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LENDO, COMPREENDENDO, INTERPRETANDO , ILUSTRANDO E PRODUZINDO UMA NARRATIVA DE TERROR / SUSPENSE / MISTÉRIO.
► PÚBLICO ALVO: Alunos dos 8º anos■
► LOCAL: Escola Municipal Luis Lindenberg■
►DURAÇÃO: No decorrer do 1º trimestre/2011■
► TEXTOS APRESENTADOS PARA ESTUDO TEXTO I: “O retrato oval”, de Edgar Allan Poe ■ TEXTO II: “O quadro do palhaço”, de Fernando Ferric■
►OBJETIVO GERAL:
Apresentar aos alunos o gênero narrativo terror / suspense / Mistério, a fim de leválos à■ leitura, compreensão e interpretação, bem como a uma discussão literária e a uma reflexão linguística. Além disso, também levar esses educandos a tecerem comparações entre os textos em estudo, ilustrálos e a produzirem suas próprias obras literárias.
►OBJETIVOS:
Levar o (a) aluno (a) à leitura, compreensão e interpretação oral e escrita do texto “■ O retrato oval”, de Edgar Allan Poe;
Entender o que é um Conto de Terror/Suspense/Mistério;■
Identificar as características de um conto de Terror/Suspense/Mistério;■
Responder às questões propostas (literárias e gramaticais/linguísticas);■
Comparar as semelhanças e as diferenças entre os contos “■ O retrato oval”, de Edgar Allan Poe e “O quadro do palhaço”, de Fernando Ferric;
Ler outros textos de Terror/Suspense/Mistério, a fim de apresentar aos alunos histórias■ diferentes desse gênero narrativo em estudo;
Ilustrar os contos de terror “■ O retrato oval”, de Edgar Allan Poe e “O quadro do palhaço”, de Fernando Ferric;
Produzir um conto de terror/Suspense/Mistério.■
QUAL É O OBJETIVO DE UM CONTO DE TERROR?
Os contos de terror têm por objetivo despertar no leitor sensações e horror diante da
morte, da loucura e do mal que se escondem na mente humana. Para atingir esse objetivo,
alguns contos apresentam ao leitor elementos sobre os quais não se deixa dúvida: são
sobrenaturais. Assim, as personagens são assombradas por fantasmas e monstros e vivem
experiências extraordinárias. Em outros, a causa do terror se encontra na mente humana.
(Para viver juntos: português, 8º ano: ensino fundamental / Ana Elisa de A. Penteado. Edições
SM, 2009)
TEXTO I
O retrato oval (Edgar Allan Poe)
O castelo em que meu criado se aventurara a forçar entrada, em lugar de deixarme passar uma noite ao relento, gravemente ferido como eu estava, era um daqueles edifícios mesclados de soturnidade e grandeza que por muito tempo carranquearam entre os Apeninos, tanto na realidade quanto na imaginação da Sra. Radcliffe. Ao que tudo indicava, fora abandonado havia pouco e temporariamente. Acomodamonos num dos quartos menores e menos suntuosamente mobiliados, que ficava num remoto torreão do edifício. Sua decoração era rica, porém esfarrapada e antiga. As paredes estavam forradas com tapeçarias e ornadas com diversos e multiformes troféus heráldicos, juntamente com um número inusual de espirituosas pinturas modernas em molduras de ricos arabescos dourados. Por essas pinturas, que pendiam das paredes não só de suas principais superfícies, mas de muitos recessos que a arquitetura bizarra do castelo fez necessários, por essas pinturas meu delírio incipiente, talvez, fizerame tomar interesse profundo; de modo que ordenei a Pedro fechar os pesados postigos do quarto – visto que já era noite –, acender um alto candelabro que se encontrava à cabeceira de minha cama e abrir amplamente as cortinas franjadas de veludo negro que a envolviam. Desejei que tudo isso fosse feito para que pudesse abandonarme, ao menos alternativamente, se não adormecesse, à contemplação das pinturas e à leitura atenta de um pequeno volume encontrado sobre o travesseiro que se propunha a criticálas e descrevêlas. Por longo, longo tempo li, e com devoção e dedicação contempleias. Rápidas e gloriosas, as horas voavam e a meianoite profunda veio. A posição do candelabro desagradavame, e estendendo a mão com dificuldade, em vez de perturbar meu criado adormecido, ajeiteio a fim de lançar seus raios de luz mais em cheio sobre o livro. Mas a ação produziu um efeito completamente imprevisto. Os raios das numerosas velas (pois eram muitas) agora caíam num nicho do quarto que até o momento estivera mergulhado em profunda sombra por uma das colunas da cama. Assim, vi sob a luz vívida um quadro não notado antes. Era o retrato de uma jovem, quase mulher feita. Olhei a pintura apressadamente e fechei os olhos. Não foi a princípio claro para minha própria percepção por que fiz isso. Todavia, enquanto minhas pálpebras permaneciam dessa forma fechadas, revi na mente a reação de fechálas. Foi um movimento impulsivo
para ganhar tempo para pensar – para certificarme de que minha vista não me enganara –, para acalmar e dominar minha fantasia para uma observação mais calma e segura. Em poucos momentos, novamente olhei fixamente a pintura. O que agora via, certamente não podia e não queria duvidar, pois o primeiro clarão das velas sobre a tela dissipara o estupor de sonho que me roubava os sentidos, despertandome imediatamente à realidade. O retrato, já o disse, era o de uma jovem. Uma mera cabeça e ombros, feitos à maneira denominada tecnicamente de vinheta, muito ao estilo das cabeças favoritas de Sully. Os braços, o busto e as pontas dos radiantes cabelos dissolviamse imperceptivelmente na vaga mas profunda sombra que formava o fundo do conjunto. A moldura era oval, ricamente dourada e filigranada à mourisca. Como objeto artístico, nada poderia ser mais admirável do que aquela pintura em si. Mas não seria a elaboração da obra nem a beleza imortal daquela face o que tão repentinamente e com veemência comoverame. Tampouco teria minha fantasia, sacudida de seu meiosono, tomado a cabeça pela de uma pessoa viva. Vi logo que as peculiaridades do desenho, do vinhetado e da moldura devem ter dissipado instantaneamente tal idéia – e até mesmo evitado sua cogitação momentânea. Pensando seriamente acerca desses pontos, permaneci, talvez uma hora, meio sentado, meio reclinado, com minha vista pregada ao retrato. Enfim, satisfeito com o verdadeiro segredo de seu efeito, caí de costas na cama. Descobrira o feitiço do quadro numa absoluta naturalidade de expressão, a qual primeiro espantoume e por fim confundiume, dominoume e aterrorizoume. Com profundo e reverente temor, recoloquei o candelabro em sua posição anterior. Sendo a causa de minha profunda agitação colocada assim fora de vista, busquei avidamente o volume que tratava das pinturas e suas histórias. Dirigindo me ao número que designava o retrato oval, li as vagas e singulares palavras que se seguem: “Era uma donzela de raríssima beleza, não mais encantadora do que cheia de alegria. Má foi a hora em que viu, amou e desposou o pintor. Ele, apaixonado, estudioso, austero, e tendo já na sua Arte uma esposa; ela, uma donzela de raríssima beleza, não mais encantadora do que cheia de alegria; toda luz e sorrisos, e travessa como uma corça nova; amando e acarinhando todas as coisas; odiando apenas a Arte, sua rival; temendo só a paleta, os pincéis e outros desfavoráveis instrumentos que a privavam do rosto de seu amado. Era, portanto, uma coisa terrível para essa dama ouvir o pintor falar de seu desejo de retratar justo sua jovem esposa. No entanto, ela era humilde e obediente, e posou submissa por muitas semanas na escura e alta câmara do torreão, onde a luz caía somente do teto sobre a pálida tela. Mas ele, o pintor, glorificavase com sua obra, que continuava de hora a hora, dia a dia. E era um homem apaixonado, impetuoso e taciturno, que se perdia em devaneios; de maneira que não queria ver que a luz espectral que caía naquele torreão isolado debilitava a saúde e a vivacidade de sua esposa, que definhava visivelmente para todos, exceto para ele. Contudo, ela continuava a sorrir imóvel, docilmente, porque viu que o pintor (que tinha grande renome) adquiriu um fervoroso e ardente prazer em sua tarefa, e trabalhava dia e noite para pintar a que tanto o amava, aquela que a cada dia ficava mais desalentada e fraca. E, em verdade, alguns que viam o retrato falavam, em voz baixa, de sua semelhança como de uma poderosa maravilha, e uma prova não só da força do pintor como de seu profundo amor pela qual ele pintava tão insuperavelmente bem. Finalmente, como o trabalho aproximavase de sua conclusão, ninguém mais foi admitido no torreão, pois o pintor enlouquecera com o ardor de sua obra, raramente desviando os olhos da tela, mesmo
