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GT 27. Conflitos Socioambientais, Conhecimento Tradicional e Desenvolvimento
Sustentável no Brasil Central.
Produção artesanal, sistemas de conhecimento e manejo das palmeiras de buriti
no Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses.1
Mônica Sousa Pereira
(Mestranda/PPGCSOC/UFMA - CV: http://lattes.cnpq.br/2576635947105598)
PALAVRAS – CHAVE: Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses. Produção Artesanal.
Sistema de conhecimento.
1 Trabalho apresentado na 31ª Reunião Brasileira de Antropologia, realizada entre os dias 09 e 12 de dezembro
de 2018, Brasília/DF.
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RESUMO
O artesanato à base de fibra de buriti - Mauritia flexuosa - é uma das atividades praticadas por
artesãs que historicamente residem e trabalham no povoado Achuí no Parque Nacional dos
Lençóis Maranhenses (PNLM), no município de Barreirinhas. O manejo das palmeiras para a
retirada dos olhos ou flechas (folhas novas) e demais partes para a confecção das peças
artesanais, é ancorado em formas específicas de saber, revelando estreita relação entre as
famílias e o meio biofísico. O manejo e uso das palmeiras obedecem a regras locais baseadas
em ciclos da natureza, consideração a sua agência, e um sistema de disposição de palmeiras
machos e fêmeas na composição do palmeiral, de modo a assegurar a obtenção da matéria
prima que serve de base à produção artesanal. O trabalho procura dar conta do complexo
sistema de manejo operado pelas famílias, enfatizando os diferentes momentos de cultivo,
cuidado e exploração dos recursos provenientes das palmeiras utilizados na produção
artesanal.
Palavras – Chave: Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses. Produção Artesanal. Sistema
de conhecimento. Manejo das Palmeiras de Buriti.
INTRODUÇÃO
Dentre as atividades econômicas praticadas pelas famílias que vivem e trabalham em
distintas localidades do Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses (PNLM), estão a pesca, a
agricultura, o extrativismo, a criação de animais, a produção, beneficiamento e
comercialização da castanha de caju.
No PNLM observa-se que há um choque de concepções de natureza que orientam a
forma como os espaços são pensados e utilizados. Há duas concepções conflitantes: a das
famílias que vivem e trabalham historicamente; e a do órgão de monitoramento ambiental
que, orientado pelo SNUC, advoga uma perspectiva de natureza intocada (DIEGUES, 2008).
É neste cenário de concepções de natureza conflituosas que o trabalho toma como
objeto de estudo, o cultivo e o manejo da palmeira de buriti para indicar as interações que as
famílias estabelecem com as espécies vegetais no povoado Achuí. Procuro compreender como
as famílias do povoado interagem com as espécies vegetais, a partir dos saberes
historicamente construídos ao longo do processo de ocupação do território.
Na tentativa de aprofundar esse problema, procuro demonstrar, a partir do cultivo da
palmeira de buriti, como o artesanato à base das fibras desta palmeira é fruto de
conhecimentos nativos derivados do respeito ao ciclo de desenvolvimento da sua principal
matéria prima: as flechas ou olhos. Nesse sentido, entender as práticas que regem o cultivo e
manejo das palmeiras é o foco central deste trabalho.
3
1 O cultivo e o manejo da Palmeira de Buriti no Parque Nacional dos Lençóis
Maranhenses: o caso de Achuí
O artesanato a base da fibra da palmeira de buriti (Mauritia flexuosa) é uma prática
considerada estratégica para o entendimento das atividades econômicas realizadas pelas
famílias PNLM. Neste sentido os palmeirais se configuram como importante recurso para a
reprodução das famílias do povoado Achuí. O plantio e cuidado dos buritizais são primordiais
para a manutenção da reprodução material dessas famílias.
Não são todas as famílias de Achuí que cultivam a palmeira de buriti. Destaca-se entre
elas a de Dona Francisca, que possui o costume de plantar e cultivar essa espécie vegetal com
destacado cuidado. Porém, o cultivo das palmeiras no PNLM alimenta a circulação da sua
principal matéria prima, o linho, que é comercializado internamente entre os povoados através
de uma rede de contatos mediada por relações de parentesco, amizade, compadrio e
comerciais.
Dona Francisca menciona a importância de ter aprendido a prática do artesanato com
sua avó e mãe. Quando fala em o artesã, se refere à própria prática de tecer e trançar o linho,
ou seja, do artesanato. Porém, o cultivo da palmeira do buriti se iniciou quando se casou e
veio morar em Achuí.
