NJ388_Primeiro Caderno

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Actualidade angolana.

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  • ECONOMIAFinanasFuga aos impostos >> P.06

    Director Carlos Ferreira

    JORNALISMO DE REFERNCIA.

    Edio N. 388 - 10 Julho de 2015 Luanda 400 Kwanzas - Provncias 450 Kwanzas

    MUTAMBAArtes cnicas As inquietaes de Isilda Hurst >> P.04

    1 CAdErNOdossierEmpresas do Uige sem crditos >> P. 02

    SEMANrIO l Sai sexta

    afrobasket2015

    rafael morais em exclusivo ao NJ

    Poltica

    sociedade

    Vrios tampes coeso da Seleco

    Angola pretende verItlia no CS da ONU

    Agosto espreita, lixo com dias contados

    >>P.09

    >>P. 24

    >>P. 10

    7 Anos

    MANuEL VICtRIA PEREIRA, SINPROF

    ESTAdO dEVE 12 MIl MIlhESdE kwANzAS

    Angola ainda tem presos de conscincia, diz coordenador da SOS habitat

    AOS prOFESSOrES

    >>P. 14

    >>P. 07

  • O cOmerciante Antnio Panda est preocupado com o momento que se encontram os seus negcios. H duas semanas que as coisas lhe correm mal na loja.

    No h clientes. E quando h preferem ir comprar na loja do meu vizinho Ali de nacionalidade libane-sa, reclama.

    A loja deste jovem comerciante est com poucos produtos o que no leva os clientes a escolherem--na para fazer compras nesta loja.

    Pedi um crdito, mas no tive sucesso. Agora vou alugar a loja a um estrangeiro e vou para o campo produzir, projecta.

    O seu vizinho Santos Panzo tem os mesmos problemas. Recorreu a uma instituio bancria, mas tam-bm no conseguiu.

    Assim como que vamos poten-ciar o sector privado no ramo do comrcio, questiona o comerciante que tambm pensa j em desistir.

    Enfim, estes so apenas dois exemplos dos que afligem milhares de comerciantes na provncia do Uge que encontram dificuldades para desenvolverem as suas activi-dades comerciais.

    Pese embora a situao, as auto-ridades da provncia do Uge que-rem melhorias no que diz respeito presena de investidores nacionais e estrangeiros tendo em vista o de-senvolvimento da regio.

    A actual situao econmica da provncia requer a tomada de atitudes e aces que contribuam para o pro-cesso de diversificao da economia.

    O desenvolvimento do sector pri-vado na provncia do Uge ainda bastante incipiente.

    Exceptua-se o evidente cresci-mento da actividade comercial da zona urbana, principalmente na sede da provncia.

    O comerciante Panzo Pedro acre-dita na melhoria do sector privado.

    O que falta neste momento so crditos bancrios. De resto as pes-soas tm vontade de trabalhar, disse.

    O panorama de alguns munic-pios no favorece o comrcio nem a agricultura empresarial.

    Na opinio do comerciante Amadeu Jos, a situao j est a melhorar com a reabilitao das estradas que ligam a cidade do Uge e municpios.

    Neste momento nota-se o desen-volvimento dos municpios, porque as estradas j oferecem as condies necessrias para o transporte das

    02 10 Julho 2015

    Dossier

    O Executivo da provncia do Uge reconhece que a actual situao econmica da provncia requer a tomada de atitudes e aces que contribuam para o processo de diversificao da economia. difcil diversificar a economia enquanto o sector privado continuar amarrado.

    Falta de crditos amarra sector privadoUge em bUsca da diversificao

    Texto de david filipe

    Fotos de dr

    mercadorias, elogiou.A melhoria das infra-estruturas

    com estradas, fornecimento de gua, energia elctrica e comunicao, e o aumento das instituies bancrias encorajam alguns investidores nos vrios sectores da economia.

    De modo geral, o sector empresa-rial da provncia encontra-se des-capitalizado e depara-se com srias dificuldades para aceder a crditos bancrios.

    Apesar das dificuldades, alguns segmentos empresariais procuram o seu espao, aproveitando as opor-tunidades que o contexto oferece.

    At 2002 o comrcio era desenvol-vido principalmente pelo mercado informal e em quantidades insu-ficientes para satisfazer a enorme procura de bens e servios por parte das populaes.

    Agora j temos muitos supermer-cados, lojas e outras infra-estruturas comerciais, gaba-se um integrante do Executivo local.

    A gama de produtos de consumo oferecidos pelos comerciantes igualmente abundante.

    O grande problema a falta de di-nheiro resumiu a camponesa Maria Antnio que vende banana no mer-cado municipal do Uge.

    Uma outra situao que preocupa as autoridades no Uge o controlo quase absoluto do comrcio por par-te de estrangeiros.

    Os comerciantes estrangeiros tomaram conta dos pequenos neg-cios que deveriam ser rea exclusiva dos nacionais. Sem margem de ma-nobra, os comerciantes angolanos cedem os respectivos alvars aos estrangeiros, reclama o antigo co-merciante Domingos Pedro.

    Os estrangeiros ilegais e legais no Uge tm muita facilidade para ga-nhar dinheiro, fruto da fragilidade da classe empresarial do pas.

    O crescente aparecimento de co-merciantes estrangeiros no ramo

    O panorama de alguns municpios no favorece o comrcio nem a agricultura empresarial

  • de prestao de servios, comrcio precrio e informal, com maior inci-dncia para as casas de reproduo fotogrfica e cantinas, preocupa as autoridades locais.

    Como consequncia, os comer-ciantes angolanos esto a falir, o que os leva a ceder os respectivos al-vars comerciais aos no nacionais.

    Uma prtica margem das nor-mas que regulam a actividade co-mercial no pas.

    No Uige verifica-se tambm a existncia de estabelecimentos comerciais de cidados angolanos explorados por estrangeiros de v-rias nacionalidades em regime de sub-aluguer, tanto de instalaes, como de documento de licencia-mento da actividade comercial.

    A transformao de residncias em estabelecimentos comerciais em

    reas imprprias para determina-do tipo de comrcio, aliado falta de extintores de incndio e exis-tncia de casas de banho inadequa-das para recintos comerciais uma realidade.

    Notou-se uma inobservncia da legislao comercial vigente, sobre-tudo na especializao da venda de mercadorias nas zonas urbanas por parte dos comerciantes estrangei-ros, o que tem levado ao indeferi-mento de pedidos de averbamento e de emisso de alvars comerciais.

    O economista Salomo Vasco dis-se ao Novo Jornal que para o arran-que da economia da provncia so essenciais os crditos bancrios aos produtores visando a recuperao das capacidades produtivas e de prestao de servios.

    necessrio o relanamento

    das actividades econmicas possi-bilitando a reteno da poupana no banco e, consequentemente, a concesso de financiamento para o investimento local, permi-tindo assim a rotao de capital bancrio,opinou.

    Segundo ele, o enquadramento orogrfico da provncia e as suas condies ecolgicas, caracteri-zam-na como de vocao agrcola, pecuria silvcola e pisccola.

    As caractersticas ecolgicas e a abundncia de gua, alm de pro-porcionar condies ideais para a cultura do caf, conferem provn-cia vastas possibilidades de atingir um nvel de ampla diversificao agrcola em todo o seu territrio, desde que haja um apoio substan-cial, acrescentou.

    10 Julho 2015 03

    Os comerciantes estrangeiros tomaram conta dos pequenos negcios que deveriam ser rea exclusiva dos nacionais

    Falta de crditos amarra sector privado

    Se no Sector comercial a situa-o preocupante, a explorao da madeira pouco ou nada ajuda ao desenvolvimento da provn-cia mesmo tratando-se de uma regio rica.

    A madeira saqueada de uma forma desenfreada, queixa-se o empresrio deste ramo Antonio Gombo.

    Abordado pelo Novo Jornal margem do quinto frum de oportunidades de negcio que ocorreu na cidade do Uge, Gombo pede a interveno por parte do Governo a fim de se pr cobro situao.

    O corte selectivo de um pequeno nmero de espcies de rvores pelos empresrios florestais e a no especializao das empresas do sector pode ocasionar a sua extino, queixaram-se os participantes ao encontro.

    Os conferencistas concluram ser necessria a criao de condies e incentivos para a construo de entrepostos de comercializao da madeira, evitando o enorme prejuzo economia local e a acelerao da degradao das infra-estruturas rodovirias, que propicia o aumento da sinistralidade rodo-viria na regio.

    Pediram ao governo da provncia e ao Ministrio da Agricultura e Desenvolvimento

    Rural que reflitam e analisem conjuntamente a legislao sobre a matria e as condies tcnicas para o relanamento do caf e que a partir do prximo ano se proba a sada massiva de madeira da provncia.

    Os participantes ao frum de oportunidades de negcios exi-giram ao Governo e s empresas privadas existentes na regio a criao de condies para o fomento e arranque de centros de formao profissional em diversas especialidades flores-tais e a engajar a juventude em tarefas teis.

    O comunicado refere ainda que nos prximos Fruns sobre o caf o Ministrio da Agricultura possa apresentar um estudo exaustivo sobre a situao do caf a nvel nacional, balan-ceando o grau do cumprimento dos planos sobre a matria apontados pelo governo para 2013/2017.

    Produtos que no ajudam a economia da provncia

    A madeira saqueada de uma forma desenfreada

  • GiGante no passado e agora a ga-tinhar para tentar posicionar-se, o sector do caf continua ainda de pa-tas para o ar. As queixas so as mes-mas: Falta de financiamento para relanar a produo.

    As estatsticas no animam os pro-dutores.

    A produo de caf no Uge subiu de 200 toneladas, nos anos ante-riores a 2002, para nove mil no ano passado, segundo o Instituto Nacio-nal do Caf.

    uma vergonha esta realidade. As pessoas no querem produzir o caf porque no h incentivos, la-menta o produtor Jos Joo.

    De acordo com INCA em 2014, a produo foi de trs mil toneladas de caf comercial e seis mil toneladas de mabuba.

    Reza a histria que, em 1976, a provncia produzia 60 mil toneladas de caf comercial, possua 3.379 fazendas, das quais mil e 700 per-tenciam ao Estado angolano e pres-tavam assistncia tcnica a mais de 200 mil exploraes agrcolas fami-liares.

    Nos anos subsequentes, a produ-o foi diminuindo, fixando-se, em 1983, em mil e 121 toneladas, colhi-das numa rea de 10.145 hectares. Nessa altura, estimava-se que a pro-vncia possua 11 empresas estatais de caf, agrupadas em 46 fazendas, que ocupavam uma rea de 73.877 hectares e 7.312 trabalhadores.

    Em 2002, a provncia contava com 2.792 exploradores agrcolas fami-liares, com menos de 10 hectares, 148 mdias exploraes agrcolas,

    59 fazendas com mais de 250 hecta-res, 42 associaes, oito cooperati-vas e 60 comerciantes que assegura-vam o comrcio local.

    Neste momento, o sector cafecola do Uge trabalha no sentido de me-lhorar os ndices da produo, iden-tificando os cafeeiros com maiores ndices de produtividade para a sua multiplicao. A meta do programa para este ano consiste na produo e instalao de trs milhes de novas plantas at 2017, cobrindo uma rea de cerca 3.000 hectares, para bene-ficiar 3000 famlias.

