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2. RVORES E FLORESTA URBANA: CONDIES QUE A CIDADE OFERECE
2.1. DEFINIO DE ESPAOS VERDES E FLORESTA URBANA
Neste captulo foi considerado til clarificar alguns termos, relacionados com espaos verdes e
arboricultura urbana, utilizados no presente trabalho, e sua relao com o conceito mais
recente de floresta urbana.
J em 1879 douard Andr1, na sua obra Lart des jardins: Trait gnral de la composition de
parcs et jardins que representa um importante marco na Histria da Arte dos Jardins
apresenta um mtodo de concepo e posterior construo de jardins e parques, bem como
uma descrio exaustiva de todo o tipo de elementos que integram a paisagem natural e
artificial, como o exemplo da sua classificao de parques e jardins (Quadro 2.1.).
QUADRO 2.1. CLASSIFICAO DE PARQUES E JARDINS POR DOUARD ANDR
PARQUES
PRIVADOS Paisagem
Florestal ou caa
Agrcola
PBLICOS
Jogos
gua
Lotes de urbanizaes
Cemitrios
JARDINS
PRIVADOS
Prazer
Paisagem (1 a 10 ha)
Geomtricos
Urbanismo (Terraos, Hotis, etc.)
Estufas, jardins de Inverno
Utilitrio Pomar
Hortas
Pomar - Horta
PBLICOS
Prazer Praas
Passeio Pblico
Caminho-de-ferro
Utilitrio
Botnico
Zoolgico
Aclimatizao
Institucional
Ginsio
Exposies Adaptado de Andr, ., F., 1879. Ob. cit., p. 200.
1 - Andr, ., F., 1879. Lart des jardins: trait gnral de la composicion de parcs et jardins. G. Masson, Paris.
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A presena da vegetao na cidade surge sob vrias formas, habitualmente como jardim,
parque, enquadramento de vias e edifcios, etc. ocupando distintas reas, e apresentando
origem, morfologia e utilizao diversas podendo ser considerada no mbito abrangente do
conceito de espao verde.
At ao sculo XIX, os jardins e parques eram reconhecidos por apresentarem, como funo
principal, um local proporcionador de encontros, de estadia ou de passeio pblico. Ter sido a
partir da era industrial que surgiu o conceito de espao verde urbano, apresentando-se como o
espao que tinha como propsito recriar a natureza no meio urbano para alm das j
mencionadas funes sociais surgindo posteriormente o conceito de pulmo verde, como
sendo o espao verde com dimenso suficiente para produzir o oxignio necessrio
atenuao da qualidade do ar2.
Posteriormente, este conceito de espao verde evoluiu para o de green belt, cintura verde a
rodear a cidade antiga, separando-a atravs de zonas de expanso. Desenvolvendo-se no
incio do sculo XX para a teoria do continuum naturale. Permitindo que atravs do continuum
naturale a paisagem envolvente penetre na cidade de modo tentacular e contnuo,
apresentando-se sob diversas formas e funes, desde o espao de lazer e recreio ao de
enquadramento de infra-estruturas e edifcios, proteco e integrao de linhas ou cursos de
gua, etc. Este objectivo cumprido atravs da recuperao de espaos verdes existentes,
criao de novos espaos, e da sua ligao atravs de corredores verdes3.
Os espaos verdes podem ser definidos como o conjunto de reas livres, ordenadas ou no,
revestidas de vegetao, e que exercem funes de proteco ambiental, integrao
paisagstica ou arquitectnica, e/ou de recreio. Podem afigurar-se das seguintes formas:
parques e jardins urbanos, pblicos e privados; reas de integrao paisagstica e de
proteco ambiental de vias e outras infra-estruturas urbanas; taludes e encostas revestidos de
vegetao; vegetao marginal dos cursos de gua e de lagos; sebes e cortinas de proteco
contra o vento ou a poluio sonora; zonas verdes de cemitrios; zonas agrcolas e florestais
residuais no interior dos espaos urbanos ou urbanizveis4. Representam uma entidade que
engloba a totalidade dos espaos ocupados com vegetao, constituindo o somatrio das
reas e trechos naturais integrados ou integrveis no tecido urbano5.
A cidade apresenta-se como uma organizao muito complexa constituda por um conjunto de
edifcios e espaos livres. Os referidos espaos constituem uma rede articulada, onde as
pessoas se movimentam, e apresentam-se ajustados s mltiplas funes que desempenham,
2 - Magalhes, R. M., 1992a. Espaos verdes urbanos. DGOT, Direco-Geral do Ordenamento do Territrio, Ministrio do Planeamento e da Administrao do Territrio, Lisboa, p. 9. 3 - Idem, p. 10-11. 4 - Fadigas, L. S., 1993. A Natureza na Cidade, uma perspectiva para a sua integrao no tecido urbano. Tese de Doutoramento, Faculdade de Arquitectura, Universidade Tcnica de Lisboa, Lisboa, p. 116. 5 - Idem, p. 116.
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caracterizando-se por tipologias especficas, adaptadas a toda a espcie de necessidades e
proporcionando vivncias indispensveis vida equilibrada do homem6.
De seguida iremos apresentar os conceitos de espaos exteriores definidos e estudados para a
cidade de Lisboa por Rego7:
rua, elemento de comunicao destinado a veculos e/ou pessoas, permitindo a circulao, o acesso aos edifcios e o passeio. tambm um espao largo ou estreito
entre edifcios, separando-os, onde se apoiam as redes de infra-estruturas e toda a
circulao de produtos, pessoas, etc. 8, pode tambm apresentar rvores dispostas
em caldeira e/ou em faixa (rvores de arruamento9);
praa, grande espao pblico, enquadrado por edifcios, com um ou vrios acessos, local de encontro, convvio e lazer, frequentemente suportando ns de distribuio na
rede de trfego 10;
jardim, zona verde de dimenses razoveis (at 10 ha), suficientemente, para permitir o recreio e o lazer. Geralmente constitudos por zonas arbustivas e alguma rvores de
grande porte enquadrando pequenas clareiras relvadas, ou pequenas zonas de estadia
pavimentada, e com caminhos de ligao s suas envolventes. Permitem o
atravessamento de fuga ao grande trnsito. So espaos agradveis, com funes de
convvio, lazer e recreio, geralmente utilizados pelas populaes residentes na
envolvente urbana11;
ajardinado, zona essencialmente com funes estticas de enquadramento; so essencialmente compostas de relvados, separados por pequenos caminhos e com
alguns arbustos e herbceas decorativas12;
parque urbano, zona onde se interpenetram a natureza na sua forma mais pura e a cidade na sua forma mais estereotipada. Exige um espao suficientemente amplo, para
nele se desenvolverem ecossistemas especficos que andaro associados s
dimenses e tipos de rvores e arbustos instalados. () Dever possuir zonas
diversificadas, que exigiro, de acordo com as suas funes, tratamento especfico13.
Com a preocupao crescente da integrao dos espaos verdes no ordenamento e
planeamento urbano surge o conceito de estrutura verde, podendo esta ser classificada de
principal ou secundria (Quadro 2.2.), de acordo com as seguintes caractersticas14, 15,16:
6 - Rego, J. L. E. S., 1984. Tipologias de espaos exteriores de Lisboa. Relatrio final do Curso Livre de Arquitectura Paisagista, Instituto Superior de Agronomia, Universidade Tcnica de Lisboa, Lisboa, p. 1. 7 - Idem, p. 4. 8 - Idem, ibidem. 9 - rvores de arruamento so rvores em caldeiras e/ou rvores que, no estando em caldeira, constituem manifestamente alinhamentos. 10 - Rego, J. L. E. S., 1984. Ob. cit., p. 31. 11 - Idem, p. 47. 12 - Idem, p. 86. 13 - Idem, p. 91. 14 - Magalhes, R. M., 1992a. Ob. cit.. p. 10-11.
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estrutura verde principal: sistema de espaos de maior dimenso e impacto na cidade, constituindo plos de articulao com a paisagem envolvente. Integra reas como
jardins, parques urbanos e suburbanos, zonas desportivas, recintos especiais (jardins
zoolgicos, parques de atraces e exposies) e reas de hortas urbanas, etc.
estrutura verde secundria: constitui a extenso da estrutura anterior no interior do contnuo urbano, abrangendo os espaos de menor dimenso mais directamente
ligados habitao e equipamento colectivo. Engloba espaos como pequenos jardins
de bairro/ quarteiro, zonas de recreio infantil e juvenil, zonas verdes escolares, etc.
QUADRO 2.2. ESTRUTURA VERDE (EV) URBANA
ESTRUTURA VERDE
URBANA
TIPO DE UTILIZAO RECOMENDAES GLOBAIS DE
PLANEAMENTO
ESTRUTURA VERDE
PRINCIPAL (integrada no
contnuo natural)
Utilizao mxima
Parque da cidade (zonas verdes especiais, EV didcticos, feiras, exposies, etc.)
20 m2/ habitante
Parque urbano (EV ligado ao equipamento escolar de sade, desportivo, cultura, etc.)
Utilizao
mdia
Parque sub-urbano
Desporto livre
Hortas urbanas
Parques de campismo
Zonas de merendas
Utilizao
mnima
Zonas de proteco (em relao s zonas industriais, s infra-estruturas de transporte, aos ventos, etc.)
Zonas de proteco s linhas de drenagem natural das guas pluviais
Matas de proteco
Zona agrcolas
Cemitrios
ESTRUTURA VERDE
SECUNDRIA (integrada no
contnuo construdo)
Utilizao mxima
Espaos para recreio infantil (0-5 anos)
10 m2/ habitante
Espaos para recreio infantil (6-9 anos)
Espaos para recreio juvenil (10-16 anos)
Espaos para idosos e adultos
Espaos para convvio e encontro (praas arborizadas, alamedas, jardim pblico, etc.)
TOTAL30 m2/ habitante
Fonte: Magalhes, R. M., 1992a. Ob. cit. p. 64.
15 - Saraiva, M.G. A.N., 1989. Estrutura Verde da Regio de Lisboa. In: Sociedade e Territrio, vol. 10 e 11: 101-11, p. 101 e 102. 16 - Magalhes, M.R. 1992b. O Clima e o Microclima como Factores de Ordenamento do Territrio. Provas de Aptido Pedaggica e Capacidade Cientfica, Instituto Superior de Agronomia, Universidade Tcnica de Lisboa, Lisboa.
