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Para a história da reforma penal brasileira ALCANTARA MACHADO.
Prof. de Med. Legal da Fac. de- Direito da Univ. de São Paulo.
1. Testemunho decisivo da excelente cultura jurídica de seus elaboradores, o código criminal .de 16 de dezembro de 1830 representava d( fato "em alguns de seus pontos... a última expressão da penalidade moderna", consoante proclamou com ufania e justiça FRANCISCO BERNARDINO RIBEIRO (1).
O que mais encarece o valor da obra é o senso prático de que está imbuida, a preocupação qominante e vitoriosa de conformar a lei "com os principios da Jurisprudência que mais se amoldam às atuais circunstancias físicas, políticas e morais do Império". Tal a norma traçada, em parecer datado de 14 de agosto de 1"827, pela comissão incumbida de estudar os projetos de BERNARDO PEREIRA DE VASCONCELOS e JOSÉ CLEMENTE PEREIRA (2), norma de que se não afastou o legislador de 1830.
Durante os sessenta anos de sua vigência a nossa primeira codificação de leis sofreu, como era natural, várias amputações e acréscimos numerosos. Chegado o último quartel do século XIX, tamanho era o número de leis extravagantes, que JOAQUIM NABUCO se resolveu a apresentar à Camara de Deputados, em 4 de outubro de 1888, este projeto constante de um Só dispositivo: "Fica autorizado o Ministro da Justiça a mandar fazer uma edição oficial da~ leis penais do Im-
(1) Lição inaugural do curso de direito criminal, em Minerva Brasileira, apud. T. ALVES JR., Anot. ao cod. crim., 1.19.
(2) T. ALVES JR., 1-~9.
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perlO, de acôrdo com a lei de 13 de maio de 1888, e intercalando as disposições esparsas". Julgada objeto de deliberação, foi a proposição mandada, na sessão de 8 de outubro, às comissões de constituição e legislação e de fazenda, que não lhe deram andamento.
JOÃo VIEIRA DE ARAUJO, catedrático da matéria na Faculdade do Recife, aproveitou a idéia lançada pelo representante pernambucano, consolidou as disposições vigentes e em julho de 1889 submeteu o trabalho assim organizado ao Ministro da Justiça, que era então o conselheiro CANDIDO DE OLIVEIRA. Este,· por aviso de 28 de julho, nomeou uma comissão composta do VISCONDE DE ASSIS MARTINS e srs. ANTÔNIO RoDRIGUES TORRES NETO e JOÃo BATISTA PEREIRA, para emitir parecer sobre o anteprojeto. Logo a 10 de outubro seguinte a comissão entregava ao governo o resultado de seus estudos. Depois de mostrar algumas lacunas da obra examinada, o parecer concluia pela necessidade urgente, não de nova edição do código, mas da revisão completa da legislação criminal do Império (3).
Pela revisão se decidiu o Ministro, encarregando de formular o projeto o dr. JOÃo BATISTA PEREIRA, que fôra um dos membros da referida comissão.
2. Daí a alguns dias a monarquia desabava. A instauração do novo regime tornou mais imperiosa do que nunca a reforma da lei penal. CAMPOS SALES, que sucedera a CANDIDO DE OLIVEIRA na pasta da Justiça, ratificou a escolha de BATISTA PEREIRA, feita por seu antecessor. .
Dentro em poucos meses estava concluido o trabalho que, adotado com ligeiras modificações, de que não há noticia precisa, pelo Governo Provisório, se converteu no código penal de 11 de outubro de 1890.
Trata-se de emprêsa humana e por isso mesmo bem distante da perfeição. Assinala, porém, avanço consideravel sobre a codificação de 1830. Recusaram-se a reconhecê-lo os primeiros que dela se ocuparam. EDUARDO DURÃO encabeçou o movimento, numa série de artigos, que tiveram entre nós re-
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(3) J. V. ARAUJO, Nova edição oficial do cod. cri,m., 19·10.
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percussão demorada e profunda (4). Sobrava-lhe razão em muitos pontos. Mas, apaixonado e virulento, não fez trabalho construtivo de crítica, apontando imparcialmente acertos e cincadas. Situou-se no papel antipáticQ de censor implacavel, movido pelo pensamento único de farejar e exagerar as imperfeições. Faltou quem lhe desse réplica imediata. Só muito mais tarde, depois de alastrada e àrraigada a opinião desfavoravel, foi que BATISTA PEREIRA se decidiu a vir a campo, em àefesa de alguns dos dispositivos condenados (5).
3. Diante disso, diante da convicção injusta que se genetalizou, de ser o código de 1890 "o pior de todos os códigos conhecidos". não é de admirar que surgisse imediatamente a idéia de reformá-Io.
Veio logo em 1893 o projeto de JOÃo VIEIRA DE ARAUJO, que não conseguiu acolhimento lisongeiro e teve assim prejudicado o seu andamento. Melhor sorte não lograram outras iniciativas da mesma natureza : _ a da Camara dos Deputados em 1899 e a de .GALDINO DE SIQUEIRA em 1913.
Em 1927 VIRGILIQ DE SÁ PEREIRA recebeu do govêrno a incumbência de fazer novo projeto de reforma. Em um dos últimos dias do ano imediato era divulgado o trabalho.'
Decorreram tres anos, sem que dele se ocupassem os poderes públicos. Sobreveio a revolução de 1930. Instituiram-se então no período pre-constitucional as sub-comissões legislativas. A de legislação penal, composta de VIRGILIQ DE SÁ PE-
. REIRA, EVARISTO DE MORAIS e BULHÕES PEDREIRA pôs mãos à tarefa de rever o projeto da autoria do primeiro. Daí resultou um substitutivo a que o Governo Provisorio não deu seguimento.
4. Restaurado o regime constitucional, assumiu a direção da pasta de Justiça o egrégio professor VICENTE RÁo.
Em outubro de 1934 fui surpreendido com este ofício a qu~ só agora se dá publicidade :
(4) Reproduzidos em O Direito. (5) Rev. de jurispr., de RA.JA GABAGLIA.
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"Tenho a honra de levar ao conhecimento de V. Ex. que o Governo Fedeml, empenhado em apressar a reforma de nosso código e leis penais, resolveu incumbí-lo da elaboração de um projeto, que, como é l:cito espemr da alta e consagrada competência de V. Ex., atualize e complete a nossa legislação sobre tão impoTtante matéria. Certo de que V. Ex. não nega1'ú ao Paiz e ao Governo mais esse relevante serviço, apToveito a oportunidade para lhe apresentar os meus mais cordiais cumprimentos. O Ministro da Justiça e Negocios Interiores - (a.) VICEN-TE RÀo". .
Preparava-me para ter um entendimento com o autor de tão honroso convite, quando soube na Camara dos Deputados, onde então tinha assento, que se cogitava de submeter à revisão parlamentar o trabalho da Sub-·Comissão Legislativa.
Resolvi, à vista disso, adiar por algum tempo a resposta, por não me parecer cm'ial antecipar-me ao voto do Poder Legislativo, tomando sobre mim o encargo com que me desvaTJecêra o Governo da União.
O sr. ADOLFO BERGAMINI propôs, com efeito, em 13 de fevereiro de 1935, 'que se convertesse em lei o substitutivo. Em brevissimo parecer, de que foi relator o sr. PEDRO ALEIXO, a Comissão de Justiça da :Camara opinou, a 14 de março seguinte, pela aprovação do projeto em primeira discussão, reservando-se para oferecer oportunamente emendas modificativas.
Em 1937 o projeto deli entrada no Senado Federal. A este 'incumbia, ex-vi do art. 91 n. VII da Constituição de 16 de Julho, rever os projetos de códigos e consolidações de leis, que tivessem de ser aprovados em globo pela Camara.
A Comissão de Constituição e Justiça, presidida por mim, deu início in continenti ao exame do projeto. Foi a matéria distribuida entre os cinco membros da Comissão, que se compunha do autor destas linhas e dos senadores ARTHUR COSTA, CLODOMIR :CARDOSO, EDGAR ARRUDA e PACHECO DE OLIVEIRA. Como assistente técnico passou a funcionar CANDIDO MOTA
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FILHO, livre docente de direito penal na Faculdade de Direito de S. Paulo.
Entramos então a trabalhar. A única deliberação tomada coletivamente foi a de dE:!ixar para outra codificação especial as contravenções; e era eu o único dos relatores parciais que ultimára a revisão dos capítulos distribuidos, quando em novembro de 1937 se operou a mudança do regime.
5. Ciente do que se fizera na comissão competente do Senado dissolvido, o dr. FRANCISCO CAMPOS, Ministro da Justiça, que, em outras oportunidades, me distinguira com expressivas demonstrações de confiança, chamando-me a colaborar no plano da reforma do ensino de 1931 e nomeando-me diretor da Faculdade de Direito de S. Paulo, houve por bem encarregar-me da orgarâzacão do novo projeto. De elaborar
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trabalho diferente dos anteriores, e não de rever o da Comis-são Legislativa, como alguem afirmou sem fundamento (6).
