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Revista Ímpar é uma revista que tem como coração o conceito de diversidade cultural. Nessa edição, você terá dicas do Rio de Janeiro, entrevista com intercambista, diversidade de profissões e nos esportes e muito mais. Venha conferir!
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Fora da Zona de Conforto / página 5
Hey, Dublin / página 8
Bem-Vindo ao Brasil / página 12
Dicas do Rio / página 16
Cultura Olímpica / página 19
Ser diferente é normal / página 22
Perfil com Danilo Vieira / página 26
O teatro e seu universo / página 29
Crônica da edição / página 31
SUMÁRIO
SUMÁ-
VIAJANDO MUNDO AFORA
JOGA BONITO
BEM-VINDO AO BRASIL
CULTURA OLÍMPICA
ENTREVISTA COM UM CANADENSE, OLIVIER, QUE VEIO ESTUDAR NO RIO
DE JANEIRO.
CONHECENDO UM POUCO DOS PAÍSES QUE ESTARÃO NAS
OLIMÍADAS 2016. NESSA EDIÇÃO TEREMOS A NOVA ZELÂNDIA.
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EDITORIAL
VIAJANDO MUNDO AFORA
PERFIL PROFISSÃO
TURISMO
PERFIL COM DANILO VIEIRA
DICAS DO RIO
HEY, DUBLIN!
A REVISTA ÍMPAR ENTREVISTOU DANILO
VIEIRA PARA ENTENDER UM POUCO DO
PERFIL JORNALISTA.
QUER CONHECER LUGARES ÚNICOS E
INCRÍVEIS NO RIO DE JANEIRO? AQUI VOCÊ
ENCONTRA AS MELHORES DICAS.
ENTREVISTA COM UM ALUNO DA UFRJ QUE FOI PARA DUBLIN NA IRLANDA PELO PROGRAMA
CIÊNCIA SEM FONTREIRAS (CSF) . ELE CONTOU SEUS DESAFIOS E DIFICULDADES NESSA NOVA
JORNADA.
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No último mês, o time da ímpar esteve
focado em criar uma primeira edição marcante
para esse nosso novo projeto, A REVISTA, tarefa
indescritivelmente difícil.
Queríamos imprimir e divulgar a nossa cara,
criar a nossa marca e, como o nosso próprio
nome diz, contamos com um time único, singular.
Foram 8 cabeças pensantes e, em cada cabeça, um
mundo.
Convergimos todos esses mundos em um
plano: o da diversidade. Percebemos que se todos
nós somos distintos e pensamos diferente, somos
diversos. O mundo é diverso! A diversidade de
todos cria um coletivo multicultural.
Encontramos e conversamos com dezenas
A vida é curta demais para não ser ímpar!
de figuras ímpares, daí surgiram nossos
personagens e, deles, as matérias. Das conversas
e brainstorms, vieram temas e, dos temas, mais
matérias.
Essa troca de ideias e experiências nos
trouxe ao que vocês irão ver ao abrirem a revista
e entrarem na nossa viagem, partilharem
de nossas experiências. Essa foi a forma que
demos ao nosso projeto gráfico, artístico e
cultural, cada elemento com sua importância,
cada escolha muito bem pensada, pesada e
elaborada. Esperamos inspirar e encorajar a
inovação e a singularidade dos nossos leitores.
Muito obrigado por nos ler!
Marcella Falcão
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COLABORADORESKariny Leal, 19 anos. Sempre quis fazer
jornalismo na UFRJ e é isso que pretende seguir.
Já fez um período de Estudos de Mídia na UFF,
mas logo passou pra ECO e lá está. Redatora e
Revisora da Ímpar.
Isabela Izidro, 18 anos. Paulista, leonina, sonha-
dora, apaixonada por futebol, sertanejo e tomate.
Tenta todos os dias morar no Rio de Janeiro, mas
vive mesmo é no mundo da lua. Cursa Comunica-
ção na UFRJ. Redatora e Revisora da Ímpar.
Mariana Martins, inacreditáveis 21 anos. Tentou
arquitetura, mas não teve jeito: é inegavelmente
de humanas. Futura jornalista pela UFRJ, pisciana,
arquiteta apenas de planos que dificilmente
saem como o esperado. Leitora e sonhadora por
natureza. Aprecia chocolate, boas conversas e
dias de sol. Redatora e Coordenadora da Ímpar.
Lucas Santos, 19 anos, pensou em milhões de
cursos até conseguir escolher um. Ainda chegou
a escolher errado e desistiu de Geografia para
entrar em Comunicação, em que espera se en-
contrar cursando Radio e TV. Redator da Ímpar.
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PERFIL COM DANILO VIEIRA
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Mathias Felipe, também conhecido como MF, pau-
lista, gosta de viagens e culturas diferentes, curte vi-
ver a vida ao extremo e ainda quer fazer uma volta
ao mundo. Redator e Editor da Ímpar
Débora Mesquitta tem19 anos, é estudante da Eco e atriz de
teatro. Sempre quis trabalhar com comunicação (para total
espanto de seus pais), hoje pensa em ser publicitária, mas
quem sabe não muda de ideia? Fez um período de Relações
Públicas da UERJ e não se identificou com o curso. Talvez
até desista de tudo e faça circo... é... pensando bem pode
ser uma boa ideia! Redatora e Produtora Gráfica da Ímpar.
Pedro Henrique Carvalho tem 17 anos. Largou Ciên-
cia da Computação para fazer Comunicação Social.
Por enquanto, quer a habilitação de Produção Edito-
rial, mas nunca se sabe o rumo que a vida pode to-
mar. Gosta de pop punk e veste roupas pretas. É um
emo fora de época, basicamente. Redator e Produtor
Gráfico da Ímpar.
Marcella Falcão, quer ser jornalista desde muito cedo, an-
tes mesmo de saber o que era Jornalismo propriamente
dito. Cursou 6 períodos do curso na UFPE, e apesar de só
ter confirmado sua escolha por Jornalismo, veio para o Rio
de Janeiro atrás de novos horizontes. Hoje é uma aluna da
Eco desperiodizada, porém, realizada. Redatora e Editora
da Ímpar.
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Fora da Zona de Conforto
Se entrar na faculdade já é uma
grande mudança para os milhares de jovens
e adultos que ingressam semestralmente
nas universidades, fazer isso morando em
outra cidade, e muitas vezes sem conhecer
ninguém é um desafio ainda maior. Sair de
casa é um sonho para alguns estudantes,
mas pode ser um pesadelo para outros.
Deixar a comodidade do lar, o carinho dos
pais e a ausência de responsabilidades
domésticas para encarar uma vida nova
pode não ser nada fácil. Por outro lado,
fazer o curso dos seus sonhos em uma boa
universidade pode valer esse “sacrifício”.
O perfil dos alunos das
universidades e institutos federais ao redor
do Brasil tem mudado progressivamente
com o abandono dos vestibulares
tradicionais pelas instituições e o aumento
da adesão ao Sistema de Seleção Unificada,
o Sisu, plataforma digital criada em 2010
pelo Ministério da Educação (MEC), que
classifica os estudantes por meio de seu
desempenho no Exame Nacional de
Ensino Médio, o famoso e polêmico Enem.
