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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI
CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS E SOCIAIS - CEJURPS
CURSO DE DIREITO
RESPONSABILIDADE CIVIL E ALIMENTOS: UMA NECESSIDADE ESPECIAL AO IDOSO.
AGDA SOLANGE RIBEIRO DE CARVALHO MENEZES
Itajaí, 11 de novembro de 2008.
UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI
CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS E SOCIAIS - CEJURPS
CURSO DE DIREITO
RESPONSABILIDADE CIVIL E ALIMENTOS: UMA NECESSIDADE ESPECIAL AO IDOSO
AGDA SOLANGE RIBEIRO DE CARVALHO MENEZES
Orientadora: Maria de Lourdes Alves Lima Zanatta, MSc
Itajaí, 11 de novembro de 2008.
Monografia submetida à Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI, como requisito parcial à obtenção do grau de Bacharel em Direito
AGRADECIMENTO
Agradeço a Deus por tudo, a minha Mãe por
estar sempre ao meu lado não deixando que eu
desistisse nas horas mais difíceis, a todos
meus mestres desde a infância até a presente
data, a minha querida e inesquecível
orientadora, que no momento mais preciso
estendeu-me as mãos, sempre com aquele
sorriso em especial algumas pessoas amigas
que talvez preferissem não ser identificadas, e
quem sabe, eu seria injusta citando nomes,
sempre me apoiaram e deram todo o suporte
necessário para que eu pudesse concluir este
curso em todos os sentidos. Estendo a todos,
um tapete vermelho com meu eterno respeito e
muita gratidão.
Muito obrigada
DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho a todos que eu amo, e que direta ou indiretamente,
contribuíram para que ele se concretizasse para a conclusão do meu curso de
Bacharel em Direito.
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TERMO DE ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE
Declaro, para todos os fins de direito, que assumo total responsabilidade pelo aporte
ideológico conferido ao presente trabalho, isentando a Universidade do Vale do
Itajaí, a coordenação do Curso de Direito, a Banca Examinadora e a Orientadora de
toda e qualquer responsabilidade acerca do mesmo.
Itajaí, 11 de novembro de 2008.
Agda Solange Ribeiro de Carvalho Menezes
Graduanda
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FOLHA DE APROVAÇÃO
A presente monografia de conclusão do Curso de Direito da Universidade do Vale do
Itajaí – UNIVALI, elaborada pela graduanda Agda Solange Ribeiro de Carvalho
Menezes, sob o título Responsabilidade Civil e Alimentos, foi submetida em
19/11/2008 à banca examinadora composta pelos seguintes professores: Profª.
Maria de Lourdes Alves de Lima Zanatta, MSc e Profª. Rosane Maria Rosa, MSc,
aprovada com a nota ______ (_________________).
_________________________________________________
Maria de Lourdes Alves de Lima Zanatta
Orientador(a) e Presidente da Banca
_________________________________________________
Rosane Maria Rosa Coordenação de Monografia
Itajaí – SC
2008
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ROL DE ABREVIATURAS E SIGLAS
Art. .. .................................................................................................................. Artigo
CC ... ........................................................................................................ Código Civil
CF ... .......................................................................................... Constituição Federal
CPC . ................................................................................... Código de Processo Civil
Dec. Lei ..................................................................................................... Decreto Lei
ECA . ............................................................... Estatuto da Criança e do Adolescente
Ed. ... ................................................................................................................ Edição
Ex. ... ............................................................................................................. Exemplo
Nº. ... .............................................................................................................. Número
RJ ... .................................................................................................... Rio de Janeiro
SC ... ................................................................................................... Santa Catarina
SP ... .......................................................................................................... São Paulo
Tít. ... .................................................................................................................. Título
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ROL DE CATEGORIAS
Rol de categorias que a Autora considera estratégicas à compreensão do seu
trabalho, com seus respectivos conceitos operacionais.
Alimentos – Prestações, em dinheiro ou in natura, a serem pagas para atender às
necessidades imprescindíveis à vida daquele que, por si, não as pode prover,
compreendendo despesas com alimentação, habitação, vestuário, tratamento
médico, diversões e, se a pessoa alimentada for menor de idade, ainda verbas para
sua instrução e educação. Incluem também parcelas despendidas com sepultamento
por parentes legalmente responsáveis pelos alimentos (DINIZ, 1998).
Alimentando – Pessoa que tem direito a receber alimentos de outrem
(MAGALHÃES, 1990, p. 85).
Alimentante – Aquele que é judicialmente obrigado a prestar alimentos a outrem
(Idem, p. 86).
Cônjuges – Denominação de cada uma das pessoas unidas pelos laços do
matrimônio. Denominação que se dá aos esposos, ou seja, ao marido e à mulher
casados legalmente (COSTA, 2003, p. 127).
Exógamo – ��� ���� ����� ��� ��� �� ������� � ������ ���� �� �� ����
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Endógamas – do Gr. éndon, dentro + gámos, casamento s. f., casamento dentro da
própria família, ou entre os habitantes de um povoado ou região ���� !�"#��
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Família – Conjunto de pessoas ligadas entre si pelo matrimônio e pelo parentesco.
Grupo fechado de pessoas, compostos de pais e filhos, com certa unidade de
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relações jurídicas, tendo comunidade de nome, economia, domicílio e nacionalidade,
e estando unido por identidade de interesses e fins morais e materiais (COSTA,
2004, p. 174).
Parentesco – Expressa a relação entre pessoas que descendem umas das outras,
unidas pelo sangue; significa, também, a vinculação de uma pessoa aos parentes de
seu cônjuge, tipificando-se a afinidade; por derradeiro, pode resultar da Lei, o que se
dá com a adoção, nascendo o parentesco civil (VIANA, 1998, p. 203).
Pensão Alimentícia – Pensão que se dá a parente ou a esposa por força de lei.
Pode ser dada por determinação judicial ou prescindindo desta. (Vide alimentos in
Magalhães, 2007, p. 639).
Princípio da isonomia jurídica – Princípio que determina a igualdade de todos
perante a Lei (CF: art. 5º, caput, I, VIII, XXXVII e XLII, e 7º, XXX, XXXI e XXXIV;
CLT; Arts. 3º, 5º e 8º)
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SUMÁRIO
RESUMO
INTRODUÇÃO
1 DA RESPONSABILIDADE DE ALIMENTOS ..................................................... 12
1.1 Origem e evolução de responsabilidade .......................................................... 12
1.2 Definição de responsabilidade no Direito brasileiro .......................................... 13
1.3 Responsabilidade objetiva ................................................................................ 15
1.4 Responsabilidade subjetiva .............................................................................. 18
1.5 Obrigação alimentar: uma questão a se definir ................................................ 20
CAPÍTULO II
2 OBRIGAÇÃO ALIMENTAR ENTRE ASCENDENTES E DESCENDENTES ..... 20
2.1 Sujeitos da relação jurídica na obrigação alimentar ......................................... 20
2.2 A pessoa idosa na sociedade contemporânea e a necessidade de alimentos . 26
2.2.1 CONCEITO DE IDOSO ................................................................................. 26
2.2.1.1 Inserção do idoso no mercado de trabalho ................................................. 26
2.2.1.2 Participação na atividade econômica ......................................................... 28
2.2.1.3 A relação do idoso com a família ................................................................ 29
CAPÍTULO III
3 A RESPONSABILIDADE DOS FILHOS SOBRE OS PAIS ................................ 31
3.1 As pessoas idosas na Constituição Federal ..................................................... 31
3.2 Direitos humanos e a terceira idade ................................................................. 33
3.3 Internação em instituições ................................................................................ 34
3.4 Maus tratos, abandono e omissão de socorro .................................................. 37
3.5 Sanções Penais ................................................................................................ 39
CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................... 45
REFERÊNCIAS
ANEXO
Anexo 1 – Lei dos alimentos .................................................................................. 48
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RESUMO
A presente monografia realiza uma análise da Responsabilidade Civil sobre os alimentos, fundamentada na propositura dos alimentos por ascendentes, descentes e cônjuges. O objetivo geral, a verificação do embasamento legal, doutrinário, e jurisprudencial, o alcance da Responsabilidade Civil. A escolha do tema deu-se pela sua importância como garantia de direitos, dignidade e Justiça. Buscou-se comprovar as hipóteses de que há responsabilidade de alimentos na sociedade conjugal; do dever da assistência aos filhos e a responsabilidade civil na manutenção da família. A metodologia foi o método Indutivo e o relatório de resultados de base lógica indutiva, técnicas do Referente, Categoria, Conceito Operacional e Pesquisa Bibliográfica. Está dividida em três capítulos, sendo que o primeiro destaca enfoques da origem e a evolução da responsabilidade, o conceito, responsabilidade subjetiva, objetiva e a obrigação de alimentar; no segundo capítulo o enfoque foi o estudo dos alimentos – a necessidade versus possibilidade econômico-financeira, o idoso e sua isenção no mercado de trabalho, a relação com a família e o grau de dependência; no terceiro capítulo a análise da doutrina, legislação e legislação complementar, seguidos das Considerações Finais.
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INTRODUÇÃO
A presente monografia se realiza a análise da Responsabilidade Civil,
enfatizando o que se refere aos alimentos, aprofundando-se na legalidade da
propositura dos alimentos pelos ascendentes, descentes e ambos os cônjuges.
O objetivo que norteou a elaboração desta pesquisa foi verificar com base nas
Leis, doutrinas, e jurisprudências, o alcance da responsabilidade civil, no âmbito
cível, bem como, detalhar a responsabilidade dos alimentos, trazendo para o estudo
informações históricas e atuais.
