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Basicamente, dentro do âmbito da Lingüística Formal, as propostas teóricas acerca dasintaxe adverbial podem ser divididas em duas grandes visões analíticas, a saber: asTeorias da Adjunção Baseada Semanticamente (TABS) e as Teoria dos EspecificadoresFuncionais (TEF). Compondo essas duas perspectivas teóricas, podem ser ressaltadas asseguintes teorias: as hipóteses de JACKENDOFF (1972), de POLLOCK (1989), de ERNST(2006), de LAENZLINGER (1998), de COSTA (1999) e de CINQUE (1999). A maior partedessas teorias acerca da sintaxe adverbial fundamenta-se na perspectiva da adjunçãobaseada semanticamente, notadamente as propostas de JACKENDOFF (1972), ERNST(2006) e COSTA (1999). Por sua vez, o outro grande paradigma de análise da sintaxeadverbial denominada de Teorias dos Especificadores Funcionais é representado pela tesede LAENZLINGER (1998) e, sobretudo, pela tese de CINQUE (1999). Nesta dissertação demestrado, após tecer uma revisão bibliográfica acerca de todas essas propostasformalistas de estudo da sintaxe adverbial, adotamos a tese de CINQUE (1999) de que ossintagmas adverbiais preenchem posições sintáticas de especificadores de diferentesprojeções funcionais (de Tempo, Aspecto, Modo/Modalidade, Número e Voz). Essa tese écomumente denominada de Hierarquia Linear Universal (HLU). Nela, CINQUE propõe aexistência de aproximadamente 32 projeções funcionais nas quais os sintagmas adverbiaispreenchem a posição de argumento externo (especificadores). Essa proposta é, também,denominada de cartografia do IP, sendo que o IP é a camada na qual devem ocorrer,justamente, os núcleos funcionais do verbo e o licenciamento de traços argumentais taiscomo Caso e Concordância (agree), segundo RIZZI (1997). Nosso corpus de análise écomposto pelos advérbios predicativos citados em ILARI et al. (1990) e os exemploscitados pelos autores lidos, além daqueles outros criados a partir da intuição de falantesnativos da língua portuguesa do Brasil. Na sua classificação semântica, ILARI et al. divideos advérbios predicativos de constituintes em quatro subclasses, a saber: qualitativos,intensificadores, modalizadores e aspectualizadores. Partindo, então, da HLU, propomosposicionamentos sintáticos para os sintagmas adverbiais pertencentes a cada uma dessassubclasses semânticas. Com base na pesquisa desenvolvida, assim, argumentamos em prolda tese de CINQUE como hipótese teórica de maior poder de adequação explicativa.
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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA - UFBA
INSTITUTO DE LETRAS - ILUFBA
DEPARTAMENTO DE FUNDAMENTOS PARA O ESTUDO DAS LETRAS
PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM LETRAS
PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM LNGUA E CULTURA - PPGLinC
Av. Baro de Jeremoabo, 147. Campus Universitrio de Ondina. CEP: 40.170-290. Salvador - BA.
Tel.Fax: (71) 3283-6238. E-mail: pgletba@ufba.br
POR: PAULO ROBERTO PEREIRA SANTOS
OS SINTAGMAS ADVERBIAIS PREDICATIVOS DE CONSTITUINTES NO PORTUGUS BRASILEIRO:
UMA PERSPECTIVA CARTOGRFICA DO IP.
SALVADOR,
2011
UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA - UFBA
INSTITUTO DE LETRAS - ILUFBA
DEPARTAMENTO DE FUNDAMENTOS PARA O ESTUDO DAS LETRAS
PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM LETRAS
PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM LNGUA E CULTURA - PPGLinC
Av. Baro de Jeremoabo, 147. Campus Universitrio de Ondina. CEP: 40.170-290. Salvador - BA.
Tel.Fax: (71) 3283-6238. E-mail: pgletba@ufba.br
POR: PAULO ROBERTO PEREIRA SANTOS
OS SINTAGMAS ADVERBIAIS PREDICATIVOS DE CONSTITUINTES NO PORTUGUS BRASILEIRO:
UMA PERSPECTIVA CARTOGRFICA DO IP.
Dissertao apresentada ao Programa de Ps -
graduao em Letras e Lingstica, do Instituto
de Letras da Universidade Federal da Bahia,
como requisito parcial para obteno do grau
de Mestre em Letras e Lingstica.
Orientadora: Ilza Maria de Oliveira Ribeiro.
SALVADOR,
2011
Sistema de Bibliotecas da UFBA
Santos, Paulo Roberto Pereira.
Os sintagmas adverbiais predicativos de constituintes no portugus brasileiro: uma
perspectiva cartogrfica do IP / por Paulo Roberto Pereira Santos. - 2011.
180 f.
Inclui anexos.
Orientadora: Prof. Dr. ILza Maria de Oliveira Ribeiro.
Dissertao (mestrado) - Universidade Federal da Bahia, Instituto de Letras, Salvador, 2011.
1. Lngua portuguesa - Brasil - Sintaxe adverbial. 2. Lngua portuguesa - Brasil - Sintaxe.
3. Lngua portuguesa - Gramtica. I. Ribeiro, Ilza Maria de Oliveira. II. Universidade Federal da
Bahia. Instituto de Letras. III. Ttulo.
CDD - 469.5 CDU - 811.134.36
Paulo Roberto Pereira Santos. Os sintagmas adverbiais predicativos de constituintes no portugus brasileiro: uma perspectiva cartogrfica do IP. 180 folhas.
Dissertao apresentada como requisito parcial para obteno do Grau de Mestre em Lngua e Cultura (Sintaxe Gerativa) no Instituto de Letras da Universidade Federal da Bahia.
Aprovada em 27 de maio de 2011.
BANCA EXAMINADORA TITULAR:
1- Prof Dr. Ilza Maria de Oliveira Ribeiro (PPGLinC-UFBa) (Presidente da Banca e orientadora) _____________________________________________________
2- Prof Dr. Snia Maria Lazzarini Cyrino (PPL/IEL-UNICAMP) (Avaliadora externa) ______________________________________________________
3- Prof Dr. Danniel Carvalho (PPGLinC-UFBa) (Avaliador interno) ______________________________________________________
DEDICATRIA
minha me, Ana Maria.
AGRADECIMENTOS
A(os)...
minha me, Ana Maria, por tudo que foi e tem sido na minha existncia terrena, guerreira incansvel dos frutos do vosso ventre, fortaleza forjada no amor materno, sem a qual no seria o que sou;
minha grande av, dona Maria (in memoriam), no melhor lugar que com certeza sei que ela est agora no outro lado do segredo da existncia humana, matriarca maior, segunda me, que procriou e ajudou a construir uma famlia digna;
minha tia Maria Ida, por tanto que acho que nunca lhe conseguirei ser grato na medida exatamente devida e correspondente;
Ao meu tio Pedro (in memoriam) e sua esposa e companheira, minha tia Hija, por um dia, quando preciso, terem feito por mim o que no deixariam de fazer por um de seus filhos;
Aos amigos, pelos incentivos verbais, pelo sentimento de torcer por mim, e pelas companhias nas poucas horas do cio e do entretenimento necessrio sade humana dos estudantes;
minha orientadora, professora doutora Ilza Maria de Oliveira Ribeiro, por guiar muito os meus passos na Sintaxe Gerativa;
Coordenao do Programa de Ps-Graduao em Lngua e Cultura, antigo Programa de Ps-Graduao em Letras e Lingstica (PPGLL), pelo apoio institucional necessrio;
agncia de fomento e apoio pesquisa cientfica no Brasil CAPES Coordenao de aperfeioamento de pessoa de nvel superior, pelo financiamento desta pesquisa por meio de bolsa de ps-graduao (mestrado strictu sensu), sem a qual a realizao deste estudo no seria vivel, ou, ao menos, tornar-se-ia muito rdua;
minha famlia (me e irmos) pela pacincia, pela colaborao moral e, principalmente, pelo respeito mtuo que, apesar de todas as diferenas de personalidades, sempre esteve presente em nossa convivncia domstica.
s colegas de mestrado e de orientadora Isis Barros, companheira de viagem e workshop, e Paloma Moore, pela ajuda na realizao da traduo do abstract.
E, por fim, aos verdadeiros grandes escritores da literatura mundial com os quais j pude ter tido contato nesta vida, por atravs da arte da palavra conseguir tocar em almas e transformar vidas.
Em suma: as formas no so descobertas nem invenes, no so idias platnicas nem fices; so recipientes construdos especialmente para os fenmenos (modelos). E a cincia terica no nem verdadeira nem fictcia, mas sim formal (projetam modelos).
FLUSSER, Vilm (2007)
Transportamo-nos, porm, ao nosso tempo. O homem , ainda (porque, seguramente, no foi Aristteles que o fez assim), o animal que a natureza dotou de linguagem: dotou-o de voz, dotou-o da capacidade de articular sons com significado e de organiz-los como linguagem; dotou-o, pois, dos processos mentais com os quais organiza as regras constitutivas da gramtica da lngua. Todo homem exercita a linguagem e, com ela, cumpre a sua vocao, instituindo a sociedade poltica. Instituda essa sociedade, instalam-se outras necessidades relativas ao sistema e ao funcionamento da lngua, desde a de explicitar os processos mentais que subjazem ao funcionamento lingstico, at de regulamentar esse funcionamento numa dada lngua, ou, mesmo, num dado momento da histria da lngua.
