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ANTONIO MONTE JUNIOR
Gaio Monte
MERITÍSSIMO JUIZ DE DIREITO TITULAR DA VARA DO
JUIZADO ESPECIAL CÍVEL DA COMARCA DE MANAUS-AM.
OSARIAS SANTOS DA SILVA
brasileiro,motorista,casado, portador da C.I. nº.69200 SSP/RO e inscrito no
CPF 068.195.402-72, residente e domiciliado na Travessa B, nº.10,Quadra B-
11, bairro do São José I, CEP 69.086-501, por seu procurador e advogado
signatário com banca profissional estabelecida em Manaus na rua da
Prosperidade nº.12-B- Cj. Álvaro Neves, bairro D.Pedro II CEP 69.00.000 e-
mail montejrr@hotmail.com vem à presença deste MM. Juízo, com o
costumado e profuso respeito e o devido acatamento, aviar a presente
AÇÃO REVISIONAL DE CONTRATO DE FINANCIAMENTO
CUMULADA COM PEDIDO LIMINAR E CONSIGNAÇÃO EM
PAGAMENTO
em desfavor de B.V.FINANCEIRA S.A. C.F.I , pessoa jurídica de direito
privado,CNPJ 01.149.953/0001-89, estabelecida na praça de São Paulo –SP na
Avenida Paulista nº.1274 – 9º andar – CEP 01310-000, devendo a citação ser
remetida pelos Correios por AR, passando, para tanto, expondo e requerendo o
que segue
DOS FATOS
O Autor firmou CONTRATO DE
FINANCIAMENTO com a Demandada, para aquisição de um veículo
TRAC/C.TRATOR,, ano 1994 BRANCO - PLACA YBC- 5170- CHASSI
9BVN2B5A0RE642360, fixado em R$ 50.000,00 , para tanto, pagando
parcelas mensais de R$ 2.630,75(DOIS MIL , SEISCENTOS E TRINTA
REAIS E SETENTA E CINCO CENTAVOS), em 36 parcelas, começando
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a primeira em 27.05.2011 e a última em 27.04.2014, conforme a planilha
apresentada pela financiadora..
O preço de venda do veículo no mercado de
automóveis em Manaus é de R$ 20.000,00 (VINTE MIL, REAIS). Na ocasião
da assinatura do contrato este valor foi considerado.
O financiamento torna o preço do veículo
estratosférico e de difícil entendimento da planilha. de juros e demais a
adicionais. Mais,na famigerado CÉDULA DE CRÉDITO BANCÁRIO,
constam ônus que são chamados de CUSTO EFETIVO TOTAL DA
OPERAÇÃO, no valor de R$ 5.075,14, que não foram explicados para o
Demandante.
Também existem porcentuais que não são
explicativos: Multa 2%; Comissão de Permanência ? 12,00% .
A Demandante quitou o financiamento até a parcela
de nº 19/36, e ficou inadimplente desde a parcela 20/36 vencida em
27.12.2012.
Registra que pretende quitar as demais parcelas,
dentro de seus vencimentos.
O motivos que ensejou a inadimplência nas parcelas
mencionadas decorreu de grave problema de saúde na família do Demandante,
situação que a Demandada sequer se importou
Tão logo ocorreu a inadimplência da primeira
parcela, a demandada por meio do escritório que a representa em Manaus,
passou a assediar a demandante no seu emprego de modo que o
constrangimento foi tão violento que resultou na sua demissão, ficando
desempregada e sem meios para honrar seus compromissos financeiros.
.
Destaca-se o valor do financiamento é de R$
50.000,00(CINQUENTA MIL REAIS), PORÉM A DÍVIDA AO FINAL É
DE R$ 100.000,00.
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O Demandante necessita da segurança, que é
garantida pela Carta do Povo Brasileiro e diante da situação que para ela é
inusitada, visto que não é golpista, pretende pagar as parcelas vencidas
(destaca: está pagando as parcelas que vencem desde o mês de fevereiro de
2012).
No entanto, em que pese à continuação do contrato,
pretende o Demandante corrigir algumas ilegalidades que vêm sendo exigidas
pela Demandada, que se aproveita da diferença própria das relações de
consumo e dos poderes conferidos pelos instrumentos de adesão, para com
isso se enriquecer ilicitamente, causando prejuízo de montante considerável ao
consumidor.
DA COMPETÊNCIA
É sabido que a lei 8.078/90, conhecida como Código
de Defesa do Consumidor, garante um maior equilíbrio entre as partes
conhecidas como fornecedor e consumidor, sendo que aquela hipossuficiente,
no caso o consumidor, vem se manter em um padrão de equidade graças aos
dispositivos contidos na lei supra citada.
Desta feita, cumpre explicitar a orientação dada pelo
CDC acerca da competência para ajuizamento da ação, verbis:
Art. 101. Na ação de responsabilidade civil do fornecedor de produtos e
serviços, sem prejuízo do disposto nos Capítulos I e II deste título, serão
observadas as seguintes normas:
I – a ação pode ser proposta no domicílio do autor.
Com isto, procede o pedido do Demandante em que
a ação seja postulada no seu próprio domicílio;
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DA APLICAÇÃO DO CDC AOS CONTRATOS
DE FINANCIAMENTO E A ABUSIVIDADE CONTRATUAL
A doutrina e a jurisprudência, em uníssono, atribuem
aos negócios celebrados entre o Autor e a Ré o caráter de contrato de adesão
por excelência.
Disciplina o art. 54 do C.D.C., acerca do que é
contrato de adesão, verbis:
Art. 54. Contrato de adesão é aquele cujas cláusulas
tenham sido aprovadas pela autoridade competente ou estabelecidas
unilateralmente pelo fornecedor de produtos ou serviços, sem que o
consumidor possa discutir ou modificar substancialmente seu conteúdo.