O “ir e vir” dos estudantes está se
tornando comum e natural, e, algumas
Instituições já se organizam para receber
quem vem de fora, prestando informações
sobre clima, alimentação, disponibilidade
de lugar para morar e mobilidade. A
maioria das Universidades Federais
espalhadas pelo país também oferecem
moradia estudantil, como é o caso da
Universidade Federal do Rio de Janeiro, de
Minas Gerais e a Federal de Pernambuco,
que selecionam os alunos que não moram
na cidade onde estudam mediante
o preenchimento de questionários
socioeconômicos, e apresentação de
documentos que comprovem a dificuldade
de quem pleiteia em conseguir moradia.
Grande parte desses estudantes
que estão de mudança para estudar tem
idade entre 17 e 21 anos, alguns acabaram
de terminar o ensino médio, outros
frequentavam cursos pré-vestibular,
outros vêm de algum outro curso, e dentre
estas inúmeras possibilidades, como
conseguem lidar com tantas mudanças?
Fabiano Silveira, de 18 anos, natural
de Belo Horizonte, no estado de Minas
Gerais, chegou no Rio de Janeiro há 3
meses para iniciar o curso de Comunicação
Social na Universidade Federal do Rio de
Janeiro, UFRJ, e contou que já planejava
esta mudança há cerca de dois anos. O
estudante, que mora sozinho em uma
kitnet no bairro de Copacabana, Zona Sul
do Rio de Janeiro, diz estar se adaptando
ESTUDANTES BUSCAM SONHOS E GANHAM EXPERIÊNCIAS
Marcella Falcão Fabiano Silveira/ Arquivo Pessoal; Reprodução/Internet
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PATOS DE MINAS, BHA cidade de Patos de Minas surgiu na segunda década do século XIX
em torno da Lagoa dos Patos, onde segundo as descrições históricas existia
uma enorme quantidade de patos silvestres. Uma das características marcantes da
região é o seu artesanato. São tecelagens rústicas, bordados em ponto-cruz, crochê
e tricô. A palha, o capim, o bambu e a madeira também servem como matéria-prima
para belos trabalhos. Patos ainda esconde recantos naturais propícios para o desen-
volvimento dos esportes ligados à natureza. O turismo rural também tem vem de se
desenvolvendo na região.
bem e gostando da experiência de morar
na cidade. “Eu me adaptei bem, mas
sempre bate aquela saudade né?! Estou
gostando bastante daqui, mas é bem
diferente do que eu pensava, as vezes
bate aquela dúvida se é isso mesmo que
quero”, disse.
A transferência de cidade implica
mudanças que vão além de adaptar-se a
uma região. Adaptar-se a uma nova rotina
independente e a uma mudança cultural
brusca, em alguns casos , também é de
suma importância. Fabiano residia em
Patos de Minas, e não tem vontade de
voltar para lá. “Não penso em voltar pra lá,
quero continuar aqui mesmo, ou se surgir
oportunidade, vou para outros lugares,
mas lá não”, disse. “Fui muito bem recebido
aqui, gostei bastante do pessoal e ainda
não sei o que quero do meu futuro, qual
habilitação vou escolher, que área vou
atuar”, completou.
O maior motivo para sair de casa
é a busca pela estabilidade financeira,
sonho de muitos jovens ao ingressar em
uma universidade. O Instituto DataFolha
constatou que 53% dos jovens brasileiros
consideram que a maior conquista de
suas vidas é a independência financeira.
A pesquisa foi realizada com jovens de
12 a 30 anos. Aliado a este motivo, está a
vontade de crescer pessoalmente, criar
responsabilidades e passar a ter liberdade.
É fácil constatar que estudar em uma
universidade longe de casa ajuda não só
a se graduar, mas também a evoluir como
pessoa. Isso porque o aprendizado ocorre
também fora do período de aula.
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Hey, Dublin!EM ENTREVISTA PARA A ÍMPAR, CHRISTIANO BENICIO PINTO, ALUNO DE COMUNICAÇÃO VISU-
AL DESIGN NA UFRJ (UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO), CONTA TUDO SOBRE O INTER-CÂMBIO QUE ESTÁ FAZENDO EM DUBLIN, NA IRLANDA. LONGE DA FAMÍLIA E DO CALOR DO RIO DE JANEIRO, CHRISTIANO FALA SOBRE OS PRAZERES E DESAFIOS DA REALIZAÇÃO DESSE SONHO.
Mariana Martins Christiano Benicio/Arquivo Pessoal
Entrar em uma universidade pública é o
sonho de milhares de estudantes brasileiros. Todo
ano a saga dos vestibulandos se repete, e diversos
jovens enfrentam a difícil jornada de estudos para
ingressarem nos cursos tão desejados. Imagine
realizar esse sonho e, uma vez dentro da faculdade,
ter a chance de continuar os estudos em um país
a sua escolha? Com o programa Ciência sem
Fronteiras, surgiu uma oportunidade para os
alunos desbravarem continentes, conhecendo
outras culturas, paisagens e pessoas. E tudo isso,
claro, com muito conteúdo e aprendizado nas
diversas universidades espalhadas pelo globo,
que se encontram prontas para receber os novos
e curiosos estudantes.
ÍMPAR - Olá, Christiano, muito frio por aí?
CHRISTIANO - Eu peguei -15ºC na Suécia dias
atrás, chegava a doer a mão (risos). Mas aqui na
Irlanda está 12ºC de dia e a noite 8ºC. Estou com
medo quando voltar ao Brasil, vou derreter! (risos).
ÍMPAR - Como foi o processo seletivo para estudar
na Irlanda?
CHRISTIANO - O processo seletivo se deu através
do programa do governo federal, Ciência sem
Fronteiras (CsF). A princípio não é tão complicado,
basta preencher todos os requisitos do edital
do país que você deseja se candidatar. O que
complicou meu processo foi a nomenclatura do
meu curso, que se chama “Comunicação Visual
Design”. Segundo o edital geral do CsF, ciências Campus da Universidade
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sociais e humanas não são contempladas pelo
programa e como o nome do meu curso possui a
palavra “comunicação”, o sistema automaticamente
me excluiu do processo. Até provar que meu curso
é da indústria criativa (área que é contemplada pelo
programa), tive que entrar com processo judicial e
tudo mais.
ÍMPAR - Qual foi a primeira sensação ao pisar em
solo estrangeiro e pensar “eu vou morar aqui”? Você
viajou com algum amigo ou sozinho?
CHRISTIANO - Foi um misto de ansiedade, felicidade
e muitos outros sentimentos, que me deixaram
atônito, sedado. Eu nunca tinha pisado em solo
estrangeiro antes e de repente já estava de mala
e cuia, pronto para passar um ano inteiro longe de
casa, vivendo por conta própria num país diferente
e tendo que falar uma língua que eu mal domino.
Começar um intercâmbio é uma pequena amostra da
vida adulta, é preciso dar a cara à tapa. Creio que foi
a conquista da qual mais me orgulho até hoje. Viajei
praticamente sozinho, pois o outro intercambista
que viajou comigo eu conheci no dia e conversamos
pouco durante a viagem. Não viajei com meus amigos
mais próximos, pois eles conseguiram uma promoção
de passagens depois que eu já tinha comprado a
minha. Confesso que tive aquela invejinha branca
(risos), mas por outro lado fazer uma jornada dessas
“sozinho” te dá mais espaço para refletir sobre estas
mudanças de forma mais profunda e particular. A
solidão também tem seu valor.