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No caso da cidade de Lisboa, os espaos arborizados, constantes do Relatrio publicado em
1996 pela Cmara Municipal de Lisboa sob o ttulo Plano de arborizao de Lisboa, so
classificados em trs categorias17:
1. rede de corredores verdes, com particular incidncia no sistema de eixos e entradas
principais da cidade;
2. povoamentos florestais integrados na Estrutura Verde Principal, incluindo o Parque
Florestal de Monsanto, e restantes parques includos na mesma estrutura;
3. parques e jardins includos na Estrutura Verde Secundria.
No Plano Verde de Lisboa, coordenado pelo Professor Ribeiro Telles, surge ainda a
terminologia de Estrutura Verde Contnua, Semi-Contnua e Descontnua18. A primeira
corresponde a um sistema de espaos abertos predominantemente verdes, que se inserem de
uma forma contnua no tecido edificado descontnuo e muito disperso, e a ltima constitui um
sistema de espaos abertos, que se inserem no tecido urbano contnuo, e se articulam entre si
de uma forma descontnua.
O termo floresta urbana foi utilizado pela primeira vez em 1965, na Amrica do Norte, como
ttulo de um estudo sobre os sucessos e os fracassos das plantaes de rvores municipais
numa zona da rea metropolitana de Toronto19. De realar que o referido conceito inclua uma
perspectiva integradora, decorrente da participao de profissionais com diferentes formaes,
tais como: silvicultores, arquitectos paisagistas, agrnomos.
O termo de silvicultura urbana hoje amplamente aceite e encontra-se definido por Miller
como: a arte, cincia e tecnologia de gesto das rvores e dos recursos florestais dentro e
prximo do ecossistema urbano facultando sociedade os benefcios das rvores ao nvel
ecolgico, psicolgico, sociolgico, econmico e esttico20.
Esta definio torna claro que a floresta urbana mais do que apenas silvicultura dentro (ou
prxima) de reas urbanas. A densidade da floresta urbana varia o seu padro de acordo com
a ocupao do solo (Figura 2.1)21.
17 - Cardoso, M.; Cruz, R.M.V. (Eds), 1996. Plano de Arborizao de Lisboa (PAL), programa de intervenes 1996/ 2000. 2 Relatrio, Setembro 1996. Lisboa, Cmara Municipal de Lisboa, p. 5. 18 - Telles, G.R. (Ed.), 1997. O plano verde de Lisboa. Edies Colibri, Lisboa, p. 26. 19 - Konijnendijk, C. C. 2003. A decade of urban forestry in Europe. In: Forest Policy and Economics 5 (2003): 173-186, p. 175. 20 - Miller, R. W., 1997. Urban Forestry, planning and managing urban greenspaces. Prentice Hall, New Jersey, p. 29. 21 - Idem, p. 30.
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Figura 2.1. Ocupao do solo e floresta urbana numa regio florestada e numa regio agrcola (Miller, 1997. Ob. cit.,
p. 30).
A ocupao do solo, de dentro para os arredores da cidade, pode ser dividida em quatro zonas:
urbana, suburbana, periurbana e rural. A zona urbana caracteriza-se pela rea comercial e de
escritrios, local de antigas indstrias, e com uma densidade de zonas residenciais elevada a
mdia. Geralmente esta zona apresenta um reduzido nmero de rvores e uma percentagem
inferior de rea dedicada aos parques e jardins ( nesta zona que de uma forma geral se
encontra a vegetao mais antiga)22.
A zona suburbana caracteriza-se geralmente por baixa densidade residencial, com amplas
reas dedicadas a reas comerciais, novas reas industriais, densas redes virias.
Usualmente, apresenta mais parques e jardins do que a zona urbana, bem como outras reas
verdes com vegetao mais recentemente plantada e estabilizada, localizando-se as rvores e
floresta, principalmente, ao longo das zonas hmidas no agricultadas23.
A zona periurbana estabelece a interface entre a rea suburbana com a rural. Geralmente
nesta zona encontram-se as quintas de recreio, reas residuais de agricultura e reas
florestais, terrenos baldios24.
A Europa, de facto, antes de 1980 nunca mostrou uma tradio consistente de investigao no
mbito da Floresta Urbana, em contraste com a Amrica do Norte25. A gesto da sua floresta e
dos seus espaos verdes foram sempre tratados como campos independentes; e, em geral, as
Cincias Florestais no concederam prioridade s florestas urbanas. Contudo, a situao tem
vindo a alterar-se designadamente na Europa, atravs do desenvolvimento de numerosos
trabalhos de investigao multidisciplinares dedicados s florestas urbanas. Como exemplo
22 - Idem, ibidem. 23 - Idem, ibidem. 24 - Idem, ibidem. 25 - Johnston, M., 1997. The early development of urban forestry in Britain: part I. Arboricultural Journal 21: 107-126 (cit. Konijnendijk, C. C., 2003, p. 15).
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relevante cite-se a aco europeia COST E12 Urban forests and trees 26, que se desenrolou
entre 1997 e 2002, com a participao de 22 pases, sendo Portugal representado pelos
Professores Francisco Castro Rego e Cristina Castel-Branco, e que colocou a floresta urbana
entre os tpicos da agenda cientfica europeia, tendo culminado com a publicao da primeira
obra europeia de referncia sobre a aludida matria27.
O reforo da ateno dispensada nas ltimas dcadas floresta urbana parece poder justificar-
se pelas seguintes razes principais:
1. decrscimo crescente entre a rea ocupada pela floresta urbana e a populao
citadina;
2. deteriorizao evidente da qualidade da paisagem urbana, devido, nomeadamente,
ocupao cada vez maior dos espaos vazios, quintais e logradouros por beto e
asfalto, e crescente poluio atmosfrica e sonora;
3. emergncia crescente de grupos de interesses com preocupaes no mbito do
ambiente e paisagismo;
4. melhoria do nvel de vida e aumento do tempo livre, o que induz nos cidados uma
maior exigncia de espaos de bem-estar e qualidade de vida que os espaos verdes
oferecem em meio urbano.
2.2. CONDIES QUE A CIDADE OFERECE S RVORES E FLORESTA URBANA
2.2.1. INTRODUO
A rua arborizada do sculo XIX, que tem a sua expresso clssica nos Boulevards do Paris de Haussman, nasceu do aumento de trnsito de veculos que se verificou depois da inveno do novo tipo de estradas devido a Mac Adam. A rua passou a ser de macadame com ou sem calada, mas as rvores eram plantadas em passeios de terra batida () As rvores destinavam-se a dar sombra e sobretudo a alegrar a monotonia das cidades que comeavam a crescer (). As condies so hoje bem diversas. A rua foi asfaltada, o pavimento dos passeios tornou-se impermevel e compacto e a atmosfera das cidades foi poluda pelos gases dos motores a gasolina (). A aglomerao de gente foi tal que no s se modificou a temperatura da cidade mas tambm a qualidade das radiaes solares. As rvores, como os homens, tm cada vez piores condies de vida na cidade moderna, o que torna cada vez mais urgente o desenvolvimento de uma poltica sria de espaos verdes que permitam conservar condies razoveis de vida. Mas ao passo que o homem se pode deslocar nos fins-de-semana e no Vero, a rvore no tem frias, est sempre no seu posto28.
As fortes alteraes que se verificam em meio urbano, suburbano e at rural, so motivadas
pela actividade humana, sendo aquelas inquestionavelmente mais frequentes nos centros 26 - Konijnendijk, C.C.; Nilsson, K.; Randrup, T. B.; Schipperijn, J. (Eds), 2005. Urban forests and trees. Springer, Berlin. 27 - Idem. 28 - Cabral, F.C.; Telles, G. R., 1960. A rvore. Centro de Estudos de Urbanismo em colaborao com o Centro de Estudos de Arquitectura Paisagista do Instituto Superior de Agronomia, Lisboa, p. 120.
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urbanos onde, nomeadamente, levam impermeabilizao da superfcie do solo, devido
construo de edifcios e pavimentao de passeios, estradas e parques de estacionamento.
Enquanto que nas reas rurais, a regenerao florestal se encarrega geralmente de repor o
ambiente natural, numa rea urbana as perdas so irreversveis: os solos apresentam-se
compactados, resultantes de terras de escavao e aterro, e por vezes contaminados devido
impermeabilizao da superfcie do solo, a qual vai alterar a qualidade das guas de
escoamento superficial29, na medida em que estas dissolvem ou arrastam muitas substncias
leos, poeiras, lixos, etc. e podem infiltrar-se nos solos urbanos.
Para alm disso, as condies ambientais que as rvores encontram na cidade apresentam
outras adversidades, incluindo modificaes no clima, na qualidade do ar, etc., quando
comparadas com ambientes no urbanizados. Para alm destas diferenas, encontram-se
sujeitas a alteraes registadas ao nvel da luz e do rudo urbano30.
A gesto e manuteno do arvoredo urbano por tudo isto uma tarefa que constitui um desafio
no apenas pelas condies difceis que a cidade oferece ao crescimento das rvores, mas
tambm pelos frequentes conflitos urbanos com que a localizao das rvores se depara.
No presente captulo iremos abordar sumariamente as condies que as rvores encontram na
cidade: factores abiticos e biticos. Apresentando posteriormente uma sugesto de critrios
de seleco de espcies arbreas para a cidade.
2.2.2. FACTORES ABITICOS
No presente ponto descrevem-se sinteticamente os factores abiticos condicionantes das
condies de crescimento das rvores em reas urbanizadas e decorrentes da alterao
artificial das qualidades do habitat natural, as quais contribuem para o stresse e ameaas da
vegetao urbana. As referidas condicionantes incluem o impacte qualitativo e quantitativo dos
diferentes factores locais: clima urbano, poluio do ar, alteraes do ciclo hidrolgico urbano,
e das condies dos solos urbanos31 tais como, propriedades fsicas do solo desfavorveis,
desequilbrio na quantidade de nutrientes disponveis, poluio do solo e constituem uns dos
factores limitantes na seleco da vegetao arbrea, bem como desencadeiam diversos
sintomas nas rvores como se pode sintetizar nas Figuras 2.2. e 2.3.
