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MTE - Revisão da NR-15
Audiência Pública
FUNDACENTRO
São Paulo, SP
12 de Fevereiro de 2013
Higiene Ocupacional: Tendências Internacionais
Berenice I. F. Goelzer
berenice@goelzer.net
Higiene Ocupacional é a ciência da:
antecipação
reconhecimento
avaliação
prevenção e controle
dos riscos originados nos locais de trabalho,
a fim de proteger
a saúde e o bem-estar dos trabalhadores
e das comunidades vizinhas,
bem como o meio ambiente
Por que falamos de HO se a reunião é sobre uma Norma?
A razão de ser desta Norma é proteger a
saúde dos trabalhadores, o que só pode ser feito através de
uma abordagem multidisciplinar, envolvendo várias ciências
e profissões das quais a HO é parte essencial.
E as abordagens na prática da HO tem implicação direta
na aplicação de muitas Normas
Berenice Goelzer
B. Goelzer
Evolução da SO e HO até o século XX
Estabelecimento de nexo causal entre trabalho e doença
(mais de 2000 mil anos)
Tratamento das consequências
cuidados médicos
indenização
reabilitação, se necessário
auxílio às famílias de trabalhadores falecidos
Atividades preventivas
Inicialmente a partir da constatação de
“trabalhadores doentes”
e não a partir da constatação de
“locais de trabalho insalubres”
B. Goelzer
Somente no século XX, sob a liderança de pioneiros como
Alice Hamilton começaram a estudar
locais, processos e práticas de trabalho,
com o objetivo de modificá-los para evitar riscos
antes de haver dano para a saúde.
Higiene Ocupacional
Porém o desenvolvimento da HO por muito tempo se concentrou
em avaliações:
medições, metodologia, aparelhagem, análise de dados, etc.
Ao longo deste tempo a SO foi muito mais centrada na parte médica,
por exemplo: tratamento/afastamento, detecção precoce de danos
Medidas preventivas também foram desenvolvidas,
mas muito centradas na ventilação e EPI
Felizmente, foram tomando importância outras medidas, como:
controle na fonte (substituição, mudança de método, etc.)
práticas de trabalho
comunicação de risco e participação dos trabalhadores
Até chegarmos à Antecipação dos Riscos, com ações
na fase de projeto de processos, equipamentos e locais de trabalho
Preocupações com o meio o ambiente e recursos naturais levaram a
novos desenvolvimentos –
conceito de produção limpa e trabalhos “verdes”
Berenice Goelzer
B. Goelzer
Tendências/evolução
Antecipação dos riscos
melhor proteção para a saúde
evita custos e dificuldades de alterações posteriores
Requisitos simplificados de avaliação e ênfase em prevenção
Integração das intervenções preventivas
Programas abrangentes, multidisciplinares,
com boa gestão e sustentáveis
controle de qualidade e eficiência, melhoria contínua
Colaboração/coordenação interdisciplinar e intersetorial
Preocupações ambientais
e com desenvolvimento sustentável
Novas abordagens para
o desenvolvimento de recursos humanos
Enfoques mais holísticos
Promoção da saúde, outros determinantes
Berenice Goelzer
Berenice Goelzer
Existem conhecimentos e experiência para prevenir
a ocorrência de, ou a exposição à maioria dos
fatores ocupacionais de risco
O que deve ser feito por razões de justiça social e também para evitar
as grandes perdas econômicas e danos ambientais resultantes dos riscos
nos locais de trabalho (o que também se reflete na justiça social).
Por que não se faz ?
Por que é tão difícil transpor a barreira
que separa “conhecimentos” e “aplicação” ?
“Ter conhecimentos e não aplicá-los é o mesmo que não tê-los”
GRANDE RESPONSABILIDADE DOS GOVERNOS
Requisitos simplificados de avaliação e ênfase em prevenção
Como podemos assegurar uma maior cobertura e
melhor proteção da saúde dos trabalhadores?
Complicando ? Não pode ser, pois os requisitos ficam no papel
(como muitos tem ficado)
Encarando a realidade e simplificando ?