ÍMPAR - O que de principal você acha que está
aprendendo com essa experiência?
CHRISTIANO - Não que eu nunca tivesse dado valor
antes, mas agora dou mais ainda ao teto e ao pão que
meus pais me dão. Sou de uma família de classe média,
fiz o ensino médio e técnico no CEFET/RJ (Centro
Federal de Educação Tecnológica Celso Suckow da
Fonseca), curso o ensino superior na UFRJ, estagiava
no Brasil, enfim, tenho consciência que sou parte
Para participar do programa Ciência sem Fronteiras, o aluno deve ser brasileiro ou naturalizado, estar regularmente matriculado em instituição de ensino superior no Brasil em cursos relacionados às áreas prioritárias do CsF (no site é possível encontrar todas as áreas disponíveis). O aluno também precisa ter sido classificado com nota do Exame Nacional do Ensino Médio - ENEM - com no mínimo 600 pontos considerando os testes aplicados a partir de 2009, deve possuir bom desempenho acadêmico e ter concluído no mínimo 20% e no máximo 90% do currículo previsto para o curso de graduação. Além de ser necessário apresentar um teste de proficiência em inglês. No momento o programa encontra-se congelado, porém torcemos para que retome suas atividades em breve. Entre no site para saber muito mais: www.cienciasemfronteiras.gov.br
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dos poucos privilegiados do nosso país.
Portanto, morar com pessoas diferentes,
cuidar do meu orçamento mensal, ser
responsável por colocar a comida na mesa
e às vezes ter que limpar sujeira alheia e
lavar louça de outros flatmates para poder
preparar a minha comida foi e está sendo
uma aula de convivência, relacionamentos
e independência. Também aprendi a dar
valor à algumas coisas da cultura e dos
hábitos do Brasil, este nosso complexo
de vira lata é muitas vezes infundado e é
preciso dar uma voltinha aqui fora para
rever os nossos conceitos.
ÍMPAR - Quais foram os maiores desafios
até agora?
CHRISTIANO - Ter coragem de abrir a boca
para falar inglês nas primeiras vezes, com
medo de ser julgado, parecer um idiota,
falar como um neandertal... Enfim, essas
besteiras que com o tempo, convivência e
estudos melhoram bastante.
ÍMPAR - Quais são as principais diferenças
de Dublin pro Brasil?
CHRISTIANO - A Irlanda é bem pequena.
O centro de Dublin, a capital do país,
é muito menor que o centro do Rio. A
cultura dos ancestrais irlandeses (celtas e
vikings) é muito viva, enquanto no Brasil
estamos quase matando nossos poucos
índios que restam. Por ser uma capital
de um país em crescente econômica, ser
bem internacionalizada e ainda assim ser
pequena, as coisas funcionam de forma
mais fácil aqui. Consigo fazer quase tudo
de bicicleta, pego ônibus com facilidade
também e não temo tanto pela minha
segurança quanto temia no Rio. A cidade é
mais limpa e possui mais parques públicos.
Em relação ao clima, aqui chove muito
durante todo ano, no inverno anoitece
às 16h e chega-se à sensações térmicas
(desculpa). Aliás, eles usam “sorry” como
“excuse me” também, enfim, é uma palavra
mágica aqui. Falando em mágica, foi
interessante observar como o “Leprechaun”
é uma lenda muita turística, a mitologia
irlandesa é rica e eles possuem histórias
fantásticas, mas apesar disso, eles não dão
tanta atenção para o Leprechaun (risos).
Ah, eles também bebem demais, demais
mesmo. Isso porque não pode beber na rua,
imagina se pudesse.
ÍMPAR - Do que mais sente falta no Brasil?
CHRISTIANO - Da comida, dos dias sem
chuva e da água. Irlandês nAão paga conta
de água, talvez por isso seja péssima (risos).
ÍMPAR- Você recomenda a experiência?
CHRISTIANO - Sem dúvidas, viver fora
do país e ainda gratuitamente (no caso
do Csf ) é uma oportunidade única.
Recomendo a todos um intercâmbio, é
uma oportunidade de crescimento pessoal,
cultural e profissional enorme. São histórias
e memórias que sempre arrancarão aquele
sorriso de canto da boca, aquela expressão
de satisfação e orgulho por ter feito e
vivenciado tudo isto.
negativas às vezes. Mesmo sendo menos
frio do que muitos países europeus, para
um carioca como eu foi um pouco difícil.
ÍMPAR - E da universidade (com relação ao
ensino)?
Christiano - Em relação ao ensino, pelo
menos o meu curso no Brasil não deve
em nada ao que estou aprendendo
aqui. Obviamente, aqui temos uma
infraestrutura melhor, laboratórios novos,
mais segurança e isto de certa forma
influencia no desempenho acadêmico
também. Porém, tratando-se apenas de
ensino, no Brasil temos mais flexibilidade
e opções para montar nossa grade e creio
que somos até mais organizados que os
irlandeses. E olha que eu não fui o único
que constatou isso.
ÍMPAR - O que você acha que vai trazer de
melhor quando voltar?
Christiano - Experiência cultural, evolução
pessoal, além de inspiração para novas
ideias e criações.
ÍMPAR - O que você achou de mais curioso
no local?
CHRISTIANO - Os irlandeses são bem
educados, se você esbarra na rua com um
deles e mesmo que a trombada seja culpa
sua ele provavelmente vai dizer “sorry”
A Irlanda é uma pequena ilha, dá para atravessá-la em 4h de carro! A capital da Irlanda é Dublin, enquanto a da Ir-landa do Norte é Belfast. São dois países diferentes desde 1921, quando a ilha foi dividida. O país é lar do tradicionalíssimo St. Patrick’s Day, celebração anual que toma a cidade. A Guinness, uma das cervejas mais famosas do mundo, tem sua fábrica em Dublin e é uma das maiores atrações turísticas da Irlanda, recebendo 4 milhões de visitantes por ano. Ela virou uma espécie de bebida-símbolo de comemorações. Além disso, foi em Dublin que surgiu a famosa (e incrível) banda U2! Sugestão da edição: A música Every Breaking Wave, da banda U2. Filmado na Irlanda, vale a pena conferir o clipe!
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Bem-Vindo ao BrasilCOMO BOAS-VINDAS AO OLIVIER, UM ESTUDANTE CANADENSE QUE
VEIO AO BRASIL PASSAR UM PERÍODO DE INTERCÂMBIO, CONVERSA-
MOS COM ELE SOBRE SEUS DESAFIOS E CURIOSIDADES DO PAÍS.
Contra o fluxo brasileiro, mui-
tos estrangeiros estão vindo ao Brasil
estudar nas Universidades, seja de in-
tercâmbio, ou cursar uma graduação
completa. A busca pelo país tem di-
versos motivos como temperatura am-
biente, qualidade do ensino e conhe-
cimento no idioma.
Realmente o idioma
pode ser uma bar-
reira para esses alu-
nos, como ouvimos
na nossa entrevista
com Olivier. Para
isso, recentemente,
renomadas Universi-
dades começaram a oferecer cursos em
dois idiomas possibilitando alunos bra-
sileiros e estrangeiros decidirem qual
idioma desejam cursar, como é o caso
da Pontifícia Universidade Católica do
Rio Grande do Sul (PUC-RS), que oferece,
desde 2014, disciplinas básicas como Cál-
culo em inglês e português.
