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Ensino de Gramática Por Meio de HQs - Santos
Revista Diálogos – N.° 21 – Mar. / Abr. – 2019 35
O ENSINO DE GRAMÁTICA POR MEIO DAS “HQs”:
INTERFACES ENTRE A TEORIA E A PRÁTICA1
Deividy Ferreira dos Santos (UCAM)2
Resumo: O ensino tradicional como o próprio termo já expressa, objetiva por
empregar uma abordagem não muito inovadora no processo de ensino e de
aprendizagem de determinados conteúdos. À vista disso, percebe-se que com o passar
dos tempos esse ensino vem se consolidando cada vez mais e muitos dos alunos vêm
perdendo o interesse pelas aulas, quando estas envolvem à gramática. Alguns estudos
têm nos elucidado a ideia de que se ensinar por um viés inovador, fugindo um pouco
da rotina, talvez seja um grande facilitador no processo de aprendizagem não somente
para o ensino de gramática, mas também para os outros campos (leitura e
interpretação de texto) a que envolve a Língua Portuguesa. Assim sendo, pretende-se
mostrar, neste trabalho, o quão importante é empregar uma metodologia inovadora,
que chame a atenção dos alunos, para com o ensino de gramática, para que assim eles
possam encarar este não como um “bicho de sete cabeças”, mas sim como uma área
que é de fundamental importância para o processo de aprendizagem deles. Neste
sentido, este estudo visa quebrar um pouco essa visão estereotipada de que o ensino de
gramática é difícil e cansativo. Mostraremos, por meio de uma abordagem diferente
(por meio das ‘HQs’), que o ensino de gramática pode ser trabalhado de forma
diferenciada, inovadora, cativante e surpreendedora. O estudo aponta para a eficiência
que o trabalho com as “HQs” tem em sala de aula, reforçando esse viés
“interdisciplinar” e servindo de suporte e de engrenagem para o ensino de gramática.
Palavras-chave: Ensino de gramática; “HQs”; Ensino de Língua Portuguesa;
Interdisciplinaridade; Ensino e Aprendizagem.
Abstract: Traditional teaching as the term already expressed, aims to employ a not
very innovative approach in the process of teaching and learning certain contents. In
view of this, it is noticed that over time this teaching has been consolidating more and
more and many of the students are losing interest in classes, when these involve the
1 Trabalho final apresentado ao curso de Pós-Graduação Lato Sensu em Ensino de
Língua Portuguesa da Universidade Cândido Mendes (UCAM).
2 Especialista em Ensino de Língua Portuguesa (UCAM), Graduado em Letras
(Português/Literatura) (UPE). É membro efetivo da Equipe Técnica da Revista
Diálogos (UPE – campus Garanhuns) e revisor da Revista Areia (PET/UFAL).
Endereço eletrônico: deicidyferreira@outlook.com
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grammar. Some studies have elucidated the idea that teaching through an innovative
bias, getting away from the routine, may be a great facilitator in the learning process
not only for grammar teaching, but also for other fields (reading and interpreting text)
that involves the Portuguese Language. Thus, it is intended to show in this work how
important it is to employ an innovative methodology that draws students' attention to
grammar teaching, so that they may regard this not as a "seven headed beast" , but
rather as an area that is of fundamental importance for the learning process of them. In
this sense, this study aims to break down this stereotyped view that grammar teaching
is difficult and tiring. We will show, through a different approach (through 'HQs'), that
grammar teaching can be worked on in a differentiated, innovative, engaging and
surprising way. The study points to the efficiency that work with the "HQs" have in
the classroom, reinforcing this "interdisciplinary" bias and serving as support and gear
for grammar teaching.
Keywords: Grammar teaching; "HQs"; Teaching Portuguese Language;
Interdisciplinarity; Teaching and learning.
INTRODUÇÃO
O ensino de gramática, nos dias atuais, tem passado por uma
série de questionamentos e discussões. Muitos desses questionamentos
devem-se ao fato da maneira como este é trabalhado em sala de aula,
que por, muitas vezes, prima-se pela abordagem mecanicista e
tradicional e isso, infelizmente, tem despertado uma série de
questionamentos negativos por parte da classe discente.