A escolha do tema deu se pelo fato da responsabilidade civil ter um papel
importantíssimo na vida do ser humano, garantindo as pessoas seus direitos à
dignidade e a justiça. Para fins de possíveis comprovações, foram levantadas as
seguintes hipóteses: Conceito de idoso e o dever da assistência dos filhos aos pais;
a responsabilidade civil dos alimentos na sociedade conjugal e para com a pessoa
idosa.
O Capítulo I conceitua a Responsabilidade Civil, o segundo apresenta o
estudo dos alimentos, com enfoque de necessidade x possibilidade econômico
financeira e, considerações sobre os idosos e a família e os graus de dependência;
no Capítulo III a análise da doutrina, e a legislação, e na sequência as
Considerações Finais.
Quanto à Metodologia empregada, registra-se que na fase da investigação foi
utilizado o Método Indutivo e o Relatório dos Resultados expresso nesta pesquisa é
composto pela base lógica indutiva.
Nas diversas fases da investigação, foram acionadas as Técnicas do
Referente, da Categoria, do Conceito Operacional e da Pesquisa Bibliográfica.
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CAPÍTULO I
1 DA RESPONSABILIDADE DE ALIMENTOS
1.1 Origem e evolução de responsabilidade
Devemos entender primeiramente o significado da palavra responsabilidade,
que originou-se do verbo latino respondere, que quer dizer responder, e vem a ser o
fato de alguém se constituir garantidor de algo.
Por sua vez, tal verbo latino teve raízes na palavra spondeo, que quer dizer
prometo, também de origem latina, esta era a fórmula pela qual se vinculava, no
direito romano, o devedor nos contratos verbais.
Neste sentido nos ensina Inácio de Carvalho Neto1:
Aponta-se como origem da utilização do termo responsabilidade, no sentido aqui empregado, a fórmula usada na celebração de contratos entre os romanos, a chamada stipulatio. Exemplificativamente, questionava o credor: ”prometes dar-me cem cestércios?”, ao que respondia o devedor: ”Prometo”.
No entanto, segundo Diniz, a afirmação de que o responsável
será aquele que responde e que responsabilidade é a obrigação do responsável, ou
melhor, o resultado da ação pela qual a pessoa age ante esse dever será
insuficiente para solucionar o problema e para conceituar a responsabilidade.
Diniz2 explica que:
Se ele agir de conformidade com a norma ou com seu dever, seria supérfluo indagar da sua responsabilidade, pois ele continuará responsável pelo procedimento, mas não terá nenhuma obrigação prévia, porque a cumpriu, de modo que o que nos interessa, ao nos referirmos à responsabilidade, é a circunstância da infração da norma ou obrigação do agente. A responsabilidade serviria, portanto, para traduzir a posição daquele que não executou o seu dever.
1 NETO, Inácio de Carvalho. Responsabilidade civil no direito de família. Curitiba: Juruá, 2002. p. 21. 2 DINIZ, Maria Helena. Dicionário Jurídico. São Paulo: Saraiva. 1998. IV. V. p. 250.
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Antigamente, conforme Diniz (1998), na civilização humana, a
responsabilidade era baseada na vingança coletiva, ou seja, quando um dos
componentes do grupo sofria alguma ofensa, a defesa era conjunta contra a o
agressor.
Evoluiu então para uma reação individual, passando da vingança coletiva
para a privada, em que os homens faziam justiça pelas próprias mãos,
fundamentados na Lei de Talião, que é conhecida até hoje pela expressão "olho por
olho, dente por dente".
Não havendo intervenções, a não ser o caso do poder público, que intervinha
apenas para definir como e quando a vítima poderia ter o direito de reparação.
No antigo Direito Romano e as civilizações que sucederam, predominou a
noção básica do delito, no qual seguiam as leis de Talião. No entanto, surgiu a idéia
da composição voluntária, entendendo que seria mais sensato a reparação do dano
com o pagamento de certa quantia em dinheiro.
Em seguida surgiu a da composição legal, onde o ofensor era punido pelo
Estado de modo muito tímido, como a ruptura de um membro, a fratura de um osso,
ofensas ordinárias como violências leves, bofetadas, golpes etc..
A evolução do tema só ocorreu com a introdução, nos conceitos jus-
romanísticos, da Lex Aquilia de Damno, que nos tempos da República e sedimentou
a idéia de reparação pecuniária, em razão do valor da res.
1.2 Definição de responsabilidade no Direito brasileiro
A responsabilidade no direito brasileiro teve seu fundamento na necessidade
de demonstração de três requisitos principais: o ato ilícito, o dano e o nexo causal,
ou seja, a culpa como pressuposto para que haja a obrigação de reparar o prejuízo
experimentado.
Assim, pode adquirir um significado sociológico, no qual ganha aspecto de
realidade social, pois decorre de fatos sociais, é fato social. Segundo Pontes de
Miranda apud DIAS3 ¨os julgamentos de responsabilidade são reflexos individuais,
psicológicos, do fato exterior social, objetivo, que é a relação de responsabilidade¨.
3 DIAS, Wagner Inácio Freitas. A responsabilidade médica. Viçosa: UFV, 1997, p. 7-10.
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Já sob o ponto de vista jurídico, a idéia de responsabilidade adota um sentido
obrigacional: é a obrigação que tem o autor de um ato ilícito de indenizar a vítima
pelos prejuízos a ela causados.
Existem dificuldades para conceituar a responsabilidade, segundo Carvalho
Neto apud Dias4, existem autores que a definem baseados na culpa; outros, vendo-a
sob um aspecto mais amplo, não vislumbram nela mera questão de culpabilidade,
mas de repartição de prejuízos causados, equilíbrio de direitos e interesses.
Assim aduz Rodrigues5:
[...] fugindo à responsabilidade de conceituar a responsabilidade civil, afirma que o problema em foco é o saber se o prejuízo experimentado pela vítima deve ou não ser reparado por quem o causou. Se a resposta for afirmativa, cumpre indagar em que condições e de que maneira será tal prejuízo reparado. Esse é o campo que a responsabilidade civil tenta cobrir.
Porém para Serpa Lopes apud DIAS6a responsabilidade significa a obrigação
de reparar um prejuízo, seja por decorrer de culpa ou uma outra circunstância legal
que a justifique, como a culpa presumida, ou por uma circunstância meramente
objetiva.
Para Diniz a responsabilidade civil requer: a existência de uma ação,
comissiva ou omissiva, qualificada juridicamente; a ocorrência de um dano moral ou
patrimonial causado à vítima por ato comissivo ou missivo do agente ou de terceiro
por quem o imputado responde, ou por um fato animal ou coisa a ele vinculada e o
nexo de causalidade entre o dano e a ação.
Ainda temos a definição de Silva (1998): [...] responsabilidade civil significa a
obrigação de reparar os danos ou prejuízos de natureza patrimonial (e, às vezes,
moral) que uma pessoa cause a outrem (p. 17).
Por fim temos o entendimento do grande mestre Caio Mário da Silva Pereira
In Silva (1998), que nos diz que a responsabilidade civil consiste na efetivação da
reparabilidade abstrata do dano em relação a um sujeito passivo da relação jurídica
que se forma. 4 DIAS, Wagner Inácio Freitas. A responsabilidade médica. Viçosa: UFV, 1997, p. 7-10. 5 RODRIGUES, Silvio. Direito civil: responsabilidade civil. 13 ed. São Paulo: Saraiva, 1993, vol 4, p. 4-5 6 DIAS, Wagner Inácio Freitas. A responsabilidade médica. Viçosa: UFV, 1997, p. 7-10.
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Não importa se o fundamento é a culpa, ou se é independentemente desta.
Em qualquer circunstância, onde houver a subordinação de um sujeito passivo à
determinação de um dever de ressarcimento, aí estará à responsabilidade civil.
1.3 Responsabilidade objetiva
Essa teoria nasceu da busca por soluções, e teve como precursores Saleilles
e Josserand. Podendo assim, conceituar a responsabilidade objetiva, segundo
Rogério Marrone de Castro Sampaio7, como o fruto da evolução das relações
sociais, voltada a possibilitar àquele que, prejudicado em razão de determinado
comportamento humano, possa ver seu dano reparado, restabelecendo-se uma
situação de equilíbrio.
Assim entende Pereira8:
[...] teoria objetiva é uma teoria social que considera o homem como fazendo parte de uma coletividade e que o trata como uma atividade em confronto com as individualidades que o cercam e que o nosso direito atual tende a substituir pela idéia de reparação a idéia de responsabilidade.
Tem-se no direito romano o primeiro período onde se reconheceu a
responsabilidade objetiva, sendo que nesta época não interessava a verificação da
culpa, mas simplesmente impor ao lesado o direito mútuo de embutir dano de igual
intensidade ao experimentado.
Porém com a promulgação da Lei Aquilia, foi instituída a necessidade de
apuração da conduta faltosa como fundamento para a responsabilidade.
Assim entende Sampaio9:
A responsabilidade civil objetiva, por sua vez, tem como característica determinante o fato de que o elemento culpa não é essencial para o surgimento do dever indenizar. Identificada sua origem no Direito Romano.
7 SAMPAIO, Rogério Marrone de Castro. Direito civil: Responsabilidade civil. 3ª ed. São Paulo: Atlas, 2003. p. 26-27. 8 PEREIRA, Caio Mário da Silva. Responsabilidade civil. Rio de Janeiro: Forense, 1998. p.17. 9 SAMPAIO, Rogério Marrone de Castro. Direito civil: Responsabilidade civil. 3ª ed. São Paulo: Atlas, 2003. P23.
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No entanto a responsabilidade objetiva, impulsionada pelo Direito Francês,
apenas ganhou corpo a partir do Século XIX, quando, efetivamente, estruturada na
teoria do risco, e sempre pautou em princípios e valores sociais, como a eqüidade e
a boa fé, que ganharam inegável reforço com o advento da Constituição Federal de
1988, na qual a proteção à dignidade da pessoa humana (art. 1º, III) tornou-se
fundamento do Estado Democrático de Direito.
