REVISTA DE A VERBAL DA UNILAB

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REVISTA DE ARTE VERBAL DA UNILAB

nº 6 / janeiro 2021

1

BORA PUBLICAR?

Imagina um periódico onde se possa conhecer, experimentar e compartilhar as produções literárias de quem frequenta e faz a Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira, a nossa UNILAB.

Imagina: uma publicação para que as/os artistas das palavras dentre nós nos brindem com prosa e poesia, e onde quem mais queira também se sinta à vontade para mostrar suas criações.

Imagina uma edição assim, que venha para criar e cultivar ambientes propícios a mais invenções e mais convívios.

A presente publicação é fruto do desejo de materializar e realizar estes imaginares: RAVU – Revista de Arte Verbal da UNILAB.

Boa leitura!

RAVU – Revista de Arte Verbal da UNILABnúmero 6 / janeiro de 2021

Participantes desta edição (pela ordem em que aparecem):

Nadilé Fernandes, Ciciliane Bezerra, Ivanick Lopandza, Neta de Bruxa,Maria Rosa Menezes, Mykele Dodó, Yohana Rosa, Pedro Capitango,

Elivania Coelho, Wander Faustino, Juliano Gomes,Pedro Henrique Queiroz Silvestre, Maklina Almeida, Segredos de ela,Elenilsa Pessoa, Isnaba Ano Mendes, António José Fonseca Neves,

Lourenço Passos João, Tony N’Runca, Janael Teixeira, Eronízio Teixeira,Raquel Alves, Annalua Sampaio, Miriam Vieira, J. Alencar, Katson Maia,

Mai Maia, Elivelto Gadelha, Eliseu Gabriel, Emanoel Marques,Fátima Fernandes, Leandro Proença, Tiago Satyagraha, James Anderson,

Diego Leão, Trelles, Adílson Major, Mary Nayara Oliveira,Adriely Clemente, Ednardo Nascimento, Umaro Seidi, Michel Carvalho,

Júlio Leite Infau, Cristiano Monteiro, Mamim Alfissene Baldé,Renata Barros, Amanda Santos, Francisca Tainara, João Filho Oliveira,

Darlan Querioz Costa e Eduardo Boni Nanque.

2

NHA MANTA DI FERRO

Nha cultura inha raizNha raiz inha forçaKil força kunha kulturaKata kansa di régua...Mesmo na tempo di tchubaPabia mamé sempre i maméNa mar ita sirbim di salba binaNa ar di aparakédaIabo kinha manta di ferro na terra mamá.

(Nadilé Fernandes)

3

TINTEIRO

Quem diria,que um substantivo masculinoem um pequeno recipiente se tornaria.Poderia conter várias coisas,Para que eu pudesse aqui frisar.Algo que eu escreva.Algo que eu leia.Algo que eu sinta.Sinta no ar.Poderia conter tinta.Para que eu segure uma penae escreva sobre o amor.E como é amar.

PENA

Seguro uma pena.Com o meu tinteiro de lado.Para que não me falte dilemas.Para que eu me sinta amado.Para que não me falte substantivos femininos,para completar minha rima.E eu não me sinta pequenino.Caso eu não seja amado.Eis aqui as palavras que te escrevo.Que me escrevo.

4

Não quero deixar nada de lado.Por um instrumento que reveste o corpo das aves.E que vira um instrumento de trabalho...Dos poetas...Dos solitários...Dos angustiados...Dos felizes...E dos que são amados.

(Ciciliane Bezerra)

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UM SORRISO DE FLORFicou ecoando na minha memóriaEspécie de amor inconfessoProjet de la vie ou merde d’artiste

Fiquei do meio

Fiquei entre o idealismo deUma vida do teu ladoE o realismo dos dados estatísticos.No fundo, muito medoDe dar-te o meu coração e não maisE tu devolveres todo ele partido.

Fui à praia do amorNão entrei por medo deTubarões imaginários eRelatos noticiosos de mortesE tantos afogamentos...Quando olhei em voltaÉramos muitos em piscinas sexuaisCom medo da incomensurável incerteza marítima

Do amar

(Ivanick Lopandza)

6

EU NUNCA TE AMEI.Lembro do dia que a gente estava discutindo e eu pedi para prestar atenção em mim e você respondeu que não conseguia me olhar porque ia rir. Furiosa, questionei se aquilo era engraçado, então, de cabeça baixa, você respondeu que toda vez que olhava para mim, dava um frio na barriga e o riso vinha sem controle algum. “Aquele friona barriga que dá quando a gente olha para quem a gente gosta”, você disse. Naquele instante eu percebi que eu nunca te amei.Sei que menti, mas foi porque me senti culpada. Toda vez que dizias que me amavas, uma culpa atravessava meu peito. Eu realmente não conseguia entender como era possível. No meu entendimento, era preciso mais tempo para amar alguém. Como poderias ter certeza que era amor? Talvez só estivesse encantado por conhecer alguém, o novo às vezes, causa encantamento. Porém, teu argumento desqualificava o tempo.“Não preciso de tempo para saber que eu te amo. Amo agora.” Além de culpada, acho que também, no fundo queria te amar, queria anaturalidade de declarar, sem medo. Amar e pronto. Porém, tenho princípios. Foi quando tudo chegou ao fim. Quando percebi que tinha que ir embora.Apesar de não poder te amar, seria desonesto negar que te desejava. A forma como meu corpo contorcia cada vez que seu pau duro roçavana minha coxa... [suspiro]Ali, despidos e suados...penetravas a minha alma.Mas eu nunca te amei.

(Neta de Bruxa)

7

ENTRE ELAS

“Quem são eles para bater numa mulher daquele jeito?” Ela meolhou com um rosto constrangido e ergueu o sobrolho numaexpressão que exigia uma resposta. Foi tão surpreendente a maneiracomo ela me abordou, era tão vivo o seu semblante, tão verdadeira asua dor que me fez saltar de forma abrupta com todo o meu corpopara dentro daquela pergunta. Estávamos no comboio entre Aragão eTeruel, eu de janela e ela corredor. Pelo quadrado da janela meu olharera arrastado pela paisagem que se diluía na velocidade emergulhava em uma imensa mancha de cores variando entre osverdes ao cinza-azulado. Mas aquele confronto, a colisão dos nossosolhares, aquela exigência de resposta foi um choque que me feztremer, que puxou os meus cabelos, contorceu as minhas mãos e melançou para o núcleo cego e indefinido daquele pergunta.

