Meditações 5 e 6 Aula 11. 1. Recapitulação Descartes desenvolve um projeto arriscado

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Meditações 5 e 6Aula 11

1. Recapitulação

• Descartes desenvolve um projeto arriscado

• Descartes desenvolve um projeto arriscado

• Procurar pela verdade sem se basear em um fundamento prévio

• Descartes desenvolve um projeto arriscado

• Procurar pela verdade sem se basear em um fundamento prévio

• Esse projeto se inicia, justamente, pela colocação em dúvida do antigo fundamento

• Esse projeto arriscado é parcialmente bem sucedido

• Descobriu a primeira verdade na Segunda Meditação

• Das Meditações 3 a 6, Descartes passará a procurar encontrar outras verdades

• Das Meditações 3 a 6, Descartes passará a procurar encontrar outras verdades

• Isto é: estabelecer a verdade daquilo que é outro que o Cogito

• Das Meditações 3 a 6, Descartes passará a procurar encontrar outras verdades

• Isto é: estabelecer a verdade daquilo que é outro que o Cogito

• Problema: se é o Cogito que estabelece a verdade do que não é ele…

• Das Meditações 3 a 6, Descartes passará a procurar encontrar outras verdades

• Isto é: estabelecer a verdade daquilo que é outro que o Cogito

• Problema: se é o Cogito que estabelece a verdade do que não é ele…

• Como saber que, efetivamente, trata-se de algo do outro que ele?

• Na terceira Meditação, Descartes descobre a relação íntima entre o Cogito e Deus

• A ideia de Deus constitui o horizonte de infinitude a partir do qual penso

• Na quarta Meditação, Descartes descobre o critério que permite generalizar a verdade:

• Na quarta Meditação, Descartes descobre o critério que permite generalizar a verdade:

• Clareza e distinção

• Na quarta Meditação, Descartes descobre o critério que permite generalizar a verdade:

• Clareza e distinção

• Tudo aquilo que penso clara a distintamente é verdadeiro

• Na quinta Meditação, Descartes realizará uma prova da existência de Deus

• Na quinta Meditação, Descartes realizará uma prova da existência de Deus

• Não se trata, como na terceira, de uma prova de sua íntima associação à minha natureza

• Na quinta Meditação, Descartes realizará uma prova da existência de Deus

• Não se trata, como na terceira, de uma prova de sua íntima associação à minha natureza

• Mas da prova de Sua existência

• Na quinta Meditação, Descartes realizará uma prova da existência de Deus

• Não se trata, como na terceira, de uma prova de sua íntima associação à minha natureza

• Mas da prova de Sua existência

• Veremos que isso permitirá que, na sexta e última Meditação, a investigação cartesiana recupere o mundo

2. Retomada da Meditação

Restam-me por investigar muitas coisas sobre os atributos de Deus e muitas sobre mim mesmo e a natureza de minha mente, que eu talvez retome em outra ocasião.

Agora, nada parece mais urgente - depois de me dar conta do que devo evitar e do que devo fazer para chegar à verdade - de que me esforce por safar-me das dúvidas em que caí nos últimos dias e veja se pode haver algo certo no que se refere às coisas materiais.

Na verdade, antes de indagar se tais coisas existem fora de mim, devo considerar as suas ideias, na medida em que estas estão em meu pensamento, para ver quais delas são distintas e quais, confusas.

é patente que tudo o que é verdadeiro é algo, e já demonstrei amplamente que tudo o que conheço claramente é verdadeiro

3. A Ideia de Deus

É certo que encontro em mim a […] ideia de um ente sumamente perfeito, não menos do que em mim encontro a ideia de qualquer figura ou de qualquer número.

Entretanto, embora eu não possa decerto pensar Deus a não ser existente, assim como também não posso pensar o monte sem o vale, contudo, por ter de pensar o monte com o vale não se segue que haja algum monte no mundo.

Entretanto, embora eu não possa decerto pensar Deus a não ser existente, assim como também não posso pensar o monte sem o vale, contudo, por ter de pensar o monte com o vale não se segue que haja algum monte no mundo. Da mesma maneira, por ter de pensar Deus como existente não parece seguir-se que um Deus exista.