Entende Diniz10 ¨é irrelevante a conduta culposa ou dolosa do causador do
dano, uma vez que bastará a existência do nexo causal entre o prejuízo sofrido pela
vítima e a ação do agente para que surja o dever de indenizar.
Assim ganhou espaço no mundo jurídico a tese de que a obrigação de reparar
o dano nem sempre está vinculada a um comportamento culposo do agente,
justificando desta forma, com a teoria do risco.
Em determinadas situações, segundo Rogério Marrone de Castro Sampaio,
aquele que, por meio de sua atividade, expõe a risco de dano terceiros, fica obrigado
a repará-lo caso ele venha a suma, com a adoção da teoria do risco, como
pressupostos da responsabilidade civil.
Deste modo mantêm-se o comportamento humano (ação ou omissão), o dano
e o nexo de causalidade.
Segundo Gonçalves11:
Uma das teorias que procuram justificar a responsabilidade objetiva é a teoria do risco. Para esta teoria, toda pessoa que exerce alguma atividade cria um risco de dano para terceiros. E deve ser obrigada a repará-lo, ainda que sua conduta seja isenta de culpa. A responsabilidade civil desloca-se da noção de culpa para a idéia de risco, ora encarada como ‘risco-proveito’, que se funda no princípio segundo o qual é reparável o dano causado a outrem em conseqüência de uma atividade realizada em benefício do responsável.
Na responsabilidade objetiva, segundo Rodrigues12:
A atitude culposa ou dolosa do agente causador do dano é de menor relevância, pois, desde que exista relação de causalidade entre o dano experimentado pela vítima e o ato do agente, surge o dever de
10 DINIZ, Maria Helena. Dicionário Jurídico. São Paulo: Saraiva. 2006. IV. V. p. 131. 11 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro. São Paulo: Saraiva, 2005, p. 29. 12 RODRIGUES, Silvio. Direito civil: responsabilidade civil. 13 ed. São Paulo: Saraiva, 2002, vol 4. p.10
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indenizar, quer tenha este último agido ou não culposamente. A teoria do risco é a da responsabilidade objetiva. Segundo essa teoria, aquele que, através de sua atividade, cria risco de dano para terceiros deve ser obrigado a repará-lo, ainda que sua atividade e seu comportamento sejam isentos de culpa. Examina-se a situação, e, se for verificada, objetivamente, a relação de causa e efeito entre o comportamento do agente e o dano experimentado pela vítima, esta tem direito de ser indenizada por aquele.
Segundo Dias13, quando fala em seu livro de medicina sobre a
responsabilidade objetiva diz que, ¨com o passar do tempo, teve de buscar
compreensão para casos em que não houvesse um sujeito culpado, pois, apesar de
seu ato ser perfeito frente ao ordenamento jurídico, nasceu um prejuízo para
alguém¨.
Assim para tais situações, resolveu-se criar uma ligação de responsabilidade
que não mais fosse pesquisada através da culpa, mas constituísse a resposta certa
com a simples existência de um dano vinculado a uma conduta.
Deste modo entende Dias14:
Esta teoria foi alçada para cobrir algumas situações em que a parte mais fraca impossibilitada de demonstrar a culpa do agente lesivo ou quando a ação deste criava uma ampliação do risco geral vinculado às atividades sociais.
O que se busca, com a adoção, cada vez maior, da teoria da
responsabilidade objetiva é justamente a igualdade entre todos que fazem parte da
sociedade, pois o que causou certo dano deve indenizar a vítima.
Sendo que se a vítima não conseguir provar a culpa do agente,
não precisara arcar com as conseqüências de um ato que não foi cometido por ela,
mas sim por outra pessoa. Tendo como objetivo o equilíbrio social e patrimonial,
anterior ao dano.
A responsabilidade objetiva pode ser aplicada quando estiver prevista em lei
ou quando o dano do autor, por sua natureza, provocar risco para os direitos de
outra pessoa.
Assim de acordo com o artigo 927, parágrafo único do Código Civil15:
13 DIAS, Wagner Inácio Freitas. A responsabilidade médica. Viçosa: UFV, 2002, p.88. 14 DIAS, Wagner Inácio Freitas. A responsabilidade médica. Viçosa: UFV, 2002, p.88. 15 SALVATTI, Ideli. Novo código civil. Brasília: Senado Federal, 2004, p.188.
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Art. 927. Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa, nos casos especificados em lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem.
O magistrado, com fundamento neste dispositivo legal tem a faculdade de
definir como objetiva, mesmo sem a culpa, a responsabilidade do caso concreto ao
causador do dano.
Essa noção mais abrangente de responsabilidade é sem sombra de dúvidas
em matéria de responsabilidade a maior novidade do novo Código Civil, assim
exigirá maiores cuidados em relação às jurisprudências.
1.4 Responsabilidade subjetiva
A teoria da responsabilidade subjetiva originou-se no Código Napoleônico, e
foi aplicado no Direito Civil brasileiro pelo artigo 159 do Código de 1916, onde era
expressamente prevista a idéia de conduta culposa do agente como pressuposto
para o dever de indenizar.
Atualmente está elencado no Artigo 186 do Novo Código Civil, assim
verificamos no Art. 18616 ¨Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência
ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente
moral, comete ato ilícito¨.
Para Carlos Roberto Gonçalves, na teoria da responsabilidade subjetiva, para
que haja a obrigação de indenizar é necessário que seja demonstrada a culpa do
suposto violador do direito da vítima, sendo desta última a incumbência de provar tal
situação para que tenha direito à indenização.
Na teoria clássica, a culpa era fundamento da responsabilidade, sendo que
essa teoria também era chamada de teoria da culpa ou subjetiva, ou seja, a culpa
seria então fundamento da responsabilidade civil, pois se não houvesse culpa não
haveria responsabilidade.
Nesta teoria para que fosse possível descobrir a pessoa responsável
buscava-se o causador do dano. Assim entende-se que a responsabilidade subjetiva
determina a obrigatoriedade da figura do ato ilícito, ou seja, atos ou procedimentos
que não estejam de acordo com a lei.
16 SALVATTI, Ideli. Novo código civil. Brasília: Senado Federal, 2004, p.89.
19
19
Pode-se verificar que para a doutrina da culpa o dolo não tem muita
importância, mas sim a conduta do agente, que é seu fundamento principal, pois
para a responsabilidade subjetiva será necessário a verificar como e quanto o
comportamento do agente contribuiu para o prejuízo sofrido pela vitima.
Assim entende Diniz17 ¨[...] se encontra sua justificativa na culpa ou dolo por
ação ou missão, lesiva a determinada pessoa. Desse modo, a prova da culpa do
agente será necessária para que surja o dever de reparar¨.
Se estiver ausente o dolo ou culpa em sentido estrito não há como se falar em
responsabilidade subjetiva. Assim para que se reconheça a obrigação de indenizar,
segundo Rogério Marrone de Castro Sampaio, não basta apenas que o dano
advenha de um comportamento humano, pois é preciso um comportamento humano
qualificado pelo elemento subjetivo da culpa.
Para melhor entender, é necessário que o autor da conduta a tenha praticado
com a intenção deliberada de causar um prejuízo (dolo), ou, ao menos, que esse
comportamento reflita a violação de um dever de cuidado (culpa em sentido estrito).
Carvalho Neto18 ensina:
[...] responsabilidade subjetiva, além da prova da ação ou omissão do agente, do dano experimentado pela vítima e da relação de causalidade entre um e outro, faz-se mister provar a culpa com que agiu o agente.
A responsabilidade subjetiva ou clássica é adotada na maioria dos
ordenamentos jurídicos, sendo que a teoria da culpa em que se estrutura a
responsabilidade civil subjetiva, segundo Rogério Marrone de Castro Sampaio19,
com o passar do tempo, veio encontrando séria resistência, à medida que deixou de
responder aos anseios da sociedade.
A dificuldade por vezes encontrada para se provar o elemento subjetivo culpa,
fez com que pessoas, diante de manifestos prejuízos causados por determinadas
condutas humanas, se vissem tolhidas no reconhecimento do direito de indenização.
17 SALVATTI, Ideli. Novo código civil. Brasília: Senado Federal, 2004, p131. 18 NETO, Inácio de Carvalho. Responsabilidade civil no direito de família. Curitiba: Juruá, 2002.p. 21 19 SAMPAIO, Rogério Marrone de Castro. Direito civil: Responsabilidade civil. 3ª ed. São Paulo: Atlas, 2003.
20
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Sampaio20 cita como exemplo:
[...] as dificuldades encontradas pela vítima de um atropelamento de provar o comportamento culposo do empregador, em face de quem postula a indenização, consistente em escolher mal seu empregado (culpa in iligendo) que, por sua vez, teria dado causa ao acidente por dirigir o veículo imprudentemente (fato também a ser provado pela vítima).
1.5 Obrigação alimentar: uma questão a se definir
A palavra alimento vem do latim alimentum, que significa alimento,
subsistência, que designa apenas o necessário para o sustento. No entanto no
direito temos um sentido mais amplo, de que os alimentos são todas as
necessidades do ser humano, assim como podemos verificar no art. 1920 do Código
Civil: Art. 192021. O legado de alimentos abrange o sustento, a cura, o vestuário e a
casa, enquanto o legatário viver, além da educação, se ele for menor.
Os alimentos, segundo Inácio de Carvalho Neto, como uma prestação
fornecida pelo devedor ao credor para o atendimento de todas as suas
necessidades vitais. E segundo Fachin22, ¨alimentos são prestações para a
satisfação das necessidades de quem não pode provê-los por si¨.
