O pensamento desenvolvimentista no Brasil (1930-2008) Ricardo Bielschowsky Escritório da CEPAL no...

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O pensamento desenvolvimentista no Brasil O pensamento desenvolvimentista no Brasil (1930-2008) (1930-2008)

Ricardo Bielschowsky Ricardo Bielschowsky Escritório da CEPAL no Brasil Escritório da CEPAL no Brasil

Apresentação na FUNDAPApresentação na FUNDAP São Paulo, Julho de 2008São Paulo, Julho de 2008

Apresentação em três partesApresentação em três partes

1. Ideologias econômicas na era desenvolvimentista (1930-1980)

2. Formulações recentes sobre desenvolvimento econômico: um mapeamento conceitual ( 1980-2008)

3. Um esquema analítico para o tema “Estado e desenvolvimento econômico”: padrões e estratégias

Primeira parte Primeira parte

Ideologias econômicas na era Ideologias econômicas na era desenvolvimentista desenvolvimentista

(em suas duas fases, 1930-64 e 1964-80)(em suas duas fases, 1930-64 e 1964-80)

Correntes ideológicas (no Correntes ideológicas (no pensamento econômico): 1930-1964pensamento econômico): 1930-1964

Liberal

Desenvolvimentista não nacionalista

Desenvolvimentista nacionalista

Socialista

Elementos diferenciais

Controle por agentes nacionais – estatais e privados - dos centros de decisão sobre poupança/investimento

Ênfase na “harmonia” entre políticas anti-inflacionárias e de crescimento

Preocupações distributivas

Corrente Desenvolvimentista Corrente Desenvolvimentista NacionalistaNacionalista

Origem: 1930-1945

Amadurecimento: 1945-1955

Auge: 1956-1961

Crise: 1961-1964

Evolução do desenvolvimentismo Evolução do desenvolvimentismo (1930-64)(1930-64)

O projeto de industrialização se encontrava ideologicamente maduro, mas era questionado em três âmbitos:

Sustentação macroeconômica

Composição de capitais (privado nacional, estrangeiro, estatal)

Distribuição de renda

CrisCrisee (provisória): 1961-1964(provisória): 1961-1964

Evolução do desenvolvimentismo de Evolução do desenvolvimentismo de 1964 a 19801964 a 1980

1964-1968: Amadurecimento do debate sobre as soluções efetivas para os três dilemas da “crise” prévia (“modernização conservadora”)

1968 –1974: Auge

1974-1980: Auge e fragilização

Correntes ideológicas (no Correntes ideológicas (no pensamento econômico): 1964-1980pensamento econômico): 1964-1980

Disputa equilibrada entre duas correntes desenvolvimentistas

• “Oficialista”

• “Crítica” (má distribuição da renda como principal elemento de oposição)

Outras correntes (minoritárias):

• Socialista (principalmente nos anos sessenta)

• Neoliberal (principalmente a fins dos anos setenta)

Segunda parte Segunda parte

Formulações recentes sobre desenvolvimento Formulações recentes sobre desenvolvimento

econômico: um mapeamento conceitual (1980-2008) econômico: um mapeamento conceitual (1980-2008)

Depois da era desenvolvimentista: 1980 em diante (hipóteses de trabalho)

Características da produção intelectual sobre desenvolvimento

• Inibida pela instabilidade macroeconômica e pela hegemonia da atenção à mesma ?

• Fragmentada, assistemática, descontínua (mas volumosa) ?

• Ausência de uma referência clara quanto a padrão e estratégia de desenvolvimento ?

Debate equilibrado?

• No plano macro, entre ortodoxos e heterodoxos

• No plano do desenvolvimento: entre neoliberais e desenvolvimentistas

Quadro atual Quadro atual

Existe hoje no Brasil alguma estratégia de transformação econômica e social que vise a elevação da produtividade e o aumento do bem-estar a médio e longo prazos?

