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Memórias do Teatro Guarany em Pelotas
DALILA MÜLLER*
DALILA ROSA HALLAL**
RESUMO
Este artigo objetiva narrar a trajetória do Teatro Guarany em Pelotas, desde a sua
inauguração, em 1921, até os dias atuais, a partir das memórias dos agentes sociais
contemporâneos à história do teatro, como produtores culturais, as atuais proprietárias,
frequentadores do teatro e jornalistas, contextualizando as suas origens e funções ao longo do
tempo. A história oral é hoje caminho interessante para se conhecer e registrar múltiplas
possibilidades que se manifestam e dão sentido a formas de vida, escolhas de diferentes
grupos sociais. Para este trabalho foram utilizadas entrevistas, tendo como tema condutor o
Teatro Guarany de Pelotas. Também foram utilizadas outras fontes visando dialogar com as
narrativas dos entrevistados. Podemos perceber a importância da história oral para a análise
da trajetória do Teatro, que passou por diferentes momentos. A abertura do Teatro se deu num
contexto em que Pelotas buscava novos espaços de sociabilidade. Ao longo do tempo o
Teatro se modifica e vivencia momentos de descaso. Atualmente passa por um processo de
revitalização a fim de retomar sua função inicial de ser um espaço de expressão cultural da
memória social de Pelotas.
INTRODUÇÃO
Para se valorizar um patrimônio histórico, deve-se relacioná-lo à importância da
memória de um homem e de uma sociedade. Neste sentido, analisa-se a história do Teatro do
Guarany em Pelotas a partir da história oral. Considera-se importante essa metodologia, pois
possibilita obter informações importantes sobre determinados assuntos que não são
encontradas em documentos escritos.
O Teatro Guarany está em funcionamento em Pelotas á 95 anos, foi construído por três
empreendedores e inaugurado no ano de 1921, mantendo-se em atividades até os dias atuais,
sob a administração de herdeiros.
Este artigo busca narrar a trajetória do Teatro Guarany na cidade, desde a sua
inauguração, em 1921, até os dias atuais, a partir das memórias dos agentes sociais
contemporâneos à história do teatro, contextualizando a sua origem e funções ao longo do
tempo.
* Universidade Federal de Pelotas – UFPEL/ Curso de Bacharelado em Turismo. Doutora em História. ** Universidade Federal de Pelotas – UFPEL/ Curso de Bacharelado em Turismo. Doutora em História.
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Neste estudo, a memória é a principal fonte dos depoimentos orais e há ligação direta
entre o tempo e a história.
A memória apresenta um imenso papel social. Diz-nos quem somos integrando o
nosso presente no nosso passado e dando assim fundamento a todos os aspectos
daquilo a que os historiadores chamam hoje as mentalités. Para muitos grupos, isso
significa voltar a montar o puzzle: inventar um passado adequado ao presente ou,
do mesmo modo, um presente adequado ao passado. Preservamos o passado à custa
de o descontextualizar e de, em parte o esborratar. (Fentress & Wickham, 1992:
242)
A história oral é um dos meios que promovem as aproximações entre a História e a
memória. Ou, como diz Errante (2000: 146), existe uma dependência da história oral em
relação à memória. Afirma que “as histórias orais acrescentam uma dimensão não-oficial
inestimável” às investigações, justamente por viabilizarem as narrativas dos sujeitos
envolvidos. Deste modo, a história oral possibilita certo afastamento da documentação de
caráter oficial das instituições, que muitas vezes não traduzem as experiências vividas nesse
contexto.
Alberti (1989: 41) ressalta que a história oral não pertence a um campo estrito do
conhecimento, “sua especificidade está no próprio fato de se prestar a diversas abordagens, de
se mover num terreno pluridisciplinar”. Para a autora história oral é:
[...] um método de pesquisa (histórica, antropológica, sociológica,...) que privilegia
a realização de entrevistas com pessoas que participaram de, ou testemunharam
acontecimentos, conjunturas, visões de mundo, como forma de se aproximar do
objeto de estudo. Trata-se de estudar acontecimentos históricos, instituições, grupos
sociais, categorias profissionais, movimentos, etc. (ALBERTI, 1989: 52.).
No presente estudo a história oral será entendida como uma metodologia de pesquisa
que consiste em realizar entrevistas induzidas, estimuladas e gravadas, com pessoas que
podem testemunhar sobre acontecimentos, conjunturas, instituições, modo de vida ou outros
aspectos da história contemporânea.
[...] o trabalho com a História oral pode mostrar como a constituição da memória é
objeto de contínua negociação. A memória é essencial a um grupo porque está
atrelada a construção de sua identidade. Ela [a memória] é resultado de um
trabalho de organização e de seleção do que é importante para o sentimento de
unidade, de continuidade e de coerência - isto é, de identidade. É porque a memória
é mutante, é possível falar de uma história das memórias de pessoas ou grupos,
passível de ser estudada por meio de entrevistas de História oral. As disputas em
torno das memórias que prevalecerão em um grupo, em uma comunidade, ou até em
uma nação, são importantes para se compreender esse mesmo grupo, ou a
sociedade como um todo. (ALBERTI, 2005: 167).