Ressalta que começou a prática no povoado há 22 anos. A observação de outras
mulheres plantando as mudas da palmeira próxima ao rio fez com que além de exercer o
artesanato à base a fibra também cultivasse a sua própria matéria prima para a produção dos
seus artefatos que comercializa.
O relatos da informante revelam a preocupação dos moradores em perpetuar essa
espécie na região, demonstrando que Achuí não é um caso isolado no cuidado com as
palmeiras. O plantio dos caroços, e a produção de mudas da palmeira do buriti são feitos por
diversas famílias nos povoados do PNLM no município de Barreirinhas.
Dos vinte três povoados que estão nos limites do PNLM no município de Barreirinhas,
em nove registra-se a prática de cultivo de palmeirais de buriti, segundo relatório apresentado
pelo Grupo de Estudos Rurais e Urbanos em 2017. São eles: Achuí, Baixa da Onça, Buritizal,
Mirinzal, Bom Jardim, Tratada de Cima, Tratada dos Carlos, Tucuns e Mocambo.
Como é uma prática que pode ocorrer durante todos os meses do ano, possibilita uma
entrada monetária constante que compõe a renda familiar, contribuindo para a manutenção da
família. Essa prática possui um grande valor para as artesãs, pois implica respeito aos ciclos
naturais da palmeira do buriti envolvendo técnicas de manejo criadas e produzidas ao longo
de gerações.
4
Pinheiro (2011, p.99) ressalta que “em muitas regiões brasileiras, as palmeiras são a
vida do povo” e, seguindo essa afirmação, para muitas famílias do Parque elas sempre
estiveram presentes, fazendo parte dos seus modos de vida. Nos termos dos interlocutores,
uma palmeira de buriti se divide em tronco ou madeira, palha, braço e olho. Deste último é
retirada a flecha e demais matérias primas.
Durante os trabalhos de campo a fim de perceber como os interlocutores percebiam a
palmeira fizemos oficinas de desenho para melhor captar as informações e o entendimento
sobre as palmeiras de buriti.
O uso de desenhos durante o trabalho de campo foi uma ferramenta importante para a
compreensão e interpretação dos conhecimentos detidos pelas famílias. O desenho feito por
Dona Francisca e seus familiares demonstra a importância de todas as partes da palmeira para
a utilização de suas matérias primas assim como, ratifica o conhecimento da ecologia dessa
espécie vegetal.
Desenho de uma palmeira de buriti feito por moradores do povoado Achuí. Foto: Mônica S. Pereira.
Abril de 2016.
Apesar das flechas serem apontadas como a principal matéria prima mais utilizada
pelas artesãs, existem outras que podem ser retiradas da palmeira de buriti e utilizadas pelas
famílias na produção artesanal. O quadro a seguir, elaborado a partir do diálogo com as
interlocutoras, mostra diferentes usos da palmeira de buriti, identificando os artefatos
produzidos de cada parte da palmeira.
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Possibilidades de utilização da palmeira de buriti
Matérias primas
retiradas da
Palmeira de
Buriti (Mauritia
flexuosa)
Produtos e Artefatos produzidos
USO INTERNO
Uso/Consumo (interno)
USO EXTERNO
Comercialização (uso/Consumo
- externo)
Tronco (estirpe) Pontes, estacas p/cercas,
cochos, jarros p/planta.
Braço (pecíolo)
c/ ou s/ casca
Móveis domésticos,
gaiolas, depósitos para
alimentos, bolsas,
cancelas, portões, cercas,
cortinas, tapitis.
Folhas Maduras
ou abertas
Cobertura e tapagem de
casas e ranchos, cobertura
de canoas, cercas.
Tala do braço
Peneiras de cozinha e
farinhada, tipitis ou
tapitis, cestos p/ roupas,
balaios, crivadores,
estendedor de roupas.
Talo da palha Gaiolas, jiquis, pequenos
currais, munzuais.
Olho ou flechas
(folha nova com
o linho)
Artefatos de uso interno
(cordas, cabrestos,
vassouras, espanadores).
Linho (natural
ou tingido)
Bolsas, tapetes, chapéus, Bonés,
capinhas de garrafas, pulseiras,
pompons, descanso de mesa,
cabrestos de sandália, cintos,
centros de mesa.
Polpa do fruto
(buriti)
Comidas (raspas secas,
doces, cremes, rapadura)
Bebidas (licores, vinhos,
sucos, refrescos).
