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O TRABALHO DO/A ASSISTENTE SOCIAL NO SISTEMA ÚNICO DE
ASSISTÊNCIA SOCIAL - SUAS1
Ana Carolina de Paula2
Andressa de Souza Orlandini3
Cristina de Paula Pereira Utzig4
Cristiane Carla Konno5
RESUMO: O trabalho tem como objetivo debater sobre o trabalho do Assistente Social na política de
assistência Social, operacionalizada pelo Sistema Único da Assistência Social – SUAS. Partimos da
importância da apreensão crítica da realidade constituída pelas expressões da “questão social” que incidem
sobre as condições de vida da população, impelindo-a a buscar na assistência social os serviços
socioassistencias e benefícios, bem como respostas para a violação de seus direitos, considerando estas as
demandas para atuação profissional. Outro determinante considerado nas respostas profissionais são as
transformações do mundo do trabalho que afetam as condições e relações de trabalho dos/as
trabalhadores/as, dentre eles o/a Assistente Social. Para o enfrentamento destas, os trabalhadores do SUAS
organizaram o Fórum Nacional de Trabalhadores do SUAS que juntamente com a Gestão do Trabalho do
SUAS, estabeleceram vários avanços acerca das condições de trabalho e instituíram a política nacional de
educação permanente no Suas, prevendo o aprimoramento das atribuições e competências profissionais dos
trabalhadores como mediadores de direitos sociais. Para o Serviço Social, esta perspectiva vem fortalecer
os princípios ético-políticos profissionais, que luta contra o processo de exploração e seus desdobramentos
na sociedade capitalista, por uma sociedade que tenha como centralidade valores como liberdade, justiça
social e democracia.
PALAVRAS-CHAVE: Sistema Único de Assistência Social; Política Social; Competências
Profissionais; Exercício Profissional.
INTRODUÇÃO
Este artigo tem por objetivo abordar sobre as atribuições e competências profissionais
do/a Assistente Social no âmbito da política de assistência social, especificamente no Sistema
Único da Assistência Social – SUAS.
1 Trabalho elaborado na disciplina optativa de Núcleo Temático “Política de Assistência: a gestão do trabalho
no SUAS”, do Curso de Serviço Social da UNIOESTE, ministrada pela Profa. Dra. Esther Luíza de Souza
Lemos. 2 Acadêmica do 4°ano do curso de Serviço Social da Universidade Estadual do Oeste Paraná – UNIOESTE,
campus Toledo. E mail: <ac.paula2011@bol.com.br>. Telefone: (45) 9957-7159. 3 Acadêmica do 3º ano do curso de Serviço Social da Universidade Estadual do Oeste do Paraná –
UNIOESTE, campus Toledo. E mail: <andressa_orlandini@hotmail.com>. Telefone (44) 9943-2627. 4 Acadêmica do 2º ano do curso de Serviço Social da Universidade Estadual do Oeste do Paraná –
UNIOESTE, campus Toledo. E mail: <cristinapereira@outlook.com>. Telefone (45) 9910-7881. 5 Docente da Universidade Estadual do Oeste do Paraná –UNIOESTE, campus Toledo. E mail:
<crikonno@gmail.com.>. Telefone: (45) 9926-5187.
2
Nesse sentido, discorremos sobre a política social de Assistência Social como direito
social inscrito na Constituição Federal de 1988, no âmbito da seguridade social e sua
regulamentação com a promulgação da Lei Orgânica da Assistência Social – LOAS em 1993. A
LOAS se espraia para o âmbito nacional a partir de 2004 com a Política Nacional de Assistência
Social - PNAS que vai então operacionalizar o direito social à assistência social por meio de um
sistema que articula ações nas três esferas de governo (federal, estadual e municipal), incluindo a
participação da sociedade civil por meio dos conselhos, portanto, de caráter descentralizado e
participativo, denominado de Sistema Único de Assistência Social – SUAS.
Partimos da premissa de que a questão social e seus desdobramentos revelam a
realidade social constituída pelas desigualdades sociais, econômicas, políticas e culturais, ou
seja, as condições de vida da população trabalhadora sobre as mais diversas expressões:
pobreza, violência, ausência ou carência de saúde, educação, habitação, esporte, cultura, lazer,
trabalho dentre outras, e por assim se produzir e reproduzir na sociedade capitalista, deflagra
um processo constante de luta pela garantia dos direitos por melhoria destas condições de vida
e de trabalho.