Mostram-no os termos da carta que me foi endereçada a 9 de dezembro de 1937 :
" Meu prezado amigo d1·. ALCANTARA MACHADO. Venho pedir-lhe que se enCa1"regue da ELABORAçÃO DO NOVO CóDIGO PENAL, confirmando assim o propósito que pessoarmente. lhe manifestei. Ao confiar-lhe com essa incumbência, tarefa de tão imensas p1'oporções, estou certo de que de suas mãos sairá obra digna do Brasil, e.m correspondência com as sua~· realidades e as teses e os problemas POR
tulados na atual fase de evolução do. direito crÍ1ninal. Agradecendo-lhe antecipadamente a aquiescência a esta convocação, que o Governo lhe dirige por meu intermédio; Subsc1'evo-me, com aprêço e simpatia, patr:cio e admirador (a.) FRANCISCO CAMPOS".
o ato gov~rnamental recebeu de um dos maiores criminalistas brasileiros o aplauso mais caloroso e espontâneo, ca-
(6) JosÉ PRUDENTE DE ,SIQUEIRA - A imputabilidade e a responsabilidade nos projetos do cod. criminal.
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paz de envaidecer quem não tivesse sido, como eu, tão longamente castigado pela vida. E' de ANTÔNIO JOSÉ DA COSTA E
SILVA (7) esta página, que me deixou verdadeiramente confuso:
"Inaugurado o regime do governo, sob o qual ora nos achamos, tomaram novo rumo os trabalhos de reforma de nossa antiquada lei penal. Pelo que divulgaram bem informados .órgãos da imprensa diária, foi a delicada e, mais que nunca, árdua tarefa da elaboração do nosso futuro código criminal confiado à reconhecida cOinpetencia de um dos mestres mais afamados da aZ-ma mater de S. Paulo, o dr. ALCANTARA MACHADO. Dessa escolha só se pode falar com incondicionais louvores. Não possue a disciplina do direito criminal, em nosso país, mais brilhante cultor do que o eminente catedrático de medicina legal de nossa academia de direito. Jurista insigne, é sua ex. tambem primoroso homem de letras. Isso garante ao novo código uma qualidade rara em nossas leis - a de ser bem escrito. Um código não preciso ser redigido com elegância; mas se o fôr com isso só terá que lucrar".
6. Pensei a princípio (disse-o na exposição de motivos do ante-projeto da Parte Geral) que, sem embargo dos termos do convite, com que fôra honrado, poderia limitar-me à simples revisão e atualização da obra da Subcomissão Legislativa, já iniciada pela Comissão de Justiça do extinto Senado. Mas, conforme declarei a seguir,
"verifiquei serem de irrecusavel procedência as críticas que esse trabalho vinha despertando e continua a provocar em o nosso meio jurídico, unanime em proclamar a competencia dos operários, mas acorde em reconhécer as imperfeições da obra. Bem expressivos são os pareceres,em que notáveis pro-
(7) God. Pen., lI, prefacio.
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fessores manifestam o juizo desfavoravel das congregações das Faculdades de Direito de S. Paulo e do Recife, quando ouvidas a respeito (8). Não menos significativo o pronunciamento contrário do todas as nossas autoridades, nas obras de direito criminal publicadas ultimamente. Assim, por exemplo, COSTA E SILVA, em seu erudítissimo comentário do código penal em vigor, onde a Parte Geral é alvo de repetidas censuras (9); ATALIBA NOGUEIRA, que desnudou, em tese de concurso, as deficiências do trabalho em apreço, no que respeita ao problema fundamental das medidas de segurança (10) ; BASILEU GARCIA, que, em monografía recentíssima, apontou a maneira defeituosa por que se pretendeu resolver o problema da repressão do homicídio (11); PERCIVAL DE OLIVEIRA, que, em trabalho agora publicado, indicou a lacuna imperdoavel do projeto revisto, no que -toca ao delito do abandono da familia (12) ; JORGE SEVERIANO, que, denunciou ... o perigo social que representa a outorga, consagrada no projeto, do "sursis" aos chamados criminosos passionais ( 13); a propria Conferencia de Criminologia aquí realizada o projeto não saiu incólume dos
(8) O da Faculda.de de S. Paulo foi inserto no Diario do Poder Legislativo, 1937; o -da do Recife na respectiva Revista.
(9) Assim, p. 5, nota 1; p. 12, nota 2; 21, nota 2; 23, nota 1; 43, nota 1; 47, nota 2; 48, nota 2; 63, nota 1; 77; 79'; 88, nota 1 ... Isso, para nos limitannos às primeiras páginas do primeiro tomo e não alongannos indefinidamente as citações. Pode-se dizel· sem grande exagero que nenhum dispositivo escapo.u à censura, no que respeita ao fundo ou à forma. Não se compreende facilmente, diante de tantas incorreções apontadas 'Pelo próprio autor e por outros, aquí e no estrangeiro, como
- tenha ele podido afinnar 'posteriornnente que o projeto foi recebido com elogios "por todos quantos dele se ocuparam" ...
(10) Medidas de segurança (tese de concurso). No mesmo -sentido DEMOSTENES MADUREIRA DE PINHO, Med. de seg., 1938.
(11) Soluções pena-is de repressão ao crime de morte, 1937. (12) Abandono de lamilia, 1938. (13) Em "O projeto de cod. crim. e a readidade brasileira", ar
tigo publicado no "Correio da Manhã", de 27 de março de 1938, JORGE -,sEVERIANO afirma severamente que aquele trabalho "não conte!lIl verdades jurídicas, nem verdades políticas, nem verdades sociológicas. Mais ainda: é até um corpo estranho dentro da vida brasileira:'.
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debates, sem embargo da defesa inteligente com que procuraram ampará-lo dois de seus preclaros colaboradores. Dele divergiu a Conferencia em pontos substanciais, como sejam a definição de culpa, () princípio de causalidade, a formula de inimputabilidade por alienação mental ou estados análogos (14).
"De fato, o projeto não podia servir de base à. reforma.
"Deixo de parte a redação de um sem número de dispositivos, a qu~ faltam a clareza, a simplicidade, a transparência consubstanciais à linguagem legislativa. A verba-a ue descuidada o mais profundo comentado r de nossa legislação penal (15). E tem razão. Tome-se ao acaso um dispositivo. Seja o art. 23. Aí começa o projeto por declarar que "todo aquele QUE ,COMETER CRIME será obrigado a reparar o dan.o, SALVO QUANDO A CRIMINALIDADE DO ATO FôR EXCLUIDA", isto é, quand 00 ato não constituir crime. .. A seguir vem quando o ato não constituir crime. .. A seguir vem' o § 1.0, que se alonga, em sua parte inicial, da ver-o dade jurídica e em sua última parte desafia a argucIa dos decifradores: "A obrigação do inimputavel (em materia de reparação do dano) é condi-
(14) Contra mais de TRINTA disposições do projeto se pronunciou a Conferencia (Rev. de dir. pen., XV, 1938). Entre os que divergiram da obra em pontos substanciais, estão os srs. NELSON Hu NGRIA~ NARCELlO DE QUEIROZ, ROBERTO LIRA e JosÉ PRUDENTE DE SIQUEIRA. O primeiro voltou mais tarde à carga, oferecendo à Comissão de Justiça doSenado várias ohieções ao trara1ho da SV.bcomissão Legislativa (Diario do Poder Legislativo, 1937, p. 41498).
(15) COSTA E SILVA. I, p. 4, nota 1: "AouÍ diremos ne ~ua renação: é do m,aior descuido". Só por descuido, com efeito, aparecem disposições redigidas como o § 2.° do art. 158: "Se, durante o prazo fixado,. por manifestações inequivocas, a periculosidade do beneficiado com suspensão novamente se revelar, restabelecerá o juiz o hternamento, que. então poderá ser noutro estabelecimento". Ou como a parte final do 'art. 195: "A multa será a única pena aplicavel, quando responder (?) por culpa". Ou como no art. 207, § único: "Da regra neste artigo estabelecida, quanto ao caso julgado, excetuam-se ... o caso em que se imo. putarem casos ou omissões contrarios aos deveres oficiais ou forem eles' imputados a... individuos revestidos de funções públicas ou exercendo funcões públicas". Paremos aqui. Apontar i>s deslizes de forma que· desfeiam o projeto seria reproduzi-lo quasi na íntegra."
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cionada pela sua capacidade econômica, PREFE~ RENTEMENTE ATENDIDA A SITUAÇÃO ESPECI.A..L EM QUE A INIMPUTABILIDADtE O TIyER COLOCADO". Outras vezes o projeto deixa transparecer excessiva preocupação literária (16), que o torna de difícil compreensão para o vulgo. É o caso do art. 101, em que o crimiIloso tem a pena atenuada quando "crise moral profunda ou, SEM CULPA SUA, SITUAÇÃO ANGUSTIOSA O EMPOLGA V A". Esses outros deslizes evidenciam que não sobrou aos eminentes autores o vagar necessário para o desbaste e o polimento, de que seriam capazes (17).
"Não insistirei nas falhas que se notam na distribuição das materias. O código italiano não constitue,. neste particular, como tambem no que diz respeito à redação, modêlo aconselhavel. ~orque regular a ação penal em o capítulo que se refere ao crime? Porque consagrar todo um capítulo ao ofendido, quando aí se trata apenas I de iniciativa da ação penal, o que torna evidente que na parte referente a esta última ~e incluiria melhor a matéria? E como enquadrar a violação do segredo profissional do médico, do advogado, entre os crimes contra a inviolabilidade e segurança da correspondência? iE a remoção de marcos àivisórios entre os crimes de falsidade em .documentos publicos e privados? ,E o fato de alguem fingir-se funcionario publico sob a rubrica de "trajes indevidos"? (18).
(.16) DEMOSTENES M.. DE PINHO assinala que o projeto foi prejudicado muitas vezes por "demasiada preocupação literari'a".
