as ordenanças consistiam em várias orientações cerimoniais, que
antes da cruz os antigos crentes estavam obrigados a praticar. Verdadeiramente era um autêntico
“escrito de dívida”.
3.3 Etimologia de “keirographon”
Etimologicamente a palavra “keirographon”, que foi traduzida por João Ferreira de
Almeida pela expressão “cédula”, refere-se a uma nota de crédito contendo valores devidos; um
documento reconhecendo uma dívida; uma confissão de dívida, uma obrigação de pagamento,
uma cédula de dívida etc. Trata-se de uma declaração formal de débito, onde o devedor
reconhece que está em dívida tendo a obrigação de pagar o preço indicado.
Todos sabem que “o salário do pecado é a morte” (Romanos 6:23) e, sob a égide das
ordenanças dessa cédula, o pecador reconhecia a sua dívida (pecado) perante Deus quando
realizava as ordenanças prescritas referentes aos cerimoniais de holocausto de animais, tendo em
vista o pagamento do preço declarado por sua transgressão: a morte. Evidentemente, o ritual
todo era uma “alegoria”, cuja eficácia estava fiada na futura morte do “Cordeiro de Deus, que
tira o pecado do mundo”. (João 1:29).
Como o sangue de animais era totalmente inútil para o pagamento do salário do pecado
“porque é impossível que o sangue dos touros e dos bodes tire os pecados”. (Hebreus 10:14),
Cristo veio a este mundo e pagou o preço da dívida que todos os pecadores haviam contraído.
Jesus pagou o preço dos nossos pecados, morrendo em nosso lugar. Cristo pagou a nossa dívida
com a sua própria vida. Porém, a eficácia da morte de Cristo alcança o pecador somente quando
ele se arrepende de seus pecados e se converte para os caminhos do Senhor. Portanto, torna-se
indispensável que o pecador venha mudar a sua maneira de viver, submetendo-se ao senhorio de
Cristo em obediência às santificadoras normas da Lei Moral. “Anulamos, pois, a lei pela fé? De
maneira nenhuma, antes estabelecemos a lei”. (Romanos 3:31).
3.4 Lei que consistia em ordenanças
Além das cartas aos Colossenses e aos Hebreus, Paulo também empregou a expressão
“ordenanças” em sua carta escrita aos Efésios, onde o autor esclarece o que ele entende pela
expressão “ordenanças”.
“Na sua carne desfez a inimizade, isto é, a lei dos mandamentos, que consistia em
ordenanças, para criar em si mesmo dos dois um novo homem, fazendo a paz”. (Efésios 2:15).
Paulo afirma claramente que Cristo “desfez” a “lei dos mandamentos”. Ocorre que nas
Escrituras Sagradas existem centenas de leis e mandamentos. Então, a pergunta que se faz é a
seguinte:
– A qual “lei dos mandamentos” o apóstolo Paulo estaria se referindo em sua carta aos
Efésios?
Observe como o santo apóstolo responde com clareza meridiana a essa pergunta:
– “A lei dos mandamentos, que consistia em ordenanças”.
20 COLOSSENSES 2:16
Leandro Bertoldo
Ora, sabemos que “a lei dos mandamentos, que consistia em ordenanças” não era a Lei
Moral, cuja suma encontra-se expressa no Decálogo, mas trata-se da Lei Cerimonial ministrada
pelo sacerdócio levítico.
Paulo – notável doutor da lei – tinha em mente que as “ordenanças” eram as Leis
Cerimoniais de holocausto de animais, que eram sacrificados no pátio do santuário terrestre.
Como prova dessa afirmação verifica-se que o próprio apóstolo esclarece que o primeiro
concerto “tinha ordenanças de culto divino, e um santuário terrestre” (Hebreus 9:1).
Diante do exposto torna-se evidente que a “a lei dos mandamentos, que consistia em
ordenanças” nada mais era do que os cerimoniais de “culto divino” realizados no “santuário
terrestre” por meio dos holocaustos de animais.
Paulo jamais considerou que as “ordenanças” fossem os Dez Mandamentos, sobretudo
porque em muitas outras passagens bíblicas, Jesus, os apóstolos e o próprio Paulo defendem
vigorosamente por preceito e exemplo a observância de todos os mandamentos da Lei Moral.
Caso o apóstolo Paulo estivesse considerando que os mandamentos da Lei Moral eram as
“ordenanças” que foram riscadas, então ele estaria na contramão das Escrituras Sagradas e
contradizendo os seus próprios escritos sobre o assunto, o que não é o caso. As Escrituras
Sagradas não possuem contradições. As contradições encontram-se nas interpretações
equivocadas produzidas pela mente humana.
3.5 Ordenanças no Antigo Testamento
O significado, conteúdo e aplicação da palavra “ordenanças” devem ser procurados com
exclusividade absoluta nas páginas da Bíblia Sagrada, haja vista que “a Escritura interpreta-se
com a própria Escritura”.
Uma simples pesquisa de concordância bíblica mostra claramente que a palavra
“ordenanças” é citada em várias partes das Escrituras Sagradas, especialmente no Antigo
Testamento, razão pela qual é possível verificar em qual sentido ela foi empregada pelos
diversos escritores bíblicos. Vejamos as situações em que a Bíblia Sagrada reconhece e aplica a
palavra “ordenanças” (plural) ou “ordenança” (singular):
“Disse mais o Senhor a Moisés e a Aarão: Está é a ordenança da páscoa; nenhum filho
do estrangeiro comerá dela”. (Êxodo 12:43).
“O castiçal puro com suas lâmpadas, as lâmpadas da ordenança, e todos os seus vasos,
e o azeite para a luminária”. (Êxodo 39:37).
“E os estatutos, e as ordenanças, e a lei, e o mandamento, que vos escreveu tereis
cuidado de observar todos os dias: e não temereis a outros deuses”. (II Reis 17:37).
“Pois que, porquanto primeiro vós assim o não fizestes, o Senhor fez rotura em nós,
porque o não buscamos segundo a ordenança”. (I Crônicas 15:13).
“E não guardastes a ordenança das minhas cousas sagradas; antes vos constituístes, a
vós mesmos guardas da minha ordenança no meu santuário”. (Ezequiel 44:8).
“Contudo, eu os constituirei guardas da ordenança da casa, em todo o seu serviço, e em
tudo o que nela se fizer”. (Ezequiel 44:14).
“Mas os sacerdotes levíticos, os filhos de Zadoque, que guardaram a ordenança do meu
santuário, quando os filhos de Israel se extraviaram de mim, se chegarão a mim, para me
servirem, e estarão diante de mim, para me oferecerem a gordura e o sangue, diz o Senhor
Jeová”. (Ezequiel 44:15).
21 COLOSSENSES 2:16
Leandro Bertoldo
“Eles entrarão no meu santuário, e se chegarão à minha mesa, para me servirem, e
guardarão a minha ordenança”. (Ezequiel 44:16).
“E será para os sacerdotes santificados dentre os filhos de Zadoque, que guardaram a
minha ordenança, que não andaram errados, quando os filhos de Israel se extraviaram, como
se extraviaram os outros levitas”. (Ezequiel 48:11).
Nas Escrituras Sagradas existem vinte e duas referências sobre os vocábulos “ordenança”
ou “ordenanças”. Dentro do contexto religioso, é digno de nota observar que as “ordenanças”
estão vinculadas com exclusividade absoluta às Leis Cerimoniais do antigo culto divino, as
quais regiam as atividades sacerdotais no “santuário terrestre”. Aliás, é exatamente isso que o
autor de Hebreus afirma: “Ora também o primeiro tinha ordenanças de culto divino, e um
santuário terrestre”. (Hebreus 9:1). Destarte, havia a “ordenança da páscoa” (Êxodo 12:42); as
“lâmpadas da ordenança” (Êxodo 39:37); “ordenança do santuário” (Ezequiel 44:8, 15) etc.
Em seu aspecto religioso, os vocábulos “ordenança” (singular) ou “ordenanças” (plural)
são aplicados pela Bíblia Sagrada tão-somente aos cerimoniais relacionados ao sacerdócio
levítico. Sob essa perspectiva o “Standard Dictionary” está correto em definir a palavra
“ordenança” como rito religioso ou cerimonial ordenado por autoridade divina ou eclesiástica.
3.6 Lei Moral e as ordenanças
Diferentemente da Lei Cerimonial, uma pesquisa exaustiva na Concordância Bíblica
mostra que a palavra “ordenanças” nunca foi empregada nas Escrituras Sagradas insinuando
qualquer relação com os Dez Mandamentos.
Em geral, a Bíblia Sagrada se refere ao Decálogo ou a qualquer um de seus
mandamentos por expressões tais como: “lei de Deus” (Romanos 7:22; 7:25; 8:7),
“mandamentos” (Marcos 10:19; Lucas 18:20) ou “mandamentos de Deus” (Apocalipse 12:17;
14:12). Porém, a Santa Palavra jamais empregou a expressão “ordenança” ou “ordenanças” para
designar o Decálogo ou qualquer um dos seus mandamentos. Diante do exposto fica
demonstrado que a expressão bíblica “ordenanças” restringe-se tão-somente às Leis
Cerimoniais.
3.7 Diversidade de leis
As Escrituras Sagradas fazem uma inteligente distinção entre “ordenanças”, “estatutos”,
“lei” e “mandamento” (II Reis 17:34). Isto indica que o termo “ordenanças” é um nome
específico e distinto dos demais, o qual não engloba “estatutos”, “leis” e “mandamentos”, caso
contrário os escritores bíblicos estariam sendo redundantes em seus escritos. Portanto, a palavra
lei não engloba todas as leis registradas na Bíblia Sagrada. É evidente a todos que as leis
relacionadas com os sacrifícios de animais são distintas da lei expressa nos Dez Mandamentos,
tanto pela sua origem e finalidade.
O apóstolo Paulo faz referência à lei em Romanos 7:7. Porém, para saber a qual espécie
de lei ele estava se referindo basta simplesmente verificar o contexto da passagem considerada,
onde fica claro que Paulo estava tratando dos Dez Mandamentos. Isto porque o apóstolo citou
um de seus preceitos: “não cobiçarás”, que é preceito do Decálogo. Tiago também faz
alusão à lei (Tiago 2:10-11). Mas, para saber a qual lei ele estava se referindo basta verificar o
contexto dos versículos, onde ele cita dois preceitos do Decálogo (matar e adulterar). Porém, no
caso de Colossenses não consta nenhum dos preceitos dos Dez Mandamentos. Para ser honesto
o vocábulo “lei” nem mesmo é mencionado no texto de Colossenses, mas é feita apenas
referência às ordenanças, as quais não englobam os Dez Mandamentos.
22 COLOSSENSES 2:16
Leandro Bertoldo
3.8 Contrastes entre leis
A “cédula que era contra nós nas suas ordenanças” (Colossenses 2:14) não se refere de
maneira alguma à Lei Moral ou mesmo à sua súmula: o Decálogo. Em todo contexto do
versículo de Colossenses não existe a menor sombra de referência a qualquer preceito moral.
Em sua carta, o apóstolo Paulo está fazendo referência às ordenanças da Lei Cerimonial, com os
seus múltiplos holocaustos de animais, que eram realizados no santuário terrestre para expiação
de pecados. O Decálogo é uma Lei Moral que define o que é pecado, mas não realiza expiação
de pecados, não purifica o pecador, não perdoa o transgressor, não justifica ninguém de seus
pecados e não salva os pecadores dos seus pecados, porque essa não é a sua função ou
finalidade.
A Lei Moral aponta para o pecado, o qual somente pode ser purificado pelo
derramamento de sangue, haja vista que “sem derramamento de sangue não há remissão”
(Hebreus 9:22). Destarte, antes da cruz o pecador era purificado de todos os seus pecados
(transgressão da lei) exclusivamente pelo sangue de animais. Após a cruz o pecador é purificado
de todos os seus pecados (transgressão da lei) exclusivamente pelo sangue de Cristo (I João 1:7).
As Leis Cerimoniais do culto divino tinham uma função totalmente diferente da Lei
Moral, representada pelo Decálogo. Enquanto as ordenanças da Lei Cerimonial realizavam
expiação de pecados por meio dos holocaustos de animais, cuja eficácia estava fiada na morte
do “Cordeiro de Deus”; a Lei Moral apontava e ainda aponta para o pecado. Sendo que o salário
do pecado é a morte eterna do transgressor da Lei Moral.
23 COLOSSENSES 2:16
Leandro Bertoldo
Capítulo 4 “a qual de alguma maneira nos era contrária”
“Havendo riscado a cédula que era contra nós nas suas ordenanças, a qual de alguma maneira
nos era contrária, e a tirou do meio de nós, cravando-a na cruz”.
Colossenses 2:14
A expressão “a qual” é um pronome relativo variável feminino que se encontra
expresso no grau de número conhecido como singular, e retoma a idéia do que foi dito
anteriormente.
Portanto, esse pronome relativo na carta aos Colossenses não está se referindo à
expressão “ordenanças”, haja vista que tal palavra encontra-se no grau do plural.
Na carta de Paulo a expressão “a qual”, está retomando ao vocábulo anterior “cédula”,
possuindo todas as características de sua concordância nominal. Destarte, Paulo tinha em mente
a cédula que “de alguma maneira nos era contrária”.
A frase de Paulo: “de alguma maneira”, expressa algo não definido, indeterminado,
incerto etc. Portanto, a expressão paulina: “a qual de alguma maneira nos era contrária”, mostra
que a própria cédula era censurável porque havia nela algo não declarado explicitamente que a
tornava inconveniente aos adoradores. Pelo discernimento espiritual que Paulo possuía a
respeito das Escrituras Sagradas, ele percebeu que a cédula tinha alguma sutileza que era não
obvia a todos. Era algo tão sutil que o apóstolo não revelou objetivamente do que se tratava, mas
apenas declarou que a cédula “de alguma maneira nos era contrária”.
4.2 Lei Moral
Paulo afirma que a cédula (keirographon) “era contra nós” e que “de alguma maneira nos
era contrária”. Porém, a grande pergunta que se faz é a seguinte:
– Qual era a cédula mencionada na Bíblia Sagrada que de alguma maneira nos era
contrária?
Evidentemente, o apostolo não está se referindo à Lei Moral, simplesmente porque os
Dez Mandamentos não “era contra nós”, que somos espirituais. Seria impossível conviver
harmoniosamente com o nosso próximo e em sociedade caso a Lei Moral tivesse sido riscada.
Sem a restrição divina imposta pela Lei Moral, o homem poderia livremente cometer adultérios,
assassinatos, furtos, falsos testemunhos, desonrar pai e mãe, cobiçar etc. Eis algumas
considerações sobre a Lei Moral:
1º. A Lei Moral é contrária ao comportamento dos ímpios, dos injustos e dos pecadores e
não contrária ao comportamento dos justos, dos puros e dos santos, que vivem em harmonia
com os sagrados preceitos dos Dez Mandamentos. Eis o que diz a Bíblia Sagrada: “Sabendo
isto, que a lei não é feita para o justo, mas para os injustos e obstinados, para os ímpios e
pecadores, para os profanos e irreligiosos, para os parricidas e matricidas, para os homicidas.
Para os fornicários, para os sodomitas, para os roubadores de homens, para os mentirosos,
para os perjuros, e para o que for contrário à sã doutrina”. (I Timóteo 1:9-10).
2º. A Lei Moral de nenhuma “maneira nos era contrária”, posto que vivemos em
harmonia com os seus preceitos. Mas ela é contrária àqueles que estão vivendo para satisfazer os
desejos da carne. Eis o que diz a Bíblia Sagrada: “Porquanto a inclinação da carne é inimizade
contra Deus, pois não é sujeita à lei de Deus, nem, em verdade, o pode ser. Portanto, os que
estão na carne não podem agradar a Deus.” (Romanos 8:7-8),
24 COLOSSENSES 2:16
Leandro Bertoldo
3º. A Lei Moral de maneira alguma “nos era contrária”, simplesmente porque o apóstolo
Paulo recomendou veementemente a observância de seus mandamentos. Eis o que diz a Bíblia
Sagrada: “Com efeito: Não adulterarás: Não matarás: Não furtarás: Não darás falso
testemunho: Não cobiçarás: e se há algum outro mandamento, tudo nesta palavra se resume:
Amarás ao teu próximo como a ti mesmo”. (Romanos 13:9).
4º. A Lei Moral de maneira alguma “nos era contrária”, simplesmente porque o Senhor
Jesus Cristo ampliou sua aplicação para abranger as intenções do coração do homem. Eis o que
diz a Bíblia Sagrada: “Ouvistes que foi dito aos antigos: Não cometerás adultério. Eu porém,
vos digo que qualquer que atentar numa mulher para a cobiçar, já em seu coração cometeu
adultério com ela”. (Mateus 5:27-28).
4.3 Lei Cerimonial
Como a Lei Moral de maneira alguma “nos era contrária” e nem “era contra nós” que
procuramos viver em harmonia com os seus preceitos, então qual era o “keirographon” (cédula)
que de alguma maneira nos era contrária em suas ordenanças? Eis o que diz a Bíblia Sagrada:
1º. Segundo o profeta Samuel é melhor “obedecer” a “Palavra do Senhor” do que realizar
“holocaustos e sacrifícios” para expiar os pecados cometidos pela desobediência à Lei Moral.
Eis o que diz a Bíblia Sagrada: “Porém Samuel disse: Tem porventura o Senhor tanto prazer em
holocaustos e sacrifícios, como em que se obedeça à palavra do Senhor? eis que o obedecer é
melhor do que o sacrificar; e o atender melhor é do que a gordura de carneiros”. (I Samuel
15:22).
2º. Deus não se compraz em holocaustos de animais oferecido por adoradores
impenitentes que não possuem “um coração quebrantado e contrito”. Mas se agrada dos
holocaustos oferecidos por adoradores penitentes com “o espírito quebrantado”. Eis o que diz a
Bíblia Sagrada: “Porque te não comprazes em sacrifícios, senão eu os daria; tu não te deleitas
em holocaustos. Os sacrifícios para Deus são o espírito quebrantado; a um coração
quebrantado e contrito não desprezarás, ó Deus. Então te agradarás de sacrifícios de justiça,
dos holocaustos e das ofertas queimadas; então se oferecerão novilhos sobre o teu
altar”.(Salmos 51:16-17, 19).
3º. Salomão declarou que o mais importante é ouvir a Palavra de Deus do que ser um
tolo que expia os seus pecados oferecendo sacrifícios. Eis o que diz a Bíblia Sagrada: “Guarda
o teu pé, quando entrares na casa de Deus; e inclina-te mais a ouvir do que a oferecer
sacrifícios de tolos, pois não sabem que fazem mal”. (Eclesiastes 5:1).
4º. Deus declarou que estava farto dos holocaustos de animais oferecidos por adoradores
impenitentes, ainda mais porque as sua mãos estavam cheias de sangue. Eis o que diz a Bíblia
Sagrada: “De que me serve a mim a multidão de vossos sacrifícios, diz o Senhor? Já estou farto
dos holocaustos de carneiros, e da gordura de animais nédios; e não folgo com o sangue de
bezerros, nem de cordeiros, nem de bodes. Pelo que, quando estendeis as vossas mãos, escondo
de vós os meus olhos; sim, quando multiplicais as vossas orações, não as ouço, porque as
vossas mãos estão cheias de sangue”. (Isaías 1:11, 15).
5º. Deus não se agradava dos holocaustos oferecidos por adoradores que não atentavam
para a Sua Palavra e que rejeitavam a Sua Lei. Eis o que diz a Bíblia Sagrada: “Ouve tu, ó terra!
Eis que eu trarei mal sobre este povo, o próprio fruto dos seus pensamentos; porque não estão
atentos às minhas palavras, e rejeitam a minha lei. Para que pois me virá o incenso de Sabá e
a melhor cana aromática de terras remotas? vossos holocaustos não me agradam, nem me são
suaves os vossos sacrifícios”. (Jeremias 6:19-20).
6º. Deus não queria holocaustos de animais porque esperava que os adoradores fossem
misericordiosos e tivessem mais conhecimento de Deus. Em outras palavras, conhecendo a Deus
os homens seriam misericordiosos e evitariam mais o pecado, assim não teriam que oferecer
tantos holocaustos. Eis o que diz a Bíblia Sagrada: “Porque eu quero misericórdia, e não o
sacrifício; e o conhecimento de Deus, mais do que os holocaustos”. (Oséias 6:6).
25 COLOSSENSES 2:16
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Deus não se agradou das práticas religiosas que eram realizadas pelos israelitas porque
estavam contaminadas pela hipocrisia. Assim os sacrifícios para remissão de pecados não
tinham nenhum valor justificatório perante o Senhor, simplesmente porque os adoradores não
tinham arrependimento de seus pecados.
“Ao mesmo tempo os judeus, por seus pecados, estavam-se separando de Deus. Eram
incapazes de discernir o profundo significado espiritual do seu sistema de sacrifícios. Em sua
justiça própria confiaram em suas próprias obras, nos sacrifícios e ordenanças em si, em vez de
descansar nos méritos dAquele a quem todas essas coisas apontavam. Assim, ‘procurando
estabelecer a sua própria justiça’ (Romanos 10:3), edificaram-se sobre um formalismo auto-
suficiente. Faltando-lhes o Espírito e a graça de Deus, procuraram ressarcir a falta mediante
rigorosa observância das cerimônias e ritos religiosos. Não contentes com as ordenanças que o
próprio Deus havia designado, obstruíram os mandamentos divinos com incontáveis exações por
si mesmos urdidas. Quanto mais se distanciavam de Deus, mais rigorosos eram na observância
dessas formas”. (Profetas e Reis, 708-709).
4.4 Ordenanças contrárias
Diante dos versículos anteriormente expostos ficou claramente exposto que as
ordenanças da Lei Cerimonial de holocaustos de animais “de alguma maneira nos era contrária”
porque naquelas ordenanças os amantes do pecado sentiam plena liberdade para cometerem todo
tipo de atrocidades e, posteriormente, ofereciam os holocaustos animais visando alcançar a
expiação dos seus pecados. Mas o grande problema é que eles não tinham um genuíno
arrependimento e nem tinham “um coração quebrantado e contrito” em tristeza pelo pecado
cometido.