Em um contexto de plena expansão e fortalecimento do capitalismo financeiro e as
suas transformações no mundo do trabalho e no âmbito das relações entre Estado e sociedade
civil, que demarcamos as condições objetivas de efetivação do trabalho do assistente social na
política social de assistência social, na gestão, na operacionalização dos serviços
socioassistenciais, junto aos conselhos gestores de políticas sociais, movimentos e
organizações sociais, bem como no estudo e pesquisam para aprimoramento de suas respostas
profissionais ante às expressões da questão social.
Sendo assim, embora o contexto do mundo do trabalho revele a precarização das
relações e condições de trabalho, inclusive na esfera do Estado, o Assistente Social, em sua
condição de assalariamento, enfrenta os desafios deste cenário, tendo a incumbência de
realizar no seu exercício profissional os princípios ético-políticos norteadores do projeto
profissional, que tem como valores centrais a liberdade, a justiça e a democracia, contra toda
forma de exploração, portanto, na luta constante por outra sociabilidade.
3
PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Este trabalho é resultado de pesquisa bibliográfica. O procedimento adotado para a
construção do trabalho foi o levantamento de referências bibliográficas, em seguida
realizamos a seleção dos documentos utilizados e, subseqüente, a análise sobre os conteúdos
tendo como indicativo o debate sobre a Política Social de Assistência Social e o exercício
profissional do Assistente Social no Sistema Único de Assistência Social (SUAS).
O TRABALHO NO SISTEMA ÚNICO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL
As Manifestações da Questão Social e a Política Social de Assistência Social
As manifestações da questão social são analisadas considerando sua conexão genética
com a sociedade de classes, materializadas na contradição fundamental entre capital e
trabalho, donde se explica a realidade multifacetada em desigualdades sociais, econômicas,
políticas e culturais que incidem sobre as condições de vida da população brasileira
trabalhadora. Porém, não podemos abstrair desta mesma análise, o embate constante advindo
do antagonismo entre capital e trabalho, inerente ao modo de produção capitalista que se
fortalece e se aprofunda pelo fenômeno da exploração do capital sobre o trabalho, sendo
exatamente este – travado pela mobilização e organização política e social dos trabalhadores –
que põe em risco a perenidade do capitalismo. Ou seja, significa depositar nas lutas sociais o
seu caráter emancipador, sustentadas por conquistas históricas e constantes da classe
trabalhadora na disputa por projetos societários que defendam seus interesses de classe contra
a exploração e seus desdobramentos - as expressões da questão social.
A partir da década de 1970 foi possível visualizar as transformações societárias
ocorridas no período do capital monopolista, uma vez que este estava compelido a encontrar
alternativas para a crise. A partir da recessão generalizada da economia capitalista em que
emergia um novo padrão de crescimento, este período é denominado capitalismo tardio ou
regime de acumulação flexível e também de modo de regulação (contra reforma do Estado).
É um período de transição da rigidez fordista para a flexibilidade. Desta forma, ocorreram
fenômenos como a financeirização do capitalismo, a globalização que aumentou o padrão
competitivo e a revolução tecnológica, ou seja, revolução cientifica e técnica que afeta
4
diretamente o processo produtivo, processo de trabalho e também o modo de controle e
organização que experimentam modificações que não podem ser minimizadas.
No Brasil, este projeto capitalista de flexibilização, se traduziu em solidariedade,
competência e justiça imbricadas no governo Fernando Henrique Cardoso, conhecido como
momento do “liberalismo ligth”, em que foram feitas reestruturações tardo burguesas
periféricas, resultantes da modernização conservadora, Netto (1996).
Assim, admitimos a configuração da “questão social” nas relações sociais capitalistas e a
reconfiguração de suas expressões na contemporaneidade, em um contexto de economia
mundializada, sob os contornos do capital financeiro, explicitadas por projetos societários em
constante luta pela hegemonia. Iamamoto (2012, p.51) ao citar Salama (1999), sobre a “questão
social” na contemporaneidade, afirma que a lógica financeira do regime de acumulação tende a
provocar crises que se projetam no mundo, gerando recessão. É resultante dessa lógica a
volatividade do crescimento que redunda em maior concentração de renda, da propriedade e
aumento da pobreza, "não apenas nas periferias dos centros mundiais, mas atingindo os
recônditos mais sagrados do capitalismo mundial, expressando um “apartheid social".