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Ao recorrer à história oral, é preciso entendê-la numa perspectiva que vai além de um
relato de fatos: é uma maneira de se chegar ao conhecimento de fatos vivenciados num dado
momento histórico, em que somente documentos escritos não poderiam revelar, por si só,
todos os sentidos circulantes num determinado meio social. Neste sentido, Chartier (2002: 84)
se refere ao relato como uma singularização da história, pelo fato de manter uma relação
específica com a verdade, pois as construções narrativas pretendem ser “[...] a reconstituição
de um passado que existiu”.
As fontes orais utilizadas no artigo fazem parte do projeto de pesquisa “Teatro
Guarany: histórias e memórias”, desenvolvido pelo Curso de Bacharelado em Turismo da
Universidade Federal de Pelotas, sob nossa coordenação. As entrevistas foram temáticas,
referindo-se às experiências ou processos específicos vivenciados ou testemunhados pelos
entrevistados em relação ao Teatro Guarany, focalizando suas histórias e vivências.
Foram utilizadas, para este trabalho, quatro entrevistas: o relato de um produtor
cultural; de uma das atuais proprietárias; de um jornalista; e de um frequentador do teatro. Os
depoimentos foram gravados e posteriormente transcritos com fidelidade, sem cortes nem
acréscimos.
As entrevistas de história oral são tomadas como fontes para a compreensão do
passado, ao lado de documentos escritos, imagens e outros tipos de registro. Caracterizam-se
por serem produzidas a partir de um estímulo, pois o pesquisador procura o entrevistado e lhe
faz perguntas, geralmente depois de consumado o fato ou a conjuntura que se quer investigar,
lhe dá o direito para relatar os fatos de acordo com o que está registrado na memória.
Além das narrativas, foram utilizadas outras fontes visando dialogar com as memórias
dos entrevistados. Entre elas, destaca-se a fonte jornalística, a qual foi coletada na hemeroteca
da Biblioteca Pública Pelotense, sendo os jornais pesquisados por alunos participantes do
projeto de pesquisa citado acima. Os jornais pesquisados foram o Diário Popular, Opinião
Pública, Ilustração Pelotense, entre outros.
Em especial destaca-se a riqueza dos procedimentos oferecidos por meio da história
oral e da análise das fontes jornalísticas para se entender a dinâmica do Teatro Guarany no
decorrer dos seus 95 anos, pois possibilitam obter informações importantes sobre o mesmo.
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O TEATRO GUARANY EM PELOTAS
A partir das narrativas dos entrevistados e das fontes jornalísticas é possível traçar a
história do Teatro Guarany em Pelotas, cuja trajetória envolve vários momentos. O auge do
Teatro se dá nos primeiros anos de seu funcionamento, quando as peças de teatro eram mais
frequentes e o cinema estava na moda. As décadas de 1980 e 90 retratam o período de
decadência do Teatro Guarany, com o declínio e o fim das sessões cinematográficas,
importantes nas décadas anteriores, e o uso do Teatro, basicamente, para bailes de carnaval e
formaturas. A partir do final dos anos 2000 o Teatro passa por um processo de revitalização,
tanto estrutural como funcional, com reformas e a utilização de seu espaço para atividades
artísticas e culturais. Esses momentos serão narrados pelos nossos entrevistados.
A riqueza que circulava na cidade de Pelotas, em função de ser o centro industrial e
charqueador mais importante da Província, no final do século XIX e início do século XX,
proporcionou uma vida social e cultural intensa e os costumes, os comportamentos, o lazer, as
artes, e as atividades intelectuais – de um modo geral – foram inspirados principalmente na
Corte (Rio de Janeiro) e nos países da Europa. Neste contexto, a construção do Teatro
Guarany foi um importante acontecimento para Pelotas, servindo como espaço de encontro,
lugar de ver e ser visto da sociedade pelotense.
As elites de Pelotas eram oriundas de famílias rudes assim, gente do campo né,
agricultores, criadores de gado, charqueadores. Era gente rude, tosca, mas que
ganhou dinheiro, né e quis melhorar de padrão de vida, né refinar os costumes né. E
não por acaso muitos dos filhos dessas famílias foram mandadas pra estudar no
Rio, em São Paulo, na Bahia, nas primeiras faculdades brasileiras né ou então pra
Paris, ou pra Coimbra né estudar lá direito ou medicina né. E a sorte de Pelotas
que alguns deles voltaram pra cá né e vieram certamente com uma bagagem muito
grande de civilização daquilo que acontecia lá nos grandes centros e quiseram que
a cidade também tivesse aqueles, aqueles avanços [...], até por isso que Pelotas é
pioneira em infraestrutura urbana né, em saneamento, iluminação, saúde, educação
[...] E acho que isso é que diferencia muito Pelotas de muitas cidades do Brasil né e
fez até com que uma certa época a vida aqui cultural aqui fosse mais forte que na
própria capital do estado né. (Relato do jornalista)
No início da década de 1920, a partir da sociedade entre Rosauro Zambrano, Francisco
Santos e Francisco Xavier foi construído e inaugurado o Teatro Guarany. Segundo Caldas,
Santos e Santos (1996) a cidade precisava de um grande e confortável cinema. Foi a partir
dessa necessidade, que Francisco Santos e Xavier associam-se a Rosauro Zambrano,
fundando a empresa “Santos, Xavier & Cia.”, que posteriormente passou a chamar-se
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“Zambrano, Xavier & Santos”, para construção “desse amplo e modernoso teatro”. O projeto,
orçado em 400 (quatrocentos) contos de réis foi denominado Teatro Guarany. (CALDAS,
SANTOS e SANTOS, 1996, p. 97). Um entrevistado narra o contexto cultural da época:
[...] a década de vinte foi uma década de grandes construções. Pelotas era pujante.