As ordenanças cerimoniais, instituídas para expiar a culpa do pecador contrito, gerava
um círculo vicioso. Muitos agiam na plena convicção de que poderiam pecar livremente, desde
que depois oferecessem os holocausto de animais para purificação dos seus pecados, razão pela
qual essas ordenanças “de alguma maneira nos era contrária”.
A atitude formal desses pecadores impenitentes desencadeou a indignação do Senhor
Deus: “obedecer é melhor do que o sacrificar” (I Samuel 15:22); “inclina-te mais a ouvir do
que a oferecer sacrifícios de tolos” (Eclesiastes 5:1); “já estou farto dos holocaustos de
carneiros... porque as vossas mãos estão cheias de sangue” (Isaías 1:11, 15); “não estão
atentos às minhas palavras, e rejeitam a minha lei... vossos holocaustos não me agradam”
(Jeremias 6:19-20); “porque eu quero misericórdia, e não o sacrifício” (Oséias 6:6).
Os pecadores impenitentes haviam degenerado o real sentido das ordenanças cerimoniais
dos holocaustos de animais a uma simples formalidade ritualística, sem maiores conseqüências
espirituais. Por essa razão esses cerimoniais “de alguma maneira nos era contrária”.
4.5 Ineficácia das ordenanças
Por que a cédula cravada na cruz “era contra nós nas suas ordenanças”? Por que essa
cédula “de alguma maneira nos era contrária”?
Para responder a essas duas importantes perguntas é necessário ponderar nas seguintes
passagens bíblicas:
1º. As Escrituras Sagradas falando do primeiro concerto com suas ordenanças de
holocausto de animais para expiação de pecados, afirma que “se aquele primeiro fora
irrepreensível, não se teria buscado lugar para o segundo” (Hebreus 8:7). Portanto, a cédula
que “de alguma maneira nos era contrária” era repreensível porque dava margem para ser
praticada formalmente, sem a devida compreensão do seu profundo significado espiritual que
prefigurava o sacrifício do “Cordeiro de Deus”. Além disso, a eficácia de tais ordenanças estava
condicionada ao sucesso do Plano da Salvação, que seria desenrolado na vinda do Messias.
26 COLOSSENSES 2:16
Leandro Bertoldo
2º. Discorrendo sobre a ordem sacerdotal levítica, o autor do livro de Hebreus afirma que
“De sorte que, se a perfeição fosse pelo sacerdócio levítico ... que necessidade havia logo de
que outro sacerdote se levantasse ... ?” (Hebreus 7:11-12). Logo, a cédula que foi riscada,
refere-se às ordenanças do sacerdócio levítico, a qual não trouxe nenhuma perfeição, razão pela
qual que “de alguma maneira nos era contrária”.
3º. Falando da Lei Cerimonial, o livro de Hebreus afirma que “a lei nenhuma coisa
aperfeiçoou” (Hebreus 7:19). Logo, essa a cédula não aperfeiçoou coisa alguma, razão pela qual
“de alguma maneira nos era contrária”.
4º. A ordenança dos sacrifícios de animais realizados no santuário terrestre “é uma
alegoria para o tempo presente, em que se oferecem dons e sacrifícios que, quanto à
consciência, não podem aperfeiçoar aquele que faz o serviço” (Hebreus 9:9). Como uma
simples alegoria, essa cédula não aperfeiçoa aquele que faz o serviço religioso, razão pela qual
ela “de alguma maneira nos era contrária”.
5º. As ordenanças da Lei Cerimonial não podem aperfeiçoar aqueles que se chegam a
esses serviços: “porque, tendo a lei a sombra dos bens futuros, e não a imagem exata das
coisas, nunca, pelos mesmos sacrifícios que continuamente se oferecem cada ano, pode
aperfeiçoar os que a eles se chegam”. (Hebreus 10:1). Portanto, como sombra dos bens futuros,
essa cédula não pode aperfeiçoar aqueles que realizam esses serviços cerimoniais, razão pela
qual “de alguma maneira nos era contrária”.
6º. Ainda podemos afirmar que essa cédula “de alguma maneira nos era contrária”
simplesmente “porque é impossível que o sangue dos touros e dos bodes tire os pecados”
(Hebreus 10:4). A eficácia dos sacrifícios de animais estava fiada no sucesso do sacrifício do
“Cordeiro de Deus”.
7º. Muitos que confiavam cegamente nos cerimoniais da lei para purificação dos seus
pecados seriam levados a rejeitar a suficiência do sacrifício de Cristo, razão pela qual “de
alguma maneira nos era contrária”. Eis o que diz a Bíblia Sagrada: “Alguns que tinham descido
da Judéia ensinavam assim os irmãos: Se não vos circuncidardes conforme o uso de Moisés,
não podeis salvar-vos”. “Alguns, porém, da seita dos fariseus, que tinham crido, se levantaram,
dizendo que era mister circuncidá-los e mandar-lhes que guardassem a lei de Moisés”. (Atos
dos Apóstolos 15:1 e 5).
“Os judeus estavam tão cegos pelo orgulho e pecado que apenas alguns deles podiam ver
mais do que a morte de animais como expiação pelo pecado; e quando veio Cristo, a quem essas
ofertas prefiguraram, não puderam reconhecê-Lo”. (RH, 06 de maio de 1875).
4.6 Ordenanças que nos era contrária
As ordenanças dos holocaustos de animais tornaram-se ineficazes para purificar o
pecador por culpa exclusiva do próprio transgressor da Lei Moral. Eles realizavam os sacrifícios
de animais sem o devido arrependimento e não estavam fiados no sacrifício do Cordeiro de
Deus.
Em vez de arrepender-se com “um coração quebrantado e contrito” (Salmos 51:17)
abandonando definitivamente o pecado, o transgressor da santa Lei de Deus continuava
impenitente, vivendo mergulhados na prática do pecado e do mal. Eles raciocinavam que, no
momento em que bem quisessem, poderia purificar-se de seus pecados por meio das ordenanças
cerimoniais dos sacrifícios de animais. Por causa dessa atitude, esses sacrifícios “de alguma
maneira nos era contrária”.
A possibilidade de alcançar facilmente a expiação dos pecados pelas ordenanças dos
holocaustos de animais tornava os pecadores empedernidos mais depravados na transgressão dos
preceitos morais provenientes dos Dez Mandamentos. Por essa razão as ordenanças dos
holocaustos “de alguma maneira nos era contrária”.
Os pecadores impenitentes que ofereciam os sacrifícios de animais esperavam alcançar a
purificação dos seus pecados – não porque estivessem sinceramente arrependidos ou desejassem
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corrigir-se do caminho do mal – mas com o fundamento nas ordenanças de expiação através do
holocausto dos animais. No decorrer do tempo essas ordenanças haviam se tornado uma mera
formalidade a ser seguida ao pé da letra sem a devida compreensão do seu profundo significa
espiritual. Essa distorção da vontade do Senhor Jeová levou o profeta Samuel a proclamar que
“obedecer é melhor do que o sacrificar”. Eis a razão porque essas ordenanças “de alguma
maneira nos era contrária”.
Também havia uma outra agravante com esta cédula em suas ordenanças, a qual “de
alguma maneira nos era contrária”. Primeiro, as ordenanças cerimoniais eram extremamente
complicadas com várias espécies de holocaustos para diferentes tipos de pecados, e também
muito onerosas. Segundo, essas ordenanças eram difíceis e até mesmo penosas para a maioria
dos adoradores, que tinham que viajar até o local onde se encontrava instalado do santuário
terrestre. Terceiro, essas ordenanças eram apenas figuras e sombras que se cumpriram com o
sacrifício redentor de Cristo Jesus.
“Se tivessem sido obedientes e se dispusessem a guardar os mandamentos de Deus, esta
multidão de cerimoniais e ordenanças não teria sido necessária”. (II Testemunhos Seletos, 282).
Todavia, essa cédula preencheu a sua finalidade e foi riscada tornando-se desnecessária e até
mesmo contrária ao cristão, que deve confiar unicamente no sacrifício do Cordeiro de Deus.
28 COLOSSENSES 2:16
Leandro Bertoldo
Capítulo 5 “tirou do meio de nós”
“Havendo riscado a cédula que era contra nós nas suas ordenanças, a qual de alguma maneira
nos era contrária, e a tirou do meio de nós, cravando-a na cruz”.
Colossenses 2:14
Todos aqueles que praticavam as ordenanças prescritas na cédula (keirographon) do
Antigo Concerto, reconheciam que eram devedores (pecadores). Naqueles cerimoniais de
holocausto, os pecadores reconheciam que estava em dívida para com Deus e que tinham a
obrigação de pagar o preço indicado na cédula, que nada mais era do que a morte do pecador.
Porém, em várias ocasiões, o Senhor recusou aceitar os sacrifícios oferecidos por Seu povo por
causa da falta de sincero arrependimento e genuína conversão. Nessas ocasiões o Senhor os
advertia de que, a menos que fossem misericordiosos uns para com os outros, Ele não se
agradaria dos seus holocaustos e, portanto, não haveria purificação de pecados. Eis o que diz as
Escrituras Sagradas:
“Já estou farto dos holocaustos de carneiros.... porque as vossas mãos estão cheias de
sangue”. “Porque não estão atentos às minhas palavras, e rejeitam a minha lei... vossos
holocaustos não me agradam, nem me são suaves os vossos sacrifícios”. “Tem porventura o
Senhor tanto prazer em holocaustos e sacrifícios, como em que se obedeça à palavra do
Senhor? eis que o obedecer é melhor do que o sacrificar; e o atender melhor é do que a gordura
de carneiros”. “Porque eu quero misericórdia, e não o sacrifício; e o conhecimento de Deus,
mais do que os holocaustos”. (Isaías 1:11 e 15; Jeremias 6:19-20; I Samuel 15:22; Oséias 6:6).
A falta de arrependimento e de conversão por parte do pecador, bem como a crença
simplista de que bastava realizar mecanicamente o ritual de sacrifício de animais para alcançar a
purificação dos seus pecados, trabalhavam contra o próprio pecador impenitente, razão pela qual
essa cédula que era contra nós em suas ordenanças, foi riscada e tirada do meio de nós.
5.2 O que foi tirado
Os judeus “crucificaram o Originador de todo o sistema judaico, para o qual apontavam
todas as suas cerimônias. Deixaram de discernir o velado mistério da piedade; Cristo Jesus
permaneceu oculto para eles. A verdade, a vida, o centro de todo o seu ritual, foi rejeitado. Eles
mantinham, e ainda mantêm, simplesmente as cascas, as sombras, as figuras que simbolizavam
o verdadeiro. Uma figura designada para aquele tempo, a fim de que pudessem discernir o
verdadeiro, tornou-se tão deturpada por suas próprias invenções, que se lhes cegaram os olhos.
Não compreenderam que o tipo encontrou o antítipo na morte de Jesus Cristo. Quanto maior sua
deturpação de figuras e símbolos, tanto mais confusa ficou a sua mente, de modo que não
puderam ver o perfeito cumprimento do sistema judaico, instituído e estabelecido por Cristo, e
apontando para Ele como sendo sua essência. Comidas e bebidas e diversas ordenanças foram
multiplicadas até que a religião cerimonial constituiu sua única forma de culto”. (Fundamentos
da Educação Cristã, 398).
A Bíblia Sagrada mostra claramente que as ordenanças do “Antigo Concerto” baseada no
holocausto de animais foram tiradas “do meio de nós”. O Antigo Concerto, também conhecido
biblicamente por Antiga Aliança ou Antigo Testamento estabelecia a expiação de pecados pelo
29 COLOSSENSES 2:16
Leandro Bertoldo
sangue de animais e o Novo Concerto, também conhecido como Nova Aliança ou Novo
Testamento estabelece a expiação de pecados pelo sangue de Cristo.
Sobre Cristo (Messias) estava profetizado que Ele firmaria “um concerto com muitos por
uma semana: e na metade da semana fará cessar o sacrifício e a oferta de manjares”. (Daniel
9:27).
O “concerto” que Cristo firmaria “com muitos por uma semana” é uma clara alusão ao
Novo Testamento que tem por base a remissão de pecados pelo sangue de Cristo. Foi Ele
mesmo quem disse: “porque isto é o meu sangue, o sangue do Novo Testamento, que é
derramado por muitos, para remissão dos pecados”. (Mateus 26:28).
Quanto ao “sacrifício e a oferta de manjares” que Cristo faria “cessar” tirando “do
meio de nós” é uma clara referência às ordenanças ao Antigo Concerto, que tem por base a
remissão de pecados pelo sangue de animais “consistindo somente em manjares, e bebidas, e
várias abluções e justificações da carne, impostas até ao tempo da correção”. (Hebreus 9:10).
A cédula do Antigo Concerto com base no sacrifício de animais e oferta de manjares “foi
por Cristo abolido”. (II Coríntios 3:14), com isso Ele a “tirou do meio de nós”.
O sacerdócio levítico com suas ordenanças foi fundado segundo a ordem de Aarão, mas
foi tirado “do meio de nós” e substituído pelo sacerdócio de Cristo, que foi fundado segundo a
ordem de Melquisedeque. “De sorte que, se a perfeição fosse pelo sacerdócio levítico (porque
sob ele o povo recebeu a lei), que necessidade havia logo de que outro sacerdote se levantasse,
segundo a ordem de Melquisedeque, e não fosse chamado segundo a ordem de Aarão? Porque,
mudando-se o sacerdócio, necessariamente se faz também mudança da lei”. (Hebreus 7:11-12).
Quando Cristo expirou na cruz, as ordenanças do antigo ministério sacerdotal levítico,
também conhecido como Antiga Aliança ou Antigo Testamento, foram definitivamente tiradas
“do meio de nós” (Daniel 9:27; Marcos 15:38; Mateus 27:51; Lucas 23:45; II Coríntios 3:14;
Colossenses 2:14), passando a vigorar em seu lugar, o ministério sacerdotal de Cristo, também
conhecido como Nova Aliança ou Novo Testamento.
5.3 Preço inestimável
Como foi dito anteriormente, o termo grego “keirographon” foi traduzido para a língua
latina como “chirographum” e para a língua portuguesa como “quirógrafo”. Esse termo também
foi transliterado por João Ferreira de Almeida como “cédula”.
Etimologicamente a expressão “keirographon” indica uma dívida insolvente. Em geral
os dicionários definem o “devedor insolvente” como sendo aquele que não tem recursos com
que pagar. É o individuo que tem mais dívidas do que bens para saldá-las.
O termo “keirographon” foi empregado pelo apóstolo Paulo como uma metáfora para
uma dívida insolvente (pecado), cujo valor os pecadores teriam que pagar com a sua própria
vida “porque o salário do pecado é a morte”. (Romanos 6:23). Ocorre que nenhum ser humano
possui recurso suficiente para resgatar a sua vida da perdição eterna, “pois a redenção da sua
alma é caríssima, e seus recursos se esgotariam antes”. (Salmos 49:8).
O preço para resgatar a vida do pecador era tacitamente declarado na cédula quando o
pecador penitente reconhecia sua dívida (culpa) para com Deus ao cumprir os requisitos
exigidos nas ordenanças dos holocaustos de animais, os quais morreriam no lugar do pecador
arrependido. Evidentemente, a eficácia das ordenanças de holocaustos, subjacente à morte dos
animais, estava fiada ao inestimável preço da morte do Filho de Deus.
“Foi o amor pelos pecadores que levou Cristo a pagar o preço da redenção. ‘Viu que
ninguém havia, e maravilhou-Se de que não houvesse intercessor’; nenhum outro poderia
resgatar os homens e mulheres do poder do inimigo; ‘pelo que o Seu próprio braço Lhe trouxe a
salvação, e a Sua própria justiça O susteve.’ Isaías 59:16”. (Profetas e Reis 692). “Nós éramos
todos devedores à justiça divina; mas nada possuíamos para pagar o débito. Então o Filho de
Deus, que de nós teve piedade, pagou o preço de nossa redenção”. (Profetas e Reis 652). “A
redenção da alma é preciosa. Cristo pagou um preço infinito pela nossa salvação, e ninguém que
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Leandro Bertoldo
aprecie o valor deste grande sacrifício, ou o preço de uma alma, desprezará a misericórdia de
Deus, que se lhe oferece, porque outros preferem fazê-lo”. (Patriarca e Profetas, 162).
Em suma, quando o pecador arrependido cumpria todos os requisitos expressos nas
ordenanças dos holocaustos de animais, que prefiguravam o sacrifício de Cristo, o pecador
penitente reconhecia o escrito de dívida contra ele (keirographon). Porém, como os seus
recursos eram limitados o pecador reconhecia sua insolvência quando admitia que outro
morresse em seu lugar para resgatar a sua dívida. “O Senhor resgata a alma dos seus servos, e
nenhum dos que nele confiam será condenado”. “Porque o Filho do homem também não veio
para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate de muitos”. (Salmos 34:22; Marcos
10:45).
5.4 Por que foi tirada
O pecador reconhecia que era um “devedor insolvente” para com Deus quando praticava
as ordenanças dos holocaustos de animais, os quais figurativamente morriam em seu lugar.
Apesar disso, havia sérios inconvenientes com essa cédula, posto que de alguma maneira nos
fosse contrária. Eis os motivos:
Primeiro, porque as práticas de tais ordenanças foram corrompidas pela natureza
pervertida do ser humano, a ponto de Deus abominar tais práticas.
Segundo, porque no decorrer dos séculos os pecadores foram levados a ver as
ordenanças como uma simples formalidade que deveriam ser cumpridas obrigatoriamente ao pé
da letra.
Terceiro, estando enferma pela natureza carnal, as ordenanças passaram a ser vistas pelos
pecadores empedernidos como toda autossuficiente, quando na realizada “é impossível que o
sangue dos touros e dos bodes tire os pecados”. (Hebreus 10:14).
Quarto, subjacente à morte dos animais estava a morte de Cristo, mas os pecadores
perderam de vista “o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo”. (João 1:29). Eis as razões
pela qual “keirographon” era contra nós nas suas ordenanças. Mas Cristo a riscou – invalidou-a
– e “a tirou do meio de nós”.
5.5 Vigor da Lei Moral
Em mais de 150 passagens bíblicas registradas no “Novo Testamento” Jesus Cristo e os
santos apóstolos praticaram e ensinaram a observância de todos os preceitos da Lei Moral,
sintetizada nos Dez Mandamentos.
As Escrituras Sagradas afirmam que “o pecado não é imputado, não havendo lei”.
(Romanos 5:13). Porém, supondo que a Lei Moral foi tirada “do meio de nós”, temos as
seguintes conseqüências:
Primeiro, “não havendo lei” nenhum ser humano pode ser considerado pecador.
Segundo, caso não houvesse lei, todos os cristãos teriam liberdade para tornarem-se
politeístas, idólatras, blasfemos, profanadores do sábado, adúlteros, ladrões, mentirosos,
cobiçadores etc. simplesmente porque “onde não há lei também não há transgressão”.
(Romanos 4:15).
Terceiro, supondo que a Lei Moral foi tirada “do meio de nós” então teríamos que
concluir que no mundo “não há transgressão”. Mas, os fatos mostram que os homens continuam
pecadores porque o pecado continua sendo imputado a todos.
Quarto, supondo que a Lei Moral foi tirada “do meio de nós”, então se conclui que Cristo
sacrificou-se para que os homens pudessem cometer qualquer espécie de pecado.
Portanto, diante do exposto, restou provado que a Lei Moral ainda continua vigorando,
simplesmente porque os homens continuam sendo condenados ao inferno por serem pecadores
impenitentes. O que foi tirado “do meio de nós” foram as ordenanças de expiação de pecados
31 COLOSSENSES 2:16
Leandro Bertoldo
pelo sangue de animais, as quais foram substituídas pelo sacrifício supremo do “Cordeiro de
Deus” (João 1:36). Nada mais simples, lógico e claro!
5.6 Função da Lei Moral
A principal função da Lei Moral consiste em mostrar ao homem o que é pecado.
Observe: “pela lei vem o conhecimento do pecado”...“eu não conheci o pecado senão pela lei”.
“Todo aquele que pratica o pecado também transgride a lei, porque o pecado é a transgressão
da lei”. (Romanos 3:20; 7:7; I João 3:4).
A Lei Moral mostra ao homem o que é pecado por causa da penalidade acarretada pela
prática do pecado. Eis o que diz as Escrituras Sagradas: “o pecado, sendo consumado, gera a
morte”... “porque o salário do pecado é a morte”... “o aguilhão da morte é o pecado, e a força
do pecado é a lei”. (Tiago 1:15; Romanos 6:23; I Coríntios 15:56). Admitindo a absurda
hipótese de que a Lei Moral foi riscada, então a que lei o apóstolo Paulo e os demais escritores
bíblicos estariam fazendo referência com tanta veemência? Se a Lei Moral foi abolida, então por
que Cristo, os santos apóstolos e Paulo não ensinaram nada a respeito de tal assunto?
A lei mostra ao homem os seus pecados, mas ela não possui eficácia para salvar qualquer
pecador da morte eterna. Através dos Dez Mandamentos, o Espírito Santo convence “o mundo
do pecado, e da justiça e do juízo”. (João 16:8). Uma vez convencido do pecado, o homem
reconhece que está condenado e perdido por causa de suas transgressões contra os
“mandamentos de Deus”, somente então ele é levado pelo Espírito Santo a crer em Cristo para
receber o perdão dos seus pecados. “De maneira que a lei nos serviu de aio, para nos conduzir
a Cristo, para que pela fé fôssemos justificados”. (Gálatas 3:24).
