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“Porque se a gente fala a partir de ser criança, a gente faz comunhão: de um
orvalho e sua aranha, de uma tarde e suas garças, de um pássaro e sua árvore. Então
eu trago das minhas raízes crianceiras a visão comungante e oblíqua das coisas.”
Manoel de Barros
É chegada a hora de olhar para trás e tentar num “breve” espaço de tempo
relatar a nossa caminhada vivida até agora. Contar a primeira parte da nossa
história, a História do Jardim I...
Somos um grupo formado por quinze crianças e duas professoras...
Relatório de grupo – 1º semestre/2017 Turma: Jardim I Professora: Eliana Pereira Rollo Professora auxiliar: Elis Regina G. A. Ormeleze Coordenadora: Lucy Ramos Torres
O processo de adaptação foi tranquilo, quase sem nenhum chororô.
Desafio foi compor e agregar este grupo tão cheio de energia e limites para
confrontar.
Assim, o primeiro objetivo foi brincar e aconchegar.
Acreditando na brincadeira como um meio pelo qual as crianças aprendem a se
concentrar, a observar e a buscar regras de entendimento coletivo e,
acreditando também, que no ato de brincar elas vão compreendendo a
realidade, dando sentido para as coisas e estabelecendo complexas relações
de significação com os objetos e entre si mesmas, várias foram as propostas
de brincadeira tanto dentro quanto fora de sala.
Além das atividades propostas, uma das primeiras brincadeiras trazida pelo
grupo foi a brincadeira do saci.
Assim, fomos buscando informações nas nossas conversas de roda para
alimentarmos este jogo dramático.
“Quem é o saci”, “onde ele mora”, “o que ele gosta de comer”, “dá pra pegar o
saci?”
Armadilhas para pegar saci...
Como de costume, a Turma do Jardim I, todo início de ano vai dar um passeio
a Chácara do Mario, nosso vizinho da escola. Este ano, em especial, fomos
com um olhar mais apurado e com muitas perguntas para fazer ao Mario sobre
o saci.
Nosso objetivo era encontrar o saci lá na chácara.
A visita à Chácara foi muito rica. As crianças se divertiram no espaço livre do
gramado: correram, deitaram, observaram e acarinharam os animais, jogaram
peneira pra caçar o saci. Mas, nada de pegar este menino...
Uma única pista da passagem do saci pelo chácara foi o cavalo Gavião, que
tinha trança no cabelo, as crianças obviamente chegaram à conclusão que só
podia ser obra do saci, já que ele adora apontar estas artes!
E as brincadeiras nos parques? Parque “de cima”, parque “da casinha” e
“parque “debaixo”
Que privilégio! Três parques! Brincadeiras com areia e água. Brincadeiras de
mamãe, filhinhas, filhinhos, papais, primas, irmãs mais velhas, super-heróis,
gatinhas e gatinhos, bruxas; Friedmann (2004, p.177) define os jogos de faz de
conta “como aqueles que se constituem numa atividade na qual as crianças -
sozinhas ou em grupo – procuram, por meio de representações de diferentes
papéis, compreender o mundo a sua volta.”
“Na área externa, em contato com os elementos naturais, viabiliza-se a aproximação
com o sol, o vento, a terra, a água, as árvores, os insetos, as flores e demais plantas. É
possível correr, esconder-se, brincar com o vento, com a sombra produzida pelo sol e com os
frutos e as folhas que caem das árvores.
Os elementos naturais remetem à brincadeira produzida em conjunto; as crianças
protagonizam suas infâncias e o meio compõe com o que for preciso, seja a partir de uma
planta nascendo no solo terroso ou uma borboleta que pousa ao lado das formigas que
trabalham. Todo esse movimento brincante precisa ser respeitado e incentivado pelos adultos,
pois há possibilidades únicas de criação e interação que estimulam a sensibilidade e o cuidado
com o ambiente que nos cerca. (BARROS, 2014, p.59).
Pois bem, e foi durante estas brincadeiras externas que o tema do projeto
apareceu.
Temos uma jabuticabeira em frente a sala do Jardim I e num certo dia, algumas
crianças vieram correndo nos chamar para ver a aranha que tinha feito uma
teia na árvore.