Pelotas era a capital econômica do Estado e cultural do Estado. Então a cidade
convivia com companhias que vinham pra Buenos Aires, Montevidéu. Pelotas era
um roteiro obrigatório, que dizer, assim como tu tinha aquele circuito da Amazônia
né, Manaus, Belém e tal, tinha do Rio de Janeiro e aqui vinculado as duas capitais
da Argentina [e do Uruguai] aqui do Prata. (Relato do frequentador do Teatro)
As motivações responsáveis pela construção do teatro ainda são conflituosas, no
entanto existe uma história que é comumente reproduzida na cidade e pela família Zambrano.
Conta-se que Rosauro Zambrano tinha um camarote cativo no Teatro Sete de Abril e que, por
engano, este havia sido vendido. Ao chegar ao Teatro e constatar o erro, o empresário teria
pedido providências que não foram atendidas. Então, Rosauro teria afirmado que nunca mais
colocaria os pés no Teatro Sete de Abril e que construiria um teatro maior, mais bonito e
confortável (Relato da proprietária). Conforme Caldas, Santos e Santos (1996), a história
contada é mais uma mistificação a respeito da fundação do Guarany. Segundo os
historiadores, a situação relatada pode ter acontecido, mas não possui relação com a
construção do Teatro. Na opinião de Caldas, Santos e Santos (1996), a narrativa envolvendo o
Teatro Sete de Abril e o Sr. Rosauro Zambrano teria sido criada muitas décadas depois da
inauguração do Guarany, quando Santos e Xavier já haviam falecido.
Caldas, Santos e Santos (1996) afirmam que a iniciativa de construir um cineteatro
partiu da parceria Santos-Xavier, de modo que Rosauro Zambrano teria participado somente
depois, como o principal financista do empreendimento. Um entrevistado também narra essa
versão da história:
Ele [Francisco Santos] perdeu o aluguel pro teatro Sete de Abril, e perdeu pra uma
concorrência pública, pra um outro empresário, ele ia ficar sem o Sete de Abril por
cinco anos [...] Ai o Francisco idealiza a construção do Guarany né. Traz um sócio
especialista em teatro, o nordestino chamado Francisco Xavier e convida o
capitalista, pra sócio, que era o Rosauro Zambrano que não era homem desse meio,
mas gostou e entrou na sociedade como capitalista. Acabou depois adquirindo a
sociedade ficando de único dono, mas essa é uma outra história. (Relato do
frequentador do Teatro)
Na noite de 30 de abril de 1921, inaugurou-se com toda a pompa o Guarany. A Companhia
Lyrica Italiana Marranti estreou com a ópera O Guarani, de Carlos Gomes. Assim como destacavam
os jornais:
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Foi uma noitada magnífica e surpreendente a da inauguração do Teatro Guarany.
A beleza interior do majestoso recinto, iluminado feéricamente, num verdadeiro
esbanjamento de luz, empolgou de logo a vultuosa assistência. Não obstante a
amplitude da casa, talvez demasiada para nossa terra, ela se viu literalmente cheia,
da platéia ao paraíso [...]. (Ilustração Pelotense, 15.05.1921, p. 16)
A notícia do jornal destaca que, na inauguração, o Teatro Guarany estava cheio, desde
a plateia até as “gerais”, demonstrando a importância do Teatro para os pelotenses. O preço
diferenciado do espetáculo – 12$ a poltrona até 2$500 a geral (A OPINIÃO PÚBLICA,
30.04.1921, p. 2) – propiciava a participação de diferentes públicos.
O Teatro possuía 1088 lugares na plateia, dividida em duas classes, possuía também
camarotes de palco e de primeira e segunda ordem e as “gerais” também conhecidas como
“poleiro” ou “paraíso”, com capacidade para 1200 pessoas (A OPINIÃO PÚBLICA,
14.05.1920, p. 3).
[...] o paraíso, que é uma parte que tem umas arquibancadas acima da segunda
ordem de camarotes, que é novecentos lugares que era usado primeiro, inicialmente
ela foi criada pras pessoas que não tinham casaca, pros pobres da época poderem
assistir e depois os negros também podiam subir pra lá. (Relato do produtor
cultural)
Segundo Tavares, Michelon e Rotman (2008, p. 2) o Guarany conseguiu reunir um
público diverso quanto à classe social, “visto que o mesmo aboliu o uso da casaca o que até
então era obrigatório no Teatro Sete de Abril, promoveu espetáculos populares e manteve a
sofisticação e elegância por meio da monumentalidade da construção e decoração.”
Os entrevistados também relatam que o Teatro Guarany proporcionava a entrada de
um público diversificado, dos mais abastados da cidade até os mais pobres e inclusive os
negros. Segundo o entrevistado:
[...] era um teatro popular, o cinema popular e a oferta era de vender os ingressos
em carnês em doze em doze prestações, então o cidadão podia adquirir e pagar o
carnê. O Guarany oferecia isso. Nós encontramos um relato nos jornais com
facilidade por que realmente ele era um teatro popular. A sua geral com capacidade
pra mil lugares ele podia fazer essa diferenciação. Camarotes, geral diferenciando
preço. Ele podia fazer isso, quer dizer que no mesmo ambiente ele podia convidar a
fechada sociedade de Pelotas e também os trabalhadores e o povo que na época
chamavam de ralé. (Relato do frequentador do teatro)
A empresa “Zambrano, Xavier & Santos” não se mantém por muito tempo,
“imediatamente após a inauguração ele [Francisco Santos] se desentende com o Zambrano e
oferece a sua cota e vende, sai da sociedade não é. [...] ele manda construir o teatro Avenida e
o cine Capitólio” (Relato do frequentador do Teatro).
