View
1
Download
0
Category
Preview:
Citation preview
Pró-Reitoria Acadêmica
Escola de Negócios Curso de Relações Internacionais Trabalho de Conclusão de Curso
O SÉCULO DA AMÉRICA NO PACÍFICO: UMA REFLEXÃO SOBRE A POLÍTICA EXTERNA DE BARACK OBAMA NA REGIÃO ÁSIA-PACÍFICO
Autora: Caroline Marconi Licks Orientador: MSc. Creomar Lima Carvalho de Souza
Brasília – DF
2015
CAROLINE MARCONI LICKS
O SÉCULO DA AMÉRICA NO PACÍFICO: UMA REFLEXÃO SOBRE A POLÍTICA
EXTERNA DE BARACK OBAMA NA REGIÃO ÁSIA-PACÍFICO
Monografia apresentada ao curso de graduação em Relações Internacionais da Universidade Católica de Brasília, como requisito parcial para obtenção do Título de Bacharel em Relações Internacionais. Orientador: MSc. Creomar Lima Carvalho de Souza
Brasília
2015
Monografia de autoria de Caroline Marconi Licks, intitulada “O SÉCULO DA
AMÉRICA NO PACÍFICO: UMA REFLEXÃO SOBRE A POLÍTICA EXTERNA DE
BARACK OBAMA NA REGIÃO ÁSIA-PACÍFICO”, apresentada como requisito
parcial para obtenção do grau de Bacharel em Relações Internacionais da
Universidade Católica de Brasília, em 27/11/2015, defendida e aprovada pela banca
examinadora abaixo assinada:
_________________________________________________
Prof. MSc. Creomar Lima Carvalho de Souza
Orientador
Curso de Relações Internacionais – UCB
_________________________________________________
Prof. Dr. Rodrigo Figueiredo Suassuna
Curso de Relações Internacionais – UCB
_________________________________________________
Profª. Drª. Geisa Cunha Franco
Curso de Relações Internacionais – UFG
Brasília
2015
AGRADECIMENTO
Agradeço a Deus por toda a força que me deu para que superasse os
momentos difíceis e chegasse até aqui. À toda minha família, que me deu suporte
para eu continuasse e finalizasse essa jornada. Em especial a minha mãe que
acompanhou de perto todo esse processo, com dedicação, todo seu amor e noites
viradas junto a mim. Sem seu suporte, apoio e encorajamento, não teria chegado
nem na metade desse caminho. Ao meu pai pelo apoio e carinho fundamentais
nessa jornada; ao meu irmão pelas risadas nos dias em que o cansaço pesava; aos
meus tios pelo incentivo.
Aos meus amigos queridos, em especial Bianca, Nathane, Rodolfo, Yan,
Carlos, Matheus Atanam, Thamilis e Débora, que juntos superamos situações
complicadas com excelência e compartilhamos de momentos inesquecíveis durante
esses quatro anos. Vocês tornaram esse caminho mais bonito e inspirador. Aos
amigos de fora do curso, que compreenderam meu distanciamento para focar nesse
trabalho, e que se orgulham pelo fechamento desse ciclo.
Aos professores e ex-professores do curso de Relações Internacionais da
Universidade Católica de Brasília, que se tornaram mestres e amigos, além de
sempre incentivarem o meu melhor. Finalmente, agradeço ao meu orientador,
Creomar de Souza. Se não fosse pelo seu incentivo e paciência, esse momento não
seria possível. Agradeço por ter sido professor, orientador, amigo, psicólogo e por
muitas vezes pai. Seus ensinamentos influenciaram diretamente em meu
amadurecimento como pessoa e profissional.
RESUMO
Referência: LICKS, Caroline. O século da América no Pacífico: uma reflexão sobre a política externa de Barack Obama na região Ásia-Pacífico . 2015. 67f. Monografia (Bacharelado em Relações Internacionais) – Universidade Católica de Brasília, 2015.
Este trabalho tem como objetivo entender como a administração Barack Obama reagiu as alterações da conjuntura estratégica na região da Ásia-Pacífico. Para isso, serão abordados inicialmente, em uma perspectiva histórica, as dinâmicas do pós-Guerra Fria e como as mesmas influenciaram os arranjos de cooperação regional no continente asiático. Posteriormente, buscou-se entender como esse cenário proporcionou o desenvolvimento da China, que chegou ao posto de potência regional, devido seu protagonismo nas relações multilaterais com atores como a Associação das Nações do Sudeste Asiático, e seu novo conceito de segurança para a região. Em seguida, foi procurado perceber como o atentado de 11 de setembro de 2001 mudou o direcionamento estratégico norte-americano e abriu maior espaço para a China, em ascensão, preencher as lacunas deixadas pelo governo dos Estados Unidos. Dessa forma, notou-se que a China aumentou seu poder de influência no continente asiático, e sentiu-se forte para mudar de postura e agir agressivamente em questões como reivindicações territoriais em mares importantes. Infere-se que isso provocou a percepção de ameaça em seus vizinhos, que pediram o retorno estadunidense como forma de contrabalancear o poder chinês. Portanto, quando Obama assumiu a presidência e percebeu a necessidade de dar ênfase a essa região estratégica, criou a política do pivot para Ásia. Objetivando, assim, fortalecer suas alianças bilaterais e multilaterais, e consequentemente, ganhar maior espaço para defesa de seus interesses e valores, nessa região tão influenciada pela China.
Palavras-chave: EUA; China; ASEAN; Reequilíbrio Estratégico.
ABSTRACT
This work has the objective of understanding how Barack Obama's governance reacted to the changes of the strategic conjuncture in the Asia-Pacific region. For this purpose, it will be initially approached, in a historical perspective, the dynamic of the post-Cold War and how it influenced the regional cooperation arrangements in the Asian continent. Afterwards, it was sought to understand how such this scenery provided development to China, which reached a regional potency status due to its leadership in the multilateral relations with actors such as Southeast Asia Nations Association, and its new concept of safety for the region. The next subject approached was how the terrorist attack of September 11 of 2001 changed the north-American strategic direction and opened up space for China, in ascension, to fill in the gaps left by the United States of America's government. In this sense, it is noticed that China increased its power of influence in Asian continent and felt strong to change its posture and act aggressively in matters like claims on important maritime territories. It can be inferred that it caused the perception of threat on its neighbors, which requested the return of the American interference as a way of offset the Chinese power. Therefore, when Obama assumed the presidency and realized the need to give emphasis to that strategic region, he created the pivot policy for Asia. Aiming to strengthen United States' bilateral and multilateral alliances and, consequently, obtain more space for the defense of its interests and values on a region under such Chinese influence.
Key-words: USA; China; ASEAN; Strategic Rebalance.
LISTA DE FIGURAS
Figura 01: Processo de securitização................................................................24
Figura 02: Estreito de Taiwan............................................................................29
Figura 03: Reivindicações territoriais no Mar do Sul da China..........................35
Figura 04: Reivindicações territoriais no Mar da China Oriental........................37
LISTA DE ABREVIAÇÕES E SIGLAS
AFTA – ASEAN Free Trade Area
APEC – Cooperação Econômica da Ásia-Pacífico
ARF – Fórum Regional da ASEAN
ASEAN – Associação das Nações do Sudeste Asiático
EAI – Enterprise for ASEAN Initiative
EIRD – Estratégia Internacional para Redução de Desastres
EUA – Estados Unidos da América
SEANFZ – Treaty of the Southeast Asia Nuclear Weapon-Free Zone
TIFA – Trade and Investment Framework Arrangement
TPP – Trans-Pacific Partnership
TREATI – Trans-Regional UE-ASEAN Trade Initiative
UE – União Europeia
URSS – União das Repúblicas Socialistas Soviéticas
ZEE – Zonas Econômicas Exclusivas
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO ............................................................................................. 10
2. CAPÍTULO 1: OS EFEITOS DAS DINÂMICAS DE PÓS-GUER RA FRIA E OS ARRANJOS DE COOPERAÇÃO REGIONAL NA ÁSIA ........................... 14
2.1. A EMERGÊNCIA DE NOVOS ATORES NA REGIÃO ÁSIA PACÍFICO – ASEAN, APEC E CHINA ............................................................................... 15
2.1.1. Associação das Nações do Sudeste Asiático (A SEAN) ............. 15
2.1.2. Cooperação Econômica Ásia-Pacífico (APEC) ........................... 17
2.1.3. A China na região Ásia-Pacífico ................................................... 18
2.2. OS ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA NA ÁSIA-PACÍFICO ................ 20
2.3. CRESCIMENTO DA PERCEPÇÃO DE NECESSIDADE DE UM REDESENHO ESTRATÉGICO DAS PRIORIDADES DOS EUA NO PACÍFICO ..................................................................................................... 23
3. CAPÍTULO 2: A ASCENSÃO CHINESA E O DESAFIO DE SE GURANÇA ESTADUNIDENSE ........................................................................................... 27
3.1. A NOVA DOUTRINA DE SEGURANÇA CHINESA ............................... 27
3.1.1. Modernização da Marinha Chinesa .............................................. 28
3.2. AÇÕES CHINESAS DE CONSTRANGIMENTO AOS SEUS VIZINHOS NA REGIÃO ÁSIA-PACÍFICO ....................................................................... 33
3.2.1. Mar do Sul da China/ Mar da China Meridional ........................... 34
3.2.2. Mar da China Oriental .................................................................... 37
3.3. A CHINA VISTA COMO UMA AMEAÇA À ESTABILIDADE REGIONAL38
4. CAPÍTULO 3: A ESTRATÉGIA DE SEGURANÇA DO GOVERNO DE BARACK OBAMA PARA ÁSIA-PACÍFICO .................................................... 43
4.1. PRIORIZAÇÃO DA AGENDA DE POLÍTICA EXTERNA PARA A ÁSIA-PACÍFICO NO GOVERNO DE BARACK OBAMA ........................................ 43
4.2. REFORÇO DOS ARRANJOS DE SEGURANÇA COLETIVA DOS EUA NA REGIÃO ÁSIA-PACÍFICO ....................................................................... 48
4.3. A ESTRATÉGIA DE SEGURANÇA NACIONAL DE BARACK OBAMA PARA A REGIÃO ÁSIA-PACÍFICO ............................................................... 51
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS ......................................................................... 56
REFERÊNCIAS ................................................................................................ 60
10
1. INTRODUÇÃO
O presente trabalho pretende compreender como a administração Barack
Obama reagiu as alterações da conjuntura estratégica na região da Ásia-Pacífico.
Assim, está dividido em três capítulo, sendo o primeiro “Os efeitos das dinâmicas de
pós-Guerra Fria sobre os arranjos de cooperação regional na Ásia”, o segundo “A
ascensão chinesa e o desafio de segurança estadunidense”, e o último “A estratégia
de segurança do governo de Barack Obama para Ásia-Pacífico”.
Para isso, será operado o método histórico, que segundo Marconi e Lakatos
(2010, p. 89), é utilizado para investigar acontecimentos passados e avaliar como
eles influenciam em acontecimentos atuais. Esse método entra em consonância com
a proposta de avaliar acontecimentos desde a Guerra Fria que levaram ao
desenvolvimento chinês e como ele influenciou a volta estadunidense para a região
da Ásia-Pacífico.
Para auxiliar o melhor entendimento desse trabalho, foram utilizadas as
seguintes teorias: Neo-Realismo, Teoria de Securitização e Teoria Cognitiva.
Segundo Waltz (1979), o Neo-Realismo tem como principal foco o Sistema
Internacional e explana que em uma competição, o Estado racionalmente se adapta
para garantir sua sobrevivência no cenário internacional. Esse ponto será melhor
percebido através do alinhamento político dos países asiáticos com Estados mais
fortes que a China, como os EUA, principalmente em relação as disputas territoriais,
como no Mar do Sul da China, que serão explanadas posteriormente.
Fator importante para a teoria é o posicionamento dos Estados em relação
aos demais no Sistema Internacional, sendo esse influenciado pelas capacidades
relativas das unidades, ou seja, o que podem fazer ou não no âmbito da política
internacional. Logo, será apresentado como o posicionamento estratégico ocorre de
acordo com o Estado suprir ou não suas necessidades e como isso afeta seu
alinhamento político. Portanto, será entendido como o desenvolvimento e o
aprimoramento das capacidades chinesas atribuíram poder de constrangimento
dessa potência regional aos vizinhos, e como essa nova situação afeta a dinâmica
da região.
Waltz (1979) admite a existência de atores não-estatais na política
internacional, porém esses não podem modificar as estruturas. No caso a ser
tratado, ator não-estatal fortemente utilizado será a Associação das Nações do
11
Sudeste Asiático, e pretende-se abordar a forma que essa Associação funciona
como ambiente para maior defesa de interesses entre os países membros, os EUA e
a China. É percebido também nesse pensamento teórico, que em um sistema
competitivo, ocorrerá balanço de poder, ou seja, o alinhamento de Estados mais
fracos com os mais fortes, para garantir sua segurança e criar uma condição de
equilíbrio de poder. Esse possível balanço de poder será abordado a partir da
perspectiva de que a China se tornou forte em sua região, utilizando-se de medidas
expansionistas, a ponto de seus vizinhos sentirem necessidade de um outro centro
de poder regional. Assim, essa outra potência, que no caso a ser tratado será os
Estados Unidos, proporcionaria uma opção de alinhamento político diferente para a
região.
Como maneira de melhor entender a questão dessas duas potências na
região da Ásia-Pacífico, será utilizada também, a Teoria de Securitização. Essa
teoria vem da Escola de Copenhague, criada em 1985 para desenvolver estudos
sobre a paz e atualmente, sobre segurança internacional (TANNO, 2003). Buzan
(1998) divide as agendas de segurança em quadros analíticos, sendo esses setores
econômico, societal, ambiental, militar e político; nesse trabalho será abordada a
securitização através dos setores político e militar.
Securitizar um tema significa torná-lo pauta de segurança através do
movimento de securitização. Por sua vez, o movimento de securitização ocorre
quando um agente securitizador (ator com autoridade e recursos) convence seu
público-alvo de que um assunto ainda não politizado apresenta ameaça à segurança
(através das lentes do ator securitizador) e, portanto, deve se tornar politizado. Se o
público-alvo compra o discurso do agente securitizador, este ganha legitimidade
para alterar regras vigentes do jogo político. Será perceptível, através do discurso do
presidente Barack Obama, entender esse processo no âmbito político, assim como o
âmbito militar ficará em evidência a partir da percepção de ameaça dos países de
asiáticos em relação a China.
Para melhor compreensão de como as percepções de ameaças são formadas
e entendidas, tem-se a Teoria Cognitiva, que explica como fatores cognitivos, como
valores, afetam a percepção dos Estados, sobre ameaça, por exemplo. Aborda
também, como as ideias que já estão intrínsecas no modo de pensar de cada
tomador de decisão afeta essa percepção e assim, as manobras dentro do cenário
internacional.
12
Dessa forma, o primeiro capítulo propõe um histórico sobre como as
dinâmicas do pós-Guerra Fria afetaram a formação dos arranjos de cooperação no
continente asiático. Então, será discorrido sobre o contexto da criação da
Associação das Nações do Sudeste Asiático (ASEAN) e da Cooperação Econômica
Ásia-Pacífico (APEC), assim como, qual a necessidade de suas constituições.
Em seguida, será abordada a nova postura chinesa no Sistema Internacional,
a partir do fim de sua política isolacionista em 1978, e sua nova política, de aceitar o
multilateralismo e dialogar fortemente com a ASEAN. Entender como esse diálogo
faz parte de sua estratégia para formar uma nova dinâmica de segurança e
sustentar sua política expansionista, bem como a assinatura do Tratado de Amizade
e Cooperação em 2002.
O capítulo ainda apresentará a mudança de foco da política externa dos
Estados Unidos da América no pós-11 de setembro, que se volta por completo para
Guerra contra o Terror. Será percebido como isso influencia na política chinesa de
agir em conjunto com sua região, em iniciativas regionais de cooperação,
econômica, política, de segurança, de modo a se estabelecer o centro do continente
asiático; dando menos atenção aos vínculos com os EUA. Assim, os Estados Unidos
deixaram lacunas deixadas na Ásia-Pacífico que passam a ser preenchidas pela
China, protagonista na região.
Para fechar esse capítulo, será apresentado o crescimento da percepção de
necessidade de um redesenho estratégico das prioridades dos EUA no Pacífico. O
presidente Obama percebe a possível queda na defesa dos interesses
estadunidenses na região, devido a expansão chinesa, e lembra a situação de
interdependência entre EUA e China.
O segundo capítulo discorrerá sobre a ascensão chinesa e a percepção norte-
americana sobre esse novo cenário. Será introduzida a nova doutrina de segurança
chinesa, fortemente voltada para a modernização de sua marinha. Será explicado
quando o processo começou, e como isso se refletia na visão dos seus vizinhos
asiáticos e dos EUA.
Logo após, compreender como isso influencia no poder de constrangimento
chinês, voltado para as questões de disputas territoriais: Mar do Sul da China ou Mar
da China Meridional e Mar da China Oriental. Isso leva, por fim, a análise da própria
China vista como uma ameaça à estabilidade regional, sendo essa percepção de
13
seus vizinhos, que pedem a “volta” norte-americana para que ocorra equilíbrio de
poder.
Por fim, o terceiro e último capítulo, aborda a retomada norte-americana a
região Ásia-Pacífico. Inicialmente seria estudado apenas o primeiro mandato de
Barack Obama nessa pesquisa. Porém, devido os esforços estadunidenses para a
Ásia-Pacífico se intensificarem no segundo mandato, o período em questão foi
prolongado. Percebe-se que ocorre uma priorização da agenda de política externa
para a Ásia-Pacífico no discurso do presidente Barack Obama desde seu primeiro
mandato. Portanto, será produzida uma análise sobre dois discursos principais, o da
ex-Secretária de Estado Hillary Clinton em 2011 e do presidente Barack Obama em
2014.