    Para alm disso, a provncia possui programas de mdio e longo prazos de relanamento da cultura que se vai traduzir no aumento das reas de cultivo para o melhoramento da pro-dutividade e qualidade do produto.

    04 10 Julho 2015

    Dossier Empresas do Uige

    Bago vermelho gatinha

    As pessoas no querem produzir o caf porque no h incentivos

    No obstante a situao, o gover-nador provincial do Uge incentiva os camponeses, no sentido de au-mentarem cada vez mais a produo de caf.

    Paulo Pombolo anunciou que o Governo da provncia vai aplicar, nos prximos dias, o programa Comr-cio Rural, com o objectivo de facili-tar a comercializao dos produtos agrcolas cultivados pelos campone-ses da regio.

    Paulo Pombolo disse que as con-dies esto a ser criadas com vista ao aumento da produo agrcola em todas as localidades da provncia, sem possibilidades de se deixar os bens no campo.

    Afirmou ainda que a prioridade do seu consulado estar agora direccio-nada para um maior investimento na

  • economia local.O governante assegura que h um

    ambiente favorvel para os investi-mentos na provncia, caracterizado por um clima de negcios, em que os empresrios podem explorar o mer-cado e as potencialidades nos secto-res da agricultura, sade, educao, construo civil, servios, agro-in-dstria, hotelaria, turismo e outros.

    Disse ser necessrio aproximar o Executivo dos produtores e compra-dores, para uma discusso aberta sobre as questes ligadas produo do caf.

    Em relao produo do caf no Uge, Paulo Pombolo referiu que, desde 2009, o Governo tem inves-tido no aumento da capacidade e motivao dos produtores, de modo a reactivar o sector, que estava em extino na provncia. Fruto dos esforos do Governo na recuperao do sector do caf, temos resultados animadores em muitas fazendas, disse. As autoridades conseguiram mobilizar compradores, como as em-presas Angolissar, Cafs Delta Ango-la e Encaf, acrescentou o governa-dor, que disse haver a necessidade de dar um maior impulso melhoria do preo, alm de outros incentivos aos produtores.

    Paulo Pombolo avanou a ideia da criao do Conselho Nacional de Produtores e Comerciantes do Caf e Palmares de Angola.

    10 Julho 2015 05

    No meio da crisea festa passou

    Temos resultados animadores em muitas fazendas

    Em 2014, a produo foi de trs mil toneladas de caf comercial e seis mil toneladas de mabuba

    A cidAde do Uge, sede capital da provncia, comemorou quarta-feira, 198 anos de existncia desde que foi elevada a categoria de cidade, em 1917, pelo Capito Manuel Jos Pereira e Alferes Tomz Berberan.

    Localizada no norte de Angola, Uge, ex-vila Carmona, o maior dos 16 municpios que a provncia possui, e considerada a primeira cidade, a seguir a Negage. Fundada em meados de 1917, atravs da portaria n 15444 de 01/07/1945, em 1955 passou a designar-se Vila Marechal Car-mona, em homenagem ao antigo presidente portugus, scar Carmona.

    Aps ter sido elevada cidade, passou a denominar-se simplesmente Carmona, tendo readquirido o nome original de Uge, em 1975.

    Em dias de comemorao, a Praa da Independncia frequentada por milhares de pessoas que procuram festejar da melhor maneira possvel. Mais de uma centena de tendas e dezenas de barracas estiveram montadas no local onde nestas oca-sies se torna no maior centro de concentrao de pessoas e viaturas.

  • 06 10 Julho 2015

    Poltica

    Os familiares dos jovens ci-dados detidos no ms passa-do sob vrias acusaes, entre elas, uma tentativa de golpe de estado, escreveram uma carta ao Presidente da Repblica, manifestando o seu descon-tentamento pela forma como o processo est a decorrer.

    De acordo com o documento a que o Novo Jornal teve aces-so, os familiares pretendem ver o direito da presuno de inocncia salvaguardo e de-fendem um julgamento justo.

    Apelamos que seja respeita-da a presuno de inocncia. Cada ser humano merece um julgamento justo e uma defesa sria e preparada. Com estes atropelos, a defesa no conse-gue fazer o seu trabalho nor-malmente. E que haja trans-parncia e lisura no processo, l-se na carta endereada a

    Jos Eduardo dos Santos.A solicitao dos familiares

    dos Revs, enviada ao Presi-dente da Repblica, baseia-se em situaes que consideram ilegtimas a comear pela de-teno dos mesmos.

    As suas detenes e apreenses de bens revelaram ser uma demonstrao de for-a desmesurada e desnecess-ria. O processo poderia decor-rer na sua normalidade, com um termo de identidade e re-sidncia, no qual os acusados no poderiam sair do pas em nenhuma circunstncia e po-deriam preparar a sua defesa nos moldes estabelecidos pela lei. Os detidos so chefes de famlia, alguns tm empregos estveis e outros so estudan-tes. No apresentam por isso qualquer perigo de fuga nem perigo para a investigao,

    avana o documento.A insatisfao contida na

    carta dos familiares enviada ao chefe do Executivo esten-de-se tambm s condies em que os Revs esto de-tidos, por as considerarem imprprias.

    Terem sido transferidos no dia 26 de Junho para a priso de Calomboloca provncia do Bengo, a mais de 80 Km do local de deteno, dificulta a entrega de alimentao e a visita de familiares e advoga-dos. No foram ponderadas as dificuldades que isto traz ao processo, j naturalmente complicado. Toda esta situa-o coloca os familiares numa situao complicada tanto a nvel pessoal, como profissio-nal, queixam-se os familia-res, que pedem a Jos Eduardo dos Santos o respeito pelos

    direitos e o uso adequado das leis vigentes no pas.

    O Novo Jornal sabe que para alm da carta enviada ao Pre-sidente da Repblica, os fami-liares dos jovens detidos esto tambm a recolher assinatu-ras para exigirem a libertao dos seus parentes.

    O Conselho Nacional de Comunicao So-cial reunido no dia 26 de Junho para a an-lise do desempenho da Comunicao Social no ms em curso deliberou o seguinte:

    1- O Conselho de Comunicao Social anotou com preocupao as matrias publi-cadas pelo jornal O Crime que ultrapassam todos os princpios deontolgicos e violam as regras fundamentais da Lei de Imprensa. A falta de rigor jornalstico e a violao da presuno de inocncia foram prticas cor-rentes ao longo dos ltimos trinta dias.

    2- Reiteradas vezes o CNCS chamou a ateno aos responsveis editoriais do alu-dido jornal no sentido de cumprirem com os princpios gerais orientadores da legislao relativa comunicao social no que toca ao exerccio da liberdade de imprensa. O jornal no respeitou os limites, princpios, valores e normas da Lei de Imprensa, conforme o ttulo Foi Agostinho Neto quem mandou matar Simo Toco da edio n. 11 de 13 28 de Junho de 2015.

    3- De acordo com o artigo 6 da Lei de Imprensa, o exerccio da liberdade de imprensa deve assegurar uma informao ampla e isenta, o pluralismo democrtico e o respeito pelo interesse pblico. Quando no se protege e garante o direito ao bom nome, imagem e a palavra e reserva da intimi-dade da vida privada dos cidados, estamos claramente perante uma flagrante violao dos limites ao exerccio da liberdade de im-prensa.

    4- Neste sentido, o Conselho Nacional de Comunicao Social chama a ateno ao jornal O Crime e a outros meios de comu-nicao que enveredam pela mesma prtica no sentido de pautarem a sua postura por um jornalismo responsvel e que respeite a lei vigente em Angola.

    5- O Conselho de Comunicao Social sada a TPA e a Zimbo pelos debates realiza-dos onde foram discutidos, com diversidade de opinies, questes nacionais de actuali-dade.

    Esta deliberao foi aprovada em sesso plenria ordinria do Conselho Nacional de Comunicao Social, que contou com a pre-sena dos Conselheiros.

    CONSELHO NACIONAL DE COMUNICAO SOCIAL, em Luanda, aos 26 de Junho de 2015.

    O PRESIDENTEAntnio Correia de Azevedo

    rePBliCa De aNGOlaCONselHO NaCiONal

    De COmUNiCaO sOCialDeliBeraO

    familiares dos revs pedem justia ao Pr

    apelamos que seja respeitada a presuno de inocncia

  • 10 Julho 2015 07

    Uma dvida acUmUlada acima dos 12 mil milhes de kwanzas, por parte do governo angolano, est a deixar de costas viradas o Sindica-to dos Professores e o Ministrio da Educao. A dvida deveria ter sido saldada no primeiro trimestre deste ano, mas a crise econmica que o pas enfrenta apertou, se-gundo o ministrio de tutela que reconhece o kilape (dvida). O sindicato descorda da justificao do Governo e ameaa com uma greve nos prximos dias.

    A dvida remonta h vrios anos e refere-se ao pagamento de atrasos sa-lariais e demais subsdios a que os do-centes tm direito, de acordo com o vice-presidente do Sindicato dos Pro-fessores, Manuel Victria Pereira, que esta semana, esteve na nossa redac-o para reclamar o incumprimento do Executivo na liquidao da dvida. Para o sindicalista, os professores angolanos esto a ser brutalmente penalizados diante desta situao.

    J desde 2014 que tnhamos dado mais um tempo ao Governo por forma a caucionar algumas questes ful-crais. Uma delas, a dvida-salrios que ascendeu ainda no ano de 2014 a mais de 12 mil milhes de kwanzas. Aps avaliado o montante, ficou es-tabelecido que automaticamente o oramento de 2015 iria contemplar a liquidao desta mesma dvida que seria paga at ao ms de Abril, facto que no aconteceu, explicou a fonte.

    Face s fintas do Executivo, Ma-nuel Victria Pereira entende que no

    Estado deve mais de 12 mil milhes de kwanzas aos professores

    Greve vista

    Depois de 2008 com o novo esta-tuto da carreira, muitos professores ficaram em situao de desigualda-des. H pessoas com perfil acad-mico e profissional idntico ou at, diametralmente oposto mas todos auferem o mesmo salrio. Ou, pior ainda, h alguns com nvel acad-mico mais baixo que recebem sal-rios superiores em relao a outros com nveis mais altos, elucidou.

    Por outro lado, o interlocutor ad-mitiu ter havido um recenseamento em massa dos professores no que toca aos acertos de categoria. Mas reclamam da falta de retroactivos nos salrios dos docentes em fun-o dos acertos registados. Duran-te este processo, foram recenseados um nmero elevado de professores. Porm, ainda permanecem muitos por tratar. Os que foram solucio-nados, no receberam retroactivos salariais por parte do Ministrio da Educao. Este um dos impasses, elucidou, entendendo estar a ver cada vez mais distante a resoluo do assunto.

    Entrmos em 2015 e parece que agora o argumento da crise est a servir para reduzir estaca zero, no apenas as nossas conquistas nego-ciadas, como tambm, tudo aquilo que tinha sido compromisso do Go-verno. A dvida permanece inerte, no foi amortizada e, a questo das categorias parece ter sido atirada para as calendas gregas no que diz respeito a 2015, reclamou.

    Manuel de Victria Pereira acres-centa ainda a questo dos cargos de direco e chefia, em relao aos quais continua a existir um impasse incompreensvel em relao s no-meaes, bem como ao pagamento dos subsdios dos responsveis no-meados, facto que a fonte julga estar a criar decepo nas escolas.

