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Trabalho de Conclusão de Curso
RELATOS DE VIDA: O QUE DIZEM AS MULHERES POBRES ATENDIDAS POR
UM CENTRO DE REFERÊNCIA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL SOBRE A
EDUCAÇÃO DE SUA PROLE
Raildo da Silva Gomes
Samanta Felisberto Teixeira
RESUMO:
Esta pesquisa pretendeu fazer um breve resgate da caminhada dos estudos sobre a mulher
como responsável pelo sustento e aprendizagem dos filhos e das filhas, propondo uma
reflexão sobre a relação e o controvertido debate ao redor da responsabilidade da mulher
relativamente à educação de sua prole. Relatos feitos pelas mulheres atendidas no
acompanhamento do serviço de Proteção e Atendimento Integrados às Famílias (PAIF)
ocasionaram inquietações e questionamentos sobre essa responsabilização e atenção à vida
dessas mães. Foram convidadas 80 mulheres, comparecendo 15 mulheres usuárias dos
serviços sociais do Centro de Referência de Assistência Social (CRAS) e cadastradas no
PAIF. Utilizamos a técnica de pesquisa com a aplicação de um grupo focal, por meio
entrevista semiestruturada como fonte primária para obtenção dos relatos dessas mulheres. O
objetivo principal da pesquisa foi o de compreender a relação dessas mulheres com a (des)
educação escolar de seus filhos e de suas filhas. Dentre os múltiplos aspectos que podemos
destacar, a pesquisa constatou que essas mulheres são chefes de família e têm orgulho dessa
condição de gênero e muitas delas desejam voltar a estudar para sentirem-se bem com elas
mesmas e para melhorar sua condição de vida, como também contribuir com a educação
escolar de sua prole.
Palavras-chave: Mulheres, Contexto Social, Gênero, Educação e Pobreza.
1 INTRODUÇÃO
A escola ocupa hoje na sociedade brasileira um espaço relevante na vida e na
formação das pessoas que dela fazem parte, mesmo que por um período, no decorrer de uma
vida inteira. Algumas vezes a escola cumpre com uma formação cidadã e em outras vezes
não provoca diferença na vida daquelas pessoas que vivem à margem de uma sociedade
demasiadamente díspar.
De acordo com Saviani (1980, p. 51) o papel das instituições educacionais seria o
de “ordenar e sistematizar as relações homem-meio para criar as condições ótimas de
Trabalho de Conclusão de Curso
desenvolvimento das novas gerações. Deste modo, o significado da educação, a sua
finalidade, é o próprio homem, quer dizer, a sua promoção”. Entretanto Saviani (1980, p. 52)
constitui o homem como “torná-lo cada vez mais capaz de conhecer os elementos de sua
situação a fim de poder intervir nela transformando-a no sentido da ampliação da liberdade,
comunicação e colaboração entre os homens”. Expressando assim, a afirmação do autor, de
definir para a educação sistematizada objetivos claros e precisos, quais sejam: educar para a
sobrevivência, para a liberdade, para a comunicação e para a transformação.
Dessa forma, Saviani (1980, p. 172) direciona a luta pela difusão de
oportunidades e pela expansão da escolaridade do ponto de vista qualitativo. Gerando assim,
um papel importante para as escolas, de assumir a função que lhes cabe de investir na
população os instrumentos básicos de participação na sociedade, proporcionando seres
humanos protagonizando sua própria história.
Como o próprio nome alude, escola é um local de seres humanos que desejam
por um mesmo objetivo, o de aprenderem, socializarem e criarem relações, e incide também
em um ambiente em que a principal finalidade é o conhecimento. Todavia, hoje, as
competências básicas que são socializadas, já não são satisfatórias, pois faz-se mais
necessários que ensine, nas escolas, as competências para sobreviver, boa comunicação oral e
escrita, pensamento crítico, curiosidade e colaboração.
Nesta perspectiva é preciso que haja, então, um empenho para que a escola
trabalhe bem, para que tenha métodos de ensino eficazes. Entretanto neste sentido, Saviani
(1983) elabora o Método da Prática Social que estimulará:
[...] a atividade e a iniciativa dos alunos sem abrir mão, porém, da iniciativa do
professor; favorecerá o diálogo dos alunos entre si e com o professor, mas sem
deixar de valorizar o diálogo com a cultura acumulada historicamente; levará em
conta os interesses dos alunos, os ritmos de aprendizagem e o desenvolvimento
psicológico, mas sem perder de vista a sistematização lógica dos conhecimentos,
sua ordenação e gradação para efeitos do processo de transmissão-assimilação dos
conteúdos cognitivos (SAVIANI, 1983, P. 72-73).
É nesse sentido que a escola torna-se um espaço privilegiado para que exista um
desenvolvimento de conhecimento crítico servindo de base para a construção e entendimento
da realidade, proporcionando questionar a realidade vivenciada e procurar respostas para as
lacunas existentes no cenário vivenciado por esses usuários que frequentam diariamente a
instituição escolar.
Trabalho de Conclusão de Curso
De acordo com Frigotto (1999), a escola é uma instituição social que, mediante
sua prática no campo do conhecimento, dos valores, atitudes e, mesmo por sua
desqualificação, articulam determinados interesses e desarticula outros.
A escola em seu interior possui muitas contradições, que tem possibilidade de
mudança, haja vista as lutas que são travadas diariamente. Em seu cenário a educação por si
só não traz as soluções de todos os problemas, mais contribui na compreensão dos mesmos.
Podemos unir o conhecimento à ação diária, proporcionando modificações neste cenário,
entretanto é preciso envolver os atores sociais e suas contradições em um projeto que envolva
a todas as pessoas.
Ferreira (2005, p. 72) argumenta que “o desenvolvimento de qualquer sujeito está
articulado com sua constituição orgânica mais é fundado, constituído na vida coletiva”. É,
pois, na coletividade, nas relações sociais que se concretiza a aprendizagem. Dessa forma a
escola pode ser concebida “como um espaço privilegiado de vivência compartilhada de
atividades humanas” (FERREIRA, 2005, p. 73). Assim, justificando a inclusão para o pleno
desenvolvimento do sujeito.
Constantemente nos questionamos a respeito da educação e sua função na
transformação social e de como fazer uma educação transformadora inserida em um contexto
no qual grande parte das forças do sistema educacional insiste em se manter e resiste à
mudança do modelo engessado, sem fazer uma leitura da realidade vivenciada pelos usuários
em um cenário com múltiplas diversidades.
O intuito de analisar fatores relevantes sobre mulheres/mães na educação de sua
prole decorrem do trabalho direto com a Política Nacional de Assistência Social, com
famílias no Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculo (SCFV) e desses sujeitos
marginalizados de todo o processo de conquistas sociais e pobres.
As dificuldades apresentadas por uma parcela das crianças e adolescentes nos
hábitos diários no ambiente escolar e contestar uma realidade oposta ao androcentrismo,
propondo um cenário igualitário, compartilhamento das responsabilidade masculina e
feminina com seus filhos e filhas e que para ser entendido na escola deva ser iniciado em
casa, dessa forma o estudo teve como proposta: buscar uma reflexão sobre o entorno dessas
mulheres, ou seja, o que é evidenciado no cenário escolar por meio das práticas educacionais,
linguagens e silêncios relativamente à relação filho-filha/escola/mãe-pai.