para olhar o rosto de sua esposa. Não queria ver que as tintas que espalhava na tela eram tiradas das faces da que posava junto a ele.E quando muitas semanas nocivas passaram e pouco restava a fazer, salvo uma pincelada na boca e um tom nos olhos, o espírito da dama novamente bruxuleou como a chama de uma lanterna. Então, a pincelada foi dada e o tom aplicado, e, por um momento, o pintor detevese extasiado diante da obra em que trabalhara. Porém, em seguida, enquanto ainda contemplavaa, ficou trêmulo, muito pálido e espantado, exclamando em voz alta: ‘Isto é de fato a própria Vida!’ Voltouse repentinamente para olhar sua amada: estava morta!”O retrato oval (Edgar Allan Poe) O castelo em que meu criado se aventurara a forçar entrada, em lugar de deixarme passar uma noite ao relento, gravemente ferido como eu estava, era um daqueles edifícios mesclados de soturnidade e grandeza que por muito tempo carranquearam entre os Apeninos, tanto na realidade quanto na imaginação da Sra. Radcliffe. Ao que tudo indicava, fora abandonado havia pouco e temporariamente. Acomodamonos num dos quartos menores e menos suntuosamente mobiliados, que ficava num remoto torreão do edifício. Sua decoração era rica, porém esfarrapada e antiga. As paredes estavam forradas com tapeçarias e ornadas com diversos e multiformes troféus heráldicos, juntamente com um número inusual de espirituosas pinturas modernas em molduras de ricos arabescos dourados. Por essas pinturas, que pendiam das paredes não só de suas principais superfícies, mas de muitos recessos que a arquitetura bizarra do castelo fez necessários, por essas pinturas meu delírio incipiente, talvez, fizerame tomar interesse profundo; de modo que ordenei a Pedro fechar os pesados postigos do quarto – visto que já era noite –, acender um alto candelabro que se encontrava à cabeceira de minha cama e abrir amplamente as cortinas franjadas de veludo negro que a envolviam. Desejei que tudo isso fosse feito para que pudesse abandonarme, ao menos alternativamente, se não adormecesse, à contemplação das pinturas e à leitura atenta de um pequeno volume encontrado sobre o travesseiro que se propunha a criticálas e descrevêlas. Por longo, longo tempo li, e com devoção e dedicação contempleias. Rápidas e gloriosas, as horas voavam e a meianoite profunda veio. A posição do candelabro desagradavame, e estendendo a mão com dificuldade, em vez de perturbar meu criado adormecido, ajeiteio a fim de lançar seus raios de luz mais em cheio sobre o livro. Mas a ação produziu um efeito completamente imprevisto. Os raios das numerosas velas (pois eram muitas) agora caíam num nicho do quarto que até o momento estivera mergulhado em profunda sombra por uma das colunas da cama. Assim, vi sob a luz vívida um quadro não notado antes. Era o retrato de uma jovem, quase mulher feita. Olhei a pintura apressadamente e fechei os olhos. Não foi a princípio claro para minha própria percepção por que fiz isso. Todavia, enquanto minhas pálpebras permaneciam dessa forma fechadas, revi na mente a reação de fechálas. Foi um movimento impulsivo para ganhar tempo para pensar – para certificarme de que minha vista não me enganara –, para acalmar e dominar minha fantasia para uma observação mais calma e segura. Em poucos momentos, novamente olhei fixamente a pintura. O que agora via, certamente não podia e não queria duvidar, pois o primeiro clarão das velas sobre a tela dissipara o estupor de sonho que me roubava os sentidos, despertandome imediatamente à realidade. O retrato, já o disse, era o de uma jovem. Uma mera cabeça e ombros, feitos à maneira denominada tecnicamente de vinheta, muito ao estilo das cabeças favoritas de Sully. Os braços, o busto e as pontas dos radiantes cabelos dissolviamse
imperceptivelmente na vaga mas profunda sombra que formava o fundo do conjunto. A moldura era oval, ricamente dourada e filigranada à mourisca. Como objeto artístico, nada poderia ser mais admirável do que aquela pintura em si. Mas não seria a elaboração da obra nem a beleza imortal daquela face o que tão repentinamente e com veemência comoverame. Tampouco teria minha fantasia, sacudida de seu meiosono, tomado a cabeça pela de uma pessoa viva. Vi logo que as peculiaridades do desenho, do vinhetado e da moldura devem ter dissipado instantaneamente tal idéia – e até mesmo evitado sua cogitação momentânea. Pensando seriamente acerca desses pontos, permaneci, talvez uma hora, meio sentado, meio reclinado, com minha vista pregada ao retrato. Enfim, satisfeito com o verdadeiro segredo de seu efeito, caí de costas na cama. Descobrira o feitiço do quadro numa absoluta naturalidade de expressão, a qual primeiro espantoume e por fim confundiume, dominoume e aterrorizoume. Com profundo e reverente temor, recoloquei o candelabro em sua posição anterior. Sendo a causa de minha profunda agitação colocada assim fora de vista, busquei avidamente o volume que tratava das pinturas e suas histórias. Dirigindome ao número que designava o retrato oval, li as vagas e singulares palavras que se seguem: “Era uma donzela de raríssima beleza, não mais encantadora do que cheia de alegria. Má foi a hora em que viu, amou e desposou o pintor. Ele, apaixonado, estudioso, austero, e tendo já na sua Arte uma esposa; ela, uma donzela de raríssima beleza, não mais encantadora do que cheia de alegria; toda luz e sorrisos, e travessa como uma corça nova; amando e acarinhando todas as coisas; odiando apenas a Arte, sua rival; temendo só a paleta, os pincéis e outros desfavoráveis instrumentos que a privavam do rosto de seu amado. Era, portanto, uma coisa terrível para essa dama ouvir o pintor falar de seu desejo de retratar justo sua jovem esposa. No entanto, ela era humilde e obediente, e posou submissa por muitas semanas na escura e alta câmara do torreão, onde a luz caía somente do teto sobre a pálida tela. Mas ele, o pintor, glorificavase com sua obra, que continuava de hora a hora, dia a dia. E era um homem apaixonado, impetuoso e taciturno, que se perdia em devaneios; de maneira que não queria ver que a luz espectral que caía naquele torreão isolado debilitava a saúde e a vivacidade de sua esposa, que definhava visivelmente para todos, exceto para ele. Contudo, ela continuava a sorrir imóvel, docilmente, porque viu que o pintor (que tinha grande renome) adquiriu um fervoroso e ardente prazer em sua tarefa, e trabalhava dia e noite para pintar a que tanto o amava, aquela que a cada dia ficava mais desalentada e fraca. E, em verdade, alguns que viam o retrato falavam, em voz baixa, de sua semelhança como de uma poderosa maravilha, e uma prova não só da força do pintor como de seu profundo amor pela qual ele pintava tão insuperavelmente bem. Finalmente, como o trabalho aproximavase de sua conclusão, ninguém mais foi admitido no torreão, pois o pintor enlouquecera com o ardor de sua obra, raramente desviando os olhos da tela, mesmo para olhar o rosto de sua esposa. Não queria ver que as tintas que espalhava na tela eram tiradas das faces da que posava junto a ele. E quando muitas semanas nocivas passaram e pouco restava a fazer, salvo uma pincelada na boca e um tom nos olhos, o espírito da dama novamente bruxuleou como a chama de uma lanterna. Então, a pincelada foi dada e o tom aplicado, e, por um momento, o pintor detevese extasiado diante da obra em que trabalhara. Porém, em seguida, enquanto ainda contemplavaa, ficou trêmulo, muito pálido e espantado, exclamando em voz alta: ‘Isto é de fato a própria Vida!’ Voltouse repentinamente para olhar sua amada: estava morta!”
ATIVIDADE DE FIXAÇÃO
OBSERVAÇÃO:
Esta proposta de atividade foi executada e corrigida em sala de aula com os alunos dos 8º anos
O texto “O retrato oval”, de Edgar Allan Poe, foi lido e discutido em sala de aula. Com base► nessa leitura e discussão, faça o que se pede abaixo:
1) O texto “O retrato oval” pode ser dividido em duas partes: na primeira, um homem ferido que se hospeda em um castelo; na segunda, uma bela jovem casase com um pintor. Perguntase:
a) Qual o foco narrativo da primeira parte?_____________________________________________________________________
b) Qual o foco narrativo da segunda parte?_____________________________________________________________________
2)Podemos deduzir que o narrador na primeira parte do texto “O retrato oval” é um homem rico. Comprove essa afirmativa com uma passagem do texto._____________________________________________________________________
3) Na narrativa ocorre um fato inusitado. Perguntase:
a) Que fato é esse?
b) Por que esse fato pode ser considerado inusitado?_____________________________________________________________________
4) Em “O retrato oval”, uma combinação de fatores cria o suspense, elemento fundamental em seu enredo. Um desses fatores é a forma de apresentar o espaço ao leitor.
a) Com base nas palavras do narrador, indique as características do castelo.
b) Como eram as paredes desse castelo?
c) Como eram os quadros?_____________________________________________________________________ d) Como era a iluminação do castelo?_____________________________________________________________________e) Como era a cama?_____________________________________________________________________
5) O autor do texto “O retrato oval” usou a palavra “soturnidade” que é sinônimo de “lúgubre” com a finalidade de caracterizar o ambiente onde a história se passa. Perguntase:
a) Qual o significado de lúgubre?
b) Por que o autor usou esse adjetivo?_____________________________________________________________________
6) Copie o segundo parágrafo do texto “O retrato oval” e, em seguida, responda as questões abaixo:
a) Quantos verbos esse parágrafo tem? (destaqueos)_____________________________________________________________________b) De quantas orações é formado esse parágrafo?_____________________________________________________________________c) Qual é o adjetivo usado para caracterizar a “meianoite”?_____________________________________________________________________
d) Como se classifica o sujeito dos verbos “li” e “contempleias”?_____________________________________________________________________
e) Em “...as horas voavam e a meianoite profunda veio”, qual é o sujeito do verbo “voavam” e do verbo “veio”?_____________________________________________________________________
TEXTO II
O quadro do palhaço(Fernando Ferric)
Festa de aniversário na casa de André. Ele estava completando oito anos e, entre vários presentes, um recebeu atenção especial: um quadro com a gravura de um palhaço. Ele usava um chapéu amassado com uma flor morta e tinha uma fisionomia triste.