Ela trazia uma bolsa a tiracolo que apertava contra seu corpoenquanto esperava que enfim eu lhe desse uma resposta. O quepoderia eu responder? E se eu não soubesse responder e a minhavoz trêmula demonstrasse fraqueza, medo ou incapacidade para dizero que deveria ser dito a ela? Nossas vidas encontradas no mesmoimpasse. As duas que agora se olhavam surpresas fitando uma aoutra em corpos retorcidos, quase desalojados de seus assentos numequilíbrio precário das posições. Olhadas de longe era algo difícil deconceber, certamente; mas transparece uma vitória qualquer sobre aausência e o ressentimento.

8

Ela de olhos muito vivos, olhos pretos e na cabeça um lençoverde que deixava escapar uma mecha do cabelo. Eu não sabia queela era todos os dias uma vida diferente da minha, eu não conhecia osseus pequenos pertences, seu espelhinho da parte de dentro da caixado batom, a marca do seu creme para as mãos e nem aquela agendado ano passado com receitas e orações de duas gerações. Naquelabolsa, de um prata esmaecido, parecia ter um mundo guardado comcoisas de mulheres, segredos ancestrais que eu jamais tivera acesso,mas que naquele minuto poroso eu precisava entranhar cada fibra,absorver cada cor, saber de cor todas as receitas e com mãos ágeisfazer cozinhar e provar todos os sabores. Eu que corria os dias comolhos deitados nas aquarelas simples nas paisagens das estações.Agora, na velocidade de um batimento de pálpebras, sentir o tempode perder o tempo e às cegas re-construir de súbito todas as minhasausências e açambarcar a mais absoluta estranheza de ser em mim oque não era eu.

Ela ciente da pulsante dignidade daquela interpelação, reverteuentre nós o silêncio tranquilo que visita todas as distâncias. Quem sãoeles? Não são monstros de outros mundos, são efeitos mórbidos queevocam a dor e eu ... sem querer dizer palavra de prolongar o mal enem fazer moinho de debulhar lágrimas, tomei um gesto simples detocar as suas mãos. E tudo isso, deixou em nós um tempo paratranspor o limiar de nossa cisão. Numa imagem.

(Maria Rosa Menezes)

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RESPIRAÇÃO

Inspiro na tentativa de sugar-te para dentro de mim só teu cheiro é que me vem teu aroma adocicado inunda meu ser

teu corpo bem ao meu lado exala energia cósmica transmissão quânticasinto-me explosão subatômica

Há um quê de mistério sob a luz da lua posso jurar que vejo tua pele brilhar em pequenos pontos de repente és um céu estrelado sobre mim

Tens o peso do universo, a leveza de uma pluma, sinto tua expansão e compressão em harmonia somos um só corpo

Tua essência invade meu ser, me aquece, estremeçosinto meus membros congelandode repente, flutuo e Expiro

(Mykele Dodó)

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O AMOR É UM RITUAL

Quantas luas me desfizPara brotarOutra vezA memóriaQue você me fez.

Nunca esqueçoO amor é um ritual.

Sua pelePinta a noiteDo romance dos casais.

Banais sentimentosPalavras cantadasNas encruzilhadas.

Não me zangoNem em prantoFico maisO seu amor reside em mimE nessa lua ainda somos imortais.

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Mas no minguar do luarA face escura precisa se encantarMe encontro em encontrosE como lua cheiaEncho marésTransbordo caranguejos e estrelas do mar.

Pinto as estrelas do céuCom véuNão-imaculadoDe auto-amar.

(Yohana Rosa)

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INCRÍVELMENTE INCRÍVEL

Logo pela manhã, desperta o mais intensoDesperta a chama e é tudo que eu quero

Aquela vontade incontrolável de abraçar querer ter por pertodançar

Ficar juntos até aos fins dos tempos flutuarDeliciar-me de cada curva que compõe aquele templo transar

Achar injusto o certo ela é incrível estou cegoO amor é tão lindo, que eu nunca estou certo

Apaixonar-me intensamente como no primeiro dia é tudo quedesejo

fazer do teu corpo a minha caneta armadesafiar as leis da física e namorarmos em cima de um cometa

camahhhhhhh que absurdo exagerado espero que isso eu nunca

cometae aqueles lábios! Meu God me perco nas ondulações

pareço um novato no facebook não sei onde esta as reaçõeso mais incrível mesmo é os olhos, preto que nem café

parece impossível, mas fico excitado só de vermacio que nem o chocolate, colhi as lagrimas hamm mais que

suavethis is a new dimension como diz o Ed sheeran

a cada noite há um sonho de fazermos uma filhaainda bem que estas desenhada no meu pensamento

Uma mulher assim? Nem mesmo no convento

(Pedro Capitango)

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INSANA ANSIEDADE

Palpitação no peitoAngústia que invadeArrepios constantesSaudade da liberdade

Noites em claroO sono me faltaTu não me deixasTua presentaça maltrata

Emoções confusasParecem paixãoQue pena não é,É só turbilhão

É ansiedade...Te dedico até poesiaNão por seres bonitaMas por não me deixares, nem noite, nem dia.

(Elivania Coelho)

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O DRAMA DO SEXO UNIVERSITÁRIO

-Um conto sobre o envolvimento com uma bipolar.

É potencialmente gostosa a ideia de partilhar prazeres sem que hajaalgum vínculo no dia posterior, o desejo depois de alcançado, alertapara um possível esquecimento sobre a bela noite em que ocorreu.Num dia mais a fundo olhei novamente nos seus olhos, e houve oretorno do desejo, parece insaciável, mas o desejo de lhe ternovamente, se tornou selvagem. O seu cheiro ficou por 10 dias nomeu quarto, a lembrança tá se esgotando, é novamente o desejo deter a bipolar. É carnal, o que ela retrata no sexo, é uma ideia animal,pudera, ela não perguntou nem quem eu era, de que forma o meucoração acelera. Aham, sim, ela pensou o mesmo, que meu desejoera igual aos outros animais, mas será que lembrou que seu sabor émelhor do que outras bipolares? Assim foi o início da inquietação nodia seguinte, foi bendito seja o universo.