Em seguida, será explicada a estratégia dos Estados Unidos para a Ásia-
Pacífico, o pivot para Ásia. Visualizar como Obama pretende trabalhar com os atores
da região, dando ênfase à ASEAN e explicando de forma transparente a relação
com a potência chinesa. Além de entender que essa parceria é de interdependência
e, portanto, deve ser voltada para a cooperação.
14
2. CAPÍTULO 1: OS EFEITOS DAS DINÂMICAS DE PÓS-GUER RA FRIA E OS
ARRANJOS DE COOPERAÇÃO REGIONAL NA ÁSIA
Durante a Guerra Fria, o continente asiático passou por cenários de
instabilidade, devido as guerras ideológicas na região, em consequência do mundo
bipolar na época, segundo Pinto (2005). Ocorreram a Guerra da Indochina1 e a
Guerra do Vietnã2, esta por medo dos Estados Unidos da América sobre a expansão
do Comunismo no continente.
Para amenizar essa instabilidade, é fundada em 1967, a Associação das
Nações do Sudeste Asiático, ASEAN, que inicialmente também temia pela
propagação comunista, e visava formar uma agenda de segurança própria,
resolvendo suas divergências de modo pacífico e promovendo maior integração
dessa região e estabilidade (PINTO, 2005).
O fim da Guerra Fria e o fim da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas
(URSS), em 1991, desencadeiam mudanças no continente asiático. Suas regiões
passam a se unir de forma estratégica formando um novo cenário, no qual há
necessidade de reorganização estratégica dos países, causando um movimento na
Bacia do Pacífico.
Assim, nesse contexto do fim próximo da Guerra Fria, é formada em 1989, a
Cooperação Econômica Ásia-Pacífico, APEC, que objetiva reduzir barreiras
comerciais. Busca também, harmonizar normas e regulamentos para integrar as
economias da região, seja com os membros da Ásia, Oceania ou América
(ASSOCIATION OF SOUTHEAST ASIAN NATIONS, 1992).
1 A Indochina é a região onde se encontram Laos, Camboja e Vietnã, que estava sob domínio francês desde o século XIX até 1954. Durante a Segunda Guerra Mundial, os japoneses – inimigos da França – dominam a região até 1945, o que gerou questionamento do próprio povo sobre esse controle do Japão. Com os japoneses derrotados na grande guerra, o líder comunista Ho Chi Minh declarou a independência da República Democrática do Vietnã em 1945. (MOÏSE, 1998). 2 Durante a Guerra Fria, continuou a acreditar-se que a Indochina ainda pertencia à França, e potências como o Reino Unido rearmou os franceses para que estes pudessem retomá-la. Derrubaram o então governo e o conflito pela independência se reiniciou. Posteriormente, em 1949, os comunistas chineses chegaram ao poder e reconheceram a República Democrática do Vietnã, instalada no norte do Vietnã. Porém, as nações capitalistas reconheceram o governo da França, instalado no sul do Vietnã. Os franceses concederam a independência, mas depois as eleições foram canceladas, e com o apoio militar dos EUA, iniciaram-se ofensivas aos opositores no Sul, que formaram guerrilhas. Estas eram a resistência comunista do Sul, o que aumentou a presença estadunidense na região, para conter a propagação do comunismo. Como consequência dessa presença, em 1963 ocorre um golpe militar, e em 1964 o Vietnã do Norte inicia uma ofensiva contra o Vietnã do Sul, com o apoio da China. Em 1973 os Estados Unidos retiram as tropas da Indochina e assinam o Acordo de Paris. (KLEFF, 2013).
15
Outro ator importante para o melhor entendimento desse movimento no
continente asiático é a China. Esta muda sua postura de isolamento em 1978, e
começa a ascender economicamente no pós-Guerra Fria. Passa a interagir
multilateralmente com atores, dialogando constantemente com a Associação das
Nações do Sudeste Asiático, através de acordos intra-regionais, pensando até numa
possível zona de livres trocas entre ambos (LEAL, 2007). A nova conduta chinesa,
que apresenta sua nova estratégia e novo conceito de segurança, reafirma o
protagonismo que esse país vai conquistando após o término da Guerra Fria
(VISENTINI, 2011).
A interação desses três atores proporciona maior autonomia dessa região,
com agendas próprias de segurança, além de promover acordos econômicos, e
assim, a desenvolvendo de forma rápida. Logo, esses acontecimentos começam a
incomodar os Estados Unidos da América, que percebem o movimento
expansionista chinês, e passa a securitizar o tema em questão, para conseguir obter
novamente o equilíbrio de poder na região.
2.1. A EMERGÊNCIA DE NOVOS ATORES NA REGIÃO ÁSIA PACÍFICO – ASEAN,
APEC E CHINA
2.1.1. Associação das Nações do Sudeste Asiático (A SEAN)
O cenário no Sudeste Asiático era de instabilidade devido a Guerra Fria,
assim como a guerra do Vietnã, que ocorria desde 1959. Como resposta a estas
situações nasceu a Associação das Nações do Sudeste Asiático (ASEAN), em
Bangkok, Tailândia, no dia 08 de agosto de 1967, durante uma reunião entre os
Ministros de Relações Exteriores da Indonésia, Malásia, Filipinas, Singapura e
Tailândia. Na mesma ocasião foi assinada também a Declaração da ASEAN ou de
Bangkok, que definiu metas e efeitos esperados para essa Associação
(ASSOCIATION OF SOUTHEAST ASIAN NATIONS, 1992).
Os objetivos propostos foram sobre a cooperação em âmbito econômico,
social, cultural, técnico e educacional, incluindo a promoção da paz e da estabilidade
regional por meio de permanente respeito da justiça e do Estado de direito, e de
adesão aos princípios da Carta das Nações Unidas, de acordo com Flores e Abad
(1997). Além de almejar “encontrar elementos aglutinadores frente ao avanço da
16
ideologia comunista na região, visto pela maior parte dos países como uma espécie
de inimigo comum. ” (MENEZES; FILHO, 2006, p.134),
No decorrer das negociações, os Ministros apresentaram perspectivas
históricas e políticas muito divergentes, porém, ainda assim, se alinharam e criaram
fundamentos que foram solidamente estabelecidos; gerando união e cooperação
para que assim fosse possível estabilizar a região do Sudeste Asiático. Isso pôde
ser percebido, por exemplo, com a reconstituição das relações diplomáticas entre
Malásia e Indonésia, reafirmando os propósitos da associação, resolvendo suas
divergências de modo pacífico e promovendo maior integração da região
(ASSOCIATION OF SOUTHEAST ASIAN NATIONS, 1992).
Para Leal (2007), a integração econômica ganha força em 1992 com a
criação da zona de comércio livre, chamada ASEAN Free Trade Area (AFTA
Council), que elimina as tarifas aduaneiras entre seus membros. Posteriormente é
aprovada a Agenda para Grande Integração Econômica, que diminui o tempo para
concretização da AFTA, e em 1997, aderem a Visão ASEAN 2020, que tem como
projeto formar um Mercado Comum para o Sudeste Asiático até 2020, para facilitar o
estabelecimento de acordos comerciais bilaterais no âmbito da ASEAN.
Para manter a paz e a estabilidade da região, foi criado o Fórum Regional
da ASEAN (ARF) em 1994, que funciona como instrumento de diplomacia, de modo
a prevenir possíveis conflitos intra-regionais, utilizando-se de building-confidence.
Além de proporcionar o diálogo multilateral entre seus membros sobre segurança
regional, é aberto para seus parceiros presentes na Bacia do Pacífico (LEAL, 2007).
A Associação dialoga constantemente com diversos parceiros como,
Austrália, Canadá, União Europeia, Estados Unidos da América, Índia, Japão,
Rússia, Coreia do Sul e Nova Zelândia, além da possível parceria com a China para
estabelecer uma zona de livres trocas, entre a potência regional e os membros da
Associação (LEAL, 2007).
O fim da Guerra Fria e a queda do mundo bipolar, dividido em capitalista e
socialista, permite a entrada do Vietnã em 1995, assim como Laos, Mianmar e
Camboja, de forma a envolver todo o Sudeste Asiático na garantia da segurança da
região. Proporcionando, assim, um cenário de confiança, e agilizando seu
desenvolvimento econômico, e estreitamento a cooperação entre os membros, que
tem acontecido de forma rápida, de acordo com Visentini (2011).
17
Seguindo com as parcerias, em 2002, durante um encontro da Cooperação
Econômica Ásia-Pacífico (APEC) os EUA apresentam a Enterprise for ASEAN
Initiative (EAI) e propõe um Acordo-Quadro para o Comércio e Investimento (TIFA),
e posteriormente, acordos bilaterais para livre comércio entre EUA-ASEAN. Em
2003, a Associação juntamente com a União Europeia (UE) produziu uma proposta
que cria um espaço que facilite trocas comerciais entre essas regiões, no que tange
as áreas sobre assuntos reguladores e investimento, o Trans-Regional UE-ASEAN
Trade Initiative (TREATI), que é aceito pela UE para ser realizado em um momento
futuro. Também em 2003, os membros da ASEAN assinaram o pacto Bali Concord
II, que visa uma convivência pacífica e harmoniosa com todo o mundo, a partir de
“três pilares: uma comunidade econômica, uma comunidade de segurança e uma
comunidade sociocultural. ” (LEAL, 2007).
A ASEAN precisa fortalecer cada vez mais seus laços e estrutura, para que
seu promissor desenvolvimento não seja interrompido pelos cenários profundamente
divergentes entre os países que a compõe. Eles não estão em níveis de
desenvolvimento iguais, nem adotam os mesmos regimes políticos, o que
futuramente poderá ser um problema, porém, até o momento, a ASEAN apresenta
que consegue reforçar o poder na região, de modo a promover a integração de seus
países e desenvolver inúmeras alianças entre os Estados que são da Ásia-Pacífico,
inclusive como a Cooperação Econômica Ásia-Pacífico (APEC), para que haja
também um contrabalanço à crescente influência da China e assim, reequilibrar
politicamente a Ásia (LEAL, 2007).
2.1.2. Cooperação Econômica Ásia-Pacífico (APEC)
Com a Guerra Fria chegando ao fim, acabando com o paradigma socialismo
versus capitalismo, surge a necessidade de reorganização estratégica dos países,
causando um movimento na Bacia do Pacífico. Além disso, o grau de
desenvolvimento econômico das economias na Ásia e presenças estratégicas como
a do Japão e dos EUA, levou em 31 de janeiro de 1989, durante o discurso do
Primeiro Ministro da Austrália, Bob Hawke, em Seoul, Coreia do Sul, é tornada
pública a ideia de área de livre comércio entre os países da Ásia e a região banhada
pelo Oceano Pacífico, visto a interdependência dessas economias. Após dez meses,
doze dessas economias reuniram-se em Canberra, Austrália, para estabelecer o que
18
seria a Cooperação Econômica Ásia-Pacífico, a APEC (ASIA-PACIFIC ECONOMIC
COOPERATION, 2015).
Os atores que fundaram esse bloco econômico eram, portanto, Austrália,
Brunei, Canada, Coreia do Sul, Estados Unidos da América, Filipinas, Indonésia,
Japão, Malásia, Nova Zelândia, Singapura e Tailândia. Seu número total de
membros chega a 21, pois, em 1991, entram para o bloco China, Hong Kong e a
Taipei chinesa, tais como eram na época da adesão; em 1993, México e Papua
Nova Guiné; em 1994, Chile; e em 1998, Peru, Rússia e Vietnã aderem à
cooperação (ASIA-PACIFIC ECONOMIC COOPERATION, 2015).
Entre 1989 e 1992, a APEC passa a ter encontros informais para dialogar
entre funcionários ministeriais de cada país membro, designados para
representação dentro da organização, e, em 1993, o Presidente dos Estados
Unidos, Bill Clinton, estabeleceu a prática de uma reunião anual de líderes
econômicos da APEC para aperfeiçoar a visão estratégica e a direção da
cooperação na região (ASIA-PACIFIC ECONOMIC COOPERATION, 2015).
A APEC se apresenta como um dos fóruns regionais mais importantes,
inclusive no crescimento econômico e comércio dos países da Ásia-Pacífico.
Objetiva aproximar os países membros, além de reduzir barreiras comerciais e
harmonizar normas e regulamentos para integrar as economias da região. Em 1994,
foram estabelecidas as Metas de Bogor, que promove o comércio e investimento
livre até 2020, com redução de barreiras comerciais e livre fluxo de bens, serviços e
capitais, o que gerou bastante progresso aos seus membros; vem trabalhando
também para conectar as pessoas aprimorando a infraestrutura física para melhor
mobilidade (ASIA-PACIFIC ECONOMIC COOPERATION, 2015)
Segundo Pinto (2005), para que essa cooperação ocorra, os Estados que se
encontram na Bacia do Pacífico devem prover recursos para preservação dos
setores políticos, econômicos e militares da Ásia, para que esta possa competir com
os demais movimentos de integração regional, como na América do Norte e na
Europa Ocidental.
2.1.3. A China na região Ásia-Pacífico
Em 2002, a China assina o Tratado de Amizade e Cooperação, previsto pela
Associação das Nações do Sudeste Asiático (ASEAN): uma Declaração sobre a
19
Conduta das Partes do Mar do Sul da China, o qual se compromete em ser
cauteloso quanto às ilhas em disputa (LEAL, 2007).
O país se dispõe também para a assinatura do tão reivindicado pela ASEAN,
o Treaty of the Southeast Asia Nuclear Weapon-Free Zone (SEANFZ), que o
colocaria em destaque na região, em contraponto com os EUA, que não se
comprometeria em manter o Sudeste livre das armas nucleares (LEAL, 2007). Esse
acontecimento reafirma a nova conduta chinesa, que apresenta sua nova estratégia
e novo conceito de segurança nesse contexto pós-Guerra Fria.
O fim da URSS levou a China a repensar o rumo que o país deveria tomar.
Os líderes chineses forçaram reformas profundas, como a transformação e
modernização de seu sistema financeiro, de seu regime cambial e reduziu a
burocracia. Mais tarde, houve uma grande revisão do sistema fiscal chinês, e como
consequência impulsionou medidas reguladoras nacionais mais coerentes. Além
disso, inicia a tentativa de promover uma sociedade com menos disparidades e mais
harmonia, e também entra para a Organização Mundial do Comércio (OMC)
(GOODMAN; PARKER, 2015).
Essa abertura chinesa para o exterior, após muitos anos de perfil
isolacionista, se inicia em 1978, quando é reconhecida a falência do modelo
econômico adotado no país, centralmente planificado (PINTO, 2005).
A China utilizou-se de vantagens estruturais como mão de obra barata, taxas
tanto de poupança quanto de investimento altas, mercados de exportação em
expansão, e tornaram-os em incentivos para seu crescimento milagroso, apesar
desse período ter sido repleto de oscilação no crescimento e na inflação
(GOODMAN; PARKER, 2015).
Portanto, a começa a ascender economicamente no pós-Guerra Fria, pois seu
potencial militar passa por um processo de modernização, e, dessa forma, expandiu
sua autonomia político-diplomática, e assim, segundo Visentini (2011), surge como
potencial afronta aos Estados Unidos da América, que, no momento, buscavam
reafirmar sua predominância no cenário internacional.
Os chineses passam aceitar mais o multilateralismo, que, segundo Keohane é
a “ação coletiva institucionalizada empreendida por um conjunto de Estados
independentes estabelecido de maneira inclusiva” (KEOHANE, 2006, p. 56).
Portanto, esses atores se integram “como instrumento para assegurar crescimento e
20
segurança, aderindo, nessa perspectiva, às instituições internacionais e regionais. ”
(PINTO, 2005, p.14).
A China tem participado também de mecanismos institucionais para promover
mais alianças na Ásia Oriental e Central, buscando apresentar seu novo conceito de
segurança, utilizando-se de fóruns como Asean Regional Forum, Shanghai
Cooperation Organization e Boao Forum (PINTO, 2005). Assim, o país utiliza-se de
todos os meios possíveis para se integrar com os aliados, principalmente do
Sudeste da Ásia, para promover sua nova postura no Sistema Internacional.
Na busca por reconstruir sua imagem e tentar limitar a influência dos EUA
principalmente nessa região do Sudeste Asiático, a China começa a participar de
acordos bilaterais. Portanto, entre 1988 e 1994 há a aproximação diplomática
chinesa com dezoito países, incluindo os Estados que formavam a URSS. A nova
estratégia chinesa ocasionou uma crescente cooperação com a Associação das
Nações do Sudeste Asiático (ASEAN), como já visto, com diálogos voltados para a
área da segurança e interesses econômicos. Da mesma forma, a China tenta evitar
possíveis problemas estratégicos com o Nordeste Asiático, destacando as Coreias3
(PINTO, 2005).
Ainda sobre a parceria com a ASEAN, em 1997, é desenvolvido o Mecanismo
ASEAN+3, ou seja, uma série de encontros entre os membros da Associação em
conjunto com China, Japão e Coreia do Sul. Mais tarde, seguido pelo Mecanismo
ASEAN+1, referindo-se aos encontros entre os membros e apenas a China,
destacando o papel protagonista do país nessa região (PINTO, 2005).
Dessa forma, pode-se entender a estratégia chinesa como finalidade para
criar uma dependência econômica entre os países vizinhos à sua economia.
Criando, portanto, uma estrutura de constrangimento regional, e, simultaneamente,
estabilizando o cenário asiático (LEAL, 2007).