Sim, inclusive uma tendência bem atual, em muitos países
onde realmente querem melhorar a situação
Necessitamos abordagens mais realistas dos problemas de SO
Berenice Goelzer
Segundo a OMS, a triste realidade é que, a nível mundial,
apenas 10-15 % dos trabalhadores tem acesso a
serviços de saúde ocupacional
As tendências atuais respondem a obstáculos como, por exemplo:
alto custo das avaliações quantitativas confiáveis,
estatisticamente validas e com controle de qualidade
mais recursos dedicados para estudar e tratar das consequências
de exposições ocupacionais e para avaliações,
do que para prevenção
insuficiente prevenção primária nos locais de trabalho
ênfase exagerada na avaliação quantitativa da exposição, sendo
que a impossibilidade de executá-la às vezes bloqueia
as ações preventivas necessárias
falta de soluções práticas acessíveis às pequenas empresas
Berenice Goelzer
B. Goelzer
problemas com as legislações (em muitos países), particularmente
quanto a mecanismos para:
cumprimento da lei
incentivar a prevenção
Para muitos (p.ex., nos USA), foi (e ainda está sendo)
difícil aceitar que:
avalições quantitativas dos fatores ambientais de risco
não são a única solução
abordagens mais simples e pragmáticas podem resolver
grande parte dos problemas
metodologias qualitativas e semi-quantitativas
podem ser utilizadas com êxito
Muitas instituições, inclusive governamentais, em muitos
países (por exemplo, Inglaterra, Holanda, Bélgica) estão
aceitando abordagens mais práticas e estão focalizando em:
Diretrizes para prevenção,
antes de se preocupar com medições
Muita ênfase em “good practices”
(EU-OSHA, IRSST-Canada, HSE, NIOSH, OSHA)
Abordagens pragmáticas já bem desenvolvidas:
COSHH (HSE, Inglaterra)
ILO/IOHA Toolkit
SOBANE (Bélgica, EU, ISO 15265)
Berenice Goelzer
Exemplo na EU - re: vibrações (EU-OSHA)
Apesar de existir Diretiva EU para medir vibração
“na prática, a diretiva não requer que os empregadores
sempre realizem medições...
...o empregador deve fazer uma avaliação qualitativa e,
se necessário, medir os níveis da vibração aos quais os
trabalhadores estão expostos”.
... a estratégia pode ser encontrada na Diretiva Europeia
sobre vibração .....
Entretanto, na prática, pouquíssimos empregadores podem
realmente realizar estas medições
- na Finlândia apenas aproximadamente 5% ...
Berenice Goelzer
A nível europeu “boas práticas” têm sido desenvolvidas para
auxiliar empregadores com listas de equipamentos que
podem expor os operadores a vibrações acima do nível de
ação (baseadas em dados fornecidos pelos fabricantes).
Muitos programas de ações preventivas são iniciados com
base simplesmente na presença de tais equipamentos.
Este tipo de abordagem tem sido promovida, por exemplo,
na França, onde o Ministério do Trabalho está planejando
nova legislação para disponibilizar oficialmente estas listas
para os empregadores e inspetores do trabalho.
Berenice Goelzer
Exemplo – EU-OSHA
Soluções Práticas
(em português; muitos exemplos ainda em inglês)
Link: https://osha.europa.eu/pt/practical-solutions
Google: EU-OSHA practical solutions
Boas práticas preventivas implementadas com sucesso em certo
local de trabalho podem ser adaptadas e utilizadas em outros locais.
No entanto, antes de aplicar qualquer informação relativa a medidas de
prevenção e controle, deve haver uma avaliação cuidadosa dos riscos
e perigos presentes, bem como das características específicas do local
de trabalho em questão, levando em consideração a legislação
nacional pertinente.
Berenice Goelzer
Muito Bom
Tanto Anexo 3 como Anexo 8 da NR-15
3.2 Os resultados da avaliação preliminar
devem subsidiar a adoção de
medidas preventivas e corretivas,
sem prejuízo de outras medidas previstas
nas demais NR.