É claro que o Decálogo não é uma Lei Cerimonial, simplesmente porque nenhum dos
Dez Mandamentos faz expiação pelo pecado do homem, ainda mais considerando que “sem
derramamento de sangue não há remissão”. (Hebreus 9:22). Destarte, a Lei Moral é uma lei
distinta da Lei Cerimonial, a qual era constituída por um conjunto de procedimentos e operações
visando alcançar a expiação dos pecados por meio dos holocaustos de animais. Tais holocaustos
eram realizados somente junto ao santuário terrestre, sob a supervisão sacerdotal levítica.
5.7 Várias questões e uma resposta
Crendo no desastroso contra-senso de que a Lei Moral foi riscada e tirada do nosso meio,
então por que Paulo ensinou que “pela lei vem o conhecimento do pecado” (Romanos 3:20)?
Supondo que a Lei Moral foi tirada do nosso meio, então por que o Novo Testamento
define o pecado como “transgressão da lei” (I João 3:4)?
Admitindo o absurdo de que a Lei Moral foi tirada do nosso meio, então por que ainda
existem transgressores, posto que “onde não há lei também não há transgressão” (Romanos
4:15)?
Considerando que a Lei Moral foi tirada do nosso meio então por que o pecado continua
sendo imputado aos homens, pois “o pecado não é imputado, não havendo lei” (Romanos
5:13)?
Imaginando a obtusa idéia de que a Lei Moral foi tirada do meio de nós, então por que
“o salário do pecado é a morte” (Romanos 6:23)?
Admitindo que a Lei Moral foi tirada do meio de nós, então por que “se tu pois não
cometeres adultério, mas matares, estás feito transgressor da lei”. (Tiago 2:11)?
Supondo que a Lei Moral foi tirada do nosso meio, então por que “qualquer que guardar
toda a lei, e tropeçar em um só ponto, tornou-se culpado de todos”. (Tiago 2:10)?
Considerando que a Lei Moral foi tirada do nosso meio, então por que Paulo escreveu
que “não conheceria a concupiscência, se a lei não dissesse: Não cobiçarás” (Romanos 7:7)?
32 COLOSSENSES 2:16
Leandro Bertoldo
Admitindo que a Lei Moral foi tirada do nosso meio, então por que Paulo afirmou que a
fé não anula a lei: “Anulamos, pois, a lei pela fé? De maneira nenhuma, antes estabelecemos a
lei”. (Romanos 3:31)?
Imaginando que a Lei Moral foi tirado do meio de nós, então por que Paulo disse que a
inclinação da carne “não é sujeita à lei de Deus” (Romanos 8:7)?
Supondo que a Lei Moral foi tirada do nosso meio, então como o Espírito Santo poderá
convencer o “o mundo do pecado, e da justiça e do juízo”. (João 16:8), haja vista que “pela lei
vem o conhecimento do pecado” (Romanos 3:20)?
Considerando que a Lei Moral foi tirada do meio de nós, então por que Jesus e os santos
apóstolos praticaram e ensinaram todos os preceitos do Decálogo?
A resposta para todas essas perguntas é muito simples: a “Lei Moral” jamais foi tirado
do nosso meio. Caso tivesse sido tirada, a Bíblia Sagrada estaria cheia de contradições.
33 COLOSSENSES 2:16
Leandro Bertoldo
Capítulo 6 “cravando-a na cruz”
“Havendo riscado a cédula que era contra nós nas suas ordenanças, a qual de alguma maneira
nos era contrária, e a tirou do meio de nós, cravando-a na cruz”.
Colossenses 2:14
A expressão “cravando” é o gerúndio do verbo “cravar”, que tem por sinônimos as
palavras: penetrar, pregar, prender, fixar, fincar, espetar, atravessar, enfiar, traspassar, incrustar
etc.
Dentro do contexto que estamos analisando, a “cruz” era um instrumento de suplicio
constituído por duas traves de madeira colocadas perpendicularmente uma à outra. Era um
doloroso método de execução pública praticado pelo Império Romano contra malfeitores, sem
cidadania romana.
A cédula (keirographon) foi “riscada”, tirada “do meio de nós” e “cravada na cruz”.
Nosso débito para com a justiça divina foi definitivamente riscado, tornando aquela cédula com
suas múltiplas ordenanças de sacrifícios de animais sem nenhum valor. Evidentemente esse
débito tornado sem efeito na cruz não se refere à Lei Moral. Eis o que diz a Bíblia Sagrada:
“Anulamos, pois, a lei pela fé? De maneira nenhuma, antes estabelecemos a lei”. (Romanos
3:31).
“Que preço elevadíssimo foi esse que Deus por nós pagou! Olhai para a cruz e para a
vítima nela dependurada. Olhai para aquelas mãos traspassadas de cravos e para aqueles pés
pregados no madeiro. Cristo levou em Seu próprio corpo o nosso pecado. Aquele sofrimento,
aquela agonia, representa o preço de nossa redenção” (III Testemunhos Seletos, 77).
“Quando vos lembrardes de que Cristo pagou com Seu próprio sangue o preço de vossa
redenção e da redenção de outros, sereis levados a captar os brilhantes raios de Sua justiça, a fim
de irradiá-los sobre o caminho dos que vos cercam”. (Meditação Matinal – E Recebereis Poder,
298)
6.2 O que foi cravado na cruz
Jesus Cristo, o Messias, “na sua carne desfez a inimizade, isto é, a lei dos mandamentos,
que consistia em ordenanças”. (Efésios 2:15). A “lei dos mandamentos” é uma clara referência
à Lei Cerimonial, haja vista que o apóstolo Paulo deixa bem claro que ele está se referindo à lei
“que consistia em ordenanças”. Por sua vez, a Bíblia Sagrada emprega a expressão
“ordenanças” exclusivamente às cerimônias da dispensação judaica. Jamais empregou tal
expressão a qualquer mandamento do Decálogo.
Na passagem mencionada, o apóstolo Paulo afirma que Cristo [Messias] desfez a lei dos
mandamentos, que consistia em ordenanças. O profeta Daniel menciona a mesma coisa ao
declarar: “E ele [Messias]... na metade da semana fará cessar o sacrifício e a oferta de
manjares”. (Daniel 9:27).
As referidas ordenanças tinham por objetivo realizar a expiação de pecados pelo
sacrifício de animais, mas sua eficácia estava condicionada ao sucesso do sacrifício do
“Cordeiro de Deus”.
34 COLOSSENSES 2:16
Leandro Bertoldo
6.3 Formalismo religioso
Esse escrito de dívida “de alguma maneira nos era contrária” (Colossenses 2:14) porque
os adoradores tinham a constante tendência de crerem na eficácia intrínseca do sangue de
animais para purificação de seus pecados, quando “é impossível que o sangue dos touros e dos
bodes tire os pecados”. (Hebreus 10:4). Essa crença equivocada levava os adoradores a observar
as ordenanças da lei com um frio formalismo, razão pela qual o Senhor declarou indignado: “De
que me serve a mim a multidão de vossos sacrifícios, diz o Senhor? Já estou farto dos
holocaustos de carneiros, e da gordura de animais nédios; e não folgo com o sangue de
bezerros, nem de cordeiros, nem de bodes. Pelo que, quando estendeis as vossas mãos, escondo
de vós os meus olhos; sim, quando multiplicais as vossas orações, não as ouço, porque as
vossas mãos estão cheias de sangue”. (Isaías 1:11 e 15).
O extremo formalismo religioso sem a devida espiritualidade com que os antigos
adoradores praticavam as ordenanças da Lei Cerimonial “de alguma maneira nos era
contrária”. Foi por essa razão que o Senhor Deus “a tirou do meio de nós, cravando-a na
cruz”.
Conforme a metáfora do “keirographon”, Jesus satisfez completamente as reivindicações
das ordenanças da Lei Cerimonial que para Ele apontavam. Por ter sido integralmente cumprida
em Cristo, tais ordenanças foram cravadas na cruz. “O tipo encontrou o antítipo na morte do
Filho de Deus”. (Profetas e Reis, 627).
A sentença de morte contra nós, proveniente da transgressão de Adão e Eva, foi
cabalmente anulada na cruz por meio da morte de Cristo. Deus tornou Jesus Cristo “pecado por
nós” (II Coríntios 5:21) a fim de que as especificações das ordenanças cerimoniais que
apontavam para Cristo, e que de alguma maneira nos era contrária, fosse cumprida em Sua
morte na cruz.
6.4 Como foi cravada na cruz
“Porque isto é o meu sangue, o sangue do Novo Testamento, que é derramado por
muitos, para remissão dos pecados”. (Mateus 26:28). “E ele [Messias] firmará um concerto com
muitos por uma semana: e na metade da semana fará cessar o sacrifício e a oferta de manjares”.
(Daniel 9:27).
“E por isso é Mediador dum novo Testamento, para que, intervindo a morte para
remissão das transgressões que havia debaixo do primeiro testamento, os chamados recebam a
promessa da herança eterna”. (Hebreus 9:15). “Porque onde há testamento necessário é que
intervenha a morte do testador”. (Hebreus 9:16).
“E Jesus, clamando outra vez com grande voz, rendeu o espírito”. (Mateus 27:50). “E eis
que o véu do templo se rasgou em dois, de alto a baixo; e tremeu a terra, e fenderam-se as
pedras”. (Mateus 27:51). “Porque Cristo não entrou num santuário feito por mãos, figura do
verdadeiro, porém no mesmo céu, para agora comparecer por nós perante a face de Deus”.
(Hebreus 9:24).
“Ora a suma do que temos dito é que temos um sumo sacerdote tal, que está assentado
nos céus à destra do trono da majestade” (Hebreus 8:1). “Ministro do santuário, e do verdadeiro
tabernáculo, o qual o Senhor fundou, e não o homem”. (Hebreus 8:2).
“Ora também o primeiro tinha ordenanças de culto divino, e um santuário terrestre”.
(Hebreus 9:1). “Porque um tabernáculo estava preparado, o primeiro, em que havia o candeeiro,
e a mesa, e os pães da proposição; ao que se chama o santuário”. (Hebreus 9:2). “Mas depois do
segundo véu estava o tabernáculo que se chama o santo dos santos”. (Hebreus 9:3).
“Que é uma alegoria para o tempo presente, em que se oferecem dons e sacrifícios que,
quanto à consciência, não podem aperfeiçoar aquele que faz o serviço” (Hebreus 9:9).
“Consistindo somente em manjares, e bebidas, e várias abluções e justificações da carne,
impostas até ao tempo da correção”. (Hebreus 9:10).
35 COLOSSENSES 2:16
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6.5 Por que foi cravada na cruz
“Como acima diz, Sacrifício e oferta, e holocaustos e oblações pelo pecado não quiseste,
nem te agradaram (os quais se oferecem segundo a lei)”. (Hebreus 10:8). “Porque, tendo a lei a
sombra dos bens futuros, e não a imagem exata das coisas, nunca, pelos mesmos sacrifícios que
continuamente se oferecem cada ano, pode aperfeiçoar os que a eles se chegam”. (Hebreus
10:1). “Porque é impossível que o sangue dos touros e dos bodes tire os pecados”. (Hebreus
10:4). “E assim todo o sacerdote aparece cada dia, ministrando e oferecendo muitas vezes os
mesmos sacrifícios, que nunca podem tirar os pecados”. (Hebreus 10:11).
“Ora também o primeiro tinha ordenanças de culto divino, e um santuário terrestre”.
(Hebreus 9:1). “Que é uma alegoria para o tempo presente, em que se oferecem dons e
sacrifícios que, quanto à consciência, não podem aperfeiçoar aquele que faz o serviço”.
(Hebreus 9:9). “Consistindo somente em manjares, e bebidas, e várias abluções e justificações
da carne, impostas até ao tempo da correção”. (Hebreus 9:10).
“De sorte que, se a perfeição fosse pelo sacerdócio levítico (porque sob ele o povo
recebeu a lei), que necessidade havia logo de que outro sacerdote se levantasse, segundo a
ordem de Melquisedeque, e não fosse chamado segundo a ordem de Aarão?” (Hebreus 7:11).
“Mas, vindo Cristo, o sumo sacerdote dos bens futuros, por um maior e mais perfeito
tabernáculo, não feito por mãos, isto é, não desta criação”. (Hebreus 9:11). “Nem por sangue de
bodes e bezerros, mas por seu próprio sangue, entrou uma vez no santuário, havendo efetuado
uma eterna redenção”. (Hebreus 9:12).
“E, na verdade, aqueles foram feitos sacerdotes em grande número, porque pela morte
foram impedidos de permanecer”. (Hebreus 7:23). “Mas este, porque permanece eternamente,
tem um sacerdócio perpétuo”. (Hebreus 7:24).
“Que não necessitasse, como os sumos sacerdotes, de oferecer cada dia sacrifícios,
primeiramente por seus próprios pecados, e depois pelos do povo; porque isto fez ele, uma vez,
oferecendo-se a si mesmo”. (Hebreus 7:27). “Porque a lei constitui sumos sacerdotes a homens
fracos, mas a palavra do juramento, que veio depois da lei, constitui ao Filho, perfeito para
sempre”. (Hebreus 7:28).
“Mas agora alcançou ele ministério tanto mais excelente, quanto é mediador dum melhor
concerto, que está confirmado em melhores promessas”. (Hebreus 8:6). “Porque, se aquele
primeiro fora irrepreensível, nunca se teria buscado lugar para o segundo”. (Hebreus 8:7).
“Então disse: Eis aqui venho, para fazer, ó Deus, a tua vontade. Tira o primeiro, para
estabelecer o segundo”. (Hebreus 10:9). “Porque o precedente mandamento é ab-rogado por
causa da sua fraqueza e inutilidade”. (Hebreus 7:18). “(Pois a lei nenhuma coisa aperfeiçoou) e
desta sorte é introduzida uma melhor esperança, pela qual chegamos a Deus”. (Hebreus 7:19).
“Porque, mudando-se o sacerdócio, necessariamente se faz também mudança da lei”. (Hebreus
7:12).
6.6 Lei Moral
“Quando o tipo encontrou o antítipo na morte de Cristo, cessou a oferta sacrifical. A Lei
Cerimonial foi abolida. Mas, pela crucifixão, a lei dos Dez Mandamentos foi estabelecida. O
evangelho não anulou a lei, nem lhe diminuiu um til das reivindicações. Ela ainda requer
santidade em toda parte”. (Review and Herald, 26 de junho de 1900).
Diferentemente da “Lei Cerimonial”, que foi escrita por Moisés, sob inspiração divina,
num livro (Deuteronômio 31:24-26), a “Lei Moral” foi escrita pelo próprio Senhor Deus
(Deuteronômio 9:10) em duas tabuas de pedra (Deuteronômio 4:13; 9:11) e posteriormente
transcrita por Moisés para o Livro da Lei (Êxodo 20:3-17).
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Leandro Bertoldo
Essa lei é conhecida na Bíblia Sagrada pelos seguintes nomes: “Tábuas do Concerto”
(Deuteronômio 9:9; 11 e 15); “Dez Mandamentos” (Êxodo 34:28; Deuteronômio 4:13; 10:4);
“Mandamentos” (Marcos 10:19; Lucas 18:20); “Lei de Deus” (Romanos 7:22, 25; 8:7) e
“Mandamentos de Deus” (Apocalipse 12:17; 14:12). Na Teologia, a referida lei é conhecida
pelo nome de “Decálogo” ou “Lei Moral”.
A Palavra de Deus mostra claramente que a graça não cravou a “Lei Moral” na cruz. Eis
o que diz a Bíblia Sagrada: “Anulamos, pois, a lei pela fé? De maneira nenhuma, antes
estabelecemos a lei”. (Romanos 3:31). “Por isso nenhuma carne será justificada diante dele
pelas obras da lei, porque pela lei vem o conhecimento do pecado”. (Romanos 3:20). “Que
diremos pois? É a lei pecado? De modo nenhum: mas eu não conheci o pecado senão pela lei;
porque eu não conheceria a concupiscência, se a lei não dissesse: Não cobiçarás”. (Romanos
7:7). “Porque onde não há lei também não há transgressão”. (Romanos 4:15). “O pecado não é
imputado, não havendo lei”. (Romanos 5:13). “Que diremos pois? Permaneceremos no pecado,
para que a graça abunde? De modo nenhum. Nós, que estamos mortos para o pecado, como
viveremos ainda nele?”. (Romanos 6:1-2). Em outras palavras, os Dez Mandamentos não foram
cravados na cruz, caso contrário, eles teriam sido anulados e não haveria mais pecados. Na
realidade, o que foi cravado na cruz foram as ordenanças cerimoniais que estavam sob a ordem
sacerdotal levítica, as quais apontavam para o “Cordeiro de Deus”. Eis o que diz a Bíblia
Sagrada: “Na sua carne desfez a inimizade, isto é, a lei dos mandamentos, que consistia em
ordenanças”. (Efésios 2:15).
6.7 Suposição inconseqüente
O Novo Testamento esclarece aos seus leitores que “pela lei vem o conhecimento do
pecado” e que o pecado é “transgressão da lei” (Romanos 3:20; I João 3:4). Também informa
aos seus leitores que “onde não há lei também não há transgressão” e que “o pecado não é
imputado, não havendo lei”. (Romanos 4:15; 5:13).
Supondo que a Lei Moral foi riscada e cravada na cruz, então podemos concluir que o
pecado não mais existe, e que após a cruz ninguém mais necessita de salvação, porque o pecado
não pode mais ser imputado a nenhum ser humano. Além disso o Espírito Santo não pode
convencer ninguém do pecado (João 16:8) porque “onde não há lei também não há
transgressão” (Romanos 4:15). A maior aberração sobre a abolição da lei é a de que Cristo
sacrificou-Se para que pudéssemos viver livremente na prática de todos atos que até então eram
tidos como pecaminosos pela lei.
Tamanho é o absurdo da suposição de que a Lei Moral foi cravada na cruz, que o próprio
apóstolo Paulo foi levado a declarar: “Anulamos, pois, a lei pela fé? De maneira nenhuma, antes
estabelecemos a lei”. (Romanos 3:31). Além disso, os demais apóstolos de Jesus afirmaram em
alto e bom som: “Se dissermos que não temos pecado, enganamo-nos a nós mesmos, e não há
verdade em nós”. “Aquele pois que sabe fazer o bem e o não faz, comete pecado”. “Não reine
portanto o pecado em vosso corpo mortal, para lhe obedecerdes em suas concupiscências”. (I
João 1:8; Tiago 4:17; Romanos 6:12).
Supondo que a Lei Moral tenha sido cravada na cruz, então o Espírito Santo, ao inspirar
a Palavra de Deus, (II Pedro 1:21) estaria sendo incoerente ao afirmar que “a inclinação da
carne é inimizade contra Deus, pois não é sujeita à lei de Deus.” (Romanos 8:7). “Sabemos,
porém, que a lei é boa, se alguém dela usa legitimamente”. “Que a lei não é feita para o justo,
mas para os injustos e obstinados, para os ímpios e pecadores, para os profanos e irreligiosos,
para os parricidas e matricidas, para os homicidas”. (I Timóteo 1:8-9).
Supondo que a Lei Moral tenha sido cravada na cruz, então o apóstolo Paulo jamais
poderia ter afirmado: “É a lei pecado? De modo nenhum”. Nunca teria dito que “a lei é santa, e
o mandamento santo, justo e bom”. Nunca ensinaria “que a lei é espiritual”. Jamais diria:
“consinto com a lei, que é boa”, ou “tenho prazer na lei de Deus” e “com o entendimento sirvo à
lei de Deus”. (Romanos 7:7; 12; 14; 16; 22; 25).
37 COLOSSENSES 2:16
Leandro Bertoldo
Presumindo que a Lei Moral tenha sido cravada na cruz, então Jesus Cristo jamais
poderia ter ensinado o seguinte: “Ouvistes que foi dito aos antigos: Não cometerás adultério. Eu
porém, vos digo que qualquer que atentar numa mulher para a cobiçar, já em seu coração
cometeu adultério com ela”. (Mateus 5:27-28). Nem Tiago poderia ter doutrinado que “qualquer
que guardar toda a lei, e tropeçar em um só ponto, tornou-se culpado de todos”. “Porque aquele
que disse: Não cometerás adultério, também disse: Não matarás. Se tu pois não cometeres
adultério, mas matares, estás feito transgressor da lei”. (Tiago 2:10-11).
Diante do exposto torna-se evidente que a desfocada suposição de que a Lei Moral foi
cravada na cruz é uma aberração inconseqüente ensinada no ceio do cristianismo por muitos que
“querendo ser doutores da lei, e não entendendo nem o que dizem nem o que afirmam”. (I
Timóteo 1:7). As Escrituras Sagradas deixam bem claro que na cruz foram cravadas as
ordenanças. Sendo que a Bíblia Sagrada relaciona as ordenanças apenas com os preceitos da Lei
Cerimonial.
38 COLOSSENSES 2:16
Leandro Bertoldo
Capítulo 7 “Portanto ninguém vos julgue”
“Portanto ninguém vos julgue pelo comer, ou pelo beber ou por causa dos dias de festa, ou da
lua nova, ou dos sábados, que são sombras das coisas futuras, mas o corpo é de Cristo”.
Colossenses 2:16-17
A quem o apóstolo Paulo estava se referindo quando escreveu aos cristãos
Colossenses: “Portanto ninguém vos julgue”?
Primeiramente, cabe destacar que a formação dessa frase é muito estranha; afinal de
contas, como podemos impedir que alguém nos julgue? Como podemos impedir que outros nos
critiquem? Como podemos tapar a boca dos nossos adversários?
Nas entrelinhas de sua epístola, o apóstolo Paulo está dizendo aos cristãos Colossenses
para não levarem em consideração o julgamento de quem quer que seja. Os Colossenses não
deveriam sentir-se constrangidos pelas críticas que outros lhes estavam fazendo.
O apóstolo Paulo deixa transparecer claramente que havia uma certa discórdia por parte
de algumas pessoas em torno de questões religiosas relacionadas com comida, bebida, dias de
festa, lua nova e sábados. Paulo deixa claro que o julgamento de outrem por causa de
ordenanças era algo irrelevante. A razão para isso era que tais ordenanças não passavam que
sombras que apontavam para o corpo de Cristo.