2.2. OS ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA NA ÁSIA-PACÍFICO
3 Durante a Guerra Fria, as tropas japonesas, que tinham o controle da Coreia, foram submetidas pela URSS ao norte e pelos EUA ao Sul. Em 1945, os governos desses países oficializaram o Paralelo 38, na Conferência de Potsdam, que dividiu o país em duas zonas. A aproximação pacífica não foi vingou e em 1948 a Coreia do Norte proclamou sua independência, anunciando dois países diferentes, sendo o norte socialista e o sul capitalista. Entre 1950 e 1953, inicia-se um conflito devido a delimitação de fronteiras, que provocou 3 milhões de mortes e após isso, a assinatura de um armistício, nunca um acordo de paz. (SENHORAS; FERREIRA, 2013).
21
Em 2000, quando George W. Bush tornou-se presidente dos EUA, havia a
promessa de priorizar as relações com seus aliados asiáticos. Porém, após o ataque
terrorista de 11 de setembro de 2001, viu-se a necessidade de rever o foco de sua
política externa, voltando-se a Guerra contra o Terror e quase exclusivamente ao
Oriente Médio, como foi pronunciado pelo vice-secretário de Estado do primeiro
governo Bush, Richard Armitage, passando a ignorar a Ásia (ZHAO, 2014).
Os ataques que aconteceram em 11 de setembro de 2001 passam a ser
declarados como marco histórico e até mesmo momento de ruptura, utilizado para
redefinir a relação estadunidense com os demais Estados e sua agenda de política
mundial (BARBOSA, 2002). Entende-se que as motivações para que se realizassem
os ataques se voltem para a instabilidade política e privação social e econômica, e, a
relutância para fazer parte da globalização, devido ao choque civilizacional
(BARBOSA, 2002).
Os EUA, com superioridade tecnológica e militar, conseguem “projetar poder
militar simultaneamente em diferentes terrenos estratégicos em pontos distantes de
seu próprio território. ” (BARBOSA, 2002), pensava-se ser invulnerável, sendo os
ataques, portanto, um choque que gerou comoção. Os EUA mudam drasticamente
sua agenda de política externa, que anteriormente estava tratando de leis de
financiamento político, educação e regulação ambiental, para voltar para o Oriente
Médio. Durante esse período, ocorre oscilações entre o unilateralismo e o
multilateralismo seletivo (BARBOSA, 2002).
A reação estadunidense é de maneira unilateral e com intervencionismo,
buscando também ajuda ao multilateralismo e possíveis cooperações e alianças. A
invasão do Oriente Médio não buscou nem ser legitimada, como em situações
anteriores, pois, alegava ser uma luta entre o bem e o mal, o que era o bastante
para legitimar essa ação rápida (BARBOSA, 2002).
Portanto, a resposta norte-americana é ideologicamente trabalhada como
reação de autodefesa tanto interna quanto externa, revendo prioridades do Estado,
tornando segurança, voltada para o terrorismo, como os principais temas a serem
discutidos e utilizar-se dos maiores gastos (BARBOSA, 2002).
Os EUA iniciam uma grande intervenção na Ásia Central (Cazaquistão,
Quirguistão, Tajiquistão, Turquemenistão e Uzbequistão) e no Sudoeste Asiático, ou
Oriente Médio, (Arábia Saudita, Armênia, Bahrein, Chipre, Irã, Iraque, Israel,
22
Jordânia, Kuwait, Líbano, Omã, Catar, Palestina, Síria, Emirados Árabes Unidos e
Iêmen). Isso faz parte de sua estratégia de combate ao terrorismo, apesar do
possível acesso ao petróleo na região (VISENTINI, 2011).
Os efeitos na segurança do país começam internamente com a vigilância de
fronteiras e aeroportos, e com tribunais militares para julgar estrangeiros acusados
de terrorismo ou em situação suspeita. Externamente, os norte-americanos
pressionam os outros países para coordenar ações de polícia e inteligência, e para
cooperar com bases de dados dos sistemas policiais. Aumenta também a pressão
para o controle de armas de destruição em massa, após a primeira fase da
intervenção, ou seja, a guerra contra o terror no Afeganistão. Tais armas passam a
ser outra justificativa da doutrina Bush para uma intervenção no Iraque (BARBOSA,
2002).
Ocorrem episódios como a aprovação da Resolução 1397 do Conselho de
Segurança as Nações Unidas, em 2002, que apoia o conceito de uma região para
que Israel e Palestina convivam juntos dentro de fronteiras reconhecidas além de
seguras. É a primeira vez, depois de anos de inflexibilidade, que os EUA aceitam
essa questão, e percebe-se essa mudança devido ao apoio proporcionado “à política
israelense de ampliar sua presença militar nos territórios sob controle da Autoridade
Nacional Palestina, posição que compromete ainda mais o processo de paz na
região. ” (BARBOSA, 2002).
George W. Bush derruba os governos dos antigos aliados talibãs, e passa a
caçar a Al Qaeda e Bin Laden. E adere o discurso político de quem não está do meu
lado será punido, pois, quem não está com ele, está contra ele, no caso, o
denominado Eixo do Mal (Coreia do Norte, Irã e Iraque e, posteriormente, a Síria).
Isso gera um aumento de anti-islamismo no mundo, além de tentar justificar as
guerras preventivas contra o terror (GUIMARÃES, 2002).
Posteriormente, os EUA buscam induzir a concepção em sua doutrina
estratégica do uso de armas nucleares, visto que, segundo Bush, “em caso de
ataque, nenhuma opção de resposta seria excluída. ” (BARBOSA, 2002, p.80), o que
aumentou os estudos sobre armas nucleares subquilotônicas, pelos Departamentos
de Energia e de Defesa (BARBOSA, 2002).
Com a instabilidade dessa região, a China procura relacionar a seu
desenvolvimento econômico os seus países vizinhos. Passa a agir em conjunto com
as iniciativas regionais de cooperação, seja econômica, de segurança ou política, e
23
dessa maneira, vai se estabelecendo como o centro do continente asiático
(VISENTINI, 2011).
A vontade estadunidense pela implementação da força militar no Oriente
Médio reforça a necessidade da Ásia Oriental (China, Japão, Taiwan, Mongólia,
Coreia do Sul e Coreia do Norte) de valorizar a agenda de segurança própria e
enfatizar acordos entre China e ASEAN. Levando, portanto, à assinatura chinesa ao
Tratado de Amizade e Cooperação em 2002, como explanado anteriormente.
(PINTO, 2005). Isso é reafirmado por Buzan, que diz que esse movimento dos EUA
“implicaria mudanças dentro da estrutura territorial de segurança internacional.”
(BUZAN, 2002).
Cada vez mais o diálogo entre a Associação e a China se fortalece, na
mesma proporção que os vínculos com os EUA recebem menor atenção. A China
ainda propõe uma Área de Livre Comércio com a ASEAN, o que causou
preocupação do Japão e dos Estados Unidos pois, “desde a fundação da
Organização Mundial do Comércio, têm buscado expandir suas relações comerciais
com o resto do mundo por meio, justamente, de instituições globais, como a OMC. ”
(PINTO, 2005, p.13).
A preocupação norte-americana com o Oriente Médio deixa lacunas na região
da Ásia-Pacífico, a serem preenchidas pela China, que cada vez mais tem maior
destaque na região. Além disso, durante o Governo de George W. Bush se abre
espaço para manobrar dentro do continente asiático, suprindo a falta de uma agenda
de política externa estadunidense para a área. Quando Barack Obama assume,
percebe esse cenário e inicia um processo de priorização do tema em seus
discursos e agenda de política externa.
2.3. CRESCIMENTO DA PERCEPÇÃO DE NECESSIDADE DE UM REDESENHO
ESTRATÉGICO DAS PRIORIDADES DOS EUA NO PACÍFICO
Para melhor entendimento do motivo pelo qual é necessário esse redesenho
estratégico estadunidense, será aplicado o processo de securitização, que surge
com a Escola de Copenhague. Esta foi criada em 1985 e inicialmente objetivava
desenvolver estudos sobre a paz e atualmente, sobre segurança internacional
(TANNO, 2003).
24
Para Buzan, as agendas de segurança são divididas em quadros analíticos
para os setores econômico, societal, ambiental, militar e político, pois, cada um
possui sua particularidade: regras, atores, códigos e objetos específicos como
referência na segurança (TANNO, 2003).
No caso que será aplicado, será estudado a partir do setor político, que
segundo a Escola de Copenhague as “ameaças políticas têm por objetivo destruir ou
abalar a estabilidade organizacional do Estado. Para tanto podem atingir um ou mais
dos seus três componentes: as ideias de Estado, sua base física e suas
instituições.” (TANNO, 2003), como será explanado posteriormente.
Um importante conceito a ser entendido antes da análise, é o de segurança,
que Segundo Buzan, Wæver e Wilde, “is the move that takes politics beyond the
established rules of the game and frames the issue either as a special kind of politics
or as above politics.” (BUZAN, et. al. 1998, p.23), ou seja, o movimento que leva a
política para além das regras estabelecidas ou como um conjunto de ações que se
executa acima dela.
Assim, é possível securitizar um tema, isto é, torná-lo pauta de segurança
através do movimento de securitização. Esse movimento ocorre quando um agente
securitizador, ou seja, um ator com autoridade e recursos, convence seu público-
alvo de que um assunto ainda não politizado apresenta ameaça à segurança
(através das lentes do ator securitizador) e, portanto, deve se tornar politizado.
Assim, se o público-alvo acatar esse discurso, o agente securitizador passa a ter
legitimidade para alterar ou até mesmo desconsiderar as regras vigentes do jogo
político. Todo esse processo é descrito na imagem abaixo:
25
Figura 01: Processo de securitização
Fonte: QUEIROZ; CARDOSO, 2015.
No caso da volta estratégica de uma agenda de política externa para a região
da Ásia-Pacífico, o agente securitizador é o Obama/Estados Unidos, que tenta
convencer seu eleitorado (público-alvo), de que a China passa a ter grande
autonomia na região, preenchendo lacunas deixadas pelos próprios EUA, e tomando
medidas expansionistas (assunto não politizado que está em processo de se tornar
politizado).
Isso ocorre dentro de uma agenda do setor político, visto que os interesses e
ideias do Estado norte-americano estão abalados devido a ameaça chinesa de
confrontá-lo na região da Ásia-Pacífico. Há maior contato com os aliados dos
Estados Unidos, assim como, a remota possibilidade de futuramente superá-lo em
nível global. Esse assunto é uma ameaça para os EUA, pois, a China pode obter
mais influência ainda na região, e os norte-americanos visam reestabelecer um
equilíbrio de poder nessa área.
Porém, “a China, em contraste, é um fator dinâmico na economia mundial. É o
principal parceiro comercial de todos os seus vizinhos e da maioria das potências
industriais ocidentais, incluindo os Estados Unidos. ” (KISSINGER, 2012), o que
torna a relação sino-americana mais complexa, pois, EUA e China estão cada vez
26
mais interdependentes, e por isso, os norte-americanos não podem utilizar-se da
contenção como política, como feito anteriormente com a União Soviética durante a
Guerra Fria, isolando-a.
Portanto, como será explicado posteriormente, o governo de Barack Obama
começa a pensar em reequilíbrio estratégico voltado à Ásia-Pacífico, renovando
suas alianças, que visa estratégia econômica e de segurança, e manutenção da paz
regional. Não se limitando apenas a China, mas para que ele seja o contrapeso à
influência chinesa, para que assim, retome um equilíbrio de poder na região (ZHAO,
2014).
27
3. CAPÍTULO 2: A ASCENSÃO CHINESA E O DESAFIO DE SE GURANÇA
ESTADUNIDENSE
A China passou a ser ator de destaque no Sistema Internacional, devido a
sua ascensão, que no contexto do pós-Guerra Fria traz a necessidade de intensificar
suas parcerias multilaterais e bilaterais (LEAL, 2007).
A confiança estabelecida através dessas relações, principalmente com
Associação das Nações do Sudeste Asiático (ASEAN) intensifica a estratégia de
segurança chinesa. Voltada para necessidade de garantir estabilidade regional, além
de moderar significativamente a presença dos Estados Unidos na Ásia (PINTO,
2005).
Devido alguns episódios na década de 1990 relacionados com o alcance das
Forças Armadas norte-americanas, os chineses sentem-se ameaçados (FARLEY,
2014). Então, a China redesenha sua doutrina de segurança e para garantir que sua
participação nesse âmbito seja efetiva em caso de possíveis conflitos, inicia um
processo de modernização de sua marinha (O’ROURKE, 2015).
Essa modernização gera um ambiente de tensão, pois os vizinhos da China
passam a sentir-se ameaçados, pois os chineses passam a ter mais influência e
poder de constrangimento. Isso é utilizado principalmente nos conflitos territoriais no
Mar do Sul da China e no Mar da China Oriental, os quais a China adota postura
mais agressiva (TOMÉ, 2013).
Com esse cenário, os Estados Unidos da América enxergam que a China
passa a ameaçar seus interesses nessa região estratégica (O’ROURKE, 2015).
Assim, os EUA intensificam seu foco de política externa para a Ásia-Pacífico, para
que, assim, possa assegurar seus interesses e desempenhar um papel de liderança,
provocando contrapeso ao poder chinês (ZHAO, 2014).
3.1. A NOVA DOUTRINA DE SEGURANÇA CHINESA
Após o fim da Guerra Fria, o Governo chinês começa a fortalecer acordos
bilaterais e multilaterais para poder estabelecer confiança mútua e assim, sua
estratégia de segurança. A aproximação e cooperação de Pequim com a Associação
das Nações do Sudeste Asiático (ASEAN) apresenta a necessidade de garantir
28
estabilidade regional (PINTO, 2005), assim como limitar as manobras norte-
americanas (MENDES, 2008).
Busca a implementação de uma estratégia militar de defesa ativa e prossegue
com a estratégia nuclear de autodefesa. Inicia um processo de desenvolvimento de
seu setor militar, destacando a marinha chinesa e a melhora de seu desempenho.
Desta forma, pretende que sua projeção e influência na região sejam reafirmadas
(O’ROURKE, 2015). A marinha é fator importante na estratégia chinesa de recuperar
territórios vizinhos, devido seu preparo para possíveis intervenções mais próximas
de seu país (ERICKSON; COLLINS, 2012).
A modernização da marinha chinesa leva seus vizinhos a crerem que a
China é uma potencial ameaça a região, criando um ambiente de tensão. Os
Estados Unidos da América, durante o primeiro mandato do Presidente Barack
Obama apresenta sua agenda de política externa para Ásia-Pacífico, voltada para
um reequilíbrio estratégico. Isso ocorre devido a política expansionista chinesa e a
percepção de equilíbrio de poder com a volta dos EUA, desejado pelos países da
região (ZHAO, 2014).
3.1.1. Modernização da Marinha Chinesa
Na década de 1950 as Forças Armadas chinesas iniciaram um processo de
modernização ao mesmo tempo que a industrialização do país era idealizada por
Mao Tsé-Tung (LOBO, 2009). Esse processo é também entendido como
sovietização dessas forças – Exército, Aeronáutica e Marinha – assim como o
desenvolvimento de sua indústria bélica, pois, a China importava tecnologia da
URSS e assim, seguia o modelo militar soviético. O rompimento político4, na década
de 1960, entre a República Popular da China e a União Soviética, interrompeu o
4 Como visto, a China era dependente da assistência da URSS para seu desenvolvimento industrial. Além disso, ambos Estados se apoiavam contra as ameaças norte-americanas sobre Taiwan. Seu relacionamento começa a se desgastar por divergências referentes as atuações políticas da revolução comunista. Quando Nikita Kruschev assume o poder da URSS, em 1953, ocorre maior enfraquecimento das relações, pois, Mao e o Nikita tinham opiniões muito destoantes quanto à expansão do comunismo. O líder chinês era muito hostil quanto o capitalismo, e o da URSS defendia a coexistência pacífica com o Ocidente. Outro episódio que influenciou esse rompimento, foi a recusa soviética em conceder conhecimentos tecnológicos sobre construção de armas nucleares para os chineses. Kruschev justificou essa ação devido a postura de Mao que ia contra sua política: o líder chinês era altamente belicoso. Tudo isso levou ao rompimento na década de 1960. (CARVALHO; CATERMOL, 2009).
29
suprimento dessa tecnologia, o que levou à defasagem de seus produtos (LOBO,
2009).
A marinha sempre foi a força com menor destaque e importância, tanto na
área política quanto militar para a China. Porém, em 1980, seu poder começou a
aumentar de defesa costeira para uma marinha de alto mar, Blue Water Navy
(LOBO, 2009).
Em 1991, durante a Guerra do Golfo, os chineses assistiram aos Estados
Unidos acabarem com o exército iraquiano. Esse cenário foi elemento catalisador
para a modernização da marinha da China, devido a percepção de ameaça sofrida
naquele momento pelo país (FARLEY, 2014)
Para melhor entender a percepção chinesa de ameaça nesse momento, a
Teoria Cognitiva diante da política externa de um país analisa os fatores cognitivos5
que levaram a determinada tomada de decisão, ou seja, o que precedeu esse
movimento, baseando-se em valores e percepções (HERZ, 1994):
“They do not "cause" actors to behave in a certain way; but they certainly provide the constraining conditions under which contingent actors-the only causal entities in the type of philosophical approach exemplified here-necessarily have to operate.' (CARLSNAES, 1992, p.255).”
Os chineses ainda não eram capazes de enfrentar tal força estadunidense, e
nem mesmo, as forças iraquianas (FARLEY, 2014). O que desencadeou na
necessidade de modernizar a marinha da China, para que esta esteja pronta para se
defender em potenciais conflitos.
Ainda na década de 1990, próximo da primeira eleição para Presidente da
República em Taiwan, no ano de 1996, ocorreu um episódio que acentuou o anseio
chinês pela modernização de sua marinha (O’ROURKE, 2015).