André não tinha mais tranquilidade para brincar no seu quarto, se sentia vigiado pelo estranho quadro pendurado na cabeceira da cama. Ele tinha a impressão que o palhaço se mexia enquanto ele brincava.
O pior era quando anoitecia. Na hora de dormir, ele ouvia estranhos ruídos que pareciam vir do quadro; levantava, ligava a luz e lá estava o palhaço com o semblante triste, mas ao mesmo tempo um sorriso cínico. O medo era tão grande que um dia ele teve um terrível pesadelo com o palhaço, acordou no meio da noite e foi correndo para o quarto da sua mãe.
Acordou disposto a dar fim naquele medo. Pegou o quadro e colocou no chão e ficou observando aquela gravura. Era como se o palhaço tivesse vida. André pegou uma faca e começou a raspar os olhos do temível palhaço, pois sem os olhos ele não parecia tão terrível assim. Quando sua mãe chegou e viu o que ele tinha feito com o quadro, ficou muito nervosa, deulhe uma surra, e o pior, deixou André de castigo trancado no quarto.
Ele não sabia o que fazer. Sentia a presença do palhaço no quarto. Se apagava a luz, ficava vendo coisas; se acendia, lá estava a gravura, agora sem os olhos e com um ar de vingança. Pegou o quadro e colocou embaixo da cama, deitou e pensou que tinha achado uma boa solução, mas começo a ouvir uma risada, bem baixinha, como se estivesse provocando.
Lá, lá, lá, lá, lá. Não estou ouvindo nada! – começo a cantar com as mãos tampando os ouvidos.
André sentiu um forte puxão em seus braços. Agora você vai ouvir! – disse o palhaço em cima de sua cama. O garoto não podia acreditar que o palhaço estava na sua frente, não era uma
gravura, era real. Seu rosto era sombrio, sua maquiagem estava desbotada, usava uma roupa rasgada, fétida. Era um circo de horrores.
Me larga, seu palhaço horroroso! Me larga! – gritou André se debatendo.O palhaço continuou a segurálo com muita força, e dava gargalhadas. De seus
olhos escorriam um líquido negro. O palhaço ergueu a mão e enfiou com toda força no peito de André. Ele sentiu o amargo sabor da morte em seus lábios; não podia se deixar sua vida escapar. De repente um clarão, e uma forte sacudida em seus ombros.
Acorda, filho! Acorda! Calma... Foi apenas um pesadelo. – disse sua mãe.A mãe de André o deixou dormir no quarto dela. Mas ele sabia que seria só naquela
noite, e teria que enfrentar o quadro novamente.Na escola, ao contar o que aconteceu, seus amigos lhe deram a ideia de queimar o
quadro.Com um saco de lixo, eles entraram no quarto sem que a empregada percebesse,
pegaram o quadro e botaram dentro do saco. Onde vamos queimar? – perguntou André aos seus colegas. Na minha garagem! Vamos botar fogo nesse palhaço! – respondeu Fernando.Jogaram muito álcool, pularam em cima do quadro, chutaram a gravura do palhaço,
cuspiram em cima dele, um verdadeiro exorcismo. Taca fogo, André! Queima ele! – gritou Fernando.André riscou o fósforo e jogou em cima do quadro. As labaredas consumiram o
quadro, a gravura se desmanchou até não restar mais nada. Todos comemoraram. Menos a mãe de André que ficou revoltada ao saber que o garoto tinha destruído o quadro que seu avô lhe dera.
Era festa de aniversário de Fernando. Já tinha passado alguns meses após o acontecido. Todos os amigos reunidos, inclusive o André. Muitos presentes chegaram. Carrinho de controle remoto, vídeo game, bola, mas faltava desembrulhar um presente. Ninguém sabia quem tinha dado aquele que estava encostado na parede, embrulhado com um papel marrom.
Oba! Vamos ver o que é esse! – gritou Fernando chamando os colegas. Acho que é um jogo! – disse André. Não! Eu acho que é um quebracabeça!E ao desembrulhar, a terrível surpresa... O quadro do Palhaço!
COMPARANDO OS TEXTOS: “O RETRATO OVAL”, DE EDGAR ALLAN POE E “O
QUADRO DO PALHAÇO”, DE FERNADO FERRIC
OBSERVAÇÃO
Esta proposta de atividade foi executada e corrigida em sala de aula com os alunos dos 8º anos
Tomando por base os textos “► O retrato oval” e “O quadro do palhaço”, teça semelhanças e diferenças entre eles, observando os elementos da narrativa e a caracterização dos mesmos, bem como outros elementos pertinentes.
SEMELHANÇAS DIFERENÇAS
O retrato oval O quadro do palhaço O retrato oval O quadro do palhaço
TEXTOS COMPLEMENTARES
O mistério do homem de preto(Luiz Lanzieri)
Na delegacia, um homem todo sujo, e com os pulsos machucados, chegou correndo desesperadamente, procurando por ajuda. Ele começou a se exaltar, e alguns policiais o levaram a um canto para saber o que se passava. O homem sentouse em uma cadeira, enquanto falava:
Meu nome é Ross, e o que venho a dizer é de extrema importância. Pare de delongas e comece logo a dizer o que sabe! – Disse um policial. Tudo bem. Assim que os Smith foram embora, o homem de preto chegou. Ele
se mudou para lá, mas ninguém jamais o via. Vivia trancafiado em casa e parecia ser altamente antisocial. Porém, eu sei o que ele é, só eu sei o que ele fez com os Smith!
O delegado, percebendo a exaltação de um homem que ele logo reconheceu como Ross, seu parceiro de pesca, procurou inteirarse do que estava acontecendo:
Que baderna é essa, Ross? Qual o motivo do escândalo? Desculpe, delegado, estou falando sobre aquele homem que chegou à nossa
cidade. Eu queria fazer uma denúncia! Ótimo! Pois então vá logo, também quero saber o que há de tão suspeito com
esse cara. Como eu ia dizendo, estava realizando meus afazeres, enquanto minha
mulher estava com meus filhos na casa de minha sogra; foi aí que ele bateu à minha porta.
Que estranho... Os boatos são que ele só vive isolado. Que horas eram? – Indagou o delegado.
Eram mais ou menos 4:30h da tarde, estava para escurecer. Ele me disse que em sua casa havia um cano furado. Como eu já havia sido encanador por algum tempo, oferecime para ajudar.
E completou: Assim que entrei em sua casa, percebi um cheiro estranho e depois de um
tempinho andando lá, um pano encardido veio ao meu rosto e eu não me lembro de mais nada. Acho que ele me apagou com clorofórmio.
Continue! O que aconteceu? – Perguntaram os policiais, sobretudo o delegado.
Acordei, depois, com as mãos amarradas a um cano de ferro na parede. Percebi que o homem estava com um avental branco sujo de sangue e um cutelo na mão. Quando abriu a geladeira, percebi que lá havia vários pedaços de carne, e, ao reparar melhor, percebi uma cabeça, que era da Srª Smith! Desesperado, perguntei a ele o que ele queria e o que ele havia feito coma família Smith. Ele olhou para mim com uma cara muito pálida e com olhos brilhantes. E, de maneira muito fria, respondeu:
Pois é, Eles não queriam me vender a casa, e como na cidade de onde vim eles não aceitam muito antropofagia, eu os usei para servirem a uma causa maior, assim como você servirá, para matar minha fome.
Enquanto falava, retirou o seu avental e limpou as mãos. Veio para perto de mim e começou a dar uma risadinha forçada. Colocou um tocadisco para funcionar e foi tomar um banho, eu acho.
Com o pouco que restava de minha força, consegui derrubar o tocadisco. Quando o disco de vinil caiu, quebrouse todo, e um pedaço caiu perto de minha perna. Consegui pegálo, cortei a corda, com um ruído não muito alto. Mas o homem deve terse alertado e já devia estar se enxugando. Desesperadamente, eu corri até a porta e tentei abrir. Estava trancada. Peguei a cadeira e quebrei o vidro da janela. Saí por ali mesmo e vim correndo, até chegar aqui. O delegado olhou para ele com uma cara de incrédulo e disse:
Ross, eu também não vou com a cara desse cara, nem sei como ele é direito; mas, olhe só: você está confuso. Faça o seguinte: vá para casa, tome um banho e durma um pouco. Se amanhã você tiver certeza do que está falando, eu vou dar uma olhada.