Comidas (raspas secas, doces,
cremes, rapadura)
Bebidas (licores, vinhos, sucos,
refrescos).
Elaborado por Mônica Sousa Pereira. Fonte: Monografia de CARVALHO (1986)
O quadro separa artefatos de uso e consumo interno pelas famílias de distintos
povoados do Parque, daqueles voltados à comercialização para os turistas, notando-se a
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multiplicidade de matérias primas extraídas da palmeira do buriti. Ressalte-se o maior número
de artefatos ligados ao consumo interno entre os povoados do que aqueles voltados à
comercialização.
Isso demonstra que o uso dos materiais extraídos das palmeiras pelas famílias, não se
resume à comercialização dos artefatos produzidos para os turistas, indo muito além de
atender demandas externas de mercado com a venda das chamadas peças. Este quadro indica
a complexidade e riqueza desses modos de vida e a fina relação com recursos existentes na
região do PNLM. Ressalte-se que, apesar de a palmeira ser utilizada em sua totalidade pelos
moradores do PNLM, sua apropriação é mediada por uma série de regras que contribuem para
sua conservação.
Cada um dessas matérias primas da palmeira destina-se a um tipo de artefato, segundo
as artesãs. A retirada das fibras da flecha ocorre quando é feita uma pequena incisão, com
uma faca, na parte superior das flechas. A partir disso, ocorre o que as artesãs chamam de
riscar a flecha. Desses riscos é feita a separação do material entre linho, borra ou imbira e
talo. Depois da separação, o linho, principal produto retirado da flecha, é cozido em água
quente durante dez minutos, sendo colocado para secar ao sol.
Muitas artesãs têm o hábito de tingir essa fibra com pigmentos naturais, ou seja, no ato
do cozimento, colocam folhas, flores, pedaços de troncos de árvores misturado com cinzas,
para a fixação da cor, de modo a obterem um produto diferenciado.
Nesse sentido, o conhecimento das espécies vegetais que dão cor ao linho é muito
importante e representa os saberes que essas mulheres detêm, tanto em relação à natureza,
quanto à prática artesanal. Usam também a anilina e o papel crepom para obtenção de cores
não obtidas com pigmentos naturais.
Todo esse conhecimento adquirido por D. Francisca deve ser pensado dentro de um
sistema complexo de manejo das espécies vegetais. Desse modo, os processos de tratamento
dos materiais retirados da palmeira de buriti estão inseridos em um sistema de organização
que envolve não só o manejo, mas também o controle e regras de uso das matérias primas do
seu buritizal.
A disposição e uso desse recurso vegetal pela artesã são regulados constantemente,
respeitando os ciclos naturais de recuperação da palmeira, o que contribui ao mesmo tempo
para a conservação daquele ambiente.
2 O plantio de palmeiras de buriti no povoado Achuí
Considerando o modo pelo qual a produção artesanal ocorre entre essas mulheres,
envolvendo processos aprendidos e acumulados durante toda uma vida, deve-se compreendê-
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la em sua totalidade, a começar pela garantia do acesso ao território e aos recursos naturais
dos quais essa prática depende.
Ao depender de saberes e modos de fazer específicos, relativos ao saber cuidar,
manejar, tratar e tecer, a produção artesanal extrapola sua importância econômica. É
importante frisar que tais conhecimentos e práticas voltadas ao artesanato não se separam de
outras atividades desenvolvidas pela interlocutoras, no conjunto das demais relações que
ocorrem no âmbito da organização econômica familiar.
O período de frutificação do buritizeiro é diferente do período do surgimento das
chamadas flechas, matéria prima que origina o linho, a borra e o talo, usados para a
fabricação de diversos artefatos. Os cachos de buriti, com o fruto, só ocorrem quando as
palmeiras atingem a idade adulta. As primeiras flechas aptas para serem retiradas de uma
palmeira ocorrem após cinco anos de cultivo, mesmo não atingindo a idade de frutificar.
Dona Francisca, que conhece o ciclo que desenvolvimento dessa espécie vegetal, nos
disse que seu fruto, o buriti, brota entre os meses de junho e dezembro, período caracterizado
de verão, onde não há incidências de chuvas. As mudas começam a crescer após quinze dias
em que o fruto caiu da palmeira.
Como os ambientes em que nascem geralmente são alagados pelos corpos hídricos que
as circundam, não sentem dificuldades para brotar. Muitas dessas mudas são removidas pelas
interlocutoras para um local mais seguro que denominam de brejo, próximo aos rios, riachos e
olhos d’água.
