PREPARO E CONSERVAÇÃO DO SOLO, CALAGEM E PLANTIO · 2019. 4. 28. · etapa de aração, feita,em...

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PREPARO ECONSERVAÇÃODO SOLO, CALAGEME PLANTIO

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PREPARO DO SOLO

o melão (Cucumis me/o L.) pode sercultivado em diferentes tipos de solos,entretanto aqueles que apresentam boaaeração são os mais recomendados. Osolo deve ser preparado de forma a per-mitir boa drenagem e bom desenvolvi-mento radicular. O número de opera-ções de aração, gradagem e nivelamentodependerá de cada tipo de solo.

Antes de iniciar as operações depreparo deve-se providenciar a análisedo solo para determinar a necessidade decalagem e adubação.

O preparo inicial do solo em áreasnão utilizadas anteriormente com estafinalidade inclui a limpeza da área, pordesmatamento, que poderá ser manualou mecanizado, tendo-se o cuidado deevitar a retirada da camada superficialdo solo, rica em matéria orgânica.

Depois da limpeza da área, inicia-se aetapa de aração, feita, em geral, com aradode disco ou aiveca, a uma profundidade de20 a 40 cm, com o objetivo de revolver acamada superficial do solo, incorporar omaterial orgânico existente na superfície,visando à melhoria das suas condiçõesfísicas. Em áreas já cultivadas, com exis-tência de ervas daninhas ou restos de cul-turas, a aração deve ser precedida de uma

Melão Produção

José Barbosa dos AnjosPaulo Roberto Coelho LopesClementino Marcos B, Pan'a

Nivaldo Duarte Costa

passada de roçadeira ou grade de discospara facilitar a sua incorporação ao solo,

Em solos que apresentam camadascompactadas e/ou que sejam adensados,recomenda-se realizar uma subsolagem aprofundidade superior às referidas cama-das endurecidas, com o objetivo de per-mitir maior aprofundamento das raízes,além de permitir maior infiltração e ar-mazenamento de água. A subsolagemdeverá ser efetuada com o solo seco, a fimde propiciar maior rompimento da ca-mada endurecida, Em solo úmido, essaprática apresenta baixa eficiência.

Para complementar a aração, costu-ma-se gradear a área a fim de reduzir otamanho dos torrões existentes e nivelar asuperfície do terreno facilitando as opera-ções subseqüentes e a implantação da cul-tura. Em muitas regiões, costuma-se usar agrade pesada ou aradora para a implanta-ção da cultura do melão. No entanto, estanão substitui satisfatoriamente a araçãoefetuada com arado de disco ou de aiveca.

O preparo das linhas de plantio de-pende do sistema de irrigação a ser utiliza-do no cultivo. No caso de sistema deirrigação por sulcos, realiza-se o sulca-mento da área no espaçamento desejado,seguido da marcação e abertura das covase adubação de fundação. Para outros sis-temas de irrigação, faz-se a marcação das

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linhas no espaçamento desejado, segui-da da adubação de fundação nas faixas deplantio. Os adubos e corretivos podemser aplicados e incorporados manual-mente, com tração animal ou por meiode equipamentos motomecanizados.

CONSERVAÇÃO DO SOLO

Para o cultivo de melão, deve-se esco-lher áreas planas com declividade nãosuperior a 2%, de forma que as operaçõesde preparo sejam realizadas com base emcritérios conservacionistas. É preciso termuito cuidado no que diz respeito aosistema de irrigação por sulcos, de modoque não venha a causar erosão.

Por ser o melão uma cultura anual deciclo curto, as áreas cultivadas são mecani-zadas intensivamente, necessitando de cui- ~dados especiais quanto às operações de &preparo do solo. As práticas conservacio- ~nistas mais recomendadas no cultivo do o

melão são as que reduzem o risco de degra- !dação das características físicas do solo.O preparo do solo com teor de umidadeelevado aumenta o risco de compactação edificulta a infiltração da água no solo.Já o preparo do solo quando muito seco,resulta na formação de torrões grandes nasuperfície, que, para serem desfeitos, neces-sitam de maior número de gradagens, o quecausa a degradação da estrutura, a pulveri-zação do solo, a formação de crosta super-ficial, tomando-o, conseqüentemente, su-jeito à erosão.

O uso de implementos com dife-rentes tipos de corte (arado de disco e deaiveca) a diferentes profundidades é fun-damental na redução de riscos de forma-ção de camadas endurecidas no perfil, oque poderá reduzir a taxa de infiltraçãoda água no solo e aumentar os riscos desalinização.