Isso é fator essencial para a inter-
nacionalização das Universidades, uma
vez que o português é falado em pou-
cos países e não possui grandes progra-
mas de fomentação
do idioma em outros
países. Porém, o pro-
blema também foge
da sala de aula e vai
até onde alunos tem
dificuldades de rela-
cionar com as pesso-
as, desde compras à
pequenas conversas, pois o inglês ainda
é deficiente na educação brasileira. Con-
versamos com um intercambista que
veio cursar parte de sua faculdade no Rio
de Janeiro e ele nos contou um pouco
Mathias Felipe
Olivier Dorais-Dumas/Arquivo Pessoal
O que fez Olivier vir
para o Brasil foi sua
“paixão pelo futebol e
o clima do país, sempre
com a sensação de
verão durante o ano.”
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dessa experiência e dos desafios que en-
frenta.
Olivier Dorais-Dumas tem 20 anos
e vem de Montréal no Canadá, que é a
maior província da região de Quebec onde
a língua oficial é o francês. Por um acordo
entre sua universidade, a Concordia Uni-
versity, e a PUC Rio de Janeiro (PUC-RJ), ele
pode cursar algumas matérias que serão
revalidadas na sua universidade de ori-
gem. Esse procedimento, no qual o aluno
cursa parte em uma universidade e parte
em outra, é conhecido como Graduação
Sanduíche e permite que ele consiga com-
plementar sua formação com diferentes
cursos que talvez sua universidade de ori-
gem não ofereça.
Olivier contou que o que mais
motivou sua vinda ao Brasil foi sua paixão
pelo futebol e o clima do país, sempre com
a sensação de verão durante o ano. Na sua
cidade, atualmente é inverno e as tempe-
raturas chegam a bater 25 graus negativos,
o que impossibilita que ele pratique ativi-
dades esportivas ao ar livre como gosta,
por exemplo o futebol. Além disso, comen-
tou sobre o estilo de vida brasileiro que
sempre lhe atraiu atenção e é comumente
um dos maiores elogios ao povo brasileiro.
Na contramão do que o Brasil tem
de melhor ele comenta a segurança como
o pior. A cidade do Rio de Janeiro é co-
nhecida como uma das que apresentam
um dos mais altos índices de violência no
Brasil e esse fator influencia na percepção
dele do país.
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Quando perguntado sobre sua vi-
são do Brasil antes de vir para cá, ele foi
enfático ao lembrar que o Carnaval é uns
dos melhores períodos para se visitar o
país e que as mulheres são lindas e não
têm medo de mostrar sua
beleza nesse período do
ano, mas deve sempre to-
mar certo cuidado nesse
período, pois o risco de as-
saltos é grande, ele reafir-
ma sua preocupação com
a segurança. “E qual a dife-
rença para as Canadenses?”, perguntamos.
Ele diz que elas são mais reservadas, já as
brasileiras são menos tími-
das. Apesar dessa con-
tradição, ele não
vê nenhuma dessas características como
positivas ou negativas. Apesar do medo da
violência, já teve a oportunidade de entrar
em uma comunidade e contemplar umas
das mais belas vistas do Rio de Janeiro, o
Apesar das dificuldades, as pessoas que vivem
nas comunidades ainda têm uma felicidade
que supera isso.
“Continuem com essa alegria de viver e
festejar!”, disse Oliver.
Morro Dois Irmãos, que permite a visuali-
zação de toda a cidade e mostra por que é
a cidade do Brasil mais visitada por turistas
estrangeiros.
Questionado sobre alguns dos
problemas sociais do Brasil em compara-
ção com o Canadá, como educação, Oliver
acredita que as universidades são tão boas
quanto no Canadá devido ao histórico
das boas universidades,
apesar de não conhecer
sobre todo o ciclo educa-
cional. Já com relação a
desigualdade social, ele
disse como é triste ver tan-
ta riqueza e miséria lado
a lado, mas pode ver que
apesar das dificuldades, as pessoas que
vivem nas comunidades ainda têm uma
felicidade que supera isso. Ele acredita que
o governo pode trabalhar para que todos
obtenham benefícios da mesma forma e
diminua essa grande desigualdade social.
Sobre os desafios, Olivier reafirmou
que o maior é o idioma, pois ainda não fala
o essencial de português e sempre tem
situações engraçadas quando tenta se co-
municar com as pessoas. Além disso, a es-
colha das disciplinas ainda é restrita, pois
não há uma grande oferta em suas línguas
mãe, tanto francês como inglês. Apesar
dessas dificuldades, ele acredita que esse
intercâmbio mudou muito sua vida e até o
final terá outras mudanças.
MONTREAL, CANADÁ
Montréal é a maior cidade da província de Quebec e está localizada ao
sudeste do Canadá em fronteira com o Estados Unidos. Cidade cosmopolita, cul-
tural, histórica, acolhedora e refinada, Montréal está disposta a receber turistas do
mundo todo em uma região onde o francês e o inglês são línguas oficiais. A cidade
tem de verões amenos a quentes e úmidos, primavera e outono geralmente leves,
e invernos muito frios e frequentemente há nevascas. Olivier recomenda visitar a ci-
dade no verão, quando a temperatura é melhor e permite um transito melhor. Como
conhecida por suas baladas e vida noturna, quem procura por isso não pode deixar
de visitar a St-Laurent street. Já quem curte um turismo mais leve e com natureza,
deve visitar o parque Mount Royal, também conhecido como o Plateau. Montréal é
cercado de cidades interessantes para visitar, como Laval, Quebec, Ottawa e Toron-
to. E caso tenha um visto ou passaporte que permita a entrada nos Estados Unidos,
Nova Iorque está apenas cerca de 600 km, possibilitando os compradores de plan-
tão fazer uma visita até lá.
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Olivier disse que gostaria de viver no Brasil,
pois além de ter uma temperatura agradável duran-
te todo o ano como já havia mencionado, não teria
nenhum problema para praticar futebol ao ar livre
todos os dias. Sua mensagem para os brasileiros é
que “continuem com essa alegria de viver e festejar”.
◙
16
Lucas Santos
Reprodução/InternetDicas do Rio
A trilha do morro Dois Irmãos é uma das muitas atrações
naturais do Rio de Janeiro. Localizada no Vidigal, na Zona Sul carioca,
a trilha proporciona uma ótima experiência, com paisagens incríveis
da cidade. Do topo do Morro, é possível ter visão da floresta da Tijuca,
do Oceano Atlântico, das Ilhas Cagarras, da Lagoa, do Cristo Redentor
e de basicamente toda a Zona Sul do Rio de Janeiro. Não há uma re-
comendação de idade para a trilha, mas é preciso ter disposição para
encarar a caminhada, que dura cerca de uma hora na subida. Apesar
de ser uma trilha leve e não muito longa, é indicado ir com um guia,
pois não há muitas sinalizações. Como em outras trilhas, recomen-
da-se o uso de roupas leves e tênis, e no inverno recomenda-se levar
algum agasalho, devido aos ventos frios.
Não se esqueça de levar comidas como barrinhas de cereais
e frutas e bastante água, para se manter hidratado e com energia.
