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EDIÇÃO SETEMBRO/2016
NESTA EDIÇÃO...
03 MATÉRIA PRINCIPAL
CAPACIDADE FINANCEIRA, INTERDIÇÃO JUDICIAL E
ENVELHECIMENTO
08 RELATO DE PESQUISA AVALIAÇÃO NEUROPSICOLÓGICA DE CRIANÇAS E
ADOLESCENTES COM ANEMIA FALCIFORME:
CASUÍSTICA DE AMBULATÓRIO DE REFERÊNCIA
DA CIDADE DE SALVADOR, BAHIA.
13 RESUMO DE ARTIGO
DIFERENÇAS INDIVIDUAIS NA NECESSIDADE DE COGNIÇÃO
E TOMADA DE DECISÃO NO IOWA GAMBLING TASK (IGT)
16 POLÍTICAS PÚBLICAS
POLÍTICAS PÚBLICAS EM EPILEPSIA
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L Capacidade Financeira,
Interdição Judicial e
Envelhecimento
O envelhecimento populacional
é um fenômeno global e que avança
com notável rapidez, sobretudo nos
países em desenvolvimento. Nações
mais desenvolvidas, como a França e
o Japão, vivenciaram este processo
ao longo de mais de 150 anos. Por
outro lado, segundo dados da Organi-
zação Mundial de Saúde, a transição
demográfica vem ocorrendo de ma-
neira dramática em países como o
Brasil, China e Índia, como conse-
quência do desenvolvimento econô-
mico e da urbanização, principalmen-
te a partir da década de 19701. A mu-
dança abrupta na composição etária
dos povos possui implicações em di-
versos âmbitos (previdência, saúde,
economia, entre outros), levando à
urgência por adequações destes paí-
ses às novas demandas de suas po-
pulações.
No campo da saúde, o aumen-
to no número de idosos vem sendo
acompanhado, por exemplo, de uma
maior prevalência de quadros de alte-
rações cognitivas, como as demên-
cias1. No setor jurídico, tais fatos re-
percutem em uma maior necessidade
de medidas protetivas, a fim de res-
guardar os direitos de idosos conside-
rados incapazes para gestão patrimo-
nial e com maior vulnerabilidade para
abusos e autonegligência. Dentre os
instrumentos legais destinados a tal
fim, destaca-se a interdição. De acor-
do com o Código Civil (2003), recen-
temente modificado pela Lei Brasileira
de Inclusão da Pessoa com Deficiên-
cia (Lei n. 13.146/2015), aqueles des-
tituídos de discernimento para a ad-
ministração de seus bens e proven-
tos, em decorrência de transtorno
mental ou intelectual, devem ser re-
presentados nestas questões por um
terceiro (designado “curador”), o qual
deve ser nomeado judicialmente2,3.
A determinação da incapacida-
de (interdição) requer, via de regra, a
realização de uma avaliação pericial.
O método mais adequado para se
medir a capacidade financeira (CF),
no entanto, não se encontra estabele-
cido e as críticas acerca de pareceres
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subjetivos e baseados apenas na im-
pressão clínica do perito são abun-
dantes nos meios forenses4. A neces-
sidade de se definir parâmetros e ins-
trumentos baseados-em-evidências
na aferição da CF mostra-se premen-
te.
