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MEMÓRIA DO GARIMPO DE DIAMANTES DO TEPEQUÉM: UMA NOVA PAISAGEM
NASCIMENTO, CLAUDIA HELENA CAMPOS (1); LIMA, EDNA TALLITTA DE MACKDEY DINIZ (2); SILVA, ERICK LIMA (3)
1. Universidade Federal de Roraima. Departamento de Arquitetura e Urbanismo
Endereço Postal: Av. Cap. Ene Garcez, 2413 Bloco 5 – Departamento de Arquitetura e Urbanismo Bairro Aeroporto – Boa Vista/RR – CEP 69310-000
E-mail claudia.nascimento@ufrr.br
2. Universidade Federal de Roraima. Departamento de Arquitetura e Urbanismo Endereço Postal: Av. Cap. Ene Garcez, 2413 Bloco 5 – Departamento de Arquitetura e Urbanismo
Bairro Aeroporto – Boa Vista/RR – CEP 69310-000 E-mail tallittadiniz@hotmail.com
3. Universidade Federal de Roraima. Departamento de Arquitetura e Urbanismo
Endereço Postal: Av. Cap. Ene Garcez, 2413 Bloco 5 – Departamento de Arquitetura e Urbanismo Bairro Aeroporto – Boa Vista/RR – CEP 69310-000
E-mail ericklimarquitetura@gmail.com
RESUMO
A história do garimpo na região amazônica foi edificada sobre o princípio de que a atividade possui cunho extremamente degradante para o ecossistema, incluindo-se as relações sociais que se estabelecem em torno das áreas de garimpo. Normalmente os registros, históricos e jornalísticos, se estabelecem a partir de dados quantitativos do quadro da exploração e suas consequências, sem se dar atenção para a dimensão social, que envolve pessoas de várias origens e que, por sua vez, passam a contribuir com o cenário cultural local. O Tepequém foi cenário principal do período econômico mais importante para o Estado de Roraima, caracterizado pela exploração de ouro e diamantes. O lugar ficou marcado pelos vários cursos de rios alterados pela lavra, mas também pela presença de uma população que mantém as referências dessa história social: os restos de maquinário, automóveis e outros equipamentos, alçados da antiga delegacia que se recompõem no olhar da memória daqueles que viveram ou frequentaram a Vila do Cabo Sobral, principal centro das relações sociais nos tempos onde os diamantes do Tepequém eram moeda corrente. O presente artigo constitui parte das discussões do grupo de estudo sobre o Tepequém, que resultará em Trabalhos de Conclusão de Curso em Bacharelado em Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de Roraima, em andamento, que visa propor a elaboração de projetos para a estruturação do Museu do Garimpo no Tepequém/RR.
Palavras-chave: Paisagem Cultural; Tepequém/RR; garimpo de diamantes.
3° COLÓQUIO IBERO-AMERICANO PAISAGEM CULTURAL, PATRIMÔNIO E PROJETO - DESAFIOS E PERSPECTIVAS Belo Horizonte, de 15 a 17 de setembro
Descrevendo uma paisagem
Espaço físico e mítico
Estas histórias acontecem em um lugar de muitas estórias. A serra do Tepequém situada aos
limites da Venezuela e o Estado de Roraima, em uma zona que, bióticamente, varia entre
campos e floresta virgens, tem aos 1200 m de altitude o seu ponto mais alto e localiza-se a
aproximadamente 200 km a noroeste da capital, a cidade de Boa Vista/RR. Geograficamente
encontra-se entre o rio Amajarí, ao norte, e a ilha de Maracá, a sul.
A serra do Tepequém deve seu nome a uma origem incerta. Tradicionalmente registra-se que
o seu nome é originado das palavras indígenas "Tupã queem" que quer dizer "Deus do fogo"
por assim se localizar sobre um vulcão extinto há alguns milhares de anos. Esse vulcão mítico
e zangado, que queimava as roças das malocas próximas, só foi aplacado com a oferenda de
três belas índias virgens, cujas lágrimas se tornaram diamantes. Outras fontes apontam para
a figura de Robert Hermmam Schomburgk (1804-1865) que, patrocinado pela Royal
Geographical Society em 1830, visava estabelecer os limites do território da colônia inglesa na
América do Sul. Schomburgk usou a palavra “top” para descrever as serras e, para a maior
delas ele denominou “serra-rei”, isto é, “Top-king”, que passou a ser, na boca dos caboclos da
terra, “Tepe-quém”. É um gigantesco bloco rochoso de forma tabular e litologia predominante
arenítica, o que na região denomina-se de tepui (tepuyes), termo indígena do grupo Pemon,
usado para denominar as montanhas encontradas na Gran Sabana venezuelana e
proximidades, que apresentam forma semelhante a uma mesa. Também ao termo tepui se
considera com uma variação do top/tepe. A serra localiza-se em uma formação geológica
muito antiga que remonta ao pré-cambriano, e que dadas as suas características apresenta
uma rica formação mineral, por isso vem desde o século XIX, provocando a curiosidade e a
cobiça de muitas expedições.