Tá bom, eu acho que foi só um pesadelo mesmo.Poucos dias depois desses acontecimentos, o jornal local exibia a foto de Ross na seção de desaparecidos. O anúncio dizia que a última vez que fora visto, estava saindo da delegacia.
A PESTE DO BEIJO
Autor: Alessandro Reiffer
A enfermidade surgira há algumas décadas. Seu desconhecimento pela ciência oficial era completo, e logo a doença tornouse uma pandemia sem controle. Inicialmente, a moléstia incurável ficou conhecida como Peste Sanguínea, devido ao fato de afetar o aparelho circulatório dos seres humanos, em particular o sangue, e gradualmente ir causando o apodrecimento do líquido sanguíneo. Com tais características, logicamente, a Peste Sanguínea era sempre fatal e, uma vez surgidos os primeiros sintomas, quais sejam, hemorragias e enegrecimento dos vasos sanguíneos, a morte tornavase questão de algumas poucas semanas.
Verificouse que a enfermidade era causada por um vírus mutante. Com suas incessantes mutações gênicas, “driblava” todas as tentativas dos cientistas de criar medicamentos ou vacinas contra a moléstia. No entanto, o problema maior da peste era que o agente causador possuía um período de incubação um tanto longo, cerca de 5 anos. Dessa forma, as pessoas contaminadas não sabiam que possuíam o vírus e, durante o tempo de incubação, transmitiamno incontrolavelmente a um número indeterminável de indivíduos. Como era uma doença do sangue, a transmissão da Peste Sanguínea obviamente ocorria através do contato direto com o sangue ou por secreções corpóreas a ele relacionadas, como esperma e leite materno. Relação sexual, uso de drogas injetáveis e transfusões sanguíneas consistiam as principais formas de contágio.
Um terrível espetáculo dantesco era a contemplação da morte de uma vítima da Peste Sanguínea. Em uma primeira fase, o enfermo apresentava hemorragias pelas narinas, febre alta e leves dores por todo o corpo, semelhantes à de uma gripe. Ao mesmo tempo, as veias assumiam gradativamente um tom negro sob a pele. Na fase secundária da doença, as dores corporais se intensificavam a um nível insuportável, as hemorragias nasais tornavamse muito freqüentes, sendo que o sangue expulso era negro, viscoso e fétido. O enfermo agora também expelia profusas quantidades de sangue através de vômitos e diarréias espantosas, golfadas de um líquido espesso e gosmento, em apodrecimento, de um maucheiro nauseabundo, de um aspecto repulsivo. Uma tosse constante e insidiosa contribuía para agravar o quadro, ocasionando a expectoração de um muco negro e sanguinolento.
O enfermo já não se alimentava mais, e a morte vinha com a terceira fase da peste, absolutamente horrível. Não se passava 5 minutos sem que o enfermo expelisse sangue podre, quer por um impiedoso ataque de tosse, quer pela diarréia, quer pelo vômito. Enquanto a triste vítima definhava implacavelmente, e suas veias apresentavamse em uma tonalidade morbidamente escura, um fedor insuportável e pestilento exalavase de todo seu corpo, uma vez que devido aos freqüentes vômitos e diarréias, o sangue pútrido acumulavase ao seu redor, e as pessoas temiam limpálo, receando que pudessem se contaminar. Se o desgraçado não morresse pelas incessantes hemorragias, em um derradeiro
estágio surgiam por todo o corpo feridas e chagas infeccionadas, purulentas, sangrando e fedendo asquerosamente.
Completavase então o quadro funesto, e o doente falecia no horror e no abandono absoluto, esquecido nos hospitais especialmente construídos para isolar aqueles infelizes do restante da população, locais estes cada vez mais lotados, posto que uma vez identificado o vírus na vítima, ela era levada aos mencionados hospitais, ainda que à força.
Um outro aspecto tenebroso da Peste Sanguínea consistia no fato de que o vírus somente podia ser identificado pelos testes somente 3 anos após o contágio. Ou seja, o indivíduo, durante 3 anos, se estivesse contaminado, não teria como sabêlo, e poderia alastrar a moléstia de forma assustadora. De modo que o número de doentes não cessava de aumentar, e nenhuma das medidas adotadas surtiu o efeito desejado, principalmente no que se relacionava ao uso de preservativos nas relações sexuais. Como é já sabido, o vírus apresentava uma alta capacidade de mutação, assim, posteriormente comprovouse que o vírus causador da peste havia reduzido consideravelmente suas já ultramicroscópicas proporções, tornandose capaz de penetrar através dos “poros” invisíveis do material dos preservativos, contaminando dessa forma o parceiro.
As autoridades relutaram por muito tempo em tornar pública tal terrível informação, temendo o pânico generalizado e intentando aperfeiçoar os preservativos, no que foram frustrados. E quando o número de doentes assumiu proporções catastróficas, não houve outro jeito, tudo foi divulgado. Muitos não acreditaram e prosseguiram mantendo relações usando as afamadas “camisinhas”, outras mesmo acreditando na revelação, permitiram que o desejo sexual falasse mais alto, ignorando o perigo da doença para satisfazêlo. E ainda houve os que foram tomados de um verdadeiro pavor pelo sexo, o que alterou dramaticamente suas relações sociais.
Muitos indivíduos, temendo contrair a peste, principiaram a manter relações amorosas, digamos, um pouco mais “castas”, ou seja, contentandose apenas com os beijos e com as carícias, que acabavam desembocando na masturbação mútua. No entanto, muitas vezes, não conseguiam frear o imperioso apetite sexual, concretizando então o ato. Porém, mesmo com todos os temores e cautelas, o número de infectados crescia em progressão geométrica, e já havia povos quase que totalmente dizimados pela Peste do Sangue.
Já fora dito que o vírus era altamente mutagênico. Pois mais uma mutação deve ter se desencadeado. Ocorreu que a doença passou a se manifestar bem mais cedo, reduzindo seu período de incubação para pouco mais de 6 meses. No entanto, ela permanecia fatal somente após 5 anos. Durante o longo tempo precedente, os sintomas consistiam em chagas e feridas que, gradativamente, iam se espalhando por todo o corpo. No princípio, surgiam nos órgãos sexuais, nas mãos e nos lábios. Eram como verrugas arroxeadas e/ou avermelhadas que eventualmente sangravam. Ao longo dos anos, as feridas nodosas alastravamse pelo restante do corpo e se intensificavam os sangramentos, porém o progresso era lento. Verdadeiramente horrível e repugnante era contemplar uma vítima da peste tomada de feridas roxas e vermelhas, ainda que fosse somente no início, quando os lábios assumiam um aspecto monstruoso devido à concentração de feridas no local. Às vezes, as feridas também exalavam um fétido odor.
Um outro sintoma surgia alguns meses após o aparecimento das primeiras feridas. Tratavase da impossibilidade dos homens em ter uma ereção completa; o pênis, mesmo durante a mais extremada excitação, permanecia parcialmente flácido. Já nas mulheres, quando sexualmente excitadas, não mais ocorria a lubrificação natural do órgão genital, mas era liberado um muco espesso, purulento, e, assim, como as feridas, um tanto maucheiroso. Tal era o quadro que se prolongava quase sem alteração durante os quase 5 anos, tempo necessário para a peste ocasionar a morte do enfermo.
Todavia, os leitores devem estar concluindo que se os primeiros sintomas já ocorriam dentro de poucos meses após o contágio, conseqüentemente haveria pouco tempo para que o infectado transmitisse o vírus. Assim também pensavam médicos e cientistas; no entanto, para espanto e horror de todos, isso não se concretizou, isto é, o crescimento do número de casos não se reduziu como se imaginava, mas continuava crescendo rapidamente. A doença passou então a ser estudada com mais afinco pelos cientistas, até que
foi constatado que jovens que jamais tiveram relações sexuais, que não eram usuários de drogas, que jamais necessitaram de transfusões sanguíneas e que afirmavam nunca ter mantido o menor contato com algum infectado (visivelmente, ao menos) estavam doentes. O que se sabia era que tais jovens, durante os meses precedentes ao surgimento da doença, freqüentaram, em todos os casos de estudo, casas noturnas onde “ficaram” com pessoas aparentemente saudáveis. O contato físico máximo que ocorreu em tais casos foram inofensivos beijos na boca, boca sem feridas, digase de passagem.
Foi então que surgiu a horripilante suspeita de que o vírus, através de alguma ominosa mutação, tornouse transmissível através da saliva. Foram realizadas pesquisas em pacientes infectados e, diferentemente do que ocorria com o vírus no sangue, o vírus na saliva era facilmente identificável. E comprovouse: a Peste do Sangue era agora transmissível pelo contato com a saliva...