A CF é categorizada como uma
atividade instrumental de vida diária,
sendo fundamental para a vida inde-
pendente de um indivíduo. Estudos
sugeriram que a CF é um conjunto de
habilidades fundamentalmente media-
das por cognição, com influência pou-
co significativa de aspectos culturais,
afetivos e de gênero5. Por este moti-
vo, o declínio cognitivo associado aos
quadros demenciais pode ocasionar
dificuldades em funções executivas,
atenção, memória semântica
(relacionada a noções financeiras, co-
mo reconhecimento de moedas, iden-
tificações de extratos bancários, che-
ques, etc.) e cálculo, levando ao com-
prometimento da capacidade decisó-
ria para questões financeiras mesmo
em quadros iniciais. A despeito da im-
portância do tema, instrumentos vali-
dados para avaliação da CF são pou-
co abundantes. O Financial Capacity
Instrument (FCI), desenvolvido por
Marson e colaboradores, é uma das
ferramentas mais estudadas, compre-
endendo tarefas que medem diferen-
tes aspectos da CF, tais como: habili-
dades monetárias básicas
(reconhecimento de cédulas e moe-
das e cálculos simples), conhecimen-
to de conceitos financeiros
(capacidade para definir e aplicar tais
conceitos (como saques, depósitos,
transferências, etc.), capacidade para
transações em dinheiro (simulação de
situações de compras de 1 a 3 itens,
cálculo de gastos e de trocos), mane-
jo de talão de cheques (capacidade
de reconhecer partes e de preencher
um valor informado), manejo do extra-
to bancário (capacidade de reconhe-
cer partes, identificar informações e
reconhecer possíveis fraudes) e julga-
mento financeiro (noções de valores,
raciocínio acerca de opções de inves-
timento e detecção de fraudes)6. Estu-
dos que utilizaram o FCI na avaliação
de idosos com Doença de Alzheimer
indicaram consistência interna, confia-
bilidade teste-reteste e concordância
entre avaliadores adequadas e identi-
ficaram que a CF correlaciona-se com
o estágio da doença e com o grau de
complexidade da tarefa financeira6.
Desta forma, a maioria dos sujeitos
com a doença em estágio leve apre-
sentaria comprometimento apenas
em tarefas complexas (manejo de ta-
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lão de cheques e de extrato bancário
e julgamento financeiro), preservan-
do a capacidade para tarefas simples
(transações em dinheiro e noções
monetárias básicas). Já aqueles com
a doença em estágio moderado ou
grave apresentariam comprometi-
mento em todas as habilidades rela-
cionadas à CF7.
A possibilidade de se delimitar
a interdição apenas para as habilida-
des comprometidas pela doença,
permitindo que os demais atos sejam
exercidos livremente pelo indivíduo,
constitui a medida entre a prevenção
necessária de abusos e a preocupa-
ção atual em se estimular o empode-
ramento e o protagonismo do interdi-
tando. Tal questão foi endereçada na
Lei 13.146/2015, segundo a qual a
interdição seria uma “medida proteti-
va extraordinária, proporcional às ne-
cessidades e às circunstâncias de
cada caso”3. O uso da neuropsicolo-
gia aplicada à avaliação da CF favo-
receria a demarcação das incapaci-
dades, além de conferir maior objeti-
vidade e confiabilidade aos laudos
periciais8. Aliada a isto, a recente
mudança no Código do Processo Ci-
vil, que instituiu a equipe multidiscipli-
nar (no lugar de classes profissionais
específicas) para assistência técnica
dos juízes em processos de interdi-
ção, pode representar uma importan-
te abertura para uma – bem-vinda –
maior atuação de profissionais de
neuropsicologia em questões foren-
ses9.
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REFERÊNCIAS
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_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm
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Autor M
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Possui graduação em Medicina pela Universidade Federal Flumi-nense (2004), residência médica em Psiquiatria pelo IPUB-UFRJ (2008), título de especialista em Psiquiatria pela Associação Bra-sileira de Psiquiatria, título de especialista em Psicogeriatria pe-la Associação Brasileira de Psiquiatria. Mestre em Psiquiatria e Saúde Mental pela UFRJ (2012). Aluno de Doutorado em Psiquia-tria e Saúde Mental na UFRJ (2013-atual). Experiência em Medicina com ênfase em Psiquiatria, atuando principalmente na área de Neuropsiquiatria Geriátrica e Psiquiatria Forense. Atua em pes-quisa no Centro de Doença de Alzheimer do Instituto de Psiquia-tria da UFRJ (CDA-IPUB/UFRJ), principalmente no seguinte tema: manifestações cognitivas e neuropsiquiátricas das doenças cére-bro-vasculares. Técnico Pericial da divisão de Saúde do Grupo de Apoio Técnico Especializado (GATE-Saúde) do Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (2008-atual).
Felipe Kenji Sudo
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Avaliação Neuropsicológica de
Crianças e Adolescentes com
Anemia Falciforme: Casuística de
Ambulatório de Referência da
cidade de Salvador, Bahia
A Doença Falciforme (DF) é
uma afecção hematológica hereditá-
ria decorrente de alteração genética
da hemoglobina, proteína presente
nas hemácias e responsável pelo
transporte de oxigênio para todo o
organismo. Estas incluem a Anemia
Falciforme (HbSS) e aquelas associa-
das à HbS com outras variantes de
hemoglobina (Hb), como a HbD, a
HbC, e as talassemias.