Espera-se, portanto, e é - talvez uma aposta para os estudos
críticos que atualmente vêm sendo desenvolvidos no Brasil - que o
ensino de gramática nas escolas brasileiras, sejam estas públicas e/ou
particulares, visem por uma abordagem interdisciplinar, recorrendo há
inúmeros mecanismos linguísticos que prendam e chamem a atenção
dos alunos. Diante dessas considerações, é importante ressaltar que o
trabalho quando voltado para uma interdisciplinaridade maior com os
aspectos da Língua Portuguesa, sem dúvidas, é eficaz e tem chamado à
atenção dos discentes.
Assim sendo, pretende-se mostrar, neste trabalho, o quão
importante é empregar uma metodologia inovadora, que chame a
atenção dos alunos, para com o ensino de gramática, para que assim
eles possam encarar este não como um “bicho de sete cabeças”, mas
sim como uma área que é de fundamental importância para o processo
de aprendizagem deles. Neste sentido, este estudo visa quebrar um
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pouco essa visão estereotipada de que o ensino de gramática é difícil e
cansativo. Mostraremos, por meio de uma abordagem diferente (por
meio das ‘HQs’), que o ensino de gramática pode ser trabalhado de
forma diferenciada, inovadora, cativante e surpreendedora. O estudo
aponta para a eficiência que o trabalho com as “HQs” tem em sala de
aula, reforçando esse viés “interdisciplinar” e servindo de suporte e de
engrenagem para o ensino de gramática.
Para atingir este objetivo, o trabalho está organizado da seguinte
forma: i) no primeiro tópico intitulado: “O ensino de gramática em sala
de aula: diálogos possíveis”, será frisado um pouco de como a
gramática é trabalhada na sala de aula, por quais mecanismos e
metodologias ela é utilizada; ii) no segundo tópico intitulado:
“Abordagem interdisciplinar do ensino de gramática: olhares para a
leitura e a interpretação de textos”, levando em consideração essa
mesma linha de raciocínio, mostraremos a importância que o ensino de
gramática tem para a leitura e a compreensão de textos por meio de uma
abordagem interdisciplinar; (iii) no terceiro tópico intitulado: “Período
simples e período composto por coordenação: um estudo a partir da
utilização das “HQs”, discutiremos os diálogos possíveis entre os
períodos e de sua utilização com as “HQs”, de como o trabalho pode ser
realizado; (iv) e, por fim, apresentaremos as considerações finais,
procurando trazer à luz toda a discussão que se empreendeu em torno
do trabalho e de suas principais contribuições para futuras pesquisas no
escopo da área.
1 O ENSINO DE GRAMÁTICA EM SALA DE AULA:
DIÁLOGOS POSSÍVEIS
No trabalho: “Ensinar gramática na escola”, escrito pelo
professor José Borges Neto e publicado no periódico ReVELL, no ano
de 2013, o professor supracitado coloca em discussão em seu artigo
algumas questões interessantes e norteadoras para com o ensino de
gramática no contexto escolar. Segundo Borges Neto (2013, p. 68):
“Falar em ensino de gramática na escola é despertar reações do tipo
“amor ou ódio””. Essa ideia apresentada pelo professor é bem
importante se pensarmos um pouco em como essa subárea está sendo
trabalhada em sala de aula. Muitos alunos, como já exposto, a partir do
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momento que começam a estudar essa linha/área da Língua Portuguesa
na escola, começam a vê o ensino como chato e cansativo, devido,
talvez, a maneira como a aula é conduzida. Essas relações de “amor e
ódio”, colocadas pelo professor, referem-se à maneira como os alunos
encaram e lidam com tal prática. Obviamente que a gramática tem sua
importância para a leitura e a compreensão de textos diversos3, mas se
não bem trabalhada ou se o professor não utilizar uma metodologia
inovadora, os alunos podem taxar essas aulas como cansativas, sem
importância, e acaba nutrindo um sentimento de “ódio” pela gramática,
o que, segundo Borges Neto (2013), é o mais provável.