Após a divulgação dessa funesta descoberta, o beijo, um dos mais belos e ancestrais costumes humanos, foi quase que banido das relações sociais. Somente beijavamse pessoas que se conheciam de forma íntima, e ainda assim com certas reservas. O temor de contrair a fatal enfermidade era tão intenso que a grande maioria das pessoas que antes possuíam mais de um parceiro ou parceira decidiu de uma hora para outra permanecer com apenas um, com o mais conhecido ou com o par “oficial” conforme o caso. Claro que alguns se recusaram a aceitar o fato, ou nem mesmo se importaram, e continuaram saindo e “ficando” com diversas pessoas. Geralmente, alguns meses depois, tais pessoas percebiam em seus lábios o lúgubre surgimento de algumas feridas arroxeadas...
É desnecessário que eu explicite ao leitor uma descrição do quadro desolador que se seguiu à descoberta da presença do vírus na saliva e que o infectado poderia permanecer com ele em sua boca por seis meses sem apresentar sintomas. O beijo transformouse de um símbolo de amizade, de prazer, paixão ou amor, em um símbolo de medo e morte. As pessoas já não iam a festas, ou a casas noturnas, porque não poderiam “ficar” com ninguém, uma vez que qualquer contato erótico sem o ato do beijo era naturalmente inconcebível. Quando duas pessoas se apaixonavam, a tortura era quase insuportável, uma vez que se temia a aproximação mútua e os conseqüentes beijos, no entanto, muitos enfrentavam o risco e davam asas à sua paixão, não sem ter o coração repleto de temores.
Posteriormente, percebeuse que naqueles casos onde o casal de enamorados ainda permanecia unido, aparentemente mantendose em verdadeiro sentimento amoroso, não houve manifestação da doença em nenhum dos indivíduos, enquanto que os casais que iniciavam o relacionamento e logo o terminavam, a Peste do Sangue sempre apresentava seus sintomas, mesmo que os exnamorados não beijassem ninguém mais após o término da relação.
Da mesma forma, foram identificadas pessoas que jamais desenvolviam a enfermidade, embora mantivessem relações sexuais com indivíduos comprovadamente infectados. Foi o que ocorreu com certas esposas que, afirmando amarem seus maridos doentes, continuavam dispostas a manter contatos sexuais com os mesmos. É claro que a ciência estudou exaustivamente tais mulheres, seu sangue, seu sistema imunológico, tentando decifrar esse mistério, na esperança de desenvolver algum medicamento. Tudo em vão. Nada, absolutamente nada de diferente das outras pessoas foi encontrado, e os casos seguiram sem explicação.
Porém... eu... eu tenho minha teoria, talvez absurda, talvez simplória, talvez já imaginada pelo leitor, mas vamos a ela... Creio firmemente que as pessoas que não desenvolvem a doença são aquelas que amam seu par ou que ao menos buscam amálo com sinceridade. A Peste não afeta tais pessoas, ela, de alguma forma, por algum motivo desconhecido, respeita seus sentimentos, quando verdadeiros, é como se fosse uma moléstia inteligente, que discernisse o sentimento de um e de outro. É por isso que não esperarei mais. Irei me declarar àquela jovem de olhar tão meigo que arrebatou minha alma... Amoa. Ou será que apenas julgo que a amo? E se eu estiver enganado com meus sentimentos? E se minha teoria estiver errada? E se após beijála eu contrair o vírus? Meu Deus, que dúvida massacrante!!! Mas não, eu irei, eu irei, não posso mais, confiarei no que sinto, confiarei na minha alma, e que se cumpra o que me reservar o Destino...
FIM
BEIJOS GELADOS
Autor: Fernando Ferric
Seus olhos brilharam quando ela viu aquele corpo. Com as pontas dos dedos, ela podia sentir a temperatura e a maciez daquela pele branca totalmente despida. Camille também se despiu e começou a alisar o peito, os braços, as pernas, sentir cada músculo. Seu corpo tremia de prazer. Com os lábios, sentia o sabor... Era algo inexplicável. O prazer só dependia dela. Apreciava beijar aqueles lábios frios, lambêlos... Fazia suaves movimentos circulares com a língua. Subiu em cima dele e simulou uma penetração impossível.
Enquanto se esfregava e gemia de prazer, olhava para o amigo que a assistia no canto da sala, sentado em uma cadeira. Enquanto fazia isso, tocava suas partes intimas, excitandoas. Marcos adorava ver aquilo. No entanto, já era tarde. Sussurrando para não ser ouvido, pediu para que ela terminasse, pois os familiares já estavam na sala ao lado, esperando o ente querido. Ele precisava terminar os preparativos, maquiar e vestir o falecido. A garota deulhe um beijo de agradecimento por mais uma noite de prazer e se foi.
Camille e seu amigo agente funerário se conheciam há muito, desde os tempos de colégio. Em certa época da vida, descobriram o mesmo gosto pela morte. Isso se deu quando ela, curiosa, quis visitar o local de trabalho do amigo. Ao avistar o corpo másculo de um rapaz, excitouse. A partir dali, convenceu o amigo a liberar sua entrada no necrotério municipal para suas pequenas orgias. No inicio, Marcos achou muito estranho, mas, levando em conta o corpo dela, moldado em academias, cedeu, participando algumas vezes da festa. Geralmente, esses eventos aconteciam à noite. Durante o dia, a garota estudava em sua casa.
Assim que um corpo de homem que, aos olhos dele, agradaria Camille, dava entrada no necrotério, o amigo ligava para ela; naquela noite não seria diferente...
Oi – beijouo – E meu falecido. Quem é?
Ele sorriu.
Você vai gostar. – descobriu o lençol branco. O nome dele é Roberto, tinha 23 anos e morreu em um acidente de moto, mas não ficaram muitas marcas.
Ela o examinou e abriu um largo sorriso.
Hummm, ele parece ser bom. – tocouo – Eu estava precisando me distrair mesmo... Tava de saco cheio de ficar em casa!
Mas temos que ser rápidos. A família já está na sala ao lado, esperando para o velório.
Ela assentiu com a cabeça. Esses riscos a excitavam. Adorava ser pressionada.
Vou deixar vocês a sós por um tempinho, enquanto preparo a roupa e a maquiagem. – virouse para o corpo – Seja um bom garoto, Roberto! Faça tudo o que ela mandar... – disse, saindo.
Camille aproximouse do ouvido do falecido e sussurrou:
Agora somos só eu e você, Beto!
Passou dois dedos nos lábios do falecido e levouos aos seus, isso um pouco antes de tirar a sua blusa e deitar sobre o corpo frio à sua frente. Em seguida, colocou a língua para fora e lambeu a boca dele, sentindo o gosto cru da morte, além de seu cheiro acre. Para ela, amar um morto, mesmo que por alguns minutos, era algo mágico, diferente, um ritual com muita energia. Não era apenas sexo. Marcos também gostava, mas em uma escala menor. Sempre que entrava um cadáver de mulher que o agradava ele passava a mão e se acariciava também.
Camille estava muito excitada e passou a se masturbar, gemendo baixinho, enquanto aumentava o ritmo em que conduzia a mão do cadáver. De súbito, Marcos retornou a sala, deslumbrando a cena. Ficou ali, encostado na porta, olhandoa . Com os olhos entreabertos, ela ensaiou dizer um “vem” com os lábios. Contudo, o som não saiu. O amigo entendeu e aproximouse. Os dois se beijaram e amaramse por longos minutos. Seria quase um ménage se Roberto pudesse agir.
Saciados, vestiramse e prepararam Roberto para o velório. Ela, de tanto acompanhar o amigo nas madrugadas na funerária, já havia adquirido experiência em maquiar e vestir os mortos.
Pronto! Está lindo, arrumado e cheiroso... Se pudesse ficaria horas com ele. – disse, enquanto acendia seu cigarro.
Quando o presunto é boa pinta, fica mais fácil, né? – respondeu Marcos – Estou uns quinze minutos atrasado. Vou pedir para os rapazes me ajudarem com o caixão. – beijoua.
Valeu! – sorriu – Quando tiver umas carnes gostosas assim, não deixe de me ligar. – deu uma leve piscada e saiu.
Camille saiu pela porta dos fundos, como de costume, e foi andando lentamente, passando por trás das salas de velório. Enquanto caminhava, observava a lua minguante no céu, cercada de estrelas. Adorava o cheiro suave da noite. Nela, todos os seus prazeres eram consumados. Contudo, por conta dessa observação, deixou de prestar atenção por onde andava, razão pela qual tropeçou em um pedaço de lápide cravado na terra. A conseqüência disso foi uma queda que fez sua cabeça ir de encontro a uma pedra tumular. Ficou alguns segundos atordoada. Ao se levantar, passou a mão na testa e notou que havia um pouco de sangue.
Mas que merda! – resmungou.
Enquanto tirava terra da roupa, procurou onde tinha tropeçado e achou o resto da lápide. Havia uma inscrição. Ela se agachou e limpou a terra que escondia uma parte.
Maldito daquele que perturbar o descanso dos mortos.
Camille assustouse. Achou de mau gosto alguém ter colocado aquilo em uma lápide, Parecia uma ameaça, uma maldição lançada.
Uma maldição lançada para mim... – pensou em voz alta.
Estranhou a coincidência de ter tropeçado justamente em uma lápide com aqueles dizeres.
Bobagem! Foi só uma merda de coincidência, eu não acredito nessas porcarias. – esbravejou, pulando o muro do cemitério.