Berenice Goelzer
Berenice Goelzer
Convenção 187 da OIT sobre o marco promocional para
a segurança e saúde no trabalho - 2006
Programa nacional deverá:
a) promover o desenvolvimento de cultura nacional de prevenção em
matéria de segurança e saúde
b) contribuir para a proteção dos trabalhadores mediante a eliminação dos
perigos e riscos do trabalho ou sua redução ao mínimo, na medida do
razoável e factível, conforme a legislação e as práticas nacionais, visando
prevenir as lesões, doenças e mortes ocasionadas pelo trabalho e a
promover a segurança e saúde no local de trabalho
.......
d) incluir objetivos, metas e indicadores de progresso
e) ser apoiado, quando possível, por outros programas e planos nacionais
complementares que ajudem a alcançar progressivamente o objetivo de
ambientes de trabalho seguros e salubres
O programa nacional deverá ser amplamente difundido e, na medida do
possível, ser respaldado e posto em ação pelas mais altas autoridades
nacionais.
Berenice Goelzer
Ação Preventiva Antecipada
Prevenir problemas é mais eficiente do que tentar resolvê-los
uma vez que um agente de risco existe, é tecnicamente mais
difícil e obviamente mais dispendioso controlá-lo
Muitas vezes é possível evitar a situação de risco
Economias a curto prazo enganam
Alternativas aparentemente mais caras
podem ser mais econômicas a longo prazo
Berenice Goelzer
Ação Preventiva Antecipada:
prever riscos e atuar antecipadamente
avaliações de impacto ocupacional e ambiental
de novos processos de trabalho
“life-cycle assessment” (LCA) “ciclo da vida”
HAZOP = Hazard and Operability
(Análise de Perigos e Operabilidade)
Identificar possibilidades de situações de risco antes que ocorram
Tem sido mais usado para prever riscos de segurança,
ambientais e grandes desastres,
porém útil para prever (e evitar) qualquer risco
Este tipo de ação preventiva antecipada, apesar de enfatizada
por especialistas no assunto há muitas décadas, não tem até
recentemente recebido a atenção necessária.
PtD - NIOSH novo programa lançado em 2007:
Prevention through Design (PtD)
http://www.cdc.gov/niosh/topics/ptd/
NIOSH: “uma das melhores maneiras de prevenir infortúnios,
doenças e fatalidades ocupacionais é eliminar perigos e
minimizar riscos antecipadamente, na fase de projeto ou
mudanças em projetos. ... Métodos seguros e medidas
preventivas devem ser incorporados desde o início de um
projeto.”
Berenice Goelzer
A missão do PtD é prevenir ou reduzir doenças e fatalidades
ocupacionais através da inclusão de considerações de prevenção
em todos os projetos que podem afetar trabalhadores e outras
pessoas que possam se encontrar nos locais.
Pontos importantes:
eliminar perigos e controlar riscos para os trabalhadores
na fonte ou o mais cedo possível no ciclo de vida de
“materiais e produtos” e locais de trabalho.
incluir métodos de prevenção em todo projeto de novos locais de
trabalho, modificação de locais existentes, projeto de
ferramentas, equipamentos, máquinas, processos de trabalho,
(produtos, substâncias) e também organização do trabalho
(práticas).
Berenice Goelzer
Abordagem multidisciplinar e intersectorial
Coordenação e complementação de esforços
Interdisciplinar, entre profissionais de SST, trabalhadores e
supervisores, engenheiros de produção, “managers”
Intersetorial, entre as diferentes agências governamentais
envolvidas (MTE, MS, INSS), instituições, universidades,
indústria, sindicatos…
Berenice Goelzer
Considerando que,
para o cumprimento da NR-15,
são requeridas tarefas que estão especificadas na NR-9,
ou seja, “identificar, avaliar, eliminar ou reduzir os riscos”,
estas duas Normas deveriam ser vinculadas de alguma forma.
Deveria haver referências cruzadas entre estas Normas.
No caso dos Anexos da NR-15 – aproveitar os conhecimentos
das NHO da FUNDACENTRO
(coordenar, unir esforços, atualizar paralelamente)
Berenice Goelzer
Aplicação de Normas requer profissionais competentes
Grande problema: Normas Brasileiras especificam a necessidade
de “identificar, avaliar, eliminar ou reduzir os riscos” - tarefas de uma
ciência, geralmente intitulada “higiene ocupacional”, ao passo que não
oficializa os requisitos para sua formação e desenvolvimento.