Espera-se que as aulas de gramática aconteçam de maneira
diversificada e contextualizada, para que assim os discentes, em sua
totalidade, se sintam inseridos e sejam conduzidos à “aceitação” em sua
prática escolar. Seguindo esse raciocínio, estudos na área têm nos
apresentados que muitas das dificuldades dos estudantes com relação ao
ensino de gramática devem-se, em alguns momentos, à cultura
linguística dos estudantes, ou seja, os discentes não estão habituados a
seguirem “normas”, as quais, mesmo não sendo esse o objetivo, mas
que é isso que acaba acontecendo, são impostas pela gramática
normativa. Os estudantes, hoje, são e estão inseridos em uma cultura
linguística que não tem “acompanhado” os progressos da gramática e
que por esse motivo estão com sérios problemas no que tange à leitura e
à escrita.
É sabido que os docentes têm tentado, a custo trabalho, investir
na reversão desse quadro, mas não é muito simples, tendo em vista a
“não abertura” para o processo de ensino e de aprendizagem pelos
estudantes. A esse respeito, a estudiosa e professora Irandé Antunes
(2007, p. 27), assevera que:
Quando um professor se queixa de que “os alunos chegam
ao ensino fundamental e não conhecem as regras de
‘gramática“, evidentemente, está se referindo a outra
gramática, fora dessa primeira acepção, pois esta já se
encontra consolidada e pelo resto da vida. Quando outro
professor fala na “obrigatoriedade do uso da gramática”
também está falando de outra gramática. É que, nesse
primeiro sentido, não se trata de obrigatoriedade. A
3 Essas questões serão discutidas no tópico seguinte.
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gramática é constituída de língua, quer dizer: faz a língua
ser o que é. Nunca pode ser uma questão de escolha, algo
que pode ser ou deixar de ser obrigatório. Simplesmente
é, faz parte. Nem requer ensino formal (ANTUNES,
2007, p. 27).
De acordo com a estudiosa, quando os alunos chegam à escola
eles já se encontram com uma gramática internalizada que faz parte do
cotidiano e do convívio sócio cultural deles e isso, sem dúvidas, deve
ser levado em consideração pelo professor. O que é necessário frisar é
que o professor não deve dispensar o conhecimento que o aluno já
possui; pelo contrário, cabe ao docente tentar lapidar ainda mais esse
conhecimento do aluno. Além disso, a mesma coisa acontece com o
ensino de gramática: o aluno já chega à escola com seu conhecimento
de mundo, com suas próprias regras e quando se depara com inúmeras
normas/regras, que são impostas pela gramática normativa, é normal o
estranhamento de início. Agora que é papel do professor saber lidar
com tudo isso e mostrar para os alunos que eles devem aprender a
gramática normativa, mas sempre realçando a importância que o
conhecimento que eles já trazem é importante para o processo de ensino
e de aprendizagem dos mesmos.
Em vista disso, a pesquisadora Gorete R. G. Santos (2013, p. 13)
em seu trabalho monográfico: “O ensino da gramática normativa em
sala de aula: as dificuldades de aprendizagem no 6º ano do ensino
fundamental”, nos deixa claro que:
Atualmente tem-se visto a gramática apenas como
ditadura de regras e normas sobre como se escreve, o que
na verdade não se deve considerar como uma verdade
absoluta. Não há dúvida de que se deve ensinar a
gramática normativa nas aulas de Língua Portuguesa,
embora sabe-se que ela em si não ensina ninguém a falar,
a ler e a escrever com precisão. O dever da escola é
ensiná-la, oferecendo condições ao aluno de adquirir
competência para usá-la de acordo com a situação
vivenciada.