Em discussão (assistemática) no Brasil: Em discussão (assistemática) no Brasil: seis grupos de formulações sobre seis grupos de formulações sobre

desenvolvimentodesenvolvimento

Reformas (2ª geração)

Inovação e competitividade

Crescimento com redistribuição, via consumo de massa

Integração territorial

Combate à pobreza e à concentração da renda

Preservação ambiental

Consumo de massa; Inovação e competitividade; Integração territorial Combate à pobreza e à concentração da renda

Heterodoxo

2) Heterodoxa na macroeconomia, desenvolvimentista

Reformas (de segunda geração)

Combate à pobreza e à concentração da renda

Ortodoxo

1) Ortodoxa na macroeconomia, neoliberal

Estratégias de Estratégias de desenvolvimentodesenvolvimento

Manejo da Manejo da macroeconomiamacroeconomia

Em discussão (assistemática) no Brasil: Em discussão (assistemática) no Brasil: seis grupos de formulações sobre seis grupos de formulações sobre

desenvolvimentodesenvolvimento

Reformas (2ª geração)

Inovação e competitividade

Crescimento com redistribuição, via consumo de massa

Integração territorial

Combate à pobreza e à concentração da renda

Preservação ambiental

Aumento de produtividade

e de competitividade

Ampliação da demanda

popular a setores modernos

Investimentos em bens de capital e em inovação

Aumento de Rendimentos das Famílias

Trabalhadoras

O Modelo de O Modelo de Consumo de Consumo de MassaMassa

Consumo de massa, expansão dos setores Consumo de massa, expansão dos setores modernos, e mecanismos de aumento de modernos, e mecanismos de aumento de

produtividade (e competitividade)produtividade (e competitividade)

Escala

“Catch-up”

Absorção dos “subempregados”

Fomento à pequena produção

RessalvasRessalvas

O que puxa o crescimento é o investimento e a produtividade, o consumo confirma o crescimento

O diferencial no padrão de consumo em relação ao passado é que seria essencialmente popular (de massa), e não essencialmente de elite

O modelo pressupõe redistribuição contínua da renda, mas admite que seja gradual

Aumento de produtividade

e de competitividade

Ampliação da demanda

popular a setores modernos

Investimentos em bens de capital e em inovação

Aumento de Rendimentos das Famílias

Trabalhadoras

EstadoEstado: Políticas de Investimento e políticas : Políticas de Investimento e políticas sociais (as duas áreas criticas para a operação do sociais (as duas áreas criticas para a operação do

modelo de Consumo de Massa)modelo de Consumo de Massa)

?

?

Políticas em cursoPolíticas em curso

Investimento

• Infra-estrutura

• Educação

• Inovação

• Apoio a setores de ponta tecnológica

Distribuição de renda (Transmissão da produtividade)

• Seguridade social : transferência e assistência

• Outras políticas sociais

• Concorrência

• Mercado de trabalho favorável

Terceira parte Terceira parte

Esquema analítico para pensar o tema “Estado e Esquema analítico para pensar o tema “Estado e desenvolvimento ”: desenvolvimento ”: padrões e estratégiaspadrões e estratégias

DefiniçõesDefinições

Desenvolvimentismo : é a ideologia que defende a participação do Estado na condução do desenvolvimento econômico, por meio do desenho e implementação de estratégias e políticas.

Estratégia: é o desenho da condução de um padrão de desenvolvimento desejado

Padrão: Combinação (idiossincrática a cada país) de características e determinantes do investimento, da produtividade e da renda (setores, agentes, financiamento, regulação, organização e composição dos mercados, distribuição da renda, etc.)

PeriodizaçãoPeriodização

Padrões de comportamento

econômico

Estratégias Taxas de crescimento

(médias anuais)

Desenvolvimento via industrialização

(1930-80)

Formação com suporte estatal de um parque industrial complexo

(1950-80)

7,4%

(1950-80)

Instabilidade macroec., baixo crescimento, (1980-2003)

Administração de crises (ausência de estratégia), e reformas (anos 1990)

2,0 %

Novo Padrão de

desenvolvimento (?)Nova estratégia de

desenvolvimento (?) 4,6 %

(2004-08)

Esquema analíticoEsquema analítico

1. Dinâmica do crescimento (ritmo e composição setorial do investimento, adoção de tecnologias)

2. Mercado de trabalho

3. Perfis distributivos e de consumo

4. Mercado interno e externo

5. Agentes do investimento

6. Financiamento

1. 1. Dinâmica do crescimentoDinâmica do crescimento

Industrialização

• Construção em ritmo acelerado de uma base produtiva industrial complexa, “conduzida pelo Estado”, com rápido aumento da produtividade, progresso técnico incorporado em bens de capital

Atual (?)

