Resenha - Jornalismo Movel - Revista Temática

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    Ano XI, n. 11. Novembro/2015. NAMID/UFPB - http://periodicos.ufpb.br/ojs2/index.php/tematica

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    Resenha

    Jornalismo Mvel (e-book)1

    (Fernando Firmino da Silva. Salvador: EDUFBA. Coleo Cibercultura: 2015)

    William Robson CORDEIRO2

    Na era do jornalismo convergente, o livro do professor Fernando Firmino da Silva,

    Jornalismo Mvel (2015), se prope a colocar em evidncia um tema que ganha uma

    fora maior quando se fala no aspecto de um tecnodeterminismo socialmente

    impregnado, uma difuso de tcnicas em todos os campos sociais e que inclui uma

    forma nova de produo e de consumo de produtos jornalsticos. Quando Silva trata do

    jornalismo mvel, no se limita a aspectos de sua produo, at porque o jornalismo

    mvel h bastante tempo (de incio nos anos 50 e 70), no que tange ao uso de

    equipamentos de transmisso seja no rdio, televiso e at mesmo nas tecnologias

    como o a caneta e o bloco de papel. Mas, a denominao estabelece uma maior

    abrangncia, ao contemplar a forma de distribuir e consumir notcia a partir dosdispositivos mveis, como tablets,smartphonese os e-readers.

    Este ponto fortalece uma conexo entre desenvolvimento tcnico e prticas sociais,

    relao atrelada diretamente com o aparecimento destas tecnologias de informao e

    comunicao, o que, de certa forma, expe a importncia desta pesquisa, potencializada

    pelo aumento de usurios com dispositivos e conexes. O livro permeia pela produo

    jornalstica a partir de levantamento emprico em empresas jornalsticas tradicionais

    (Extra, NE10, Zero Hora, O Globo) e novos modelos de difuso de contedo (Mdia

    Ninja). E, considerando a pesquisa, Silva esclarece que o jornalismo mvel, embora

    praticado h tempos (reprter transportando objetos de transmisso), tem uma

    caracterstica especfica na era digital, alm da mobilidade na coleta de dados: a

    ubiquidade e a portabilidade.

    1Disponvel em https://repositorio.ufba.br/ri/handle/ri/18003

    2

    Doutorando do Programa de Ps-Graduao em Jornalismo da Universidade Federal de Santa Catarina(POSJOR/UFSC). Integrante doNcleo de Estudos e Produo Hipermdia Aplicados ao Jornalismo

    NEPHI-Jor. Email: williamdefato@gmail.com

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    O livro mostra que a mobilidade passa por transformaes em sua configurao

    tanto no aspecto fsico (no trabalho de reportagem) quanto ao que ele conceitua de

    mobilidade informacional, que trata de aspectos da logstica da informao, atravs

    das redes e dos computadores portteis. Do outro lado da ponta, esto os consumidores

    que na era da convergncia so impelidos uma nova cultura (ou cibercultura), onde o

    tcnico e o social so inseparveis, e onde o consumo de informao e material

    jornalstico via dispositivos mveis se acentua.

    Seguindo inicialmente estas frentes, o livro Jornalismo Mvel esclarece que o

    conceito advm de um termo de 2005 empregado no trabalho dos reprteres do jornal

    americano GannetNewspaper, denominado MOJO ou a abreviao de mobile journaliste que h uma relao forte aos tempos atuais devido nova forma de produo

    jornalstica que se baseia tambm nos dispositivos consumidos pelo pblico. Ou seja, h

    uma nova dinmica que se estabelece no jornalismo convergente, em que a informao

    poder ser consumida a partir de recursos mais poderosos e em tempo real. Da, Silva

    aponta que o fato dos dispositivos com interfaces esteticamente agradveis e telas

    touchscreenabre possibilidade de obter informao jornalstica de maneiras diversas e

    em menor espao de tempo. E, assim, tambm oferece esta possibilidade de recurso paraa produo jornalstica, j que o autor sugere existir oportunidade de transmisso ao

    vivo utilizando-sesmartphonese aplicativos destreamingde udio e vdeo (transmisso

    de dados por internet) (SILVA, 2015, p.10).

    As condies para a efetivao do jornalismo mvel digital, termo que Silva adota

    para melhor abarcar o seu campo de estudo, est na ideia de uma redao

    descentralizada, com lgicas diferentes do praticado no antigo modelo das empresas

    jornalsticas. Trata-se de uma forma de produo que se coloca distante do ambiente

    geogrfico da redao tradicional e se reveste de infraestrutura prpria, como

    transmisses em 3G, 4G e Bluetoothatreladas aos dispositivos mveis (computadores

    portteis, gravadores, celulares e cmeras digitais). Vale frisar que muitos destes

    aparatos vo se congregando e confluindo para um mesmo equipamento, que pode

    oferecer estes recursos, como ossmartphonese os tablets, o que to somente expem a

    dinamicidade e as possibilidades que constantemente se abrem neste campo do

    jornalismo mvel digital. A formao de uma redao descentralizada no se coloca

    aqui pelo autor como algo especfico da mdia tradicional, mas, enaltece a partir da o

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    seu protagonismo tambm na chamada mdia cidad, que passa a recorrer estrutura

    de transmisso de contedoque, no atual contexto, so dispositivos de custo baixo e

    de alta mobilidade.

