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Poemethos 6Adroaldo Bauer
2008
Sentença de amor
As pessoas que se amaram,Todas as que se amam
Aquelas que ainda se amarão,terna e eternamente,Sentenciadas estão:
amarás como te amase mais ainda amada serás!
Amar sempre
É preciso amar até de manhã como se fosse sempre haver o amor.
Por amor singrava o mar
O barco torna ao cais,porto seguro,
lançara-se sem amarrasvelas ao vento
desafiara onda bravia
Amor encarnado
Se é sang'real,e verdadeiro,
é integralencarnado simo amor inteiro
Sem culpa, por amar.
Ainda humana e cultural condição, o que se pode evitar apenas
é o único que a culpa não pode consumar:
consumir-se culpada.A condição de estar livre dela, viva!,
seja para repará-la até, é amar.
Da vida, do amor, do mar
É o mar a fonte da vidaela toda nele se pode afogar
eu já vi o sol nascer e morrer alinele já me sonhei morrer, à lua cheia
- doce seria morrer no mar -e vi gente amada nele morrer
há dorno mar eu ouço o teu amor
até na areia há sereias beira-mar,joga flores no mar à rainha d’águaquem espera mágoas nele afogar.Na cidade onde moro há um lago
de água tão doce como o amorelas chegam a um mar, queridade ti o sal dele não me perderá
Outra chave
o poema não quer ser grande.é o poema sonhando em ser que o quer.
é grande essa uma dor.tanto é, deixando de ser sonho,
necessitará de outro maior amor
[ou apenas um outro, porque costuma ser assim com os sonhos: sempre não cabem
no que já há]
AmantesAs frases contidas,
fases curtidas,fôlego encurtado,
amantes aspirantes,domados, inspirados,
corpos suados,mentes inebriadas,
líquidas, inseminadas,tornadas beiradas túmidas
as frestas, úmidas,os lábios frescos.
E continuarama perguntar-se,
móveis...
Pérolas contamAs pérolas não têm fimpor isso nos dão contas
dos amores acontecidos
Distraída lua
Vaga, a lua amanheceu nos versos teus
e deu-se conta, tarde, que aurora era
ouvira a melodia, encantada, em poesia.
Pia
Cria e não mais crê.Pia e agora derramada.
Adormecendo, enluarada!
En prise!
Eu não devia me apaixonar assim, mais.Eu sofri por amores assim antes, demais.Tu não podias apaixonar-te assim, agora.Tu não devia ter-me beijado àquela hora.
Eu nunca vou deixar de te querer, tanto.Eu sempre vou te amar, isso é encanto.
Tu viverás, por certo pensando em mim,Tu sempre vais me amar, penso que sim.
É triste que assim seja, tão distante estás.É um drama ainda maior, parte o coração.Queria poder beijar-te sempre, outra vez.
Queria poder ver-te, um minuto talvez.
Fala comigo, amor. Escreve uns versosPelo avesso dessa malfadada dor, tem dó.
Diz que me quer, que me ama, querida.Diz antes que se vá a minha vida ao pó
Sandice
Escrevo teu nome no céuNão duvide, ponha fé.
Sempre é tempo de plantarAinda sou quem vai te amar
Não me desvia da rota um vendavalDas fantasias eu refaço o carnavalEstá escrito no lado escuro da luaCala fundo na minh’alma e na tua
Isto é ainda toda minha vida simDe esperar sempre por ti queridaO mais então é teu amor por mim
Importa que escreva
importa se escrevapara que se viva
e mais se escreve,mais se percebe
a necessidade deviver e escrever
plano e pousoem pleno vôo,
desfolhou-se o manualpágina por uma se voaram alheias de mim
sem quedas para aparar vi-me em berço de nuvens,
no ar sem asas, parou o motorde funcionar.
planejei planar. lera o manual
e flanei até pousar. repousante receita
amar, afinal, muito mais amar sem dor.
Amizade
Ser amigo é mais que a memória
desses tempos propaga.É também lembrar de ti
sem te consumir nem querer além
de retribuir a amizade que tens por mim.
Palavras...
[ se há algum temoré de que de sentido a vida
seja vazia,sem chance ao amor,
sem tua presença, querida ]
eu penso que é a morteque depende da vida,
sem a qual aquelasequer existiria.
E a própria vida, que se recria,é que vai dar em algum momento,
oportunidade à própria ceifa,único labor que a morte cria.
Restos
Nem guaraniNem grapette há
restos de guaraná peste
Na garrafa pet
Águas em turbilhão
turvas, arremessamnaus em redemoinhos
ao insondável vão,silencioso e infinito
de enamorados aflitos.
Ou só águas límpidasdesanuviadas águas
recém-chovidas, olímpicasdestiladas e desaquecidas
puras virgens caídas,anjos, quase, ainda.
[ Um dueto para Águas Insanas, de Rosí Finco ]http://recantodasletras.uol.com.br/poesiasdeamor/1100119
Barganhas da vida
O que permitia a cançãoAconteceu de ser paixãoAchar na vida um amor
Perfumado pela florQue diz que me ama e quer
Em êxtase penso bem querercomo ninguém amou, amarComo nunca, até voar e ser
Os jardins secaram, são póAs flores tornadas a dorA vida barganha sem dó
Vem dizer-me sem quererQue és de um outro amor
Eu já sei o que é ser só.E preciso reaprender a ser
Mentira...
Mentira, sim!Eu creio em ti!
Eu sei que é assim!Mentira!