Para afastar o governo taiwanês apoiado pelos EUA, e afrontar esse último, a
China fez exercícios militares próximos a Taiwan, além de simular ataques aéreos e
navais, e disparo da artilharia costeira. Logo depois, o Pentágono, como resposta
aos chineses, mandou um porta-aviões cruzar o Estreito de Taiwan, para enfatizar
que os EUA, assim como a China, “não descartavam o uso da força para manter
seus interesses na região. ” (JÚNIOR, 2006).
5 Fatores cognitivos são as percepções particulares que afetam diretamente as atitudes dos tomadores de decisão; é a forma de enxergar o mundo de acordo com a própria perspectiva (SILVA, 1998).
30
Figura 02: Estreito de Taiwan
Fonte: GLOBAL SECURITY, 2011.
Além desse episódio, o aumento do poder econômico influenciou diretamente
no fortalecimento de suas capacidades militares:
O crescimento de certas economias da Ásia-Pacífico está a ter implicações profundas nos equilíbrios geopolíticos regionais e globais – destacando-se, inevitavelmente, a China, cujo potencial estratégico é amplamente favorecido pelo crescimento económico. (TOMÉ, 2013, p. 29).
Então, os parceiros econômicos da China, de maneira simultânea, ajudam no
crescimento econômico chinês, assim como o “poder nacional abrangente”. Ou seja,
ela pode utilizar para seu poderio militar, e por fim, ir contra os interesses e valores
dos atores que colaboraram com esse crescimento (TOMÉ, 2013), como será
discorrido posteriormente, ainda nesse capítulo, no caso de conflitos territoriais.
A República Popular da China vem construindo uma marinha moderna e
regionalmente poderosa, mesmo que ainda tenha limitações como a dependência de
insumos estrangeiros para montar seus navios. Apesar de estar em processo de
modernização, é previsto que, posteriormente, seu potencial se expanda de modo a
31
conseguir suportar operações de maiores distâncias; além do continente asiático.
Essa previsão apresenta que futuramente a marinha chinesa possa ser um desafio
para a marinha estadunidense, com destaque para o Pacífico, onde ambas anseiam
cada vez mais por maior influência (O’ROURKE, 2015).
Essa modernização inclui aquisição de armas como mísseis antiaéreos para
abatimento de navios, submarinos, aeronaves, e sistemas de apoio, como comando
e controle, comunicações, inteligência e vigilância (O’ROURKE, 2015). Esses
esforços serão voltados, além da assistência humanitária em caso de desastre,
para:
Addressing the situation with Taiwan militarily, if need be; asserting or defending China’s territorial claims in the South China Sea and East China Sea; enforcing China’s view that it has the right to regulate foreign military activities in its 200-mile maritime exclusive economic zone (EEZ); defending China’s commercial sea lines of communication (SLOCs); displacing U.S. influence in the Western Pacific; and asserting China’s status as a leading regional power and major world power. (O’ROURKE, 2015, p.7).
Porém, são três os interesses primordiais da China em seu domínio
marítimo. Primeiramente, nos mares próximos, destacando o Leste e Sul chinês,
assim como suas abordagens no Pacífico Ocidental. Onde a China pode concorrer
para a influência regional com seus vizinhos marítimos (Japão, Vietnã e Filipinas); e
por fim, as US Fault lines que endurecem as disputas marítimas regionais
(ERICKSON; COLLINS, 2012). Nesses mares, a China tem contato com Japão,
Coreia do Sul, Taiwan e Filipinas, e pretende através dessas zonas tratar de seus
conflitos territoriais, aumentar seu poder na região, e, para isso, utiliza também os
lugares onde os norte-americanos deixaram gaps de influência.
Logo, a China percebe a necessidade dessa marinha reformulada para maior
domínio da região. Sendo esse domínio não somente comercial, mas uma forma de
deter ou reduzir significativamente as intervenções estadunidenses em conflitos
chineses ou asiáticos:
Consistent with these goals, observers believe China wants its military to be capable of acting as an anti-access/area-denial (A2/AD) force—a force that can deter U.S. intervention in a conflict in China’s near-seas region over Taiwan or some other issue, or failing that, delay the arrival or reduce the effectiveness of intervening U.S. forces. (O’ROURKE, 2015, p.8).
É estabelecida uma específica distinção entre as estratégias navais adotadas
por EUA e China, sendo uma o espelho da outra. Os norte-americanos fazem uma
distribuição de forças navais e também marinhas, de modo a não confrontar
32
diretamente os chineses, porém, sem deixar de tentar presumir possíveis ataques da
esquadra da China (OLIVEIRA, 2013).
Para a China, entende-se que a prioridade é defender seus interesses nas
regiões mais próximas. É possível notar seu preparo para possíveis intervenções em
Taiwan e no Mar do Sul da China (O’ROURKE, 2015), pois, sua marinha no
momento está sendo preparada para um conflito de alta intensidade perto de seu
território. Assim, pode ter suporte de sua frota de submarinos, mísseis em terra e
aeronaves (ERICKSON; COLLINS, 2012).
Para os Estados Unidos da América, a tentativa chinesa de tornar-se a
principal influência na Eurásia afeta sua estratégia baseada na geopolítica, pois,
“most of the world’s people, resources, and economic activity are located not in the
Western Hemisphere, but in the other hemisphere, particularly Eurasia.”
(O’ROURKE, 2015). Ou seja, a maioria das pessoas, dos recursos e das atividades
econômicas estão localizadas na Eurásia, não no Ocidente.
Portanto, para os formuladores de política norte-americanos, é necessário
prevenir o surgimento de uma potência regional, pois, essa poderia representar uma
grande concentração de poder. Desse modo, teria força suficiente para ameaçar os
interesses norte-americanos na região, e até mesmo privar os Estados Unidos de
determinados recursos encontrados na Eurásia. São percebidas na postura chinesa
manobras para limitar a influência estadunidense na região (O’ROURKE, 2015).
É importante do ponto de vista teórico entender que, segundo Morgenthau
(1948), os interesses dos Estados são definidos em termos de poder, e eles estão
submetidos à condição existencial do Estado. Esse poder pode ser praticado
também através de ameaças e autoridade, mesmo sem violência, utilizando-se de
estratégias na política externa do Estado (SARFATI, 2005).
Mesmo que não ocorra algum conflito entre Estados Unidos e China, que
exija trabalho das forças militares, o equilíbrio militar entre esses dois atores é
necessário. Isso pode aumentar o poder de influência nas atitudes cotidianas do
Estados; influenciar o alinhamento político dos países banhados pelo Pacífico,
aproximando-se mais da China ou dos EUA (O’ROURKE, 2015).
Os Estados agem a partir do equilíbrio de poder, que, de acordo com
Morgenthau (1948) é “the aspiration for power on the part of several nations each
trying either to maintain or overthrow the status quo leads of necessity to a
configuration that is called the balance of power and to policies that aim at preserving
33
it.” (MORGENTHAU, 1948, p.179). Logo, os Estados equilibram o poder, ou seja,
direcionam seu alinhamento para assegurar seus interesses, no caso, os países
banhados pelo Pacífico se aproximarão dos EUA ou da China de acordo com suas
necessidades nacionais.
É necessário lembrar também que os Estados Unidos da América possuem
diversos tratados bilaterais voltados para a área da segurança, com seus parceiros
Japão, Filipinas e Coreia do Sul. Há, ainda, um tratado adicional com a Austrália e
Nova Zelândia; além disso, existem países do Ocidente banhados pelo Pacífico que
podem ser considerados parceiros emergentes na área de segurança (O’ROURKE,
2015).
Para Oliveira (2013), a China não pretende derrubar os EUA e ficar com seu
lugar de líder mundial, mas elevar-se a polo alternativo de influência global. A China,
com crescimento acelerado, avança no rol das grandes potências mundiais e tem
boa interação cultural com o resto do mundo. Além de controlar um amplo território,
poderio econômico e financeiro, infraestrutura, poderio militar e um sistema político
altamente capacitado.
Ainda assim, todo esse desenvolvimento naval chinês enfatiza a necessidade
norte-americana de promover um reequilíbrio estratégico e uma estratégia de
segurança para região da Ásia-Pacífico (O’ROURKE, 2015), como será abordado
posteriormente, no Capítulo 3.
3.2. AÇÕES CHINESAS DE CONSTRANGIMENTO AOS SEUS VIZINHOS
NA REGIÃO ÁSIA-PACÍFICO
Como visto anteriormente, entende-se que a estratégia chinesa tem como
finalidade gerar uma dependência econômica entre seus vizinhos à sua própria
economia. E, dessa forma, sustentar uma estrutura de constrangimento regional, e
simultaneamente estabilizando o cenário asiático (LEAL, 2007). Ou seja,
“reconhecimento da legitimidade para agir e no dever de obedecer, o poder poderá
implicar manipulação, persuasão ou coerção. ” (SOUSA, 2005, p.34).
O crescimento dos fluxos intra-regionais de comércio na Ásia, acabou por
tornar a China o centro dinâmico do continente, levando os mercados do Ocidente à
perda relativa de sua importância nessa região (CUNHA, 2008). A política chinesa
aprofunda suas relações com seus vizinhos, principalmente na área econômica, e
34
assim cria laços institucionais mais sólidos. Esse dinamismo a projeta no papel de
líder regional, causando, inclusive, uma situação de interdependência entre esses
países (PINTO, 2000).
Esses acontecimentos aumentaram o poder da China na região, elevando
também seu poder de coerção e assim, de constrangimento. Segundo Bobbio:
A coerção pode ser definida como um alto grau de constrangimento (ou ameaça de privações). Ela implica que as alternativas de comportamento em que B se acha (e que sofre a coerção) são alteradas pela ameaça de sanções de A (que faz a coerção), de tal modo que o comportamento que este último deseja do primeiro termina por parecer a B como a alternativa menos penosa. É o caso daquele que é assaltado e dá a carteira para salvar a vida. No conceito de coerção pode incluir-se também um alto grau de aliciamento (promessa de vantagens). (BOBBIO, 1998, p.938)
O desenvolvimento e expansão de seu poderio militar, e o anseio por suas
disputas territoriais, os demais países da região passaram a sentir-se receosos,
como será entendido posteriormente. Os principais potenciais conflitos encontram-se
no Mar do Sul da China ou Mar da China Meridional, e no Mar da China Oriental,
além de reivindicações sobre a Índia e o Butão (TOMÉ, 2013).
3.2.1. Mar do Sul da China/ Mar da China Meridional
O Mar do Sul da China possui grande importância estratégica e econômica,
pois, vai do Estreito de Malaca ao sul do Estreito de Taiwan, e tem volume de
tráfego três vezes maior que o Canal do Panamá. Além disso, transporta 80% do
petróleo que vai para Japão, Coreia do Sul e Taiwan, e 15% do volume total do
comércio mundial. Por fim, 2/3 do fornecimento de recursos energéticos para a
Coreia do Sul e mais de 60% por parte do Japão e de Taiwan também trafegam pelo
Mar do Sul China (PEREIRA, 2004).
Existem reivindicações de território, ligadas a postura expansionista chinesa,
que deseja recuperar seus “territórios perdidos”. Além da China, Taiwan e Vietnã
solicitam a totalidade desse mar; e Brunei, Filipinas e Malásia, algumas zonas. A
China afirma que há fator histórico-cultural em sua reivindicação, e que a primeira
vez que solicitou oficialmente foi em um Tratado com a França em 1887; dividindo o
Golfo de Tonkin, entendendo, portanto, que esse acordo se estende a todas as ilhas
desse mar. Taiwan ocupa Itu Aba, a maior das Ilhas Spratly, e o Vietnã alega ter
35
ganhado soberania sobre as Ilhas Spratly e Paracel após sua independência da
França (PEREIRA, 2004).
Brunei baseia-se na extensão de sua costa, porém não ocupa atualmente
nenhuma área do Mar do Sul da China, estando, portanto, em desvantagem. As
Filipinas reclamam as Ilhas Kalayaan e a proximidade com seu território, e por fim, a
Malásia vai além de sua costa e pede ilhas a Sul e Leste das Ilhas Spratly
(PEREIRA, 2004).
36
Figura 03: Reivindicações territoriais no Mar do Sul da China
Fonte: FOLHA DE SÃO PAULO, 2015.
Na década de 1990, a China inicia a ocupação de parte da Mischief Reef, nas
Ilhas Spratly, intervindo, inclusive, na Zona Econômica Exclusiva das Filipinas. Isso
levou a um confronto naval, que gerou debates no âmbito da ASEAN, que pediu que
o conflito fosse resolvido pacificamente. Assim, os dois países envolvidos emitiram a
declaração conjunta “Consultas sobre o Mar do Sul da China e Outras Áreas de
Cooperação”, em 1995, que encerrou o conflito (PEREIRA, 2004).
Contudo, em 1999, a China volta ao Mischief Reef, em outra área e começa a
construir estruturas. Dessa vez, a ASEAN não se posiciona e recebe críticas da
Filipinas. Essa falta de posicionamento da organização ocorre devido a crise
financeira asiática, na qual a China teria ajudado diversos países membros da
Associação, a superar essa crise (PEREIRA, 2004).
Em 2002, foi assinada a “Declaração do Código de Conduta no Mar do Sul da
China”, no âmbito da ASEAN, objetivando o respeito diante a liberdade de
navegação no Mar do Sul da China e resolução das disputas territoriais de modo
37
pacífico, entre outras. Porém, essa declaração é vista como forma de criação de
confiança, pois, a China continua a afirmar seus direitos de soberania sobre o Mar
do Sul da China, além de preferir acordos bilaterais ao invés desse meio multilateral,
para tratar do assunto (PEREIRA, 2004). Há também disputas bilaterais e
multilaterais, como exemplo, na fronteira marítima na costa leste do Vietnã, que é
solicitada pela China e Taiwan além do próprio Vietnã (FUJII, 2014).
A convicção chinesa gera receio entre os países vizinhos e os Estados
Unidos da América. Visto sua ascensão e assim, seu potencial militar, que se alastra
no espaço do Mar da China Meridional.
3.2.2. Mar da China Oriental
As disputas no Mar do Sul da China apresentam viés econômico, porém, a
disputa no Mar da China Oriental detém motivações de maior complexidade,
juntando fatores econômicos, políticos e históricos (FUJII, 2014).
Essa área é reclamada por Japão e China em conjunto com Taiwan, e possui
riquezas naturais, como gás natural e petróleo, porém é o nacionalismo chinês e
japonês, que se destacam. Apresentando risco de conflito entre China e Japão, as
maiores economias da Ásia (FUJII, 2014).
A disputa ocorre pelas Ilhas Senkaku/Diaoyu que se localiza a Leste de
Taiwan e a Oeste de Okinawa. A China cedeu-as para o Japão em 1895, no fim da
guerra sino-japonesa, através do Tratado de Shimonoseki. Porém, durante a
Segunda Guerra Mundial elas passaram para domínio dos EUA, e em 1972, elas
voltaram a ser território japonês (ROEDEL, 2012).
38
Figura 04: Reivindicações territoriais no Mar da China Oriental
Fonte: THE GUARDIAN, 2013.
A tensão diplomática intensificou-se em 2010, após uma embarcação chinesa
colidir com patrulhas da Guarda Costeira japonesa, próximo as ilhas. Em 2012, três
navios chineses foram identificados em águas japonesas e receberam ordens da
Guarda do Japão para se retirarem, e assim, a crise diplomática acentuou-se ainda
mais (ROEDEL, 2012).
Os Estado Unidos seriam obrigados a defender seu aliado, Japão, devido ao
Tratado de Cooperação Mútua e Segurança de 1960, caso ele seja atacado por um
terceiro, no caso, a China. Em 2014, para sanar incertezas quanto à aplicabilidade
desse tratado à essa situação, o Congresso estadunidense reconheceu
explicitamente a soberania do Japão nas Ilhas Senkaku (FUJII, 2014).
Porém é improvável que os Estados Unidos ataquem a China, visto sua atual
relação de interdependência (ZHAO, 2014). Sua presença militar na região está
sendo o meio utilizado para persuadir a China, mesmo que essa utilize de sua
marinha para constrangimento desses Estados (FUJII, 2014).
3.3. A CHINA VISTA COMO UMA AMEAÇA À ESTABILIDADE REGIONAL
É preciso entender que o conceito de ameaça6 utilizado nesse trabalho é
compreendido a partir da perspectiva de Buzan (1998), que identifica a ameaça em
6 Ameaça é, de acordo com a Estratégia Internacional para Redução de Desastres (EIRD) publicado em 2004 pela Secretaria da Estratégia Internacional para Redução de Desastres da ONU, “evento
39
específicos tipos de interação. Ou seja, os quadros analíticos, divididos em setores,
como visto anteriormente:
In this view, the military sector is about relationships of forceful coercion; the political sector is about relationships of authority, governing status and recognition; the economic sector is about relationships of trade, production, and finance; the societal sector is about relationships of collective identity; and the environmental sector is about relationships between human activity and the planetary biosphere. (BUZAN, et. al. 1998, p.7)
Logo, o setor político é sobre relações de autoridade; o setor econômico é
sobre relações de comércio e finanças; o setor social sobre relações de identidade
coletiva; o setor ambiental sobre as relações entre a atividade humana e a biosfera;
e por fim, o setor militar é sobre relacionamentos de coerção (BUZAN, 1998).