Trabalho de Conclusão de Curso
Esta pesquisa pretendeu observar a partir da perspectiva de mulheres pobres que
são acompanhadas pelo Sistema Único de Assistência Social – SUAS e beneficiárias do
Programa Bolsa Família quais são as dificuldades de ajudar sua prole no ambiente escolar.
Assim, o objetivo do trabalho foi compreender a relação das mulheres e o grupo
familiar, propondo uma reflexão ao redor da culpabilização da mulher com a (des) educação
escolar de sua prole.
Mais que isso, a discussão aqui proposta esboçou alguns conceitos acerca das
condições do acompanhamento escolar, por meio do acolhimento e escuta qualificada dessas
usuárias.
O caminho percorrido foi conhecer e dar visibilidade ao cotidiano das mulheres
pobres, identificando suas estratégias de sobrevivência para o sustento da família, buscando
identificar o posicionamento dessas mães em relação à escola e a aprendizagem dos seus
filhos e suas filhas e para finalizar caracterizamos como se constitui a família no ambiente
escolar.
Para essa pesquisa foram selecionadas mulheres, usuárias de um CRAS, de forma
intencional e por meio de convite às mães, conforme as especificidades do estudo.
Participaram deste estudo mulheres pobres que são acompanhadas pelo Sistema Único de
Assistência Social – SUAS e beneficiárias do Programa Bolsa Família e que apresentam
dificuldades no processo de escolarização dos seus filhos.
Como um equipamento social de proteção social básica, aos CRAS compete:
Prevenir situações de risco por meio do desenvolvimento de potencialidades e
aquisições, e o fortalecimento de vínculos familiares e comunitários. Destina-se à
população que vive em situação de vulnerabilidade social decorrente da pobreza,
privação (ausência de renda, precário ou nulo acesso aos serviços públicos, dentre
outros) e, ou, fragilização de vínculos afetivos – relacionais e de pertencimento
social (discriminações etárias, étnicas, de gênero ou por deficiências, dentre outras)
(BRASIL, NOB, 2004, p. 33).
O CRAS se constitui como um local público de atendimento às famílias
referenciadas conforme a abrangência territorial e tem o “objetivo de fortalecer a convivência
com a família e com a comunidade, possibilita o acesso da população aos serviços, benefícios
e projetos de assistência social” (BRASIL, 2016).
Nesse espaço que se concretiza a ação técnica com as famílias que participam do
PAIF, cujo principal objetivo é “apoiar as famílias, prevenindo a ruptura dos laços,
Trabalho de Conclusão de Curso
promovendo o acesso a direitos e contribuindo para melhoria de qualidade de vida”
(BRASIL, 2016).
Desse modo, para analisar os aspectos da responsabilidade das mulheres/mães
neste contexto foi realizado um grupo focal com mulheres acompanhadas pelo PAIF do
CRAS na região Prosa do município de Campo Grande – MS.
A realização de um grupo focal (GF) se apoiou em hipóteses relacionadas ao
tema proposto e favorecerem a compreensão e a explicação dos acontecimentos sociais, bem
como por nos permitir mais liberdade na coleta de informações (MANZINI, 2003), além de
pontuar questões relativas à responsabilização e culpabilização das mulheres, usuárias do
serviço.
Quanto a análise dos dados e o desenvolvimento do estudo se deram mediante
pesquisa bibliográfica por primar recolher informações e conhecimentos prévios ao que se
propõe, no caso das mulheres/mães e com responsabilidade na educação da sua prole no
processo escolar.
Neste trabalho, destacamos a compreensão das atuais ações voltadas para a
valorização das relações entre família e escola, destacando quais os avanços em relação ao
benefício do PBF e a continuidade dos filhos na escola e através desses relatos de vida dessas
mulheres/mães com a (des) educação escolar de seus filhos e de suas filhas. Assim, buscando
o simples acesso a informações e orientações que interfere diretamente na qualidade de
convivência das mulheres com seus filhos.
2. OS RELATOS SOBRE A POBREZA E OS SERVIÇOS DE ASSISTÊNCIA
De acordo com a Constituição Federal – CF de 1988, Art. 5º:
Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se
aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no país a inviolabilidade do direito à
vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade (BRASIL, 2012, p.8).
Foi um marco a Constituição de 1988, uma vez que introduziu a Assistência
Social no campo da Seguridade Social, enquanto política que compõe o sistema de proteção
social no Brasil, em conjunto com a previdência social e a saúde. Entretanto, a assistência
social passou a ser reconhecida enquanto política pública de caráter não contributivo, como
dever do Estado, direcionada a quem dela necessitar.
Trabalho de Conclusão de Curso
E foi na década de 1990, no Brasil, foram introduzidas perspectivas neoliberais
por organismos internacionais e multilaterais (Banco Mundial e Fundo Monetário
Internacional – FMI), gerando significativas transformações no contexto nacional e, por
conseguinte, no Serviço Social brasileiro. Em meio às expressões e cenários das questões
sociais no mundo contemporâneo, pôde-se verificar um aumento expressivo da desigualdade,
cujos efeitos na vida da população atendida pelo Serviço Social são extremamente
significativos.
Quando reconhecemos que o pobre existe, que os pobres chegam às salas de aula,
entre ele, estão 17 milhões de crianças e adolescentes participantes do Programa Bolsa
Família, os quais frequentam cotidianamente a escola (CENSO ESCOLAR, 2013 apud
ARROYO, 2015).
Ver a pobreza como carência é uma postura comum, por conseguinte, os pobres
como carentes. Entretanto, de que forma esse desprovimento é, muitas vezes, entendido?
Percebemos que, na pedagogia, frequentemente ele tem sido compreendido como escassez de
espírito, de valores e, inclusive, incapacidade para o estudo e a aprendizagem (ARROYO,
2015).
A pobreza no Brasil é, portanto, a desigualdade social, histórica,
multidimensional e estrutural. Assim sendo, a evidência na história da pobreza, é também,
fruto de um processo de colonização que aconteceu nessa mesma terra com objetivo
exclusivo de exploração das riquezas minerais e vegetais do país que estava submetido ao
capital externo, o que gerou o enriquecimento dos que estavam hierarquicamente no poder.
Quando desafios para uma política bastante nova a da Assistência Social que tem uma
herança de pobreza e a desigualdade social que carregam dimensões culturais, sociais,
econômicas e históricas.
No ano de 2003, foi criado, pelo governo Lula, o Bolsa Família, a partir da
unificação de programas remanescentes como: Cartão Alimentação, Vale Gás e Bolsa Escola,
que foram configurados em um único benefício social de transferência de renda. Vale
considerar o número significativo de famílias, hoje, beneficiárias do programa e, desse modo,
usuárias da política de assistência social, por meio do CRAS, enquanto público prioritário de
intervenção, conforme orientação dada pelo Ministério de Desenvolvimento Social e
Combate à Fome (MDS).
Trabalho de Conclusão de Curso
O PAIF compõe um dos serviços de proteção social básicos ofertados pelos
CRAS, cujo objetivo é fortalecer a função protetiva das famílias, visando a: prevenção de
ruptura de vínculos; promoção do acesso e usufruto de direitos; e o desenvolvimento de
trabalho social com famílias beneficiárias do Programa Bolsa Família (PBF). Esse trabalho é
fundamental na medida em que se considera a proteção social para além da transferência de
renda. Parte-se, assim, da compreensão de que o trabalho social pode viabilizar ações do
poder público dirigido às famílias beneficiárias do programa em questão, com a finalidade de
disseminar informações, de modo a promover a garantia do acesso aos direitos,
proporcionando, desse modo, a superação das vulnerabilidades sociais para além da renda.