Nos contratos de adesão ou financiamento a
supressão da autonomia da vontade é inconteste. Assim o sustenta o eminente
magistrado ARNALDO RIZZARDO, em sua obra Contratos de Crédito
Bancário, Ed. RT 2a ed. Pag. 18, que tão bem interpretou a posição
desfavorável em que se encontram aqueles que, como a Demandante,
celebraram contratos de adesão ou financiamento junto ao banco, verbis:
“Os instrumentos são impressos e uniformes para todos os cliente, deixando
apenas alguns claros para o preenchimento, destinados ao nome, à fixação do
prazo, do valor mutuado, dos juros, das comissões e penalidades“.
Assim, tais contratos contêm inúmeras cláusulas
redigidas prévia e antecipadamente, com nenhuma percepção e entendimento
delas por parte do aderente. Efetivamente é do conhecimento geral das pessoas
de qualidade média que os contratos bancários não representam natureza
sinalagmático, porquanto não há válida manifestação ou livre consentimento
por parte do aderente com relação ao suposto conteúdo jurídico,
pretensamente, convencionado com o credor.
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Em verdade, não se reserva espaço ao aderente para
sequer manifestar a vontade. O banco se vê no direito de cobrar o devedor. Se
não adimplir a obrigação, dentro dos padrões impostos, será esmagado
economicamente.
Não se tem, por parte da instituição financeira,
nenhum tipo de possibilidade de manifestação de vontade por parte do
aderente, que verdadeiramente só se faz presente para a assinatura do contrato,
tendo, assim, que se sujeitar a todo tipo de infortúnio e exploração econômica
que se facilmente observa, pois a qualidade de aderente só tem uma condição:
“Se não assinar, nas condições estipuladas pela instituição financeira, não há
liberação do crédito”.
Nessa perspectiva, o bom intérprete não abdica de
pensar e, logo, não teme reavaliar suas opiniões; prefere os riscos da
transformação à cômoda inoperância que conserva a iniqüidade.
E assim se compreende a intenção da Demandante,
que nada mais é do que pagar aquilo que é efetivamente devido, com os
valores corrigidos, seguindo os padrões da função social e da boa-fé nas
relações,contratuais.
Ensina EDILSON PEREIRA NOBRE JÚNIOR ,
em sua obra intitulada “A Proteção Contratual no Código do Consumidor e o
Âmbito de sua Aplicação”. Revista de Direito do Consumidor, São Paulo, v.
27, p. 59, jul./set. 1998, verbis:
“à manifestação do consentimento e à sua força vinculativa seja agregado o
objetivo do equilíbrio das partes, através da interferência da ordem pública e
da boa-fé. Ao contrato, instrumento outrora de feição individualista, é
outorgada também uma função social" 4.4_ "Timbra em exigir que as partes se
pautem pelo caminho da lealdade, fazendo com que os contratos, antes de
servirem de meio de enriquecimento pelo contratante mais forte, prestem-se
como veículo de harmonização dos interesses de ambos os pactuantes" (p. 62).
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E continua seu brilhante ensinamento:
"No campo contratual, a tutela desfechada pelo CDC se sustém basicamente
em quatro princípios cardeais, atuando na formação e no cumprimento da
avença, quais sejam a transparência, a boa-fé, a eqüidade contratual e a
confiança" (p. 76).
CLÁUDIA LIMA MARQUES, atenta ao
surgimento de um novo modelo contratual, propala haver "uma revalorização
da palavra empregada e do risco profissional, aliada a uma grande censura
intervencionista do Estado quanto ao conteúdo do contrato, é um acompanhar
mais atento para o desenvolvimento da prestação, um valorizar da informação
e da confiança despertada. Alguns denominam de renascimento da autonomia
da vontade protegida. O esforço deve ser agora para garantir uma proteção da
vontade dos mais fracos, como os consumidores. Garantir uma autonomia real
da vontade do contratante mais fraco, uma vontade protegida pelo direito."
(Contratos bancários em tempos pós-modernos - primeiras reflexões. Revista
de Direito do Consumidor, São Paulo, v. 25, p. 26, jan./mar., 1998). (grifo
nosso).
O Estatuto do Consumidor acoima de nulidade as
cláusulas que estabeleçam obrigações iníquas, abusivas, que coloquem o
consumidor em desvantagem exagerada ou sejam incompatíveis com a boa-fé
e reprime, genericamente, as desconformes com o sistema protetivo do Codex,
senão,vejamos:
Art. 51º. São nulas de pleno direito, entre outras, as cláusulas contratuais
relativas ao fornecimento de produtos e serviços que:
IV. Estabeleçam obrigações consideradas iníquas, abusivas, que coloquem o
consumidor desvantagem exagerada, ou sejam incompatíveis com a boa fé ou
a,eqüidade;
XV - estejam em desacordo com o sistema de proteção ao consumidor;
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O novo enfoque da boa-fé vista como princípio geral
de direito, "permite a concreção de normas impondo que os sujeitos de uma
relação se conduzam de forma honesta, leal e correta" (Maria Cristina
Cereser Pezzella. O princípio da boa-fé objetiva no direito privado alemão e
brasileiro. Revista de Direito do Consumidor, São Paulo, v. 23/4, p. 199,
jul./set.,1997).
No aspecto objetivo, a bona fides é incompatível
com as cláusulas abusivas, opressoras ou excessivamente onerosas, e abrange
um controle jurídico corretivo da relação negocial (v. Luis Renato Ferreira
da Silva. Cláusulas abusivas: natureza do vício e decretação de ofício. Revista
de Direito do Consumidor. São Paulo, v. 23/4, p. 128, 1997).
A teor do disposto no art. 3º, § 2º, da Lei n. 8.078 de
11.09.1990, considera-se a atividade bancária alcançada pelas normas do
Código de Defesa de Consumidor, incluída a entidade bancária ou instituição
financeira no conceito de "fornecedor" e o aderente no de "consumidor".
E para que não reste dúvida acerca da aplicação do
CDC basta a citação da Súmula 297 do Superior Tribunal de Justiça, que
assimdispõe:
Súmula 297. "O Código de Defesa do Consumidor é aplicável às instituições
financeiras."