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No mês seguinte, após sua inauguração, em maio de 1921, iniciaram-se as sessões
cinematográficas, conforme as reportagens:
Estando quasi a encerrar-se a temporada lyrica da companhia Marranti, a empreza
do Theatro Guarany resolveu inaugurar, a seguir, as suas sessões cinematographicas.
A primeira remessa de fitas está a chegar, constando as mesmas de finos lavores da
arte muda. A assignatura mensal foi novamente aberta, respeitando a empreza as
assignaturas já tomadas (A OPINIÃO PÚBLICA, 07.05.1921, p. 2)
As exibições cinematográficas ocorreram de maio de 1921 a 24 de outubro de 1996.
Em sua primeira sessão cinematográfica, o Teatro reuniu extraordinária concorrência.
Segundo Ribas (1963, p. 7), “jamais havia sido registrada tamanha afluência nos nossos
cinemas como ocorreu na noite em que o ‘cine Guarany’ foi entregue ao público.”.
Inicialmente o cinema era uma importante fonte de renda para os proprietários, como
relata o entrevistado, porém, os anos 90 do século XX, viveram o fim dos grandes cinemas em
Pelotas:
O cinema foi uma coisa explosiva assim né, era algo que dava muito dinheiro, mas
muito dinheiro mesmo né. [...] o cinema era um mercado assim em grande
ascensão, altamente rentável né, então era negócio ter um grande cinema em
Pelotas, né, com grande qualidade, né, de conforto [...] (Relato do jornalista)
Segundo Caldas e Santos (1994), o “Cine Teatro Guarany” alinhou-se à ideia de
inovação tecnológica. Havia uma preocupação constante em manter-se atualizado em relação
aos equipamentos e processos de exibição. Foi uma das primeiras salas a investir no cinema
sonoro. Segundo Ribas (1963), o Guarany não teve a primazia sobre o cinema sonoro, mas se
destacou em relação aos concorrentes por ter apresentado os melhores filmes falados da
época. Outro investimento do Cine Teatro foi o cinema em 3-D (terceira dimensão). A estreia
aconteceu no dia 20 de setembro de 1954 com o filme Museu de Cera (DIÁRIO POPULAR,
20.09.1954, p. 3).
Em 1977 os administradores investiram novamente em tecnologia: o Som
Sensurround, que era um sistema especial de efeitos sonoros criado, nos anos de 1970, pela
Universal Studios, procurava-se intensificar as sensações e impressões vivenciadas durante a
sessão cinematográfica como uma forma de se diferenciar da televisão e tornar o cinema mais
atrativo do que a simples experiência de assistir a um filme em casa. A aparelhagem do Som
Sensurround era emprestada pela distribuidora e estava associado à exibição de somente
alguns filmes como o Terremoto, no caso do Guarany (CALDAS E SANTOS, 1994). O
jornalista entrevistado relata a emoção de assistir o filme com essa tecnologia:
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[...] quando foi lançado o filme Terremoto né, foi um dos maiores filmes do gênero,
filme desastre né, então o Terremoto ele foi gravado né, o áudio do filme no sistema
sensurround né e pra ser exibido então é a distribuidora do filme né, ela trazia todo
um sistema de som, caixas de som enormes assim, torres que ficavam ao fundo né
do teatro, e nas laterais e algumas entre a platéia né, então era um som
esteriofônico né com altos efeitos assim. É, era como se tu tivesse, a cadeira tremia.
Todo o cinema tremia, tu sentia tremer e era ensurdecedor assim o som. Tu tava
num terremoto né ao vivo ali, sentindo né. Foi fantástico isso, esse, esse,
lançamento desse efeito aqui. E depois o mesmo teve mais um filme também que foi,
e bom, foi uma das maiores bilheterias de todos os tempo do Guarany foi o
Terremoto né e depois teve outro filme famoso com o mesmo efeito que foi Tora!
Tora! Tora!, que era um filme sobre o ataque japonês a Pearl Harbor [...] e aí era o
mesmo efeito né com os bombardeios lá de Pearl Harbor né, era fantástico. Tu
chegava a te agachar na cadeira assim que era facinante né. Tu arrepiava, tremia.
O efeito era fantástico né. (Relato do jornalista)
A partir dos relatos, é possível dizer que o cinema foi uma importante atividade
cultural no Teatro Guarany e na cidade de Pelotas, atraindo um grande público até a década de
1980.
