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• Estaremos perante um novo CPA?
Reconhecendo-se traços de continuidade, identificam-se
um conjunto expressivo de alterações.
Para a Comissão de Reforma: Revisão do CPA
Para o Governo: Novo CPA
Art. 9.º do CC: Novo CPA, por opção do legislador
Aplicação da lei no tempoArts. 4º, 6º, 8º e 9º do D.L. nº 4/2015, de 07/01
• Art. 9º marca a entrada em vigor do novo CPA para 08 de Abril de 2015
• Art. 8º/1 determina que as regras das Partes I e II, no Capítulo III do Título I, da Parte III e na Parte IV do Código se aplicam aos procedimentos administrativos em curso à data da sua entrada em vigor
Aplicação da lei no tempoArts. 4º, 6º, 8º e 9º do D.L. nº 4/2015, de 07/01
Têm aplicação de imediato:
- As “Disposições Gerais”, que incluem as “Disposições Preliminares” e os
“Princípios Gerais da Actividade Administrativa;
- As normas sobre os “Órgãos da Administração Pública”, que versam
sobre a “Natureza e Regime dos Órgãos”, “Dos órgãos colegiais”, “Da
competência”, “Da delegação de poderes” e “Dos conflitos de atribuições
e de competência”;
- o regime das “Conferências Procedimentais” e, ainda,
- todas as normas sobre a “Actividade Administrativa”, que incluem as
referentes ao “Regulamento Administrativo”, ao “Acto Administrativo” e
aos “Contratos da Administração Pública”;
- O regime do acto administrativo, inclui o seu regime de eficácia,
invalidade, revogação e anulação administrativa, execução e dos
procedimentos revisivos, da reclamação e dos recursos administrativos.
Aplicação da lei no tempoArts. 4º, 6º, 8º e 9º do D.L. nº 4/2015, de 07/01
Não tem aplicação imediata:
• O “Regime comum” do procedimento administrativo, que prevê:
- o responsável pela direcção do procedimento (artº 55.º),
- a utilização dos meios electrónicos (artº 61.º),
- o balcão único electrónico (62.º),
- as comunicações por telefax, telefone ou meios electrónicos (art.º 63.º),
- as normas sobre a relação jurídica procedimental, onde se incluem:
- sujeitos do procedimento (artº 65.º),
- auxílio administrativo (artº 66.º),
- interessados dos procedimento e legitimidade procedimental (67.º e 68.º),
- garantias da imparcialidade (69º a 76.º),
- direito à informação (artº 82.º a 85.º),
- prazos (86.º a 88.º),
- medidas provisórias (89.º e 90.º),
- pareceres (artº 91.º e 92.º),
- extinção do procedimento (artº 93º a 95.º),
- procedimento do regulamento e do acto (artºs 96.º a 134.º).
Aplicação da lei no tempoArts. 4º, 6º, 8º e 9º do D.L. nº 4/2015, de 07/01
• Quer a Administração, quer os Tribunais, são chamados a aplicar de imediato um conjunto muito alargado e significativo de normas do novo CPA.
• Caberá primeiro à Administração e depois aos Tribunais, definir o direito aplicável ao caso concreto, o que ocorre sempre que existe uma sucessão de normas jurídicas no tempo.
• Numa primeira fase haverá a aplicação dos dois códigos, em simultâneo, ao mesmo procedimento administrativo
↘
Desafio para todos, em face do reduzido período de vacatiolegis (embora tenha existido uma longa discussão pública, de cerca de um ano e meio, o novo Código diverge em algumas matérias do anteprojecto de revisão).