As atividades voltadas aos tratos das palmeiras se iniciam com os atos de cuidar,
limpar e plantar as mudas pequenas à beira dos riachos, local denominados pela interlocutora
de brejo. Esse zelo com as plantas jovens demonstra um grande conhecimento para
conservação das fibras da palmeira adulta. Do contrário, a planta não se desenvolve, ou como
diz Dona Francisca, ela fica maltratada. Assim, a palmeira é alvo de um fino manejo que
depende não só da limpeza do local onde é plantada como também da atenção ao seu
desenvolvimento, cuidando de vigiar para que animais ou pessoas não as pisem.
Van der Ploeg (2000, p.360) demonstra que o cultivo de batata por comunidades
camponesas no Altiplano Peruano envolve dimensões de tempo, espaço e gestão de
conhecimentos nativos. Chama de art de la localité (arte da localidade) esse conhecimento
local que essencialmente é artesanal. Problematiza o conhecimento dito cientifico que acaba
por marginalizar o conhecimento tradicional o vendo como ultrapassado.
Un rasgo básico del conocimiento local de la agricultura tradicional es la forma en
que se entrelaza con el proceso productivo. El conocimiento, el proceso laboral y los
que en él intervienen integran una unidad difícil de descomponer en sus distintos
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elementos. El proceso productivo es esencialmente artesanal. (VAN der PLOEG,
2000, p. 360).
O trabalho mental e manual segundo este autor está em constante interação e se traduz
em interpretações contínuas e valores durante o processo produtivo. Esse processo afeta a
visão dos camponeses sobre o ambiente que resulta no produto final. O plantio das mudas em
Achuí e o cuidado posterior com os buritizeiros ressalta o conhecimento que é reproduzido ao
mesmo tempo em que demonstra a afinidade e respeito com o meio biofísico, resultando no
êxito na produção das matérias primas dos buritizeiros.
3 A Retirada das flechas e do linho: regras de uso e respeito à natureza
No palmeiral reconhecido por todos como pertencendo à Dona Francisca, a retirada
das flechas e de qualquer outro material, deve ter sua permissão ou licença. As palmeiras são
escolhidas no momento da extração de qualquer dos materiais que oferecem, a partir de
critérios dados pela observação e avaliação das artesãs. Assim, a extração das chamadas
flechas deve respeitar: 1) a idade mínima de cinco anos de plantada a palmeira; 2) não ter sido
retirada a flecha dessa mesma palmeira no mês anterior; 3) o período de extração deve
respeitar o ciclo lunar (período da Lua Cheia); 4) o braço deve ter, aproximadamente, meio
metro de altura.
Essas normas que guiam a atividade de extração dos materiais da palmeira foram
construídas a partir da observação e experimentação da artesã, de modo que, no seu palmeiral,
demora muito tempo para escolher uma palmeira, pois sabe que deve respeitar o tempo da
natureza.
Essa demora diz respeito ao tempo que a Dona Francisca escolhe a palmeira desejada
para trabalhar. Em passeio pelo seu palmeiral, a trabalhadora criteriosamente observa qual
tem melhores condições para a retirada das flechas, sempre obedecendo aos critérios já
mencionados. Disse-nos que demora horas para escolher, e quando nota que nenhuma
palmeira está preparada para retirada do olho deixa passar alguns dias, voltando a procurar
uma em melhores condições.
O bom cuidado com os buritizeiros está diretamente ligado a uma boa produção de
matérias primas, a retirada responsável da flecha e o respeito com a recuperação dela são
princípios fundamentais que balizam as ações de Dona Francisca. Esse cuidado preserva e ao
mesmo tempo demonstra uma concepção de natureza traduzida pela interação com o meio
biofísico.
O respeito ao intervalo de cinco após o plantio para extração da matéria prima, foi
estabelecido após a artesã ter percebido que as palmeiras que plantara, e que tinham menos de
cinco anos, ainda não ofereciam material suficiente para retirada das flechas. Antes desse
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intervalo, o volume do linho disponível era muito pouco quando comparado àquele das
palmeiras mais velhas.
Ela observou, ainda, que uma palmeira demora um mês para se recuperar após a
extração, produzindo nova flecha. Neste caso, porém, não a retira, deixando-a se recuperar,
pois sabe que o uso contínuo de uma mesma palmeira a enfraquece, impedindo seu
desenvolvimento posterior. Por esse motivo, espera cerca de dois a três meses para extrair
materiais da mesma planta. Para tanto, observa-a, narrando esse momento do manejo em
conversas informais com expressões como espiar a palmeira. Espiar, aqui, significa observar,
calcular o momento exato de novamente extrair materiais da planta.