Com efeito, sendo aplicado o Código de Defesa do
Consumidor ao presente contrato, também passa a ser possível a modificação
ou revisão das cláusulas contratuais onerosas, com base no art. 6º, inc. V, do
mesmo codex, que estabelece:
Art. 6º. São direitos básicos do consumidor:
V. A modificação das cláusulas contratuais que estabeleçam prestações
desproporcionais ou sua revisão em razão de fatos supervenientes que as
tornem excessivamente onerosas.
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Acerca das possibilidades de modificação dos
contratos excessivamente onerosos no âmbito das relações de consumo,
NELSON NERY JUNIOR e ROSA MARIA ANDRADE NERY, p. 1352,
anotam:
"Modificação das cláusulas contratuais. A norma garante o direito de
modificação das cláusulas contratuais ou de sua revisão, configurando
hipótese de aplicação do princípio da conservação dos contratos de consumo.
O direito de modificação das cláusulas existirá quando o contrato estabelecer
prestações desproporcionais em detrimento do consumidor. Quando houver
onerosidade excessiva por fatos supervenientes à data da celebração do
contrato, o consumidor tem o direito de revisão do contrato, que pode ser feita
por aditivo contratual, administrativamente ou pela via judicial".
"Manutenção do contrato. O CDC garante ao consumidor a manutenção do
contrato, alterando as regras pretorianas e doutrinárias do direito civil
tradicional, que prevêem a resolução do contrato quando houver onerosidade
excessiva ou prestações desproporcionais".
"Onerosidade excessiva. Para que o consumidor tenha direito à revisão do
contrato, basta que haja onerosidade excessiva para ele, em decorrência de
fato superveniente. Não há necessidade de que esses fatos sejam
extraordinários nem que sejam imprevisíveis. A teoria da imprevisão, com o
perfil que a ela é dado pelo CC italiano 1467 e pelo Projeto n. 634-B/75 de CC
brasileiro 477, não se aplica às relações de consumo. Pela teoria da
imprevisão, somente os fatos extraordinários e imprevisíveis pelas partes por
ocasião da formação do contrato é que autorizariam, não sua revisão, mas sua
resolução. A norma sob comentário não exige nem a extraordinariedade nem a
imprevisibilidade dos fatos supervenientes para conferir, ao consumidor, o
direito de revisão efetiva do contrato; não sua resolução".
NELSON ABRÃO em Direito bancário, 6. ed. rev.
atual. ampl.. São Paulo: Saraiva, 2000, p. 339, esclarece:
"Reputam-se abusivas ou onerosas as cláusulas que impedem uma discussão
mais detalhada do seu conteúdo, reforçando seu caráter unilateral,
apresentando desvantagem de uma parte, e total privilegiamento d'outra, sendo
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certo que a reanálise é imprescindível na revisão desta anormalidade,
sedimentando uma operação bancária pautada pela justeza de sua função e o
bem social que deve, ainda que de maneira indireta, trilhar o empresário do
setor."
Portanto, admite-se a revisão das cláusulas do
contrato em discussão com a conseqüente nulidade daquelas tidas como
abusivas, a teor do disposto no art. 6º, inc. V, do Código de Defesa do
Consumidor, não se cogitando de prevalência do princípio do pacta sunt
servanda.
DA ABUSIVIDADE DA TAXA DE JUROS
Somente é possível descobrir a taxa de juros
utilizada no contrato ora discutido com uma calculadora financeira nas mãos e
com o conhecimento prévio do valor inicial da dívida, da quantidade de
parcelas e do valor das parcelas.
Entretanto, é obvio que os consumidores em geral,
inclusive a demandante, não tem como hábito o transporte de calculadoras
financeiras consigo, e muito menos o conhecimento prévio da operação de tal
equipamento, o que certamente prejudica o conhecimento da taxa utilizada.
Além do mais, na prática se verifica que os contratos de financiamento, como
o presente, são assinados em branco e posteriormente encaminhados para o
preenchimento dos valores.
Com efeito, a Lei 8.078/90 é clara ao desobrigar o
Autor ao cumprimento de contratos confusos, e principalmente se expressa
previsão das obrigações, sempre interpretando as disposições de forma mais
favorável ao consumidor, neste sentido:
Art. 46. Os contratos que regulam as relações de consumo não obrigam os
consumidores, se não lhe for dada à oportunidade de conhecimento prévio de
seu conteúdo, ou se os respectivos instrumentos forem redigidos de modo a
dificultar a compreensão de seu sentido e alcance.
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Art. 47. As cláusulas contratuais serão interpretadas de maneira mais
favorável ao consumidor.
Desta feita, tem-se que a taxa de juros
convencionadas não foi aplicada dentro da conformidade com o que a Lei
prevê;
É cediço que as Instituições financeiras podem
cobrar juros acima de 1%. No entanto, devem se ater aos juros aplicados no
mercado à ocasião da assinatura do instrumento de adesão ou financiamento, o
que no caso em voga não ocorreu, chegando a incríveis 5,10% a. m., o que no
final acarreta somente de juros MAIS DO QUE O VALOR FINANCIADO,
conforme prova o contrato de financiamento com a sua planilha anexo. ;
Isto sem falar em demais cominações que acarretam
cobranças excessivas, tomando como exemplo uma simples folha de papel A4
feita pelo autor que comprova a cobrança exagerada de IOF, Impostos e outros
serviços embutidos no contrato de financiamento. Também juros e multa pela
mora.
Com referência aos juros cobrados pelas instituições
de crédito cabe transcrever o raciocínio do eminente jurista PAULO
BROSSARD em artigo intitulado Juros com Arroz, que dá uma verdadeira
aula do que efetivamente vem ocorrendo com esta atitude adotada pelo
governo,abaixo:
"Enquanto isso, a generosidade oficial para com as instituições financeiras
continua sem limite. Ao serem divulgados os resultados dos bancos no ano
passado, quando a nação inteira sofreu duros efeitos da recessão, viu-se que
atingiram índices jamais vistos, chegando a mais de 500% em certos casos.