(Wander Faustino)

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SE TIVERES UM AMOR VIVE-O

Se tiveres um amor vive-o.Deguste o prazer, as sensações flutuantes

que te pegam para uma viagem às nuvens.O paraíso onde tudo é perfeito.

Mergulhe no mar e aproveite o mergu lho.Palpitando as ondas e controlando furacões,

Atravesse o impossível...

Se um tiveres um amor vive-o.Vive-o com a plenitude e deguste.

Deguste cada canto, cada gota, cada espaço,toque e cada sopro da brisa do amor.

Palpite cada curva, cada alcance e ondulaçãoda vida adjacente.

Se tiveres um amor vive-o.Vive-o.

Para depois que terminar, sinta que viveste algo.Sentiste algo, palpaste algo e adoraste algo.Enfim, viva teu amor para não se arrepender

por não ter vivido aquiloque tinhas em mão para viver.

(Juliano Gomes)

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RECORDAÇÕES

Certa vez lembrei do teu sorriso como um acalantoE lembrei de tudo, cada momento e todo o encantoRessuscitando a memória dos instantes vividosVerdadeiras eternidades que passei ao seu lado.

(Pedro Henrique Queiroz Silvestre)

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O AMOR

O amor é um rio,Transborda e nunca acaba.

Sangra: gozo e dor.

(Maklina Almeida)

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VOCÊ É UM “eu” que espera muito de mim,Eu sou um “eu” que já esperou muito de ti,

Expectativa por expectativa,Frente ao nosso “Nós” um imenso abismo,

Chamado realidade.

(Segredos de ela)

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JULGOU A MINHA falta de coragem,mas, se quer havia interesse sobre as minhas tentativas.Disse que eu era tola por duvidar do amor,mas, nunca reservou tempo pra decifrar como o amor morrera em mim.Propôs inverdades sobre quem eu era,e quando eu realmente me reinventei tentou me silenciar.Decidi caminhar só.Decidi compreender meu tempo, e me entender.Ser mais pra mim e menos pra você.E depois de tanto falar que eu funcionaria melhor só,passei a enxergar que aquela frase clichê:"Antes só do que mal acompanhada", é um grande lance pra viver,mas de vez ou outra consigo desarmar, deixo alguém se aconchegar.Porém sigo dizendo, sou um processo lento,e se não tiver paciência não vou te obrigar a ficar.

(Elenilsa Pessoa)

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TEMPOS DE INOCÊNCIA

O tempo chegou tão depressa e devastou o meu tudo,O vento soprou daqui pra lá, quase que em todo lado.Arrastando, me decidiu deixar todo arrasado,Nem voltou para me devolver o meu recente passado.

Meu coração bate de anseios, vontades e dor,A minha mente ata, desata e gira com todo fervor,Com toda força, resplandece que nem fulgor;O tempo tirou de mim momentos de luzes e de amor.

Sinto saudade daquele calor e alegria de infância,Daqueles momentos de frio, tempos de inocência.Aves cantavam ladainhas, cães, tanta carência.Tudo me deixava em alerta e com mais paciência.

Me dava vontade de recuar no tempo pra sempre,Para sempre, sonhar com o meu passado recente.Escutava assobios dos ventos vindos lá do Leste,Brumas noturnas que não chegam até o dia presente.

Tenho medo de um dia esquecer de tudo que já se passou,Medo de um dia não lembrar daquele lar que me criou,Daquela imensa sombra de mangueira que o pai semeou.Sinto pena de perder o tempo que nunca mais voltou.

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Até neste momento, são tantas as lembranças para apagar,Não sei se consigo esquecer daquilo que sempre vou amar.São tantos os momentos que flutuam do rio ao mar,De cabeça aos pés, assim como voo dos pássaros no ar.

Foram os momentos de tanta felicidade que eu vivi,Momentos de amizades de verdade, assim eu cresci.Foram convivências e maravilhas que nuca perdi,Cercado de meus irmãos, meus vizinhos eu sentiAquele ar puro e de natureza sempre tão exuberante.

Ai, o tempo se foi tão depressa sem me deixar lembrança,Lembrança do que preciso, alimentando minha esperança.Sinto uma dor imensa vivendo longe dos que eu tanto amava,Mas, mesmo assim, os vejo, os sinto dentro da minha alma.

Eu vos verei de novo, só que no meu peito já não aguentoVos esperar reaparecer e viver de novo aquele mesmo sorriso.Nosso lar já não é o mesmo, tudo se desmoronou com o tempo,Quando vos verei de novo, saudade em mim é que fala mais alto.

Meus amigos da infância, cadê a brincadeira que nos unia?Cadê “surumba-surumba” e as noites de belas estórias?Jogos de esconde-esconde e de corridas naquelas vias?Sinto imensa saudade daquela harmonia que tanto crescia!

Cadê os meninos e as meninas com quem sempre brinquei?Cadê os pneus de carro que, com colegas, eu sempre empurrei?Os estilingues que usávamos, batalhando, eu sempre lembrei.Com tanta frequência, nos batiam dia e noite, mas nunca chorei.

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A infância era tão linda, que nem dava pra guardar rancor.Deixávamos tudo de lado, nos corações reinava mais amor.Tudo era motivo de felicidade, crescíamos que nem flor.Vivíamos de uma forma como se não sentíssemos a dor.

Ninguém pensava que íamos nos separar assim pouco a pouco,Mas tudo começou a se mudar por diferentes motivos.Hoje em dia, cada um no seu lado, que haja agora reencontro!Espero que todos se lembrem e um dia nos reencontraremos.