Depois deste dia, na hora da roda, resolvemos aguçar a curiosidade das
crianças com relação a este animal.
No saco surpresa, apareceu uma aranha.
Quantas patas tem a aranha? Foi a primeira pergunta.
No dia seguinte: um aluno trouxe uma aranha de brinquedo para vermos na
roda.
Em um outro momento, apareceu uma aranha de verdade trazida por outra
aluna. E assim começamos a tecer nosso projeto.
Fizemos uma pesquisa bibliográfica para levantar vários títulos sobre o tema.
O universo da aranha se abriu diante de nós e quanta informação!
Como são aranhas? Tem olhos? Faz xixi? Tem sangue? O que ela gosta de
comer? Onde ela mora? Tem filhotes? Como cuida dos filhotes? Todas as
aranhas fazem teias? Todas são venenosas? Qual a importância da aranha
para a gente?
Em nossas conversas, as crianças nos relatavam que todos os pais matam as
aranhas.
E aí, a pergunta era: será que precisamos matar todas as aranhas?
Na história da Árvore e a Aranha, escrita por Rubens Alves, a própria aranha
diz:
“É só aparecer abelha, beija flor ou borboleta voando e todo mundo fica
parado, olhando, sorrindo, dizendo: que belezinha!
Mas se é uma aranha que aparece todo mundo corre e grita: mata que é
aranha!”
Ao longo do semestre pudemos entender que não precisa ser sempre assim.
Que a aranha tem um importante papel no equilíbrio ecológico e que devemos
aprender a respeitá-la no seu ambiente natural.
Desta maneira, muitas atividades foram sendo propostas para as crianças.
Uma das primeiras, foi observarmos a aranha da jabuticabeira.
Qual seria a sua espécie? Descobrimos que se tratava de uma aranha
denominada: Nephila, aranha tecedeira de teia dourada.
Fizemos aranhas com diversos tipos de materiais, teias, casulos e ovinhos de
aranha.
Assistimos vídeos e filmes sobre a aranha. Também passeamos pelo universo
dos super-heróis com o personagem do homem aranha.
Junto com a professora Andrea, de educação física, tecemos teias nas árvores.
Massagem com patinhas de aranha...
Com a ajuda da Lucy, nossa coordenadora, confeccionamos a mascote da
Turma: uma Aranha, nomeada pelas crianças de Viúva Negra.
Agora, no final do semestre a Aranha foi passear nas casas das crianças
juntamente com o Livro da Vida.
Além das atividades ligadas ao projeto, outras tantas também aconteceram:
Tivemos muitas atividades plásticas. Este, foi um grupo que teve muito
interesse por estes momentos de experimentações.
As idas à biblioteca, onde as crianças com suas pastinhas iam felizes da vida,
e lá escolhiam livros para lerem aos colegas e também para levarem para
casa.
A Turma da Aranha também teve acesso e pode vivenciar a experiência com
Calendário de Cores. Este Calendário é uma metodologia usada por mim, para
que, aos poucos, os alunos internalizem a rotina diária, sabendo quais
atividades terão e compromissos que também são significativos para elas.
Este calendário é composto pelos sete dias da semana. Cada dia é
representado por uma cor. Além das cores, destaco eventos importantes para
os pequenos.
Utilizo imagens da internet para representar as atividades, os eventos, as datas
de aniversário, os finais de semana, os feriados e as férias que acontecem
conforme o tempo vai passando.
O processo de feitura do calendário é feito junto com as crianças, que vão
colorindo, ajudando a colocar as imagens e também a colocá-lo na parede.
O calendário fica na altura das crianças que, observam as imagens,
comparam-nas, iniciam-se na contagem dos dias tendo em conta suas
expectativas ou algo marcante que já passou.
“Eliana, o dia roxo, é o dia do brinquedo?”
“Como chama o dia vermelho?
“No dia laranja, eu fico, tem capoeira.”
“No dia vermelho, eu faço natação.”
“A aula da Andrea, é no dia amarelo e roxo.”
“O dia roxo é sexta-feira, né?
“A biblioteca é sempre no dia verde?”
“O mês de junho é a festa junina?”