Enquanto caminhava pela rua escura, sua cabeça doía muito e continuava a sangrar. Estava com medo. Pela primeira vez, Camille sentiu medo do que estava fazendo.
Maldito daquele...
Aquela inscrição não saía da cabeça dela.
Ela estava com medo. Ansiava por encontrar alguém, mas a rua estava deserta e escura. Mal podia ver o chão. Cruzou os braços e foi andando, trêmula. Repentinamente, tropeçou em suas próprias pernas e caiu novamente. Ficou alguns segundos no chão e começou a chorar.
Você está bem?
Ela levantou a cabeça, antes de frente para o chão e só conseguiu visualizar um par de botas. A pessoa ajudoua a se levantar e foi tirandoa do breu da madrugada. O pavor que subitamente tomou conta dela a impedia de pronunciar qualquer palavra, nem sequer um obrigado ao samaritano. Enquanto caminhavam, ele puxou papo.
Qual é o seu nome?
Camille!
Você fuma? Pode me ceder um cigarro?
Ela tirou um do maço e entregou a ele.
Pode acender para mim?
Ela pegou o isqueiro e, com as mãos tremendo, levouo até o cigarro na boca dele. Ao acender, a chama iluminou o rosto do rapaz, e ela o reconheceu imeditamente.
NNão pode ser!
Ela se desesperou, empurrouo tentando correr. Não podia acreditar que era ele. Correu muito até avistar a ponte. Olhou para trás e viu que não a seguia. Estava sem ar, não conseguia pensar em nada, só queria chegar em casa e esquecer essa terrível noite.
Só eu e você! Agora somos só eu e você... Não foi isso que você me falou?
Era ele, agora tinha certeza, ela não conseguia correr, sentia que seu corpo já não respondia mais, caiu de joelhos.
Não pode ser! Você está morto...! Me deixe em paz! – gritou.
Era sua maldição, maldita lápide, maldita maldição que caíra sobre ela.
Dias depois, Marcos ficou muito tenso quando chegou aquele corpo. Retirou o lençol que a cobria. Não podia acreditar que aquela fatalidade tinha acontecido. Ela estava morta. Havia dois dias, estava com ele. Fora encontrada morta naquela madrugada, resultado de um acidente banal: havia caído sobre uma pedra no cemitério. O laudo apontou uma concussão profunda no crânio. Para sorte dele, não descobriram que eles estavam juntos na funerária. Passou em sua cabeça tudo o que eles fizeram, desde quando se conheceram até a ultima noite. Lembrou das transas, de todos os mortos que saciaram seus desejos. Agora era ela, era a garota que ele amava, a pessoa que mais se parecia com ele. Tinha de ser a despedida era a última vez. O corpo de Camille o excitava, ela parecia estar dormindo. Marcos tirou a roupa e começou a tocar o corpo dela. Beijou seus lábios, seus seios e a penetrou. Ele tinha a sensação de que não estava sozinho. Estava certo. No canto da sala fria e úmida, Roberto e Camille observavam, com paciência.
ILUSTRANDO O TEXTO “O QUADRO DO PALHAÇO”, DE FERNANDO FERRIC
DENI, PROFESSOR DE PORTUGUÊS
TURMA 801
KAREN, ALUNA DA 801
ESTEFANY, ALUNA DA 801
BEATRIZ, ALUNA DA 801
JOÃO VICTOR, ALUNO DA 801
MATHEUS SANCHES, ALUNO DA 801
MARIANA BORGES, ALUNA DA 801
TURMA 803
BRUNA KAROLAINE, ALUNA 803
HENRIQUE, ALUNO DA 803
MARIANA DE AMORIM, ALUNA DA 803
MARIANA PEDREIRA, ALUNA DA 803
LUCAS, ALUNO DA 803
ILUSTRANDO O TEXTO “O RETRATO OVAL”, DE ADGAR ALLAN POE
TURMA 802
JOHNATAS, ALUNO DA 802
STÉPHANIE, ALUNA DA 802
MARCELA, ALUNA DA 802
SARAH, ALUNA DA 802
TURMA 800
CAIO, ALUNO DA 800
THAYNÁ, ALUNA DA 800
MICHELLY SANTOS, ALUNA DA 800
GABRIELA BRASIL, ALUNA DA 800
MARYANA, ALUNA DA 800
GABRIEL, ALUNO DA 800
PRODUZINDO UM CONTO DE TERROR / SUSPENSE / MISTÉRIO
Tomando por base os textos “O retrato oval”, de Edgar Allan Poe e “O quadro do Palhaço”, de Fernando Ferric, redija um Conto de Terror/Suspense, observando os seguintes critérios:
O Conto se concentrará em torno do seguinte elemento: ► Turma 800: Um baú velho; Turma 801: Um espelho; Turma 802: Um quarto negro; Turma 803: Um casaco preto.
Narrador em primeira pessoa (narradorpersonagem) ou em terceira (observador);►
O ambiente deve ser um lugar inusitado;►
O conto deverá ser feito no tempo passado;►
Dê um título bem criativo ao conto;►
O texto deverá ser produzido em dupla;►
O texto deverá ter entre 20 a 40 linhas.►
PRODUÇÕES TEXTUAIS
O mistério do baú
Num certo dia, fui ao enterro de Paula. Ela era uma professora de inglês. Eu
estava com todos os meus amigos, quando, de repente, Pedro, meu amigo de
infância, mostrou-me uma casa que parecia super aterrorizante. Sua fachada era
de um tom meio cinza, com partas pretas com ar de envelhecida.
Como eu era muito curiosa, chamei o Pedro para irmos lá ver, e ele aceitou
prontamente. Aproximamo-nos da casa. Veio um homem em nossa direção. Ele
falava com um tom de voz meio sinistra que nós não poderíamos nos aproximar
daquela casa porque lá havia coisas misteriosas, que não poderíamos saber. Com
muito medo, eu e Pedro saímos correndo e nos escondemos atrás de uma lápide.
Falei para Pedro que estava ainda mais curiosa do que antes. Mas Pedro estava
com medo e voltamos para casa.
No dia seguinte, fomos lá novamente bem cedinho. Era por volta das seis e
meia da manhã. Chegando perto da casa, vimos um homem dentro dela. Ele era
baixo, gordo e careca e estava com um machado na mão direita e, na esquerda,
uma tesoura. Logo, reconhecemos que era o coveiro que enterrou a Paula. Ficamos
observando por um tempo o homem, achamos que estava se arrumando para o
trabalho. Quando ele saiu, ele não estava mais careca e ficamos surpresos em vê-lo
com um enorme cabelo.
Ao sair da casa, ele escondeu uma chave no mato que tinha em frente da
sua moradia. Pegamos a tal chave e entramos na casa. Entrando, tivemos a
impressão de que estávamos numa história de terror. As paredes de dentro da casa
eram pintadas de preto. A casa era meio gótica. Ao entrar, deparamo-nos com um
estranho corredor que, ao fundo, havia uma porta com um cadeado muito grande,
impossível de abri-lo, já que não tínhamos a chave, pensamos.
Andando pela casa, lembramos da chave que pegamos. Foi perfeito! Ela
também abria aquele cadeado! Abrimos a porta e entramos correndo e nos
deparamos com um baú velho. Fomos até a ele e o abrimos. Ao abri-lo,
desvendamos o mistério: o baú continha um grande número de cabelo de pessoas
mortas, inclusive o cabelo de Paula, a professora de inglês.
(Andressa Novaes e Diana Justo. Alunas do 8º ano. E. M. Luis Lindenberg, 2011)
A Flor Rosa
Certo dia, um grupo de amigos foi acampar em uma pequena floresta perto
de um lago. Com o passar dos dias, uma garota discutiu com o seu namorado.
Irritada, saiu correndo do lago para o acampamento. Já no fim da tarde, ela estava
arrumando as roupas para ir embora e, logo em seguida, saiu. No caminho voltando
para a sua casa, ela achou uma flor rosa e começou a conversar com ela,
desejando muitas coisas ruins para o seu namorado, inclusive que ele morresse e
que a escola onde eles estudavam pegasse fogo, para ter terremoto...
Depois de certo tempo, ela perguntou para sua flor o que estava
acontecendo, porque o seu namorado morreu atropelado, a escola pegou fogo e,
com isso, muitas crianças e professores morreram queimadas. Depois disso, houve
um terremoto e muitas pessoas morreram. Sem resposta, ela se estressou, pegou a
flor e jogou fora, e foi sozinha para o tal acampamento que ficava na pequena
floresta.
Ela passou um bom tempo lá. Achou um baú velho todo sujo com uma
chave brilhosa em cima dele. Abriu-o. Quando olhou, lá estava a flor rosa. Ela
toucou na flor e, do nada, surgiu uma bruxa dizendo que desde quando a tocou
pela primeira vez, os seus desejos já poderiam se considerados realizados. Ela bem
assustada com a bruxa, correu e esta disse que ela ia morrer.
Depois de alguns anos, a garota desapareceu. O irmão dela foi à delegacia
da cidade dar queixa do seu desaparecimento, e informar que em cima da cama
havia uma carta deixada por ela dizendo: Adeus, meu irmão! Um dia eu volto para
te visitar! Pegue a flor rosa que está no baú no acampamento e deseja muito
dinheiro, paz e felicidade... Adeus!