Em um cenário em que o Estado adota perspectivas neoliberais que priorizam o
mercado e o capital em detrimento do social, há que se considerar que se instaurou, no Brasil,
um processo de exclusão social, desse modo, é necessário desenvolver um olhar cauteloso
para a realidade circundante e, ao mesmo tempo, ser realista e propositivo na elaboração de
políticas e programas sociais, considerando a necessidade efetiva das famílias que são a
demanda do cotidiano de trabalho no CRAS.
2.1 O PROGRAMA BOLSA FAMÍLIA E SUA IMPORTANTE CONTRIBUIÇÃO
PARA UMA VIDA DIGNA
O Programa Bolsa Família, criado pela medida provisória no 132, de 20 de Outubro
de 2003, transformada na Lei no 10.836, de 09 de janeiro de 2004, e regulamentado
pelo Decreto no 5.209, de 17 de setembro de 2004, é o principal programa de
transferência de renda do governo federal. Constitui-se num programa estratégico
no âmbito do Fome Zero – uma proposta de política de segurança alimentar,
orientando-se pelos seguintes objetivos: combater a fome, a pobreza e as
desigualdades por meio da transferência de um benefício financeiro associado à
garantia do acesso aos direitos sociais básicos – saúde, educação, 6 assistência
social e segurança alimentar; promover a inclusão social, contribuindo para a
emancipação das famílias beneficiárias, construindo meios e condições para que
elas possam sair da situação de vulnerabilidade em que se encontram (BRASIL.
MDS, 2006).
O Programa Bolsa Família decorreu da precisão de unificação dos programas de
transferência de renda no Brasil, conforme diagnóstico sobre os programas sociais em
desenvolvimento, elaborado durante a transição do governo Fernando Henrique Cardoso para
o governo de Luiz Inácio Lula da Silva. Foi elaborado visando minimizar: 1) a ocorrência de
sobreposições de programas, definindo objetivos e público alvo; 2) desperdício de recursos
Trabalho de Conclusão de Curso
por falta de uma coordenação geral e dispersão dos programas em diversos ministérios; 3)
falta de planejamento e mobilidade do pessoal executor, 4) alocações orçamentárias
insuficientes, com o não atendimento do público alvo conforme os sete critérios de
elegibilidade determinados (BRASIL, 2002).
Primeiramente, a unificação proposta ficou restrita a quatro programas federais:
Bolsa Escola, Bolsa Alimentação, Vale Gás e Cartão Alimentação, e em 2005, a incorporação
do PETI e do Agente Jovem. O governo federal criou o programa Bolsa Família, em 2003,
para apoiar as famílias mais pobres e garantir o direito à alimentação.
Entretanto, há a transferência de uma renda mensal diretamente para as famílias e
as mesmas fazem o resgate deste valor através de saque com cartão magnético distribuído
pela Caixa Econômica Federal.
O SUAS tem buscado efetivar em todos os municípios brasileiros a implantação
de no mínimo um CRAS que venha a atender os serviços de proteção social básica, os quais
são executados de forma direta à população. Os Centros de Referência de Assistência Social
– CRAS, também chamados de Casa das Famílias, têm como objetivo ser a referência local
de assistência social, ser tão conhecido quanto uma escola, ou um posto de saúde e
concretizar os direitos socioassistenciais, ofertando e coordenando em rede, visando à
interligação dos serviços, benefícios, programas e projetos da proteção social básica às
demais políticas públicas locais, desenvolvendo ações que previnam situações de risco social,
por meio do desenvolvimento de potencialidades e do fortalecimento dos vínculos familiares
e comunitários (SIMÕES, 2007). Famílias essas atendidas através de uma ampla rede de
serviços, benefícios, programas e projetos, desenvolvidos no território de abrangência:
O trabalho com as famílias, referenciadas no território de abrangência do CRAS,
privilegia a dimensão socioeducativa da política de Assistência Social na efetivação
dos direitos relativos às seguranças sociais afiançadas. Assim, as ações profissionais
relacionadas aos serviços prestados no CRAS devem provocar impactos na
dimensão da subjetividade política dos usuários, tendo como diretriz central a
construção do protagonismo e da autonomia na garantia dos direitos com superação
das condições de vulnerabilidade social e potencialidades de riscos (MINISTÉRIO
DO DESENVOLVIMENTO SOCIAL, 2006, P. 13).
O número de famílias referenciadas a um CRAS é definido de acordo com o porte e a
taxa de vulnerabilidade do município. Sendo assim, o município de Campo Grande possui
Trabalho de Conclusão de Curso
dezenove CRAS em toda sua extensão territorial e configura-se entre os municípios de
grande porte III.
2.2 CAMINHOS DA PESQUISA
O presente trabalho se constituiu em uma pesquisa de campo e se configura em
um estudo de caso e pesquisa bibliográfica. Para tanto foi realizado um levantamento dos
pressupostos teóricos referente à temática e um grupo focal com as mulheres selecionadas
para a pesquisa e a análise dos dados obtidos.
O método é um conjunto de vias, utilizado num determinado contexto para
obtenção de dados e informações que colaboraram nas explicações ou compreensões do
problema. Optamos pelo método qualitativo enfatizando que desse modo pudéssemos estudar
o problema de pesquisa de forma direta, tentado buscar sentido ou interpretar os
acontecimentos a partir das significações atribuídas por aquelas pessoas que vivenciam a
problemática (DENZIN E LINCOLN, 1994 APUD TURATO, 2005).
O grupo para a pesquisa deste estudo foi selecionado de forma intencional e por
conveniência de acordo com as especificidades do estudo. Participaram deste estudo
mulheres/mães pobres que são acompanhadas pelo SUAS, beneficiárias do Programa Bolsa
Família e que apresentavam dificuldades no processo de escolarização de sua prole.
Especificamente foi utilizada a técnica de Grupo Focal (GF), com a utilização de
questões semiestruturadas como fontes primárias para obtenção dos principais dados da
pesquisa.
O grupo focal pode ser definido como uma forma de entrevista grupal, baseada na
comunicação e na interação entre as pessoas do grupo. Desta forma, o grupo focal pode ser
caracterizado como sendo uma técnica de pesquisa qualitativa, de modo que, seu principal
objetivo é a obtenção de dados sobre um tema especifico proposta em um grupo específico
(MORGAN, 1997; KITZINGER, 2000 APUD TRAD, 2009).
De acordo com Manzini (2004), a entrevista semiestruturada está focalizada em
um assunto sobre o qual produzimos um roteiro com perguntas principais, complementadas
por outras questões inerentes às circunstâncias momentâneas à entrevista. Entretanto para o
autor, esse tipo de entrevista pode fazer emergir informações de forma mais livre e as
respostas não estão condicionadas a uma padronização de alternativas.
Trabalho de Conclusão de Curso
O grupo focal para a coleta dos relatos das mulheres aproxima-se mais de um
diálogo, com assuntos focados, do que numa entrevista formal, baseando-se numa entrevista
adaptável e não rígida. A vantagem desta técnica é a sua possibilidade e flexibilidade rápida
de adaptação.