O tepui da serra do Tepequém tem seu topo cortado por um vale que abriga duas lindas
cachoeiras – Paiva e Funil – e é fronteado por três pequenas serras. A mesma cosmogonia
macuxi 1 que, explica a existência dos diamantes, traduz que as três pequenas serras
simbolizam as três virgens, e que as duas lindas cachoeiras mostram o caminho por onde
percorreram suas lágrimas, motivo da alegria dos futuros garimpeiros e da atual degradada
situação do local.
1 Macuxi: povo de filiação lingüística Karíb, que habita a região das Guianas, especialmente entre as cabeceiras
dos rios Branco e Rupununi, território atualmente partilhado entre o Brasil e a República Cooperativista da Guiana.
3° COLÓQUIO IBERO-AMERICANO PAISAGEM CULTURAL, PATRIMÔNIO E PROJETO - DESAFIOS E PERSPECTIVAS Belo Horizonte, de 15 a 17 de setembro
Figura 1:Potencial turístico da serra. As belezas naturais: paisagens e cachoeiras; a pedra do índio; a
visita aos garimpeiros ainda na ativa na extração manual; a flora; o artesanato e os esportes de
aventura (FOTOS: Edna Tallitta Diniz, 2014).
Quando a história começa
Os registros a respeito da origem do garimpo e povoamento do Tepequém são cercados de
incertezas e desencontros históricos. Alguns dos fatos relevantes para a forte migração e
consequentemente a criação da comunidade, encontram-se documentados nas Crônicas do
Rio Branco, documento escrito pelos monges beneditinos residentes na região de Boa Vista
em meados de 1936. Dom Alcuino Meyer relata a respeito de um experiente garimpeiro
paraibano Severino Pereira da Silva, que vivia na região do Cotingo: “Severino foi ao Rio de
Janeiro de avião levando muitos quilos de ouro e uma grande quantidade de diamantes no
ano de 1936” (Rodrigues, 2009; Vieira, 2009, p.86 e 87), fazendo assim a propaganda do
potencial mineral da serra, incentivando que pessoas de várias regiões do Brasil,
principalmente do Norte e Nordeste viessem a tentar fazer fortuna nos garimpos de Roraima.
No mesmo documento encontra-se também o relato de uma das primeiras expedições para
exploração do minério, datada de 1930, quando chegou ao Tepequém o geólogo guianense
Mezach Breunstz, conhecido como Bruston, natural da, na época, Guiana Holandesa, hoje
Suriname, acompanhado de dois homens. Estes chamados a serra por uns dos fazendeiros
da região, Antônio Piauí, financiador da expedição e que buscava afirmações a respeito da
existência de diamantes na região.
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O mesmo fato também é atestado em relatos distintos (Fiorotti, s/d; Batista Neto, 2013, p.31)
dados pelos garimpeiros conhecidos como Sr. Antônio Bezerra Nunes (Seu Bezerra) e Sr.
João Araújo de Sousa, esse último conhecido no garimpo por “Cuia”. Os garimpeiros contam:
O Bruston era o explorador daqui, né. Trabalhei com ele muito, bem ali nós
morava. Quem mandou ele vim foi Antônio Piauí. Antônio Piauí era um
fazendeiro daí, morava na beira do Cararual2, pai do Alberto Piauí. Aí o Piauí,
o Antônio Piauí, convenceu ele, o Bruston pra vim explorar o Tepequém.
Veio, fez o primeiro rancho. O rancho acabou aí no meio da mata, aí ele
voltou, foi buscar outro rancho, né. Nesse tempo ainda tinha maloca3, logo na
entrada da boca da mata, onde hoje é no final da vila. Ainda tinha uns
caboclos lá quando ele veio, tinha quatro malocas lá. Pois é, eles vieram a
primeira vez, o rancho acabou, eles voltaram, né, aí pegaram outro rancho e
vieram aí chegaram aqui dentro. Tocaram fogo aí na serra, já chegando na
beira do Paiva. Quase esse fogo queima eles. Era muito serrado. Era juquira,
juquira4 mesmo, só ía no terçado e passava o dia todinho e só arrancava um
pedacinho, aí eles tocaram fogo lá na serra.