Portanto, serão retomados os conceitos apresentados anteriormente sobre
securitização, porém, através do setor militar. Primeiramente, ele apresenta o
conceito de Estado moderno, que é composto por soberania, território e nação:
The modern state is defined by the idea of sovereignty – the claim of exclusive right to self-government over a specified territory and its population. Because force is particularly effective as a way of acquiring and controlling territory, the fundamentally territorial nature of the state underpins the traditional primacy of its concern with the use of force. (BUZAN, et. al. 1998, p.49)
Logo, o movimento securitizador volta-se para a ameaça em torno desse
Estado moderno e de sua segurança nacional, de forma direta e intencional:
Military threats and vulnerabilities have traditionally been accorded primacy in thinking about national security, for several good reasons. Unlike some other types of threat, military ones are frequently intentional and directed. When used, they represent a breakdown or abandonment of normal political relations and a willingness to have political, economic, and social issues decided by brute force. (BUZAN, et. al. 1998, p.58)
A China passa a ser ator importante no Sistema Internacional, a partir do the
rise of China, ou seja, a ascensão chinesa (PINTO, 2005). Como foi visto no capítulo
anterior, os chineses começaram a ascender economicamente no pós-Guerra Fria e
a interagir multilateralmente com atores como a ASEAN (LEAL, 2007), além de
iniciar um processo de modernização de sua marinha (O’ROURKE, 2015).
físico, potencialmente prejudicial, fenômeno e/ou atividade humana que pode causar a morte e/ou lesões, danos materiais, interrupção de atividade social e econômica ou degradação ambiental. Isso inclui condições latentes que podem levar a futuras ameaças ou perigos, as quais podem ter diferentes origens: natural (geológico, hidrometeorológico, biológico) ou antrópico (degradação ambiental e ameaças tecnológicas). As ameaças podem ser individuais, combinadas ou sequênciais em sua origem e efeitos. Cada uma delas se caracteriza por sua localização, magnitude ou intensidade, frequência e probabilidade”.
40
Segundo Pinto (2005), Pequim passou a promover cooperação entre países
asiáticos e principalmente com a Associação das Nações do Sudeste Asiático. Seus
esforços estratégicos são voltados para a área da segurança da região banhada
pelo Pacífico e economia. Isso é elucidado a seguir, no texto de Ikenberry:
The size of its economy has quadrupled since the launch of market reforms in the late 1970S and, by some estimates, will double again over the next decade. It has become one of the world's major manufacturing centers and consumes roughly a third of the global supply of iron, steel, and coal. It has accumulated massive foreign reserves, worth more than $1 trillion at the end of 2006. China's military spending has increased at an inflation-adjusted rate of over 18 percent a year, and its diplomacy has extended its reach not just in Asia but also in Africa, Latin America, and the Middle East. Indeed, whereas the Soviet Union rivaled the United States as a military competitor only, China is emerging as both a military and an economic rival-heralding a profound shift in the distribution of global power. (IKENBERRY, 2008, p.26).
Portanto, os chineses ganham protagonismo na região (LEAL, 2007), de
modo a aumentar constantemente seu poder de influência política e econômica.
Sendo capaz de remodelar a política internacional do século XXI – como percebe-se
no redirecionamento estratégico estadunidense no governo de Barack Obama
(MINZER, 2007).
O governo de Barack Obama pensa em reequilíbrio estratégico voltado à
Ásia-Pacífico, como será discorrido no próximo capítulo do presente trabalho. Ele
visa estratégias econômicas e de segurança, assim como a manutenção da paz
regional (ZHAO, 2014).
Para que isso ocorra, os EUA iniciam o reforço de alianças bilaterais de
segurança, além de tentar aprofundar relacionamentos com países emergentes e a
China, como será discorrido posteriormente (ZHAO, 2014). Assim ocorre a tentativa
de assegurar os interesses estadunidenses no Pacífico, frente à potencial ameaça
que a ascensão chinesa demonstra.
Apesar dos chineses enxergarem essa estratégia como direcionada para
conter a ascensão de seu país, os EUA e a China estão cada vez mais
interdependentes. Logo, torna-se desvantajoso para os norte-americanos adotarem
uma contenção como política (ZHAO, 2014).
Assim, é perceptível que esse reequilíbrio não é formulado voltado
exclusivamente para China, apesar desta apresentar centralidade dentro dessa
proposta. Os demais atores asiáticos apontam que essa volta estadunidense para a
41
Ásia é enriquecedora no que se refere a um contrapeso à influência chinesa, para
que assim, retome um equilíbrio de poder na região (ZHAO, 2014).
A China se tornou uma ameaça à segurança regional, devido sua mudança
de postura – anteriormente, de política de boa vizinhança – (ZHAO, 2014) para
medidas expansionistas e questões territoriais pendentes. Isso ocorre, como visto
anteriormente, devido a possibilidade de danos à segurança nacional dos outros
países serem causados e agravados ainda mais por sua marinha que se moderniza.
As disputas territoriais com seus vizinhos são inúmeras: há questões a serem
tratadas com Taiwan, Japão, Índia, Coreia do Sul, Coreia do Norte e Butão (TOMÉ,
2013), como foi abordado anteriormente:
Ao Japão, reclama as ilhas Senkaku/Diaoyu; à Índia reivindica o Arunachal Pradesh; à Coreia do Sul, as ilhotas Socotra (a que os coreanos se referem como Leodo ou Parangdo e os chineses Suyan); entre a China e a Coreia do Norte subsiste o diferendo fronteiriço em torno da montanha Baekdu (designação coreana) ou Changbai (designação chinesa); com o Butão, a China disputa áreas fronteiriças ao longo dos 470 km da fronteira comum. (TOMÉ, 2013, p.34).
Além disso, os chineses encontram-se em conflito por áreas de soberania e
exploração nas Zonas Econômicas Exclusivas (ZEEs) no Mar Amarelo, no Mar da
China Oriental e no Mar da China Meridional. Esses se encontram, respectivamente,
entre a Coreia do Norte, a Coreia do Sul e o Japão; China, Japão e Coreia do Sul; e
entre os países do Sudeste Asiático (TOMÉ, 2013).
As Zonas Econômicas Exclusivas (ZEEs) foram criadas durante a década de
1990, como estratégia chinesa para atrair investimentos estrangeiros e tecnologia.
Além dessas Zonas, haviam medidas para reduzir tarifas de importação, reestruturar
e modernizar as empresas estatais. As Zonas Econômicas Especiais são quatro,
que foram estabelecidas em Guangdong e Fujian; e tem sua produção voltada para
as exportações, que desencadeou um rápido crescimento econômico na costa
chinesa. Esse grande desenvolvimento aumentou ainda mais as diferenças no
território de seu país, que já eram presentes tanto na questão física quanto
socioeconômica (LINS, 2003).
Assim, os interesses geopolíticos e econômicos da China estão voltados
também para recursos naturais estratégicos, devido seu rápido crescimento e sua
necessidade de tais recursos. Em 2001, China e Rússia se aproximam
estrategicamente e formam a Organização de Cooperação de Shangai (OCS), junto
com países da Ásia Central (Cazaquistão, Quirguistão, Tadjiquistão e Uzbequistão).
42
Com a China acumulando capital e a Rússia dona de grandes reservas de recursos
naturais, como petróleo e gás natural, além do campo tecnológico e militar
(PAUTASSO; OLIVEIRA, 2008).
Além disso, a partir de 2006, a China passou a implementar ZEEs na África,
para comercializar manufatura e garantir recursos naturais. Como exemplo, Angola é
o maior fornecedor de petróleo para a China. Os chineses são o segundo maior
consumidor mundial de minerais, pois, utilizam o ouro como forma de investimento.
Assim, percebe-se sua presença em setores como minerais e energéticos, no
continente africano, visto que seus recursos domésticos não suprem suas
necessidades (MACHADO, 2012).
Apesar da China afirmar a pacificidade, percebe-se uma possível ameaça aos
vizinhos, além de provável causadora da instabilidade na região. Logo, ainda não há
consenso sobre essa ascensão chinesa ser pacífica ou não (PINTO, 2005).
43
4. CAPÍTULO 3: A ESTRATÉGIA DE SEGURANÇA DO GOVERNO DE
BARACK OBAMA PARA ÁSIA-PACÍFICO
O desenvolvimento chinês e a modernização de sua marinha atribuem maior
influência a essa potência regional. Seu poder de constrangimento promove um
ambiente de tensão entre seus vizinhos que se sentem ameaçados, em decorrência
da postura agressiva da China nas disputas territoriais no Mar do Sul da China e no
Mar da China Oriental (TOMÉ, 2013).
Assim, os Estados Unidos da América percebem que seus interesses podem
ser afetados nessa região estratégica, devido esses movimentos chineses
(O’ROURKE, 2015). Logo, os EUA se voltam com mais intensidade a construção de
uma agenda de política externa reforçada para a Ásia-Pacífico (ZHAO, 2014).
Para que isso ocorra, a administração Obama lançou a política do pivot para
Ásia, ou seja, o reequilíbrio estratégico norte-americano para a região, muito
enfatizada em seus dois mandatos (OBAMA, 2014). Para sustentar essa agenda, o
governo utiliza-se da forward-deployed, a estratégia diplomática voltada a
reafirmação de alianças bilaterais e multilaterais, de segurança e economia, além de
potenciais alianças com países emergentes, como a China (ZHAO, 2014). Os EUA
também desenham expansão comercial e investimento, presença militar e difusão
de valores como democracia e Direitos Humanos (CLINTON, 2011).
Passou a trabalhar com a ASEAN na busca soluções pacíficas para as
disputas territoriais no Mar do Sul da China (OBAMA, 2014), apresentando-se como
"poder Pacífico" em um cenário, o qual a China segue cada vez mais agressiva
(NAKAMURA; WAN, 2011). O governo Obama anunciou o “século da América no
Pacífico”; afirmando que o Estados Unidos está comprometido com a região,
apresentando-se como o parceiro mais adequado. (OBAMA, 2014). A estratégia
estadunidense aposta seu futuro na Ásia-Pacífico e trabalha para que sua presença
seja essencial nessa região (CAMPBELL; ANDREWS, 2013).
4.1.DA AGENDA DE POLÍTICA EXTERNA PARA A ÁSIA-PACÍFICO NO
GOVERNO DE BARACK OBAMA
No segundo semestre de 2011, a administração de Barack Obama anunciou
que se expandiria e se intensificaria na Ásia-Pacífico. Seu objetivo era fazer esforços
44
para influenciar o desenvolvimento de normas e regras na região, pois, a China
emerge rapidamente como potência regional e cada vez mais aumenta seu poder de
influência (CONGRESSIONAL RESEARCH SERVICE, 2012).
O governo Obama reforçou sua estratégia para a Ásia Pacífico, com o
discurso do “século da América no Pacífico”, enfatizado pela então Secretária de
Estado, Hillary Clinton, antes das visitas à região em 2011. Ela afirmou que seu país
irá voltar para à Ásia para ficar, desejando o apoio de seus antigos aliados no
continente, para também reativar a Cooperação Econômica da Ásia-Pacífico
(OLIVEIRA, 2013).
Seu discurso iniciou abordando a diminuição da necessidade da atenção
estadunidense para o Oriente Médio, e que isso afetava seus movimentos
estratégicos. Assim, seus interesses, valores e lideranças seriam investidos na
região da Ásia-Pacífico:
As the war in Iraq winds down and America begins to withdraw its forces from Afghanistan, the United States stands at a pivot point. Over the last 10 years, we have allocated immense resources to those two theaters. In the next 10 years, we need to be smart and systematic about where we invest time and energy, so that we put ourselves in the best position to sustain our leadership, secure our interests, and advance our values. One of the most important tasks of American statecraft over the next decade will therefore be to lock in a substantially increased investment — diplomatic, economic, strategic, and otherwise — in the Asia-Pacific region. (CLINTON, 2011).
Hillary Clinton (2011) afirmou que a política americana irá investir na
diplomacia, economia e assuntos estratégicos nessa região, para consolidar um
ambiente propício para a defesa dos interesses norte-americanos. Além de ser a
área mais populosa do mundo com uma zona econômica que cresce rapidamente,
desde a década de 2000, a Ásia passou a ser a maior fonte de importações e o
segundo maior em exportações para os EUA (CONGRESSIONAL RESEARCH
SERVICE, 2012). Como é percebido na fala de Clinton:
The Asia-Pacific has become a key driver of global politics. Stretching from the Indian subcontinent to the western shores of the Americas, the region spans two oceans — the Pacific and the Indian — that are increasingly linked by shipping and strategy. It boasts almost half the world’s population. It includes many of the key engines of the global economy, as well as the largest emitters of greenhouse gases. It is home to several of our key allies and important emerging powers like China, India, and Indonesia. (CLINTON, 2011).
A administração de Barack Obama acredita que o centro da política externa,
segurança nacional e interesses econômicos estadunidenses estão voltados em
45
direção a Ásia-Pacífico. Assim, as prioridades e, portanto, a estratégia dos Estados
Unidos da América se reajustam para essa região (CONGRESSIONAL RESEARCH
SERVICE, 2012). Pois, como visto na fala de Clinton (2011) essa região se tornou
um dos principais impulsionadores da política e economia global, sendo necessária
maior atenção estadunidense para a região.
Obama demonstrou ainda, interesses no Mar do Sul da China, devido ao
intenso fluxo comercial através da Ásia-Pacífico, o que gera a necessidade de
manter a segurança do local (CONGRESSIONAL RESEARCH SERVICE, 2012).
Isso o levou a pensar uma parceria Trans-Pacífico, a Trans-Pacific Partnership
(TPP), que será abordada posteriormente (GORDON, 2011).
Os EUA se apresentou como "poder pacífico" em suas visitas à Ásia-
Pacífico, disposto a ajudar no desenvolvimento nas áreas econômicas e de
segurança. Em seus discursos, Obama procurou tranquilizar seus aliados da região,
onde a China segue cada vez mais agressiva e com alta influência. Uma das
prioridades estadunidenses é levar a China ao comprometimento de uma postura
menos agressiva nas disputas do Mar da China Meridional (NAKAMURA; WAN,
2011).
Na última década, o poder de permanência norte-americana na região foi
questionado por líderes asiáticos, o que pressionou esse governo a passar uma
postura de confiança. E ter também, capacidade de fornecer mais “’public goods’—
security cooperation, trade and investment liberalization, and others.”
(CONGRESSIONAL RESEARCH SERVICE, 2012, p.7), ou seja, segurança a partir
de laços cooperativos com os países da região.
Dessa maneira, pode conseguir maior cooperação dos países da região,
devido as intenções no longo prazo. Porém, esse interesse tardio é questionado por
atores como China, que perguntam se isso vai ajudar ou complicar o
desenvolvimento da região. Aliados como Japão e Coreia do Sul também se
preocupam, pois, o período é de austeridade fiscal e os EUA poderia pedir aumento
de contribuições financeiras (CONGRESSIONAL RESEARCH SERVICE, 2012). A
resposta norte-americana para esses questionamentos é que os EUA são capazes e
vão ficar na Ásia-Pacífico para ajudar seu desenvolvimento, aderindo postura de
liderança para garantir que outros acontecimentos não vão tirar a atenção
estadunidense de seus compromissos econômicos e estratégicos na região:
46
Beyond our borders, people are also wondering about America’s intentions — our willingness to remain engaged and to lead. In Asia, they ask whether we are really there to stay, whether we are likely to be distracted again by events elsewhere, whether we can make — and keep — credible economic and strategic commitments, and whether we can back those commitments with action. The answer is: We can, and we will. (CLINTON, 2011).
A principal mensagem dos Estados Unidos, que inclusive afeta diretamente
seu relacionamento com a China, é que vão desempenhar um papel de liderança na
Ásia nas próximas décadas (LIEBERTHAL, 2011). Sobre os chineses, Hillary disse
que suas relações serão cheias de alianças voltadas para segurança, economia e
conexões sociais (CLINTON, 2011):
At the end of the day, there is no handbook for the evolving U.S.-China relationship. But the stakes are much too high for us to fail. As we proceed, we will continue to embed our relationship with China in a broader regional framework of security alliances, economic networks, and social connections. (CLINTON, 2011).
É perceptível que para as relações entre EUA e China de interdependência7,
é mais vantajoso a cooperação e não o conflito. Segundo Keohane (1984),
cooperação internacional é quando os atores ajustam seus comportamentos e
coordenam suas políticas para facilitar a realização de um objetivo comum:
Cooperation occurs when actors adjust their behavior to the actual or anticipated preferences of others, through a process of policy coordination. To summarize more formally, intergovernmental cooperation takes place when the policies actually followed by one government are regarded by its partners as facilitating realization of their own objectives, as the result of a process of policy coordination. (KEOHANE, 1984, p.51-52).
Assim, seus interesses passam a direcionar essa relação, que tende a ser
pacífica, pois, trabalham em conjunto pelo mesmo propósito. É a percepção da
interdependência que gera a cooperação, que permanece devido essas ligações
estratégicas (SARFATI, 2005):
We all know that fears and misperceptions linger on both sides of the Pacific. Some in our country see China’s progress as a threat to the United States; some in China worry that America seeks to constrain China’s growth. We reject both those views. The fact is that a thriving America is good for China and a thriving China is good for America. We both have much more to gain from cooperation than from conflict. But you cannot build a relationship
7 Sarfati (2005) introduz o conceito de interdependência, que se refere à interação entre diferentes atores que possuem interesses comuns, que preferem cooperar a entrar em conflito. Os benefícios dessa relação não necessariamente serão mútuos ou equivalentes, portanto, a interdependência pode ser assimétrica. Essa comunicação, principalmente quando assimétrica, pode ser analisada como fonte de poder, a qual um ator mais fortalecido consegue persuadir os demais por ter controle de determinados recursos necessários à outra parte.
47
on aspirations alone. It is up to both of us to more consistently translate positive words into effective cooperation — and, crucially, to meet our respective global responsibilities and obligations. These are the things that will determine whether our relationship delivers on its potential in the years to come. We also have to be honest about our differences. We will address them firmly and decisively as we pursue the urgent work we have to do together. And we have to avoid unrealistic expectations. (CLINTON, 2011).
Clinton (2011) disse que a administração Obama não concorda com os
pensamentos de que o progresso chinês aparenta ameça para os Estados Unidos e
ao mesmo tempo, a China teme que os norte-americanos contenham seu
desenvolvimento. Mas que a ascensão chinesa é boa para a América, reafirmando
que a cooperação é mais vantajosa tanto para atingir objetivos quanto para cumprir
responsabilidades (CLINTON, 2011).