Entretanto, embora eu não possa decerto pensar Deus a não ser existente, assim como também não posso pensar o monte sem o vale, contudo, por ter de pensar o monte com o vale não se segue que haja algum monte no mundo. Da mesma maneira, por ter de pensar Deus como existente não parece seguir-se que um Deus exista. Pois meu pensamento não impõe nenhuma necessidade às coisas

A ideia de existênciaE, do mesmo modo que me é permitido imaginar um cavalo alado, apesar de cavalo algum possuir asas

A ideia de existênciaE, do mesmo modo que me é permitido imaginar um cavalo alado, apesar de cavalo algum possuir asas, talvez eu também possa pensar por ficção a existência de Deus, apesar de não existir Deus algum

• A existência é por enquanto apenas uma ideia

Não, ao contrário, aqui, sob a aparência de uma objeção, esconde-se um sofisma.

4. A prova da existência de Deus

Não, ao contrário, aqui, sob a aparência de uma objeção, esconde-se um sofisma. Pois, de que não posso pensar um monte sem vale não se segue que monte e vale existam em algum lugar

Não, ao contrário, aqui, sob a aparência de uma objeção, esconde-se um sofisma. Pois, de que não posso pensar um monte sem vale não se segue que monte e vale existam em algum lugar, mas apenas que, quer existam, quer não, monte e vale não podem dissociar-se um do outro

• Clareza e distinção: a “montanha” pertence “vale”, mas não “existência”

Ao passo que, por eu não poder pensar Deus senão existente segue-se que a existência é inseparável de Deus

Ao passo que, por eu não poder pensar Deus senão existente segue-se que a existência é inseparável de Deus e que, por conseguinte, ele existe verdadeiramente

• Clareza e distinção: a “Deus” pertence “existência”

• Deus existe, e não nega o critério: ele não é enganador!

Não que meu pensamento tenha tal efeito ou imponha alguma necessidade a coisa alguma

Não que meu pensamento tenha tal efeito ou imponha alguma necessidade a coisa alguma, mas, ao contrário, é a necessidade da própria coisa, isto é, a existência de Deus que determina meu pensamento

Não que meu pensamento tenha tal efeito ou imponha alguma necessidade a coisa alguma, mas, ao contrário, é a necessidade da própria coisa, isto é, a existência de Deus que determina meu pensamento: tenho a liberdade de imaginar um cavalo com asas ou sem asas, não a de pensar um Deus sem existência (isto é, um ente sumamente perfeito sem a suprema perfeição)

5. A Recuperação do Mundo na Sexta Meditação

Resta-me examinar se as coisas materiais existem

• Descartes retomará a sequência das dúvidas que desenvolvera

A prova da existência do mundo

[Deus] não me deu nenhuma faculdade para o reconhecer e, ao contrário, deu-me uma grande propensão a crer que elas [as ideias das coisas sensíveis] são emitidas das coisas corporais

A prova da existência do mundo

• Sou criado por Deus, que não me deu o poder de conhecê-Lo

A prova da existência do mundo

• Sou criado por Deus, que não me deu o poder de conhecê-Lo

• Possuo apenas a marca de meu pertencimento a Ele

A prova da existência do mundo

• Sou criado por Deus, que não me deu o poder de conhecê-Lo

• Possuo apenas a marca de meu pertencimento a Ele

• Deus, que não é enganador, me deu o poder de conhecer as coisas corporais

A prova da existência do mundo

• Sou criado por Deus, que não me deu o poder de conhecê-Lo

• Possuo apenas a marca de meu pertencimento a Ele

• Deus, que não é enganador, me deu o poder de conhecer as coisas corporais

• Logo…

Prova por absurdonão vejo razão por que não o possa entender enganador, se essas ideias forem emitidas de alhures que não das coisas corporais

• Deus (potente e bom) foi provado na meditação 5

Prova por absurdonão vejo razão por que não o possa entender enganador, se essas ideias forem emitidas de alhures que não das coisas corporais. Por conseguinte, é preciso confessar que as coisas corporais existem

• Se as ideias que tenho das coisas exteriores não viessem delas, Deus seria enganador