(17) Lê-se no parecer da Fa-culdad~ de S. Paulo : "A. forma ... afasta-se do estilo dos bons códigos... O italianismo do. "aquele que" n<> começo de quase todos os artigos é irritante ... São raras as disposições, cujo alcance pode ser Il'preendido à primeira leitura. E nenhuma pode ser lida 'rapidll'mente" ...
(18) Outras amostras: a falsificação de bilhetes de estradas de ferro "ou doutra via pública de transporte" está no capítulo que trata da "falsidade contra as rendas públicas"; - a tirada de preso figura sob a rubrica de "arrebatamento de coisas (?) apreendidas", entre os crimes contra a administração pública, e não entre os delitos contra a
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"Passarei de ligeiro sobre as objeções de ordem doutrinária, que o projeto suscita. Abre-se no art. 33, em favor do inimputavel, uma exceção desarrazoada ao principio universal da indivisibilidade e solidariedade entre os partícipes, em materia de reparação do dano causado por ato ilícito. Entrega-se ao júri, no art. 108, a classificação do réu entre os criminosos por índole. Determina-se no art. 160 que não exceda de dois anos a duração das medidas efetivas de segurança aplicaveis aos criminosos de imputabilidade restrita, o que é tudo quanto há de mais contrário aos objetivos de medidas dessa natureza. E, para apontar apenas um só dos muitos defeitos da Parte Especial, não se alude, na definição de infantícidio (art. 178) à "causa honoris", que, na melhor doutrina, é uma das condições existenciais daquela figura delituosa (19).
"Não me deterei em anotar as lacunas que oferece o projeto. Suas amostras. primeira: ninguém saberá quais as medidas de segurança a que ficam sujeitos os selvícolas inimputaveis ou de imputabilidadp restrita. Segunda: repudiando sem nenhuma razh..., o projeto primitivo SÁ PEREIRA, a Subcomissão Legislativa suprimiu, dentre os fatos puniveis, o abandono de família.
"Dispensar-me-ei de mostrar os vicios de classificação. O crime de omissão de socorro vamos encontrá-lo inexplicavelmente entre as contravenções.
administração da justiça; - o fato de imprimir velocidade excessiva. a qualquer veículo, especialmente aos automoveis (art. 457, n. I), se acha subordinado à epigl'af~ "direção de aeronaves" (!); o de não exercer a devida vigilancia "sobre pessoa que enfel'll1asse de doença perigosa' transmissivel por simples contacto" (?), se encontra debaixo do rótulo "alienados perigosos" (art. 458)... Foi por essas e outras, naturalmente, que o sr. NELSON HUNGRIA afirmou em .público a superioridade· técnica des,se 'projeto sobre o de minha lavra ...
(19) Para não alongar indefinidamente estas notas, lembrarei aquele dispositivo (art. 262), que manda atenuar liv'remente a pena do lenocinio ou proxenetismo, quando "maior a mulher e o inculpado um seu ascendente inválido; e o 'art. 346, onde se detemnina a concessão de' livramento condicional (!) ao peculatario, que, depois da condenação,. ressarcir o dano.,.
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A publicação da sentença figura entre as penas acessórias; o que não impede que se publique a sentença à custa do Estado, do denunciante, do querelante, no caso de absolvição... Sob a rubrica de penas acessórias estão a expulsão do estrangeiro e o exílio local, que as legislações contemporaneas incluem entre as medidas da segurança. E assim por diante.
"Tudo isso, com maior ou menor trabalho, podia ser objeto de correção ou de emenda. Outros defeitos, .porém, apresenta o notavel trabalho, que torham impossivel tomá-lo como fulcro da reforma de nossa legislação penal, porque entendem com a orientação, as idéias dominantes, o espirito do projeto.
"Redigiu-o a Comissão Legislativa (e não podia. deixar de fazê-lo) concordemente com as condições políticas e sociais. Umas e outras se modificaram profundamente de então para hoje. Os movimentos subversivos de 1935 patentearam a gravidade e a extensão dos perigos a que nos expunham a deficiência do nosso aparelhamento repressivo. A Constituição de 10 de novembro deu nova estrutura ao Estado e novo sentido à política nacional,. tornando imperiosa a mudança das diretrizes penais. Reforçar a defesa coletiva, contra a criminalidade comum, e resguardar as instituições contra a criminalidade pol;tica, são imperativos a que não pode fugir o legislador em paizes organizados de maneira por que atualmente se encontra o nosso.
"Ora, o projeto da Comissão Legislativa Ilão podia antecipar-se ao futuro. Daí a sua incompatibilidade com as realidades do presente.'
"A simples colocação dos crimes contra a N ação e a organização social e politica, depois dos crimes contra a vida, a, saúde e a integridade corporea, o patrimonio, a liberdade pessoal, os bons costumes, etc., denuncia a concepção reinante ao tempo da elaboração do trabalho em apreço. As penas co-
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minadas contra criminosos daquela categoria são simplesrp.ente ridiculas. Punem-se com prisão até tres anos a provocação à desobedi~ncia militar (art. 391) a conspiração (art. 378), e até a espionagem militar em tempo de guerra (art. 389) . .. Não é preciso dizer mais.
"Se no tocante à criminalidade política e social o projeto se revela dessa debilidade incrivel, não menor é a sua complacência para com os criminosos comus. pululam os exemplos. Veja-se o art. 120, que, no caso de condenação por homicídio passional, permite a suspensão da execução da pena ...
"O art. n. 57, que, proibindo a conversão da pena pecuniária em detentiva, torna completamente ilusória a pena de multa; - o art. 63, que atribue ao conde~ado à detenção a faculdade de fazer vir de fóra a alimentação (!), excluídas as bebidas alcoolicas". " e a de escolher dentre os (trabalhos) que se ~xecutarem no estabelecimento, o que melhor lhe convenha (!), SE NÃO PREFERIR TRABALHOS INTELECTUAIS, A QUE JA' ESTEJA AFEITO" . .. O médico e o advogado dariam consultas, o engenheiro abriria estradas, o professor aceitaria alunos, o poeta comporia poemas e romances o romancista ... " .
Basta o que deixo dito sucintamente, para justificar a. deliberação, que tomei, de não me circunscrever a uma simples revisão do projeto, e sim de fazer obra diferente na substância e na estrutura" (20).
(20) "Tudo induz a -acreditar (escreveu CosTA E SILl'A, II, pref., referindo-se 'à incumbencia que me entregaram) "que s. ex _ não se contentará em perfilhar o projeto já existente, mod}ficando-oparcialmente em um ou outro ponto, de mais ou menos relevancia. De suas mãos sairá ,provavelmente um outro, de cunho próprio, no qual se hão de refletir forçosamente as ideasanti-individualistas do atual momento politico. E' indisputavel que o direito pen8.ll depende intimamente da forma orgânica do Estado . Com razão fala SIEGERT da condicionali<lade poI'ítica desse direito. O nosso Estado Novo precisa de um código penal à sua imagem e semelhança".
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7. Ao cabo de alguns meses de labor exaustivo, terminei a elaboração da Parte Geral do ante-projeto. Publiquei-a, precedida de breve exposição de motivos (21). Nesta declarei ao sr. Ministro da Justiça que, no caso de S. Exa. estar de acôrdo com os principios cardiais de reforma, eu prosseguiria na articulação da Parte Especial, iniciada ao tempo em que presidí a Comissão de Justiça do Senado. Aprovada em tempo, como foram, as linhas fundamentais do código em elaboração, dispus-me a ultimar o segundo livro, consagrado aos crimes em espécie.
Dei entrementes divulgação ao anteprojeto. Esperava que as autoridades na matéria se não recusariam a colaborar na execução de obra de tamanha releVlância. Raríssimos, porém, os juristas nacionais, que se não conservaram indiferentes. Em São Paulo a "Folha da Manhã" procurou ouvir os professores da especialidade. Nenhum deles se dignou pronunciarse. Só os Drs. CANDIDO MOTA FILHO e SINESIO ROCHA responderam aos quesitos do inquerito. No Rio de Janeiro foi "O Globo" que tomou a iniciativa. Ninguém, a não ser o Dr. NELSON HUNGRIA, atendeu ao apelo daquele orgão da imprensa.
O dr. COSTA E SILVA, cuja autoridade nunca será demaig encarecer, limitou-se a analisar, em dois artigos publicados no o " Jornal do Comercio" os títulos primeiro e segundo, deixando para outro ensejo, que nunca se verificou, o estudo dos restantes (22). Cousa" igual sucedeu com o ilustre Sr. CARLOS XAVIER, que interrompeu, logo no começo, a crítica judiciosa dos dispositivos iniciais (23). Além desse, há assinalar apenas os comentários que, em torno de alguns preceitos, fizeram JORGE SEVERIANO (24), BENI CARVALHO (25), JosÉ PRUDENTE DE SIQUEIRA (26). A todas as censuras opus imediato
(21) Anteprojeto da Parte Geral do Projeto do Código Criminal Brasileiro, 1938. A exposição de motivos foi reproduzida .pela Rev. For., 75-5, e .pela Revista de Dir. Penal.
(22) Reprodução na Rev. For., 80.243. (23) Tribuna Judiciaria,.de 26 novo e 10 dez. 1938 e 28 jan. 1939. (25) "Jornal do Brasil". (26) Rev. For., 80.257. (24) Rev. For., 80-257.
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revide, confessando a procedência de várias dentre elas e de~ fendendo~me das que me pareceram menos justas (27).
Afinal, em novembro de 1938, entreguei ao Governo da República o projeto em sua integra. Para facilitar o confronto, fiz seguir cada artigo dos preceitos correspondentes, assim na Consolidação das Leis Penais, como da obra da Subcomissão Legislativa, ou da menção de se tratar de disposição nova, sem equivalente em qualquer desses textos (28).
