PATRIMÓNIO CULTURAL - Aula 43 - Quinta Da Regaleira e Palácio de Seteais

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PATRIMÓNIO CULTURAL E PAISAGÍSTICO PORTUGUÊS

Coleção de Manuais da Universidade Sénior Contemporânea

Professor Doutor

Artur Filipe dos Santos

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QUINTA E PALÁCIO DA

REGALEIRA

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• O Palácio da Regaleira é o edifício principal e o nome mais comum da Quinta da Regaleira. Também é designado Palácio do Monteiro dos Milhões, denominação esta associada à alcunha do seu primeiro proprietário, António Augusto Carvalho Monteiro

• O palácio está situado na encosta da serra e a escassa distância do Centro Histórico de Sintra estando classificado como Imóvel de Interesse Público desde 2002.

• Carvalho Monteiro, pelo traço do arquitecto italiano Luigi Manini, dá à quinta de 4 hectares, o palácio, rodeado de luxuriantes jardins, lagos, grutas e construções enigmáticas, lugares estes que ocultam significados alquímicos, como os evocados pela Maçonaria, Templários e Rosa-cruz.

• Modela o espaço em traçados mistos, que evocam a arquitectura românica, gótica, renascentista e manuelina.

• As origens da quinta hoje denominada da Regaleira, então conhecida por quinta da Torre, parecem remontar ao ano de 1697, quando José Leite adquiriu uma vasta porção de terra situada nos limites da vila de Sintra.

• Em 1715, a propriedade é colocada em hasta pública e adquirida por Francisco Alberto Guimarães de Castro, que logo mandou realizar obras destinadas a abastecer uma mina da quinta com água canalizada da serra de Sintra.

• Em 1800 a quinta passa para a posse de João António Lopes Fernando, e trinta anos mais tarde para Manuel Bernardo, sendo então denominada Quinta da Regaleira.

• Pouco depois, em 1840, foi adquirida pela filha de John Francis Allen, um rico comerciante de vinho do porto, D. Ermelinda Allen Monteiro de Almeida, tendo esta recebido posteriormente o título de Baronesa da Regaleira.

• Localizada em pleno Centro Histórico de Sintra e bem perto do Palácio de Seteais, a quinta beneficia do micro-clima da serra de Sintra, que muito contribui para os luxuriantes jardins e os nevoeiros constantes que adensam a sua aura de mistério.

• A maior parte das construções hoje existentes devem-se porém a António Augusto Carvalho Monteiro, proprietário a partir de 1892, homem de vasta cultura e riqueza

Famoso Leroy 01, o relógio mais complicado do mundo. Tendo sido encomendado or António Augusto Monteiro, este tinha 24 funções e cerca de 975 peças.

• Os símbolos nacionalistas que encontramos na Regaleira, bem como o gosto revivalista no qual tão bem se inserem, resultam da conjugação do seu gosto e sensibilidade com o projecto do arquitecto e cenógrafo Luigi Manini (autor dos edifícios do palácio do Buçaco, do teatro de São Carlos em Lisboa, e do teatro La Scala em Milão, entre outros).

• As obras decorreram entre 1904 e 1910, tendo Carvalho Monteiro morrido em 1921

• A propriedade passou então para os herdeiros, nomeadamente para a posse de Pedro Monteiro, tendo sido vendida em 1945; os projectos então existentes para a quinta passavam pela adaptação a hotel, nunca efectuada, até que a Câmara Municipal de Sintra a adquiriu, resultando daqui o seu restauro progressivo, e a sua abertura ao público.

• A quinta integra um magnífico jardim, constituído por árvores exóticas e vegetação abundante, que compõe um curioso percurso de características marcadamente cenográficas.

• Para este percurso, bem como para o imenso acervo iconográfico que compõe a profusa decoração de todo o palacete, anexos e jardins, pode apontar-se uma linha orientativa de cariz esotérico, conjugada com a simbólica nacionalista dos estilos arquitectónicos neo aqui utilizados.

• Assim se poderia entender o percurso dos jardins como viagem de teor iniciático, incluindo uma alameda ornada com estátuas de deuses clássicos, uma misteriosa gruta artificial abrigando um lago onde deveriam nadar brancos cisnes sob o olhar de uma mítica Leda,

Na mitologia grega, Leda era rainha de Esparta, esposa de Tíndaro. Certa vez, Zeus transformou-se em um cisne e seduziu-a. Dessa união, Leda chocou dois ovos, e deles nasceram Clitemnestra, Helena, Castor e Pólux. Helena e Pólux eram filhos de Zeus, mas Tíndaro os adotou, tratando-os como filhos de sangue.