[...] a atividade de cinema, eu acho que por aproximadamente cinquenta anos, meio
século, ela foi a principal atividade do Guarany, era Cine Teatro Guarany, eu me
lembro da placa. Cine Teatro Guarany. (Relato do frequentador do Teatro)
[na] década de 60 nós vínhamos ao cinema. O Guarany era cinema. O cinema
dominava tudo. O cinema matou o teatro. O cinema, a poderosa indústria
cinematográfica acabou com os teatros especialmente na nossa cidade. [...] o
cinema era a grande atração cultural da cidade [...] Atividades teatrais muito
poucas naquela, naquela década. Predominava as atividades do cinema e
avassaladoras. O cinema tinha sessões às quatorze, às dezesseis, às dezoito, às
vinte, vinte duas e às vezes a meia noite. (Relato do frequentador do Teatro)
Acompanhando a tendência nacional, o cinema do Teatro Guarany fechou, no dia 24
de outubro de 1996, assim como outras salas que funcionavam em Pelotas, também fecharam
na mesma época. Sobre o fechamento, o Diário Popular trouxe:
ÚLTIMA SESSÃO DE CINEMA NO THEATRO GUARANY – Cine Guarany, um dos
mais tradicionais cinemas do Estado, encerra amanha suas atividades como sala de
cinema, permanecendo apenas como casa de eventos culturais. Inaugurada em
1921, o prédio não será colocado a venda, segundo anúncio da proprietária. A
baixa frequência de público foi a causa do fechamento do cinema. (DIÁRIO
POPULAR, 23.10.1996, CAPA)
A última sessão de cinema no Guarany foi “com sala vazia” (DIÁRIO POPULAR,
25.10.1996, CAPA), o que já vinha acontecendo nas últimas sessões, como destaca o relato a
seguir: “[...] nos anos noventa né que aí as sessões de cinema já não tinham o mesmo apelo né
e aí ele foi esvaziando por desinteresse né” (Relato do jornalista).
A proprietária relata que fechar o cinema foi a decisão mais acertada para a época:
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[...] até noventa e seis eu levei o cinema, quando chegou em noventa e seis eu disse:
“Não dá mais”. Falei com minha mãe e com minha tia. Olha ou nós fechamos
agora o cinema ou vai ser muito difícil fechar depois, porque fechar, pagar todos os
funcionários, acertar todas as contas e tem que ser agora, vender aparelhagem e
terminar com o cinema. Elas concordaram e nós fechamos por que tava dando
muito prejuízo. (Relato da proprietária)
O Teatro Guarany também foi palco de bailes carnavalescos, desde a década de 1960
até a década de 1990:
Então o Guarany passa por essa atividade essencialmente cultural [o cinema], mas
ele também tem sua atividade de apelação quando desmonta praticamente o seu
interior pra fazer uma pista, pra explorar um baile de carnaval. Popular, por que o
baile não era por convite nem pra sócio. Qualquer cidadão, qualquer pessoa podia
chegar ali no guichê, comprar um ingresso e entrar. (Relato do frequentador do
Teatro)
Os jornais noticiavam, com grande ênfase, os bailes públicos de carnaval no Teatro:
BAILE PÚBLICO Espera-se também grande afluência ao tradicional baile público
do Teatro Guarani. Há inclusive, uma circunstância a ressaltar: será este o último
ano, pois posteriormente haverá reformas gerais. (DIÁRIO POPULAR, 08.02.1970,
p. 8)
Além de públicos, o Teatro alugava o espaço para bailes específicos de clubes, como
por exemplo, os bailes dos principais clubes esportivos da cidade – baile Vermelho e Preto do
Esporte Clube Brasil e o baile Azul e Amarelo do Esporte Clube Pelotas:
[...] foi lançado durante coquetel na Free Way, o Baile Vermelho e Preto, este ano
em sua sexta edição sob a liderança do empresário Paulo Musse. O vermelho e
Preto acontece dia 22, quinta-feira no Teatro Guarany, constituindo-se no grande
grito de Carnaval, como já se tornou tradição em Pelotas. (DIÁRIO POPULAR,
16.02.1990, p. 20)
Os entrevistados relembram dos bailes que participavam no Teatro Guarany:
[...] mas quando chegava na época do carnaval Pelotas tinha dois bailes públicos
muito famosos que era o baile de carnaval no teatro Sete de Abril que era digamos
assim, mais popular e o baile de carnaval no Guarany. Eles construíram ali por
cima das cadeiras, eles construíram um tablado. O tablado ficava na altura dos
camarotes e virava uma pista de baile. [...] Sessenta, setenta. Esses bailes vieram
até a década de oitenta. Eu lembro dos bailes que o Brasil promovia aqui. [...]
década de oitenta e até noventa. [...] o baile do Guarany era uma aventura pra todo
mundo. Moças que pulavam a janela fugiam e iam pro baile do Guarany. E ninguém
sabia, porque iam mascaradas. [...] O baile era um acontecimento. Muito mais
importante que os bailes do Comercial, do Brilhante, do Diamantinos. Muito mais
importante. [...] Aqui que era o baile verdadeiro, [...] (Relato do frequentador do
Teatro)
Na década de 1970 o Teatro sofreu algumas reformas que foram amplamente
noticiadas pelos jornais e são relatadas pela proprietária:
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O que aconteceu: o pai e o tio tinham que reformar o teatro. Tinham que reformar o
telhado, o teto. [...] o teto era todo pintado. Era muito bonito eu me lembro do teto
com os desenhos, todo teto, alias todo o teatro, todas as paredes eram pintadas e
naquela época o pai e o tio procuraram pra fazer a reforma do telhado. Não sei te
dizer quem eles contataram, mas o orçamento era tão monumental que eles, me
lembro do pai chegar em casa dizer assim: “Bom eu pra fazer a reforma do telhado
vou ter que que vender o teatro”, de tão caro que era. [...] Aí o que eles resolveram:
contratar o Adail Bento Costa, que eu acho muito feio particularmente esse telhado,
esse forro que desceram, mas foi o que eles acharam na época. [...] era uma época
que tudo que era antigo era fora de moda. [...] tinha que ser algo moderno. [...]