(Isnaba Ano Mendes)

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VIDA KU AMOR

Se Deus dano vidaNu fazel fica mas floridaPois vida é muito preciosa e belaNtom usa bu voz pa bu canta na primavera

Ser bom alguém só dipende de bô ntom acreditaMa tudo ta bem na si tempo nes vidaPor isso nha diseju é planta amor na cada jardim de bu casaPam odja kel suriso bom na bu rosto ti k kaba na nada

Ami nta ama tudo sonho que sta caladoTudo kenha k ta ama e kes k ka sta ser amadoTudo corasom k ta xinti e k ka ta papiaTudo k é infinito e muto pikinoteNu ama nos próximoNu multiplica amorE nu fazi vida ser briliante

(António José Fonseca Neves)

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F L O R E S

Em que parte do mundo a gente ouviu falarQue elas foram feitas para os mortos?Flores não sãoNunca foramE nunca serão para os mortos.

Pois os mortos não irão sentir aquele aroma doce e fresco,Os mortos não irão aprecia-las, cuidar nem ao menos regá-las.Os mortos não irão sentir aquela gratidão nem a emoção de ter recebido algo tão belo quanto o sorriso de uma criança.

Flores são e sempre serão para os vivos.

Dê valor agora e não depois,Ame agora e não depois,Ofereça agora enquanto você e as pessoas que tu amas

[estão em vida.

O amanhã é tão imprevisível que num piscar de olhos podemos [nunca mais existir.

Por favor, quero que você não seja como os demais,Que levam uma, duas ou mesmo um buquê de floresNo túmulo de alguémQuando em vidas tiveras muitas oportunidades.

(Lourenço Passos João)

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A VIDA É um processoO mundo sempre é mutável.Os tempos estão em movimentoInstáveis em cada volta e momento,Pois que não existe nada imutável.

Tudo é como um mar que baixa e enche;Sempre novas formas se adquirindo;Aos novos sonhos uma visão abrindo;Para que a vida nunca se eleva nem desenche.

Mas em equilíbrio do novo progresso;Dando sempre um passo, sem retrocesso,Embora se pode deparar com algo travesso.

Cai-se no trilho, dá-se um novo arremesso,Porque a nossa vida é feita de processo;Só com o esforço que se alcança o sucesso.

(Tony N’Runca)

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VIVA INTENSAMENTE!

Não faça planos que sirvam de percurso cronológico

Delete as regras, e

Apresente se preciso for, improvisos

Não são as regras que nos ajudam a sobreviver

Nem ao menos pela sequência rotineira da vida

Por estas somos traídos

A cada amanhecer ganhamos a possibilidade do novo

Um novo recomeço,

Para continuarmos de onde paramos, ou

Simplesmente seguir adiante

Seguir batalhando por nossos sonhos,

Pela vida

Então, VIVA INTENSAMENTE!

Afinal, nascemos e morremos todos os dias

Para assim alcançarmos os propósitos que regem os dias de nossa existência.

(Janael Teixeira)

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A VALSA DA VIDA

Sentado a sombra de uma árvore;Ou tronco velho carcomido;De repente navegando no oceano da rotina;Nada de interessante a mente se aproxima;Arrisquei-me a explorar;Comecei a ler um livro;Esconderijo da cultura;Território de intelectos;A história é engraçada e um pouco divertida;Arroubos de admiração uma bela poesia;A beleza de uma flor;Lagoas plácidas brilhantes;Água que sacia a sede dos caminhantes sedentos;Água que sutilmente a irromper em rebentos;Água que influencia faz o desenvolvimento;Sonhos tão preciosos constroem o pensamento;Um caminhante que anda nas asas da imaginação;Os acasos não passam nem ficam despercebidos;Dançando contente a valsa da vida.

(Eronízio Teixeira)

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TRANSITAR

Eu fui, eu sou, eu sereié sempre assima gente passa a vida tentando se encontrare é óbvio que a gente se encontra mas aí a gente se perde de novoe de novo de novo de novotalvez a vida seja um eterno perder-se ao mesmo tempo que é um eterno encontrar-se

Acredito que a gente perde algumas partes e encontra outras a gente deixa uns pedaços por aí e encontra outros pedaços de quem somos ou de quem seremose é assim, se perdendo, que a gente se encontraé quando as coisas bagunçam que buscamos nos encontrara gente vive transitando

Hoje me perguntei se um dia estaríamos fixos em algonão sei vocês, mas vejo uma enorme dificuldade nissoe talvez seja por isso que enxergo beleza nessa constante mudança que é vivernesse eterno se perder pra se encontrar

Mas não nego que tem dias que me canso dissodias em que me pergunto se isso páraeu acredito que não, então continuovivendo com a certeza de que tudo muda o tempo todoe isso não tem que ser ruim.

(Raquel Alves)

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OS GIRASSÓIS EM MIM

Sou polimorfo, e já não basto com uma versão de mimNão me sinto só e nem deveria sentirEnquanto estou com as várias de mim, hei de continuarSem me esconder em um casulo, ou me isolar

Vi diversas pessoas partindo sem dar tchauAté mesmo o até logo, não pareceu comunalPara quem pensava que amar, era ser fracoEncontrei-me perdida em tantos partidos abraços

Me reinventei, e vi a chuva cairO molhar da grama, o cheiro de terra molhadaDescobri que eu continuava aliFirme, forte, sem partir

Enquanto houvesse de ser assimNunca haveria de calar-me a minha voltaEu e minhas várias versões de mimNunca haveria de partir de mim própria

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Então tatuei um girassol na altura do peitoE a cada banho gelado o tocoNão para lembrar somente das coisas que foramMas para principalmente lembrar quem sou

E o que sou é polimorfo como um girassolE é por isso que as várias versões de mim existem

E é por isso que há,Milhões de girassóis em mim.

(Annalua Sampaio)

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MEU JEITO DE SER!As vezes faço-me nadaPensando que a vida é culpada,Pois a minha nunca foi um conto de fada.Com o meu jeito de ser, procuro a estrada.Um jeito simples de ser amada,Mas acho que alguém jamais me agrada.Sonhando, fico presa nessa realidade imaginada,E tudo isso, me deixa de consciência pesada,E ainda, me faz lembrar que sou nada.Quero flutuar, onde a fantasia é criada,Onde todos procuram a felicidade imaginada.As vezes tenho ideia complicada,

Que me leva a pensar que essa coisa de sentimento foi inventada.Mas como? Não saberei responder e me leva a dizer outra vez que sou nada.