Aplicação da lei no tempoArts. 4º, 6º, 8º e 9º do D.L. nº 4/2015, de 07/01
• Art. 4º, Conferências Procedimentais, no regime do Sistema de Indústria Responsável, aprovado em anexo ao D.L. nº 169/2012, de 01/08
• Arts. 6º e 8º/2 –Mantém em vigor o art. 149º/2 do CPA/91 e relega a aplicação do art. 176º/1 do novo CPA para o momento de entrada em vigor da nova lei, a aprovar, sobre o regime de execução dos actos administrativos
- Valores e conhecimentos do presente tempo histórico, civilizacional e
político
- Forte influência do Direito Comparado (Alemanha, Itália, Espanha e
direito Anglo-Saxónico)
- Fruto da integração na União Europeia
- Acolhimento de entendimentos doutrinários e jurisprudenciais construídos
ao longo da vigência do CPA/91
- Ligação com o Direito Processual Administrativo (reforma do CPTA)
- Exercício partilhado de Responsabilidades entre a Administração e o
cidadão
- Perda de simplicidade e maior complexidade de regime
PRINCIPAIS TRAÇOS DO NOVO CPA
NOVIDADES DO NOVO CPA
1. Alargamento dos Princípios Gerais da Actividade Administrativa
- maior número de princípios – arts. 3º ao 19º
- maior densificação dos princípios anteriormente regulados
2. Consagração de novos institutos
- auxílio administrativo
- conferências procedimentais
- acordos endo-procedimentais
3. Regulação em termos substancialmente distintos alguns institutos já
previstos
- nulidade
- anulabilidade
- revogação
- anulação administrativa
NOVIDADES DO NOVO CPA
4. Rompimento com o paradigma do Privilégio de Execução Prévia da
Administração
- dependência da aprovação da nova lei sobre o regime de Execução dos
actos administrativos, a aprovar no prazo de 60 dias após a entrada em
vigor do novo CPA
5. Utilização crescente de conceitos vagos, indeterminados ou com
reduzida densidade normativa
- “comportamentos adequados”, art. 7º/1
- “manifestamente desrazoáveis”, “incompatíveis com a ideia de Direito”,
art. 8º/1
6. Desvalorização das formalidades/procedimento em relação ao mérito
da decisão administrativa
- Compressão do princípio da legalidade
- Princípio do Aproveitamento do Acto Administrativo, art. 163º/5
NOVIDADES DO NOVO CPA
7. Silêncio da Administração
- Incumprimento do dever de decisão, art.º 129º
Havendo uma situação de silêncio ou incumprimento do dever de
decidir, no prazo de 90 dias (art. 128º), o interessado pode reagir utilizando os
meios de tutela administrativa (reclamação para o autor do acto ou recurso
hierárquico para o superior hierárquico) e judicial (acção de condenação à prática
de acto devido, art. 66º e segs. do CPTA).
Quando há incumprimento do prazo legal de decidir, o silêncio não vale
como acto administrativo.
Só não é assim quando a lei expressamente prever o deferimento tácito.
- Desaparecimento da figura do indeferimento tácito no CPA (o
indeferimento tácito já havia acabado com a reforma do contencioso
administrativo de 2002/2004)
- Deferimento tácito – art. 130º
Prevê os casos de deferimento tácito com mais clareza.
8. Responsabilidade pelo incumprimento de prazos ou por violação do
direito a uma decisão em prazo razoável
- Tutela directa da celeridade do procedimento administrativo e da
decisão administrativa, pela consagração expressa do dever de celeridade,
previsto nos arts. 59º, 60º/2 e 5º/1
- consagração do dever de celeridade e do dever de decisão em
prazo razoável, nos arts. 59º e 60º, os quais, conjugados com o critério da
celeridade, previsto no princípio da boa administração, no art. 5º/1,
concretizam normativamente o dever a cargo dos poderes públicos.
- ao abrigo deste quadro normativo, a Administração Pública passa a
poder ser demandada civilmente por danos decorrentes da delonga do
procedimento administrativo ou por incumprimento do dever de decisão em
prazo razoável, passando a existir um quadro normativo preciso.
- aspecto favorável para os cidadãos e com enorme relevância prática,
que vai exigir da Administração uma nova forma de actuação, de modo a ser
mais eficiente e célere na sua actuação.
NOVIDADES DO NOVO CPA
9. Regulamentos Administrativos- Conceito mais restrito de regulamento: as normas jurídicas gerais e
abstractas que, no exercício de poderes jurídico-administrativos visem produzir
efeitos jurídicos externos – art. 135º
E os regulamentos internos? (Circulares)
- Regulação ampla do regime dos regulamentos: Elaboração (arts. 97º a
101º), Eficácia, Invalidade, Caducidade, Revogação, Impugnação (arts. 135º a 147º)
- Os cidadãos podem apresentar petições em que solicitem a elaboração,
modificação ou revogação de regulamentos – art. 97º/110º
- Consagra-se a audiência dos interessados em relação aos regulamentos
que contenham disposições que afectem de modo directo e imediato direitos ou
interesses legalmente protegidos dos cidadãos – art. 100º
- Omissão de regulamento: no silêncio da lei, os regulamentos de execução
devem ser emitidos no prazo de 90 dias, a contar do acto legislativo (só há
incumprimento do dever de regulamentar, se houver prazo para o fazer, o que agora
é previsto. Se a lei não fixar, vale o prazo regra de 90 dias) – art. 137º
NOVIDADES DO NOVO CPA
10. Acto Administrativo- Conceito mais restrito de acto: decisões que, no exercício de poderes jurídico-
administrativos, visem produzir efeitos jurídicos externos, numa situação individual e
concreta – art. 148º
- Para efeitos da lei deixa de existir actos administrativos internos, pois actos
administrativos são apenas os que produzem efeitos jurídicos externos.