Para ilustrar o trabalho com o Calendário, também, trouxe para as crianças, a
Música do Grupo Palavra Cantada: O caramujo e a saúva. As crianças
apreciaram ouvir, cantar e imitar os movimentos.
O CARAMUJO E A SAÚVA PALAVRA CANTADA
CARAMUJO QUE MORA EM UBATUBA
ESCREVEU UMA CARTINHA PRA SAÚVA A SAÚVA RESPONDEU COM UM DESENHO
CARAMUJO COLORIU COM MUITO EMPENHO
CARAMUJO QUE MORA EM UBATUBA ESCREVEU UMA CARTINHA PRA SAÚVA
E ASSIM, CONTINUARAM SEM PARAR DESENHANDO E OUVINDO TCHÁ-TCHÁ-TCHÁ
NA SEGUNDA DESENHARAM O GAVIÃO
NA TERÇA UM JACARÉ COM SEU BOCÃO NA QUARTA FOI O POLVO DE OITO PATAS
NA QUINTA UM CANGURU COM TRÊS GRAVATAS NA SEXTA DOIS MARRECOS BARULHENTOS NO SÁBADO DOIS TOUROS RABUGENTOS
DOMINGO FOI A VEZ DO CHIPANZÉ
DEPOIS FOI TUDO IGUAL DE MARCHA RÉ E PRA PODER FAZE DE MARCHA RÉ
NO DOMINGO DESENHARAM O CHIPANZÉ NO SÁBADO DOIS TOUROS RABUGENTOS
NA SEXTA DOIS MARRECOS BARULHENTOS NA QUINTA UM CANGURU COM TRÊS GRAVATAS
NA QUARTA FOI O POLVO DE OITO PATAS NA TERÇA UM JACARÉ COM SEU BOCÃO
SEGUNDA ELES PINTARAM O GAVIÃO
CARAMUJO QUE MORA EM UBATUBA ESCREVEU UMA CARTINHA PRA SAÚVA
A SAÚVA RESPONDEU COM UM DESENHO CARAMUJO COLORIU COM MUITO EMPENHO
CARAMUJO QUE MORA EM UBATUBA
ESCREVEU UMA CARTINHA PRA SAÚVA E ASSIM, CONTINUARAM SEM PARAR
DESENHANDO E OUVINDO TCHÁ-TCHÁ-TCHÁ Tivemos muitos Lanches Coletivos, preparados com empenho e carinho pelas
famílias desta Turma.
Nosso festa de Carnaval que foi muito especial, pois contamos com a presença
do Grupo Cupinzeiro, aqui de Barão Geraldo, animando toda a escola.
Neste dia, fizemos até um piquenique de Carnaval!
A visita dos indígenas da tribo Kariri- Xocó:
Neste dia, também, as crianças que quiseram, puderam experimentar pintar os
rostos com o tipo de pintura característica desta tribo:
Festas de aniversários comemoradas com muita animação pelas crianças e a
nossa Grandiosa Festa Junina!
Na qual, as crianças participaram com muita alegria desta brincadeira
dançante!
Vamos terminando por aqui.
É chegada a hora das férias!
Em agosto, retornaremos com muita energia, novidades e novos saberes para
compartilhar.
AO CONTRÁRIO O CEM E XISTE
A CRIANÇA É FEITA DE CEM.
A CRIANÇA TEM CEM MÃOS
CEM PENSAMENTOS
CEM MODOS DE PENSAR
DE JOGAR E DE FALAR.
CEM SEMPRE CEM
MODOS DE ESCUTAR DE MARAVILHAR E DE AMAR.
CEM ALEGRIAS PARA CANTAR E COMPREENDER.
CEM MUNDOS
PARA DESCOBRIR
CEM MUNDOS
PARA INVENTAR
CEM MUNDOS
PARA SONHAR.
A CRIANÇA TEM
CEM LINGUAGENS
(E DEPOIS CEM CEM CEM )
MAS ROUBARAM-LHE NOVENTA E NOVE.
A ESCOLA E A CULTURA
LHE SEPARARAM A CABEÇA DO CORPO.