    H pessoas que deveriam auferir remuneraes de cargos de chefia, mas no esto a beneficiar at ao presente momento e esto a ser pre-judicadas. O Ministrio da Educao agora atira a bola para o Ministrio das Finanas que no est a fazer o pagamento dos subsdios, reclamou.

    REptoO vice- presidente do Sindicato

    reclama igualmente os constantes ciclos de atrasos salariais que o sec-tor tem registado desde o incio do presente ano lectivo e por isso, exi-ge do Governo angolano pontuali-dade no pagamento dos salrios dos professores, bem como, a liquidao imediata da dvida acumulada. O l-der sindical ameaa decretar greve nos prximos dias.

    O Governo deve pr a mo na cons-cincia e tomar medidas imediatas. Est criada uma comisso intersecto-rial para a poltica salarial e preciso que este assunto dos professores seja resolvido de imediato. Caso contra-rio, partiremos para greve avisou Manuel de Victoria Pereira.

    antnio Paulo

    a dvida remonta h vrios anos e refere-se ao pagamento de atrasos salariais e demais subsdios

    ContaCtado o Ministrio da Educao (MED), o coordenador da comisso de concertao com os sindicatos, David Chivela, dis-se serem justas as reclamaes do sindicato e garantiu que o Governo ir pagar as dvidas dos professores ainda este ano. O responsvel apelou calma dos sindicalistas.

    O Governo no disse que no ir pagar, s que est a encontrar dificuldades para poder honrar os compromissos que tem com os pro-fessores. Estamos em fase de crise e o que ns pedimos ao sindicato que continuem a trabalhar com a direco do MED para sensibilizar os nossos colegas que se encon-

    tram nesta situao. Devem ter pa-cincia e aguardar por mais algum tempo. To logo o Governo encon-tre disponibilidade de recursos ir comear a pagar estas dvidas. E isto poder ser ainda este ano, porque j temos algum sinal para amortiz-las, garantiu o tambm director do Instituto Nacional para Investigao e Desenvolvimento da Educao INIDE.

    Continuando, reconheceu ha-ver dvidas referentes a paga-mentos de salrios e subsdios de direco e chefia em atrasos. So dvidas salariais, umas so casos de pessoas que deveriam receber nos seus salrios subsdios de di-reco e chefia e no receberam,

    outras so dvidas de colabora-o, outras dvidas de acerto de categoria para as pessoas que as-cenderam e no receberam o di-ferencial na devida altura. Temos ainda o caso das promoes que no poder ser resolvido agora, devido ao contexto actual, mas outras preocupaes anteriores sero atendidas , reiterou.

    Por fim, o responsvel acla-rou que no processo, algumas provncias viram j resolvidos situaes de pagamentos em re-ferncia. Por isso, entende que o momento no para greve tal como perspectiva o sindicato dos professores e apelou ao bom sen-so dos seus parceiros.

    J h sinais para pagarmos a divida

    existe, at ao momento, nenhum si-nal de vontade do Governo em pagar a dvida, uma vez terminado o primeiro trimestre e ultrapassado o prazo da moratria concedida pelo sindicato que seria at ao passado ms de Abril, data combinada entre as partes.

    O Estado deixou por pagar um ou outro ms de salrio, e subsdios de frias. Isto aconteceu em vrios anos. Normalmente, o Governo ten-dia a minimizar esta situao, mas com o acompanhamento dos sindi-catos foi validada a dvida provncia por provncia. Em 2014 ficou esta-

    belecido o montante por se pagar, mas no vemos nenhum indcio do Estado em aliviar esta dvida com os professores disse, lembrando que se trata de um dbito acumula-do de anos anteriores a 2014.

    No que toca aos acertos de ca-tegoria e cargos de chefia, o lder sindical sublinhou que ainda h muito por se fazer, pelo que apelou s autoridades governamentais a dar resoluo imediata ao assunto. Aclarou ainda por outro lado que o processo est eivado de irregulari-dades que carecem de correces.

    Quintiliano dos Santos

    Sociedade

  • Sociedade

    08 10 Julho 2015

    O diagnsticO do estado mundo a nossa casa comum avas-salador. Nas primeiras pginas da encclica Laudato si, publicada ontem, o Papa Francisco avisa que nunca antes, em 200 anos, trat-mos to mal o planeta. E as conse-quncias, avisa, j esto vista. O aquecimento global e as alteraes climticas so galopantes, os recur-sos naturais escasseiam, o fosso en-tre ricos e pobres cada vez maior, a economia deixou de estar ao ser-vio das pessoas e a poltica est manchada pela corrupo, tendo--se tornado numa espcie de ma-rioneta dos grandes poderes e das grandes empresas que exploram os mais pobres e os mais frgeis. No _m de tudo, o ser humano perdeu toda a liberdade de aco. Infeliz e solitrio, est entregue s garras de um consumismo sem precedentes.

    Num texto polmico sobre eco-logia mas que se debrua sobre os sistemas financeiros e a crise de tica e de valores , Francisco atri-bui parte dos problemas actuais cultura do descarte que se ins-talou nas sociedades e em que as coisas e os seres humanos se con-vertem rapidamente em lixo. Esta nsia consumista, diz o Papa, leva a que se esteja a produzir, anual-mente, centenas de milhes de toneladas de resduos. A terra, a nossa casa, parece transformar-se cada vez mais num imenso depsi-to de lixo. A poluio, acrescenta Francisco, afecta cada vez mais a sade, particularmente a dos mais pobres, causando milhes de mortes prematuras. E a culpa da aco humana: Se a tendncia actual se mantiver, este sculo po-der ser testemunha de mudanas climticas inauditas e de uma des-truio sem precedentes dos ecos-sistemas, com graves consequn-cias para todos ns, avisa.

    Ao longo das 200 pginas, o Papa ataca vrias vezes os poderes

    polticos e econmicos, acusando--os de no estarem ao servio das pessoas e da vida humana e de se concentrarem em mascarar os problemas ou ocultar os seus sin-tomas em nome do dinheiro.

    Uns cOM tantO... Certo que os recursos naturais

    explorados de forma selvagempelas grandes empresas e pelos

    pases mais ricos so finitos. Um exemplo a gua, que escasseia em regies como a frica, enquan-to que nos pases desenvolvidos se gasta demasiado e se privatiza o seu abastecimento, tornando um bem que de todos numa mercadoria sujeita s leis do mercado. As de-sigualdades so alis fortemente criticadas na carta que apela aos pases mais ricos que se sacrifiquem quem pelos mais pobres, cedendo os recursos necessrios para garan-tir que exista dignidade humana em todas as partes do mundo.

    Os responsveis pelo fosso, garan-te o Papa, so os polticos e os po-derosos que, muitas vezes, no co-nhecem a realidade dos mais fracos: Vivem reflectem a partir da como-didade de um desenvolvimento e de uma qualidade de vida que no est ao alcance da maioria da populao mundial. E se em algumas parte do mundo h quem morra com fome,

    LaUdatO si. a carta humanista do Papa que castiga os ricos e poderososEnciclca foi publicada recentemente: Um texto de 200 pginas em que se condena os poderes econmicos por mandarem no mundo sem olhar a meios.

    noutras zonas estraga-se. O Papa chama a ateno para o desperdcio de um tero dos alimentos produzi-dos e recorda que a comida que se desperdia como se fosse roubada da mesa do pobre. Tudo isto obri-ga, diz Francisco, obriga a repensar a tica das relaes internacionais e a aco de empresas multinacio-nais que usam pases africanos para exportar resduos slidos e fazer aquilo que no podem fazer nos pa-ses que lhes do o capital. S que a poltica internacional falha em nome do dinheiro: A submisso da poltica tecnologia e finana demonstra--se na falncia das cimeiras mundiais sobre o meio ambiente. H demasia-

    dos interesses particulares e, com muita facilidade, o interesse econ-mico chega a prevalecer sobre o bem comum, alerta a encclica. O mundo est assim dominado pelos poderes econmicos, num sistema mundial onde predomina uma especulao e uma busca de receitas financeiras que tendem a ignorar a dignidade humana e o meio ambiente.

    HOMEns inFELiZEs A falta de tica nas relaes

    entre os Estados e na Finana e o consumismo desenfreado esto a conduzir o homem infelicidade.

    merc de um sistema de pro-duo massificado e de uma eco-

    nomia implacvel, o ser humano est cada vez mais ansioso, vazio e solitrio, refugiando-se no mundo digital, onde no se ama com ge-nerosidade.

    O mundo, garante o Papa, est numa encruzilhada. Nunca a hu-manidade teve tanto poder sobre si mesma, mas nada garante que o utilizar bem. No h nada de er-rado com a cincia e a tecnologia em si. O problema estarem con-centrados nas mos de um punha-do de gente.

    Alm disso, o homem moderno no foi educado para o recto uso do poder porque o mundo cresceu em tecnologia, mas no cresceu em responsabilidade, em valores e em conscincia. Francisco ressalva que no preciso voltar Idade da Pedra, mas diz que urgente que a cincia e a tecnologia recu-perem valores e olhem para as pes-soas. Em coisas to simples como reconhecer que todos os seres hu-manos tm direito ao trabalho.

    Mas a orientao da Economia favoreceu um tipo de progresso tec-nolgico cuja finalidade reduzir os custos de produo com base na diminuio de postos de trabalho, critica, deixando uma aviso: Re-nunciar a investir nas pessoas para obter maior receita imediata um pssimo negcio para a sociedade.

    a cORRUPO na POLtica Vrios pases so governados

    por um sistema institucional pre-crio, custa do sofrimento do povo e para benefcio daqueles que lucram com este estado de coisas.

    Tanto dentro da administrao do Estado como na sociedade civil re-gistam-se, com demasiada frequn-cia, comportamentos ilegais, acusa o Papa. Os polticos, descreve a en-cclica, vivem numa espcie concu-binato com os interesses econmi-cos e as suas estratgias focam-se em resultados imediatos, respon-dendo a interesses eleitorais. A poltica, avisa Francisco, no deve submeter-se economia, mas hoje alguns sectores econmicos exercem mais poder que os prprios Estados. Esta perda de sensibili-dade social exemplificada com a salvao dos bancos a todo o custo, fazendo pagar o preo populao,

    coisase os seres humanos se convertem rapidamente em lixo

  • 10 Julho 2015 09

    As dez lies do Papa Francisco1. A ALEGRIA DE VIVER COM POUCOA acumulao constante de possibilidades para consumir distrai o corao e impede de dar o devido apreo a cada coisa e a cada momento. um regresso simplicidade que nos permite parar a saborear as pequenas coi-sas, agradecer as possibilidades que a vida oferece sem nos apegarmos ao que temos nem entristecermos poraquilo que no possumos.

    2. VIVER COM POUCODado que o mercado tende a criar um mecanismo consumista compulsivo para vender os seus produtos, as pessoas acabam por ser arrastadas pelo turbilho das compras e gastos suprfluos. Quanto mais vazio est o corao da pessoa, tanto mais necessita de objectos para comprar, possuir e consumir.

    3. AMOR SOCIAL necessrio voltar a sentir que precisamos uns dos outros, que temos uma responsabilidade para com os outros e o mundo, que vale a pena ser bons e honestos. Vivemos j muito tempo na degradaomoral, baldando-nos tica, bondade, f, honestidade; chegou o momento de reconhecer que esta alegre superficialidade de pouco nos serviu. O amor social a chave para um desenvolvimento autntico.