As fases da lua são indicadores fortes não apenas para a extração das flechas, como de
outros tipos de matérias primas, como a madeira para a construção de cercas. É no período
identificado como de lua cheia que os moradores do povoado costumam extrair as flechas do
buriti, pois consideram que obedecer a esse momento é fundamental para que a linho não
apresente o que chamam de piolho, insetos que dela se alimentam. Chamam a lua cheia de lua
grande e consideram que três dias antes ou depois da lua grande ainda podem extrair as
várias matérias primas da palmeira.
Dona Francisca ressalta os períodos de lua cheia e quarto crescente como ideais para o
manejo das flechas da palmeira de buriti. Essa retirada respeita, a partir dos princípios
nativos, as regras pelas quais a extração deve obedecer, sendo os períodos de lua nova e
quarto minguante impróprios para essa prática.
Essa complementaridade é acentuada por Balée (2009), quando discorre sobre as
formações das paisagens, assinalando que são fruto tanto da agência humana quanto de
movimentos próprios da natureza. Nesse sentido, constrói a categoria paisagens vivas para
discorrer sobre ambientes naturais que sofrem a interferência humana. Seriam artefatos vivos,
portanto uma herança do passado que nos dizem muito sobre o presente.
O hábito de manejar e retirar a flecha de maneira a não agredir a palmeira, também é
recorrente. Apesar da pesquisa ter sido centrada no povoado Achuí, durante as idas a campos,
foram identificados em outros povoados o costume de manejar as flechas. No povoado Cedro,
por exemplo, o marido da artesã Maria de Lourdes é apontado como sendo um dos
especialistas em tirar o olho do buriti. Os entrevistados informaram que o olho é retirado de
três em três meses de cada palmeira nesse povoado.
No povoado Bom Jardim, Dona Maria mostrou como retira as flechas da palmeira.
Relatou que não as extrai todo o mês da mesma palmeira, pois deve esperar a recuperação da
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árvore para obter um linho de boa qualidade. Geralmente “tira uma no mês e espia dois
[meses]”.
Outra artesã do mesmo povoado comentou que é responsável pela conservação dos pés
de buriti que plantou. Disse que quando estão pequenos retira os que estão perto do outro para
que cresçam sem dificuldade e fica de olho, para não pisarem ou os retirarem do local que
plantou. Interessante notar o uso dos termos e expressões ficar de olho, espiar, ressaltando a
atividade de observação controlada, tão cara às nossas ciências naturais, lembrando mais uma
vez, com Lévi-Strauss (1976), que o pensamento selvagem nada perde, em qualidade, ao
cultivado.
Falou, ainda, que retira as flechas ou olhos das palmeiras, pelo que denomina de
luada, que corresponde ao ciclo lunar. Não retira a flecha da mesma planta todo o mês. Ao
retirar flechas, as artesãs tomam cuidado para não extraí-las de modo a comprometer a
palmeira. Caso o contrário, as próximas flechas que nascerem ficarão com o linho feio, não se
desenvolverão bem, comprometendo até o crescimento do fruto, o buriti.
O Calendário a seguir serve para ilustrar como as retiradas das flechas obedecem a
princípios de sustentabilidade, a regras de cultivo e recuperação das matérias primas
fornecidas pelas palmeiras de buriti. Os meses que indicaram o período da retirada das flechas
não correspondem, rigorosamente, à época de extração.
Extração anual das flechas da palmeira de buriti
Elaborado pela autora a partir de informações do trabalho de campo.
Como se pode perceber, a flecha de uma palmeira de buriti é utilizada quatro vezes ao
ano. O respeito à agência da palmeira funciona como princípio fundamental no período de
extração das suas matérias primas. Dona Antônia, moradora e artesão do povoado Achuí,
apesar de não cultivar buritizeiros também demonstra a preocupação com o respeito a essa
espécie vegetal.
Dias (2017, p. 117) afirma que as formas de apropriação dos recursos encontrados no
PNLM são pensadas através de regimes de propriedades comuns ligadas a formas de usos
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comuns. Neste sentido, apesar do uso ser comum não quer dizer que são de uso coletivo.
Nesse sentido, Lévi-Strauss (1976) desmitifica a simplicidade das sociedades ditas primitivas,
alertando que não podem ser conceituadas somente em função de suas necessidades
biológicas e sim, pela fina relação com o meio em que vivem.