No Estado da Bahia, a frequên-
cia estimada de portadores do traço
falcêmico é de 5,5% na população
geral e 6,3% na população afrodes-
cendente. A incidência de Anemia
Falciforme (AF), genótipo mais grave
da doença, no Estado da Bahia é a
maior do Brasil, 1:650 nascidos vivos
(MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2010).
Ohene-Frempong e colaborado-
res (1998), descreveram que indiví-
duos AF desenvolvem infartos cere-
brais sintomáticos na frequência de
11%, até os 20 anos. As sequelas
destes eventos ecoam em diversos
aspectos da vida do paciente. 11 a
35% das crianças e jovens com DF
apresentaram infartos silenciosos
identificados por IRMci, na ausência
de sintomas clínicos observáveis
(OHENE-FREMPONG et al., 1998).
Trata-se da lesão cerebral mais fre-
quente nos pacientes com DF, princi-
palmente com o genótipo HbSS, aco-
metendo 27% destas crianças até os
seis anos e 37% até os quatorze
anos de idade (DE BAUN & TELFAIR
et al., 2012).
A fisiopatologia dos comprometi-
mentos neurocognitivos na DF parece
ser multifatorial. Fatores específicos
como anemia, hipoxemia crônica, in-
fartos cerebrais e nutricionais sobre o
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SANTOS, S. N. (2015). Avaliação Neuropsicológica de Crianças e Adoles-
centes com Anemia Falciforme: Casuística de Ambulatório de Referência da
cidade de Salvador, Bahia. Dissertação: Mestrado, Instituto de Ciências da
Saúde, Universidade Federal da Bahia.
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cérebro (devido a alta taxa metabóli-
ca basal), tem repercussão negativa
no desenvolvimento neurocognitivo
(AYGUN et al. 2011; HOGAN et al.,
2006),
Estudos neuropsicológicos trou-
xeram esclarecimento sobre a cogni-
ção de crianças falcêmicas com e
sem franco comprometimento neuro-
lógico (BROWN et al., 1993; GOO-
NAN et al., 1994, apud KRAL et al.
2001; SCHATZ & ROBERTS, 2005).
Schatz e colaboradores (2008) des-
creveram que aproximadamente 25%
dos participantes falcêmicos apresen-
taram déficits cognitivos significativos.
Dificuldades na sustentação da aten-
ção e na memória operacional, os
mais descritos, influenciam de forma
negativa o desempenho escolar na-
quelas sem sintomas neurológicos.
Diversos estudos apontam para
a tendência do aumento dos déficits
cognitivos com o avanço da idade
(MACKIN et al., 2014; RUFFIEUX et
al., 2013; ABREU, 2013; KRAL et al.,
2006; HOGAN et al., 2006), sugerin-
do se tratar de doença vascular dege-
nerativa do sistema nervoso central.
Conforme citado, as funções
executivas e atencionais são as mais
frequentemente comprometidas nas
crianças com francos acidentes vas-
culares cerebrais ou com infartos si-
lenciosos (BROWN et al., 2000). Para
estes autores, alterações nas medi-
das de atenção, concentração e de
funções executivas são índices para
a identificação de crianças com risco
de infarto cerebral.
Além do domínio cognitivo Aten-
ção/Funções Executivas, Chapar e
colaboradores (1986, apud KRAL et
al., 2001), reportaram alta prevalência
de déficits neuropsicológicos
(coordenação motora fina, percepção
tátil-sensória, percepção visual, inte-
gração visuomotora e de memória
visual de curto prazo) em adolescen-
tes com DF sem histórico de compro-
metimento neurológico em compara-
ção a adolescentes saudáveis. Múlti-
plos domínios cognitivos comprometi-
dos repercutem no status intelectivo.
As complicações neurocogniti-
vas e suas consequências são pro-
gressivas e originam um quadro de
vasculopatia cerebral, comprometen-
do o desenvolvimento infantil e a qua-
lidade de vida dos pacientes.