MORRO DOIS IRMÃOS, VIDIGAL
Em várias redes sociais surgiram fotos de pessoas se pendurando em
uma pedra, com um grande abismo abaixo delas. Não demorou muito para que
descobrissem que era apenas uma ilusão criada pelo ângulo da fotografia, tira-
da na Pedra do Telégrafo, localizada na Barra de Guaratiba. Na verdade, o chão
está logo abaixo, ao alcance dos pés da pessoa, e a possibilidade de tirar uma
foto como essa de forma segura fez com que o ponto se tornasse muito popular.
Para chegar até o local da fotografia é preciso subir uma trilha que leva cerca
de 40 minutos, que apesar da curta duração, é bastante cansativa, por ser bem
íngreme. A vista da Pedra é outro fator muito atrativo, proporcionando visão da
Restinga da Marambaia, especialmente bonita no pôr do sol.
PEDRA DO TELÉGRAFO, BARRA DE GUARATIBA
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Entre a Praia da Macumba e a Prainha, no Re-
creio dos Bandeirantes, há uma piscina natural pouco
conhecida, até mesmo pelos moradores locais. Essa é
a Praia do Secreto, que como o nome sugere, fica bem
escondida e tem um acesso não muito simples. Para
chegar nela, é necessário atravessar sobre as pedras
que a separam da Macumba ou pegar uma curta trilha
próxima a Estrada do Pontal e descer um paredão
rochoso bem íngreme. O esforço certamente compensa
ao chegar ao local e se deparar com a paisagem da pe-
quena piscina natural, que não tem mais que 15 metros
de extensão.
Nela, a altura da água costuma ser bem baixa,
há uma grande extensão rochosa e quase não há uma
faixa de areia fora da água. Para visitá-la recomenda-
-se apenas er sobre a maré, pois a piscina desaparece
quando ela está muito alta ou muito baixa.
PRAIA DO SECRETO, RECREIO DOS BANDEIRANTES
Um dos pontos históricos mais belos do Rio de Janeiro é
o Parque Lage, no Jardim Botânico, localizado próximo ao Corcova-
do. Na época do Brasil Colônia, o local era um engenho de açúcar,
e muito da arquitetura da época ainda está preservada lá. Muito
bem conservado, há áreas para alimentação e vários seguranças
rondam por lá. O parque conta com grandes jardins construídos
de forma geométrica e é envolto por muita vegetação, possuindo
várias grutas, cachoeiras e trilhas, tendo até um caminho até o Cristo
Redentor. Além da paisagem e das caminhadas ecológicas que o
parque proporciona, piqueniques ainda são permitidos em algumas
áreas. Outra grande atração do local que deve ser visitada é a Escola
de Artes Visuais, localizada no interior do palácio do parque.
PARQUE LAGE, JARDIM BOTÂNICO
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Com o calor do Rio de Janeiro, a Cachoeira do Horto
é uma excelente opção para observar uma bela paisagem na-
tural e se refrescar, tudo em um passeio só. Ela fica localizada
no Parque Nacional da Tijuca e para chegar até ela, é preciso
passar por uma pequena trilha de 150 metros. Mesmo sendo
curta, é preciso tomar cuidado na trilha, pois ela envolve esca-
lar algumas pedras escorregadias. É recomendado também o
uso de tênis para facilitar o percurso. Passando por isso, é só
aproveitar o seu dia nas águas da cachoeira. Lembrando que a
cachoeira é um ponto turístico muito popular, por isso é acon-
selhável ir durante a semana, quando ela fica mais vazia.
CACHOEIRA DO HORTO, TIJUCA
Dentro de um bairro movimentado como a Barra da
Tijuca, uma área mais relaxante e com muita vegetação como o
Bosque da Barra é essencial, o que o torna muito popular entre
os moradores locais. O bosque tem cerca de 500m² de extensão,
possui varias trilhas por onde se pode caminhar ou até andar
de bicicleta, além de um grande lago e áreas de lazer como um
campo de futebol e um parquinho para crianças. Piqueniques são
muito comuns, principalmente ao redor do lago, onde se pode
aproveitar uma vista especialmente bela. Lá você ainda pode ver
vários pássaros, micos e até capivaras, que são típicos da fauna
local e um grande atrativo do bosque.
BOSQUE DA BARRA, BARRA DA TIJUCA
CENTRO CULTURAL BANCO DO BRASIL, CENTRO Um dos espaços culturais mais visitados
do Rio é o CCBB, localizado no Centro da cidade. Ele
possui locais designados à música, teatro, leitura e
cinema, além de diversas exposições artísticas acon-
tecerem lá, tudo com um preço bem acessível e tendo
inclusive exposições com entrada gratuita. O próprio
prédio é também uma atração,preservando diversas
características da arquitetura do início do século
passado, sendo possível visitar diversas salas históricas
que contam com a mobília da época, além do Museu
do Banco do Brasil. Há diversos lugares para alimen-
tação no prédio, como restaurantes e cafeterias, e ele
fecha apenas as terças-feiras, garantindo um excelente
passeio cultural em qualquer outro dia da semana.
19
EM 2016, O RIO DE JANEIRO RECEBE UM DOS EVEN-
TOS MAIS IMPORTANTES DO MUNDO, AS OLIM-
PÍADAS DE VERÃO, E PARA MOSTRAR UM POUCO
DESSA DIVERSIDADE, A REVISTA ÍMPAR FEZ UMA
MATÉRIA ESPECIAL SOBRE A CULTURA DA NOVA
ZELÂNDIA.
Finalmente estamos em 2016, o ano dos Jogos Olímpicos
do Rio de Janeiro. Assim como a Copa do Mundo de 2014, sedia-
da no Brasil e considerada a “Copa das Copas”, espera-se que as
Olimpíadas do Rio sejam lembradas como uma das melhores da
história.
A diversidade cultural é muito presente nas Olimpíadas.
Atletas de 206 países diferentes estarão no Rio de Janeiro para os
jogos, trazendo seus costumes para nosso território. Para come-
morar a união de povos em função do esporte, a Revista Impar
preparou matérias que buscam mostrar um pouco da cultura de
diversos países que estarão disputando medalhas nos jogos. Essa
edição tratará da bela cultura da Nova Zelândia.
A Nova Zelândia é um país insular formado basicamente
por duas massas grandes de terra: Ilhas Norte e Sul. Tem como
capital Wellington, e sua cidade mais populosa é Auckland. Suas
línguas oficiais são o Inglês, graças à colonização britânica, e o
Maori, língua dos nativos.
Pedro Henrique
Comitê Olímpico Rio 2016; Reprodução/Internet
Cultura Olímpica
20
Apesar de ter sofrido influências europeias devido à colo-
nização, a cultura da Nova Zelândia está muito ligada aos indíge-
nas maoris. Uma das histórias contadas é que os maoris chegaram
ao território neozelandês após saírem do Taiti, graças à uma in-
formação passada de geração em geração sobre uma terra des-
coberta por Kupe, um grande ancestral. Em 650 d.C. Kupe teria
construído um barco e viajado sozinho em busca de terras para
seu povo e, ao descobrir o território neozelandês, o nomeou de
“Aotearoa”, que significa “Terra da longa nuvem branca”. Após mui-
tos anos de guerra no Taiti, o povo, cansado da situação, resolveu
procurar a tal terra descoberta por seu ancestral, para começar
uma vida nova. Eles então construíram canoas enormes, capazes
de acomodar entre 50 e 100 pessoas. De 16 canoas que saíram do
Taiti, apenas 7 chegaram em Aotearoa, em 1340. Essas 7 canoas
formaram, então, as 7 primeiras tribos maori presentes no país.