NEVES, Moura (2002)
RESUMO Basicamente, dentro do mbito da Lingstica Formal, as propostas tericas acerca da sintaxe adverbial podem ser divididas em duas grandes vises analticas, a saber: as Teorias da Adjuno Baseada Semanticamente (TABS) e as Teoria dos Especificadores Funcionais (TEF). Compondo essas duas perspectivas tericas, podem ser ressaltadas as seguintes teorias: as hipteses de JACKENDOFF (1972), de POLLOCK (1989), de ERNST (2006), de LAENZLINGER (1998), de COSTA (1999) e de CINQUE (1999). A maior parte dessas teorias acerca da sintaxe adverbial fundamenta-se na perspectiva da adjuno baseada semanticamente, notadamente as propostas de JACKENDOFF (1972), ERNST (2006) e COSTA (1999). Por sua vez, o outro grande paradigma de anlise da sintaxe adverbial denominada de Teorias dos Especificadores Funcionais representado pela tese de LAENZLINGER (1998) e, sobretudo, pela tese de CINQUE (1999). Nesta dissertao de mestrado, aps tecer uma reviso bibliogrfica acerca de todas essas propostas formalistas de estudo da sintaxe adverbial, adotamos a tese de CINQUE (1999) de que os sintagmas adverbiais preenchem posies sintticas de especificadores de diferentes projees funcionais (de Tempo, Aspecto, Modo/Modalidade, Nmero e Voz). Essa tese comumente denominada de Hierarquia Linear Universal (HLU). Nela, CINQUE prope a existncia de aproximadamente 32 projees funcionais nas quais os sintagmas adverbiais preenchem a posio de argumento externo (especificadores). Essa proposta , tambm, denominada de cartografia do IP, sendo que o IP a camada na qual devem ocorrer, justamente, os ncleos funcionais do verbo e o licenciamento de traos argumentais tais como Caso e Concordncia (agree), segundo RIZZI (1997). Nosso corpus de anlise composto pelos advrbios predicativos citados em ILARI et al. (1990) e os exemplos citados pelos autores lidos, alm daqueles outros criados a partir da intuio de falantes nativos da lngua portuguesa do Brasil. Na sua classificao semntica, ILARI et al. divide os advrbios predicativos de constituintes em quatro subclasses, a saber: qualitativos, intensificadores, modalizadores e aspectualizadores. Partindo, ento, da HLU, propomos posicionamentos sintticos para os sintagmas adverbiais pertencentes a cada uma dessas subclasses semnticas. Com base na pesquisa desenvolvida, assim, argumentamos em prol da tese de CINQUE como hiptese terica de maior poder de adequao explicativa para a explicao do posicionamento sinttico dos sintagmas adverbiais nas lnguas naturais.
Palavras chaves: Sintagmas adverbiais predicativos; Teoria dos especificadores; Projees funcionais; Hierarquia Linear Universal; Teoria da Gramtica; Sintaxe adverbial.
ABSTRACT Basically within the scope of Formal Linguistics, the theoretical proposals about the adverbial syntax can be divided into two broad analytical views, namely Semantically Based Adjunction Theory (SBA) and the Functional Specifiers Theory (F-Spec). Composing these two theoretical perspectives, the following theories may be pointed out: Jackendoff (1972)s, POLLOCK (1989)s, ERNST (2006)s, LAENZLINGER (1998)s, COSTA (1999)s and Cinque (1999)s hypotheses. Most of these theories of adverbial syntax are based on the perspective of Semantically Based Adjunction, especially the Jackendoff (1972)s, ERNST (2006)s and Costa (1999)s proposals. In turn, the other major paradigm for the analysis of adverbial syntax called Functional Specifiers Theory is represented by the LAENZLINGER (1998)s thesis and, especially, by the CINQUE (1999)s thesis. After making a literature review of all these formalist proposals of adverbial syntax study, we adopted the CINQUE (1999) thesis, which proposes that adverbial phrases fill specifier syntactic position of different functional projections (Tense, Aspect, Mode / Modality, Number and Voice). In this thesis which is commonly called Universal Linear Hierarchy (ULH). CINQUE proposes that there are approximately 32 functional projections where the adverbial phrases fill external argument positions (specifiers). This proposal is also known as IP cartography, and IP is the tier where both the functional heads of the verb and the licensing of features such as Case Argument and Agreement (agree) occur, according to RIZZI (1997). Our analysis corpus is composed of the predicative adverbs mentioned in ILARI et al. (1990) and the examples quoted by the authors we have read before, besides those created through the intuition of native Brazilian Portuguese speakers. In its semantic classification, ILARI et al. divides the predicative adverbs of constituents into four sub-classes, namely: qualitative, intensifiers, modals and aspecters. Based on the ULH, we propose that syntactic positions for adverbial phrases belong to each of these semantic subclasses of adverbial phrases. Based on the research developed here, we argue for CINQUEs thesis as theoretical possibility with greater explanatory adequacy to explain the syntactic positioning of adverbial phrases in natural languages. Keywords: Predicative adverbial phrases; Specifiers Theory; Functional Projections; Universal Linear Hierarchy; Grammar Theory; Adverbial Syntax.
LISTA DE ABREVIATURAS UTILIZADAS
AdvPs Adverbs Phrases (Sintagmas Adverbiais)
AL Aquisio da Linguagem
ASC Articulatory System-Conceptual
DLP Dados Lingsticos Primrios
E-Language External language
FF Forma Fontica
FL Forma Lgica
GBT Government Binding Theory
GTs Gramticas Tradicionais
GU Gramtica Universal
I-Language Internal Language
LA Language acquistion
LAP Language acquisition program
LAD Language acquisition device
Lngua-E Lngua externalizada
Lngua-I Lngua internalizada
LF Logic Form
P&P Teoria dos Princpios e Parmetros
PF Phonetic Form
PFI/FI - Principle of Full Interpretation
PPT Principles and Parameters Theory
PLD Primary Language Data
PM Programa Minimalista
CIS Conceptual-Intentional System
TRL Teoria da Regncia e Ligao
TABS Teoria(S) da Adjuno Baseada Semanticamente
TEF Teoria(S) dos Especificadores Funcionais
UG Universal Grammar
Mood speech act Ncleo de modo de ato de fala
Mood evaluative Ncleo de modo avaliativo
Mood evidential Ncleo de modo evidencial
Mod epistemic Ncleo de modalidade epistmica
T(Past) Ncleo de tempo passado
T(Future) Ncleo de tempo futuro
T(anterior) Ncleo de tempo presente
Mood irrealis Ncleo de modo realis/irrealis
Mod aleth necess Ncleo de modalidade altica de necessidade
Mod volition Ncleo de modalidade raiz de volio
Mod obligation Ncleo de modalidade raiz de obrigao
Mod ability/permiss Ncleo de modalidade raiz de habilidade/permisso
Asp habitual Ncleo de aspecto habitual
Asp repetitive (I) Ncleo de aspecto repetitivo
Asp frequentative (I) Ncleo de aspecto freqentativo
Asp celerative (I) Ncleo de aspecto celerativo
Asp terminative Ncleo de aspecto terminativo
Asp continuative Ncleo de aspecto continuativo
Asp perfect Ncleo de aspecto perfeito (perfectivo)
Asp retrospective Ncleo de aspecto retrospectivo
Asp proximative Ncleo de aspecto aproximativo
Asp durative Ncleo de aspecto durativo
Asp progressive Ncleo de aspecto progressivo
Asp prospective Ncleo de aspecto prospectivo
Asp completiveSg Ncleo de aspecto completivo singular
Asp completivePl Ncleo de aspecto completivo plural
Voice Ncleo de voz verbal
Asp celerative (II) Ncleo de aspecto celerativo II
Asp repetitive (II) Ncleo de aspecto repetitivo II
Asp frequentative (II) Ncleo de aspecto freqentativo II
Asp completive (II) Ncleo de aspecto completivo II
SUMRIO CAPTULO 1 INTRODUO________________________________________________PG.15 1.1 - O OBJETO DE ESTUDO ________________________________________________________PG.15 1.2 - A ESTRUTURA DA DISSERTAO ______________________________________________PG.17 CAPTULO 2 - O MODELO TERICO-METODOLGICO FORMAL________PG.19 2.1.1 - A TEORIA E O MODELO GERATIVISTAS _____________________________________PG.19 2.1.2 - OS NVEIS DE ADEQUAO TERICA _______________________________________PG.24 2.2 - O PROGRAMA MINIMALISTA __________________________________________________PG.29
CAPTULO 3 OS ADVRBIOS NOS ESTUDOS FORMALISTAS DA
LINGUAGEM__________________________________________________________________ PG.35 3.1 INTRODUO____________________________________________________________PG.35 3.2 - O ESTUDO DE JACKENDOFF (1972) ____________________________________PG.36 3.3 - O ESTUDO DE POLLOCK (1989) ________________________________________PG.39 3.4 - O ESTUDO DE ERNST (2006) ___________________________________________PG.44 3.5 - O ESTUDO DE LAENZLINGER (1998) ___________________________________PG.47 3.6 - O ESTUDO DE COSTA (1999) ____________________________________________PG.57 3.7.0 - A PROPOSTA DE CINQUE (1999) ________________________________________PG.61 3.7.1 - SINTAGMAS ADVERBIAIS (ADVPS) COMO ESPECIFICADORES (SPECS)_______PG.65 3.7.2 - AS CATEGORIAS DE TEMPO, ASPECTO E MODO (TAM)____________________________________________________________________PG.70 3.7.3 - AS PROJEES FUNCIONAIS DA SENTENA _________________________________PG.81 3.7.4 - A HIERARQUIA UNIVERSAL DOS NCLEOS FUNCIONAIS VERSUS OS SINTAGMAS ADVERBIAIS _____________________________________________________________PG.103 3.7.5 - RATIFICANDO A PROPOSTA DE CINQUE _________________________________PG.110 3.8 - CONCLUSO ____________________________________________________________PG.117
CAPTULO 4 - OS ADVPS PREDICATIVOS (ILARI ET ALLI,
1990)_________________________________________________________________________PG.118 4.1 - INTRODUO _____________________________________________________________PG.118 4.2 - OS PREDICATIVOS DE DISCURSOS ___________________________________________PG.122 4.3.0 - PREDICATIVOS DE SENTENAS ____________________________________________PG.123 4.3.1 - OS PREDICATIVOS DE CONSTITUINTES _____________________________________PG.124 4.3.2 - OS SUBGRUPOS DE PREDICATIVOS DE CONSTITUINTES ______________________PG.126 4.4 - CONCLUSO ______________________________________________________________PG.129 CAPTULO 5 - O POSICIONAMENTO SINTTICO DOS ADVPS PREDICATIVOS
DE CONSTITUINTES _______________________________________________________PG.130 5.2 INTRODUO ______________________________________________________________PG.130 5.2.1 - O POSIONAMENTO DOS ADVPS PREDICATIVOS DE CONSTITUINTES _________PG.131 5.2.2 - O POSICIONAMENTO DOS QUALITATIVOS __________________________________PG.131 5.2.3 - O POSICIONAMENTO DOS INTENSIFICADORES _____________________________PG.139 5.2.4 - O POSICIONAMENTO DOS MODALIZADORES _______________________________PG.147 5.2.5 - O POSICIONAMENTO DOS ASPECTUALIZADORES ___________________________PG.159 5.3 CONCLUSO________________________________________________________________PG.163 6 - CONSIDERAES FINAIS_____________________________________________PG.164
7 - REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS____________________________________PG.166
8 - ANEXOS ________________________________________________________________PG.173
[15]
Captulo 1 Introduo
O objetivo central deste captulo fornecer uma apresentao da minha
pesquisa, detalhando o modelo terico-metodolgico adotado, o objeto de estudo, o
corpus de anlise utilizado, a estrutura da dissertao e a base terica que me serve de
guia.
