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Vânia M. Lino, Wesley Campos G. Soares (Org.)
Alunos da 1ª Etapa da Educação de Jovens e
Adultos - EJA
“E quando a solidão
bate à porta?”
3º edição
2013
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Vânia M. Lino, Wesley Campos G. Soares (Org.)
Alunos da 1ª Etapa da Educação de Jovens e
Adultos - EJA
“E quando a solidão
bate à porta?”
3º edição
2013
3
Governador do Estado de Goiás
Marconi Ferreira Perillo Júnior
Secretário de Estado da Educação
Thiago Mello Peixoto da Silveira
Subsecretária Regional da Educação de Uruaçu
Dania Solange Wobeto de Freitas
Tutora Pedagógica
Gilda de Fátima Mizael Lopes
Colégio Estadual Professor Joaquim Francisco Santiago
Diretora
Simone Pires Gomes
Vice-Diretora
Maria das Dores de Oliveira Gonçalves
Secretária Geral
Alcimária Antunes Borges Martins
Centro de Inserção Social de Niquelândia
Diretor
Gecélio Ferreira de Almeida
Sala de Aula Professora Querobina Daniel da Silva
Extensão do Colégio Estadual Professor Joaquim Francisco Santiago
Coordenadora Pedagógica
Lucilene Barbosa Fiúza
Edição de texto:
Vânia Moreira Lino / Wesley Campos G. Soares
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Edição de arte:
Vânia Moreira Lino / Wesley Campos G. Soares
Ilustração da capa:
Vânia Moreira Lino
Revisão:
Vânia Lino e Wesley Campos
Impressão:
Vânia Lino e Wesley Campos
Autores
Altiely Rodrigues da Silva
Célio Ferreira Franco
Deigivânio Barbosa de Barros
Dilvange Perira de Brito
Edivaldo Madureira Taveira
Eliel França dos Reis
João Batista Xavier Filho
Luciano Vicentin dos Santos
Odair Domingos da Silva
Oscalino Reges Rodrigues
Osvaldo Chaves Monteiro
Samuel Francisco da Silva
Suelber Sidney Belos de Lemos
Valdivino Rosa de Souza
Wedson Tiburcio dos Santos
Welliton Francisco da Silva
5
SOBRE OS AUTORES
Os alunos referidos nessa obra não são exatamente iguais aos
demais, pois possuem uma experiência de vida diferente. São pessoas
que erraram e que desejam cumprir suas penas para se libertar do jugo
que se transformou suas vidas. São pessoas que constroem e
reconstroem suas histórias a partir do muito pouco oferecido na triste
realidade de um presídio.
No cotidiano das suas atividades procuram dar o melhor de si,
para quem sabe o dia passar mais rápido, ou para tentar extrair desse
ambiente tão triste, um pouco de alento para suas almas.
São pessoas que apesar de não possuírem muitas alegrias e
expectativas, não desistem, buscam incansavelmente a liberdade e a
dignidade como cidadãos. Enfim, são seres humanos comuns que
almejam uma vida melhor, de recomeço, tropeços, e quem sabe erros,
mas, sobretudo, uma vida intensa, verdadeira e digna, para então
poderem ser verdadeiramente denominados cidadãos.
Wesley Campos Gomes Soares
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AGRADECIMENTOS
À Deus por nos permitir vislumbrar horizontes outrora
desconhecidos.
À Equipe Gestora do Colégio Estadual Professor Joaquim
Francisco Santiago pelo apoio e credibilidade dispensados a nós,
durante o trabalho.
Aos professores pelo apoio e dedicação.
Ao Gecélio Ferreira de Almeida, diretor da Agência Prisional,
pela contribuição e empenho na realização desse projeto.
Ao apoio da Professora Daiane Narciso Dias Lima, que
assumiu a sala, dando continuidade ao trabalho iniciado pela
professora Coraci Gonçalves da Silva.
7
EPÍGRAFE
“Sigamos em frente, desviando-nos
quando for necessário desviar, curvando-
nos quando for necessário curvar. Ora
seguindo por caminhos floridos, ora
enfrentando corredeiras. Em todos os
momentos, viver a VIDA, que avança cada
vez mais bela e majestosa!”
Anônimo
8
SUMÁRIO
Apresentação................................................................................ 10
Introdução..................................................................................... 19
O Passado de Um Presente Desumanizador................................. 21
O Recomeço................................................................................. 29
Para Início de Conversa............................................................... 30
Desalento...................................................................................... 31
Uma Pequena Luz no Fim do Túnel............................................. 33
Um Sono Profundo....................................................................... 34
Malandro....................................................................................... 35
Cadeia: O Cômodo do Inferno..................................................... 36
Deus: Nosso Verdadeiro Amigo................................................... 39
A Liberdade.................................................................................. 40
Jogo de Dama............................................................................... 43
Lixo Humano................................................................................ 44
Dia de Visita................................................................................. 47
A Minha Vida na Prisão............................................................... 48
Ilusão do Crime............................................................................ 49
O Valor da Liberdade................................................................... 52
Drogas Matam.............................................................................. 53
O Amor: Espada Invisível............................................................ 55
9
Código Penal................................................................................ 56
A Injustiça Social.......................................................................... 58
Gírias de Prisioneiro.................................................................... 60
Vida na Roça................................................................................ 62
A Vida de Um Filho Desobediente.............................................. 65
Modos de Respeito....................................................................... 68
Minha História............................................................................. 70
Obrigado Senhor Por Este Dia a Dia............................................ 73
A Política...................................................................................... 75
Versos da Pinga............................................................................ 76
A Minha Vida............................................................................... 79
O desencontro/ encontro da vida ...............................................80
Sonho Inesperado.......................................................................82
A Boa Convivência do Ser Humano.........................................84
A Vida de Um Detento...............................................................85
Lembranças................................................................................86
Avião..........................................................................................88
Um Novo Senhor........................................................................89
Referências Bibliográficas ........................................................90
10
APRESENTAÇÃO
Quando a Subsecretaria Regional de Uruaçu propôs à nossa
equipe gestora do Colégio Estadual Professor Joaquim Francisco
Santiago, composta por Simone Pires Gomes, Maria das Dores de
Oliveira Gonçalves e Shirley Glória Reis, respectivamente, Diretora,
Vice–Diretora e Secretária Geral, para que assumíssemos as três
extensões que funcionam na Escola Municipal Padre Valentin
Rodrigues (Jardim Atlântico), Escola Municipal São Jorge (Povoado
do Machadinho) e Unidade Prisional (Bairro Santa Efigênia), a partir
de agosto de 2010, senti-me bastante apreensiva, sobretudo em relação
à última, pois seria uma clientela muito diferente da qual estava
acostumada a trabalhar nas escolas públicas estadual e municipal de
ensino, ao longo dos vinte anos da minha carreira profissional como
educadora.
Ao visitar pela primeira vez a Unidade Prisional, para conhecer
os alunos, e a estrutura física da sala, a princípio foi uma situação
angustiante e desafiadora, porém o diretor do Presídio à época Senhor
Genair da Abadia Souza Vieira, foi muito receptivo e atencioso
conosco, explicando-nos o funcionamento e normas da Unidade
Prisional, sempre dando-nos o suporte necessário. Adentraram à sala
de aula naquele dia, o coordenador pedagógico Wesley Campos
Gomes Soares, as professoras, na época, Maria Abadia Aparecida e
Maria Abadia Honório da Silva, os alunos reeducando e eu, ficando
11
registrada em minha memória a conversa que tivemos, mantendo um
diálogo aberto, esclarecedor e respeitoso, com o intuito de nos
familiarizarmos, pois a partir daquele momento iríamos trabalhar em
sintonia para que as atividades pudessem acontecer de forma
planejada.
Hoje, tenho uma visão diferente da inicial, encaro as
adversidades com mais confiança, sempre acreditando que qualquer
situação, por mais dolorosa que seja, não é instransponível, a luz
sempre aparece após um dia nebuloso.
Os alunos que estudam ali merecem todo o nosso carinho e
atenção, independente da falta ou crime que cometeram. Não estou
justificando tais atos ou concordando com os mesmos, apenas, não me
considero no direito de julgá-los e condená-los. Essa tarefa, cabe à
Deus e às autoridades judiciárias legalmente constituídas para isso.
Em nossa escola, procuramos trabalhar a Inclusão em seus
diversos aspectos: físicos, psicológicos, comportamentais, sociais,
etc., buscando mecanismos para que todos os alunos possam
apropriar-se do conhecimento formal, dentro de suas possibilidades e
capacidades cognitivas, independente da faixa etária, série ou
modalidade de ensino, tendo direito a uma educação emancipadora,
onde os resultados qualitativos sejam superiores aos quantitativos,
proporcionando uma educação integral. Se a escola, não tem essa
missão ou filosofia no processo de produzir conhecimento, entendo
que é uma instituição ineficiente, não isentando a família e as outras
instituições constituídas (públicas, privadas, igrejas, associações,
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sindicatos, etc.) dessa responsabilidade, pois cada uma, de acordo com
as suas atribuições e competências, devem lutar incansavelmente por
uma sociedade mais justa, democrática e ética, num regime de
colaboração mútuo.
Esse livro foi idealizado pela professora Maristela Aidar,
diretora do Colégio Estadual Coronel Joaquim Taveira, pois as
extensões, na época pertenciam ao referido colégio. A diretora nos
informou sobre o seu desejo de ver essa obra concluída, fato que nos
impulsionou a dar seqüência ao trabalho e agora celebrarmos essa
grande conquista.
Ressalto ainda o grande empenho que os meus colegas
Coordenadores Vânia Moreira Lino e Wesley Campos Gomes Soares
tiveram na elaboração desse livro, orientando e recolhendo os textos
produzidos pelos alunos. Muitos desses, já não se encontram na
Unidade Prisional, pois cumpriram suas penas e retornaram à
sociedade, resgatando a dignidade perdida e vislumbrando melhores
oportunidades de trabalho. Torço para que eles continuem seus
estudos fora das grades que por muito tempo os separaram do
convívio familiar e amigos.
Vários títulos foram pensados e discutidos para essa obra, sendo
escolhido “E Quando a Solidão Bate à Porta?”, pois lendo os textos
produzidos pelos alunos-escritores, tivemos a sensação que mesmo
diante de uma cela abarrotada de pessoas, há momentos em que a
solidão é a única companheira, talvez, sejam nesses momentos que
cada um possa refletir sobre suas condutas e motivos que os levaram a
13
passar boa parte de sua existência longe da LIBERDADE, palavra tão
almejada por todos que ali se encontram.
Acredito de forma muito convicta, na capacidade de
regeneração do ser humano, basta que ele manifeste através de seus
pensamentos e ações o desejo de mudar e toda a sociedade busque
mecanismos para ajudá-lo a concretizar o seu desejo.
“Embora ninguém possa voltar atrás e fazer um novo
começo, qualquer um pode começar agora e fazer um
novo fim”.
(Chico Xavier)
Simone Pires Gomes
Diretora
14
Fazer parte de um trabalho como esse, tanto na construção do
livro quanto no cotidiano com os alunos reeducandos, tem sido
gratificante, além de estar me proporcionando um imenso crescimento
pessoal e profissional. Agradeço de antemão à professora Vânia Lino,
por estar junto conosco nesta bela e impressionante empreitada.
Ainda na gestão da Professora Maria Abadia Aparecida, então
Diretora do Colégio Estadual Coronel Joaquim Taveira, uma das
fundadoras da Sala de Aula Professora Querobina Daniel Silva, dentro
da Unidade Prisional de Niquelândia-Go ouvi falar do Projeto
Educando para a Liberdade, fiquei curioso para conhecê-lo e, quem
sabe um dia, nele poder trabalhar. Porém, na época, estava eu no
período de estágio probatório, não podendo fazer parte do projeto.