Paulo havia escrito a sua carta aos gentios cristãos que viviam na cidade de Colossos.
Esses cristãos estavam sofrendo severa crítica por parte de alguns religiosos dissidentes, que
discordava de sua profissão de fé.
O apóstolo Paulo procura mostrar aos cristãos Colossenses que ninguém tem o direito de
julgá-los em sua singela maneira de viver o evangelho, especialmente quando tais críticas
envolviam as complexas sombras de coisas futuras, que perderam totalmente a sua eficácia por
ter sido cumprida em Cristo.
7.2 Análise da palavra “portanto”
Em sua carta aos Colossenses o apóstolo Paulo apresenta a seguinte sentença: “Portanto
ninguém vos julgue”. Nessa expressão a conjugação “portanto” é sinônimo dos seguintes
vocábulos: “logo”, “por conseguinte”, “destarte”, “desde modo”, “assim”, “por isso”, “desta
sorte”, “dessa forma”, “desse modo”, “desta maneira”, etc.
É evidente que essa sentença está diretamente ligada aos versículos anteriores pela
conjugação “portanto” e traduz a conclusão do assunto ou do raciocínio anterior que o apóstolo
Paulo vinha desenvolvendo.
– Mas, qual era o raciocínio que Paulo vinha desenvolvendo em sua carta e que agora
estava concluído?
Obviamente ele estava dando um desfecho para a idéia apresentada nos dois versículos
anteriores, especialmente o conteúdo do versículo catorze referente à “cédula que era contra nós
nas suas ordenanças” e que foi por Cristo riscada, tirada do meio de nós e cravada na cruz.
É evidente que Paulo não está sendo conivente e nem está endossando a guarda de
quaisquer ordenanças, haja vista que ele mesmo afirma que tal cédula é contra nós e que a
mesma foi riscada e cravada na cruz. Como poderia então estar aprovando a observância de tais
preceitos, quando na realidade está condenando a sua prática?
39 COLOSSENSES 2:16
Leandro Bertoldo
Nem mesmo os cristãos Colossenses estavam guardando tais ordenanças, haja vista que
como conversos gentios eles não tinham o costume ou a tradição de guardar quaisquer
ordenanças cerimoniais de origem judaica, tais como “dias de festa, ou da lua nova, ou dos
sábados”, as quais estavam registradas na Lei de Moisés.
O que ocorria é que aqueles nobres cristãos gentios estavam sofrendo uma severa pressão
judaizante para que passassem a observar todas ordenanças cerimoniais que estavam
relacionadas com “comer, ou pelo beber ou por causa dos dias de festa, ou da lua nova, ou dos
sábados”, cuja cédula havia sido riscada e cravada na cruz.
7.3 Mensagem de Paulo
A mensagem central que o apóstolo Paulo está procurando transmitir aos cristãos
Colossenses é a seguinte: Que eles não deveriam sentir-se julgados por ninguém por causa da
cédula com as suas ordenanças dos “dias de festa, ou da lua nova, ou dos sábados” que foi
“riscada”, tirada do “meio de nós” e “cravada na cruz”.
Como a expressão “portanto” indica a conclusão do raciocínio anterior, onde Paulo
descaracteriza a observância das ordenanças, ao escrever “portanto ninguém vos julgue pelo
comer, ou pelo beber ou por causa dos dias de festa, ou da lua nova, ou dos sábados”, o apóstolo
Paulo deixa claro que a igreja de Colossos não estava observando as ordenanças dos holocaustos
dos dias de festa, da lua nova e dos sábados. Observe as seguintes razões:
Primeiro, os cristãos Colossenses estavam sofrendo severas críticas. Observe: “ninguém
vos julgue”.
Segundo, a expressão “porque” é uma conclusão lógica do raciocínio que Paulo vinha
desenvolvendo sobre a cédula que foi cravada na cruz. Não teria sentido ele aprovar a prática de
ordenanças que ele mesmo condenou por ter sido riscada e cravada na cruz.
Terceiro, a carta aos Colossenses foi endereçada aos cristãos gentios, que não tinham
qualquer compromisso ou herança judaica em praticar as ordenanças cerimoniais estabelecidas
na Lei de Moisés.
A carta aos Colossenses foi escrita 35 anos após a morte de Jesus Cristo, e as grandes
perguntas que se faz são as seguintes:
– Por qual motivo o apóstolo Paulo recomendou aos cristãos gentios de Colossos a não
se deixarem julgar sobre as questões das ordenanças? – A resposta para essa pergunta é a
seguinte:
– “Os judeus se haviam sempre orgulhado de seu cerimonial de instituição divina; e
muitos dos que se haviam convertido à fé de Cristo ainda sentiam que uma vez que Deus havia
claramente esboçado a forma hebréia de adoração, era pouco provável que Ele tivesse
autorizado uma mudança em quaisquer de suas especificações. Insistiam em que as leis e
cerimônias judaicas deviam ser incorporadas aos ritos da religião cristã. Eram tardos em
discernir que todas as ofertas sacrificais não tinham senão prefigurado a morte do Filho de Deus,
em que o tipo encontrou o antítipo, depois do que os ritos e cerimônia da dispensação mosaica
não mais deviam perdurar”. (Atos dos Apóstolos, 189).
7.4 Origem dos problemas
A exemplo dos cristãos gentios da Galácia, os cristãos gentios de Colossenses estavam
sofrendo severas críticas externas em razão da atividade conservadora dos chamados cristãos
judaizantes.
Essa divergência teve início quando ocorreu a expressiva conversão de milhares de
judeus ao cristianismo. Eis o que diz a Bíblia Sagrada: “E, ouvindo-o eles, glorificaram ao
Senhor, e disseram-lhe: Bem vês, irmão, quantos milhares de judeus há que crêem, e todos são
zeladores da lei”. (Atos 21:20).
40 COLOSSENSES 2:16
Leandro Bertoldo
Ocorre que muitos desses judeus convertidos ao cristianismo proviam da severa seita dos
fariseus. Esses cristãos trouxeram para dentro do cristianismo o mesmo espírito de radicalismo e
intolerância religiosa que antes praticavam. Ensinavam que a observância da lei de Moisés e a
circuncisão eram pontos necessários para a salvação. Mesmo como cristãos, eles ainda
continuaram praticando as ordenanças dos holocaustos dos dias de festas (Páscoa, Pães Asmos,
Pentecostes, Trombetas, Dia da Expiação, Tabernáculos), da Lua Nova e dos Sábados, como
sendo algo necessário à salvação. Freqüentavam rigorosamente a sinagoga e o Templo Sagrado.
Porém, o mais grave é que eles queriam impor tais ordenanças a todos os cristãos gentios. Eis o
que diz a Bíblia Sagrada: “Alguns, porém, da seita dos fariseus, que tinham crido, se
levantaram, dizendo que era mister circuncidá-los e mandar-lhes que guardassem a lei de
Moisés”. (Atos dos Apóstolos 15:5).
Como impetuosos missionários, alguns judaizantes saíram de sua terra natal na Judéia e
passaram a judaizar os cristãos gentios espalhados dentro das fronteiras do Império Romano.
Ensinavam que os cristãos gentios deveriam ser circuncidados para poderem ser salvos. Eis o
que diz a Bíblia Sagrada: “Alguns que tinham descido da Judéia ensinavam assim os irmãos: Se
não vos circuncidardes conforme o uso de Moisés, não podeis salvar-vos”. (Atos dos Apóstolos
15:1).
Como conseqüência de todas essas atividades judaizantes, alguns cristãos gentios foram
constrangidos a circuncidar-se para não sofrerem perseguições: “Todos os que querem mostrar
boa aparência na carne, esses vos obrigam a circuncidar-vos, somente para não serem
perseguidos por causa da cruz de Cristo”. (Gálatas 6:12).
Para pacificar a questão judaizante entre os cristãos gentios, a Igreja realizou o seu
primeiro concílio, o qual foi chamado de “Concílio de Jerusalém”. Porém, alguns cristãos
judaizantes não se submeteram às determinações do Concílio de Jerusalém, razão pela qual o
apostolo Paulo passou a designá-los como “falsos irmãos”. Eis o que diz a Bíblia Sagrada: “E
isto por causa dos falsos irmãos que se intrometeram, e secretamente entraram a espiar a nossa
liberdade, que temos em Cristo Jesus, para nos porem em servidão”. (Gálatas 2:4).
7.5 Heresias de Colossos
A igreja de Colossos não foi fundada pelo apóstolo Paulo. É bem provável que essa
igreja tenha sido formada por Epafras, companheiro do ministério evangelístico de Paulo. Eis o
que diz a Bíblia Sagrada: “Como aprendestes de Epafras, nosso amado conservo, que para vós
é um fiel ministro de Cristo”. (Colossenses 1:7).
No que pese à dedicação e fidelidade de Epafras essa igreja estava sofrendo a severa
crítica por parte de “falsos irmãos”. Não é possível identificar precisamente a natureza de todas
heresias que estavam sendo insinuadas aos cristãos Colossenses. Todavia, observando a
contestação feita pelo apóstolo Paulo pode-se identificar alguns elementos dessas heresias.
1ª. Paulo adverte os cristãos gentios Colossenses contra as “filosofias e vãs sutilezas”
(Colossenses 2:8), o que indica a infiltração da filosofia helenística no seio do cristianismo
praticado pelos Colossenses.
2ª. Ao que parece os falsos mestres estavam introduzindo entre os cristãos Colossenses o
“culto dos anjos” (Colossenses 2:18).
4ª. Observa-se que nessas heresias havia componentes tipicamente judaicos, tais como
circuncisão (Colossenses 2:11; 3:11), dias de festas, lua nova e sábados (Colossenses 2:16).
5ª. Paulo também relatou que os cristãos Colossenses estavam sendo levados a observar
a “tradição dos homens” (Colossenses 2:8), as “doutrinas dos homens” (Colossenses 2:22) e os
“rudimentos do mundo” (Colossenses 2:8 e 20), para justificar a observância de certas regras
criadas pelos homens.
6º. Uma forma de ascetismo estava insinuando-se entre os cristãos Colossenses. Eis a
prova: “As quais têm, na verdade, alguma aparência de sabedoria, em devoção voluntária,
41 COLOSSENSES 2:16
Leandro Bertoldo
humildade, e em disciplina do corpo, mas não são de valor algum senão para a satisfação da
carne”. (Colossenses 2:23).
Diante do exposto, torna-se evidente que os falsos ensinamentos que estavam sendo
pregado aos cristãos Colossenses eram um sincretismo religioso constituído por doutrinas de
origem pagãs, gnósticas e judaicas.
7.6 Cristãos gentios
É oportuno lembrar que a carta de Paulo foi endereçada aos cristãos gentios naturais da
cidade Colossos, localizada na província romana da Frigia, na Ásia Menor. Atualmente a cidade
de Colossos faz parte da Turquia e encontra-se devastada em ruínas.
Os cristãos Colossenses eram conversos gentios que nunca foram circuncidados
(Colossenses 2:11). Como gentios, eles jamais guardaram qualquer preceito da “Lei de Moisés”.
Por essa razão os cristãos judeus, especialmente aqueles provenientes da seita dos fariseus, por
estarem arraigados nas ordenanças centralizadas nos cerimoniais religiosos de circuncisão e
holocausto de animais, queriam impor aos cristãos gentios a obrigatoriedade de “circuncidá-los
e mandar-lhes que guardassem a lei de Moisés”. (Atos dos Apóstolos 15:5). Ocorre que as
ordenanças da Lei Cerimonial foram riscadas e cravadas na cruz. Entre essas ordenanças
destacam-se as circuncisões, as comidas, bebidas e os holocaustos de animais realizados nos
“dias de festa, lua nova e sábados”.
Como os cristãos estão debaixo do Novo Concerto, eles não precisam participar de tais
ordenanças religiosas, que constituíam a cédula do Antigo Concerto e que foi definitivamente
cumprida com a crucifixão de Cristo. Foi por esse motivo que Paulo declarou enfaticamente, em
detrimento aos cristãos judaizantes, para os cristãos Colossenses não considerarem o fato de que
alguns “falsos irmãos” estavam julgando-os por não praticarem tais ordenanças. Eis o que disse
o apóstolo: “ninguém vos julgue pelo comer, ou pelo beber, ou por causa dos dias de festa, ou
da lua nova, ou dos sábados”.
Paulo não está condenando a observância do sábado semanal, mas está censurando a
observância das “ordenanças” cerimoniais relacionadas com comidas, bebidas e holocausto de
animais dos dias de festa, lua nova e nos sábados, conforme ele mesmo afirma em outra parte da
Bíblia Sagrada: “Consistindo somente em manjares, e bebidas, e várias abluções e justificações
da carne, impostas até ao tempo da correção”. (Hebreus 9:10).
42 COLOSSENSES 2:16
Leandro Bertoldo
Capítulo 8 “pelo comer, ou pelo beber”
“Portanto ninguém vos julgue pelo comer, ou pelo beber ou por causa dos dias de festa, ou da
lua nova, ou dos sábados, que são sombras das coisas futuras, mas o corpo é de Cristo”.
Colossenses 2:16-17
O versículo bíblico em questão fala em “comer” ou “beber”. Portanto, tal versículo
está claramente considerando as ordenanças cerimoniais registradas na Lei de Moisés referente
às atividades festivas do culto divino.
É de conhecimento geral que o Decálogo não contém mandamentos relacionados com o
comer ou beber, haja vista tratar-se de uma Lei Moral, constituída por Dez Mandamentos, que
normatizam a conduta que os crentes deve ter perante Deus e perante o próximo. Nessa lei os
primeiros quatro mandamentos materializam o nosso amor para com o Senhor Deus; e os
últimos seis concretizam o nosso amor ao nosso próximo.
Sabendo disso, então surgem em nossa mente as seguintes perguntas:
– Por que algumas pessoas supõem que Paulo está considerando em Colossenses os
mandamentos da Lei Moral, quando na realidade o santo apóstolo está tratando das ordenanças
da Lei Cerimonial?
– Por que não considerar o fato incontestável de que Paulo está referindo-se à abolição
de todo o aparato cerimonial que estavam por traz das ordenanças do “comer” ou “beber”?
A Bíblia Sagrada não considera a Lei Moral como “ordenança”, mas como
“mandamento”. Ainda mais quando consideramos que essa lei não possui a função de purificar o
pecado de nenhum ser humano. Sua função básica consiste em mostrar ao homem o pecado:
“porque pela lei vem o conhecimento do pecado”. (Romanos 3:20).
Todo o conteúdo axiológico relacionado com o comer e beber do versículo de
Colossenses “é uma alegoria para o tempo presente, em que se oferecem dons e sacrifícios que,
quanto à consciência, não podem aperfeiçoar aquele que faz o serviço. Consistindo somente em
manjares, e bebidas, e várias abluções e justificações da carne, impostas até ao tempo da
correção”. (Hebreus 9:9-10).
8.2 O comer e as festas
No Antigo Testamento, as ordenanças relacionadas “pelo comer, ou pelo beber”
estavam relacionadas com todas as ordenanças cerimoniais, especialmente com os dias de festa.
“O Senhor ordenou antigamente a Israel, quando se reuniam para Seu culto: ‘Ali comereis
perante o Senhor, vosso Deus, e vos alegrareis em tudo em que poreis a vossa mão, vós e as
vossas casas, no que te abençoar o Senhor teu Deus’. Deuteronômio 12:7. Aquilo que fazemos
para glória de Deus deve ser feito com alegria, hinos de louvor e ações de graças, não com
tristeza e aspecto sombrio”. (Caminho a Cristo, 103).
“Sete dias comerás pães asmos; e ao sétimo dia haverá festa ao Senhor. Sete dias se
comerão pães asmos, e o levedado não se verá contigo, nem ainda fermento será visto em todos
os teus termos”. (Êxodo 13:6-7).
43 COLOSSENSES 2:16
Leandro Bertoldo
“Disse mais o Senhor a Moisés e a Aarão: Esta é a ordenança da páscoa; nenhum filho
do estrangeiro comerá dela”. “Porém se algum estrangeiro se hospedar contigo, e quiser
celebrar a páscoa ao Senhor, seja-lhe circuncidado todo o macho, e então chegará a celebrá-la,
e será como o natural da terra; mas nenhum incircunciso comerá dela”. (Êxodo 12:43 e 48).
“Então sacrificarás a páscoa ao Senhor teu Deus, ovelhas e vacas, no lugar que o
Senhor escolher para ali fazer habitar o seu nome. Nela não comerás levedado: sete dias nela
comerás pães asmos. Pão de aflição (porquanto apressadamente saíste da terra do Egito), para
que te lembres do dia da tua saída da terra do Egito, todos os dias da tua vida”. (Deuteronômio
16:2-3).
“Então todo o povo se foi a comer, e a beber, e a enviar porções, e a fazer grandes
festas: porque entenderam as palavras que lhes fizeram saber”. (Neemias 8:12).
“E direis ao pai de família da casa: O mestre te diz: Onde está o aposento em que hei de
comer a páscoa com os meus discípulos?”. (Lucas 22:11).
8.3 O comer e os holocaustos
Além das atividades de comer e beber estar vinculadas com as cerimônias religiosas dos
“dias de festa”, seguem-se mais alguns passagens bíblicas demonstrando claramente que o
comer ou beber também estavam relacionadas com as ordenanças dos holocaustos de animais do
“culto divino” e que eram realizadas no “santuário terrestre”. (Êxodo 29:40-41; Levítico 23:37;
Números 28:5-10, 12-14).
“Mas a carne do sacrifício de louvores da sua oferta pacífica se comerá no dia do seu
oferecimento: nada se deixará dela até à manhã. E, se o sacrifício da sua oferta for voto, ou
oferta voluntária, no dia em que oferecer o seu sacrifício se comerá; e o que dele ficar também
se comerá no dia seguinte”. (Levítico 7:15-16).
“Porém, se alguma pessoa comer a carne do sacrifício pacífico, que é do Senhor, tendo
ela sobre si a sua imundícia, aquela pessoa será extirpada dos seus povos. E, se uma pessoa
tocar alguma cousa imunda, como imundícia de homem, ou gado imundo, ou qualquer
abominação imunda, e comer da carne do sacrifício pacífico, que é do Senhor, aquela pessoa
será extirpada dos seus povos”. (Levítico 7:20-21).
“E, quando sacrificardes sacrifício pacífico ao Senhor, da vossa própria vontade o
sacrificareis. No dia em que o sacrificardes, e no dia seguinte, se comerá; mas o que sobejar ao
terceiro dia será queimado com fogo”. (Levítico 19:5-6).
“E o sacerdote os moverá em oferta de movimento perante o Senhor; isto é santo para o
sacerdote, juntamente com o peito da oferta de movimento, e com a espádua da oferta alçada; e
depois o nazireu pode beber vinho”. (Números 6:20).
“Quando, porém, a oferta era em benefício de um príncipe ou alguém do povo, o sangue
não era levado ao lugar santo, mas a carne devia ser comida pelo sacerdote, conforme o Senhor
determinou a Moisés: ‘O sacerdote que a oferecer pelo pecado, a comerá; no lugar santo se
comerá, no pátio da tenda da congregação’. (Levítico 6:26; 4:22-35)”. (Cristo em Seu Santuário,
35).
8.4 O comer e os preconceitos
44 COLOSSENSES 2:16
Leandro Bertoldo
No decorrer dos séculos os judeus criaram muitas invenções que se transformaram em
tradição religiosa; mas, totalmente de origem humana. Muitas dessas tradições ritualísticas
estavam relacionadas com o comer ou beber e, na época de Cristo, o evangelista Marcos foi
levado a fazer a seguinte declaração: “Porque os fariseus, e todos os judeus, conservando a
tradição dos antigos, não comem sem lavar as mãos muitas vezes. E, quando voltam do
mercado, se não se lavarem, não comem. E muitas outras coisas há que receberam para
observar, como lavar os copos, e os jarros, e os vasos de metal e as camas”. (Marcos 7:3-4).
Um outro problema era o seguinte: o comer e beber eram vistos pelos antigos como um
ato de comunhão. Assim, quando uma pessoa comia com algum indivíduo considerado
desprezível pela sociedade, essa pessoa transformava-se em objeto de severas críticas. Por
exemplo, Cristo “Foi acusado pelos líderes religiosos de comer com publicanos, e estes
lançavam sobre Ele a imputação de que era igual a eles”. (Beneficência Social, 287). Eis o que
diz a Bíblia
Sagrada: “E os fariseus, vendo isto, disseram aos seus discípulos: Por que come o vosso Mestre
com os publicanos e pecadores?” (Mateus 9:11).
Além dos rituais religiosos fundados na tradição humana, os judeus e fariseus tinham os
estrangeiros (gentios) como imundos (Atos 10:28-29) e consideravam abominação comer ou
beber com qualquer um deles. O apóstolo Pedro foi severamente criticado pelos cristãos judeus
simplesmente porque comeu com um centurião de origem romana. Eis o que diz a Bíblia
Sagrada: “E, subindo Pedro a Jerusalém, disputavam com ele os que eram da circuncisão.
Dizendo: Entraste em casa de varões incircuncisos, e comeste com eles”. (Atos 11:2-3).
“Quando os irmãos na Judéia ouviram que Pedro havia entrado na casa de um gentio e
pregara aos que ali estavam reunidos, ficaram surpresos e escandalizados. Receavam que tal
conduta, que a eles parecia presunçosa, tivesse como resultado contrariar seu próprio ensino.
Quando a seguir viram Pedro, defrontaram-no com severa censura, dizendo: ‘Entraste em casa
de varões incircuncisos, e comeste com eles’. Atos 11:3”. (Atos dos Apóstolos, 141).
8.5 O Decálogo
Como foi dito, uma simples leitura do Decálogo permite constatar facilmente que não
existe nenhum registro nos Dez Mandamentos abordando qualquer espécie de ordenança, muita
menos traz orientações sobre comer ou beber. Os Dez Mandamentos somente tratam de questões
morais e éticas, que todo homem e especialmente os cristãos tem o dever de observar, razão pela
qual o Decálogo é identificado como Lei Moral.