1.1 O objeto de estudo Os advrbios constituem, certamente, uma das classes lexicais menos estudadas
e que mais geram controvrsias tericas tanto por parte dos lingistas quanto pelos
gramticos tradicionais. Isso ocorre, sobretudo, devido ao fato de que, por algum
perodo, os advrbios ficaram relegados a um segundo plano dentro dos estudos da
linguagem humana, sendo tidos, muitas vezes, como uma classe lexical acessria e at
dispensvel da constituio da arquitetura sinttica bsica das lnguas naturais. Esta a
funo dos chamados termos acessrios da orao, desempenhada pelos adjuntos da
sentena (adnominais ou adverbiais), como nos ensinaram as gramticas normativas
tradicionais (GTs) (cf. ROCHA, 1989; BECHARA, 2004; CUNHA e CINTRA, 2007).
Dessa forma, vrias so as subclasses ou subtipos de palavras apontadas pelos
gramticos como adjuntas aos ncleos essenciais da orao: sujeito e predicado.
Contudo, sob essa roupagem de classe de palavras acessrias, escondeu-se por
muito tempo o fato de que nem todas as palavras que comumente eram ditas como
pertencentes a essa classe denominada de advrbios ou, at mesmo, a uma das
subclasses pensadas pela GTs comportavam-se sinttica e semanticamente de maneira
uniforme e homognea. Isso decorre principalmente do fato de que os advrbios no
compem uma classe unvoca de palavras. Na verdade, tais itens lexicais mantm com
os demais elementos presentes na sentena relaes muitas mais interdependentes e
primitivas do que supunham aqueles que prescrevem a linguagem humana. A idia
[16]
principal a de que os advrbios mantm uma relao de escopo1
Com a entrada da noo de escopo lingstico, que, na verdade, no se deve
especificamente aos estudos dos itens adverbiais, mas est presente em praticamente
todas as demais relaes sintticas (ou sintagmticas) lingsticas, pode-se afirmar que o
estudo dos advrbios, ento, busca entender a relao de escopo que h entre os
advrbios e os demais constituintes sintticos. Essa relao acontece, sobretudo, nos
nveis mais altos da sentena localizados acima do verbo (VP), como se ver ao longo
deste texto, da, podendo, at mesmo, afetar a sentena inteira como um todo.
com os demais
elementos constituintes da sentena, podendo ou no predicar sobre esses.
Exemplos de diferenas de escopo adverbial so encontrados nas sentenas a
seguir:
(i) Geralmente, Lucas vai ao cinema com a namorada.
(ii) Lucas geralmente vai ao cinema com a namorada.
(iii) Lucas vai, geralmente, ao cinema com a namorada.
(iv) Lucas vai ao cinema, geralmente, com a namorada.
(v) Lucas vai ao cinema com a namorada, geralmente.
Dentro deste mbito de discusso terica que o presente trabalho se posiciona.
Intenciona-se aqui estudar o ordenamento e o posicionamento dos advrbios na lngua
portuguesa brasileira, mas sempre com vistas estruturao universal das lnguas
naturais. Para tanto, um ligeiramente amplo percurso terico ser percorrido, buscando
entender as diversas perspectivas tericas que foram forjadas acerca do objeto de estudo
referido e que foram desenvolvidos notadamente dentro do prisma da corrente
lingstica denominada de gerativista.
Espera-se que, ao fim da leitura deste texto, perceba-se que a compreenso da
sintaxe adverbial est para alm de somente entender corretamente o ordenamento de
apenas um nico dado grupo de itens lexicais, mas, muito mais, perpassa a questo do
1PIRES DE OLIVEIRA (2001, pg.194) define o escopo como intuitivamente, o conjunto de contedo que uma operao semntica afeta. (...) Um operador tem escopo sobre outro quando este ltimo est na rea de atuao do primeiro; em outros termos, quando o primeiro operador est mais alto na rvore de derivao.
[17]
entendimento generalista e mais amplo da prpria organizao cognitiva da linguagem.
Sendo assim e j ultrapassando essa brevssima introduo, segue-se para um,
igualmente breve, comentrio acerca da estrutura da dissertao.
1.2 A estrutura da dissertao
Inicia-se esta dissertao com uma reviso do modelo terico-metodolgico
gerativista, na perspectiva chomskiana, tentando seguir um percurso diacrnico de
apresentao que prossegue desde as primeiras idias principais at os
desenvolvimentos ou desdobramentos mais recentes e contemporneos destas. Isto
compe o captulo 2 a seguir. No entanto, esta reviso no se pretende como um texto
didtico de discusso muito aprofundada do modelo formal gerativista dos estudos
lingsticos, mas apenas serve como um comentrio introdutrio de apresentao que
intenciona pontuar os principais pontos tericos do modelo em questo que sero
utilizados ao longo do texto.
Em seguida, faz-se um afunilamento terico abordando especificadamente as
diversas perspectivas tericas surgidas dentro do modelo terico formalista cujo objeto
central de estudo os advrbios. Isto compe o captulo 3, que subdividido em
diferentes sees e subsees com temticas apropriadas.
Logo aps, no captulo 4 seguinte, aborda-se de maneira pontual (e afunilando
ainda mais o recorte terico do estudo presente) os advrbios predicativos, apresentando
exemplificadamente para o portugus brasileiro (PB) as suas quatro subclasses
propostas.
No captulo 5, ento, tem-se a discusso central deste texto, j que nossa
temtica de estudo justamente o ordenamento dos sintagmas adverbiais predicativos
de constituintes no PB. Assim, so teorizadas as supostas posies sintagmticas
ocupadas por cada uma das quatro subclassificaes dos advrbios predicativos de
constituintes, com base na comparao e na equivalncia com a tese cartogrfica dos
advrbios como especificadores das projees funcionais para a zona do IP.
[18]
Por fim, aps, seguem as consideraes finais do meu texto, ressaltando as
principais questes levantadas ao longo da explanao, enfatizando o poder do potencial
de adequao explicativa da perspectiva terica assumida e apontando para os futuros
rumos e/ou caminhos tericos que, certamente, podero estar por vir na minha
caminhada profissional acadmica com base na escolha do objeto de estudo em questo
e do modelo terico escolhido especificadamente para abord-lo.
[19]
Captulo 2 - O modelo terico-metodolgico gerativista
Neste captulo, intenciona-se abordar a corrente dos estudos da linguagem que
nos serve de modelo, notadamente, aquela que segue uma perspectiva terico-
metodolgica formalista, representada, sobretudo, pela sintaxe gerativa. Para tal,
discorre-se, partindo das idias iniciais acerca dos estudos da linguagem humana, sobre
os principais pressupostos basilares nos quais a teoria gerativa est fundamentada desde
seus modelos primordiais at alcanar a sua mais recente verso, na qual se ancora esta
pesquisa: o minimalismo.
2.1 - A teoria e o modelo gerativista. 2
Os estudos acerca da linguagem e, em particular, das lnguas humanas so de
longa tradio histrica e surgem desde pelo menos o perodo histrico da Antigidade
Clssica junto Filosofia (NEVES, 2002). O estudo das gramticas das lnguas aparece
como uma forma de adequar (uma tchne) o uso lingstico a normas e padres estticos
que tinham como finalidade ltima somente alcanar o ideal abstrato do belo e puro
para fins de comunicao. Essa a origem longnqua das modernas gramticas
prescritivo-normativas, ou, simplesmente, gramticas tradicionais (GTs), das lnguas
modernas, as quais so em sua maior parte todas devedoras dessa tradio greco-latina.
Desde ento, os estudos acerca da linguagem foi-se desenvolvendo ao longo dos
sculos posteriores, chegando mesmo a compor, na Idade Moderna, o objeto central de
estudo de uma nova cincia acadmica ou campo cientfico de pesquisa: a Lingstica.
Entretanto, foi somente na segunda metade do sculo XX passado, por volta dos meados
do final da dcada de 50, que os estudos lingsticos sofreram uma das suas maiores
2 Utilizaremos, neste captulo, as abreviaes realizadas a partir da lngua inglesa, pelo fato de que elas j so tradicionalmente conhecidas entres os profissionais da rea da lingstica gerativa e sua alterao para novas abreviaes em lngua portuguesa poderia causar alguns equvocos na compreenso.
[20]
transformaes, atravs do surgimento da teoria da Sintaxe Gerativa 3
. Ou, como se
afirma em CHOMSKY (2006, pg.1):
Os paradigmas lingsticos predominantes na primeira metade do sculo XX centravam sua ateno na langue saussuriana, um objeto social do qual os falantes individuais tinham apenas um domnio parcial. A partir da dcada de 50, a gramtica gerativa mudou o foco da pesquisa lingstica para os conhecimentos lingsticos possudos pelos falantes individuais e para a faculdade de linguagem, a capacidade especfica da espcie para dominar e usar uma lngua natural. Dentro da proposta dos estudos lingsticos da escola da Sintaxe Gerativa, ou
simplesmente gerativismo, a noo de gramtica ganha uma nova dimenso em seu
significado. Para tais estudos, a noo de gramtica passa a designar no meramente um
conjunto de regras prescritivas e normativas do uso correto e bem feito da lngua,
de acordo com as regras socialmente estabelecidas pela sua comunidade de falantes,
como fora em suas origens na Antigidade Clssica, mas, gramtica, agora, passa a
designar um objeto mental de estudos que representa uma capacidade cognitiva
especfica da espcie humana para formular, utilizar e compreender as sentenas de uma
determinada lngua natural, assim como depreendemos da afirmao de RADFORD
(1997, pg.2): grammar as the study of the principles wich govern the formation and
interpretation of words, phrases and sentences.4
A noo de gramtica, dessa forma, dentro da perspectiva do gerativismo,
compreendida como um objeto cognitivo, como o estudo da competncia gramatical ou
do sistema internalizado na mente e crebro humanos aquilo que (CHOMSKY, 1994,
pg.41) denomina de lngua internalizada, ou doravante somente lngua-I. O
conhecimento gramatical, ento, definido como algo tcito, portanto pertencente ao
3 A Teoria da Gramtica Gerativa em seu incio, no final da dcada de 50, recebia a denominao de Gramtica Gerativa Transformacional, denominao que remete concepo da poca de que todas as sentenas em uma determinada lngua natural eram geradas a partir de transformaes, por meio das chamadas Regras de Transformao, de algumas outras sentenas principais e matrizes. Assim, por exemplo, sentenas na voz passiva eram geradas a partir de regras de transformao exclusivas a esse fenmeno, a partir de sentenas na voz ativa. 4Traduo minha: Gramtica como o estudo dos princpios que governam a formao e interpretao de palavras, sintagmas e frases.
