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JULIANA MARCHI PALMA E SILVA
A TV SEGMENTADA E OS GRUPOS URBANOS
SÃO PAULO
2003
2
JULIANA MARCHI PALMA E SILVA
A TV SEGMENTADA E OS GRUPOS URBANOS
Monografia apresentada como
exigência parcial para a disciplina de Projeto em Multimeios II no curso de
graduação de Comunicação em Multimeios pela Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo –PUC/SP
Orientador: Prof.Ms. Milton Pelegrini
SÃO PAULO
2003
3
TÍTULO: A TV SEGMENTADA E OS
GRUPOS URBANOS
AUTORA: JULIANA MARCHI PALMA
E SILVA
Local e data: São Paulo, 2003.
Banca examinadora:
Nome: Prof. Ms. Milton Pelegrini
Instituição: PUC-SP
Nota:____________________
Assinatura:________________
Nome: Prof. Ms. Mário Augusto de
Souza Fontes
Nota:___________________
Assinatura:______________
Nome: Prof. Ms. Múcio Whitaker
Nota:___________________
Assinatura:_______________
4
AGRADECIMENTOS Aos meus queridos pais, Ana e Luiz, pelas oportunidades e o incentivo para a minha formação. Ao orientador desta monografia, Professor Milton Pelegrini, por ter acreditado nas possibilidades deste estudo e contribuído com suas críticas e observações de método e teoria.
Aos Professores do curso de Comunicação em Multimeios pela convivência intelectual e companheira, em especial aos professores Mário Fontes e Norval Baitello Jr .
Aos meus amigos e colegas, pioneiros nesta área de formação, e agora comunicadores de futuro, sou grata pela convivência e amizades construídas nestes anos.
Aos entrevistados, agradeço pelo tempo que me dedicaram e pelo saber que se dispuseram a compartilhar, em especial a, André Mantovani, Érika Brandão, Tatiana Ivanovici e Mc Kamau.
Aos meus irmãos Pablo e Zé Vitor pelo nosso amor, amizade e respeito.
Aos meus colegas de trabalho da Cortez Editora e Livraria, pelas preciosas dicas e providenciais ajudas na formatação e revisão da monografia, em especial a Fábio Boiani e Agnaldo Oliveira.
Aos meus avós queridos, Sebastiana, Alzira (em memória), Hermínio (em memória) e Júlio (em memória) pelo carinho e as boas lembranças que deixaram.
Ao meu namorado Leonardo (Lelê) pela força e compreensão.
5
RESUMO
Este trabalho pretende investigar as relações que se estabelecem entre a
linguagem da TV segmentada MTV Brasil e os grupos urbanos da cidade de São
Paulo. Foram escolhidos e estudados dois programas desta TV, o YO-MTV e AMP-
MTV, e as características dos grupos urbanos rappers e clubbers, respectivamente
público dos programas.
O estudo encontra-se organizado da seguinte maneira: a Introdução, na qual
procurou-se explicitar a problemática a ser analisada, a sua importância e a forma de
abordagem; a Metodologia, cujo texto apresenta o roteiro metodológico aplicado
para a abordagem do problema e a técnica de entrevista utilizada. O primeiro
capítulo, que trata da mídia televisiva como veículo de comunicação de massa e sua
contextualização, com uma breve descrição dos elementos programáticos e a TV
segmentada MTV Brasil; o segundo capítulo discorre sobre a importância do grupo
na vida societária contemporânea e a formação das “tribos urbanas”, assim como
apresenta e caracteriza os grupos escolhidos na cidade de São Paulo
especificamente para essa monografia, referidos aos programas da MTV Brasil,
rappers e clubbers. Por fim, busca-se identificar os possíveis vínculos de
interdependência entre a MTV Brasil e grupos selecionados.
No capítulo de Conclusão são apresentadas as linhas observadas que
permeiam os pólos emissor/receptor que permitiram algumas inferências sobre a
interdependência de programa e público e considerações sobre a sociedade
mediática.
Nos anexos encontram-se os roteiros de entrevistas, os relatos e um pequeno
glossário de termos e significados dos rappers e clubbers.
6
ABSTRACT
This work intend to investigate the estabilished relations between urban
groups of São Paulo city and segmented Tv language of Mtv Brazil. Two Tv
programs was nominated and estudied , YO-MTv and AMP-Mtv and also
caracteristics of rappers and clubbers which are their especific public.
The research is organized as follows: The introduction, where was tried to
explain the problematic to be analised , her relevance and her approach way. The
methodology, presented for the text, the methodologic applied story board for
problematic aproach and used intervew tecnichal. The first chapter which covers Tv
media as massive comunications vehicle and it context, whith a short description of
programathical element and segmented Mtv Brazil; The second chapter concernes
about the relevance of the group on contemporaneus social life and urban tribes
formation, by this way it presents and caracterizes the choseen groups on São Paulo
city for this monography. At last was tried to identify the possible link between Mtv
Brazil and selected groups.
On conclusion chapter, the observed lines that conect sender and receiver
and than allow some considerations about the interdependence of public and
program and about media society, where presented.
Attached are found intervew story boards, personal interwed explanations and
a little rappers and clubbers terms dictionary.
7
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO............................................................................................8
METODOLOGIA..........................................................................................9
CAPÍTULO I
A TV COMO VEÍCULO DE COMUNICAÇÃO DE MASSA.......................11
I.1 -T V Segmentada – a MTV Brasil.........................................................13
I.2 Dois Gêneros de Programas da MTV...................................................15
CAPÍTULO II
GRUPOS URBANOS - AS TRIBOS.........................................................16
II.1- As Duas Tribos em São Paulo e os Programas da MTV................. .20
II.1.1 Os Rappers e o Yo! MTV................................................................20
II.1.2 Os Clubbers e o AMP MTV........................................................... ..23
CONCLUSÃO...........................................................................................27
ANEXO I – Roteiro das entrevistas com os Grupos.................................30
ANEXO II – Entrevistas.............................................................................31
ANEXO III – Glossário..............................................................................41
BIBLIOGRAFIA.........................................................................................44
8
Introdução
Esta monografia é o trabalho por mim realizado como exigência final para a
formação em Comunicação em Multimeios na PUC-SP em 2003, primeira turma
deste curso na Faculdade de Comunicação e Filosofia – Comfil.
O estudo busca analisar as possíveis relações de interdependência entre o
conteúdo de programas de televisão dirigidos ao público jovem e a formação de
grupos personalizados de organização e existência urbana – as chamadas “tribos
urbanas”.
O foco central da questão é a capacidade da comunicação televisiva, como
força cognitiva de informações diretas e simbolicamente programadas e dirigidas, de
influenciar o comportamento de certos grupos-alvo e destes também, de forma
genuína ou reativa, em realimentar conteúdo e linguagem destas programações. A
natureza do problema investigado determinou uma abordagem de aproximação e
análise que levou em conta os fatores próprios da comunicação e da cultura assim
como os aspectos socioculturais inerentes aos grupos.
Fundamentais para o alcance dos objetivos foram o roteiro teórico percorrido,
a escolha da pesquisa qualitativa como recurso metodológico e a utilização de
técnicas apropriadas de entrevista para a obtenção das informações. O nível de
profundidade e as inferências, bem como as análises por mim empreendidas,
evidentemente tornaram-se possíveis pela formação sistemática pela qual passei
durante os anos de estudos nas muitas disciplinas do curso.
Considero que as valiosas contribuições da orientação docente levaram-me a
formular e a desenvolver bem o problema-questão, bem como situá-lo corretamente
em um campo epistemológico, condição esta que me ajudou a trilhar com muita
satisfação as várias etapas deste desafio intelectual.
9
Metodologia
Para buscar algumas respostas à questão central deste projeto, que é o
vínculo da linguagem MTV com os grupos urbanos escolhidos, foi utilizada a
metodologia de análise do conteúdo dos depoimentos obtidos por meio de
entrevistas e da leitura da bibliografia selecionada.
Os cortes de profundidade foram mais privilegiados do que a extensão e a
extrapolação propiciada pelos métodos quantitativos, dado que não houve interesse
em definir um universo estatístico para a investigação científica pretendida que
pudesse condicionar alguma modalidade quantitativa de amostragem. Foi feito, a
rigor, um estudo exploratório, que parte de algumas premissas. Estas premissas,
presentes no roteiro de entrevista “não-diretiva”, demonstram que não se propôs ao
entrevistado um rol de perguntas estruturadas sobre aquilo que se quer desvendar,
mas sim temas pertinentes ao assunto. Por exemplo: – O que você pode me dizer
sobre seu estilo de vida? Ou: – O que seu grupo representa para você? – “é o
entrevistado que detém o a atitude da exploração” (THIOLLENT,1982:36). O
indivíduo é considerado como portador de cultura (ou subcultura) que a entrevista
não-diretiva pode explorar a partir das verbalizações, inclusive as de conteúdo
afetivo.
Outro recurso metodológico adicional foram os conteúdos buscados de fontes
complementares, tais como, vídeos, periódicos, web sites, alguns indicados pelos
próprios entrevistados, para alcançar melhor compreensão sistematizada dos grupos
pesquisados.
As histórias e as referências obtidas nos contatos realizados na MTV e
resultantes das entrevistas foram analisadas em detalhe, como modo de decifração
e compreensão que junto ao suporte teórico possibilitassem inferências e análises.
Foram entrevistadas pessoas que trabalham na MTV Brasil e jovens que se
identificam com os aspectos definidores dos grupos ligados aos programas
escolhidos.
10
Entrevistados: MTV Brasil 1) Diretor-geral da MTV - André Mantovani
2) Diretora/produtora AMP MTV - Érica Brandão
3) Diretora/produtora YO!MTV - Tatiana Ivanovici
Grupo dos rappers/manos 1) MC Kamau, 27 anos, Tucuruvi – SP – rapper.
2) Indyra, 17 anos, Casa Verde – SP – atendente de videolocadora.
3) Ricardo, 23 anos, Taboão – SP – mensageiro da Rádio Bandeirantes.
4) Reinaldo, 25 anos, Jd. Sapopemba – SP – auxiliar administrativo.
Grupo dos clubbers/música eletrônica 1) Márcio, 26 anos, Centro – SP – estilista e cabeleireiro.
2) Mariana, 22 anos, Jardins – SP – estudante de moda e atendente de loja.
3) Vinícius, 27 anos , Centro – SP – formado em turismo. Gerente de loja.