    4. EDUCAR PARA O AMBIENTEA educao na responsabilidade ambiental pode incentivar vrios comportamentos que tm incidncia direc-ta e importante no cuidado do meio ambiente, tais como evitar o uso de plstico e papel, reduzir oconsumo de gua, diferenciar o lixo, cozinhar apenas aquilo que razoavelmente se poder comer, tratar com desvelo os outros seres vivos, servir-se dos transportes pblicos ou partilhar o mesmo veculocom vrias pessoas, plantar rvores, apagar as luzes desnecessrias.

    5. MAIS DILGO NA POLTICA INTERNACIONALPara enfrentar os problemas de fundo, que no se podem resolvercom aces de pases isolados, torna-se indispensvel um consenso mundial. Pode-se dizer que, enquanto a humanidade do perodo psindustrialtalvez fique recordada como uma das mais irresponsveis da histria, espera-se que a humanidade dos incios do sculo XXI possa ser lembrada por ter assumido com generosidade as suas gravesresponsabilidades.

    6. UMA ECONOMIA E UMA POLTICAVIRADAS PARA AS PESSOASA Poltica no deve submeter-se Economia e esta no deve submeter-se aos ditames e ao paradigma eficien-tista da tecnocracia. Pensando no bem comum, hoje precisamos imperiosamente que a Poltica ea Economia, em dilogo, se coloquem decididamente ao servio da vida, especialmente da vida humana.

    7. CUIDAR DO PLANETA PARA QUEM VEM A SEGUIRA noo de bem comum engloba tambm as geraes futuras. Que tipo de mundo queremos deixar a quem vai suceder-nos, s crianas que esto a crescer? O homem e a mulher deste mundo ps-modernocorrem o risco permanente de se tornar profundamente individualistas e muitos problemas sociais de hoje esto relacionados com a busca egosta de uma satisfao imediata.

    8. OLHAR PAR O LADODeixamos de notar que alguns se arrastam numa misria degradante, sem possibilidades reais de melhoria, enquanto que outros no sabem sequer o que fazer ao qu tm, ostentam vaidosamente uma supostasuperioridade e deixam atrs de si um nvel de desperdcio tal que seria impossvel generalizar sem destruir o planeta.

    9.COMBATER OS INTERESSESINSTALADOSA submisso da poltica tecnologia e Finana demonstra-se na falncia das cimeiras mundiais sobre o meio ambiente. H demasiados interesses particulares e, com muita facilidade, o interesse econmicochega a prevalecer sobre o bem comum e manipular a informao para no ver afectados os seus projectos.

    10. CUIDAR DO PATRIMNIO CULTURALA par do patrimnio natural, encontra-se igualmente ameaado um patrimnio histrico, artstico e cultural. preciso integrar a histria, a cultura e a arquitectura dum lugar, salvaguardando a sua identidadeoriginal. ROSA RAMOS

    sem a firme deciso de rever e re-formar o sistema inteiro. Francisco pede uma nova poltica, que fuja da corrupo e seja capaz de romper a lgica perversa de no tomar ver-dadeiras decises corajosas.

    Boa parte dos problemas do mundo, garante o Papa, seriam re-solvidos se houvesse

    mais amor civil e poltico. necessrio voltar a sentir que pre-cisamos uns dos outros, que temos uma responsabilidade para com os outros e o mundo, que vale a pena

    ser bons e honestos.Vivemos j muito tempo na de-

    gradao moral, baldando-nos tica, bondade, f, honesti-dade; chegou o momento de re-conhecer que esta alegre super-ficialidade de pouco nos serviu, l-se na encclica. que atravs do amor, garante o Papa Francisco, mesmo possvel construir um mundo melhor.

    ROSA RAMOSrosa.ramos@ionline.pt

    Gentilmente cedido pelo Jornal I

    MUDAR DE VIDA E VIVER COM POUCO

    Vivemosj muito tempona degradao moral, baldando-nos tica, bondade, fe honestidade

    AnGOlA ApOIA a entrada da Itlia no Conselho de Segu-rana da ONU a partir de 2016. A posio angolana foi mani-festada esta semana pelo mi-nistro das Relaes Exteriores Georges Chicoti durante a visi-ta do Presidente da Repblica a este pas europeu.

    O primeiro passo foi dado com a assinatura de um ins-trumento jurdico rubricado entre os dois pases que vai facilitar a cooperao entre os quadros dos ministrios das Relaes Exteriores de Ango-la e Itlia, sobre consultas em temas de interesse a nvel da comunidade internacional.

    A Itlia e Angola so pases que tm boas relaes e ao nvel de consultas bilaterais tmo-las feito, particularmente no que tem a ver com o Conselho de Defesa e Segurana das Naes Unidas, disse Georges Chicoti.

    O acordo assinado pelos mi-nistros angolano das Relaes Exteriores e pelo seu homlo-go italiano, Paolo Gentiloni, ter maior interesse pelo facto de Angola comear a apoiar a Itlia, para o prximo manda-to do Conselho de Segurana da ONU, depois de 2016.

    No Ministrio dos Negcios Estrangeiros e de Cooperao Internacional da Itlia, os dois ministros rubricaram um Memorando de Entendimen-to para o estabelecimento de consultas bilaterais entre as duas instituies governa-mentais, explicou o chefe da diplomacia angolana.

    Estas consultas bilaterais vo ganhar dinamismo e in-cluir outras reas medida que o tempo avanar, estando agendada para os prximos tempos a vinda ao nosso pas do ministro da Defesa italiano.

    Vrios ministros italianos vo deslocar-se a Angola bre-vemente. Estando j prevista a vinda do ministro da Defesa no mbito da segurana martima na regio dos Grandes Lagos, explicou o ministro.

    Durante a presena de Jos Eduardo dos Santos em Itlia foram assinados outros dois instrumentos jurdicos, mais virados para questes econ-micas e financeiras: Um de cooperao econmica e um de apoio s exportaes ita-lianas para Angola, nomeada-

    mente sobre a negociao de seguros e garantia de riscos destas vendas atravs da So-ciedade de Seguro ao Crdito Externo de Itlia.

    O Presidente da Repblica, que deixou Itlia na manh de quarta-feira rumo a Barcelo-na onde se encontra em visi-ta privada, recebeu em terras italianas o reconhecimento da Organizao das Naes Unidas para Alimentao e Agricultura (FAO), pelo apoio que o pas tem prestado a este organismo.

    Este apoio do estadista angolano tem-se traduzido em muitas iniciativas, disse o director-geral da FAO Jos Graziano da Silva que apre-sentou um relatrio de pres-tao de contas do fundo de solidariedade africana, para o qual Angola contribui com um valor de 10 milhes de dlares. Fundo que tem servido para a implementao de projectos nos pases africanos e o apoio a jovens a nvel da agricultura.

    Ao Chefe de Estado angola-no, disse o responsvel, apre-sentei uma proposta para que, durante o tempo que Angola estiver como membro no per-manente do Conselho de Segu-rana das Naes Unidas, pro-mova um debate sobre a relao da paz e a segurana alimentar.

    Creio que Angola um dos pases exemplo que conseguiu reconstruir a paz e, uma vez alcanada a mesma, caminha a passos acelerados para erra-dicar a fome. Isso faz do pas um modelo a ser seguido por outros estados e acho que o assunto deve ser levado ao Conselho de Segurana da ONU para debate, ressaltou.

    A Itlia foi o primeiro pas da Europa Ocidental a reco-nhecer a independncia de Angola, no dia 18 de Feverei-ro de 1976, e a 4 de Junho, do mesmo ano, estabeleceram-se as relaes diplomticas entre os dois Estados.

    As relaes de cooperao existentes entre Angola e a It-lia tiveram o seu incio em 1977, com a assinatura de um Memo-rando que institui a Comisso Bilateral, ento Comisso Mista de Cooperao, ao que se se-guiram a subscrio de vrios outros instrumentos jurdicos.

    F.D.

    Angola quer Itlia no CS da ONU

    A comida que se desperdia comose fosse roubada da mesa do pobre

  • Sociedade10 10 Julho 2015

    Lixo com dias contados

    Um ms o tempo que resta para que as ruas de Luanda estejam de-safogadas das lixeiras que deixam fechadas e intransitveis vrias avenidas, bermas e estradas da ca-pital. Muitas vias encontram-se en-curtadas e barricadas pelo lixo. At ao ms de Agosto parece ser este o principal cenrio que continuar a caracterizar avenidas e bairros da cidade da Kianda, apesar dos vrios apelos e reclamaes das popula-es, como tem sido reportado pelo Novo Jornal e pelos demais rgos de comunicao social.

    A quantidade de lixo que cresce diariamente chega mesmo a fechar importantes vias de acesso a vrios bairros da periferia. O perigo das li-xeiras que se espalham por aquelas zonas tornam-se maiores devido s queimadas que os populares opta-ram por fazer, muitas vezes junto a postos de transformao elctrica e demais condutores de energia.

    Na zona dos Mulenvos de Cima em Viana, o perigo est espreita bem a escassos metros da empresa de lixo Engenvia que h meses deixou de recolher os detritos. No meio do lixo h um poste de alta tenso que pode causar danos maiores devido ao ateamento do fogo.

    Situao similar tambm se as-siste na zona da Petrangol, distrito urbano do Sambizanga, onde um posto de transformao, vulgo PT, encontra-se rodeado de lixo sob o olhar desatento dos homens da ENDE e das autoridades. O fogo que queima o lixo pode causar a destrui-o do PT e consequentemente re-sultar em danos materiais e huma-nos em caso de incndio, motivado pelos populares que, aflitos, procu-ram combater o aumento do lixo.

    A convivncia com o lixo torna-se cada vez mais insuportvel segundo fiis de uma das capelas da Igreja Catlica sediada na Petrangol. A igreja est rodeada de lixo, o que poder comprometer a continuida-de dos cultos. Fazendo aluso mis-sa de domingo passado, os devotos disseram que o pastor catlico local dedicou alguns minutos da sua ho-milia para falar sobre os amontoa-dos de lixo ao redor da igreja.

    O padre tirou trs ou cinco minu-tos da sua pregao para falar sobre o lixo. Disse mesmo que se a situao persistir tero de fechar temporaria-mente a igreja , contaram os fiis.

    A nossa reportagem constatou tambm amontoados de lixo no Cazenga e Rangel. Relatos de po-pulares de outras zonas do conta que, a imagem do lixo visvel por quase toda a cidade com realce para as zonas suburbanas, onde os amontoados crescem a todo o ins-tante. A dvida do governo para com as operadoras de recolha de lixo e o rompimento de contrato com outras, alegadamente, por falta de capacidade tcnica luz do actual modelo de recolha, apontado como estando na base das lixeiras que se espalham pela cidade capital.

    sem ensaioA par do ms de Agosto, data

    para implementao de mais um novo modelo, tal como perspecti-vam as autoridades, Julho a data apontada pelo governo de Luan-da para o ensaio do novo modelo que poder entrar em definitivo no prximo ms. Apesar das v-rias reunies preparatrias reali-zadas pelo governador graciano Domingos com os administradores municipais, distritais e das novas centralidades para afinar as m-quinas, at ao momento, nada se vislumbra no terreno volta do aludido ensaio do novo modelo de lixo que poder salvar Luanda. As ruas continuam repletas de lixo, tal como voltou a constatar a nossa reportagem em bairros de Luanda.

    pagar para LimparCom a entrada do novo modelo

    a partir do prximo ms tal como evocam as autoridades, os habi-tantes de Luanda passaro a pagar um valor monetrio pela recolha do lixo. Os administradores muni-

    cipais sero os responsveis pela contratao e fiscalizao das operadoras de lixo. Os municpios passaro a ter verbas prprias para resolver o problema da limpeza nas suas zonas.