DIZEM-LHE:
DE PENSAR SEM AS MÃOS
DE FAZER SEM A CABEÇA
DE ESCUTAR E DE NÃO FALAR
DE COMPREENDER SEM ALEGRIAS
DE AMAR E DE MARAVILHAR-SE
SÓ NA PÁSCOA E NO NATAL.
DIZEM-LHE:
DE DESCOBRIR O MUNDO QUE JÁ EXISTE
E DE CEM
ROUBARAM-LHE NOVENTA E NOVE.
DIZEM-LHE:
QUE O JOGO E O TRABALHO
A REALIDADE E A FANTASIA
A CIÊNCIA E A IMAGINAÇÃO
O CÉU E A TERRA
A RAZÃO E O SONHO SÃO COISAS
QUE NÃO ESTÃO JUNTAS.
DIZEM-LHE ENFIM:
QUE O CEM NÃO EXISTE.
A CRIANÇA DIZ:
AO CONTRÁRIO O CEM E XISTE.
(LORIS MALAGUZZI, BAMBINI, MILÃO, ANO X, Nº 2, FEV/94 IN BUFALO)
( TRADUÇÃO LIVRE DE ANA LÚCIA GOULART DE FARIA).
ALGUNS LIVROS LIDOS
Ana, Guto e o Gato Dançarino - Stephen Michael King
Aranha por um fio. Laurent Cardon
A Aranha Aventureira – Keith Chapman e Jack Ticke
A Aranha Bordadeira – Edson Gabriel Garcia e Marília Pirillo
Aranha Lobo – Roberto Muylaert Tinoco
A Bruxa Salomé – Audrey Wood e Don Wood.
Bruxa, bruxa vem à minha festa. Arden Druce e Pat Ludlon
Descubra as aranhas- Alejandro Algarra e Daniel Howarth
Minha professora é um monstro. Peter Brown
Os novos moradores – Janaina Tokitaka
Pedro e Tina – Stephen Michael King
Quando Estela era muito muito pequena - Marie Louise Gay
Quando mamãe virou um monstro. Joana Harrison.
Rápido como um gafanhoto – Audrey Wood e Don Wood
Sapo pra lá, rato pra cá. Antonio Barreto
Um amigo como você – Julia Hubery e Caroline Pedler
Viviana rainha do pijama – Steve Webb
FILMES ASSISTIDOS:
A Menina e o Porquinho
CDS OUVIDOS E SUGERIDOS
Cantar o Mundo – músicas e poesias para o ano todo – Elisa Manzano e
Paula Mourão
CantaVento – Esticador de horizontes
Crianceiras: poesias de Manoel de Barros musicadas por Márcio de Camillo
Encantoré – o que você vai ser quando crescer?
Pé com Pé – Palavra Cantada
Quatro Histórias – Texto de Rubem Alves e Música de Ivan Vilela
Ritmos do Mundo - Zezinho Mutarelli Gilles Eduar
Roda que Rola – Ponto de Partida&Meninos de Araçuaí
Samba pras crianças – Vários artistas e “Ong Toca o Bonde – Usina de
Gente”
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
CRUZ, Shirley Pires da. As múltiplas linguagens e o direito de brincar.
In: Brincadiquê? : pelo direito ao brincar: coletânea de textos para formação/
Rede Marista de Solidariedade. - Curitiba: Editora Champagnat, 2014.
BARROS, Aline Paes de. Espaçotempo para o brincar: organização de
espaços para o brincar e brinquedos. In: Brincadiquê? : pelo direito ao brincar:
coletânea de textos para formação/ Rede Marista de Solidariedade. - Curitiba:
Editora Champagnat, 2014.
Educação Infantil pós-LDB: rumos e desafios/ Ana Lúcia Goulart de
Faria e Marina Silveira Palhares (orgs.) – 4ºed. rev. e ampl. - Campinas, SP:
Autores Associados – FE/UNICAMP; São Carlos, SP: Editora da UFSCar;
Florianópolis, SC: Editora da UFSC, 2003. – (Coleção polêmicas do nosso
tempo; 62)
Exercícios de ser criança – Manoel de Barros
FRIEDMANN, A. arte de brincar: brincadeiras e jogos tradicionais.
Petrópolis: Vozes, 2004.
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