Tocaram fogo, não podiam volta por causa do fogo e correr não podiam, o
fogo chegando... até que alcançaram o Paiva, que foi o que salvou eles, o
Igarapé do Paiva. Isso tudo ele me contou, né. Eram quatro inglês, eu me
lembro do nome de três. Só tem um que eu não me lembro. Era o Bruston, era
chefe; o Riba, era o companheiro dele, e Johnson. Agora o outro eu não
lembro não, tinha o apelido de Jacamim, chamavam ele de Jacamim. Era um
inglês alto, fino assim como o senhor, fosse até mais alto que o senhor.
Pois é, foi os quatro, o explorador. Foi em 1936. Aí voltaram, rapaz, pra você
ver só, o Tepequém, desde o começo, que ele é assim meio atrapalhado, né.
Chegou lá e ele entregou o produto, o minério, produto que ele tinha do
garimpo, da pesquisa, ouro e diamante. (relato do Sr. Antônio Bezerra Nunes,
dito Seu Bezerra, em Batista Neto, 2013)
Aí esse nego velho Bruston, explorador do garimpo, velho bom, medonho,
estrangeiro, era da Guiana Holandesa e a mulher dele da Guiana Francesa.
Aí Antônio Piauí aliou ele (isso aqui era do Antônio Piauí) pra ver o que tinha
aqui dentro, explorar garimpo. Ele passou três meses rodiando a serra,
explorando essas grotas todas, o Bruston, tá escutando? Aí achou a subida,
2 Cararual: Maloca do Cararual, área ocupada por índios da etnia Yanomami, no município de Normandia/RR.
3 Maloca: termo local para denominar pequena aldeia indígena, em torno de uma única construção.
4 Juquira: vegetação herbácea, difícil de ser retirada; expressão popular que indica “estar em situação difícil”.
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ali o pau liso5. Eu sei tudo porque ele me mostrou. Aí naquela grotinha ali,
onde eu morava primeiro. Ali perto onde o Pedro mora tinha uma pedreira lá e
eles pegaram logo uma pedra de diamante de 5 quilates. Aí o nego velho, o
Bruston, subiu a serra e desceu pro Cabo Sobral, sozinho. Aí chegou no
Cabo Sobral, aí aquelas cachoeiras, tudo limpinha, tava assim: só diamante.
Aí chegou com meio litro cheio. “Achamos o minério, é rico, olha aqui”. Aí
levou lá pro Antônio Piauí. “É minério, diamante, ouro tem é pouco, e agora,
Bruston, como é que faz pra registrar esse garimpo, esse local pra nós?”
(relato do Cuia, em Batista Neto, 2013)
Após esses fatos iniciou-se, efetivamente, entre os anos de 1936 e 1937 o “boom” do garimpo
de diamantes da serra do Tepequém, povoando o lugar com a esperança do “bamburro”6,
vindo de toda parte do país.
Memória orgulhosa
Territórios e fronteiras
A memória dos grandes ganhos do período, também está naqueles que promoveram o
garimpo na região. A estes, associa-se o feito heroico de desbravamento e promoção do
crescimento econômico de Boa Vista, além do termo “garimpeiro”, como alcunha honorífica. A
memória do garimpo do Tepequém se materializa nos monumentos que lhe representam.
Cabe aqui uma separação, o estabelecimento de uma fronteira clara, porém invisível – aquela
que separa o cenário do garimpo daquele construído pelo crescimento econômico que este
gerou – entre Tepequém e Boa Vista.
Uma visita ao Tepequém, quer na Vila, seu centro, quer nos espaços das antigas corruptelas
do Paiva ou Cabo Sobral, é suficiente para identificarmos lugares de memória (Nora, 1993)
caracterizados por ruínas, antigos equipamentos, velhas carcaças de aviões, Willys e Jeeps.
Estes marcos são pontos de referência que interligam com a grande árvore onde, contam,
eram cravados a tiros de espingarda os diamantes de pequenos quilates sob o grito de “vai
crescer!”7, desprezados ante à oportunidade diária de mais e maiores pedras.
5 Pau liso: um acesso sobre o rio na base da serra, onde uma tora de madeira fazia a função de ponte.
6 Bamburro: de “bamburrar”, enriquecer rapidamente, especialmente por encontrar grande quantidade de ouro ou
pedras preciosas no garimpo.
7 Segundo Izabel S. Brasil, essa era a prática de Bento Brasil no período mais opulento do garimpo, nas décadas
de 1940-1950.
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Remanescente desta época encontra-se, em local de destaque na Praça do Centro Cívico da
capital de Roraima, “O Monumento aos Garimpeiros”, construído na década de 1960, na
administração do governador Hélio Campos. O Monumento mostra um homem garimpando
com sua bateia. A escultura foi projetada pelo topógrafo e auxiliar de engenheiro Walter de
Mello Bastos e pelo desenhista e artesão Francisco da Luz Moraes, mais conhecido como
Japurá.