Ou será, meu jeito de ser burricada?Talvez um dia! Um dia eu descubra o Canadá,A terra de não ser nada a mim já está destinada,Até lá vou nadar para o nada lastimado…

(Miriam Vieira)

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JANELA DE ÔNIBUS

Onde moras?

Eu moro em um ônibus, vivendo o entre lugares;

Na janela deste ônibus eu me abraço, chorando, sorrindo, contemplando e por muitas vezes comemorando sonhos realizados;

É na janela deste ônibus que também encontro verdades, medos, ansiedades daquilo que ainda virá;

Foi por essa janela que passei anos da minha vida experimentando também a falta de um lar, sentindo saudades do meu lugar;

Hoje encontro repouso, nos encantos do meu lar e nele façoos meus sonhos;

É do meu lugar que nascem inspirações em mim;

Tem horas que quero voar; viajar;

Mas, sempre em meu coração levo o meu lugar e o desejo de voltar.

E regresso, sempre em busca de mais inspirações, sonhar novos sonhos e voltar para a janela do ônibus em busca de realizar.

(J. Alencar)

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EU SINTO

Sinto a arte em mimCorrendo no meu sangueSinto um misto de sentimentosEu sinto a arte verbalizadaO peso de cada palavraPenetrando no meu coração

Eu sinto a profunda melancoliaEu sinto outro diaA verdadeira alegriaDe verbalizar o que háDentro meu coração

Eu sinto a literatura vivaO gosto do café amargoSinto o peso da minha mãoPresente em cada palavra nesse poema

34

Eu sintoMe deixo sentirMe permito sentir

Sinto as peças teatraisAté mesmo as que nem conheçoEu sinto e tenho memóriasNão as “póstumas”Mas quem sabe um dia talvez

Eu sinto

(Katson Maia)

35

O TEMPO REVERSO

O verso simples que cansou de lutar,com o tempo contra o tempo.

Tu tens em teu pulso, o marcador.Mas não tens o tempo em tuas mãos

Que marca cada dor.Em um verso simples,

O tempo reverso que não controlamosO que passou, podes tu voltar?

O que está passando, podes controlar?O que passarás, sabes o que virá?

Não sabes, não sabes...O tempo como um rio fluindo em um percurso

que não voltas.E o ponteiro do relógio seguindo para frente

Sem remorsoPodes tu perdoar o tempoQue não perdoa ninguém?

Poderá voltar ao ponto de partida?O oposto,

aquela Terra-menina em movimento.Aquele Sol-menino parado,

Quem controla o tempo?

(Mai Maia)

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RETRATO DE HOMEM COM AQUÁRIO NA CABEÇA

para Tércia Montenegro

(Elivelto Gadelha)

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O QUE É a língua?Definir a língua é adentrar num campo muito complexoMas é por meio dela que consigo rimar os meus versos.A língua está definida em anatomiaMas também é a origem da nossa sintonia,Em anatomia é definida como um órgão composto por músculo,Localizado no interior da nossa boca até a faringe.Porém ela já existiu antes e durantes os séculos,Basta olharmos o quanto ela adstringe.A língua está definida em linguísticaDesta grandeza aprendemos o quanto ela é rica,Em linguística é definida como um conjunto de elementosque constituem a linguagem falada,ou escrita peculiar a uma coletividade.Dela transmitimos os nossos sentimentos,E assim desenvolvemos a nossa afetividade,A língua é conhecida e também desconhecida,Ela nos leva e eleva nos melhores campos da vida.A língua é o conhecimento da Terra e o Céu,Nos saber o que é meu, é também o quê é seu.A língua define o amargo do doce, do sal e do mel,Ela te faz ver anjos, tão logo pronuncias Gabriel,A língua é também conectividade,É por meio dela que estamos aqui na Unilab.

(Eliseu Gabriel)

38

DOCINHO

Era só por algum doceQue chorava o menininho Talvez, fosse o sorvete⁃Que não entrou no carrinho.

O seu mundo acabou Quis ficar pelo caminho.⁃O seu pai, então, deixouQue ele chorasse sozinho...

Tive pena do garoto Era só um menininho⁃‘Tava tão desconsolado(Com cara de coitadinho).

Já crescido, ele veráComo era tão facinho!Quando a decepçãoEra só por um docinho...

(Emanoel Marques)

39

FOME

Você já viu a cara da fome?Eu já, a fome tem olhos pequenininhose me diz “tia, não comi nada”.

Você já viu a cara da fome?Eu já, a fome me diz: “hoje teve café,mas o almoço só Deus sabe”.

Você já viu a cara da fome?Eu já, a fome tem voz sofridae olhos cansados.

Você já viu a cara da fome?Eu já...

(Fátima Fernandes)

40

NÃO HÁ NADA QUE NÃO POSSA PIORAR

Tempos de ausênciasencontros com solidões

isolamentosAs máscaras escondiame impediam as feituras dos afetosUma doença se espalhavaE provocava danos, graves e terríveis na vida socialCorpos sofriam

os corpos que sempre sofrem corpos que a morte sempre procura com mais vontadeEssas mortesnão mais provocavam comoçõesnem nada

além de medoe repulsa

Tudo isso acontecia...Pra piorar, depois disso ainda veio uma pandemia

(Leandro Proença)

41

AUTONEGAÇÃO

Tenho-me medoDe mim quero fugirNão sei onde irEu me sigoMe imito em tudoNão tenho liberdade

Eu não me quero maisO espelho insisteDiz que eu, sou euMas, eu, não quero ser euNão quero mais me serTenho medo de mim

Esse, eu, é complexivoÉ desenfreado, compulsivoTem direções indigestasTresanda amiúdeNão sabe ondeE por que vai

42

Talvez me sinta no avessoAssim, só, não quero.Despir-se de mim, vouNão é-me de feliz ficarPara nada mais quero euNão me quero maisNem mesmo sozinho.

(Tiago Satyagraha)

43

VITALIDADE

~Ó depressão queria eu poder livrar-me de ti. Queria eu poder abandonar-te, amiúde, todos os pensamentos mórbidos suicidas.