Entretanto, com a transferência das extensões educacionais do Colégio
Joaquim Taveira para o Colégio Professor Joaquim Francisco
Santiago, recebi da Diretora desta Unidade de Ensino, a Professora
Simone Pires, o convite para assumir a Coordenação da Extensão na
Escola Municipal São Jorge no Povoado Machadinho, na Região do
Acaba Vidas, a mais de 120 km da sede do município, escola em que
ingressei na carreira do magistério e trabalhei por onze anos, e
também da Extensão na Unidade Prisional, Projeto Educando para a
Liberdade. Aceitei de imediato, ficando muito feliz, pois era a
oportunidade de realizar o meu desejo de conhecer melhor o projeto e
trabalhar nele.
A inserção social tem como meta integrar o indivíduo na
comunidade família e sociedade, assumindo o caráter de reconstrução
das perdas, e seu objetivo é a capacitação da pessoa para exercer em
15
plenitude o seu direito à cidadania. Hoje, acredito estar, junto com as
Professoras Maria Abadia e Coraci, construindo mais um grande passo
para a reinserção social de nossos alunos reeducandos, dos quais
posso afirmar com certeza que, não só ensinamos, mas aprendemos
muito a cada dia.
Se desejamos que a Educação seja um instrumento para a
inclusão, o crescimento e o equilíbrio social, temos que correr os
riscos e enfrentar as adversidades de quaisquer situações em que
possam estar inseridas a Educação.
“A prisão não são as grades, e a liberdade não é a
rua; existem homens presos na rua e livres na
prisão”.
“É uma questão de consciência.”
(Ghandi)
Wesley Campos G. Soares
Coordenador Pedagógico
16
Quando nos dispomos a implantar inovações no modo de agir
que a sociedade culturalmente aceita como correto, corremos o sério
risco de obter como réplica a discriminação e o descrédito.
Ainda que a intenção seja de mudar aquilo que não tem
funcionado bem, a resistência ao novo, característica natural do ser
humano geralmente fala mais alto. Quando dizem respeito ao modo de
tratar aqueles que por algum motivo encontram-se segregados em um
ambiente de cárcere, qualquer mudança toma dimensões absurdas do
ponto de vista daqueles que por ignorância desconhecem os benefícios
que podem advir da humanização da pena e recuperação dos
apenados.
Ao longo da história, tudo que se julgou eficaz para atenuar os
índices criminais foi exaustivamente tentado. Desde os castigos
físicos, passando pela segregação definitiva da liberdade e até a pena
de morte. Entretanto, nada do que foi instituído como forma de
correção e emenda surtiu o efeito desejado pelo homem. Cabe a nós,
componentes desta sociedade que sofre a cada dia mais os efeitos
cruéis da escalada do crime, refletir buscando novas formas de
amenizar os efeitos de uma desigualdade social tremenda onde talvez
esteja a raiz de boa parte da criminalidade.
A simples segregação do indivíduo, fora do convívio social, em
condições subumanas, não parece ser a forma mais adequada de
conter a escalada da criminalidade, tampouco constitui a maneira de
fazer com que quem passe por uma prisão não volte a delinqüir, pois
se assim fosse, não teríamos cadeias superlotadas e ruas infestadas de
17
criminosos reincidentes, já que a maioria dos presídios do Brasil
ostenta escancaradamente uma podridão asquerosa, para onde nenhum
ser humano em perfeitas condições mentais gostaria de retornar depois
de ganhar a liberdade.
Quando lançamos o desafio de implantar uma extensão de sala
de aula dentro de uma unidade prisional, não obstante as críticas que
recebemos, várias foram as pessoas que acreditaram neste projeto e de
diversas formas nos ajudaram a levá-lo a termo, seja na doação de
recursos ou na disposição de trabalho. A essas pessoas nossos sinceros
agradecimentos, pois com suas atitudes mostraram um pensamento
inovador e despojado, como o saudoso Dr. Almir Araújo Dias, á época
presidente do Conselho da comunidade de Niquelândia, que nos
disponibilizou parte dos recursos para que pudéssemos adaptar o
espaço físico, ou o senhor José Eulálio, empresário niquelandense
carinhosamente chamado pela população de “Zé miau”, que foi nosso
parceiro no projeto, assim como o prefeito Ronan Rosa Batista, que
não mediu esforços em nos auxiliar na árdua tarefa de reformar e
adaptar uma estrutura decadente e arcaica e transformá-la num
ambiente aconchegante e adequado para se aplicar o ensino.
Igualmente, em nome das professoras: Maristela Aidar e Simone
Pires Gomes e do professor Wesley Campos G. Soares, estendemos
nossos agradecimentos aos servidores dos Colégios Estaduais:
Coronel Joaquim Taveira e Joaquim Francisco Santiago, que com
verdadeiro espírito de comprometimento, prontamente abraçaram a
18
idéia de trazer a educação para o seio da execução penal, dando um
extraordinário passo á frente e ousando tentar o novo.
Agradecemos imensamente aos servidores da Agencia Prisional
que conosco trabalham esta unidade, sem os quais jamais teríamos
alcançado êxito em nossa empreitada e dos quais dependemos
incondicionalmente para manter funcionando nossos projetos
profissionais.
Aos reeducandos que fazem parte desse projeto, queremos frisar
que essa iniciativa é um marco no sistema penal e que vocês fazem
parte de uma pequena parcela privilegiada da população carcerária do
Brasil que está tendo a chance de reescrever a história da execução
penal e de mostrar que é possível oferecer ao mundo coisas positivas a
partir da transformação pessoal e da valorização da educação. Vale
lembrar que o cárcere não é necessariamente o final de tudo, mas pode
ser o recomeço de uma nova existência. È necessário conscientizar-se
de que ao sair da prisão para voltar ao convívio social, quase nada de
novo lhes será oferecido, mas as cobranças serão gigantescas e será
necessária muita força de vontade, humildade e fé, para romper as
barreiras do preconceito e conquistar o direito de um lugar ao sol.
Terminamos nossas palavras citando uma célebre frase de
Nelson Mandela, homem negro sul africano que ao sair da prisão onde
esteve preso por 28 anos acusado de terrorismo e traição, deu a volta
por cima e chegou a ser presidente de seu país: “Comenta-se que
ninguém de fato conhece uma nação até que se veja numa de suas
prisões. Uma nação não deveria ser julgada pela forma que trata
19
seus mais ilustres cidadãos, mas como trata os seus mais
simplórios.” A vida deste homem, que sofreu na própria pele o mais
acirrado preconceito e a mais ferrenha intolerância, ilustra bem a
enorme capacidade intrínseca dos seres humanos em implementar
mudanças positivas em suas vidas, mesmo quando todas as coisas
parecem desfavoráveis e as condições no meio social são as mais
inóspitas possíveis. Assim, faço votos no sentido de que os egressos
do sistema prisional, alavancados pela inovadora idéia de educação no
cárcere, reflitam sobre as possibilidades de alçar novos vôos no
caminho do bem e que a sociedade compreenda que ao trabalhar pela
recuperação dos apenados, está buscando nada mais que benefícios
próprios, como a diminuição da reincidência criminal, a minimização
dos efeitos das desigualdades sociais e a soma de uma nova força de
trabalho no meio social.
Genair da Abadia Souza vieira
Diretor do Centro de Inserção Social de Niquelândia
20
INTRODUÇÃO
Em 2010 assumimos o desafio de trabalharmos com três
extensões em diferentes lugares, dentre elas a extensão da Sala de
Aula Professora Querobina Daniel da Silva, na Unidade Prisional –
Centro de Inserção Social de Niquelândia, que na ocasião, possuía a 1ª
etapa da Educação de Jovens e Adultos - EJA. Naquele momento,
apesar das dificuldades do trabalho aceitamos o desafio e seguimos
adiante com a gratificante missão de ensinar.
Convivendo mais próximos com os alunos, pudemos perceber as
dificuldades que todos eles enfrentaram no decorrer de suas vidas, e
que direta ou indiretamente contribuíram para que eles chegassem à
triste condição de presidiários. Suas mágoas, tristezas, angústias,
ansiedade pela liberdade nos contagiou de tal forma, que decidimos
concretizar esses sentimentos e expectativas. Não foi um trabalho
isolado, professores, coordenadores, equipe prisional, e de forma toda
especial a gestão do Colégio nos incentivou e apoiou para que
nascesse desse trabalho uma nova cara para a triste realidade dessas
pessoas.
Seus depoimentos, embora verdadeiros, possuem nomes fictícios
para evitar exposição desnecessária e possíveis constrangimentos.
Assim, usando do anonimato eles puderam expor melhor seus
sentimentos e contar de forma muito real a história de vida de cada um
deles. Não esperamos que esse trabalho se torne um Bestseller, mas
que ao menos aumente a auto-estima e dê voz a esses homens
21
esquecidos pela sociedade. E que acima de tudo, sempre gritaram por
socorro, agora encarcerados, gritam com mais veemência. É chegada a
hora, de talvez, conhecermos e compreendermos melhor os diversos
caminhos tomados por eles que nem sempre foram os ideais, mas os
únicos possíveis de ser trilhados.
Não é objetivo desta obra isentá-los de suas culpas, mas
sobretudo, alertar a sociedade para sua responsabilidade com o
cidadão carente, com o combate ao tráfico e principalmente com a
oferta de educação de qualidade, que nem sempre são cumpridas.
Como cidadãos, estado, justiça, entidades religiosas, enfim, cada um
de nós temos responsabilidades com o outro que se encontra em
situação de vulnerabilidade social. Quando lhes foi proposto
escrever textos e relatos de suas vidas que posteriormente comporiam
um livro, se encheram de entusiasmo e alegria, haja vista, que muitos
nunca foram ouvidos na família , na escola, em lugar nenhum. Eis que
agora é chegada a hora, de gritar ao mundo seus conturbados
sentimentos. Para muitos talvez, tardiamente, pois o caminho de volta
é difícil e a sociedade contribui para torná-lo quase intransponível. O
desfecho desse trabalho é desconhecido, porém, mesmo não
ultrapassando as grades de uma prisão, ainda assim, terá suas
recompensas, pois o importante é oportunizar quem sempre foi
excluído a fazer parte dessa sociedade, que embora falha e relapsa,
ainda é o melhor lugar de se buscar a realização pessoal e a felicidade.
22
O PASSADO DE UM PRESENTE DESUMANIZADOR
Ao analisar os textos elaborados pelos alunos/detentos observa-
se que cada um apresenta razões bastante fortes que possa justificar a
sua atitude infracional. E partindo do aspecto humano, social, e
antropológico, constata-se que a razão da criminalidade tem muito de
suas raízes encravadas no abandono social que sempre se viveu no
Brasil. Grande parte dos textos relata uma vida privada de condições
mínimas de sobrevivência, falta de trabalho, falta de acesso à
educação de qualidade, saúde, bens culturais, enfim, condições
mínimas de dignidade humana. Não é intenção do presente discurso,
isentá-los dos erros cometidos, mas tão somente questionar e conduzir
o leitor a uma reflexão sobre as condições sociais oferecidas às
crianças e jovens da sociedade brasileira, assim como, oportunizá-lo a
conhecer um pouco mais a realidade que se encontra do outro lado da
grade.
É apontado por diversas pesquisas que a sociedade tem sua
parcela de culpa quanto ao aumento da criminalidade no Brasil e no
mundo, quando esta se exime de suas obrigações enquanto Estado e
gestor direto do bem estar social, ou enquanto cidadão não contribui
para melhoria das condições de vida de muitos, que gritam por
socorro. É notório em várias comunidades carentes espalhadas pelo
país que a criação de políticas públicas que contemplam o bem estar
do jovem com esporte, cultura, arte e educação, tem um índice de
criminalidade reduzido consideravelmente em um espaço de tempo
23
relativamente curto, e que as comunidades onde reina o tráfico, a
violência aumenta a cada dia.