[21]
nvel psicolgico do subconsciente, e no explcito, fazendo parte do nvel psicolgico
do consciente.
Uma evidncia para tanto o fato de que nenhum ato de ensino especfico
requisitado para o desenvolvimento de uma determinada lngua natural humana
qualquer. Basta, para tanto, que as crianas em fase de Aquisio da Linguagem
(doravante LA) sejam expostas aos chamados Dados Lingsticos Primrios (de agora
em diante, PLD) 5
Assim, pode-se afirmar que o falante nativo de uma dada lngua natural j possui
uma predisposio inicial para adquirir uma lngua, isto , j possui um conhecimento
tcito prvio da gramtica de sua lngua, de como formar e interpretar as palavras, as
categorias gramaticais, os sintagmas e as sentenas. Essa teoria recebe o nome de
Hiptese inatista
.
6
Do fato de que nenhum processo de ensino especfico necessrio para que as
crianas, em fase de LA, aprendam a falar e compreender as sentenas da lngua da
comunidade de falantes em que elas estejam inseridas, conjuntamente ao fato de que a
aquisio e o desenvolvimento lingsticos delas se faro de forma natural e eficaz (se
nenhum outro problema cognitivo e/ou fisiolgico qualquer estiver envolvido),
postulada a existncia de uma Faculdade da Linguagem
(HI) da LA.
7
Admitindo, ento, a FL como um Programa de Aquisio da Linguagem (LAP),
a criana j nasce com um mecanismo ou capacidade biolgica, que inata ao seres
humanos, para adquirirem qualquer lngua natural atravs da simples exposio aos
PLD. A existncia de uma FL leva a postular que deva existir, ento, no prprio
crebro-mente de todos os humanos, um mecanismo cognitivo que possibilita que todos
(FL).
5 Alm dos Dados lingsticos primrios, alguns tericos do gerativismo tambm discutem se os dados da chamada Evidncia negativa, compostos por aquelas sentenas que a criana no escuta na fase de aquisio, desempenha algum papel relevante no complexo processo de Aquisio da Linguagem humana (cf. RAPOSO, supra). 6 A Hiptese inatista uma proposta racionalista que se contrape a diversas outras correntes de pensamento terico acerca do processo de aquisio cognitiva da linguagem pelos seres humanos, a exemplo das Teorias Behavioristas, do Conexionismo, do Scio-Cognitivismo e do Scio-Interacionismo (cf. SANTOS, 2006, pg.216). 7 Utilizaremos a sigla FL em portugus, a exceo do que viemos fazendo com as demais, para no confundir com LF, Logical Form.
[22]
esses seres venham a aprender uma determinada lngua natural qualquer sem maiores
esforos.
Pode-se pensar, assim, que a lngua-I a resultante da juno de dois
componentes: um lxico e um sistema de princpios (regras, operaes) que operam
recursivamente sobre os itens do lxico e sobre as expresses complexas que so
formadas a partir destes (CHOMSKY, 1999b, pg.18). justamente a este sistema de
princpios que se denomina de Sistema Computacional da linguagem humana. Da,
dentro do quadro terico do gerativismo postular-se que todos os seres humanos
possuem um sistema computacional constitudo por meio de uma Gramtica Universal
(UG) em seus crebros-mente.
A UG pode ser compreendida como um equipamento, mecanismo ou habilidade
cognitiva, pertencente unicamente espcie humana, que est disponvel a esses seres
atravs da FL, possibilitando, subseqentemente, uma aprendizagem das lnguas
naturais atravs de uma exposio inicial aos PLD (input).
Algumas questes pertinentes surgem a partir das propostas tericas do
gerativismo. Dentre elas, citam-se aquelas a seguir 8
:
(i) Como ocorre a aprendizagem espontnea fruto da simples exposio aos
PLD que culmina no domnio total de uma lngua natural?
(ii) Em que momento cognitivo exato se d a LA? Ela ocorre de uma vez,
totalmente, ou gradualmente, aos poucos?
(iii) Por quanto tempo dura a LA? At em que momento a criana capaz de
adquirir uma lngua natural somente com base nos PLD?
(iv) Quais os mecanismos e propriedades que subjazem a constituio da UG
e da FL?
8Logicamente, todas essas questes no sero respondidas aqui neste breve espao do nosso texto. Entretanto, a partir do prximo captulo (Cap.3) entraremos, notadamente, em um campo temtico de discusso que est relacionado de maneira direta com as indagaes levantadas, sobretudo, em (iv) e (v), e que so centrais no ponto de vista terico adotado por ns neste texto.
[23]
(v) Como explicar a diversidade de lnguas humanas existentes j que todas
elas so fruto do mesmo mecanismo cognitivo humano definido como
UG?
O esquema representativo (1), assim, do processo de LA, dentro do quadro
terico da teoria gerativa que ficou conhecido como Princpios e Parmetros (P&P) o
seguinte, segundo proposto por HAEGEMAN (1994, pg.16) 9
:
Esquema (1)
No esquema (1) acima, representa-se o processo de LA. Assim, a criana,
atravs de uma exposio inicial lngua circundante em seu meio ambiente social, tem
uma experincia da linguagem que far com que ela escolha os valores paramtricos
binrios disponveis na UG como realizados na constituio da gramtica especfica da
sua lngua no esquema (1) denominado lngua X. Tal processo denominado o input
lingstico. Em seguida, aps o processo de seleo paramtrica da lngua X (rpido,
considerando que, apesar de toda a complexidade envolvida neste processo, o falante
adquire o vocabulrio elementar e a sintaxe bsica da sua lngua no decorrer de um
espao temporal relativamente curto), a criana j ter construdo mentalmente um
sistema gramatical cognitivo que a gramtica especfica da sua lngua nativa X. Essa
segunda etapa do processo de LA denominada do output lingstico. Sendo assim, o
input da gramtica da lngua X caracteriza-se como a experincia lingstica inicial
9Mais tarde veremos que nas mais recentes modificaes realizadas dentro da perspectiva terica minimalista esse quadro ser representado de maneira um pouco diferenciada (cf. CHOMSKY, 1999b, 2002, 2006; e (RADFORD, 1997).
Triggering Experience Language X
UG
(with parameters)
Core Grammar
Language X
[24]
processada pela FL durante o processo de LA, enquanto o output da FL a gramtica da
lngua X que est sendo adquirida.
2.1.1 - Os nveis de adequao terica.
CHOMSKY (1994) prope que quatro propriedades so apontadas como
fundamentais para as teorias lingsticas. Aqui elas so retomadas a partir da
explanao resumida de RADFORD (1997), por motivos de facilitao da exposio:
(i) Adequao descritiva (pg.4):
A adequao descritiva satisfeita quando se consegue descrever e delimitar as
sentenas gramaticais das agramaticais de uma dada lngua particular humana e,
tambm, quando se descreve quais as interpretaes relevantes que essas sentenas tm
(RADFORD, 1997, supra):
Given that a grammar of a language is a model of the competence of a fluent speaker of the language, and given that competence is reflected in intuitions about the grammaticality and interpretation, an important criterion of adequacy for a grammar of any natural language is that of descriptive adequacy 10
.
Entretanto, enquanto o lingista descritivo quer elaborar to somente descries
das gramticas de lnguas particulares, o lingista terico quer elaborar uma Teoria da
gramtica, ou seja, uma descrio das possibilidades e impossibilidades estruturais de
todas as lnguas naturais humanas, no somente de certas gramticas (lnguas)
particulares. Ou, ainda, nas palavras de RADFORD (supra):
10Traduo minha: Dado que uma gramtica de uma lngua um modelo da competncia do falante fluente da lngua(gem), e dado que a competncia refletida em intuies sobre a gramaticalidade e a interpretao, um critrio importante de adequao para a gramtica de qualquer lngua natural o da adequao descritiva.
[25]
While the concern of the descriptive linguist is to devise grammars of particular languages, the concern of the theoretical linguist is to devise a theory of grammar. A theory of grammar is a set of hypotheses about the nature of possible and impossible grammars of natural (i.e. human) languages: hence, a theory of grammar answers questions like: what are the inherent properties which natural language grammars do and dont possess? 11 Dessa forma, assim como h critrios de descrio das gramticas particulares
(os critrios de adequao descritiva) tambm h critrios que devem estar presentes na
descrio de todas as lnguas naturais humanas.
(ii) Universalidade
O critrio da universalidade afirma que uma teoria da gramtica deve permitir
elaborar descries adequadas (adequao descritiva) de todas as lnguas naturais para,
assim, desenvolver uma teoria da UG que especifique suas propriedades. Ele culmina
justamente no terceiro critrio: a adequao explanatria.
(iii) Adequao explanatria
O critrio da adequao explanatria afirma, justamente, que uma teoria da UG
deve explicar as propriedades universais que a UG tem. Todavia, no basta apenas
descrever os padres lingsticas universais, mas tambm explic-los em suas
propriedades fundamentais. Da a importncia do critrio de adequao explanatria e
de sua caracterstica principal que a de restringir a amplitude explanatria da teoria
11Traduo minha: Enquanto a preocupao do lingista descritivo elaborar gramticas de lnguas particulares, a preocupao do lingista terico elaborar uma teoria da gramtica. Uma teoria da gramtica um conjunto de hipteses acerca da natureza das gramticas possveis e impossveis de lnguas naturais (i.e. humanas). Da, uma teoria da gramtica responde questes como: quais so as propriedades inerentes que as gramticas de lnguas naturais possuem e no possuem?
[26]
para ter escopo analtico exclusivamente sob o seu objeto central de estudo. Chama-se a
essa caracterstica do critrio de adequao explanatria de restrio mxima 12
A restrio mxima afirma que a descrio lingstica deve ser to geral que d
conta de explicar o mecanismo de funcionamento de todas as lnguas naturais, mas, ao
mesmo tempo, seja to especfico a ponto de dar conta de descrever s e somente s a
linguagem humana e mais nenhum outro tipo de linguagem (as linguagens da cincia da
computao, a linguagem animal, as lnguas artificiais o esperanto e outras
linguagens e sistemas comunicativos que no se constituem como lnguas naturais, por
exemplos).
.
(iv) A aprendibilidade
O quarto e ltimo critrio apresentado por RADFORD (1997), retomando os
conceitos de CHMOSKY (1994), traduziu-se, aqui, livremente como o da
aprendibilidade13
A teoria dos P&P, nascida nos anos 80, fundamenta-se, ainda, em alguns
conceitos-chaves, como o da gramtica modular
. Nesse critrio, prescreve-se que a gramtica descrita deve dar contar
do fato de que as crianas em fase de LA aprendem rapidamente uma determinada
lngua natural em um curto perodo de tempo. Dessa forma, os princpios presentes na
UG no podem ser em nmero ilimitado ou infinito, nem tampouco terem propriedades
extremamente complexas, j que a marcao paramtrica pela criana se d de forma
espontnea, rpida e autnoma em um espao temporal.