Vamos pintar as paredes e tapar as pinturas e modernizar, então eu me lembro do
pai dizer, contar assim, que tiveram que dar sete demãos de tinta mãos pra tapar as
pinturas por que eram pinturas feitas com aquela casca de ovo, eram tá, e não
tapava e que hoje tá sendo recuperado né. (Relato da proprietária)
Com o rebaixamento do forro, vários aspectos do Teatro se modificaram. O desenho
no forro, que “tinha também paisagens, paisagens. Eram basicamente paisagens de partes de
óperas também né.” (Proprietária), ficou escondido, da mesma forma que a intervenção
escondeu “aquele lustre maravilhoso. Tu não podes imaginar o que é aquele lustre solto
naquele imenso espaço. Aquele lustre é belíssimo.” (Frequentador). Outra consequência do
rebaixamento foi a perda do “paraíso” (Jornalista).
Os entrevistados consideram que esta reforma resolveu os problemas que existiam no
telhado, mas prejudicou os frequentadores, que não podiam mais dispor do “paraíso” e os
aspectos estéticos do Teatro.
Mas foi ele [Adail Bento Costa] que fez a intervenção ali e no meu modo de ver ele
prejudicou a obra de arte que existe rebaixando aquele teto e escondendo [...] Era
moderno usar aquele material, eu acho que alcatex, estilopor não sei o que que é
mas, era simplesmente um momento de intervenção de demolição que aconteceu no
Brasil. Imediatamente após a inauguração de Brasília parece que tudo envelheceu
neste país e aí as pessoas foram pintando por cima da escaiola, porque surgiu a
tinta plástica. Aí surgiram os materiais leves, modernos. “Ah vamos rebaixar isso
aqui fazer um forro bonito”. Todo mundo achou bonito não é, achou maravilhoso,
mas houve uma intervenção que eu entendo como reversível. (Relato do
frequentador do Teatro)
Em oito de abril de 1970, o Teatro foi reinaugurado, com o filme O Calhambeque Mágico, o
que foi destacado pela imprensa da cidade:
Pelotas vai receber hoje um novo Teatro Guarany. A tradicional casa de
espetáculos, que há mais de meio século orgulha a cidade recebeu nova roupagem e
será entregue ao público da Zona Sul. Com novas cores. Decoração de grande
efeito: Adail Bento Costa é o responsável. A beleza clássica e o conforto moderno
estão lado a lado. [...] VEJA O QUE O GUARANY TERÁ DE INOVAÇÕES [...] foi
feita a cobertura total do fôrro com ‘Eucatex’. Externa e internamente foi pintado:
‘hall’ de entrada, sala de espera, sala de projeção, camarotes e galeria. E mais:
novo cortinado para as aberturas da sala de projeções, cortina para a ‘boca de
cena’ e bambinela e em todas as entradas para a sala de espetáculos. A ‘toallete’
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para senhoras foi completamente remodelada, o mesmo aconteceu com o sanitário
masculino. E no complemento de tudo isso, funcionários solícitos impecavelmente
uniformizados, tapetes, passadeiras, ‘bomboniére’ e um espetacular sistema de som.
[...] (DIÁRIO POPULAR, 08.04.1970, p. 4)
Além de teatro, cinema e espaço para os bailes de carnaval, o Teatro Guarany foi
utilizado para cerimônias solenes de formaturas. A proprietária relata que “já tinha o curso de
Medicina e de Odonto, faziam formaturas aqui, mas só. Eu que depois que fechei [o cinema]
me dediquei a puxar as formaturas pra cá e hoje nós temos bastante” (Proprietária).
Porém, os bailes de carnaval, juntamente com as formaturas, shows, entre outras
atividades, contribuíram para destruir o Guarany, estragando cadeiras, banheiros, entre outros
aspectos do Teatro. Os entrevistados, principalmente a proprietária, que assumiu a
administração do teatro em 1992 (Relato da proprietária), relatam que essas atividades
prejudicavam e maltratavam muito o Teatro.