Pois exatamente agora, o impagável governo do reeleito, invocando
‘relevância e urgência’, editou mais uma medida provisória oficializando o
anatocismo, que o velho Código Comercial, o código de 1850, já vedava de
maneira exemplar, e que a nossa tradição jurídica condenou ao longo de
gerações. Aliás, na linha da lei de usura, de 1933, é a jurisprudência do
Supremo Tribunal Federal, cristalizada na Súmula 121, segundo a qual ‘é
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vedada a capitalização de juros, ainda que expressamente convencionada’.
Sabe o leitor a fundamentação da medida ‘urgente e relevante’? É que a
cobrança de juros sobre juros vinha sendo praticada pelos bancos. Em vez de
condenar o abuso, pressurosamente, o governo homologou o abuso mediante
medida provisória. É um escárnio. A medida apareceu na 17ª edição da MP nº
1.963; na calada da noite foi gerada."
Esta "generosidade oficial para com as instituições financeiras" vem de há
muito tempo, desde a edição da Medida Provisória nº 1.367 reeditada sob o nº
1.410 (isto já em 1996) que pretendia aniquilar com as regras legais já
consagradas pela doutrina e pelo Poder Judiciário, liberando a capitalização de
juros ao mês, semestre ou ano, além de outras barbaridades”.
Ocorre que esta Medida Provisória, que só vem a
“ajudar” as instituições financeiras, afronta diretamente os ditames da Lei de
Usura e a Súmula 121 do STF, agredindo moral e economicamente uma
sociedade que vem durante anos tentando se recuperar de problemas
financeiros, tais como: inflação, desvalorização de moeda, estagnação
econômica, entre outras coisas;
Apesar desta atitude adotada pelo governo num
primeiro momento vir a prejudicar e muito a sociedade, deve-se levar em
consideração os comentários e a hermenêutica que deve envolver o Código de
Defesa do Consumidor.
O CDC, em seu art. 46 disciplina:
Art. 46. Os contratos que regulam as relações de consumo não obrigarão os
consumidores se não lhes for dada a oportunidade de tomar conhecimento
prévio de seu conteúdo, ou se os respectivos instrumentos forem redigidos de
modo a dificultar a compreensão de seu sentido e alcance. (grifo nosso)
Conforme o que se disciplina acima, os contratos de
adesão e financiamento, aonde a capitalização de juros é informada, devem
explicitar O PRÉVIO CONHECIMENTO DE SEU CONTEÚDO;
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Fácil é de entender o que ocorre nos contratos
firmados com as instituições financeiras. Em uma simples olhadela em
qualquer contrato de adesão observa-se uma cláusula dizendo: capitalização
dejuros,MENSAL;
No entanto, as cláusulas contratuais neste tipo de
obrigação devem, facilmente, explicar ao Aderente o que significa a
capitalização de juros, pois a legislação prevê que qualquer homem médio
deveria ter como entender esta situação;
Ocorre que apesar de a lei ser bastante objetiva, as
instituições financeiras não se dão ao luxo de adequar seus contratos a esta
situação;
Neste momento é oportuno questionar: “Quantos
sabem o que é capitalizar juros”?
Poucos atualmente sabem o que significa capitalizar
juros mensalmente, pois a única coisa a que lhe é dado conhecimento no
momento da contratação é a quantidade de parcelas e o valor de cada
prestação;
Neste enfoque, é claro e cristalino que empresas
como a Demandada não tentam de forma alguma esclarecer aos seus clientes
as reais situações de seus contratos, o que garante um enriquecimento ainda
maior por parte deste tipo de empresa, que se aproveita da diferença na relação
de consumo para a cada dia obter mais e mais valores econômicos aos seus
cofres;
Razões pelas quais, não pode o Demandante ser
obrigado a arcar com um valor calculado de forma ilegal, devendo ser
recalculado os valores, mediante a aplicação da taxa de juros contratada de
forma simples.
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Sob a ótica do Código de Defesa do Consumidor, os
contratos com a natureza adesiva são contratos pré-formulados, aonde a única
manifestação de vontade do agente adquirente é a assinatura, sob forma de
coação, haja vista o mesmo só tem duas possibilidades: ou assina, e sai com o
bem; ou não assina, e sai sem o bem.
Desta forma, a adesividade do contrato fica
claramente demonstrada, pois o consumidor que pretende adquirir
determinada coisa ou valor tem como única e exclusiva atribuição a fazer a
assinaturadocontrato.
Neste sentido, deve-se entender que mesmo
convencionada, a aplicabilidade da capitalização de juros também faz parte
das cláusulas contratuais abusivas, e deve se operar sua nulidade de pleno
direito, pois o consumidor de forma alguma pode optar ou discutir a
incidência deste encargo dentro da relação fornecedor/consumidor.
É por demais oneroso garantir a instituição
financeira o direito de efetuar a cobrança dos valores referentes à capitalização
de juros, pois o consumidor conforme já narrado acima, somente tem a
obrigação de duas coisas quando contrata com um banco. Assinar e pagar o
que lá está inserido.
Não é preciso nem analisar o contrato realizado para
saber que ocorreu a aplicação dos juros de forma capitalizada, prática esta
reiterada pelas instituições financeiras, apesar da constante proibição da
legislação e dos Tribunais brasileiros.
Além da prática de juros abusivos, existe ainda a
cumulação de comissão de permanência juntamente com outros encargos, o
que é sabido ser proibido inclusive com decisões pacificadas a respeito desta
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matéria.
DO PEDIDO LIMINAR
Com base nas ilegalidades argüidas e demonstradas
no contrato que acompanha, fica claro que a Demandante tem o direito de ver
reduzido às parcelas que lhe são exigidas mensalmente.
Num segundo momento também se percebe o perigo
na demora, pois com os abusos da Demandada dificulta a quitação total do
financiamento, o que pode acarretar novo atraso no pagamento e a inscrição
do nome do Autor nos cadastros negativistas como tem ameaçado e a busca e
apreensão do veículo que esá em tramitação.