    Silva divide o cenrio favorvel ao jornalismo mvel em trs aspectos, como a

    expanso da mobilidade atravs das tecnologias mveis, que gera diferenciada relao

    entre o jornalista e as formas de apurao e transmisso de contedo; a

    geolocalizaopara as notcias, atravs de recursos de GPS, que sinalizamo lugar da

    emisso da informao; e, finalmente, a mobilidade do consumidor de informaes,

    desde que se demonstrou com novas demandas de consumo, o que instiga a produo

    jornalstica em geral e cidad. O autor institui estes pontos no denominado contextops-PC, a emergncia dos dispositivos mveis, a cultura dos aplicativos e do

    armazenamento em nuvem, feies que tipificam um ecossistema mvel.

    Ao tratar de ecossistema, Silva expe um momento de transformao jornalstica

    permanente com o incremento de novos meios e tecnologias, transformao que gera

    convergncia, experincias e fenmenos que vo alm de um nico meio, mantendo

    relaes com outros, o que lembra pontos apresentados por Scolari (2010) ao conceituar

    as dinmicas transmiditicas. Neste caso, especificamente, h um apanhadotecnolgico como um kit de equipamentos e acessrios, alm da estrutura de

    transmissoque se coloca servio do jornalismo.

    Considera-se que todo este agrupamento tecnolgico enquadra-se na era Ps-PC,

    que Silva explica na pgina 23, ao abordar a tecnologia como fenmeno de ubiquidade e

    a nuvem de conexo. Embora se falava sobre estes pontos no final dos anos 80, o autor

    v maior consistncia a partir de 2010 com o lanamento do tabletda Apple, oIpade os

    servios de contedo em nuvem (e sua sincronizao com os dispositivos) e dos

    aplicativos. A partir da, esta essncia do avano tecnolgico da era Ps-PC ganha

    maior corpo, com tecnologias em nuvem aperfeioadas e novos modelos similares que

    surgem a partir da.

    Esta infraestrutura, Ps-PC, tende a beneficiar e fortalecer o trabalho jornalstico e

    o desempenho do denominado reprter mvel. A obra fragmenta esta perspectiva em

    fatores tcnicos que favorecem o trabalho de campo do jornalista e que perpassam pelas

    redes de alta velocidade (como as atuais 4G), os equipamentos portteis, que

    incorporam uma srie de ferramentas que facilitam o deslocamento (como os

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    smarphones e tablets), os servios em nuvem que auxiliam tanto na coleta quanto na

    distribuio de informao e, por fim, o acesso remoto a banco de dados. Ou seja, so

    caractersticas que tornam o reprter mvel, de certa forma, autnomo da estrutura da

    redao tradicional.

    Esta cultura estabelece a pesquisa constante no livro, a ponto de demarcar as

    mudanas e as inovaes apresentadas a partir de estudo de casos no contexto do

    jornalismo mvel, bem como de analisar as formas de coleta de informao, desafios a

    partir do uso destas tecnologias (como a ascenso do reprter multitarefa ou

    polivalente) e a materializao deste trabalho nas iniciativas prprias para

    tablets(como no Estado Noite, Dirio do Nordeste Plus e O Globo a Mais). Para apesquisa emprica, o livro analisa a experincia dos casos:

    O EXTRA (RJ): O peridico apresentado a partir da prtica de jornalismo

    mvel que resultou no Reprter 3G ou Reprter 4G. O reprter se aparelha de

    equipamentos de fcil mobilidade, como notebook e smartphone, recebe notificaes

    via WhatsApp, faz o levantamento no local do acontecimento, produz o material sem a

    necessidade de voltar redao. Silva explica que a experincia de O Extragera uma

    relao mais interativa com o pblico (2015, p.29), diante do percurso que estesreprteres digitais fazem pelos bairros da cidade.

    NE10/JC ONLINE (PE): Notcia Celular foi o projeto inicial de mobile

    journalismpeloJornal do Commercioque partiu com o uso do celular Nokia N95. Este

    modelo de celular se tornou emblemtico na produo de jornalismo online, no estilo de

    gerar vdeo e fotos para os canais onlineou da mdia tradicional. A investida serviu para

    a publicizao de hard news(as notcias mais quentes do dia) e de coberturas como os

    carnavais do final da dcada passada. Em seguida, o jornal aderiu ao aplicativo

    ComuniQ, que ampliou o canal de conversao entre os leitores e o peridico. Os

    leitores utilizavam o aplicativo para enviar denncias e informaes sobre problemas no

    bairro, por exemplo.