A pesquisa foi realizada em um local privativo dentro de um CRAS, no qual
estavam presentes o pesquisador e as participantes do grupo, em um ambiente adequado à
pesquisa. O número de mulheres participantes no grupo focal (GP) realizados foi de 15
mulheres beneficiárias, o local escolhido para a realização da atividade contribuiu muito para
a participação delas, facilitando o deslocamento dessas mulheres/mães.
Foram realizadas explicações sobre a abordagem e convite para participação na
pesquisa, sigilo, objetivos, devolutiva da pesquisa e desistência, o esclarecimento de
eventuais dúvidas foi oferecido às participantes. Também foram dadas explicações sobre os
meios de divulgação dos resultados da pesquisa. Após o aceite das participantes em responder
a entrevista, foram solicitada a assinatura do termo de consentimento livre e esclarecido.
Após a coleta dos dados foi feita uma leitura criteriosa do conteúdo das narrativas
para identificar os aspectos psicossociais nos discursos das participantes. Com embasamento
em todas as narrativas decorrentes e com apoio dos pressupostos teórico-metodológicos
escolhidos foi possível proceder à descrição e análise do das informações coletadas.
3. MANEJO E ANÁLISE DE DADOS
Essa etapa da pesquisa se ocupou de conhecer as mulheres/mães beneficiadas do
PBF, sobretudo o que relatavam a respeito do desempenho escolar dos seus filhos e suas
filhas, além de indicar suas dificuldades em ajudar sua prole no ambiente escolar. Conforme
descrição feita na introdução da presente pesquisa, foram convidadas 80 mulheres/mães
comparecendo 15 beneficiarias, resultando em 20% das convidadas (com crianças na escola).
Optar pela realização da pesquisa em grupo focal, foi acreditar que esta técnica
aprofunda a interação das participantes, a ideia por detrás do método do grupo focal é que as
etapas grupais auxiliam as pessoas a explorar e problematizar em conjunto os
questionamentos feitos pelo pesquisador, de tal modo que seriam menos facilmente acessíveis
em uma entrevista frente a frente, feita individualmente. As reflexões em grupo são
particularmente adequadas quando o pesquisador deseja estimular as pessoas da pesquisa a
Trabalho de Conclusão de Curso
explorar os aspectos importantes para eles e para elas, com sua própria linguagem, ensejando
suas próprias perguntas e estabelecendo suas prioridades (POPE; MAYS, 2009).
No mesmo raciocínio de Minayo (2008) os grupos focais são utilizados para: (a)
focalizar a pesquisa e formular questões mais precisas, ou seja, ir do geral para o particular;
(b) complementar informações sobre conhecimentos peculiares a um grupo em relação a
crenças, atitudes e percepções; (c) desenvolver hipóteses para estudos complementares. Além
disso, a autora conclui que essa técnica é utilizada cada vez mais na atualidade.
Desse modo, o objetivo da escolha dessa técnica é identificar percepções,
sentimentos, atitudes e ideias das usuárias a respeito de um determinado assunto, produto ou
atividade. Assim, o grupo focal consiste exatamente na interação das participantes com o
pesquisador, que durante a condução do grupo atua como mediador. Objetiva colher dados
com base na discussão focada em tópicos específicos e diretivos (IERVOLINO, PELICIONI,
2001).
O grupo focal foi gravado e posteriormente transcrito para permitir uma análise
mais detida ao objetivo da pesquisa. A partir das escutas sucessivas realizamos a
sistematização dos seus conteúdos, a categorização e a análises mais refinada do material
obtido (MINAYO, 1992).
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
A pesquisa foi dividida em quatro momentos distintos, o primeiro momento
(perguntas 1 e 2) como é a rotina de cada mãe e a organização da dinâmica família antes de
receberem o benefício do Bolsa Família. Na segunda parte (perguntas 3, 4 e 5), procuramos
entender a relação da escola, mãe, incentivo dos pais e mães dessas mães e diferença do
tempo que estudou para os dias de hoje, que seus filhos estudam. Na terceira parte (perguntas
6, 7 e 8) a correlação do PBF, melhoria de bem-estar no desempenho escolar e a frequência
na escola. E na quarta parte (perguntas 9, 10 e 11) qual a contribuição dessa mãe nos afazeres
escolares, a sua relação com a escola e a sua ida por alguma intercorrência do seu filho e se
tem alguma razão sua ida à escola.
O local escolhido para realizar o grupo focal, contribuiu muito para deixar as 15
mães a vontade para expressar suas respostas, sem constrangimento. Pois, no local onde
realizamos o grupo focal é o ambiente que seus filhos e suas filhas frequentam todos os dias.
Trabalho de Conclusão de Curso
Contribuindo para que essas mães se sentissem acolhidas e pudessem interagir sem ressalvas,
considerando, inclusive, que estavam em um ambiente de formação para a cidadania de sua
prole.
No Quadro 1 – Características das mães participantes do grupo focal apresentam
informações relativas à caracterização das mulheres/mães participantes da pesquisa:
Quadro 1 – Características das mães participantes do grupo focal
Mães do
grupo focal Idade Escolaridade
Estado
Civil
Renda
Familiar Religião
Nº de
pessoas
que
moram na
casa
Nº de Crianças
e Adolescentes
que estudam e
recebem o
Bolsa Família
MGF 01 53 a Alfabetizada Separada 434,00 Evangélica 12 04
MGF 02 38 a EFI União
Estável 880,00 Católica 05 03
MGF 03 48 a Alfabetizada Casada 880,00 Não
Respondeu 07 05
MGF 04 29 a EFC Solteira 300,00 Não tem 06 04
MGF 05 31 a EFI União
Estável 766,00 Não tem 04 02
MGF 06 39 a EMI Solteira 102,00 Evangélica 10 07
MGF 07 33 a EFI Solteira 350,00 Não tem 09 03
MGF 08 34 a EFI Solteira 200,00 Não tem 10 06
MGF 09 20 a EMC Solteira 100,00 Não tem 03 01
MGF 10 24 a EFI Solteira 200,00 Católica 05 03
MGF 11 23 a EFI Solteira 234,00 Católica 07 04
MGF 12 20 a EFC Solteira 167,00 Não tem 08 05
MGF 13 19 a EMI Solteira 456,00 Não tem 04 02
MGF 14 27 a EFC Solteira 150,00 Não tem 06 03
MGF 15 36 a EFC Solteira 500,00 Católica 08 05
Legenda: MGF – Mães do Grupo Focal EFI – Ensino Fundamental Incompleto
EFC – Ensino Fundamental Completo EMC – Ensino Médio Completo
EMI – Ensino Médio Incompleto a – Anos
As mães participantes desta pesquisa apresentaram idade mínima de 19 anos e
máxima de 53 anos. Quando analisamos o indicador de escolaridade dessas mães,
Trabalho de Conclusão de Curso
identificamos o fato de que apenas uma delas detinha Ensino Médio completo e quatro
detinham Ensino Fundamental Completo, seis Fundamental Incompleto, duas com Ensino
Médio Incompleto e duas Alfabetizadas.
A família beneficiada pelo PBF, na pessoa da mulher/mãe, assume o
compromisso de investir na educação, saúde, alimentação de suas crianças e adolescentes.
Após a leitura exaustiva das falas das mães entrevistadas, pudemos apreender, na perspectiva
da escuta qualificada, compreender a relação das mulheres/mães e o grupo familiar, propondo
uma reflexão sobre a culpabilização da mulher com relação a (des)educação escolar,
conforme as perguntas que permearam toda a nossa pesquisa.