O famoso sociólogo Durkheim, dizia que:
“... a sociedade não é simplesmente o produto da ação e da
consciência individual. Pelo contrário, as maneiras coletivas
de agir e de pensar resultam de uma realidade exterior aos
indivíduos que, em cada momento, a elas se conformam.”
Parafraseando Durkheim, observa-se a importância da presença
do Estado na composição social, no sentido de oferecer subsídios
preventivos para violência e criminalidade. Essas ações globais podem
salvar milhares de jovens da ação devastadora das drogas que
influenciam diretamente nos demais atos de violência.
Nesse contexto de desigualdade social, a educação pode assumir
um papel singular de transformação, ainda que em longo prazo,
oportunizando a crianças e jovens, o acesso direto ao esporte,
conhecimento, cultura, e se afirmando enquanto agente social na
comunidade a qual está inserida. Porém, não se pode delegar à escola
a função totalizadora de salvação da humanidade, se faz mister que
todos se unam em prol de um mesmo objetivo e trabalhem por um
mundo mais justo e igualitário. Se, de acordo com Durkheim, o ser
humano é, parcialmente, resultado do ambiente em que vive e que
pode ser influenciado por ele, se faz obrigação do Estado, registrar sua
presença no âmbito familiar, educacional, social da criança para
prevenir, ou ao menos tentar fazê-lo, dos malefícios da falta de
perspectivas que hoje é tão comum dentre os jovens.
24
Todo esse discurso não possui fundo sensacionalista, é a verdade
que se evidencia nos relatos redigidos nesse livro. Nossos alunos,
antes de serem detentos, são seres humanos, que tem sede de sonhar,
de conquistar, de se afirmar enquanto cidadãos de bem. Não são como
muitos pensam, o lixo da sociedade. No entanto, muitos se sentem
assim - como poderão observar nos textos - cometem erros, são
julgados, condenados, e jogados no depósito de seres humanos onde
não tem oportunidade nenhuma de se tornarem melhores.
A dignidade no trato enquanto ser humano é um direito inerente
a todos os indivíduos. A situação nos presídios brasileiros é caótica e
não atendem às finalidades essenciais da pena, quais seja punir e
recuperar. É necessário que sejam implementadas políticas públicas
voltadas para a organização desse sistema e promover uma melhor
efetivação da Lei de Execução Penal. O encarceramento puro e
simples não apresenta condições para a harmônica integração social
do reeducando, como preconizada na Lei. Punir, encarcerar e vigiar
não bastam. É necessário que se conceda à pessoa de quem o Estado e
a sociedade retiraram o direito à liberdade, o acesso a meios e formas
de sobrevivência que lhe proporcionem as condições de que precisa
para reabilitar-se moral e socialmente.
Esses homens reclusos, não fogem às suas responsabilidades,
querem pagar suas penas, mas anseiam por sair dali e reconstruir suas
vidas, com suas famílias e amigos. Todavia, o que é oferecido a eles
como subsídio para recomeçar?
25
Na Agência Prisional de Niquelândia é oferecido cursos de
artesanatos que eles confeccionam e as famílias vendem para angariar
recursos de sobrevivência. Sabe-se, porém que ao serem libertos, esses
artesanatos não serão suficientes para prover o sustento dos filhos.
Em muitos casos não os restam outro caminho, a não ser a
reincidência.
Outro aspecto importante na vida do reeducando é a família, que
não deve ser vista como uma mera vítima estática da aplicabilidade da
Lei que a pune compulsoriamente; ela deve ser percebida como peça-
chave para o trabalho de diminuição da reincidência. Não perceber a
importância da família nesse contexto é não investir na possibilidade
de resgate do reeducando. No entanto, o que é feito pelas famílias
enquanto os provedores de seu sustento cumprem sua pena?
Percebe-se que sem o auxilio financeiro daquele que outrora a
mantinha, esta se torna alvo fácil e vulnerável do crime que a espreita.
As crianças, em função da pobreza, entram no mercado de trabalho
muito cedo, aumentando os índices de evasão e repetência na
educação. Quando na pior das hipóteses não se embrenha pelo
caminho das drogas e do crime. Cumpre-se aí o circulo vicioso da
marginalidade, onde por consequência do cárcere paterno, os filhos
sem perspectiva tomam o mesmo caminho.
A Lei nº 8213/91, estabelece o auxilio reclusão, que garante
provisoriamente o sustento da família do reeducando, porém, sem
nenhuma assistência no que se refere à profissionalização dos
componentes adultos da família, ou à vinculação do beneficio à
frequência escolar dos filhos ainda menores. Assim, cai-se na política
26
assistencialista imediata e provisória que não contribui para a
independência financeira e profissional dos beneficiados. O auxilio
reclusão aparece como um importante recurso para as famílias e para
os encarcerados durante o cumprimento da pena, porém, é preciso
vislumbrar novos horizontes e oferecer instrumentos de trabalho e
dignificação para essas famílias.
Uma conquista imensurável para o reeducando foi a
possibilidade de retomar os estudos enquanto cumprem suas penas. A
educação oferecida a eles possui falhas e ainda galga os caminhos da
qualidade total, porém, apesar de imperfeita está levando a eles a
oportunidade de crescer intelectualmente e sonhar com dias melhores.
Nos textos redigidos, orientados pelos professores, é possível notar a
tristeza, a solidão e o desamparo próprio do lugar se entrecruzando
com a expectativa, as perspectivas, os sonhos e alegria de serem
reconhecidos como parte integrante da sociedade. É esse o caminho
que se acredita ser o certo, o caminho da valorização, do
reconhecimento, da solidariedade, e do apoio.
Em muitas ocasiões, durante as aulas, os professores precisam
deixar de lado o oficio de ensinar para ouvir como um psicólogo, dar
atenção como uma mãe, orientar como um conselheiro, evangelizar
como um pastor, amar como um irmão. E assim vai-se construindo um
emaranhado de relações que extrapolam à de professor – aluno, se
tornando uma relação humanizadora e capaz de transformar.
Vou contar a você, leitor, uma parábola que se trata dos sete
princípios para se alcançar a plenitude e a paz. Ela retrata um pouco
da realidade de tribulação, dificuldade, e superação vivida por esses
27
alunos e professores, além de contribuir para amenizar o peso do
assunto aqui discutido:
Essa é parábola do bambu:
Depois de uma grande tempestade, o menino que estava
passando férias na casa de seu avô o chamou para a varanda e falou:
__ Vovô, corre aqui! Como essa figueira, árvore frondosa e
imensa, que precisava de quatro homens para abraçar seu tronco, se
quebrou e caiu no vento e na chuva, e este bambu tão fraco continua
em pé?
__ Filho, o bambu permanece em pé porque teve a humildade de
se curvar na hora da tempestade. A figueira quis enfrentar as forças do
vento.
O bambu nos ensina sete princípios. Se você tiver a grandeza e a
humildade dele vai experimentar o triunfo da paz em seu coração.
A primeira verdade que o bambu nos ensina é a mais importante:
ser humilde diante dos problemas e dificuldades, ter fé, otimismo e
não desanimar.
A segunda verdade: o bambu cria raízes profundas. É muito
difícil arrancá-lo, pois o que ele tem para cima tem para baixo
também. Você precisa aprofundar suas raízes na oração e em Deus.
A terceira verdade: o bambu vive em união. Antes de crescer ele
permite que outros cresçam ao seu lado. Sabe que vai precisar deles na
hora da tempestade. Uma das grandes forças de quem é fraco é
permanecer unido àqueles que ama.
A quarta verdade: O bambu nos ensina a não criar galhos. Como
tem a meta no alto, em coisas grandes, não perde tempo com coisas
28
insignificantes. Para ganhar, é preciso perder tudo aquilo que nos
impede de subirmos suavemente.
A quinta verdade: o bambu é cheio de nós. Como ele é oco, sabe
que se crescesse sem nós seria muito fraco. Os nós são os problemas
que enfrentamos e que nos fortalecem.
A sexta verdade: o bambu é oco, vazio de si mesmo. Abandona a
si para doar-se aos outros, sem limites.
A sétima verdade: ele só cresce para o alto, ele busca o que é
grande. Essa é sua meta.
Esse é o retrato de quem é detento e de quem procura por meio
da educação levar um pouco de alento e esperança a esse lugar tão frio
e solitário, que é o presídio. São superações diárias de professores e
alunos, ambos lutam para isolar o ambiente em que estão inseridos e
buscar numa cela de aula pequena e trancada, a concentração para
ensinar e aprender.
Nos textos, os aluno reclamam constantemente da solidão
vivenciada por eles, isso parece bizarro quando os detentos vivem em
meio a dezenas de pessoas e são amontoados em celas pequenas, e
lotadas. Porém, a solidão que mais incomoda não é a física, mas a da
alma. Eles possuem seus colegas, mas se queixam da falta que sentem
da família, dos amigos de “fora”. Quando passam por um julgamento
acontece um rompimento de tudo que são e têm para iniciar uma
realidade que só tem a insegurança e o descrédito como certezas.
Assim, a partir do momento que são isolados do mundo externo,
inicia-se geralmente, um processo de esquecimento por parte dos que
são livres. Ainda que seja restrita a entrada no presídio, a família é a
29
que possui acesso direto e frequente com os detentos, e não raras
vezes, nem mesmo ela oferece o apoio que se faz tão importante para
sua recuperação. Assim, quando a solidão bate à porta, não resta mais
nada e ninguém além de folhas frias de papel e caneta, onde podem
confessar suas mazelas e expor suas dores.
Para concluir essa reflexão as palavras do ilustre jurista e
professor João Batista Herkenhoff, neste momento final, servirão de
esperança para aqueles que acreditam ainda na recuperação não
apenas de infratores da lei penal, mas sim de toda a sociedade e do
verdadeiro sentimento de justiça:
Não creio no poder da repressão. Creio no homem. Creio no
respeito ao homem. Creio na igualdade entre os homens. Creio na
palavra. Creio no contato entre seres humanos, na possibilidade da
comunicação entre o homem que está sendo processado e o homem
que, eventualmente, está sendo o juiz de seu irmão. Creio, sem
pieguismo, no amor. E mais ainda creio na justiça, como valor
supremo.
A seguir, o leitor terá acesso aos textos redigidos pelos alunos,
na integra. Para facilitar a leitura e compreensão realizamos algumas
correções ortográficas e de pontuação, porém sem modificar o
conteúdo.
30
O RECOMEÇO
Para uma pessoa andar ele precisa dar o primeiro passo.
Assim não foi diferente com as primeiras redações que iniciamos
a escrever. Começamos a escrever um pouco sem fé, sem acreditar
que ia dar conta de escrever, mais cada um de nós, tem muita história
de vida, mais não era isso que queríamos escrever sobre violência,
porque violência gera violência.
Gostaríamos de passar para os leitores desse pequeno livro,
como é a vida aqui dentro, e como nós pensamos e sentimos.
Nós estamos esperando pelo menos cinco livros editados, já vai
ser uma vitória porque jamais esperávamos que dentro de uma prisão
poderia acontecer algo de bom. Mas hoje estamos estudando no
presídio, o que era sonho virou realidade, hoje podemos enxergar a
vida, não só de forma quadrada, mais por maneira diferente, por causa
de duas pessoas que se arriscaram em trabalhar em área de risco. Mas
o que podemos é retribuir a professora e a diretora que elas fazem
tudo com muito carinho e se tornando uma nova pessoa e provando
para o mundo que estudar é o melhor caminho. Converter a Deus e ter
educação de qualidade para obter oportunidade de trabalhar, e nós
gostaríamos de parabenizar e oferecer este livro para esta duas
guerreiras, professora tia Abadia e diretora Maristela.
Célio
31
PARA INÍCIO DE CONVERSA...
Quem somos nós?
