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MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALPROCURADORIA DA REPÚBLICA NO PARÁ
PROCURADORIA REGIONAL DOS DIREITOS DO CIDADÃO
EXCELENTÍSSIMA SENHORA JUIZA FEDERAL DA 2ª VARA FEDERAL DA SEÇÃOJUDICIÁRIA DO PARÁ
ACP nº 0024627-86.2013.4.01.3900 (Distribuição por Dependência)PA no 1.23.000.002991/2018-42
O MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL, por intermédio do Procurador da
República subscritor, no uso de suas atribuições constitucionais e legais, com fulcro no art. 129, II e
III da Constituição Federal, no art. 5º, V, a da Lei Complementar n° 75/93, bem como nos dispositivos
pertinentes da Lei nº 7.347/85, vem perante Vossa Excelência promover o presente
CUMPRIMENTO PROVISÓRIO DE SENTENÇA
EM AÇÃO CIVIL PÚBLICA
em face da UNIÃO, pessoa jurídica de direito público interno, representada, nos termos do art. 131 da
Constituição Federal, do art. 75, I do Código de Processo Civil e da Lei Complementar nº 73/93, pela
Advocacia Geral da União – AGU, que, no Estado do Pará, está localizada na Av. Boulevard Castilho
França, nº 708, 4º, 5º e 6º andares do Ed. Banco Central, Comércio, Belém/PA;
da UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ – UFPA, autarquia federal, pessoa jurídica de direito
público interno, representada, nos termos do art. 131 da Constituição Federal, do art. 75, IV do Código
de Processo Civil, dos art. 2º, §3º e 17, I da Lei Complementar nº 73/93 e da Lei nº 10.480/02, pela
Procuradoria Federal junto à UFPA, órgão vinculado à AGU, que, no Estado do Pará, está localizada
na Rua Augusto Corrêa, 1 – UFPA – Prédio da Reitoria – 3º andar – CEP 66075-900;
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do ESTADO DO PARÁ, pessoa jurídica de direito público interno, representado, nos termos do art.
132 da Constituição Federal e do art. 75, II do Código de Processo Civil, pela Procuradoria-Geral do
Estado do Pará – PGE/PA, com sede nesta Capital, na Rua dos Tamoios, nº 1671, Batista Campos; e
do MUNICÍPIO DE BELÉM, pessoa jurídica de direito público interno, representado, nos termos do
art. 132 da Constituição Federal, do art. 75, III do Código de Processo Civil e do art. 21, §2º da Lei
municipal nº 9.403/18, pela Procuradoria-Geral do Município de Belém – PGM/Belém, com sede
nesta Capital, na Travessa Primeiro de Março, 424, Campina – CEP – 66015-052,
tendo em vista a prolação de sentença definitiva de mérito por este MM. Juízo Federal, com
confirmação de tutela provisória, para condenar os Réus às seguintes obrigações:
Por todas essas razões, ratifico a decisão antecipatória dos efeitos da tutela, e,
com arrimo no art. 487, I, do CPC, julgo parcialmente procedentes os pedidos
elencados na inicial para determinar:
a) À UNIÃO que forneça todos os medicamentos e suplementos alimentares
necessários ao tratamento dos pacientes portadores de fibrose cística no âmbito do
Sistema Único de Saúde no Estado do Pará, na quantidade e frequência suficientes
a atender a demanda dos pacientes;
b) À UFPA, que garanta, por meio do Hospital Universitário João de Barros
Barreto, a execução regular do serviço de disponibilização dos medicamentos e
suplementos alimentares necessários ao tratamento dos pacientes portadores de
fibrose cística no âmbito do Sistema Único de Saúde no Estado do Pará, na
quantidade e frequência suficientes a atender a demanda de pacientes, nos termos
da fundamentação.
c) Ao ESTADO DO PARÁ, que disponibilize aos pacientes portadores de Fibrose
Cística das redes estadual conveniada ao Sistema Único de Saúde os EXAMES DE
ROTINA necessário ao acompanhamento clínico da patologia, na quantidade e
frequência suficientes a atender a demanda dos pacientes, (Teste do Suor, Teste
SWAB, Teste do Escarro ou qualquer outro de mesma finalidade);
Nos termos do celebrado em 22/03/2017, deve a UFPA garantir fornecimento
constante do serviço de diagnóstico da fibrose cística e acompanhamento clínico
dos pacientes portadores da moléstia, mediante a realização dos exames para esse
fim (Teste do Suor, Teste SWAB, Teste do Escarro ou qualquer outro com de mesma
finalidade), na quantidade e frequência e suficientes a atender a demanda de
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pacientes, junto ao Hospital Universitário João de Barros Barreto.