14
12 Traduo livre minha dos vocbulos ingleses restrictive, constrained.
(CHOMSKY, 1998), (RAPOSO,
1992) e (MIOTO, 2003, pg.23). Neste, afirma-se que os componentes da gramtica
devem ser analisados como mdulos autnomos, independentes entre si, no sentido de
que so governados por suas prprias regras e no sofrem influncia direta dos outros
13 Traduo livre minha do vocbulo ingls learnability. 14 A questo acerca de ser a gramtica cognitiva humana (UG) modular ou no gera grandes debates, discusses e pontos de vista antagnicos, j que as mais recentes pesquisas nas neurocincias contemporneas tm demonstrado que o crebro humano mantm uma complexa e intrigante rede de interconexes e ligaes diretas entre as suas mais diferentes reas componentes (cf. CHOMSKY 1998), dentre outros.
[27]
mdulos mentais (como o da memria, da msica, das artes, do raciocnio lgico etc.).
Alm desse, outro conceito muito ressaltado dentro do modelo dos P&P o da
recursividade, que afirma que o processo de gerao ou construo das sentenas d-se
de forma recursiva e ilimitada na mente humana. A importncia de tal conceito
fundamenta-se no fato de ele fornecer uma explicao para a criatividade lingstica
dos falantes, propriedade tida como uma das mais importantes caractersticas das
lnguas naturais.
O processo de LA, assim, explicado, fornecendo uma resposta apropriada a
questo (v) colocada anteriormente (cf. pg.21), atravs da noo de princpios e
parmetros lingsticos.
A FL composta por Princpios gerais vlidos para todas as lnguas naturais e
por Parmetros, que so os princpios ou propriedades especficas de cada uma das
diferentes lnguas naturais, servindo para dar conta de explicar a diversidade lingstica
humana. Com isso, as gramticas de uma determinada lngua natural qualquer, a
exemplo do portugus, francs, holands ou alemo, so os resultados da
marcao/escolha de parmetros particulares dessas lnguas atravs das opes
(normalmente disponveis em forma de algoritmos binrios positivos ou negativos [+
ou -]) dos princpios universais da UG. O esquema (2) a seguir, ento, o
representativo do modelo de gramtica adotando no P&P, na verso at agora
explicitada:
(2)
LXICO
SINTAXE
FONOLOGIA SEMNTICA
[28]
A teoria dos P&P, criada em meados dos anos 80, como j se disse, pode ser
dividida em duas grandes fases: a primeira, denominada de Teoria da Regncia e
Ligao15
Da juno de todos aqueles quatro critrios de adequao da descrio
lingstica terica expostos no incio desta seo, portanto, surge o fato de que uma
teoria da gramtica, na perspectiva do lingista terico, deve realizar-se com a
utilizao de um aparato tcnico mnimo (da, portanto, o qualificador minimalista) para
fornecer uma caracterizao descritiva e explanatoriamente adequada, completa,
satisfatria e condizente do fenmeno lingstico estudado, utilizando-se, contanto, do
mnimo arcabouo terico necessrio. Disso, advm a proposta do atual Programa
Minimalista, que nada mais do que, seno, um desenvolvimento contemporneo das
idias do modelo dos P&P.
(TRL), que perdurou durante toda a dcada de 80 at o incio dos anos 90; e a
segunda, o Programa Minimalista (MP), que se estende desde o incio da dcada de 90
at o tempo presente atual (CHOMSKY, 1999b).
2.2 - O Programa Minimalista
O objetivo central desta subseo demonstrar como o modelo terico do
Programa Minimalista (MP, desenvolvido a partir do ano de 1995), que serve de base
para o desenvolvimento da proposta de anlise do nosso objeto de estudo, um
desenvolvimento recente das idias j esboadas no modelo dos P&P anteriormente,
bem como apresentar os principais conceitos tericos chaves que so adotados em nosso
texto.
O MP no se constitui enquanto um arcabouo terico totalmente novo e
diferenciado dos P&P anterior. Mais que isso, antes, tal programa constitui-se como um
desenvolvimento mais recente daquele antigo modelo terico gerativista a partir da
retomada e da colocao de novas indagaes e questes metodolgicas.
15A Teoria da Regncia e Ligao (TRL) s vezes tambm denominada de Teoria da Regncia e Vinculao na traduo feita em lngua portuguesa.
[29]
Ao longo da sua histria, a teoria gerativa tem passado por diversas
transformaes. Assim, houve o modelo inicial da Gramtica Gerativo-
Transformacional (a partir do incio em 1957), seguido dos modelos da Teoria Padro
(Standard Theory, a partir de 1965) e da Teoria Padro Ampliada (Extended Standard
Theory, de 1973 at meados de 1983), at chegar teoria dos P&P (a partir de
1986/1987 at o desenvolvimento do PM atual de 1995 em diante), j visto brevemente.
O MP surge, ento, dentro das mais recentes perspectivas de CHOMSKY
(1999b, 2002, 2005b, 2006) de otimizar e aumentar o potencial da adequao
descritiva e, sobretudo, principalmente, da adequao explanatria da teoria gerativa
atravs da exigncia de simplicidade, elegncia, economia e simetria dentro deste
modelo terico. Enfim, neste modelo, a antiga noo j h muito tempo presente na
cincia da linguagem de Economia Lingstica16
Entre as inovaes tericas do MP, est o fim das estruturas profundas e das
estruturas superficiais presentes desde o incio do modelo gerativo-transformacional at
o P&P. Os antigos nveis de representaes lingsticos compostos pela Forma Lgica
(doravante LF, do original Logical Form) e Forma Fontica (doravante PF, de Phonetic
Form)
retorna com fora total e
desempenhando um papel centralmente relevante.
17
Entretanto, agora, tanto o Sistema articulatrio-conceptual (ASC) quanto o
Sistema conceitual-intencional (CIS) so gerados aps o momento de converso da
sentena. Esse momento de converso denominado de Spell-out por CHOMSKY
(1999b, p.268, 269). Uma definio conceitual sucinta de Spell-out -nos dada em
(RADFORD, 1997, p.172):
permanecem. Contudo, essas representaes designadas de nveis de interface,
passam a ser denominadas, respectivamente, de Sistema Sensrio-Motor (ou
Articulatrio-Conceptual, posteriormente) e de Sistema Conceptual-Intencional (ou
Conceitual-Intencional, posteriormente).
16Para uma discusso mais completa da noo de Economia Lingstica (cf. CHOMSKY, 1999), particularmente o captulo 2 Algumas notas sobre a economia das derivaes e das representaes (pg.197); e (SCHAFF et alli, 1975). Esse ltimo tece uma interessante anlise comparativa entre a noo de economia nas Cincias Econmicas e na Lingstica estruturalista. 17Decidi manter a sigla original nesses dois casos especficos para evitar equvocos, a exemplo de utilizar ao mesmo tempo FL tanto para Faculdade da Linguagem quanto para Forma Lgica.
[30]
(...) the point at which the phrase structures generated by the processes of selection and merge feed into two different components - an PF component which processes their phonetic features, and an LF component which processes their grammatical and semantic features. 18 As teorias X-Barra e mova - , que eram pontos centrais do modelo terico de
P&P, so substitudas pelas novas noes de merge 19, concordncia (ou Agr 20
Outra noo que perde espao no MP a antiga idia de construo ou gerao
de sentenas, que d nome teoria gerativa. Em seu lugar, agora, surge a noo de
derivao das sentenas por fases (CHOMSKY, 1999a). Dessa forma, as sentenas j
no so mais construdas ou geradas simplesmente a partir da entrada lexical, mas o que
ocorre a derivao de sentenas a partir do processo inicial da numerao lexical at o
momento de spell-out, no qual as sentenas convergem para as representaes em PF e
LF j mencionados.
, do
ingls agreement) e mova somente, enxugando ainda mais o arcabouo terico
gerativista. A operao merge ou concatenar, ento, passa a ocupar um papel de
destaque no MP. O merge realizado atravs da concatenao ou unio de dois
elementos lexicais quaisquer, atravs do processo de numerao ou seleo lexical, no
qual as entradas lexicais so rotuladas ou etiquetadas, formando um nico constituinte;
ou pela concatenao ou unio de dois constituintes formando um novo constituinte
maior.
A representao grfica mais adequada, ento, do processo de derivao de
gramticas (e no mais de gerao ou construo de gramticas), em substituio
18 Traduo livre minha: O ponto em que a estruturas sintagmticas geradas pelos processos de seleo e merge gera/alimenta dois diferentes componentes um componente PF o qual processa seus traos fonticos, e um componente LF o qual processa seus traos semnticos e gramaticais. 19 Pode-se entender a operao merge como aquele que toma dois objetos sintticos quaisquer e e forma um novo objeto = {, } (cf. CHOMSKY, 1999b, pg.3). Assim, o resultado da operao merge sempre algoritmos binrios. 20 Pode-se entender a operao Agree atravs das noes de probe e goal/target. Probe o objeto sinttico que possui traos inflexionais interpretveis e goal o objeto que possui traos no-interpretveis os quais so apagados sob a operao Agree (concordncia). O probe procura e determina quais os objetos sintticos passveis de mover-se para a sua posio para a checagem de traos, enquanto o goal/target justamente o objeto que selecionado pelo probe (cf. CHOMSKY, 1999b) e (ROBERTS, 2007, pg.66).
[31]
quele do esquema (2) visto anteriormente (cf. 2.1.1), a seguinte do esquema (3) logo
a seguir:
[32]
Esquema (3) 21
Numerao [Operations of selection]
Merge
(Converso)
Derivao [PF operations] Derivao [LF operations]
21Este modelo de gramtica exposto logo mais acima o adotado por mim na dissertao.
Lexical items
Syntactic Structures
Move / Agree
(Spell out)
Phonetic Form
(PF)
Logic Form
(LF)
Lexico
[33]
No esquema (3) acima, temos que, resumidamente, as gramticas das lnguas
naturais so derivadas pelo sistema computacional humano a partir da rotulao ou
etiquetagem dos itens lexicais selecionados atravs do processo de numerao do
Lxico. Em seguida, os itens lexicais (j numerados) so mapeados pelo processo de
merge, que, atravs da checagem dos traos formais no-interpretveis, forma novos
constituintes sintticos. Depois disso, ocorre o processo de converso das estruturas
sintticas at ento formadas para os dois componentes de interface da gramtica, o
Sistema articulatrio-conceptual e o Sistema conceitual-intencional, atravs das
operaes de derivao. O momento de converso, ento, denominado de spell-out,
como j dito.