11
Capítulo I – A TV como veículo de comunicação de massa
"Conhecer e pensar não é chegar a uma verdade absolutamente certa,
mas dialogar com a incerteza" Edgar Morin.
O campo da comunicação tem hoje um papel-chave, constituindo-se num
verdadeiro ambiente capaz de acolher a multiplicidade de contextos, identidades,
universos simbólicos, interesses ou discursos que, na sua existência plural,
simultânea e imaterial, estão na contemporaneidade. A partir de um certo ponto da
trajetória de nossas sociedades, então modernas, foi possível perceber que a mídia,
nas suas várias versões e formatos, constituía-se num importante pólo irradiador de
sentidos e representações,
“mais recentemente, as fronteiras entre um lado e outro da “tela” diluem-se de tal maneira que
somos, todos, invadidos pela dramática realidade de nossas ficções midiáticas, ficando assim
praticamente impossível demarcar com clareza os limites entre a telerrealidade e a vida
cotidiana. Pouco a pouco vamos percebendo o quanto nossa realidade cotidiana é estrutural
e fundamentalmente dependente, na sua constituição e dinâmica, da produção mediática. A
mídia torna-se, então, um ambiente vital no qual sonhamos e agimos coletivamente,
construindo e reconstruindo nossas realidade”. (PEREIRA, 2002: 27-42)
A sociedade brasileira convive há mais de cinco décadas com um meio de
comunicação detentor de um poder influenciador sobre seus desígnios muito grande
– a televisão. Esta mídia de múltiplas linguagens, principalmente as de áudio e
imagens, desde seu início provocou discussões apaixonadas quanto ao seu poder
mistificador da realidade e potencial instrumento ideológico para a utilização de
sistemas e regimes de governos. Inegavelmente seu poder estende-se também para
formas mais elevadas de comunicação no jornalismo criterioso, na educação à
distância, na prestação de serviços de utilidade pública e mesmo como
entretenimento. Como janela ou espelho da sociedade, é criticada quando sua
programação e conteúdo são modelados para atingir a qualquer custo os níveis de
audiência que a tornem atraente para seus anunciantes. São emissões que
alcançam extensas camadas da população. “Ao longo de seus mais de cinqüenta
anos de história, a televisão deu mostras de ser um sistema expressivo
12
suficientemente amplo e denso para dar formas a trabalhos complexos e também
abriu espaço para algumas mentalidades” (MACHADO, 2000:10). A televisão atinge
um nível de comunicação de massa capaz de modificar comportamentos, formar
opiniões, disseminar conhecimento, induzir o consumo, ditar moda, influenciar a
linguagem, a economia e tantas outras dimensões da vida. Capaz de criar mitos e
destruir credibilidades, é por vezes amada e odiada. A televisão, com suas múltiplas
linguagens, faz parte do dia-a-dia de milhões de seres que são bombardeados por
informações e comunicações de todas as latitudes do planeta. Na análise do poeta
Décio Pignatari, McLuhan observava que as sociedades começavam a viver a era da
implosão da informação:
“ informação complexa, que se manifesta em mosaico, descontínua e simultaneamente.
Numa bela manhã de primavera, ou outono, tanto faz, muitas aldeias do planeta acordam
com uma informação muito relevante: nasceu Lurdes Maria, a filha da cantora Madona”.
(MENEZES, 1999:193-196)
A televisão é uma unanimidade, se pensarmos no seu poder mobilizador. É
difícil encontrarmos alguém que não assista a algum tipo de programa, e é fácil ouvir
em qualquer ambiente comentários sobre isto ou aquilo que a TV mostrou. Ela é
atualmente mais popular do que outros equipamentos domésticos de utilidade
básica em uma residência. Criticando ou não a sua programação, os brasileiros são
capazes de viver sem geladeira, mas não sem televisão. Ela tornou-se uma
companhia. “É mais importante do que a geladeira para o brasileiro, e segundo o
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE (1999), o país tem mais casas
com televisão do que com outro eletrodoméstico. Uma novela vale o ônus de ver
comida estragando na cozinha”. (PEREIRA, 2002:47)
São muitos os aspectos a demonstrar sobre a mídia televisão e seu alcance,
assim como os gêneros ou tipos presente nesta multiplicidade de linguagens. Dentre
eles estão o formato fundado no diálogo, no folhetim, no filme, na performance, no
jogo, no apelo pedagógico, na propaganda, no jornalismo, na transmissão de
acontecimentos diretos, na paródia, no desenho animado, no videoclipe e no
voyeurismo. Sua classificação pode superar esse corte de gênero, dada a complexa
configuração de tipos e formatos programáticos de diferenciações sutis ou mesmo
híbridas. Para Arlindo Machado, “os gêneros são categorias fundamentalmente
13
mutáveis e heterogêneas – não apenas no sentido que são diferentes entre si, mas
também no sentido que cada enunciado pode estar “replicando” muitos gêneros ao
mesmo tempo.”(MACHADO, 2000:71)
As novas tecnologias de comunicação estão cada vez mais presentes no nosso dia-
a-dia, basta perceber, por exemplo, o significativo tempo em que “vivemos nas
telas”, o quanto ela vem mudando nosso cotidiano corriqueiro ou, mesmo, as suas
implicações sobre ações sociais ou políticas atuais.
“nesse contexto, e com a convergência tecnológica em curso, a comunicação vem sendo
crescentemente vivenciada no cotidiano como um conjunto de fluxos multidirecionais. Assim,
viveríamos em um ambiente comunicacional em expansão e essa talvez seja a principal característica
do mundo contemporâneo”. (DIZARD,1998: 34)
O que dizer da Web que é capaz de articular uma multiplicidade aberta de pontos de
vista –
“é um território movediço, paradoxal, tecido com inúmeros mapas, todos diferentes, do
próprio território. Cada um terá sua própria página, seu mapa, seu site, seus pontos de vista. Cada
um se tornará autor, proprietário de uma parcela do ciberespaço. Mas essas páginas, esses sites,
esses mapas se correspondem, se interconectam e confluem horizontalmente por canais móveis e
labirínticos. O autor ou o proprietário coletivo toma corpo” (LEVY, 2001:141).
I.1 -T V Segmentada – a MTV Brasil
A emissora de televisão Music Television – MTV, cuja origem e matriz são os
Estados Unidos, ingressou no Brasil nos anos 90 com a proposta de ser uma
televisão alternativa e segmentada para jovens e adolescentes, pautada
basicamente por uma programação de videoclipes e com apresentadores jovens de
diferentes estilos mas muito próximos deste público.
Mais para o final dos anos 90, a emissora firmou-se com uma identidade que se
convencionou chamar de MTV Brasil1 – segmentada para a faixa etária específica:
jovem, mas com um formato abrasileirado, aculturado pela absorção das cores e
linguagens locais. Segundo seu diretor-geral, André Mantovani, “a linguagem da
MTV ficou mais acessível e começou a tocar mais música brasileira (...) quanto mais
1 “A MTV é mais que uma emissora de televisão feita para jovens, é uma marca que representa um ’estilo de vida‘. Para alguns chega a ser sinônimo de uma geração, influenciando comportamentos e formando opiniões. Nestes 9 anos de MTV no Brasil, a força de nossa marca vem da compreensão e do conhecimento que temos dos jovens brasileiros”. (DOSSIÊ UNIVERSO JOVEM. MTV Brasil. 1999)
14
simples você é na comunicação, mais gente vai entender, e isso aproximou mais
ainda este público com o canal”.
O Brasil é um país culturalmente muito rico e diversificado e este fator fez com
que a MTV Brasil criasse um modo próprio de linguagem comunicacional e visual.
Comparativamente às outras MTV’s internacionais, ela é umas das que conseguiu
mais se aproximar do estilo e do jeito de ser do país em que se situa, distanciando-
se de certa forma do modelo americano dominante, ainda que exibindo videoclipes
estrangeiros. Em um trecho da entrevista para este trabalho, o Diretor-geral da Mtv
explicou: “em 2000 a MTV americana fez uma pesquisa mundial em dez principais
países sobre a qualidade da programação e sobre a força da marca. E quem
ganhou foi o Brasil, como melhor programação e com a marca mais forte que a
americana.”
O videoclipe do cenário musical internacional e brasileiro ainda é a peça
fundamental da sua programação, composta também por atrações que vão do
jornalismo cultural a programas interativos virtuais e de auditório que abordam
questões pertinentes ou de interesse do mundo juvenil.
Sua linguagem característica emite um conjunto de signos que acentua
tendências capturadas do próprio universo jovem de diversos segmentos sociais
urbanos. Sua linguagem segmentada quer alcançar os muitos grupos urbanos de
adolescentes e jovens. Programas de acordo com estilos contemporâneos de
músicas e de públicos, tais como música eletrônica, rap, pop music, MPB, axé-music
entre outros. Conforme seu dirigente, “a MTV expande o vínculo da pessoa, do
grupo com o estilo de música que ela gosta”.
A imagem residual da MTV revela-se “muito positiva. Moderna (para jovem) e
diferente (das outras emissoras) são os principais atributos vinculados à imagem da
emissora. São atributos plenos de sentido, um diferencial importante da MTV” .
(ROCCA,1999:138). Na sua adequação brasileira, a emissora deixou de ser
exclusivamente o canal da música para tornar-se um canal jovem – um canal sobre
assuntos, matérias, músicas, notícias, informações que possam interessar ao jovem.
Mantendo ou inovando a abordagem jovem. Essa transformação parece ser bem
avaliada pelo seu público: “acho que a MTV amadureceu bastante de uns tempo
para cá,pois só tinha clip, não tinha esses programas que tem hoje... Ela se ampliou,
tudo está avançado, a tecnologia, o pensamento, as informações”. (DOSSIÊ
UNIVERSO JOVEM. MTV Brasil. 1999, Meninas de 19 a 21 anos:139).
15
I.2 Dois Gêneros de Programas da MTV Os dois programas escolhidos para este estudo são o Yo-MTV e o AMP–
MTV2, baseados no formato do diálogo e do jornalismo e com o suporte do
videoclipe.
Ambos são programas gravados que vão ao ar semanalmente com
informações a respeito e para o universo do Hip-Hop, que engloba rap, grafite, MC's
(mestre de cerimônia) e b-boy (quem dança o break), no caso do Yo-MTV, e o outro,
o AMP-MTV, cujo universo é a música eletrônica.