O presente estudo teve como
objetivo investigar o desempenho
cognitivo e intelectivo de crianças e
adolescentes com Anemia Falciforme
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(AF). Quinze indivíduos com AF fo-
ram avaliados e caracterizados em
relação a aspectos socioeconômicos,
clínicos e perfil comportamental. Os
resultados indicaram que os partici-
pantes com histórico de acidente vas-
cular encefálico apresentaram meno-
res índices de quociente intelectual
(QI). Foram observadas alterações na
atenção/funções executivas, lingua-
gem, memória verbal e visual, raciocí-
nio visuoespacial e habilidade sensó-
rio-motora. Estas alterações foram
encontradas nas crianças e adoles-
centes com ou sem infartos cerebrais,
bem como naquelas com ou sem al-
terações no Doppler transcraniano.
Dificuldade de aprendizagem, históri-
co de repetência escolar e necessida-
de de suporte educacional especiali-
zado foram identificados na maior
parte dos casos. Diagnósticos adicio-
nais mais frequentes segundo o DSM
-IV foram: Transtorno Depressivo,
Transtorno de Ansiedade, Transtorno
Somático, quadros associados à AF e
suas repercussões físicas e psicosso-
ciais.
Concluiu-se que, por ser consi-
derada vasculopatia cerebral progres-
siva, AF é fator de risco potencial pa-
ra o desenvolvimento neurocognitivo
e psicossocial. Deste modo, a avalia-
ção neuropsicológica e comporta-
mental periódica de crianças e ado-
lescentes com AF pode ser uma me-
dida útil para diminuir repercussões
biopsicossociais a longo prazo.
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REFERÊNCIAS
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A Autora
Possui graduação em Psicologia pela Faculdade Ruy Barbosa (2006). Doutoranda e Mestre em Processos Interativos dos Órgãos e Sistemas no Instituto de Ciências da Saúde-UFBA. Trabalha no Complexo Hospita-lar Universitário Professor Edgard Santos (HUPES) da Universidade Federal da Bahia, no Ambulatório de Neurologia Pediátrica e no Núcleo Integrado de Neurociências da Bahia- NIN. É membro do Núcleo de estu-dos e clínica em Cognição Infantil – COGNI. Coordena estágio em Neu-ropsicologia Infantil da Especialização Avançada em Neuropsicologia-UFBA. Atuou nos Ambulatórios de Transtorno do Déficit de Atenção/Hiperatividade, Transtorno Obsessivo Compulsivo e coordenou o Núcleo de Pesquisa em Psicologia (NUPPSI) do Serviço Psicologia do C-HUPES. Fez parte do corpo docente do Curso de Psicologia da Universidade Jorge Amado. É Especialista em Neuropsicologia pela Universidade Fede-ral da Bahia. Tem formação em Terapia Cognitiva pelo Centro de Terapia Cognitiva e em Terapia Cognitivo-Comportamental da Infância e Adoles-cência pelo IBTC. Tem experiência na área de Neuropsicologia, com ênfa-se em avaliação e reabilitação neuropsicológica, bem como em Terapia Cognitiva e Psicologia Hospitalar.
Samantha Nunes Santos
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Diferenças individuais na
Necessidade de Cognição e
Tomada de Decisão no Iowa
Gambling Task (IGT)
A Tomada de Decisão consiste
na escolha de uma dentre várias alter-
nativas, especialmente em situações
que possuem algum nível de risco e
de incerteza. Neste processo, o indiví-
duo deve avaliar e prever consequên-
cias positivas ou negativas das suas
escolhas, utilizar conhecimentos sobre
fatos e valores sociais, além de reali-
zar reflexões constantes sobre as pos-
síveis implicações de suas decisões
(Bechara & Linden, 2005).
O Iowa Gambling Task
(Bechara et al., 1994) foi desenvolvido
para avaliar a habilidade de Tomada
de Decisão e consiste em um instru-
mento que envolve situações de riscos
monetários e incerteza. O indivíduo é
solicitado a escolher cartas que estão
dispostas em quatro pilhas de baralho
e, de acordo com sua decisão, pode
ganhar ou perder uma quantia de di-
nheiro fictícia. Cabe ao avaliado inferir
quais são os baralhos mais vantajosos
e os que oferecem maior risco de per-
da.
O IGT é amplamente utilizado
em pesquisas que avaliam diferentes
grupos clínicos de adultos, uma vez
que muitas doenças neurológicas e
psiquiátricas podem gerar deficiências
graves na capacidade de Tomada de
Decisão (Brevers, et al., 2014; Stout,
Rodawalt & Siemers, 2001).