Recém chegado em Boa Vista e eleito o primeiro governador do antigo Território Federal de
Roraima, Hélio Campos8 procurava vertentes promissoras ao desenvolvimento econômico do
seu pleito. Na época as opções eram as grandes fazendas de gado de leite e corte
espalhadas por todo o território, e a exploração do garimpo de ouro e diamantes, feito
manualmente. Após estudar as opções, Hélio Campos resolveu que o caminho que lhe traria
mais frutos seria o da extração mineral. Unindo então à responsabilidade de construir a
cidade, encomendou a construção de um marco do desenvolvimento, nascendo assim em
frente ao atual Palácio do Governo “Senador Hélio Campos”, o monumento que homenageia –
como dito em muitos documentos – “os responsáveis pelo desenvolvimento do estado”.
(Espiridião, 2011.)
Cravados na placa de inauguração, aos pés do monumento, encontram-se os nomes de
poucos dos garimpeiros de quem se conta história, como: Mochão, Levino de Oliveira, Nego
Pina, Velho Barrudada, Luiz Oliveira, Zé Ferreira, João de M. Rodrigues, Wando Preto, Zelio
Mota, Lídio Sousa, Jonas Dias, Waldemar Pisa Miúdo, Mariano Vieira, Rubens Lima (pai), Zé
da Russa, Honorato Lima, Vicente Araújo, Zé Queiroz, Paraíba Pilão, Zé Francisco, Crisnel
Ramalho e Onésimo Cruz. Estes poucos nomes estão distantes de representar ou de valorizar
verdadeiramente a importância que o garimpeiro e sua cultura tiveram para o Estado de
Roraima, e representa menos ainda as aspirações e visões dos garimpeiros que buscam seu
lugar de memória junto à história do desenvolvimento do estado.
8 Hélio da Costa Campos (Rio de Janeiro, 1921-Brasília, 1991) foi governador em dois períodos o Estado de
Roraima: 1967 a 1969, indicado pelo presidente Costa e Silva para governar o antigo Território Federal, e de 1970 a 1974, reconduzido ao cargo pelo então presidente Emílio Garrastazu Médici.
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Figura 2: Na imagem as heranças deixadas pelo garimpo. Carcaças de carro antigo e o avião caído da
família Brasil; o “Tilim do Gringo- caminho entre a rocha cortado pelos garimpeiros, para fazer o desvio
do curso do rio e a cabana típica da morada dos garimpeiros, com objetos e costumes do cotidiano(
Fotos: Edna Tallitta Diniz, 2014).
“O que sei, eu conto; o que não sei, eu invento9”
A preocupação com a construção da identidade garimpeira, conforme vivência e descrição
que os próprios colocam e, não de acordo com as versões oficiais de pontos de vista
distorcidos, não é uma preocupação exclusiva dos velhos garimpeiros nem deste grupo de
pesquisa. Outros, como o projeto de pesquisa “Do diamante ao Carvão” da Universidade
Federal de Roraima e coordenado pelo professor da Universidade Estadual de Roraima Dr.
Devair Antônio Fiorotti, que visa estudar “a narrativa de garimpeiros da região do Tepequém.
Identifica e analisa essas narrativas, do ponto de vista da identidade e da criação mitológica
em torno do diamante, preocupa-se ainda com questões de memória e narrativa oral”. O
9 Frase do garimpeiro Passarão dos Cachorros, ao convite de uma entrevista ao professor Dr. Devair A. Fiorotti.
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estudo dessas narrativas da Serra do Tepequém/RR demonstra claramente esse
posicionamento e preocupação com a formação identitária daqueles que lá vivem e que
mantém a história viva em suas referências cotidianas.
O relato oral dos garimpeiros do Tepequém como Antônio Bezerra Nunes, Aracati, João
Araújo de Souza (Cuia), Zé Maria, Neuza, Passarão, Pedro (Pedro do Ônibus) e Porvina que
foram colhidos pelo professor Devair Antônio Fiorotti em seu projeto de pesquisa, bem como
dos garimpeiros e filhos de garimpeiros residentes no Tepequém ainda nos dias de hoje,
como Sidney, Dona Helena, aos quais este grupo teve como informantes alinham seu
discurso cada um dentro do tempo que chegou. Os mais antigos falam de tudo o que viram,
inclusive de como era o Tepequém original, isto é, antes do início do garimpo, o qual, segundo
eles, não podemos imaginar a beleza. Os mais novos falam do que viram a partir do momento
de sua chegada e dos nomes e histórias dos antigos, que se espalharam por gerações. Como
testemunho, as ruínas, sucatas de automóveis e maquinários, atestando o fato matérico, ou
as fotos montadas em um painel no pátio da casa de Dona Helena, como memorial, ou na
simplicidade saudosa, como narrado nas palavras de um dos filhos do garimpo, o professor
Sidney, a este grupo de pesquisa:
A gente tem uma história bem antiga né, ligada a essa comunidade. Meu pai
veio pra cá em cinquenta e quatro, e ai durante esse tempo minha família
sempre teve ligada a parte de garimpo né, a mineração. Durante a algum bom
período a gente viveu exclusivamente do garimpo. Até o fechamento dele,
quando veio em 2000 totalmente a paralisação. Na verdade era pra ter
parado desde 88, é, mas só em dois mil que caiu a ficha mesmo da
comunidade que tinha que parar. Que a gente tinha até então desde 37 que
foi a primeira expedição que subiu a serra, a década de 40 e década de 50
que chegou a minha família aqui. Década de 60, 70, 80 que ninguém
conhecia outra atividade a não ser era garimpo. Era o garimpo era, na
verdade isso aqui era a primeira reserva garimpeira da região norte,
legalizada. De todos os garimpos, assim como foi serra pelada, aqui em
Roraima o tepequém era uma reserva garimpeira, totalmente legalizada.