Não é com teoria gramatical que ela concretizará o seu
objetivo, pois isto leva os estudantes ao desinteresse pelo
estudo da língua, por não terem condições de entender o
conteúdo ministrado em sala de aula, resultando assim
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frustrações, reprovações e recriminações que se iniciam
pela própria escola e o preconceito linguístico. A
gramática não deve ser tida como verdade única, absoluta
e acabada, a língua falada pelo aluno deve ser valorizada.
Além do mais ela tem sua parcela de contribuição para a
formação e o desenvolvimento intelectual de todos os
indivíduos da sociedade brasileira (SANTOS, 2013, p.
13).
Percebe-se, pois, de acordo com a pesquisadora e já realçando o
que foi colocado anteriormente, que os professores precisam estar
conectados, interligados e concatenados com a vivência linguística,
cultural e social do aluno, respeitando seu vocabulário social. As
desistências e o desinteresse dos alunos pela gramática ocorrem,
conforme Santos (2013, p. 13), pelo fato de que “atualmente tem-se
visto a gramática apenas como ditadura de regras e normas sobre como
se escreve”, sem falar que quando se prima por esta abordagem do
ensino de gramática está se desconsiderando o real papel dela que é o de
transmitir ensinamentos oriundos de uma ramificação linguística de
sentidos, mas sem desconsiderar a gramática internalizada que o aluno
já possui.
No tópico seguinte, será discutido o ensino de gramática a partir
de uma abordagem interdisciplinar, já que afirmamos e acreditamos que
quando o trabalho volta-se para esta interdisciplinaridade o aluno tem
mais chances de captar o que se está ensinando, uma vez que essa
interdisciplinaridade permite com que ele volte as suas vivências sociais
o que aproxima, positivamente, o trabalho em sala de aula com sua
comunidade linguística local. E também, mostraremos a importância da
gramática para com o ensino de leitura e de interpretação textual.
2 ABORDAGEM INTERDISCIPLINAR DO ENSINO DE
GRAMÁTICA: OLHARES PARA A LEITURA E A
INTERPRETAÇÃO DE TEXTOS
Os estudos interdisciplinares estão bastante em discussão nos
dias atuais, pois através destes nota-se uma grande eficácia para a
compreensão dos estudos de Língua Portuguesa, à guisa de
exemplificação. Quando se faz esse entrelaçamento entre diferentes
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discursos e diferentes formas de apresentar determinados conteúdos
através, conjuntamente, da inserção de uma metodologia inovadora que
chame a atenção dos alunos, verifica-se quanto ao grau de compreensão
e de inferências nas análises de textos diversos, que isso facilita
positivamente o processo de ensino e de aprendizagem apresentado
pelos estudantes.
Observa-se, portanto, que o investimento em metodologias
inovadoras para com o ensino tem surtido efeitos, pois os alunos
mostram-se interessados nas aulas e no querer “aprender”. No entanto, é
um desafio chegar a essas tais metodologias inovadoras, tendo em vista
que os alunos, atualmente, devido à inserção e a um contato próximo
deles com as Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC’s) e,
assim, eles (os alunos) já chegam à escola dominando todas essas
ferramentas digitais e, portanto, nada basicamente é novo para eles, pois
já estão acostumados a vê e a viver nessa “turbulência”, que é mediada
pelas tecnologias digitais.
E quando o professor vai trabalhar determinado assunto em sala
de aula, ele precisa ter a coerência e a inteligência de procurar levar
algo diferente que o aluno ainda não conheça e que de preferência
chame a atenção deles, o que, por um lado, é bastante difícil e
questionador. A respeito do conceito de interdisciplinaridade, vejamos o
que nos esclarece Rauber (2005, p. 17 apud Kleiman e Morais (1999, p.
22)):
Segundo Kleiman e Moraes, a interdisciplinaridade
refere-se “a uma abordagem epistemológica dos objetos
de conhecimento questionando a segmentação entre os
diferentes campos do saber produzida por uma visão
compartimentada (disciplinar)” (RAUBER, 2005, p. 17
apud KLEIMAN e MORAIS, 1999, p. 22).