    MDIAS NINJA:O modelo de jornalismo mvel desenvolvido pela Mdia Ninja

    inovou em dois aspectos importantes: o primeiro advm da transformao do

    smartphone em equipamento para transmisses ao vivo via streaming dos

    acontecimentos (o que, especificamente, foram os protestos de junho de 2013 no

    Brasil). Em seguida, fora do contexto dos conglomerados miditicos, oferece uma

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    narrativa jornalstica participativa. Silva mostra que a prtica da Mdia Ninja estimulou

    outros veculos de informao a utilizar da mesma estratgia, com fins de driblar o

    impedimento dos manifestantes.

    RBS/ZERO HORA (RS):O caso do Zero Horamantm conexo com pontos

    denominado de jornalismo locativo ou hiperlocal, em que a notcia tem nfase no

    contexto do local de sua produo. Para tanto, o jornalismo mvel imprescindvel,

    diante da utilizao de smartphonese GPS, que garantem a efetivao da proposta. O

    jornal iniciou o experimento em 2009, o projeto LocastPOA, com publicao de

    noticirio de Porto Alegre produzidos do local do acontecimento. O material era

    identificado em um mapa de geolocalizao e transmisses ao vivo. O GLOBO A MAIS (RJ):O autor trabalha o conceito de produtos autctones,

    os elaborados especialmente para tablets e smartphones, apropriando-se de suas

    caractersticas. Para isso, analisa os jornais desenvolvidos para IpadO Globo A Mais,

    Estado Noite e Dirio do Nordeste Plus, embora foque sua ateno em O Globo A

    Mais, para detalhar a experincia da pesquisa. O jornal surgiu de uma proposta que

    intentava utilizar os recursos do Ipade oferecer diferenciaes de contedo em relao

    ao simples modelo de transposio da edio impressa em verso PDF. Segundo Silva,trata-se de um investimento em narrativas que adentrem os recursos disponveis para

    esta interface como o uso de acelermetro, imagens em 3D e interatividade tctil

    (2015, p.38), sem contar um nova forma de negcio a ser oferecido pelas Organizaes

    Globo. No entanto, deixou de circular em 15 de maio de 2015.

    Aps as anlises, Silva levanta questionamentos sobre a prtica do jornalismo

    mvel, sobretudo com a forma de como lidar com as novas tecnologias que surgem,

    incidindo na natureza dos dispositivos, numa perspectiva apontada por Bruno Latoure a

    Teoria do Ator-rede, que consiste na derrubada de separaes historicamente

    construdas em circunstncias at mesmo cientficas que estabeleceram dois mundos: o

    das coisas e o dos homens. O autor ainda discute os limites ticos dos usos das

    tecnologias no jornalismo, como a incorporao de dronese das tecnologias vestveis

    como o Google Glass. O seu uso estaria enquadrado dentro de uma perspectiva invasiva

    da privacidade dos indivduos, com uso de cmeras escondidas?

    Outro questionamento importante leva em conta o labor jornalstico e at onde a

    produo multitarefa pode significar a qualidade do material jornalstico, implicando na

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    necessidade de domnio do jornalista de vrias tcnicas oferecidas pelos dispositivos

    mveis. Silva (2015, p.40) mostra preocupao tambm com o rigor na apurao, que

    pode comprometer um percurso adequado. E ainda sugere um olhar sobre os

    reprteres que atuam fora do ambiente da redao na prtica do jornalismo mvel. E

    conclui:

    Esta vertente considera uma nova gramtica para o jornalismo mvele, de forma complementar, refora as novas narrativas para e deplataformas mveis e os modelos de negcios envolvendo a relaointrnseca entre jornalismo e mobilidade. As problematizaes quecercam a questo no so esclarecidas em sua totalidade nesta obra

    pelo espao reduzido utilizado e o carter introdutrio do tema. Noentanto, o horizonte aberto a partir de toda esta discusso, certamente,contribuir para a continuao do debate sobre a mobilidade nojornalismo (SILVA, 2015, p.46)

    Referncia

    SCOLARI, Carlos A. Hipermediaciones (o cmoestudiarlacomunicacinsin quedarembobados frente ala ltima tecnologa de California) - Entrevista a DaminFraticelli.

    Revista Lis - Letra Imagen Sonido - Ciudad mediatizada. Ao III # 5. mar-Jun. 2010.

    Bs. as. uBaCyt. Cs. de La ComuniCaCin. FCs/uBa, p. 3-11.

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