A 26 de dezembro de 1938 o Dr. FRANCISCO CAMPOS acusa~ va nos termos seguintes o recebimento do trabalho :
"Acha-se em minhas mãos o projeto do Código Criminal Brasileiro, que· o prezado amigo redigiu no desempenho da incumbência que, por meu intermédio, lhe foi feita pelo Govêrno. A circunstâ.ncia de me haver sido entregue o seu trabalho poucos dias antes do acidente que sofri e cujas consequencias me prenderam ao leito durante dois meses, impediram-me de, no tempo próprio, agradecer-lhe a remessa do mesmo e assim testemunhar a satisfação com que o recebi. O Projeto confirma as esperanças que todos depositavam no autor, que pode orgulhar-se de haver enriquecido as nossas letras jurídicas com um monumento de vastas proporções, em correspondência com os problemas apresentados pela atual fase e evolução do direito penal e com a.s condições sociais ora vigentes no paiz. O pensamento dos interesses da Nação, no que concerne à defesa da coletividade contra o crime, está na sua obra. A técnica jur;dica, com que a compôs, é segura, e todo o texto apresenta, na redação o vigor e a nitidez das leis, que não se destinam Só ao presente, mas ao futuro. É com prazer que me entrego neste momento à revisão do projeto, esperando levá-lo,
(27) As respostas se acham resumidas no opúsculo de minha autoria, "O Projeto do código criminal perante a crítica", 1939, republicado na Rev. For., 80.290.
(28) ALCANTARA MACHADO, PTojeto do Código Criminal Brasileiro, 1938. Pl.lblicou-o tambem a Rev. da Fac. de Dir. de S. Paulo, 1938.
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uma ve~ concluida aquela, ao exame do Sr. Presidente da Republica. Com os meus sentimentos de apreço e simpatia, sou, o seu amigo, admirador e criado (a.) FRANCISCO CAMPOS."
Continuaram, todavia, silenciosos e displicentes os mestres nacionais. Nenhum trabalho de conjunto. Críticas e apredações sobre um ou outro dispositivo. Mais estensas as de
DEMOSTENES MADUREIRA DE PINHO (29), ANIBAL BRUNO (30), NELSON PINTO (31), Igualmente imparciais e cortezes as de NARCELIO QUEIROZ (32), CORREIA DE ARAUJO (33), TOMAZ LEONARDO (34), VALDEMAR PEDROSA (35), DALMO BELFORT DE MATTOS (36), OLIVEIRA FRANCO SOBRINHO (37), ABE~ ATTAR NETO (38), BASILEU GARCIA (39), JosÉ AUGUSTO DE LIMA ( 40), e, entre os médicos-legistas, AFRANIO PEIXOTO (41) e FLAMINIO FAVERO (42). Uma, virulenta e apaixonada, do sr. NELSON HUNGRIA, que tentou desencadear vio-
(29) Medidas de Segurança, passirn, A reforma penal do Brasil, em Estudos Brasileiros, 1.60.
(30) Medidas de segurança, 1940. (31) E1n torno do pro do cód. crim. bras., conferencia feita em
1939 no Instituto da Ordem dos Advogados da Baía. (32) Est. bras., 1.7fJ. (33) A pena de morte no ante-pro do cód. crim. bras., em Rev.
For., 81-341. ( 34 ) A pro p?-iedade industrial no pr. do cód. crim. bras., no J or
nal do Comercio, de 14 de maio de 1939. (35) A imputabilidade em face do pro do cód. crim., em "O Jor
nal", de Manaus, de 1 Jan. 1939. (36) O espi?-itismo e o pro do cód. crim. bras., em O Legionário,
de 13 ag. 1939. (37) As vantagens do futuro cód. crim. bras., em Gazeta Jurídica,
de 2 jan. 1939. (38) A nova lei penal brasileira, em Jornal do Comércio, de 5
novo 1939. (39) A pena no projeto Alcantara MMhadO, confez:encia a 23 de
set. 1940, na Semana Paulista de Estudos Policiais (40) O defloramento no proj. do cód. crim. brasileiro, em Jus
titia, 1.21. (41) Est. bras., 1.72. (42) As lesões pessoais no proj. Alcantara Machado, conferencia no
Instituto dos Advogados de S. Paulo. O segredo médico na lei penal vigente e no P?·oj .. Alcantara Machado, em Jus titia, 1.27.
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lenta campanha contra o projeto (43), como já fizera com relação ao da Subcomissão Legislativa, mas sem encontrar quem lhe seguisse as pegadas.
Quanto às autoridades estrangeiras, além de JULES SIMON (44), e NERIO ROJAS (45), que já haviam acolhido favoravelmente o ante-projeto da Parte Geral, ocuparam-se largamente do trabalho os professores ENRIQUE ALTAVILA, de Nápoles, CARLO UMBERTO DEL POZZO (47), de Turim, IRURETA GoYENA (48), de Montevideo. A superveniência da guerra européia não me permitiu tomar conhecimento de outros juizos, que porventura hajam aparecido.
8. Passado algum tempo, uma agencia telegráfica· principiou a espalhar aos quatro 'Ventos que se haviam constituido em comissão revisora os srs. COSTA E SILVA, N. HUNGRIA, ROBERTO LIRA, NARCELIO DE QUEIROZ e VIEIRA BRAGA.
De quando em quando se noticiava que a comissão resolvera INCLUIR dispositivos, QUE JÁ CONSTAVAM DO PROJETO, como os relativos às medidas de segurança e ao crime de abandono de família, e EXCLUIR matérias, que O PROJ1ETO NÃO CONTEMPLAVA, como as contravenções. Aludia-se (que remédio!) ao projeto. Calava-se, porém, sistematicamente, nos comunicados oficiosos, o nome de quem o fizera. Com o correr dos dias, as informações fornecidas à imprensa não mais se referiam ao trabalho de minha lavra. O "grilo" se desmascarava: a comissão revisora se transformara manhosa mente em comissão organizadora do novo código. Nada se percebia além disso. Efetuavam-se as reuniões a portas e janelas cerradas, como se o trabalho tendesse, não à repressão, mas à prática de crimes.
(43) 'Conferencia publicada no "Jornal do Comércio" e na "Rev. de Dir. Pen."; debates da Sociedade de Estudos Brasileiros (Est. bras., 1.74). Não lhe dei resposta, !por ser evidente nas objurgatorias o pro"",ósito de transportar para o terreno das agressões pessoais o debateoientífico.
(44)" Rev. For., 80.268. (45) Arquivos de medicina legal, Buenos Aires, 1938. (46) Rev. For., 80.260. (47) Rev. For., 80.270. (48) Rev. For., 81.565.
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Afinal, em julho de 1940, o eminente sr. Ministro da Justiça resolveu esclarecer tão singular situação. Fê-lo em notavel entrevista concedida a " O Jornal" e reproduzida à pág. 152 do livro, que deu à publicidade sob o título "O Estado Nacional". Eis o que, sempre generoso para comigo, houve por bem declarar :
"Quanto ao código penal, consubstancia o que de mais certo e pacífico assentou o moderno direito criminal sem se afastar da tradição do direito e da cultura do Brasil, nem desprezar a consideração de nossas peculiaridades. O anteprojeto redigido, a meu convite, pelo sr. ALCANTARA MACHADO, professor da gloriosa Faculdade de Direito de S. Paulo e um dos mais elevados expoentes do pensamento brasileiro, É UMA OBRA NOTAVEL PELO SABER E BELO RESPEITO À REALIDADE, TANTO QUANTO PELO PRIMOR DA FORMA. O trabalho completo foi-me entregue em setembro do ano pasado, e É O MELHOR PROJETO DE CóDIGO CRIMINAL. QUE ATÉ HOJE SE FEZ NO BRASIL".
Acrescentou s. ex. que pensava em retirar do código cer! tas figuras, mais cabiveis entre as contravenções, e outras já . definidas em leis especiais. E concluiu por dizer que teve, por isso mesmo, de rever o anteprojeto com o auxilio dos juristas a que acima se fez referência, estando então o labor na
\ fase final. Daí por diante cessaram como que por encanto os comu-
. nicados aos jornais; até que nos· últimos dias de outubro ou nos primeiros de novembro a imprensa divulgou achar-se concluida a revisão, com á apresentação de "outro" projeto. Seria ma~s propriamente um substitutivo. Mas, em obediência ao plano preconcebido, era preciso dar a impressão de que de meu projeto nada se aproveitá:ra. Nem mesmo os dispositivos que punem a violação de direitos autorais ...
9.' Até agora (et pour cause ... ) esse projeto não veio à luz. Dele, em fins. de. novembro de 1939, recebi uma cópia
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datilografada. Na carta, datada de 23, que a acompanhava dizia o sr. Ministro da Justiça:'
"Ilustre amigo Prof. ALCANTARA MACHADO, tenho o prazer de passar a suas mãos o trabalho concluido pela Comissão revisora do anteprojeto do Código Penal. À Comissão pareceu conveniente introduzir alterações e de algum modo colaborar mais profundamente na obra, notável por todos os títulos, realizada pelo meu eminente amigo. IEssa colaboração é uma prova do interesse despertado no seio dela pelo seu trabalho, que tanto lhes mereceu. Venho pois, submeter à sua apreciação as conclusões a que chegou a Comissão e ainda uma vez assegurar ao ilustre amigo os sentimentos de grande apreço e admiração com que me subscrevo seu mt.O am.O e adm.o (a.) FRANCISCO CAMPOS."