O conhecimento da ecologia da palmeira, dos usos possíveis de suas distintas matérias
primas faz parte da vida dessas famílias, e por isso não se resume, apenas, à prática do
artesanato. Ao regular o acesso e o uso da palmeira, Dona Francisca e dona Antônia
demonstram essa atenção apaixonada, já citada por Lévi-Strauss (1976), que somente a
familiaridade extrema com o meio biofísico pode causar.
4 O namoro das palmeiras: representações em torno do cultivo da palmeira de buriti
Perguntando às interlocutoras sobre suas relações com os palmeirais, as classificam
como palmeiras macho e palmeiras fêmea. Instigados, perguntamos como conseguem
diferenciá-las entre dezenas de palmeiras. As palmeiras macho, segundo as artesãs e outros
entrevistados, possuem o troco mais grosso, sendo que o linho que retiram das chamadas
flechas também é apontado como mais grosso. Suas folhas são descritas como mais duras e
fortes e os seus frutos não se desenvolvem.
As palmeiras fêmeas, ao contrário, são descritas como possuindo tronco mais fino, seu
linho é definido como mole e melhor de manusear, e dão frutos. Essa diferenciação afeta a
produção dos artefatos, pois ambos possuem linho, porém, aquele extraído dos indivíduos
fêmeas são mais apropriados para alguns tipo de artefatos e os machos para outros.
Essas representações organizam a visão coletiva no tocante à apropriação das
palmeiras de buriti pelas artesãs, a partir de um referencial sensível concreto, com base em
observações sistemáticas, em experimentações reais de propriedades específicas dessa espécie
vegetal.
Perguntando sobre a relação entre machos e fêmeas, disseram que para um palmeiral
se desenvolver necessita da presença de ambos. Assim, a ideia de “namoro das palmeiras”, se
dá primeiramente na relação entre as palmeiras machos e fêmeas, e também entre as palmeiras
e as pessoas que as manejam naquele ambiente.
Dona Francisca, em entrevista, relatou que desde quando são mudas é possível
identificar se uma palmeira é macho ou fêmea. Isso demonstra a maneira como classificam as
palmeiras por gênero. A ideia que a fêmea gera frutos, contrariamente ao macho, mostra como
operacionalizam a oposição dual de masculino e feminino que, juntos, ajudam a racionalizar a
maneira como classificam a disposição dos buritizeiros no palmeiral.
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A partir das características morfológicas da palmeira, observam que a fibra extraída da
árvore macho é mais grossa e da fêmea é fina, com base na observação logo após o
nascimento da planta jovem. Em um buritizal indivíduos machos e fêmeas, juntos, formam
um sistema ideal para terem o que consideram uma boa produção de matérias primas.
Acima muda de palmeira fêmea plantada no brejo e abaixo muda de palmeira macho encontrada
à beira do rio Achuí por informantes. Fotos: Mônica Sousa Pereira. Abril de 2016.
Dona Francisca ressalta, ainda, que cada tipo de fibra, obtida de distintas partes da
palmeira, é extraída para determinadas finalidades. Por exemplo, aquela retirada das flechas,
chamada linho, das palmeiras classificadas como fêmeas é mais utilizada nas peças que os
turistas compram. O fato de esta fibra ser mais maleável é mais fácil de ser manuseada pelas
artesãs.
Palmeiras machos e fêmeas são colocadas como categorias de entendimento que
remonta os modos de classificação da interlocutora. Neste sentido, trata-se de uma
representação pautada nas suas experiências com o mundo sensível que a circunda. As
dualidades verificadas nas expressões, macho e fêmea, grosseiro e fino, macio e duro,
expressam os sistemas de ordenamento sociocultural que a entrevistada está inserida. E a
palmeira de buriti também está sujeita a essas interpretações, pois está inscrita na organização
material e social da informante.
Lévi-Strauss (1976, p. 36) comenta que os sistemas que regulam o ordenamento social
seja no plano sensível ou no científico são válidos, pois, ambos classificam. Ao classificar o
homem organiza e materializa o seu mundo social e torna inteligível seus pensamentos
memórias.
“A classificação, embora heteróclita e arbitrária, salvaguarda a riqueza e a
diversidade do inventário; decidindo-se que é preciso levar tudo em conta, facilita-se
a formação de uma memória” (LÉVI-STRAUSS, 1976, p. 37).