4.1 MULHERES POBRES E A EDUCAÇÃO DE SUA PROLE
A maioria das mulheres que contribuíram na construção dessa pesquisa fazem
parte do território do CRAS e em boa parte das discussões no grupo permeio a importância
que tem o benefício do PBF, como também o CRAS na vida dessas mulheres.
No entendimento da potência e da capabilidades de superação das adversidades
da vida cotidiana, a escolaridade e a educação na concepção de mundo das mulheres ainda é
significativo para dar um sentido a sua vida e a vida de seus filhos. A pesquisa sinalizou que
a grande maioria não deu prosseguimento a sua escolarização, o que nas falas fica evidente,
quando o sentimento é qualidade de vida para si mesma e para com seus filhos. “Eu só penso
em trabalhar, as vezes esqueço que tenho filhos, e me sinto culpada por não poder ajudar
nos afazeres escolares, tenho pouco estudo. Mais é assim mesmo né?... meu sonho é voltar a
estudar novamente” (MGF 09)
As perguntas que nortearam a pesquisa, proporcionou criar momentos de refletir a
rotina e organização de mulher em sua rotina diária, constando que a esse dia a dia é corrido,
cansativo chegando a exaustão e com pouco tempo de contato com seu filho.
Proporcionou assim constatar que a escolarização é bem defasada, por diversos
motivos, e essa baixa escolaridade no caso dela foi transmitida de pai para filho,
configurando assim um ciclo de geração que foi reproduzido por elas.
Em relação ao desempenho escolar, as mulheres/mães reconhecem que o PBF
incide de forma muito positiva. Alguns fatores, conforme seus relatos contribuem para
melhorias em suas condições de vida: o medo de perder o benefício como um dos fatores que
Trabalho de Conclusão de Curso
auxiliam as crianças e adolescentes a permanecer na instituição escolar, maior motivação por
parte dos filhos em estudar e outro ponto muito importante e terem mais condições
financeiras de comprar materiais escolares, roupas e calçados.
Chama a atenção a quantidade de mulheres responsáveis pelas famílias que se
declaram solteiras e divorciadas, significando assim que uma parte significativa das famílias
convive com processos de famílias monoparentais. Essas mulheres são responsáveis diretas
pela criação dos filhos. São elas, em última instância, as provedoras imediatas.
Nessa relação de escolarização, escola e mães é muito claro nas falas das
entrevistadas que tem desejo de retornar a estudar, para ter um melhor futuro para ela mesmas
e para os filhos, como também contribuir nos afazeres de seus filhos.
4.2 COMO É A ROTINA DE VOCÊS: O QUE FAZEM DIARIAMENTE?
“ Meu dia a dia é trabalhar e trabalhar, chego em casa muito cansada e o meu desejo
é somente descansar, só que preciso ainda fazer janta para os meninos” (MGF 03)
“Acordo cedo, arrumo as crianças, mando ir para a escola e vou trabalhar... eu
trabalho três vezes na semana como faxineira, trabalho exausto, mais preciso
sustentar minha família, sou sozinha e penso em voltar a estudar” (MGF 15)
“É uma correria, tenho que arrumar as crianças, deixar na escola, e durante o dia
elas se organizam e as vezes ligo para elas, quando sobra um tempo e quando chego
tenho que trabalhar mais em casa, uma vida cansativa demais” (MGF 01)
“Eu só penso em trabalhar, as vezes esqueço que tenho filhos, e me sinto culpada
por não poder ajudar nos afazeres escolares, tenho pouco estudo. Mais é assim
mesmo né?... meu sonho é voltar a estudar novamente” (MGF 09)
Segundo SAFFIOTI (1976), nas sociedades pré-capitalistas as mulheres das
camadas baixas da sociedade sempre estiveram ativas na produção, contribuindo para o
sistema econômico e para subsistência da família, a instituição família existiu como uma
unidade de produção, as mulheres e as crianças desempenharam um papel econômico
fundamental.
Contrapondo a autora acima citada, fica evidente que nesta primeira questão
observamos que a maioria das mães trabalham muito, algumas chegam à exaustão, e que
Trabalho de Conclusão de Curso
além de organizar suas crianças para estarem no horário certo na escola, deixando na porta da
escola, e uma diz que durante o dia entra em contato através do celular. Percebe que deixar na
porta da escola demonstra o cuidado para que seus filhos estejam no horário certo e que não
desviem a rota.
Outra questão levantada é quando no final da tarde a chegada em casa: depois de
um dia exaustivo de trabalho, precisam organizar a janta para alimentar a família. A correria
parece que é um obstáculo como também a culpa por não priorizar um tempo de aconchego,
encontro entre mãe e filho e o desejo de retorno aos estudos para proporcionar um futuro
melhor, como também contribuir nos estudos de sua prole.
4.3 COMO VOCÊ ORGANIZAVA SUA VIDA E DE SUA FAMÍLIA ANTES DO PBF?
“Ai, ai, ai ... (risos) não era nada organizado, sempre faltava algo e ainda falta, mais
com menos frequência, agradeço muito ter o CRAS para organizar ainda mais
minha vida e a dos meus filhos, e o PBF é uma benção em minha vida, pois através
desse benefício consigo comprar mais comida, mistura principalmente e roupas para
meus filhos... me ajuda muito” (MGF 03)
“Será que era organizada? Não me lembro. O valor que recebo é pouco, mais
sinceramente me ajuda muito, na alimentação e para comprar coisas de material
para a escola” (MGF 04)
“Me organizava da forma que dava para comprar um pouco de cada coisa de comer,
as vezes faltava porque o dinheiro não dava mesmo ... outra hora tínhamos que
escolher o que era importante para comprar, mais estamos aqui. Já passamos muita
dificuldade, hoje menos, mais como sou diarista, tenho me esforçado para que não
falte nada ... mas ultimamente está difícil encontrar diária, ainda temos um pouco de
dificuldade, mais esse dinheirinho do Bolsa Família nos ajuda muito” (MGF 03)
“ Antes era tão difícil uma organização sem dinheiro, mais também hoje está tão
difícil, pois é muita coisa que tem que fazer para receber o benefício, o filho não
pode faltar na escola, é preciso vacinar e hoje o serviço público está ruim, escola
que não dá ouvidos a gente, a saúde que nunca tem médico, as vezes dá um
desespero... as vezes penso em voltar a estudar para concluir meus estudos e
conseguir um trabalho melhor” (MGF 08)
Trabalho de Conclusão de Curso
Na busca de suprir suas necessidades, o que se compreende é que os pobres
sacrificam uma necessidade para atender outras, por isso, a necessidade acaba por impedir a
liberdade. As obrigações podem se constituir em fatores: materiais, como alimentação, saúde,
educação, transporte, vestuário etc.; ou imateriais, como autoestima, afeto, participação,
criatividade, identidade, liberdade, etc (SANTOS, 2002).
De acordo com as entrevistadas não tinha organização financeira, o que tinha era
uma preocupação em conseguir sustentar seus filhos, mais com muita dificuldade. Depois de
constar na lista de beneficiaria muitas conseguem se organizar financeiramente, mais que
ainda está difícil, mais com menos dificuldade como antes.