A escolha se deu a partir de uma identificação preliminar de que tais
programas continham elementos das hipóteses e alguns pré-requisitos delineados
no meu pré-projeto. Ou seja – os programas partem de tendências observadas em
movimentos de grupos urbanos e que são tematizadas em suas programações.
Aparentemente estes programas estabelecem com os grupos um vínculo de
interdependência, de alimentação mútua principalmente pelo estilo das músicas: o
rap e a eletrônica – foco deste estudo.
2 Programas veiculados pela MTV Brasil (canal 32) – AMP MTV sextas-feiras, às 23h ,com reapresentação domingo, às 13h30 e segunda-feira, às 12h30; YO! Mtv às sextas-feiras, às 24h.
16
Capítulo II – Grupos Urbanos – as Tribos
A sociedade atual vive um processo constante de mudanças aceleradas
provocadas pela globalização da economia3 que interfere nas várias dimensões da
vida humana, na socioeconômica, na cultural, na intelectual, na política e sobretudo
na organização societal. A vulnerabilidade por ela provocada alcança todos os
grupos etários e de classes, provocando rupturas no processo civilizatório. Na área
cultural “criou-se uma subsociedade de consumo vorazmente dedicada a absorver a produção das
indústrias que exploram os símbolos de identidade cultural. (...) As indústrias de mídia
montaram um bazar mundial no qual oferecem mercadorias culturais cada vez mais
estandardizadas que eliminam a reflexão e nivelam o gosto por baixo para homogeneizar e
universalizar a demanda, gerando assim economias de escala..”.(KURTZ, 1993:147)
Impulsiona esta enorme transformação a chamada sociedade da informação,
em que os media4 ditam da moda às regras de convívio. senão vejamos:
“O poder da informação, na verdade, compõe, o ser orgânico da sociedade pós-moderna,
não é um apêndice ou um complemento. É inconcebível o modelo de um lado e o mass-
media de outro, a sociedade a qual os media imprimiram seus efeitos. Os media articulam-
se intimamente ao novo modo de organização do espaço social e ao processo de produção
dos discursos sociais”.(SODRÉ, 1994: 46).
A sociedade de massa, com o seu corte individualista em que para ser
diferente e especial o indivíduo cria e recria suas características, paradoxalmente na
maioria das vezes de forma imitativa, a diversificação torna-se então possível com
algumas apropriações inusitadas que se dão em pequenos grupos. Michel Maffesoli
(2000:16) cunha a expressão “tribalismo” para analisar formas de organização que
resistem no individualismo da sociedade contemporânea. O autor afirma que a
humanidade vive um “período empático”, em que predomina a indiferenciação e o
perder-se em um “sujeito coletivo”, chamado por ele de “neo-tribalismo”. “E desta
forma o que vale é estar junto, o sentir junto” (Op.cit.:17).
3 “A globalização pode ser entendida como o resultado da multiplicação e da intensificação das relações que se estabelecem entre os agentes econômicos situados nos mais diferentes pontos do espaço mundial. Em outras palavras trata-se de um processo que para avançar requer a abertura dos mercados nacionais, e tanto quanto possível, a supressão das fronteiras que separam os países uns dos outros. (KURTZ, 1993)
17
Ainda há muito pouco tempo, por volta dos anos 70, a sociedade organizava-
se a partir de identificações e engajamentos pelas vias dos interesses políticos, de
classes, movidas por utopias universalizantes, ou seja, um mundo melhor para
todos.
Atualmente, em que a maior parte da população situa-se nos centros urbanos
e a vida experimentou o impacto colossal da tecnologia, o sonho coletivo da
plenitude humana e a idéia de “comunidade de destino” encontra-se fragmentada.
Nesta perspectiva é possível compreender a saída escapista do neo-tribalismo de
que fala Maffesoli para situações como esta, contida em um depoimento do Dossiê
Universo Jovem da MTV:
“acho que a gente foi ficando mais individualista. Frustração, medo do futuro, do que possa vir
a acontecer no futuro, essas coisas vão podando a gente. Você está batalhando por alguma
coisa e mesmo assim não sabe como vai ser o seu futuro. A gente vai se retraindo, você está
mais preocupada com os seus problemas do que com o dos outros. É lógico que você
começa a olhar muito para seu umbigo, começa a ficar com medo do que possa
acontecer...Você vai sair na rua, não sabe o que pode acontecer, ser estuprada...Você não
vive em paz, daí não tem como não ser uma pessoa individualista. Não é uma questão de
pensar mais em você do que nos outros, é uma questão de sobrevivência”.
Imaginemos, por outro lado, a influência da comunicação na constituição da
subjetividade5 da criança (para Freud, esta é o pai do homem, dado que sua
personalidade é constituída nos primeiros anos de sua vida) e do jovem com os
seguintes dados:
“Hoje observamos diferentes formas de convivência com os meios de comunicação.
Muitos brasileiros ainda não chegaram ao livro e, por isso, não conseguem elaborar um
discurso com certa ordem e coerência. Outros apenas lêem o necessário para sobreviver,
mas convivem com a televisão desde o berço. Outros já vão diretamente para o mundo da
multimídia e das grandes infovias, como a Internet” (MENEZES, 1999: 195.).
Pertencer é uma necessidade humana que tem como um dos seus
significados “ser parte de”. Ela diz de um grupo ou lugar do qual se é parte, alguém
4 Meios de comunicação. 5 Subjetividade diz respeito à formação da individualidade de uma pessoa, ou seja, de um sujeito dotado de sentimentos, pensamentos e ações. Diz respeito aos aspectos que formam a identidade de cada jovem e suas
18
ou algum lugar que nos faz sentir em casa, onde nos sentimos à vontade para
sermos nós mesmos. Em outras palavras, pertencer se refere à situação nas quais
nos reconhecemos como pessoas capazes de interagir com os outros, de ouvir e de
sermos escutados, de respeitar e sermos respeitados.
Nessas situações, percebe-se que as pessoas têm uma linguagem comum e
que a troca entre elas flui de maneira natural. Muitos grupos de diferentes
configurações coexistem nas metrópoles contemporânea. Formam-se a partir desta
necessidade primária de pertinência, por identificação de estilo de vida, jeito de ser,
gostos musicais, culturais, visuais e mesmo ideológico, mas agora com as
características do tempo presente: gangues, galeras e tribos urbanas, “ ...é sempre
em relação ao grupo que se vai determinar a vida social” (MAFFESOLI,
OP.CIT.:111)
Esses grupos, à distância, se diferenciam um dos outros a partir do visual de
seus membros. Posteriormente, se conhecermos um pouco mais além da imagem,
notaremos que possuem uma identidade de comportamento que envolve várias
questões da vida particular de cada um. Como o gosto musical, valores culturais
específicos, gírias, atitudes e comportamentos que os distinguem nos bairros,
distritos e demais lugares da cidade.
Muitas vezes, a diferença entre um grupo e outro é tanta diante da vida que,
ao se confrontar, estouram disputas por espaço, bandeiras ou mesmo por bens de
consumo que acentuam radicalmente a contraposição das distintas visões de
mundo. Mas os dados do Dossiê Universo Jovem nos mostram percepções
dominantes no universo jovem, dentre outras, sobre o que pensam do Brasil:
“para75% dos jovens entrevistados, falar em Brasil é pensar em: desigualdade
social, desemprego, violência e corrupção. Essa percepção se acentua entra as
mulheres e tende a crescer quanto mais baixa a classe social e quanto mais alta a
faixa etária”.
O fenômeno dos grupos urbanos integra mais freqüentemente os
adolescentes e jovens, porque estes encontram-se mais expostos existencialmente
às experimentações, à busca por espaço e identidade. O próprio corpo em
transformação. E esta fase é também um rito para a vida adulta e de alguma forma
será marcada nas mentes e sentimentos destes adolescentes e jovens. “O indivíduo
principais referências. (Escutar: um ponto de encontro. Coleção Jovens e Escola Pública. São Paulo, CENPEC,. 1998)
19
não pode existir isolado (...) trata-se de algum modo de um laço em que o
entrecruzamento das ações, das situações dos afetos, formam um todo”.
(MAFFESOLI, OP.CIT.:114).
Dentre outros fatores, a mídia reforça a idéia e transmite a mensagem do
eterno ser jovem, sustentada por valores de consumo e prazer que acabam por criar
outras ciladas e embaralhar as alternativas de vida. Almejada por muitos de alguma
forma, tem-se o conceito da juventude como algo idealizado, um bem a ser
consumido por todos6. Ainda reforçando esta compreensão, “Um meio (medium)
procurando legitimar-se pela informação e entretenimento, vai apreender o indivíduo
no interior de sua esfera privada, indicando-lhes papéis, comportamento e atitudes
que deverá assumir para atingir o reconhecimento social”. (SODRÉ, 1994:63)
É possível identificar na cidade de São Paulo vários grupos urbanos, tais
como rappers, clubbers, skatistas, surfistas, punks (remanescentes), metaleiros,
góticos, lutadores marciais, entre outros. Existem outros grupos que se constituem
por identificação pessoal a alguma atividade intelectual ou física, que são os grupos
de amantes deste ou daquele autor ou período histórico, por exemplo. Admiradores
de esportes radicais ou nem tanto, que neste caso não possuem uma ideologia ou
uma forma de contestação ou contraposição marcante.
Voltando às tribos urbanas, para as quais a contestação anunciada aos
“outros” pela aparência e o estilo de música, fatores determinantes de suas
existências, estes, quando consolidados e reconhecidos como tal, acabam por
perceberem-se objetos de consumo e perdem com o tempo sua característica inicial
de contestação. Isto porque depois de saturada pela mídia, sua música, moda, e as
gírias do movimento, tendem a ser por demais assimiladas pelo “mercado” e assim
perdem potência como diferenciação. Novos adeptos podem surgir mas para um
modismo indiferenciado onde serão mais um na grande massa - igual a muitos e não
mais “membro de uma tribo original”.
As tribos são hoje o exercício da multiplicidade, da tolerância, a explosão da
possibilidade de ser diferente, de aproximar jovens que tem gostos parecidos,
6 Essa recusa de se ligar a limitações de idade tradicionais é a tendência que chamada “volta ao passado”: redefinir, para menos o comportamento adequado a sua idade. O mesmo grupo da geração baby boom, que certa vez disse “não confie em ninguém com mais de 30 anos”, agora diz, com a mesma militância, “ a vida começa aos 40”. Ainda queremos parecer e nos sentir maravilhosos, apesar das mudanças inevitáveis.” Relatório Popcorn. Citado in Dossiê Universo Jovem. MTV 1999.