A tecelagem, assim como as esculturas em madeira e as
tatuagens, são práticas neozelandesas de origem maori conheci-
das em todo o mundo por sua beleza e significado. Entretanto, o
que vem na cabeça da maioria das pessoas ao pensar em Nova
Zelândia é o haka, dança de guerra que em seus primórdios era
usada pelos maoris para intimidar seus inimigos. A dança se ba-
seia em movimentos ritmados, que incluem tapas no peito e nas
pernas, batidas de pés e mãos no chão, enquanto aqueles que
dançam fazem caretas e soltam gritos de guerra para demonstrar
virilidade. Hoje em dia, a dança é praticada em situações de boas-
-vindas e ocasiões especiais, mas a função intimidadora da dança
não se extinguiu completamente. Times de diversas modalidades
esportivas neozelandesas praticam a dança antes dos jogos para
intimidar seus adversários. O mais famoso deles é a Seleção Na-
cional de Rugby da Nova Zelândia, conhecidos como All Blacks.
A paixão dos Kiwi (forma como os neozelandeses gostam
de ser chamados) pelo rugby é comparável à paixão que nós, bra-
sileiros, sentimos pelo futebol. A seleção neozelandesa de rugby é
considerada uma das melhores, senão a melhor, seleção de rugby
da atualidade. É bicampeã mundial da Copa do Mundo de Rugby
e sempre ocupou uma das 3 primeiras posições na competição. O
povo brasileiro terá o prazer de recebê-los este ano no Rio, já que
após 92 anos, nesta edição o rugby voltará a ser disputado em
A paixão dos Kiwi (forma como os neozelandeses gos-tam de ser chamados) pelo rugby é comparável à paixão que nós, brasileiros, sentimos pelo futebol.
21
uma Olimpíada. A versão olímpica do esporte, chamado de
Rugby Sevens, é um pouco diferente do que estamos acostu-
mados a ver. Ao invés de 15 jogadores em campo, que man-
tém as mesmas proporções, são apenas 7, exigindo dos atle-
tas uma preparação física superior, além de deixar o jogo mais
dinâmico. Os jogos de Rugby nas Olimpíadas serão disputa-
dos no Estádio de Deodoro, na zona norte do Rio de Janeiro.
A Nova Zelândia é um país magnífico e possuidor de
uma bela cultura baseada em costumes indígenas. Espera-
mos que sua delegação desportiva se sinta em casa, assim
como os torcedores neozelandeses que vierem apreciar o es-
petáculo que apresentaremos para o mundo.
A próxima edição da Revista Impar mostrará um pou-
co da rica cultura da China, país que ficou em segundo lugar
em número de medalhas nas Olimpíadas de Londres e que
espera melhorar essa marca aqui no Rio.
◙
22
As Paralimpíadas: ser diferente é normal
Isabela Izidro
Livia Cardoso/Arquivo Pessoal; Reprodução/Internet
Em 2016, a cidade do Rio de Janeiro será sede do maior evento esportivo
do mundo, envolvendo pessoas com deficiência: os Jogos Paralímpicos. Serão cerca
de 4.350 atletas de 176 países diferentes. O evento terá 23 modalidades e se espa-
lhará por quatro diferentes áreas da cidade, sendo estas: Deodoro, Barra, Maracanã e
Copacabana, com ingressos ainda à venda.
A história das Paralimpíadas começou em 1945, quando o esporte come-
çou a ser usado na Inglaterra como reabilitação para soldados feridos na Segunda
Guerra Mundial. Em 1960, ocorreu em Roma, na Itália a primeira edição dos Jogos
Paralímpicos, que desde então passaram a ser celebrados de 4 em 4 anos, no mês se-
guinte aos Jogos convencionais e chegam ao Rio de Janeiro este ano, em sua décima
quinta edição.
O sucesso dos Jogos Paralímpicos demonstra não somente um reconhe-
cimento cada vez mais significativo, por parte da sociedade, da excelência que um
atleta portador de deficiências pode alcançar, mas também uma vitória, em âmbito
geral, para todos os deficientes que vem conquistando, cada vez mais, seu merecido
e justo espaço na cenário moderna. A deficiência deixa de ser vista como uma fra-
queza e passa a ser retratada como um motivo para ir à luta com ainda mais garra e
dedicação. Tratam-se de atletas, que assim como os esportistas dos Jogos Olímpicos,
lutam arduamente para conquistar um lugar no maior evento esportivo do mundo e
depois disso, obter uma campanha vitoriosa.
A Paralimpíadas terá duração de 11 dias, com início em 7 de setembro e para sua
realização, contará com a contribuição de voluntários, terceiros e também funcionários.
ESTE ANO, O RIO DE JANEIRO RECEBE ATLETAS DE INÚMEROS PAÍSES. O EN-
CONTRO REUNIRÁ PESSOAS DE DIFERENTES CULTURAS, RAÇAS E ETNIAS,
MAS COM UM OBJETIVO EM COMUM: O LUGAR MAIS ALTO DO PÓDIO.
23
◘ Nas Paralimpíadas
de Sidney (2000), a seleção
espanhola de basquete cometeu uma
grande fraude: montou um time com pelo
menos 10 jogadores que forjaram ser deficientes
intelectuais. A seleção ainda levou a medalha de
ouro! É claro que, quando descobertos, eles foram
obrigados a devolver todas as medalhas. E ainda
acabaram prejudicando os legítimos deficientes
intelectuais: depois da fraude, o Comitê
Paralímpico Internacional baniu esses atletas da
competição. O castigo perdurou até 2012, quando,
nos Jogos de Londres, os deficientes intelectuais
voltaram a competir em algumas modalidades. No
basquete, eles continuam banidos.
◘ Os atletas paralímpicos não gostam de ser vistos
como diferentes. Alguns até cogitam a possibilida-
de de unir as duas Olimpíadas. E isso não está lon-
ge de se tornar realidade. Nos Jogos de Londres
(2012), o velocista sul-africano Oscar Pistorius e a
mesa-tenista polonesa Natalia Partyka participa-
ram tanto das Olimpíadas como das Paralimpí-
adas. Ambos são amputados e usaram próteses
para participar dos Jogos Olímpicos.
◘ Na primeira edição oficial do evento, em Roma,
participaram 400 atletas. Nos Jogos do Rio, este
ano, serão mais de 4000.
O RIO DE JANEIRO ABRE SEUS BRAÇOS Participam dos jogos deficientes visuais e intelectuais, cadeirantes e amputados. A excelência e as histórias de vida desses atletas costumam causar enorme comoção e impacto no público que os assiste. Momentos e pessoas são eternizados a cada edição da Paralímpiadas, que torna-se ainda mais vibrante e emocionante a cada edição.
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Entrevistamos duas atletas adolescentes, estudantes de
faixas etárias parecidas, que praticam Natação e treinam juntas
em um clube situado em Guaratinguetá-SP, visando alcançar o
nível profissional.