    O oramento a ser atribudo s administraes municipais estima--se entre os trs a 206 milhes de kwanzas por cada municpio, se-gundo deu a conhecer imprensa o porta-voz do governo da Provncia de Luanda (gPL), Sebastio Jos, no final de um dos encontros prepara-trios para o combate ao lixo, que se julga definitivo, na cidade capital.

    Informou na ocasio que o municpio de Luanda receber o montante mais alto, cerca de 206 milhes de kwanzas mensais. O municpio que ter um oramento menor o da Kissama que ter ape-nas trs milhes de kwanzas por ms. Esta diferenciao deve-se localizao dos municpios, den-sidade populacional e s caracte-rsticas de cada zona, explicou o responsvel.

    No que toca comparticipao financeira dos muncipes para a recolha do lixo domstico, o porta--voz disse que nada ainda est de-cidido. Ainda no est aplicada nenhuma taxa. Mas, j est orien-tada a recolha do lixo comercial que ter de ser pago pelo comerciante. O gPL vai futuramente definir apli-cao destas taxas no quadro da lei das transgresses administrativa. Pensamos que isto ser uma pea relevante para ajudar a execuo do modelo de limpeza .

    Apesar do gPL se mostrar con-fiante no sucesso que o novo mo-delo de lixo poder proporcionar, populares atentos e ambientalistas mostram-se cpticos quanto sua implementao nos prximos dias e recordam que h dcadas que o gPL vem ensaiando vrios mode-los, sem sucesso.

    A cidade de Luanda, de acordo com responsveis do sector, produz diariamente cerca de trs mil tone-ladas e tem seis milhes de habi-tantes. A criao de um modelo de gesto de recolha de resduos h-bridos para a cidade de Luanda, por apresentar caractersticas diversifi-cadas resultantes da sua estrutura administrativa, o que defende o ambientalista Vladimir Russo.

    Antnio PAulo

    no meio do lixoh um postede alta tensoque poder causar danos maiores devido ao fogoque posto sobreo lixo

    A cidade capital do pas continua a tresandar e apresenta-se repleta de lixo por tudo quanto canto. At mesmo nas novas urbanizaes os amontoados no param. A periferia da cidade a que mais suja se apresenta. Os moradores clamam por socorro, enquanto isso, as autoridades estimam o ms de Agosto para o incio do processo de salvao dos citadinos, com a entrada do novo modelo de recolha de lixo.

    Ampe Rogrio

  • At Ao momento o comando da diviso de Cacuaco do comando provincial de Luanda, no tem informaes dos elementos que assassinaram brutalmente Isabel Eduardo Lus Antnio, de 38 anos dentro de casa. O crime aconteceu no dia 6 de Julho, no bairro Belo Mote, no municpio de Cacuaco.

    De acordo com uma fonte policial j se est a trabalhar no caso, tendo sido j detectados dois suspeitos.

    Fernando Jos, marido da vti-ma, disse que o crime ocorreu por volta das 3h00 da manh quando um grupo de jovens invadiu a sua residncia exigindo que ele e a es-posa lhes dessem dinheiro o que eles no tinham. Eu ouvi as pes-soas a passarem, mas longe de mim que se tratava de marginais. No incio pensei que j era de manh e que as pessoas estavam a ir para os seus locais de trabalho. Depois de alguns minutos senti um movimen-to na porta de pessoas a empurrar.

    O homem de 45 anos disse ainda, que logo que sentiu que os margi-

    nais estavam a arrombar a porta chamou todos os filhos que estavam a dormir no outro quarto para que entrassem no seu. Mandei-os en-trarem para debaixo da cama. Pus todos os midos no meu quarto, mas o mais novo de dois anos no quis e ficou no meu colo. Foi ento que conseguiram entrar em casa e foram imediatamente para o quarto onde ns todos estvamos. Comea-ram a gritar que queriam dinheiro, a minha mulher disse-lhes que no tinha dinheiro, foi ento que um deles disse que se no lhes dsse-mos os valores iriam matar-nos. A minha mulher ainda lhes disse que levassem a botija de gs e o carto multicaixa mas no aceitaram. Foi ento que um deles efectuou dois disparos, um no peito e outro no ab-dmen. Acrescentou ainda que, na confuso de empurrar a porta, um deles efectuou outro disparo que o atingiu na coxa.

    Fernando Jos sublinhou ainda que depois de efectuarem os dis-paros, que assassinaram a sua mu-

    lher, os dois marginais comearam a discutir porque um deles no es-tava de acordo com o que o outro tinha feito.

    Questionado se os filhos pre-senciaram a me a ser morta, Fer-nando Jos respondeu que sim. A minha filha de dois anos que assistiu cena, ela viu como a me foi morta. A minha filha capaz de ter problemas no futuro com tudo o que presenciou. Os outros esta-vam em baixo da cama e s deram conta que a me morreu quando eu comecei a gritar mataram a minha

    mulher. Nunca vi bandidos que matam a mulher e deixam o mari-do. Nunca vi coisa igual, disse o homem que no parava de chorar.

    De acordo ainda com o marido da malograda, depois de mata-rem a mulher, os marginais ainda queriam levar a filha do casal, de apenas 15 anos. S no levaram a mida porque ela lutou muito com um deles que insistia em lev--la. Ela mordeu o jovem na mo e foi isso que fez com a deixasse.

    10 Julho 2015 11

    O governador da provncia de Luanda, Graciano Domingos, pediu quarta-feira a colaborao dos muncipes no sentidode no estacionarem as viaturas nas ruas e avenidas enquanto estiverem a ser executadas obras de reabilitao

    marginaisfazem mais uma vtima

    A minha filhade dois anos que assistiu cena,ela viu como a me foi morta. A minha filha capaz de ter problemas no futuro com tudo o que presenciou

    Em CaCuaCo

    Fernando Jos s quer que se faa justia, e no sabe como que vai continuar a criar os seis filhos sozi-nho, lamentou, desesperado.

    Isabel Eduardo Lus Antnio, pessoa alegre e simptica, segundo os seus familiares, era casada e me de seis filhos.

    De acordo ainda com o marido da vtima, os marginais na mesma noi-te assaltaram outras residncias no bairro. So mesmo os midos do bairro que esto a provocar dor e luto a muitas famlias. Muitos pais sabem que tem filhos bandidos e escondem-nos. Muitos quando cometem crimes aqui no bairro, so mandados para outras provn-cias e s voltam depois das coisas acalmarem. No sei onde que va-mos parar com isso, no sei o que fazer da vida, triste. Deu ainda a conhecer que, na mesma noite, o mesmo grupo assaltou uma agn-cia de gs, tendo furtado vrias botijas e tendo atingido o proprie-trio no brao esquerdo.

    Questionado se a mulher morreu no local, Fernando Jos respondeu que sim. No tivemos tempo para fazer nada, ela morreu mesmo aqui no nosso quarto frente nossa fi-lha. No consegui fazer nada para salvar a vida da minha mulher. A polcia apareceu vinte minutos depois. Segundo me informaram, estavam numa outra zona a fazer patrulhamento.

    Novamente questionado sobre a existncia de alguma animosida-de com alguns vizinhos, Fernando Jos respondeu que no e conta que h um ms um dos seus filhos teve um desentendimento com al-guns jovens do bairro. O meu filho teve uma briga com alguns midos aqui no bairro, na confuso no sei quem que jogou uma pedra e par-tiu o vidro de uma viatura. Quando aconteceu a confuso eu no estava em Luanda. H duas semanas veio aqui o dono do carro com mais de cinco pessoas a exigir que eu pagas-se o vidro, mas eu disse-lhe que s pagaria o vidro quando o filho dele aparecesse, o que no aconteceu at hoje. A cena do crime assustou at mesmo os policiais, que lidam dia-riamente com situaes parecidas.

    A equipa do Novo Jornal teve di-ficuldades em chegar zona onde aconteceu o crime. Belo Mote um bairro onde no existe nada. No h energia elctrica, gua pot-vel, hospital nem escola. De acordo com algumas pessoas que falaram connosco, um bairro esquecido pelo Estado angolano. Acreditam mesmo que no tem como a polcia trabalhar ou fazer patrulhamen-to devido falta de condies na zona. Ns batemos muito na pol-cia, a culpa do aumento da crimi-nalidade no s da polcia, um problema da sociedade e principal-mente do Estado, disse uma das moradoras.

    IsabEl Joo

    Ampe Rogrio

  • 12 10 Julho 2015

    Sociedade

    Os destrOOs do helicptero desaparecido no dia 02 de Julho do ano em curso na localidade do Nhime, municpio da Conda, j fo-ram encontrados.

    O aparelho, da companhia area SONAIR, com matrcula D2-EWA descolou na manh desse dia do aeroporto do Sumbe em direco ao Waku-Kungo no mbito da fisca-lizao e controlo da sinistralidade rodoviria uma vez que a cidade fes-tejava o seu aniversrio.

    Eram precisamente 10 horas e o helicptero sobrevoava a regio do Nhime rumando para o Waku numa altura em que se registava intenso nevoeiro.

    Nhime, zona altamente monta-nhosa e com floresta densa e hmi-da proporcionou ainda que alguns populares residentes testemunhas-sem a incurso que o aparelho fazia entre as montanhas, muito abaixo do cume do monte Ingu.

    Depoimentos colhidos no local do conta que, acto contnuo, deu--se o estrondo resultante do choque do aparelho contra a montanha de pedras, embatendo nas rvores se-guido de um arrastar de destroos fenda abaixo e depois um ltimo embate que culminou com incndio do aparelho.

    O campons Miguel Lopes Londa, residente na rea do Chitutu conta como tudo aconteceu:

    Na quinta-feira por volta das 10 horas estive na minha lavra e vi o he-

    licptero em direco norte da rea do Nhime. Isso j pertence a Conda. Como tinha muito nevoeiro, depois comeou a subir junto margem do morro do Ingu, embateu contra um pequeno morro. Cheguei a ver como ele bateu embora com nevoeiro, mas j estava a aparecer o fumo, conta o caompons

    Ele acrescenta que segueiu-se a a alguns rebentamentos j depois de ter cado.

    Mais tarde quando me propunha a dar a informao no pude porque o meu telefone no tinha carga, nem saldo. Esperei at s 18 e a pensar

    tambm que l do Nhime j tenham dado a informao at s 19 horas nada, fui ter com o senhor Jlio para ele poder transmitir a informao administrao municipal do Seles. Mas como j se fazia tarde s foi poss-vel dar a informao na sexta-feira.

    Na localidade do sinistro foram mo-bilizadas as Foras Armadas, a Polcia Nacional com a seco de caninos, governantes e populares residentes.

    Seis dias de buscas redundaram em fracasso. Os familiares das vti-mas j estavam incrdulos at que, ao stimo dia, isto , dia 08 depois de aturados esforos e com o con-

    curso de dois ces polcias equipa-dos com cmaras fotogrficas foi possvel encontrar-se os destroos da aeronave numa das muitas fen-das da montanha do Ingu.