O manejo e cultivo das espécies vegetais por Dona Francisca, principalmente dos
buritizeiros, se materializam em práticas que vão além da obtenção de matérias primas. O
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modo como cultiva e espacializa as palmeiras também, colocando machos e fêmeas juntos no
seu palmeiral, fazem referência às suas representações cotidianas de um palmeiral
esteticamente agradável, ambos devem ser cultivados nos mesmos espaços. Nesse sentido, a
ideia de “namoro das palmeiras” se inscreve no modo pelo qual ordena as coisas ao seu redor.
A classificação das palmeiras segue o principio de gênero, macho e fêmea, e pela
idade, estágio inicial, as mudas, palmeiras jovens, a partir de 5 anos de cultivo onde se
extraem as primeiras matérias primas, e as adultas, a partir de entre 20 e 30 anos, com a
presença de frutos como principal indicador, segundo as informantes.
Enquanto são mudas os princípios de regem o manejo são de proteção e cuidado para
que tenha condições sadias de se desenvolverem. Por conseguinte, quando são consideradas
jovens os princípios de vigilância e respeito para o desenvolvimento de suas flechas e
posterior retirada dentro dos sistemas costumeiros, dos ciclos lunares, tamanho e mês de
retirada são fundamentais nesse período de desenvolvimento. E quando adultas, os princípios
anteriores continuam, e adiciona-se a produção de frutos para que possam nascer novas mudas
para o posterior plantio e cultivo.
Apesar das palmeiras adultas serem aptas para o uso das matérias primas, as jovens
são mais utilizadas por Dona Francisca pelo fato de serem mais baixas. A retirada das flechas
das adultas fica mais difícil de serem extraída pela interlocutora por atingirem alturas que
chegam ser superiores a 20 metros. Desde modo as palmeiras consideradas jovens são de
domínio privado e o uso delas por terceiros são mais regulados e deve passar pelas permissão
da artesã.
Monteles (2009, p. 77) ressalta que a apropriação social dos buritizais em Barreirinhas
são permeados por regimes de propriedade e regras de uso que regulam suas formas de
acesso. Os recursos advindos das palmeiras são condicionados às variantes de apropriação
comum e domínio privado das famílias.
A ética embutida tanto no respeito na utilização das matérias primas das palmeiras e o
reconhecimento social que aquele núcleo pertence à Dona Francisca está ligado ao sistema de
apropriação dos recursos. Neste sentido, os regimes de propriedades são responsáveis pelo
uso, conservação e controle da base física que os originam, os buritizais. Monteles (2009, p.
79) salienta ainda que “nesses casos, as áreas de coleta são terras públicas, onde qualquer
pessoa pode coletar, desde que acatadas as regras de acesso e uso”.
O respeito aos saberes associados ao manejo da palmeira de buriti se materializa em
peças artesanais embutidas num sistema de manejo das espécies vegetais no povoado Achuí.
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O artesanato da fibra de buriti como uma atividade importante para a renda familiar se traduz
nas formas de lidar com o meio biofísico.
Nesse sentido, os saberes mobilizados no cultivo das palmeiras de buriti se
materializam em diferentes artefatos e técnicas artesanais no PNLM. Assim, os
conhecimentos tradicionais, que são transmitidos e reproduzidos a partir do saber fazer das
artesãs, produzem, a partir do artesanato das fibras da palmeira de buriti, tanto formas de
existência social quanto formas de resistência cultural (KELLER, 2016).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
As relações com as espécies vegetais no Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses,
precisamente em Achuí, são exemplo de como famílias de distintas localidades conseguiram
consolidar modos de vida específicos. Permite-nos entender como concepções de natureza são
construídas a partir de finas relações com o meio biofísico. A partir da interação com o
ambiente as famílias deste povoado conseguem expressar uma concepção de natureza
diferente daquela na qual humanos e ambiente são visto em oposição.
Por ser um povoado integrante de uma unidade de conservação de proteção integral, o
trabalho permitiu ter acesso aos problemas relacionados com a presença de famílias que se
reproduzem material e socialmente em um Parque Nacional. E principalmente, o modo pelo
qual o órgão responsável por sua fiscalização, o ICMBio, interage com as famílias dessas
comunidades tradicionais que estão presentes nessa região antes mesmo da criação do PNLM
em 1981.
O manejo da palmeira de buriti, e o modo como às famílias de Achuí zelam pelo
ambiente em que é encontrada, constitui-se como um patrimônio cultural desse grupo. O
cuidado e usos dos recursos provenientes da palmeira de buriti são possíveis graças aos
saberes tradicionais mobilizados pelas famílias, que utilizam seus conhecimentos específicos
a partir de uma ética ambiental que, além de assegurar uma fina relação com o ambiente, tem
contribuindo para a conservação dos espaços naturais de Achuí.