Uma das mães sente dificuldades por conta dos critérios para receber o benefício,
indicando uma possível dificuldade de que ela tenha em lidar com normas e critérios.
4.4 - ATÉ QUE SÉRIE ESCOLAR VOCÊ ESTUDOU? E COMO ERA NO TEMPO DE
ESCOLA?
“ Muito pouco, sei escrever meu nome somente, mais tenho vontade de voltar a
estudar, mais acho que já estou velha ... (risos) passei do tempo” (MGF 03)
“ Foi devido a gravidez do meu primeiro filho que deixei a escola, tenho vontade de
estudar, quem sabe eu volto a estudar, tenho a quarta série ... minha mãe jogo direto
na minha cara, que preciso voltar a estudar ... mas está tão difícil devido meu filho
pequeno” (MGF 07)
“ Terminei a oitava série naquela época. hoje nem sei mais como é, mais tenho
vontade de voltar, saber mais, não ser tão “burra” ... ser mãe solteira e sozinha é
muito difícil... estamos sempre na luta diária para sustentar nossos filhos” (MGF
08)
“...Nunca estudei, tenho vontade de estudar, o que sei mesmo é escrever meu nome,
as vezes tenho vergonha e é por isso que quero que meus filhos estudem, faça uma
faculdade ou sei lá” (MGF 01)
“ Meu grande sonho e que meus filhos estudem, pois eu fui mãe muito cedo e tive
que sair, não por falta de incentivo, mais ser mãe não é fácil e ter que trabalhar,
cuidar dos filhos e da casa ... é muita coisa” (MGF 15)
Trabalho de Conclusão de Curso
A pergunta foi pertinente para que as mães se situassem com relação à realidade
de sua prole na escola, pois segundo os relatos delas, sabem que estudaram muito pouco. E
entendem que isso não seria um futuro desejável para as crianças, assim configurado pelo
incentivo do filho e da filha permanecer na escola. Das mães, uma nunca estudou e outra sabe
escrever o nome, mais que o grande desejo é voltar a estudar, por mais que se ache velha, isso
demonstra que a escola é vista como uma ferramenta importante na mudança de vida e
situação social em que se encontram, contribuindo no incentivo do filho e da filha na
continuidade dos estudos.
4.4 SEUS PAIS INCENTIVAVAM VOCÊ NO ESTUDO? SE SIM, COMO ERA ESSA
AJUDA?
“ Olha ... não me lembro, mais eu tinha o que comer, acredito que foi mais
desânimo e também a vontade de ter alguma coisa melhor, que me fez ir trabalhar
depois ter filhos, e hoje estou aqui, sem estudo e com filhos para sustentar” (MGF
15)
“ Meus pais sempre dizia para eu ir estudar para ser alguém no futuro, meus pais me
ajudava como podia, nunca sentou comigo para me ajudar, pois eles não tinham
estudo suficiente ... (choro)” (MGF 13)
“ Fui criada somente com meu pai, minha mãe morreu cedo, e meu pai vivia
trabalhando e eu iniciei minha vida sexual muito cedo e com isso logo veio meus
filhos e estou aqui com pouco estudo e com filhos para criar, mais incentivo os
meus (filhos), vamos ver o que dá”. (MGF 09)
“ Não ... eles não sabiam nem pra eles, mais não faltava comida em casa, era tudo
simples, mais tinha e eu que não quis estudar mesmo, hoje quero muito que meus
filhos estudem”. (MGF 03)
De acordo com as entrevistadas, a relação dos pais com a escola é uma
reprodução, pois os pais não estudaram, resultando assim que as filhas abandonassem a
escola, por incentivo, por não se interessar ou até mesmo gravidez precoce.
Trabalho de Conclusão de Curso
O desejo de uma das entrevistadas era que estudasse para ser alguém na vida, por
mais que não tivesse estudo, configurando assim a importância do ensino para seus filhos,
para ter condições melhores na vida.
4.5 PARA VOCÊ TEM ALGUMA DIFERENÇA ENTRE O PERÍODO QUE VOCÊ
ESTUDOU, PARA OS DIAS DE HOJE QUE SEUS/AS FILHOS/AS ESTUDAM?
“ Pra mim, não tem nada de novo, o que tem de diferente são as violências diárias,
com nossos filhos no final da aula e outras violências são os professores que falam
alto, as vezes até xingam... muito triste” (MGF 12)
“Deixa eu pensar ... para mim que estudei a muito tempo atrás tem sim. Percebo que
tem muito projeto hoje, que antes não tinha, mais coisas diferentes, como festas,
gincana, projeto ao sábado e também contra turno ... mais que muitas vezes não
agrada os nosso filhos, mais eu gostaria muito que tivesse em meu tempo, meus
filhos ficam na escola pela manhã e à tarde estão no CRAS que sinceramente me
deixa mais tranquila para trabalhar” (MGF 06)
“Olha estou pensando aqui, se tivesse tantas coisas na escola (projetos, esportes) no
meu tempo, acho que não sairia da escola para ter filhos, mais precisa ter mais
professores que gostam do que faz, porque as vezes quando vou buscar meus filhos
na escola, fico olhando alguns professores muito estressado” (MGF 05)
Hoje conforme os depoimentos das mesmas, a escola é diferente em sua
metodologia, sua dinâmica, mas que mesmo assim os filhos nem sempre estão na mesma
sintonia que a escola. Uma das mães fica tranquila, no dia a dia, visto que trabalha o dia todo,
que além da escola o CRAS acolhe os filhos deixando-a mais segura.
Um recorte que uma das mães fala é sobre a violência diária na escola, sinal que a
mesma vai buscar seu filho todo dia. Percebe pelas falas que a violência também parte dos
educadores que além de exaltar a voz, usam de palavrões com seus filhos.
Trabalho de Conclusão de Curso
4.6 VOCÊ ACHA QUE O PBF TROUXE ALGUM BENEFÍCIO/MELHORIA PARA A
SUA FAMÍLIA QUE RECEBEM O BENEFÍCIO? EM QUE MELHOROU?
“ Olha gente ... vou dizer por mim e minha família ajudou, tem ajudado muito e
tenho medo de não ter mais ele para contribuir com a renda em casa, somos de uma
família grande ... tem nos ajudado em comprar alimentos, principalmente a mistura
e materiais escolares .... para mim melhorou em tudo” (risos) (MGF 08)
“ Trouxe muitos benefícios, desde não precisar que meu filho trabalhe, participar
das reuniões do Bolsa Família e me ajudar no entendimento das coisas e também a
contribuição de todo trabalho de vocês (CRAS) em minha vida e na vida de minhas
criança ... melhorou meu auto estima, e de meus filhos dá pra comprar roupas e
materiais escolares” (MGF 03)
“O meu benefício é pouco, mais melhorou na compra de mistura em casa” (MGF
13)
“ Sou imensamente agradecida pelo governo de Lula, por ter me ajudado a criar
meus filhos com esse dinheiro, melhorou muito minha vida e dos meus filhos, tenho
receio de que acabe, mais se acabar precisamos ver outros meios, hoje agradeço
pois além do benefício eu também trabalho” (MGF 07)
“ Ajudou um pouco, não muito, mais poderia ser maior o benefício, assim não
precisava trabalhar” (MGF04)
Em suma, podemos afirmar que a renda está sendo bem alocada, servindo para aliviar a
situação de pobreza e de miséria. Mas, apesar dessa constatação, muitos críticos, inclusive
muitos beneficiários, chamam a atenção para o baixo valor dos benefícios do Bolsa Familia,
segundo os quais, não seriam suficientes para retirar alguém da pobreza (SILVA,2006)
4.7 VOCÊ ACHA QUE HOUVE ALGUMA ALTERAÇÃO NO DESEMPENHO
ESCOLAR DE SEUS FILHOS, APÓS O RECEBIMENTO DO BENEFÍCIO? QUAIS?