Portanto a lei requer um tipo de profissional que legalmente não existe!
Positivo: HO foi reconhecida como profissão na
Classificação Internacional Padrão de Profissões da OIT (ISCO de 2008)
Por exemplo, a Diretiva Quadro da EU exige profissionais competentes
para identificar, avaliar, prevenir/controlar riscos
O HSE tem requerimentos sobre “Competência e Formação”
Berenice Goelzer
Enfoques mais holísticos e globais
“Saúde Total do Trabalhador”
Devem ser considerados todos os fatores ocupacionais de
risco:
agentes químicos e poeiras (minerais e vegetais)
agentes físicos
agentes biológicos
fatores ergonômicos e psicossociais
riscos de segurança
bem como outros determinantes sociais da saúde
moradia
alimentação
estilo de vida
Berenice Goelzer
Fatores como estresse ocupacional e
promoção da saúde, apesar de importantes,
até há pouco erroneamente desconsiderados.
Porém, existe atualmente o perigo de concentrar esforços de proteção
da saúde do trabalhador em:
combate a estresse, assédio, etc.,
promoção de estilos de vida saudáveis
Hábitos de vida saudáveis são essenciais porém não previnem, por
exemplo, intoxicações, câncer ocupacional, surdez, pneumoconioses,
ou morte por exaustão devida ao calor
Estes danos só podem ser evitados por meio da
prevenção primária dos fatores de risco envolvidos.
Berenice Goelzer
Doenças e acidentes do trabalho continuam incapacitando e
matando trabalhadores, muitas vezes (particularmente no caso das
doenças ocupacionais) sem que o nexo causal com a exposição no
local de trabalho seja estabelecido.
UNAIDS - Mortes anuais por AIDS ~ 2.1 million
Malaria: > 1 milhão de mortes por ano (OMS)
Guerras ~ 500 mil mortes por ano
Doenças e acidentes ocupacionais
> 2 milhões de fatalidades por ano (OIT)
– a grande maioria prevenível
Berenice Goelzer
NIOSH lançou o programa “Total Worker Health”
- promove trabalho multidisciplinar abrangente
e que se define como “uma estratégia organizacional
que integra saúde e segurança ocupacional
com proteção e promoção da saúde em geral,
a fim de prevenir danos e doenças ocupacionais bem como
melhorar a saúde e o bem estar dos trabalhadores.”
Enfatizam muito a prevenção primária, justamente para evitar
abordagens unilaterais, incompletas,
e até perigosas para a saúde do trabalhador
Berenice Goelzer
Deve haver cuidado com iniciativas e programas
que, talvez por facilidade,
tentam reduzir a “saúde total do trabalhador”
a combate ao estresse e
educação para estilos de vida saudáveis,
o que é mais fácil e mais econômico do que, p. ex.,
prevenir/controlar agentes ambientais de risco.
Berenice Goelzer
NIOSH:
“A fim de se avançar na área (a SST), é importante que as
equipes multidisciplinares incluam profissionais de saúde e
segurança ocupacional, higiene ocupacional, ciências sociais
e de comportamento, organização, promoção da saúde,
educação, e análise de custo, entre outros, que tenham
competências para aplicar métodos quantitativos e
qualitativos de investigação. Em conjunto, pesquisadores em
centros especializados podem criar parcerias entre indústria e
trabalho para projetar e avaliar intervenções factíveis e
inovadoras, integrando SST e promoção da saúde nos locais
de trabalho.”
Berenice Goelzer
Tendência Futura?
Michel Guillemin – Lausanne, Suíça
Conferência Internacional
“WORK AND SPIRITUALITY - Ethics, Science and Management”
O trabalho não deve destruir, mas estruturar e enobrecer as pessoas.
A ideia é que, no contexto sócio-econômico atual, existem muitos
desafios resultantes de:
sofrimento físico e moral no trabalho
comportamentos antiéticos, ganância por lucros imediatos sem
pensar nas consequências para os trabalhadores, para o
meio ambiente e para os consumidores.
É urgente encontrar maneiras de reverter estas situações
para o bem da humanidade e do planeta.
Berenice Goelzer
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