2.2.2.1. FACTORES CLIMTICOS
As cidades criam o seu prprio clima. Um dos principais factores que contribui para tal
alterao consiste na substituio das caractersticas da superfcie natural por estruturas
29 - Varennes, A., 2003. Produtividade dos solos e ambiente. Lisboa, Escolar Editora, p. 426. 30 - Paolletti, E.; Karnosky, D.; Percy, K., 2002. Urban trees and air pollution. In: Konijnendijk, C.; Schipperijn, J.; Hoyer, K. (Eds) Forestry Serving urbanised societies. IUFRO World, Vienna. Series Vol. 14: 129-159, p. 130. 31 - Sieghardt, M.; Mursh-Radlgruber, E.; Paoletti, E., Couenberg E.; Dimitrakopoulus, A.; Rego, F.; Hatzistahis, A.; Randrup, T.B., 2005. The abiotic urban environment: Impact of urban growing conditions on urban vegetation. In: Konijnendijk, C.C.; Nilsson, K.; Randrup, T. B.; Schipperijn, J. (Eds), 2005. Urban forests and trees, Springer, Berlin, p. 281.
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artificiais com materiais igualmente artificiais. Estas intervenes do Homem apresentam como
consequncia uma alterao da biosfera, com menos cobertura de superfcie verde, de que
decorre uma pronunciada modificao das condies ambientais fsicas, nomeadamente:
radiao, vento, temperatura e humidade (Figura 2.4.). Conforme referido anteriormente, as
rvores e floresta urbana desempenham um papel relevante modificando e amenizando um
pouco os factores climticos alterados pelo Homem.
2.2.2.1.1. Radiao
A luz um dos factores limitantes do processo fotossinttico. Muitas plantas adaptam-se a
diferentes intensidades de radiao, contudo, as rvores, na maioria dos casos, so as plantas
mais altas da paisagem, requerem pleno sol estimando-se em cerca de 6 horas por dia nas
estaes de crescimento. O ambiente urbano com edifcios altos pode criar horizontes
artificiais, limitando o nmero de horas de luz solar que as rvores recebem directamente por
dia32.
A sombra, ao diminuir a actividade fotossinttica, pode induzir uma reduo dos sistemas
areo e radicular. Em consequncia, em certos locais mais ensombrados, pode ser prefervel
no plantar. No entanto, a radiao solar reflectida, quer das paredes dos edifcios quer das
superfcies do solo, contribui para moderar certos efeitos do ensombramento. A iluminao
pblica pode estimular ligeiramente um maior crescimento33.
2.2.2.1.2. Temperatura
As grandes superfcies urbanas so conhecidas pelo seu efeito de ilha de calor. Geralmente
este efeito no constitui um problema para a maioria das plantas, permitindo as referidas
elevaes de temperatura dilatar o perodo de crescimento das rvores, bem como facultar
liberdade para a seleco de espcies mais meridionais. No Vero, elevadas temperaturas,
associadas forte intensidade de radiao solar reflectida, quer pelas fachadas dos edifcios
quer por outras superfcies, podem causar queimaduras nas folhas e no tronco.
Por vezes, para prevenir esse efeito de queimadura, colocam-se ligaduras de tecido de juta,
enroladas ao longo dos troncos das jovens rvores com casca frgil (e.g. Tilia spp., Aesculus
spp., Acer spp.)34.
O efeito de microclima pode tambm provocar uma perda rpida de gua e, em casos
extremos, danificar directamente as folhas. Para alm disto, as rvores encontram condies
de solo restritas, e desta forma pode ser possvel que as razes no consigam assegurar o
fornecimento da gua requerida pelas plantas35.
32 - Trowbridge, P.J.; Bassuk.L., 2004. Trees in the urban landscape, site assessment, design, and installation. John Willey & Sons, Inc., New Jersey, p. 5. 33 - Mailliet, L.; Bourgery, C., 1993. L Arboriculture Urbaine. Institut pour le Dvelopment Forestier, Paris, p. 74. 34 - Idem, ibidem. 35 - Trowbridge, P.J.; Bassuk.L., 2004. Ob. cit., p. 6.
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Figura 2.2. Influncia dos factores abiticos sobre o desenvolvimento das plantas (Adaptada de Agrios, 2005. Ob. cit., p. 359).
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Figura 2.3. Influncia dos factores abiticos sobre o desenvolvimento das plantas (Adaptada de Agrios, 2005. Ob. cit., p. 360).
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A zona das razes pode igualmente ser afectada pela alterao do microclima urbano. Quando
o sistema radicular se encontra fora do solo, as razes tambm so afectadas pela flutuao da
temperatura do ar e frequentemente no esto adaptadas a estas variaes extremas36.
2.2.2.1.3. Vento
Nas cidades, os golpes de vento apresentam frequentemente um efeito de turbilho
provocando vrios estragos. No conjunto, os efeitos do vento fazem-se sentir sobre os
povoamentos mais densos de rvores, mais envelhecidos e ao nvel de todos os pontos mais
fracos de uma rvore: antigas feridas de poda, zonas fragilizadas associadas s ligaes dos
tutores que no se vo adaptando ao crescimento da rvore, zonas de enxerto, zonas de
bifurcao, etc. Deve-se evitar a plantao de espcies de crescimento rpido, consideradas
frgeis, em zonas mais expostas (e.g. Robinia spp., Populus spp., Salix spp.)37.
2.2.2.2. FACTORES HDRICOS
2.2.2.2.1. Excesso de gua no solo
Quando os solos esto saturados e os poros preenchidos com gua, o arejamento afectado e
o potencial redox do solo baixa38. Por conseguinte, altera-se a atmosfera do solo e a
consequente falta de oxignio inibe a respirao das razes e dos microrganismos aerbios.
Por exemplo, um alagamento prolongado na Primavera compromete a actividade da rvore e,
consequentemente, a sua sobrevivncia39 (fenmeno designado asfixia radicular).
Adicionalmente, se o potencial redox descer muito, o io nitrato reduzido a io nitrito e depois
a outros compostos azotados, podendo haver mesmo libertao de gs metano, prejudicial por
contribuir para o efeito de estufa40.
2.2.2.2.2. Secura
A ocorrncia de murchido, durante as horas de maior calor, e o aparecimento de necroses
foliares marginais, traduzem a insuficincia de armazenamento de gua num solo. Como
reaco ao stresse hdrico, certas espcies perdem as folhas at ao fim do ms de Julho
(como, por exemplo, o Castanheiro-da-ndia).41 A repetio de tais fenmenos enfraquece a
rvore e pode conduzir sua decadncia ou mesmo ao seu fim. Os efeitos de uma secura
climtica assumem particular acuidade nas cidades pelas razes seguintes (Figura 2.5.):42
36 - Trowbridge, P.J.; Bassuk.L., 2004. Ob. cit., p. 6. 37 - Mailliet, L.; Bourgery, C., 1993. Ob. cit., p. 74. 38 - Varennes, A., 2003. Ob. cit., p. 53. 39 - Mailliet, L.; Bourgery, C., 1993. Ob. cit., p. 74. 40 - Varennes, 2003. Ob. Cit., p. 53. 41 - Mailliet, L.; Bourgery, C., 1993. Ob. cit., p. 74. 42 - Idem, ibidem.
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ocorre escoamento directo das guas das chuvas para as redes de saneamento de guas pluviais sem penetrar no solo;
os solos urbanos apresentam uma fraca capacidade de penetrao e reteno de gua;
existe dificuldade em aceder toalha fretica pelo sistema radicular.
Figura 2.4. Incidncia sobre o desenvolvimento das rvores do microclima urbano versus ambiente florestal (Adaptada de Mailliet, L.; Bourgery, C., 1993. Ob. cit., p. 75).
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A secura dos solos urbanos difcil de compensar, sobretudo nas rvores de alinhamento em
que no se tenha previsto rede de rega. Em compensao, nos parques, a instalao de um
sistema de rega automtico pode contribuir para manter uma humidade adequada e suprir uma
eventual carncia hdrica das rvores. No entanto, a instalao de sistemas de rega nem
sempre considerada e, alm disso, a gua cada vez mais um recurso raro e caro.43
A plantao de rvores de arruamento (em caldeira) deve prever um sistema de rega (nem que
seja provisrio) pelo menos durante os primeiros 3 a 5 anos para as jovens plantaes
desenvolverem o seu sistema radicular em profundidade44. Prximo de Lisboa, numa
propriedade (Quinta do Brejo) onde se regista uma pluviosidade mdia anual prxima de 750
mm, foram registados dados de crescimento confirmando-se esta situao: pltanos com rega
localizada, nomeadamente rega gota a gota, ao terceiro ano atingiram um porte
manifestamente superior ao de outros pltanos de igual idade e plantados na mesma
propriedade, mas no regados. Embora posteriormente se tenha dispensado a rega, agora
com doze anos de idade ainda mais notria a diferena no que respeita altura e ao DAP
(DAP 30 vs 11 cm, respectivamente).
2.2.2.3. FACTORES ATMOSFRICOS
2.2.2.3.1. Efeitos gerais
Os efeitos dos diferentes poluentes atmosfricos sobre as rvores so difceis de colocar em
evidncia, porque os fenmenos so complexos e os sintomas das patologias derivadas de
cada poluente so prximos45. Pode-se observar na Figura 2.6. a comparao entre o
ambiente urbano e o natural no que composio atmosfrica diz respeito.
Distinguem-se geralmente os poluentes inerentes cidade (dixido de enxofre, xidos de
azoto, azoto molecular, monxido de carbono, partculas e aerossis) e os que provm dos
desperdcios industriais (derivados de flor e de cloro, poeiras das fbricas de cimento, etc.).46
Segundo estudos canadianos, os veculos automveis contribuem com ca. 30% da poluio
urbana47. A combusto dos resduos urbanos privados e pblicos igualmente um dos maiores
contribuintes da poluio. A resistncia das rvores poluio varia com: i) a natureza dos
gases e o tipo de emisso; ii) o estado de desenvolvimento da rvore (uma rvore jovem
mais sensvel poluio); e iii) as condies do meio (sol, clima, nutrio e disponibilidade de
gua).
No entanto, raro que a concentrao individual de cada poluente ultrapasse os limites de
toxicidade (nestas circunstncias e segundo os conceitos adoptados por Varennes48,
43 - Mailliet, L.; Bourgery, C., 1993. Ob. cit., p. 74. 44 - Idem, ibidem. 45 - Idem, p. 77. 46 - Idem, ibidem. 47 - Idem, ibidem. 48 - Campos, L.S. 1998. Entender a bioqumica. Escolar Editora, Lisboa, p. 321.