A “Lei de Moisés” é a designação bíblica para os cinco primeiros livros das Escrituras
Sagradas, cuja escrituração é atribuída a Moisés. Esses cinco livros registram uma enorme
variedade de leis, cuja natureza e objetivo permitem agrupá-las didaticamente em “Leis Civis”,
“Leis Criminais”, “Leis de Saúde”, “Leis Sanitárias”, “Leis Cerimoniais” etc.
Todas essas leis foram registradas diretamente por Moisés nos livros que foram
intitulados nas Escrituras Sagradas por “Lei de Moisés”. Porém, diferentemente dessas leis, os
Dez Mandamentos foram registrados pelo próprio dedo de Deus em duas tábuas de pedras e,
posteriormente, foram transcritos por Moisés para o chamado “Livro de Moises”.
Voltando à questão do comer e beber, o metodista Adan Clarke (1762-1832) fez o
seguinte comentário: “‘Ninguém vos julgue pelo comer ou beber’... O apóstolo aqui se refere a
algumas particulares do escrito de ordenanças, que foram abolidas, a saber, a distinção de carnes
e bebidas... e a necessidade da observância de certos feriados e festivais, tais como a Luas
Novas e sábados particulares ou aqueles que deviam ser observados com incomum solenidade;
todos eles foram abolidos e cravados na cruz, e não mais eram de obrigação.” (Clarke's
Commentary).
45 COLOSSENSES 2:16
Leandro Bertoldo
Capítulo 9 “por causa dos dias de festa”
“Portanto ninguém vos julgue pelo comer, ou pelo beber ou por causa dos dias de festa, ou da
lua nova, ou dos sábados, que são sombras das coisas futuras, mas o corpo é de Cristo”.
Colossenses 2:16-17
Os “dias de festa” aqui mencionados são ocasiões especiais e festivas que deveriam
ser comemorados em datas predeterminadas no decorrer do ano. Esses “dias de festa” estão
relacionados cronologicamente em Levítico 23:4-44; sendo elas: Páscoa, Pães Asmos, Primícias,
Pentecostes, Trombetas, Expiação e Tabernáculos.
Primeira Festa: Páscoa “No mês primeiro, aos catorze do mês, pela tarde, é a páscoa do Senhor”. (Levítico
23:5).
“Porém no mês primeiro, aos catorze dias do mês é a páscoa do Senhor”. (Números
28:16).
Segunda Festa: Pães Asmos
“E aos quinze dias deste mês é a festa dos asmos do Senhor: sete dias comereis asmos.
No primeiro dia tereis santa convocação: nenhuma obra servil fareis. Mas sete dias oferecereis
oferta queimada ao Senhor: ao sétimo dia haverá santa convocação: nenhuma obra servil
fareis”. (Levítico 23:6-8).
“E aos quinze dias do mesmo mês haverá festa: sete dias se comerão pães asmos”.
(Números 28:17).
Terceira Festa: Primícias
“Fala aos filhos de Israel, e dize-lhes: Quando houverdes entrado na terra, que vos hei
de dar, e segardes a sua sega, então trareis um molho das primícias da vossa sega ao
sacerdote”. (Levítico 23:10).
“Semelhantemente, tereis santa convocação no dia das primícias, quando oferecerdes
oferta nova de manjares ao Senhor, segundo as vossas semanas; nenhuma obra servil fareis”.
(Números 28:26).
“E a festa da sega dos primeiros frutos do teu trabalho, que houveres semeado no
campo, e a festa da colheita à saída do ano, quando tiveres colhido do campo o teu trabalho”.
(Êxodo 23:16).
“Também guardarás a festa das semanas, que é a festa das primícias da sega do trigo, e
a festa da colheita no fim do ano”. (Êxodo 34:22).
Quarta Festa: Pentecostes
“Depois para vós contareis desde o dia seguinte ao sábado, desde o dia em que
trouxerdes o molho da oferta movida: sete semanas inteiras serão. Até ao dia seguinte ao
sétimo sábado, contareis cinqüenta dias: então oferecereis nova oferta de manjares ao Senhor”.
(Levítico 23:15-16).
Quinta Festa: Trombetas
46 COLOSSENSES 2:16
Leandro Bertoldo
“Fala aos filhos de Israel, dizendo: No mês sétimo, ao primeiro do mês, tereis descanso,
memória de jubilação, santa convocação. Nenhuma obra servil fareis, mas oferecereis oferta
queimada ao Senhor”. (Levítico 23:24-25).
“Semelhantemente, tereis santa convocação no sétimo mês, no primeiro dia do mês:
nenhuma obra servil fareis: ser-vos-á um dia de jubilação”. (Números 29:1).
Sexta Festa: Dia da Expiação
“Mas aos dez deste mês sétimo será o dia da expiação: tereis santa convocação, e
afligireis as vossas almas; e oferecereis oferta queimada ao Senhor. E naquele mesmo dia
nenhuma obra fareis, porque é o dia da expiação, para fazer expiação por vós perante o Senhor
vosso Deus”. (Levítico 23:28).
“E no dia dez deste sétimo mês tereis santa convocação, e afligireis as vossas almas:
nenhuma obra fareis”. (Números 29:7).
Sétima Festa: Tabernáculos
“Fala aos filhos de Israel, dizendo: Aos quinze dias deste mês sétimo será a festa dos
tabernáculos ao Senhor por sete dias. Ao primeiro dia haverá santa convocação: nenhuma obra
servil fareis. Sete dias oferecereis ofertas queimadas ao Senhor: ao dia oitavo tereis santa
convocação, e oferecereis ofertas queimadas ao Senhor: dia solene é, nenhuma obra servil
fareis”. (Levítico 23:34-36).
“Semelhantemente, aos quinze dias deste sétimo mês, tereis santa convocação; nenhuma
obra servil fareis: mas sete dias celebrareis festa ao Senhor”. (Números 29:12).
9.2 Sábados festivos
Intercalados entre os “dias de festa” havia as sete ordenanças dos sábados cerimoniais,
que eram dedicados ao repouso, pois nesses dias “nenhum trabalho servil fareis” (Levítico 23:3,
7-8, etc.). Tais dias de descanso eram designados pelo nome de “sábados” (Levítico 23:31-32).
Nesses sábados cerimoniais o povo do Senhor deveria refletir profundamente na eficácia
do perdão dos pecados que o holocausto dos animais proviam, fiados unicamente na futura
vinda do Messias.
Diante do exposto torna-se claro que, além do sábado semanal (Levítico 23:3) descrito
no Decálogo, foram instituídos no Sinai outros sete sábados cerimoniais dentro do período dos
“dias de festa”. Esses sábados anuais são os seguintes:
1º Festa dos Pães Asmos – Sábado Cerimonial celebrado no primeiro dia. Mais precisamente
no 15º dia do primeiro mês (Levítico 23:7).
2º Festa dos Pães Asmos – Sábado Cerimonial comemorado no último dia. Mais precisamente
no 21º do primeiro mês (Levítico 23:8).
3º Festa de Pentecostes – Sábado Cerimonial festejado no 50º dia desde a Páscoa (Levítico
23:21).
4º Festa das Trombetas – Sábado Cerimonial solenizado no primeiro dia. Mais precisamente
no 1º dia do sétimo mês (Levítico 23:24-25).
5º Festa do dia da Expiação – Sábado Cerimonial comemorado no 10º dia do sétimo mês
(Levítico 23:28).
6º Festa dos Tabernáculos – Sábado Cerimonial celebrado no primeiro dia. Mais precisamente
no 15º dia do sétimo mês (Levítico 23:35).
7º Festa dos Tabernáculos – Sábado Cerimonial comemorado no último dia. Mais
precisamente no 22º dia sétimo mês (Levítico 23:36).
Para os dias de festas havia um ou dois dias intercalados, que eram qualificados como
um dia de “santa convocação”. Eram dias de repouso, que segundo a ordem divina: “nenhuma
47 COLOSSENSES 2:16
Leandro Bertoldo
obra servil” deveria ser realizada. Tais dias eram designados pelo nome de sábados porque a
palavra “sábado”, etimologicamente, significa descanso, repouso ou cessação do trabalho
secular. Eram verdadeiros feriados nacionais. Nesses dias de descanso festivos o trabalho
secular era interrompido para descanso.
Denota-se que a designação “sábado” é explicitamente empregada pelas Escrituras
Sagradas ao dia da expiação, o qual era observado anualmente, no décimo dia do sétimo mês.
(Levítico 16:31; 23:32). Embora os dias de repouso intercalados entre os “dias de festa” fossem
chamados de sábados, não podem de modo algum ser confundido com o repouso do sétimo dia
da semana. Vale a pena ressaltar que estes sábados ou dias de descansos intercalados entre os
dias de festa poderiam cair em qualquer dia da semana no decorrer dos anos. Nada tinham que
ver com o descanso semanal fixo, que cai sempre no sétimo dia da semana, independentemente
do dia do mês.
9.3 Sábados na Vulgata
A palavra “sábado” aplicada aos dias especiais dentro dos “dias de festa” foi reproduzida
por grande número de tradutores das Escrituras Sagradas, tais como “Matos Soares”,
“Figueiredo” etc. Eis o que diz a Bíblia Sagrada traduzida para a língua portuguesa, pelo Padre
Matos Soares, a partir da versão de origem latina feita por Jerônimo, conhecida como Vulgata:
Festa da Expiação
“Neste dia se fará a vossa expiação e a purificação de todos os vossos pecados; nele
sereis purificados diante do Senhor. Porque é um sábado do descanso, e afligireis as vossas
almas, por lei perpétua.” (Levítico 16:30-31).
“É o sábado do repouso; afligireis as vossas almas no dia nove do mês; celebrareis os
vossos sábados de uma tarde até à outra.” (Levítico 23:32).
Festa dos Tabernáculos
“Desde o dia quinze, pois, do sétimo mês, quando tiverdes colhido todos os frutos da
vossa terra, celebrareis as festas do Senhor durante sete dias; o primeiro dia e o oitavo será o
sábado, isto é, o descanso.” (Levítico 23:39).
Festa das Trombetas
“Dize aos filhos de Israel: O sétimo mês, o primeiro dia do mês será para vós um
sábado e uma recordação (que vós celebrareis) ao som das trombetas, e será chamado santo.
Não fareis nele trabalho algum servil, e oferecereis um holocausto ao Senhor.” (Levítico 23:24-
25).
Observe a expressão: “Será para vós um sábado”, isto é, uma solenidade em que é
ordenada a abstenção das obras seculares. Evidentemente, não se trata do sábado do sétimo dia
da semana.
Os sábados festivos eram uma santa convocação que se observava como se fosse “um
sábado”.
Portanto, a Bíblia Sagrada, além de definir o sábado semanal, também define como dias
de sábados alguns dias especiais mensais, perfeitamente determinados entre as ordenanças dos
dias de festa. Esses sábados cerimoniais eram dias de santa convocação, mas não tinham o
mesmo sentido espiritual e objetivo do sábado semanal, senão de um dia festivo de repouso
diante do Senhor em que nenhuma obra servil poderia ser realizada.
48 COLOSSENSES 2:16
Leandro Bertoldo
9.4 Holocausto dos dias de festa
No período dos dias de festa os sacerdotes levitas realizavam o culto divino no santuário
terrestre fundamentados num cerimonial religioso ordenado pela Lei de Moisés. O ritual dessa
ordenança consistia no chamado “holocausto da festa solene”, que ocorria durante o ano. Eis um
exemplo bíblico típico dessas festas:
“Porém no mês primeiro, aos catorze dias do mês é a páscoa do Senhor. E aos quinze
dias do mesmo mês haverá festa: sete dias se comerão pães asmos. No primeiro dia haverá
santa convocação: nenhuma obra servil fareis. Mas oferecereis oferta queimada em holocausto
ao Senhor, dois bezerros e um carneiro, e sete cordeiros dum ano; ser-vos-ão eles sem
mancha”. (Números 28:16-19).
O exemplo apresentado pela passagem bíblica em análise deixa claro que no dia catorze
do primeiro mês era comemorada a festa da páscoa. No dia seguinte, aos quinze do primeiro
mês havia festa, e durante sete dias o povo comia pães asmos (sem fermento).
No primeiro dia da festa era realizada uma santa convocação. Nesse dia o povo reunia-se
para cultuar a divindade e nenhuma obra (servil) secular deveria ser realizada. Tratava-se de um
sábado cerimonial. Nesse sábado festivo o povo deveria oferecer em holocausto ao Senhor dois
bezerros, um carneiro e sete cordeiros. Todos esses animais deveriam apresentar um ano de
idade e nenhuma mancha.
9.5 O Decálogo
Como o apóstolo Paulo aprova a observância da “lei de Deus” nos capítulos 7-8 da
epistola aos Romanos, podemos concluir que Colossenses 2:14-17 não está fazendo referência
aos Dez Mandamentos, especialmente porque as Escrituras Sagradas não apresentam
contradições de nenhuma natureza. As contradições encontram-se nas interpretações produzidas
pelos homens, cuja limitação de conhecimento sistemático bíblico leva-os a fazer inferências
equivocadas.
Evidentemente a “cédula” mencionada em Colossenses não é a Lei Moral, mas trata-se
de uma referência às ordenanças cerimoniais realizadas pelo sacerdócio levítico no santuário
terrestre, como se pode deduzir da leitura do versículo que se segue: “Havendo riscado a cédula
que era contra nós nas suas ordenanças, a qual de alguma maneira nos era contrária, e a tirou
do meio de nós, cravando-a na cruz”. (Colossenses 2:14). É inegável que a Bíblia Sagrada
define como “sábados” alguns dias intercalados entre os demais “dias de festa”. Esses sábados
festivos nada tinham a ver com o sábado semanal arrolado como mandamento moral no
Decálogo e memorial da criação do mundo.
Os Dez Mandamentos não servem de ordenanças cerimoniais, simplesmente porque eles
não realizam qualquer espécie de expiação ou purificação de pecados. Sua função primordial
consiste em definir o que é pecado. Porém, as ordenanças da Lei Cerimonial relacionada com os
holocaustos de animais realizavam a expiação do pecado cometido pelo transgressor
arrependido, mediante o derramamento de sangue, porque “sem derramamento de sangue não há
remissão” (Hebreus 9:22), posto que o salário do pecado é a morte (Romanos 6:23). Porém, os
Dez Mandamentos não possuem sangue para ser derramado a favor de qualquer pecador.
9.6 Distinção de sábados
Os sábados intercalados nos dias de festa apresentam natureza diferente do sábado
semanal. Eles são completamente distintos uns dos outros. Os sábados festivos de modo algum
podem ser confundidos com o sábado semanal, pelas seguintes razões:
49 COLOSSENSES 2:16
Leandro Bertoldo
1ª. Enquanto que os sábados festivos são dias fixos no mês e caem em qualquer dia da
semana, o sábado semanal é um dia fixo na semana e pode cair em qualquer dia do mês;
2ª. O sábado semanal foi estabelecido por Deus no sétimo dia da criação do mundo
(Gênesis 2:2-3) enquanto que os sábados festivos anuais foram instituídos no Monte Sinai
(Levítico 23:4-44).
3ª O sábado semanal foi estabelecido pelo Senhor Deus antes da entrada do pecado no
mundo. Porém, as ordenanças dos sábados festivos anuais foram prescritas somente após a
entrada do pecado.
4ª. O sábado semanal apresenta caráter moral e permanente, enquanto que os sábados
festivos anuais são cerimoniais e transitórios e deveriam cessar com a morte do Cordeiro de
Deus na cruz do Calvário.
5ª. O sábado semanal é um memorial que comemora a criação do mundo “porque em
seis dias fez o Senhor os céus e a terra, o mar e tudo que neles há, e ao sétimo dia descansou:
portanto abençoou o Senhor o dia do sábado, e o santificou”. (Êxodo 20:11). Porém, os sábados
festivos anuais em “cada ano se faz comemoração dos pecados”. (Hebreus 10:3). Esses sábados
eram apenas “sombra dos bens futuros” (Colossenses 2:17) que apontavam para a morte do
“Cordeiro de Deus”.
6ª. O relato bíblico deixa claro que na criação o Senhor Deus descansou, abençoou e
santificou o sábado semanal (Êxodo 20:11), porém não fez o mesmo nas ordenanças dos
sábados cerimoniais.
7ª. Os sábados semanais eram designados por Deus como “Meus sábados” (Levítico
26:2; Isaías 56:4; Ezequiel 20:12-24), enquanto que os sábados festivos eram designados como
“vossos sábados” e “seus sábados” (Levítico 23:32; Oséias 2:11).
8ª. O sábado semanal foi escrito pelo próprio dedo de Deus em duas tábuas de pedra e
guardadas dentro da arca da aliança (Êxodo 31:18; 40:20; Deuteronômio 4:13; 10:5; Hebreus
9:4).Porém os sábados festivos foram registrados por Moisés no Livro de Moisés e colocado “ao
lado da arca” da aliança (Deuteronômio 31:26).
9ª. O sábado semanal apresenta uma natureza moral semelhante às dos demais
mandamentos do Decálogo e sua observância independe dos holocaustos de animais. Porém, as
ordenanças dos sábados festivos apresentam sua existência vinculada à purificação de pecados
pelos holocaustos de animais.
10ª. As Escrituras Sagradas distingue claramente o “sábado do Senhor” dos sábados
festivos. Eis o que diz a Bíblia Sagrada: “Estas são as solenidades do Senhor, que apregoareis
para santas convocações, para oferecer ao Senhor oferta queimada, holocausto e oferta de
manjares, sacrifício e libações, cada qual em seu dia próprio; além dos sábados do Senhor, e
além dos vossos dons, e além de todos os vossos votos, e além de todas as vossas ofertas
voluntárias que dareis ao Senhor”. (Levítico 23:37-38). O Senhor deixou claro que o sábado
semanal e os sábados festivos não se confundem porque eles não estão na mesma categoria.
Além dos sábados semanais, dons, votos, ofertas voluntárias que deveriam dar ao Senhor,
também deveriam celebrar as solenidades do Senhor, numa santa convocação, onde ofereceriam
ofertas, holocausto, sacrifício e libações em seus respectivos dias.
A conduta daqueles que desprezam o sábado não se limita apenas em ceifar o quarto
mandamento do Decálogo. A verdade é que os antagonistas do sábado procuram suprimir,
também, todos os mandamentos do Decálogo projetados para santificar o ser humano em seu
relacionamento com Deus e com o próximo. Com isso eles prestam um tremendo desserviço
para a sociedade, varrendo do coração carnal o respeito e temor devido aos mandamentos
divinos. Como resultado natural tem-se o aumento da iniqüidade no mundo (Mateus 24:12). Ou
seja, as conseqüências para a vida espiritual do individuo e para a sociedade, além de
catastróficas, são irreversíveis.
50 COLOSSENSES 2:16
Leandro Bertoldo
Capítulo 10 “da lua nova”
“Portanto ninguém vos julgue pelo comer, ou pelo beber ou por causa dos dias de festa, ou da
lua nova, ou dos sábados, que são sombras das coisas futuras, mas o corpo é de Cristo”.
Colossenses 2:16-17
A Lua é um satélite natural que gira em torno da Terra e não possui luz própria. Ela
reflete para Terra a luz que recebe do Sol. Esse satélite não tem atmosfera e a sua superfície
mostra crateras de dimensões variadas, planaltos e montanhas, algumas superam em altura os
mais altos picos da Terra.
A Lua realiza um movimento de translação em torno da Terra numa órbita elíptica
bastante excêntrica em 29 dias e 12 horas, e 44 minutos. Esse ciclo é denominado “mês lunar”, e
chama-se “ano lunar” a duração dos dozes meses lunares (354 dias).
Além do movimento de translação, a Lua é dotada de um movimento de rotação sobre
seu próprio eixo, que se encontra inclinado a 83º30’ sobre o plano de sua órbita. Como o
período de sua rotação é exatamente igual ao de translação em torno da Terra, a Lua apresenta
sempre a mesma face para a Terra.
A Lua é visível porque ela reflete para a Terra os raios de luz que recebe do Sol, porém a
luz refletida mostra-se em fase, ou aspectos diferentes. Isso se deve tão-somente à posição
relativa da Lua e do Sol em relação à Terra. A cada dia o Sol ilumina a Lua sob um ângulo
diferente, à medida que ela se desloca em torno da Terra. Tal fenômeno ocasiona as conhecidas
fases da Lua: “Nova”, “Cheia”, “Minguante” e “Crescente”.
10.2 Lua Nova
A Lua Nova é a fase em que a Lua se acha situada entre o Sol e a Terra e apresenta a
face obscurecida. Ou seja, a Lua Nova ocorre quando o hemisfério lunar voltado para a Terra
não reflete nenhuma luz do Sol. Nessas condições afirma-se que a Lua está em conjunção com o
Sol. A Lua Nova somente é visível durante os eclipses do Sol, que ocorrem quando é Lua Nova.
Nessa fase, o ângulo entre Sol, Terra e Lua é praticamente zero. A Lua Nova nasce por volta das
seis horas da manhã e se põe às seis da tarde. Ou seja, ela transita visivelmente pelo céu durante
o dia.
Entre duas fases iguais (duas luas novas, por exemplo) passam-se 29,5 dias. Portanto, no
período de um ano, tem-se 12,4 revoluções lunares completas. Isto significa que uma mesma
fase da Lua pode ocorrer no mínimo 12 vezes e no máximo 13, num mesmo ano.
10.3 Calendário Lunar
O calendário hebraico é um calendário lunar. Esse tipo de calendário é baseado nos
ciclos da Lua. Os anos possuem 12 meses e alguns anos chegam ter 13 meses, que são
alternados em 29 ou 30 dias. O primeiro dia de cada mês é sempre o primeiro dia da Lua Nova.