Ó vai- te, e não volta mais, com teus calafrios que me abraçam sem esperar. Não me importunes mais, pare as energias de drenar, ó deixe-me viver.

Ó depressão tu és cruel, pois tu és eu mesmo, o sufoco e desespero, alma morta. Não quererei voltar a ver-te de novo, em confusas e perplexas ilusões perdi o meu Senhor de vista.

Tu me confundes, e já ninguém poderá salvar-me, ó até quando ficarei assim, tão triste, perdido e depressivo?

De ti vou alimentando-me dia-a-dia, mastigando a minha própria sentença, engolindo o meu próprio Funeral.~

(James Anderson)

44

12

Ninguém vai abrir a porta.Ninguém pode abrir a porta.

Lá fora, o frio me queima.Morreu o cabeludo,

o garoto sisudo e alguns primos meus.

Não há mais espaço para ninguém em meu coração aloprado de hematomas.

O maior castigo foi um dia deixar de ser criança.Ninguém vai abrir a porta.

Ninguém pode abrir a porta.Lá fora, o frio me queima.

(Diego Leão)

45

IMPOSSÍVEL

Humanospobres humanoscansados de sua carneda gravidade, do tempo,da morte,assustadoscom os outros humanostão cansados quanto

(entretanto- impressionante! impossível! -quando cantam e dançamtudo faz sentido)

(Trelles)

46

RUINS DE SENTIMENTOS

Força!Força pra lidar com os dias que parecem não acabar nunca.E força pra acordar no dia seguintemelhor e mais amparado na própria presença.Força também por passar pela dor sem querer desistirForça pra entender o propósito de cada perdaE pra superar não só a dor, como igualmenteos ciclos dolorosos pelos quais precisamos passarpra crescermos e amadurecermos.Por isso, calma, respira.Força, viu?Muita força pra você nessa vida.Pra superar a ausênciaA solidão, o desafeto, o desamor...Pra superar esse ano que não foi dos melhoresMas que te deu sua melhor versão.Te desejo força!Força pra lidar com gente ruimRuins de sentimentos.

(Adílson Major)

47

MEU CORAÇÃO

Uma multidão de coisas boasTenho recebido do SenhorQue grande fidelidadeQue constrangedor é Seu amor.

Meu coração tolo e infielCom migalhas quer sobreviverDesprezando a comunhão perfeitaQue Contigo pode ter.

Leva-me a TiPreciso Seu perfume inalarPois nEle há vidaE eu aqui, no sepulcro a morar.

Maldito pecadoQue em mim habitaQue me faz desprezar a CruzA Redenção bendita.

(Mary Nayara Oliveira)

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MEU PLANETA AJUDAR

Lembra quando eu bati no seu portão?Era verão e eu estava quase transpirandoPedi um copo d'água e você me disse: NÃO.Desci aquele morro e peguei um buzãoE percebi que a poluição é grandeEntão eu procurei algo mais econômico.

Fiquei muito tristonho e só observei:Como a destruição está acontecendo aqui?Enquanto isso a chuva não caíaOs ventos não sopravam e o ar parou.

Os anos se passaram e a terra esquentoue as geleiras derretendo já estão.

Ai meu Deus do céu cadê a água?Os rios vão secar.

Depois de seis anos como vai estar?os gelos derretendo e as árvores morrendoA Vida sendo destruída pelas enchentesE o planeta gritando: cuida bem do ambiente.

Os anos se passaram e as plantas vão morrendoDois anos se passaram e a flora secouE a beleza da floresta acabou...

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Meu planeta ajudar, mas não sei até o quanto ele pode suportarOs mamíferos morrendoE a terra esquentandosó você eu podemos reverter a situação!

Meu amigo vamos láReverter a situação pois o planeta está gritandoA floresta desmatada e a terra esquentandoSó você e eu podemos reverter a situação!

(Adriely Clemente)

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LUTA

Cavando, arando, revolvendo a terra

Com uma lucidez de manhã,

Com as garras mais afiadas do que nunca!

O grito-alarme desvencilhado de grilhões,

Punhos em ristes para a luta: aguerrida!

Meu grito de guerra,

Minha cantiga de resistir: Mahin!

Minha agilidade de felina,

Meu sangue, suor, edificaram, vicejou em corações férteis eacolhedores: centelhas do amanhã.

Quanto mais se ceifa, mais se nasce,

Quanto mais se cai, agride; mais se ergue em rocha, alça voo...

Quanto mais sangue, suor, maior a garra,

Quanto mais sonhos, mais amplas as asas,

Quanto mais “surrada”, mais dura na queda,

Quanto mais grito, maior a luta,

Quanto mais nervos, melhor o aço,

Quanto mais corda, melhor o som,

Quanto mais eu, mais inteira,

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Quanto mais voz... ESCUTA!

Quanto mais abelha, melhor ferrão.

Quanto mais mãe mais loba!

Quanto mais samba, mais canta; mais tamboriza, mais fertiliza,

Quanto mais põem empecilhos mais se equilibra,

Quanto mais cores, mais arte,

Quanto maior incomodo, mais satírica,

Mais Logos, mais irônica, incisiva.

Sob a relva se estende, camuflada em flores, em Diva, em Dona, emMusa, rainha Nzinga.

Sob a terra em guerra levanta intrepidamente, se estende aguerrida:

Ampla,

difusa,

plena,

leve,

pluma,

Puma,

Pantera Negra!

(Ednardo Nascimento)

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ÁFRICA DA MINHA ROSA

Mãe ÁfricaMãe da minha bondade Mãe de arco íris, de Udo e de Charminique Mas também, mãe da minha rosa Engendrado nas relações de bondade de minhoca Sob auspício da alteza fascinante Ao redor de confidentes interessantes Acompanhado de alvos dominantes Que apesar de viverem nas terras iluminadas Nunca se aquiesceram com o mistério nobre e majestoso Propagaram sob os cantos com as suas lenhas enfeitadas Vieram com seus cânticos de longe misturado e lido Mas, encontram o maduro e já envelhecido son de tambur ku bumbulum, esperto, mais do que nunca Falaram de barcos, carros e mais tanto... Nós simplesmente dissemos: Unidos aqui estamos na mais antiga e longa vivencia notada! Nutriram-se de ódio E o pasmo que afastou os corações dos fidalgos, lhes abraçou Mas, o que disser se o achado calhar com a noite quente? O que falar se o perigo gênio vier no salutar da manhã? Avisai-o da ausência maldosa na terra da minha rosa Ordenai-o a abandonar o fidalgo da seriedade pintada Não alegrais com as cortesias retardadas Pois nelas, se situa A absorção engenhosa e medonha! A relação perigosa e fantocha! A vergonha canônica e sintomática! Salve a África da minha rosa!