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deveramos talvez referirmo-nos a contaminantes substncias em concentrao superior ao
que seria de esperar, sem que no entanto causem necessariamente danos). Todavia, a
acumulao de diferentes contaminantes pode induzir a um enfraquecimento crnico das
rvores, cuja resistncia varia de acordo com o meio e o estado fisiolgico geral49.
2.2.2.3.2. Dixido de carbono
O dixido de carbono constitui o gs essencial para a sntese de glcidos durante a
fotossntese (Ciclo de Calvin ciclo fotossinttico de reduo do dixido de carbono a glcidos,
custa do ATP e do NADPH formados a partir da energia luminosa durante a fase luminosa da
fotossntese)50. O dixido de carbono e o vapor de gua atingem o interior das folhas atravs
dos estomas. Caso as plantas se encontrem sob stresse devido falta de gua, os seus
estomas fecham-se com o intuito de evitar grandes perdas de gua51. Nesta situao, a
referida sntese glucdica afectada negativamente e, por conseguinte, tambm o crescimento
das plantas.
2.2.2.4. FACTORES EDFICOS
Os solos urbanos devem ser objecto de uma ateno especialmente cuidada. A sua
preservao e o melhoramento da sua fertilidade condicionam o futuro das rvores das
cidades.
Na arborizao das cidades, mais do que noutras situaes, o solo representa um verdadeiro
capital sem o qual as rvores no se podem desenvolver. No entanto, na cidade o referido
capital est sujeito a muitos factores negativos (Figura 2.7.), sendo de destacar: secura;
desmoronamento de terras; compactao; carncias minerais e salga.52 Acrescem as
contaminaes, quer com substncias inorgnicas quer com compostos orgnicos.
Perto de 80% dos problemas enfrentados pelas rvores nas cidades tm as suas causas nos
solos. As caractersticas e potencialidades dos solos urbanos dependem da sua origem e das
condies em que conseguirem conservar as suas qualidades iniciais. 53
Consoante a histria do centro da cidade (depende da intensidade de interveno), o solo tem
a capacidade de conservar as caractersticas do solo de campo podendo-se denominar de
solos naturais redescobertos. No entanto, a maioria dos casos apresenta solos muito
descaracterizados relativamente aos originais, como por exemplo: i) provenientes de aterros
heterogneos de terras e substratos transportados; ii) solos compactados; iii) solos secos; iv)
solos pobres em matria orgnica; v) solos de composio mineral desequilibrada; e vi) solos
contaminados ou poludos.
49 - Mailliet, L.; Bourgery, C., 1993. Ob. cit., p. 77. 50 - Campos, 1998. Ob. Cit., p. 321. 51 - Trowbridge, P.J.; Bassuk.L., 2004. Ob. cit., p. 5. 52 - Mailliet & Bourgery, 1993. Ob. cit., p. 79. 53 - Idem, ibidem.
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Figura 2.5. Incidncia do factor hdrico sobre o desenvolvimento das rvores em ambiente urbano versus ambiente florestal (Adaptada de Mailliet, L.; Bourgery, C., 1993. Ob. cit., p. 76).
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Figura2.6. Incidncia da poluio sobre o desenvolvimento das rvores em ambiente florestal versus ambiente urbano (Adaptada de Mailliet, L.; Bourgery, C., 1993. Ob. cit., p. 78).
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Um solo compactado apresenta um pequeno dimetro mdio dos poros o que, por um lado,
dificulta a penetrao das razes e, por outro, afecta o movimento de gases, gua e nutrientes
tudo concorrendo para prejudicar o crescimento vegetal. Recomenda-se54 que os solos
destinados ao uso recreativo, nomeadamente se so muito susceptveis compresso, sejam
protegidos com coberturas protectoras como casca de pinheiro ou passeios elevados de
modo a minimizar ou mesmo eliminar a compactao resultante do trfego de pessoas e/ou de
mquinas.
Regra geral complexo e dispendioso tratar os contaminantes presentes no solo, mas
considerando a gravidade de algumas situaes, por vezes imperioso proceder remediao
dos solos. Utilizam-se mltiplos mtodos de remediao in situ ou ex situ, dependendo a
escolha do mtodo das circunstncias, nomeadamente da natureza e do grau de contaminao
e risco que representa.55 interessante assinalar que entre os principais mtodos de
remediao in situ inclui-se a fitorremediao, designadamente a utilizao de determinadas
plantas para remover os contaminantes inorgnicos do solo (chumbo, urnio, selnio, etc.) ou
para estimular a degradao dos contaminantes orgnicos.56
2.2.2.5. OUTROS FACTORES
Outro dos factores negativos para a manuteno da rvore na cidade refere-se aos problemas
estruturais de uma cidade, nomeadamente a proliferao de infra-estruturas nos solos: gs,
gua, cabos elctricos, redes telefnicas, TV cabo, saneamento, etc. A agravar a situao
acrescem as agresses devido a obras municipais e outras a manuteno de uma rvore
raras vezes motivo quer para se alterar a implantao de um projecto e respectiva obra, quer
para se aplicarem as medidas cautelares necessrias para a sua correcta preservao e
conservao57.
54 - Varennes, 2003. Ob. cit., p. 68. 55 - Idem, p. 459. 56 - Idem, ibidem. 57 - Cmara Municipal de Lisboa, s/ data. A rvore no espao urbano. Cmara Municipal de Lisboa, Diviso de Formao, Lisboa, p. 12.
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Figura 2.7. Incidncia das caractersticas dos solos sobre o desenvolvimento das rvores em ambiente florestal
versus ambiente urbano (Adaptada de Mailliet, L.; Bourgery, C., 1993. Ob. cit., p. 83).
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2.2.3. FACTORES BITICOS
As condies ecolgicas impostas pelo estilo de vida urbana, bem como pelas actividades
urbanas, e os seus efeitos desfavorveis, influenciam fortemente o desenvolvimento das
rvores. A presena e o comportamento dos agentes patognicos afectam tambm as rvores,
atravs das pragas e doenas.
A adaptao das rvores ao ambiente urbano responsvel, muitas vezes, pelo
desenvolvimento das rvores em condies de stresse, provocadas por agentes abiticos que
desencadeiam nas rvores processos fisiolgicos anormais seguidos, por vezes, de alteraes
morfolgicas irreversveis, tornando-as vulnerveis ao ataque de parasitas. As referidas
influncias de factores abiticos devem-se, muitas das vezes, a alteraes das condies
ambientais (temperaturas elevadas ou muito baixas, excesso de sais, fugas de gs, etc.) ou a
factores de origem mecnica (danos devidos a automveis, valas de construo, utilizao
incorrecta de tutores, etc.)58.
A presena de doena ou praga, quer em ecossistema agrcola quer em ambiente urbano,
aparece devido a um conjunto de situaes que propiciam a presena do parasita, tais como a
existncia do hospedeiro susceptvel e a ocorrncia de condies edafo-climticas oportunas.
A interveno do homem tambm pode contribuir para a ocorrncia de doenas ou pragas,
designadamente59: i) ao intervir na introduo de espcies vegetais novas (de referir a actual
facilidade de importao de material vegetal, que pode trazer parasitas at ento
desconhecidos na rea de interveno); ii) ao alterar as condies edafo-climticas (e.g.
composio do solo, disponibilidade em gua e em luz).
As leses causadas por factores abiticos e biticos nas rvores, nem sempre so de fcil
identificao, traduzindo-se por sintomas (necroses e cloroses das folhas, cancros nos troncos,
podrides e cavidades dos troncos, podrides das razes, etc.) e sinais (miclio no ritidoma,
carpforos nos troncos e ramos, etc.)60.
A adaptao das rvores ao ambiente urbano induz, frequentemente, o aparecimento de
plantas debilitadas que, quando so atacadas por fungos ou insectos, ficam lesadas esttica e
estruturalmente61.
A aco directa dos parasitas sobre as rvores ocorre sob diversas formas, de destacar: as
deformaes de folhas ou ramos, a queda prematura de folhas, a diminuio do seu valor
esttico e da sua longevidade. No que respeita aos efeitos indirectos da ocorrncia de pragas e
doenas so de um modo geral mais difceis de enumerar e de quantificar, causando
alteraes profundas nas funes desempenhadas pelas rvores, tais como uma intensa 58 - Ramos, P.; Caetano, F.F., 2003. A importncia da fitossanidade na seleco, na gesto e manuteno das espcies arbreas. In: 1 Congresso da Sociedade Portuguesa de Arboricultura, Lisboa, p. 74. 59 - Idem, ibidem. 60 - Idem, ibidem. 61 - Idem, p. 75.
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queda da folha na poca estival e.g., acontece com alguma frequncia nos alinhamentos de
castanheiros-da-ndia, que so alvo de mancha angular (micose causada pelo fungo
Guignardia aesculi (Peck) Stewart) no incio do Vero, perdendo parte da sua folhagem
interferindo nas diversas funes desempenhadas pelas rvores, tais como: fixar os poluentes
atmosfricos, servir de barreira poluio sonora62.
Os inimigos das rvores por vezes limitam a biodiversidade no espao urbano, uma vez que
podem assumir propores de epfitia, impedindo que determinadas espcies possam ser
utilizadas. De destacar o caso da grafiose dos ulmeiros (agente causal Ophiostoma ulmi
(Buisman) Nannf.) que reduziu 70% da populao de ulmeiros no Sul de Inglaterra no final da
dcada de 7063. Em Lisboa, a doena foi assinalada em 1933 em ulmeiros do Jardim
Zoolgico, por um investigador do Laboratrio de Patologia Vegetal Verssimo de Almeida64,
do Instituto Superior de Agronomia.
As doenas e pragas tambm podem trazer efeitos indirectos, tais como a quebra de ramos,
podendo causar acidentes com inmeros prejuzos (e.g. queda sobre uma viatura)65.