- Assimilação do conceito de acto administrativo ao conceito de impugnabilidade
de acto, previsto no art. 51º/1 CPTA
O que fazer aos actos internos?
Manter-se-ão na ordem jurídica, embora sem enquadramento legal.
NOVIDADES DO NOVO CPA
11. Princípio da adequação procedimental
- Art. 56º - Remete para o princípio da boa administração (art. 5º)
- Relaciona-se com a forma como os órgãos agirão
procedimentalmente:
“Na ausência de normas jurídicas injuntivas”, a Administração
passa a poder conformar a tramitação procedimental.
- Filosofia subjacente ao Código de deslegalização do procedimento
administrativo, conferindo maior liberdade de conformação do
procedimento à Administração.
- Papel dos Tribunais Administrativos sobre a interpretação e
densificação do que seja a ausência de normas jurídicas injuntivas.
- Aberta a porta para a menor relevância das formas e das regras
do procedimento e para a relativização dos vícios de forma e de
procedimento.
NOVIDADES DO NOVO CPA
12. Clarificação do conceito de legitimidade procedimental e dos
interessados – arts. 65º e 68º
- Dificuldades na delimitação do conceito de legitimidade
procedimental e processual no âmbito das conferências procedimentais - artº
77º.
- No caso da conferência deliberativa, destinada ao exercício conjunto
das competências decisórias dos órgãos participantes através de um único
acto de conteúdo complexo, que substitui a prática, por cada um deles, de
actos administrativos autónomos, quem terá legitimidade passiva para ser
demandado?
- Só se assegurará esse pressuposto processual com a presença de todos,
podendo estar em causa diferentes pessoas colectivas de direito público.
13. Clarificação do regime de eficácia do acto:
- situações de produção diferida de efeitos – art. 155º
- situações de produção condicionada – art.157º
NOVIDADES DO NOVO CPA
14. Garantia de inoponibilidade aos destinatários dos actos constitutivos
de direitos ou outras situações passivas, sem prévia notificação – art. 160º
15. Separação entre a responsabilidade de promover a tramitação do
procedimento e a tarefa decisória – art. 55º
16. Diferença entre publicidade e publicação
– A falta de publicação do acto, quando legalmente exigida, implica a
sua ineficácia – art. 158º/2
17. Impugnação das operações materiais de facto – art. 182º
18. Maior ligação com o direito processual administrativo:
– desenvolvimento do procedimento administrativo
– conteúdo do art. 172º sobre as consequências da anulação
administrativa, decalcado do regime do art. 173º do CPTA
- Maior número de princípios – arts. 3º ao 19º (17 princípios)
- Maior relevância aos princípios gerais da actividade administrativa
- Relação entre norma jurídica e princípio jurídico
- Novos Princípios:
- Boa Administração (art. 5º)
- Razoabilidade (art. 8º)
- Administração electrónica (art. 14º)
- Responsabilidade (art. 16º) – Art. 22º da CRP
- Administração Aberta (art. 17º) – Art. 65º/CPA91
- Protecção de dados pessoais (artº 18º)
- Cooperação leal com a União Europeia (art. 19º)
1. Alargamento dos Princípios
Gerais da Actividade
Administrativa
- Ampliação da densidade ou concretização de alguns princípios: A circunstância de os princípios gerais da actividade administrativa não terem
todos a mesma densidade normativa foi assumida pelo legislador, que
reconheceu que o novo CPA conferiu “maior densidade” aos princípios:
- da igualdade (artigo 6º)
- da proporcionalidade (artigo 7º)
- da imparcialidade (artigo 9º)
- da boa-fé (artigo 10º)
- da colaboração com os particulares (artigo 11º)
↓
Alargado o âmbito do controlo judicial da actuação dos poderes públicos
↓
Reforço da tutela dos direitos e valores fundamentais dos cidadãos
- A discricionariedade administrativa não é uma escolha livre do Direito, entre
uma série de soluções, todas elas igualmente legítimas, antes implica a procura da
melhor solução para a satisfação, no caso concreto, dos interesses públicos
legalmente definidos - os princípios jurídicos orientam essa escolha.