20
atitudes comuns. Podem substituir de certa forma uma pertinência que a escola, com
seus problemas não mais podem oferecer – “A escola parece não oferecer aos seus alunos o apoio necessário para que o processo de
aprendizagem se torne interessante e significativo na vida desses jovens. Ao invés de
funcionar como um lugar onde o jovem pode estabelecer laços de afetividade que lhes sirvam
de amparo neste momento de ingresso no mundo adulto e do trabalho, a escola se constitui
muito mais como espaço de indiferença”. (Escutar: um ponto de encontro. Coleção Jovens e
Escola Pública. São Paulo, CENPEC, 1998: 27)
Os próprios jovens, em opiniões manifestas no estudo da MTV, reforçam as
noções já expostas no texto sobre tribos, vistas como expressão de diferenciação,
espaço de trânsito e experimentação de caminhos, manifestação dos gostos e
opções estéticas que possam permitir a eles reconhecimento enquanto indivíduos.
Mas além de caminhos alternativos
“a grande maioria declara justamente pertencer à tribo que eles mesmos denominam como
a dos “normais”, dos “neutros”, do “meio”. Nelas parecem residir os ideais mais
significativos da geração: tolerância e respeito pela individualidade, consciência e
determinação na busca do futuro profissional, diversão sem contravenção, consumo sem
ostentação...” (Dossiê Universo Jovem. MTV.OP.CIT.:19.).
II.1- As Duas Tribos em São Paulo e os Programas da MTV II.1.1 Os Rappers e o Yo! MTV
Os rappers constituem um grupo importante para este estudo, sem
desconsiderar na importância da escolha o peso da existência do programa
específico na MTV, pela visibilidade que desfruta atualmente o rap brasileiro (música
própria dos rappers). Tem uma divulgação proporcionalmente muito alta se
comparada as músicas de expressão de outros grupos ou tribos. Segundo a diretora
do Yo! MTV, Tatiana Ivanovici, para este trabalho: “o grupo Racionais Mc’s já
vendeu mais de um milhão de cópias”.
Originariamente, o rap faz parte de um movimento cultural que teve início nos
guetos e ruas de Nova Iorque, nos anos 70, denominado Hip Hop. Deste movimento
21
também fazem parte os grafiteiros e os breakers ou B.Boys (quem dança o break). É
uma manifestação cultural cujo conteúdo é formado pela música -rap com um Dj, e
Mc - mestre de cerimônia, o cantor de rap, a dança - break e o grafite - expressão
livre em lugares públicos através de traços, palavras e desenhos. Desta época o
rapper mais conhecido foi África Bambata – “o nome HIP HOP foi dado pelo África
Bambata que é um Dj super conceituado que está vivo até hoje" , conforme a
mesma entrevistada.
O Hip Hop chegou ao Brasil no início da década de 80 através de
admiradores do movimento que organizavam festas, e de materiais como revistas e
discos, vendidos em uma galeria comercial na Rua 24 de Maio no centro da cidade
de São Paulo, ainda hoje ponto importante dos adeptos do rap. Dentre os rappers
pioneiros que dançavam break e posteriormente formaram grupos de rap, tivemos
Nelson Triunfo, Thaíde e Dj Hum. Thaide é o apresentador do programa Yo! MTV.
Em 1988 foi gravado o primeiro registro de Rap nacional, a coletânea “HIP HOP
cultura de rua” lançado pela gravadora Eldorado.
O grupo dos rappers tem uma cultura de rua da periferia muito forte que
acentua a conscientização das comunidades populares da periferia urbana ao expor
nas letras mensagens com conteúdos que explicitam a dura realidade da vida para o
jovem e suas famílias. Em outras palavras, dito em entrevista neste trabalho, “O rap
é um dos ritmos musicais mais criativos, porque absorve vários estilos e consegue
além de misturar as sonoridades, passar muitas vezes boas mensagens...E é o meu
estilo de vida também.” (MC KAMAU – MARCUS, 27anos, Tucuruvi – SP. MC dos
grupos Conseqüência e Instituto Comunidade)
A diretora do YO!MTV acha que "O rap no Brasil virou uma válvula de escape
da periferia, diferente dos EUA que não têm tantos problemas como aqui". É um
grupo com raízes também na cultura negra. Atualmente existem muitos rappers
formados a partir da divulgação e do crescimento do movimento cultural HIP HOP. O
rappers em São Paulo tem uma característica muito forte que é a de aproximar os
jovens que moram na periferia para discutir e “cantar” a vida difícil que enfrentam,
marcada fortemente pelo consumo e o tráfico de drogas, a perseguição pela polícia,
a discriminação, o desemprego e o abandono, em busca de alternativas ou de uma
maneira de organização do seu no dia-dia. Estas manifestações se dão
informalmente e também através de oficinas realizadas nas comunidades, facilitadas
pelo grande número de adeptos e simpatizantes. É para muitos um programa, uma
22
alternativa no local em que moram: “ ...curto sim, comecei a gostar, porque aqui no
bairro era o que rolava, muito de musica”. (Estudante, 17 anos, trabalha numa
videolocadora. Mora na Casa Verde).
Alguns grupos nasceram de movimentos de presidiários na ex-penitenciária
estadual do Carandiru em São Paulo em busca de expressão e união diante da
adversidade das condições em que se encontravam, como o Comunidade
Carcerária e Detentos do Rap. Um grupo bem conhecido também com origem no
Carandiru é o 509-E com uma aceitação enorme de público e de outros grupos e
rappers. A expressão cultural originária do HIP-HOP que gravita em torno da música
ocupa assim de forma consistente a cena mediática, entrando em evidência em
várias localidades do país.
Os Racionais MC's ganharam prêmios e se destacaram na industria
fonográfica, mas nem por isso deixaram de atuar de forma intensamente crítica em
relação à ordem social e à cultura dominante. A sensação que causa é a de que a
periferia, a cultura da periferia, “entrou em moda” e nem por isso vem perdendo o
seu poder de mobilização social Outra característica determinante nos rappers são
as roupas. O visual do grupo é composto por calças largas, camisetões, correntes,
bonés, tênis – uma roupa marcadamente “street” (de rua). A comunicação oral se faz
por um vocabulário de gírias muito próprias - para muitos rappers, mais do que isso
segundo a Diretora do YO-MTV: “um dialeto próprio, como diz o Mano Brow, do
grupo Racionais ”. 7
Os gorros enterrados na cabeça dos “manos”, a agressividade juvenil, o
discurso comunitário e coletivo, tudo é passível de ser traduzido simultaneamente
como moda e “legítima ira social” que canta e exige mudanças.
O YO-MTV é um programa voltado àqueles que curtem o estilo da música e
do movimento, assim como, para aqueles que são rappers, grafiteiros e breakers do
universo do HIP HOP. É apresentado por um , Vj que é o rapper Thaíde, tido como
um ícone do rap brasileiro conforme já exposto, por ser um dos pioneiros do
movimento no início dos anos 80 aqui no Brasil. O vínculo do programa com o grupo
dos manos e rappers também são as músicas, videoclipes e novidades a respeito
deste meio. O programa semanal é feito para eles e “por um deles”, de forma a
mostrar sempre novidades, clipes, festas e os movimentos dos grafiteiros.
7 Ver anexo II – Glossário
23
É um programa muito considerado pelos rappers pelo fato também de ser o
único na televisão brasileira na atualidade8. Segundo o MC Kamau disse na
entrevista, a maior fonte de pesquisa e de divulgação do rap é através da Internet. A
diretora do YO-MTV também é parte do grupo, vivencia o meio rapper, como foi dito
pelo dirigente da emissora, é “alguém especial”.
Quanto à questão da linguagem utilizada no programa, o vocabulário e
obviamente a música com as imagens são os fatores preponderantes. Segundo a
diretora do programa “a programação de clipes é baseada em pedidos, sempre
naquilo que o grupo está querendo”. As roupas são também cuidadas, pois têm o
estilo próprio da tribo a exigir e a determinar a “identidade”. Essa articulação da
música com os modos do grupo e a condução do programa por membros
legitimados faz do YO! o ponto de contato dos movimentos com a emissora - como
uma mão de dupla direção de interesses e influências.
II.1.2 Os Clubbers e o AMP MTV
É um movimento que teve origem nos anos 70 na Inglaterra com um grupo de
pessoas que gostava da música eletrônica e de um visual irreverente. A princípio a
característica fundamental que se pode falar sobre eles são a imagem de seus
componentes, do visual deles por ser extremamente colorido, chamativo e como
preferem dizer futurista e com estilo.
Os cabelos e as roupas coloridas são muito diferentes de outros grupos
também presentes na sociedade, isto porque, usam gel no cabelo, esmaltes nas
unhas, sombras coloridas, pulseiras, piercing e o fluor que são acessórios
fluorescentes que acendem no escuro.9 Outra característica importantíssima é que
os clubbers curtem a música eletrônica (música feita nos computadores) ,
principalmente o techno. “Eu gosto muito de música eletrônica, sempre saio por
causa da música...” (Garota, 22 anos – trabalha em loja nos Jardins. Estudante de
moda na Faculdade Anhembi-Morumbi).
Os clubbers, além de freqüentar os clubes apropriados da cidade, também
são freqüentadores de festas chamadas raves que ocorrem em um período que
8 Na década de 80 existiu o programa Projeto rap Brasil apresentado por Armando Martins, que contribuiu para o surgimento de alguns grupos.
24
pode chegar a 48h ou mais, sem pausas. Mas, ser um clubber está mais na visão
de mundo, no gosto pessoal por música eletrônica, gostar de curtir e ter estilo, isso
sempre respeitando o espaço do próximo, nessa linha de estilo e jeito de ser nos diz
um clubber paulista, "Ah! me visto assim, eu gosto de estar sempre moderno, é o
meu meio né... com pessoas com a cabeça mais aberta, que olham bem pro
futuro...seguimos as nossas tendências...” (gerente de loja no centro de São Paulo,
26 anos, formado em Turismo).