Note-se que, na expressão do sr. Ministro, a Comissão ~ limitava a "introduzir alterações e de algum modo COLABORAR mais profundamente NA OBRA POR MIM REALIZADA. Nada mais. Alterou e colaborou no projeto de minha autoria. Veremos oportunamente como, por um passe de mágica, se transformaram em autores exclusivos os simples colaboradores.
10. O que me foi presente, com o rótulo de "Código Penal do Brasil", era na realidade um decalque do "Código Criminal Brasileiro", projetado por mim. Este reaparecia naquele, por mais que tentassem desfigurá-lo, mediante graves mutilações, enxertos insignificantes e emendas anódinas ou contraproducentes de redação. O que é pior: reproduzia muitos erros, que me haviam escapado e que eu já havia anotado para corrigí-Ios oportunamente. E o que é bem significativo: trasladava diversos dentre os dispositivos criticados acerbamente por alguns dos revisores ...
Pensei· a principio dar por encerrada a minha missão e deixar sem comentários a obra 'da comissão revisora, aguardando que ela fosse convertida em lei, para então publicar lado
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:a lado os dois textos. Mas, quando de sua passagem por São Paulo, em janeiro de 1940, o s~. Presidente de República me perguntou pelo andamento do trabalho e incitou-me a prosseguir na tarefa.
Diante disso, e unicamente por isso, me consagrei então à trabalheira insana de analisar o substitutivo, comparando-o -com o projeto, e mostrando a sem-razão de muitas alterações ,de substância e de forma e o acerto de algumas. Circunscl'e· vi-me à Parte Geral. Não seria possivel, sem o desperdicio de varios meses, estender o cotejo à Parte Especial, muito mais volumosa.
Em fevereiro seguinte entreguei ao Governo essa análise, .acompanhada da exposição que passo a' transcrever:
Exmo, Snr. Prof. Dr. Francisco Campos
Maior não poderia "ser a decepção que me causou o conhecimento da ()bra da comissão a que V. Ex. confiou o encargo de rever o projeto do .código criminal brasileiro. Digo-o com a franqueza, que devo a V. Ex., e o desassombro, que me dá a certeza de estar colaborando .para evitar a consumação de clamoroso atentado contra a noosa cultura jurídica.
I
COMO SE F1EZ A REVISÃO
O projeto foi elaborado, publicado, distribuido em dez meses; e desde 'então vem sendo debatido e criticado, no país e no estrangeiro, por todos quantos se julgam em condições de fazê-lo. Em contraste com tudo isso, a revisão, que consUiIlliu mais de ano, fez-se a portas fechadas, em segredo aJbsoluto, sem que sequer fosse ouvido o autor do trabalho re·visto ... Dela o que eu conhecia, como toda a ,gente, e através de noticias tendenciosas e sumárias, era muitissimo pouco: ~ ~ 8upressão (?) de materias, que não constavam do projeto, como
as contravenções ... , - a incl'l,tSão (?) de outras, que no projeto já se encontrravam, como
:as medidas de segurança e as disposições repressivas do abandono de f~ia ...
- e mais um ou dois pormenores de somenos ilTIliportância.
Dada a larqueza de tempo, que se gastou na tarefa, e atenta a com.petência dos revisores, seria de esperar que saisse obra escorreita, na. ,substância e na fórma.
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Não foi desgraçadamente o que sucedeu. Dentre os defeitos do projeto, muitos escaparam à argúcia dos revisores e se incorporaram ao, substitutivo; e inúmeras dentre as vantagens daquele, desapareceram, sob a avalanche de emendas supressivas, aditivas ou modificativas, absolutamente indefensáveis.
E' que, segundo, se vê desde logo, pelo simples cotejo d03 textos, a revisão obedeceu, toda inteira, à preocupaçij.o de mutilar, desfi~ul'ar, detUl'par o 'projeto, de maneira a tornar imperceptivel a sua influência na futura codificação, e a justificar a informação insistentemente divulgada de que a comissão revisora se transfonnara "ex proprio Marte" am comissão organizadora da refonna penal.
A linguagem do projeto e a do substitutivo
1) De acôrdo com as tradições legislatiyas do Brasil, o projeto emprega, de preferêr.cia, no tempo futuro, os verbo" de que se utiliza na formulação dos preceitos. Ass;m fazia o cod. criminal de 1830, desde os primeiros artigos: "não haverá crime ou delito ... julgar-se-á crime ou delito ... não haverá, criminoso"... Assim prOCede em regra o cód. de 1890: "ninguem podel'á ser punido ... o fato anterior será regido ... 1'13-
putar-se-á consumado ... haverá tentativa ... sê-lo-ão os fatos"... Assim faz, invariavelmente, o código de processo civil, de 1939, padrão excelente de téenica legislativa: "1·eger-se-á ... poderá limitar-se ... verifwar-se-á . . , não poderá pronunciar-se ... serão publicos ... poderão rea-1izar-se. " poderão prosseguir... que houverem de praticar-se... serão expedidas. .. fôr ordenada... conterá... será transmitida... telefonará. .. submeterá ... " Tudo isso (poder-se-ia alongar indefinidamente a lista) nos dez primeiros artigos.
Pois bem: repulsando a nonna, que, entre nós, sempre vigorou e continua a vigorar, e que indiscutivelmente é a que melhor convem à expressão do :pensamento do legislador, o substitutivo não emprega senão, o indicativo presente. Para demonstrar quanto 'se enfraquecem, dessa maneira, a energia, o vigor, o cara ter imperativo da lei, basta que se ponham face a face dispositivos correspondentes do substitutivo e do projeto. Sejam estes, que tomamos ao acaso: enquanto um dispõe ,que "incorrerá nas penas cominadas ,para o crime... quem o houver diretamente resolvido e executado", o outro declara molemente que "responde pelo crime... quem o executa" ...
Outro defeito de ordem geral é o abuso da fôrma composta do participio passado. Desta disse RUI com razão, em seu parecer imperecível a res:peito do projeto do código civil, que é menos incisiva, menos brever
menos própria, menos elegante. Note-se ainda que na Part'e Especial aparece à margem de cada
artigo a epigrafe correlativa. Imita~se, neste ponto, o código suiço, que" tanto quanto o italiano, serviu de manancial ao substitutivo. Trata-se,. antes de tudo, de método, que não tem precedentes na 'legislação brasi-
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leira, e que nenhuma vantagem oferece em compensação às dificuldades que suscita. Mas ,o que de nenhum modo se compreende é que o perfiJhem no livro II e repudiem no livro I.
Note-se por último o abuso de remissões ou referências a; outros dislPositivos, o que dificulta a compreensão imediata do texto.
2) E' sobretudo nas emendas de simples redação que transparece a tenção preconcebida de modificar em tudo, a torto e a direito, de alto a baixo e de cabo a rabo, o trabalho de que fui incumbido generobamente 1'or V. Ex., e que, esforçada e desinteressadamente, levei a termo.
Nada mais eloquente do que estas e quejandas "correções":
Projeto
- crimes (art. 3) - efeitos (art. 3) - por convenção ou tratado (arti-
go 4) ........................ . - não se procederá, senão verificado
o concurso das seguintes condições (art. 4, § 2.0 ) ••••••••••••
~ entre aqueles que, de acôrdo com a lei br~";ileira, autorizam a ex-trooi!;ão (art. 4) ............. .
- Das penas privativas da liberdade (epigrafe da secção I, capo J, titulo IV) ................... ,
- mediante acôroo (art. 36) .... . .-: Computam-se os prazos em maté
ria ,penal, incluindo o dia do começo (art. 6) ..........•.....
- A tentativa, a que não estiver co-minada pena especial, será punida com a do crime consumado (art. 12) .•...•.......•....••
- determinar a quantidade (art. 43) •.....•..•.....•...........•
- Poder-se-á conceder livramento condicional (art. 71) ......... .
- a medida que entenda' mais acer-' tada (art. 84) .............. ..
- secção na qual fiquem assegurados o tratamento e a custódia do internado (art. 89) .......... .
Substitutivo
ar;ões ou omissões criminosas. l'esultados. por tratado ou conv,enção.
o processo fica subordinado ao concurso das seguintes condições.
pelo qual a lei brasileira admite a extradição.
Da reclusão e detenção (unicas penas privativas da liberdade).
desde que preceda acôroo . Co~uta-se nos prazos estabeleci
dos neste código o dia do começo.
,Salvo disposição .especial em. contrário,a :pena de tentativa é a. do crime consumado.
fixar a quantidade.
o JUIZ pode conceder li vramento condicional.
a medida que rôr' aconselhavel.
secção, na qual, com' o tratamento do internado, se lhe as'segure a custódia.
Como explicar emendas dessa pequenez, senão pela volúpia de re-, tocar a produção alheia, até nos lanços em que está certissima?
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Note-se que a corrigenda piora muita vez o texto, porque diz 3 mesmíssima cousa em maior número de palavras: "desde que preceda" em lugar de "mediante", e "ações ou omissões criminosas". em lugar de' "crimes" .
A.ssinale-se ainda que, depois de repelir a redação do projeto, 0-
substitutivo se ar,repende de tê-lo feito: é o que se dá com a expressão "aut01"idade ma1·ital" (art. 57), que os revisores substituem por "chefia, da sociedade conjugal", mas reproduzem, em dispositivo posterior, talqualmente consta do projeto ...