“Todos, porque na minha época precisei trabalhar, isso de alguma forma me
prejudicou e com esse benefício meus filhos não precisa trabalhar, e o desempenho
é muito bom, mais é preciso melhorar, tenho cobrado quando lembro (risos) ... as
notas são boas. Preciso dizer que podemos comprar roupas, sapatos e materiais
escolares” (MGF 01)
Trabalho de Conclusão de Curso
“Com toda certeza, há uma cobrança comigo que acabo também cobrando meus
filhos, para que as notas e também o desempenho seja muito bom, tenho medo de
perder o benefício. Tenho filhos maravilhosos, que me respeita e que tenho muito
orgulho deles” (MGF 13)
“Não sei, nunca tinha pensado, mais acredito que sim, mais vou pensar sobre, mais
o que percebo é que com o benefício, eles (filhos) gostam muito de ir na escola”
(MGF 08)
“Sim teve, mais preciso ir constantemente na escola não pela notas, mais pelo
comportamento, eles realmente são muito bagunceiros e isso tem me deixado
desesperada, pois eu preciso trabalhar e tenho pouco tempo em ficar com eles ...
mais meus filhos melhorou muito na escola com o recebimento do benefício” (MGF
09)
Uma boa parte das mães tem clareza do compromisso de receber o benefício, que
conforme o BRASIL/MDS, 2010, para receberem o benefício mensal, as famílias devem
atender a todas as condicionalidades, garantindo assim escola para crianças e jovens e saúde
para todos os membros da família. Dessa forma ela reafirma o objetivo do programa, que é a
garantia de seus filhos na escola, todos os dias, sem falta. Um ponto importante e reconhecer
que os filhos são desobedientes e mesmo assim comparece na escola para conversar com as
professoras e direção para melhorar a indisciplina, contribuindo assim para a relação entre a
mãe e a instituição.
Em relação ao desempenho escolar, as famílias entrevistadas reconhecem que o
PBF incide de forma positiva. Alguns fatores, segunda elas, contribuem de forma direta: o
medo de perder o benefício como um dos fatores que auxiliam os alunos a permanecer na
escola, maior motivação por parte dos alunos em estudar (incentivo do PBF) e terem mais
condições financeiras de comprar materiais escolares, roupas e calçados.
Trabalho de Conclusão de Curso
4.8 COM RELAÇÃO À FREQUÊNCIA ESCOLAR, HOUVE ALGUMA ALTERAÇÃO
APÓS O RECEBIMENTO DO BENEFÍCIO?
“Sim tem, hoje só falta se for preciso. Pois se meus filhos faltarem, pode bloquear
meu benefício, preciso ir ao CRAS para ver o que faço ... mais penso que é preciso,
pois se não as coisas ficam muito solta ... muito bagunçado” (MGF 06)
“Antes minha crianças faltavam muito, uma parte dessas faltas era minha, pois
qualquer coisa eu pedia para eles não ir, pois as vezes não tínhamos o que comer e
também eu não tinha trabalhado, então faltava ... (choro). Hoje é diferente pois eles
não faltam, estão com a vacina em dia e eu participo das reuniões do Bolsa Família,
tudo para que não seja bloqueado nosso recurso. É tudo conversado com eles, a
importância do benefício” (MGF 15)
“De forma alguma não falta, só se estiver doente, mais com atestado, sempre foi
assim antes ou depois do benefício, como não estudei muito eu quero que eles
(filhos) estudem e seja alguém na vida, diferente de mim” (MGF 01)
De acordo com as mães, a falta somente existe se for preciso, uma consciência de que a falta
resulta em condicionalidade, e que o benefício pode ser bloqueado ou suspenso. A
consciência dela permeia a reuniões que acontecem todo mês no CRAS de referência, que
ajudam as mesmas a entender esse processo de garantir seus filhos todos os dias na escola.
Percebe que é uma amarração entre o que recebem e a continuidade dos filhos na instituição
escolar. Assim, o benefício além de garantir uma alimentação, ou não ter escassez de
alimentos, o mesmo reforça a garantia das crianças e adolescentes na escola.
4.9 QUAL A SUA CONTRIBUIÇÃO COM OS AFAZERES ESCOLARES DOS SEUS
FILHOS?
“Nenhum, eu não sei nem ler e nem escrever, só sei fazer o meu nome” (MGF 01)
“Eu tento, mais as vezes é tão difícil, pois não entendo o que estão pedindo, me
sinto uma “burra”, mais quero voltar a estudar” (MGF 08)
Trabalho de Conclusão de Curso
“Queria muito ajudar, eu tento, mais sinceramente é muito difícil, tem coisa que não
sei mesmo, eu sou nova e com pouco estudo, fiquei gravida com 13 anos e vou ser
sincera eu preciso voltar a estudar para ajudar meu filho” (MGF 13)
“Sou uma mulher guerreira que cuido sozinha dos meus filhos, só tenho muita
dificuldade de ajudar, pois não sei nem para mim, mais dou meus pulos, chamo
algum amigo ou amiga para ajudar eles, pois quero muito que eles saiam dessa vida
miserável que vivemos ... é muito triste, ter vontade e não puder ajudar” (MGF 03)
“Ajudo sempre, às vezes não sei, corro atrás dos vizinhos amigos sei lá... e que não
trabalho então eu tenho tempo e assim tento ajudar da melhor forma possível”
(MGF 14)
Nesta questão, que tem muito a ver com o objetivo da pesquisa em questão, as
mães entram no conflito de contribuição na hora do estudo, mais em contraponto muitas não
sabem, o que leva a se sentir despreparada e desamparada, pois são provedoras do sustento,
além de terem a obrigação da educação.
Para outras mães, tentam de alguma forma ajudar, mais com muita dificuldade,
retratando assim, seu histórico escolar e também sua defasagem no período que estudou,
muitas vezes foi mãe cedo, resultando a interrupção dos estudos.
Para outras mães, a educação tem um significado muito importante, levando-as a
procurarem ajuda com amigos próximos, pois como não trabalham pode contribuir com mais
alternativas.
4.10 COMO É SUA RELAÇÃO COM A ESCOLA DE SEUS FILHOS?
“Uma relação boa, mais vou pouco na escola, só quando tem reunião” (MGF 04)
“Sabe que é muito boa, sempre falo com a professora, com a diretora... eu preciso
participar mais... porque tenho tempo... mais tenho preguiça” (MGF 14)
“Já foi piores a minha relação com a escola, hoje é mais tranquila, mais teve uma
vez que eles queriam tirar meu filho da escola “expulsar”, só que o CRAS me
orientou e eu fui atrás dos direitos do meu filho, pois queriam tirar ele por que ele é
Trabalho de Conclusão de Curso
muito “bocudo”... meu filho é muito crítico, qualquer coisa ele reclama e as vezes
ele fala alto e foi por isso que queriam tirar ele (MGF 06)
“É boa, sempre que chama estou lá, mais fora isso não vou, aliás não nem quem é o
diretor novo que está lá agora, trocaram muito de diretor na escola, isso é muito
ruim” (MGF 07)
Segundo ARROYO (2000), os aprendizes se ajudam uns aos outros a aprender,
trocando saberes, vivencias, significados, culturas. Trocando questionamentos seus, de seu
tempo cultural, trocando incertezas, perguntas, mais do que respostas, talvez, trocando.