(Umaro Seidi)

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ÁFRICA CONTINENTE

Atualmente a atualidade mente

Viajar no passado para entender o presentePovo combatente, lutador e sobreviventePara muitos só existe pobreza, infelizmente

Digo falta de conhecimento

Digo consequências dos aproveitadores que te exploraram, saquearam, traficaram e

mataram, não se comparam com animal e nem são gente

Diversidades étnicas, culturais, religiosas e sociaisTão rica em sua riqueza, o berço da humanidadePredomina a relação com os ancestraisMantendo a sua cumplicidade

Falo do meu povoDa minha origemDa minha africanidade

Falo da mãe África, meu berço, minha humanidade

Angústia angustianteInvade minha alma, parece um assaltanteUm frio que fria ao mesmo tempo calor quenteQuero chorar, gritar, mas prefiro estar sorridente

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Tanto falo de certezas que não tenhoTanto falo de coisas que não viviTanto falo de tantas coisas que tudo fica incertoQuero estar errado das incertezas e viver todas as certezas

Do que vale um homem sem sentimentosDo que vale viver sem sentir a dor, o frio e todas as sensaçõesDo que vale viver pra ter tudo e não levar nadaTodas as vidas são valiosas não importa a cor nem a fortuna

(Michel Carvalho)

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MARRAMBA

Apenas marramba de conta-quilômetros

As setes; ida e regressoDe Bissorã até a Mbuuh na InfandeMuito calor debaixo de um sol abrasadorDe imperfeitos passos de solas desgastesBarulhentos em tchumul-tchamal

Foram temposDos dias inesquecíveisDias que abraçam meu crescerAqueles anos!

Anos que machucaram meu espíritoQue me libertou o mimoSoltei da corda de NpiquininuAssegurado nas mãos de Amélia e MartaNaquele longo caminho de Dame a Bissorã

Quando os meus pés, ainda mandavam curtoQuando a minha mão, não sabia bulir as costasGanhei a consciência dentro da razão

(Júlio Leite Infau)

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TERRA

Terra sentida por longos anos de conflito bélicoQue até pressupunha, não brotar mais nenhuma sementeTerra que engoliu nossos parentes, nossos pretos, nosso sangue, que partiram de forma inesperada, mas honrada

Terra que renasceu com a esperança de um futuro melhor, com uma paz sentida no abraço, no calar do pum, pu, pu, tac,tac,tacTerra que brilha com azular de seus mares

Terra que jinga com seu semba, com a sonoridade esbelta da marimbaCom a delícia do calulu, com a zungueira que cantarola por toda cidade baixa, com o solabrasador, mas sonhando com além para os seus filhos

Terra do manikongo, dos zimbos colhidos na ilha de LuandaTerra outra ora ultramar, hoje naçãoTerra da makumba, não da magiaTerra dos tesouros incalculáveis

Terra dos paraísos infinitosTerra minha, terra nossaTerra que se chama Angola.

(Cristiano Monteiro)

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CORPOS PRETOS /AS

De lá existimos!

Das terras do horizonte azul, para os porões do cruzeiro que rompeuos corpos nos mares do Sul, ressoou a dor em exílio da solidão, natrilha do desconhecido ouvi escravidão, Humanidades roubadas,barbárie obliterada, desadormeceu a criticidade, por acobertar averdade!

Verdade dos corpos, corpos que vieram de lá!

Das terras com memórias sepultadas, corpos que despertamtrajetórias sofridas, tem cicatrizes! Histórias esculpidas, chicotes ecoronhadas, fizeram corpos que das inocências penumbras senegam, movidos pela falsidade da própria história!

Consciência invertida, vai, desperta!

Corpo da liberdade enclausurada pelos séculos de opressão,arrebentou as correntes com um grito de resistência!

O que significa que o corpo submisso é uma falácia!

Di barcafon dos vencedores, se houvesse as conquistas e glórias, nossilenciados a verdadeira história se projeta o oculto!

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Como esse corpo negro enche os olhos azuis e injeta fantasia queecoa no desejo, assim se desperta o medo pela virtude que carrega ocorpo do outro!

Meu corpo com humanidades em valores melaninos me orgulha!

Corpos com histórias repletas de resistências, mulheres guerreiras,homens com pés na orik laludu di ña África!

Não se vê chover das lágrimas dos olhos de uma mãe emtranquilidade, não!

(Mamim Alfissene Baldé)

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RAINHA INDOMÁVEL

Eu fico injuriada com esses moços que ao ver uma moça pensam em tudo, menos no certo, no principal, no gentil.

Vivem desolando umas e iludindo outras, mas o que mais me preocupa, é como essa mordomia ainda procede há anos hostis.

A Josélia tão nova já via, a sua mãe sempre dizia:

- Não vá se meter com pá de calças sem juízo.

Mas aos sons de mentiras, se jogou no pior dos casos.

Hoje separada mãe de dois filhos chora por um caso inacabado

Mulher é gente e não bicho.

Mulher é alma é poesia, é generosidade mais também cumplicidade,é delicadeza, mas também é respeito.

Acho impressionante como eles perdem o bom senso de humanidade quando se diz respeito a mulher.

Mulher é gente e não bicho! Torno a repetir.

Levados pela sua imaginação nefasta e seu ego podre, com o coração julgador, separatista, machista, decidem qual mulher irão respeitar.

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Respeito ou você dá ou você não tem, e não se olha a quem!

Age como se existisse regra para respeitar.

Mulher é gente e não bicho.

E você mulher levante sua cabeça, saia do chão e assuma a responsabilidade de sua vida com poder e determinação.

