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Revista Mundo Antigo Ano I, V. 01, N. 02 Dezembro 2012 ISSN 2238-8788
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Polbio e os princpios de sua investigao histrica:
algumas consideraes
Polybius and the principles of his historical investigation:
some remarks
Henrique Modanez de SantAnna1
Submetido em Agosto/2012 Aceito em Novembro/2012
RESUMO: Este artigo trata algumas das questes centrais na obra do historiador grego Polbio de Megalpole, feito refm pelos romanos aps a destruio da Liga Aqueia, enfatizando suas concepes metahistricas (como Roma subjugou todo o mundo conhecido por eles em cerca de 50 anos) e suas possveis relaes com a teoria da anaciclose, tal qual apresentada por Polbio. Tendo isto em mente, procurarei inserir o debate acerca da chamada histria pragmtica polibiana e da constituio mista dos romanos, como forma de destacar os elementos supracitados luz do que escreveu o prprio historiador antigo.
Palavras-chave: Polbio; historiografia helenstica; Roma.
ABSTRACT: This article deals with some of the central issues in the work of the Greek historian Polybius, emphasizing its metahistorical conceptions (how did Rome conquer the known world in about 50 years) and its relations with the theory of anacyclosis. With that in mind, I will try to present the debate on the so-called pragmatic history by Polybius and the mixed constitution of the Romans, as a way to cast light on the above-mentioned elements according to Polybius himself.
Keywords: Polybius; Hellenistic historiography; Rome.
1 Professor Adjunto de Histria Antiga da UnB e Fellow in Hellenic Studies (2012-13) do Harvard CHS. Doutor em Histria pela UnB. E-mail: modanez@unb.br
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O historiador e sua obra
Polbio viveu num tempo de grandes transformaes polticas (c. 198-117 a.C.),
no momento em que os destinos de gregos e romanos foram ligados de maneira a
transformar suas histrias definitivamente. Isto significa dizer que ele testemunhou o
colapso do sistema helenstico, com todas as suas variaes polticas (devidas,
principalmente, s acomodaes das tenses provocadas pelas elites polticas locais),
tendo sido feito refm dos romanos aps a derrota dos gregos na batalha de Pidna (168)
(DEROW 2005, pp. 51-70). Em Roma, Polbio ganhou no s a simpatia de Cipio
Emiliano, mas tambm a chance de conhecer em primeira mo os assuntos romanos e o
funcionamento de suas instituies. Tendo l vivido dezesseis anos, antes de poder
retornar Grcia, conquistou a oportunidade de conceber a sua obra e de escrev-la
parcialmente (ao menos os 15 primeiros livros) (MOMIGLIANO 1991, p. 28). O plano
inicial era narrar a histria da conquista romana, dos princpios da Segunda Guerra
Pnica (220) submisso da Macednia (168), tomando a segunda guerra contra os
cartagineses como ponto de partida devido simultaneidade de trs grandes conflitos: a
guerra entre Roma e Cartago, a guerra das Ligas gregas (Aqueia e Etlia), que contava
com a participao incessante de Filipe, e a guerra entre Antoco e Ptolomeu Filopator.
At esse momento, diz Polbio, eventos de vrias partes do mundo estavam
desconectados; poca da Segunda Guerra Pnica, no entanto, os assuntos italianos e
africanos passaram a ter relao direta com os assuntos gregos e asiticos. A histria
havia se tornado um todo orgnico, como uma passagem mais adiante em Polbio
deixa transparecer:
At essa poca os eventos mundiais tinham sido por assim dizer dispersos, pois no eram interligados por uma unidade de iniciativa, de resultados ou de localizao; desde essa poca, porm, a Histria passou a ser um todo orgnico, e os eventos na Itlia e na Lbia interligaram-se com os da Hlade e da sia, todos convergindo para um nico fim. Por isso a nossa Histria pragmtica inicia-se nessa poca. (POLBIO, Histrias, 1, 3).
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Ainda que a Segunda Guerra Pnica seja reconhecidamente o ponto de partida de
sua obra, Polbio no a inicia sem antes preparar uma longa introduo, em dois livros,
sobre a histria das relaes entre Roma e Cartago, partindo da Primeira Guerra Pnica,
que ele considera somente um preldio da seguinte, e das questes concernentes Liga
Aqueia. Como Tucdides, Polbio elaborou um tipo de introduo (prokataskeu).