Com incentivo do próprio governo. Então a agente na década de 50/60
aquela primeira vila que é a cabo Sobral tinha uma estrutura que nem Boa
Vista tinha. E é interessante assim que essa história do garimpo e da
mineração, muitas vezes a gente que veio dessa origem, dessa cultura
garimpeira, a gente se sente assim injustiçado, se sente que a nossa história
hoje, pela educação ambiental que nós temos, a consciência ecológica, pra
gente ver assim o garimpeiro como marginal, um bandido. Já se construiu
uma consciência, é, da preservação, e toda essa atividade quando as
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pessoas chegam aqui, essa agressão, tudo isso ai dá um impacto né? Então
uma impressão assim de selvageria, de desrespeito à natureza. Ai não se
leva em consideração o contexto histórico desses camaradas que viveram
nesse período, não tiveram educação, não tiveram formação, era o contexto
deles, era a vida deles, eles faziam aquilo! E, quando foi nessa fase ai da
transição, da proibição, que veio em 2000.
Quanto à paisagem original da Serra, na área onde hoje há os alçados da antiga delegacia se
estendendo até a atual Vila do Paiva e redondezas, onde o garimpo se desenvolveu seu Zé
Maria que chegou a essa região em 1942, ainda jovem, relata:
Esse pessoal que vê o Tepequém hoje acha que é uma beleza, acha que tá
bonito! Acabaram, não deixaram um pé de árvore no Tepequém! Arara,
quando era mais ou menos dez horas, vinha das matas gerais aquele monte
de araras pra comer fruta dentro do Tepequém, tanto daquela azul como
daquela vermelha, a coisa mais linda do mundo, chega fazia nuvem! Hoje não
tem uma arara no Tepequém! (Zé Maria em entrevista dada ao projeto do
Diamante ao Carvão)
Sobre o mesmo assunto Dona Neuza, ex–garimpeira e remanescente moradora do
Tepequém afirma:
Quando eu cheguei, professor, aqui onde eu tô, aqui era mata, professor. A
gente vinha tirar bacaba aqui. Quando eu cheguei aqui (retornou), me deu
muita tristeza de ver tudo acabado! Triste, né? Aí eu to replantando. Por ali eu
tô replantando buriti. Tudo tô replantando. Eu quero ver verde como era
antes. Isso tudo era mata, uma maravilha!
Ambos apontam a mutação que sofreu a Serra ao longo do período de exploração, outros
falam do desaparecimento total dos peixes, o que nos leva a crer também na extinção de
espécimes próprias do habitat do tepuí, mostra também que ambos apreciaram a paisagem
da serra no seu estado original, mantida na memória e, ao relatar suas lembranças, parecem
se omitir como participantes do cenário que causou a modificação da mesma, talvez por sua
sensibilidade as belezas naturais terem sido ofuscadas pela dos diamantes ou pela
incompreensão da degradação que estavam causando na juventude.
Contudo, existem estudos que indicam espécies endêmicas do Tepequém, tanto de flora
quanto de fauna, além da valorização como atrativo turístico as cachoeiras, rios e igarapés
que foram transformados pela atividade de exploração, como o guia do Tepequém criado pelo
agrônomo Dr. Francisco Joaci de Freitas Luz, onde até o areal remanescente dos diversos
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desvios do Igarapé do Paiva é tratado como “praias do Paiva” ou o “Tilim do Gringo”, uma
grande fenda na rocha, feita à dinamite pelos garimpeiros para garantir novo curso de água,
passa a ser ponto turístico.