Entretanto, nota-se escassez de
estudos sobre o tema com indivíduos
saudáveis, principalmente no tocante
à investigação de como diferenças
individuais e de personalidade
poderiam exercer influência no
processo decisório.
Sendo assim, o artigo
“Individual differences in need for cog-
Harman, J. L. (2011). Individual differences in need for cognition and deci-
sion making in the Iowa Gambling Task. Personality and Individual Differences.
51, 112–116;
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nition and decision making in the Io-
wa Gambling Task”, publicado por
Harman, em 2011, teve como objeti-
vo investigar a Tomada de Decisão a
partir do construto Necessidade de
Cognição (NdC), que indica a
tendência individual em procurar,
desfrutar e se engajar em atividades
que exigem esforços cognitivos
(Cacioppo et al., 1996). De acordo
com Cacioppo e colaboradores
(1996), indivíduos com maior NdC
são mais curiosos e reflexivos,
adotam postura ativa, analítica e
sistemática em relação aos eventos
ao seu redor. No lado oposto, as
pessoas com menor NdC tendem a
adotar uma postura passiva diante
acontecimentos, sendo mais
influenciadas por opiniões alheias e
habitualmente evitam esforço
cognitivo em suas tarefas cotidianas.
A investigação conduzida por
Harman (2011) foi realizada com 75
estudantes universitários saudáveis,
utilizando o IGT e a Escala Need for
Cognition resumida. Como principal
resultado detectou-se diferenças
significativas entre os grupos com
alta e baixa NdC quanto à
aprendizagem ao longo dos cinco
blocos do IGT. O grupo de
estudantes com elevada NdC
escolheu as cartas mais vantajosas
no decorrer da tarefa, enquanto que
o grupo com baixa NdC apresentou
menor curva de aprendizagem, com
tendência a persistir no erro,
escolhendo as cartas desvantajosas.
Para o autor, a causa dessa
diferença está relacionada com o fato
de que os indivíduos com baixa NdC
tendem a atribuir maior importância
no ganho imediato, sem avaliar as
consequências em longo prazo, o
que acarreta em um desempenho
inferior no IGT.
Os resultados do artigo pare-
cem estar de acordo com a premissa
básica descrita por Cacioppo e Petty
(1982), de que pessoas com baixa
NdC tendem a evitar esforço cogniti-
vo e apresentam postura menos ana-
lítica diante situações ao seu redor, o
que consequentemente influencia ne-
gativamente suas decisões. Em con-
trapartida, os indivíduos com maior
NdC, por serem mais reflexivos e sis-
temáticos, tendem a analisar de ma-
neira mais profunda as opções e con-
sequentemente apresentam melhor
desempenho na Tomada de Decisão.
Sendo assim, Hamann (2011) conclui
que o desempenho no IGT da popu-
lação não clínica pode variar em fun-
ção da NdC.
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Psicóloga. Mestre em Psicologia (UFBA), com ênfase em De-senvolvimento. É Especialista em Neuropsicologia, em Saúde Mental Coletiva e em Terapia Cognitivo Comportamental. É integrante do Grupo de Pesquisa Neuropsicologia Clínica e Cognitiva (NEUROCLIC). Faz parte da comissão da Sociedade Brasileira de Neuropsicologia Jovem. Tem experiência na área de Neuropsicologia, com ênfase em avaliação e reabili-tação neuropsicológica.
Adriele Wyzykowski
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AS Políticas Públicas em Epilepsia
O diagnóstico da epilepsia tem origem controversa, que remonta à ideia
de que sua ocorrência se dava por fatores externos, geralmente associando as
crises a manifestações espirituais, sentenciando o sujeito ao degredo social e
privando-o das oportunidades cotidianas.
Decorridos séculos desde então, houve grande avanço no conhecimento
científico da epilepsia, não refletida de maneira proporcional no modo como o Es-
tado e a sociedade abordam essa questão, acarretando ao sujeito com epilepsia
algumas das mesmas consequências sofridas por aqueles da Idade Média, co-
mo, por exemplo, a falta de inserção social suficiente a permitir o exercício pleno
da cidadania, sobretudo o direito constitucionalmente assegurado de liberdade
individual plena.