• um terraço chamado das Quimeras, e ainda um bosque sombrio, cuja travessia apela a um silêncio introspectivo, proporcionando finalmente a visão da torre do palácio, com larga vista da serra. Particularmente impressionante, neste contexto, é o grande poço, conduzindo progressivamente o visitante até ao fundo, decorado com uma cruz templária e uma rosa-dos-ventos, através de uma descida espiralada; e ainda um túnel estreito, longo e escuro, que liga as profundezas da terra à visão de um terraço alteado e luminoso.

• A simbólica templária repete-se um pouco por toda a parte, na capela neo-manuelina e nas salas palacianas, que abrigam mobiliário feito por encomenda, tal como um imponente trono entalhado, sempre exibindo simbólica heráldica ou mitológica.

• A evocação da História de Portugal repete-se nos frisos com os reis portugueses, enquanto uma menção directa ao imaginário maçónico se poderá deduzir do tecto pintado da Sala das Virtudes, onde se encontram as personificações da Força, da Beleza e da Sabedoria.

• De facto, tem sido aventada a possibilidade de uma eventual filiação maçónica por parte de Carvalho Monteiro, de acordo com o espírito da época e com a inclinação intelectual de uma certa elite nacional

• Aqui encontra localização privilegiada o espólio da colecção de artefactos maçónicos de Pisani Burnay, presentemente exposto no palácio da Regaleira.

• História

• A documentação histórica relativa à Quinta da Regaleira é escassa para os tempos anteriores à sua compra por Carvalho Monteiro.

• Sabe-se que, em 1697, José Leite era o proprietário de uma vasta propriedade nos arredores da vila de Sintra, que hoje integra a Quinta.

• Francisco Albertino Guimarães de Castro comprou a propriedade (conhecida como Quinta da Torre ou do Castro em 1715), em hasta pública, canalizou a água da serra a fim de alimentar uma fonte aí existente.

• Em 1830, na posse de Manuel Bernardo, a Quinta toma a actual designação. Em 1840, a Quinta da Regaleira é adquirida pela filha de uma negociante do Porto, de apelido Allen, D. Ermelinda Allen Monteiro de Almeida que mais tarde foi agraciada com o título de Baronesa da Regaleira.

• Data deste período a construção de uma casa de campo que é visível em algumas representações iconográficas de finais do século XIX.

• A história da Regaleira actual principia em 1892, ano em que os barões da Regaleira vendem a propriedade ao Dr. António Augusto Carvalho Monteiro por 25 contos de réis. A maior parte da construção actual da quinta teve início em 1904 e estava terminada em 1910.

• A quinta foi vendida a Waldemar d'Orey em 29 de Março de 1949 que realizou trabalhos profundos de restauro e recuperação da casa principal, dos jardins e do sistema de captação de água, tendo ficado na posse desta família durante quase 39 anos até que em 13 de Janeiro de 1988 a venderam à firma Shundo Sanko do grupo Aoki Corporation.

• Em 1997, a Câmara Municipal de Sintra adquire este valioso património, iniciando pouco depois um exaustivo trabalho de recuperação do património edificado e dos jardins.

• Actualmente, a Quinta da Regaleira está aberta ao público e é anfitriã de diversas actividades culturais.

• A Quinta e pontos de interesse

• Carvalho Monteiro tinha o desejo de construir um espaço grandioso, em que vivesse rodeado de todos os símbolos que espelhassem os seus interesses e ideologias. Conservador, monárquico e cristão gnóstico, Carvalho Monteiro quis ressuscitar o passado mais glorioso de Portugal, daí a predominância do estilo neomanuelino com a sua ligação aos descobrimentos

• Esta evocação do passado passa também pela arte gótica e alguns elementos clássicos. A diversidade da quinta da Regaleira é enriquecida com simbolismo de temas esotéricos relacionados com a alquimia, Maçonaria, Templários e Rosa-cruz.

• Bosque • O bosque ou mata que

ocupa a maioria do espaço da Quinta, não está disposta ao acaso. Começando mais ordenada e cuidada na parte mais baixa da quinta, mas, sendo progressivamente mais selvagem até chegarmos ao topo. Este disposição reflecte a crença no primitivismo de Carvalho Monteiro.

• Patamar dos Deuses

• O Patamar dos Deuses é composto por 9 estátuas dos deuses greco-romanos. A mitologia clássica foi uma das inspirações de Carvalho Monteiro para os jardins da Regaleira

• Poço Iniciático

• Uma galeria subterrânea com uma escadaria em espiral, sustentada por colunas esculpidas, por onde se desce até ao fundo do poço.