Mesmo porque, a devolução dos valores já pagos é
muito demorada, o que importaria em excessiva vantagem ao Réu, em
detrimento da hipossuficiencia natural da Demandante;
Além do mais, o Demandante pretende fazer o
pagamento dos valores que entende devido em juízo (mediante a taxa de juros
correta e a aplicação de forma simples), evitando desta forma o
enriquecimento ilícito da Demandada, com base nas suas práticas abusivas
(utilizando taxa maior do que a contratada e ainda de forma capitalizada).
No presente caso existe ainda a ilegalidade das taxas
exigidas para emissão dos boletos e da análise de crédito, o que continua
sendo exigido pelas instituições financeiras.
Tais tarifas apresentam-se manifestamente abusivas
ao consumidor, pois tanto a análise necessária à concessão do crédito como os
gastos com a emissão dos boletos de pagamento traduzem despesas
administrativas da instituição financeira com a outorga do crédito, não se
tratando de serviços prestados em prol do consumidor. Até porque questiona-
se como seria se por um acaso o crédito não fosse autorizado, seria o valor
administrativo cobrado? O que objetivamente não ocorre, sendo este valor
atribuído apenas àqueles a quem o crédito é permitido, o que é claramente
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errado ser feito.
Ademais, os juros remuneratórios já correspondem
aos lucros da operação de crédito, não podendo a instituição financeira impor
ao consumidor as despesas inerentes a sua própria atividade sem qualquer
contrapartida.
Desse modo, nos termos do art. 51, inciso IV, do
Diploma Consumerista, tem-se que a cobrança de tais tarifas caracteriza
vantagem exagerada da instituição financeira e, portanto, nulas as cláusulas
que as estabelecem.
.
Jurisprudência:
COBRANÇA DE TARIFA E/OU TAXA NA CONCESSÃO DO
FINANCIAMENTO. ABUSIVIDADE. Encargo contratual
abusivo, porque evidencia vantagem exagerada da instituição
financeira, visando acobertar as despesas de financiamento
inerentes à operação de outorga de crédito. Inteligência do art. 51,
IV do CDC. Disposição de ofício (...) (TJRS, Apelação Cível n.
70012679429, rel. Desa. Angela Terezinha de Oliveira Brito,
julgado em06.04.2006).
ANTE O EXPOSTO, REQUER EM TUTELA
ANTECIPADA:
A) Seja concedido ao Demandante o direito a SUSPENSÃO do pagamento
das parcelas restantes do contrato de financiamento firmado com a demandada
até a apresentação de planilha que demonstre o efetivo valor das prestações
que deverá pagar a Demandante visto que no documento apresentado pela
Requerida não há clareza quanto as taxas de juros , dificultando o acesso ao
questionamento do contrato judicialmente, num claro ato que trará maior
demora por parte do poder judiciário, com fulcro, ainda, nos artigos 46, 47 e
74 (por interpretação) do Código de Defesa do Consumidor;
B) Em caso de V. Exa., entender por não suspender o pagamento, requer-se
que seja concedido ao Demandante o direito a depósito judicial do valor
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apurado como sendo o correto para o presente contrato, aplicando os juros da
taxa SELIC, conforme disposto pelo Banco Central, em cima do valor
financiado, conforme planilha a ser elaborada pela Contadoria do Fórum, com
fulcro, ainda, no Princípio Geral de Cautela (CPC, artigo 798), posto que é
ressabido que “Da mihi facto dabo tibi jus” (dá-me os fatos e te darei o
direito). “Quem vem a juízo tem, em princípio, o direito de uma prestação
judiciária quanto ao mérito. Assim toda ênfase deve ser posta em tal sentido,
evitando-se, tanto quanto possível, destruir o processo com questões
prejudiciais e nulidades que destroem a seiva que dá vida ao processo, com
prejuízo para as partes e desprestígio para o Judiciário (AC 53.895, TARJ,
Relator Severo da Costa, RF 254/288) – Compêndio Jurídico Marcus Cláudio
Aquaviva, Editora Jurídica Brasileira, fl. 409 – grifamos”.
C) Em caso de negativa da suspensão do pagamento e do depósito judicial a
menor, requer-se ALTERNATIVAMENTE o pedido de DEPÓSITO
JUDICIAL do valor integral das parcelas, tendo com o base o valor líquido da
dívida que é de R$ 20.000,00 dividida em 36(Trinta e seis) parcelas sendo
descontadas as já pagas, restando um total que deve pagar o demandante no
valor de R$ 446,07 (QUATROCENTOS E QUARENTA E SEIS REAIS E
SETE CENTAVOS CENTAVOS), iniciando o depósito dos valores a partir
da citação da parte Ré, sem acarretar juros até a data de início do depósito, a
serem depositados mensalmente na conta a ser aberta no poder judiciário,
valor este compatível com o financiamento.atualmente cobrado pelo
Requerido como parcela do financiamento.
D) Conforme pedido acima exposto, pede-se que seja a Requerida citada, na
pessoa de seu representante legal, sobre o depósito do valor judicial,
impedindo o mesmo de negativar o nome do Demandante nos órgãos de
crédito SPC/SERASA, e protestar o valor total do contrato bem como
impedindo a Demandada de exigir judicialmente a retomada do veículo
financiado ou outro valor a título de pagamento das parcelas do contrato ora
em contenda, ambos os pedidos sob pena de multa diária a ser arbitrada pelo
juízo.
E) Requer também que na citação seja a Requerida IMPEDIDA de envio de
correspondências ou qualquer outro tipo de meio coercitivo para tentar,
FORÇOSAMENTE, fazer com que o Demandante desista de seu direito,
pague o valor indevido ou devolva o veículo negociado, quitando sua dívida
apenas através de depósito judicial, pois qualquer daqueles atos configura um
ASSÉDIO MORAL desnecessário por parte da Requerida.;
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F) Requer ainda que no momento da citação da Requerida para apresentação
de sua contestação, seja citada a mesma no sentido IMPEDITIVO de
ajuizamento de ação acautelatória de BUSCA E APREENSÃO, ou qualquer
outra que tenha por objetivo a remoção ou tomada do bem, o que configura
claramente LITIGÂNCIA DE MÁ FÉ, pois o Demandante estará depositando
os valores em juízo, não pedindo que seja eximido desta responsabilidade e
haja vista a presente ação estar trazendo em seu bojo exatamente a discussão
acerca do contrato referente ao bem móvel financiado;
:
FINALMENTE REQUER
A) Em caso de negativa do direito a tutela antecipada, requer-se que tenha o
Demandante o direito a manter o pagamento via depósito judicial, do valor
integral das parcelas que considera real, até o trânsito em julgado da presente
ação;
B) A citação da Requerida, na pessoa de seu representante legal,no endereço
acima mencionado, para, querendo, contestar a presente, dentro do prazo
processual permitido, sob pena de confesso quanto a matéria de fato e de
direito.