Onde, .por6m, se torna, escandaloso o propósito de modificar, seja, como fôr e custe o que custar, sistemáticamente, o trabalho revisto é em,
pontos como estes:
de grande circulação (art. 56) .• pessoa sujeita á sua autoridade (art. 19) ...................••
- infração dos deveres (art. 45) .• sal'/o expressa disposição em conh'ário (art. 18, § 1.) ....•..... influxo (art. 46) ............. . não prevalecerá todavia (art. 77, § 1.0) ........................ .
em nenhuma hipotese (art. 52) UrfLa vez que (art. 65) ........ .
de ampla circulação (!) alguC'rn sujeito à sua autorida-·
. de (!!)
violação dos deveres (!!!) salvo disposição, expressa em con-'
trário (!!!!) influência.(!!!! !) não prevalece, entretanto (!!!!!!)
em caso algum (! I ! ! ! ! ! ) desde que (!!!!!!!!)
Forro-me, diante disso, à canseira de pôr mais na carta.
3) A contrastar com fúria tamanha em farejar e corrigir falhas, imaginárip.s, o substitutivo está redigido de maneira a constituir mostruário opulento de todos os vicios de linguagem e de todas as deselegâncias do e.~tilo.
Tão evidentes e nUlmerosos Eão os desacertos e as t.aras da obra da Comissão, que n?o escapallll ao simples aprendiz, que sou, da arte de' escrever com limpeza. Imagine-se a fartura da colheita que os cento e poucos artigos da Parte Geral, únicos que examinei, forneceria a um· mestre da envergadura e da paciência de RUI.
Abundam as infrações gramaticais:
- "depois de embriagar-se" (44); o que é erronia flagrante, porque' os adverbios de t"mpo obrigam à próclise ou anteposição do pronome' regime;
- até o tri,plo (43), "'até o maximo" (58), "até o termo" (63 e 64);< quando o certo seria, uma vez que se trata da preposição, e não do ad-· verbio, "até ao triplo", "até ao maximo", "até ao termo";
- "atingir ao que baste" (35 § 3.0 ); onde se dá o verbo como intransitivo, cousa que, em mais de um tópico (55, 85), o próprio substi-tutivo condena;
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- "frusta" (36), em vez de "fJustra"; - condenado "à pena diminuida" (92, I e Il) ou "ã pena privativa
da liberdade" (92, IV, e 93, II), "obediência à ordem de superior hierárquico" (15), em que se não justifica o emprego da crase;
- "age" (17), neolo6'ismo que RUI entende, com razão, inteiramente dispensavel;
- "incida na sanção" (64 § un. IH), o que, no dizer de RUI (n. 155), "constitue novidade no vocabulário das nossas leis, dos nossos mestres, dos nossos jurisconsultos, sendo o "incol'rer'" a palavra consagrada pela tradição na legislação e na jurisprudência 'Pátrias;
- "atendendo-se o disposto" (52); o que não se compreende, sabido que aquele verbo exige a preposição a.
Galicismos não faltam: - "conduta" (91, § 1.0), no sentido de comportamento ou procedi-
mento; - "insoh·abilidade" (37), por insolvência, que é o termo vernáculo. 'Entre os .pleonas1!lOS Jiguram: - "insolvabilidade ~bsoluta" (37); - "multa exigivel, se não estive'r prescrita" (37). Sobejam as palavras supérfluas: - "as medidas ... acaso impostas na sentença" (63): - "execução m.aterial" ( 45) ; - "o condenado ,por crLme de que re.~ulte manifesta a sua incompa-
tibilidade" (64, § un., IV); - "o juiz para formar 8ua convicção" (74, § un.); - "se o agente, em virtude de perturbação na sua sau.de" (20,
§ unico); - "salário ganho pelo condenado por seu trabalho" (35).
Além dessa expressão ambigua ("pelo condenado por seu trabalho"), muitas outras, padecentes da mesma enfermidade, se encontram no substitutivo. Nenhuma, porém, se emparelha com esta, mereced~ra de figurar como protótipo de anfibologia nas gramaticas:
~ "em tal caso subsiste a imputação dos fatos anteriores a quem os tenha praticado (8, § un.).
Sem peso nem Cvnta são as cousas destoantes da elegancia no dizer:
- "melhorando o m.esmo" (37), isto é, o condenado: "nos prazos acim.a fixados", isto é, errn outro artigo (110);
- "o di'sposto acima" (47, § un.); - "venha o agente ... personalidade do agente ... meio em que o
a[Jente" (74, § un.);
- "no exercicio de função pública, em prejuizo da Flazenda PúbUca" (64, § uno ii);
- "no estabelecimento... do estabelecimento" (29, § ún.); - "a ação pública é promovida pelo Ministerio Público" (102);
28 -
- '''nos crimes de ação pública ... se aquela não o é ... pelo Minis
terio Público" (102, § 3.0 );
_ "o condenado ... fica ... separado dos condenados" (29).
,Sobressae, entre as impropriedade., de expressão:
- "a ag1·avante da reincidência consiste na prática de novo crime" (46) ...
Incontaveis as cacofonias, os hiatos, as aliterações desagradaveis ao
ouvido menos sensivel:
- "condenação, cessam sua" (2); - "exect:;ão, salvo" (113); - "revoga-se a sus-pensão, si no curso" (57); ~ "suspem:a, se sobrevem" (40);
"terço, si se" (110); "se se trata" (28, § 3.°); "se sua subscquente" (31, § un.); "razocwelmente exigivel do agente" (17); "genérica, quando" (46); "específica, quando" (id.); "uma medida ... acima mesmo" (78); "fica o condenado" (22);
- "pública, quaisquer que" (102); - "pelo r;ua1 a.lei" (4, § 2.°);
"cumpre a pena privativa" ... - "atividade, desde" (65, § un.).
Onde, todavia, excele o substitutivo, deixando a perder de vista os €xemplos clássicos, é nas tautofonias. Cabe-lhe de direito, sem tirar nem pôr, aquilo que RUI afinnou do projeto de código civil: "Dir-se-ia um prosador obsesso do espirito da rima. Pululam-lhe sob a pena as assonâncias, as consonânciás, os homofonismos escusados e impertinentes". Conservemos as ,palavras do parecer famoso, ilustrando-as, poréttn, com as amostras fornecidas pelo substitutivo: "Óra são as de..'linências em ente, consoando repetida>,", como no art. 17 ("de perigo atual e iminente que não provocou voluntariamente, se... não se podia razoavelmente exigi.r do agente"). "Agora o lento e iterativo badalar de um ento, ento", (!omo no art. 29 ("o trabalho do detento pode ser diverso dos que se executam no estabelecimento, atentas as aptidões... desde que esta não recáia em trabalho que perturbe a ordem interna do estabelecimento"). "/Mas sobretudo os finais em ão. Com êles ora troveja o texto como um bronteu, ora dobra como um carrilhão". Aos montes são as provas docUlITIentais. Os arts. 57, 113, 91, 'por exemplo. Reza o primeiro ",pode ser igualm~mte revogada a suspensão, se o sentenciado pratica alguma contravenção". Reboa 'assim o penúltimo: "A prescrição começa a correr da data da condenação ou da relJogação da suspensão ... ou da data em que ... se haja interrompido a execução, salvo quando o tempo da inter-
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rupção" . .. Em cinco linhas "seis unissonantes estampidos. E o último em uma só": "Para a cessação sIa internação deve a decisão" ... . Faz-lhe honrosa companhia o art. 99: "a 'interdição <Ia associação acarreta:.a suspensão . .. "
Grande é tasmbem a dileção ,pelas rimas em ado: após haver a sentença tmnsitado em julgado... a requerimento do condenado" (34); "ressalvado o direito <lo lestUio" (70); "pode ser imputado a quem o tenha causado" (8); "é condenado por sentença passada em julgado em razão de ... crime anteriormente praticado" (57); "o condenado ... fica sempre separado dos outros condenados" (29); "passada emjulgadó ..• acima fixados" (110).
Outras aparecem mais raramente: "mensais, iguais" (34 }';"os' favores ... que o condenado .leva merccer: bem como ... os castigos ... em que possa incolTcr (30).
Prosa rimada? Ou versos, com fraturas comihutivas nos P'ês, que se introduz:ram subl'epticiamente no código em forÍnação?'
III
o substitutivo e o novo regime
O substitutivo denuncia, em mais de um passo,'desconformidade flagrante com o espírito do atual regime político.
1) Testemunho significativo desse <livórcio ê 'a' ordem seguíd~ na articulação da Parte Especial.
Obedi:mte às tradições do nosso direito codificado, o projetO classifica -os delitos, de. acôrdo com a hierarquia dos bens sacrificados ou postos em perigo. Ocupa-se primeiro dos crimes contra a nação; e depois, sucessivamente, dos que se referem á coletividade social, á família. ao individuo. Foi es!:'e o criterio dominante no cód'igo de ,1830. Esse é o criterio aceito pelo de 1890. Outro não pode ser oda reforma enl andamento, quando o principio fundamental do regiine vigente é a subordinação dos interesses individuais aos interesses' .coletivoa. ' ,
Pois bem: o substitutivo faz precisamente o contrário, só para.. imi .... tar o código suiço, que é o último d9s figurinos p~nais. Não se diga que o exige a necessidade lógica de partir do simples pítr'á ocpmplexo. 'Por-, que, antes de tudo, há crimes contra a pessoa, como: o estelionato, de complexidade muito niaior dó qUe outros contra li' fiação como 'o vilipendio da bandeira; c, além disso, o pensa-inéntopolítico' tem da 'prédominar necessariamimtesôbte 'quai~guer convenienéíi{; metodológicas;"
2) O projeto reproduz, eo:substitutivo suprime, à' disp'osição' Vi':' gente da Consolidação das Leis Penais, que manda instaurar ação pública nos crimes de·:injúria .ou'ccalúnia contra o' Ghefe; do Estado, uma vez que o requislte ou determine.' o' Ministro da J:ustiça.