• A escadaria é constituída por nove patamares separados por lanços de 15 degraus cada um, invocando referências à Divina Comédia de Dante e que podem representar os 9 círculos do inferno, do paraíso, ou do purgatório.

• Segundo os conceituados ocultistas Albert Pike, René Guénon e Manly Palmer Hall é na obra 'A Divina Comédia' que se encontra pela primeira vez exposta a Ordem Rosacruz.

• No fundo do poço está embutida em mármore, uma rosa dos ventos (estrela de oito pontas: 4 maiores ou cardeais, 4 menores ou colaterais) sobre uma cruz templária, que é o emblema heráldico de Carvalho Monteiro e, simultaneamente, indicativo da Ordem Rosa-cruz.

• O poço diz-se iniciático porque se acredita que era usado em rituais de iniciação à maçonaria e a explicação do simbolismo dos mesmos nove patamares diz-se que poderá ser encontrada na obra Conceito Rosacruz do Cosmos.

• A simbologia do local está relacionada com a crença que a terra é o útero materno de onde provém a vida, mas também a sepultura para onde voltará.

• Muitos ritos de iniciação aludem a aspectos do nascimento e morte ligados à terra, ou renascimento.

• A existência de 23 nichos localizados por debaixo dos degraus do poço iniciático representava um dos muitos mistérios da referida construção.

• No dia 29 de Dezembro de 2010, o professor Gabriel Fernández Calvo da Escola Técnica Superior de Engenheiros de Caminhos, Canais e Portos da Universidad de Castilla-La Mancha em Ciudad Real, quando visitava o poço acompanhado de outros professores da UCLM, observou que os 23 nichos não estão colocados por acaso, pois encontram-se agrupados em três conjuntos de 17, 1 e 5 nichos separados entre si à medida que se desce ao fundo do poço.

• Esta organização não é aleatória e provavelmente se refere ao ano 1715 em que Francisco Albertino Guimarães de Castro comprou a propriedade (conhecida como Quinta da Torre ou do Castro) em hasta pública.

• O poço está ligado por várias galerias ou túneis a outros pontos da quinta, a Entrada dos Guardiães, o Lago da Cascata e o Poço Imperfeito.

• Estes túneis, outrora habitados por morcegos afastados pelos muitos turistas que visitam o local, estão cobertos com pedra importada da orla marítima da região de Peniche, pedra que dá a sugestão de um mundo submerso.

• Capela da Santíssima Trindade

• Uma magnífica fachada que aposta no revivalismo gótico e manuelino. Nela estão representados Santa Teresa d'Ávila e Santo António.

• No meio, a encimar a entrada está representado o Mistério da Anunciação - o anjo Gabriel desce à terra para dizer a Maria que ela vai ter um filho do Senhor - e Deus Pai entronizado.

• No interior, no altar-mor vê-se Jesus depois de ressuscitar a coroar uma mulher que pode ser Maria ou Madalena (de uma maneira mais contraditória).

• Do lado direito Santa Teresa e Santo António repetem-se, desta vez em painéis de mosaico.

• Do lado oposto um vitral com a representação do milagre de Nossa Senhora da Nazaré a D. Fuas Roupinho.

• No chão estão representados a Esfera Armilar ou Globo Celeste e a Cruz da Ordem de Cristo, rodeados de pentagramas (estrelas de cinco pontas)

• A Torre da Regaleira

• Foi construída para dar a quem a sobe a ilusão de se encontrar no eixo do mundo.

• O Palácio

• O edifício principal da quinta é marcado pela presença de uma torre octogonal. Toda a exuberante decoração esteve a cargo do escultor José da Fonseca.

PALÁCIO DE SETEAIS

Palácio de Seteais

• O Palácio de Seteais, elegante palácio cor-de-rosa, agora um hotel de luxo e restaurante da Sociedade Hotel Tivoli, foi construído no século XVIII para o cônsul holandês, Daniel Gildemeester, numa porção de terra cedida pelo Marquês de Pombal.

• Localizado em Sintra, património mundial, ergue-se este palácio no meio de um terreno acidentado, de onde se pode avistar o mar e o alto da Serra de Sintra.

• De arquitectura neoclássica, insere-se no conjunto de palácios reformados pela burguesia. Destaca-se a entrada, com frontões triangulares, janelas de guilhotina e uma escada de dois braços que se desenvolve para o interior no sentido da fachada secundária.

• Pode-se também constatar a adaptação do palácio à irregularidade do terreno, que tem um enquadramento com o Palácio da Pena.

• No conjunto, existem dois corpos de planta composta — a ala esquerda, com planta em U, que se desenvolve à volta do pátio interior, e a ala direita, com planta rectangular. As fachadas principais são simétricas, de dois registos.