Margens
É de conhecimento corrente que a atividade garimpeira é grande causadora de danos
ambientais, dado que suas técnicas envolvem o desmatamento das matas ciliares, uso de
máquinas movidas a combustão e produtos químicos, que levam ao assoreamento,
contaminação das águas por mercúrio, no caso do ouro, e de óleo dos motores, no caso do
diamante, acarretando afastamento e extinção de espécies da fauna e da flora. A degradação
do meio ambiente causada pelo garimpeiro rústico é um dos motivos pelos quais essa
categoria e cultura é tão marginalizada pela sociedade nos dias de hoje.
Associa-se ao dado ambiental, um conjunto de práticas e atores sociais que são
característicos de áreas de exploração intensa, como as sociabilidades que se estabelecem
nos bares e prostíbulos. Contudo, essas relações se mantêm como marcos latentes nas
memórias do Tepequém, nos relatos sobre as várias Marias – Maria Bicicleta, Maria Piçarra,
entre outras – e como elas foram importantes para a vida e economia do garimpo. Conta o Sr.
Papooortzi, comerciante de Boa Vista que, nos idos de 1957, vendeu vinte mil sutiãs para uma
população de dezesseis mil habitantes, sob o pretexto de que seria mais fácil chegar às
moças do garimpo pedindo-as para que as vissem vestindo a peça para experimentar. Os
ganhos de muitas dessas mulheres, para além de sutiãs, também é contada pelo mesmo
informante que, nos idos da década de 1980, já na fase do garimpo de ouro, uma mulher,
interessada igualmente em um sutiã, dizendo não ter dinheiro em mãos, tirou do pescoço um
grosso cordão de ouro para pagar pela peça. Outros relatos afirmam que essas mulheres
foram as que mantiveram o bamburro a longo prazo.
De terra do Eldorado mítico, de Manoa e Parima, Roraima viveu na década de 1980, uma
história ímpar, onde os bancos não conseguiam abastecer de cédulas, de tanto pagarem por
diamantes e ouro, e quando o aeroporto de Boa Vista recebeu o título de terminal aéreo mais
movimentado do país (Barazal, 2009).
No entanto, o que muitos esquecem é que o garimpo foi grande impulsionador do
desenvolvimento do Estado de Roraima e que até mesmo o governo da época o incentivava e
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que o fato de sua ocorrência também foi formador das características socioculturais de hoje, o
que pode ser constatado no depoimento de Seu Bezerra:
Estou aqui porque não tenho pra onde ir, estou vivendo à custa do aposento,
né, pois é, mas se eu tivesse cabeça naquele tempo, se eu tivesse guardado
o pouco que eu ganhava, eu estava como os outros companheiro que
trabalharam junto comigo. Todos companheiro que trabalharam comigo, que
tinham juízo, tudo está bem: uns têm fazenda, têm comércio, outros têm casa
boa em Boa Vista, pois é. Tudo que fazia era pra gastar no puteiro, no puteiro,
né. Bom, mas o negócio que a gente pensava era isso, que nunca ia acabar o
Tepequém, né. (Seu Bezerra em Batista Neto, 2013)
Seu Bezerra aponta que os garimpeiros que “tiveram cabeça” empregaram seus ganhos em
atividades e bens na capital Boa Vista e em fazendas no território; e não só Seu Bezerra, mas
praticamente qualquer habitante de Boa Vista que viveu aquela época afirma que o garimpo
de diamantes do Tepequém era grande financiador dos mercados e empreendimentos locais
e falam de uma admirável riqueza jamais vista depois de seu desaparecimento. Além do fator
econômico, o impulso político da nascente capital, foram favorecidos espacialmente pelo
contexto, surgindo bairros na zona oeste do traçado planejado de Boa Vista, feito pelo
engenheiro Darci Aleixo Denerrusson na década de 1940, para abrigar as famílias oriundas do
garimpo e novas levas de migrantes, atraídos pela próspera história do Estado de Roraima.
Não por acaso o ex-território transformou-se no maior produtor de diamantes da Amazônia,
tendo a atividade econômica superado as demais na década de 1940 (Guerra, 1957). A fama
do Tepequém era grande e a do diamante ainda maior, como observamos nos depoimentos
de Tito Pascoal de Oliveira conhecido como Aracatí e José Alves de Araújo, conhecido como
Passarão dos cachorros. “A notícia do Tepequém era tão grande! Foi um cunhado meu que
conseguiu essa notícia e queria que eu viesse pra cá.” (Tito Pascoal de Oliveira, dito Aracatí
em Batista Neto,2013)
E o camarada que me deu a mão pra eu plantar juta ele falava em diamante.