Nesse contexto, nos termos do art. 1.012 do Código de Processo Civil:
Art. 1.012. A apelação terá efeito suspensivo.
§ 1º Além de outras hipóteses previstas em lei, começa a produzir efeitos
imediatamente após a sua publicação a sentença que:
V - confirma, concede ou revoga tutela provisória;
§ 2º Nos casos do § 1º, o apelado poderá promover o pedido de cumprimento
provisório depois de publicada a sentença.
Nota-se, portanto, que a sentença prolatada nos autos da ACP 0024627-
86.2013.4.01.3900 tem eficácia imediata, devendo ser cumprida por todas as partes, o que ora se
requer.
I – DOS DOCUMENTOS ESSENCIAIS
Os documentos essenciais ao cumprimento provisório da sentença foram elencados no
art. 533, parágrafo único, do Código de Processo Civil:
Art. 522. O cumprimento provisório da sentença será requerido por petição
dirigida ao juízo competente.
Parágrafo único. Não sendo eletrônicos os autos, a petição será acompanhada de
cópias das seguintes peças do processo, cuja autenticidade poderá ser certificada
pelo próprio advogado, sob sua responsabilidade pessoal:
I - decisão exequenda;
II - certidão de interposição do recurso não dotado de efeito suspensivo;
III - procurações outorgadas pelas partes;
IV - decisão de habilitação, se for o caso;
V - facultativamente, outras peças processuais consideradas necessárias para
demonstrar a existência do crédito.
Por tal motivo, o MPF apresenta nesta oportunidade cópia de todas as decisões
prolatadas nos autos originários, extraídas diretamente do sítio eletrônico do Tribunal Regional
Federal na 1a Região, bem como demais documentos constantes nos autos que demonstram o
descumprimento da decisão por parte da UNIÃO e da UFPA.
Registra-se que fica dispensada a apresentação de procurações, tendo em vista que a
representação judicial das partes decorre de Lei e da Constituição, motivo pelo qual seus presentantes
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não necessitam de instrumento de mandato.
Quanto à certidão de interposição de recurso não dotado de efeito suspensivo, tendo
em vista a urgência da execução da sentença, o MPF requer nesta oportunidade a concessão do prazo
de 15 dias para sua apresentação. Ressalta-se que a expedição da mencionada certidão já foi
requerida nos autos originários.
II – DO DESCUMPRIMENTO DA SENTENÇA
Nos autos originários, este MM. Juízo Federal determinou ao Senhor Oficial de Justiça
a realização de diligência para verificar os estoques de medicamentos do Hospital Universitário João
de Barros Barreto. Consta naqueles autos Relatório de Inspeção (anexado aos presentes autos) em que
se relata:
De acordo com informações da Sra. Júlia S. Souza Reis:
1. Os medicamentos constantes da Tabela nº 1 são de responsabilidade do
Município de Belém e são “medicamentos básicos”, isto é, não específicos da
fibrose cística;
2. Os medicamentos constantes da Tabela nº 02, que vinham sendo fornecidos
pela Secretaria de Saúde do Estado do Pará (SESPA), segundo informações da
referida Secretaria, serão repassados apenas enquanto durar o estoque em
virtude de decisão judicial que transfere a responsabilidade do fornecimento
para a União;
3. Referidos medicamentos são dispensados para os pacientes mês a mês.
Isto posto, nada mais havendo, devolvo o presente Mandado à Secretaria
competente para os ulteriores de direito.
O referido é verdade e dou fé.
Belém/PA, 13 de março de 2019.