O início do ano começa com o mês de Tisherei que corresponde no calendário
gregoriano a setembro/outubro. O calendário hebraico começa com a criação de Adão, que em
2012 correspondia há 5773 anos atrás.
51 COLOSSENSES 2:16
Leandro Bertoldo
No calendário judaico os meses apresentam os seguintes nomes e duração: 1. Nissan
dura 30 dias; 2. Iyar dura 29 dias; 3. Sivan dura 30 dias; 4. Tammuz dura 29 dias; 5. Av dura 30
dias; 6. Elul dura 29 dias; 7. Tishrei dura 29 dias; 8. Heshvan dura 29 ou 30 dias; 9. Kislev dura
29 ou 30 dias; 10. Tevet dura 30 dias; 11. Shevat dura 30 dias; 12. Adar I dura 29 dias; 13. Adar
II dura 29 dias.
10.4 Holocaustos da Lua Nova
No calendário hebraico o primeiro dia de cada mês lunar é sempre o primeiro dia da Lua
Nova. Esse dia em particular era considerado sagrado e os sacerdotes levitas deveriam realizar
no culto divino do santuário terrestre um cerimonial religioso claramente estabelecido no livro
da Lei de Moisés.
O ritual da ordenança realizada no primeiro dia da Lua Nova, ocorria em todos os meses,
e consistia em oferecer vários sacrifícios, que eram chamados de “holocausto da lua nova”. As
autoridades religiosas determinavam que trombetas fossem tocadas e suspendiam o trabalho
secular. Eis o que diz a Bíblia Sagrada:
“Semelhantemente, no dia da vossa alegria, e nas vossas solenidades, e nos princípios
dos vossos meses, também tocareis as trombetas sobre os vossos holocaustos, sobre os vossos
sacrifícios pacíficos, e vos serão por lembrança perante vosso Deus: Eu sou o Senhor vosso
Deus”. (Números 10:10).
“Tocai a trombeta na lua nova, no tempo marcado para a nossa solenidade”. (Salmos
81:3).
“E nos princípios dos vossos meses oferecereis, em holocausto ao Senhor, dois bezerros
e um carneiro, sete cordeiros dum ano, sem mancha. E três décimas de flor de farinha
misturada com azeite, em oferta de manjares, para um bezerro; e duas décimas de flor de
farinha misturada com azeite, em oferta de manjares, para um carneiro. E uma décima de flor
de farinha misturada com azeite, em oferta de manjares, para um cordeiro: holocausto é de
cheiro suave, oferta queimada ao Senhor. E as suas libações serão a metade dum him de vinho
para um bezerro, e a terça parte dum him para um carneiro, e a quarta parte dum him para um
cordeiro: este é o holocausto da lua nova de cada mês, segundo os meses do ano”. (Números
28:11-14).
Com o primeiro dia da Lua Nova começava a contagem dos dias do mês. Nesse primeiro
dia os sacerdotes ofereciam ao Senhor os holocaustos dos seguintes animais: 2 bezerros, 1
carneiro, 7 cordeiros sem mancha e com um ano de idade.
Também eram oferecidas em oferta queimada de manjares de uma flor de farinha com
azeite na seguinte proporção: 3/10 para um bezerro, 2/10 para um carneiro e 1/10 para um
cordeiro.
Além das ofertas de manjares, era oferecido um him vinho em libações ao Senhor na
seguinte proporção: 1/2 para um bezerro, 1/3 para um carneiro e a 1/4 para um cordeiro.
Em resumo, os holocaustos do primeiro dia do mês eram designados por “holocausto da
lua nova”, e eram realizados todos os meses, sempre no primeiro dia da Lua Nova.
10.5 Descanso da Lua Nova
As evidências registradas em Amós 8:5 mostram claramente que o primeiro dia da Lua
Nova era observado como dia de repouso do trabalho secular em função, tanto quanto era
observado o repouso do dia do sábado semanal. A diferença de repouso era que o primeiro tinha
52 COLOSSENSES 2:16
Leandro Bertoldo
um fundamento cerimonial, enquanto que o segundo tinha um fundamento moral. Eis o que os
ímpios comerciantes daquela época pensavam:
“Quando passará a lua nova, para vendermos o grão? e o sábado, para abrirmos os
celeiros de trigo, diminuindo o efa, e aumentando o siclo, e procedendo dolosamente com
balanças enganadoras”. (Amós 8:5).
Diante do exposto verifica-se cristalinamente que esses comerciantes gananciosos
estavam descontentes e reclamavam porque não podiam trabalhar e vender os seus grãos no dia
da Lua Nova. Isso somente ocorria porque se tratava de um dia de descanso do trabalho secular.
Ansiosamente, eles diziam: “Quando passará a lua nova, para vendermos o grão?”
Esses mesmos comerciantes desonestos também faziam objeção ao fato de não poderem
abrir os seus celeiros de trigo para vendê-lo no dia do sábado. Isso ocorria porque se tratava de
um dia de repouso do trabalho secular. De malgrado esses comerciantes tinham que esperar o
sábado passar, mas sob protesto reclamavam: “Quando passará... o sábado, para abrirmos os
celeiros de trigo”?
Aqueles comerciantes estavam aborrecidos pelo fato de terem que cessar as suas
atividades seculares no dia da Lua Nova e no dia do Sábado, que eram dias de repouso. Seus
corações não estavam interessados nas coisas sagradas. O mais importante para eles era o seu
ilícito comércio de grãos.
Eles eram comerciantes desonestos porque intencionalmente aumentavam o preço das
mercadorias e diminuam o peso padrão de medida, além de empregarem balanças alteradas que
enganavam os fregueses.
O dia da Lua Nova era um dia de repouso, devido à solenidade cerimonial que originou a
observância desse dia no Monte Sinai (Números 28:11-14). Enquanto que o sábado é um dia de
repouso, devido à solenidade moral que originou a observância desse dia no Jardim do Éden
(Gênesis 2:2-3; Êxodo 20:11).
10.6 Atividades na Lua Nova
Entre os judeus, a forma de observar o sábado semanal e o dia da Lua Nova era muito
semelhante, mas não se confundem. Esses dias eram tidos como dia de repouso do trabalho
secular. Os adoradores prostravam-se na porta oriental do templo, haja vista tratar-se de um dia
de santa convocação. Os sacerdotes ofereciam holocaustos de animais ao Senhor Deus. Eis o
que diz a Bíblia Sagrada:
“Assim diz o Senhor Jeová: A porta do átrio interior, que olha para o oriente, estará
fechada durante os seis dias, que são de trabalho; mas no dia de sábado ela se abrirá; também
no dia da lua nova se abrirá”.
“E o povo da terra se prostrará à entrada da mesma porta, nos sábados e nas luas
novas, diante do Senhor”. (Ezequiel 46:1 e 3).
“E disse ele: Por que vais a ele hoje? não é lua nova nem sábado. E ela disse: Tudo vai
bem”. (II Reis 4:23).
O dia da Lua Nova era um feriado religioso nacional. Nessas ocasiões ocorriam
confraternizações e o dia era observado com alegria pelos adoradores do Senhor Deus.
“Disse Davi a Jônatas: Eis que amanhã é a lua nova, em que costumo assentar-me com
o rei para comer”. (I Samuel 20:5).
53 COLOSSENSES 2:16
Leandro Bertoldo
10.7 Referências de Paulo
Evidentemente a Lua Nova não foi abolida, ela continua ocorrendo todo mês desde a
fundação do mundo. O que foi abolido foram todas ordenanças cerimoniais de holocausto de
animais que eram realizadas nesse dia. Igualmente, o sábado semanal também não foi abolido,
ele continua ocorrendo toda semana desde a fundação do mundo. O que foi abolido foram todas
ordenanças cerimoniais de holocaustos de animais que eram realizadas nesse dia.
Alguns supõem que o sábado semanal foi abolido porque as cerimônias realizadas nesse
dia foram abolidas. Evidentemente tal suposição está equivocada. Primeiro, porque o sábado é
mandamento moral dado na primeira semana da criação, bem antes da entrada do pecado no
mundo, e confirmado a sua força moral ao ser arrolado entre os Dez Mandamentos. Segundo,
somente muito séculos depois da entrada do pecado no mundo é que o sábado adquiriu
provisoriamente um segundo aspecto: o aspecto cerimonial. Portanto, os crentes dos tempos
antigos observavam o sábado no seu aspecto moral e os sacerdotes levitas realizavam aos
sábados os holocaustos da manhã e da tarde dos cordeiros. Evidentemente, quando as
ordenanças foram riscadas e cravadas na cruz, somente o aspecto cerimonial foi abolido do
sábado, permanecendo para sempre o aspecto moral.
Nos dias de hoje, para alguns cristãos superficiais, a passagem bíblica de Colossenses
2:16 parece-lhes ensinar que o mandamento do sábado semanal foi abolido. Ocorre que esse
insensato argumento contradiz dezenas de outros textos bíblicos registrados no Novo
Testamento que endossam a observância moral do sábado semanal. Além disso, os mencionados
“sábados” de Colossenses estão vinculados e arrolados às expressões “comer ou beber”, “dias de
festa” e “lua nova”, que claramente são ordenanças cerimoniais.
A frase “dias de festa, ou da lua nova, ou dos sábados”, foi retirada do Antigo
Testamento pelo apóstolo Paulo. Ocorre que tal frase faz uma síntese das ordenanças dos
holocaustos de animais que eram realizados nesses dias, junto ao santuário terrestre, sob a
supervisão dos sacerdotes levitas.
Nos escritos de Moisés e dos Profetas, todas as expressões “dias de festa”, “lua nova” e
“sábados” estão associadas aos holocaustos de animais. Esses holocaustos ocorriam anualmente
durante os “dias de festa”, mensalmente durante a “lua nova” e semanalmente aos “sábados”
(Números 28-29; I Crônicas 23:30-31; II Crônicas 2:4; 8:12-13; 31:3; Neemias 10:32-33; Isaías
1:13-14; Ezequiel 45:17; Oséias 2:11).
Em Colossenses 1-3, Paulo discorre sobre o que Cristo realizou por nossa salvação, tanto
na cruz quanto no Céu (Colossenses 1:13-14, 20, 22; 2:11-15; 3:1). O santuário e suas
ordenanças eram apenas “sombras” que prefiguravam a obra de expiação dos pecados, e que
seria consumada na cruz (Hebreus 8:5; 9:9-12; 10:1). Portanto, o texto de Colossenses não
afirma que o descanso do sétimo dia da semana foi abolido, haja vista que foi estabelecido na
criação do mundo, antes mesmo da entrada do pecado. O que Colossenses deixa bem claro é que
as ordenanças dos holocaustos de animais realizadas nos “dias de festa”, “lua nova” e “sábados”
foram riscados, tirado do meio de nós e cravadas na cruz.
54 COLOSSENSES 2:16
Leandro Bertoldo
Capítulo 11 “dos sábados”
“Portanto ninguém vos julgue pelo comer, ou pelo beber ou por causa dos dias de festa, ou da
lua nova, ou dos sábados, que são sombras das coisas futuras, mas o corpo é de Cristo”.
Colossenses 2:16-17
Baseados numa interpretação toda tendenciosa de Colossenses 2:16, alguns querem
porque querem contradizer mais de sessenta versículos bíblicos registrados no Novo
Testamento, os quais claramente atestam a validade da observância do sábado semanal como um
mandamento bíblico moral obrigatório para todos os cristãos.
Por meio desse único versículo bíblico, os pseudo-interpretes contradizem todo Novo
Testamento, o qual ensina claramente que “qualquer que guardar toda a lei, e tropeçar em um só
ponto, tornou-se culpado de todos” (Tiago 2:10).
Construindo uma falsa interpretação em torno da passagem bíblica de Colossenses 2:16,
os pseudo-interpretes desmentem o fato de que Jesus e os primeiros cristãos guardavam o “santo
sábado do Senhor”, em total obediência ao reclamo do mandamento divino.
A interpretação equivocada desse versículo bíblico contraria o fato de que Paulo – doutor
dos gentios – em obediência ao mandamento divino, guardava o sábado junto com os seus
compatriotas judeus (Atos 13:14-15; 17:2; 18:4 e 11), com os prosélitos gentios (13:42 e 44) e
até mesmo entre os gentios pagãos (Atos 16:13). Além disso, ordenou que todos seguissem seu
exemplo (Filipenses 3:17; 4:9).
É claro que Paulo jamais considerou a possibilidade de que as “ordenanças” fossem uma
referência ao sábado moral ou mesmo qualquer outro mandamento da Lei Moral. Sobretudo
porque, em muitas outras passagens bíblicas, o próprio apóstolo defende por preceito e exemplo
a observância da “lei” e do “sábado”. É claro que o apóstolo Paulo estaria sendo totalmente
incoerente ao guardar o sábado e recomendar o contrário aos Colossenses?
As Escrituras Sagradas não contém contradições. As contradições encontram-se na falta
de compreensão das mensagens bíblicas e nas interpretações tendenciosas que alguns homens
apresentam em defesa de suas idéias pré-concebidas. A verdadeira interpretação leva em
consideração todo o contexto bíblico – imediato e mediato – sem entrar em contradição com
qualquer outro texto das Escrituras Sagradas. Em outras palavras, jamais se pode interpretar
isoladamente uma passagem bíblica sem levar em consideração todas as demais. Portanto, não é
possível que a “interpretação” de uma única declaração venha a contradizer todo ensinamento
geral das Escrituras Sagradas.
11.2 Espécies de sábados
Muitas pessoas que lêem superficialmente as Escrituras Sagradas juram de pé junto que a
Bíblia menciona apenas um sábado: o sábado semanal. Elas ficam estarrecidas quando ouvem
alguém dizer que a Bíblia Sagrada menciona outras espécies de sábados, que eram considerados
feriados religiosos festivos.
Como a investigação da Palavra de Deus mostra a existência de várias espécies de
sábados, torna-se perfeitamente lícito fazer a seguinte pergunta:
– A qual espécie de “sábado” Paulo estaria fazendo referência em Colossenses?
55 COLOSSENSES 2:16
Leandro Bertoldo
Sabendo que as Escrituras Sagradas devem ser interpretadas sistematicamente pelas
próprias Escrituras Sagradas, então vamos verificar o que elas mesmas ensinam sobre a as
diversas espécies de sábados registrados em suas páginas:
1º. O Sábado Moral
“Lembra-te do dia do sábado, para o santificar. Seis dias trabalharás, e farás toda a tua
obra. Mas o sétimo dia é o sábado do Senhor teu Deus: não farás nenhuma obra, nem tu, nem
teu filho, nem tua filha, nem o teu servo, nem a tua serva, nem o teu animal nem o teu
estrangeiro, que está dentro das tuas portas. Porque em seis dias fez o Senhor os céus e a terra,
o mar e tudo que neles há, e ao sétimo dia descansou: portanto abençoou o Senhor o dia do
sábado, e o santificou”. (Êxodo 20:8-11).
Esse versículo emprega a palavra “sábado” para designar o sétimo dia da semana: “o
sétimo dia é o sábado”. Ele cai sempre no sétimo dia da semana. Nesse dia ninguém poderia
realizar nenhuma espécie de trabalho secular: “não farás nenhuma obra”. A razão dada pelo
Senhor Deus para a observância do sábado é a perpétua lembrança da obra da criação que foi
concluída no sexto dia da semana: “porque em seis dias fez o Senhor os céus e a terra, o mar e
tudo que neles há”. Foi por essa razão que o Senhor descansou, abençoou e santificou o dia do
sábado: “ao sétimo dia descansou: portanto abençoou o Senhor o dia do sábado, e o
santificou”.
2º. O Sábado Cerimonial
“Nenhuma obra fareis: estatuto perpétuo é pelas vossas gerações em todas as vossas
habitações. Sábado de descanso vos será; então afligireis as vossas almas: aos nove do mês à
tarde, duma tarde a outra tarde, celebrareis o vosso sábado”. (Levítico 23:31-32).
Nessas passagens bíblicas está claramente delineada a aplicação da palavra “sábado” a
um conceito cerimonial realizado num dia do mês: “aos nove do mês à tarde, duma tarde a outra
tarde, celebrareis o vosso sábado”. Esse sábado cerimonial iniciava-se invariavelmente no
décimo dia do sétimo mês. Portanto, esse dia de descanso cerimonial é diferente do dia de
descanso semanal, porque necessariamente no decorrer dos anos recaía em qualquer dia da
semana.
3º. O Sábado da Terra
“Fala aos filhos de Israel e dize-lhes: Quando tiverdes entrado na terra, que eu vos dou,
então a terra guardará um sábado ao Senhor. Seis anos semearás a tua terra, e seis anos
podarás a tua vinha, e colherás a sua novidade. Porém ao sétimo ano haverá sábado de
descanso para a terra, um sábado ao Senhor: não semearás o teu campo nem podarás a tua
vinha”. (Levítico 25:2-4).
Por meio desses versículos constata-se que havia uma terceira espécie de sábado: o
“sábado de descanso para a terra”. Essa espécie de sábado ocorrida a cada seis anos, durante
os quais a terra era semeada e ceifada. Mas, no sétimo ano a terra deveria descansar da
semeadura e da ceifa. Em outras palavras: Todo sétimo ano deveria ser um ano sabático; ou
melhor, um “sábado de descanso para a terra”, durante o qual a terra deveria ficar sem ser
cultivada, em repouso, para que pudesse recuperar sua força produtiva.
Diante do exposto, fica demonstrado que as Escrituras Sagradas advogam a existência de
três espécies de sábados, a saber: o “sábado semanal”, o “sábado cerimonial” e o “sábado da
terra”. Todavia, quando os adversários do sábado lêem Colossenses 2:16, eles concluem
afoitamente e sem maiores reflexões, que o versículo bíblico está tratando do sábado semanal,
que foi instituído na fundação do mundo, antes mesmo da entrada do pecado (Gênesis 2:2-3;
Êxodo 20:11). Além disso foi observado por Jesus Cristo (Lucas 4:16), pelos discípulos (Lucas
23:54-56) e pelo apóstolo Paulo juntamente com os gentios (Atos 13:42-44; 16:12-13).
Sem nenhum fundamento nas Escrituras Sagradas, esses “pseudopesquisadores”
declaram sem nenhum pudor que o sábado semanal era “sombra de coisas futuras”. Porém, nada
56 COLOSSENSES 2:16
Leandro Bertoldo
mais equivocado, especialmente porque o sábado semanal é um “memorial de coisas passadas”
remetendo o pensamento do adorador para a obra da criação (Êxodo 20:11). O sábado semanal
jamais foi uma “sombra de coisas futuras”, que remete o pensamento para a obra de salvação,
mediação e intercessão realizada por Cristo Jesus.
11.3 Holocaustos dos sábados
No decorrer da semana era oferecido em holocausto ao Senhor dois cordeiros sem
mancha e de um ano de idade. O primeiro deles era sacrificado pela manhã, na terceira hora
(9h00) e o segundo era sacrificado à tarde, na nona hora (15h00). Esse sacrifício diário era
designado por “holocausto contínuo”. Esse holocausto era um símile da crucifixão do “Cordeiro
de Deus”. De fato, Cristo foi crucificado na terceira hora (Marcos 15:25) e expirou na nona hora
(15:34-37), coincidindo com os horários do “holocausto contínuo”. Eis o que diz a Bíblia
Sagrada: “E dir-lhes-ás: Esta é a oferta queimada que oferecereis ao Senhor: dois cordeiros
dum ano, sem mancha, cada dia, em contínuo holocausto. Um cordeiro sacrificarás pela
manhã, e o outro cordeiro sacrificarás de tarde”. (Números 28:3-4).
No antigo “culto divino” conduzido no “santuário terrestre” pelos sacerdotes levitas,
também havia o chamado holocausto do “dia de sábado”. Eis o que diz a Bíblia Sagrada:
“Porém no dia de sábado dois cordeiros dum ano, sem mancha, e duas décimas de flor de
farinha misturada com azeite, em oferta de manjares, com a sua libação. Holocausto é do
sábado em cada sábado, além do holocausto contínuo, e a sua libação”. (Números 28:9-10).
Portanto, além da ordenança do “holocausto contínuo” oferecido em cada dia da semana,
ainda havia as ordenanças dos holocaustos realizados “em cada sábado”, as quais resultavam no
dobro das ordenanças do “holocausto contínuo”. Isso significa que no sábado eram sacrificados
dois cordeiros pela manhã e dois cordeiros à tarde. Sendo que dois deles referiam-se ao
“holocausto contínuo” e dois deles referiam-se ao holocausto do sábado.
Sob esse aspecto o sábado era apresentado aos adoradores como um dia diferente dos
demais, e que não se confundia com qualquer outro dia da semana, pelo dobro do número de
holocaustos, ofertas de manjares e libações ofertados nesse santo dia.
Embora o sábado tenha sido separado para propósito sagrado bem antes da entrada do
pecado no mundo (Gênesis 2:2-3), sabe-se que depois da entrada do pecado foram dadas muitas
ordenanças cerimoniais que, fiadas na morte do “Cordeiro de Deus”, visavam expiar os pecados
dos pecadores penitentes.
No monte Sinai, o sábado semanal passou a ter dois aspectos: o “moral” e o
“cerimonial”. O aspecto moral do sábado encontra-se registrado na Lei Moral expressa nos Dez
Mandamentos (Êxodo 20:8-11). Nesse aspecto o sábado semanal é um memorial que aponta
para a obra de criação do mundo. O aspecto cerimonial do sábado encontra-se registrado na Lei
Cerimonial de sacrifício de animais (Números 28:9-10), que como ordenanças, eram sombras
que apontavam para a morte de Cristo. Todo aparato cerimonial era provisório e como qualquer
outra ordenança foi cravada na cruz por meio do corpo de Cristo, posto que nEle os cerimoniais
de expiação de pecados e purificação encontraram o seu perfeito cumprimento.
11.4 Ordenanças dos holocaustos
Nesse momento duas grandes perguntas estão sendo cogitadas em nossas mentes, e são
as seguintes:
– Quais são as ordenanças que guardam relação com o comer ou beber, dias de festa, lua
nova, ou sábados, que são ensinadas pelas Escrituras Sagradas?