Assim entende Cahali 23:
Adotada no direito para designar o conteúdo de uma pretensão ou de uma obrigação, a palavra “alimentos” vem a significar tudo o que é necessário para satisfazer aos reclamos da vida, são as prestações com as quais podem ser satisfeitas as necessidades vitais de quem não pode provê-las por si; mais amplamente, é a contribuição periódica assegurada a alguém, por um título de direito, para exigi-la de outrem, como necessário à sua manutenção.
Nesse sentido, segundo Garcez Filho, constituem os alimentos uma
modalidade de assistência imposta por lei, de ministrar os recursos necessários à
subsistência, à conservação da vida, tanto física como moral e social do indivíduo. 20 SAMPAIO, Rogério Marrone de Castro. Direito civil: Responsabilidade civil. 3ª ed. São Paulo: Atlas, 2003. P.27 21 SALVATTI, Ideli. Novo código civil. Brasília: Senado Federal, 2004, p.126. 22 FACHIN, Luiz Edson. Fachin.. São Paulo. 2007. p, 19 23 CAHALI, Yussef Said. Dos alimentos. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 1994, p. 16.
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Alimentos em Direito, denominam-se, segundo Silvio Rodrigues, a prestação
fornecida a uma pessoa, em dinheiro ou em espécie, para que possa atender às
necessidades da vida.
A palavra tem conotação muito mais ampla do que na linguagem vulgar, em
que significa o necessário para o sustento. Aqui se trata não só do sustento, como
também do vestuário, habitação, assistência médica em caso de doença, enfim de
todo o necessário para atender às necessidades da vida; e, em se tratando de
criança, abrange o que for preciso para sua instrução.
Verifica-se que todos os autores, embora em palavras diferentes, conceituam
alimentos da mesma forma. Deste modo, podemos entender por alimentos tudo o
que é possível para que uma pessoa tenha condições necessárias para a sua
sobrevivência e também para que possa ser respeitado seu padrão social, para que
não haja nenhum tipo de constrangimentos.
Entendemos que compete ao Estado garantir tudo isso para a conservação
da vida, pois é o Estado o responsável em promover o bem de todos.
No entanto o Estado têm se mostrado incapaz para tal, assim criou formas de
dividir ou até mesmo transferir essa responsabilidade para o particular por meio do
parentesco ou até mesmo pelo princípio da solidariedade, que é na verdade o que
une as pessoas de um grupo familiar.
É o que podemos verificar nos artigos 227 e 230 da Constituição da República
Federativa do Brasil de 198824:
Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, á liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão. Nesses diapositivos Constitucionais remetemos a uma nova lei que vem tarar exclusivamente do alimento da gestante como forma de proteção à crenada, conforme se obrava; Também encontramos previsto o princípio o princípio de filiação, independente do vínculo existente, como se observa em lei recente sobre direito de alimentos à gestante como se observa em nova.
24 SALVATTI, Ideli. Novo código civil. Brasília: Senado Federal, 2004, p.141-143.
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22
Lei25 publicada em 06/11/2008 pelo Diário Oficial da União (DOU), após ter
sido sancionada em 05/11/2008 pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A partir de
06/11/2008, a Lei 11.804.
A lei em questão regulamenta o direito de alimentos (recursos considerados
indispensáveis ao sustento), da grávida e a maneira como será cumprido, de acordo
com a Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres (SPM) da Presidência da
República.
Esta Lei tem como vigência da geração ao nascimento, o direito aos recursos
relativos à gestação abrange valores para pagar os gastos desta fase.
Estão também assegurados valores para alimentação especial, amparo de
médico e psicólogo, exames complementares, internações, parto, remédios e
demais indicações de prevenção e terapias imprescindíveis, segundo julgamento
médico, além de outras que o Poder Judiciário observe como importantes.
Ao comprovar a gestação, a futura mãe poderá procurar no Judiciário o direito
à pensão do futuro pai da criança e a contribuição que também deverá ser dada pela
mulher grávida, na proporção dos recursos de ambos.
Por resolução do juiz, o pai terá de se apresentar no juizado em até cinco
dias.
Os alimentos serão devidos desde a data da citação do réu.
Havendo dúvidas quanto à paternidade, será realizado exame pericial e, caso
o resultado seja negativo, a autora responderá por danos materiais e morais.
Na maioria dos casos, no entanto, as futuras mães só contavam, até hoje,
com a participação financeira do pai após o nascimento da criança.
Após o nascimento, explicita a proposta, os valores serão convertidos em
pensão alimentícia em favor do menor até que uma das partes solicite a sua revisão.
Prestando continuidade ao tema aperiantado, no segundo capítulo serão
tratados os alimentos, principalmente, no que se refere à proteção a pessoa idosa
como sujeito de direito, suas necessidades em relação ao suprimento e previsão
legal.
25 Diário Oficial da União, 05/11/2008- Brasília - Distrito Federal. >, acesso em 07/11/2008.
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CAPITULO II
2 OBRIGAÇÃO ALIMENTAR ENTRE ASCENDENTES E DESCENDENTES
2.1 Sujeitos da relação jurídica na obrigação alimentar
Originariamente a obrigação alimentar não passava de um dever moral, ou
uma obrigação ética, que segundo Carlos Roberto Gonçalves, no direito romano se
expressava na equidade, ou no ofifcium pietatis, que quer dizer obrigação para com
os pais.
Para Cahali In Salvatti (2004), a obrigação de alimentos está fundada no jus
sanguinis, ou seja, no direito de sangue, repousa sobre o vinculo de solidariedade
que une os membros do agrupamento familiar e sobre a comunidade de interesses,
impondo aos que pertencem ao mesmo grupo o dever recíproco de socorro.
Assim verificamos no Art. 1696 e 1697 do Código Civil26:
Art. 1696. O direito à prestação de alimentos é recíproco entre pais e filhos, e extensivo a todos os ascendentes, recaindo a obrigação nos mais próximos em grau, uns em falta de outros. Art. 1697. Na falta de ascendentes cabe a obrigação aos descentes, guardada a ordem de sucessão e, faltando estes, aos irmãos, assim germanos como unilaterais.
No entanto hoje o dever de prestar alimentos funda-se na solidariedade
humana, que deve existir entre os membros da família ou parentes.
Esta solidariedade deveria guiar a vida de todos os seres humanos, pois se
uma pessoa vive em grupo, tendo a ajuda e companheirismo dos demais com
certeza consegue atingir melhor seus objetivos.
É o entendimento de Gonçalves27:
As razões que obrigam a sustentar os parentes e a dar assistência ao cônjuge transcendem as simples justificativas morais ou
26 SALVATTI, Ideli. Novo código civil. Brasília: Senado Federal, 2004, p.197. 27 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro. São Paulo: Saraiva, 2005, p.441.
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sentimentais, encontrando sua origem no próprio direito natural. É inata na pessoa a inclinação para prestar ajuda, socorrer e dar sustento.
São pressupostos da obrigação alimentar a existência de um vínculo de
parentesco entre o alimentando e o alimentante; a necessidade do alimentando e a
possibilidade econômico-financeira do alimentante.
Verifica-se assim nos artigos 1694 e 1695 do Código Civil28:
Art. 1694. Podem os parentes, os cônjuges ou companheiros pedir uns aos outros os alimentos de que necessitem para viver de modo compatível com a sua condição social, inclusive para atender às necessidades de sua educação. §1º Os alimentos devem ser fixados na proporão das necessidades do reclamante e dos recursos da pessoa obrigada; § 2º Os alimentos serão apenas os indispensáveis à subsistência, quando a situação de necessidade resultar de culpa de quem os pleiteia. Art. 1695. São devidos os alimentos quando quem os pretende não tem bens suficientes, nem pode prover, pelo seu trabalho, à própria mantença, e aquele, de quem se reclamam, pode fornecê-los, sem desfalque do necessário ao seu sustento.
Em relação ao vínculo de parentesco devemos observar que, de acordo com
a lei, é obrigado a prestar alimentos os ascendentes, os descendentes e irmãos
unilaterais ou bilaterais.
Para o pressuposto que fala da necessidade do alimentado, não é necessário
que este prove um estado de miséria, basta apenas provar que não tem meios de
manter seu sustento e sua posição social.
Já em relação à possibilidade econômico-financeira do alimentante, deve-se
provar que aquele de quem almeja pedir alimentos esteja em condições financeiras
de prover estes alimentos, se isto não ficar provado o alimentante está desobrigado
à prestar alimentos.
No entanto, para Cahali apud Salvatti (2004), os sujeitos da relação jurídico
alimentar, portanto, não se colocam apenas na condição de pai e filho; estabelece-
se, do mesmo modo uma obrigação por alimentos entre os filhos, genitores, avós e
ascendentes em grau ulterior caracterizada pela reciprocidade.
28 SALVATTI, Ideli. Novo código civil. Brasília: Senado Federal, 2004, p.297.
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Portanto pode-se comparar o fundamento dessa obrigação com o mesmo
fundamento usado para justificar a sucessão hereditária legitima, pois a relação
sucessória é recíproca, assim como são os deveres de alimentos, mesmo que não
haja coincidência entre os que são chamados à sucessão e os que têm direito a
alimentos.
Visto que ao haver a designação dos parentes que vinculam a obrigação
alimentar, dá-se a preferência pelos mais próximos em grau, com a presunção de
que existia uma estreita ligação entre obrigado e alimentado, pelas mesmas intimas
e comuns relações patrimoniais.
No entanto não se está afirmando que o parente de grau mais próximo exclui
o de grau mais remoto, segundo Cahali apud Salvatti (2004), enquanto o obrigado
mais próximo tiver condições de prestar alimentos, ele é o devedor e não se convoca
o mais afastado.
Sendo que uma ação de alimentos não procederá contra o ascendente de
um grau sem prova de que o de grau mais próximo não pode satisfazê-la. Mas se o
parente mais próximo não tiver condições de prestar alimentos, poderá ser
compelido a prestar o parente remoto.