RENATO DA CRUZ XERFAN
OFICIAL DE JUSTIÇA AVALIADOR FEDERAL
MATRÍCULA PA 1000705
Veja-se o conteúdo da Tabela nº 02, mencionada no Relatório:
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Destaca-se que também compareceram a esta Procuradoria da República, no dia
27/05/2019, e mães de
pacientes diagnosticados com Fibrose Cística e tratados no âmbito do Sistema Único de Saúde. Em
sua manifestação (DIGI-DENÚNCIA 20190039088/2019 – PR-PA-00024419/2019, anexada aos
autos), ambas relatam:
QUE vem ocorrendo a falta da medicação para tratamento de fibrose cística, de
nome ALFADORNASE 2,5 MG, bem como o suplemento alimentar de nome
FORTINI, conforme informação constante do recibo de dispensação de
medicamento (anexo); QUE ao comparecer ao Hospital Barros Barreto, em
21/03/2019 foi-lhe negado suplemento FORTINI, e, posteriormente, em
23/05/2019, foi-lhe negada a medicação ALFADORNASE 2,5 MG por não
constar em estoque, o que prejudica também todas as pessoas que fazem o mesmo
tratamento; QUE desde dezembro/2018 outras medicações para tratamento da
citada enfermidade também estão em falta, bem como suplementos alimentares
necessários ao tratamento, mesmo após ter havido sentença, em abril/2017, nos
autos do processo 24627-86.2013.4.01.3900, de autoria deste MPF (PA
1.23.000.001348/2012-4), que determinou que a "União forneça todos os
medicamentos e suplementos alimentares necessários ao tratamento dos pacientes
portadores de fibrose cística no âmbito do Sistema Único de Saúde no Estado do
Pará, na quantidade e frequência suficientes a atender a demanda de pacientes";
QUE solicitam a intervenção deste parquet a fim de que a decisão judicial seja
cumprida e que sejam fornecidos todos os medicamentos necessários, por meio de
compra EMERGENCIAL, uma vez que a denunciante teme que o procedimento de
compra regular demore meses; QUE vários pacientes que estão sendo lesados pela
falta dos medicamentos e suplementos estão comunicando o fato perante a DPU,
motivo pelo qual a denunciante pede que este MPF solicite a documentação lá
entregue por vários outros pacientes, que acusam a falta de outros remédios além
dos mencionados na presente representação.
Consta nos autos ainda NOTA TÉCNICA Nº 48/2019-CGEAF/DAF/SCTIE/MS
(anexada), expedida pela Coordenação-Geral do Componente Especializado da Assistência
Farmacêutica, órgão que integra a Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos do
Ministério da Saúde. Referido documento esclarece a distinção dos grupos de responsabilidade
regulamentar dos entes federados no contexto do Componente Especializado da Assistência
Farmacêutica.
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Referida distinção foi estabelecida pelo art. 49 do Anexo XXVIII da Portaria de
Consolidação MS/GM nº 02/2017 (Art. 3º da Portaria MS/GM no 1.554/2013):
Art. 49. Os medicamentos que fazem parte das linhas de cuidado para as doenças
contempladas neste Componente estão divididos em três grupos conforme
características, responsabilidades e formas de organização distintas:
I - Grupo 1: medicamentos sob responsabilidade de financiamento pelo
Ministério da Saúde, sendo dividido em:
a) Grupo 1A: medicamentos com aquisição centralizada pelo Ministério da
Saúde e fornecidos às Secretarias de Saúde dos Estados e Distrito Federal, sendo
delas a responsabilidade pela programação, armazenamento, distribuição e
dispensação para tratamento das doenças contempladas no âmbito do
Componente Especializado da Assistência Farmacêutica; e
b) Grupo 1B: medicamentos financiados pelo Ministério da Saúde mediante
transferência de recursos financeiros para aquisição pelas Secretarias de Saúde
dos Estados e Distrito Federal sendo delas a responsabilidade pela programação,
armazenamento, distribuição e dispensação para tratamento das doenças
contempladas no âmbito do Componente Especializado da Assistência
Farmacêutica;
II - Grupo 2: medicamentos sob responsabilidade das Secretarias de Saúde dos
Estados e do Distrito Federal pelo financiamento, aquisição, programação,
armazenamento, distribuição e dispensação para tratamento das doenças
contempladas no âmbito do Componente Especializado da Assistência
Farmacêutica; e
III - Grupo 3: medicamentos sob responsabilidade das Secretarias de Saúde do
Distrito Federal e dos Municípios para aquisição, programação, armazenamento,
distribuição e dispensação e que está estabelecida em ato normativo específico
que regulamenta o Componente Básico da Assistência Farmacêutica.
Feitos tais esclarecimentos, a Nota Técnica informa:
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Complementa, ainda, quanto à responsabilidade regulamentar pela aquisição dos
medicamentos:
Nesse contexto, verifica-se dos documentos ora juntados que a União nega-se a
fornecer quaisquer medicamentos que constem no Grupo 1A do Componente Especializado da
Assistência Farmacêutica. Destaque-se que o MPF já ajuizou Ação Civil Pública para compelir a
União a fornecer medicamentos constantes deste grupo em virtude de omissão no cumprimento de seu
dever, tendo este MM. Juízo Federal concedido parcialmente a tutela provisória requerida.