Outro determinante da atual conjuntura revela-se pelas mudanças nas relações
Estado/sociedade sob a ordem neoliberal, que se explicitam no ajuste indicado pelos organismos
internacionais, onde o Estado sofre a intervenção dos interesses privados que exigem a
necessidade de redução das ações do Estado ante ao aprofundamento da “questão social” e suas
manifestações, mediante a diminuição dos gastos sociais, em virtude da crise fiscal do Estado.
Nas configurações assumidas pela “questão social” contemporânea,
Uma lógica pragmática e produtivista erige a competitividade, a rentabilidade, a eficácia e
eficiência em critérios para referenciar as análises sobre a vida em sociedade. Forja-se assim
uma mentalidade utilitária que reforça o individualismo, segundo a qual cada um é chamado a
"se virar" no mercado. Ao lado da naturalização da sociedade — "é assim mesmo, não há
como mudar"-, ativam-se os apelos morais à solidariedade, na contraface da crescente
degradação das condições de vida das grandes maiorias. (IAMAMOTO, 2012, p.52)
Por consequência, houve o aprofundamento das desigualdades sociais, econômicas,
culturais e políticas, materializadas nas condições de vida dos sujeitos que vivenciam
situações de pobreza, violências, carência ou deficiência de saúde, educação, moradia,
transporte público, dentre outras; explicitando a intensificação da exploração da força de
5
trabalho, a precarização das condições e relações de trabalho, além da destituição de direitos
historicamente conquistados pelos trabalhadores.
É neste contexto que situamos a trajetória histórica da assistência social, que na
contramão de sua emergência como política de benemerência e caridade, apresenta a
perspectiva de ruptura - resultado de lutas sociais - tendo seu marco legal como direito do
cidadão e dever do Estado, conforme preconiza a Constituição Federal de 1988, juntamente
com a saúde e previdência social, na Seguridade Social. De acordo com o Título III da Ordem
Social, Capítulo III, Seção IV, Artigo 203, a Assistência Social tem por objetivos:
I - a proteção à família, à maternidade, à infância, à adolescência e à velhice; II – o amparo às
crianças e adolescentes carentes; III – a promoção de integração ao mercado de trabalho; IV – a
habilitação e reabilitação das pessoas portadoras de deficiência e a promoção de sua integração à
vida comunitária; V – a garantia de um salário mínimo de benefício mensal à pessoa portadora
de deficiência e ao idoso que comprovem não possuir meios de prover à própria manutenção ou
tê-la provida por sua família, conforme dispuser a lei. (BRASIL, 1988, s/p).
A regulamentação desse direito se deu com a aprovação da Lei Orgânica de
Assistência Social (LOAS), lei nº 8.742 que normatiza e dispõe sobre a organização da
Assistência Social em 7 de dezembro de 19936. A LOAS, regulamenta a Assistência Social
como uma política de Seguridade Social, englobando a proteção social articulada com outras
políticas sociais. Para Di Giovanni entende-se por proteção social as formas
(...) institucionalizadas que as sociedades constituem para proteger parte ou conjunto de
seus membros. (...) Neste conceito, também, tanto as formas seletivas de distribuição e
redistribuição de bens materiais (como comida e o dinheiro), quanto os bens culturais
(como os saberes), que permitirão a sobrevivência e a integração, sob várias formas de vida
social. Ainda, os princípios reguladores e as normas que, com intuito de proteção, fazem
parte da vida das coletividades. (MDS apud DI GIOVANNI, 1998, p.10).