Assim, essa ética ambiental, que fundamenta a responsabilidade de conservar o meio
ambiente, orienta a prática artesanal à base das fibras de buriti reafirmando o cuidado com
buritizais que não se resume apenas na exploração para fins de comercialização de artefatos,
mas também na sua conservação e expansão. Essa prática está referida a um complexo
sistema de relações com as espécies vegetais respeitando quando e como suas matérias primas
são utilizadas.
Respeitar o tempo da palmeira, o comprimento das flechas, a lua em que ela é
extraída, faz parte dos sistemas de conhecimento presentes na interação entre homem e
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ambiente, das formas de saber que se constituem como patrimônios imateriais. O modo como
classificam as palmeiras machos e fêmeas, palmeiras jovens e adultas, tudo isto se configura
como importante domínio dos espaços de cultivo e afirma traços de identidade desses grupos.
Uma identidade ecológica.
Lévi-Strauss (1976) afirma que os meios artesanais são ao mesmo tempo objeto
material e objeto de conhecimento. Dito isso, cultura e natureza se complementam e traduzem
modos de vida através da junção do experimentar e do conhecer. Essa transmissão de
conhecimento precisa ser compreendida e disseminada não só junto à sociedade civil, mas
também nos espaços acadêmicos.
Neste trabalho procuramos contribuir com as discussões em torno de como as UC no
Brasil são geridas. Assim, ao classificarem um determinado ambiente como de proteção
integral, portanto usados apenas para contemplação e recreação, empobrece o entendimento
de como as comunidades tradicionais residentes nesses espaços, a partir de suas práticas
sustentáveis, podem ser importantes agentes da conservação ambiental.
A partir dos trabalhos de campo realizados, foi possível mostrar alguns aspectos
relacionados com conhecimento detido pelas artesãs e mobilizado na reprodução dessa prática
econômica. Considerada pelo órgão gestor uma palmeira nativa da região, a palmeira do
buriti, segundo relatos de interlocutoras e já mencionada neste trabalho, é por elas cultivada.
Essa polarização entre percepções e classificações do meio biofísico tem propiciado
choques e tensões entre as famílias dos povoados e os agentes do órgão ambiental do Estado,
já que as práticas das famílias, segundo a visão oficial, contradizem o que o Art. 11 do SNUC
estabelece: “o Parque Nacional tem como objetivo básico a preservação de ecossistemas
naturais de grande relevância ecológica e beleza cênica” (SNUC, p. 7), sugerindo uma
concepção de natureza reducionista que separa natureza e cultura.
A partir das informações levantadas pudemos argumentar que a natureza modela a
cultura e a cultura modela a natureza. Balée (2009, p. 9), nos diz que “as paisagens são
encontros de pessoas e lugares” e, nesse sentido, os buritizais do Parque não podem ser
classificados puramente como natureza natural, pois resultam, também, do trabalho humano,
da ação da cultura.
O presente trabalho, que se ocupou entre outros aspectos do manejo dos buritizais do
PNLM realizado pelas famílias, pretende contribuir com a disseminação desses saberes
tradicionais, pois são responsáveis pela garantia da reprodução de modos de vida específicos
assim como a conservação ambiental não só no povoado Achuí, mas em outras localidades do
Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses.
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O artesanato da fibra de buriti faz parte não só da economia das famílias como
também da memória afetiva de artesãs e artesãos do PNLM. Durante o trabalho de campo foi
possível identificar essa relação afetiva não só com as palmeiras, mas também com a
atividade artesanal, que utiliza as matérias primas dela retiradas. Ao dizer que o vício dela é
ser artesã, Dona Francisca demonstra o apego que possui em tecer e cuidar dos materiais de
linho. Tudo isso reforça a importância que a atividade tem e se estende para além de ganhos
financeiros com a comercialização dos artefatos.
O cuidado com as palmeiras, os saberes mobilizados na atividade artesanal e os
sentimentos envolvidos servem para reforçar que o modo de vidas das famílias é marcado por
uma ética ambiental que deveria ser melhor compreendida, pois a preocupação em zelar pelos
ambientes de que fazem uso, poderia ser pensada como um exemplo a ser seguido em termos
de uma política de conservação ambiental no Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses.
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2009. P. 09 – 23.
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Dissertação de Mestrado defendida no Programa de Pós-Graduação em Agricultura
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