Este movimento cultural começou a ficar forte no Brasil por volta da primeira
metade dos anos noventa com algumas pequenas festas e para aqueles que
gostavam de música eletrônica como um resquício do movimento inicial nos anos
70, porém com uma direção definida de vida, porque o lema principal dos
integrantes é a paz mundial e eles “pregam” o Plur (gíria em inglês) que significa
união, amor, paz, respeito e humildade.
Figura importante neste movimento também são os Dj’s que criam a música
eletrônica e experimentam as derivações do eletrônico e com isso comandam as
festas nos clubes e raves.
Assim como os punks se vestiam de preto para dizer que ninguém tem que
seguir uma moda, o colorido dos clubbers é tido como uma mistura de todas as
modas, e é como se falassem que qualquer moda pode ser aceita sem preconceito
algum, que qualquer um se veste do que quiser – “eu me considero um eclético que
curte musicas eletrônicas, musicas diferentes...não vou dizer também que sou um
moderno, porque moderno é aquele que usa tudo de ponta...” (estilista, 31 anos.
Centro de São Paulo).
Segundo consta em sites especializados, a ideologia é complexa, mas o
resumo para definir um clubber é que ele é pacífico, curte a música eletrônica e
segue seu estilo, sem se preocupar com a opinião alheia.
O grupo dos clubbers é muito grande e está muito fragmentado e
segmentado e por isso existem algumas subdivisões do mesmo, mas a raiz do
grupo é mesmo gostar de música eletrônica e se vestir extravagantemente com uma
aparência futurista, principalmente, perante a sociedade e o lema Plur sempre como
orientação. Existem os clubbers fashions, que se vestem um pouco menos coloridos,
porém usam roupas de grifes.
9 Ver Anexo II – Glossário
25
E também há os cybers mannos, que se vestem coloridos, mas não usam
roupas de grifes; eles mesmos compõem o visual com algum significado, e a maioria
dos integrantes desta outra parte do grupo é da periferia.
Assim como existem as subdivisões no grupo, há também as derivações da
música eletrônica, que é um tipo de música muito versátil e que os Clubbers têm
como preferência: o trance, house, progressive trance, drum’n bass, psy trance, o
hard techno – e agora a nova derivação conhecida como Electro10. Estas músicas
tocam nos clubes e nas raves de hoje, modelo de festa já divulgado pela mídia para
a grande massa e, portanto, não só os clubbers a tem como modelo de festa e
encontro.
Os tipos mais diferenciados que compõem esta vasta tribo, também definidos
pelos sites de clubbers, são:
• Cyber - garotos em um estilo futurista, parecido com punks, usam coturno,
óculos de acrílico, calças jeans ou bermudas, piercing e o cabelo em pé,
gostam de músicas eletrônicas (computadorizadas);
• Trance - feminimo de cyber, as garotas também usam piercing e coturno,
saias, cabelos em tranças e sempre coloridos;
• Clubber - garotos num estilo mais psicodélico, usam sapatos plataforma e
bambas, piercing e calças de vinil, os cabelo estão coloridos ou às vezes
em pé, no estilo cyber.
• Barbye - feminino de clubber, também psicodélico, saias, bambas, cabelos
coloridos e maquiagens pretas.
O programa AMP–MTV, destinado à tribo da música eletrônica e dos que
podem vir a pertencer ao grupo dos clubbers, segundo a diretora Érika Brandão, “é
super direcionado para este nicho de mercado, a linguagem é toda voltada para
eles...Dou notícias deste universo eletrônico e do universo dos Dj's, seja brasileiro
seja internacional e falo mais do Dj que fez o remix da música, por exemplo, da
Madonna e não da Madonna em si".
O vínculo maior com este grupo urbano se dá a partir das novidades que
acontecem no Brasil e no mundo sobre as músicas eletrônicas, nomes de Dj’s e os
videoclipes.
10 Ver anexo III – glossário dos tipo de músicas
26
Ainda de acordo com a diretora do programa, ”na verdade, são indicados
caminhos a estas pessoas para buscarem os sons, ouvirem e participarem das
festas que são informadas”.
No AMP não há um apresentador como de costume na programação da MTV.
O que existe é um programa com um conjunto de imagens, informações e dicas que
aparecem na tela através do G.C (gerador de caracteres) e na seqüência
apresentados os videoclipes, que neste caso da música eletrônica são considerados
como pequenos filmes - “os clipes eletrônicos não necessariamente tem um
compromisso com o artista, por isso eles podem ter uma linguagem mais “aberta”
que outros clipes, digamos, mais pop. Alguns diretores aproveitam esta liberdade
para criar e usam a música como pano de fundo para seus curtas.” (Diretora do
programa)
O fato de não haver uma figura simbólica que represente o programa quando
vai ao ar não significa que sua produção não seja altamente especializada pois é
construído e dirigido por alguém pertencente ao grupo de música eletrônica. De
acordo com o diretor geral da MTV “quem dirige o AMP é alguém que está no meio,
gosta e entende deste tipo de música. Se não fosse assim não serviria para nós da
MTV, pois viraria linha de produção”.
Nos parece que fato da MTV ser segmentada para um público exigente e
“novidadeiro” faz com que os profissionais que trabalham com uma programação
específica devam ir além de entender do assunto. Precisam vivenciar aquilo que
acontece nas tribos para as quais se dirige – ser um membro do grupo.
27
Conclusão
A questão do vínculo da linguagem televisiva da MTV com os grupos ou tribos
que observamos é percebido na intencionalidade dos sujeitos – programas e grupos
de se alimentarem mutuamente. As preocupações da MTV em observar
permanentemente as tendências dos movimentos e ter na produção e na própria
condução dos programas elementos atuantes dos grupos focados assevera esta
nossa hipótese. Para o diretor da emissora "o vínculo se dá com o telespectador e o
seu tipo de música...o vínculo é da pessoa com a música e com isso ela quer
participar de um universo, a pessoa se emociona com aquela música e ela vai atrás
e procura na televisão. Com isso a MTV expande, aumenta o vínculo, das pessoas
com a banda ou com o estilo de música que ela gosta”. Pode-se dizer que os
programas analisados informam, influenciam e sofrem mutuamente os reflexos
destas ações do público alvo para o qual comunicam.
Os videoclipes são os produtos mais poderosos desta atração por conter a
música, as mensagens e imagens do universo destas tribos, ávidas por informações
sobre novos grupos musicais, dicas sobre as festas, shows e tudo o mais que possa
alimentar e garantir a existência desta diferenciação.
O sucesso dos programas são aferidos pela audiência que demonstra a eficácia
da relação entre os dois pólos: produção e público. Percebe-se então que existe
uma troca constante de informações no qual um alimenta e influencia o outro - são
de alguma forma interdependentes.
A carga e o fluxo desta interdependência podem ser percebidos diferentemente
pelos sujeitos. Para o executivo da emissora “a MTV por ser mídia é mais forte, o
nosso lado é mais forte, o nosso tiro é maior". Já pelo lado do público notamos em
algumas falas uma crítica a certa defasagem da emissora em relação aos
acontecimentos que vão dando diferenciações constantes aos movimentos. Se a
linguagem comunicacional da televisão transforma o comportamento dos grupos
estes exigem uma atualização que muitas vezes a emissora não acompanha.
Ilustra muito bem a expressão da música no vínculo entre as partes em vários
trechos de entrevistas “o AMP é um registro de música eletrônica no Brasil, me
informo sobre os D’js, as músicas, os clipes e têm uns que marcam bastante, teve
um do Orbital que assisti que me marcou bastante”. (cit.1: grupo clubbers); Já este
entrevistado “Eu gosto muito de música eletrônica, assisto o AMP de vez em
28
quando, mas assisti um programa sobre Electro (um estilo de música) que adorei, foi
bom assistir porque eu vi clipes e foi bom para conhecer mais sobre o estilo de
música que eu gosto.” (cit.2: grupo clubbers); “Eu gosto muito do AMP porque já
conheci bastante grupos, bastante música pelo AMP assim como músicas que eu já
conhecia e nunca tinha visto o videoclipe” (cit3: grupo dos clubbers). “O AMP tem
moda, tem imagem, tem música, tem personalidade e tem que ser alguém assim"
(cit.1: grupo dos clubbers); Neste caso, pode-se constatar que se o AMP tivesse a
figura de um Vj, o vínculo com os telespectadores poderia até aumentar, reforçando
a identificação, mas contrariamente aos rappers, os clubbers espalham-se em estilos
diversos, o que demandaria uma variedade de apresentadores ou alguém com uma
enorme capacidade de síntese, uma espécie de “Chacrinha” do movimento.
O YO!MTV tem sua força de vínculo com o público nos videoclipes demonstrada
pelos seus seguidores: "O rap é um dos ritmos musicais mais criativos, porque
absorve vários estilos e consegue além de misturar as sonoridades, passar muitas
vezes boas mensagens. Eu assisto o YO! às vezes e assisto para me atualizar em
relação aos vídeos e lançamentos." (cit.1:grupo dos manos); E para este
entrevistado "Assisto o YO! sempre que posso, sempre aprendo e conheço sobre
grupos e opiniões também de como está o rap no Brasil, no mundo e do HIP HOP
em geral também". (cit.2: grupo dos manos); "Eu assisto sempre que posso e curto
por ser o único programa que toca rap de todos os estilos e gostos, o que me atrai
neste programa também são os videoclipes." (cit.3: grupo dos manos) ; "Gosto do
Yo! porque é o único programa relacionado ao público de rap na TV e dá para
aprender sim e conhecer sons." (cit. 4:grupo dos manos).
Outro fator de reforço observado nas entrevistas é a presença de um Vj, rapper
de importância reconhecida no movimento, fato que aumenta o interesse por parte
dos telespectadores do programa, seja para elogiar ou mesmo para fazer críticas.
"Eu curto o Thaíde, mas acho que ele poderia passar mais informações sobre o que
acontece aqui no mundo do rap, tanto aqui quanto lá fora e até mesmo sobre os
vídeos que passam no YO! E a linguagem dele é semelhante a que eu utilizo.". (cit.
1:grupo dos manos); "Curto o trabalho do Thaíde, acho interessante ele levar grupos
nacionais lá." (cit. 2: grupo dos manos); De alguma forma os entrevistados se
identificam com o apresentador "O Thaíde como Vj é um excelente MC" (cit. 3: grupo
dos manos) ; "Eu gosto sim do Thaíde, ele pega mais leve nas coisas que diz porque
29
às vezes não é só a gente que assiste, né? É pai, mãe, irmã etc...se o cara solta o
verbo na TV o pessoal fica meio de cara." (cit.4: grupo dos manos).