Porém, é preciso ressaltar que a “(...) Assistência Social não pode ser entendida como uma
política exclusiva de proteção social, pois se obriga a articular seus serviços e benefícios aos
direitos assegurados pelas demais políticas sociais (...)” (CFESS, 2013, p.7). Em outras
palavras, refere-se ao sentido de articulação das políticas sociais em defesa da garantia plena
6 Lembrando que a partir da realização do I Simpósio Nacional de Assistência Social em 1989, que resultou,
posteriormente, no Projeto de Lei nº3099/89 apresentado pelo deputado Raimundo Bezerra em 17 de
setembro de 1990 que foi vetado pelo presidente Fernando Collor de Mello, sob a afirmação de que a nação
não dispunha de recursos para o pagamento dos benefícios previstos, alegando que seus princípios são
contrários a uma Assistência Social responsável. (LONARDONI; GIMENES; SANTOS, s/d, s/p).
6
dos direitos dos cidadãos, não colocando a audaciosa responsabilidade de uma única política
pública suprir as demandas da sociedade.
Conforme a LOAS, no Capítulo II dos Princípios e das Diretrizes, Seção II das
Diretrizes, Artigo 5º trata:
I – descentralização político-administrativa para os Estados, o Distrito Federal e os
Municípios, e comando único das ações em cada esfera do governo; II – participação, por
meio de organizações representativas, na formulação das políticas e no controle das ações
em todos os níveis; III – primazia da responsabilidade do Estado na condução da política de
assistência social em cada esfera do governo. (BRASIL, 1993, s/p).
Diante disso, mostra-se que os principais avanços foram em relação ao sistema de
descentralização da política, ou seja, da forma em que cada esfera do governo irá administrar
e materializá-la, possibilitando também uma maior autonomia de cada esfera em conduzir a
política de acordo com seus interesses e/ou demandas da sua realidade. Além de fortalecer a
participação popular nas instancias deliberativas com direito a voz e voto para expressar as
necessidades da população usuária dessa política; como também reafirma o dever do Estado
na efetivação da política de assistência social.
Outro avanço fundamental na efetivação da política de assistência social no Brasil foi
a Política Nacional de Assistência Social (PNAS) de 2004, em consonância com as diretrizes
da LOAS, como citadas acima, segue os seguintes princípios:
I – Supremacia do atendimento às necessidades sociais sobre as exigências de rentabilidade
econômica; II – Universalização dos direitos sociais, a fim de tornar o destinatário da ação
assistencial alcançável pelas demais políticas públicas; III – Respeito à dignidade do
cidadão, à sua autonomia e ao seu direito a benefícios e serviços de qualidade, bem como à
convivência familiar e comunitária, vedando-se qualquer comprovação vexatória de
necessidade; IV – Igualdade de direitos no acesso ao atendimento, sem discriminação de
qualquer natureza, garantindo-se equivalência às populações urbanas e rurais; V –
Divulgação ampla dos benefícios, serviços, programas e projetos assistenciais, bem como
dos recursos oferecidos pelo Poder Público e dos critérios para sua concessão. (BRASIL,
2004, p.32).
Sendo assim, fica evidente a prevalência da universalidade, igualdade de direitos e o
protagonismo do cidadão. A PNAS engloba também a definição de quem é o usuário da
política de assistência, de como organiza a proteção social básica que se “destina à população
que vive em situação de fragilidade decorrente da pobreza, ausência de renda, acesso precário
ou nulo aos serviços públicos ou fragilização de vínculos afetivos (discriminações etárias,
7
étnicas, de gênero ou por deficiências, dentre outras)” (MDS, 2011 p.08), sendo, esta
realizada pelos Centros de Referência da Assistência Social - CRAS e a proteção social
especial, sendo esta realizada pelos Centros de Referência Especializado de Assistência
Social-CREAS que, conforme MDS (2011) é uma unidade de referência para oferta de
trabalho social à famílias e indivíduos em situação de risco pessoal e social por ameaça ou
violação de direitos, demandando intervenção especializada, operacionalizadas pelo Sistema
Único de Assistência Social – SUAS em todo território nacional.
Na organização do SUAS, esse processo exige o aprimoramento do trabalho social
materializado nos serviços e benefícios socioassistenciais, atribuindo à gestão do trabalho a
responsabilidade e o compromisso ético/político na consolidação do SUAS.
Para tanto, foi regulamentada a Norma Operacional de Recursos Humanos –
NOB/RH/SUAS - 2005, preconizando as regras para a gestão e serviços realizados nos CRAS e
CREAS7, bem como as funções da gestão e os profissionais de referências para o desenvolvimento
das atribuições de gestão, planejamento, coordenação, monitoramento e avaliação, tendo a gestão do
trabalho a importância para a organização dos trabalhadores do SUAS.