Você pode!

E dê a você e a todas as pessoas que estão ao seu lado a certezade que conhecemuma rainha indomável.

(Renata Barros)

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MULHERES PRETAS SÃO RAINHAS

Pare uma parte do mundo

E a outra parte ela cria

Pergunta para a preta velha

Qual o chá que cura essa alergia

que nos passaram para não termos sintonia

Saber que somos rainhas!

Ancestralidade,

Mandinga,

Magia,

Feitiçaria.

Eu cresci dando bença pra minhas tias

E aprendi a dar bença com a minha tia

Capoeira, rezas e malícias

Família matriarcal

A nossa mais velha sorria

Rainha!

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Tô aqui de pé hoje

por causa do mingau de cachorro

Que minha vó que não sabia um "a"

Me ensinou

Sabia de cabo a rabo as ervas boas para dor

Minha vozinha sangue de guerreira pra mim sorria

Cultuava a natureza

Cultivando empatias

Sou quem sou

Por ser criada por Realezas

Mulheres pretas são Rainhas.

(Amanda Santos)

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LINHAGEM MATRILINEAR

Eu sou uma linguagem sagradaUm solo sagrado, um corpo sagradoUm território sagradoUm ser diverso, complexo e até revoltadoCom as injustiças a este corpo endereçado

Eu sou Tainara Eugenio, filha de tantas mulheresFilha de Maria Luzia; parteiraSocorro Eugenio; professoraAna Maria, liderança comunitáriaTeresinha Maria, minha mãe de barriga

Eu sou uma meninaApenas uma mulherConcebida a partir dessas vozes mulheres que em me vivem,Pretas, quilombolas, agricultoras, professoras, lideranças e mãesQue me pariram em uma sociedade que caminhaContra as diversidades

Eu sou tradição!Mesmo com toda opressãoNão vou desistir!Eu vou resistir, para existir, pelas vozes mulheres que em me vivem,Não posso parar!Talvez eu consiga passar dos 80 tirosSem a bala encontrar meu corpo

(Francisca Tainara)

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RESILIÊNCIA, POR TODO P R E C O N C E I T O.

Cresça, viva, sinta e não permita que as pessoas rotulem o quevocê é. Lute e cresça, não seja mais uma daquelas peças alienadasas sociedades cheias de preconceitos e fórmulas de perfeição, não sedeixe, não se prenda, apenas viva o que teu coração te pede, nãodeixe o mundo lá fora te envenenar com o ódio, medo e rancor. Sejadiferente, dê sorrisos, abraços e mostre que as fórmulas feitas pelassociedades racistas, homofóbicas e ricas de preconceito não valem apena, elas não cobrem a maioria da população e desprezam asfelicidades de muitos.

Acredite e siga. Enfrente seus medos e cultive a esperança deum mundo melhor, não permita que a ignorância alheia te oprima,erga-se e mostre a sinceridade no seu olhar. Não se acolha numcanto, se exponha, coloque sua cara para que todos possam te notare verem que você é mais uma peça rara que pouco se importa com asopiniões ofensivas dessa sociedade sombria, presa a um passadoque condena o futuro de muitos homens e mulheres do nosso país.

Guarde seus sorrisos para pessoas que mereçam vê-lo. Não sepermita ser humilhado. Fugir? Não! não fuja, seja forte, cresça, peçaajuda e lute, mostre que você também é forte e que para você nãoimporta esgotar as forças em uma batalha até que não consiga ficarmais de pé. Tenha piso firme, e dê o primeiro passo, seja o primeiro atirar a espada e firmar no peito do preconceito e vê-lo sangrar aospoucos por todas as vozes que ele silenciou, por todos os sorrisosque ele tirou e por todos os sonhos que ele corrompeu.

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Supere seus medos e não se esconda, erga-se e erga alguém sejá estiver ferido e o chame para lutar contigo, não demostre ódio,demonstre apenas força e mostre que não importa o quão pequenovocê seja diante de tanta maldade, você nunca desistirá.

ACREDITE, LUTE E FIRME TODAS AS SUAS FORÇAS.

#NOT_AO_PRECONCEITO

(João Filho Oliveira)

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ESCREVENDO (SEM) SABER

Se eu soubesse escrever...Sobre o racismo.Diria que ele mata, oprime, hierarquiza, humilha, impõe e catequiza.

Se eu soubesse escrever...Sobre o racismo.Diria que ele não passou, ainda existe, resiste e persiste.

Se eu soubesse escrever...Sobre o racismo.Diria que ele deixa dores atuais, como as dos nossos ancestrais.

Se eu soubesse escrever...Sobre o racismo.Diria apenas...Antirracismo hoje, sempre e até mais...

(Darlan Queiroz Costa)

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BALENTIA KU BALUR

Durante kil tempu tuduSol bai ika ribaSucuru tapi tras di moransaUrdumunho ku ka cunsiduPapiadu del, djitus filantaduSuluson firmantaduDjorson di bom korsonDjunta pa tchom sedu nasonBalentia de Homis ku MindjerisPunu no tene Hino ku banderaNason di Abel Djassi tem pa DjamaduBalur ki tem diritu tem pa odjadu!

(Eduardo Boni Nanque)

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PUBLICADORA PALMARTESLABORATÓRIO DE PUBLICAÇÃO DIGITAL

Projeto de ExtensãoUniversidade da Integração Internacional

da Lusofonia Afro-Brasileira – UNILAB

TODOS OS TEXTOS AQUI PUBLICADOS FORAM APRESENTADOS COMOSENDO DE PRÓPRIA AUTORIA PELAS/OS PARTICIPANTES DA EDIÇÃO.

OS DIREITOS AUTORAIS DE CADA TEXTO AQUI PUBLICADO PERTENCEMÀS/AOS AUTORAS/ES ASSINALADAS/OS EM CADA POEMA/PROSA.

EQUIPE:Ciciliane Bezerra, Jonas Vieira, Maiara Maia, Maklina Almeida (voluntárias/o);

Adílson Major, Elenyce Santiago, Matteus Santos,Pedro Capitango, Thiago Galvino, Victor Kibutamena (apoiadora/es);

André Telles do Rosário (coordenador)

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