– O que o comer ou beber, dias de festa, lua nova, ou os sábados tem em comum para
estarem todos arrolados numa mesma lista?
– A resposta é muito simples. Trata-se dos holocaustos de animais!
57 COLOSSENSES 2:16
Leandro Bertoldo
Parta comprovar essa afirmação basta examinar criteriosamente as Escrituras Sagradas.
Qualquer leitor suficientemente perspicaz poderá perceber que elas registram em boa parte de
sua extensão o que precisamente estava subjacente aos dias de festa, lua nova, ou sábados: Eram
as ordenanças dos holocaustos de animais. Eis a prova bíblica:
“E para cada oferecimento dos holocaustos do Senhor, nos sábados, nas luas novas, e
nas solenidades, por conta, segundo o seu costume, continuamente perante o Senhor”. (I
Crônicas 23:31).
“Eis que estou para edificar uma casa ao nome do Senhor meu Deus, para lhe
consagrar, para queimar perante ele incenso aromático, e para o pão contínuo da proposição, e
para os holocaustos da manhã e da tarde, nos sábados, e nas luas novas, e nas festividades do
Senhor nosso Deus: o que é perpetuamente a obrigação de Israel”. (II Crônicas 2:4).
“Então Salomão ofereceu holocaustos ao Senhor, sobre o altar do Senhor, que tinha
edificado diante do pórtico. E isto segundo o dever de cada dia, oferecendo segundo o preceito
de Moisés, nos sábados e nas luas novas, a nas solenidades, três vezes no ano: na festa dos
pães asmos, e na festa das semanas, e na festa das tendas”. (II Crônicas 8:12-13).
“Também estabeleceu a parte da fazenda do rei para os holocaustos, para os
holocaustos da manhã e da tarde, e para os holocaustos dos sábados, e das luas novas, e das
solenidades; como está escrito na lei do Senhor”. (II Crônicas 31:3).
“E depois disto o holocausto contínuo, e os das luas novas e de todas as solenidades
consagradas ao Senhor; como também de qualquer que oferecia oferta voluntária ao Senhor”.
(Esdras 3:5).
“Para os pães da proposição, e para a contínua oferta de manjares, e para o contínuo
holocausto dos sábados, das luas novas, para as festas solenes, e para as cousas sagradas, e
para os sacrifícios pelo pecado, para reconciliar a Israel, e para toda a obra da casa do nosso
Deus”. (Neemias 10:33).
“E estarão a cargo do príncipe os holocaustos, e as ofertas de manjares, e as libações,
nas festas, e nas luas novas, e nos sábados, em todas as solenidades da casa de Israel: ele fará
a expiação pelo pecado, e a oferta de manjares, e o holocausto, e os sacrifícios pacíficos, para
fazer expiação pela casa de Israel”. (Ezequiel 45:17).
A semelhança desses versículos com aquele anunciado pelo apóstolo Paulo aos
Colossenses é inegável e incontestável. Todos eles trazem a exata e perfeita idéia do que o
apóstolo Paulo tinha em mente quando escreveu a sua célebre passagem aos Colossenses. Todos
esses versículos arrolam os dias de festa, a lua nova e os sábados. Todos os versículos mostram
claramente que os “holocaustos” de animais são os elementos subjacentes que Paulo tinha em
mente ao escrever aos Colossenses. Por sua vez, os Colossenses sabiam muito bem do que se
tratava, haja vista as pressões que estavam sofrendo por parte dos cristãos judaizantes.
Então, o que o comer e o beber, os dias de festas, a lua nova ou os sábados tem em
comum? A resposta é muito simples: as ordenanças dos holocaustos dos animais. O comer e o
beber estão relacionados com “as ofertas de manjares, e as libações”. Enquanto que os “dias de
festa, ou da lua nova, ou dos sábados” estão relacionados com “os holocaustos dos sábados, e
das luas novas, e das solenidades”. Eis a razão pela qual o apóstolo Paulo arrolou tudo numa
mesma passagem. Ele tinha em mente os cerimoniais religiosos realizados nesses dias.
58 COLOSSENSES 2:16
Leandro Bertoldo
11.5 Empréstimo literário de Paulo
As palavras registradas na carta endereçada aos Colossenses ressoam claramente nas
palavras registradas no Antigo Testamento referente aos holocaustos de animais que eram
conduzidos no “culto divino” do “santuário terrestre” nos dias de festa, na lua nova e nos
sábados:
“holocaustos do Senhor, nos sábados, nas luas novas, e nas solenidades”. (I Crônicas
23:31).
“holocaustos da manhã e da tarde, nos sábados, e nas luas novas, e nas festividades do
Senhor nosso Deus”. (II Crônicas 2:4).
“holocaustos dos sábados, e das luas novas, e das solenidades”. (II Crônicas 31:3).
“holocausto contínuo, e os das luas novas e de todas as solenidades consagradas ao
Senhor”. (Esdras 3:5).
“holocausto dos sábados, das luas novas, para as festas solenes”. (Neemias 10:33).
“holocaustos, e as ofertas de manjares, e as libações, nas festas, e nas luas novas, e nos
sábados”. (Ezequiel 45:17).
Verifica-se ainda que, no Antigo Testamento, o profeta Oséias numa de suas profecias,
sintetizou o conteúdo de todas essas passagens bíblicas do seguinte modo:
“E farei cessar todo o seu gozo, as suas festas, as suas luas novas, e os seus sábados, e
todas as suas festividades”. (Oséias 2:11).
Divinamente inspirado, Oséias havia profetizado no livro que leva o seu nome que a dez
tribos de Israel seriam levadas para o cativeiro assírio: “farei cessar o reino da casa de Israel”.
(Oséias 1:4).
Somente para o reino da casa de Israel é que Deus faria “cessar todo o seu gozo, as suas
festas, as suas luas novas, e os seus sábados”. Estando na servidão do cativeiro assírio o povo
israelita não teria mais liberdade para deleitar-se em praticar as ordenanças cerimoniais
realizadas nas festas, luas novas e sábados, haja vista que estariam submetidos às leis
estrangeiras do país paras onde seriam exilados.
É claro que, para qualquer israelitas, estava implícito no texto sintético do profeta Oséias
a vinculação dos “holocaustos do Senhor, nos sábados, nas luas novas, e nas solenidades”. (I
Crônicas 23:31).
Posteriormente, o profeta Oséias foi levado a fazer a seguinte pergunta aos israelitas que
seriam levados para o cativeiro assírio:
– “Que fareis vós no dia da solenidade, e no dia da festa do Senhor?”. (Oséias 9:5).
A resposta subentendida para essa pergunta retórica é a seguinte: Coisa nenhuma!
Os israelitas não teriam mais como observar essas festas estando exilados no cativeiro
assírio, longe de sua terra natal, de suas leis e do santuário terrestre, onde se prestava o culto
divino de holocaustos.
Em síntese, o Senhor faria “cessar o reino da casa de Israel” (Oséias 1:4), como
conseqüência natural faria “cessar todo o seu gozo, as suas festas, as suas luas novas, e os seus
sábados, e todas as suas festividades”. (Oséias 2:11).
11.6 Paulo e Oséias
Os israelitas entendiam perfeitamente que Oséias estava se referindo ao fim dos
holocaustos de animais que eram realizados nos dias de festa, nas luas novas e nos sábados.
É evidente que Oséias não estava profetizando que o dia do sábado cessaria, do mesmo
modo como ele não estava profetizando que lua nova cessaria, haja vista que a lua nova continua
59 COLOSSENSES 2:16
Leandro Bertoldo
ocorrendo até aos dias de hoje. O que o Senhor faria cessar para os israelitas deportados para o
cativeiro assírio eram as ordenanças cerimoniais realizadas nos dias de festa, lua nova e aos
sábados. Tanto é verdade que, mesmo depois que os israelitas cessaram as suas atividades
cerimoniais, a nação vizinha conhecida como Judá continuou observando os referidos
cerimoniais nos dias de festas, nas luas novas e nos sábados.
Foi a partir do versículo do profeta Oséias que o apóstolo Paulo transcreveu a sua célebre
passagem bíblica de Colossenses 2:16. Enquanto Oséias fez uma aplicação local para os
israelitas do Antigo Testamento, o apóstolo Paulo fez uma aplicação Universal. Com a morte de
Cristo cessaria na cruz todos os cerimoniais de sacrifícios de animais realizados nos dias de
festa, na lua nova e nos sábados.
Dentro de outro contexto histórico e parafraseando a síntese feita por Oséias, o apóstolo
Paulo declarou: “Portanto ninguém vos julgue pelo comer, ou pelo beber ou por causa dos dias
de festa, ou da lua nova, ou dos sábados”. (Colossenses 2:16).
Do mesmo modo que, na síntese feita por Oséias, todos israelitas e judeus entendiam
claramente que ele estava referindo-se aos “holocaustos do Senhor, nos sábados, nas luas novas,
e nas solenidades” (I Crônicas 23:31), na paráfrase de Paulo também está implícita as mesmas
ordenanças de holocaustos de animais “dos dias de festa, ou da lua nova, ou dos sábados”.
As ordenanças dos holocaustos “dos dias de festa, ou da lua nova, ou dos sábados” eram
figuras de coisas celestiais; porém, as figuras desapareceram diante da realidade da morte do
“Cordeiro de Deus”, o qual definitivamente substituiu as figuras.
11.7 Idéia de Paulo
No presente capítulo ficou claramente demonstrado que as ordenanças cerimoniais que
estavam por traz dos “dias de festa, ou da lua nova, ou dos sábados” nada mais eram do que os
holocaustos de animais realizados nesses dias. Eram os famosos “holocaustos da manhã e da
tarde, nos sábados, e nas luas novas, e nas festividades do Senhor nosso Deus”. (II Crônicas
2:4). Esses holocaustos apontavam para o Cordeiro de Deus, e foram cravados na cruz. Eles são
as “sombras das coisas futuras”, porque prefiguravam o corpo (carne e sangue) de Cristo que
seria oferecido em holocausto para benefício de todos pecadores.
Destarte, Paulo está afirmando aos Colossenses que “ninguém vos julgue pelo comer, ou
pelo beber ou por causa [dos cerimoniais] dos dias de festa, ou da lua nova, ou dos sábados. Que
são sombras das coisas futuras, mas o corpo é de Cristo” (Colossenses 2:16-17).
Em outras palavras, o apóstolo Paulo está dizendo aos Colossenses o seguinte: “Portanto
ninguém vos julgue pelo comer, ou pelo beber ou por causa dos” ... “holocaustos do Senhor, nos
sábados, nas luas novas, e nas solenidades” (Colossenses 2:16-17; I Crônicas 23:31).
Por conseguinte, a expressão “sombras das coisas futuras”, não guarda nenhuma relação
com a santificação do sábado semanal, o qual foi dado na fundação do mundo, bem antes da
entrada do pecado. Porém, tem relação com o aspecto cerimonial dos “holocaustos” de animais
realizados no sábado semanal. Com a morte de Cristo, esses holocaustos foram definitivamente
riscados, tirados do meio de nós e cravados na cruz (Daniel 9:27; Marcos 15:38).
11.8 Sábado Moral
Os “sábados” mencionados em Colossenses 2:16 estão intimamente associados às
ordenanças dos dias de festas e de lua nova, que eram os feriados fixos das festividades
nacionais judaicas, ocasião em que eram realizadas várias ordenanças de holocaustos de
animais.
Na passagem de Paulo aos Colossenses não existe a menor indicação de que a
santificação do sábado semanal foi cravada na cruz, ou que a sua obrigação moral tenha sido
riscada na morte de Cristo. O que foi suplantado pelo cristianismo foram as suas obrigações
60 COLOSSENSES 2:16
Leandro Bertoldo
cerimoniais, relacionadas com as ordenanças dos holocaustos realizados nesse dia sagrado. A
obrigação moral do sábado semanal repousa em fundamento duradouro, tendo sido instituído na
primeira semana da criação do mundo e mantido como um perpétuo memorial da obra divina.
As Escrituras Sagradas demonstram claramente que após o Sinai e antes da cruz o
sábado era caracterizado por dois aspectos: um cerimonial e outro moral. Após a cruz restou
apenas o aspecto moral, o qual foi estabelecido antes da entrada do pecado no mundo. Porém, o
aspecto cerimonial do sábado foi estabelecido somente após o Sinai e consistia nas ordenanças
dos holocaustos de animais imolados nesse dia. Essas ordenanças apontavam para o “Cordeiro
de Deus, que tira o pecado do mundo”. Com a morte de Cristo, o procedimento cerimonial
realizado no sábado foi cravado na cruz, porém o procedimento moral – instituído na criação do
mundo – continua vigorando para sempre.
O celebre comentarista Strong declara o seguinte a respeito do santo sábado: “A
instituição do sábado antedata o Decálogo e forma uma parte da Lei Moral. Feito na criação, ele
se aplica ao homem em toda a parte e em época, em seu atual estado de criatura... Nem nosso
Senhor nem Seus apóstolos ab-rogaram o sábado do Decálogo. A nova dispensação anulou as
prescrições mosaicas relativas à maneira de guardar o sábado, mas continua reafirmando sua
observância como de origem divina necessária à natureza humana. Nem tudo na lei mosaica foi
abolido por Cristo... Cristo não cravou na cruz mandamentos do Decálogo”.
61 COLOSSENSES 2:16
Leandro Bertoldo
Capítulo 12 “que são sombras das coisas futuras”
“Portanto ninguém vos julgue pelo comer, ou pelo beber ou por causa dos dias de festa, ou da
lua nova, ou dos sábados, que são sombras das coisas futuras, mas o corpo é de Cristo”.
Colossenses 2:16-17
Na passagem bíblica em questão não existe a menor prova ou evidência de que Paulo
estivesse ensinando que o sábado semanal era as “sombras das coisas futuras”. Tampouco existe
qualquer razão plausível para crer que ele estivesse ensinando que qualquer um dos
mandamentos do Decálogo deixou de ser obrigatório para todos os cristãos.
A conexão “dos sábados” com o “comer”, “beber”, “dias de festas” e “lua nova”
mostram claramente que o apóstolo tinha em mente as ordenanças da Lei Cerimonial que eram
ministradas pelos sacerdotes levitas no santuário terrestre. Nenhum dos Dez Mandamentos
poderia ser referido como “sombras das coisas futuras”, simplesmente porque eles não são
ordenanças sacerdotais para ser realizado no santuário terrestre, mas todos eles são preceitos
morais que devem nortear o comportamento dos homens em todas as épocas e em todos os
lugares.
12.2 Contrastes entre sábados
A observância das ordenanças dos “holocaustos dos sábados” realizada pelos sacerdotes
levitas no santuário terrestre, bem como as ordenanças dos “sábados festivos” estavam incluídas
entre as Leis Cerimoniais, as quais são visivelmente “sombras das coisas futuras”, haja vista que
os holocaustos de animais apontavam unicamente para o sacrifício de Cristo Jesus.
Evidentemente, essas ordenanças prefiguravam coisas que naquela época ainda estavam no
futuro.
A observância moral do sábado semanal por todos os homens jamais constituiu em
“sombras de coisas futuras”, mas trata-se de um “memorial de coisas passadas”, que remete a
memória à criação do mundo. A observância moral do sábado semanal foi estabelecida antes da
entrada do pecado no mundo, quando ainda não havia nenhuma lei cerimonial. Eis o que diz a
Bíblia Sagrada: “Lembra-te do dia do sábado, para o santificar.... Porque em seis dias fez o
Senhor os céus e a terra, o mar e tudo que neles há, e ao sétimo dia descansou: portanto
abençoou o Senhor o dia do sábado, e o santificou”. (Êxodo 20:8 e 11).
“Os tipos e sombras do sistema sacrifical, com as profecias, deram aos israelitas uma
visão velada e indistinta da misericórdia e graça que seriam trazidos ao mundo pela revelação de
Cristo. A Moisés foi desdobrado o sentido dos tipos e sombras que apontavam a Cristo. Ele viu
o fim daquilo que era transitório, quando, por ocasião da morte de Cristo, o tipo encontrou o
antítipo. Viu ele que unicamente por Cristo pode o homem guardar a Lei Moral. Pela
transgressão dessa lei trouxe o homem o pecado ao mundo, e com o pecado veio a morte. Cristo
tornou-Se a propiciação do pecado do homem. Ele ofereceu Sua perfeição de caráter em lugar
da pecaminosidade do homem. Tomou sobre Si a maldição da desobediência. Os sacrifícios e
ofertas apontavam ao futuro, ao sacrifício que Ele faria. O cordeiro morto tipificava o Cordeiro
que tiraria o pecado do mundo”. (I Mensagens Escolhidas, 237).
62 COLOSSENSES 2:16
Leandro Bertoldo
12.3 Conceito de sombra
As ordenanças praticadas no comer, beber, dias de festa, lua nova e sábados são
prefigurações do sacrifício do “Cordeiro de Deus”, e estão averbadas no conceito paulino de
“sombras das coisas futuras”. Tinham a função primordial de apontar para a eficácia absoluta do
holocausto do corpo de Cristo.
Tecnicamente, a sombra nada mais é do que a interceptação da luz por um corpo opaco.
Uma sombra somente apresenta os contornos aparentes dos anteparos. Ela é intangível, sem
volume ou solidez. Não projeta a imagem nítida das coisas, mas apenas mostra um perfil sem
maiores detalhes ou cores. A sombra não existe por si mesma. Como foi dito, ela é o resultado
da obstrução do percurso da luz. Apesar de todas essas limitações, a sombra é uma evidência
inquestionável da existência da realidade do objeto opaco que projeta sua sombra.
Evidentemente, se existe uma sombra é porque existe uma realidade muito mais rica em
detalhes.
12.4 Sombras das coisas futuras
É inegável que comer, beber, dias de festa, lua nova e sábados são componentes
vinculadas às ordenanças dos holocaustos de animais – portanto compreendem somente, e tão-
somente, os preceitos da Lei Cerimonial. Eis o que diz a Bíblia Sagrada:
“Portanto ninguém vos julgue pelo comer, ou pelo beber ou por causa dos dias de festa,
ou da lua nova, ou dos sábados. Que são sombras das coisas futuras, mas o corpo é de Cristo”.
(Colossenses 2:16-17).
Entre as pergunta mais comuns que algumas pessoas costumam fazer sobre esse
versículo, estão as seguintes:
– O que o apóstolo Paulo queria dizer com a expressão “sombras das coisas futuras”?
– Que coisas abrangem o conceito expresso pela declaração “sombras das coisas
futuras”?
– Em que contexto o apóstolo Paulo empregou a frase “sobras das coisas futuras”?
Como a Bíblia Sagrada não contém contradições, torna-se claro que o apóstolo Paulo não
estava fazendo referencia a uma suposta abolição do sábado semanal, uma vez que ele mesmo
andava guardando o sábado entre os judeus e até mesmo entre os gentios (Atos 13:42 e 44;
16:13). Paulo também não estava aludindo a uma suposta abolição da Lei Moral, haja vista que
veementemente ele advogava a sua observância entre os cristãos (Romanos 7:7, 12, 14, 16, 22,
25; 8:7-8).
Também é digno de nota lembrar que em nenhum momento as Escrituras Sagradas
consideram os “Dez Mandamentos” ou o “sábado semanal” como “ordenanças” ou “sombras
das coisas futuras”. Portanto, mais uma fez fica esclarecido que Paulo está fazendo referência às
Leis Cerimoniais do sacerdócio levítico, as quais de fato eram sombras prefigurativas que
apontavam para a futura obra redentora do corpo de Cristo, o “cordeiro de Deus, que tira o
pecado do mundo”. (João 1:29).
12.5 Prefiguração do Cordeiro de Deus
Para compreendermos melhor do significado da frase “sombra das coisas futuras”,
torna-se necessário investigar nos demais escritos do apóstolo Paulo, qual era a sua
compreensão a respeito da expressão por ele cunhada. Especialmente porque ele mesmo
empregou tal expressão e outras equivalentes em diversas passagens registradas no Novo
Testamento. Eis o que diz a Bíblia Sagrada:
63 COLOSSENSES 2:16
Leandro Bertoldo
“Os quais servem de exemplar e sombra das coisas celestiais, como Moisés divinamente
foi avisado, estando já para acabar o tabernáculo; porque foi dito: Olha, faze tudo conforme o
modelo que no monte se te mostrou”. (Hebreus 10:1).
“Porque, tendo a lei a sombra dos bens futuros, e não a imagem exata das coisas,
nunca, pelos mesmos sacrifícios que continuamente se oferecem cada ano, pode aperfeiçoar os
que a eles se chegam”. (Hebreus 10:1).
As frases: “sombra das coisas celestiais” ou “sombra dos bens futuros” são expressões
equivalentes à frase registrada por Paulo em sua carta aos Colossenses: “sombras das coisas
futuras”. É inegável a semelhante entre as três expressões,. O significado e conteúdo de todas
delas são os mesmos.
Diante dos textos apresentados pode-se facilmente constatar que a expressão “sombras
das coisas futuras” está vinculada, com exclusividade absoluta, com a idéia de “exemplar”,
“imagem”, “coisas celestiais”, “bens futuros”, “tabernáculo”, “modelo”, “sacrifícios”, que são
ordenanças cerimoniais típicas do sacerdócio levítico.
A declaração “sombras das coisas futuras” nada mais é do que uma referência das
“figuras das coisas que estão no céu” (Hebreus 9:23), tratando-se verdadeiramente de “uma
alegoria para o tempo presente” (Hebreus 9:9).
Sob a ótica das Escrituras Sagradas, a frase “sombras das coisas futuras” está
relacionada com as ordenanças do sacerdócio levítico com suas Leis Cerimoniais de expiação de
pecados pelo sacrifício de animais realizados no tabernáculo terrestre. Elas sim, eram “sombra
das coisas celestiais”, que prefiguravam o corpo de Cristo, que no futuro seria dilacerado na
cruz pelos pecados da humanidade.