Uma delas, Lívia Cardoso de Matos, tem 16 anos, é ca-
deirante e começou a nadar aos 13 devido a sua deficiência, que
lhe tirava quase toda a mobilidade e a tornava exposta a inúme-
ros problemas causados pelo sedentarismo, como Hipertensão,
colesterol alto e doenças respiratórias. A garota, que escolheu a
Natação apenas por acreditar ser esta a prática mais fácil e acessí-
vel para alguém em suas condições, acabou se apaixonando pelo
esporte. “Nadar me faz sentir livre, útil. É maravilhoso ver que es-
tou trazendo resultados. A natação é a minha vida, não consigo
me imaginar praticando nenhum outro esporte, apesar de achar
todos muito emocionantes. Meu maior sonho é chegar as Para-
limpíadas e conquistar uma medalha de ouro para o Brasil. Adoro
ler e ouvir sobre os Jogos Olímpicos e Paralímpicos, mal posso es-
perar para assistir a edição em meu próprio país. Meus maiores
ídolos são Michael Phelps e Daniel Dias.”, disse Lívia Cardoso em
sua entrevista à Ímpar. A atleta ainda mencionou que sua maior
dificuldade como esportista é a preguiça: “O resto eu tiro de letra
(risos)” e deu um conselho para toda e qualquer pessoa que pensa
em praticar esportes: “Nada é mais gratificante do que fazer o que
você ama e ser reconhecido por isso. Já enfrentei inúmeras dificul-
dades, mas nunca desisti dos meus sonhos. Jamais desistam dos
seus. Há sempre um novo dia, um novo ano, uma nova oportuni-
dade.”
A outra entrevistada é Victória Eduarda Izidro de Mou-
ra, de 14 anos, que assim como Lívia, iniciou a prática de natação
motivada por problemas de saúde, em seu caso, doenças respira-
tórias. Completamente fanática pelo esporte, Victória Izidro tam-
bém sonha um dia disputar os Jogos Olímpicos e define a “falta de
apoio” como sua maior dificuldade. “Amo nadar. Quando estou na
água, me sinto feliz, completa. Não se trata de um hobbie, quero
nadar para viver. Sempre assisto aos Campeonatos Mundiais e fico
me imaginando no lugar daqueles atletas, acho uma injustiça
não poder participar da edição do Jogos Olímpicos do Rio de Ja-
neiro apenas por causa da minha idade”.
Ficam nítidos, por meio da comparação entre as duas
falas, sentimentos muito semelhantes nas atletas. Tratam-se de
garotas muito jovens e esforçadas, completamente apaixona-
das pelo esporte que praticam e motivadas por situações muito
parecidas. Ambas são muito dedicadas e enfrentam obstáculos
para alcançar seus objetivos. A ânsia por vitórias e medalhas e
o sentimento de "nunca desistir dos seus sonhos" é outro ponto
em comum entre Victória Izidro e Lívia Cardoso que têm como
maior sonho chegar aos Jogos Olímpicos e Paralímpicos, respec-
tivamente. Esse contexto apenas comprova que a deficiência de
Lívia não afeta em nada seu espírito de vencedora e amor pelo
esporte.
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“Nada é mais gratificante do que fazer o que você ama e ser recon-hecido por isso. Já enfrentei inú-meras dificuldades, mas nunca desisti dos meus sonhos. Jamais desistam dos seus. Há sempre um novo dia, um novo ano, uma nova oportunidade.”, Lívia Cardoso, de 16 anos, vive o sonho de um dia chegar às Paralímpiadas.
“Amo nadar. Quando estou na água, me sinto feliz, completa. Não se trata de um hobbie, quero nadar para viver.”, Victória Izidro, 14 anos.
Assim como no caso das duas, milhares de atletas so-
nham todos os dias em participar de uma edição das Olímpiadas
e Paralimpíadas. O Rio de Janeiro em 2016 será espaço para a re-
alização desses sonhos, que têm diferentes nacionalidades, gê-
neros, raças e etnias. A cidade abrigará esses atletas, esses que
assim como Lívia e Victória, enfrentam obstáculos todos os dias,
mas nunca se permitem desistir.
Os Jogos Paralímplicos mostram em cada cena, que há
beleza na diferença e força na adversidade e revelam o quão de-
terminante o esporte pode ser na trajetória de vida das pessoas.
Trata-se de uma história fascinante, reescrita de 4 em 4 anos, da
qual a maioria dos atletas e espectadores fanáticos por esportes
desejam fazer parte, nem que seja como meros espectadores. E
esse ano, o cenário principal será “a cidade maravilhosa”, o privile-
giado Rio de Janeiro.◙
26
Perfil com Danilo VieiraDANILO VIEIRA, 33 ANOS, JORNALISTA. MUITO CONHECIDO HOJE POR SUAS MATÉRIAS NO RJTV - NOTICIÁRIO
DA REGIÃO METROPOLITANA DO RIO DE JANEIRO EXIBIDO PELA TV GLOBO -, O SIMPÁTICO REPÓRTER NOS
CONTOU UM POUCO SOBRE SUA CARREIRA E FEZ UMA CRÍTICA AO CURSO DE COMUNICAÇÃO. ALÉM DISSO,
ELE DEU ÓTIMAS DICAS E UM INCENTIVO EXTRA PARA QUEM BUSCA A PROFISSÃO.
Kariny Leal Reprodução/Internet
A profissão de jornalista envolve tarefas diversas. Desde a criação de uma boa matéria, passando pela busca
de um personagem e findando em uma edição bem feita são exercícios corriqueiros da função. Veja, a seguir,
nossa entrevista com o jornalista e repórter Danilo Vieira, que nos conta um pouco sobre a escolha e as parti-
cularidades de seu trabalho.
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ÍMPAR: Como e por que você escolheu
fazer comunicação?
DANILO: A verdade é que eu queria fazer
teatro. Amava o teatro, mas não me acha-
va um bom ator (a gente precisa ter auto-
-honestidade, né?). Como gostava muito
de ler e as pessoas diziam que eu escrevia
bem, acabou sendo uma escolha natural.
ÍMPAR: Você fez parte da sua faculdade na
FACHA. Acha que o nome da instituição
pesou no seu currículo? O que você acre-
dita que seja seu diferencial?
DANILO: O lugar onde a gente estuda sem-
pre tem algum peso no currículo, mas acho
que outras coisas valeram mais, quando eu
me candidatei a uma vaga de estágio na
TV. Foram muitas etapas de seleção, tinha
gente com currículos bem mais turbina-
dos que o meu, e que acabaram não sendo
chamadas. Nessas avaliações também pe-
sam critérios bastante subjetivos.
ÍMPAR: Você ficou satisfeito com o curso
ou se arrepende de algo?
DANILO: Tenho uma opinião um pouco
radical sobre o curso de jornalismo. Acho
que ele não deveria existir! Calma, eu ex-
plico. Acho que a coisa mais necessária
ao jornalista é conhecimento, repertório,
poder de análise, de construção de idéias.
Em minha opinião, o curso deixa a desejar
neste aspecto. Acho que a grade privilegia
o “como fazer”, a técnica, as peculiaridades
de cada mídia (jornal, rádio, tv, web). Coi-
sas que a gente vai descobrindo na lida
diária. Acho que as redações seriam mui-
to mais férteis e produtivas se contassem
com profissionais formados em Economia,
Direito, História, Letras, Matemática, Admi-
nistração, Biologia, etc, etc, etc.
ÍMPAR: Como iniciou sua carreira?
DANILO: Fiz alguns estágios em assesso-
rias de imprensa. Aí, na reta final da facul-
dade, entrei no programa de estágio da TV
Globo. Fui editor do Bom Dia Brasil durante
5 anos, depois migrei para a reportagem,
e cá estou!