Princípio da Boa Administração (art. 5º)
- A CRP nada diz sobre a “Boa Administração”.
Freitas do Amaral: a boa administração estava ligada à própria noção
de interesse público, prevista no art. 266º/2 da CRP, pois quando a
Administração prossegue o interesse público, deve exercer a boa
administração
- Fonte: Direito Comparado Europeu – consagração noutros ordenamentos
- Critérios: Eficiência, Economicidade e Celeridade (n.º 1) + Administração
Pública organizada e não burocratizada e aproximação dos serviços das
populações (n.º 2)
- Apela à ideia de bom andamento da Administração, de bom funcionamento
dos serviços, próxima da ideia anglo-saxónica de good governance
Princípio da Boa Administração (art. 5º)
- O princípio da Boa Administração traduz-se num princípio de
organização e de actuação da Administração Pública, que regula a
forma como a Administração deve agir e relacionar-se com os
cidadãos:
- dimensão do Direito Administrativo como conjunto de normas:
- atributivas de PODER
- GARANTÍSTICAS
- Reduzida densidade normativa
- Limitado o controlo judicial: o princípio da separação de poderes
limita o seu controlo judicial
(o juiz não é administrador – Art. 3º/1 CPTA)
Salvo: - Tribunal de Contas
- Casos pontuais / procedimentos especiais
Princípio da Boa Administração (art. 5º)
Art. 41º da Carta dos Direitos Fundamentais da União Europeia,
“Direito a uma boa administração”:
“1. Todas as pessoas têm direito a que os seus assuntos sejam tratados pelas
instituições, órgãos e organismos da União Europeia de forma imparcial,
equilibrada e num prazo razoável.
2. Este direito compreende, nomeadamente:
a) O direito de qualquer pessoa a ser ouvida antes de a seu respeito ser tomada
qualquer medida individual que a afecte desfavoravelmente;
b) O direito de qualquer pessoa a ter acesso aos processos que se lhe refiram, no
respeito pelos legítimos interesses da confidencialidade e do segredo profissional e
comercial;
c) A obrigação, por parte da administração, de fundamentar as suas decisões.
3. Todas as pessoas têm direito à reparação, por parte da União, dos danos causados
pelas suas instituições ou pelos seus agentes no exercício das respectivas funções, de
acordo com os princípios gerais comuns às legislações dos Estados-Membros.
4. Todas as pessoas têm a possibilidade de se dirigir às instituições da União numa
das línguas dos Tratados, devendo obter uma resposta na mesma língua.”.
Princípio da Boa Administração (art. 5º)
Art. 41º da Carta dos Direitos Fundamentais da União Europeia,
“Direito a uma boa administração”:
- A consagração do princípio da Boa Administração no ordenamento jurídico
nacional deve ser vista à luz da Carta dos Direitos Fundamentais da União
Europeia, no seu art.º 41.º , o qual adopta um conjunto de dimensões, como o
princípio da imparcialidade, o direito de participação procedimental, o
direito de acesso aos documentos administrativos, o dever de fundamentação,
o dever de decisão em prazo razoável e o dever de reparação por danos.
- Todas estas dimensões do princípio da Boa Administração mostram-se acolhidas
no ordenamento nacional, tendo consagração constitucional, como:
- princípios fundamentais, como seja o princípio da responsabilidade civil
dos poderes públicos, com consagração no art.º 22.º;
- princípios gerais da actividade administrativa, no que respeita ao
princípio da imparcialidade, consagrado no art.º 266.º, n.º 2;
- direitos procedimentais, previstos no art.º 268.º, no que se refere à
participação dos interessados, ao acesso à informação, à fundamentação e ao
patrocínio judiciário no procedimento.
