Pássaros na cabeça

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Sete leguas

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Coleção SETELÉGUAS

© do texto: Joel Franz Rosell, 2004© das ilustrações: Marta Torrão, 2004© da tradução portuguesa: Miguel Mouro e Isabelle Buratti, 2006© desta edição: Kalandraka Editora Portugal Lda., 2011Rua Alfredo Cunha, n.º 37, Salas 34 e 564450–023 Matosinhos. PortugalTelefone: (00351) 229 375 718editora@kalandraka.ptwww.kalandraka.pt

Impresso em Gráficas AnduriñaPrimeira edição: julho, 2006Segunda edição: novembro, 2011ISBN: 978-972-8781-51-4DL: 335835/11Reservados todos os direitos

(Esta tradução foi revista ao abrigo do novo Acordo Ortográfico.)

Joel Franz Rosell

ilustrações de

Marta Torrão

Pássarosna cabeça

O rei era já muito velho.

Notava-se porque tinha a barba branca

e os olhos tão cansados

que não via um dragão a um palmo do nariz.

Mas era um bom rei,

o melhor que aquele reino havia tido

em toda a sua História.

O reino era pequeno e não muito rico,

por isso não havia mais que três ministros:

o Ministro da Defesa,

que era coronel;

o Ministro da Economia,

que era muito inteligente;

e o Ministro de Tudo o Resto,

que era muito empreendedor.

Todas as tardes,

o rei tinha audiências com os ministros.

Sentava-se no seu trono de madeiras preciosas,

com almofada de veludo e pregos de ouro,

e os ministros, em bandeja de prata,

apresentavam-lhe leis, propostas e petições.

O rei escutava atentamente,

mas não respondia.

Não porque estivesse surdo

nem por falta de voz,

mas porque gostava de ter o seu tempo.

Acabava sempre por dizer:

– Bem! Amanhã decidiremos...

E mandava que o deixassem sozinho.

Por trás do trono havia uma cortina;

atrás da cortina, uma porta,

e, por trás da porta, um terraço.

No terraço havia outro trono;

mais pequeno e não de madeira,

veludo e ouro,

mas de cana e palha.

Ali havia sempre sol e o rei preferia um assento assim fresco.

O trono de cana e palha parecia um ninho

e os pássaros gostavam muito dele.

Todas as tardes, quando o rei se sentava ali

depois de receber os seus ministros,

os pássaros chegavam e cantavam-lhe canções,

comiam alpista na sua mão ou brincavam com a sua barba.

À hora de se deitar,

o rei tinha a cabeça

cheia de chilreios e adejos;

e, no dia seguinte,

quando os ministros

vinham buscar resposta

para os seus problemas,

ele dava-lhes soluções

sensatas, justas e bondosas.

O sono dos ministros

é que não era tão tranquilo...