Com estas ponderações é que a política social de assistência social, operacionalizada
pelo SUAS, se coloca como espaço ocupacional para o Serviço Social, sendo o Assistente
Social um dos profissionais que compõe as equipes de referência na gestão e nos serviços
socioassistenciais, e como trabalhador do SUAS vem construindo respostas profissionais às
expressões da questão social vivenciadas pelos sujeitos atendidos pela mesma.
ATRIBUIÇÕES DO/A ASSISTENTE SOCIAL NO SISTEMA ÚNICO DE
ASSISTÊNCIA SOCIAL - SUAS
O espaço ocupacional no âmbito da política social de assistência social não é
exclusivo do/a assistente social, contudo, é onde se encontram relações de poder,
7 De acordo com a Secretaria Nacional de Assistência Social, “atualmente o SUAS conta com uma
ampla rede de proteção social constituída por mais de sete mil Centros de Referência da
Assistência Social-CRAS, em todo território nacional, e mais de dois mil Centros de Referência
Especializados da Assistência Social-CREAS, implantados em municípios acima de 20.000
habitantes e/ou que apresentam demandas. (MDS, 2014, p.07)
8
competitividade entre os trabalhadores e as influencias das causas privadas decorrentes de
interesses que são públicos. Ou seja, por natureza, o espaço ocupacional das políticas sociais,
revela as contradições do exercício profissional que podem romper ou reforçar valores,
concepções, intencionalidades, pois são espaços prenhes de disputas por aglutinar diferentes
interesses, portanto, diferentes projetos sociais.
As condições e relações de trabalho em que se inscreve o assistente social articulam um
conjunto de mediações que interferem no processamento da ação e nos resultados
individual e coletivamente projetados, pois a história é o resultado de inúmeras vontades
projetadas em diferentes direções que têm múltiplas influências sobre a vida social.
(CFESS, 2012, p. 46).
Nesta perspectiva o CFESS (2011), situa de forma necessária as atuais condições para
o exercício profissional do tempo presente, decorrentes das relações sociais, buscando a
construção de estratégias técnico-político-profissionais em defesa dos direitos sociais, contra
qualquer forma de exploração, preconceito e discriminação social.
A concepção de cidadania presente no Projeto ético-político profissional do Serviço Social
brasileiro articula direitos amplos, universais e equânimes, orientados pela perspectiva de
superação das desigualdades sociais e pela igualdade de condições nos marcos de uma
sociedade não-capitalista. (CFESS, 2012, p.03).
São estes valores que fortalecem a luta pela defesa da assistência social como política
de seguridade social, ampliando para os demais direitos sociais inscritos no Artigo 6º. da
Constituição Federal brasileira que compreendem o acesso à saúde, educação, trabalho,
moradia, lazer, segurança, previdência e assistência social, ou seja, a defesa da proteção social
contra as desigualdades postas pelo capitalismo. O Conselho Federal de Serviço Social -
CFESS (2011) em análise sobre a atribuição profissional do Assistente Social na política de
Assistência Social, propõe um trabalho que se efetiva pela relação de interdisciplinaridade
entre as demais profissões que constituem as equipes de referência, preservando as atribuições
e competências de cada profissão, orientadas pelas suas regulamentações específicas.
Para o Assistente Social, tais atribuições e competências profissionais têm suas respostas
elaboradas a partir do contexto/espaço ocupacional em que se inserem e devem ter como baliza,
as demandas postas pelas condições de vida dos sujeitos que buscam a assistência social, as
condições objetivas de trabalho e as relações com o órgão empregador e, sobretudo, a vinculação
9
com o projeto profissional, ou seja, o exercício profissional, conformado pelas dimensões teórico-
metodológica, técnico-operativa e ético-política da profissão.