Em seu segundo mandato, Obama seguiu com a política do pivot to Asia ou
US rebalancing, ou seja, a política do pivot para Ásia, que é a estratégia do
reequilíbrio estadunidense para a região. Em 2014, durante visita à Universidade de
Queensland, em Brisbane, Austrália, o presidente dos EUA reforçou alguns pontos
em sua fala, como os arranjos de segurança coletiva na região. Enfatizou também a
necessidade de se trabalhar em conjunto com a ASEAN para que as disputas
territoriais no Mar do Sul da China sejam resolvidas pacificamente. Discursou
também sobre o crescimento econômico da região, dando continuidade aos
trabalhos com a APEC para que os investimentos aumentem e a infraestrutura
regional melhore (OBAMA, 2014). Essas questões serão melhor trabalhadas no
próximo tópico desse capítulo.
O presidente volta à questão chinesa afirmando que o trabalho realizado
será em conjunto, e que os EUA continuarão traçando um relacionamento
construtivo com a China. Assim, destaca o crescimento chinês e seu fundamental
papel no futuro da região:
And if, in fact, China is playing the role of a responsible actor that is peaceful and prosperous and stable, that is good for this region, it’s good for the world, it’s good for the United States. So we’ll pursue cooperation with China where our interests overlap or align. And there are significant areas of overlap: More trade and investment; more communications between our militaries to prevent misunderstandings or possible conflict; more travel and exchanges between our people; and more cooperation on global challenges, from Ebola to climate change. (OBAMA, 2014).
Sugere a incorporação da China às normas seguidas pelos demais países,
seja sobre navegação, comércio ou Direitos Humanos. Deixou claro a defesa dos
interesses norte-americanos na região e a disposição de lutar por eles: “It’s also
48
important to hang on to what you believe -- to know what you believe and then be
willing to stand up for it. And what’s true for individuals is also true for countries.”
(OBAMA, 2014). Pois, se o importante papel chinês será pacífico e estável, pelo
bem da região, a cooperação com a China se intensificará. Vai além do comércio e
investimento, abordando o diálogo sobre as Forças Armadas, para que diminuam
possíveis conflitos entre as duas potências (OBAMA, 2014).
Barack Obama finalizou seu discurso com palavras de comprometimento
norte-americano com a Ásia-Pacífico, colocando-se como o parceiro mais
adequado e esperado para ajudar a região:
So that’s the future we can build together. That’s the commitment America is making in the Asia Pacific. It’s a partnership not just with nations, but with people, with you, for decades to come. Bound by the values we share, guided by the vision we seek, I am absolutely confident we can advance the security and the prosperity and the dignity of people across this region. And in pursuit of that future, you will have no greater friend than the United States of America. (OBAMA, 2014).
Afirmou que o futuro da América será construído em conjunto com a Ásia.
Assim, entende-se que para defender seus valores, um forte passo de sua estratégia
é utilizar-se dos acordos multilaterais e bilaterais como arena para intensificar sua
liderança. Dessa forma, a “busca pelo futuro” seria possível apenas acompanhada
dos Estados Unidos da América, principalmente na área de segurança (OBAMA,
2014), que permite manobrar seus interesses nesse ambiente consolidado, como
será visto posteriormente.
4.2. REFORÇO DOS ARRANJOS DE SEGURANÇA COLETIVA DOS EUA
NA REGIÃO ÁSIA-PACÍFICO
Dando continuidade aos assuntos tratados, percebe-se os reforços
estadunidenses dos arranjos de segurança coletiva na Ásia-Pacífico. Eles estão
voltados para o fortalecimento de suas parcerias bilaterais e o multilateralismo,
dando grande espaço para a ASEAN (CONGRESSIONAL RESEARCH SERVICE,
2012):
The United States will continue expanding our engagement with regional institutions, because together we can meet shared challenges -- from preventing the horror of human trafficking to countering violent extremism, to stemming the flow of foreign terrorist fighters. Together, we can improve maritime security, upholding freedom of navigation and encouraging
49
territorial disputes are resolved peacefully. We’ll work with partners to develop the East Asia Summit into the region’s leading forum for addressing political and security challenges. And we’ll support ASEAN’s effort to reach a code of conduct with China that reinforces international law in the South China Sea. (OBAMA, 2014).
Para concretizar seus discursos, os EUA assinaram o Tratado de Amizade e
Cooperação com a ASEAN em 2009. Isso ocorre devido o foco voltado para solução
das disputas no Mar do Sul da China e ao cumprimento das normas internacionais
fundamentais para a definição de reivindicações territoriais nesse mar. E, dessa
forma, reforçar a tentativa de conter a postura agressiva chinesa (CLINTON, 2011).
A parceria com essa Associação significa potencial ajuda na construção das
regras e consequentemente, responsabilidades para promover uma cooperação
transnacional. Os EUA foi o primeiro país que não é membro a abrir uma missão
permanente no âmbito da Associação, seguido da apresentação de programas de
cooperação e programas de capacitação, que ajudam a preencher as lacunas
deixadas pela ASEAN (CAMPBELL; ANDREWS, 2013).
A ASEAN é o instrumento pelo qual os Estados Unidos consegue aumentar
a pressão sobre determinados assuntos de seu interesse. Inclusive, o Departamento
de Defesa norte-americano juntou-se aos Ministro de Defesa da Associação para
tornar esse mecanismo mais forte e consistente. Além disso, o diálogo com a
ASEAN trás previsibilidade sobre a região para os EUA, que, através de iniciativas
para promover paz, prosperidade e estabilidade, agrega cada vez mais confiança
em sua relação com esses países (CAMPBELL; ANDREWS, 2013).
Além dos interesses já abordados, os Estados Unidos utiliza-se do
engajamento com os países asiáticos para difundir valores universais como Direitos
Humanos e democracia, intrínsecos a identidade estadunidense. Eles estão
refletidos em todos os diálogos diplomáticos, inclusive com os países que não
concordam ou aderem tais valores, pois, para os norte-americanos esses princípios
estão diretamente ligados ao desenvolvimento e prosperidade de um país
(CAMPBELL; ANDREWS, 2013).
Os EUA trabalharam voltados para o multilateralismo, justificando seu
engajamento com a ASEAN e a APEC devido a uma demanda da própria região,
que pede que os estadunidenses estejam presentes na definição de agendas para
Ásia-Pacífico: “There is a demand from the region that America play an active role in
50
the agenda-setting of these institutions — and it is in our interests as well that they
be effective and responsive.” (CLINTON, 2011).
Apesar disso, as alianças bilaterais com o Austrália, Coreia do Sul, Filipinas,
Japão e Tailândia são o ponto de apoio na estratégica para a Ásia-Pacífico, pois,
moldaram pacificamente o ambiente para a notável ascensão econômica dessa
região. Além disso, eles impulsionaram a liderança estadunidense na região,
segundo Hillary Clinton (2011).
Porém, novas alianças são formadas para facilitar a resolução de problemas
em comum. O diálogo com países como Brunei, China, Índia, Indonésia, Malásia,
Mongólia, Nova Zelândia, Singapura e Vietnã mostram o engajamento na região
com parceiros emergentes e potenciais parcerias. Entre esses parceiros, destaca-se
novamente a China, apresentada como desafiadora, porém ambos Estados focam
na convergência de interesses e busca por resultados (CLINTON, 2011):
And today, China represents one of the most challenging and consequential bilateral relationships the United States has ever had to manage. This calls for careful, steady, dynamic stewardship, an approach to China on our part that is grounded in reality, focused on results, and true to our principles and interests. (CLINTON, 2011).
Os EUA reafirmam a importância das alianças bilaterais, e apresentam três
princípios da administração de Obama para essas parcerias: manter consenso
político sobre os objetivos da aliança; garantir que estão prontas para adaptações
para obter sucesso; além de garantir capacidade e infraestrutura de comunicação e
defesa (CLINTON, 2011):
First, we have to maintain political consensus on the core objectives of our alliances. Second, we have to ensure that our alliances are nimble and adaptive so that they can successfully address new challenges and seize new opportunities. Third, we have to guarantee that the defense capabilities and communications infrastructure of our alliances are operationally and materially capable of deterring provocation from the full spectrum of state and nonstate actors. (CLINTON, 2011).
Em relação a sua parceria com a China, duas frentes são adotadas na
postura norte-americana. Pretende reforçar seus laços de cooperação e ao mesmo
tempo estabelecer uma forte presença dos EUA pela Ásia para encorajar um
comportamento mais responsável por parte da China, como citado anteriormente
(CONGRESSIONAL RESEARCH SERVICE, 2012).
Em 2012, Barack Obama declarou que “we welcome China’s peaceful rise,
that we believe that a strong and prosperous China is one that can help to bring
51
stability at prosperity to the region and to the world.” (OBAMA, 2012).
Demonstrando que apesar de sua presença na Ásia-Pacífico para possível
constrangimento chinês, entende que é necessário priorizar o trabalho conjunto. A
China é potência regional, é importante não só para os países da região, e por isso
precisa mudar seu comportamento para que a cooperação na região obtenha maior
eficiência e mantenha a pacificidade (CONGRESSIONAL RESEARCH SERVICE,
2012).
Obama insiste constantemente na questão da segurança do Mar do Sul da
China (OBAMA, 2014). A modernização da marinha chinesa passa a ser um dos
destaques no plano de defesa estadunidense. Isso ocorre devido sua potencial
evolução para mares mais distantes e o fortalecimento de sua presença no Oceano
Pacífico, de modo a causar conflitos nessa zona de tensão. (O’ROURKE, 2015).
Além de, posteriormente, tornar-se capaz de confrontar os EUA, como percebemos
na reflexão de O’Rourke:
China’s naval capabilities as a key element of an emerging broader Chinese military challenge to the longstanding status of the United States as the leading military power in the Western Pacific. The question of how the United States should respond to China’s military modernization effort, including its naval modernization effort, is a key issue in U.S. defense planning. (O’ROURKE, 2015).
Ainda sobre a marinha chinesa, a administração Obama afirma que seu
trabalho será transparente para que equívocos não ocorram entre as Forças
Armadas norte-americanas e chinesas. E, assim, chama Pequim para um diálogo
claro sobre segurança estratégica (CLINTON, 2011).
A intensa comunicação com a ASEAN e os demais parceiros estadunidenses,
assim como as potenciais parcerias, compõe a tática dos Estados Unidos para
imersão na região da Ásia-Pacífico. A construção dessa rede de parcerias no
Pacífico é fundamental e faz parte da estratégia para defesa de interesses e valores
norte-americanos na região (CONGRESSIONAL RESEARCH SERVICE, 2012), que
será melhor aprofundada a seguir.
4.3. A ESTRATÉGIA DE SEGURANÇA NACIONAL DE BARACK OBAMA
PARA A REGIÃO ÁSIA-PACÍFICO
52
Barack Obama nasceu em Honolulu, capital do Havaí, e é, portanto, o
primeiro presidente dos EUA vindo do Pacífico. Percebe-se a partir da Teoria
Cognitiva a utilização desse fato como apelo emocional, visto a percepção de
proximidade do presidente estadunidense com a região, compartilhando, portanto,
os mesmos valores que os países do Pacífico (HERZ, 1994). É uma forma de tentar
retomar sua liderança na região, anteriormente posta em dúvida durante o governo
de George W. Bush (ZHAO, 2014). Esse reequilíbrio estratégico para a Ásia-Pacífico
ocorre para manter a liderança global dos Estados Unidos da América, devido a
importância da região para os interesses nacionais:
(…) I have had the privilege to see firsthand the rapid transformations taking place in the region, underscoring how much the future of the United States is intimately intertwined with the future of the Asia-Pacific. A strategic turn to the region fits logically into our overall global effort to secure and sustain America’s global leadership. The success of this turn requires maintaining and advancing a bipartisan consensus on the importance of the Asia-Pacific to our national interests; we seek to build upon a strong tradition of engagement by presidents and secretaries of state of both parties across many decades. It also requires smart execution of a coherent regional strategy that accounts for the global implications of our choices. (CLINTON, 2011).
Para enfatizar essa retomada, inicia-se uma estratégia diplomática de
forward-deployed, que visa reforçar alianças bilaterais de segurança e economia, e
interagir com instituições multilaterais regionais, além de tentar aprofundar
relacionamentos com países como a China e os países emergentes (ZHAO, 2014).
Além disso, promove a expansão do comércio e investimento, desenha uma
presença militar de base ampla e aborda, ainda, valores como democracia e Direitos
Humanos, como visto anteriormente (CLINTON, 2011):
What does that regional strategy look like? For starters, it calls for a sustained commitment to what I have called "forward-deployed" diplomacy. That means continuing to dispatch the full range of our diplomatic assets — including our highest-ranking officials, our development experts, our interagency teams, and our permanent assets — to every country and corner of the Asia-Pacific region. Our strategy will have to keep accounting for and adapting to the rapid and dramatic shifts playing out across Asia. With this in mind, our work will proceed along six key lines of action: strengthening bilateral security alliances; deepening our working relationships with emerging powers, including with China; engaging with regional multilateral institutions; expanding trade and investment; forging a broad-based military presence; and advancing democracy and human rights. (CLINTON, 2011).
Como visto anteriormente, essa estratégia no âmbito da segurança visa
uma forte aproximação com a Associação das Nações do Sudeste Asiático
53
(ASEAN), além de reafirmar os acordos bilaterais. Pretende garantir que as normas
internacionais que cobrem as disputas territoriais em evidência no Mar do Sul da
China sejam cumpridas, além de adquirir liderança na região (CONGRESSIONAL
RESEARCH SERVICE, 2012).
No âmbito econômico, são dois os instrumentos utilizados pelos Estados
Unidos para expansão do comércio e investimento: a Cooperação Econômica Ásia-
Pacífico (APEC) e a Parceria Trans-Pacífico (TPP). A APEC em vigor desde 1989,
fórum regional voltado para o crescimento econômico e o comércio dos países da
Ásia-Pacífico. Como visto no Capítulo 1, ela objetiva reduzir as barreiras comerciais,
além de harmonizar normas para maior integração entre essas economias (ASIA-
PACIFIC ECONOMIC COOPERATION, 2015). Facilitando, portanto, as interações
entre os EUA e os demais países banhados pelo Pacífico, assim como é um
ambiente propício para possíveis manobras de interesses norte-americanos.
O Acordo de Parceria Econômica Estratégica Trans-Pacífico foi estabelecido
em 2005 por Brunei, Chile, Nova Zelândia e Singapura. Em 2010, foi divulgada uma
proposta ampliada, a Parceria Trans-Pacífico, que inclui Austrália, Canadá, Japão,
Malásia, México, Peru, EUA e Vietnã (GORDON, 2011).
Os interesses de Obama no Mar do Sul da China e seu intenso fluxo
comercial o levou a pensar nessa parceria. Abrange serviços, propriedade
intelectual, além de investimentos, além de propor que a grande parte das tarifas de
importação sobre o comércio dos membros mude para zero ao longo de dez anos.
Devido essa abrangência ocorrem amplas implicações acarretando menos
transparência (GORDON, 2011).
Inicialmente ocorre recusa por parte do Japão, o que não adere grande
benefício econômico à parceria, pois, o tratado representa 6% do comércio norte-
americano, o mesmo que somente com os japoneses. Apesar das questões
comerciais suspensas em 2011 devido a catástrofes naturais, Tóquio passou a
analisar a possibilidade de entrar no acordo (GORDON, 2011).
O interesse surge primeiramente, pelo acordo de livre comércio entre Estados
Unidos e Coreia do Sul, visto que seus produtos e os coreanos tem paridade em
mercado estrangeiro. Além disso, os japoneses pensam em recuperação econômica
e enxergam o tratado com um ambiente propício para consolidar forças estratégicas
que não precisem ser subordinadas e dominadas pela China. Dessa forma, essa
parceria é vista como espécie de balanço de poder na região (GORDON, 2011).
54
Sobre a esfera militar, um dos mais concretos elementos do reequilíbrio
vem dessa área. Os Estados Unidos pretendem manter e reforçar sua presença na
Ásia-Pacífico, como visto no trecho de seu discurso a seguir, quando Obama
apresenta que suas prioridades e interesses estratégicos estão voltados para a
região (CONGRESSIONAL RESEARCH SERVICE, 2012):
As we consider the future of our armed forces, we've begun a review that will identify our most important strategic interests and guide our defense priorities and spending over the coming decade. So here is what this region must know. As we end today’s wars, I have directed my national security team to make our presence and mission in the Asia Pacific a top priority. As a result, reductions in U.S. defense spending will not -- I repeat, will not -- come at the expense of the Asia Pacific. (OBAMA, 2011).
A abordagem estadunidense nessa área será a partir de uma ampla
distribuição de forças, reforçando a presença dos Estados Unidos na parte sul do
Pacífico Ocidental. Essa abordagem é mais flexível para implementar seus
interesses, pois conta com rotação de diversos tipos de unidades militares para
diferentes partes na região. A presença dos EUA é utilizada inclusive por parceiros
que pedem para que a marinha estadunidense garanta seus interesses comuns,
ainda mais quando o assunto são os avanços da marinha chinesa
(CONGRESSIONAL RESEARCH SERVICE, 2012).
A marinha norte-americana pretende reforçar sua capacidade para que seja
possível que os Estados Unidos consigam dispersar potenciais conflitos na região,
além de utilizar-se de seu poder coercitivo. Além disso, em conjunto com seus
aliados realizam exercícios para maior desenvolvimento de operações integradas,
assim como, aprimorando a diplomacia militar voltada para a transparência nos
mares, através de normas comuns – nesse ponto são incluídos também os esforços
bilaterais com os chineses (O’ROURKE, 2015).