(Matheus Barbosa. Aluno do 8º ano. E. M. Luis Lindenberg, 2011)
O museu aterrorizante
Algum tempo atrás, eu estava com minha amiga e nossos familiares em um
museu que era rodeado de espelhos e bonecos mal assombrados. Todos que
entravam lá eram aterrorizados. Era cada coisa estranha que eu e minha amiga
ficávamos contando os minutos para sair logo de lá, já que não adiantou contar
nada para os nossos familiares, porque eles não acreditaram.
Tinha cada coisa pior do que a outra. Eram absurdas, tanto que quem já
tinha entrado nesse lugar não tinha coragem de entrar novamente. Foi tão horrível,
que quando saímos de lá, estávamos passando mal. Aonde eu ia e encontrava
espelhos, pensava nas piores coisas, mas sabia que era a minha imaginação. Minha
amiga não conseguia dormir sozinha, porque passava várias coisas ruins na cabeça
dela.
No dia seguinte do acontecimento, eu fui para a escola. Chegando nela, eu
minha amiga contamos para todos da classe o que havia acontecido. Poucos
acreditaram, mas tudo bem.
Um mês depois desse acontecimento, estava andando pela rua, quando, de
repente, encontrei um espelho com a imagem de um boneco querendo me puxar
para dentro dele. Imediatamente, liguei para minha amiga e ela foi ao local onde eu
estava. Então vimos que tudo o que havia acontecido era real e decidimos queimar
o espelho. Depois de queimá-lo, fomos para casa e, do nada, por incrível que
pareça, tudo aquilo foi apagando de nossas mentes.
Dois dias depois, minha amiga fez uma festa surpresa em sua casa
comemorando o meu aniversário. Depois que todos foram embora, começamos a
abrir os presentes. De repente, encontrei uma caixa com um bilhete escrito assim:
Feliz Aniversário! Ah, ah, ah, ah!!! Com muito medo, eu e minha amiga abrimos a
caixa e adivinha o que estava lá? O espelho com a imagem do boneco
aterrorizante, querendo nos pegar.
(Jéssica Sampaio e Victória Ramos. Alunas do 8º ano. E. M. Luis Lindenberg,
2011)
A Órfã
Quando eu tinha onze anos, meus pais morreram em um acidente de carro.
Fui adotado por um senhor chamado José e sua família. Morávamos numa linda
mansão afastada da cidade. Vivi anos felizes nela, até que um dia, meus pais
adotaram também uma menina de nome Anna.
A princípio, ela se mostrou amável. Fiquei alegre e meu irmão mais novo
também. Anna chegou com poucos pertences na bolsa e ficou comovida com o
quarto que ganhou.
Mas algo estranho me deixou intrigado. Ela não deixou ninguém mexer em
sua bolsa e, dentro dela tinha apenas uma escova de cabelo, um espelho redondo e
poucos vestidos.
Para a sua idade – doze anos – era muito esperta e inteligente.
Nas brincadeiras, não se mostrou amigável, chegando a provocar acidentes
com meu irmão. Comecei, então, a observá-la. Notei que seus modos eram
dissimulados e estranhos.
Desconfiado, fui até o seu quarto e, investigando os seus pertences, um
ruído me chamou atenção e, com medo, entrei embaixo da cama para esconder-me
e a vi entrando.
Começou a cantar uma melodia estranha que eu não entendia. Pegou a
pequena bolsa e de lá tirou o espelho. Notei que olhava sua imagem refletida com
muita atenção. Quando olhei, não acreditei no que vi: ou a imagem estava
distorcida, ou era outra pessoa com o rosto totalmente envelhecido. Conseguir sair
do quarto e apavorado, contei para a minha mãe que não acreditou. E Anna atrás
da porta ouviu toda a conversa. Começou, então, a me amedrontar.
Até que um dia, eu a desafiei. Peguei o espelho e pedi que ela se olhasse na
frente de meus pais. Ela se negou a fazer, e meus pais disseram por que não. Ela
continuou negando.
Dois dias se passaram. Fomos a um passeio e, no meio do caminho,
avistamos uma pequena igreja. Quando entramos, uma surpresa: cadê Ana? Havia
desaparecido. De repente, ruídos no fundo da igreja me chamaram a atenção.
Quando olhei, Anna estava dentro do espelho com os olhos vermelhos. Ela disse: -
Eu voltarei! Ah, ah, ah, ah!
Passados vinte e quatro anos, pessoas ainda dizem que vê o rosto da órfã
no espelho da igreja.
( Raikom e Rômullo. Alunos do 8º ano. E. M. Luis Lindenberg, 2011)
Olhos no escuro
Lembro-me perfeitamente daquele dia... Foi numa manhã de sábado que
tudo começou.
Chegamos! Bem-vindos ao nosso lar, disse meu pai quando, finalmente,
parou o carro. Da janela do banco de trás, pude ver uma casa antiga, com um ar
sombrio e misterioso, no meio do nada. Peguei minhas coisas e caminhei até à
porta de entrada. Ao entrar, deparei-me com uma enorme teia de aranha. Olhei em
volta e percebi que, praticamente, todas as paredes estavam rachadas. Larguei
minhas coisas ali mesmo e fui para o segundo andar, para o meu quarto.
Os móveis de madeira até que estavam em bom estado, comparados ao
teto e as paredes. Joguei-me em minha cama, escutando um estranho barulho
vindo de trás dela. Levantei-me e fui ver o que era. Deparei-me com uma pequena
porta de madeira. Passei pela pequena passagem que se estendia à minha frente,
deparando-me com um cômodo pouco iluminado.
- É melhor você sair. Sussurrou uma voz que vinha de trás de mim.
- Quem é você?
Dei um salto batendo com a cabeça no teto. Definitivamente, aquele
cômodo era muito pequeno.
- Sair... é melhor... sair... A voz foi ficando cada vez mais baixa, até
desaparecer.
Admito que fiquei com um pouco de medo. Mas a curiosidade falou mais
alto e eu continuei dentro daquele quarto, tateando as paredes, encontrei um
interruptor. A Luz se acendeu, mas, devido às paredes negras, o quarto continuou
mal iluminado. Dei de ombros, decepcionada por não ter nada lá. Virei-me para sair
do pequeno cômodo, quando senti uma mão no meu ombro. A mão me puxou para
o centro do quarto, foi quando vi um rosto. Era de uma garota ruiva, mais ou menos
da minha idade, com a pele fria e pálida. Quando olhei em seus olhos, que estavam
completamente negros, eu me senti estranha. Senti como se minha alma estivesse
saindo do meu corpo. Minha cabeça girava.
Escutei um grito e, talvez por medo, fechei os olhos. Quando os abri,
deparei-me com meu próprio corpo estirado no chão. Tentei gritar, mas nada saiu
de minha boca. Eu sabia o que tinha acontecido. Só não queria acreditar. Não podia
ser verdade.
- Melanie! Cadê você filha? A voz de minha mãe ecoou pelas escadas.
Escutei os passos de meus pais subindo as escadas. Logo os vi entrando no
quarto e, depois, entrando no quarto escuro onde meu corpo jazia. Foi só então que
realmente entendi. O quarto era mal assombrado.
Há alguns anos, uma garota havia morado com sua família, até que sua
mãe morreu e seu pai casou-se com outra mulher. Sua madrasta, por ciúmes, a
trancava no quarto e a obrigava a ficar dias e dias sem água ou alimento. A garota
morreu pouco tempo depois. Dizem que o espírito dela continua no quarto onde
morreu: o quarto negro. Toda vez que uma nova família se muda para aquela casa,
um dos filhos acaba descobrindo o quarto e, por isso, morrendo.
Foi o que aconteceu comigo.
(Alexia e Stéphanie. Alunos do 8º ano. E. M. Luis Lindenberg, 2011)
O misterioso casaco preto
Eu estava passando pelo lixão, quando encontrei um casaco preto em
perfeito estado. Voltei para casa correndo para amostrá-lo para a minha mãe. Ela
gostou muito. Depois, fui amostrar aos meus amigos. Eles também gostaram.
Passei em frente a uma casa que estava em reforma. Era de uma família
rica. Ela estava precisando de um ajudante na obra. Ofereceram-me um trabalho
com um salário razoável. Eu aceitei.
Comecei no dia seguinte. O trabalho foi doloroso, mas consegui ganhar o
meu primeiro salário. Cheguei a casa, dei a metade do dinheiro e, com o resto, fui
comprar algumas roupas para mim. Retornarei a casa bem tarde e, quanto me
deitei em minha cama, ouvi um barulho muito estranho.
Quando olhei para a cozinha, vi que meu casaco preto estava pegando uma
faca. Saí desesperado em direção à porta, só que ela estava trancada. Consegui
sair pela janela. O casaco estava tentando me perseguir, mas cheguei a tempo à
casa de Júnior, meu amigo.