Pelo substItutivo,ca instauração ';do processofica,:df:pend.ente de representação tio' ofendid<> ;o'que obtigará o Presidente a comparecer em juizo como suplicante'.:.. Sem comentários.
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30 -
3) Pelo projeto, como pela Consolidação em vigor, ficam sujeitos à lei brasileira, embora cometidos no estrangeiro, todos os crimes contra a Nação. O substitutivo limita o alcance do 'preceito aos crimes contra a vida e a liberdh.de do Presidente da República. De sorte que não mais serão julgados por tribunais brasileiros, de acôrdo com a lei brasileira, muitas infrações gravissimas, que em principio não são praticáveis ou geralmente não se praticam, senão fóra do território nacional:
- a remoção de marcos ou sinais indicativos de fronteira; - o abandono, ao ini:m.igo, de territorio estrangeiro ocupado por
forças da República; - a provocação de nação estrangeira a hostilidades ou guerra con
tra o B~asil; - a prática, sem autorização do go·verno, de átos contra nação es
trangeira, que exponham o Brasil a perigo de guerra; - a violação desautorizada de territorio estrangeiro ;para praticar
atos de jurisdição em nome do Brasil; - a infração de trégua ou armistício acordado com potência ou for
ças inimigas; - o engajamento de brasileiro em força militar do .país que esteja
em guerra com a nossa pátria; - a traição, em várias de suas modalidades.
Parece-me que o:nais não rpreciso dizer.
IV
Mutilações a granel
. Não se contenta o substitutivo com estropiar a linguagem do projeto, que, no tocante à correção, clareza e simplicidade, recebeu elogios unânimes dos entendidos. .
Atacou-lhe a estrutura, mutilando-a ás cegas, no que tinha de melhor.
1) Dentre as mutilações de maior vulto se destaca a de todo o título consagrado ao regime da menoridade.
Esse, entretanto, é UIID dos tópicos, em que o projeto despertou maiores a<plausos da crítica insuspeita. Aqui está o que escreve a respeito em "La Scuola Positiva", CARLOS H. DEL Pozzo, assistente de direito e 'Processo penal na Universidade d.e Turim:
",Digna de nota ... é a tentativa brasileira de sistemati2l8.r de modo orgânico em um título do OOdigo, todo o re~ime da menoridade: TENTATIVA MERECEDORA DE ELOGIO INCONDICIONAL, PORQUE O PROJETO TEM NA DEVIDA CONSIDERAÇÃO A GRAJNDE RELEV AN-
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CIA DO PROBLENIA DA MENORIDADE NO PONTO DE VISTA PENAL E OS INCONVENIENTES GRAVíSSIMOS DE SER ESSA MATERIA REGULADA EM DISPOSIÇÕES FRAGMENTARIAS, INTEGRADAS E MUITAS VEZE'S SUBSTITUIDAS POR TEXTOS AUTOiNOMOS DE LEI,COMO SUCEDIA ENTRE NóS ... Esse o regime, a 'um tempo NITIDO E PERSPIOUO, da menoridade no projeto brasileiro... O projeto oferece vantagens inúmeras, como seja A REGULAMENTAÇÃO ORGANICA DO REGIME DA MENORIDADE".
Qual o motivo da supressão? O único possivel será o veto do snr. COSTA E SILVA, manifestado na época já ultrapassada, em que os códigos só estabeleciam 'penas e não tinham acolhido as medidas de segurança. Diante, porém, do sistema do 'projeto, perfilhado pelo substitutivo, não tem mais razão de ser a oposição.
Tanto assim que, dentre os últimos códigos (o suiço é de 21 de dezembro de 1937) e dentre os projetos recentes (são de 1937 o argentino e de 1938 o chileno), nenhum existe, que deixe de regular mais ou menos minudentemente a materia. A vingar o substitutivo, o código brasileiro seria inqualificavel exceção.
2) Suprimiram-se tambem os dispositivos referentes á classificação dos criminosos, classificação indispensavel ao' tratamento penal.
"E' postulado moderno che IL CRITERIO FON.DAMENT ALE per Ia scelta deIla pena o, .piú largamente, deI mezzo difensivo idoneo (sanzione criminale) sia quello di ri partire i delinquenti in classi, alla streglola deIla 10ro 'particolare personalitá" (FLORIAN, lI, n. 789). Isso mesmo proclamaram os juristas nacionais, na Conferência Brasileira de Criminologia, de 1936, pela voz autorizada de SANTIAGO DANTAS, CARLOS XAVIER, ROLANDO MONTEIRO, BULHÕES PEDREIRA, J. LuclO BITTENCOURT, uordes em aplaudir neste ponto a orientação do projeto da Sub-Comissão Legislativa; e deu-lhes razão o plenario, rejeitando 'por imensa maioria a emenda supressiva, que um dos conferencistas formulara.
Em vez de corrigir os defeitos possiveis da classificação, o substitutivo acha mais comodo cortá-la. Para êle os criminosos imputaveis se dividem ap'enas em primários e reincidentes. Não ha profissionais, nem habituais, nem 'por indole ou tendência. Continuaremos asim na mesma situação em que nos encontrou o código de 1890; e a condificação brasileira nascerá atrazada de meio século ...
3) Dentre as medidas de segurança desapareceram:
- a expulsão do estrangeiro por decisão judkial; - a caução de bom comportamento.
São institutos existentes desde muito no direito pátrio; aceitos pelai! maiores autoridades naçionais na materia (ATALlBA NOGUEIRA e DEMOSTENES MADUREIRA DE PINHO) ; adotados pelos códigos e projetos mais mo-
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demos, em sua infinita maioria (projéto.3 francês, de 1932, chileno, de 1938; código mexicano, de 1929, venezuelano, de 1934, espanhol de 1928, uruguaio, de 1934, cubano, de 1936, romeno, de 1936, suiço, de 1937, italiano, de 1930).
VI
Deshumanidades
o substifutivo é profunda e visceralmente deshumano. Todas as medidas que o projeto consigna, inspiradas, não só no
sentimento de humanidade, como tambem no propósito de facilitar a emenda e a regeneração do delinquente, o substitutivo repulsa.
Elimina, com efeito: - a faculdade concedida ao juiz de não reconhecer, em certos casos,
a reincidência genérica; - a conversão da pena privativa da liberdade" em segregação a ser
cumprida em estabelecimento especial de tratamento e custódia ou de educação e trabalho, quando se trate de portador de anomalia psíquica, Burdo-mudo educado ou selvícola incompletamente a.daptado; os quais, drJ acôrdo com o substitutivo, serão recolhidos à penitenciária, como os dclinquentes comuns;
- a proibição da reclusão celular absoluta, por mais de 30 dias, como medida disciplinar;
- o adiamento da execução da pena p/'ivativa da liberdade, enquanto pe1'dw'ar a gravidez da condenada;
- a possibiliJdade de ser jeito o pagamento da multa, m.ediante aJ prestação de serviços em obras ou estabelecimentos públicos;
- a exigencia de ser ao ar livre o trabalho dos sentenciados no segundo estagio da pena; . - a deten~ão, a domicilio, do valetudinário e da mulher honesta, em
se tratando de pena por tempo não excedente a um mês; - o poder, outorgado ao juiz, de determinar, em casos especialís
simos, que a sentença condenatória não cO!lste da folha corrida do agente;
- a rehabilitação por dec1'eto judicial. Severidade? Não: deshumanidade, e, o que é pior, desconhecimento
do espírito que norteia a política criminal contemporânea.
VII
A sistemática
o projeto segue na Parte Geral a ordem naturalmente indicada:
- a lei, primeiramente; depois - o crime, - o agente,
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- as sanções (penas e medidas de segurança aplicáveis aos maiores e regime da minoridade);
- e, ,por último, a ação criminal.
Um critico estrangeiro achou claríssima, e, em certos pontos, preferivel á do código italiano, a sistemática do ,projeto.
Resolveu depredá-la o substitutivo. 1) Para isso bipartiu o titulo "do agente", passando um dos frag-'
mentos a chamar-se "da autoria" e o outro "da responsabilidade". Daí tres erros inegaveis. Primeiro: é do agente, e s6 dele que se trata, nos dois títulos rece!ln
creados. Porque não reunir sob a epigrafe "do agente" toda a matéria que lhe diz respeito?
Segundo: cada um dos novos titulas, ou seja cada uma das subdivisões principais do código, conteria apenas TRES magros 'artigos; o que por si só demonstra a sem-razão do expediente.
Terceiro: sob a rubrica "da responsabilidade" o substitutivo não se ocupa senão "da imputabilidade", que não é aquela, mas apenas o seu pressuposto. Leia-se, a propósito, FLORIAN, p" 28(j.
2) Tam'bem se bi.partiu o titulo "da ação penal", em um com a mesma epigrafe e outro com a "de extinção da punibilidade".
Ora, a chamada "extinção da punibilidade" se reduz tão sómente, segundo FLORIAN, às causas que extinguem "la perseguibilitá deI reato, corrispondentem~nte il diritto di punire, e in definitiva, VAZIONE PENALE"" Se o caso é de extinção da ação criminal, não ha considerá-lo fóra do titulo em que a ação criminal vem regulada.