Também se verifica que o Estado do Pará deixou de adquirir medicamentos
constantes no Grupo 1B do Componente Especializado da Assistência Farmacêutica, que são de sua
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responsabilidade, alegando (equivocadamente) que a sentença prolatada por este MM Juízo Federal
transferiu a responsabilidade do fornecimento para a União.
Em meio à omissão das partes, os pacientes diagnosticados com Fibrose Cística e
tratados pelo Sistema Único de Saúde correm risco iminente de morte.
Cabe destacar que a fundamentação da sentença condenatória é clara em consignar a
SOLIDARIEDADE entre os entes federados no fornecimento de medicamentos:
É, portanto, responsabilidade do Estado, enquanto poder público (União, Estado,
Distrito Federal e Município), garantir aos cidadãos o fornecimento de
medicamentos e/ou tratamentos de saúde necessários à garantia do direito à
saúde.
A divisão administrativa de atribuições estabelecida pela Lei 8.080/1990 não
possui o condão de restringir a responsabilidade solidária da União, dos Estados,
do Distrito Federal e dos Municípios, mas serve apenas como parâmetro da
repartição do ônus financeiro da atuação estatal.
Nesse sentido, aliás, o Supremo Tribunal Federal fixou Tese de Repercussão Geral
no julgamento de Embargos de Declaração no Recurso Extraordinário nº 855.178 (Tema 793), no
último dia 22/05/2019:
Os entes da federação, em decorrência da competência comum, são
solidariamente responsáveis nas demandas prestacionais na área da saúde, e
diante dos critérios constitucionais de descentralização e hierarquização, compete
à autoridade judicial direcionar o cumprimento conforme as regras de
repartição de competências e determinar o ressarcimento a quem suportou o
ônus financeiro.
Nesse contexto, cabe relembrar o dispositivo da sentença prolatada nos autos da ACP
0024627-86.2013.4.01.3900 e cujo cumprimento ora se requer:
Por todas essas razões, ratifico a decisão antecipatória dos efeitos da tutela, e,
com arrimo no art. 487, I, do CPC, julgo parcialmente procedentes os pedidos
elencados na inicial para determinar:
a) À UNIÃO que forneça todos os medicamentos e suplementos alimentares
necessários ao tratamento dos pacientes portadores de fibrose cística no âmbito
do Sistema Único de Saúde no Estado do Pará, na quantidade e frequência
suficientes a atender a demanda dos pacientes;
Verifica-se, desse modo, que está a União obrigada pela sentença definitiva de mérito
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em pleno vigor a fornecer TODOS os medicamentos e suplementos alimentares necessários,
independentemente da existência de repartição administrativa de competências relativas a sua
aquisição.
Os regulamentos expedidos pelo Ministério da Saúde não podem, por óbvio, servir de
justificativa para o descumprimento da sentença proferida nestes autos, especialmente porque o
referido julgado, na linha da jurisprudência pretoriana, impôs à União obrigação solidária de garantia
de regularidade do fornecimento dos medicamentos.
Ainda mais no caso em apreço, em que a União é responsável também pelo
financiamento dos medicamentos integrantes do Grupo 1B do Componente Especializado da
Assistência Farmacêutica, não é possível ao ente central eximir-se do cumprimento do mandamento
judicial.
III – DA EFETIVAÇÃO DA TUTELA JURISDICIONAL
Conforme relatado, a União tem sistematicamente se omitido no cumprimento da
obrigação imposta por sentença no sentido de fornecer todos os medicamentos e suplementos
alimentares necessários ao tratamento dos pacientes portadores de fibrose cística no âmbito do Sistema
Único de Saúde no Estado do Pará, na quantidade e frequência suficientes a atender a demanda dos
pacientes.
Não bastasse isso, também é sabido que a UNIÃO tem sistematicamente se omitido
no cumprimento de decisões judiciais, deixando de adquirir e fornecer medicamentos ainda após a
determinação do juízo, como se verifica em consultas à jurisprudência dos diversos tribunais regionais
e também do Superior Tribunal de Justiça.
Nesse contexto, impõe-se ao Poder Judiciário a adoção de medidas coercitivas que
garantam a efetivação da tutela jurisdicional pretendida, como, aliás, estabelecido pelo Código de
Processo Civil:
Art. 297. O juiz poderá determinar as medidas que considerar
adequadas para efetivação da tutela provisória.