Visando a essa noção apresentada pelos autores, verifica-se que
algumas escolas, lamentavelmente, não têm trabalhado com esse viés
social e dinâmico para com o ensino de línguas e em especial ao ensino
de Língua Portuguesa. O que nota-se evidentemente é um ensino
fragmentado, preso a regras e que não prende a atenção dos alunos e
muito menos faz com que eles reflitam sobre o que se está estudando
e/ou aprendendo e que não permite uma leitura crítica sobre o real papel
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de se estudar os aspectos da língua (gem). Acreditamos que o trabalho,
por meio da interdisciplinaridade, deve e/ou deva proporcionar isso aos
discentes. Assim:
O ensino da Língua Portuguesa baseado na prática da
análise linguística contrapõem-se ao ensino anterior. A
língua é vista ou entendida como algo em constante
transformação, cria e recria-se a todo o momento,
resultado das interações entre os sujeitos. A metodologia
utilizada baseia-se na indução, ou seja, o aluno é
estimulado a chegar a “resposta correta”, e a compreender
todo esse processo, para isso parte-se de situações
vivenciados pelos alunos ou de seus conhecimentos a
respeito dos mesmos, como, por exemplo, a língua
trabalhada é a dos próprios alunos, produzida pela
interação entre os mesmos em diversas situações sociais.
A produção textual é incentivada, sendo esses textos
utilizados como objeto de trabalho, não retalhados, mas
trabalhados em sua forma e sentido original, completo.
Igualmente ocorre com os gêneros discursivos, os quais
são trabalhados em suas várias modalidades e funções,
pois estes fazem parte da língua também (WAAL, 2009.
p. 983).
Os estudos linguísticos principalmente aqueles voltados para a
Linguística Aplicada têm operado na defesa de que a língua é moldável
e multável, por estar em constante transformação. Isso é fato. É
inquestionável. Grandes linguistas brasileiros e internacionais têm nos
apresentado inúmeros trabalhos com escopo de pesquisa voltado para
essas questões, e é unânime, entre eles, a preocupação dessas questões,
que por natureza são naturais e questionadoras, que o ensino de Língua
Portuguesa e por que não também o ensino de gramática têm passado.
Ora, se a língua enquanto materialidade linguística é moldável e
multável, logicamente que ela muda conforme a cada processo
situacional cujos sujeitos estão inseridos.
A mesma coisa, pensando nisso, acontece com o ensino de
leitura e de interpretação de textos, de maneira geral. O professor
enquanto transmissor de conhecimento deve está sintonizado e
acompanhando essas mudanças que a língua está passando e que passa,
para que assim ele possa formar mentes pensantes e contextualizadas. O
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aluno precisa/necessita saber dessas questões, não a questões
notadamente científicas desprendidas de nenhuma explicação
conceitual, até porque o “mundo” locacional deles no momento é a
escola, é o ensino fundamental e médio; o professor deve explicar essas
noções da língua, mas de forma a que eles entendam, tendo em vista
que isso não se torne outro agravante ainda maior, para isso tem surgido
a Sociolinguística, outro campo de estudos que vêm somar às
discussões existentes entre língua e sociedade e como essa se porta em
comunidade.
É preciso mostrar a eficácia que os estudos gramaticais têm na
compreensão e na interpretação de textos. E como o professor pode
fazer isso? A resposta é clara e precisa: a partir da inserção de
metodologias inovadoras. No entanto, o professor só será capaz de
realizar tal tarefa a partir do momento que ele já tiver conhecimento das
reais necessidades dos alunos: de onde eles vieram, como é o grau de
aprendizagem, como é o repertório linguístico dos mesmos. Apenas
após esse conhecimento linguístico prévio dos discentes é que o
professor analisará dentro de seus limites, necessidades e possibilidades
o melhor caminho a ser seguido. Quando não se é trabalhado dessa
forma, ou melhor, quando não se é pensado em um ensino voltado para
essas questões:
a gramática transforma-se em “algo” nocivo à
aprendizagem, característica que é confirmada na prática
cotidiana em sala de aula, onde o objetivo do ensino da
Língua Portuguesa tem se restringido ao ensino das
estruturas e regras gramaticais da língua, ignorando seu
principal objeto de estudo: a linguagem em suas várias
formas de comunicação e interação humana (WAAL,
2009, p. 987).