    A demora no resgate dos corpos dos sinistrados deveu-se ao simples facto de o local ter vestgios que do conta da existncia de vrios tipos de feras, o que leva alguns populares a acredi-tarem na existncia de drages.

    Por este facto foi necessrio que se recorresse tradio. Reuniram--se todos os sobas e seclos da regio para o ritual que se impe segundo o regedor do Nhime, Manuel Kulembe: Mobilizmos sobas, sculos e caa-dores para que junto das tropas e da polcia pudessem localizar onde est o helicptero. Tenho aqui comigo 10 sobas. Tenho 120 jovens que facili-taram esta operao. Mantivemos essa esperana. Tivemos que falar com os seclos dos crneos e con-versmos j com os mais velhos dos crneos e levamos l bebidas para ver se possibilitam a localizao dos filhos alheios que esto nessa mata. E isso foi possvel.

    Ainda no mbito da redefinio das operaes de busca o local contou com o reforo de mais efectivos e com mais meios. Para o efeito estiveram no Sumbe os secretrios de Estado dos Transportes, da Administrao do Territrio, Pontes Pereira, da Sa-de Doutor Masseca, do Interior, Eu-gnio Laborinho e o comandante da 4 regio militar das FAA do Huambo

    tenente general Eugnio Figueiredo. E ainda os representantes da Sonair, Inavic e Enana respectivamente.

    Lembro que estavam na aeronave seis ocupantes sendo dois tripulantes angolanos, Ado Fialho e Jos Caeta-no, o tcnico de bordo de nacionali-dade francesa Lapel Frederick, uma enfermeira e o jovem motorista ao servio do INEMA Kwanza-Sul; Vict-ria Mateus Gaieta e Anastcio Seme-do e um regulador de trnsito afecto ao comando provincial da polcia lo-cal de nome Filipe Nambuanda.

    As buscas foram efectuadas ora por helicpteros das FAA, ora pelos da Polcia nacional e da prpria SONAIR.

    Os corpos das vtimas foram encon-trados despedaados e carbonizados e a aeronave destroada esperando--se a abertura da caixa negra para se determinar os motivos do despenha-mento do aparelho.

    A Sonair e o governo do Kwanza--Sul no tiveram mos a medir e tm procurado acompanhar cada famlia afectada, com destaque para a indi-cao de alguns psiclogos.

    Na ocasio o general Eugnio Fi-gueiredo protagonizou aco social tendo oferecido aos petizes da loca-lidade de Chitutu material didctico diverso e bens de primeira necessida-de uma vez que a zona considerada quase que esquecida pelo sector de educao e sade.

    O acidente areo que aconteceu, no o primeiro nessa localidade. Fernando Mateus.

    A IgrejA de NOssO Senhor Jesus Cristo no Mundo (Tocoista) inaugura no dia 16 deste ms uma estao de rdio FM em Luanda.

    A nova rdio, segundo apurou o Novo Jornal ter como o director o Jornalista Joaquim Dombaxi, um quadro da Rdio-Luanda.

    A rdio vai exigir no s esforos da parte da direco da nova emisso-ra que iremos indicar, mas tambm da igreja e dos seus quadros que vo ter que prestar o seu saber para ajudar a colocar este grande veiculo num nvel de funcionamento eficiente, disse o bispo da igreja Afonso Nunes.

    A inaugurao da Rdio Tocoista denominada A voz da esperana foi antecedida da realizao de um

    ciclo de palestras sobre o processo histrico da Igreja de Nosso Senhor Jesus Cristo no Mundo e a confern-cia episcopal a ter lugar na provncia de Cabinda de 22 a 25 de Julho, que constituem destaques da jornada comemorativa ao 66 aniversrio da relembrana da Igreja Tocoista .

    A jornada contempla ainda uma viglia em todas as parquias da Igre-ja de Nosso Senhor Jesus Cristo no Mundo, visitas comarca de Viana e a lugares histricos com destaque para o memorial do Presidente Dr. Ant-nio Agostinho Neto, uma campanha nacional de doao de sangue e ac-tividades desportivas a ter lugar no campo do So Paulo em Luanda.

    Afonso Nunes realou que a Con-

    ferncia ter como foco principal a anlise da execuo oramental re-ferente a 2014, bem como traar es-tratgias de evangelizao com vista a imprimir uma nova dinmica nesta rea.

    Tocosmo o nome dado aos se-guidores do profeta angolano Simo Gonalves Toco (1918-1984. Actual-mente, esto constitudos eclesiasti-camente sob a denominao Igreja de Nosso Senhor Jesus Cristo no Mundo.

    Trata-se de um dos maiores movi-mentos cristos em Angola, contan-do igualmente com sedes em vrios outros pases africanos e europeus. Tem a sua catedral no bairro do Gol-fe, no sudeste de Luanda. A sua sede

    espiritual em Sadi-Zulumongo (NTaia), local de nascimento do pro-feta.

    Simo Gonalves Toco nasceu em 1918 na localidade de Sadi-Zulumon-go (Ntaia, Maquela Do Zombo, pro-vncia do Uge, Angola), tendo rece-bido o nome kikongo de Mayamona.

    Em 1946, graas ao trabalho que lhe fora reconhecido no mbito da Misso Baptista e do coro, foi con-vidado, junto com outros dois in-dgenas (Gaspar de Almeida e Jess Chipenda Chila) para intervir nos trabalhos da Conferncia Missionria Internacional Protestante, realizada de 15 a 21 de Julho de 1946, na lo-calidade de Kalin em Leopoldville (actual cidade de Kinshasa, capital

    da Repblica Democrtica do Congo). Dirige ento uma prece onde pede para o Esprito Santo descer em fri-ca.

    No ano 2000 e depois da sua mor-te em 1984, assume a liderana da Direco Central Afonso Nunes, que afirmava ter sido visitado e revesti-do pelo esprito de Simo Gonalves Toco. Nunes consegue operar um mo-vimento significativo de reunificao no seio do tocoismo, trazendo vrios dos sectores desavindos para a Direc-o Central (entretanto rebaptizada Direco Universal). Tambm lidera uma transformao dramtica no seio da igreja, construindo uma ca-tedral no bairro do Golfe em Luanda. david Filipe

    destroos do helicptero da sonair j foram encontrados

    Jornalista Joaquim Dombaxe dirige A voz da Esperana

    KWanZa-sul:

    rdio tocoista

    Quintiliano dos Santos

  • Entrevista14 10 Julho 2015

  • A premissa presos polticos como tal no priori um obst-culo para qualquer dilogo que se queira estabelecer com os rgos do governo, quando estamos num Estado de direito e democrtico, e sobretudo porque se trata de um grupo de apoio aos presos polti-cos em Angola?

    Tudo parte do princpio de que sempre que estamos diante de uma situao que deve ser sujeita a uma anlise. O Grupo de Apoio aos Pre-sos Polticos em Angola (GAPPA) surgiu porque a maior parte dessas situaes que tm ocorrido so de-tenes que tm motivaes polti-cas. No tm muitas vezes a ver com aquilo que so os crimes comuns, mas com motivaes polticas. Por essa razo que tivemos de recuar no espao e no tempo e denominar que so presos de conscincia e de polticos.

    Mas esta uma interpretao com base em casos isolados ou porque h uma situao recorrente a que se tem assistido?

    uma situao recorrente. Esta-mos a falar dos jovens revolucion-rios que num passado recente tm realizado manifestaes, cumprin-do com aquilo que so os pressu-postos legais e que esto plasmados na Constituio e, mesmo assim, so vistos como elementos que tm atrs de si uma fora poltica parti-dria. O que no verdade. So jo-vens que esto a reivindicar aquilo que so os seus direitos fundamen-tais plasmados na Constituio. Mas o governo encara esta situao como pessoas que so colocadas frente para poder reivindicar um di-reito poltico-partidrio. O que no

    verdade. Normalmente, quando eles dirigem a comunicao aos go-vernos provinciais informam quais as motivaes para a organizao dessas manifestaes.

    E o GAPPA surge motivado por es-tas circunstncias incomuns?

    O GAPPA um grupo de cidados solidrios para com as causas de Jos Mavungo e Iro Tempo, que foram presos no dia 14 de Maro deste ano, tambm por pretende-rem realizar uma manifestao, que no chegou a ter lugar, em Cabinda. A prpria Procuradoria-Geral da Re-pblica, apesar de no ter encontra-do provas que pudessem incriminar Jos Mavungo, avanou para a ma-nuteno da priso desse cidado. Uma situao que at agora no compreendemos porqu, uma vez que se trata de um cidado que no cometeu crime nenhum e ainda as-sim mantido preso.

    H ainda h o caso do Dr. Iro

    Tempo que est proibido de sair de Cabinda. Mesmo Cabinda sendo ter-ritrio angolano, ele no pode vir a Luanda, por exemplo. No GAPPA temos cidados das organizaes da sociedade civil, polticos, docentes universitrios, estudantes e outros interessados que dirigiram s ins-tituies do Estado um abaixo-as-sinado a exigir a libertao desses nossos compatriotas que estavam e esto presos em Cabinda.

    Em Angola ainda h presos de conscincia?

    Quando algum utiliza a sua cons-cincia para poder libertar, pensar aquilo que so os seus direitos fun-damentais e dos outros cidados, analisar a situao contextual do pas e fica preso, porque estamos diante de uma violao da nossa prpria conscincia. A Constituio d-nos esse direito de pensar, uma

    vez que no estamos a usar meios violentos, mas sim pacficos. cla-ro que quando algum impede esta liberdade de pensamento estamos perante uma deteno de conscin-cia.

    Este rtulo que se atribuiu a esse grupo no dificulta de alguma maneira o estabelecimento de relaes com as instituies do poder?

    Gostava que as instituies no pensassem na denominao do grupo, porque isso tem que ver com aquilo que a sua convico em re-lao aos cidados que foram deti-dos. Porque que preso poltico? Porque as motivaes que levaram esses indivduos at onde eles se en-contram at agora so motivaes polticas. Vamos l ver a questo de Cabinda, o caso do Dr. Mavungo. O procurador diz que realmente no tem provas que o incriminam, mas olhando para a situao poltica da provncia decidiu avanar para a manuteno da priso preventiva do senhor Mavungo.

    Estamos a falar de um pronuncia-mento oficioso ou oficial?

    Oficial.

    Esta informao foi transmitida a quem?

    O advogado tem estado com o procurador e claro que esta in-formao tida publicamente em Cabinda de que no encontraram nenhuma prova. Mas que eles foram detidos enquanto decorrem as in-vestigao para identificar as provas que levaram deteno. Por outro lado, a deteno de Jos Mavungo e Iro Tempo nem foi por terem sido encontrados no acto da manifesta-o. Foi uma deteno que podemos considerar ilegal, porque no foram encontrados em flagrante delito.

    O Dr. Iro Tempo foi detido na fronteira com o seu cliente e a infor-mao que tivemos de que ele esta-va na fronteira para convocar jorna-listas para cobrirem a manifestao. Ao ir buscar jornalistas para cobrir a manifestao, no conseguimos ver o crime que ele cometeu. J o Dr. Jos Marcos Mavungo foi preso no ptio da igreja. Ele saa da igreja e esta estava cercada de polcias. No foi detido em flagrante delito nem to pouco no acto da manifestao. Depois foi numa altura em que se deslocou uma delegao da Casa Civil da Presidncia da Repblica, talvez supostamente por razes da tenso que a convocao da mani-festao causou. E a manifestao no realizada, porque foi impedida pela governadora.