C) Seja julgada totalmente procedente a presente demanda, para a revisão
integral da relação contratual, e declarar a nulidade das cláusulas abusivas,
bem como a consignação, com o conseqüente expurgo dos encargos que se
considerarem onerosos, tudo calculado na forma simples e sem capitalização
mensal.
D) Seja aplicado a inversão do ônus da prova, consoante art. 6º, VIII do CDC,
obrigando a Requerida a apresentar o original do financiamento, assinado pela
Demandante, bem como a provar em juízo que quitou dos valores já pagos em
boletos bancários e bem como explicações como um veículo que na própria
cédula de crédito é vendido por R$ 50.000,00(CINQUENTA MIL ,
REAIS),quando financiado se transforma em uma dívida de R$
100.000,00. .
E) Protesta pela prova documental que acompanha e as demais que se fizerem
necessárias no decorrer da instrução processual; todas em direito admitidas,
sem a exclusão de nenhuma, pericial caso houver necessidade devendo ser
esta arcada pela Requerida.
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F) A condenação da Requerida a rever a taxa de juros e a forma de aplicação
dos juros, bem como o expurgo da cobrança de juros sobre o custo efetivo da
operação, recalculando o valor das parcelas fixas, devolvendo os valores
indevidamente exigidos, devidamente atualizados (INPC), mais os juros
moratórios (taxa selic) e os devidos honorários advocatícios, estes últimos
conforme de praxe.
G) Caso não seja deferida a TUTELA ANTECIPADA, em sendo exigidos
valores indevidos, combatidos nesta actio, a Demandada, também deve ser
condenada à devolução dos valores exigidos e pagos em dobro, atualizados e
com juros.
H) Seja condenado a Requerida ao pagamento das custas processuais e
honorários advocatícios na base legal de 20% (vinte por cento) do valor da
condenação, bem como os honorários de sucumbência, após o trânsito em
julgado.
Dá-se a causa o valor de R$ 22.000,00
Com os documentos anexos
Pugna por Justiça
Manaus, 18 de janeiro de 2013.
ANTONIO MONTE JÚNIOR
advogado
Documentos anexos:
Procuração ad juditia et extra
Boletos bancários de prestações vencidas
Documentos do veículo
Cédula de Crédito Bancário
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ESTADO DO AMAZONASPODER JUDICIÁRIOComarca de Manaus
Juízo de Direito da 10ª Vara do Juizado Especial Cível__________________________________________________________________________________
1
Sentença
Autos n°: 0600201-41.2013.8.04.0020Ação: Procedimento do Juizado Especial Cível/PROCRequerente: OSARIAS SANTOS DA SILVARequerido:B.V FINANCEIRA S. A . C.F.I
Vistos etc.
Relatório dispensado, nos termos do art. 38, caput, da Lei nº 9.099/95.
OSARIAS SANTOS DA SILVA ajuizou a presente ação em face de B.V
FINANCEIRA S. A . C.F.I, objetivando obter provimento jurisdicional para condenação da
requerida à revisão do contrato outrora firmado entre as partes, que inclui, além de juros
considerados abusivos pelo requerente, valores com os quais este não concorda.
Pois bem.
O requerente pretende sejam modificadas algumas condições do contrato de
financiamento apontado na peça vestibular, no montante de R$50.000,00 (cinquenta mil
reais), tendo atribuído à causa o valor de R$22.000,00 (vinte e dois mil reais), sendo
imperioso tecer algumas considerações sobre este ponto.
Como é cediço, a matéria pertinente ao valor da causa não é tratada na Lei
nº 9.099/95, devendo ser aplicadas, por esse motivo, as disposições contidas no Código de
Processo Civil sobre o tema, conforme amplamente admitido pela doutrina e jurisprudência
pátrias.
Pois bem. O art. 259 do Digesto de Processo Civil, em seu inciso V, dispõe
que o valor da causa nos litígios que tiverem por objeto "a existência, validade,
cumprimento, modificação ou rescisão de negócio jurídico" será o valor do contrato, sendo
exatamente nesse sentido, e não poderia ser diferente, o entendimento do Superior Tribunal
de Justiça:
PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. OFENSA AO ART. 535 DO CPC. INOCORRÊNCIA. VALOR DA CAUSA. LITÍGIO SOBRE A VALIDADE DO CONTRATO. VALOR DO CONTRATO. APLICAÇÃO DO ART. 259, INC. V, DO CPC.1. Os órgãos julgadores não estão obrigados a examinar todas as teses levantadas pelo jurisdicionado durante um processo judicial, bastando que as decisões proferidas estejam devida e coerentemente fundamentadas, em
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ESTADO DO AMAZONASPODER JUDICIÁRIOComarca de Manaus
Juízo de Direito da 10ª Vara do Juizado Especial Cível__________________________________________________________________________________
2
obediência ao que determina o art. 93, inc. IX, da Lei Maior. Isso não caracteriza ofensa ao art. 535 do CPC. Neste sentido, existem diversos precedentes desta Corte. Precedente.2. A jurisprudência desta Corte sedimentou que o valor da causa será, quando o litígio tiver por objeto a existência, validade, cumprimento, modificação ou rescisão de negócio jurídico, o valor do contrato. Precedentes.3. Recurso especial não provido. (REsp 1177947/SC, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES, SEGUNDA TURMA, julgado em 19/10/2010, DJe 28/10/2010)(destaquei)
Ademais, a jurisprudência tem consolidado o entendimento de que o valor da
causa deve corresponder à pretensão econômica perseguida na ação, ou, para citar os
precisos termos no enunciado nº 39 do FONAJE, "o valor da causa corresponderá à
pretensão econômica objeto do pedido".