E isso, sem espaço para dúvidas, é um grande problema a ser
resolvido. Mas pode, sim, ser solucionado, quando alguns professores
começarem a ter um novo olhar para o ensino de gramática e para seus
alunos, pois “[...] restringir-se, pois a sua gramática é limitar-se a um de
seus componentes apenas. É perder de vista sua totalidade e, portanto,
falsear a compreensão de suas múltiplas determinações” (ANTUNES,
2007, p. 41).
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Após todo esse excerto em que apresentamos algumas
considerações sobre a interdisciplinaridade e de sua funcionalidade para
o ensino de gramática, de leitura e de interpretação de textos diversos,
no tópico seguinte, cujo foco será dado ao corpus deste estudo,
discutiremos o período simples e o período composto por coordenação,
a partir da utilização das “HQs”. Nosso intuito é mostrar que esses
assuntos supracitados podem ser ensinados aos alunos de forma
diferenciada, instigante e inovadora com o uso das “HQs”, tidas,
atualmente, como uma valiosa ferramenta de estudo para o processo de
ensino e de aprendizagem.
3 PERÍODO SIMPLES E PERÍODO COMPOSTO POR
COORDENAÇÃO: UM ESTUDO A PARTIR DA UTILIZAÇÃO
DAS “HQs”
Começaremos este tópico com a apresentação e a explanação
geral dos conteúdos supracitados de acordo com a concepção teórica de
um grande especialista, professor e gramático brasileiro. Para atingir
este objetivo, achamos pertinente seguir o seguinte direcionamento: a)
faremos uma explanação breve e introdutória a respeito do período
simples e faremos algumas exemplificações e; b) discutiremos, em
seguida, o período composto por coordenação, a partir da utilização das
“HQs”. Os exemplos serão mostrados a partir das histórias em
quadrinhos, já que o objetivo deste trabalho, em linhas gerais, é
apresentar que o trabalho de ensino de gramática por meio dessa
utilização das “HQs” pode e tem gerado resultados positivos.
De acordo com a gramática normativa: “Novíssima Gramática
da Língua Portuguesa” (2000), do gramático brasileiro Domingos
Paschoal Cegalla, publicada em sua quadragésima terceira edição pela
Companhia Editora Nacional, o gramático nos apresenta a seguinte
conceituação acerca do período simples:
“O período é simples quando constituído de uma só oração”
(CEGALLA, 2000, p. 296). É importante deixar claro que inicialmente,
antes do período simples, é preciso ensinar para o aluno as noções de
frase, oração e período, pois acreditamos que é necessário que o aluno
compreenda essas noções antes, para depois ele adentrar no período
simples e no período composto. Vejamos:
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Ainda de acordo com a gramática normativa, frase é todo
enunciado que tem sentido completo. Exemplo: Boa tarde! Vou viajar
amanhã. Já a oração é a frase constituída de um verbo. Exemplo: Vou
viajar amanhã. Perceba que o verbo empregado é o “viajar”. E o
período seria as frases constituídas de mais de uma oração. Exemplo:
Comprei ontem na loja uma blusa, mas esqueci de pagar o boleto
bancário. Nota-se, evidentemente, que os verbos empregados são os
seguintes: “comprei” e “esqueci”. Como se nota, essas conceituações
precisam ser ensinadas para os alunos desde as séries iniciais, de
preferência mostrando-os sua finalidade e funcionalidade na vida dos
mesmos, explicando onde eles poderão encontrar e etc., tudo isso se
feito dessa forma, passará a ter mais sentido.
O período simples, portanto, é constituído apenas de uma só
oração como foi mostrado. O período composto acontece quando é
formado por mais de uma oração, segundo Cegalla (2000, p. 296) e
dentro da Língua Portuguesa há algumas subclassificações para o
período composto, a depender da funcionalidade que o mesmo está
empenhando dentro da frase e do contexto. Assim, o período composto
pode ser por coordenação e por subordinação. Nosso objetivo é o
trabalho com o período composto por coordenação.
