o cotidiano “invisível” da Política no Brasil

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Coalizão, emendas, bancadas, lobby e advocacy:

o cotidiano “invisível” da Política no Brasil

São Paulo, 27 de Janeiro de 2021

Joyce Luz

joheluz@gmail.com

Renomeando

Coalizão, emendas, bancadas, lobby e advocacy: o cotidiano

“invisível” da Política no Brasil.

Sobre o que estamos falando exatamente?

Estamos falando sobre o que é, sobre como funciona e sobre

como acontece a política no Brasil.

Definindo o que é a Política

Definição “mais atual” de política pode ser encontrada e lida a partir de

Noberto Bobbio (1998)

A palavra política deriva de politikós, do grego, e diz respeito àquilo que é da

cidade, da pólis (na Grécia Antiga), da sociedade, ou seja, que é de interesse

do homem enquanto cidadão.

Política seria, então, o ato de governar, de tomar

decisões, sobre a vida coletiva, sobre a vida em

sociedade, sobre as interações entre os homens.

Definindo o que é a Política

Definição “mais atual” de política pode ser encontrada e lida a partir de

Noberto Bobbio (1998)

A palavra política deriva de politikós, do grego, e diz respeito àquilo que é da

cidade, da pólis (na Grécia Antiga), da sociedade, ou seja, que é de interesse

do homem enquanto cidadão.

Política seria, então, o ato de governar, de tomar

decisões, sobre a vida coletiva, sobre a vida em

sociedade, sobre as interações entre os homens.

Brasil: panorama histórico do controle e

funcionamento do Estado

1822 1889

67 anos de Monarquia

Hoje

Quase 130 anos de República

1937 1946

Regime Autoritário

1964

Democracia

1985

Regime Autoritário

1988

Democracia

Presidencialismo de Coalizão

Quem governa e como governar o Brasil?

Características da Política no Brasil pós-88 até hoje (27/04/2020)

• Regime Democrático: seguindo a definição minimalista de Democracia

(Przeworski, Cheibub e Limongi, 1997; Dahl,1999) o Brasil apresenta as duas

principais características que definem Regimes Democráticos. Tais características

são (i) a ampla participação através de eleições populares (voto universal) e (ii) a

contestação entendida como a possibilidade e existência da participação da

oposição, com chances inclusive de vitória nas eleições e alternância de poder.

• Sistema Presidencialista: Executivo e Legislativo são eleitos popularmente de

forma independente e direta. Em termos mais claros brasileiras e brasileiros

participam de eleições regulares e escolhem, através do voto direto, quem será o

líder do Executivo (Presidente) e quem serão os membros do Legislativo

(Deputados Federais e Senadores).

Quem governa e como governar o Brasil?

• Sistema Eleitoral de Representação Proporcional de Lista Aberta: Escolha dos

representantes do Legislativo (federal, estadual e municipal) pelo sistema de

divisão proporcional de votos (contraposição ao sistema majoritário dos 50%+1) e

pelo ordenamento da lista de candidatos e de quem será eleito ser determinado

de acordo com a quantidade de votos (contraposição aos sistemas de lista

fechada)

• Sistema Federalista: As decisões e responsabilidades sobre a política são

divididas entre a União (Presidente +Deputados Federais e Senadores) + os

Governos estaduais (Governadores e Deputados Estaduais dos 26 estados

brasileiros e o Distrito Federal) + e os governos municipais (Prefeitos e

Vereadores das 5570 cidades brasileiras)

Críticas quanto as regras adotadas

• Presidencialismo: problema da legitimidade dual. Presidente e Legislativo ao serem

eleitos popularmente competiriam pela legitimidade frente ao eleitorado. Quem

toma as decisões ou quem o povo pode responsabilizar ou atribuir o fracasso ou o

sucesso das políticas? A competição e disputa entre os poderes levaria ao

constante conflito de interesses. Além disso, Presidente e Legislativo seriam eleitos

por eleitorados diferentes – o presidente seria eleito nacionalmente e o Legislativo

localmente. Isso levaria a mais conflitos e disputas entre os poderes (Linz, 1994).

Presidente brasileiro, possuindo poderes legislativos, usaria da prerrogativa de tais

poderes para “contornar” o Legislativo (Lamounier, 1992).