Assim entende Almeida 29:
[...] a exclusão dos mais remotos pelos mais próximos, entre os ascendentes, não impede que possam aqueles ser chamados para complementar a pensão, se provada pelo alimentante a insuficiência do que recebe.
Assim, como os pais, que tem obrigação de prestar alimentos aos seus filhos
quando menores e incapazes de prover seu próprio sustento, também é obrigação
dos filhos quando os genitores estão mais velhos, desde que sejam obedecidos os
pressupostos da obrigação alimentar.
Deve-se observar, porém, as questões que dizem respeito a filhos casados,
que de certa forma ao serem obrigados a prestar alimentos aos pais, estes irão
refletir nos rendimentos do casal, ferindo assim o pressuposto da possibilidade
econômico-financeira do alimentante.
29 ALMEIDA, Estevam de. Direito de família. São Paulo: Elsevier / Campus, 2008. p. 332.
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No caso de haver multiplicidade de filhos, segundo Cahali apud Salvatti
(2004), em condições de serem exigidos pelo genitor necessitado, aplicam-se os
princípios da integração da lide, onde deve ser citados todos filhos que tiverem
condições de prover alimentos.
Considerando que a dívida alimentar não é solidária, nem indivisível, a
contribuição de cada obrigado deve ser de acordo com seus recursos financeiros e
sociais obedecendo assim o pressuposto da possibilidade econômico-financeira do
alimentante.
2.2 A pessoa idosa na sociedade contemporânea e a necessidade de alimentos
2.2.1 Conceito de idoso
Em Almeida (2008), destingir um indivíduo idoso de um não-idoso pode
suscitar objeções do ponto de vista científico e legal, mas é extremamente
importante para os formuladores de políticas. É comum que a distribuição de
recursos públicos dependa de alguma forma de alocação a grupos específicos, o
que implica distinguir indivíduos.
Quando essa distinção é feita a partir de critérios impessoais, como exigem,
por exemplo, a maioria das leis, é necessária a existência de algum tipo de
característica universal observável entre os indivíduos que permita classificá-los
como pertencentes ou não a uma determinada categoria.
As políticas orientadas para idosos evidentemente dependem de um ou mais
marcos que caracterizem o idoso para definir quem pode ou não beneficiar-se delas.
Uma tentativa de se definir um indivíduo como idoso pode basear-se em
argumentos de caráter biológico. A partir da noção biológica de velhice ou, mais
precisamente, de senilidade, é possível, então, demarcar, através do padrão de
declínio de determinadas características físicas, o momento a partir do qual o
indivíduo pode ser, ou não, considerado como “velho”.
Esse momento, quando semelhante em termos de tempo de vida entre
diversos indivíduos, permite o uso da idade como critério de demarcação da velhice.
Nesta lógica, idoso é aquele que tem a idade correspondente à idade típica de um
“velho”.
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27
O problema de classificação torna-se aparentemente simples, demandando
apenas que se estabeleça a idade-limite que separa a velhice da não-velhice para
separar os idosos dos não-idosos.
A questão, no entanto, é mais complexa do que a simples demarcação de
idades limite biológicas e enfrenta pelo menos três obstáculos.
O primeiro diz segundo respeito à homogeneidade entre indivíduos, no
espaço e no tempo; o segundo, à suposição de que características biológicas
existem de forma independente de características culturais; e o terceiro à finalidade
social do conceito de idoso.
É extremamente difícil superar simultaneamente esses três obstáculos, mas
isso não quer dizer que não devam ser considerados quando se debate acerca de
idosos.
O idoso, em termos estritos, segundo Goldani30 é aquele que tem “muita
idade”. A definição do que vem a ser “muita idade” é, evidentemente, um juízo de
valor.
Os valores que referendam esse juízo dependem de características
específicas das sociedades onde os indivíduos vivem, logo a definição de idoso não
diz respeito a um indivíduo isolado, mas à sociedade em que ele vive.
Quando os formuladores de políticas assumem que a idade cronológica é o
critério universal de classificação para a categoria idoso, estão admitindo
implicitamente que a idade é o parâmetro único e intertemporal de distinção.
2.2.1.1 Inserção do idoso no mercado de trabalho
Ainda conforme Almeida (2008), os principais valores da sociedade atual e
também os mais prioritários são a produção, a rentabilidade, o consumismo e o
lucro, face às quais e de acordo com as atuais normas sociais, as pessoas com 60
ou mais anos não têm possibilidades de competir devido a serem obrigados a
reformarem-se aos 65 anos.
Para Minayo (2000) a reforma é então um sinal da atitude egoísta da atual
sociedade face aos idosos, que são assim afastados do mercado de trabalho, o que
faz com que muitos idosos se sintam inúteis; da mesma forma a reforma leva
30 GOLDANI, A. M. Famílias e famílias, chefe e chefes: a urgência de enfrentar o velho e sempre atual desafio dos conceitos. 2008, mimeo
28
28
também a uma diminuição do poder econômico o que tem como conseqüência a
dependência do idoso relativamente aos seus familiares, que na maior parte dos
casos são os seus filhos.
O fato de ambos os elementos do casal trabalharem fora de casa, na maior
parte dos casos, faz com que não haja muita disponibilidade para darem apoio aos
idosos da família, principalmente a nível emocional.
2.2.1.2 Participação na atividade econômica
Conforme esperado, os rendimentos da população idosa decrescem com a
idade, mas situam-se num patamar mais elevado do que os da população jovem.
Por exemplo, segundo Minayo (2000), o mais baixo rendimento percebido
pela população idosa foi pelo grupo que tinha mais de 80 anos e era maior do que o
percebido pela população menor de 20 anos. Já o grupo de 65 a 69 anos tem uma
renda mais elevada do que a população menor de 30 anos. Os rendimentos médios
dos homens crescem com a idade até os 45-49 anos, decrescendo a seguir.
Assim pode-se dizer que, no nível micro, o grau de dependência dos
indivíduos idosos é, em boa parte, determinado pela provisão de rendas por parte do
Estado em relação a sua família. Isto sugere que, quando se reduzem ou se
aumentam os benefícios previdenciários, o Estado não está simplesmente atingindo
indivíduos, mas uma fração razoável dos rendimentos de famílias inteiras.
Isso é importante de ser notado porque, como conseqüência, o perfil do
sistema previdenciário construído hoje influirá na distribuição futura da renda das
famílias.
Já para Almeida Almeida (2008), o sistema previdenciário pode ser usado
para repartir riquezas não só entre indivíduos, mas, também, entre gerações.
Sistemas que simplesmente retornam contribuições poupadas reproduzem a
distribuição de renda existente ao longo do período de contribuição, enquanto
sistemas que compõem um fundo geral ao longo do tempo e distribuem recursos
desse fundo de forma independente das contribuições podem ser também usados
com a finalidade de concentrar ou distribuir riqueza entre famílias.
29
29
2.2.1.3 A relação do idoso com a família
Ao longo do processo de envelhecimento, as capacidades de adaptação do
ser humano vão diminuindo, tornando-o cada vez mais sensível ao seu meio
ambiente que, consoante as restrições ao funcionamento do idoso, pode ser um
obstáculo para a sua vida, afirma Minayo (2000).
O bem estar psicológico deste grupo etário está de acordo com muito
associado à sua satisfação em relação ao seu ambiente residencial. Assim segundo
Paim (2007) a casa para cada um do idoso, adquire um significado psicológico
único, uma vez que há grandes laços afetivos através da memória ao seu cantinho.
Ao longo do tempo os idosos apegam-se de uma forma muito especial à sua
casa, criando um sistema de espaço-ambiente.
No caso dos idosos, porque normalmente já residem na sua casa há largos
anos, esses laços fortalecem-se ao longo do tempo, este é um espaço bastante
importante, aos quais estão associados um conjunto de sentimentos que fazem com
que o idoso esteja emocionalmente vinculado àquele lugar. Neste conjunto de
sentimentos, encontram-se:
• Os sentimentos associados ás recordações do curso de vida do idoso, que
o auxiliam a organizar e mentalizar esse percurso, de forma que lhe seja
possível manter “vivo” o seu passado, com um sentimento de continuidade
e identidade, protegendo-o contra as transformações que vão ocorrendo.
• Um sentimento de auto - estima positivo, uma vez que o idoso, ao manter-
se na sua casa demonstra aos outros que ainda mantém a sua autonomia
e independência.
O idoso está também fortemente ligado ao recheio da sua casa que é um
depósito de bens pessoais com grande valor sentimental para ele e que leva o idoso
a recordar acontecimentos, pessoas, épocas e locais que fizeram parte da sua vida.
Considerando o que acima foi exposto, é fácil percebermos que a decisão de
viver numa Instituição, nunca é fácil e não deve ser tomada de ânimo leve, ou
apenas porque outros assim o querem.
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Existem vários motivos que podem levar o idoso a entrar para um Lar, como
por exemplo; problemas de incapacidade e - ou dependência física, falta de recursos
econômicos para manter a sua casa, viuvez.
Por outro lado, algumas vezes é o próprio idoso que deseja ir para um Lar,
como forma de garantir a segurança de um futuro que se apresenta difícil porque
nos dias de hoje em que os filhos trabalham fora de casa com o respectivo conjugue
é difícil atender ás necessidades do idoso, por esse motivo em vez de se sentir um
estorvo em casa dos filhos, prefere ir para um Lar.
Diante do que foi apresentado, chega-se ao enfoque principal desta
monografia, qual seja, o dever dos filhos de prestar alimentos aos pais, na ausência
de meio destes, assunto do terceiro capítulo, ao qual remete o leitor.
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CAPITULO III
3 A RESPONSABILIDADE DOS FILHOS SOBRE OS PAIS
Busca-se inicialmente o entendimento de quem é o idoso, que para a ONU –
Organizações das Nações Unidas, é toda pessoa com faixa etária acima de 60
(sessenta) anos, assim como também é definido pelo Estatuto do Idoso e pela
Política Nacional do Idoso.