    O GAPPA foi recebido por tcnicos da Casa Civil da Presidncia da Repblica, e o primeiro pronun-ciamento feito foi de que tinham sido recebidos com silncio. Quer explicar como decorreu esta au-dincia?

    Este encontro foi feito a partir de uma carta que foi dirigida pedindo uma audincia, com o objectivo de ouvirmos da Casa Civil, enquanto

    A Constituio d-nos esse direito de pensar, uma vez que no estamos a usar meios violentos, mas sim pacficos

    10 Julho 2015 15

    O Grupo de Apoio aos Presos Polticos em Angola (GAPPA) uma nova plataforma da sociedade civil que diz defender os cidados de prises arbitrrias. Na gnese da sua criao esteve a deteno dos cidados Jos Carlos Mavungo e Iro Tempo, este ltimo j em liberdade, mas impedido de sair para qualquer outra provncia do pas, por ordens da Procuradoria-Geral em Cabinda. Rafael Morais, activista cvico da SOS habitat, que faz parte da nova plataforma, explicou em entrevista ao Novo Jornal os meandros do surgimento do GAPPA e as razes que os leva a considerar que ainda existem presos de conscincia no pas.

    Texto de nok nogueira

    Fotos de quintiliano dos santos

    O GAPPA um grupo de cidados solidrios para com as causas de Jos Mavungo e Iro Tempo

    Este pas j no aquele do passado

  • polticos, por um lado, e por outro solicitam a interveno do gover-no do central no um tiro no pr-prio p que esto a dar?

    O pedido no foi apenas dirigido ao Governo central. Tambm nos dirigimos Procuradoria-Geral da Repblica e estamos espera de sermos recebidos. A questo de di-rigirmos o pedido ao Governo cen-tral tem exactamente a ver com a exigncia que o GAPPA faz no sen-tido de interceder para libertao do senhor Marcos Mavungo. O Dr. Aro Tempo j est fora, mas impe-dido de sair da provncia de Cabin-da. Portanto, no significa que ao irmos para o Governo central para pedir que ele interfira nas decises do Ministrio Pblico, mas, sim, para interceder, analisar, enquanto rgo decisor, enquanto adminis-trao que est a conduzir o Estado angolano. claro que o seu ponto de vista muito importante.

    Como que o GAPPA olha para a deteno dos 15 jovens detidos em Luanda?

    O GAPPA e qualquer cidado que esteja atento a esta situao per-

    16 10 Julho 2015

    Entrevista

    Houve uma grande precipitao e isso leva-nos a pensar que estamos diante de um perigo

    rgo do Governo central, as ra-zes sobre a questo do senhor Jos Carlos Mavungo. Alis, este no o nico encontro. Em tempos fomos recebidos pelo secretrio de estado para os Direitos Humanos. Este o segundo pedido que dirigimos a instituies e fomos recebidos. On-tem (quarta-feira) fomos recebidos por tcnicos do gabinete jurdico da Casa Civil do Presidente da Re-pblica que foram orientados para nos ouvir. No fundo, queriam obter mais informao sobre as informa-es que esto na carta do pedido de audincia. O GAPPA congratula--se com a recepo, porque outras organizaes da sociedade civil que no so recebidas.

    Quando vocs recorrem a um r-go do Governo central no esta-ro a ferir aquilo que o princpio de independncia, uma vez que recorrem Presidncia da Rep-blica, de modo a orientar ou a or-denar que seja solto um activista de direitos humanos? No est aqui a questo da independncia de poderes que preciso salva-guardar?

    Na verdade, entendemos que existe esta separao de poderes, mas entendemos tambm que o go-verno central pode interceder com as suas ideias e opinies em relao a um caso que fere um direito funda-mental. Este caso tem a ver com um caso de justia, que tem que velar por esta situao. J nos tnhamos apercebido que o Procurador-Geral da Repblica havia manifestado que a deteno em Cabinda era ilegal. S o facto de considerarem ilegal esta deteno e avanarem para a sua manuteno, olhando para a situa-o poltica da provncia, leva-nos

    a pensar que o poder poltico cen-tral tem a ver com a situao e que o seu pronunciamento seria justo para poder velar por esta situao. E depois porque Angola tem respon-sabilidades no Conselho Nacional das Naes Unidas com os direitos humanos. E a questo desta deten-o viola aquilo que so os direitos fundamentais defendidos pela pr-pria Constituio.

    Mas a deciso de manuteno da priso preventiva de Jos Carlos Mavungo foi tomada pelo Minist-rio Pblico. O que que justifica ir procura de um apoio do governo central e deixarem de se dirigir ao Ministrio Pblico que responde por esta situao?

    No dia 19 e 20 deste ms o grupo esteve em Cabinda com o objectivo de manter encontro com a governa-dora, com a Procuradoria-Geral da Repblica e o Ministrio do Interior na provncia. claro que a gover-nadora no nos recebeu, nem to--pouco o procurador. Mas tivemos uma conversa com a procurador via telefnica, que disse ter submetido o processo a uma investigao. A governadora, olhando para a se-parao de poderes, disse que no lhe competia pronunciar-se sobre a situao, tendo deixado esta res-ponsabilidade ao Ministrio Pbli-co. importante, mesmo que o caso tenha sido tomado pelo Ministrio e pela Polcia, buscar apoios para in-terceder, e no interferir, junto des-ses rgos para ento ver a questo da legalidade desta priso que, do nosso ponto de vista, viola aquilo que so os direitos fundamentais do cidados.

    Quando vocs se referem a presos

    cebe que estamos em presena de uma deteno ilegal. Porqu? No possvel 15 jovens organizarem uma aco que resulte num golpe de Estado ou num atentado contra o Presidente da Repblica ou contra os rgos de governao legalmen-te institudas em Angola. Vamos l ver: Angola esteve durante quase 30 anos com guerra, com um par-tido que tinha um exrcito que enfrentou o Governo angolano du-rante 30 anos, que no conseguiu tomar o poder. Trinta anos depois, o Governo angolano est dotado de elementos, mecanismos, foras para poder garantir a segurana do Estado.

    Agora, 20 jovens que estavam reunidos a pensarem numa situa-o de mudana, utilizando meios pacficos, conforme est a infor-mao, no vejo qual o perigo que representam para Angola. Um pas que tem renome na questo da re-soluo de conflitos. No meu ponto de vista, houve uma grande precipi-tao e isso leva-nos a pensar que estamos diante de um perigo: Sig-nifica dizer que qualquer aco do Governo que eu reprove, no posso falar, sob pena de ser preso. No sig-nifica que um cidado que contesta uma aco que o Governo esteja a fazer esteja a contestar o cidado Jos Eduardo dos Santos, o cidado Manuel Vicente ou o presidente da Assembleia Nacional, mas sim a ac-o que esteja a lesar algum direito fundamental. Qualquer um depois pode analisar e duas/trs pessoas podem sentar-se e fazer uma an-lise. Este pas j no aquele pas do passado. Este pas est evoludo do ponto de vista do pensamento. Alis, se olharmos para o grupo de jovens est l o Dr. Domingos da

    Cruz, o Sedrick e outros jovens com o ensino superior feito. E claro que eles tm direito de se sentar, nor-mal.

    Do meu ponto de vista, assim que as instituies da polcia se aper-ceberam que havia ali um estudo sobre como derrubar uma ditadura, elas deviam prevenir que isso no viesse a acontecer, acompanhando este estudo. No estando no com-putador que vou derrubar o Estado angolano, nem 15 jovens vo ao palcio derrubar o Presidente da Repblica.

    O que que pretende fazer o GA-PPA em relao aos 15 jovens?

    Vamos novamente pedir audin-cia. No encontro com a Casa Civil da Presidncia no podamos aflorar o assunto, porque no queramos desvirtuar aquilo que era o objec-tivo em relao ao encontro. Mas no nos saram da conscincia os 15 jovens. Estamos a acompanhar e vamos marcar audincia com as ins-tituies de direito para ouvirmos as razes por que foram detidos e como vai seguir o processo. Se olharmos para a Declarao Universal dos Di-reitos Humanos, no seu artigo 19, e outros documentos de que Ango-la subscritora, o que aconteceu com esses jovens no um crime que possa manter essas pessoas na cadeia. A priso destes jovens e a situao de Jos Mavungo tem ou-tras consequncias no seio das suas famlias. Estes jovens so lderes das suas famlias e tm responsabilida-de para com elas. Tudo isso concorre para outras violaes e pode gerar outros problemas de conscincia. Vamos trabalhar com as instituies no sentido de encontrarmos solu-es para essas situaes.

    RAFAEL MORAIS coorde-nador da SOS Habitat, uma organizao no-governa-mental que tem como foco a defesa dos direitos da habitao e a luta contra a onda de demolies. Junto de os outros lderes de organizaes forma o Grupo de Apoio aos Presos Polticos em Angola.

    PERFIL

  • - Christine Lagarde, a directora-geral de uma das mais importantes organizaes eco-nmico-financeiras mundiais, o Fundo Mone-trio Internacional, conhecida e reconhecida pela sua capacidade de, em nome dos emprs-timos que faz, empurrar os pases para os abis-mos mais perigosos, condicionar o exerccio da democracia e pr em causa at a sua existncia e soberania, afirmou recentemente que os velhos vivem demasiado e que h que procurar solues urgentes para isso. Referia-se certa-mente a alguns pases europeus e fez lembrar uns antigos e amarfanhados discursos de gen-te pequenina, miservel e medocre, no por acaso nazi-fascista, que afirmava h setenta anos - e ainda h quem no o afirmando o de-fenda na vida: quando falam de cultura, puxo da pistola. Lembram-se? Era goebbels, minis-tro da propaganda de hitler

    - A primeira-ministra ngela Merkel, depois de anos a fio de dislates e de asneiras polticas, incapaz de se dar conta das consequncias, a longo prazo, das polticas por si ditadas relati-vamente a toda a Unio Europeia, que benefi-ciaram de resto sempre os alemes e os outros povos mais ricos da Europa, tenta agora, por presso de Barack Obama, no deixar cair a Grcia. Em contra-mo, o seu ministro das Fi-nanas, Wolfgang Schauble, procura, a todo o transe, empurrar a Grcia para a sada do euro, no tendo um palmo de inteligncia que o faa entender o perigo geo-estratgico da Grcia ser obrigada a abandonar a moeda europeia. Obviamente, este senhor, pequenininho e nas-cido com palas, desconhece a regio em que a Grcia se insere e o significado fundamental que tem para as foras aliadas da Organizao do Tratado do Atlntico Norte, um dos braos armados dos Estados Unidos da Amrica. Ele mesmo tem demonstrado no ser de todo dis-paratado encontrarmos-lhe certas reminiscn-cias dos ministrozinhos de hitler

    - A Repblica Popular da China caminha, de forma acelerada, para um problema cuja dimenso e gravidade pode resultar numa hecatombe que vai afectar os cinco cantos do mundo. Alm das constantes crises oca-sionadas pela gerao de mecanismos do capitalismo mais imperial que se possa ima-ginar, insiste em manter a dicotomia entre uma economia que assenta na explorao clara de uma mo-de-obra barata e num apro-fundamento de relaes de produo injus-tas, mantendo o pas sob mo de ferro, sem qualquer abertura democrtica. Uma poltica de afirmao tpica de uma grande potncia, em passo apressado, procurando demarcar as suas grandes zonas de influncia, mantendo o Partido Comunista como nica fora polti-ca autorizada no pas.