Toquei a campainha diversas vezes, mas não tinha ninguém em casa. Fui
para a casa de Daniel, por sorte ele estava lá, mas não quis me ajudar porque não
acreditou no que eu havia dito. Ele fechou a parta no meu rosto. Saí correndo da
casa de Daniel e fui para a casa de Emanuel, só que ele tinha viajado para o
México.
Não tendo para onde correr, fui para a delegacia. Só sei de uma coisa: o
casaco deve está me procurando até hoje atrás de vingança.
(Suzana e Victor Joshua. Alunos do 8º ano. E. M. Luis Lindenberg, 2011)
O misterioso homem de preto
Há seis meses atrás, em uma vila distante da cidade, um homem misterioso
foi morar numa casa antiga da vila. Em sua mudança, ele pedia para tomar muito
cuidado com suas caixas pesadas. Quando foi para tirar o seu armário, disse:
- Espera! Tenha muito cuidado com esse armário, pois foi herança do meu
avô.
Nesse mesmo dia, ele vestiu um casaco preto e saiu com o seu carro antigo.
Todos da vila achavam estranho o misterioso homem de preto, como era chamado
na vila. Durante o dia, ele ficava em casa; à noite, ele saía com o seu carro antigo
para a balada no centro da cidade. Lá, ele conhecia uma mulher por noite e a
levava para sua casa. Cada uma que entrava, não saía. Até que um dia, uma
mulher desconfiou dele, e toda noite, ela vigiava da janela a atitude do homem.
Certo dia, a tal mulher, chamada Noêmia, falou para o seu marido:
- Jorge, eu estou desconfiada desse nosso vizinho da frente.
- Está desconfiada de quê, Noêmia? Disse o marido dela.
- De dia, ele não sai de casa; e à noite, ele sai e traz uma mulher por noite.
E todas as que entram na casa, não saem mais.
Em um belo dia, Noêmia disse para o seu marido que iria entrar na casa do
André, o misterioso homem de preto.
- Você está louca, ninguém entra lá. Disse o marido dela.
Ela abaixou a cabeça e fez cara de quem tinha concordado com o que o
marido falou, mas, na verdade, ela iria entrar na casa.
Um dia após o outro, a mulher continuava a observar o homem.
Até que um dia, Noêmia entrou na casa do tal homem e acabou vendo o
que ela queria ver: o armário misterioso. Quando ela abriu o armário, levou um
susto, pois viu várias armas, facas e machados que eram usados para matar as
mulheres. Em um quarto escuro havia várias caixas pesadas e com um cheiro
estranho. Quando ela abriu uma das caixas, viu pedaços de corpos de mulheres. Ela
ficou assustada e, imediatamente, foi à delegacia. Chegando lá, o delegado falou
para ela:
- Vai para a sua casa, pois você está muito nervosa.
Ela voltou, mas...
Passou um dia, dois dias e nada de Noêmia. O marido dela achou estranho o
desaparecimento da sua mulher. No terceiro dia, o misterioso homem de preto se
mudou da vila.
No dia seguinte, Jorge falou para os vizinhos:
- Vamos entrar na casa desse homem. E quando eles entraram, lá havia
uma caixa fechada e, quando abriram, lá estava Noêmia e, junto do corpo dela, um
bilhete escrito assim: Isso é uma amostra para quem se mete nos meus assuntos.
Assinado: O misterioso homem de preto.
(Flávia e Shayane. Alunas do 8º ano. E. M. Luis Lindenberg, 2011)
GargalhadasA tarde estava muito quente e os estudantes esperavam ansiosos pelas férias.
Muitos pensavam em viajar; outros não queriam sair da sua cidade.
Na escola Aprendiz do Saber , alguns alunos necessitavam de boas“ ” notas para serem aprovados, principalmente um grupo de meninos: Matheus, Gustavo, Gabriel, Felipe e Lucas. Todos eram alunos da professora Beth. Eram os que menos prestavam atenção às aulas.
Beth, cuidadosamente, informou ao grupo que para sair de férias, era necessário que fizesse um provão com toda a matéria estudada. Então, o grupo resolveu reunir-se na casa do menos bagunceiro, Matheus, porque a concentração para o estudo era obrigatória.
Corria tudo muito bem, até que Matheus resolveu ir à cozinha pedir à sua mãe que preparasse um lanche para os seus amigos. Para surpresa dele, sua mãe não estava em casa. Para agradar aos colegas, resolveu fazer o lanche. Percebeu que nada na cozinha funcionava. Preocupado e nervoso, achou melhor telefonar para sua mãe, porém o telefone também não funcionava.
Com muito medo, Matheus correu até o quarto onde estavam seus colegas e, chorando, pediu ajuda. Todos riram e zombaram muito dele. De repente, Carlos parou de rir porque viu um vulto passar pela janela do quarto. Gabriel, o mais risonho, ouviu um barulho, uma espécie de ruído vindo da porta principal. Todos ficaram quietos. O silêncio era sepulcral. Ninguém falava. Ninguém piscava.
A noite estava aproximando-se. Se faltasse energia, não havia velas. O pânico cada vez mais crescia. Então o grupo resolveu fugir, mas por todos os lugares da casa se ouviam ruídos e, fugir dali, já não era mais possível.
De repente, a energia acabou, e a porta principal se abriu e do nada apareceu João, um aluno caprichoso e inteligente, pálido, com os olhos
arregalados e com as roupas rasgadas. Os colegas correram para ajudá-lo. Naquele momento, todos perderam o medo e, quando perguntaram o que havia acontecido, João respondeu entusiasmado que era dia trinta e um de outubro, dia das bruxas.
Nesse momento, surgiu a professora Beth, a mãe de Rodolfo e os outros colegas de classe, todos fantasiados e sorridentes, porque tudo o que estava acontecendo não passava de uma armação, pois era o aniversário de Matheus.
Acenderam as luzes e todos, felizes, começaram a grande festa. Que noite! Que maravilha de festa! Parecia um sonho! Bolo, salgadinhos, docinhos de vários sabores, refrigerantes, sucos e muitas coisas gostosas. A diversão parecia não ter fim.
A meia noite se aproximava e, com ela, muita euforia.De repente, num instante quase incalculável, as luzes se apagaram. Na parede da sala, do lado esquerdo, havia um enorme espelho que a mãe de Matheus havia ganhado de um misterioso homem que só se vestia com uma capa preta, que morava em frente à sua casa. Nele, apesar de não ter energia, refletia um vulto e, como estava tudo muito escuro, não dava para identificá-lo bem. Por um instante, percebemos que o tal vulto tinha forma humana. Em sua mão esquerda, tinha um enorme baú velho todo negro cheio de teias de aranha e com muita poeira.
O vulto se aproximava e, cada vez mais perto de todos, o lugar ia ficando muito frio e sombrio. De repente, uma gargalhada ecoou, deixando todo o ambiente enfeitiçado. As pessoas ficaram embriagadas e, num piscar de olhos, todas estavam no quarto de Matheus.Antes, o quarto dele era pintado com cores suaves, leves; agora, o espaço era lúgubre. Tudo nele era gótico. Nesse momento, o vulto saiu de um armário que havia no quarto e com um tom de voz estranho e macabro disse:
- Vocês me invocaram para uma causa nobre. Aqui estou!
Ninguém entendeu nada. E ele novamente disse:- Chamaram-me. Aqui estou!Dessa vez, todos entenderam o que o vulto estava dizendo e, com os
olhos arregalados e os corações palpitantes, disseram em coro:Tudo não passava de uma brincadeira. Volta do lugar de onde veio, de
onde nunca deveria ter saído.E ele respondeu:Já estou indo, porém levo comigo, nesse velho baú negro, o que há de
mais sagrado em vocês: suas vidas. Agora, elas são minhas! Farão companhia a outras milhares que aqui dentro estão, envolvidas no calor eterno.
Nesse instante, um enorme raio de cor roxa envolveu todo o quarto e, como num passe de mágica, todos nós estávamos novamente na sala. Agora com as luzes acesas, sorridentes e muito alegres. Afinal, era a festa de aniversário de Matheus.
Matheus sentiu-se sede. Foi até a cozinha, de seus lábios ecoou um enorme grito aterrorizante. Todos foram ver o que havia acontecido. Ao chegar à cozinha, a mesa que nela havia, estava forrada com uma toalha negra com renda de veludo roxo e, em cima dela, apenas um pedaço de bolo de chocolate, um copo com suco de boldo e um bilhete escrito no guardanapo: Deliciem-se do último pedaço de bolo, e do suco, não se preocupem, porque para onde todos vocês irão, muito suco de boldo beberão. Não pensem que fui embora. Estou apenas arrumando meu maravilhoso e envolvente casaco preto e arrumando o meu magnífico baú preto. Aguarde minha gargalhada. Será o fim de todos.
Da sua eterna e infinita companheira: a morte.Gargalhadas!
(SILVA, Aldeni de Faria. Gargalhadas, 04/2011)
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
(Para viver juntos: português, 8º ano: ensino fundamental / Ana Elisa de A.
Penteado. Edições SM, 2009)
htttp://contosgrotescos.blogspot.com/2010/11/beijosgelados.html
(Acessado em 04/02/11)
htttp://contosgrotescos.blogspot.com/2011/11/bestedobeijo.html
(Acessado em 04/02/11)
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