“Rapaz, o diamante é um valor danado. Um diamantinho do tamanho dum
caroço de arroz é um valor danado”. E eu já tinha visto lá no Ceará aquele
pessoal mais antigo falar em diamante. Até falaram pra mim: “Menino, tu vai
ser um menino de sorte pra diamante”. Então eu plantei juta três anos, né. Aí
o cabra falando, eu vou ver esse diamante. “Onde tem esse diamante?” “É lá
no Porto Velho e no Rio Branco”. Aqui nesse tempo chamavam [Território
Federal do] Rio Branco, não tinham esses outros apelidos, não. (José Alves
de Araújo, dito Passarão em Batista Neto,2013)
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Figura 3: No sentido horário: a garimpagem da década de 50. A corruptela da vila do cabo sobral em 1970. Um conglomerado de diamantes e Dona Neuza e seu esposo exibindo fruto de seu trabalho, a
peneira com diamantes. Fonte: Projeto "Do diamante ao carvão" e IBGE, 1960.
Na figura 2 a Imagem de Dona Neuza e seu esposo a frente de casa mostrando o resultado de
seu trabalho nos dá a perfeita dimensão da riqueza que os antigos garimpeiros e habitantes
dessa região tanto falam e recordam com saudade dos dias de glória do diamante. O
diamante era o astro, ouro era o menos relevante. Pudemos perceber no relato sobre a
compra do sutiã, mas, de forma mais sensível, no que conta Seu Aracatí, como matéria
vergonhosa para se vender.
[...] Eu não quis a janta de jeito nenhum. Aí quando terminou, limparam a
mesa, aí ficou sozinho na mesa aí eu me sentei. “Olha, Zé, eu tô com
vergonha, porque o negócio que eu vim fazer, eu só não tô com mais
vergonha, porque não é roubo, mas eu nunca vendi isso, mas trouxe pra ver
se tu compra”. Pegou olhou. “Não precisa nem queimar, é ouro do
Tepequém, é ouro de pepita, né? É ouro maciço. “É sim”. “Isso não precisa
queimar, não, isso aqui já tá beleza”. Botou na balança, aí olhou pra mim:
“Aracati, só não vai dar o que você quer, porque ouro deu uma quedinha, não
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vai dar o que tu pensa, o que tu quer”. Aí eu disse; “puta merda”, eu
pensando, “mas ele vai inteirar meus duzentos...” Eu sentado naquelas
cadeironas, escorado na mesa, por isso que eu não caí. “E quanto é?”
“Rapaz, só dá mil e quinhentos”. Tu já pensou, parece que eu não senti terra
nos pés naquela hora, porque tava pensando que não desse os duzentos pra
comprar o remédio do meu filho. Aí ele disse: “Só dá mil e quinhentos!? Tá
bom, me dá”.
“É na curva que se encontra a pedra boa” (ou, “ouvindo o que os
velhos dizem”10)
Os primeiros migrantes chegados do Nordeste, Mato Grosso, Goiás e do Pará, além daqueles
vindos das experiências de exploração garimpeira da Venezuela, especialmente, trouxeram
consigo culturas individuais próprias que se misturaram e aqueceram o modo próprio de ser
garimpeiro. Essa mescla de contribuições, associada ao modo de vida do garimpo e na
locação do Tepequém, compõe um cenário único. A experiência do garimpo possui um
magnetismo pragmático, sedutor, atrai do mais experiente garimpeiro ao jovem sem
experiência alguma de qualquer coisa, até mesmo de vida:
O garimpeiro é aquele homem que pra ser garimpeiro não precisa de estudo,
quanto mais rústico melhor pra enfrentar o serviço rústico e ele tá na intenção
de a todo momento pegar uma pedra. O caso do garimpeiro é pegar uma
pedra, é um sonhador. Ele passa cinco, seis, oito, dez, vinte anos, mas
sempre é pensando pegar uma pedra. Quando ele não pode mais pegar
pedra, porque o filho tá no garimpo, ele já transfere a esperança pro filho.(Seu
Zé Maria em Batista Neto, 2013).
Durante o processo da pesquisa em curso, um equívoco de encaminhamento foi dado:
sempre se questionou àqueles no Tepequém se eram do garimpo. Era constante a resposta
afirmativa, tendo sempre um elemento capaz de comprovar sua história: um anel, uma foto,
um olhar que construía no vazio existências da memória, vivas e dinâmicas. O garimpo
artesanal ocorreu no Tepequém durante as primeiras décadas, atraindo uma população de
cerca de cinco mil habitantes, havia pista de pouso (ainda existente) e cinema, entre outros
elementos de modernidade que sequer eram pensados na capital roraimense. Com o
processo mecanizado, a extração se tornou mais intensa e predatória ao meio ambiente,
10
Seugundo Vaptistis A. Papoortzis esse era dito dos garimpeiros mais experientes, e os mesmos diziam que ouvir o que dizem os mais velhos era melhor maneira de aprender os bons hábitos do garimpeiro de sorte.