Parágrafo único. A efetivação da tutela provisória observará as normas
referentes ao cumprimento provisório da sentença, no que couber.
Art. 301. A tutela de urgência de natureza cautelar pode ser efetivada
mediante arresto, sequestro, arrolamento de bens, registro de protesto contra
www..mpf.mp.br/pa 10
alienação de bem e qualquer outra medida idônea para asseguração do
direito.
Art. 497. Na ação que tenha por objeto a prestação de fazer ou de não fazer,
o juiz, se procedente o pedido, concederá a tutela específica ou
determinará providências que assegurem a obtenção de tutela pelo
resultado prático equivalente.
Art. 536. No cumprimento de sentença que reconheça a exigibilidade de
obrigação de fazer ou de não fazer, o juiz poderá, de ofício ou a
requerimento, para a efetivação da tutela específica ou a obtenção de
tutela pelo resultado prático equivalente, determinar as medidas
necessárias à satisfação do exequente.
(grifos nossos)
Cabe destacar que não há vedação legal à aplicação de medidas coercitivas para a
garantia da execução de tutela específica imposta à Fazenda Pública, de modo que o juízo está
autorizado a determinar qualquer medida que se mostre necessária à efetivação da tutela
jurisdicional.
3.1. Da possibilidade de fixação de astreintes contra a Fazenda Pública
Dentre as medidas constritivas disponíveis para a efetivação da tutela específica,
destaca-se inicialmente a possibilidade de fixação de multa cominatória (astreintes), com fundamento
no art. 536, §1o do Código de Processo Civil:
Art. 536. No cumprimento de sentença que reconheça a exigibilidade de
obrigação de fazer ou de não fazer, o juiz poderá, de ofício ou a
requerimento, para a efetivação da tutela específica ou a obtenção de
tutela pelo resultado prático equivalente, determinar as medidas
necessárias à satisfação do exequente.
§ 1º Para atender ao disposto no caput, o juiz poderá determinar, entre
outras medidas, a imposição de multa, a busca e apreensão, a remoção
de pessoas e coisas, o desfazimento de obras e o impedimento de atividade
nociva, podendo, caso necessário, requisitar o auxílio de força policial.
(grifos nossos)
www..mpf.mp.br/pa 11
Conforme já destacado, a Lei não exclui a Fazenda Pública quando estabelece a
possibilidade de tutela específica, inclusive por meio da fixação de astreintes, o que autoriza dua
aplicação em consideração à urgência e à essencialidade do direto ora tratado, tal qual é o direito
constitucional à saúde. Nesse sentido fixou-se a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça,
conforme decidido no julgamento do Resp-Repetitivo 1474665/RS, sob a sistemática do art. 543-C,
§7º do Código de Processo Civil de 1973 (art. 976 do Novo CPC):
PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL REPRESENTATIVO DE
CONTROVÉRSIA. ART. 543-C DO CPC/1973. AÇÃO ORDINÁRIA DE
OBRIGAÇÃO DE FAZER. FORNECIMENTO DE MEDICAMENTO
PARA O TRATAMENTO DE MOLÉSTIA. IMPOSIÇÃO DE MULTA
DIÁRIA (ASTREINTES) COMO MEIO DE COMPELIR O
DEVEDOR A ADIMPLIR A OBRIGAÇÃO. FAZENDA PÚBLICA.
POSSIBILIDADE. INTERPRETAÇÃO DO CONTEÚDO NORMATIVO
INSERTO NO § 5º DO ART. 461 DO CPC/1973. DIREITO À SAÚDE E À
VIDA.
1. Para os fins de aplicação do art. 543-C do CPC/1973, é mister delimitar o
âmbito da tese a ser sufragada neste recurso especial representativo de
controvérsia: possibilidade de imposição de multa diária (astreintes) a ente
público, para compeli-lo a fornecer medicamento à pessoa desprovida de
recursos financeiros.
2. A função das astreintes é justamente no sentido de superar a
recalcitrância do devedor em cumprir a obrigação de fazer ou de não
fazer que lhe foi imposta, incidindo esse ônus a partir da ciência do
obrigado e da sua negativa de adimplir a obrigação voluntariamente.
3. A particularidade de impor obrigação de fazer ou de não fazer à
Fazenda Pública não ostenta a propriedade de mitigar, em caso de
descumprimento, a sanção de pagar multa diária, conforme prescreve o
§ 5º do art. 461 do CPC/1973. E, em se tratando do direito à saúde, com
maior razão deve ser aplicado, em desfavor do ente público devedor, o
preceito cominatório, sob pena de ser subvertida garantia fundamental.