Segundo a apresentação realizada pelo próprio apóstolo Paulo, as “sombras de coisas
futuras” consistiam “somente em manjares, e bebidas, e várias abluções e justificações da
carne, impostas até ao tempo da correção” (Hebreus 9:10). Portanto, está claro, claríssimo que
Paulo tem em mente, as ordenanças dos holocaustos de animais, que eram realizadas no “culto
divino” do “tabernáculo terrestre”, quando ele fala em “comer”, “beber”, “dias de festa”, “lua
nova” ou “sábados”, posto que somente as atividades cerimoniais realizadas nesses dias
constituíam “sombra das coisas celestiais” ou “sombra dos bens futuros”. (Hebreus 8:5; 10:1).
12.6 Expressões equivalentes às sombras
Como foi visto, a expressão “sombras das coisas futuras” está totalmente vinculadas às
ordenanças cerimoniais do sacerdócio levítico com suas variadas leis cerimoniais. Essa
declaração de Paulo indica a prefiguração de fatos que ainda estavam no porvir, os quais foram
em parte consumados na cruz.
Paulo emprega em seus escritos muitas outras expressões que são variações semelhantes
à expressão “sombras das coisas futuras”, as quais expressam a mesma idéia e pensamento. Eis
algumas delas:
1ª. As ordenanças cerimoniais realizadas pelos sacerdotes levitas no santuário terrestre,
representavam as “sombras das coisas futuras”, as quais prefiguravam o sacerdócio de Cristo,
“o sumo sacerdote dos bens futuros”. Eis o que diz a Bíblia Sagrada: “Consistindo somente em
manjares, e bebidas, e várias abluções e justificações da carne, impostas até ao tempo da
correção. Mas, vindo Cristo, o sumo sacerdote dos bens futuros, por um maior e mais perfeito
tabernáculo, não feito por mãos, isto é, não desta criação”. (Hebreus 9:10-11).
2ª. Os elementos dos rituais realizados no santuário terrestres eram “sombras das coisas
futuras” porque não passavam de simples “figuras das coisas que estão no céu”. Eis o que diz a
Bíblia Sagrada: “De sorte que era bem necessário que as figuras das coisas que estão no céu
assim se purificassem; mas as próprias coisas celestiais com sacrifícios melhores do que estes.
64 COLOSSENSES 2:16
Leandro Bertoldo
Porque Cristo não entrou num santuário feito por mãos, figura do verdadeiro, porém no mesmo
céu, para agora comparecer por nós perante a face de Deus”. (Hebreus 9:23-24).
3ª. Os cerimoniais realizados no santuário terrestres (tabernáculo) eram “sombras das
coisas futuras” porque não passavam de uma simples “alegoria para o tempo presente”. Eis o
que diz a Bíblia Sagrada: “Dando nisto a entender o Espírito Santo que ainda o caminho do
santuário não estava descoberto enquanto se conservava em pé o primeiro tabernáculo. Que é
uma alegoria para o tempo presente, em que se oferecem dons e sacrifícios que, quanto à
consciência, não podem aperfeiçoar aquele que faz o serviço”. (Hebreus 9:8-9).
A passagem bíblica “sombra das coisas celestiais” (Hebreus 8:5) está mais
precisamente relacionada com a expressão “figuras das coisas que estão no céu” (Hebreus
9:23). Enquanto que a expressão “sombra dos bens futuros” (Hebreus 10:1) está mais
diretamente vinculada à expressão “sumo sacerdote dos bens futuros” (Hebreus 9:11).
O interessante em todas essas passagens bíblicas equivalentes às “sombras das coisas
futuras” é que todas elas, sem nenhuma exceção, fazem referência explicita às ordenanças
cerimoniais do sacerdócio levítico no santuário terrestre. Nenhuma dessas passagens faz menção
a qualquer um dos mandamentos do Decálogo, cujo conteúdo é estritamente moral.
12.7 O sábado e a sombra
O apóstolo Paulo, em Colossenses 2:16-17, não está falando da abolição da observância
moral do sábado semanal, mas está falando da abolição cerimonial dos holocaustos de animais
realizados nos “dias de festa”, ou da “lua nova”, ou nos “sábados”, que realmente eram as
ordenanças que constituíam “sombras das coisas futuras”. Observe as seguintes razões:
1ª. Paulo não está considerando a suposta abolição da observância moral do sábado
semanal porque ele mesmo guardava o sábado junto com seus conterrâneos judeus (Atos 17:2) e
até mesmo entre os gentios (Atos 13:42 e 44; 16:13). Além disso, todos os cristãos judeus
cultuavam no templo sagrado (Lucas 24:56), então não é nada de mais Paulo cultuar nas
sinagogas junto com seus compatriotas;
2ª. Paulo não está abordando a suposta abolição da observância do sábado semanal
porque ele fez questão de averbar “os dias de festa”, “lua nova” e “sábados” no conceito de
“sombras das coisas futuras”. Fez isso para deixar bem claro que estava se referindo às
ordenanças da Lei Cerimonial. Sobretudo porque no livro de Hebreus ele explicou que as
“sombras das coisas futuras” estão vinculadas às ordenanças de expiação dos pecados por meio
do holocausto de animais ministrado pelo sacerdócio levítico no santuário terrestre;
3ª. Paulo não está tratando de uma suposta abolição da santificação do sábado semanal
porque, além de existir três espécies distintas de sábados, o sábado semanal não se encaixa na
definição bíblica de “sombra das coisas celestiais” ou “sombra dos bens futuros” apresentadas
em sua carta endereçada aos Hebreus;
4ª. Paulo não está abordando a abolição da observância do sábado semanal,
simplesmente porque o sábado semanal jamais foi arrolado tanto no Antigo como no Novo
Testamento entre as coisas consideradas como “ordenanças”;
5ª. Paulo não está considerando a abolição da santificação do sábado semanal,
simplesmente porque o sábado semanal não faz parte da Lei Cerimonial, mas sim dos Dez
Mandamentos, que é uma Lei Moral;
6ª. Paulo não está considerando a abolição da observância do sábado semanal porque o
sábado do sétimo dia foi dado na primeira semana da criação do mundo, antes mesmo da entrada
do pecado ou da existência de qualquer judeu sobre a face da Terra, portanto não é uma
ordenança que visava à expiação de pecados pelo sangue de animais;
7ª. Paulo não está discorrendo sobre a abolição da suposta observância do sábado
semanal, mas está tratando de comidas e bebidas, atividades típicas das ordenanças do culto
divino dos holocaustos realizados nos dias de festa, lua nova e nos sábados. Segundo Paulo,
tudo isso “é uma alegoria para o tempo presente, em que se oferecem dons e sacrifícios que,
65 COLOSSENSES 2:16
Leandro Bertoldo
quanto à consciência, não podem aperfeiçoar aquele que faz o serviço. Consistindo somente em
manjares, e bebidas, e várias abluções e justificações da carne, impostas até ao tempo da
correção” (Hebreus 9:9-10);
8ª. O apóstolo Paulo não está abordando a suposta abolição da santificação do sábado
semanal porque o Decálogo, do qual o sábado faz parte, não possui a função ou a propriedade de
expiar o pecado de ninguém (Gálatas 3:21: 2:21), mas apenas fornece o conhecimento do
pecado (Romanos 3:20; 7:7). Porém, os holocaustos de animais expiavam os pecados e
apontavam para o futuro sacrifício expiatório do corpo de Cristo. Foi por essa razão que João
Batista declarou: “Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo” (João 1:29).
9ª. O apóstolo Paulo não esta considerando a suposta abolição do sábado semanal porque
o sábado celebra dois eventos: a criação do mundo (Gênesis 2:2-3 e Êxodo 20:8-11) e a
consumação da redenção (Lucas 23:54-56 e 24:1).
Como foi dito, o sábado semanal não é considerado pelas Escrituras Sagradas como
“sombras das coisas futuras”, simplesmente porque esse dia foi estabelecido pelo Senhor Deus
como um memorial da criação do mundo. Portanto, o sábado semanal é um “memorial de coisas
passadas” e não “sombra de coisas futuras”.
O sábado é o dia em que a humanidade é chamada a lembrar da obra da criação e adorar
o criador do Universo. Observe o que diz a Bíblia Sagrada: “Lembra-te do dia do sábado, para o
santificar... Porque em seis dias fez o Senhor os céus e a terra, o mar e tudo que neles há, e ao
sétimo dia descansou: portanto abençoou o Senhor o dia do sábado, e o santificou” (Êxodo 20:8
e 11).
66 COLOSSENSES 2:16
Leandro Bertoldo
Capítulo 13 “mas o corpo é de Cristo”
“Portanto ninguém vos julgue pelo comer, ou pelo beber ou por causa dos dias de festa, ou da
lua nova, ou dos sábados, que são sombras das coisas futuras, mas o corpo é de Cristo”.
Colossenses 2:16-17
Paulo esclareceu aos cristãos de Colossos que as ordenanças cerimoniais relacionadas
“pelo comer, ou pelo beber, ou por causa dos dias de festa, ou da lua nova, ou dos sábados”, as
quais prefiguravam a futura vinda do Cordeiro de Deus, foram riscadas e cravadas na cruz. Com
isso cessaram definitivamente os tipos e as sombras que apontavam para o Seu corpo, porque
“em Sua morte a lei típica encontrou-se com o antítipo”. (História da Redenção, 273).
Na Bíblia Sagrada muitas vezes a expressão “carne” é empregada como sinônimo de
“corpo”. Eis o que diz as Escrituras Sagradas: “Eu sou o pão vivo que desceu do céu; se alguém
comer deste pão, viverá para sempre; e o pão que eu der é a minha carne, que eu darei pela vida
do mundo”. (João 6:51). “E sem dúvida alguma grande é o mistério da piedade: Aquele que se
manifestou em carne, foi justificado em espírito, visto dos anjos, pregado aos gentios, crido no
mundo, e recebido acima na glória”. (I Timóteo 3:16). “E, visto como os filhos participam da
carne e do sangue, também ele participou das mesmas coisas, para que pela morte aniquilasse o
que tinha o império da morte, isto é, o diabo” (Hebreus 2:14). “Porquanto o que era impossível à
lei, visto como estava enferma pela carne, Deus, enviando o seu Filho em semelhança da carne
do pecado, pelo pecado condenou o pecado na carne”. (Romanos 8:3). “O qual, nos dias da sua
carne, oferecendo, com grande clamor e lágrimas, orações e súplicas ao que o podia livrar da
morte, foi ouvido quanto ao que temia”. (Hebreus 5:7).
13.2 Efeitos da morte de Cristo
“Na sua carne desfez a inimizade, isto é, a lei dos mandamentos, que consistia em
ordenanças”. (Efésios 2:15), “que são sombras das coisas futuras, mas o corpo é de Cristo”.
(Colossenses 2:17).
“Cristo morreu por nossos pecados, segundo as Escrituras”. (I Coríntios 15:3). “Levando
ele mesmo em seu corpo os nossos pecados sobre o madeiro”. (I Pedro 2:24). “Eis o Cordeiro de
Deus, que tira o pecado do mundo”. (João 1:29). “Porque também Cristo padeceu uma vez pelos
pecados, o justo pelos injustos, para levar-nos a Deus; mortificado, na verdade, na carne, mas
vivificado pelo Espírito”. (I Pedro 3:18). “Ora, pois, já que Cristo padeceu por nós na carne,
armai-vos também vós com este pensamento, que aquele que padeceu na carne já cessou do
pecado”. (I Pedro 4:1). “No corpo da sua carne, pela morte, para perante ele vos apresentar
santos, e irrepreensíveis, e inculpáveis”. (Colossenses 1:22).
Os corpos dos animais oferecido em holocausto para remissão dos pecados eram
sombras típicas das coisas futuras, que apontavam para o corpo de Cristo. “Porque os corpos dos
animais, cujo sangue é, pelo pecado, trazido pelo sumo sacerdote para o santuário, são
queimados fora do arraial. E por isso também Jesus, para santificar o povo pelo seu próprio
sangue, padeceu fora da porta”. (Hebreus 13:11-12). “Nem por sangue de bodes e bezerros, mas
por seu próprio sangue, entrou uma vez no santuário, havendo efetuado uma eterna redenção”.
(Hebreus 9:12). “Tendo pois, irmãos, ousadia para entrar no santuário, pelo sangue de Jesus.
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Pelo novo e vivo caminho que ele nos consagrou, pelo véu, isto é, pela sua carne” (Hebreus
10:19-20).
Por meio do Seu corpo “temos a redenção pelo seu sangue, a saber, a remissão dos
pecados”. (Colossenses 1:14). Com a morte de Cristo foi definitivamente consolidado o Novo
Concerto para remissão dos pecados: “Jesus tomou o pão, benzeu-o, partiu-o e o deu aos
discípulos, dizendo: Tomai e comei, isto é meu corpo. E, tomando o cálice, e dando graças, deu-
lho, dizendo: Bebei dele todos. Porque isto é o meu sangue, o sangue do Novo Testamento, que
é derramado por muitos, para remissão dos pecados”. (Mateus 26:26-28).
13.3 Algumas considerações
Quando compreenderam o profundo significado do evangelho de Cristo, muitos judeus
converteram-se ao cristianismo e abandonaram a prática dos holocaustos de animais, das ofertas
de manjares, da circuncisão, das comidas e bebidas que eram praticados desde os tempos antigos
pelo povo judeu, e que apontavam para o corpo do Messias.
Apesar da eficácia de todos esses cerimoniais religiosos ter sido definitivamente cessada
com a cruz, a verdade é que havia alguns poucos cristãos provenientes da seita dos fariseus,
chamados judaizantes, que continuaram praticando algumas dessas ordenanças, e queiram impor
aos cristãos gentios a mesma coisa. Eis o que eles pregavam: “se vos não circuncidardes,
conforme o uso de Moisés, não podeis salvar-vos” (Atos 15:1).
Por essa razão o apostolo Paulo foi levado a declarar firmemente aos cristãos gentios de
Colossos a seguinte decisão: “ninguém vos julgue pelo comer, ou pelo beber ou por causa dos
dias de festa, ou da lua nova, ou dos sábados. Que são sombras das coisas futuras, mas o corpo é
de Cristo” (Colossenses 2:16-17). Que fique bem claro, o que foi abolido na cruz pelo corpo de
Cristo foram as ordenanças com os seus múltiplos cerimoniais de holocausto de animais, com
comidas e bebidas, que eram realizados nos dias de festa, lua nova, ou nos sábados.
Mesmo que Paulo estivesse se referindo ao sábado semanal, ainda assim o que foi
abolido na cruz foram os aspectos cerimoniais das ordenanças do antigo culto divino ministrado
pelos sacerdotes levitas referentes aos holocaustos de animais realizado nesse santo dia
(Números 28:9-10) e não a abolição do aspecto moral do sábado semanal, posto que foi
consagrado por Deus na primeira semana da criação, antes mesmo da entrada do pecado no
mundo, ou da instituição de qualquer Lei Cerimonial, ou da existência de qualquer judeu sobre a
face da Terra e que, mesmo após a cruz, foi observado pelos santos discípulos e apóstolos do
Senhor Jesus Cristo.
É evidente que, caso o homem jamais houvesse desobedecido a Deus, comendo do fruto
da árvore da ciência do bem e do mal, o pecado nunca teria entrado no mundo e a humanidade
jamais teria se desviado da verdade divina e estaria guardando o sábado até aos dias de hoje, e
isto desde o princípio do mundo.
13.4 Lei Moral
Paulo declara enfaticamente que a Lei Moral é santa, justa, boa, espiritual e prazerosa
(Romanos 7:12, 14 e 22). De maneira alguma a Lei Moral deve ser confundida com a Lei
Cerimonial, que era uma sombra que prefigurava do corpo de Cristo. “O cerimonial era
constituído de símbolos que apontavam para Cristo, para o Seu sacrifício e sacerdócio. A lei
ritual, com seus sacrifícios e ordenanças, devia ser cumprida pelos hebreus até que o tipo
encontrasse o antítipo, na morte de Cristo, o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo.
Então cessariam todas as ofertas sacrificais. Foi esta a lei que Cristo ‘tirou do meio de nós,
cravando-a na cruz’. Colossenses 2:14”. (Patriarca e Profetas, 365). As comidas, bebidas e os
holocaustos dos dias de festa, lua nova ou sábados nada tem a ver com a observância moral dos
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Dez Mandamentos, mas refere-se às ordenanças cerimoniais constituídas pelas “sombras de
coisas futuras” – como o próprio texto esclarece.
Nunca se deve esquecer o fato bíblico de que o sábado semanal foi abençoado e
santificado (separado para propósito sagrado) na criação do mundo, bem antes da entrada do
pecado, para ser observado por toda a humanidade (Gênesis 2:2-3). Jesus e os apóstolos
guardaram o sábado, dando exemplo para outros fazerem o mesmo. Portanto, a santificação do
sábado semanal jamais foi “sombra de coisas futuras”, sobretudo porque esse dia santo não é
uma ordenança cerimonial que aponta para o corpo de Cristo. Mas, eram as ordenanças
cerimoniais, com seus holocaustos de cordeiros, os rituais que apontavam para o corpo
“Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo” (João 1:29), em Seu sacrifício expiatório
realizado na cruz do Calvário por toda a humanidade.
13.5 Sábado semanal
O sábado semanal não aponta para o corpo de Cristo, mas aponta para a obra da criação
do mundo. Portanto, O sábado aponta para o passado – a criação – e não para o futuro sacrifício
do corpo de Cristo.
Nunca é demais reafirmar a grande verdade bíblica de que o contexto de Colossenses
2:16-17 trata exclusivamente das práticas religiosas relacionadas com “comer”, “beber”, “dias
de festa”, “lua nova” e “sábados”, e que foram taxadas por Paulo como ordenanças, as quais
estavam ligadas aos cerimoniais de manjares, libações e holocaustos de animais do antigo do
culto divino ministrado pelos sacerdotes levitas junto ao santuário terrestre. Diante do exposto
torna-se claro que o apóstolo Paulo está considerando tão-somente as ordenanças realizadas nos
“dias de festa”, “lua nova” e nos “sábados”.
Evidentemente o apóstolo Paulo não está considerando a observância do aspecto moral
do sábado semanal, que era observado por todos verdadeiros adoradores desde o princípio do
mundo. Primeiro porque o apóstolo Paulo ensinou por preceito e exemplo a observância do
sábado semanal. Segundo, caso Paulo estivesse se referindo à abolição da santificação do sábado
semanal, então os seus escritos e outras partes do Novo Testamento estariam em contradição.
Porém, sabemos muito bem, que as Escrituras Sagradas não contêm contradições de nenhuma
natureza. As contradições encontram-se nas interpretações que os homens apresentam para
justificar as suas teorias.
O Novo Testamento mostra que apóstolo Paulo andou observando o “santo sábado do
Senhor” tanto entre os judeus como entre os gentios (Atos 13:14-15; 13:42 e 44; 16:13). Além
disso, ele ordenou a Igreja a seguir o seu próprio exemplo: “Sede também meus imitadores,
irmãos, e tende cuidado, segundo o exemplo que tendes em nós, pelos que assim andam”... “O
que também aprendestes, e recebestes, e ouvistes, e vistes em mim, isso fazei; e o Deus de paz
será convosco” (Filipenses 3:17; 4:9). Ora, é claro que quem anda guardando o sábado, dá
exemplo para outros guardarem o sábado. Portanto, o sábado do sétimo dia da semana deve ser
observado nos dias de hoje por todos os homens, tanto quanto era observado pelos antigos
habitantes do mundo e pelos primeiros cristãos.
13.6 Holocaustos dos sábados
O sábado foi e continua sendo um dia sagrado por vários motivos. Primeiro, foi
estabelecido antes da entrada do pecado como um dia de descanso para toda humanidade.
Segundo, foi estabelecido na fundação do mundo para servir como um memorial da criação
(Gênesis 2:1-3). Terceiro, a observância moral do sábado semanal foi ratificada no Monte Sinai
e incrustado entre dos Dez Mandamentos (Êxodo 20:8-11). Quarto, somente depois da entrada
do pecado é que foram instituídas as ordenanças cerimoniais – os holocaustos – como forma de
“culto divino”. Quinto, os “holocaustos do sábado” foram instituídos no Monte Sinai.
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Lembrando que esses holocaustos não foram estabelecidos antes da entrada do pecado, mas
somente depois e, mesmo assim, por causa do pecado.
Todas as ordenanças cerimoniais, inclusive os holocaustos dos sábados eram uma
solução provisória para o problema do pecado, pois como sombras, tipificavam o corpo de
Cristo. “Incomensurável amor foi demonstrado quando Alguém igual ao Pai veio pagar o preço
pela alma humana, e trazer-lhe a vida eterna”. (Conselhos Sobre Mordomia, 226).
O repouso do sétimo dia foi criado pelo Senhor Deus antes da entrada do pecado, mais
precisamente na criação do mundo, razão pela qual permanecerá para sempre. Foi estabelecido
na semana da criação porque era indispensável ao homem em seu estado original de pureza e
santidade. É claro que, se era necessário antes do pecado, também continuará sendo necessário
após o término do pecado, pois o homem estará tão-somente retornando à sua situação original
de perfeição que tinha no Éden.
Nada do que o Senhor Deus criou antes da entrada do pecado no mundo poderia ser
abolido pela cruz porque o “Filho de Deus se manifestou: para desfazer as obras do diabo.” (I
João 3:8). A crucifixão do corpo de Cristo no madeiro tinha por objetivo resolver os problemas
causados pelo pecado e não desfazer a obra da criação.
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Bibliografia
Aulete, Caldas. Minidicionário contemporâneo da língua portuguesa/Caldas Aulete [atualização
do Banco de Palavras, Conselho dos Dicionários Caldas Aulete, editor responsável Paulo
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Bertoldo, Leandro. O Sábado à Luz da Bíblia. 1ª edição. Rio de Janeiro, RJ: Litteris Editora,
2010.
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