Insta trazer à baila, nesse ínterim, o posicionamento do Superior Tribunal de
Justiça acerca do que se considera "conteúdo econômico do pedido" em ações que versem
sobre declaração de nulidade contratual, aplicável à espécie mutatis mutandis:
Processo civil. Decisão sobre impugnação ao valor da causa.Preliminarmente: Agravos de instrumentos interpostos pelo autor e pelo réu, sendo o primeiro dirigido ao extinto Primeiro Tribunal de Alçada Civil de São Paulo com o objetivo de reduzir o valor da causa fixado pelo Juízo de Primeiro Grau, e o segundo ao Tribunal de Justiça de São Paulo com o objetivo de majorar esse valor. Hipótese em que nenhum dos Tribunais se declarou incompetente para julgar a questão, tendo o Primeiro Tribunal de Alçada Civil negado provimento ao Agravo de Instrumento do autor antes do julgamento do recurso interposto pelo réu, pelo Tribunal de Justiça. Recurso especial interposto apenas para impugnar o julgamento do segundo agravo de instrumento, pelo Tribunal de Justiça. Possibilidade.No mérito: Valor da causa. Ação declaratória de nulidade de confissão de dívida cumulada com repetição dos valores já pagos em cumprimento à avença. Valor da causa estabelecido por estimativa pelo Tribunal a quo. Revisão. Fixação do valor do contrato.- Nos termos da Súmula 22/STJ, não compete a esta Corte decidir conflito de competência entre Tribunal de Justiça e Tribunal de Alçada de um mesmo Estado-Membro. Com o julgamento pelos dois Tribunais de agravos de instrumento interpostos contra a mesma decisão, ao STJ compete controlar a legalidade de ambas as decisões independentemente, caso sejam impugnadas mediante o recurso cabível.- A jurisprudência do STJ já se assentou no sentido de que, em ações declaratórias, o valor da causa deve corresponder ao conteúdo econômico da pretensão. Na hipótese de requerimento de declaração de nulidade de uma confissão de dívida, o conteúdo econômico do pedido corresponde ao valor do contrato.- Quanto ao pedido de repetição dos valores indevidamente pagos, trata-se de pretensão de caráter conseqüencial em relação à declaração de nulidade
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do contrato. Assim, não se deve cumular o valor das prestações a serem repetidas e o valor do contrato. O valor da causa, mesmo diante do pedido de repetição, deve se limitar ao valor do contrato. Recurso especial parcialmente provido. (REsp 702.409/SP, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 02/02/2006, DJ 20/02/2006, p. 335) (grifos meus)
Corroborando a aplicação desse posicionamento no âmbito dos Juizados
Especiais, transcreve-se trecho de preciosa obra coordenada por Jorge Tosta:
"A Lei que dispõe sobre os Juizados Especiais Cíveis é omissa quanto as 'regras de avaliação do valor da causa', razão pela qual a questão deve ser regida pelo Código de Processo Civil.
Aplicando-se, supletivamente, a norma de caráter geral, tem-se que o autor, na petição inicial, deverá atender as disposições do art. 259 e 260 do Código de Processo Civil, pois, no caso de impugnação pela parte contrária, são esses as regras que serão observadas pelo juiz.
Versando a lide sobre negócio jurídico, valor da causa será o do contrato respectivo, pois no inciso V do art. 259 do referido Código está estabelecido expressamente que, 'quando o litígio tiver por objeto a existência, validade, cumprimento, modificação ou rescisão de negócio jurídico', o valor da causa será o do contrato. (SANTOS, Moacir Amaral apud HONORIO, Maria do Carmo. In: TOSTA, Jorge (Coord.). Juizados Especiais Cíveis. Rio de Janeiro: Elsevier, 2010, p. 67).
Assim, a quantia objeto do contrato em questão deve ser considerada para
fins de atribuição do valor da causa, vez que a demanda versa sobre modificação
contratual.
Feitas essas considerações, verifica-se que o demandante atribuiu à causa
quantia inferior a que está sendo objeto desta ação, quando deveria fazê-lo em
conformidade com o entendimento esposado acima. Dessa forma, outra alternativa não
resta senão a correção do valor da causa para a quantia de R$50.000,00 (cinquenta mil
reais).
Nesse diapasão, vale ressaltar que do valor da causa derivam várias
consequências, porquanto este é parâmetro para fixação de valor referente às taxas
judiciárias, às custas devidas aos serventuários da Justiça, dentre outros. Deduz-se,
portanto, que se o valor atribuído à causa for menor que o devido, todos os atos
processuais que dependam de arbitramento de quantia para serem praticados, se baseados
no valor da causa, serão subestimados.
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Além disso, no caso específico dos Juizados Especiais, o valor da causa é
um dos critérios definidores de sua competência, nos termos do art. 3º, inciso I, da Lei nº
9.099/95. A atribuição incorreta do valor à causa pode resultar em prejuízo ao erário, em
virtude do disposto no art. 55 do diploma legal mencionado. É que, nas ações que tramitam
perante as Varas do Juizado Especial, não são cobradas eventuais custas decorrentes da
prática de certos atos processuais, ao contrário do que ocorre nas Varas Cíveis da Justiça
Estadual Comum, onde, para que seja dado prosseguimento ao processo, as custas
precisam ser integralmente pagas. Noutros termos, caso tramitasse um processo nesta
Vara cujo autor não fosse beneficiário da Justiça Gratuita e o valor econômico perseguido
excedesse o previsto na Lei nº 9.099/95, tornar-se-ia evidente a perda econômica do
patrimônio público, pois neste Juizado não se procederia à cobrança das custas em virtude
de expressa disposição legal (art. 55), ao passo que estas seriam devidas se tramitasse em
uma das Varas Cíveis.