• Ampliação da base produtiva já existente (indústria/ agricultura/mineração/infra-estrutura) + expansão acelerada de alguns setores (difusores de progresso técnico? Promotores de encadeamentos produtivos domésticos? ) + progresso técnico incorporado em bens de capital e em “intangíveis” ?

2. Mercados interno e externo2. Mercados interno e externo

Industrialização

• Mercado interno (desenvolvimento “para dentro”)

Atual (?)

• Mercado interno e exportações? Exportações diversificadas?

3. Mercado de trabalho3. Mercado de trabalho

Industrialização

• Oferta abundante de mão de obra e subemprego, crescimento salarial aquém da produtividade

Atual (?)

• Melhoria no mercado de trabalho, aumento de salários em harmonia com aumento da produtividade?

Projeção, em 2003, da PEA e da ocupação em 2004-2009 Projeção, em 2003, da PEA e da ocupação em 2004-2009 (considerando-se taxas de crescimento de 4% em 2004-(considerando-se taxas de crescimento de 4% em 2004-

2006, e de 5% em 2007-2009)2006, e de 5% em 2007-2009)

70.000.000

75.000.000

80.000.000

85.000.000

90.000.000

95.000.000

100.000.000

2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009

PEA estimada1 PEA Ocupados 1

4. Perfis distributivos e de consumo4. Perfis distributivos e de consumo

Industrialização

• Concentração da renda, e produção dirigida essencialmente à demanda das elites.

Atual (?)

• Melhoria distributiva via mercado de trabalho e via políticas sociais? Produção dirigida essencialmente a consumo de massa?

Mudanças no perfil do consumoMudanças no perfil do consumo

Estratos de rendimento domiciliar

(em reais de 2003)

2003 2006*Domicílios (%) Domicílios (%)

Até 600 44,2 32,0

De 600 até 1.000 20,4 25,1

De 1000 até 3000 26,1 32,5

De 3000 até 6.000 8,7 10,4

Total 100,0 100,0

Classes de rendimento equivalentes às de 2003, atualizadas pela variação da inflação no períodoFonte: Pnads 2003 e 2006, elaboração: SPI/MP

5. Agentes do investimento5. Agentes do investimento

Industrialização

• Conduzida pelo Estado, e baseada no “tripé” (capital estatal, privado nacional e privado estrangeiro)

Atual (?)

• Capital privado nacional e estrangeiro. Participação estatal em infra-estrutura, petróleo, e bancos? fomento estatal ao investimento e à inovação?

6. Financiamento 6. Financiamento

Industrialização

• Autofinanciamento, Fiscal, inclusive via BNDES, e, nos anos 1970, também endividamento externo

Atual (?)

• Autofinanciamento, Fiscal + BNDES, mercado financeiro (nacional e estrangeiro)?

Observações finaisObservações finais (1) (1)

Nas últimas décadas a discussão sobre o futuro foi dominada pela pergunta sobre como dar sustentação macroeconômica para um novo ciclo de crescimento a longo prazo.

O debate sobre as questões do desenvolvimento (padrões e estratégias) começa a ser mais sistemático

Não existe ainda no Brasil um projeto ideologicamente hegemônico

Observações finaisObservações finais (2) (2)

O governo Lula explicitou a estratégia de crescimento com redistribuição de renda e educação

Explicitou, também, ainda que de forma menos incisiva, a via da dinâmica de consumo de massa

Observações finaisObservações finais (3) (3)

Para que se forme um pacto social, e eventualmente um novo paradigma desenvolvimentista, é necessário crescer em forma contínua por vários anos

Crescimento econômico com melhoria distributiva não é tudo, a agenda deve incluir avanços em muitos outros campos: democracia substantiva (cidadania), segurança do indivíduo, diversidade cultural, preservação ambiental, harmonia territorial, etc.

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Ricardo Bielschowsky Ricardo Bielschowsky Escritório da CEPAL no Brasil Escritório da CEPAL no Brasil

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