Na Língua Portuguesa as frases precisam está concatenadas para
que elas passem a ter sentido para os usuários da língua e não seria
diferente com as orações e nem com os períodos. As orações elas
podem ser independentes, ou seja, sem precisar da junção de outras para
ter sentido completo e elas podem ser dependentes, neste caso,
precisando de outras para ter sentidos. O período composto por
coordenação, por exemplo, segue nessa direção, as orações não
precisam manter uma relação de dependência entre as demais, por que
elas por si só já conseguem ter essa finalidade. Elas classificam-se de
acordo com as relações semânticas que exercessem nas frases. Como
efeitos categóricos, temos as seguintes classificações:
a) Adversativas – quando exercem a função de oposição, de
adversidade entre as orações.
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Imagem 01
No exemplo acima, a partir da utilização da “HQ”, verifica-se
que o aluno consegue identificar claramente o tipo de relação existente
entre as orações. O conectivo “mas” tem a função nessa oração de
expressar uma noção de oposição, de adversidade entre as orações.
Acreditamos que todos os elementos multimodais que compõem a
“HQ”, como, por exemplo, o texto verbal, o texto não verbal, com
destaque, em especial, para a figura e as expressões faciais da
personagem, são pontos que facilitam a compreensão e a relação
existente entre as orações.
b) Aditivas – quando exercem a função de adição, de soma entre as
orações.
Imagem 02
Na “HQ” acima, percebe-se o trabalho com as orações
coordenadas sindéticas aditivas, a partir da utilização do conectivo “e”.
É importante mostrar e explicar para o aluno como essa relação de soma
Ensino de Gramática Por Meio de HQs - Santos
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acontece entre as orações. No exemplo, o diálogo entre os personagens
acontece a partir do uso de um questionamento, de uma pergunta
retórica direcionada à personagem e ao respondê-la o outro personagem
afirma: “Dona Maria, a senhora toma muitos remédios e tornou-se
hipocondríaca”, veja que a utilização do conectivo “e” tem o
papel/finalidade, nesse contexto, de expressar uma relação de soma: a
personagem toma remédios e tem-se tornado hipocondríaca.
Acreditamos que esse trabalho com a imagem torna a explicação ainda
mais interessante, pois os alunos estão tendo o contato também com o
visual e o imagético, com as expressões gestuais dos personagens e isso
tudo, sem dúvidas, chama e prende a atenção deles, ao invés de ficarem
“presos” apenas as frases “soltas”.
c) Alternativas – quando exercem a função de alternância, alternativa e
exclusão.
Imagem 03
As orações coordenadas sindéticas alternativas têm a finalidade
de exercer nas orações uma relação de alternância e de escolha.
Pensando nessa ideia, a “HQ” acima ao relatar também um diálogo
entre os dois personagens têm como objetivo apresentar essa
alternância: um dos personagens questiona o outro perguntando se ele
vai fazer a prova para o ENEM e o outro responde que nem fará a
prova, nem trabalhará e nem estudará. Percebe-se, pois, que o conectivo
empregado “nem” permite essa relação de alternância entre as orações:
na verdade ele não quer fazer nem uma coisa e nem outra, ou seja, nada.
Ensino de Gramática Por Meio de HQs - Santos
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Acreditamos que o professor precisa mostrar trabalhos a partir dessas
“HQs” aos discentes, por que isso chama a atenção deles e faz/faça com
que a aula se torne menos cansativa e mais produtiva.
d) Conclusivas – quando exercem a função de conclusão, dedução e
consequência.