Sistema Eleitoral de Representação Proporcional de Lista Aberta: Os membros do

Legislativo seriam eleitos por localidades específicas e, uma vez no interior do

Legislativo, disputariam entre si pela produção e aprovação de políticas para os

seus redutos eleitorais. Nessa crítica a importância da coordenação partidária

desaparece. Partidos políticos seriam muito “fracos” no interior do Legislativo.

Predomínio do individualismo (Mainwaring, 1995,1999; Pereira e Müeller,

2002,2003).

Paralisia Decisória ou Governabilidade?3

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SUCESSO E DOMINÂNCIA DO EXECUTIVO (1946 -2018)

Sucesso do Executivo (%) Dominância do Executivo (%)

Fonte: Banco de Dados do Legislativo do Cebrap

Como definir e explicar essa Governabilidade?

A Governabilidade pode ser entendida pela tomada de decisões coletivas.

Aprovação de Projetos de Lei são decisões coletivas.

Projetos de Lei são regras que versam e definem como as interações sociais

entre os indivíduos no interior de uma sociedade devem acontecer

Projetos de Lei são decisões coletivas sobre POLÍTICAS que importam (e

muito!) para a vida em sociedade.

Legislativo Brasileiro: palco central do processo

de tomada de decisões e produção de políticas

A escolha pela Democracia implica que o povo é soberano. A Democracia é, por

definição, o governo do povo para o povo. É o governo em que uma maioria toma

decisões coletivas sem excluir as minorias (Princípio Majoritário).

Nos Regimes Democráticos a representação do povo é dada pelo PODER

LEGISLATIVO. O Legislativo – seja ele federal, estadual ou municipal – é o poder

que abriga os representantes que o povo escolhe para tomar decisões coletivas.

É, portanto, no interior do Poder Legislativo, que o Princípio Majoritário da

Democracia deve acontecer e ser respeitado.

O Legislativo é o principal palco onde a produção e decisões sobre as políticas

devem acontecer. É onde maiorias devem ser construídas. É onde o Presidente

brasileiro deve NECESSARIAMENTE ir buscar apoio se quiser aprovar uma

Agenda de Políticas

Presidente e compra de apoio individual

O que são Emendas Individuais Orçamentárias? Emendas Individuais

Orçamentárias são recursos nos quais os parlamentares brasileiros têm direito dentro

do Orçamento da União.

Os parlamentares podem gastar/usufruir desses recursos livremente? NÃO! Existem

regras muito claras e objetivas para o uso desses recursos.

Parlamentares escolhem uma

obra do governo

Parlamentares selecionam, a quantia que

desejam alocar para essa obra

Parlamentares escolhem o

município de destino desses

recursos

Quem tem a palavra final sobre a LIBERAÇÃO desses recursos é o Executivo

Negociação entre Presidente e Bancadas

Temáticas: existe acordo possível?

O que são Bancadas Temáticas? Bancadas Temáticas ou Frente

Parlamentares são grupos de parlamentares (Deputados Federais e

Senadores) que se unem em prol de um TEMA ESPECÍFICO.

O problema das Bancadas Temáticas e a tomada de Decisões Coletivas

envolve em como pensar em acordos que sejam estáveis ao longo do

tempo. O que garante que as Bancadas vão sempre apoiar umas as outras

nos inúmeros assuntos e temas que permeiam as decisões políticas?

Bancada dos Evangélicos Bancada do Agronegócio

Como decidir sobre a questão do Aborto nesse cenário?

Qual o acordo possível e estável?

O que garante a Governabilidade

O que explica a tomada de decisões coletivas e a governabilidade?

• Centralização do processo decisório no Legislativo com líderes

partidários que têm poderes institucionais para “recompensar” e “punir” o

comportamento dos parlamentares.

• COORDENAÇÃO partidária: os partidos atuam conformando as

diferentes preferências dos parlamentares. Eles realizam o acordo prévio.

COALIZÃO de governo: o Presidente sempre que minoritário deve

convidar a outros partidos para governar junto. Isso não significa só

distribuir as pastas ministeriais. Significa elaborar políticas em conjunto.