Posto isso, a busca por essa inserção encontrou diversos reveses, até que
em 2016 foi definitivamente reconhecida pela Organização Mundial de Saúde co-
mo problema de saúde pública que afeta 10 a cada mil pessoas no mundo.
Até então (e isso ainda continua em discussão perante a sociedade civil),
o diagnóstico de epilepsia não implicava no direito a benefícios como gratuidade
no transporte público ou vagas pela lei de cotas do trabalho, por não ser encara-
da como incapacitante, contemplada a luz da Classificação Internacional das Do-
enças (CID). A Classificação Internacional de Funcionalidade (CIF) complemen-
tou o entendimento da doença com uma visão qualitativa, onde é verificado o im-
pacto da doença na vida de cada sujeito, sua funcionalidade e incapacidade, ou
seja, o quanto a epilepsia compromete de fato seu funcionamento social, laboral,
acadêmico, afetivo, familiar e pessoal. Em suma, a depender do impacto da do-
ença para o sujeito e/ou cuidador, é possível conseguir benefícios que antes não
eram concedidos.
A campanha “Saindo das sombras” foi a primeira campanha mundial so-
bre conscientização da Epilepsia, cujo objetivo era desmitificar o transtorno e ob-
ter melhorias em diagnóstico, tratamento, prevenção e aceitação social. A ideia
principal envolvia o foco no sujeito com uma doença, e não em sujeito que é uma
doença, através da mudança de expressão “pessoa epiléptica” para “pessoa com
epilepsia”.
Além – ou, talvez, mais do que – o impacto de funcionalidade e incapaci-
dade no sujeito com epilepsia, está o impacto da representação social que gera o
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estigma da doença: mobiliza preconceitos, promove marginalização e afastamen-
to. Seu quadro clínico é comumente confundido com outras doenças, abuso de
substâncias lícitas e ilícitas, além de ideias de possessões espíritas/demoníacas.
É imperativo que haja divulgação de informações e psicoeducação em
templos religiosos e escolas, de modo a promover medidas educativas que vi-
sem a desmistificação deste estigma. Diretores, professores e coordenadores
pedagógicos ainda carecem de compreensão sobre a epilepsia e, por conta dis-
so, tratam o assunto de maneira velada e ignorando a ocorrência da mesma nas
redes de ensino, o que, invariavelmente culmina em milhares de alunos sofrendo
bullying.
Neste contexto, o papel primordial do psicólogo é viabilizar a comunicação
e promover psicoeducação de modo a difundir esse conhecimento nas escolas,
nas famílias e nas comunidades, reduzindo a exposição das pessoas com epilep-
sia à segregação causada pela falta de conhecimento da doença. Como neu-
ropsicólogos, o dever profissional nos leva a concluirmos que compreender o
funcionamento cognitivo do sujeito, suas dificuldades e facilidades, sua persona-
lidade e suas emoções são mandatórios para proporcionarmos melhores condi-
ções de adaptação e inclusão profissional, assim como conhecimento e desen-
volvimento pessoal.
CONTINUANDO...
Possui graduação em Psicologia pela Universidade do Vale do Itajaí (2007). Atualmente é psicóloga colabora-dora - avaliaçao neuropsicológica - do serviço de epi-lepsia do Hospital São Paulo (Universidade Federal de São Paulo). Tem experiência na área de Psicologia, com ênfase em Neuropsicologia.
Sandra Mara Comper
GESTÃO 2015-2017
Presidente: Neander Abreu
Vice-presidente: Gabriel Coutinho
Conselho deliberativo
Leandro Fernandes Malloy-Diniz
Paulo Mattos
Jerusa Salles
Lucia Iracema
Conselho fiscal
Rodrigo Grassi-Oliveira
Annelise Júlio
Laiss Bertola
Secretária Executiva
Carina Chaubet D’Alcante Valim
Secretário Geral
Andressa M. Antunes
Tesouraria Executiva
Beatriz Bitttencourt
Tesouraria Geral
Deborah Azambuja
Presidente: Alina Teldeschi
Vice-presidente: Gustavo Siquara
Comissão SBNp Jovem:
Adriele Wyzykowski
Camila Bernardes
Cássio Lima
Fuuka Sunano
Jaqueline Rodrigues
Natália Becker
Natália Canário
Samara Reis
Thais Quaranta
Thales Coutinho
Comissão SBNp Kids:
Nayara Argollo
Editoração:
Fuuka Sunano
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