Outros tipos de problemas podem ser os determinados por: i) pragas de hempteros-
hompteros (como os afdeos) que produzem uma intensa melada que corrosiva e pode
danificar viaturas, mobilirio urbano, etc., apresentando-se, a ttulo de exemplo, o caso da psila
da olaia ou da psila da tipuana66; ii) insectos que provocam problemas do foro da sade
pblica, sendo de destacar a processionria dos pinheiros (Thaumetopoea pityocampa Schiff.)
e da galerucela dos ulmeiros (Xanthogaleruca luteola (Mler), cujas larvas possuem plos
urticantes que provocam reaces alrgicas nas pessoas e nos animais67 (no caso da referida
processionria, tm-se registado situaes, nomeadamente em estabelecimentos escolares,
que obrigam a interveno mdica e so amplamente difundidas pelos rgos de comunicao
social, o que no raro leva ao arranque dos pinheiros, no obstante existirem no mercado
insecticidas eficientes); iii) podrides do lenho provocadas por fungos basiomicetas, tal como o
aparecimento do fungo Inonotus rickii (Pat.) Reid em alinhamentos de Celtis australis L.68, que
pode limitar a plantao de novos alinhamentos, visto que o referido fungo provoca uma
podrido branca do lenho conduzindo morte das rvores (sendo facilmente transmitido
atravs dos instrumentos de poda) 69.
De facto, o conhecimento dos problemas fitossanitrios deve ser uma componente relevante na
seleco, gesto e manuteno das espcies arbreas, uma vez que as doenas e pragas
62 - Idem, ibidem. 63 - Mittempergher, L.; Fagnani, A.; Ferrini, F., 1998 (cit. Ramos, P.; Caetano, F. F., 2003, p. 75). 64 - Cmara, E.S., 1936 (cit. Ramos, P.; Caetano, F.F., 2003, p. 75). 65 - Ramos, P.; Caetano, F.F., 2003, Ob. cit., p. 75. 66 - Idem, ibidem. 67 - Idem, ibidem. 68 - Melo, I., Ramos, P.; Caetano, M.F.F., 2002. First record of Inonotus rickii (Basiodiomycetes, Hymenochaetaceae) in Portugal. Portugaliae Acta Biol. 20: 265-269 (cit. Ramos, P.; Caetano, F.F., 2003, p. 78). 69 - Ramos, P.; Caetano, F.F., 2003. Ob. cit., p. 78.
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podem comprometer a longevidade das plantas, impedindo que estas cumpram as funes a
que esto destinadas70 (Anexo 2.1.).
Alm disso, o facto das pessoas viverem nas reas urbanas restringe o uso de certos mtodos
de controlo de pragas ou doenas. Por exemplo, bastante difcil podar ou pulverizar rvores
altas em ruas estreitas ou em avenidas muito movimentadas, quando necessria a utilizao
de grandes guindastes, ou difcil efectuar pulverizaes com produtos fitofarmacuticos que
apresentem um certo risco de toxicidade para os seres humanos71.
Geralmente a funo ornamental das rvores, bem como o tipo de estrutura de uma cidade,
determinam a forma das rvores, e subsequentemente o tipo de poda, algumas vezes drstica
e prejudicial, o que contribui para o enfraquecimento das rvores e favorece a entrada e ataque
de agentes patognicos72. Em Portugal, nos meios urbanos comum sujeitar os pltanos a
atarraques severos, o que tem implicaes no mbito da fitossanidade e, adicionalmente,
descaracteriza as rvores, causando-lhes uma alterao esttica.
A proteco sanitria das rvores em ambiente urbano no se deve apoiar apenas em prticas
teraputicas, devendo privilegiar os aspectos profilticos, a comear pela escolha de espcies
reconhecidamente bem adaptadas aos condicionalismos a que vo ser submetidas, com o
aumento de diversidade de espcies arbreas na cidade bem como pelo recurso a prticas
culturais conducentes a um bom vigor das rvores.
70 - Idem, p. 79. 71 - Tello, M.L.; Tomalak, M.; Siwecki, R.; Gper, J.; Motta, E.; Mateo-Sagasta, E., 2005. Biotic urban growing conditions threats, pests and diseases. In: Konijnendijk, C.C.; Nilsson, K.; Randrup, T. B.; Schipperijn, J. (Eds), Urban forests and trees. Springer, Berlin, p. 325. 72 - Idem, ibidem.
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2.3. SELECO E ADAPTAO DAS ESPCIES ARBREAS NA CIDADE
Apresentamos de seguida uma orientao para o estabelecimento de critrios para a seleco
de espcies arbreas para a cidade, seguindo-se dois exemplos de programas para seleco
de espcies arbreas para a cidade de Lisboa. No primeiro exemplo apresentam-se os critrios
considerados por Andresen73, em 1982, para avaliar as rvores de arruamento da cidade de
Lisboa. O segundo constitui um exemplo prtico de plantaes experimentais coordenadas por
Rego & Castel-Branco74, por ocasio da EXPO98 para testar a adaptabilidade de algumas
espcies botnicas ao local de estudo.
2.3.1. CRITRIOS PARA SELECO D AS ESPCIES ARBRE AS
Uma das fases mais importantes para o sucesso de um programa de plantao do arvoredo de
arruamento consiste na seleco cuidadosa de espcies botnicas. Por um lado, tendo em
ateno as condies climticas do local, o tipo de solo, a disponibilidade de gua, o vento, etc.
Por outro lado, tendo em conta tambm o tipo de manuteno que estar disponvel para
assegurar o futuro sucesso das plantaes, bem como a funo lhe est atribuda
(enquadramento, ensombramento, etc.). Na Figura 2.8. apresenta-se um modelo desenvolvido
por Miller75 para orientar a seleco de espcies arbreas na cidade.
Um dos critrios importantes para a seleco da espcie arbrea a disponibilidade dos
viveiros comerciais ou das autarquias. A este propsito, parece relevante citar o Professor Joo
de Carvalho e Vasconcellos, que j em 1943 preconizava a urgncia de estudar, propagar e
comercializar a nossa flora e aplic-la na composio florstica dos espaos verdes: Urge,
pois, que os viveiros do Estado e das Cmaras Municipais criem e propaguem as plantas da
nossa flora, dignas de serem reproduzidas ou multiplicadas e que os viveiristas particulares
sejam convidados a terem, a par de rvores e arbustos exticos dos mais variados pases, as
espcies portuguesas, muitas delas, como dissemos, de rara beleza, para que elas passem a
aparecer com mais frequncia nos nossos jardins e parques e no sejam substitudas por
outras, muitas vezes de inferior aspecto e com certeza muito menos rsticas e adaptadas ao
ambiente.76
73 - Andresen, M.T.L.M.B., 1982. rvores de arruamento de Lisboa, contribuio para a sua classificao. Relatrio Final do Curso Livre de Arquitectura Paisagista, Instituto Superior de Agronomia, Lisboa. 74 - Rego, F., Castel-Branco, C., 1998. A escolha das espcies: da lista referencial s plantaes experimentais. In: Castel-Branco, C.; Rego, F.C. (Eds). O Livro Verde. Expo98, Lisboa. 75 - Miller, R. W., 1997. Ob. cit., p. 230. 76 - Vasconcellos, J.C., 1943. O jardim regional. Cmara Municipal de Lisboa, Lisboa, p.15.
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Figura 2.8. Modelo sugerido para se seleccionarem as espcies botnicas a utilizar em arruamento (Adaptada de Miller, 1997. Ob. cit., p. 231).
De facto, cada vez mais se exige o termo espao verde sustentvel pretendendo uma
excelente integrao na paisagem urbana e onde os custos de manuteno, quer ambientais
quer econmicos, sejam o mnimo possvel. Para se alcanar este propsito um dos requisitos
fundamentais assenta na correcta seleco do material vegetal. Para o efeito cabe aos viveiros
comerciais e municipais desempenhar um papel fundamental na disponibilizao de material
vegetal que cumpra esses requisitos valorizao esttica, biofsica e ambiental do espao
verde urbano.
2.3.2. PRIMEIRO EXEMPLO: RVORES DE ARRU AMENTO DE LISBOA CONTRIBUIO P AR A A SUA CL ASSIF IC AO 77
No referido relatrio Andresen desenvolveu uma metodologia para atribuir uma classificao
para o patrimnio arbreo da cidade de Lisboa, com principal destaque para as rvores de
arruamento considerando as rvores que se encontram em caldeira. O estudo foi estruturado
em trs fases: na primeira parte analisaram-se os problemas da cidade, o funcionamento
fisiolgico do arvoredo bem como as tcnicas existentes de plantao, manuteno e
diagnstico do arvoredo; na segunda parte foram realizados e comentados os levantamentos
do arvoredo existente na cidade de Lisboa nos anos 1929, 1939 e 1981; por ltimo,
desenvolveu-se uma metodologia para atribuir uma classificao a cada uma das espcies
arbreas e estabeleceu-se um critrio para classificar as ruas arborizadas. De seguida iremos
apresentar a forma como Andresen avaliou as espcies arbreas utilizadas em arruamento na
cidade de Lisboa.
77 - Andresen, M.T.L.M.B., 1982. Ob. cit.
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Classificao das espcies arbreas
Foram considerados cinco critrios de classificao das espcies, a saber: beleza;
crescimento; inconvenientes; vantagens ambientais; resistncias.
Para cada um dos critrios foram considerados os seguintes valores: 0,0 (situao menos
favorvel); 0,2; 0,4; 0,6; 0,8; 1,0 (situao mais favorvel). Estes valores aplicaram-se a todos
os critrios, com excepo das quedas de rgos que receberam uma pontuao negativa (-
0,4).
Ao somatrio dos diversos valores correspondeu um total que foi considerado o coeficiente
potencial de cada espcie78. Estes coeficientes foram posteriormente utilizados para a
classificao dos arruamentos.
O facto de nesta classificao no se entrar com o factor idade, levou a que a classificao
fosse considerada potencial. De facto, a idade da rvore apresenta um grande peso no seu
funcionamento. Ou seja, quanto mais idosa for maior a sua susceptibilidade a doenas e
menores os seus crescimentos.
A ttulo de exemplo apresentamos no Quadro 2.3. as grelhas de avaliao propostas por
Andresen para as espcies arbreas de arruamento contendo a avaliao atribuda a quatro
das espcies avaliadas.
Da consulta do Quadro 2.4. pode-se observar a classificao atribuda s principais espcies
arbreas de acordo com o coeficiente potencial de cada espcie. Da referida consulta conclui-
se que o lodo-bastardo (Celtis australis) foi a espcie que obteve a maior classificao,
destacando-se de seguida as seguintes espcies: Tipuana tipu, Grevillea robusta, Aesculus
hippocastanum, Platanus hybrida, Robinia pseudoacacia, Zelkova serrata, Jacaranda ovalifolia,
Sophora japonica e Ginkgo biloba.