A noo de traos fortes e fracos ou, mais comumente, traos interpretveis e
no-interpretveis e a noo de checagem (do ingls checking) desses traos tambm
ocupam um lugar extremamente relevante nesse novo modelo terico MP.
Seguindo ROBERTS (2007, p.66), pode-se esquematizar uma operao Agree,
resultante do momento de checagem de traos que ocorra entre dois elementos sintticos
e quaisquer, da seguinte maneira:
Esquema (4):
Agree with where:
(i) and have non-distinct formal features;
(ii) asymmetrically c-comands .
Sendo que a noo de c-comando assimtrico definida como no original
(supra): asymmetrically c-comands if and only if is contained in the structural
sister of . 22
22 assimetricamente c-comanda se, e somente se, est contida na estrutura irm de .
[34]
A checagem de traos presentes nas projees, ento, se estabelece a partir da
necessidade de que apenas os traos respectivamente apropriados derivem at os dois
componentes de interfaces. Esse princpio de restrio chamado de Princpio de
Interpretao Plena 23
Por fim, cabe ressaltar aqui que este sucinto comentrio acerca do
desenvolvimento do modelo terico gerativista e, principalmente, do MP, no tem a
pretenso de constituir-se enquanto uma descrio pormenorizada e abrangente do tema
o que por si s j se constituiria improvvel nesse breve espao disponvel do nosso
texto. Todavia, caracteriza-se, sim, mais como um breve esboo do modelo terico que
fundamenta aquele que adotado nesse estudo para estudar o posicionamento sinttico
dos sintagmas adverbiais predicativos de constituintes no portugus brasileiro. Cr-se
que esses comentrios sirvam para prover o leitor das informaes bsicas necessrias
para a compreenso do nosso estudo lingstico que se segue.
(cf. CHOMSKY, 1999b, p.67/168). Assim, para o componente da
gramtica PF devem derivar-se apenas os traos formais ou gramaticais que so
foneticamente interpretveis, bem como para o componente LF devem derivar-se
apenas os traos semanticamente interpretveis. Da, a necessidade de que os traos
no-interpretveis nos dois componentes sejam checados e apagados para que a
sentena derivada seja gramatical. Caso contrrio, a derivao bloqueada (crashed),
resultando em uma converso agramatical nos componentes citados.
Na verdade, muitos lingistas formais poderiam questionar nesse ponto se, na
realidade, no haveria uma oposio terica entre as propostas do MP e a perspectiva
dos estudos formalistas de CINQUE, nos quais se fundamenta esta pesquisa, acerca das
projees funcionais da sentena. Nas consideraes finais do nosso texto, retornaremos
a esse ponto para emitirmos uma opinio particular acerca dessa contradio, que, do
nosso ponto de vista, somente aparente, e da postura que assumiremos frente a este
superficial antagonismo terico.
Passa-se, ento, agora, no captulo 3 seguinte, a discorrer acerca da proposta
terica de CINQUE (1999 et al.), caracterizada enquanto uma proposta realizada dentro
do mbito dos estudos formais da linguagem desenvolvido por CHOMSKY (1999).
sob essa perspectiva terica que nos apoiaremos para realizao dos nossos estudos dos
advrbios predicativos de constituintes na lngua portuguesa.
23No original em ingls, Principle of Full Interpretation PFI, ou FI simplesmente.
[35]
Captulo 3 OS ADVRBIOS NOS ESTUDOS FORMALISTAS DA
LINGUAGEM
3.1 Introduo
Neste captulo, faz-se uma breve reviso terica acerca das diversas propostas
tericas, dentro do mbito da Lingstica Formal, sobre os advrbios e o seu
posicionamento e ordenamento na sintaxe das lnguas naturais. Para tanto, inicia-se com
um resumo das principais propostas j levantadas anteriores e que, no s representam
por si pontos de vista analticos singulares e autnomos, mas, tambm, em certa medida,
impulsionaram metodologicamente e abriram caminho terico para que se chegasse at
a proposta contempornea adotada em nossa dissertao.
Basicamente, as propostas tericas acerca da sintaxe dos advrbios podem ser
divididas em duas grandes vises analticas: (i) As Teorias da Adjuno Baseada
Semanticamente (TABS) e (ii) a Teoria dos Especificadores Funcionais (TEF). Vrios
autores, adotando uma ou outra proposta, compuseram hipteses tericas acerca do
lugar dos advrbios na estrutura sinttica das lnguas.
Dentre essas propostas, podem-se ser ressaltadas algumas teorias que sero
retomadas e comentadas logo mais adiante, como reviso terica acerca do tema central
da nossa pesquisa. Dentro da perspectiva das TABS, as hipteses de: JACKENDOFF
(1972), POLLOCK (1989), COSTA (1999) e de ERNST (2006). Dentro da perspectiva
das TEF, a hiptese de LAENZLINGER (1998) e a tese de CINQUE (1999).
Em seguida, resume-se, de forma mais pormenorizada e com mais vagar, a tese
de CINQUE (1999), que a teoria que subsidia nosso estudo, tentando seguir os
mesmos passos utilizados pelo prprio autor na exposio original da sua proposta, a
fim de facilitar a compreenso e o entendimento dos leitores. Segue, ento, a nossa
reviso diacrnica de alguns dos mais salutares posicionamentos tericos acerca do
comportamento sinttico e semntico dos advrbios.
[36]
3.2 - O ESTUDO DE JACKENDOFF (1972)
JACKENDOFF (1972) afirma que os advrbios compem a classe de palavras
menos estudada e menos conhecida do lxico de uma lngua natural. Isso devido a
vrios fatores, mas, principalmente, ao consenso generalizado entre os estudiosos do
assunto poca de que os advrbios compartilham das mesmas regras transformacionais
que os adjetivos. Sendo assim, com base nessa pressuposio, vrias regras de
transformao eram aplicadas sobre as regras de base da estrutura sintagmtica
adverbial, resultando em regras de projeo especficas para cada subclasse dessa
categoria do lxico. Exemplo dessas regras aquela que se aplicava aos advrbios
ingleses no terminados em ly, morfema muito produtivo na lngua inglesa para
gerao de advrbios a partir de adjetivos (e.g.: hardly, lastly, fasty, quickly etc.).
Segundo essa regra de transformao especfica, qualquer item adverbial no
terminado em ly deve aparecer em posio ps-verbal na estrutura profunda, ou,
ento, ocorrer em posio pr-verbal nessa estrutura, mas subir, por meio de regras de
transformao, para a posio ps-verbal na estrutura superficial. O importante que
todo advrbio terminado em ly, que o autor denomina de semanticamente apropriado,
o advrbio tpico da lngua inglesa, deve ocorrer ps - verbalmente na estrutura
superficial.
Tal consenso generalizado nas regras transformacionais culminava em um
tratamento terico reducionista dos advrbios, segundo JACKENDOFF ( supra, p.47):
Adjectives submit fairly docilely to this reducionist treatment: since there is almost always a paraphrase for an Adj-N construction with a relative clause N Which is Adj, a rather simple set of transformations suffices. Adverbs are more unruly since the constructions they occur in are less homogeneous, and since their paraphrase relations are much more widely varied. Hence they were neglected in favor of more tractable constructions. 24 24Traduo livre minha: Adjetivos submetem-se bastante docilmente a essa abordagem reducionista: desde que haja quase sempre uma parfrase para uma construo Adj-N com uma sentena relativa N a qual Adj, um grupo bastante simples de transformaes basta. Advrbios so mais indisciplinados j que as construes nas quais eles ocorrem so menos homogneas, e j que as relaes de parfrases
[37]
Contudo, refutando essa perspectiva anterior de anlise, para JACKENDOFF as
diversas classes de advrbios so incorporadas s sentenas das lnguas naturais por
diferentes regras estruturais sintagmticas (JACKENDOFF, p.48). Ele mostra, assim,
que advrbios, sintagmas preposicionais e modais fazem contribuies similares para a
leitura semntica das sentenas, embora eles sejam introduzidos por regras estruturais
sintagmticas diferentes e sejam tratados diferentemente pelas regras de transformaes
especficas. Ele ressalta, ainda, que a classificao cruzada de funes sintticas e
semnticas tomada como evidncia da necessidade de manter distintas a sintaxe e a
semntica como implica uma teoria gramatical como a proposta por ele que incorpora
um componente semntico interpretativo.
Por isso, ele discorda da proposta consensual da sua poca, que ainda est na
Teoria Padro da Sintaxe Gerativa, de relacionar os advrbios com os adjetivos e diz
que existe um item do lxico (uma categoria lexical) Adv que apenas mantm correlao
fortuita com os Adj.
Sua proposta, ento, que os advrbios se distribuem estruturalmente na sintaxe
de trs formas: (i) em posio inicial de sentena; (ii) posio final sem pausa
intervindo; (iii) e em posio auxiliar (entre o sujeito e o verbo principal). Assim,
JACKENDOFF prope que os advrbios se inserem na estrutura da sentena por meio
de regras de transformaes prprias, sendo que para cada pequena classe de advrbios
haver uma regra de transformao diferente e particular (JACKENDOFF, p.53):
There will be a large number of such transformations, one for each tiny class of adverbs, each governed by an exception feature. Each transformational will have the power to destroy the main clause and insert lexical material (i.e. the adverb) into a lower clause. Among the traditional repertoire of transformations, none such is known. It would clearly be desirable to restrict the power of transformations to prohibit such drastic changes, especially when transformations for which this power is needed are so limited in generality (supra). 25 deles (dos Advs, grifo nosso) so muito mais largamente variadas. Da eles terem sido negligenciados (dentro da teoria sinttica) em detrimento de construes mais facilmente abordveis.
25Haver um largo nmero de tais transformaes uma para cada minscula classe de advrbios, cada uma governada por uma caracterstica de exceo. Cada (regra) transformacional ter o poder de
[38]
Para ratificar sua anlise, JACKENDOFF demonstra que alguns advrbios
ingleses no podem ser resultados de regras de transformao dos adjetivos inseridos na
base, o que leva a pensar-se que h uma categoria Adv de base. Ento, se h advrbios
que no podem ser resultados de regras de transformaes dos adjetivos e outros que o
podem, gerando uma ambigidade na gramtica, mais lgico propor que tais advrbios
so, sim, j inseridos na base do lxico (JACKENDOFF, 1972, pg.56). Se alguns
advrbios j so inseridos na base do lxico, ento mais plausvel pensar que todos os
outros o sejam da mesma maneira, do que propor que alguns advrbios sejam inseridos
na base do lxico e outros inseridos por regras de transformaes derivados de
adjetivos.