O ordenamento jurídico nacional acolhe de forma autónoma, todas as
dimensões previstas no art.º 41.º da Carta dos Direitos Fundamentais da
União Europeia, não só na Constituição, como na Lei, ora sob a forma de
princípio jurídico, ora sob a forma de norma jurídica.
Poderão os Cidadãos demandar a Administração, pedindo o controlo
judicial da legalidade da sua actuação, com base na violação do
princípio da boa administração?
- Os princípios jurídicos fundamentais materiais, substanciais ou valorativos,
sendo concretizações do princípio da juridicidade, regem duplamente, de forma
directa, a actividade administrativa:
- quer autonomamente, como padrões de validade;
- quer influenciando a interpretação e aplicação, administrativa e judicial, das
leis (interpretação conforme os princípios).
- Os princípios jurídicos têm formas diferentes de concretização: os de maior
densificação permitem que sobre eles recaia um amplo controlo judicial, mas os de
elevado grau de abstracção ou de indeterminação, impedem o controlo judicial ou
permitem que ele ocorra apenas em situações específicas.
Princípio da Razoabilidade (Art. 8º)
- Princípio de influência anglo-saxónica
- Não se apresenta suficientemente concretizado para permitir o
controlo judicial por parte dos Tribunais Administrativos
- A Administração deve “rejeitar as soluções manifestamente desrazoáveis
ou incompatíveis com a ideia de Direito”, o que nos remete para a questão
da densificação do conceito indeterminado do que seja “manifestamente
desrazoável” ou o que seja “incompatível com a ideia de Direito”. O
preceito remete-nos para a matéria de interpretação das normas jurídicas e
das valorações próprias do exercício da função administrativa.
- Será a doutrina e de forma muito relevante, a jurisprudência, quem
caberá concretizar o conteúdo do preceito.
- Se os princípios da Boa Administração e da Razoabilidade têm a sua razão
de ser em ordenamentos do tipo anglo-saxónico, em que, por não existir
ou existir em muito menor escala a pré-ordenação legal, têm a aptidão de
ampliar o controlo judicial, em ordenamentos do tipo continental, como
o português, em que os poderes públicos devem obediência ao princípio
da legalidade e em que a norma positiva enforma todo o ordenamento
jurídico, estes princípios assumem muito pouco relevo.
- Será duvidoso que o juiz administrativo possa controlar certa política
pública, designadamente, em áreas técnicas de controlo de políticas
públicas, com fundamento de que a mesma viola a boa administração ou é
desrazoável.
- Será com base noutras normas jurídicas ou com apelo a outros
princípios gerais da actividade administrativa, que não exclusivamente,
a invocação dos princípios da boa administração e da razoabilidade, que
poderá existir o controlo judicial pelos Tribunais Administrativos.
- acordos endo-procedimentais – art. 57º
- auxílio administrativo – art. 66º
- conferências procedimentais – art. 77º
2. Consagração de novos institutos
Acordos Endo-Procedimentais – art. 57º
Âmbito: Discricionariedade procedimental
Conteúdo: Acordo entre o órgão competente para a decisão final e os
interessados do procedimento sobre os termos do procedimento
- pode consistir na organização de audiências orais para o exercício do
contraditório entre todos os interessados (directo e contra-interessados)
- Durante o procedimento, o órgão competente para a decisão final e os
interessados podem celebrar contrato para determinar o conteúdo discricionário
do acto administrativo a praticar no termo do procedimento, no todo ou em parte
Efeito: Vinculativo
Tratam-se de acordos substitutivos de actos administrativos e podem terminar
o procedimento o artº 127º determina que o procedimento pode terminar pela
prática de um acto administrativo ou pela celebração de um contrato
(fungibilidade entre acto e contrato).
Auxílio Administrativo – art. 66º
Âmbito: Solicitar o auxílio de quaisquer órgãos da Administração Pública
- para melhor conhecimento da matéria (competência exclusiva de certo
órgão ou conhecimentos aprofundados de outro órgão)
- para aceder a documentos ou dados na posse de outro órgão,
necessários para a instrução do procedimento
- seja necessária a intervenção pessoal ou o emprego de meios técnicos
de outro órgão
Competência: Órgão competente para a decisão final
Iniciativa: - própria do órgão competente para a decisão final
- proposta do responsável pela direcção do procedimento
- requerimento de um sujeito privado da relação jurídica procedimental
Em caso de recusa de auxílio ou de dilação na sua prestação: Resolução do
litígio pela autoridade competente para a resolução de conflitos de atribuições ou
de competências entre órgãos ou, não havendo, o órgão que exerça poder de
direcção, superintendência ou tutela.