Já nos países desenvolvidos são consideradas pessoas idosas aquelas que
têm mais de 65 (sessenta e cinco) anos.
Através de conquistas da sociedade civil organizada a Constituição da
República Federativa do Brasil de 1988 (CRFB / 88), inovou e evolui o direito dos
brasileiros, causando desta forma a evolução da sociedade.
Assim deve-se destacar as conquistas relacionadas aos direitos sociais, entre
estes, os direitos relacionados a pessoas mais fragilizadas, que exigem uma atuação
mais atenta por parte dos Poderes Públicos, como é o caso dos idosos, estes que
podemos dizer que estão mais expostos aos riscos sociais.
3.1 As pessoas idosas na Constituição Federal
A Constituição da República Federativa do Brasil, segundo Fernandes (1997),
gera confiança e expectativas quando apresenta artigos que, mesmo não
representando direitos específicos, têm condições de ser estendidos às pessoas
idosas como, por exemplo, o Art. 5º, caput, onde determina que:
Art. 5º. Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País que inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e á propriedade.
Ressalta-se que a Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 foi
a primeira a versar sobre a proteção jurídica do idoso, apresentando assim uma
evolução, forçando o legislador infraconstitucional a manifestar-se.
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No entanto é lamentável que os indivíduos até os dias atuais não tenham
conhecimentos de seus direitos, não tendo idéia do que representam para a
cidadania.
Segundo Flávio da Silva Fernandes31: [...] muitos deveriam (e podem) cumprir
a letra da lei, evitando escamotear oportunidades de uma vida cotidiana mais digna
e satisfatória para tantos milhares no seu envelhecimento.
E ainda a realidade está bem distante da teoria, pois a O art. 5º da
Constituição trás que é inviolável a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem
das pessoas, no entanto, no caso dos idosos, isso não é respeitado seja em casa
convivendo com familiares ou em instituições asilares.
Pode-se perguntar quantas vezes se observam piadas ou até mesmo
imitações em programas humorísticos de pessoas idosas, e ninguém, nem mesmo
associações que congregam a terceira idade tem coragem de promover processos
indenizatórios.
Para Fernandes (1997), a linguagem até certo ponto chula, as
caracterizações e as imitações achincalhantes configuram o tratamento desumano e
degradante a que ninguém deve ser submetido de acordo com a Constituição.
A Constituição Federativa do Brasil de 1988 trás que a família, a sociedade e
o Estado têm o dever de amparar as pessoas idosas, assegurando sua participação
na comunidade, defendendo sua dignidade e bem-estar e garantindo o direito à vida.
Deste modo entende-se que a responsabilidade pelo amparo e proteção das
pessoas idosas não é exclusivamente do Estado, mas também da família e da
sociedade como um todo, levando em consideração o principio da solidariedade,
segundo o qual as pessoas devem conviver em sociedade ajudando umas às outras.
A assistência social é uma das principais missões do Estado, nos dias de
hoje, especialmente, considerando o aumento progressivo das desigualdades
sociais e da proliferação dos mais variados riscos sociais, como: idade avançada,
doença e desemprego; que comprometem a existência de uma vida digna e feliz.
Assim de acordo com o Art. 203 da Constituição da República Federativa do
Brasil de 198832:
31 FERNANDES, Flávio da Silva. As pessoas idosas na legislação brasileira. Editora LTR: São Paulo. 1997. p. 85 32 OLIVEIRA, Juarez. Constituição da República Federativa do Brasil. São Paulo: Saraiva, 2003, p.130.
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Art. 203. A assistência social será prestada a quem dela necessitar, independente de contribuição à seguridade social, e tem por objetivos: I. A proteção à família, à maternidade, à infância, à adolescência e à velhice; [...] V. a garantia de um salário mínimo de benefício mensal à pessoa portadora de deficiência e ao idoso que comprovem não possuir meios de promover à própria manutenção ou tê-la provida por sua família conforme dispuser a Lei.
A família é o principal recanto de proteção que deve assegurar os meios
adequados para a sobrevivência, tanto no inicio como no final da vida, assim a
Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, em seu Art. 229, determina
que é dever dos filhos maiores ajudar e amparar os pais na velhice.
3.2 Direitos humanos na terceira idade
Na passagem do Estado Liberal Clássico para o Estado Social, a dignidade
da pessoa humana passou a ser valor fundamental da ordem social e dos
ordenamentos jurídicos.
Assim a Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 trouxe em
seu artigo 1º, II, o Principio da Dignidade da Pessoa Humana, como sendo
fundamento do estado democrático de direito.
O princípio da dignidade da pessoa humana é um princípio geral, do qual se
desenvolvem outros sub-princípios mais específicos, dentre esses mereceu
referência expressa do constituinte originário a dignidade do idoso e sua proteção
especial.
Segundo Fernandes(1997):
Os direitos humanos, ao que se salienta, são aqueles fundamentais de todas as pessoas. O documento tem a chancela do Presidente da República (maio de 1996), Fernando Henrique Cardoso, e precisa de ampla divulgação e debates. Deve valer como autêntica lei, numa abrangência que envolve todos os segmentos sociais. Os idosos inclusive.
O Estado existe para garantir e promover à dignidade de todos os seres
humanos, por sua vez, a dignidade do Idoso é um principio que deve ser respeitado,
34
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tendo em vista que a sua violação não acarreta apenas transgressão de um
mandamento obrigatório, mas de todo ordenamento jurídico.
Devem-se criar recursos para que seja possível realçar a dignidade humana e
criar igualdade entre os distintos grupos de idade, pois só será possível a satisfação
ao envelhecer desde que o idoso tenha amor, compreensão, dignidade de vida.
Fernandes (1997) em seu livro nos trás que segundo Plano Internacional
sobre o envelhecimento da ONU é necessário para que isto ocorra:
[...] - participação ininterrupta da família e do sistema de parentesco, estímulo aos serviços voluntários da comunidade (em que o idoso possa também atuar), crescimento contínuo da aprendizagem escolar e não escolar, - expressão pessoal por meio da arte e do artesanato, participação em organização e associações de idosos, presença livre em atividades religiosas, lazer e incremento a viagens, trabalho ou ocupação em tempo parcial; - presença firme – como cidadãos bem informados – no desenvolvimento do processo político do seu país.
3.3 Internação em instituições
Afirma Fernandes (1997) que, uma pessoa ao alcançar a velhice, precisa de
amor, carinho, compreensão, cuidado; da mesma forma que uma criança precisa, na
realidade o Idoso nada mais é do que uma criança grande.
Porém com uma pequena diferença, a criança quando é deixada em um
orfanato, abandonada pelos pais tem a chance de ser adotada por outra família,
tendo a oportunidade de um futuro melhor.
Observa-se que no estágio da velhice o idoso sabe vai necessitar de meios
para uma vida digna e nem sempre tem meios para seguir seus dias com
tranqüilidade, portanto existe uma expectativa que se cumpra o que determina o
estatuto do idoso: apoio da família, sociedade e estado.
Ainda conforme Fernandes (1997), ele não pode ser adotado por outra
família, para tentar recomeçar tudo, ele sabe que está chegando o fim, ele sabe que
tudo o que tinha que fazer já fez, por ele e por quem amava.
Com certeza não se deve pensar que um idoso tem que ser uma pessoa
triste, reservada, ele pode sim viver os seus últimos dias com alegria, e aproveitar
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tudo o que a vida tem de melhor, no entanto depende em alguns casos da ajuda de
outras pessoas.
Deste modo é complicado avaliar um familiar que deixa uma pessoa idosa em
asilos, lares ou casas de abrigo, mesmo quando dependem destes por muito tempo.
Sendo que isto ocorre por muitas vezes contra a vontade destes idosos ou até
mesmo através de ameaças.
Assim entende Fernandes 33: Tem-se anunciado que familiares procuram
maneiras de colocar em asilos, lares e casas de abrigo seus idosos contra a vontade
destes, usando ameaças e ardis.
Segundo o Decreto-lei n. 1.948/96, entende-se por modalidades asilar o
atendimento, em regime de internação, ao idoso sem vínculo familiar ou sem
condições e prover a própria subsistência de modo a satisfazer as suas
necessidades de moradia, saúde e convivência social.
Existem casos sim em que há a necessidade de deixar os idosos em alguma
Instituição, como o fato do idoso ser doente e a pessoa responsável não ter tempo e
nem condições de cuidar deste, assim deixa em alguma Instituição.
Mas a polêmica não é deixar em uma instituição, sim porque um familiar pode
deixar um idoso em uma instituição, e necessariamente não precisa deixar de ter
contato com este, pode continuar visitando e dando carinho, fazendo com que assim
o idoso ainda sinta que tem o amor da família.
Tanto que o Estatuto do Idoso34 prevê em seu Artigo 49, I, que: As entidades
que desenvolvam programas de institucionalização de longa permanência adotarão
os seguintes princípios:
I – preservação dos vínculos familiares; [...].
Pois quando o idoso é afastado do lar ocorre à ruptura do laço familiar, sendo
direito do idoso e de seus familiares as visitas nas Instituições em que estes se
encontrem, e o correto seria que as entidades entrassem em contato com os
familiares quando se mostrarem ausentes.
33 FERNANDES, Flávio da Silva. As pessoas idosas na legislação brasileira. Editora LTR: São Paulo. 1997. P97 34 CÉPEDES, Lívia; PINTO, Antonio Luiz de Toledo e WIND, Márcia Cristina Vaz dos Santos. Vade Mecum: Estatuto do Idoso. Editora Saraiva: São Paulo. 2007. p. 1100
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Quando são recebidas em asilos e instituições, estes devem lhes
proporcionar cuidados e tratamento, com pleno respeito à sua dignidade, suas
crenças, necessidades e intimidades, tendo também o direito de tomar decisões
sobre as atenções relacionadas à sua qualidade de vida.