Quanto ao seu fim, aps reconsiderar a importncia de eventos subseqentes, tais como
a queda de Cartago e a anexao da Grcia em 146 a.C. (WALBANK 1990, pp. 16-19;
MOMIGLIANO 1991, pp. 27-28), Polbio alcanou o impressionante nmero de 40
livros, dos quais apenas os cinco primeiros nos chegaram intactos. Dos demais temos
apenas fragmentos, alguns extremamente relevantes (como aqueles do livro seis, sobre a
constituio dos romanos). possvel que Polbio tenha concludo o seu trabalho em
134 a.C., a despeito de diversas inseres e correes feitas at o ano de 120 a.C. De
todas as inseres posteriores, talvez as mais interessantes sejam as que sugerem a visita
do historiador a Hispnia, em 133 a.C., e aquelas que fazem aluso aos irmos Graco.
Como a histria de Polbio d continuidade, em relao ao mundo mediterrnico
ocidental, quela escrita por Timeu (FrGH 566), o sistema de organizao cronolgica
por ele adotado parcialmente o mesmo do historiador de Tauromnio. Isto significa
dizer que Polbio reconhece a marcao dos anos pelas Olimpadas, da mesma forma
que Timeu, mas ao mesmo tempo toma a liberdade de introduzir elementos novos, a
exemplo da contagem dos anos dos cnsules romanos. digno de nota que o ano
polibiano no coincide com aquele da Olimpada (em julho), tendo incio cerca de trs
meses depois, no primeiro dia de outubro. Esta diviso parece ter sido determinada pelo
fato de o equincio de outono e o comeo dos anos oficiais dos estrategos das Ligas
Aqueia e Etlia se darem ao mesmo tempo (BURY 1908, p. 193).
Polbio escreveu outros trabalhos menores. A primeira obra de Polbio parece ter
sido uma biografia em tom panegrico de um estadista aqueu em trs livros, da qual
temos notcia na vida de Filopemene, escrita por Plutarco. Outra obra a Ttica,
mencionada no livro nove e mais tarde por Arriano. H ainda uma monografia
mencionada por Gemino sobre a habitabilidade das regies equatoriais. Nenhuma
dessas obras, no entanto, nos ajuda na tarefa de datar precisamente todas as etapas da
histria escrita por Polbio (WALBANK 1991, p. 15; MEISTER 2008, p. 185).
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A histria pragmtica
Se bem verdade que a obra de Polbio pode ser considerada, tal qual a de
Tucdides, uma aquisio perene (ktema es aiei), podemos dizer que sua importncia,
da mesma forma que aquela atribuda ao historiador da Guerra do Peloponeso, reside no
fato de Polbio acreditar que a representao precisa dos fatos era um trao fundamental
no trabalho do historiador. Trs elementos podem ser listados como pr-requisitos para
a execuo de tarefa to delicada: (1) o estudo e crtica das fontes, (2) a autpsia ou o
conhecimento pessoal das regies tratadas e (3) experincia poltica (WALBANK 1991,
p. 16).
Polbio preenchia, como parece bvio, os pr-requisitos acima enumerados:
homem de ao, com experincia poltica e militar, estava quase sempre presente ao
lado de Cipio nos eventos que narrou com mais vida (a destruio de Cartago, por
exemplo, durante a qual o general romano supostamente chorava pela cidade em
chamas, temendo que um dia Roma tivesse o mesmo destino), ainda que muita cor
tivesse sido tambm dada ao relato da Guerra Mercenria (241-237), conflito que
Polbio no testemunhou. Alm disso, Polbio no incorporava relatos de terceiros aos
seus sem a investigao apropriada e dificilmente se entregava ao argumento da
autoridade. Por exemplo, contra a autoridade equivocada do historiador Fbio Pictor,
Polbio se posicionou da seguinte maneira:
Quereria algum saber por que mencionei Fbio e sua afirmao? No foi por temor de ver os leitores aceitarem as suas teses, considerando-as plausveis; a ilogicidade inerente a elas evidente a qualquer um, mesmo sem comentrios meus. Mas o meu objetivo prevenir os leitores desta obra para no darem ateno ao nome do autor e sim aos fatos, pois h pessoas que do importncia no ao que Fbio escreve e sim ao prprio escritor, e levando em conta a sua qualidade de contemporneo dos acontecimentos e de senador romano aceitam imediatamente como digno de crdito tudo que ele diz. Na minha opinio, embora no devamos atribuir pouco valor sua autoridade no somos obrigados todavia a aceit-la como definitiva, e na maioria dos casos os leitores devem pr prova suas afirmaes confrontando-as com a realidade dos fatos. (POLBIO, Histrias, 3, 9).
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Quanto autpsia, Polbio no se mostrou mais condescendente. Timeu e Zeno
de Rodes foram alvo de suas crticas, o primeiro por viver apenas num nico lugar e o
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