Esse segmento procura também incentivar e fortificar a segurança regional,
principalmente em relação as disputas territoriais no Mar do Sul da China e no Mar
da China Oriental. Essa questão é tratada em diálogo com a ASEAN (O’ROURKE,
2015) como já explicado nesse capítulo. Há receio de que devido a necessidade de
redução de orçamento para a marinha estadunidense, a marinha chinesa se sinta
mais capaz e confiante para desestabilizar os Estados Unidos, dificultando a defesa
de seus interesses na região (O’ROURKE, 2015).
Portanto, o foco da estratégia estadunidense é construir e fortalecer relações
diplomáticas, econômicas e de segurança, incluindo a esfera militar, com a Ásia-
55
Pacífico. Os EUA estão voltando suas atenções para essa região e apostando o
futuro nela. As parcerias bilaterais e multilaterais são utilizadas para melhor
manutenção de seus interesses e valores no Pacífico, de forma que sua presença
na região passe a ser cada vez mais essencial (CAMPBELL; ANDREWS, 2013).
56
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O presente trabalho propôs explicar como o governo Obama reagiu as
alterações de conjuntura estratégica na região da Ásia-Pacífico. De modo a
compreender o que levou a reinserção norte-americana para essa região, além do
processo de construção da estratégia estadunidense na mesma.
O primeiro capítulo apresentou que os cenários de instabilidade que
ocorreram no continente asiático devido as guerras ideológicas entre Capitalismo e
Comunismo, criaram a necessidade de criar um mecanismo de segurança próprio.
Formou-se, portanto, a Associação das Nações do Sudeste Asiático (ASEAN) em
1967, para promover integração e estabilidade na região. Com o fim da Guerra Fria,
o continente continuava a evoluir, unindo suas regiões de forma estratégica e
estabelecendo a Cooperação Econômica Ásia-Pacífico (APEC), para redução de
barreiras comerciais.
Foi entendido que a China se tornou ator fundamental na Ásia. Esse país saiu
do isolacionismo em 1978 e começou a ascender economicamente nessa nova
conjuntura. Utilizou-se de parcerias bilaterais e dialoga frequentemente com
instituições multilaterais. Percebe-se que a Associação das Nações do Sudeste
Asiático recebeu maior atenção dos chineses, que perceberam a necessidade de um
novo conceito de segurança para a região, e assim, promover sua nova postura no
Sistema Internacional.
Entende-se que a região ganhou maior autonomia e passou a se desenvolver
de forma rápida, tendo a China como protagonista. Os Estados Unidos notaram que
esse movimento expansionista chinês, que criou dependência econômica entre os
países vizinhos à sua economia, adquirindo poder de constrangimento regional,
poderia afetar a defesa de interesses norte-americanos nessa região.
É notável, que quando ocorreu o atentado terrorista de 11 de setembro de
2001, isso se intensificou. Os EUA se voltaram para a guerra contra o terror e inicia
as invasões no Oriente Médio, prontamente justificadas como autodefesa, apesar do
possível acesso ao petróleo na região. Esse momento foi considerado uma ruptura
na relação entre EUA e os outros Estados do Sistema Internacional, pois, o então
presidente George W. Bush dispensa foco às demais agendas.
Portanto, a China fortaleceu seu relacionamento com a ASEAN, para valorizar
sua agenda de segurança própria e enfatizar acordos entre ambos, o que levou a
57
assinatura chinesa ao Tratado de Amizade e Cooperação em 2002. Percebeu-se
que os EUA, voltado apenas para o Oriente Médio, deixou lacunas na Ásia-Pacífico,
abrindo espaço para manobras chinesas, que se propõe a preenche-las, devido o
estreitamento de laços com os demais países de seu continente.
Dando continuidade a essas reflexões, o segundo capítulo apresentou a
busca chinesa pela implementação de uma estratégia militar de defesa ativa para
reafirmar sua influência na região, começando o processo de desenvolvimento e
modernização de seu setor militar, dando maior atenção para a marinha. Além desse
motivo, dois acontecimentos na década de 1990 levaram os chineses a essa
modernização: a Guerra do Golfo em 1991 e as eleições para presidente de Taiwan
em 1996. A China percebeu que não tinha potencial militar suficiente para se
defender em possíveis conflitos e, por isso, sentiu-se ameaçada.
Essa marinha tornou-se regionalmente poderosa, mas com potencial para
expandir suas operações no futuro, alcançando mares além de seu continente,
podendo tornar-se um desafio para os norte-americanos. No entanto, atualmente a
marinha chinesa faz parte da estratégia de recuperação e reivindicação de territórios
no Mar do Sul da China e no Mar da China Oriental. Devido essa postura, seus
vizinhos passaram a enxerga-la como potencial ameaça a região, criando um
ambiente de tensão. Dessa forma, os países da região passam a desejar a volta dos
Estados Unidos para que ocorra equilíbrio de poder e cada um possa direcionar seu
alinhamento para o Estado que melhor assegurem seus interesses de acordo com
suas necessidades nacionais.
Por fim, o terceiro capítulo visualiza os esforços norte-americanos para
retomar posição de liderança na Ásia-Pacífico. Portanto, devido aos acontecimentos
já citados, quando Barack Obama assumiu a presidência, iniciou um processo de
priorização do tema em seu discurso, o qual Obama aborda a volta estratégica de
uma agenda de política externa para a região da Ásia-Pacífico.
O destaque dado a essa região pelos EUA, ocorreu devido a forte autonomia
chinesa na mesma, de forma a preencher as lacunas deixadas pelos próprios norte-
americanos, como discorrido no primeiro capítulo. Esse processo expansionista
chinês afetou os interesses estadunidenses, que ao mesmo tempo não podiam
adotar medidas de isolamento com a China, em consequência do alto grau de
interdependência entre esses Estados.
58
Portanto, para defender seus interesses na região, a administração Obama
lançou a política do pivot para Ásia, conhecido também como o reequilíbrio
estratégico norte-americano para a região. A estratégia utililzada em sua agenda foi
forward-deployed, que pretende reforçar suas alianças bilaterais e multilaterais, no
âmbito de segurança e economia, trabalhar alianças com países emergentes,
destacando a China. Além de buscar expansão comercial e investimento, presença
militar e exportação de valores intrínsecos a identidade estadunidense.
O motivo dessa forte marcação estadunidense nessa área, se deve a sua
importância. É a mais populosa do mundo, tem uma zona econômica que cresce
rapidamente, e é a maior fonte de importações e o segundo maior em exportações
para os Estados Unidos da América. Por isso, foi determinado pela administração
Obama que esse é o “século da América no Pacífico”, pois, os EUA voltou para Ásia
para ficar.
Sendo essa região um dos principais impulsionadores de política e economia
global, os norte-americanos precisam dar maior atenção para essa área. Como
exemplo, o Mar do Sul da China transporta 15% do volume total do comércio
mundial, como visto no segundo capítulo. Isso justifica a insistência no discurso de
Barack Obama para que as normas internacionais sobre as disputas territoriais
nesse mar sejam respeitadas, pois, a China reivindica todas as ilhas que lá estão.
Na tentativa de conter a agressividade chinesa, o governo Obama entendeu
que é mais vantajoso que ocorra cooperação, devido a interdependência de ambas
economias. Portanto, pretende reforçar os laços de cooperação e simultaneamente
estabelecer uma forte presença dos norte-americana pela Ásia para encorajar um
comportamento mais responsável por parte da China.
Apesar de possivelmente ocorrer constrangimento chinês por parte dos EUA,
é necessário priorizar o trabalho conjunto e um relacionamento construtivo, pois, a
China é potência regional, e sua importância vai além dos países de sua região. Os
arranjos de segurança coletiva estenderam-se ao reforço do relacionamento
estadunidense com a ASEAN. Para concretizar seus discursos, os quais enfatizou o
Mar do Sul da China, os EUA assinaram o Tratado de Amizade e Cooperação com a
ASEAN em 2009.
Portanto, é possível concluir que Barack Obama apresenta
comprometimento com a Ásia-Pacífico, de maneira a projetar-se como o parceiro
mais adequado para ajudar no desenvolvimento da região. Reforçou a ideia do
59
futuro norte-americano construído em conjunto com a Ásia, sendo essa região
estratégia e propícia para defender seus valores e interesses.
Percebe-se também, que a Associação das Nações do Sudeste Asiático é um
dos instrumentos principais utilizados pelos estadunidenses para aumentar a
pressão e até mesmo constranger atores sobre determinados assuntos de seu
interesse. Tudo isso ocorre para que sua liderença na região seja intensificada, por
isso, a necessidade de fortalecer as relações diplomáticas, econômicas e de
segurança, com os países banhados pelo Pacífico. Para que sua presença na região
passe a seja essencial, e mais requisitada que a presença chinesa.
Sendo assim, esse trabalho respondeu sua pergunta inicial, a partir de um
levantamento histórico desde o pós-Guerra Fria até o governo de Barack Obama,
para melhor compreensão da reação estadunidense as alterações de conjuntura na
região estratégica da Ásia-Pacífico e como se deu o processo de volta a essa
região. Foi entendido que apesar de um breve distanciamento estadunidense do
continente asiático e o rápido desenvolvimento chinês, com fortes medidas
expansionistas, os EUA decidiram reforçar seus interesses com os países banhados
pelo Pacífico.
A postura norte-americana é de evitar conflitos, apesar da distribuição militar
na região, porém mantendo-se firme, deixando claro que é capaz de se defender,
assim como, defender esses países. Portanto, percebe-se que os Estados Unidos
da América pretendem comprovar para a Ásia-Pacífico que são o parceiro ideal,
para que dessa forma, consiga fortalecer ainda mais sua liderança na região.
60
REFERÊNCIAS AMARAL, G.; MATTOS, T. A parceria Trans-Pacífico como uma estratégia de contenção da China. Revista Aurora , v. 7, p.111-134, 2013. Disponível em: <http://www2.marilia.unesp.br/revistas/index.php/aurora/article/view/3399/2721>. Acesso em: 06 nov. 2015. ASIA-PACIFIC ECONOMIC COOPERATION. Achievements and benefits . Disponível em: <http://www.apec.org/About-Us/About-APEC/Achievements%20and%20Benefits.aspx>. Acesso em: 28 ago. 2015. ______. History . Disponível em: <http://www.apec.org/About-Us/About-APEC/History.aspx>. Acesso em: 28 ago. 2015. ASSOCIATION OF SOUTHEAST ASIAN NATIONS. ASEAN Free Trade Area (AFTA Council): The ASEAN Free Trade Area (AFTA) . Disponível em: <http://www.asean.org/communities/asean-economic-community/category/asean-free-trade-area-afta-council>. Acesso em: 29 ago. 2015. ______. The founding of ASEAN . Disponível em: <http://www.asean.org/news/item/the-founding-of-asean>. Acesso em: 26 ago. 2015. BARBOSA, R. Os Estados Unidos pós 11 de setembro de 2001: implicações para a ordem mundial e para o Brasil. Revista Brasileira de Política Internacional, [s.l.], v. 45, n. 1, p.72-91, 2002. FapUNIFESP (SciELO). Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0034-73292002000100003&script=sci_arttext>. Acesso em: 11 set. 2015. BECARD, D.; CASTRO, A. As relações China-ASEAN e a construção da liderança sub-regional chinesa: economia e diplomacia (1997-2010). Carta Internacional, v. 8, n. 1, p.22-47, 2013. Disponível em: <http://www.cartainternacional.abri.org.br/index.php/Carta/article/view/68/54>. Acesso em: 28 ago. 2015. BIJIAN, Z. The international and external environments of China's development over the next five years. Institute Of Policy Studies , p.323-337, 2007. Disponível em: <https://openknowledge.worldbank.org/bitstream/handle/10986/6627/385380EAP0Visions01OFFICIAL0USE0ONLY1.pdf?sequence=1&isAllowed=y>. Acesso em: 26 out. 2015. BOBBIO, N.; MATTEUCI, N.; PASQUINO, G. Dicionário de política . 11. ed. Brasília: UNB, 1998. BUZAN, B. As implicações do 11 de Setembro para o estudo das Relações Internacionais. Contexto Internacional, Rio de Janeiro, v. 24, 2002. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0102-85292002000200001&script=sci_arttext>. Acesso em: 11 set. 2015.
61
BUZAN, B.; WÆVER, O.; WILDE, J. Security: a new framework for analysis . 1998. CAMPBELL, K.; ANDREWS, B. Explaining the US ‘Pivot’ to Asia. Chatham House, p.2-9, 2013. Disponível em: <https://www.chathamhouse.org/sites/files/chathamhouse/public/Research/Americas/0813pp_pivottoasia.pdf>. Acesso em: 06 nov. 2015. CARLSNAES, W. The agency-structure problem in Foreign Policy analysis. The International Studies Associationstable, v. 36, n. 3, p.245-270, set. 1992. Disponível em: <http://www.jstor.org/stable/2600772>. Acesso em: 02 nov. 2015. CARVALHO, C.; CATERMOL, F. As relações econômicas entre China e EUA: resgate histórico e implicações. Revista do BNDES , v. 16, n. 31, p.215-252, jun. 2009. Disponível em: <www.bndespar.gov.br/SiteBNDES/export/.../bndes.../revista/rev3108.pdf>. Acesso em: 30 out. 2015. CHOMSKY, N. A nova guerra contra o terror. Estudos Avançados, [s.l.], v. 16, n. 44, p.5-33, 2002. FapUNIFESP (SciELO). Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-40142002000100002&lng=en>. Acesso em: 03 set. 2015. CHRISTENSEN, T. Fostering stability or creating a monster? The rise of China and U.S. Policy toward East Asia. International Security , v. 31, n. 1, p.81-126, 2006. Disponível em: <http://muse.jhu.edu/journals/ins/summary/v031/31.1christensen.html>. Acesso em: 22 out. 2015. CLINTON, H. America's Pacific century. Us Department Of State, 10 nov. 2011. Disponível em: <http://www.state.gov/secretary/20092013clinton/rm/2011/11/176999.htm>. Acesso em: 04 nov. 2015. ______. America’s Pacific century. Foreign Policy, 11 out. 2011. Disponível em: <http://foreignpolicy.com/2011/10/11/americas-pacific-century/>. Acesso em: 04 nov. 2015. CONGRESSIONAL RESEARCH SERVICE. Pivot to the Pacific? The Obama administration’s “rebalancing” toward Asia . 28 mar. 2012. Disponível em: <https://www.fas.org/sgp/crs/natsec/R42448.pdf>. Acesso em: 03 nov. 2015. CRUZ, C. Prioridades para a defesa dos EUA no século 21. Política Externa , 11 mar. 2012. Disponível em: <http://politicaexterna.com.br/373/prioridades-defesa-eua-seculo-21/>. Acesso em: 31 out. 2015. CUNHA, A. A ascensão da China à condição de potência econômica: há algo de novo no "modelo asiático"? Encontro Nacional de Economia Política , João Pessoa, maio 2008. Disponível em: <http://www.lume.ufrgs.br/handle/10183/30326>. Acesso em: 27 out. 2015.
62
______. Iniciativa de Chiang Mai: integração financeira e monetária no Pacífico asiático. Revista de Economia Contemporânea, Rio de Janeiro, v. 8, n. 1, p.211-245, 2004. Disponível em: <http://www.lume.ufrgs.br/handle/10183/23158?locale=pt_BR>. Acesso em: 26 ago. 2015. DENG, Y. China: The post-responsible power. The Washington Quarterly, [s.l.], v. 37, n. 4, p.117-132, 2 out. 2014. Informa UK Limited. Disponível em: <http://www.tandfonline.com/doi/abs/10.1080/0163660X.2014.1002159>. Acesso em: 06 out. 2015. DONNELLY, J. Realism and International Relations . 2000. Disponível em: <http://catdir.loc.gov/catdir/samples/cam032/99053676.pdf>. Acesso em: 02 nov. 2015. DUQING, C. Política exterior da China. Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo, 08 ago. 1990. Disponível em: <http://www.iea.usp.br/publicacoes/textos/duqingpoliticaexteriorchina.pdf>. Acesso em: 23 ago. 2015. ECKERT, P. Clinton declares "America's Pacific century". Reuters , 11 nov. 11. Disponível em: <http://www.reuters.com/article/2011/11/11/us-apec-usa-clinton-f-idUSTRE7AA2S120111111#z8EEGFKYwj5s9YIQ.97>. Acesso em: 01 nov. 2015. ERICKSON, A.; COLLINS, G. China's real blue water navy. The Diplomat , 30 ago. 2012. Disponível em: <http://thediplomat.com/2012/08/chinas-not-so-scary-navy/>. Acesso em: 28 out. 2015. ESTADÃO. Guerra do Vietnã: conflito entre o Vietnã do Sul, a poiado pelos Estados Unidos, e o Vietnã do Norte (1995-1975). Disponível em: <http://acervo.estadao.com.br/noticias/topicos,guerra-do-vietna,879,0.htm>. Acesso em: 23 set. 2015. EURONEWS. As disputas no Mar da China Meridional vão desaguar numa guerra? Euronews , 26 maio 2015. Disponível em: <http://pt.euronews.com/2015/05/26/as-disputas-no-mar-da-china-meridional-vao-desaguar-numa-guerra/>. Acesso em: 02 nov. 2015. FARLEY, R. What scares China's military: The 1991 Gulf War. The National Interest , 24 nov. 2014. Disponível em: <http://nationalinterest.org/feature/what-scares-chinas-military-the-1991-gulf-war-11724>. Acesso em: 02 nov. 2015. FILHO, S. A China rumo ao Século XXI (transformações do desenvolvimento). Indicadores Econômicos, p.210-220, 2000. Disponível em: <http://revistas.fee.tche.br/index.php/indicadores/article/view/1020/1330>. Acesso em: 13 set. 2015.