Dos resultados obtidos Andresen tece os seguintes comentrios79: de entre as primeiras
espcies classificadas h trs que demonstram grande aptido para a cidade de Lisboa mas
que, no entanto, por observao dos registos do inventrio de 1981, apresentam pouca
representatividade. Estamo-nos a referir Grevillea robusta, Zelkova serrata e Ginkgo biloba.
Os referidos resultados provavelmente devem-se ao facto de: a Grevillea robusta ser uma
espcie de folha persistente; em algumas rvores da espcie Zelkova serrata j se registou a
ocorrncia da grafiose; em relao Ginkgo biloba, apesar de ser um exemplar muito bonito,
mas apresentando um crescimento bastante lento.
78 - Andresen, M.T.L.M.B., 1982. Ob. cit., p. 92. 79 - Idem, p. 95.
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1982
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cit.
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3.
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31
QUADRO 2.4. CLASSIFICAO FINAL DAS ESPCIES ARBREAS PROPOSTA POR ANDRESEN
Espcie botnica Classificao final
Celtis australis 11,0
Tipuana tipu 10,4
Grevillea robusta 10,0
Aesculus hippocastanum 9,6
Platanus hybrida 9,6
Robinia pseudoacacia 9,6
Zelkova serrata 9,6
Jacaranda ovalifolia 9,4
Sophora japonica 9,4
Ginkgo biloba 9,2
Gleditsia triacanhtus 9,2
Juglans regia 9,2
Tilia spp. 9,0
Acer pseudoplatanus 9,0
Fraxinus angustifolia 9,0
Paulownia tomentosa 9,0
Ulmus spp. 9,0
Cercis siliquastrum 8,6
Catalpa bignonioides 8,4
Magnolia grandiflora 8,4
Prunus cerasifera atropurpurea 8,4
Acer negundo 8,2
Melia azedarach 8,2
Koelreuteria paniculata 8,0
Populus canescens 7,2
Populus nigra 6,6
Populus alba 6,4
Fonte: Andresen, M.T.L.M.B., 1982. Ob. cit., p. 96).
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2.3.3. SEGUNDO EXEMPLO: PLANTAES EXPERIMENTAIS EXPO98
As plantaes experimentais da EXPO98 criaram saber () As plantas tiveram de saltar as barreiras do clima, do solo, dos transplantes, etc (). As espcies, que aps a corrida de quatro anos (1994-1998), esto neste momento nas primeiras posies demonstraram j qualidades suficientes para merecerem ser seleccionadas, sem dvidas, para outras maratonas na grande Lisboa. esta consagrao e descoberta de espcies de sucesso que constitui a oferta que a EXPO98, com o Instituto Superior de Agronomia, fez a si prpria e cidade.80
A rea de interveno para a EXPO98 ocupa 330 ha e insere-se numa unidade de paisagem
marcada por uma linha de festo paralela ao rio Tejo, no sentido norte-sul, ocupando uma
distncia mdia de 3 km da margem do rio. Podendo-se caracterizar, antes da interveno, da
seguinte forma: i) terreno de relevo plano, devendo-se esta planura actividade industrial que
ocorreu durante 40 anos nesta zona cidade de Lisboa, e para o qual contriburam os aterros
que se foram realizando durante esse perodo e que puxaram a linha de terra, ganhando cerca
de 300 m de largura ao rio; ii) em relao geologia nos seus terrenos de formao muito
recente, predominam os aluvies e os aterros, sendo as nicas formaes geolgicas naturais
genunas que se apresentavam no Cabeo das Rolas e na rea de Sapal na entrada do Tejo;
iii) sendo a zona mais a norte (limitada pelo rio Tranco) constituda por lamas (aluvio/ sapal)
e a rea mais a sul (limitada pela Avenida Marechal Gomes da Costa), at construo do
aterro, constituda por formaes de areias, areolas e arenitos, bordejados por estreitos
cordes aluvionares81; iv) no que vegetao diz respeito, de referir a presena do
zambujeiro na Encosta do Cabeo das Rolas revelando a vegetao natural da zona antes da
sua industrializao o zambujeiro (Olea europaea sylvestris) uma rvore da associao
vegetal de Lisboa e, em consociao com a carvalhia (Quercus faginea), dominava as zonas
de bosque das colinas arborizadas da paisagem que envolvia o Castelo de S. Jorge82 e a
zona de sapal; v) apresentando-se os seus solos contaminados, constituindo este facto uma
das grandes preocupaes nesta interveno (a descontaminao dos solos foi encarada
como uma das aces prioritrias, tendo tido esta aco uma importncia preponderante para
a arborizao do local, uma vez que a m qualidade dos solos sem dvida uma das causas
do deficiente crescimento vegetal).83
No Plano de Urbanizao para os 330 ha entregues EXPO98 desagregaram-se trs zonas
distintas: os terrenos da Exposio (60 ha); uma rea de renovao urbana e de
desenvolvimento de complexos urbansticos (190 ha) e um amplo parque pblico (80 ha)84. Em
80 - Rego, F., Castel-Branco, C. 1998. Ob. cit., p. 85. 81 - Castel-Branco, C. 1998. A viso. In: Castel-Branco, C.; Rego, F.C. (Eds), O Livro Verde. Expo98, Lisboa, p. 26. 82 - Idem, p. 24. 83 - Idem, p. 29. 84 - Walker, V.; Castel-Branco, C. 1998. O concurso internacional para o Parque do Tejo e Tranco. In: Castel-Branco, C.; Rego, F.C. (Eds), O Livro Verde. Expo98, Lisboa, p. 45.
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1994 foi lanado um concurso para o projecto do Parque que pretendia resolver, entre outros,
os seguintes problemas85:
1. criar uma ampla rea verde de uso pblico frente ao rio;
2. aumentar o valor dos complexos habitacionais das reas urbanas envolventes;
3. corrigir os sistemas poluentes existentes, na altura, que contaminavam as reas
adjacentes e consciencializar as entidades responsveis pela poluio do rio Tranco
atravs da criao de um projecto piloto;
4. proceder a uma reabilitao ambiental atravs da criao de um parque urbano, que
serviria a rea Metropolitana de Lisboa;
5. criar uma rea experimental para definio dos critrios de seleco da vegetao para
a EXPO98, atravs do estudo da resistncia e adaptabilidade de vrias espcies ao
ambiente em estudo.
No caso da EXPO98, em Lisboa, foi possvel testar as espcies in situ porque se puderam
criar reas arborizadas dentro do recinto. Atravs das plantaes experimentais, foi praticvel
com mais de 1000 rvores, pertencendo a 182 espcies, plant-las e avaliar a sua evoluo de
sobrevivncia e a sua resistncia ao transplante. De facto, exigia-se Exposio Mundial de
Lisboa de 1998 que trouxesse mais-valias Arquitectura Paisagista praticada na capital,
nomeadamente no se cingindo plantao da meia dzia de espcies arbreas
garantidamente adaptveis a Lisboa86.
Efectivamente, as plantaes experimentais constituram um dos factores determinantes para o
sucesso da arborizao da EXPO98, no sentido em que permitiram uma correcta seleco das
espcies. A EXPO98 criou condies para gerar o conhecimento que faltava sobre a
adaptabilidade local de um conjunto de espcies menos utilizadas ou esquecidas candidatas.
Com os resultados deste projecto proporcionou-se cidade conhecimento sobre um elenco de
espcies que contribuiu, na sua diversidade de formas e cores, para a beleza dos seus
espaos verdes87.
A componente de investigao deste projecto foi conduzida pelo Instituto Superior de
Agronomia, no mbito do protocolo estabelecido com a EXPO98 em Maio de 1994. No plano
de arborizao88, apresentado em 1994, definiram-se os objectivos das Plantaes
Experimentais:
constituir zonas arborizadas definitivas a partir de 1994, funcionando como as primeiras reas verdes da EXPO98;
avaliar a capacidade de sobrevivncia e sucesso de rvores de diversas espcies, como medida de adaptabilidade s condies locais, nomeadamente aos solos difceis
que era preciso reabilitar.
85 - Idem, ibidem. 86 - Rego, F., Castel-Branco, C. 1998. Ob. cit., p. 71. 87 - Idem, ibidem. 88 - Castel-Branco, C., 1995. Plano de Arborizao. rea Expo Parque EXPO98, S.A., Lisboa.
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2.3.2.1. HIPTESE DAS PLANTAES EXPERIMENTAIS89
A hiptese do projecto de investigao consistia em testar um amplo nmero de espcies, de
forma a aumentar as que ficariam disponveis para a arborizao. O principal objectivo da
experincia consistiu em avaliar as diferentes capacidades de adaptao ao local de uma
ampla diversidade de espcies, bem como a avaliao da sua resistncia ao transplante. Para
tal foi necessrio definir: i) a lista de espcies candidatas; ii) o modo de avaliao da
adaptabilidade; e iii) a distribuio das plantas no espao.
2.3.2.2. AMBIENTE QUE SE DEVERIAM ADAPTAR AS RVORES90
Uma das preocupaes sempre presentes para o desenvolvimento deste projecto era conhecer
o ambiente a que as rvores se deveriam adaptar, para tal foram estudados o clima e os solos.
O clima da zona do local do estudo classifica-se como sendo: temperado (quanto
temperatura mdia anual); ocenico (pela reduo que a proximidade do mar provoca na
amplitude trmica anual); moderadamente chuvoso (quanto precipitao) e hmido (quanto
humidade relativa do ar). Caracterizando-se tambm por um nmero de horas de sol que
ultrapassa por ano as 2,8 mil e a ocorrncia de geadas ser extremamente rara. No entanto, ao
longo do ano, existem variaes importantes, com temperaturas mximas extremas por volta
dos 40C e precipitaes quase nulas no Vero (Figuras 2.9. e 2.10.).
Figura 2.9. Variao anual da temperatura do ar (C). Estao de Cabo Ruivo (1961 a 1987), (Instituto Nacional de Meteorologia e Geofsica In: Rego, F., Castel-Branco, C., 1998. Ob. cit., p. 76).
89 - Rego, F., Castel-Branco, C. 1998. Ob. cit., p. 72. 90 - Idem, p. 75.