Portanto, nota-se que o YO! realmente comunica e transforma de alguma
maneira o conhecimento do seu público e vice-versa, pois o público também
interfere nesta programação solicitando videoclipes e notícias deste universo de
interesse. Desta forma, o vínculo é claro entre o apresentador, produção e
telespectadores.
Com tudo o que foi dito e observado neste processo exploratório dos dois
grupos e os respectivos programas, podemos dizer que algumas respostas iluminam
a questão sobre a interdependência - programa e público – um precisa do outro para
se manter ativo na sociedade do espetáculo.
Particularmente em relação aos rappers, o discurso mediático confere certa
glamurização dos excluídos na medida em que os torna visíveis e permite-lhes, de
certa forma, denunciar a condição de precariedade em que se encontram na
sociedade e possibilita-lhes reivindicar cidadania, trazendo a tona, para o debate na
esfera pública, suas tensões sociais. Em resumo, assistimos a emergência de um
discurso sócio-político forjado na própria cultura da periferia e “traficado”
crescentemente pelo mercado.
Finalmente, deixo como um desafio, uma citação de Pierre Levy, oportuna para
a compreensão da relação do homem com o sistema mediático que nos cerca
“Os seres humanos são os únicos animais para quem o mundo é, em princípio,
significação, e significação problemática, jamais dada completamente, jamais fechada. O
humano, sua linguagem e seu mundo estão engajados em uma relação circular de co-
produção. A língua não é uma máquina lógica, mas o visco vivo do sentido que incha e se
encrava em toda a parte, em sua efervescências expansionista e criadora. Por outro lado, o
computador e as linguagens informáticas que os fazem funcionar são máquinas lógicas.
Pelo fato de a termos construído, foi preciso que pensássemos que a máquina lógica
universal era a chave de tudo”. (LEVY, 2001: 142).
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ANEXO I – Roteiro das entrevistas com os Grupos
Para os Clubbers/ música eletrônica
1- O que significa para você a música eletrônica? Fale um pouco sobre o seu jeito de ser na vida, suas atitudes diante dos fatos e acontecimentos do cotidiano?
2- Você se define como clubber? A música e o comportamento é que definem esta identificação?
3- Você acompanha pela MTV Brasil o programa AMP MTV?
4- O que representa este programa para sua "tribo"? Fale um pouco da música, das festas, sobre os Dj's?
Para os rappers/ manos
1- o que significa para você o rap? Fale um pouco sobre o seu jeito de ser na vida, suas atitudes diante dos fatos e acontecimentos do cotidiano?
2- Você se define como rapper? A música e o comportamento é que definem esta identificação?
3- Você acompanha pela MTV Brasil o YO! MTV?
4- O que representa este programa para sua "tribo"? Fale um pouco da música, das festas, sobre os Dj's e MC's?
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ANEXO II - ENTREVISTAS André Mantovani – Diretor-Geral – MTV Entrevista: Juliana: Fala-me do vínculo da MTV com o público; o direcionamento... R: A gente monta a programação musical numa tentativa de representar o que acontecendo no momento no cenário musical que a gente acredita relevante, então não é qualquer coisa. São coisas que achamos importantes, é aquilo que achamos relevantes. Isso parte muito mais do que a gente acha que deve ser apresentado, do que de pesquisas do que eles gostariam de ver. O caminho é invertido. Não tem uma pesquisa do tipo o que é que ta bombando agora pra gente fazer um programa em cima disso, a gente sabe que o Rap tem um segmento e a gente quer falar com esse público, então a gente tem um programa de rap. Os metaleiros são um grupo/público freqüente na programação ,eles vão atrás do programa, por exemplo o REEF muda e eles vão atrás, antes era o Fúria metal, e antes tinha o Gás total...eles vão atrás do tipo específico de música que eles gostam. Se você fizer um programa de reggae, por exemplo, ninguém vai assistir porque o vínculo se dá ai do telespectador com o tipo de música e o reggae não cria este vínculo, pois é uma música pra ouvir na praia, festa...Isso está sendo para ser entendido ainda, que vínculo é esse que a MTV explora? Pois o vínculo da MTV com as pessoas é com o tipo de música que ela gosta. Como se elas quisessem participar de um universo, ela quer participar daquilo. Então estamos falando no limite das emoções mesmo, ela se emociona com aquele musica e se emociona e ouvindo ela procura por mais coisas daquilo que ela tem, ouvindo ela procura na televisão. Eu diria que a MTV expande este vínculo, aumenta este vínculo com o tipo de música que ela gosta, com as bandas que ela gosta. Juliana: Então ela passa a se vestir e a se comportar igual a estas bandas e músicas: R: É assim vai de mão dupla; agora não acho que ninguém vai ficar se baseando no jeito que a Penélope (Vj da MTV) se veste. Mas o cara vai buscar referência para se vestir nestas bandas, ou nos clipes que ele assiste. E essas bandas também estão preocupadas em (são produtos) e eles estão preocupados em como se apresentam também. Então você não vai ver um rapper vestido de mauricinho, então ele vai se apresentar nos clipes de acordo com os valores que ele tem. De acordo com aquilo que ele acredita, vai passar a mensagem nas músicas também com valores daquilo que ele acredita. É meio que uma ...um feed back, um alimenta o outro. Através deste programas, por exemplo, o AMP...quem assiste o AMP sabe o que está acontecendo no cenário eletrônico no Brasil e no mundo, ele recebe notícia , recebe informações e nos videoclipes de música eletrônica por exemplo ele não se vê e também não há verbada nenhuma, realmente eles vão ver pequenos filminhos pq filmes de música eletrônica é isso, é outro tipo de ambiente...o contato pra se vestir ou de comportamento eles vão ter com os pares, encontros e também com as
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matérias que ele vai ver no ar, porque no AMP também tem matéria, ele vai perceber ali. Juliana: A MTV é direcionada aos jovens, adolescentes. R: Ela é segmentada. Mas, a produtora do AMP é uma pessoa que gosta de música eletrônica, do YO a mesma coisa. Existe o interesse do produtor do programa em cima daquele assunto. Então tem que ter esta relação, senão vira linha de montagem, linha de produção e não funciona. A pessoa que trabalha neste programas direcionados tem que estar metida neste meio mesmo, por exemplo a Tati que faz o Yo ela foi Vj....(estalou os dedos- tipo há muito tempo atrás) e ela namorava o Primo Preto que era Rapper e conhece bem, e ela é branca, mas ela é mana. Juliana: O que eu quero colocar no meu trabalho é descobrir quem de fato influencia e quem alimenta quem: R: São dos dois lados, mas a gente por ser mídia é mais forte. E a gente não pode ser espelho do que está acontecendo, mostrar simplesmente o que se passa, ela tem que estar à frente do que está acontecendo, ela tem que dizer o que há de novo, o que está surgindo o que está aparecendo. O que já está aí já está, não interessa. Uma vez estava tendo uma discussão aqui –Ah! eu lembro de uma apresentadora que lembra muito sua colega de escola , mas colega de escola eu vejo na escola, apresentador de Tv tem que ser especial , tem que se diferenciar. Escolhemos com muito teste, às vezes precisamos de uma mulher e retomamos os testes que já tínhamos, acrescenta mais uns novos e seleciona....por ser diferente...Fizemos o Caça Vj e contratamos o Rafael por parecer com o tipo de pessoa que trabalha aqui, com os Vj`s e o Leo Madeira porque não parecia com ninguém. Porque era diferente com o que estávamos acostumados a ver, para criar diversidades de personagens mesmo. A escolha não é como novela que tem que ter um galã...acaba acontecendo as vezes porque o cara é muito bom... As apresentadoras não são bonitas não, não tem aquela beleza que estamos acostumados a ver na televisão, tanto é que no AMP não tem um apresentador, porque não achamos ninguém. O Vj homem bonito é considerado o Edgar, mas ele é comum, ele não é aquele tipo gostosão. Neste caso ser apresentador tem que ser parecido com a audiência, de novo parecido e não igual. Quando vc fala da audiência da MTV, as pessoas tendem a pensar que é uma audiência só da MTV, mas ela não é, as pessoas assistem a todos os canais. A diferença que tem é que eles assistem estes canal de uma maneira diferente, eles estabelecem uma relação, ela é mais próxima e mais forte. Isso eu estou entendendo ainda...eu acho que eles estão buscando respostas pras questões...assim como a música parece que da soluções para a miséria humana, as bandas vendem um mito de que estão a cima dos problemas comuns, que eles estão acima de tudo que nós seres normais estamos submetidos ...esse mundo do pop rock, vende muito esta coisa de libertação ...Mas, o fato da MTV ser visualmente muito forte e sonoramente muito forte intensifica este vínculo...