É o que determina o Art. 50 do Estatuto do Idoso35, com respeito às
obrigações com a pessoa idosa:
Art. 50. Constituem obrigações das entidades de atendimento: I – celebrar contrato escrito de prestação de serviço com o idoso, especificando o tipo de atendimento, as obrigações da entidade e prestações decorrentes do contrato, com os respectivos preços, se for o caso; II – observar os direitos e as garantias de que são titulares os idosos; III – fornecer vestuário adequado se for pública, e alimentação suficiente; IV – oferecer instalações físicas em condições adequadas de agitabilidade; V – oferecer atendimento personalizado; VI – diligenciar no sentido da preservação dos vínculos familiares; VII – oferecer acomodações apropriadas para recebimento de visitas; VIII – proporcionar cuidados à saúde, conforme a necessidade do idoso; IX – promover atividades educacionais, esportivas, culturais e de lazer; X – propiciar assistência religiosa àqueles que desejarem, de acordo com suas crenças; XI – proceder a estudo social e pessoal de cada caso; XII – comunicar à autoridade competente de saúde toda ocorrência de idoso portador de doenças infecto-contagiosas; XIII – providenciar ou solicitar que o Ministério Público requisite os documentos necessários ao exercício da cidadania àqueles que não os tiverem, na forma da lei; XIV – fornecer comprovante de depósito dos bens móveis que receberem dos idosos; XV – manter arquivo de anotações onde constem data e circunstâncias do atendimento, nome do idoso, responsável, parentes, endereços, cidade, relação de seus pertences, bem como o valor de contribuições, e suas alterações, se houver, e demais dados que possibilitem sua identificação e a individualização do atendimento; XVI – comunicar ao Ministério Público, para as providências cabíveis, a situação de abandono moral ou material por parte dos familiares; XVII – manter no quadro de pessoal profissionais com formação específica.
35 CÉPEDES, Lívia; PINTO, Antonio Luiz de Toledo e WIND, Márcia Cristina Vaz dos Santos. Vade Mecum: Estatuto do Idoso. Editora Saraiva: São Paulo. 2007. p. 1096-1100
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3.4 Maus tratos, abandono e omissão de socorro
A tendência está à vista. O fenômeno de violência contra idosos tem se
configurado no cenário brasileiro.
Os mais recentes números conhecidos revelam que, nos últimos cinco anos,
os registros deste tipo de violência triplicaram, dos mais de oito mil casos para os
quase vinte e cinco mil casos citados, em que a vítima do crime tem mais de 64
anos.
Segundo fonte oficial da Secretaria de Segurança Pública do Estado de São
Paulo em 2007. Para Minado (2000) a tendência é a de que se registre um aumento
da criminalidade denunciada neste contexto.
Existem muitos outros casos de violência que são complexos, de difícil
diagnóstico e também de muito difícil prevenção.
Os agressores mais freqüentes podem exercer essa violência de diversas
formas: maus tratos e abusos físicos, maus tratos psicológicos, negligência por
abandono, negligência nas doses de medicamentos erradas dadas ao idoso para
"ficarem mais calmos", negligência nos cuidados de saúde – na sua maioria em lares
–, abuso sexual, embora em menor escala, e ainda o abuso material, através da
tentativa de extorquir dinheiro.
Este caso é freqüente por parte dos filhos sobre os pais já pouco lúcidos.
Os maus tratos contra os idosos praticados pela família e pelos cuida dores
dos lares são muitas vezes agravados pela falta de preparação e pouca
sensibilização para a velhice.
Segundo o estudo "Violência contra os mais velhos. Isto pode ser explicado
por Minayo (2000) quando segundo a autora, quanto maior for o índice de
dependência do idoso e a precariedade social, mais provável é ocorrerem situações
de maus tratos". Mesmo em instituições legalizadas, onde a satisfação de
necessidades fisiológicas básicas, cuidados primários de saúde e higiene nem
sempre são respeitados.�
A violência tem modificado a ordem nas mais diversas culturas,
principalmente quando tratamos da violência contra os idosos, que acontece com
mais freqüência em sociedades capitalistas, cujo os objetivos é produção e
consumação.
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Segundo a, violência, crueldade ou opressão, e ainda assegura que todo
atentado aos seus direitos, por ação ou omissão, será punido.
Assim entende-se por Maus tratos a agressividade, a negligência e o
relaxamento nos cuidados devidos aos filhos menores, sendo alvo das
preocupações de profissionais e entidades que trabalham com a problemática da
velhice.
Existem Estados como o Ceará que depois de implementar o as políticas do
Estatuto do Idoso , disponibilizando 0800 e outros telefones para que as denúncias
sejam feitas para uma proteção às crianças e adolescentes.
Por serem taxados como incapazes a solidão é um destino certo, sofrendo
assim o abandono, que nada mais é do que deixar desamparada, sem auxílio ou
proteção, alguma pessoa que se tenha o dever, de acordo com a lei, de amparar,
como podemos ver o caso destas crianças deixadas em abrigos e ou a outros.
Omissão de socorro é deixar de prestar assistência a quem precisa, e no caso
da omissão de socorro em relação ao idoso quando não ocorre deve ser
comunicada imediatamente as autoridades competentes.
No entanto para que as devidas providências possam ser tomadas quando
alguém ver uma destas atitudes , deve imediatamente denunciar às autoridades
policiais.
Estas questões são tão complexas que também estão previstas no Código
Penal em seus Artigos 133, § 3º, III, 135 e 136, porém falaremos destes artigos no
capítulo a seguir.
3.5 Sanções penais
Existem alguns crimes contra idosos que iremos tratar a seguir. É o que nos
trás o Artigo 133, § 3º, III do Código Penal (2005):
Art. 133 – Abandonar pessoa que está sob seu cuidado, guarda, vigilância ou autoridade, e, por qualquer motivo, incapaz de defender-se dos riscos resultantes do abandono: Pena – detenção, de 6 (seis) meses a 3 (três) anos. Obs.- Grau.4: Abandono; Abandono de Incapaz; Dolo Específico; Periclitação da Vida e da Saúde.
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Aumento de pena: § 3º – As penas cominadas neste artigo aumentam-se de um terço: I – se o abandono ocorre em lugar ermo; II – se o agente é ascendente ou descendente, cônjuge, irmão, tutor ou curador da vítima. III – se a vítima é maior de 60 (sessenta) anos. (Alterado pela Lei Nº-010.741 / 2003).
Assim é entendimento jurisprudencial36:
Para a configuração do delito previsto no art. 133 do Código Penal, exige a lei o fato material do abandono, a violação de especial de zelar pela segurança do incapaz, a superveniência de um perigo à vida ou à saúde deste, em virtude do abandono, a incapacidade dele se defender de tal perigo e o dolo específico (TACRSP: JTACRIM 78/411 in TJMG).
Neste caso o sujeito ativo do crime é a pessoa que tem o dever jurídico de
zelar pela vítima, e o sujeito passivo é o incapaz, que é todo aquele que não tem
condições de cuidar de si próprio.
A conduta para esse crime é abandonar a vitima, tanto sendo em levá-la a
algum lugar onde não há meios de se proteger, como é o caso de abrigos e ou
família substitutas que não tem condições de amparar o idoso, ou até mesmo
afastando-se da vítima, deixando-a sem proteção.
O dolo para esse crime é a vontade de abandonar a vítima, estando o agente
ciente de que é responsável por esta e do perigo que pode correr. E a consumação
acontece com o perigo concreto, não excluindo-o com o fato de que o sujeito ativo
reassumiu o dever de assistência.
Desta maneira é o entendimento jurisprudencial37:
Admite-se a tentativa no crime de abandono de incapaz na hipótese, por exemplo, do agente percorrer quase que inteiramente o inter criminis e a pronta intervenção de terceiro impedir que a vítima ficasse exposta a perigo, ainda que momentaneamente (TACRSP: JTACRIM 108/411 in TJMG).
36 Jurisprudência disponível no site do Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais (http://www.tjmg.gov.br), acessado em 04 jun 2008. 37 Jurisprudência disponível no site do Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais (http://www.tjmg.gov.br), acessado em 04 jun 2008.
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A pena para esse crime pode variar de 6 meses a 3 anos de detenção, sendo
que se a vítima é maior de 60 (sessenta) anos, a pena aumenta de um terço
Quando falamos da omissão de socorro que é deixar de prestar assistência a
pessoa que precisa, estamos falando do crime previsto no Artigo 135 do Código
Penal38 que nos trás:
Art. 135. Deixar de prestar assistência, quando possível fazê-lo sem risco pessoal, á criança abandonada ou extraviada, ou à pessoa inválida ou ferida, ao desamparo ou em grave e iminente perigo; ou não pedir. Nesses casos, o socorro da autoridade pública: Pena – detenção, de 1 (um) a 6 (seis) meses, ou multa. Parágrafo único. A pena é aumentada de metade, se da omissão resulta lesão corporal de natureza grave, e triplica, se resulta a morte.
O sujeito ativo deste crime é aquela pessoa que está próxima da vitima no
momento em que esta necessita de ajuda, embora em alguns casos não exista esta
proximidade e alguém seja convocado a prestar esse socorro. Caso existam mais
pessoas que possam prestar socorro e todas se recusarem, acabaram todas
respondendo pelo crime.
Assim é o entendimento jurisprudencial39:
“Se mais de uma pessoa encontra outra em perigo, todas ficam obrigadas ao socorro. A assistência eficiente prestada por um dos presentes exime os demais.” (TACRSP: RT 519/402 in www.tjmg.gov.br).