3) A mania da bipartição extende-se à matéria das penas. São estas classificadas, à maneira dos códigos italiano e suiço, em principais e acessorias.
Estas não passam, todavia, de efeitos penais da condenação. Dizem-no os mestres e reconhece-o o próprio código Rocco.
VIII
Os c?'imes cont?"u a personalidade do Estado
O projeto não trata dos crime:.> contra a ordem social e política, regulados pela lei de segurança.
N.ão o faz, porque são crimes de natureza especial, sujeitos a processo especial, perante justiça especial.
Ocupa-se, porém, detidamente dos crimes contra a ,personalidade do Estado, isto é, contra a Nação Brasileira, os Esta,dos estrangeiros, os direitos politicos do cidadão. Todo esse título, que contém materia diferente da que faz objeto da lei de segurança, todo êle foi cancelado pelo substitutivo; e, como este declara que, ressalvada a legislação especial, ficam revogadas as dis.posições em contrário, e como legislação especial
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não é- a vigente Consolidação das Leis Penais, segue-se que, vitorioso o Iilubstitutivo, NÃO MAIS SERÃO PUNIVEIS:
-a provocação de nação estrangeira a mover hostilidades ou decla-rar guerra ao BTasil;
- o fato do brasi'leiro tomar armas, debaixo da bandeira inimiga; - o incitamento à deserção; - o asilo a desertores; ---. o alistam'ento de gente para serviço militar de país estrangeiro; - a violação de tratados; - o vilipendio à bandeira nacional; - o sacrifício, l:'m tratado ou convenção, da honra ou dignidade ou
interesses da República; - o exercício não autorizado de átos de jurisdição em terrji-ório es
trangeiro.
Nada mais. Nada m~mos.
Eis aí, 5n1'. Ministro, o que é o livro I do substitutivo. Não me consentiu 'a estreiteza do tempo entrar no exame da parte destinada . ao,; crimes em esp2Cle. Será, porém, surpreendente que a linguagem e a doutrina sobre-excedam ás da Parte Geral.
Para facilitar o cotejo entre o texto do projeto e o da obra da comissão tive o trabalho fatigante, mas instrutivo, de pô-los face a face, com as emendas que sugiro e uma sumária apreciação das que a comissão entendeu ,formular.
Ouso esperar que V. Ex. não se recuse a lêr com atenção tudo quanto escrevi, movido, não pela vaidade de autor, mas tão sómente pelo desejo de prestar um último ::;erviço á Pátria.
'Muito respeitosamente, de V. Ex. menor colega e maior 'admirador
(a.) ALcANTARA MACHAOO.
Rio. 31-1-1940_
11. Ao cabo de alguns dias o sr. Ministro da Justiça, que recebera o trabalho em Petropolis, onde veraneava, regressou ao Rio e chamou-me ao Ministério. Mostrou-se viva·· mente impressionado com a crítica; manifestou-se desde logo de acordo comigo em vários pontos, como a ordenação das matérias da Parte Especial; e terminou por solicitar que redigisse de novo o projeto, corrigindo-o nos tópicos que eu jul-
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gasse passiveis de melhoria e aproveitando no que entendesse conveniente as emendas da comissão.
Fiado na palavra terminante do sr. FRANCISCO CAMPOS, ocupei-me, durante a minha estadia na capital da República, em refundir a Parte Especial, que deixei pronta em mãos de s. ex.; e, voltando a S. Paulo, conclui a revisão, publicando fi "Nova Redação do Projeto do Código tCriminal Brasileiro", precedida das seguintes palavras:
lExmo. Sr. Dr. FRANCISCO CAMPOS
"A esclarecida apreciação de V. Ex. venho submeter, em nova redação, o projeto do código criminal, cuja elaboração houve por bem confiar-me em fins de 1937.
"Indigno seria do encargo, que tomei sobre os ombros, se não reconhecesse, como lisamente reconheci para logo, as lacunas e imperfeições do trabalho, e não procurasse remediá-las, reexaminando toda a matéria e levando na devida consideração OS
reparos formulados por ENRICO ALTA VILA, C. H. DEL
POZZO, COSTA E SILVA, DEMOSTENES MADURElRA DE PINHO, CARLOS XAVIER e outras autoridades nacionais e estrangeiras.
"Ponderei tambem cuidadosamente as emendas aventadas pela comissão revisora. Em sua grande maioria se contentavam em modificar a linguagem do projeto. Vi-me forçado a repudiar' as dessa natureza, por anódinas, quando não contraproducentes, conforme evidenciei em exposição anterior. Improcedentes me pareceram tambem, pelos motivos de que V. Ex. tem conhecimento, as que importavam a sub-divisão de alguns titulos, a supressão de outros, a ordenação diferente da Parte Especial.
"Várias, porém, da mesma origem, foram atendidas e aproveitadas, porque, de fato, melhoravam
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o projeto. Em consequência redigi de novo, sinteticamente, os preceitos relativos à legítima defesa e às modalidades da autoria;
,,_ suprimi tudo quanto se refere à pena de morte, contra a qual me pron!.lnciára de modo terminante na exposição de motivos, com a declaração dé que formulara os dispositivos correspondentes, para o caso do Governo entender necessário utilisar-se da faculdade conferida pelo art. 122 n. IH da lei constitucional em vigor :
,"o - defini como crime a simulação de casamento, a falsificação de valores filatélicos, algumas infrações das leis do trabalho;
"- classifiquei como furto qualificado a subtração de bens moveis com violência às cousas;
"exclui varias figuras que cabem mais propriamente entre as contravenções;
"- eliminei as normas concernentes aos crimes contra a economia popular, que por força de decreto:' lei posterior à elaboração do projeto, passaram a constituir assunto de legislação especial.
"Quanto a este ultimo ponto, devo confessar que vacilei grandemente em aceder à amenda supressiva. Só me decidi a fa.zê-Io, quando me certifiquei de que, sem violência a convicções invencíveis, não poderia incorporar ao projeto as disposições do precipitado decreto-lei, nos termos em que se acham formuladas, e de que seria. incurial modificá-las, em contraste com o pensamento governamental recentemente expresso.
"Dando por terminada a temerosa empresa, cuja responsabilidade assumi, sem atenção á minha pouquidade, valho-me do ensejo, para testemunhar ainda uma vez ao Governo da República o reconhecimento de que lhe sou devedor por tamanha demonstração de confiança e reiterar a V. Ex. os protestos do mai~' alto apreço e admiração.
S. Paulo, 12 abril 1940
ALCANTARA MACHADO".
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12.De nada mais tive noticia oficial. Constou-me apenas, como a toda a gente, por sumaríssimos comunicados à imprensa diária, e sei agora, pela exposição de motivos do código, que se reencetou a revisão, sob as vistas do sr. Ministro.
Do que assim continuaram a fazer, em absoluto sigilo, nada transpirou. Ao contrario do que sempre se deu aquí e em toda a parte, e do que fez o próprio governo atual com os projetos do código de processo civil e da lei de sociedades anônimas, tudo se processou à revclia do mundo jurídico, assim nacional como estrangeiro... sem que se desse ao autor do projeto revisto ciência das objeções e oportunidade para defender-se. .. sem possibilidade de crítica ou debate... sem audiência de uma só das congregações das Faculdades de Direito, de um só dos institutos de advogados, de um só dos tribunais superiores do país... Tudo, naturalmente, por estar a comissão convencida de ser a única senhora e possuidora da verdade jurídica ...
Afinal, ao cabo de alguns meses, e depois de ouvido um ilustre perito em materia de linguagem, foi o código solenemente decretado a 7 de dezembro de 1940. Não o publicou o "Diário Oficial", senão a 31 de dezembro, e, retificado, a 3 de janeiro de 1941; o que não impediu (eloquentíssimo sinal dos tempos) que houvesse quem aplaudisse desde logo, com (:ntusiasmo estridente, a obra, cujo teor desconhecia, por continuar inédita ...
Seja como fôr, o código aí está. É, na substância e na forma, o projeto de minha autoria, amputado de varios dispositivos, transtornado -parcialmente na ordenação de certos ao:suntos, modificado puerilmente na redação de muito::! preceitos; . mas, apesar dessas e outras manobras artificiosas, irl'ecusavel e positivamente reconhecivel. Tanto quanto é reconhecivel no código civil o trabalho insigne de CLOVIS BEVI
LAQUA.
Não o afirmo por vaidade. Leis dessa natureza não são, nem podem ser propriedade dos que lhes traçaram o plano,
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insuflaram o espirito, articularam os preceitos. Nada significa o nome dos arquitetos e dos operários, que lhes prestaram a colaboração, e dos que lhes apuzeram a chancela oficial. O código é do Brasil. Representa a sua cultura. Constitue obra imp~ssoal, cujos autores deveriam responder, a quem lhes perguntasse pelo nome, como Ulisses ao ciclope cego da epopéia homérica: "Eu me chamo Ninguem". Talo pensamento que me orientou; e outro não deveria ser o de todos quantos contribuirr.m para a codificação.
SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL
S. D. I. • B I B LI O T E C A Esta abra deve ser devolvida na última data carimbada.
STF/SDI - 03
1 MACHADO,ALCANTARA
PARA A HISTÓRlA DA REFORMA PENAL BRASILEIRA
SYS 43976
Devolver em '-_. NOME DO LEITOR
MACHADO,ALCANTARA
PARA A HISTÓRlA DA REFORMA PENAL BRASILEIRA
SYS 43976
Autor ............................................................................................................................. .
Título ............................................................................................................................ .
35154/80
f _~
LC F 341.5 M149 HRP
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