4.11 VOCÊ É CHAMADA PARA IR À ESCOLA, POR ALGUMA INTERCORRÊNCIA
COM SEUS FILHOS? SE SIM, POR QUAIS RAZÕES?
“Vou sempre na escola, pois meus filhos sempre estão na supervisão ou na sala da
direção, elas me ligam e vou ver... é sempre a mesma coisa indisciplina... ai
pergunto para meus filhos eles falam que as professoras gritam com eles ... e fica
dessa forma vou compareço ouço converso com eles, mais me relata outra coisa...
não sei o faço” (MGF 10)
“Conturbada, pois já briguei com as professoras, com a diretora, por causa do meu
filho, parece que somente ele é indisciplinado naquela escola, mais a professoras
são muito dura com todos os alunos, até parece que não tem coração... sei que as
crianças e adolescentes são bagunceiros, mais olha é preciso também saber resolver
os problemas de outras formas, não só através de xingamento ou gritaria” (MGF 15)
“Olha é bastante difícil, pois confesso que já tentaram tirar meu filho de lá, por
baderna que ele (filho) jura não ter feito, mais que a professora insiste em dizer que
foi ele... meu filho diz que estava junto ao grupo que fez arte, mais que não fez nada
... e eu acredito em meu filho... porque se eu não acreditar quem vai acreditar... ele
me ajuda tanto... pois tenho um filho menor que eles vão juntos e voltam juntos,
pois eu trabalho o dia todo” (MGF 02)
“Normal, quando chama vou lá, vejo o que está acontecendo, converso com meus
filhos ... as vezes até bato neles pela vergonha que tem me passado, mais depois me
arrependo... estou cansada de ir direto na escola” (MGF 11)
Trabalho de Conclusão de Curso
De acordo com MARCHESI (2004), a educação não é uma tarefa que a escola
possa realizar sozinha sem a colaboração de outras instituições e, a nosso ver, a família é a
instituição que mais perto está da escola. Entretanto se levarmos em consideração que
Família e Escola procuram atingir as mesmas finalidades, devem elas comungar os mesmos
ideais para que possam vir a superar dificuldades e conflitos que diariamente afligem os
profissionais da instituição e também os próprios estudantes e suas famílias. Assim, “A
escola nunca educará sozinha, de modo que a responsabilidade educacional da família jamais
cessará. Uma vez escolhida a escola, a relação com ela apenas começa. É preciso o diálogo
entre escola, pais e filhos (REIS, 2007, p. 6).”
Deste modo, a relação entre a família e a instituição escola tem que ser boa,
pautando o trabalho educativo e que tenha como principal alvo, o aluno/filho. A escola deve
também exercer sua papel educativo junto aos pais, dialogando, informando, orientando sobre
os mais diversos assuntos, para que em reciprocidade, escola e família possam proporcionar
um bom desempenho escolar e social às crianças e adolescentes.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Passaram-se treze anos da implantação do Programa Bolsa Família, e ainda
persistem muitas inquietações no âmbito principalmente sob enfoque dos direitos sociais.
Admitiu após a realização de toda revisão bibliográfica aqui citada e a
implementação da pesquisa, o quanto é importante e benéfica à relação Família/Escola no
processo educativo da criança e do adolescente. De tal maneira que a família quanto a escola
são referenciais que contribuem no bom desempenho escolar, portanto, quanto melhor for o
diálogo e sintonia entre estas duas instituições mais positivo será esse desempenho.
Ficou bem evidente que a baixa escolaridade é o principal empecilho para que
ocorra menor disparidade entre mulher/mãe/filhos/escola, e o que chama a atenção é que esta
pobreza é transmitida de pai para filho, incidindo um ciclo de geração em geração. Isso quer
dizer que os filhos de pais pobres têm mais chances de serem pobres, e quando crescerem e
tiverem seus filhos, eles terão grandes chances de serem pobres também.
Deve ocorrer um rompimento neste ciclo, por isso a Educação, vêm como
condicionalidade na constituição do Programa Bolsa Família, partindo do princípio de que
quem tem mais anos de estudos ganham as melhores rendas e tem acesso a melhor educação.
Trabalho de Conclusão de Curso
Ao se focar para as dinâmicas e os processos internos às famílias no intuito de
melhor compreender seus modos de relação com a educação escolar, as pesquisas atuais
evidenciam que a importância da família para a escolaridade dos filhos vai além de um mero
reflexo da classe social (Nogueira, 1998).
Todavia, a participação da família na instituição escolar dos filhos precisa ser
constante e consciente, pois vida familiar e vida escolar se completam. Com base nos
depoimentos de mães acreditamos que o desempenho escolar das crianças melhorará a partir
do bom relacionamento entre família e escola.
O material empírico desta pesquisa nos permitiu investigar a inclusão das mães
no Programa Bolsa Família e, desde então, entender os limites e as probabilidades de como as
mães utilizam o recurso recebido. Ao nos aproximar, neste estudo, da subjetividade das
usuárias, constatamos a percepção do auxílio recebido, constituindo uma diminuição de seu
sofrimento, o alivio da fome dos seus filhos e filhas, como também uma melhor educação, e
saúde, possibilitando uma forma mais próxima a necessidade dessa família, garantir a compra
de roupas, remédios e materiais escolares. As mulheres, ao saberem que foram contempladas,
ficam felizes pela segurança de uma renda fixa e a possibilidade de adquirir bens para a
família além da alimentação.
Escutar essas mulheres/mães, em seus relatos reforça a consonância com as
instituições famílias e escola, são peças fundamentais para o pleno desenvolvimento da
criança e do adolescente e consequentemente são pilares imprescindíveis no desempenho
escolar. Entretanto, para conhecer a família é necessário que a escola reconheçam que a
instituição família teve mudança, é construída pela mãe, que além de promover o sustento,
garantir a educação é preciso ser protagonista dessa história.
Dessa forma geral, as mulheres/mães sinalizam como um aspecto negativo do
PBF, o valor recebido, que para algumas é pouco, sugerindo aumento do recurso. Indicam
também a necessidade de maior fiscalização na inserção de famílias elegíveis e
desenvolvimento de programas de geração de emprego e renda.
Ainda que a relação das famílias com as escolas tenha se originado em uma época
de mudanças no contexto social e educativo, não se pode negar a atuação desses intelectuais
no sentido de não conceber a escola como instituição fechada e detentora dos conhecimentos
necessários para a educação dos alunos.
Trabalho de Conclusão de Curso
Entender esse processo é de suma importância para entender as atuais ações
direcionadas para essa vertente, pois, como aponta Silva (2003), a relação escola-família é
uma relação complexa, uma vez que ela pode ser vista sob duas vertentes, ou seja, aquela que
trata somente das interações entre pais e filhos em relação ao envolvimento destes com a
escola e aquela que trata do contato dos pais com a escola e professores.
6. REFERÊNCIAS
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Promulgado em 5 de outubro de 1988, com as alterações adotadas pelas emendas
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