Somos pessoas, somos gente de carne e osso, ser humano que por
falta de reconhecimento e Deus no coração viemos parar aqui neste
lugar que não é nada bom.
E o momento não poderia ser mais oportuno, pois estamos lançando
esse livro que são frutos de anos de convivência e cada um com sua
história. Com esse livro você vai aprender mais sobre o que é ser um
presidiário. Agora com todo esse reconhecimento você com certeza
vai pensar duas vezes antes de cometer qualquer besteira e vir parar
aqui, pense bem!
Que Deus ilumine o caminho de todos vocês e boa leitura.
Oscalino Rodrigues
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DESALENTO
Assim foi a minha vidinha, sem graça até os 15 anos, nunca tinha
fumado bagulho, porque lá na roça, não tinha esses trem. Mas era coisa
de outro mundo. A única droga era umas pinguinhas feitas ali mesmo
alambique do finado Paulim Tadin. Pra estudar era um Deus nos acuda,
tinha que andar umas duas léguas, mas mesmo assim, era bom demais da
conta. Eu e meus irmãos ia todos dias e era o único jeito de escapar do
cabo da sem graça, (enxada) que era uma bichona grandona, uma pra
cada um. Nos finais de semana não tinha escapatória, o véio meu pai já
dava logo o grito cedo. Vambora, menino, apruma, passarin que num
deve nada pra ninguém já ta com us pé moiado, ligeiro, pode levantar, e
nóis sem querer, mais num tinha jeito não, tinha que levantar. A nessas
arturas já tava tudo pronto, um cafezinho quente, com uma broa e uns
pedaços de queijo, e vambora, menino, café bebido caminho seguido, e
lá ia continuando a prosa. Veio não sei de onde, uma tal de furna
(FURNAS) e não se falava de outra coisa, o tal progresso tava chegando.
E não demorou muito pra chegar em nosso rancho uns home com
palavra difice e uma prosa boa, e chamou o pai lá prus morro, pra isprica
até onde a água ia subir, e eu vi que o pai chegou diferente, discabriado
com o zoio cheio d’agua, e chamou a mãe, e disse: __ muié temo que ir
imbora. A mãe deu uma olhada pra nois, a escadinha sentada, no bancão
da sala.
__ Mais home pra onde nois vai, pelo amor di Deus, o que ocê ta falano,
pra onde nois vai e nossas coisa e os mininu? __ Eu não sei muié, eles
vão dar uma mixaria pra nois, é capais di dá pra nois comprar um
barraco, lá na Niquelândia. Silenciou a mãe, e foi fazer a bóia, e
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enquanto preparava pensava na sua vida, a ingratidão do destino que
agora depois de véia ter de enfrentá a cidade grande, tirano tudo do
braço, fazer hoje pra comer hoje mesmo. Teria que desfazer dos animais,
da raladeira de mandioca, do muinho de café, o tacho de cobre, e enfim
de tanta coisa pra ser trocada por um barraco apertado, em alguma vila
pobre de Niquelândia. Jantamos em silêncio, pela janela entrava uma
suave brisa, que fazia a luz da lamparina dançar tornando mais triste o
ambiente. O radinho ligado passava umas modinhas sentimentais, de vez
em quando uns anúncios da casa do fazendeiro. O pai foi deitar logo
após, carregando a dor de um homem simples da roça. A mãe sozinha
ajeitava as vazias da janta, penssano nas dores que a vida lhe impôs de
muié da terra, ligada aos fazeres da roça, de pernas inchadas, por
reumatismo, causadas pelas friaje do corgo, a torração di farinha, e ter
que sair na chuva. Olhei para céu e disse: __ Nosso Sinhozinho do céu,
num deixa nois sofrer não, e pegou a lamparina, fechou a janela e ajeitou
o fogo, que cozinhava o feijão. Desligou o rádio e si encaminhou para o
quarto, viu o pai deitado acordado. Eu achei que ela tentou consolar,
mais apenas fez o sinal da cruz e deitou ao seu lado, sem dizer nada, e
apagou a lamparina. E no final de tudo isso, aconteceu que aqui na
cidade, sem emprego, sem estudo e sem oportunidades, mim envolvi
com a vida do crime. Foi a única porta que achei aberta, foi o mundo do
crime. Fui preso. Torturado, fui humilhado, e não vejo a hora de sair e
voltar a sorrir de novo, eu era realmente feliz e não sabia.
Oscalino Reges Rodrigues
Obs.: Esse texto não foi corrigido ortograficamente sob risco de perder
a originalidade.
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UMA PEQUENA LUZ NO FIM DO TÚNEL
Os nossos olhos foram feitos para enxergar no claro mas também
pode adaptar a enxergar no escuro. Quando uma pessoa cai dentro de
uma cadeia, a vida dele desanda, o desespero, a agonia, ajuda a
escurecer muito mais este caminho escuro que ele tem que caminhar,
carregando este martírio de dor e sofrimento. A pior coisa na vida é a
escuridão porque quando você está neste túnel cai, levanta, mais
sempre está com esperança de poder ver uma pequena luz no fim do
túnel.
Cada dia que passa é um dia a mais de cadeia e um dia a menos
neste inferno, cada ano que passa eu consigo enxergar uma pequena
brecha de luz muito longe, talvez quem esteja perto de mim não
consegue enxergar. Porque esta pequena luz é enxergada com os olhos
de artista, que quando pinta um quadro enxerga de uma maneira, mais
nunca aquele quadro vai ser enxergado daquela maneira quando
outros olhos for observar , vai ver de forma diferente. A escuridão
começa no dia que entramos aqui, presos, e esta tão sonhada luz irá
refletir o dia em que as portas deste inferno se abrir para que
possamos valorizar cada minuto de nossas vidas, e que Deus abençoe
e dê força a todos irmãos que passa para o outro lado do muro.
LIBERDADE....
Célio
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UM SONO PROFUNDO
Por que não consigo largar de você? Às vezes sinto uma grande
fraqueza chego a respirar fundo por sua causa. Faço loucuras para
matar a minha ansiedade. Quando te conheci era como se fosse uma
brincadeira, não sentia tanta a sua falta, depois de algum tempo você
ficou fazendo parte da minha vida, você estava comigo em quase todo
lugar, eu ficava tão corajoso, e me sentia muito mais forte do que as
outras pessoas.
Mas na verdade eu era o fraco, porque não conseguia tirar você
dos meus pensamentos. Por que eu tentava e você sempre ganhava de
mim. Toda vez você me derrotava. Eu já não tinha mais forças para
lutar contra meus desejos, com passar do tempo você me apresentou
sua prima, a primeira vez que conversei e sai com ela, eu já não
conseguia largá-la, sofria tanto por sua ausência, que por muitas vezes
chorava como um bebê ansioso pelo leite materno.
Não conseguia mais largar você, parece que mandam em mim.
Doze horas com você sempre foi pouco, a minha vontade era muito
mais. Ultimamente eu estou tão longe, e não posso mais sentir seu
perfume, não consigo parar, entrei em desespero, não percebi que era
só uma ilusão, até que um dia eu caí de overdose e não consegui
sobreviver, mais com o sangue no nariz.
Crack e a cocaína tiraram minha vida não deixe tirar a sua.
Wedson Tiburcio dos Santos
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MALANDRO
Tem alguns ditados certos, de que malandro é difícil chegar aos
30 anos, o malandro não cria cabelo branco.
Para quem está neste mundo é bom lembrar que se formos voltar
no tempo, não vai ser difícil lembrar de uma centena de pessoas que já
morreram, antes dos trinta anos pelo envolvimento no mundo do
crime.
O crime te dá muita ilusão, muitas regalias, mas te cobra um
preço muito caro. Primeiro de cobra a liberdade, depois a sua
juventude, e depois começa as perdas, de cabelos pretos, perda dos
dentes, a perda da cor da pele por falta de sol, a perda da saúde, total
perda da dignidade.
O malandro sonha muito alto, é um eterno sonhador, ele não
gosta de coisa ruim, mas é só ilusão, porque o diabo te dá muita coisa
com uma mão, e te envergonha tomando com as duas mãos.
O sonho do malandro, eu comparo com o sonho do garimpeiro,
porque ele bamburra e joga tudo para o ar, aí o dinheiro acaba, mas o
sonho de bamburrar, jamais. E quando dá azar vai parar na cidade dos
pés juntos.
Célio
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CADEIA: O CÔMODO DO INFERNO
Hoje a pessoa precisa parar para pensar o que é uma cadeia.
Pensa numa criança que gera, nasce, mama, começa a dar os primeiros
passinhos começa a falar as primeiras palavras, mamãe ou papai.
Papai? Eu não vejo esse homem que eu estou chamando aqui mas é
que eu vejo quase todas as semanas naquele lugar sujo e fedorento,
escuro e cheio de grades, mas lá eu não vejo ninguém rindo, nem
alegre, mais eu vejo minha mãe ansiosa para ir até o meu pai. Ela
tomou banho, me deu banho e passou perfume na gente, eu vejo
minha mãe alegre parecendo que nós vamos para festa, mais logo
chegamos num lugar com muros bem grandes, e uma fila bem enorme
e muito quente, porque não tem lugar na sombra pra ficarmos, mas
quando nós entramos numa sala, todo mundo tem que ficar pelado, ai
eu fico chorando, mas quando a minha mãe vê o meu pai fica alegre,
eu sinto o coração dela bater mais forte, e quando o papai me dá um
beijo e mexe comigo, eu não aguento e logo eu entendo porque minha
mamãe fica alegre quando o papai dá um beijo nela. Com 6 anos
comecei a estudar e assinar o primeiro boletim com o nome da minha
mãe, porque o meu papai está preso.
Começo as perguntas por que todas as crianças têm um pai em
casa, eu estou pequeno e que não entendo o que está acontecendo
comigo, nos dias dos pais todos meus amigos ganham um beijo e um
presente dos seus pais e eu tenho que esperar o dia certo para vir
38
visitar o meu pai, e fico pensando porque só acontece comigo, mas
olho para mãe e fico perguntando por que a senhora fica chorando
escondida, e eu pergunto, ela me fala que caiu ciscos nos meus olhos,
e me dá um beijo, ai eu esqueço de tudo, mais logo eu pergunto,
mamãe o papai vai vir pra casa ? Quando mamãe enche os olhos
d’água e dá um nó na garganta e responde: __ Meu amor, se Deus
permitir o papai vai voltar pra nós quando a meu filho estiver com 10
anos. 10 anos? Mamãe, mas vai demorar muito, não meu filho quando
você estiver na quarta série. Mamãe eu vou estudar muito para que eu
chegue logo na quarta série. A mãe deu um beijo e sorriu, eu saí a
brincar.
Célio
39
Célio
40
DEUS NOSSO VERDADEIRO AMIGO
Pois esta é uma história real sobre a amizade, pois no mundo que
vivemos não podemos falar que temos amigos. Pois temos
conhecidos. Muitas pessoas que falam que é seu amigo, só são quando
você tem algo que interessa a ele, pois o mundo que vivemos tem
muita falsidade. Quando você tem dinheiro, um carro e casa têm
amigos, mas quando está na miséria não tem, ninguém pode falar eu
sou seu amigo, vou te ajudar porque gosto de você; pois tenho 31 anos
de idade e nunca vi isto acontecer. A prisão é a maior prova da vida
real, valemos o que temos hoje, falo com conhecimento de causa.
Muitos na sua frente é uma coisa, por trás falam mal de sua pessoa.
Mais fazer o que? A lei é da sobrevivência. Deixo aqui o meu recado,
temos um amigo fiel de verdade: Que é DEUS e meu SENHOR
JESUS CRISTO que está no céu, pois ele deu a sua vida para nos
salvar, a minha e de todos. Eu agradeço a ele pela saúde e pelo fôlego
de vida, por ter me castigado severamente, mais não me entregou a
morte.