Em outras palavras, é o direito-meio que assegura o bem maior: a vida.
Precedentes: AgRg no AREsp 283.130/MS, Relator Ministro Napoleão
Nunes Maia Filho, Primeira Turma, DJe 8/4/2014;
REsp 1.062.564/RS, Relator Ministro Castro Meira, Segunda Turma, DJ de
23/10/2008; REsp 1.062.564/RS, Relator Ministro Castro Meira, Segunda
www..mpf.mp.br/pa 12
Turma, DJ de 23/10/2008; REsp 1.063.902/SC, Relator Ministro Francisco
Falcão, Primeira Turma, DJ de 1/9/2008; e AgRg no REsp 963.416/RS,
Relatora Ministra Denise Arruda, Primeira Turma, DJ de 11/6/2008.
4. À luz do § 5º do art. 461 do CPC/1973, a recalcitrância do devedor
permite ao juiz que, diante do caso concreto, adote qualquer medida que se
revele necessária à satisfação do bem da vida almejado pelo jurisdicionado.
Trata-se do "poder geral de efetivação", concedido ao juiz para dotar de
efetividade as suas decisões. 5. A eventual exorbitância na fixação do valor
das astreintes aciona mecanismo de proteção ao devedor: como a cominação
de multa para o cumprimento de obrigação de fazer ou de não fazer tão
somente constitui método de coerção, obviamente não faz coisa julgada
material, e pode, a requerimento da parte ou ex officio pelo magistrado, ser
reduzida ou até mesmo suprimida, nesta última hipótese, caso a sua
imposição não se mostrar mais necessária.
Precedentes: AgRg no AgRg no AREsp 596.562/RJ, Relator Ministro Moura
Ribeiro, Terceira Turma, DJe 24/8/2015; e AgRg no REsp 1.491.088/SP,
Relator Ministro Ricardo Villas Bôas Cueva, Terceira Turma, DJe 12/5/2015.
6. No caso em foco, autora, ora recorrente, requer a condenação do Estado
do Rio Grande do Sul na obrigação de fornecer (fazer) o medicamento
Lumigan, 0,03%, de uso contínuo, para o tratamento de glaucoma primário
de ângulo aberto (C.I.D. H 40.1). Logo, é mister acolher a pretensão
recursal, a fim de restabelecer a multa imposta pelo Juízo de primeiro grau
(fls. 51-53).
7. Recurso especial conhecido e provido, para declarar a possibilidade
de imposição de multa diária à Fazenda Pública.
Acórdão submetido à sistemática do § 7º do artigo 543-C do Código de
Processo Civil de 1973 e dos arts. 5º, II, e 6º, da Resolução STJ n.
08/2008.
(REsp 1474665/RS, Rel. Ministro BENEDITO GONÇALVES, PRIMEIRA
SEÇÃO, julgado em 26/04/2017, DJe 22/06/2017)
(grifos nossos)
www..mpf.mp.br/pa 13
3.2. Da possibilidade da fixação de multa pessoal ao agente público
Ainda, cabível também o é, em nome da eficácia do decisum e da relevância do tema
discutido, a fixação de multa pessoal ao agente público responsável pela condução da máquina, uma
vez que, se o serviço não vem funcionando como deveria, o agente público possui parcela de culpa e
deve ser responsabilizado em caso de inércia frente ao mandamento judicial. Desse modo entendeu
esta própria Seção Judiciária do Pará, consoante é possível observar no trecho extraído da decisão do
Excelentíssimo Senhor Juiz Federal Arthur Pinheiro Chaves, exarada nos autos do processo no
2008.39.00.006479-9, que tramita perante a 1ª Vara Federal da SJ/PA:
“(...) Ante o exposto, presentes os requisitos, DEFIRO O PEDIDO DE
ANTECIPAÇÃO DE TUTELA para determinar que a UNIÃO, o
ESTADO DO PARÁ e o Município de Belém, no prazo de 15 (quinze)
dias, garantam, aos menores JARDEL LEÃO FEITOSA e JOSÉ
HENRIQUE RODRIGUES DE LIMA, o fornecimento ininterrupto, até o
final decisão, dos medicamentos denominados Insulina Glargina e Insulina
Lispro ou Aspart, as agulhas descartáveis da caneta e fitas reagentes de
glicosímetro, nas quantidades prescritas pelos médicos, bem como, a
TODOS que deles necessitarem, o fornecimento ininterrupto, até final
decisão, de TODOS OS MEDICAMENTOS E MATERIAIS destinados ao
adequado e eficiente tratamento de pacientes diabéticos, em quantidade e
qualidade necessários, de acordo com a respectiva prescrição médica.