63
FLORES, J; ABAD; J. History: the founding of ASEAN . 1997. Disponível em: <http://www.asean.org/asean/about-asean/history>. Acesso em: 26 ago. 2015. FOLHA DE SÃO PAULO. Pequim convoca embaixador dos EUA após navio cruzar águas sob disputa . 2015. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/mundo/2015/10/1699019-barco-militar-dos-eua-navega-em-aguas-sob-disputa-irritando-pequim.shtml>. Acesso em: 27 out. 2015. FUJII, W. A geopolítica dos mares chineses: Considerações sobre as disputas nos mares da China Meridional e da China Oriental. Boletim Mundorama. 28 dez. 2014. Disponível em: <http://mundorama.net/2014/12/28/a-geopolitica-dos-mares-chineses-consideracoes-sobre-as-disputas-nos-mares-da-china-meridional-e-da-china-oriental-por-william-fujii/>. Acesso em: 01 nov. 2015. GASPAR, C. Conflitos, convergências e crises. Nação e Defesa, n. 134, 2013. Disponível em: <http://comum.rcaap.pt/handle/123456789/9660>. Acesso em: 24 set. 2015. GLOBAL SECURITY. Taiwan Strait area . Disponível em: <http://www.globalsecurity.org/taiwan%20strait%20area>. Acesso em: 31 out. 2015. GORDON, B. The Trans-Pacific Partnership and the rise of China. Foreign Affairs , 07 nov. 2011. Disponível em: <https://www.foreignaffairs.com/articles/united-states/2011-11-07/trans-pacific-partnership-and-rise-china>. Acesso em: 05 nov. 2015. GOODMAN, M.; PARKER, D. Navigating choppy waters: China’s economic decisionmaking at a time of transition. Center For Strategic & International Studies, mar. 2015. Disponível em: <http://csis.org/publication/navigating-choppy-waters>. Acesso em: 23 out. 2015. GUIMARÃES, C. A política externa dos Estados Unidos: da primazia ao extremismo. Estudos Avançados , [s.l.], v. 16, n. 46, p.53-67, 2002. FapUNIFESP (SciELO). Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0103-40142002000300005&script=sci_arttext>. Acesso em: 29 ago. 2015. HERBERT, A. Cooperation in International Relations: a comparison of Keohane, Haas and Franck. Berkeley Journal Of International Law, v. 14, 1996. Disponível em: <http://scholarship.law.berkeley.edu/cgi/viewcontent.cgi?article=1147&context=bjil>. Acesso em: 08 nov. 2015. HERZ, M. Análise Cognitiva e Política Externa. Contexto Internacional, Rio de Janeiro, v. 16, n. 1, p.75-89, 1994. Disponível em: <http://docslide.com.br/documents/7260153-herz-analise-cognitiva-e-politica-externa.html>. Acesso em: 28 out. 2015. ______. Teoria das Relações Internacionais no pós-Guerra Fria. Dados, [s.l.], v. 40, n. 2, p.9-0, 1997. FapUNIFESP (SciELO). Disponível em:
64
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0011-52581997000200006>. Acesso em: 26 out. 2015. IKENBERRY, G. The rise of China and the future of the West: can the liberal system survive? Foreign Affairs , v. 87, n. 1, p.23-37, 2008. Disponível em: <https://www.foreignaffairs.com/articles/asia/2008-01-01/rise-china-and-future-west>. Acesso em: 31 out. 2015. JÚNIOR, A. A questão de Taiwan: suas implicações políticas e militares para as relações entre Estados Unidos - Taiwan - China (1991-2004). Porto Alegre, 2006. Disponível em: <http://www.lume.ufrgs.br/handle/10183/10768?locale=en>. Acesso em: 29 out. 2015. KEOHANE, R. After Hegemony: cooperation and discord in the worl d political economy . 1994. ______. International institutions: two approaches. International Studies Association, v. 32, n. 4, p.379-396, 1988. Disponível em: <http://www.jstor.org/stable/2600589?origin=JSTOR-pdf>. Acesso em: 08 nov. 2015. KHOMAN, T. ASEAN conception and evolution . 1992. Disponível em: <http://www.asean.org/news/item/asean-conception-and-evolution-by-thanat-khoman>. Acesso em: 26 ago. 2015. KISSINGER, H. Sobre a China . Rio de Janeiro: Objetiva, 2011; p. 206-273. KLEFF, M. 1968: Negociações de paz para o Vietnã. Deutsche Welle , 2013. Disponível em: <http://www.dw.com/pt/1968-negociações-de-paz-para-o-vietnã/a-324942>. Acesso em: 09 nov. 2015. KRISTOF, N. The rise of China. Foreign Affairs , 1993. Disponível em: <https://www.foreignaffairs.com/articles/asia/1993-12-01/rise-china>. Acesso em: 22 out. 2015. LAKATOS, E.; MARCONI, M. Metodologia científica . 7ª ed. São Paulo: Atlas, 2010. LEAL, C. A Integração na Ásia-Pacífico: o Papel da ASEAN e os objectivos da China. Negócios Estrangeiros , 10 fev. 2007. Disponível em: <http://ftp.infoeuropa.eurocid.pt/files/database/000038001-000039000/000038265.pdf>. Acesso em: 01 set. 2015. LEE, C. Maritime confidence building measures across the Taiwan Strait: technical collaboration for human security at sea. 2003. Disponível em: <http://www.sandia.gov/cooperative-monitoring-center/_assets/documents/sand2003-0753.pdf>. Acesso em: 25 out. 2015. LIEBERTHAL, K. The american pivot to Asia. Foreign Policy , 21 dez. 2011. Disponível em: <http://foreignpolicy.com/2011/12/21/the-american-pivot-to-asia/>. Acesso em: 04 nov. 2015.
65
LIMA, B. O 11 de setembro e os clichés transatlânticos. Relações Internacionais, Lisboa, n. 31, set. 2011. Disponível em: <http://www.scielo.mec.pt/scielo.php?pid=S1645-91992011000300005&script=sci_arttext>. Acesso em: 12 set. 2015. LINS, H. China: uma maré montante. Atualidade Econômica. p.17-23, 2003. Disponível em: <http://cnm.ufsc.br/files/2013/09/boletim-45.pdf>. Acesso em: 25 out. 2015. LOBO, C. A República Popular da China e a trajetória das sua s Forças Armadas . 2009. Disponível em: <http://www.pucsp.br/geap/artigos/art3.PDF>. Acesso em: 28 out. 2015. MEDEIROS, C. A economia política da crise e da mudança estrutura l na Ásia . Economia e Sociedade, Campinas, v. 17, p.33-54, dez. 2001. Disponível em: <http://www.eco.unicamp.br/docprod/downarq.php?id=528&tp=a>. Acesso em: 02 set. 2015. ______. China: desenvolvimento econômico e ascensão internacional . Disponível em: <http://www.cebri.com.br/midia/documentos/10.pdf>. Acesso em: 02 set. 2015. MENDES, C. Política externa chinesa: um jogo em vários tabuleiros. In: YANJIU, Zhongguo et al. Revista de Estudos Chineses , 2008. p. 231-240. MENEZES, A; FILHO, P. Integração Regional: Os blocos econômicos nas Relações Internacionais . São Paulo: Elsevier Editora Ltda., 2006. MINGHAO, Z. A “Marcha para o Oeste” e uma nova perspectiva sobre a grande estratégia da China. Política Externa , 04 ago. 2014. Disponível em: <http://politicaexterna.com.br/2459/marcha-para-o-oeste-e-uma-nova-perspectiva-sobre-grande-estrategia-da-china/>. Acesso em: 29 ago. 2015. MINISTRY OF NATIONAL DEFENSE THE PEOPLE'S REPUBLIC OF DEFENSE POLICY. Defense Policy . Disponível em: <http://eng.mod.gov.cn/Database/DefensePolicy/index.htm>. Acesso em: 21 out. 2015. MINZER, C. The Rise of China and the interests of the United States. The Ripon Society, v. 41, n. 2, 2007. Disponível em: <http://www.riponsociety.org/article/the-rise-of-china-and-the-interests-of-the-united-states/>. Acesso em: 25 set. 2015. MORGENTHAU, H. Politics among nations: the struggle for power and peace . 1948. Disponível em: <http://sca.district70.org/ourpages/auto/2014/4/24/50263602/Morgenthau_Politics Among Nations.pdf>. Acesso em: 24 out. 2015. MOÏSE, E. The first Indochina War . 1998. Disponível em: <http://edmoise.sites.clemson.edu/viet3.html>. Acesso em: 09 nov. 2015.
66
MURAKI JR, W. 08/08/08: a política externa chinesa num momento de "paz e guerra". Meridiano 47 , set. 2008, p28.Disponível em: <http://periodicos.unb.br/index.php/MED/article/download/888/554>. Acesso em: 22 out. 2015. NAKAMURA, D.; WAN, W. Obama heads to Asia with sharp focus on China’s growing power. The Washington Post , 11 nov. 2011. Disponível em: <https://www.washingtonpost.com/world/asia_pacific/obama-heads-to-asia-with-sharp-focus-on-chinas-growing-power/2011/11/10/gIQAOsQkBN_story.html>. Acesso em: 03 nov. 2015. NINOMIYA, M.; TANAKA, A. Os desafios geopolíticos da Ásia no século XXI: Japão, China e Coreia. Política Externa , 08 jun. 2015. Disponível em: <http://politicaexterna.com.br/2720/os-desafios-geopoliticos-da-asia-seculo-xxi-japao-china-e-coreia/>. Acesso em: 03 set. 2015. OBAMA, B. Remarks by president Obama and prime minister abe o f Japan in joint press conference . 28 abr. 2015. Disponível em: <https://www.whitehouse.gov/the-press-office/2015/04/28/remarks-president-obama-and-prime-minister-abe-japan-joint-press-confere>. Acesso em: 06 nov. 2015. ______. Remarks by President Obama at the University of Que ensland . 15 nov. 2014. Disponível em: <https://www.whitehouse.gov/the-press-office/2014/11/15/remarks-president-obama-university-queensland>. Acesso em: 04 nov. 2015. ______. Remarks by President Obama to the Australian Parlia ment . 17 nov. 2011. Disponível em: <https://www.whitehouse.gov/the-press-office/2011/11/17/remarks-president-obama-australian-parliament>. Acesso em: 06 nov. 2015. ______. U.S.-Japan joint vision statement . 28 abr. 2015. Disponível em: <https://www.whitehouse.gov/the-press-office/2015/04/28/us-japan-joint-vision-statement>. Acesso em: 07 nov. 2015. OLIVEIRA, A. A reorientação estratégica dos EUA para a Ásia-Pacífico. Política Externa , v.21, n.4, jun/2013; p. 56-143. O'ROURKE, R. China naval modernization: implications for U.S. navy capabilities—background and issues for congress. Congressional Research Service, 21 set. 2015. Disponível em: <https://www.fas.org/sgp/crs/row/RL33153.pdf>. Acesso em: 08 out. 2015. PAUTASSO, D. Os desdobramentos internacionais do desenvolvimento e da demanda por petróleo na china. Meridiano 47, n. 109, p.23-25, ago. 2009. Disponível em: <http://periodicos.unb.br/index.php/MED/article/view/542>. Acesso em: 22 out. 2015. PEREIRA, R. A questão do Mar do Sul da China no contexto das relações entre a China e os países da ASEAN. Instituto da Defesa Nacional, n. 109, p.97-122,
67
2004. Disponível em: <http://comum.rcaap.pt/handle/123456789/1350>. Acesso em: 27 out. 2015. PINTO, P. China: a ascensão pacífica da Ásia Oriental. Revista Brasileira de Política Internacional, [s.l.], v. 48, n. 2, p.70-85, 2005. FapUNIFESP (SciELO). Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034-73292005000200004>. Acesso em: 17 ago. 2015. ______. Taiwan: um futuro formoso para a Ilha? Aspectos de segurança e política. Revista Brasileira de Política Internacional, [s.l.], v. 47, n. 2, p.59-99, 2004. FapUNIFESP (SciELO). Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034-73292004000200003&lang=pt>. Acesso em: 25 out. 2015. QUEIROZ, F.; CARDOSO, T. The legitimacy of war under the perspective of the speech-act: theory the cases of the First and Second Gulf Wars (1991/2003) in a Comparative Analysis. Journal of Politics and Law , v. 8, n. 2 (2015), p.58. QUEIROZ, F. Hidropolítica e segurança : as bacias platina e amazônica em perspectiva comparada. Brasília: Fundação Alexandre Gusmão, 2012. Disponível em: <funag.gov.br/loja/download/932-HidropolItica_e_Seguranca.pdf>. Acesso em: 26 set. 2015. RAJARATNAM, S. ASEAN the way ahead . 1992. Disponível em: <http://www.asean.org/news/item/asean-the-way-ahead-by-s-rajaratnam>. Acesso em: 26 ago. 2015. REIS, B. Os Estados Unidos e Osama bin Laden uma década depois a derrota da Al-Qaida e o fim da unipolaridade? Relações Internacionais, Lisboa, n. 31, set. 2011. Disponível em: <http://www.scielo.gpeari.mctes.pt/scielo.php?pid=S1645-91992011000300003&script=sci_arttext>. Acesso em: 12 set. 2015. RIBEIRO, V. A China e a economia mundial: uma abordagem sobre a ascensão chinesa na segunda metade do século XX . Florianópolis, 2008. Disponível em: <https://repositorio.ufsc.br/bitstream/handle/123456789/91791/259763.pdf?sequence=1&isAllowed=y>. Acesso em: 15 out. 2015. RICHBURG, K. U.S. pivot to Asia makes China nervous. The Washington Post , 16 nov. 2011. Disponível em: <https://www.washingtonpost.com/world/asia_pacific/us-pivot-to-asia-makes-china-nervous/2011/11/15/gIQAsQpVRN_story.html>. Acesso em: 03 nov. 2015. ROEDEL, C. Água conflituosas, águas perigosas: a disputa sino-americana no Mar Do Sul do China. Porto Alegre, 2012. Disponível em: <http://www.lume.ufrgs.br/handle/10183/67475>. Acesso em: 25 out. 2015. SARFATI, G. Teoria das Relações Internacionais . São Paulo: Saraiva, 2005; p. 143-154.
68
SECRETARIA DA ESTRATÉGIA INTERNACIONAL PARA REDUÇÃO DE DESASTRES (EIRD). Glossário da estratégia internacional para redução de desastres (EIRD). 2004. Disponível em: <http://www.smad.rs.gov.br/downloads/documentos/ONU-UNISDR - Glossario EIRD Estrategia Internac Reducao Desastres.pdf>. Acesso em: 06 nov. 2015. SENHORAS, E; FERREIRA, R. A Guerra da Coréia vista após sessenta anos de Armistício (1953-2013). Conjuntura Global, Curitiba, v. 2, n. 3, p.133-139, 2013. Disponível em: <http://www.humanas.ufpr.br/portal/conjunturaglobal/files/2013/04/A-Guerra-da-Coréia-vista-após-sessenta-anos-de-Armistício-1953-2013.pdf>. Acesso em: 27 set. 2015. SILVA, A. Idéias e política externa: a atuação brasileira na Liga das Nações e na ONU. Revista Brasileira de Política Internacional, [s.l.], v. 41, n. 2, p.139-158, 1998. FapUNIFESP (SciELO). Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034-73291998000200008>. Acesso em: 09 nov. 2015. SOUSA, F. Dicionário de Relações Internacionais, p.34, jun. 2005. Disponível em: <http://pt.scribd.com/doc/113280886/Dicionario-de-Relacoes-Internacionais#scribd>. Acesso em: 31 out. 2015. TANNO, G. A contribuição da escola de Copenhague aos estudos de segurança internacional. Contexto Internacional, [s.l.], v. 25, n. 1, p.47-80, 2003. FapUNIFESP (SciELO). Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-85292003000100002>. Acesso em: 28 ago. 2015. TAYLOR, L. G20: Barack Obama uses visit to reassert US influence in Asia Pacific. The Guardian , 15 nov. 2014. Disponível em: <http://www.theguardian.com/world/2014/nov/15/g20-barack-obama-uses-visit-to-reassert-us-influence-in-asia-pacific>. Acesso em: 03 nov. 2015. TISDALL, S. China escalates islands dispute with Japan. The Guardian , 25 nov. 2013. Disponível em: <http://www.theguardian.com/world/2013/nov/24/us-warns-beijiing-island-dispute-senkanus>. Acesso em: 02 nov. 2015. TOMÉ, L. A arquitetura de segurança na Ásia-Pacífico. Nação e Defesa , n. 134, p.21-42, 2013. Disponível em: <http://www.idn.gov.pt/index.php?mod=1321&cod=137#sthash.ilCKDzXz.dpbs>. Acesso em: 28 out. 2015. VISENTINI, P. A novíssima China e o Sistema Internacional. Rev. Sociol. Polit., [s.l.], v. 19, p.131-141, 2011. FapUNIFESP (SciELO). Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-44782011000400009>. Acesso em: 14 set. 2015. WALTZ, K. Theory of international politics . 1979. Disponível em: <https://www.press.umich.edu/pdf/9780472099818-ch1.pdf>. Acesso em: 05 nov. 2015.
69
WHITE HOUSE. The Trans-Pacific Partnership: what you need to kno w about President Obama’s Trade Agreement. 2011. Disponível em: <https://www.whitehouse.gov/issues/economy/trade>. Acesso em: 06 nov. 2015. ______. What you need to know about the Trans-Pacific Partn ership . 18 fev. 2015. Disponível em: <https://www.whitehouse.gov/share/what-you-need-know-about-trans-pacific-partnership>. Acesso em: 07 nov. 2015. ZHAO, S. Construindo um novo modelo de relações entre grandes potências e a concorrência entre China e EUA na Ásia-Pacífico. Política Externa , nov/2014. Disponível em: <http://politicaexterna.com.br/2601/construindo-um-novo-modelo-de-relacoes-entre-grandes-potencias-e-concorrencia-entre-china-e-eua-na-asia-pacifico/>. Acesso em: 16 ago. 2015.
Recommended