A omissão de socorro não está ligada a relação de parentesco entre o sujeito
e a vitima, pois será responsável qualquer pessoa que se omita a prestar esse
socorro, pois é um dever moral de assistência e solidariedade.
Como sujeito passivo, temos em se tratando do trabalho a pessoa inválida,
aquelas que por suas condições pessoais, no caso em tela a idade, não tem
condições de afastar o perigo de si mesma.
Deste modo pode-se verificar segundo jurisprudência40:
38 MIRABETE, Julio Fabrini. Código Penal Interpretado. Editora Atlas: São Paulo. 2005. p. 1047. 39 Jurisprudência disponível no site do Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais (http://www.tjmg.gov.br), acessado em 04 jun 2008. 40 Jurisprudência disponível no site do Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais (http://www.tjmg.gov.br), acessado em 04 jun 2008.
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Para a configuração do crime de omissão de socorro, não há a necessidade da vitima estar correndo risco de vida, vez que o perigo descrito no tipo penal, também diz respeito à incolumidade física da pessoa (TAXRSP: RJDTACRIM 22/295 in www.tjmg.gov.br).
Existem duas condutas que qualificam este crime que é deixar de prestar
assistência ao ofendido, que é uma conduta típica, e a de não pedir socorro da
autoridade pública, que é uma conduta omissiva.
O dolo do crime de omissão de socorro é a vontade de não prestar
assistência ou auxilio, tendo plena consciência de que essa omissão acarretará
perigo para a vítima.
E a consumação quando o sujeito ativo deixou de agir.
Segundo Mirabete (2005):
Passado o tempo juridicamente relevante, o socorro tardio não exclui a consumação. Tratando-se de crime omissivo próprio, não é possível a tentativa. Se a pessoa presta socorro, diante da insistência de terceiros, não pratica o crime; se já decorreu o lapso de tempo juridicamente relevante, o crime está consumado (MIRABETE, 2005, p. 1053).
Em se tratando do crime de maus tratos é um crime que agride a proteção à
pessoa, pois é quando o sujeito tem sob sua proteção a vitima e expõe esta a perigo
de vida ou sua saúde.
Assim como dispõe o Artigo 136 do Código Penal (SALVATTI, 2004) :
Art. 136. Expor a perigo a vida ou à saúde de pessoa sob sua autoridade, sua guarda ou vigilância, para fim de educação, ensino, tratamento ou custódia, quer privando-a de alimentação ou cuidados indispensáveis, quer sujeitando-a a trabalho excessivo ou inadequado, quer abusando de meios de correção ou disciplina: Pena – detenção, de 2 (dois) meses a 1 (um ano, ou multa. § 1º se o fato resulta lesão corporal de natureza Grace: Pena – reclusão, de 1 (um) ano a 4 (quatro) anos. § 2º Se resulta de morte: Pena – reclusão, de 4 (quatro) a 12 (doze) anos. § 3º Aumenta-se a pena de um terço, se o crime é praticado contra pessoa menos de 14 (catorze) anos.
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E a criança, muitas vezes fica sob a guarda ou vigilância de alguém, quer seja
por familiares ou por alguma Instituição abrigo, tanto que o sujeito ativo deste crime
pode ser pais, tutores, curadores, diretores de colégios, professores, enfermeiros,
guardas de presídios etc, ou seja, somente quem tem essa legitimação especial de
autoridade pode cometer este crime.
Já o sujeito passivo como podemos verificar é aquela pessoa que se acha
sob autoridade, guarda ou vigilância do agente. Sendo que o tipo penal pode ser
analisado através da expressão “expor a perigo a vida ou a saúde da vítima pelo
abuso do agente.
Para a configuração deste crime é necessário que haja a intenção do agente
(querer corrigir ou disciplinar a vítima), sendo que sua consumação se da com a
criação do perigo.
Assim é o entendimento jurisprudencial41:
O crime de maus-tratos, previsto no art. 136 do CP, é crime de
perigo, bastando para sua consumação a situação periclitante criada
pelo agente, não exigindo resultado, isto é, dano efetivo (TACRSP:
RT 675/376 in www.tjmg.gov.br).
Para finalizar, um pouco do crime material que é quando o agente deixa de
prover a subsistência da vitima, e está previsto no Artigo 244 do Código Penal 42:
Art. 244. Deixar, sem justa causa, de prover a subsistência do
cônjuge, ou de filho menor de 18 (dezoito) anos ou inapto para
o trabalho, ou de ascendente inválido ou maior de 60
(sessenta) anos, não lhes proporcionando os recursos
necessários ou faltando ao pagamento de pensão alimentícia
judicialmente acordada, fixada ou majorada; deixar, sem justa
causa, de socorrer descendente ou ascendente, gravemente
enfermo:
Pena – detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos e multa, de uma
a dez vezes o maior salário mínimo vigente no País.
41 Jurisprudência disponível no site do Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais (http://www.tjmg.gov.br), acessado em 04 jun 2008. 42 MIRABETE, Julio Fabrini. Código Penal Interpretado. Editora Atlas: São Paulo. 2005. P.1967.
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Parágrafo único – Nas mesmas penas incide quem, sendo
solvente, frustra ou ilide, de qualquer modo, inclusive por
abandono injustificado de emprego ou função, o pagamento de
pensão alimentícia judicialmente acordada, fixada ou majorada.
O sujeito ativo para este crime pode ser o cônjuge, que deixa de prover o
sustento do outro; o pai ou a mãe em relação ao filho menor de 18 anos ou aquele
filho que não seja capaz de trabalhar; o descendente que deixa de proporcionar
recursos necessários a ascendente inválido, idoso ou doente e o devedor da pensão
alimentícia.
Deste modo entende Mirabete (2005), que ¨Sujeito ativo é aquele que tem o
dever legal de prover a subsistência do sujeito passivo: cônjuge, pai ou mãe,
descendente ou qualquer pessoa que deixa de socorrer o ofendido.¨
Assim entende-se por sujeito passivo, ainda conforme Mirabete (2005),
aquele que, nos termos da lei penal, pode exigir a prestação do cônjuge ou parente,
também os filhos com idade até 18 anos e ainda o ascendente inválido (inutilizado
para o trabalho) e o maior de 60 anos.
Para este crime temos como condutas típicas o fato do sujeito ativo deixar,
sem justa causa, de prover a subsistência do sujeito passivo e quando este não
efetua o pagamento da pensão alimentícia que é fixada judicialmente.
O dolo, ainda conforme Mirabete (2005), é a vontade de deixar de prover a
assistência ao sujeito passivo pouco importando a motivação do agente.
E a consumação acontece quando a primeira e a última das condutas típicas,
quando o omitente deixa de prover a subsistência da vítima, em comportamento
permanente.
Como descrito acima, o dever de alimentos é recíproco entre pais e filhos. A
obrigação é extensiva, podendo recair sobre os ascendentes na ausência ou
impedimentos dos pais, e, na falta de ascendentes, recai sobre o descendente, que
não existindo, recai sobre os irmãos.
Portanto, conforme Jesus (2003), a ação penal de que trata o crime em
questão é pública incondicionada, isto é, depende de denúncia do Ministério Público
para início da ação, que independe da manifestação da vontade de qualquer dos
envolvidos ou quem quer que seja.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Finalizando o presente trabalho monográfico, destaca-se que do estudo do
Capítulo I foi possível destacar alguns enfoques da origem e a evolução da
responsabilidade, definição de responsabilidade no direito Brasileiro, a
responsabilidade subjetiva, a responsabilidade objetiva, obrigação de alimentar: uma
questão se definir, visando principalmente, a defesa de sua dignidade.
Desta forma, inferiu-se do referido estudo que, além de inúmeras inovações
trazidas em seu desenvolvimento histórico, os ideais de proteção da família, deram-
se pela valorização seus membros em especial, dos poderes e deveres a eles
concedidos, cuja evolução acompanhou a sociedade, permanecendo, entretanto,
alguns resquícios de sua formação original.
Neste sentido, especialmente os interesses dos mais indefesos.
No Capítulo II, a análise científica teve como enfoque principal o estudo dos
alimentos – a necessidade do alimentando e a possibilidade econômico-financeira
do alimentante, e de acordo com a lei, é obrigado a prestar alimentos os
ascendentes, os descendentes e irmãos unilaterais ou bilaterais, além do conceito
do idoso a sua isenção no mercado de trabalho e a relação do idoso com a família e
o grau de dependência dos indivíduos idosos é, em boa parte, determinado pela
provisão de rendas por parte do Estado em relação a sua família, comprovando-se a
hipótese da responsabilidade civil na sociedade conjugal e para com a pessoa idosa.
O Capítulo III apresentou-se como resultado da pesquisa concernente à
análise da doutrina e da legislação a responsabilidade dos filhos sobre os pais, a
legislação complementar que trata dos alimentos ou que em razão da matéria que
veio, inclusive, a tratar do assunto, destaca-se o Estatuto do idoso e do que em seu
conteúdo dispões sobre os direitos fundamentais elencados no mesmo estatuto. e a
Constituição Federal que foi o marco das transformações que passou a sociedade,
no Século XX, no que se refere ao respeito e proteção aos necessitados,
comprovando também a hipótese da responsabilidade civil dos alimentos à pessoa
idosa.
Dentro de todo o contexto apresentado a fim de se atualizar as mudanças e
aos novos padrões sociais:
Os direitos humanos e a terceira idade, e as internações em instituições.
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As determinações do Estatuto do Idoso, os maus tratos, abandono e omissão
de socorro, as devidas sanções penais.
Assim, devem-se todos unir esforços para dar real aplicabilidade ao que
dispõe a legislação sobre o tema.
Salienta-se, este trabalho, em momento algum, teve a pretensão de esgotar o
tema, tão importante e com carente doutrina ainda. Com o passar dos tempos,
possivelmente, adquiria novos contornos jurídicos.
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REFERÊNCIAS
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