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Figura 2.10. Precipitao total para a Estao de Cabo Ruivo (mdias do perodo de 1961 a 1987), (Instituto Nacional de Meteorologia e Geofsica In: Rego, F., Castel-Branco, C., 1998. Ob. cit., p. 76)
O vento foi outro factor importante a considerar, onde a rosa-dos-ventos indica que os ventos
dominantes so de Norte e Noroeste, com valores mdios de velocidade entre 10 e 18 km/h,
podendo ocorrer com frequncia ventos fortes a muito fortes.
No que ao solo diz respeito, foram realizadas anlises que confirmaram a existncia de duas
reas diferenciadas: uma de sapal, com valores elevados de matria orgnica; e outra de
aterro, com baixos valores de matria orgnica. Apresentando ambas as situaes uma textura
argilosa e pH elevado (8-8,5), indicando alcalinidade.
Por se verificar uma elevada heterogeneidade, procedeu-se preparao de misturas de
diferentes terras para as covas de plantao. No obstante, as caractersticas do solo, apesar
de melhoradas, continuaram a ser potencialmente limitantes ao bom desenvolvimento das
rvores como, alis, se pretendia testar com as plantaes experimentais.
2.3.2.3. DELINEAMENTO EXPERIMENTAL91
Na experincia em apreo as plantas foram dispostas de modo a utilizar o maior nmero por
unidade de rea, garantindo uma distncia mnima de 3 m entre rvores. A disposio foi feita
em quincncio, fazendo com que cada rvore se encontrasse a igual distncia das seis
vizinhas, que formavam um hexgono (Figuras 2.11. e 2.12.).
91 - Idem, p. 77.
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Figura 2.11. Disposio das plantas no dispositivo experimental da EXPO98 (Rego, F., Castel-Branco, C. 1998. Ob. cit., p. 77)
Figura 2.12. Esquema do plano de plantao experimental da EXPO98, (Rego, F., Castel-Branco, C., 1998. Ob. cit., p. 77)
A diversidade de espcies arbreas a testar nas plantaes experimentais baseou-se na
listagem clssica publicada por Polunin92, em Andresen93 e na experincia adquirida com o
estudo das plantas existentes em jardins histricos de Lisboa inacessveis na maior parte das
vezes. A lista foi depois ajustada de acordo com o parecer dos projectistas e as
disponibilidades do mercado.
A avaliao foi feita para um universo de 1013 plantas, pertencentes a 182 espcies, tendo a
primeira avaliao de adaptao sido feita numa primeira fase entre Abril de 1995 (aps a
92 - Polunin, O., 1977. Guia de Campo de las flores de Espana. Ediciones mega S.A., Barcelona. 93 - Andresen, M.T.L.M.B., 1982. Ob. cit.
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concluso das plantaes) Figura 2.13. e Maio de 1996, altura em que as plantas foram
transplantadas.
Figura 2.13. Plantaes experimentais da EXPO98 em 1995 (Rego, F., Castel-Branco, C., 1998. Ob. cit., p. 78).
Cada planta foi sucessivamente classificada de acordo com o seu vigor vegetativo (avaliado
visualmente numa escala de 1 a 5) e com a dimenso horizontal e vertical da copa (Figuras
2.14. e 2.15.).
Figura 2.14. Medies a realizar em projeco vertical para avaliar o seu vigor vegetativo (Rego, F., Castel-Branco, C., 1998. Ob. cit., p. 78).
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Figura 2.15. Medies a realizar em projeco horizontal para avaliar o vigor vegetativo (Rego, F., Castel-Branco, C., 1998. Ob. cit., p. 78).
Periodicamente as plantas foram medidas quanto ao vigor, avaliando-se tambm a sua
resistncia operao de transplante.94
2.3.2.4. RESULTADOS 95
A evoluo da mortalidade ao longo dos meses confirmou o Vero, devido s suas
temperaturas elevadas e no obstante o recurso rega, como o perodo mais crtico para as
plantas jovens tanto folhosas como resinosas (Figura 2.16.).
0
5
10
15
20
25
30
35
Abril Maio/Junho
Julho Agosto Setembro Outubro
Sobreviveram
Mortas
Figura 2.16. Mortalidade resinosas vs folhosas (Rego, F., Castel-Branco, C., 1998. Ob. cit., p. 79).
94 - Todos os trabalhos de campo de acompanhamento das plantaes e medies foram da responsabilidade do Instituto Superior de Agronomia e executados por alunos estagirios, entretanto licenciados e fazendo parte dos quadros da EXPO98: a Arq. Paisagista Lusa Noronha e o Eng. Silvicultor Srgio Gaspar. 95 - Rego, F., Castel-Branco, C. 1998. Ob. cit., p. 79.
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Ao acompanhar o desenvolvimento das copas foi possvel estabelecer cartas de copas (Figura 2.17.).
Figura 2.17. Sobreposio de cartas de copas das plantaes experimentais da EXPO98 em 1995 e 1996 (Margarida Tom, In: Rego, F., Castel-Branco, C., 1998. Ob. cit., p. 80)
Foi realizada a avaliao do vigor das diversas espcies, de Abril de 1995 a Fevereiro de 1998.
Os exemplares foram ordenados, do maior para o menor, de acordo com a classificao obtida
na apreciao do vigor, e calculado um valor mdio para cada espcie. O intervalo entre o
maior valor mdio e o menor foi dividido em quatro classes, tendo-se atribudo a classe 1 para
o intervalo com menores valores, at classe 4 para os maiores valores, correspondendo esta
a espcies de excelente adaptao. Obteve-se assim uma sequncia de quatro nmeros, para
os quatro anos de observao, podendo desta forma comparar entre as espcies a evoluo
do seu vigor. E onde a evoluo do primeiro para o segundo ano correspondeu adaptao
das condies do local, enquanto a evoluo do terceiro para o quarto ano (de 1997 para 1998)
correspondeu resposta ao transplante.96
Os resultados obtidos apresentam-se de seguida no Quadro 2.5.
96 - Idem, ibidem.
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QUADRO 2.5. ADAPTABILIDADE DAS ESPCIES TESTADAS NAS PLANTAES EXPERIMENTAIS EXPO98.
Abreviatura Nome botnico Classificao EXPO'98a
ABAL Abies alba 3111ABCO Abies concolor 4111ABKO Abies koreana 3111ABNO Abies nordmanniana 3221ABPI Abies pinsapo 4111ACCY Acacia cyanophylla 3221ACDE Acacia dealbata 4231ACFA Acacia farnesiana 4231ACLO Acacia longifolia 1222ACSE Acca sellowiana 4322ACCA Acer campestre 2323ACNE Acer negundo 1111ACPL Acer platanoides 4212ACPS Acer pseudoplatanus 4322ACSA Acer saccharinum 3322AEHI Aesculus hippocastanum 4323AIAL Ailanthus altissima 3211ALJU Albizia julibrissin 4233ALCO Alnus cordata 2221ALGL Alnus glutinosa 4222ALIN Alnus incana 4211ARAR Araucaria araucana 2111ARHE Araucaria heterophylla 4342ARUN Arbutus unedo 2112ARRO Arecastrum romanzoffianum 1222BAPU Bauhinia purpurea 4232BECE Betula celtiberica 4323BEPA Betula papyrifera 4222BEPE Betula pendula 4122BEUT Betula utilis 3111BRAC Brachychiton acerifolium 2232BRPO Brachychiton populneum 1233BRPA Broussonetia papyrifera 2112CADE Calocedrus decurrens 2221CABE Carpinus betulus 4232CACR Castanea crenata 2211CACU Casuarina cunninghamiana 3221CABI Catalpa bignonioides 3223CAER Catalpa erubescens 2322CEAT Cedrus atlantica 3221CEDE Cedrus deodara 4443CELI Cedrus libani 4343
CEAU Celtis australis 3322
Fonte: Rego, F., Castel-Branco, C., 1998. Ob. cit., p. 81-85.
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QUADRO 2.5. ADAPTABILIDADE DAS ESPCIES TESTADAS NAS PLANTAES EXPERIMENTAIS EXPO98 (Continuao).
Abreviatura Nome botnico Classificao EXPO'98a
CESI Ceratonia siliqua 2231CERSI Cercis siliquastrum 4323CHLA Chamaecyparis lawsonianna 2111CHNO Chamaecyparis nootkatensis 3232CHHU Chamaerops humilis 2232CHSP Chorisia speciosa 2211CILI Citrus limon 2122CINO Citrus nobilis 1211COAV Corylus avellana 3222COCO Corylus colurna 2111CRMO Crataegus monogyna 4332CULE Cupressocyparis leylandii 2221CUGL Cupressus glabra 2222CUMA Cupressus macrocarpa 1221CUSE Cupressus sempervirens 3443DERE Delonix regia 1111ELAN Eleagnus angustifolia 3221ERJA Eriobotrya japonica 2232ERCA Erythrina caffra 3221ERCR Erythrina crista-galli 3221EUCA Eucalyptus camaldulensis 4431EUCI Eucalyptus cinerea 3221EUGL Eucalyptus globulus 4231FASY Fagus sylvatica 3111FIBEG Ficus benghalensis 1221FIBEJ Ficus benjamina 3132FICA Ficus carica 2121FIEL Ficus elastica 4243FIMA Ficus macrophylla 4344FIREL Ficus religiosa 1121FIRER Ficus retusa 4231FIRU Ficus rubiginosa 2222FISI Firmiana simplex 1221FRAN Fraxinus angustifolia 3222FREX Fraxinus excelsior 3222FROR Fraxinus ornus 2322GLTR Gleditsia triacanthus 1221GRRO Grevillea robusta 1232ILAQ Ilex aquifolium 4111JUNI Juglans nigra 3222JUHO Juniperus horizontalis 1222JUOX Juniperus oxycedrus 3221
JUPH Juniperus phoenicea 4232
Fonte: Rego, F., Castel-Branco, C., 1998. Ob. cit., p. 81-85.
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QUADRO 2.5. ADAPTABILIDADE DAS ESPCIES TESTADAS NAS PLANTAES EXPERIMENTAIS EXPO98 (Continuao).