• As salas da ala esquerda são pintadas com frisos de flores e grinaldas, salientando-se a Sala Pillement, com cenas figurativas da autoria de Jean Baptiste Pillement, e a Sala da Convenção, com alusões marítimas mitológicas.

• Realce ainda para a escadaria ampla, de dois braços e três lanços, dando acesso ao andar inferior. Refira-se que este é o Palácio de Seteais, descrito como abandonado na famosa obra de Eça de Queirós "Os Maias".

• Iniciado em 1783 e concluído em 1787, o primitivo Palácio de Seteais conheceu, mais tarde, uma importante campanha de obras neoclássica, patrocinada pelo 5º Marquês de Marialva que, em 1797, adquiriu a casa e a propriedade.

• Remonta a este período a fachada cenográfica, que se abre para o pátio, simétrica à já existente, bem como o arco triunfal que liga ambos os alçados, construído em 1802, para assinalar a visita do então regente D. João VI e D. Carlota Joaquina.

• Depois de vários problemas com a sucessão do Marquês e de várias hipotecas, o Estado adquiriu o Palácio, inaugurando-se o hotel, em 1954, que conservou o traçado anterior.

• O primitivo núcleo de Seteais, que já então tirava partido da sua implantação na paisagem, deve-se à iniciativa do cônsul holandês Daniel de Gildemeester, homem de grande fortuna a quem o Marquês de Pombal havia entregue o exclusivo da exportação de diamantes

• O Palácio foi inaugurado a 25 de Julho de 1787, tendo estado presente na festa Wiliam Beckford, que nos deixou o relato, no seu diário, aludindo à depuração da casa, mas elogiando a mesa da festa! (COSTA, 1982, p. 29).

• Com a morte do cônsul, em 1793, acentuaram-se as dificuldades financeiras da família, que acabou por vender a propriedade

• Adquiriu-a, em 1797, o 5º Marquês de Marialva, D. Diogo José Vito de Menezes Noronha Coutinho, que já dispunha de uma reduzida propriedade em São Pedro.

• A campanha arquitectónica de ampliação do palácio e das cavalariças ocorreu entre 1801 e 1802, alterando a fachada principal que passou a ser a que se abre para o pátio, e construindo uma outra fachada cenográfica do lado oposto.

• A unir os dois alçados, o arco de triunfo celebra a visita de D. João e D. Carlota Joaquina.

• Neste conjunto de edifícios de linhas rectas, cujo projecto tem vindo a ser atribuído ao arquitecto José da Costa e Silva (autor, por exemplo, do Teatro São Carlos) (SERRÃO, 1989, p. 65), observamos várias influências, como o classicismo neopalladiano, ou a decoração de grinaldas, nas platibandas, estilo Luís XVI.

• No arco, também neoclássico, e atribuído a Francisco Leal Garcia, destacam-se as lanças, bandeiras e armas que enquadram os bustos dos monarcas.

• Trata-se de um conjunto que revela alguma ingenuidade, e onde se "põe o problema da cultura (ou da ignorância) com que o Neoclassicismo podia ser entendido em Portugal, na charneira dos dois séculos" (FRANÇA, 2004, p. 38).

• Remonta, ainda, a esta campanha, a decoração dos interiores, revestidos a sedas e pintados a fresco por discípulos de Pillement, ou ainda de influência chinesa.

• O Marquês de Marialva viveu pouco tempo no seu novo palácio, pois faleceu em 1803, gerando uma complicada situação de sucessões e hipotecas (cf. quadro COSTA, 1982, p. 102) que culminaram, em 1946, com a aquisição do imóvel por parte do Estado.

• A questão do Campo de Seteais e o seu aforamento constituiu uma outra preocupação e foi um problema muito discutido entre os proprietários de Seteais, a população e a câmara de Sintra

• O hotel de luxo, inaugurado em 1954, preservou o edifício aí existente, que se conserva como hotel até aos dias de hoje.

• Para a fachada traseira dá o jardim de buxo geométrico e, enquadrada pelo arco de triunfo, no denominado Penedo da Saudade, estende-se a serra e o palácio de Sintra, confirmando a acertada escolha paisagística do cônsul holandês.

• bibliografia

• http://www.patrimoniocultural.pt/pt/patrimonio/patrimonio-imovel/pesquisa-do-patrimonio/classificado-ou-em-vias-de-classificacao/geral/view/72840/

• http://www.patrimoniocultural.pt/pt/patrimonio/patrimonio-imovel/

• http://pt.wikipedia.org/wiki/Pal%C3%A1cio_da_Regaleira

• http://pt.wikipedia.org/wiki/Pal%C3%A1cio_de_Seteais

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