Assim, segundo esse autor, a teoria transformacional que afirma que advrbios
se formam derivados de adjetivos na estrutura profunda no d conta de explicar as
diferentes classes de advrbios e seus diferentes posicionamentos sintticos, da ele
postular que advrbios so gerados diretamente na base (JACKENDOFF, p.58):
Orientation of adverbials thus seems to be a much wider semantic phenomenon than can be predicted by a transformational theory of adverbs: hence it would be a loss of generality to account for adverb orientation transformationally.26
Enfim, JACKENDOFF prope a hiptese de uma anlise dos advrbios na qual
eles sejam gerados na sentena j na base do lxico como uma entrada (lexical)
especfica e, posteriormente, sejam interpretados por uma variedade de regras de
projees, variantes para cada classe ou tipo de advrbios, o que daria conta de explicar
seus diferentes posicionamentos sintticos.
A grande vantagem na viso analtica de JACKENDOFF o fato de propor,
justamente, que advrbios so gerados na base do lxico, o que deu mais independncia destruir a sentena matriz e inserir material lexical (i.e. o advrbio) dentro de uma sentena encaixada. Entre o repertrio tradicional de transformaes, nada assim conhecido. Seria claramente desejvel restringir o poder das transformaes para proibir tais mudanas drsticas, especialmente quando as transformaes para as quais este poder necessrio so to limitadas na generalidade. 26 A orientao de adverbiais, portanto, parece ser um fenmeno semntico muito mais amplo que pode ser previsto por uma teoria transformacional de advrbios: portanto, seria uma perda de generalidade explicar a orientao advrbial transformacionalmente.
[39]
para o desenvolvimento de teorias apropriadas e particulares para a(s) classe(s) dos
advrbios, sem necessidade de, obrigatoriamente, correlacion-los aos adjetivos.
Entretanto, a hiptese de JACKENDOFF, dado os desenvolvimentos recentes da
teoria gerativa, apresenta hoje diversos problemas conceitual-metodolgicos. Dentre os
principais, podem-se citar: o fato de basear-se, ainda, em regras de transformao,
conseqncia do modelo terico j superado no qual a hiptese se apia; o fato de
propor de forma generalizada apenas duas grandes divises tipolgicas dos advrbios, a
saber, advrbios do falante e advrbios do sujeito, no dando conta
contemporaneamente de outras tipologias que surgiram para os itens lexicais ditos como
adverbiais; o fato de no teorizar clara e empiricamente um ordenamento hierrquico
dos advrbios; etc. dentre outras questes que sero levantadas conjuntamente
apresentao das prximas hipteses tericas seguintes.
3.3 O ESTUDO DE POLLOCK (1989)
Contrariamente a JACKENDOFF, cujo trabalho se realiza ainda dentro da
perspectiva da Teoria Padro do gerativismo, POLLOCK (1989) tece sua hiptese
dentro da abordagem terica dos P&P. Em seu texto, ele intenciona analisar a relao
existente entre o movimento do verbo, a UG e a estrutura do IP nas lnguas naturais.
Para tanto, POLLOCK analisa o porqu de os verbos lexicais em lngua francesa
obrigatoriamente moverem-se para IP, enquanto em lngua inglesa tal movimento
restrito apenas para verbos auxiliares (como as partculas lexicais do, have, will), sendo
que os verbos lexicais ingleses tm de permanecer in situ no VP, no podendo realizar o
movimento de subida at IP.
Assim, ele analisa a estrutura sinttica das sentenas finitas e infinitivas nas
duas lnguas citadas, afirmando que a nica diferena existente entre sentenas com
verbos finitos e infinitivos (que, segundo o autor, possuem a mesma estrutura profunda)
est na existncia ou no dos traos [+ ou - finito], que iro fazer com que ocorra ou no
movimento (mova-). Dessa forma, caso o trao [+ finito] esteja presente, mova-
torna-se obrigatrio e o verbo tem de elevar-se; caso contrrio, se somente o trao [-
[40]
finito] estiver presente, mova- no necessrio e o verbo no se eleva s posies mais
altas (POLLOCK, 1989, p.372):
I will adopt what I take to be the null hypothesis and assume that they differ from finite clauses only in the feature composition of their infl(ection) (and/ or Comp). It will suffice for the time being to assume that infinitives and tensed sentences are distinguished by some feature, say [-finite] and [+finite]. If that is needed the only difference between them, then structure (1) [IP NP I ([Neg not/pas]) [VP (Adv) V]] is the D-Strucuture form of both types of sentences.27 A grande inovao da proposta de POLLOCK o fato de o autor cindir o antigo
IP em duas outras categorias sintticas compondo projees mximas logo acima de
VP, abrindo caminho para a perspectiva que, hoje em dia, se denomina de cartogrfica,
na qual novas projees, normalmente funcionais, so postuladas na estrutura sinttica.
As duas categorias postuladas por POLLOCK so: o TP, projeo da marcao
de tempo do verbo; e o AgrP, projeo da marcao de concordncia do verbo. Assim,
segundo ele, se ganha em poder de adequao explicativa na anlise do fato do verbo
poder elevar-se mais alto em francs do que em ingls. Tal movimento explicado,
ento, pelo fato de que a presena do trao [+ finito] nos verbos lexicais franceses e nos
auxiliares ingleses desencadear o movimento daqueles verbos at AgrP e TP, o mesmo
no ocorrendo com os verbos lexicais do ingls, que permanecem in situ em VP.
Em prol de embasar empiricamente sua anlise, POLLOCK analisa construes
com vrios elementos sintticos diferentes, como a negao, os advrbios e os
quantificadores flutuantes, a fim de, a partir do posicionamento sinttico desses
elementos, comprovar sua hiptese de que o movimento do verbo est diretamente
ligada a presena ou ausncia de um trao [+finito]. Particularmente nos interessa a
proposta desse autor para as posies dos advrbios na sentena.
27Traduo minha: Eu adotarei o que eu tomo por ser a hiptese nula e assumirei que elas diferem de sentenas finitas somente na composio de traos de sua Inflexo (e/ou complementizador). Bastar para o momento assumir que infinitivos e sentenas com tempo (conjugadas) so distinguidas por alguns traos, digamos [-finito] ou [+Finito]. Se isto necessrio somente s diferenas entre elas, ento, a estrutura (1) [IP NP I ([Neg not/pas]) [VP (Adv) V]] a forma da estrutura profunda de ambos os tipos de sentenas.
[41]
Segundo POLLOCK, de maneira oposta perspectiva analtica de
JACKENDOFF, por exemplo, no existem regras especiais para o movimento dos
advrbios. Na verdade, advrbios so gerados na base do lxico (DS) em duas posies
diferentes, a saber: (i) em posio inicial ao VP; (ii) e em posio final ao VP. Seu
diferente ordenamento na estrutura superficial da sentena (SS) ocorre devido s regras
de movimento do verbo. Tanto s regras de movimento do verbo ocasionado pelo trao
[+finito], que restrito aos itens lexicais apenas, isto , verbos em sentenas
conjugadas 28
Exemplos do que POLLOCK prope so as sentenas a seguir representadas,
respectivamente, em francs, ingls e portugus no esquema (5) cujos verbos
movimentam-se (em francs e portugus) e no se movimenta (em ingls) para a
posio de IP:
, quanto queles outros que o autor denomina de movimentos curtos de
verbos (os quais no so restritos a verbos lexicais somente). Ao moverem-se por
causa do trao dito, os verbos passam, ento, a ocupar a posio logo mais frente ou
atrs dos advrbios.
28No original, Tensed clauses.
[42]
Esquema 5 (adaptado de POLLOCK, 1989, p.414) 29
:
Com base na afirmao de que existem somente movimentos dos verbos, mas
no movimentos dos advrbios, o autor conclui que os advrbios inserem-se na sentena
por adjuno (POLLOCK, 1989, p.379):
Continuing to assume, as above, that there are no rules for Adverb Movement, the process in question is easily circumscribed. If the adverbs in (27) are generated in the VP-initial position in (1), then it must be a Verb Movement rule, different from Verb Movement to Infl, moving the nonfinite verb to some intermediate position before the negative adverb pas. If the adverbs are generated in the VP-final position, we could derive the order of elements in (27)-(28) by a rule moving the object to the right (adjoining it to VP), as shown schematically in (31): (31) [IP NP Infl [VP [VP V ei Adv] NPi]] 30 29 So representadas no esquema 5 trs sentenas em trs lnguas diferentes, respectivamente, a saber: ingls, francs e portugus. A seta indica os movimentos do verbo auxiliar que h em francs e portugus, mas que so impossveis em ingls.
30Traduo livre minha: Continuando por assumir, como acima, que no h regras para o movimento adverbial, o processo em questo facilmente circunscrito. Se os advrbios em (27) so gerados na
[43]
Os principais problemas que podem ser apontados na anlise de POLLOCK para
os advrbios tm correlao, primeiramente, com a aceitao ao mesmo tempo por parte
dele da adjuno e do fato de afirmar que advrbios so gerados na base lexical. Se
advrbios j so gerados na base, como podem ocorrer adjungidos ao IP (adjungidos ao
TP ou ao AgrP) ou ao VP? Um elemento j incluso na base do lxico, em DS, (em
termos minimalistas, na numerao) pode ser adjungido? Considerando-se que posies
geradas na base do lxico j entram na numerao da sentena, ento, elas devem
ocorrer em projees distintas, ou, ento, admiti-se que os elementos sintticos
inseridos por adjuno na sentena j entram na numerao tambm. Todavia,
consideramos tambm como ressalva as limitaes tericas da poca em que o autor
comps sua hiptese.
Alm disso, a anlise de POLLOCK, que no propriamente uma anlise dos
elementos adverbais em si, mas, sim, do movimento do verbo e da sua correlao com a
estrutura de IP, no leva em conta o rgido ordenamento que parece haver entre os
advrbios, apesar desse no ser seu objetivo central de estudo. Os advrbios apresentam
certa hierarquia ou ordenamento linear que faz com que alguns desses itens possam
ocorrer antes do verbo ou de outros advrbios, por exemplo, enquanto outros no
possam faz-lo.