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reconfigurando a paisagem física. Essa esperança do bamburro, de encontrar um diamante,
mesmo que uma faísca de brilho, existe em todos que passam a pertencer e se apropriar
daquela paisagem cultural. Emblemática a resposta de um rapaz, abordado visitando as
ruínas da antiga delegacia da corruptela do Cabo Sobral ao ser questionado se ele era
garimpeiro: sou, desde 2011, quando venho aqui.
Em 1985, por Decreto de Lei Federal, foi proibido o garimpo de qualquer espécie
em Roraima, em virtude dos danos irreparáveis que a mineração causa na
natureza; entretanto, a lei não estava sendo cumprida pelas grandes empresas
mineradoras. Por essa razão e pelas dificuldades enfrentadas pela população
local de cultura puramente garimpeira, o Congresso Nacional aprovou, no ano de
2001, uma lei complementar que autorizou aos residentes o garimpo manual, que
causa danos mínimos ao meio ambiente (Ghedin, 2011, p. 6).
Figura 4: A figura ao fundo (GOOGLE EARTH, SIGMINE/ DNPM, 2014) mostra o mapa atual do estado de Roraima com a delimitação das áreas solicitadas por empreendedores ao DNPM (Departamento
Nacional De Produção Mineral) para fins de pesquisa e lavra mineral, e as figuras sobrepostas (Fotos: Edna Tallitta Diniz) mostram a paisagem encontrada hoje, modificada pelo garimpo na serra do
Tepequém nas décadas de 30 a 90.
O garimpo atrai o pedreiro, o construtor, o vaqueiro, as mulheres e o plantador, atrai
mostrando que há dureza no seu fazer, mas que, no entanto, com um pouco de sorte e
perspicácia, em tudo há a esperança de mudar. Esse espírito sedutor mantém testemunhas
do tempo de bamburros, com novas esperanças, quer do homem que cana o poço na sala de
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casa, quer de grupos que visam à preservação dessa paisagem, desse complexo de
referências que identificam e não sabem denominar bem.
Alguns grupos vêm fortalecendo práticas econômicas voltadas para o turismo ou para a
produção. Quer no aproveitamento dos lagos para a produção de peixes, quer partindo do
potencial lítico para a produção de artesanato, ou mesmo com a promoção de eventos
musicais ou investimentos em hotéis e pousadas, as dinâmicas econômicas apontam para
uma virada no curso a que se aponta a longo prazo o Tepequém.
Roraima possui grande potencial mineralógico e existe a perspectiva do retorno da
exploração, em grande escala e, nos dias de hoje, vem sendo executadas pesquisas minerais
e de viabilidade econômica, afim de que, em resultado positivo, se instale novamente a
garimpagem de diamantes e ouro em áreas já solicitadas por empreendedores aos órgãos
competentes, o que deixa em xeque a paisagem física e cultural do Tepequém. Esse risco
latente e concreto expõe a possibilidade de ser apenas uma questão de tempo sua nova
descaracterização.
As tensões que se estabelecem, tanto em termos de perspectiva quanto de escala de
interesses, são desiguais. Jamais será possível garantir que um processo de
desenvolvimento de práticas econômicas de gestão local baseadas na potencialidade da
preservação da memória e do contexto sociocultural. Contudo, há a necessidade de
reconhecimento desse território simbólico e das pedras que rolam nesse curso.
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Referências
BATISTA NETO, PAULINO. O que sei, eu conto; o que não sei, invento. Um estudo das
narrativas orais dos garimpeiros da Serra do Tepequém/RR.2013.
Capital de Roraima, Boa Vista é a Amazônia que o Brasil ainda desconhece. Disponível
em <http://viagem.uol.com.br/guia/brasil/boa-vista>. Acesso em agosto de 2014.
ESPIRIDIÃO, Francisco. Histórias de garimpo: extração mineral em terras roraimenses.
Fortaleza: Tipogresso, 2011. 163p.
GHEDIN, Leila Marcia. et al. Sinalização Turística: Uma proposta de uso turístico para a
Serra do Tepequém. Revista Geográfica de América Central, Número Especial EGAL, II
Semestre, Costa Rica, 2011 p. 1-17.
NORA, Pierre. Entre Memória e História: a problemática dos lugares. In: Projeto História:
Revista do Programa de Estudos Pós-Graduados em História e do Departamento de História
da PUC/SP - n° 10. São Paulo: EDUC, 1993, p.7-28 (tradução Yara Aun Khoury).
RODRIGUES, Emerson da silva; VIEIRA, Jaci Guilherme. Tepequém, do garimpo ao
turismo. Tepoking (Rei dos Tepuis). Revista: Textos & Debates. V.1, n.16(2009). Ed.: UFRR
VERAS, Antônio Tolrino de Resende. Turismo e desenvolvimento sustentável na Serra do
Tepequém. Boa Vista: Universidade Federal de Roraima / Instituto de Geociências, 2011
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