Outra prática conservacionista re-comendável para o cultivo do melão é amanutenção de resíduos vegetais ou co-bertura morta sobre a superfície do solo,a qual tem a capacidade de evitar a forma-ção de crosta superficial, reduzir o es-

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coamento superficial da água e, conse-qüentemente, a erosão, aumentar a dis-ponibilidade de água no solo, e reduzira temperatura do solo, proporcionandocondições adequadas ao desenvolvimen-to do sistema radicular. Nesse caso, aenxada rotativa múltipla é o equipa-mento mais recomendado, pois, em umasó operação pode se preparar a linha deplantio, incorporar adubos, corretivose abrir sulcos, se o sistema de irrigaçãoadotado for por sulcos (Fig.1).

Fig.l. Conjunto de enxada rotativamúltipla acoplada com sulcador deabertura regulãvel.

CALAGEM

A calagem é processo que visacorrigir a acidez do solo, a fim de preve-nir os efeitos tóxicos, principalmentedo alumínio, ao desenvolvimento domeloeiro, sendo conhecida por meio daanálise de solo. O solo é consideradoácido quando contém íons de hidrogê-nio (H+) solúveis. Esses íons são avalia-dos pela determinação do pH, que édefinido pela fórmula: pH=log 1/H+,cujos valores variam de zero a quatorze.Quanto maior for a concentração dosíons H+, menor será o pH. Um valor depH igual a 7 é considerado neutro. Valo-res abaixo de 7 são ácidos e acima de 7,são básicos. Em solos, podem ser encon-trados valores de 3 a 9. Segundo Filguei-ra (2000), o pH ideal para a cultura domelão situa-se entre 6,4 a 7,2.

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o alumínio (AI) também age comoum elemento acidificante, ativando oíon H+, e é o principal fator responsávelpelos efeitos desfavoráveis da acidez dosolo sobre os vegetais, inibindo o crescimen-to das raízes e o desenvolvimento de todaplanta. Em condições de acidez elevada dossolos, outros elementos, como o manganêse o ferro, tomam-se muito solúveis, poden-do, também, ser tóxicos quando absorvidosem grande quantidade pelas plantas.

O corretivo mais comumente utili-zado na calagem é o calcário, que temcomposição química de um carbonatoduplo de cálcio e magnésio, representa-do pela fórmula CaMg (CO:Jz. Confor-me os teores de magnésio, os calcáriossão classificados em calcítico, quandocontêm menos que 5% de MgO (óxidode magnésio), calcário magnesiano, de5% a 12% de MgO, e calcário dolomítico,mais que 12% de MgO (Comissão deFertilidade do Solo do Estado de MinasGerais, 1999). Em qualquer um dessescalcários, o conteúdo de CaO (óxido decálcio) é sempre superior ao de MgO.

Além da composição química docalcário, o tamanho de suas partículas,conhecido como granulometria, é ou-tra característica que deve ser levada emconsideração na qualidade do corretivo.Quanto mais fina for a granulometria,menos demorada é a reação do calcáriocom o solo. Conhecendo-se os valoresda composição química e da granulome-tria, obtém-se o poder relativo de neu-tralização total - PRNT -, cujos valoressão expressos em percentagem e quedefinem a qualidade final do calcário. Ocalcário de boa qualidade deve possuirum PRNT igualou superior a 80%.

A reação química que se processano solo, com a aplicação do calcáriopara corngll: a acidez, é ilustrada a se-gUlr:

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Observa-se que o calcário, depoisde solubilizar-se com a água (HzO) con-tida no solo, libera os íons de Ca+eMg+que vão deslocar os de Al"e H quese encontravam adsorvidos nas partícu-las do solo, em forma ativa, para formaro hidróxido de alumínio, AI (OH)3' pre-cipitando-se em forma neutra (não ati-va), com formação do gás carbônico(CO), que é eliminado para atmosfera.

Além da correção da acidez, muitasvezes, a calagem tem o objetivo de forne-cer os nutrientes cálcio e magnésio, quan-do os teores deles são baixos no solo.A calagem também aumenta a disponibi-lidade do fósforo e molibdênio, tem efei-to na microflora do solo, inclusive nasbactérias fixadoras de nitrogênio, favore-ce a melhoria nas propriedades físicas dosolo, tornando-o mais poroso, e promo-ve maior desenvolvimento radicular dasplantas, ampliando sua capacidade emobter água e nutrientes do solo (Raij,1991).

Como efeito desfavorável, a cala-gem diminui a disponibilidade dos nu-trientes potássio, ferro, zinco, manga-nês, boro e cobre. Quando em excesso,a calagem diminui a disponibilidade,também, do fósforo. Contudo, os efei-tos positivos são muito superiores aosefeitos negativos quando a calagem éfeita fundamentada em critérios técni-co-científicos.

A necessidade de calagem - NC - queexprime a quantidade de corretivo emt/ha necessária para neutralizar a acidezdo solo é determinada pelo uso das fór-mulas apresentadas a seguir:

Os valores de Ca, Mg e T sãoexpressos em cmolj dm ' e os de V em%, obtidos na análise de solo. Os doPRNT são fornecidos pela análise docalcário, que, geralmente, está impres-sa na embalagem do produto.