Contudo, concordamos com POLLOCK quando afirma que os verbos se movem
na sentena, da advindo os (aparentes) diferentes posicionamentos dos advrbios em
relao ao verbo. Entretanto, achamos que o autor no explicita adequadamente quais
posies so essas, sendo que, para ns, esses lugares por onde o verbo se move
posies as quais POLLOCK no define muito claramente quais so, j que somente a
existncia de TP e AgrP no so suficientes para dar conta de algumas estruturas
sentenciais maiores contendo mais elementos sintticos so, justamente, as diferentes
posies de ncleos funcionais das quais os advrbios ocupam a posio de
especificadores (cf. 3.7.0).
posio inicial de VP em (1), ento, isto deve ser uma regra de movimento, diferente do movimento do verbo para Infl, movendo o infinitivo verbal para algumas posies intermedirias antes do advrbio negativo pas. Se os advrbios so gerados na posio final de VP, ns poderamos derivar a ordem de elementos em (27)-(28) por uma regra movendo o objeto direita (adjungido-o VP), como demonstrado esquematicamente em (31): (31) [IP NP Infl [VP [VP V ei Adv] NPi]]
[44]
3.4 O ESTUDO DE ERNST (2006)
A hiptese de ERNST (2006) um dos mais influentes estudos contemporneos
acerca da sintaxe adverbial dentro dos estudos gerativistas. Ela , tambm, a grande
representante das teorias da adjuno baseada semanticamente (TABS), opondo-se,
consideravelmente, s teorias dos especificadores funcionais (TEF).
Segundo ERNST (2006), os advrbios inserem-se na estrutura sinttica via
adjuno, podendo adjungir-se a vrias projees sintticas diferentes de maneira muito
livre. Para ele, o ordenamento sinttico dos advrbios restringido pelo emprego de
princpios semnticos (o significado das entradas lexicais adverbiais e suas regras gerais
de composio) e no pelo componente sinttico da UG, como prope os autores da
teoria dos especificadores funcionais; da serem as ordens ilcitas resultantes de
anomalias semnticas (pg.1009):
This paper aims to provide evidence for the latter view that semantics plays a much larger role, i.e. that the contribution of semantics to adverb syntax is direct and fairly extensive, with most of its work being done by means of adverbs lexical entries and general rules of semantic composition. As a result, we should conclude that adverb distribution should be linked to their semantics in a fairly direct way, and that adverbs are generally adjoined, not in specifier positions. 31
ERNST prope, ento, que a melhor hiptese terica para se pensar acerca do
ordenamento dos advrbios na sintaxe aquela baseada em uma Teoria da Adjuno
Baseada Semanticamente (TABS). Seguindo a perspectiva proposta pelo autor na
TABS, o posicionamento sinttico dos advrbios decorrente dos traos semnticos j
presentes na prpria constituio da entrada lexical (seu significado), isto , eles j esto
presentes no momento da numerao da computao lingstica, incluindo a, tambm, 31 Este artigo objetiva fornecer evidncias para o ltimo ponto de vista de que a semntica desempenha um papel muito mais amplo, i.e. que a contribuio da semntica para a sintaxe adverbial direta e bastante extensiva, com muito do seu funcionamento sendo realizado pelos significados de entradas lexicais adverbiais e regras gerais de composio semntica. Como resultado, ns poderamos concluir que a distribuio adverbial poderia ser ligada sua semntica de maneira bastante direta, e que advrbios esto geralmente adjungidos, no em posies de especificadores.
[45]
as especificaes de subcategorizao dos itens lexicais (suas regras de composio).
Vrias so as motivaes empricas, segundo ERNST, que subsidiam sua hiptese.
Dentre essas, as principais so (ERNST, 2006, p.1010):
i. A ordem relativa dos advrbios: alguns advrbios apresentam uma (aparente)
liberdade de ordem dentro da sentena, podendo ocorrer em posies
contrrias. Isso gera, ento, uma ambigidade na teoria dos especificadores
funcionais, j que, assim, ou teramos advrbios que ocupam mais de um
ncleo funcional ou ncleos que licenciam mais de uma classe de advrbios
diferentes.32
E.g.:
a) The press secretary usually will wisely refuse to answer leading questions.
O secretrio de imprensa geralmente recusar sabiamente a responder perguntas importantes.
b) The press secretary wisely will usually refuse to answer leading questions.
(?) O secretrio de imprensa sabiamente recusar geralmente a responder perguntas importantes.
c) Fred also has deliberately been avoiding Ruth.
Fred tambm tem deliberadamente evitado Ruth.
d) Fred deliberately has also been avoiding Ruth.
Fred deliberadamente tem tambm evitado Ruth.
32 Mais frente veremos com mais detalhes que CINQUE explica tal fato pela diferena de escopo de alguns advrbios, que podem possuir mais de um significado a depender da abrangncia do seu escopo. Assim, por exemplo, temos as sentenas em lngua portuguesa: 1-Mateus sempre come sanduches de quatro queijos na lanchonete e 2-Mateus come sanduches de quatros queijos sempre na lanchonete. a diferena entre o escopo sobre o evento (1) ou sobre o processo (2).
[46]
ii. A alterao da ordem dos advrbios ocorre sem alterao em seu significado. O
que leva as mesmas conseqentes ambigidades j expressas anteriormente
acima (pg.1011). E.g.:
a) Texans often drink beer.
Texanos freqentemente bebem cerveja.
b) Texans drink beer often.
Texanos bebem cerveja freqentemente.
iii. Segundo ERNST, h muito mais do que apenas duas nicas posies passveis
de serem preenchidas por alguns advrbios na sentena, como prope CINQUE
para os casos de advrbios com escopos ambguos. O que o leva a mesma
concluso j esboada em (i) e (ii), anteriormente vistos, de que tal fato se deve
a liberdade de movimento dos advrbios decorrente da ao de serem inseridos
por adjuno s sentenas 33
. E.g. (ERNST, p.1019):
a) Once again the valet is often immediately knocking twice.
Mais uma vez o manobrista/criado est de modo frequente imediatatamente batendo por duas vezes.
b) The valet would immediately (once) again knock twice.
O criado/manobrista (batia) imediatamente (uma vez) de novo (batia) duas vezes.
c) Twice, the valet had immediately (once) again knocked often.
Por duas vezes, o manobrista/criado (bateu) imediatamente (uma vez) de novo
(bateu) com freqncia.
33CINQUE demonstra, como veremos mais adiante, que o verbo, principalmente o verbo auxiliar de perfrases verbais, movimenta-se livremente por entre os advrbios especificadores ocupando-lhes a posio de ncleo da projeo funcional correspondente. Se notarmos bem os exemplos citados em ERNST (2006), incluindo aqueles citados em (iii) a-d, praticamente todos apresentam construes perifrsticas, portanto, possuem a possibilidade de que a ordem contrria teoria dos especificadores funcionais seja resultante do movimento do auxiliar verbal.
[47]
d) The valet often would twice immediately knock (once) again.
O manobrista/criado freqentemente (batia) por duas vezes (batia) (uma vez)
de novo.
Dessa forma, o autor prossegue para concluir sua explanao afirmando de
maneira peremptria que o ordenamento e posicionamento sinttico livre dos advrbios
nas sentenas no pode, como na teoria dos especificadores (TEF), ser uma mera
diferena do significado encoberto no advrbio (ento necessitando separar os ncleos
licenciadores, como na TEF) ou separar os ncleos que de certa forma capturam
diferentes possibilidades de escopo. Dessa forma, quando lida com os advrbios de
freqncia, de localizao tempo-espacial e aqueles outros orientados ao agente, a teoria
dos especificadores funcionais forada a: (i) realizar predies incorretas em casos nos
quais duas posies de advrbios so possveis com significados idnticos; (ii)
errar/perder nas generalizaes; e (iii) frente s dificuldades consideradas em
caracterizar a informao semntica, afirmar que esta deve localizar-se em ncleos
funcionais licenciadores. A TABS, segundo ele, no enfrenta estes problemas, porque
ela permite ao advrbio adjungir-se muito mais livremente (em mltiplas posies) e
encobrir diferenas semnticas de modo mais geral e natural. Isto constitui evidncia
para a superioridade da abordagem da TABS sobre a abordagem da TEF para a
distribuio adverbial, na opinio do autor (ERNST, 2006, p.1026). 3.5 O ESTUDO DE LAENZLINGER (1998)
A tese de LAENZLINGER (1998) pertence ao paradigma terico das TEF
dentro dos estudos formalistas da sintaxe adverbial. Em seu estudo, LAENZLINGER
(1998, 2002) objetiva capturar as correlaes entre a Forma Lgica (LF ou Semntica)
dos advrbios e sua distribuio estrutural (Sintaxe). Para tanto, ele baseia-se na
perspectiva iniciada por (JACKENDOFF, 1972), que, em sua opinio, abre caminho
para teorias que correlacionem as propriedades semnticas (escopo) de advrbios s
suas propriedades distribucionais (sintticas).
A questo principal cuja resposta LAENZLINGER objetiva alcanar em seu
estudo a seguinte: o escopo potencial de um advrbio indicado por sua posio
[48]
semntica ou por sua posio sinttica? Para tentar responder a essa questo,
LAENZLINGER (pg.39) aponta trs outras questes secundrias a serem respondidas
em seu texto:
(i) Como podem os advrbios serem definidos de um ponto de vista lgico-
semntico enquanto modificadores, predicadores ou operadores? Qual a
relao dos advrbios com os outros elementos da sentena?
(ii) Como os advrbios so gerados dentro da estrutura sintagmtica? Qual
tipo de posio (estrutural) eles ocupam na sentena?
(iii) Como os advrbios so licenciados na estrutura superficial? Quais traos
eles necessitam checar?
interessante ressaltar que o autor foca, sobretudo, em trs aspectos principais,
a saber: lexical, sinttico e semntico; deixando de lado, portanto, aspectos pragmticos
dos itens adverbiais como o que ele denomina de advrbios conjuntivos (E.g.: however
no entanto, but mas, moreover por outro lado) e advrbios formais (E.g.:
precisely precisamente, obviuosly obviamente), entre outros.
Outra diviso apresentada por LAENZLINGER entre adjuntos argumentais,
que, segundo o autor, so itens subcategorizados pelo verbo atravs de seleo
semntica/categorial, e adjuntos livres, que no so subcategorizados. Aps isso, ele
prope que existem advrbios de sentena, advrbios de VP e advrbios de sintagmas
(phrases), cada um com condies de licenciamento particulares e diferentes uma das
outras.
Um dos pontos mais salutares dentro da proposta de LAENZLINGER que ele
busca uma definio sinttica para os advrbios para alm de sua definio semntica.
Dessa forma, ele conceitua os advrbios de trs formas:
[49]
(i) Como modificadores;
(ii) Como predicadores34
(predication relation in addition to the operator-variable relation);
(iii) Como operadores
(operator variable relation).
Entretanto, a concordncia entre os pontos de vista analtico
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