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Juliana: Mas falando das músicas agora, entrou Axé...Pagode R: Em 99 teve uma mudança não só musical, mas do canal inteiro, a audiência do canal aumentou, dobrou na classe A,B de 15 a 29 anos....pq mudou a cara da MTV, ficou mais acessível a linguagem...a gente sabe que não vive em Londres, e que o pessoal vai pra Bahia pular carnaval ou se divertia em pagodes...e então virou uma febre local e pegava a todos , da classe A, E Mudou aqui também a parte visual ...tocamos mais música brasileira, rock nacional...hoje em dia não tem mais porque não tem mais videoclipes de axé e pagode...e começamos ficar mais inteligível mesmo. Quanto mais simples você é na comunicação mais gente vai entender. Nós incluímos pessoas, audiência sem perder o que já tínhamos. Juliana: E pesquisa vocês fazem bastante, de que música está ouvindo.... R: De música que está ouvindo nós fazemos direto e fazemos mais ainda sobre a programação da Tv no geral se o clipe já está saturado, o que não tem visto e gostaria de ver, fazendo por telefone...Ou o IBOPE para medir audiência ...quase todo ano fazemos grandes pesquisas de segmentos...se você quiser eu te dou - me deu de 99 e 2000.Jovem a mídia. Juliana: E a MTV sempre colorida, meio pop art. Americana.... R: Americana nada, brasileira!...olha que coisa engraçada...em 2000 a MTV americana fez uma pesquisa mundial, em 10 principais países, sobre a qualidade da programação e sobre a força da marca, então eles queriam saber onde a programação era melhor e o que que era...e onde a marca era mais forte e adivinha quem ganhou? Foi o Brasil? Foi...a gente ganhou deles inclusive a nossa marca era mais forte do que a deles e a programação era melhor, aqui no Br do que a MTV deles lá...a gente usa muito pouca coisa deles hoje em dia...é outra linguagem, tem os cromos, mas é diferente...e a questão estética pra gente sempre foi muito forte e mudou em 99 na minha mão que eu pesei que eu disse: tem que ser bonito. Antes disso era meio porão, underground... Essas pesquisas que te dei vai além do que você está procurando...mas é sempre bom! O ser humano precisa valorizar a auto-estima e por isso gostam de se identificar. Nos temos um site bastante forte também e temos a revista, a MTV é multimeios. Entrevista com a Érika Brandão – Diretora do AMP-MTV Juliana: Estou fazendo um trabalho com o AMP e quero saber se ele é direcionado para quem é clubber, pra quem escuta música eletrônica, como eles se comunicam com vocês...: É super direcionado para este nicho de mercado que na verdade esta ampliando cada vez mais, a linguagem é toda voltada pra eles, eu dou noticias do universo dos Dj`s seja brasileiros ou internacionais...eu não vou falar sobre o remix da Madonna ,
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vou falar sobre o Dj que fez o remix da Madonna, é uma abordagem mais por esse lado. Eles se comunicam por e-mail, geralmente pedindo algum clipe ou para comentar sobre alguma matéria que eles gostaram, ou querendo ver um clipe. Juliana: São clubbers? Acho que é para quem gosta de música eletrônica, não só para eles, mas também porque clubbers é que vai em clubes dançar...então é pra quem gosta de música eletrônica no geral. Acho que quem gosta vai sair pra dançar Juliana: A MTV então para ele é... Eu acho que acabo indicamos alguns caminhos, primeiro porque eu dou notinha de alguma festa que vai acontecer, segundo vou sempre cobrir algum evento então to sempre mostrando o que aconteceu, o que o fulano foi tocar... Por exemplo, fui gravar com o Dj Renato Lopes e ninguém tinha ouvido falar nele e depois as pessoas assistem a entrevista com ele e escuta o som e depois vai ver em festas ou flyers e fala... Ah! Já ouvi este som... Juliana: O André me disse que vocês procuram sempre buscar o novo, a novidade...você se informa aonde, é sempre lá fora? Não necessariamente eu acho que dentro da música eletrônica não tem muita mídia por ai né, se você parar para pensar, não tem muita mídia....claro que sempre leio revistas importadas, elas vem com Cd...me da um embasamento mas mesmo assim tem muita coisa que fica fechada e restrita neste mundinho da música eletrônica , a informação acaba circulando muito pouco , vou chutar, fica entre uns 10 jornalistas especializados etc o legal da MTV acaba abrindo mais o leque, mostra gente de MANAUS...e outros Estados...apesar de ser mais concentrado no eixo Rio São Paulo, mas já tem hoje em dia núcleos de música eletrônica na Bahia, Goiânia...o AMP ajuda muito este pessoal.... Entrevista com Tatiana Ivanovici – Yo – MTV Juliana: O Yo é um programa voltado do público do rap... É para o público do Rap, para o Hip Hop na verdade...porque o rap está dentro do Hip Hop...porque o Hip Hop é um movimento cultural que surgiu no finalzinho dos anos 70 começo dos 80 nos guetos de Nova Iorque e rolava reuniões nas ruas onde os caras reuniam os pessoal que fazia o Rap, naquela época era o soul music, o funk...então naquela época estavam se formando aquela coisa de Dj e também de música eletrônica, enfim...Os Dj`s pegavam e faziam festas fechadas nas ruas do Bronks e nestas ruas foram surgindo os grafiteiros, os B.Boys que são os meninos que dançam o break e eles começaram a cantar em cima da batida dos Dj`s e faziam o que chamamos de free style – que é o estilo livre de cantar - e cantavam sobre o que rolava nas festas. O nome Hip Hop foi dado pelo África Bambaata, um
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Dj que está vivo até hoje super conceituado...então isso começou no Bronks em Nova Iorque e foi se espalhando pelos EUA... Juliana: Quero saber do programa assim, ele é totalmente direcionado a este público: Isso tudo para chegar a cultura do Hip Hop que engloba o MC, Dj, Grafiteiro e o B.Boy então o programa é voltado para este movimento, mais com o Rap, mas a gente tenta fazer, claro que tentamos fazer programas com os outros elementos também como o grafite e o break . Hoje em dia tem um movimento muito forte de break também, claro que como trabalhamos com música o rap acaba sendo nosso meio, como os clipes com as músicas... Juliana: O apresentador é o Thaide... É .Ele é um dos pioneiros do Rap aqui no Brasil. Juliana: E como foi a abertura da MTV para o Rap... O Yo MTV é uma versão do YO MTV que existia nos EUA , existia lá e logo no inicio da MTV Brasil passávamos este programa, mas pela necessidade e o crescimento do rap no Brasil , surgiu uma necessidade de ter um programa deste aqui no Br e temos uma demanda grande de videoclipes, hoje em dia é comum vermos oficinas nas periferias de Hip Hop e faz um projeto social, então aqui no Br tornou-se uma válvula de escape da periferia...O vínculo da linguagem da MTV é a música...eles se comunicam por e-mails , cartas, a programação é baseada sempre em pedidos, sempre sobre o que eles querem ver... Juliana: E são os manos? Sim são os manos Juliana: A linguagem, o apresentador como são? A tem gíria né...do mesmo modo que a galera do eletrônico tem...mas na verdade são dialetos próprios como disse o Mano Brown ...de repente você vai conversar com algum e não vau entender nada e por isso o apresentador também fala assim, com este dialeto...e hoje em dia o Rap está tomando uma proporção muito grande , hoje vende muito mais que gente pop por ai...o 509 E que é um grupo que foi formado no Carandiru, saiu pra fazer show e vendeu quase cem mil cópias, o Racionais já bateu 1 milhão.
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Entrevista com o grupo dos rappers/manos
MC KAMAU – MARCUS, 27 tucuruvi – MC dos grupos conseqüência e instituto Comunidade. Juliana: O que significa para você o rap? O rap é um dos ritmos musicais mais criativos, porque absorve vários estilos e consegue além de misturar as sonoridades, passar muitas vezes boas mensagens... E é o meu estilo de vida também..
Juliana: Você se considera um rapper se veste como tal e usa gírias?
Eu me defino como um cara que gosta de e faz música. Talvez não me enquadre na definição de "rapper" que você possa ter... Juliana: Você acompanha o yo-MTV? Sim às vezes.
Juliana: Que acha do Thaíde como apresentador? Sim, Poderia passar mais informações sobre o que acontece no mundo do rap, tanto aqui quanto lá fora... Até sobre os vídeos que são exibidos no YO! Juliana: A linguagem que é usada no programa, você aprende com o que vê e ouve lá? Mais ou menos. A linguagem é semelhante à que eu utilizo, mas as informações
muitas vezes não são tão definidas ou precisas. Juliana: Porque você assiste o Yo!?
Assisto pra me atualizar em relação aos vídeos e lançamentos...
Juliana: Quando você disse que as informações não são tão definidas, como assim? Muitas vezes não são exatas, principalmente sobre o rap internacional. Divulga seu trabalho onde? Onde eu encontrar espaço (TV, Internet, Rádio) Mas o meio mais acessível e fácil é a Internet.. Às vezes revistas também.
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Indyra, 17 anos estudante / trabalha numa vídeo locadora/ ZN casa verde
Juliana: Você curte rap? Como passou a gostar deste estilo de música? Curto sim, comecei a gostar, porque aqui no bairro era o que rolava muito de música.
Juliana:Você acompanha o Yo MTV?
sempre que posso Juliana: Que acha do Thaíde e do programa? curto o trabalho dele, e acho interessante ele levar grupos nacionais e tal lá Juliana: O que representa pAra você o Yo! MTV, já aprendeu algo por lá? descobriu algo de novo? sempre aprendo e conheço grupos por lá, e opiniões também. Juliana: Opiniões sobre o que? música, política? sobre como anda o rap no Brasil, no mundo. e o hip hop também. não só do Thaíde como de alguns grupos que passam por lá também.
Ricardo, 23 anos, sou mensageiro na rádio bandeirantes Juliana: Você assiste o Yo- MTV? sim, assisto sempre que posso... curto por ser o único programa que toca rap de todos os estilos e gostos Juliana: Aprende algo por lá, o que te atrai neste programa? só os clipes que eu curto assistir... eu vejo algumas...como as segmentações.. gangsta, positive rap,etc. agora à parte 'jornalística' do Yo acho que deixa a desejar... noticias velha... como todo o estilo musical, tem grupos e sons que eu curto e os que eu não curto..
Juliana: E o Thaide? Ele te agrada como apresentador?
O Thaíde como VJ é um excelente MC. Juliana: Você aprendeu algo sobre rap lá no Yo? conheci vários grupos e estilos, mais não nesse Yo, e sim na época que rolava aqui no Brasil o Yo gringo...
nesse eu só confiro as novidades nacionais.
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Juliana: Porque você começou a gostar de rap , você faz rap também? ah... juro que não lembro quando comecei a ouvir rap... lembro-me de ver quando era pivete os meus vizinhos ouvindo kurtis blow, kool moe dee, Pepeu e dançando break... eu via e curtia aquilo... dali começou...
Reinaldo 25 anos ...aux. adm. zona leste de sp. Jd. Sapopemba
Juliana:V você gosta de rap! começou a ouvir quando? Desde criança ..através de uns amigos que moravam no prédio onde eu também morava, desde uns 12/13 anos ... Juliana: Você se considera um rapper? .bem ,fica até meio difícil hoje em dia se definir um rapper, porque para muitos ser rapper é ser MC , DJ ou grafiteiro ...eu consumo bastante coisas relacionadas ao rap ,então de certa forma me considero ... Juliana: Você assiste o yo? Sempre que posso
Juliana: Você gosta, aprende coisas por lá, novos sons etc? gosto porque é o único programa relacionado ao público de rap na TV...apesar de achar que merecia um melhor horário e mais vezes na semana ....mas dá para aprender sim e conhecer sons também. Juliana: Você da sugestões de grupos para passar no Yo? Você dá Kamau? inclusive eu sempre encho o saco do Kamau p/ indicar umas coisas diferentes lá .... kamau: Eu, como tenho contato direto com a Tatiana (Diretora) passo sempre que posso algumas sugestões, mas sei que o arquivo de clipes da MTV está meio desatualizado porque os clipes não vêm de lá pra cá e lá fora não tem mais YO, aí fica mais difícil... Reinaldo:pois é ..lembra Kamau que eu disse que passou uns sons bem loucos ultimamente ?...pena que cheguem meio atrasados aqui .... Juliana: ah e o thaide curte ele como apresentador? gosto sim ....ele pega mais leve nas coisas que diz ...porque às vezes não é só a gente q assiste né?..pai ,mãe ,irmã ..etc...se o cara solta o verbo na TV o pessoal fica meio de cara ..se você me entende.