Deigivânio Barbosa de Barros
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LIBERDADE
Não sei se estou preparado para esse dia, está chegando este tão
esperado momento, afinal vai ser o meu recomeço, porque foram dias
longos trancafiado neste lugar triste, tenho pensado seriamente de
como vai ser minha vida quando chegar o grande dia. Até choro só de
lembrar quando as grades abrir. Oh! Meu DEUS que alegria, que bom
que o senhor ouviu minhas orações.
Lá fora está tudo mudado, não sei como vai ser a reação das
pessoas que me conhecem, o que elas vão falar, o que vão pensar não
sei, eu só sei é que não vai ser fácil, pois a discriminação e o
preconceito são muito grandes. Estou muito arrependido, errei e estou
pagando, só não imaginava que o preço seria tão alto, porque tiraria de
mim o bem mais precioso que é a minha liberdade, família e moral.
A caminhada vai ser longa, eu sei, mais o pior graças a Deus, já
passou, agora é olhar pra frente e pensar no futuro, não vou fazer a
minha “coroa” chorar, pois depois que vim pra cá, percebi que com o
passar dos anos ela ficou mais velha, mais séria e triste, sou o
causador de todo sofrimento não só dela, minha mãe, como de muitas
outras. Hoje eu sei o que é ter um dependente químico em casa, que
rouba, mente ou até mata por causa desse maldito vicio que atrasa e
destrói lares.
Se você que por acaso estiver envolvido com essa parada saia
fora enquanto há tempo, pra não provar do veneno que eu provei, não
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tenho a ver com a sua vida, mais eu não desejo pro meu pior inimigo o
que eu passei na cadeia. Que sirva de exemplo pra quem ler, o diabo
lhe dá com uma mão e toma com as duas. Não compensa sangue bom,
vai por mim. Pra que escolher o destino pior se você pode ter o
melhor?
Que DEUS ilumine o caminho de vocês.
Oscalino Rodrigues
43
Célio
44
JOGO DE DAMA
Eu vejo dois presos jogando damas para passar o tempo dentro
da cadeia. Mais como este jogo é tão parecido com a família, por que
se falta uma pessoa na família fica desfalcada. Talvez para os irmãos,
com o corre corre do dia a dia, esta peça de dama não pode fazer falta,
mais para a mãe, na hora da refeição, na hora de dormir, no final do
ano, junta todos os outros filhos, netos, genros, mas falta sempre um
lugar na mesa. A mãe pode estar no meio de tantas pessoas ao redor
dela, mais mesmo assim ela sente falta daquele filho.
Os filhos crescem, e os pais têm que deixar cair e levantar,
porque cair é do homem e levantar é de Deus. Nesta caminhada da
vida o destino coloca caminhos diferentes, mais em suas orações ela,
sempre entrega este filho, na mão de Deus. E que Deus carregue ele
em sua mão e ajude ele a caminhar entre espinhos, em um caminho
cheio de pedras, e na hora que ele achar que não tem mais jeito Deus
por ser um bom pai, pega ele em suas mãos e conduz para o bem,
porque Deus nunca abandona nenhum filho porque ele veio para
salvar quem está perdido.
O bom pastor vai atrás das ovelhas desgarradas, e coloca em seu
rebanho.
Célio
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LIXO HUMANO
Em vez de jogar pedras em nós presos reze por nós. Porque em
um lugar que se amontoa presos não pode esperar bom resultado, o
governo dá o cárcere mas não dá maneira de ressocialização do preso.
Dizem que a justiça é cega, mais não é possível que ela nunca
vai abrir os olhos, pra esta injustiça que faz com nós presos, porque
prende um homem e solta um lixo humano. Com muitos sonhos, mas
a sociedade prefere gastar milhões com segurança, mas insiste em
fechar os olhos para nós. Mas isso tem que mudar se nós estamos
falando em lixos humanos, eu gostaria de dar um exemplo pela boa
ideia que uma pessoa teve. “O lixo do nosso Brasil, com a reciclagem,
hoje o Brasil conseguiu reciclar mais de 50% do lixo, só não
conseguiu cem por cento do por causa das nossas leis que em vez de
investir no Brasil, exporta lixo de outro país. Nós precisamos de
políticos honestos que pensa em leis que beneficia a todos nós
brasileiros.
Você que está lendo agora? Nos deixar amontoados, sem
podermos ajudar nossas famílias, sem poder mostrar que cada um de
nós somos capazes de fazer algo para ajudar nossa família, temos
condições de ser regenerados ? Hoje nós acreditamos que só Deus
pode tirar o homem da miséria e do pó. Porque o governo prefere dar
pena alta para meia dúzia de presos, para mostrar pra sociedade que
está fazendo justiça. Mais, hoje prende um ladrão de galinha mas se
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ele tiver a mente fraca sai roubando um carro ou um banco, agora eu
pergunto, você acha que pra sociedade melhorou alguma coisa?
Cada preso aqui já foi um dia parte da sociedade, hoje sou eu e
amanhã pode ser você? Por diversas maneira o tempo passa, o mundo
gira, a cadeia só está cada vez mais cheia por causa da criminalidade.
Hoje aqui, somos o que enxergamos o mundo, como um reflexo
de um espelho, tudo o que vemos e revemos. É o que estamos
reeducando, se prende um cachorro e só faz raiva nele, dificilmente
ele vai ficar manso. Mas a nossa justiça tinha que fazer cada preso ser
capaz de alguma coisa, de estudar e de fazer cursos, porque todos os
seres humanos é capaz. Erra mais é capaz de consertar seus erros.
Célio
47
Célio
48
DIA DE VISITA
Um dia muito esperado pelo preso.
Um dia que podemos ver as nossas mães, a nossa esposa, os
nossos filhos, dia de esperança. Dia de poder saber como eles estão
dia de saber noticia da rua, dia de aproximação com a pessoa que
amamos. Mais ao mesmo tempo em que é bom, para muito colega é o
momento de pensar em sua família que está longe, a pior coisa na vida
do preso é o abandono dos seus parentes, da sua mãe e da sua esposa,
porque irmão, tio, primos, só vem se puder vir.
Você não sabe como é bom uma visita. Eu acho que é o momento
de saber quem de verdade se preocupa com a gente e que lembra que a
gente é gente. Quando estamos na rua é muito fácil fazer amigos. O
homem preso e limitado a tudo, o amigo lá fora te esquece. Pode até
lembrar mais fica com medo de pedir alguma coisa. Mais eu acho que
uma pessoa presa, doente, sente falta de um gesto de carinho, porque
até Jesus Cristo relata na bíblia sagrada que ele esteve preso e
ninguém veio visitar, mais o ser humano só prefere ajuda dele depois.
Célio
49
A MINHA VIDA NA PRISÃO
A vida é como mil nuvens no espaço, são como o fim. A cada
dia que passa me sinto muito triste cheio de saudade da vida livre. Às
vezes fico pensando na rua da minha casa, tenho saudade daqueles
momentos de alegria no pensamento, e fico cheio da esperança de
voltar um dia para os braços da minha família. Quando estou
dormindo sonho com a minha liberdade, quando acordo eu estou atrás
de uma grade, é uma angústia que não tem fim. Parece que tem uma
agulha furando meu coração, mas só porque ainda não perdi minha
esperança em Deus. Sabe por quê?
Se não tiver lutas na vida não temos vitória. Peço a meus
irmãos, se você tiver algum problema na vida ponha na mão do mestre
que ele socorre na hora certa, e quero agradecer a Deus por me dar
essa inspiração.
Welliton Francisco
50
ILUSÃO DO CRIME
Tenho momentos marcantes na minha vida, um desses
momentos foi quando a minha mãe me levou para a escola pela
primeira vez, com muita dificuldade ela conseguiu comprar meus
materiais chegando em casa a tarde me mostrando o meu primeiro
caderno e lápis.
Lembro das pequenas palavras que saiu da sua boca pela
manhã. Vamos para a escola estudar, eu perguntei meio assustado se
ela ia ficar comigo enquanto estudava, ela me respondeu: __ Não
posso. Depois venho buscar você, e assim foi. O sino bateu, a hora
chegou, e eu entrei para sala de aula. Muito envergonhado, meio
acanhado, conheci a minha professora e ela me apresentou para as
colegas de classe. Quando foi mais tarde, que acabou a aula, minha
mãe ainda não tinha chegado. Eu já estava sendo uma dos últimos a
sair do colégio. Mais alguns minutos e a vejo entrando no portão de
cabeça baixa e muito triste. A professora perguntou por que ela
demorou e minha mãe pediu que eu fosse lá fora.
Subi no banco do corredor para olhar o que as duas estavam
conversando, mas antes não tivesse subido, porque vi minha mãe
chorando e falando para a professora que não chegou na hora certa
porque tinha brigado com seu marido, ou seja, meu pai, e que as
coisas lá em casa não andava nada bem. Despedimos da professora e
51
fomos embora para casa, no meio do caminho minha mãe perguntou
como eu tinha passado. __Bem, e que tinha feito novos amigos.
Ela sorria e brincava comigo o tempo todo, mas eu via e sentia
que ela estava sofrendo calada. Continuei a estudar alguns meses, e ai
não passou muito tempo. Rapidamente num piscar de olhos eu já
estava com meus 12 anos de idade e comecei a sentir falta de dinheiro.
Quanto mais dinheiro eu tinha mais amigos aparecia. Fazia loucuras
para conseguir o que eu queria, sem pensar nas consequências que
mais cedo ou mais tarde estava por vir. Comecei a fumar drogas ao
frequentar as festas, sem pensar que tinha uma pessoa lá em casa que
sofria tanto por mim. Eu estava dominado pela ganancia e pelas
drogas, e pelos líquidos doces que exageradamente eu consumia, que
as vezes me tornava tão violento. Com 13 anos eu era tão popular!
Tinha tantas pessoas ao meu lado que eu pensava que era maioral.
Muitas dessas pessoas falavam que eram meus amigos e leais a mim,
tinha carros e motos. Era muita luxuria para eu poder desfilar pelas
ruas, não queria mais escutar minha mãe que sempre sonhou com
minha felicidade, para mim vencer na vida. Ela que esforçou tanto
para a sociedade me ver de igual para igual, uma mãe solteira como a
minha que já passou fome e muitas dificuldades para não ver seus 05
filhos de barriga vazia, e o que eu estou dando em troca? É só tristeza
e as mágoas, ela chega ver seu filho se matando aos poucos nas
drogas.
No prolongar dos tempos vim parar na cadeia e comecei a
perceber que toda beleza tem seu preço, quem dizia que eram meus
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amigos viraram as costas para mim. Hoje em dia vivo chorando na
prisão, e pedindo perdão para todas as pessoas que eu fiz sofrer, peço
desculpa para minha mãe e minha família, por eu não ser tudo que
sonharam, e peço para eles nunca dizer para mim que é tarde demais.
Wedson Tiburcio dos Santos.
53
O VALOR DA LIBERDADE
Eu diria que agora neste momento, não tenho a minha liberdade,
às vezes penso que sou um pássaro com as asas machucadas
esperando o tempo passar para me recuperar e poder voar. Hoje em
dia não posso fazer nada para poder desfrutar da minha liberdade,
porque estou pagando por um erro que cometi, não posso ir para as
festas, não posso levar minha namorada na praça para tomar um
sorvete, nem passear pelas ruas. Não posso abraçar meu filho, nem
dar o amor que ele merece. Porque eu não sou livre. Eu sou preso pela
mão do homem. Mas pela vontade de Deus eu sempre estarei livre,
todos os dias. peço ao pai que me livre deste lugar, quero viver com
liberdade que é uma das maiores riquezas que o homem possui.
Wedson Tibúrcio dos Santos
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DROGAS MATAM
Quando somos criança, não temos noção de quase nada na vida.