Abreviatura Nome botnico Classificao EXPO'98a
JUVI Juniperus virginiana 2222KOPA Koelreuteria paniculata 3222LAAN Laburnum anagyroides 3211LAIN Lagerstroemia indica 3222LAPA Lagunaria patersonii 3242LANO Laurus nobilis 1222LICH Livistona chinensis 1222MAPO Maclura pomifera 1121MAGR Magnolia grandiflora 3232MASO Magnolia soulangeana 3122MAST Magnolia stellata 2221MADO Malus domestica 4111MASY Malus sylvestris 4221MAIN Mangifera indica 1111METO Metrosideros tomentosa 4321MOAL Morus alba 4322MONI Morus nigra 4333OLEU Olea europaea 4222OSCA Ostrya carpinifolia 3222PAAC Parkinsonia aculeata 4243PAPE Parrotia persica 1222PATO Paulownia tomentosa 3211PHCA Phoenix canariensis 3232PHDA Phoenix dactylifera 2222PHRE Phoenix reclinata 3331PHDI Phytolacca dioica 4222PILE Pistacia lentiscus 3111PLHI Platanus hispanica 3331PLOR Platanus orientalis 4442POAL Populus alba 3321PODE Populus deltoides 3211PONI Populus nigra 3332POSI Populus simonii 3221POTR Populus tremula 4212POCA Populus x canescens 4232PRAR Prunus armeniaca 4111PRCE Prunus cerasifera atropurpurea 3211PRDO Prunus domestica 4111PRLA Prunus laurocerasus 2222PRLU Prunus lusitanica 1111PRPA Prunus padus 4221PRPE Prunus persica 1111
PTFR Pterocarya fraxinifolia 1111
Fonte: Rego, F., Castel-Branco, C., 1998. Ob. cit., p. 81-85.
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QUADRO 2.5. ADAPTABILIDADE DAS ESPCIES TESTADAS NAS PLANTAES EXPERIMENTAIS EXPO98 (Continuao).
Abreviatura Nome botnico Classificao EXPO'98a
PUGR Punica granatum 3222PYCO Pyrus communis 3111QUCE Quercus cerrioides 3211QUPA Quercus palustris 2323QUPE Quercus petraea 1111QUPU Quercus pubescens 4111QUROB Quercus robur 3221QUROT Quercus rotundifolia 2221QURU Quercus rubra 3322QUSU Quercus suber 3221RHTY Rhus typhina 4212ROPS Robinia pseudoacacia 2111SAAL Salix alba 3111SAAT Salix atrocinerea 1111SASE Salix x sepulcralis 4331SCMO Schinus molle 4221SOJA Sophora japonica 4422SOAR Sorbus aria 3111SOAU Sorbus aucuparia 3111SODO Sorbus domestica 4111SOTO Sorbus torminalis 3223TAAF Tamarix africana 3331TAGA Tamarix gallica 3211TAPA Tamarix parviflora 4321TAPE Tamarix petandra 3331TICO Tilia cordata 2111TIPL Tilia platyphyllos 3222TITO Tilia tomentosa 2211TITI Tipuana tipu 4231TRFO Trachycarpus fortunei 2222ULPU Ulmus pumila 1122WAFI Washingtonia filifera 1333WARO Washingtonia robusta 1232
ZESE Zelkova serrata 1111
a Os quatro algarismos referentes a cada espcie botnica correspondem, por ordem cronolgica, classificao (de 1 a 4) atribuda respectiva capacidade de adaptao ao local, revelada durante os quatro anos de observao (1995 a 1998)
Fonte: Rego, F., Castel-Branco, C., 1998. Ob. cit., p. 81-85.
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2.3.2.5. APRECIAO GLOBAL
O exame do Quadro 2.5. permite-nos ressaltar, numa primeira anlise, as seguintes
concluses mais relevantes:
a avaliao efectuada a 182 espcies arbreas permitiu destrin-las, grosso modo, em dois grupos distintos quanto sua adaptabilidade;
o grupo que denotou melhor capacidade de adaptao incluiu espcies j anteriormente reconhecidas como tal, por exemplo, Aesculus hippocastanum, Betula
celtibrica, Catalpa bignonioides, Cupressus sempervirens, Ginkgo biloba, Morus nigra,
Phoenix canariensis, Phoenix dactylifera, Pinus pinea, Trachycarpus fortunei, bem
como o Celtis australis, Cercis siliquastrum, Populus alba, Populus nigra, Populus x
canescens, julgamos de salientar que as cinco ltimas espcies atrs enumeradas
constam da lista de rvores predominantes nos arruamentos de Lisboa (vide Quadro
5.7.). Adicionalmente e completado o exame com a leitura do Quadro 5.7., foram
reveladas espcies tambm com boas caractersticas de adaptao, mas at ento
insuficientemente conhecidas ou mesmo no utilizadas em arruamentos, tais como, por
exemplo, Albizzia julibrissin, Brachychiton populneum, Parkinsonia aculeata, Quercus
palustris, Quercus rubra, Sorbus torminalis.
O grupo que compreende as espcies com deficiente adaptabilidade s condies experimentadas, tem a virtude de orientar futuros trabalhos de seleco de rvores de
arruamento para a cidade de Lisboa.
2.3.4. CONCLUSES
As condies fsicas que a cidade oferece rvore so sem dvida os principais factores
limitantes da sua seleco. Outro factor a ter em conta que quanto melhor forem as
condies iniciais de instalao do arvoredo mais sucesso ir ter o seu desenvolvimento.
Para alm da correcta seleco e instalao das espcies fundamental que a cidade tenha
um bom planeamento e gesto urbana de forma a que a localizao e a quantidade de
arvoredo seja a mais indicada e com uma configurao que no interfira com os edifcios, infra-
estruturas nem com as vias rodovirias de uma cidade. O conhecimento do tipo de
manuteno disponvel, a funo que o arvoredo pretende desempenhar (ensombramento,
enquadramento, etc.), so factores a considerar para a seleco de espcies.
Quanto seleco do arvoredo, a experincia adquirida ao longo dos anos dispensa um
conhecimento til para definir uma seleco emprica das espcies arbreas a utilizar no
ambiente em que se adquiriu a experincia.
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Tambm o projecto desenvolvido por Andresen e as plantaes experimentais da EXPO98
representam metodologias teis para se conhecer o comportamento das plantas, em ordem
seleco das rvores de arruamento. No entanto, as plantaes experimentais facultam um
teste rpido para a introduo de novas espcies quando se trata de testar a sua adaptao
edafoclimtica sendo porm condicionadas pelos custos econmicos, razo por que
usualmente aplicado a um nmero restrito de plantas e de reas, o que no assegura contudo
uma extrapolao sem riscos para outras reas.
Uma outra forma de avaliar o desempenho das rvores na cidade e ajudar a decidir sobre as
melhores espcies arbreas para os espaos urbanos, reside no recurso a modelos de
quantificao e avaliao do arvoredo urbano, os quais, porm ficam condicionados s
espcies j existentes na rea em estudo. o caso dos modelos apresentados no captulo 4 e
depois desenvolvidos nos captulos seguintes atravs do programa STRATUM e sua
adaptao e aplicao cidade de Lisboa. Ao aplic-lo a Lisboa pretende-se estudar e avaliar
a estrutura do arvoredo existente na cidade, podendo tambm, atravs de simulaes, orientar
qual a melhor composio arbrea futura para a cidade.
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R V O R E S E F L O R E S T A U R B A N A D E L I S B O A
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3. BENEFCIOS PROPORCIONADOS PELAS RVORES E FLORESTA URBANA
3. 1. INTRODUO
As funes da rvore, mata e sebe viva na paisagem, considerando tanto os espaos rurais e naturais como os espaos urbanos e industriais, ou ocupados por infra-estruturas, so as de garantir a presena de vida silvestre, promover a mais conveniente circulao da gua e do ar, manter o equilbrio dos ecossistemas, assegurar a fertilidade dos campos, contrabalanar com a sua presena, o artificialismo do meio urbano que tanto afecta a sade psicossomtica das populaes, e ainda a de valorizar a escala e a proporo dos volumes edificados. () A rvore, isolada ou constituindo matas, montados, olivais, sebes e debruando as margens de rios e ribeiras, est presente em todas as paisagens tradicionais portuguesas (). Tambm nas cidades, desde ensombramento as carreiras dos terrenos de feira, as avenidas e alamedas, os jardins e parques pblicos, os quintais e jardins privados, est presente desde h muito. S agora, a impermeabilizao dos quintais (logradouros) e a reduo do espao pblico a reas meramente residuais, consequncia da mxima densidade das construes e do traado omnipresente das infra-estruturas virias, vem expulsando a rvore da cidade97.
No presente captulo pretende-se apresentar uma reviso bibliogrfica sobre os conhecimentos
actualmente disponveis acerca dos benefcios e usos das rvores e das florestas urbanas na
Europa e nos Estados Unidos da Amrica. Para tal procedeu-se a uma compilao crtica de
numerosos estudos publicados sobre o referido assunto. Muitos estudos de referncia, bem
como exemplos citados na bibliografia da especialidade, comprovam igualmente que as
rvores devem ser encaradas como uma importante riqueza no ambiente urbano.
A apreciao dos benefcios proporcionados pelas rvores e florestas urbanas pode diferir de
cidade para cidade. Por exemplo, na Europa o recreio e os benefcios estticos so
tradicionalmente considerados mais importantes nos pases nrdicos, a utilizao de rvores
como barreira contra ventos fortes mais relevante na parte Noroeste, e a utilizao da
vegetao para proporcionar sombra particularmente valorizada nos pases de clima mais
quente, nomeadamente os mediterrnicos98.
Com adequado planeamento, desenho e gesto, os espaos verdes, e em particular as rvores
e florestas urbanas, podem proporcionar inmeros e importantes benefcios para a sociedade
(vide Quadro 3.1.), cabendo relevar as vertentes ecolgica, esttica, social e econmica.
Contudo, tambm existem potenciais custos e, tal como com todos os ecossistemas,
numerosas interaces devem ser entendidas para definir se a sociedade pretende optimizar a
97 - Cabral, F.C.; Telles, G. R., 1999. A rvore em Portugal. Assrio & Alvim, Lisboa, p. 10 - 11. 98 - Tryvinen, L.; Pauleit, S.; Seeland, K.; Vries, S. 2005. Benefits and uses of urban forest and trees. In: Konijnendijk, C.C.; Nilsson, K.; Randrup, T. B.; Schipperijn, J. (Eds), 2005. Urban Forests and Trees, Springer, Berlin, p. 82.
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