Mesmo outra, ainda é o que foi.Mesmo não mais sendo, inda será.
Com ou sem juízo... será, será!
A lua do dia em que se casa
Numa dessas luas, um dia,morando numa ilha andaria
a esperar noites belas,entre uma e outra fase,elétrico: talvez casasse,
se ela se quisesse casar...E posso aceitar conselhos
encontrá-la e ouvi-la,quando falar em luar,
e disser da mesma luacomo se diversas fosse
e, das diversas, que uma é,pendendo de onde se a vejae de como se a queira ver...
Pelo sim, pelo não,casaria de dia, então.
Tudo já foi dito. Vamos repetir!
Não se diga que as coisas todas já foram escritas,
porque as escritas são muito recentese muito pouco lidas,
diga-se, isso sim,que todas as coisas já foram ditas.
E necessitam ser sempre repetidas,re-ditas,
e, agora, e-ditas.
Reflexiva aura
Ainda semi-abertasai-me da alma
em fluxo, retano teu encalço
toda energiaque tua aura
em mim desata
Para frio na alma.
Pra um tanto frio assim na alma, cobertor algum adianta.
Importa mais se o esqueça. Não aquenta.
Melhor se invente novo amor já,Calor assegurado, mais perfeito,
Conforto do coração, sanidade da cabeça.
Melhor remédio inexiste, nem se fica mais um tempo triste.
Amar é um estado quase de graça.Desamor que aconteça, o remédio é novo amor.
Não é mero placebo. É fato provado, abismado percebo.
Porque existes, eu sou
Não sei se você sabemas quis a vida assim,o mundo levou-me a tia distância não é tanta
como grande é o meu amorNão há tristeza nisso, queridaNão sofra e nem tema a vida
Ela me leva por teus caminhosPróximo ao mar, sob o luar
há canção e razão de cantar:"Não há você sem mim
E eu não existo sem você".
-----------A propósito da paixão, do amor e da canção
"Eu não existo sem você",de Tom Jobim e Vinícius de Moraes" (1958)
Elegia à poesia*
Ela é uma mulher sublimeDeixou de ser tida perigosaPosto que não é mais crime
quando tem prazer e gozaNão se pode mais que amá-la
deixar exposto e dispostode exemplo, sinal do tempo
Que é pessoa inteira até por leiNão desista de querê-la por isso
ela renasceu e rebrotou rosaVezes sem conta ressuscitou
tantas, que refez a históriaNada mais teme quando gozaabsoluta, íntegra e prazerosa.
(*releitura do poema Elogio do pecado, de Bruna Lombardi,)
Um aniversário mais feliz do que possas querer
Porque tanto te amodesejo que tenhas tanta luz,
tanta felicidadeque nem caiba em ti
e mesmo nem caiba em todos os teuse repartas
como costumas fazer com teu amorcom quem queiras,
e que tenhas tanta saúdeque te possa conduzir
assim linda pessoae por ti
até a idade mais longeva,
que tenhas tanto prazerque possas também dar
a quem queiras darmais prazer e mais alegria
e tenhas em mim,creia,
um sempre teu amigo.
um beijo e terno abraço.
Só pode ser um anjo bom
Um anjo desce às madrugadasE mesmo que não o percebas
É quem te inspira,te põe em fogo
e te ilumina os cantoso poema
o fraseado da poesia,sim, sem alegria
a tua doce angústia,tua terna agonia
É, no entanto,ainda parece,Um anjo bom,
que não adormecese lembra,
embora com pesarde que seria e é bom amar.
Um dia que não passa. Haja desamor!
Dorme de dia que o povo olha,não se comove muito, mas olha.Se dormir à noite, dança, morre
uma'zeitona, uma branca afiada,um fino estilete enferrujado e
frio,mesmo uma meia-lua de
pernada.Até torção de estrangüela leva
Ele assim resiste, sobrevive, insiste,
parece não qué morrê sem estilo...
o povo olha, não se comove, até vê
nem é na tevê é só no meio da rua,
sem glamour algum nem força na peruca.
Tá doido!Cuida o caveirão!
Inda é bicho homem,Inda fora do rabecão.
Se ficá, os lobos comem!Nem pintura de relevo é a
baixeza,Inda é vivo, desenhado na pedra
nem.Eita dor! Haja desamor.
Mãe que é mãe sabe amar
Tenho acordo,mãe que é mãe sabe amar,
o demais é bicho ruimnão nascido gente
se fazendopra resolver pendenga
jogando as crias no lixoou as atirando pela janela
para aparecer na tevê.
Látego
Átila que nos acudaaçoite se necessário,
não será vãose é filho da quenga
craque e coca no cocotudo nas ruas são
desabusado calvário
Fadados a matar!
Sem piedade, a trilha das ruascompõe uma a uma as tragédias
as crianças gritam, choram,a mãe desespera no turbilhão
quer escapar ao fogo.Atira esperanças ao chão
bandidos disparam.abre ela o peito aos balaçosos assassinos estão ao lado
armados para matar... fardados
Soberba é nada
Pobre a pessoa que nunca soube ser o universo muitíssimo maior que
um umbigo, e também mais importante que um
único ser efêmero nele contido.
Não! Não é só...
se mais não digoé por não ter ainda aprendido
sinto, desesperadamente sinto,que não é só!
Poemas de Adroaldo BauerMontagem: Adroaldo Bauer Spíndola
CorrêaPorto Alegre . Rio Grande do Sul .
Brasil .2008
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