Em reforço ao raciocínio desenvolvido, traz-se à baila magistral ensinamento
de Fernando da Costa Tourinho Neto, vazado nos seguintes termos:
"A matéria pertinente ao valor da causa assume em nossa sistemática normativa instrumental vigente papel importantíssimo, a começar pela petição inicial, na qual figura como um de seus elementos indispensáveis, além das várias implicações de ordem pública, tendo-se em consideração que estabelece o tipo de procedimento adequado, fixa a competência originária e recursal, serve de base para o cálculo e depósito das custas processuais, é parâmetro, em algumas hipóteses, para a fixação dos honorários advocatícios (no caso de sucumbência em segunda instância), limita a produção de prova exclusivamente testemunhal e serve como padrão para a fixação da multa e indenização quando reconhecida a litigância de má-fé e por prática de ato atentatório ao exercício da jurisdição". (TOURINHO NETO, Fernando da Costa e FIGUEIRA JÚNIOR, Joel Dias. Juizados Especiais Estaduais Cíveis e Criminais – Comentários à Lai 9.099/95. 6ª ed. rev.,atual. e ampl. - São Paulo: Editora Revista do Tribunais, 2009, p. 116).
Então, a fim de evitar distorções no uso do procedimento especial previsto
pela Lei nº 9.099/95, o valor da causa deve ser correspondente à pretensão econômica
perseguida, para que assim traduza a realidade do pedido, ainda que o objetivo não seja a
incorporação dessa quantia ao patrimônio do requerente, e sim, a sua não cobrança. Isto é,
a pretensão econômica não se restringe ao pleito indenizatório e à restituição do valor
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efetivamente pago.
Vislumbra-se, portanto, a imprescindibilidade de correção do valor da causa,
ainda que de ofício, por se tratar de matéria de ordem pública, suscetível de apreciação a
qualquer momento ou grau de jurisdição.
Sobre o assunto, a Corte Superior Infraconstitucional já manifestou, inúmeras
vezes, que quando o valor atribuído à causa estiver em visível descompasso com o
conteúdo econômico da ação, o magistrado não somente está autorizado, mas tem a
obrigação de corrigir de ofício o valor da causa, posto que é patente o gravame causado ao
erário, consoante se extrai dos seguintes precedentes: REsp nº 572.536/PR, Rel. Min.
JOÃO OTÁVIO DE NORONHA, DJ de 27/06/2005; AgRg no REsp nº 286.161/SP, Rel.
Min. MILTON LUIZ PEREIRA, DJ de 18/11/2002; REsp 1077272/SC, Rel. Ministro
FRANCISCO FALCÃO, PRIMEIRA TURMA, julgado em 04/11/2008, DJe 24/11/2008.
Dessarte, determino a correção do valor atribuído à causa para R$50.000,00
(cinquenta mil reais), impondo-se, consequentemente, o reconhecimento da incompetência
desta Justiça Especial para processar e julgar a presente demanda.
Importa frisar, ainda, que não obstante a competência para processo e
julgamento das causas inferiores ao teto estabelecido pela Lei dos Juizados Especiais seja
relativa, podendo o autor optar por demandar na justiça comum ou nesta especial, quando o
valor da causa excede o mencionado limite a competência da justiça comum torna-se
absoluta, não estando, portanto, ao alvedrio de quem quer que seja dispor sobre o que não
lhe cabe, não se aplicando, assim, o art. 3º, §3º da Lei nº 9.099/95.
Corroborando esse entendimento, farta messe de julgados, da qual é
exemplo a ementa do julgado a seguir transcrito:
CONFLITO DE COMPETÊNCIA- Pedidos de inexigibilidade de débito cumulada com indenização por danos morais - Extinção do primeiro pelo Juízo do Juizado Especial, que indeferiu a petição inicial, por incompatibilidade de rito - Ajuizamento, posterior, de segundo pedido, perante o Juízo Cível, com nova pretensão indenizatória e valor da causa - Inaplicabilidade, na hipótese, do art. 253, inciso II, do Código de Processo Civil- Valor atual que ultrapassa o teto dos Juizados - Hipótese de incompetência absoluta - Conflito procedente -Competência do Juízo suscitado.253IICódigo de Processo Civil
(990100405799 SP , Relator: Maria Olívia Alves, Data de Julgamento: 08/11/2010, Câmara Especial, Data de Publicação: 25/11/2010)
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Aliás, diferentemente do entendimento esposado por alguns magistrados
deste Tribunal, fere a lógica do razoável e a congruência que deve nortear o exegeta
concluir que pode o requerente renunciar não somente parte do que deseja receber mas
sim, inclusive, abdicar de parte do que deseja deixar de pagar (que pretende ver quitada),
consequência esta inexorável da extinção contratual, sem deixar de mencionar – repita-se –
a ofensa às regras de competência.
Sem olvidar o princípio do Acesso Universal à Justiça, constitucionalmente
consagrado, releva ponderar que o entendimento esposado nesta decisão não cria óbice à
prestação da tutela jurisdicional, mas apenas impõe seja esta realizada pelo juízo
competente, em observância aos princípios do Juiz Natural e do Devido Processo Legal.
Nesse sentido, ainda, deve ser observada a existência de mecanismos proporcionadores do
acesso à justiça no juízo competente, como o benefício da gratuidade de justiça, nos termos
da Lei nº 1.060/50, e a assistência jurídica gratuita, prestada por meio da Defensoria Pública
Estadual, especialmente estruturada para atender aos jurisdicionados hipossuficientes.
Forte nesses fundamentos, tendo em vista que o conteúdo econômico dos
pedidos iniciais excede o limite de quarenta salários mínimos, julgo extinto o processo, sem
resolução do mérito, com fulcro no art. 51, inciso II, combinado com o art. 9º da Lei nº
9.099/95.
Sem condenação em custas, em razão do disposto na primeira parte do
caput do art. 55 do mencionado diploma legal.
P. R. I.
Inexistindo recurso voluntário no prazo legal, arquivem-se os autos com as
cautelas de praxe.
Cumpra-se.
Manaus, 06 de março de 2013.
Alexandre Henrique Novaes de Araújo
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