No passar do tempo as caminhos que descobrimos fazem nossos
destinos. Eu mesmo fui criado com meu primo e gostaria que vocês
voltassem no tempo comigo para rever uma história de vida diferente,
eu e meu primo éramos muitos amigos e entre nós não tinha segredos
e muito menos falsidades. Sempre que ele fazia algo de errado ficava
muito preocupado por que sua mãe, não podia ficar sabendo. Ainda
éramos duas crianças, a nossa infância era tão maravilhosa que nós
não queríamos ser adulto.
No decorrer do tempo fomos crescendo e conhecendo o prazer
que a vida nos oferece, meu primo já conhecia as drogas e a bebida.
Quando as drogas acabavam ele cometia furtos para sustentar o vicio.
Teve um dia que eu, meu primo, mais seus amigos, estava no
fundo do quintal da sua casa ouvindo o som e desfrutando do que era
proibido. Quando foi mais tarde escutamos um som mais alto na porta
da casa que estávamos, aí meu primo levantou para ver o que estava
acontecendo, foi quando viu que sua mãe tinha feito uma surpresa no
seu aniversário de 18 anos. O som alto era de um carro mensagens.
Ele se emocionou, seus olhos encheram de lágrimas, foi uma grande
festa.
No outro dia um amigo dele foi em sua casa chamar para fazer
um assalto, que era pra ganhar um dinheiro para eles matar a ressaca
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do seu aniversário. Marcaram a hora, pegaram as armas e os dois
foram mais não deu certo, e os homens pegaram eles.
Seu amigo menor de idade foi libertado e ele ficou preso, sua mãe
entrou em desespero. Toda nossa família ficou muito triste. Ele passou
01 ano e 06 meses atrás das grades. Duas viradas marcantes na sua
vida. Veja só. Depois de 2 meses ele falou para sua mãe que ia numa
festa, sua mãe pediu que não fosse , por que estava com
pressentimento ruim, mas não adiantou. Chegando lá, encontrou seus
amigos tomando uma cerveja e um inimigo do passado que pegou na
sua mão, e meu primo despediu-se deles dizendo que ia embora ,
quando ele virou as costas, essa pessoa sacou-se de uma arma e
disparou 5 tiros. Alguns meses na barriga de sua mãe, alguns anos
para entender a vida, um ano e seis para passar os obstáculos da vida e
com vinte anos nos deixou. Um minuto para morrer. Agora só restam
lembranças dolorosas. Infelizmente a estatística não era diferente,
quem envolvem com drogas, não se liberta, a vida é curta.
Eu nunca vou te esquecer, sinto muito a sua falta Tibério, nascido
em 18/ 09/1980 finado 21/05/2001. Que Deus te coloque em um bom
lugar, e que sua luz ilumine nossa família.
Wedson Tiburcío dos Santos
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O AMOR: ESPADA INVÍSIVEL
Amor, meu Amor, tu que fez de mim um sonhador, um viajante
no delírio de amar, que fizeste de mim uma criança, tamanha
inocência feliz a brincar. És que manda e demanda no meu coração,
sinto muita falta do calor da paixão.
Às vezes fico acordado nas madrugas e choro pelos cantos da
cela, sem ninguém perceber, choro por falta de carinho, e amor, falta
da minha família.
Toda visita minha mãe vem mim ver, mas quando ela vira as
costas e fala tchau pra mim , o mundo todo cai sobre minhas costas, e
fico muito triste , a espera por mais sete dias para matar minha
saudade das pessoas que amo.
O amor se fez falso infiel, e o que me resta é o rancor, a
insensata solidão que me devora calada por dentro do meu peito.
Wedson Tiburcio dos Santos
57
CÓDIGO PENAL
O código penal é cheio de brecha na lei, basta um defensor saber
trabalhar bem para que o seu cliente possa se beneficiar desta lei, que
é feita para todos, mas infelizmente só para quem tem condições de ter
um bom defensor.
Hoje, dentro de um presídio tem muito preso que furtaram Art.:
155. Outros roubaram art.: 157. Outros, homicídio culposo Art.: 121.
Outro por porte de arma Art.: 14 .Outros por estelionato Art.: 180.
Outros por formação de quadrilha Art.: 288. Outros por lesão
corporal, Art.: 299, estes crimes são simples. A pena, a cada 12 meses
puxa 2 meses por ano, e recebe o direito de ir para o regime semi-
aberto, e o preso pode puxar um sexto da pena para passar para o
regime aberto (O regime que vem só dormir no final de semana ).
Puxa mais um sexto e vai para o regime condicional (uma pena
simples) ex.: um preso pega 8 anos, e puxa 16 meses , vai para o semi
- aberto sobra 6 anos e 8 meses. Puxa 1 ano e 40 dias e sai para o
regime aberto que vem só ao final de semana. Sobrou 5 anos e 6
meses e 20 dias. Ele puxa 11 meses e 15 dias sobrou 4 anos, 7 meses e
15 dias para pagar a condicional. O regime hediondo e 4 meses por
ano, ou 8 meses por ano, dependia do Estado que o preso estava
puxando. O crime hediondo são os crimes de homicídio doloso
(aquele crime premeditado, a intenção de matar Art.: 121. Tráfico de
58
drogas Art.: 33. Estupro Art.: 213, 214 latrocínio, assalto seguido de
morte Art.: 157 parágrafo III.
Na lei velha este crimes se fossem em são Paulo ou Brasília ou
Rio de Janeiro um preso que pega 6 anos puxa 4 anos e saia pra
condicional.
Se fosse no Goiás poderia ter a regressão de regime e do seis
anos ele poderia puxar 2 anos e sair pro semi- aberto, 2 anos no
aberto, 2 anos condicional.
Isso são brechas da lei que só precisa de um bom defensor, hoje
esta matemática do hediondo acabou. 4 meses por ano agora é 2/5 da
pena, que é 4 meses e 26 dias por ano. Agora quando você ler este
texto , para e pensa se vale apena e mundo do crime.
Célio
59
A INJUSTIÇA SOCIAL
Dignidade é uma palavra fundamental na vida do ser humano.
Porque quando falta dignidade a vida perde o sentido e a tendência é
afundar cada vez mais. Hoje eu vi num programa de televisão uma
família, catadora de papel, que a vida pra eles, não era tão boa,
moravam num barraco porque eles não tinham banheiro, e nem tinha
um teto bom que em dia chuvoso, a família não podia descansar, não
tinha uma alimentação para matar a fome dos filhos com dignidade.
Isso é muita injustiça porque qual o pai de família que não que ver
seus filhos com a barriga cheia?
O Brasil é muito rico, mas muito injusto, porque os nossos
políticos prefere fazer leis que beneficiam só eles. Hoje no senado
estão falando de fazer uma lei que não pode candidatar políticos
corruptos, mas isso no Brasil é um sonho, que quando nós acordamos
vira um pesadelo, porque só os pobres têm direito nesta lei falha e
lenta, porque dizem que toda pessoa tem direito a um defensor
público, mas na prática isso não existe porque este que ganha pelo
Estado pra defender um preso ele ganha não para defender , mas para
assinar papel. Hoje no fundo de uma prisão 90% do presos tem estes
tipo de defensor que não tem interesse, nem um pingo de dignidade
para defender o seu cliente, mas se for olhar quando vence a pena
ainda tem que fazer muitas novenas , pro preso hoje aqui até o
defensor particular não mudou muito as coisas porque enquanto saber
60
que o seu cliente tem dinheiro eles ficam com muita promessa, até
secar a fonte, e para poder conversar com eles só Deus na causa, um
milagre está acontecendo.
Até que enfim está anunciando nos meios de comunicação, no
rádio, e na televisão que tem que dar uma chance pra um detento, que
perdeu a sua dignidade mas seria muito mais fácil dar uma segunda
chance pra um detento e muito mais fácil recuperar eles dando
oportunidade pra eles pagar sua pena enquanto ele está fechado
porque o Estado espera as pessoas pagar sua pena muito tem que
puxar 365 dias outros 3.650 dias ou mais e o Estado começa a
preocupar como reintegrar estes presos pra sociedade, mas quando um
preso sai do sistema ele acha as porta da sociedade fechada mas o
Estado dá uma ajuda pro preso, esquisita dá uma folha com umas Leis
mandamentos que não pode isso, não pode aquilo, mais o que os
presos queriam ouvir é que ele ia sair com um serviço garantido com a
sua carteira assinada, assim é o mínimo que o Estado poderia retribuir
a este preso, com uma vida nova pra que ele passasse e pudesse
recomeçar uma vida nova com a sua família, lamento dizer Brasil
escravo.
O Brasil de cor, o Brasil de injustiça, mais somos Brasileiros e não
desistimos nunca eu acredito que no nosso amanhã tudo pode mudar
mesmo sabendo que a tendência , é a cada vez mais arruinar , mais
tenho fé em Deus que ele é justo e nunca deixa os teus filhos
desamparados.
Célio
61
GÍRIAS DE PRISIONEIRO
Preso não tem estudo nem conhecimento, mais conversam por
dialetos diferentes, no popular e conhecido por “gírias”. Maneira
diferente de estorcer as palavras, o código penal, e combinado pelo
artigo de 171 estelionato. Na cadeia começa pelo o nome, meu nome é
Célio, mas todos me conhecem por Pernambuco. O meu primo chama
Fabrício e ele é conhecido por Nogueira, Quando você chega no
presídio pede licença pra entrar, e não precisa falar o que fez, já fala o
artigo que automaticamente todos vão saber o que a pessoa fez. Se o
boi estiver vazio pede licença pra pegar o boi e tirar o cheiro da rua. E
depois procura uma Jega pra poder descansar, mais nem sempre
encontra, ai eu tenho que ir pra praia e eu estou com fome e procurei
um irmão: a chepa aqui e boa?
Ele me falou: __ a brindada é só boi ralado zoizão e carne de
monstro. Aqui paga o marocos? __Paga cedo. Olha, hoje é o dia de
lavar a cela, se você não quiser lavar, eu pego por dois fragantes.
Dois fragantes? O que pode ser? Um caco de telha ou um mata rato,
ou uns pneus de fusca. Os irmãos de outra cela está ligando pra
mandar a teresa, pra mandar o moca, porque o nosso megulhão
queimou. Um irmão procurou se eu tinha uma gancha pra nós fazer
um jogo, uma peita ou uma bona pra nós fazer um jogo com o meu
bobo.
62
VOCABULÁRIO
Boi= banheiro
Jega= cama
Praia = piso
Bobo = relógio
Zoizão = ovo frito
Carne de mostro = carne de
pedaço preta.
Chepa e brindada= marmitex
Boi ralado = carne moída Caco
de telha = bolacha quadrada e
de sal
Mata rato = suco pequeno
Tereza = corda feita de lençol
Moca= café
Gancha= calça
Peita = camisa
Bona= boné
Pneu de fusca = bolacha de doce
de forma redonda.
Fragantes = pode ser um suco,
um miojo, ou bolacha
Célio
63
VIDA NA ROÇA
Trem bão é vida na roça, trem batuta de bão foi quando eu
morava na roça. No tempo antigo já quase esquecido, reza em casa,
festa de pouso de folia, casamento por atacado, assação de batata,
meninada espalhada pelo terreiro, muita lua clareando brincadeiras,
finca pião, ordem, anelzinho, esconder, biloca sentados do quintal
fazendo a gata parir. Programa de rádio, bichão grande resmungando
novas noticias da capital, coisa distante, gente mais velha contando
causos de assombração, lamparinas catingudas fazendo sombra nos
cantos. Pesadelo de noite mijo na cama. No terreiro, cebola e salsa
plantada numa bacia velha, num cocho cânfora e alecrim. Bicharada
para todo lado. O ninho batido na cerca, abriga passarinhada na
sombra, tratação de porco no mangueiro grandão, bicho redondo de
gordo, matação de capado, trabalheira o dia inteiro, mas faz choriço,
fazeção de lingüiça, vento na tripa, furação com espinho de laranjeira,
no quintal frutas demais, meninada bocuda com congestão,
esgubilança, danação. As roças o milho, a pamonha quente com queijo
e linguiça, colheita de feijão, varas batendo o dia inteiro, o tear velho
parindo no incessante rec rec e no vai e vem das canoinhas, panos
bonitos. O baile de noite, sanfona, viola, namoricos, a luz das
lamparinas catingudas, as romarias do muquém, procissões, chuvas,
viagem nos carros de bois.