Imagem 04
Como o próprio nome já indica: “conclusiva” refere-se a uma
ideia notadamente de conclusão. Na “HQ” logo acima, a ideia de
conclusão fica visivelmente marcada com a utilização do conectivo “por
isso”, que, neste contexto, pode sem sofrer alteração de sentidos, ser
trocada/substituída por “portanto”. Na historinha que é relatada no
quadrinho um dos personagens indignado com a situação crítica que o
Brasil está passando nos últimos tempos, questiona que medidas sejam
tomadas e que por isso/portanto é preciso calma, cautela para que os
problemas sejam resolvidos. Além disso, todo o conjunto multimodal
(imagens, cores, traços e textos) que compõem a “HQ” facilita o
entendimento e deixa tudo ainda mais clareado.
e) Explicativas – quando exercem a função de explicação, motivo e razão.
Imagem 05
Neste último exemplo, o conectivo empregado é o marcador
operacional “porque” que, sem efeitos de alteração de sentidos, pode ser
substituído por “pois”. No contexto da historinha acima a relação de
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explicação entre as ideias é visivelmente marcada, o que, por sua vez,
não gera dificuldades para com o entendimento. O gatinho mostra sua
inquietação ao fazer uma análise dos quadrinhos nos dias de hoje que
segundo ele ‘são um monte de cabeças falantes xerocadas’,
diferentemente dos quadrinhos de anos atrás que eram maiores, e para
tecer essa relação de explicação em seu discurso, o gatinho utiliza o
“porque”, dando a explicação, o motivo e a razão de que “não há espaço
para contar uma história decente ou pra mostrar ação”.
Diante de nossas análises feitas, é notório afirmar que a
utilização dessas “HQs” para a exemplificação dessas noções
gramaticais, leva o aluno a despertar o interesse pela gramática. É
preciso não se prender apenas a metodologias tradicionais, mecanicistas
e normativas, é necessário e urgente à inserção de métodos novos que
façam com que o aluno entenda, participe e questione o que se está
estudando. Diante disto, é relevante frisar que os alunos, nos dias de
hoje, têm um contato próximo com esses tipos de textos e eles gostam,
por que é diferente, chama a atenção e o professor deve levar em
consideração esse “gostar” do estudante e lançar métodos respeitando
os “limites” dos mesmos.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diante de todas as discussões empreendidas, neste estudo,
reafirmamos a importância e a necessidade da inserção de métodos
instigantes em sala de aula. A gramática deve ser ensinada respeitando
os limites e as relações linguísticas de cada aluno. Não se deve ensinar
apenas regras por regras, pois isso, de acordo com estudiosos na área, é
descontextualizado, não compreende um ensinamento em torno de
todos os aspectos, sejam cognitivos e sociais, da e/ou sobre a língua.
A língua como sabemos é multifacetada. Cada indivíduo tem o
seu grau de aprendizagem e de dificuldades e é importante que o
professor saiba reconhecer e identificar isso no aluno. Acreditamos,
diante disso, que o trabalho do ensino de gramática por meio das “HQs”
seja relevante em sala de aula, ao passo que as imagens, hoje, estão
tomando uma grande proporção e têm facilitado o processo de
construção de conhecimentos. Isso tem melhorado tanto a rotina diária
do professor que tem levado para a sala de aula propostas
Ensino de Gramática Por Meio de HQs - Santos
Revista Diálogos – Mar. / Abr. – 2019 50
metodológicas diferenciadas, como também o processo construtivo de
aprendizagem do aluno.
Com este trabalho, podemos perceber o quanto a gramática
normativa ainda está enraizada nas escolas e nos professores, o que, por
um lado, não tem chamado muito a atenção dos discentes. Esse recorte
de um conteúdo gramatical, feito neste trabalho, a partir da utilização
das “HQs” nos mostrou e mostra que é possível, sim, fazer um trabalho
diferenciado que leve os discentes a entenderem ainda mais os
conteúdos, sem se prender aquela velha história do ensinamento
tradicional “regras por regras”. O estudo é uma pequena contribuição à
área, mas acreditamos que outras possibilidades de análises podem ser
inseridas, visando a melhoras. Esperamos que outras pesquisas possam
surgir e que assim como foi nosso objetivo: que os alunos sejam os
nossos maiores protagonistas, que tudo possa ser pensado e ensinado
neles e para eles.
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