• Logo, as coisas corporais existem

6. O Homem

Noto, em seguida, que a mente não é afetada imediatamente por todas as partes do corpo, mas só pelo cérebro, ou talvez até somente por uma pequena parte deste, isto é, aquela onde dizem estar o sentido comum

• Não sou consciente imediatamente de todas as partes de meu corpo

• Método reducionista: as conheço mediante uma parte sua, o cérebro

• E provavelmente apenas por uma parte diminuta

quando sinto uma dor no pé, a Física me ensinou que essa sensação se produz por obra dos nervos esparsos pelo pé, os quais se estendem dali até o cérebro, à semelhança de cordas, os quais, quando puxados no pé, puxam também as partes interiores do cérebro, nas quais eles terminam, nelas excitando um certo movimento que a natureza instituiu para afetar a mente com uma dor sentida como existente no pé

• O mecanismo do corpo é instituído para fornecer informações ao cérebro

• O mecanismo do corpo é instituído para fornecer informações ao cérebro

• Não sou consciente da dor do pé

• O mecanismo do corpo é instituído para fornecer informações ao cérebro

• Não sou consciente da dor do pé

• Apenas que existe uma dor no pé: isso explica o membro fantasma

quando os nervos do pé sofrem um movimento veemente e maior do que o habitual, esse movimento estende-se a partir deles, pela medula da espinha dorsal, até atingir as partes internas do cérebro, de onde transmite um sinal à mente para que ela sinta algo, isto é, sinta uma dor como existente no pé, a qual excita a mente a fazer quanto possa para remover essa causa nociva

• Essa instituição explica a estruturação do corpo

• Nervos, medula espinhal, cérebro

Em verdade, Deus poderia ter constituído a natureza do homem para que esse movimento no cérebro mostrasse à mente algo de todo diverso, isto é, ou ele mesmo, na medida em que ocorre no cérebro, ou no pé, ou em algum dos lugares intermediários, ou, enfim, em uma outra parte qualquer do corpo. Mas nenhuma outra coisa conduziria à conservação do corpo tanto quanto o que ele a faz sentir

• Deus poderia ter feito que a dor no pé:

• Deus poderia ter feito que a dor no pé:

• Fosse sentida como uma dor no cérebro

• Deus poderia ter feito que a dor no pé:

• Fosse sentida como uma dor no cérebro

• Ou como uma dor em outro lugar

• Deus poderia ter feito que a dor no pé:

• Fosse sentida como uma dor no cérebro

• Ou como uma dor em outro lugar

• Mas essa instituição é a melhor para minha preservação

as dúvidas hiperbólicas dos últimos dias devem ser rejeitadas como dignas de riso, principalmente a maior delas, sobre o sono, que eu não distinguia da vigília

• O cogito pode pensar o “argumento do sonho” como válido

• Mas para o Homem, ele é “risível”

Mas, porque a necessidade das ações da vida nos obriga frequentemente a nos determinar e nem sempre concede uma moratória para que se faça uma investigação tão cuidadosa quanto a presente, é preciso confessar que a vida humana, no que se refere às coisas particulares, está frequentemente sujeita a erros e que se deve reconhecer a fraqueza de nossa natureza

• As investigações aqui desenvolvidas são algo raro

• As investigações aqui desenvolvidas são algo raro

• A vida não fornece muitas oportunidades para considerar calmamente a distinção entre verdade e erro

• As investigações aqui desenvolvidas são algo raro

• A vida não fornece muitas oportunidades para considerar calmamente a distinção entre verdade e erro

• Nossa vida é sujeita ao erro devido à fraqueza de nossa natureza

• As investigações aqui desenvolvidas são algo raro

• A vida não fornece muitas oportunidades para considerar calmamente a distinção entre verdade e erro

• Nossa vida é sujeita ao erro devido à fraqueza de nossa natureza

• Mas os princípios encontram-se estabelecidos!

é ao utilizar apenas da vida e das conversações ordinárias, e se abstendo de meditar e estudar as coisas que exercitam a imaginação, que se aprende a conceber a união da alma e do corpo

Carta à Princesa Elizabeth da Boêmia, 28 de junho de 1643