E os bailes de carnaval né, que eu também dei por encerrado por que acho que
maltratava muito o teatro. [...] eu fiz uns três anos também de baile de carnaval,
assisti e vi e fiz as contas não vale a pena. É muito mais prejudicial, prejudicial pro
teatro. [...] Pro Vermelho e Preto e pro Azul e Amarelo basicamente. Eles, os dois,
faziam dois ou três bailes cada um e aí quando deu, eu disse: Não. E deu. Ou eu vou
tentar preservar, manter o teatro ou [...]. Porque cada dia que tinha um baile, no
dia seguinte eu já nem chamava no dia seguinte já vinha o bombeiro pra arrumar
por que eles tiravam encanamento, eles tiravam caixa d’água, essas coisas. Era
tudo destruído. Era um horror, era um horror, tanto feminino quanto masculino. Eu
disse: Não! Deu! (Relato da proprietária)
[...] tem que se sujeitar a fazer atividade onde as pessoas estão eufóricas porque
estão formando seus filhos, e aí ele está a mais das vezes aí ele danifica uma
poltrona e se tiver que queimar e acender o cigarro ele faz, se botar o pé e queimar
e ligar uma sirene uma buzina, ou fazer coisa, quer dizer, o pobre do Guarany
passa por isso na última década. Ele se transformou num auditório. (Relato do
frequentador)
[...] aconteceu o Galpão Crioulo, também foi na época do pai, num domingo de
manhã aqui que foi gravado e que o pessoal, era um horror de gente, que queria
entrar e não tinha espaço. Também estragaram bastante. Três situações e a terceira
foi um baile de carnaval já comigo. Foi um dos motivos por que eu fechei por que
eu botava no contrato um número xis de pessoas que podiam entrar e eles botaram
quase sete mil pessoas aqui dentro. (Relato da proprietária)
E o Guarany teve shows também da FERART né, teve, por exemplo, o Gilberto Gil,
tava lançando o disco dele “Refazenda” que foi um marco assim na volta dele do
exílio, de que ele tinha sido exilado em Londres. É, teve também o show da Rita Lee,
Ovelha Negra. Foi a coisa mais louca que eu vi pra minha idade. Eu fiquei
imaginando, mas quem é que inventou de botar um show de rock dentro do
Guarany, por que as pessoas ninguém parava sentado. E era todo mundo de pé e
outros em cima das cadeiras, tanto que quando terminou o show era não sei
quantas dezenas de cadeira quebrada. (Relato do jornalista)
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A memória referente ao teatro, primeiro dos bastidores que era péssimo. É horrível,
por exemplo, os camarins na época que, por exemplo, a gente se apresentava com o
Tholl tínhamos que ir um dia antes pra limpar por que era muito sujo tudo muito
sucateado. (Relato do produtor cultural)
Após esse período de descaso e estragos no teatro, em 2009, com a chegada de outra
herdeira, o Teatro passa por um processo de revitalização. Um entrevistado (Frequentador do
Teatro) relata que as proprietárias deram uma retomada, “[...] colocando o teatro no seu
caminho quase que essencialmente cultural. Agora o Guarany tem tido atividade cultural,
cultural, então mudou muito. [...]”.
Os entrevistados ressaltam que atualmente o Teatro Guarany retomou suas atividades
culturais, bem como abriu para novos públicos.
[...] o teatro um ano e meio atrás ele era praticamente uma casa de formatura, um
lugar de formatura e tinha alguns shows [...] Agora se conseguiu abrir o teatro pra
uma outra faixa do público que não frequentava. E isso eu vejo isso muito bom
assim. Começamos a brincar com a história do cinema, do teatro de novo, então se
fez representação de cinema. Atividades no foyer do teatro que não tinha. Agora vai
ter lançamento de livro, Baú da Francisca que foi todo o comércio lá dentro
vendendo lá dentro, exposição de grafitagem, shows locais acontecendo lá dentro
por que era um arrisco um lugar de mil e trezentos lugares. [...], mas tem muito
ainda que melhorar principalmente a parte estrutural. (Relato do produtor cultural)
[...] [es]tou contente assim, eu vejo muito bem assim. Acho que foi uma felicidade
pra Pelotas, pro Guarany, pra história cultural de Pelotas [...], essa grande luta né
de administrar o Guarany e viabilizar a existência dele né. [...] em muitos outros
casos a gente viu que grandes patrimônios assim históricos, arquitetônicos,
culturais né foram perdidos até por que ninguém da família tinha interesse em
sustentar uma luta pra defender, pra manter aquilo né, então eu to muito contente
de ver tudo que tem acontecido no Guarany [...] o Guarany é o pulmão de Pelotas, é
um pulmão de cultura, não se pode pensar vai fechar o Guarany, [...] (Relato do
jornalista)
Com esse novo processo de revitalização se começou abrir espaço para outro tipo
de atividade. [...] começou um público mais alternativo a frequentar, justamente por
estas outras possibilidades se abriu, por essa coisa de ter se aberto por cinema, de
ter se aberto pra produções locais, tentando fazer de tudo [...] agora nós tivemos
um uma série de apresentações: Leandro Maia, Pimenta Buena. O Moviola com
lançamento do documentário que foi um, foi um marco né. (Relato do produtor
cultural)
Porém, uma das dificuldades é em relação à manutenção e restauro do Teatro. O
Teatro Guarany é um prédio inventariado, que é a primeira forma para o reconhecimento da
importância dos bens culturais e ambientais, por meio do registro de suas características
principais.
Os entrevistados destacam o custo de se recuperar o Teatro:
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[Na reforma de 1970] eles ficaram fechados uns seis, oito meses pra fazer esse
rebaixamento tudo e hoje dentro do possível a gente vai recuperando paredes e
tentando fazer alguma coisa dentro disso né, mas acho, não digo impossível, mas
recuperar tudo [é] quase impossível, porque fora o tempo que teria de ficar fechado
é muito dinheiro né pra recuperar. (Relato da proprietária)
Então é complicado, o prédio monumental, um prédio grande, tudo aqui é mega.