Importante ressaltar que, se a profissão se insere num contexto econômico, político e social,
que coloca demandas para os/as assistentes sociais em vários espaços sócio-ocupacionais,
também as respostas produzidas pela categoria impactam na vida dos sujeitos individuais e
coletivos e, portanto, repercutem na dinâmica social. Cabe, então, o aprofundamento e a
disseminação do debate sobre as atribuições profissionais, tendo como cerne os seus
conteúdos teóricos, técnicos-operativos e ético-políticos, e suas implicações para a própria
categoria e, sobretudo, para a classe trabalhadora. (CFESS, 2012, p. 19).
No sentido de aprimorar o exercício profissional do Assistente Social no Sistema
Único de Assistência Social, em consonância com o projeto profissional que o Conselho
Federal de Serviço Social – CFESS e Conselhos Regionais de Serviço Social – CRESS
(Conselhos Estaduais) em conjunto, construíram o documento, intitulado: Trabalhar na
Assistência Social em Defesa dos Direitos da Seguridade Social, no debate sobre a definição
de trabalhadores do SUAS, em 20118, abordando dentre várias questões, a especificidade das
competências e atribuições do/a Assistente Social como trabalhador/a da Assistência Social.
O Documento aborda que a definição de procedimentos técnicos no cotidiano do
exercício profissional é prerrogativa do/a Assistente Social, considerando sua autonomia
profissional e as regulamentações específicas da profissão, tendo, portanto, a necessidade de
debater as competências e atribuições profissionais do Serviço Social referentes às
particularidades da política de Assistência Social.
Assim, abordam inicialmente as competências que denominam de gerais por se
tratarem daquelas que possibilita ao profissional uma análise crítica da realidade para
apreensão dos processos de produção e reprodução das expressões da questão social,
sobretudo, na particularidade da sociedade brasileira, relacionando as desigualdades
econômicas e sociais à materialização dos direitos sociais. Isso exige do/a profissional a
constante análise do significado social e político da profissão, que por meio da qualificação,
insere-se no debate nacional e internacional do Serviço Social e a atuação no âmbito da
8 O documento vem reiterar as normatizações acerca do conteúdo publicado anteriormente como
“Parâmetros para a Atuação de Assistentes Sociais na Política de Assistência Social”, publicado
pelo CFESS em 2008.
10
política social de assistência social para que possa formular respostas profissionais
correspondentes às demandas postas por esta política social.
Em seguida, o documento citado debate sobre as diversas competências específicas da
política de assistência social, relativas: à compreensão e socialização de informação aos/às
usuários/as .
CONCLUSÕES
As reflexões que alcançamos sobre o trabalho do Assistente Social na política de
Assistência Social, organizada em território nacional pelo Sistema Único de Assistência
Social – SUAS, tem como pressuposto o processo histórico de implantação e implementação
das políticas sociais como respostas do Estado, ante às lutas sociais travadas pela população
trabalhadora em virtude da precarização de suas condições de vida materializadas pelas
desigualdades sociais, sobretudo a pobreza. Nesse sentido, a política de assistência social se
constitui como direito social do cidadão e dever do Estado, inscrita na Constituição Federal e
regulamentada pela Lei Orgânica da Assistência Social em 1993, espraiando-se como Política
Nacional de Assistência Social em 2004, como resultado da IV Conferência Nacional de
Assistência Social.
A operacionalização desta política se coloca pelo Sistema Ùnico de Assistência Social
– SUAS, cujas ações socioassistenciais se dá de forma descentralizada, sendo esta
acompanhada pelas instâncias de controle social, movimentos e organizações sociais, no
enfrentamento das expressões da questão social.
Ao refletirmos sobre as condições objetivas de trabalho no SUAS, é imprescindível
considerarmos o contexto das transformações do mundo do trabalho que incide diretamente
nas condições e relações de trabalho associadas ao processo de implementação da contra
reforma do Estado, âmbito onde se inscreve as políticas sociais e o trabalho profissional.