Conferências Procedimentais – art. 77º
Âmbito: Exercício em comum ou conjugado das competências de diversos órgãos da
Administração Pública
- pode dizer respeito a um procedimento ou a vários procedimentos conexos
- pode determinar a tomada de uma decisão ou de várias decisões conjugadas
Objectivos: Promover a Eficiência, Economicidade e Celeridade
As Conferências Procedimentais relativas a um único procedimento complexo ou a
vários procedimentos conexos determinam a tomada de diferentes decisões por
diferentes órgãos:
- Conferência deliberativa – tomada de um acto de conteúdo complexo, que
substitui a prática, por cada um dos órgãos, de actos administrativos autónomos
(exercício conjunto de competências decisórias de diversos órgãos)
- Conferência de coordenação – tomada de vários actos administrativos
autónomos (exercício individualizado, mas simultâneo, das competências de
diversos órgãos)
- Nulidade – arts. 161º e 162º
- Anulabilidade – art. 163º
- Revogação – art. 165º e segs.
- Anulação administrativa – art. 165º e segs.
3. Regulação em termos
substancialmente distintos alguns
institutos já previstos
Nulidade – Arts. 161º, 162º e 164º/2
- Nulidade – apenas a legal – art. 161º/1 → maior certeza e segurança
jurídica
(eliminação das nulidades por natureza)
- Ampliação do elenco dos actos nulos – Art. 161º/2:
- actos praticados com desvio de poder para fins de interesse privado –
al. e)
- actos certificativos de factos inverídicos ou inexistentes – al. j)
- actos que criem obrigações pecuniárias não previstas na lei – al. k)
- actos praticados, salvo em estado de necessidade, com preterição total
do procedimento legalmente exigido – al. l)
- Eliminação do elenco dos actos nulos, dos “actos consequentes de actos
anteriormente anulados ou revogados, desde que não haja contra-
interessados com interesse legítimo na manutenção do acto consequente”
(artº 133º/2/i)/CPA91)
Nulidade – Arts. 161º, 162º e 164º/2
- Regime: invocável a todo o tempo
“salvo disposição legal em contrário” – caso das nulidades especiais, que
limitem a invocação da nulidade (ex. urbanismo - 10 anos)
- Novidade: Os actos nulos podem ser objecto de Reforma e de Conversão – Art.
164º/2
- Aperfeiçoamento de regime: Podem ser atribuídos efeitos jurídicos a situações
de facto decorrentes de actos nulos, de harmonia com os princípios da boa-
fé, da protecção da confiança e da proporcionalidade ou de outros princípios
jurídicos constitucionais, designadamente, associados ao decurso do tempo –
Art. 162º/3
↘ Maior tutela da situação jurídica material e das posições jurídicas de
terceiros (contra-interessados), com interesse legítimo na manutenção nos efeitos do
acto)
Maior flexibilidade no regime da nulidade
Anulabilidade – Art. 163º
- Clarificação: possibilidade de os efeitos jurídicos produzidos pelo acto
anulável poderem ser destruídos, com eficácia retroactiva, em caso de
anulação administrativa ou judicial
- Novidade - Não produção do efeito anulatório nas três situações
previstas no nº 5:a) O conteúdo do acto anulável não possa ser outro, por o acto ser de
conteúdo vinculado ou a apreciação do caso concreto permita identificar apenas uma
solução como legalmente possível – vícios materiais ou substanciais em relação a
actos vinculados ou com redução da discricionariedade a zero
b) O fim visado pela exigência procedimental ou formal preterida tenha
sido alcançado por outra via – vícios de natureza formal ou procedimental
(mesmo para as formalidades com consagração constitucional)
c) Se comprove, sem margem para dúvidas, que, mesmo sem o vício, o acto
teria sido praticado com o mesmo conteúdo – vícios materiais ou substanciais
Revogação – Art. 165º e segs.
- Noção: Acto administrativo que determina a cessação dos efeitos de
outro acto, por razões de mérito, conveniência ou oportunidade
(anteriormente revogação dos actos válidos – art. 140º/CPA91)
- Regime – Condicionalismos aplicáveis à revogação – art. 167º
- os actos administrativos não podem ser revogados quando a sua
irrevogabilidade resulte de vinculação legal ou quando deles resultem,
para a Administração, obrigações legais ou direitos irrenunciáveis – nº 1
Revogação – Art. 165º e segs.