Quando tu abre a porta do Guarany e acende a luz tu consome muita coisa, tudo é
grande, então acredito que a família vem fazendo um esforço muito grande pra
manter o prédio, então essa atividade cultural parece que foi retomada agora. Hoje
tu vai ter que substituir toda rede elétrica, vai ter que ver a questão da rede de
lógica, vai ter que ver um projeto de prevenção contra incêndio, vai ter que revisar
alguma coisa da madeira né, que já o cupim deve de tá atacando também. A questão
das poltronas, a questão da iluminação cênica. Não tem um projeto de iluminação
cênica prum prédio enorme como esse, nossa é uma coisa louca. (Relato do
frequentador)
Apesar das dificuldades, várias ações já foram tomadas pelas proprietárias com o
objetivo de revitalizar o espaço do Teatro Guarany, destaca-se as seguintes: em 2009 a
Universidade Federal de Pelotas começou a trabalhar para identificar como era o teatro na
época de sua fundação. Foram feitos pequenos "descasques" da tintura atual para ver como
havia sido pintado. Esse mapeamento foi realizado com o objetivo de verificar a possibilidade
de um restauro (ZERO HORA, 29.04.2013, on line); em 2013 foi realizada a reforma de 12
camarins. Após a inauguração das reformas, o Teatro foi aberto para visitas guiadas gratuitas,
abertas para o público em geral, que mostraram o teatro e as obras concluídas (ZERO HORA,
29.04.2013, on line).
Porém, diante do tamanho do Teatro, um entrevistado considera que:
E hoje fazer uma intervenção no teatro Guarany não é obra pra iniciativa privada.
Que dizer, ou tu consegue aprovar um projeto e buscar recurso nas leis de incentivo
à cultura, ou então eu não sei o que vai acontecer. A família [...] tem que ter como
meta aprovar um projeto e conseguir recursos públicos pra investir na coisa
privada. (Relato do frequentador)
Para finalizar, destaca-se que a sociedade pelotense vem apoiando as ações de
revitalização que estão ocorrendo no Teatro. Um entrevistado relata que:
Então, criou também em cima desse projeto de revitalização uma moda ir ao teatro.
Então “ah tem qualquer coisa no teatro Guarany, temos que ir prestigiar por que
ele está sendo revitalizado e temos que fazer parte disso de alguma forma.” [...] tem
essa coisa de Pelotas adorar prédio histórico então eles [a população] se sentem
meio donos do teatro. (Relato do produtor cultural)
CONSIDERAÇÕES FINAIS
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O Teatro Guarany faz parte da história da cidade de Pelotas, sendo um espaço de
marcantes acontecimentos sociais e culturais. O Teatro foi construído em 1921 e atualmente
continua em funcionamento. Porém, passou por diferentes momentos que foram relatados
pelos entrevistados.
A partir de seus relatos e das fontes jornalísticas observou-se que o auge do
funcionamento do Teatro se dá nas primeiras décadas de seu funcionamento, com os
espetáculos teatrais e as sessões cinematográficas. O período de decadência ocorre com o
declínio do cinema, com o uso do Teatro para bailes de carnaval e formaturas e, sua
consequente deterioração. O processo de revitalização se inicia no final dos anos 2000, com
reformas, democratização do espaço e sua utilização para atividades artísticas e culturais.
Percebeu-se também que a sociedade pelotense vem se apropriando deste espaço para
apresentações culturais e artísticas locais, bem como incentivando sua revitalização. Desse
modo, o Teatro Guarany retoma sua função inicial de ser um espaço de expressão cultural da
sociedade pelotense, contribuindo para o desenvolvimento de um sentimento coletivo de
pertencimento, valorizando o Teatro Guarany enquanto patrimônio da cidade de Pelotas,
construindo o sentimento de identidade e memória.
Espero que ele não seja um elefante branco, que ele continue esse elefante cinza de cimento escovado
maravilhoso, arquitetura belíssima né [Figura 1], que a gente possa, que a administração consiga devolver o
seu interior e o seu equipamento. Eu acho que essa é a nossa torcida. (Relato do frequentador do Teatro).
Figura 1 – Fachada do Teatro Guarany
Fonte: Prefeitura Municipal de Pelotas, 2015. Disponível em: www.pelotas.rs.gov.br.
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REFERÊNCIAS
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da Associação Brasileira de História Oral, v. 8, n. 1, p. 11-28, jan.-jun. 2005.
ALBERTI, V. História oral: a experiência do CPDOC. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio
Vargas, 1989.
CALDAS, P. H.; SANTOS, Y. L. Guarany – o grande teatro de Pelotas. Pelotas:
Semeador, 1994.
CALDAS, P. H.; SANTOS, Y. L.; SANTOS, F. Pioneiro no Cinema no Brasil. Gramado-
RS, Edições Semeador, 1996.
CHARTIER, R. Do palco à página. Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2002.
ERRANTE, A. Mas afinal, A Memória é de Quem? Histórias orais e modos de lembrar e
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FENTRESS, J. & WICKHAM, C. Memória Social: novas perspectivas sobre o passado.
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TAVARES, F. S.; MICHELON, F. F. & ROTMAN, M. B. Cinema e Memória: Cine Teatro
Guarany de Pelotas/RS. In: CONGRESSO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA, XVII, 2008,
Pelotas. Anais ... Pelotas: UFPel, 2008.
Jornais
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A Opinião Pública, Pelotas, 30.04.1921.
A Opinião Pública, Pelotas, 07.05.1921.
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Diário Popular, Pelotas, 08.02.1970.
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Diário Popular, Pelotas, 23.10.1996.
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Zero Hora, Porto Alegre, 29.04.2013, on line.
Zero Hora, Porto Alegre, 29.04.2013, on line.
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