Então isso meus amigos foi um pouco de mim, rapaz bobo, que
veio pra cidade, que me envolvi com uns caras de vida muito louca e
64
acabei com minha vida, e acabei sendo preso e sem previsão de
soltura.
Aqui onde estou agora só vejo grades por todos os lados. Há
meus amigos, como são tristes os dias meus, como eu me arrependo,
as vezes me dá um descabreio danado da vida, mas Deus é pai e não é
padrasto, tenho certeza que Ele vai me ajudar a sair desse inferno. Já
é madrugada e tarde, vou me deitar carregando a minha dor de homem
esmagado pelo destino.
Oscalino Rodrigues.
65
Célio
66
A VIDA DE UM FILHO DESOBEDIENTE
Às vezes um filho paga um preço muito alto pela a
desobediência de seus pais, eu pela minhas aventuras da vida, que o
mundo nos oferece, estou pagando um preço muito alto, o qual é ficar
privado da liberdade por tempo indeterminado pela lei do homem, eu
até com a idade de 33 anos passei a ser infiel a minha família, os meus
amigos e principalmente a Deus, e a minha vida um dia era tudo de
bom e eu não sabia dar valor, mais hoje com 38 anos, já arrependi
muito de tudo que eu já fiz de errado e jamais vou voltar a praticar
qualquer tipo de crime que o ser humano comete, não vale a pena, eu
fui condenado por crime de baixa periculosidade que é dito pelas leis
do homem, mais para Deus todos são crimes, e quem comete qualquer
coisa errada tem que pagar, já tem cinco anos que venho tentando
acertar com a justiça do homem mais sempre fazendo coisas erradas e
com isto a minha pena foi só aumentando, e só depois da minha
sentença, já tá muito alta que eu fui dar conta o que eu tinha adquirido
de ruim para mim mesmo, e fui ver que nada vale tanto dinheiro, se
não tem como, e com o que gastar, usar o dinheiro com a gente
mesmo, porque um homem na prisão é igual a todos os outros seja
rico, pobre, todos são iguais, são vistos, como uma manada de porcos,
só come na hora que eles trazem a comida e você só sai um pouquinho
pro sol na hora que eles querem, se você é um cidadão que nunca
esteve em uma prisão e tem curiosidade de saber como é, para você
67
não precisar ir visitar, é só você fazer um chiqueiro e por uma manada
de porco que você tem uma imaginação de como pode ser, a vida em
uma prisão, a diferença que você vai ter, é só que uns são ser humanos
e os outros são animais mais o modo de sobrevivência é um só.
Hoje graças a Deus, eu tenho a minha família ainda, que me
perdoou tudo que eu fiz eles passar, por minha causa, tanto sofrimento
que eles sofrem comigo até hoje aqui neste lugar, mais tem sido fortes
para me ajudar a cumprir a minha pena com a justiça.
Vicentin
68
Célio
69
MODOS DE RESPEITO
Tem um ditado muito certo que pra andar tem que dar o
primeiro passo, já foi dado a primeira largada para mudar o tratamento
do preso. O encarcerado não chega doente, mais amontoa pessoas
como lixo humano, e a sociedade esquece que são seus filhos que
estão morrendo, estão vindo preso, se não veio ainda pode vir. Porque
hoje a família esta muito desgarrada, já não deixa Deus entra nos seus
lares, hoje o pai não leva o filho pra casa de Deus, os pais tem que
fazer a sua parte porque se um dia ele entra em caminhos cheios de
espinhos, aquela caminhada quando era criança indo para casa de
Deus pode pesar em sua escolha de vida, por que aqui não tem meio
caminho, ou a direita ou a esquerda. O governo tem que investir mais
na educação, na saúde, ninguém pede pra vim pra cadeia, mais se veio
vamos tratar este problemas, muitos criticam o preso, mais a
sociedade não vem aqui ver que o preso tem capacidade de fazer
serviço de qualidade, hoje a melhor pessoa pra poder falar alguma
coisa é o diretor, o supervisor, o agente prisional, a nossa professora, a
nossa diretora, o nosso coordenador, que conhece as dificuldade do
sistema, hoje o modulo de respeito tem oito presos mas em
Niquelândia as empresas poderiam ser parceira e ajudar os
reeducando, mesmo aqui com o seu trabalho ajudar sua família a abrir
vaga para muitos irmãos que queira mudar de vida, o trabalho é o
melhor remédio , físico, emocional e moral. Tudo no começo tem
crítica, nós somos pioneiros neste projeto, mas o que mais me alegra é
ter dado um pouco de dignidade pros meus irmãos do semi-aberto, que
70
muitos presos amontoados num quarto tendo que trabalhar no outro
dia é difícil. Eu sei que ainda tem como melhorar muito. Nós
conseguimos fazer 36 jegas (camas) para presos que dormiam
amontoados numa situação crítica, dois até três presos num colchão.
Hoje melhorou, cada preso fica em jegas separadas tem a sua cozinha
para colocar sua garrafa de café, até para lavar roupa hoje tem tanque.
Hoje eu sinto feliz por ter ajudado a dar um pouco de
dignidade aos meus irmãos, eu não sou a favor de preso parado não,
todos aqui tem capacidade de fazer alguma coisa e ganhar um pouco
para tratar da nossa família.
Célio
71
MINHA HISTÓRIA
Meu nome é Sidney, tenho hoje 22 anos, eu era um rapaz
feliz, sou feliz até hoje, não foi por causa disso que vou deixar de
viver, na verdade. Mas nós vamos falar como aconteceu a fita, a
cadeia e como estou hoje. Eu era um rapaz normal, gosto de trabalhar,
já trabalhei em frutaria e lava jato, em Pit Dog e de servente. Há um
certo tempo eu casei, estava bem no meu casamento, nós era feliz.
Mais a um certo tempo as coisa não foi dando certo. Mais como eu
estava na igreja busquei mais em Deus para que não deixasse
acontecer nada com o meu casamento. Mas o ciúme foi tanto, que nós
nos separamos, foi ai que eu perdi a cabeça, nós estava morando em
outra cidade, eu não agüentei voltei pra Niquelândia, ela também veio,
ai que eu perdi a cabeça mais ainda, fiquei doido. Amava ela muito e
até hoje eu a amo, ai foi passando o tempo, conheci os amigos que
dizia que era amigo, me chamava para sair, eu ia, foi passando tempo,
foi batendo mais saudade da esposa. Quando os amigos mim chamou
para fazer uma fita, como eu estava com a cabeça a mil, topei, fui lá e
roubei, mais aconteceu errado. Saiu completamente errado, não devia
ter acontecido, eu sai correndo e fui embora, nunca mais conversei
com eles, mas foi passando o tempo, eu voltei com minha esposa, tava
voltando tudo ao normal, já tinha esquecido que um dia a casa tem que
cair, ela caiu depois da fita, eu fui preso. Quando a policia me prendeu
eles não falou por que eles estava mim prendendo, só queria conversar
72
ai fui. Quando o Delegado me chamou ele perguntou, ai que eu fiquei
sabendo que o Delegado chamou os outro dois, eles já tinha dado o
depoimento, não tinha jeito falei tudo, confessei também o que tinha
acontecido, quando foi mais tarde fiquei sabendo que a minha mãe e
minha esposa estava lá, fiquei bastante triste e sabendo que um dos
dois falou onde eu estava trabalhando, já que os policiais não sabiam
que eu estava junto na fita, dei o depoimento, quando foi mais tarde
mim levou para o presídio, quando cheguei na cela que era chamada
de celão, a sela do inferno, porque era muito ruim, a pior cela do
presídio, mais não tinha como ir para outra, os preso não mim
maltratou foram todos de boa comigo, fiquei mais tranqüilo, foi
passando o tempo, fui conhecendo todos. Alguns ficou meus amigos
entre aspas, alguns se fingia de ser amigo, não pode confiar em todos,
você tem que ser bastante esperto, tem que ser malandro, peguei
conhecimento. Foi passando o tempo, fui ao fórum, fui julgado a 20
anos, dois quinto, é bastante grande a sentença, mais coloquei a minha
vida na mão de Deus só ele pode mim ajudar. Foi passando o tempo
aprendi a fazer artesanato por que a gente não pode ficar parado, então
a gente fica doido, o tempo não passa. Algum tempo atrás minha
esposa arrumou os papeis do nosso casamento, eu casei quando estava
preso. Casei no civil, fiquei muito feliz, por isso foi passando o tempo
e conhecendo a cadeia mais ainda. O ruim da cadeia e as micoses que
da na gente por causa do mofo por que todos dormiam no chão,
colocava o colchão no chão e deitava, agora melhorou mais um pouco,
fizeram beliche de concreto,mesmo assim a cadeia é ruim. Tomem
muito cuidado para não vir pra cá não é bom, é ruim, eu vim preso
73
com 19 anos, estava na flor da juventude. Cuida-se, pense bem o que
você vai fazer.
Vou ser papai estou muito feliz por esta noticia to muito
orgulhoso por isso, então é assim, fique com Deus e minha história.
Deus ama todos nós igual, não é só porque você fez alguma coisa de
errado, é só se arrepender Jesus te Ama Muito e eu também.
Suelber Sidney Belos de Lemos
74
OBRIGADO SENHOR POR ESTE DIA A DIA
É o Senhor que nos da saúde e paz no coração. É da paz do
Senhor que todos nós precisamos para viver no dia a dia. É em Deus
que encontramos a verdadeira paz, só Ele nos da à vida eterna. Só é
possível quando seguimos os 10 mandamentos e colocamos em
prática diariamente a Bíblia Sagrada. Conhecer e viver os
ensinamentos que o Senhor nos deixa e segui-lo, para poder trilhar no
caminho da paz.
Quando pedimos algo a Deus, Ele conde a todos. Basta pedir
e o Pai realiza em nós a graça desejada e muito. É pena que às vezes,
quando estamos felizes, não percebemos que essa felicidade vem de
Deus e que somente Ele é a felicidade e tudo é dado por Ele. Se
seguissem o caminho que o Senhor nos ensina, o mundo seria um
paraíso de felicidade, não haveria sofrimento. Por isso quando for
pedir algo a Deus, primeiramente,deve pedir a sabedoria, porque é a
sabedoria que precisamos para conhecer o amor, somente Deus é o
amor. O amor é um sentimento de humildade, somente a humildade
vence o ódio que gera a guerra, que destrói a felicidade, é pelo o
caminho da humildade que reina o amor e o amor é um presente que
Deus dá para todos. Mais só será possível quando for capaz de colocar
em primeiro lugar o mandamento Sagrado, amar a Deus a acima de
qualquer coisa, lembrar sempre que Deus é a felicidade. Crer em Deus
e será feliz! Ele quem nos abençoa sempre, obrigado Senhor!
75
Só a te Deus Pai criador do Céu e da terra!
Senhor, guia nos no caminho da verdade, dá-nos sabedoria para
compreender o que certo e o errado. Guia senhor, para que sejamos
sábios, vivendo em vosso amor, amando o próximo, seguindo os
ensinamentos de Jesus. Senhor conduz a todos ao vosso amor,
seguindo fielmente os vossos mandamentos.
Guia Senhor a minha filhinha
Conduza-a no aprendizado
Da Sabedoria e abençoa todos
Que ama o próximo.