Condicionalismos aplicáveis à revogação – art. 167º
Actos constitutivos de direitos
- Noção de actos constitutivos de direitos: os actos administrativos que
atribuam ou reconheçam situações jurídicas de vantagem ou eliminem ou
limitem deveres, ónus, encargos ou sujeições, salvo quando a sua
precariedade decorra da lei ou da natureza do acto – nº 3
(aplicável ao regime da anulação administrativa)
- Os actos constitutivos de direitos só podem ser revogados – nº 2:
a) na parte em que sejam desfavoráveis aos interesses dos beneficiários;
b) quando todos os beneficiários manifestem a sua concordância e não
estejam em causa direitos indisponíveis;
Revogação – Art. 165º e segs.
c) com fundamento em superveniência de conhecimentos técnicos e
científicos ou em alteração objectiva das circunstâncias de facto, em face das
quais, num ou noutro caso, não poderiam ter sido praticados;
d) com fundamento em reserva de revogação, na medida em que o quadro
normativo aplicável consinta a precarização do acto em causa e se verifique o
circunstancialismo específico previsto na própria cláusula.
- A revogação da al. c) deve ser proferida no prazo de um ano, a contar da data
do conhecimento da superveniência ou da alteração das circunstâncias, podendo
esse prazo ser prorrogado, por mais dois anos, por razões fundamentadas – nº 4
- Nesse caso, os beneficiários de boa-fé do acto revogado têm
direito a ser indemnizados, segundo a indemnização pelo sacrifício, mas
quando a afectação do direito, pela sua gravidade ou intensidade, elimine ou
restrinja o conteúdo essencial do direito, o beneficiário de boa-fé tem direito a
uma indemnização correspondente ao valor económico do direito eliminado ou
da parte do direito que tiver sido restringida – nº 5
Anulação administrativa – Art. 165º e segs.
Noção: Acto administrativo que determina a destruição dos efeitos de outro acto, com
fundamento em invalidade
(anterior regime da revogação de actos inválidos – art. 141º/CPA91)
Condicionalismos - Artº 168º:
- prazo de seis meses:
- a contar da data do conhecimento do órgão competente da causa de
invalidade – nº 1
- nos casos de invalidade resultante de erro do agente, a contar da cessação
do erro – nº 1
- desde que não tenham decorrido cinco anos, a contar da emissão do acto – nº 1
- prazo de 1 ano, a contar da emissão do acto, para os actos constitutivos de
direitos – nº 2
- até ao encerramento da discussão, no caso de o acto ter sido objecto de
impugnação jurisdicional – nº 3
- quando o acto se tiver tornado inimpugnável jurisdicionalmente, o mesmo só
pode ser objecto de anulação administrativa oficiosa – nº 5
Anulação administrativa – Art. 165º e segs.
Condicionalismos - Artº 168º:
Actos constitutivos de direitos
- Prazo de 1 ano, a contar da emissão do acto – nº 2
- Prazo de 5 anos, a contar da emissão, salvo se a lei ou o direito da União Europeia
prescrevem prazo diferente, nos seguintes casos – nº 4:
a) quando o beneficiário tenha utilizado artifício fraudulento com vista à
obtenção da sua prática;
b) apenas com eficácia para o futuro, quando se trate de actos de obtenção de
prestações periódicas, no âmbito de uma relação continuada;
c) actos de conteúdo pecuniário cuja legalidade, nos termos da legislação
administrativa, possa ser objecto de fiscalização administrativa para além do prazo de
um ano, com imposição do dever de restituição das quantias indevidamente auferidas
- A anulação de actos constitutivos de direitos constitui os beneficiários que
desconhecessem sem culpa a existência da invalidade e tenham auferido, tirado partido
ou feito uso da posição de vantagem em que o acto os colocava, no direito de serem
indemnizados pelos danos anormais que sofram em consequência da anulação – nº 6
Anulação administrativa – Art. 165º e segs.