Entrevistas com Clubbers:
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Local: Galeria Ouro fino - São Paulo/SP Márcio – estilista, 31 Centro/SP Juliana – Quero que vc me fale um pouco sobre o que significa para vc a musica eletrônica e fale tb um pouco do seu jeito de ser de ser na vida, e suas atitudes diante dos fatos e acontecimentos do cotidiano... Nossa que complexo, mas eu particularmente sempre gostei de um tipo de musica moderna, independente dela ser eletrônica ou não...só o fato de tocar uma musica diferente assim, pra mim já esta valendo..o jeito que é tocada diferentemente já e valido para mim, pode ate ter poucas batidas eletrônicas. Meus critérios de avaliação são pessoais não tenho ai isso é legal , isso não é legal vou vendo as coisas e assisto televisão, leio jornal e ai seleciono isso é bacana, isso não é, como todo mundo. Juliana – Você se define um clubber? Eu me considero um eclético que curte musicas eletrônicas, musicas diferentes...não vou dizer também que sou um moderno, porque moderno é aquele que usa tudo de ponta...tem tudo do momento, tem computador em casa e eu não tenho...eu sou meio junk até... Juliana:Mas a musica eletrônica rege a sua vida hoje, vc vai em raves...sai bastante, vai em clubes? Eu vou e, clubes, rave eu não vou...eu gosto do Dati ,lov, massivo qdo tinha musica eletrônica, danço a noite inteira e tomo muita cerveja para agüentar. Juliana: Me fala agora do AMP MTV, vc assiste então, me fala do que você assiste lá, das musicas, como este programa te influencia: Eu assisto muito, mas ainda acho que falta um apresentador e ainda acho que não existe esta pessoa ainda..porque não pode ser só um jornalista ou só um clubber tem que ser alguém bem eclético que gosta e entenda de tudo, como e o programa mesmo.Pois no AMP você tem imagem, moda também além da música, tem personalidade...então e um documento de música no Brasil, não tem muito nas mídias...é um registro...eu me informo sobre as musicas novas, dj`s... Descobri novos clipes, novas musicas lá ...gosto muito do ORBITAL, sons mais lentos também é um exercício Dançar alem de tudo...curto muito o “house”...é mais melódico...gosto de musica eletrônica mais tranqüila... Mariana,22 – trabalha em loja na galeria ouro fino
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Bairro: Lorena/Jardins Estudante de moda – Anhembi Morumbi Juliana: o que significa para você a musica eletrônica? Eu gosto muito de musica eletrônica, sempre saio por causa da música... Juliana: me fale sobre você no cotidiano, suas opiniões sobre o mundo... Eu como estudante sempre leio, me informo...sobre tudo Juliana:E seu visual...você tem um visual bem diferente. Eu sempre uso preto, colorido é por causa da loja... Juliana: Você assiste o AMP-MTV? Assisto de vez em quando...eu assiste um programa na semana passada sobre o “electro” que adorei, que é um estilo de música que eu gosto e foi bom assistir pois aprendi de onde surgiu, vi os clipes, foi demais. Vinicius, 26 – gerente de loja; Formado em Turismo- Bauru /SP Bairro: Frei caneca, centro/SP Juliana: Fale-me um pouco do significado da música eletrônica na sua vida: Eu gosto muito da musica eletrônica, desde a minha adolescência...gosto porque acho que tem o lado experimental Que é o que diferencia para mim das outras músicas, porque me identifico mesmo... Gosto muito de techno, da Biorque por sem um som experimental mesmo... Juliana: Você se considera um clubber? Ah! Me visto assim, mas eu gosto de estar sempre moderno, é o meu meio né... com pessoas com a cabeça mais aberta, que olham bem pro futuro...seguimos as nossas tendências...trabalhamos com pessoas... Juliana: Sobre o Amp MTV , você acompanha? Sim desde o começo...eu gosto muito porque já conheci muito grupo, muita musica através do AMP, assim como músicas que eu já conhecia e nunca tinha visto os clipes...eu só acho que o AMP tem um problema...o fato de não ter apresentador e é só imagem, imagem e imagem...acho que já esta na hora de ter um... Juliana: E como seria este apresentador: Tem que ser alguém mais envolvida com a música mesmo, que entendesse muito, viajasse muito que também...alguém bastante ligado... Mas acompanho sempre mesmo...é o único lugar que tem na televisão que passa estes clipes, o AMP você pode pedir um clipe de algum grupo legal que eles acham e passam, eles vão atrás...não é a grande massa que gosta, ele é bem direcionado a quem gosta de musica eletrônica mesmo.
Glossário
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PEQUENO GLOSSÁRIO RAPPER Abalou: Termo que expressa admiração por um feito realizado. O mesmo
que ótimo, genial.
Atitude: O membro de um grupo tem que ter consciência e “atitude” para
pertencer ao meio. É a linha de conduta que o grupo espera de cada membro.
Demorô: Gíria que expressa e enfatiza a aprovação. O mesmo que “isso
mesmo”, “sim”.
Camarada: amigo, companheiro.
Galera ou mulão: Grupo de amigos que freqüentam juntos bailes, praças,
praias, criando laços de solidariedade. Não precisam morar ou pertencer ao
mesmo bairro ou comunidade.
Mano: nome que são chamados os rapazes dos grupos.
Mina: as meninas dos grupos.
Movimento: Atividades ilícitas. Na gíria significa o movimento do tráfico de
drogas e todas as pessoas ligadas aos traficantes.
Pivete: adolescente.
Sangue-bom: Amigo, colega, pessoa que está de acordo com as idéias do
grupo.
Soltar o pancadão: iniciar a música; convocar as pessoas para dançar.
Truta ou camarada: o mesmo que amigo, companheiro.
Yo!: Grito de exaltação.
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SIGNIFICADOS E PEQUENO GLOSSÁRIO CLUBBER
Usar: Alfinetes: contra o aborto.
All Star (cano alto): contra o militarismo, a favor da baixa renda.
All Star branco: só usa quem sabe todas as ideologias.
Cabelo moicano: contra a matança e a favor do futurismo.
Calça rasgada: anti-social.
Chupeta: contra o abuso de menores.
Colar colorido: a favor do homossexualismo.
Coturno: contra o militarismo.
Malabares: adoração a artes e esportes radicais.
Piercing na barriga: a favor do aborto.
Piercing na sobrancelha: contra o aborto.
Piercing nos lábios: contra as drogas.
Saião: contra o machismo.
Gírias
Barby: as meninas da festa.
Celadinha: uma menina virgem.
Chill in: se preparar para festa, esquentar os motores.
Chill out:: desacelerar.
Clubber de favela: como os Boys clubbers se referem aos clubbers de
periferia.
Federal: algo legal.
Juju: as meninas que ficam gritando para chamar atenção nas raves.
Gongar: sair de cena, tirar alguém do foco da cena.
Prong: alguém sem estilo ou que copias os estilos dos colegas.
Só alegria: algo de bom acontecendo.
Tudo de bom: é uma expressão muito usada pelas meninas do movimento.
Passar o pano: livrar alguém de uma situação ruim.
Xoxar: tirar sarro.
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Tipos de músicas:
Fonte: Revista da MTV N.30 - "Nome aos bois", por Érika Brandão.
House: o famoso tun-tis-tun-tis-tun, é a levada 4 por 4 (ou batida reta). A partir disso, se tem melodia, instrumentos musicais, é house. A tônica, a batida mais forte da house, está no contratempo, no "tis", que é marcado pelo chimbal. Instintivamente você vai dançar mais com a parte superior do corpo, com a cintura. A house é o estilo mais antigo de música eletrônica, descendente direta da disco music. Foram DJs de disco que a criaram, aliás, usando pra isso faixas do gênero desconstruídas (normalmente tiravam o vocal da música, duplicavam a parte instrumental usando dois vinis da mesma faixas etc.)
Techno: pega uma base 4 por 4 que só faz tun-tun-tun-tun… É techno se a música tiver sons repetitivos e sintetizados. Influenciado pelo tecnopop europeu e pelo funk de Detroit. Na hora de dançar, o techno é um pouco mais agressivo e robótico. A ênfase aqui, a tal da tônica, está no bumbo, (o tal do "tun"), talvez por isso a sonoridade seja mais dura do que na house.
Trance: da turma do tun-tun-tun-tun, é a música feita com timbres espaciais. As batidas por minutos vão aumentando, aí… pára tudo e recomeça a música. São construções musicais com clímax, que lembram o rock progressivo dos anos 70. Na hora de dançar, geralmente você se pega mexendo braços e pernas alternadamente, como se estivesse num daqueles aparelhos de condicionamento físico vendidos pela tv e que te fazem parecer que está dando um rolê de esqui pelos alpes.
Drum’n bass: bate-estaca quebrada, ou seja, não tem só tun-tis-tun, entre um “tun” e um “tis” tem mais beats acontecendo. É uma mistura mais complexa de elementos: hardcore, dubreggae, ragga, hip hop… é mais energético, mas por causa do contratempo, acaba tendo mais groove, ou seja, dança-se mexendo mais a parte inferior do corpo, os quadris, a bunda. Muita gente dança pra frente e pra trás na pista, tipo joão-bobo. Isso ajuda a marcar a tônica da música e não se perder na hora de dançar - se você se concentrar nas microdivisões rítmicas na hora de dançar drum'n'bass, vai se perder na certa.
O electro é tudo aquilo que sofre influência dos sons dos anos 80, principalmente nos timbres. Também é conhecido por aí como synthpop (porque era feito basicamente com sintetizadores).
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acesso: ago/set/out de 2003.
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