    - A Rssia, de Vladimir Putin, no esconde o seu anseio em refazer o espao da extinta Unio das Repblicas Socialistas Soviticas, embora numa perspectiva que est nos an-tpodas do sonhado pelas geraes da Revo-luo de Outubro. Procurando equilibrar a economia de mercado com uma governao muitas vezes prxima da noo de um regime autoritrio, o que no nos parece passvel de

    dar bons resultados, por mais que se atribuam essas nuances idiossincrasia do povo russo, desde os tempos de Catarina, a Grande.

    - O Estado Islmico, entre avanos e recuos, vai conseguindo levar a gua ao seu moinho, provando mais uma vez a velha teoria da fa-libilidade previsvel de todo o tpico de pol-ticas capitalistas. Quem os armou, quem os treinou, quem os criou, v-se agora sem so-luo para os derrubar. Estiveram na origem do nascimento do monstro e no sabem como

    impedir o seu desenvolvimento. Mais interes-sante e trgico tambm, saber-se que do principal aliado norte-americano na regio, a Arbia Saudita, que continuam a sair apoios vrios aos terroristas.

    Recordemos Viviane Forrester no seu mag-nfico O Horror Econmico: Vivemos no meio de um logro magistral, de um mundo desaparecido que nos recusamos a reconhe-cer como tal, e que polticas artificiais pre-tendem perpetuar. Em que sonho nos man-tm, entretendo-nos com crises cujo fim, dizem, nos far sair do pesadelo? Quando tomaremos conscincia de que no h crise, nem crises, mas uma mutao? No a de uma sociedade, mas uma brutal mutao civiliza-cional? Participamos de uma nova era, sem conseguir enfrent-la, sem admitir nem mes-mo perceber que desapareceu a era anterior. Em vez de pr luto por ela, passamos os dias a mumific-la, a d-la como actual e em acti-vidade, ao mesmo tempo que respeitamos os ritos de uma dinmica ausente. Porqu esta projeco permanente de um mundo virtual, de uma sociedade sonmbula devastada por problemas fictcios quando o nico verda-deiro problema eles terem deixado de ser problemas para se tornarem a norma desta era simultaneamente inaugural ou crepuscu-lar, que no assumimos?

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    Nota

    Que fazer?

    Participamos de uma nova era, sem conseguir enfrent-la, sem admitir nem mesmo perceberque desapareceua era anterior

    18 10 Julho 2015

    Editorial

  • De toDos se faz um Pas de scar Monteiro um livro que suscita uma multiplicidade de sentimentos aos que deram corpo Gerao da Uto-pia, e simultaneamente algum des-conforto gerao seguinte, onde me incluo, e onde esto muitos dos que mandam, alguns dos que des-mandam, nas emergentes socieda-des onde nos inserimos.

    Este livro, com prefcio de Artur Santos Silva, e um posfcio exce-lente de Manuel Rui Monteiro, uma quase autobiografia de um homem que sempre esteve do lado certo da luta, na defesa de valores de independncia, liberdade e res-peito pelo cidado enquanto motor do desenvolvimento, e seu nico beneficirio num quadro de uma sociedade de cada qual, segundo sua capacidade, a cada qual, segun-do suas necessidades.

    scar Monteiro faz ao longo do livro um trajeto, desde os seus tem-pos de meninice e juventude no Mo-ambique colonial, a sua ida para Portugal estudar em 1958, o seu en-gajamento nas lutas estudantis, na atividade associativa, na Casa dos Estudantes do Imprio, concluin-do direito com vinte anos na Uni-versidade de Coimbra. No desfiar de recordaes, e de muitas solidarie-dades e amizades que se perpetuam nos dias de hoje Oscar Monteiro des-creve o seu salto para o combate contra o colonialismo portugus, o dealbar de um tempo em que a sua vida se confunde com a luta da FRELIMO, o 25 de Abril de 1974 em Portugal, os acordos de Lusaka, a independncia de Moambique e o apoio luta do povo angolano e do MPLA na afirmao de um esforo coletivo comum, no mbito da ex--CONCP (Conferencia das Organi-zaes Nacionalistas das Colnias Portuguesas) para que a Republica Popular de Angola emergisse como

    Pas no contexto das naes a 11 de Novembro de 1975.

    A grande dimenso humana do moambicano, revela-se na forma reconhecida para com todos os que o ajudaram a trilhar as fases de um percurso em que foi protagonista ativo, de um perodo relevante de lutas contra a potncia colonial e concomitantemente pela erradi-cao do domnio do apartheid na frica Austral.

    scar Monteiro, como outros moambicanos j o fizeram, deixa o seu testemunho de um tempo de luta por causas nobres, que aju-daram a dignifi-car os momentos histricos da edificao das novas naes. Era muito bom que todos os protagonistas fizessem o mes-mo, para que no futuro no se procure reescre-ver a histria ao belo prazer das circunstncias.

    Estamos a dar-nos conta de como nos afastmos dos nossos objetivos, declarou em recente en-trevista Lusa. Cada vez mais es-tamos a sentir que h alguma coisa que no funcionou, avalia scar Monteiro, referindo que h um fa-tor de humanizao do capitalismo que desapareceu e que levou con-trao da riqueza. Este no um problema s de Moambique, de todo o mundo, enfatizou o jurista, abordando a forma como Moambi-que evoluiu de um socialismo na sua forma mais pura para o capi-talismo, com menos entusiasmo, muita pressa e sem se pensar em to-

    das as consequncias.O desenvolvimento tem

    de ser visto a partir do que as pessoas desejam, defen-deu, assumindo que este um problema no resolvido e que a Frelimo est cons-ciente de que as distncias aumentaram muito mais do que se pensava. Alm de uma diferena grande e crescente entre os que tm e no tm, existe sobretudo

    o facto de que os que no tm no terem o suficiente, nem um me-canismo compensatrio, como um rendimento mnimo garantido para comprar a paz social.

    Em Moambique tambm h apoios aos mais pobres e aos ido-sos, mas em certos momentos uma conjugao de fatores leva perce-o de que s alguns que tm e em alguns casos fundamentada, referiu, acreditando que ainda possvel produzir um sistema mais regulado e humanizado.

    Esta longa entrevista tem des-tinatrios certos, e no s em Mo-ambique, mas tambm em Pases como Angola, que de certa forma vi-veu uma luta comum, processos po-lticos e organizativos semelhantes, e que vive hoje uma fase de capita-lismo selvagem mesclado com um ou outro laivo avulso de socialismo.

    scar Monteiro merece o seu bo-cado de po, e apesar de ter sido ministro da Presidncia, Informa-o, Administrao Estatal, Interior e governador provincial no deixa de alijar as suas responsabilidades,

    mas alerta que o percurso est en-viesado, e urge voltar-se ao primado do homem ser o centro do debate e usufruturio de toda a riqueza, produzida numa sociedade onde o coletivo se assume como fator de-cisivo.

    O desenvolvimento de frica con-tinua a ser um sonho no realizado de muitos, mas seria pelo menos muito bom que no se matasse o sonho das gentes, de um continen-te que coloca 36% das matrias--primas na economia mundial e que tem apenas um PIB de 3%, segundo dados de credibilidade insuspeita.

    Ryszard Kapuscinski (1932-2007) dizia: No importa quantas vezes se cai. O importante levantarmo--nos e tentar mudar as coisas. Quando os intelectuais discutiam a globalizao, o que se podia fazer para melhorar as condies de vida das pessoas do Terceiro Mundo ele dizia: Olhem o que mudou a vida de muitas pessoas em frica foi o bido de plstico, que permitiu que as crianas carregassem gua sem a desperdiar pelo caminho.

    Opinio

    De todos se faz um Pasfernando pereira

    gora

    10 Julho 2015 19

    estamos a dar-nos conta de como nos afastmos dos nossos objetivos

    Tambm eu j me sentei algumas vezes s portas do crepsculo, mas quero dizer-te que o meu comrcio no o da alma, h igrejas de sobra e ningum te impede de entrar. Morre se quiseres por um deus ou pela ptria, isso contigo; pode at acontecer que morras por qualquer coisa que te pertena, pois sempre ptrias e deuses foram propriedade apenas de alguns, mas no me peas a mim, que s conheo os caminhos da sede, que te mostre a direo das nascentes.

    Memria de outro rio, Eugnio de Andrade.

  • A Unio EUropEiA (UE) mostrou--se quarta-feira, 8, preocupada perante as recentes crispaes ins-titucionais ocorridas na Guin-Bis-sau, referiu em comunicado, depois de divergncias polticas entre o primeiro-ministro e o Presidente da Repblica daquele pas, avanou a PANAPRESS.

    A UE exprimiu a sua preocupao perante as crispaes institucionais ocorridas recentemente no pas, de acordo com um comunicado conjunto no final de uma reunio entre a Unio Europeia e o Governo, em Bissau.

    No mesmo encontro, a UE reco-nheceu os esforos feitos para ultra-passar as divergncias e encorajou a sua continuao atravs de maior abertura e melhoria da qualidade do dilogo, tendo em vista a conso-lidao de uma parceria estratgica

    entre os rgos da soberania.A tenso entre o primeiro-mi-

    nistro da Guin-Bissau, Domingos Simes Pereira, e o Presidente da

    Repblica, Jos Mrio Vaz, fez com que, ainda na ltima semana, o chefe de Estado discursasse na-o para negar que tivesse um plano

    para demitir o Governo - como era admitido em meios diplomticos e comentado pela populao.

    A comunidade internacional espera agora que ambos se enten-dam. O encontro de quarta-feira formalizou o regresso ao dilogo poltico entre a Guin-Bissau e a UE no mbito do acordo comercial de Cotonou, interlocuo que esteve interrompida desde 2011.

    Este dilogo marca mais uma etapa no aprofundamento da par-ceria entre a Unio Europeia e a Guin-Bissau, cooperao que comemora este ano o seu quadra-gsimo aniversrio, salientam no comunicado conjunto. O governo da Guin-Bissau props e foi aceite a realizao de reunies de infor-mao e concertao poltica com periodicidade mensal.

    A polciA do UgAndA deteve quinta-feira, 9, dois lderes da opo-sio que so tambm candidatos s presidenciais do prximo ano, nas quais devero enfrentar o veterano presidente do Uganda, Yoweri Muse-veni, avanou o Correio da Manh, que cita fontes locais.

    O antigo primeiro-ministro Ama-ma Mbabazi foi preso na zona cen-tral do Uganda, enquanto o lder do partido Frum para a Mudana De-mocrtica, Kizza Besigye, foi preso na sua casa nos arredores da capital, reportou o jornal estatal New Vision, citado pela AFP.

    Ambos foram presos antes da sua participao em comcios que ti-nham planeado, acrescenta a agn-cia de notcias, que d conta ainda de que Museveni, o Presidente que lidera do pas desde 1986, j recebeu o apoio do partido no poder - Movi-mento de Resistncia Nacional.

    No entanto, Mbabazi, antigo alia-do do Museveni, anunciou em Ju-nho que iria desafiar o veterano pre-sidente de 70 anos, desencadeando crticas do Governo, que notou que muitos das crticas feitas pelo antigo primeiro-ministro tm origem no seu mandato enquanto secretrio--geral do partido.

    o Exrcito nigeriano decla-rou quarta-feira,

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