Compartilhar decisões sobre políticas

Coalizão/ Presidente Partidos da Coalizão %Cadeiras Coalizão

FHC I 1 PSDB - PFL - PMDB - PTB 60,2%

FHC I 2 PSDB - PFL - PMDB - PTB - PPB 76,6%

FHC II 1 PSDB - PFL - PMDB - PPB 63,7%

FHC II 2 PSDB - PMDB - PPB 45,6%

Lula I 1 PT - PL - PCdoB - PSB - PTB - PDT - PPS - PV 49,5%

Lula I 2 PT - PL - PCdoB - PSB - PTB - PPS - PV - PMDB 61,6%

Lula I 3 PT - PL - PCdoB - PSB - PTB - PV - PMDB 59,6%

Lula I 4 PT - PL - PCdoB - PSB - PTB - PMDB 58,9%

Lula I 5 PT - PL - PCdoB - PSB - PTB - PMDB - PP 64,3%

Lula II 1 PT - PR - PCdoB - PSB - PTB - PMDB - PP - PRB 62,2%

Lula II 2 PT - PR - PCdoB - PSB - PTB - PMDB - PP - PDT - PRB 67,4%

Lula II 3 PT - PR - PCdoB - PSB - PMDB - PP - PDT - PRB 62,2%

Dilma I 1 PT - PR - PCdoB - PSB - PMDB - PDT - PP 59,5%

Dilma I 2 PT - PR - PCdoB - PSB - PMDB - PDT - PP- PRB 60,4%

Dilma I 3 PT - PR - PCdoB - PMDB - PDT - PP- PRB 54,2%

Dilma II 1 PT - PMDB - PCdoB - PDT - PR - PRB - PP - PROS - PSD - PTB 56%

Dilma II 2 PT - PMDB - PCdoB - PDT - PR - PRB - PP - PSD - PTB 53%

Dilma II 3 PT-PMDB-PDT-PCdoB-PR-PP-PSD-PTB 45%

Dilma II 4 PT-PCdoB-PDT-PR-PP-PSD-PTB 45%

Dilma II 5 PT-PCdoB-PDT-PR-PSD-PTB 36%

Temer I PMDB-PSDB-PR-PRB-PSD-PTB-DEM-PPS-PP 60%

Temer II 1 PMDB-PSDB-PR-PRB-PSD-PTB-DEM-PPS-PP 60%

Temer II 2 PMDB-DEM-PSDB-PR-PRB-PSD-PTB-PP 60%

Bolsonaro 1 PSL 10%

Bolsonaro 2 sem coalizão

Collor 5,10% 33,70% 65,90% 75,40%

Franco 0,00% 57,20% 76,10% 91,60%

Cardoso I 14,30% 71,60% 78,70% 84,40%

Cardoso II 18,30% 67,80% 74,30% 81,60%

Lula I 11,10% 59,50% 81,40% 89,90%

Lula II 14,10% 63,90% 87,40% 80,00%

Dilma I 17,10% 58,00% 83,70% 83,00%

Dilma II 12,10% 47,00% 90,20% 83,00%

Temer 12,80% 59,80% 61,90% 89,00%

Bolsonaro 10,53% 10,53% 29,01% 34,21%

11,54% 52,90% 72,86% 79,21%

Sucesso do Executivo (%) Dominância do Executivo (%)Coalizão de Governo na Câmara dos

Deputados(% de Cadeiras)

Partido do Presidente na

Câmara dos Deputados (% de Governo

Bibliografia de Consulta DAHL, Robert. Poliarquia. São Paulo: EDUSP,1999.

PRZEWORSKI, A., ALVAREZ, M., CHEIBUB, J.A. e LIMONGI, F. O que mantém as democracias? Lua

Nova.

FIGUEIREDO, A.; LIMONGI, F. Executivo E Legislativo Na Nova Ordem Constitucional. [s.l.] Editora FGV,

1999

COX, G. W.; MCCUBBINS, M. D. Legislative Leviathan: Party Government in the House. Berkeley:

University of California Press, 1993

AMES, B. Os entraves da democracia no Brasil. [s.l.] FGV Editora, 2003

FREITAS, A. M. DE. O Presidencialismo da coalizão, Publicações, Fundação Konrad Adenauer no Brasil.

[s.l: s.n.]

DANTAS, H. Governabilidade no Brasil. Publicações, Fundação Konrad Adenauer no Brasil, 2018.

A Oficina Municipal agradece sua participação.

Missão

Formar cidadãos para a política local e a gestão pública com base em princípios da

democracia e solidariedade.

Visão

Cidadãos engajados e gestores administram as políticas públicas fundamentais

para o bem comum de forma competente, e por decorrência os municípios gozam

de maior autonomia política, administrativa e financeira e cooperam ativamente na

federação.