Estabeleço multa diária no valor de R$10.000,00 (dez mil reais), a ser
revertido em favor dos doentes de diabetes na rede pública de saúde do
ESTADO DO PARÁ, na forma do art. 461, §5º do CPC (astreintes), bem
como multa pessoal aos Srs. Secretário de Saúde do ESTADO DO PARÁ
e Secretário de Saúde do Município de Belém, em caso de
descumprimento da presente decisão, no prazo de 15 (quinze dias), no
valor de 20% (vinte por cento) sobre o valor da causa (art. 14, V e
parágrafo único do CPC). (...)”.
3.3. Da possibilidade do bloqueio de valores de contas públicas por meio do BACEN/JUD para a
efetivação de tutela específica
Por outro lado, também se afigura possível o bloqueio de valores diretamente de
contas públicas, por meio do convênio BACEN/JUD, com fundamento no poder geral de efetivação
www..mpf.mp.br/pa 14
das tutelas jurisdicionais e aplicando-se o procedimento específico à execução de dívidas de valor:
Art. 139. O juiz dirigirá o processo conforme as disposições deste Código,
incumbindo-lhe:
IV - determinar todas as medidas indutivas, coercitivas, mandamentais
ou sub-rogatórias necessárias para assegurar o cumprimento de ordem
judicial, inclusive nas ações que tenham por objeto prestação pecuniária;
(grifos nossos)
Nesse sentido, a Primeira Seção do Superior Tribunal de Justiça, em julgamento do
Resp-Repetitivo 1.069.810/RS, fixou o entendimento de que é possível o bloqueio de verbas
públicas diretamente de contas de entes federados para a efetivação de tutela jurisdicional que
determine o fornecimento de medicamentos:
PROCESSUAL CIVIL. ADMINISTRATIVO. RECURSO ESPECIAL.
ADOÇÃO DE MEDIDA NECESSÁRIA À EFETIVAÇÃO DA TUTELA
ESPECÍFICA OU À OBTENÇÃO DO RESULTADO PRÁTICO
EQUIVALENTE. ART. 461, § 5o. DO CPC. BLOQUEIO DE VERBAS
PÚBLICAS. POSSIBILIDADE CONFERIDA AO JULGADOR, DE
OFÍCIO OU A REQUERIMENTO DA PARTE. RECURSO ESPECIAL
PROVIDO. ACÓRDÃO SUBMETIDO AO RITO DO ART. 543-C DO
CPC E DA RESOLUÇÃO 08/2008 DO STJ.
1. Tratando-se de fornecimento de medicamentos, cabe ao Juiz adotar
medidas eficazes à efetivação de suas decisões, podendo, se necessário,
determinar até mesmo, o sequestro de valores do devedor (bloqueio),
segundo o seu prudente arbítrio, e sempre com adequada fundamentação.
2. Recurso Especial provido. Acórdão submetido ao regime do art.
543-C do CPC e da Resolução 08/2008 do STJ.
(REsp 1069810/RS, Rel. Ministro NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO,
PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em 23/10/2013, DJe 06/11/2013)
(grifos nossos)
Justifica-se desse modo a efetivação da tutela específica por todos os meios
possíveis.