Condicionalismos - Artº 168º:
- Inconstitucionalidade do nº 7:
“Desde que o ainda o possa fazer (por estar em prazo), a Administração tem o dever de anular o acto
administrativo que tenha sido julgado válido por sentença transitada em julgado, proferida por um tribunal
administrativo com base na interpretação do direito da União Europeia, invocando para o efeito nova
interpretação desse direito em sentença posterior, transitada em julgado, proferida por um tribunal
administrativo que, julgando em última instância, tenha dado execução a uma sentença de um tribunal da
União Europeia vinculativa para o estado português.”.
- Violação do Estado de direito democrático e do princípio da separação de
poderes: possibilidade de a Administração anular administrativamente uma sentença transitada
em julgado – arts. 2º e 111º/1 da CRP
- Violação de que as decisões judiciais são obrigatórias para todas as entidades
públicas e privadas e prevalecem sobre quaisquer outras – arts. 205º/2 da CRP e 158º/1
do CPTA
- Violação do caso julgado
- Desconhecimento do regime do recurso extraordinário de revisão – art. 696º/f)
do CPC, a decisão transitada em julgado pode ser objecto de revisão se for inconciliável com
decisão definitiva de uma instância internacional de recurso vinculativa para o Estado português.
- Seguindo o exemplo de outros ordenamentos é eliminado
o Privilégio da Auto-Tutela Executiva da Administração
- A entrada em vigor do novo regime depende da entrada
em vigor da nova lei sobre a Execução dos actos
administrativos, a aprovar no prazo de 60 dias após a
entrada em vigor do novo CPA
4. Rompimento com o paradigma
do Privilégio de Execução Prévia
da Administração
Regime de Execução dos Actos
- Clarificação: Exige-se expressamente que seja praticado o acto
exequendo, a anteceder qualquer acto jurídico ou operação material -
art. 177º
- A execução coerciva passa a poder ser realizada pela Administração
só nos casos expressamente previstos na lei ou em situações de
urgente necessidade pública
- Caberá ao poder judicial densificar e concretizar o que, em cada
caso, se deve entender por “urgência pública”, de forma a habilitar a
Administração a executar o acto administrativo, salvo nos casos de
obrigações pecuniárias.
- “comportamentos adequados”, art. 7º/1
- “manifestamente desrazoáveis” ou “incompatíveis com a ideia de Direito”, art. 8º/1
- “ponderação dos custos e benefícios das medidas projectadas”, artº 99º - que amplitude?
5. Utilização crescente de conceitos
vagos, indeterminados ou com
reduzida densidade normativa
Compressão do princípio da legalidade:
Crise da legalidade estrita?
Tendência para a redução da relevância invalidatória por
incumprimento do direito das formas e procedimentos de controlo prévio e uma desvalorização de preceitos substanciais de menor relevo, em homenagem a uma eficiência de resultados na realização do interesse público, embora a par ou em contraposição à formulação europeia de um direito a uma boa administração.
6. Desvalorização das
formalidades/procedimento em
relação ao mérito da decisão
administrativa
Princípio do Aproveitamento do Acto
Administrativo - Art. 163º/5
- O novo CPA regula de forma expressa as situações em que não se
produz o efeito anulatório do acto administrativo, acolhendo os
contributos doutrinários e jurisprudências produzidos a propósito da
aplicação do princípio do aproveitamento do acto administrativo.
- Ficam reguladas em lei, as situações que habilitam o poder judicial, por
via dos Tribunais Administrativos e o poder administrativo, por via da
Administração, de conformar a legalidade administrativa, não
anulando o acto administrativo impugnado. Conformação judicial dos efeitos de invalidade administrativa
- O novo Código constitui um desafio importante para a Administração, que tem de se modernizar na sua forma de actuação e organização e dar cumprimento aos comandos da lei, na sua forma relacional com o cidadão, como para os Tribunais Administrativos, que têm de interpretar e aplicar a lei de modo a dela extrair a vontade do legislador e a exercer o poder jurisdicional de acordo com os parâmetros definidos na Constituição e na lei, designadamente, no tocante ao respeito pelos limites decorrentes do princípio da separação de poderes.
- Compreende-se o exercício de responsabilidades de que fala o legislador no Preâmbulo da lei, entendido por nós como um exercício partilhado de responsabilidades, entre os cidadãos e a Administração e entre esta e os Tribunais Administrativos.
- Ditará a prática, em função da aplicação que for dada pela Administração, se o novo CPA se traduz num avanço do Direito Administrativo substantivo.
Balanço Final do Novo CPA
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