E]AI

H+ AI(OH)3 + 2C02

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Métodos para o cálculo da necessidade de calcário (NC)

Com base nos teores de cálcio e magnésio:

100NC= [3 - (Ca+Mg)]x--

PRNT

Com base na saturação de bases (V):

T(V2-V,)NC=

PRNT

Em que:

T = capacidade de troca de cátions.

V2= saturação de base desejada.

V, = saturação de base atual.

PRNT = poder relativo de neutralização total.

Existe correlação entre os valoresde V com os de pH. Quanto menor foro pH, menor também será a saturaçãode bases. Quando a saturação de basesencontra-se em valor desejado (75% a80%), o pH está próximo de 7 e não hámais acidez prejudicial às plantas. Érecomendável o uso de calagem sempreque o índice de saturação por bases forinferior a 60% (Brandão Filho & Vas-concellos 1998).

Na região do Submédio do Vale doSão Francisco, dificilmente ocorremsolos com problemas graves de acidez(PH inferior a 5 e saturação de AI acimade 20%), mas existem solos deficientesem cálcio e magnésio. Por esse motivo,as recomendações de calagem para essaregião têm a finalidade principal de ele-var os teores desses dois nutrientes nosolo. Considerando, ainda, a influênciapositiva que o cálcio exerce na qualida-de dos frutos (Pooviah et al., 1988),estabeleceu-se o uso do primeiro méto-do para calcular a necessidade de cala-gemo

O calcário deve ser aplicado a lançoe incorporado ao solo por meio de umagradagem profunda, com uma antece-dência mínima de 2 meses antes do plan-

tio da cultura. Durante esse período,deve-se manter o solo úmido para favo-recer a solubilização do calcário. A apli-cação do calcário deve ser feita pormáquinas próprias de distribuição dessecorretivo. Em áreas pequenas, não sedispondo dessas máquinas, a aplicaçãopode ser feita manualmente.

PLANTIO

A semeadura direta é a forma deplantio mais utilizada para o cultivo domelão, gastando-se, em média, 0,8 a1,5 kg de sementes por hectare, depen-dendo do espaçamento adotado, do po-der germinativo e do tamanho das se-mentes da cultivar escolhida. Em geral,semeia-se uma a duas sementes por cova,a uma profundidade de 2 a 3 cm. Nor-malmente, quando a semente é híbrida,utiliza-se apenas uma semente/cova emfunção do elevado custo e do alto per-centual de germinação.

Em pequenas áreas, pode ser usadaa adubação de fundação em sistema decovas, que devem ser abertas com enxa-das, nas dimensões de 30 x 30 x 30 em(comprimento x largura x profundida-de). No caso de grandes áreas, que utili-

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zam irrigação localizada, a adubação defundação é feita no fundo do sulco. En-tretanto, para os produtores que utili-zam irrigação por sulco, o fertilizantedeve ser colocado na parte lateral dosulco e coberto com terra. A seguir,abre-se uma pequena cova para o plan-tio das sementes na parte superior dosulco. É recomendável a aplicação deuma lâmina de água, antes do plantio,para deixar o solo bem umedecido.

Outra forma de plantio do melão épor meio de mudas, principalmente, nocaso de híbridos, pelo elevado custo dassementes. As mudas poderão ser produ-zidas em bandejas de isopor, sacos plás-ticos ou copinhos de jornal. As cucurbi-táceas, em geral, não toleram a forma-ção de mudas de "raizes nuas". É neces-sário ter cuidado para não passar daépoca do transplantio, que não deveexceder o período da emissão da primei-ra folha definitiva. Vale salientar que osemeio direto no campo antecipa o ci-clo da cultura em relação ao transplan-tio de mudas, o que é um dado importan-te, uma vez que diminui consideravel-mente o custo final de produção da

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cultura, sobretudo, porque as plantasficam menos tempo expostas ao ataquede pragas e doenças.

O espaçamento ideal para a culturado melão dependerá da característicagenética da cultivar, do nível de tecnolo-gia empregado pelo produtor e, princi-palmente, da exigência do mercado comrelação ao tamanho dos frutos. Em pe-quenas áreas, geralmente, usa-se o espa-çamento de 2 metros entre fileiras e 0,3a 0,5 metro entre plantas (10.000 a 16.666plantas/ha).

Os produtores que cultivam áreasextensas, com alto nível de tecnologia,têm adotado espaçamento de 2,0 a 3,0 mentre fileiras e de 0,12 a 0,5 m dentro dasfileiras (duas a oito plantas/m linear),deixando, normalmente, uma planta porcova. No caso de produção para expor-tação, quando se desejam frutos meno-res, é possível fazer o plantio em fileirasduplas, deixando uma planta em cadalado do gotejador ou sulco de irrigação.Isso permite uma maior competiçãoentre plantas, que produzem maior nú-mero de frutos de tamanho menor (Pe-drosa,1994).

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