www..mpf.mp.br/pa 15
IV - DOS PEDIDOS E REQUERIMENTOS
Ante o exposto, o MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL requerer a Vossa
Excelência:
4.1. a autuação e a distribuição do presente Cumprimento Provisório de
Sentença de Ação Civil Pública, por dependência à ACP nº 0024627-
86.2013.4.01.3900, à 2ª Vara Federal da Seção Judiciária do Pará, com a
apensação do Procedimento Administrativo no 1.23.000.002991/2018-42 e
a juntada dos demais documentos que seguem anexados;
4.2. a concessão do prazo de 15 dias para a juntada de certidão de
interposição de recurso não dotado de efeito suspensivo, já requerida nos
autos do processo originário, considerando-se a urgência que o caso requer;
4.3. a dispensa do pagamento das custas, emolumentos e outros encargos,
tendo em vista o disposto no art. 18 da Lei n° 7.347/85;
4.4. a intimação da DPU para, querendo, integrar o feito, tendo em vista sua
condição de assistente litisconsorcial do autor da Ação Civil Pública
originária;
4.5. a citação dos Réus para integrar o feito, por meio de sua representação
judicial, já indicada na parte preambular desta petição;
4.6. a notificação da UNIÃO, na pessoa do Coordenador-Geral de Gestão de
Demandas Judiciais em Saúde – CGJUD/MS, e da UNIVERSIDADE
FEDERAL DO PARÁ – UFPA, na pessoa do seu Reitor, para dar
cumprimento integral e imediato à sentença definitiva de mérito, com
confirmação de tutela provisória, para:
4.6.1. que a UNIÃO forneça todos os medicamentos e suplementos
alimentares necessários ao tratamento dos pacientes portadores de fibrose
cística no âmbito do Sistema Único de Saúde no Estado do Pará, na
quantidade e frequência suficientes a atender a demanda dos pacientes;
4.6.2. que a UFPA garanta, por meio do Hospital Universitário João de
Barros Barreto, a execução regular do serviço de disponibilização dos
medicamentos e suplementos alimentares necessários ao tratamento dos
pacientes portadores de fibrose cística no âmbito do Sistema Único de Saúde
no Estado do Pará, na quantidade e frequência suficientes a atender a
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demanda de pacientes, nos termos da fundamentação;
4.6.3. que a UNIÃO e a UFPA comprovem, no prazo de 72h (setenta e duas
horas) o devido cumprimento da sentença;
4.7. em caso de descumprimento da sentença definitiva de mérito, adotar
todas as medidas executivas que se mostrarem necessárias para garantir a
efetivação da tutela jurisdicional, incluindo, mas não se restringindo:
4.7.1. à cominação de MULTA DIÁRIA individual a cada um dos Réus, no
valor de R$ 10.000,00 (DEZ MIL REAIS) por paciente desatendido;
4.7.2. à fixação de MULTA PESSOAL ao Ministro de Estado da Saúde e
ao Reitor da UFPA;
4.7.3. à determinação do BLOQUEIO PREVENTIVO, por meio do
sistema BACEN/JUD, da quantia de R$ 1.000.000,00 (um milhão de reais),
da Conta Única do Tesouro Nacional, para garantir o financiamento e a
aquisição dos medicamentos indicados no item 4.6.1, supra, ainda que
executada por outro Réu, sem prejuízo da efetivação de novos bloqueios caso
tal providência se mostre necessária;
4.7.4. à designação de audiência de conciliação, com a consequente
notificação para comparecimento:
4.7.4.1. do MPF e da DPU;
4.7.4.2. da UNIÃO, com a presença de Advogado da União e do Secretário
de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos – SCTIE, preferencialmente,
ou de representante do Ministério de Estado da Saúde que tenha poderes para
transigir e condições de prestar informações qualificadas, inclusive com
participação por meio do sistema de videoconferência (carta precatória
eletrônica) com a Seção Judiciária do Distrito Federal – SJ/DF;
4.7.4.3. da UFPA, com a presença de Procurador Federal, do Reitor e de
representantes do Hospital Universitário João de Barros Barreto com
condições de prestar informações qualificadas;
4.7.4.4. do ESTADO DO PARÁ, com a presença de Procurador do Estado e
de representantes da Secretaria de Estado da Saúde com poderes para
transigir e condições de prestar informações qualificadas; e
4.7.4.5. do MUNICÍPIO DE BELÉM, com a presença de Procurador do
Município e de representantes da Secretaria de Saúde Municipal com
poderes para transigir e condições de prestar informações qualificadas;
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4.8. a produção de todas as provas em direito admitidas, incluindo mas não
se restringindo à juntada posterior de documentos, à oitiva de testemunhas,
ao depoimento pessoal de agentes públicos integrantes do Poder Executivo
dos Réus, à realização de perícias e até mesmo de inspeções judiciais que se
fizerem necessárias ao pleno conhecimento dos fatos e à garantia do efetivo
cumprimento da tutela jurisdicional já deferida; e
4.9. a condenação dos Réus ao pagamento dos ônus sucumbenciais.
Dá-se à causa o valor de R$ 1.000.000,00 (um milhão de reais).
Belém/PA, 30 de maio de 2019.
PAULO ROBERTO SAMPAIO ANCHIETA SANTIAGOProcurador da República
Procurador Regional dos Direitos do Cidadão
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