Que Deus proteja todos que estão em minha vida
Odair Domingos da Silva
76
A POLÍTICA
A política representa uma Lei que ao mesmo tempo tem uma
coletividade por atuar de várias formas. Seria que tão bom que os
representantes colocassem em pratica e procurando buscar e criar um
desenvolvimento democrático para o crescimento e o bem estar de
todo cidadão. Como seria importante que a política fosse a busca de
compromissos sérios e responsáveis, visando cumprir e retribuir tudo
aquilo que é sua finalidade. Mais as maiorias das vezes sabem que não
é assim, não agem para obter um bem comum, a corrupção existe e o
mal feitor estraga a perfeição. Sendo que é através dessa casa de Lei
que acreditamos que poderá acontecer homens de bens que poderá
agir e construir um País melhor, baseado na verdade e na construção
de igualdade nos deveres e direitos para todos, assim teríamos um País
que sonhamos um mar de rosas, o respeito e valor para todos.
Mais acreditamos na política e por ela que encontraremos uma boa
solução.
Valdivino Rosa de Souza
77
VERSOS DA PINGA
A pinga é filha do cão
e neta de satanás
junta 60 homem
e não faz o que a pinga faz.
Nasci na bacha da égua
Me criei no fim do mundo
Tirei carta de safado
Certidão de vagabundo
Subi pelo poleiro
E desci pelo pau cascudo
Só para de beber cachaça
Quando o copo cai o fundo
A chave da casa sumiu
E a minha mulher desapareceu
O delegado daqui é corno
E o homem daqui sou eu
78
Achei a chave de casa
Minha mulher apareceu
O delegado daqui é homem
E o corno daqui sou eu
Papagaio mata periquito,
Periquito mata jandaia,
O bicho que mata o homem
É um rabo de saia
Verde com verde,
rosa com rosa
Seu corpo é bonita
Tua boca é gostosa
Em encima daquela serra
Nasci água cristalina
Quem mexer com meu amor
Está na ponta da carabina
Vim de uma cidadezinha
Montado em seu pai
Campeando o seu avo
79
Seu pai é bom de sela
E seu avo é machador
Obrigado por ter lido esses versos, professores, alunos e pais do
Colégio Estadual Francisco Santiago
Dilvange
80
A MINHA VIDA
Eu Osvaldo Chaves Monteiro, casei em 1994, tinha um a vida
boa, até no ano de 2000. Por uma mentira fui preso. Por não ter
dinheiro, estou preso ate hoje, pagando por algo que fiz a minha vida
transformou em um pesadelo.
Apesar de tanta injustiça ainda sou um homem feliz, sei que não sou
rico, não possui bens matérias, mais sou rico de graças e bênçãos de
Deus. Tenho uma linda família. Hoje sei que bens materiais o único
tesouro coisa que me restou, a minha esposa e filhos. Hoje me
encontro com sérios problemas de saúde gravíssimos, a minha coluna
está quase entrevada tenho muitas dificuldades no andar. Não sei
como irei fazer para sair, pedir os meu recurso, estou doente e tenho 4
filhos para cuidar.
Osvaldo Chaves Monteiro
81
O DESENCONTRO / ENCONTRO DA VIDA
Sou um sertanejo, que nasci as margens do rio Tocantins na
fazenda São Jacob, Município de Niquelândia. A minha família nunca
teve condições de colocar os filhos na escola para estudar ou melhor,
não havia escola na região e nem tinha recursos, para ir até uma escola
loca vim para a cidade.
Algo que marcou forte mente a minha vida, foi quando tinha 11
anos de idade. Numa tarde ensolarada, sai alegremente para buscar
algumas canas caianas. No memento em que estava cortando as canas,
uma enorme cobra cascavel, pecou-me no pé direito. Após esse
acontecimento fiquei dezoito dias sem enxergar nada, a minha mãe
ficou muito aflita e pensou seriamente: - Meu filho perdeu a visão,
está cego. Foi quando ela se agarrou no impossível. Depois de muita
oração e muita fé em Deus; conseguimos um grande milagre, voltei a
enxergar!
Sempre morei na fazenda e continuamente trabalhei como
lavrador. Sou uma pessoa que temo pela sinceridade, honestidade,
sempre vive do meu trabalho. Depois de alguns anos, fui esquecendo-
se das coisas mais preciosas que aprendi quando criança. Apesar, da
serenidade, fui envolvendo com pessoas, que tentaram destruir-me,
em todos os sentidos. Hoje me encontro no presídio, mais tenho Deus
como o meu escudo. Toda a amizade e envolvimento que vive antes
na vida são passado e nessa nova pagina da minha vida, que ser uma
82
nova pessoa, resgatada no amor de Deus e por incrível, o que não
pode ter quando criança, e nem mesmo, quando adulto, estou vivendo
agora. Tendo oportunidade de estudar, realizando o meu sonho de
criança. Hoje, aqui no presídio, apesar de tudo, estou estudando e sou
feliz por essa dádiva em minha vida.
Samuel Francisco da Silva.
83
SONHO INESPERADO
A vida só tem senti quando há um encontro consigo
mesmo. Não importa quando e nem mesmo aonde. Fui preciso ser
preso, para perceber: quem sou eu? Os valores e dons especiais, que
só a mim, foi dado por Deus. As pessoas que realmente me amam e
nem dava valor e muito menos sentia. Era feliz e não sabia.
A dor que me consume, delata o me coração de dor, dor essa
que não se cura com remédio. O Único remédio que aliviará a minha
dor será no dia tão sonhado e desejado. O dia inesquecível! Que irei
passar pela porta da liberdade, livre e sendo uma nova pessoa.
Não desejo para ninguém, esse lugar. Aqui vivemos todo tipo
de sofrimento, que alguém possa imaginar. Além de ser privada da
liberdade, ausência da família, dos amigos e dava vida digna de um
ser humano. Mais apesar de todo esse pesadelo, reencontrei comigo
mesmo e estou buscando força e coragem para libertar do vício de
bebida alcoólica.
A certeza que hoje, tenho é essa: quando sair, quero ajudar a
minha família e dos valores em detalhes que antes não percebia, o
carinho de minha mãe e do meu pai. Sei, o quanto é bom ter uma
família. É a única certeza que temos na vida.
Três anos no presídio e nunca discutir com ninguém, fiz
grandes amigos, amizades que irei levar para sempre comigo. Graças
84
essas amizades tenho força para suportar e esperar o memorável dia da
minha saída.
Eliel França dos Reis.
85
A BOA CONVIVÊNCIA DO SER HUMANO
Como seria bom se todos fossem amigos um dos outros.
Dividindo as dificuldades, alegrias e conquistas. Assim,
compartilhando todos os momentos da vida.
Peço sempre a Deus que transforma a vida do homem,
principalmente aqueles que não conhecem a Deus e não busca a
sabedoria e prudência que vem dele. Pois ele poderá ser a nossa ampla
solução de resolver os nossos problemas, que as vezes parecem
impossível. O seu amor pode transformar e fazer tudo que é bom para
a nossa vida. Basta pedir com fé e confiar: pois ele e o nosso senhor
supremo, todo bem.
Eu, particularmente gosto de ser amigos das pessoas, tento
fazer-las felizes. Pois o Amor de Deus esta em todos os corações.
Somente amando uns os outros, será possível promover a paz!
Altielle
86
A VIDA DE UM DETENTO
A vida passa por muitas mudanças a partir do momento
em que entrei no portão do presídio. Os meus primeiros dias na
cadeia, me encontrei profundamente aborrecido, com tudo que
havia acontecido. A maior alegria que invadiu todo o meu ser foi à
primeira visita, que recebi da minha família.
Hoje sei que cada dia, passo aqui não é em vão. Porque,
sei que nasce dentro de mim, um novo jeito de ver a vida , de
relacionar tranquilamente com todos, tenho um novo olhar para as
situações que envolvem o meu viver. Sou muito feliz! A palavra de
Deus faz parte do viver.
João Batista Xavier Filho.
87
LEMBRANÇAS
Um dia estava eu, Nega e a minha filha. E nós vivíamos uma vida
feliz! Mas, eu tinha que planta uma semente de pimenta. Comecei a
enche o corpo de terra preparada e a minha filha perguntou:
- Pai o que o senhor está fazendo?
Eu disse: - Filha o papai está enchendo os copos de terra para plantar
pimentas.
Ela disse-me sorridente:
- Pai eu quero também plantar com o Senhor.
Disse a ela: - Filha, esta terra tem formigas, mas ela insistiu, até
chegou a chorar. Naquele momento a Nega, estava fazendo almoço.
Quando ela ouviu o choro da nossa filha, veio saber o que estava
acontecendo. E disse-me:
- O que está acontecendo com a Geovana?
Expliquei o que estava acontecendo e ela insistiu para eu deixar a
menina colocar a terra no copo. E assim fiz:
- A deixei ela encher os copos descartáveis. Estava sendo um
momento especial quando disse a ela:
- Filha, minha filha, enche os copos de terra e o papai plantarem as
sementes.
88
Quando a Geovana olhou e viu os 40 copos para encher, eu comecei a
plantar as sementes e a minha filha olhou para mim, e falou chorando:
- Mãe o meu pai quer, que eu encho todos esses copos! Deixou e foi
embora. No momento, achei tudo muito engraçado, pensei que a
minha filha estava correndo das formigas. Percebeu que a brincadeira
estava virando serviço.
Filha o papai te ama muito!
Célio
89
AVIÃO
Um dia resolvi comprar uma carroça, e ninguém estava gostando
da minha idéia, mesmo assim continuei com essa idéia.
A minha esposa já estava pensando a vida: - o meu cachorro
não gosta de cavalo. Sendo que a minha filha estava alegre por causa
do cavalo.
Quando arriei a carroça e a levei no colégio particular. Lá estava os
pais dos alunos chegando de carro. Eu e a Geovana chegando de
carroça. Foi normal na chegada. Quando foi a tarde as crianças logo
aproximaram do cavalo e para tirar fotos.Quando saímos a minha
filha perguntou:
- Pai, como chama o cavalo do senhor? Eu não sabia o nome dele,
mais pensei logo. Mo momento, quando percebi que ele era muito
lento. Foi quando, pensei logo no nome. Avião. No outro dia a tarde ,
quase todas as crianças, já sabiam o nome do cavalo.
Sei que o pai da Geovana não tinha nem uma Ferrari e nem um
fusquinha, mais tinha algo diferente, que deixava, a minha filha fica
toda fofinha, por isso o papai dela tinha um cavalo chamado avião.
Célio
90
UM NOVO SENHOR
Descobri que a minha vida desde os dezessete anos, vive
sempre no presídio. Não contei muito com a sorte! Morei mais na
cadeia do que na rua. Nesse momento, o que eu, mais gostaria: seria
ser uma pessoa livre, para viver em liberdade com a minha família.
Há muito sofrimento aqui neste lugar. Sei que errei, por isso
preciso pagar pelos meus erros. Tenho uma certeza. A partir do
momento, quando deixar este lugar. Com a graça de Deus não
cometerei mais os mesmos erros.
Sou eternamente grato a Deus, por proteger a minha vida. Foi
aqui no presídio que aprendi a pensar melhor na minha vida, dar valor
no dom da vida, descobri o que é viver.
Fui uma pessoa cheia de vícios, cachaça, drogas. Hoje tem uma
única certeza. Não quero esse tipo de vida para mim e para a minha
família. Tenho fé em Deus , que estarei recuperado e serei uma nova
pessoa. Hoje, é essa convicção que quero e irei reconstruir o meu
viver.
Edivaldo Madureira Taveira
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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ganhar por causa do crime no Estado de São Paulo. Fórum de Debates,
Rio de Janeiro: IPEA, SESC.
Sites que tratam dos assuntos da criminalidade.
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Célio
APOIO:
PROFESSORA SIMONE PIRES GOMES
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