Nesse sentido, conforme identificação do Ministério de Desenvolvimento Social e Combate à
Fome (MDS), Secretaria Nacional de Assistência Social – Departamento de Gestão do SUAS,
afirma-se o grande desafio que possuem os trabalhadores e trabalhadoras do Suas não só na
garantia de direitos, mas também na luta pela garantia de seus direitos, considerando
11
(...)a precarização de vínculos de trabalho, a necessidade de concursos públicos, redução da
jornada de trabalho, condições éticas e técnicas de trabalho, equipes de referência na gestão
e nos serviços, saúde do trabalhador, segurança no trabalho, adequação ou construção de
Planos de Carreira, Cargos e Salários – PCCS, reorganização da formação profissional às
necessidades da política pública e a implementação de uma política nacional de
capacitação, direcionada pelo princípio da educação permanente. (MDS, 2014, p.21)
Na política nacional de assistência social estas questões se colocam desafiadoras para
a gestão do trabalho no SUAS, cujos eixos norteadores conforme a NOB/RH/SUAS são:
princípios éticos para os trabalhadores; princípios e diretrizes nacionais para a gestão do
trabalho no âmbito do Suas; equipes de referência; diretrizes para a política nacional de
capacitação; diretrizes nacionais para planos de carreira, cargos e salários; diretrizes para
entidades e organizações de assistência social; diretrizes para o cofinanciamento da gestão
do trabalho; responsabilidades e atribuições do gestor federal, estadual, do Distrito Federal
e municipal; diretrizes nacionais para instituição de mesas de negociação; organização do
CadSuas; controle social da gestão do trabalho. (MDS, 2014)
Nesse sentido, em consonância com a política nacional, os trabalhadores se
mobilizaram para garantia destes eixos, prevendo que a melhoria de condições objetivas de
trabalho é fundamental para a garantia de direitos dos usuários da assistência social. Esse
movimento, na VII Conferência Nacional da Assistência Social, em 2009, culminou com a
criação do Fórum Nacional de Trabalhadores do Sistema Único de Assistência Social-
FNTSUAS9, constituído pelas entidades nacionais dos trabalhadores: assistentes sociais,
psicólogos, pedagogos, sociólogos, antropólogos, terapeutas ocupacionais, economistas
domésticos, musicoterapeutas, advogados, contadores e economistas. O FNTSUAS, é um
espaço coletivo de organização política dos trabalhadores com formação no ensino
fundamental, médio e superior, cuja finalidade é fomentar a articulação política nas instâncias
de discussão, deliberação, pactuação, controle e gestão nacional do SUAS.
Frente ao processo de organização dos trabalhadores e implementada a Gestão do
Trabalho no SUAS, o Conselho Nacional de Assistência Social, aprovou a Resolução no.
17/2011, que define o perfil, habilidades, atitudes, competências profissionais, representação e
representatividade no SUAS, que reconhece as categorias profissionais que constituem a
9 Sobre o FNTSUAS, ver:<http://fntsuas.blogspot.com.br>.
12
equipe de referência do SUAS, sendo instrumento importante para a construção da identidade
dos trabalhadores do SUAS.
Concomitante, houve a sinalização da instalação de mesas de negociação, a criação de
planos de carreiras, cargos e salários, realização de concursos públicos, dentre outras
respostas no sentido da valorização do trabalhador.
Coloca-se como fundamental nesta relação entre a Gestão do Trabalho no SUAS e o
FNTSUAS, o processo de implantação da Política Nacional de Educação Permanente do
SUAS, aprovada pelo Ministério de Desenvolvimento Social e Combate a Fome/Secretaria
Nacional de Assistência Social, em 2013, cujo objetivo é “institucionalizar, no âmbito do
SUAS, a perspectiva político-pedagógica e a cultura da Educação Permanente, estabelecendo
suas diretrizes e princípios e definindo os meios, mecanismos, instrumentos e arranjos
institucionais necessários à sua operacionalização e efetivação” (MDS, 2013 p,29), sobretudo
para os/as Assistentes Sociais, para o aprofundamento do debate acerca das expressões da
questão social, como forma de enfrentamento à pobreza, ao preconceito e demais
manifestações das desigualdades sociais e econômicas que acometem a vida dos sujeitos que
buscam os serviços desta política, no sentido de aprimoramento da intervenção profissional na
realização do Projeto Ético-Político do Serviço Social.
REFERÊNCIAS
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Paulo: Cortez, 2003.
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<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>. Acesso em: 18 de maio de
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Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8742.htm>. Acesso em: 20 de maio de
2014 às 22hs.
13
______. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Secretaria Nacional de Assistência
Social. Política Nacional de Assistência Social – PNAS/2004 e Norma Operacional Básica –
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______. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Secretaria Nacional de Assistência
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