ÍMPAR: Qual seu maior objetivo como jor-
nalista?
DANILO: Acho que a gente tem uma mis-
são social muito séria, que é a de informar
(e isso tem muitas implicações).Então, pro-
fissionalmente, o meu objetivo é sempre
cumprir essa missão da melhor forma pos-
sível.Numa abordagem mais pessoal, eu
diria que todo mundo precisa se sentir fe-
liz com o que faz na vida.Acho que o meu
objetivo é esse. Me sentir feliz com o que faço.
ÍMPAR: Você é visto como exemplo para
muitos. Qual conselho você daria a alguém
que almeja o sucesso na profissão?
DANILO: Na época de colégio minha mãe
sempre dizia pra minha irmã mais nova
não seguir o meu exemplo (eu repeti de
ano 3 vezes).Não tô acostumado a ser
exemplo, não! Risos! Mas se eu tivesse que
dizer algo aos meus futuros colegas... Bom,
primeiro eu diria que leiam! Leiam muito,
leiam tudo que puderem. Quando forem
pra rua estejam atentos aos detalhes, eles
são importantes pra enriquecer a história.
Saibam ouvir sempre! Às vezes, o melhor
28
personagem da matéria chega quando
você achou que ela já tinha acabado. Pro-
cure ser autêntico, fuja do lugar comum,
e faça sempre o melhor que puder fazer!
No mais, use sapatos confortáveis e leve
sempre alguma comida na bolsa: um plan-
tão extraordinário pode aparecer quando
você menos espera.
ÍMPAR: Quando fazemos jornalismo, nosso
objetivo não é a fama. No máximo, quere-
mos ser reconhecidos pelo que produzi-
mos. Se pesquisarmos seu nome, pode-
mos ver diversos comentários sobre sua
aparência. Isso te incomoda? Como lida
com a situação?
DANILO: Não me incomoda, mas também
não me estimula. Nunca quis pautar a mi-
nha carreira pela imagem. Primeiro, por-
que não me acho bonito. Além do mais,
beleza é um critério muito subjetivo e um
bem não-durável. A minha preocupação é
mais estilística que estética. O que eu pro-
curo é fazer um bom texto, ter uma boa
sacada, fazer uma reportagem informati-
va. Mas não sou eu quem decido como as
pessoas vão me perceber.
ÍMPAR: Nós ouvimos de muitas pessoas
(da área ou não) que o mercado jornalísti-
co é muito fechado ou que o jornalista está
se tornando descartável com o passar do
tempo. Para finalizarmos, o que você diria
pra alguém que se desmotiva por conta
desse cenário?
DANILO: Acho que o mercado é fechado,
sim. Mas tem espaço pra muita gente.
No mais, sou otimista! Acredito num país
melhor, em instituições mais fortes, em
pessoas querendo se educar mais e se in-
formar melhor. Não dá pra crer nisso, sem
acreditar que no futuro (próximo) teremos
um jornalismo mais forte, feito com ainda
mais qualidade, por profissionais ainda
mais competentes. Vamos nessa?!
◙
29
O teatro e seu universo
COMO O CURSO DE DIREÇÃO TEATRAL PREPARA O ALUNO PARA OCUPAR AS DIVERSAS FUNÇÕES NECESSÁRIAS
(E DESCONHECIDAS) DE UM TEATRO.
Débora Mesquita Reprodução/Internet
Não é só de aplausos que se sustenta um teatro, em to-
dos os sentidos. Para montar uma peça é necessária uma equi-
pe de profissionais das mais diversas áreas para montar algo não
amador e de sucesso. A arte de impressionar, fazer rir ou chorar e
enobrecer o espectador tem uma função social muito concreta
e já foi muito utilizada para forma opinião e chocar gerações com
seu formato monumental e expansivo. Entreter pode ser algo
muito mais complexo do que parece. Compreender a grandiosi-
dade de um teatro e tudo aquilo que o envolve é tarefa árdua e
elementar.
Pensando nisso, foi criado o curso de direção teatral da
UFRJ, relativamente novo somando 23 anos de atuação, que tem
como objetivo habilitar o estudante à carreira de diretor de teatro,
fazendo com que o mesmo esteja apto a idealizar e desenvolver
projetos artísticos e culturais em geral.
O diretor é, sem dúvida, peça fundamental para a ela-
boração de um projeto teatral. Sua função, diferentemente de al-
gumas, não pode ser excluída na hora de montar um espetáculo.
Mesmo que não seja uma pessoa só, o(s) diretor(es) são respon-
sáveis por transformar o roteiro em imagens e movimentos. Ele(s)
precisam ver além e fazer com que os atores realmente entendam
a mensagem a ser passada, também são responsáveis por esco-
lher as melhores trilhas sonoras, o melhor figurino, melhor cená-
rio, luz, som, entre outras funções, ou seja, devem possuir uma
noção, mesmo que mínima, acerca de todos os cargos do teatro.
O curso oferecido pela Universidade Federal também
abrange partes importantes do contexto teatral que são os cenó-
grafos e os figurinistas. Além dessas três figuras essenciais numa
peça, existe uma gama de especialistas que ajudam a levantar um
projeto.
Depois de uma breve pesquisa com 50 alunos da Escola
de Comunicação da UFRJ, foi notório o desconhecimento geral
dos estudantes acerca dos demais indivíduos envolvidos num es-
petáculo. Os mais citados foram: diretor, ator, cenógrafo, figurinis-
ta, técnico de som e iluminador. Visagistas, arranjadores, produ-
tores, diretores musicais, camareiras, contra-regras, peruqueiros,
coreógrafos, microfonistas, compositores, roteiristas e todas as
subdivisões de diretores (de movimento, gerais, executivos, etc)
foram colocados de lado e, mal sabe esses alunos, são de suma
importância para o andar de uma peça.
Além dessas ocupações há também o fato do teatro ser
um espaço de comuns, o que requer manutenção constante, lim-
peza e, às vezes, bombonière para a confraternização do público
antes, depois da peça e entre atos.
30
Os alunos do curso de direção teatral são obrigados a fa-
zer, no mínimo, três peças ao longo da graduação, podendo atuar,
dirigir ou produzir tais espetáculos.
Márcia Moreira, aluna do curso a um ano e meio, confes-
sa que criar um roteiro ou escolher um já existente é, para ela, a
parte mais difícil de produzir uma peça, como é exigido.
Criar ou remontar algo é, indubitavelmente, parte difícil
da montagem, porém a criação de um personagem é uma arte
complicada que exige atenção e cuidado especial. Livros com tal
temática são, de acordo com alunos, ponto de partida para qual-
quer estudante do curso. Stanislavski, ator e diretor russo é o au-
tor mais procurado quando o assunto é preparação.
Além da parte técnica, outra questão (na opinião de al-
guns a mais importante) necessária num espetáculo é a parte sen-
sível do ator, a capacidade de transmitir uma emoção genuína no
palco. O amor por essa arte é peça chave para o bom rendimento
do produto.
O amor incondicional dos atores é algo notório, Luiza
César, aluna do curso de direção na UFRJ, define o amor pelo te-
atro e o por que esse lugar é tão importante para todos os ar-
tistas que decidem seguir essa vocação: “O teatro sempre foi, pra
mim, lugar de transcender, se impressionar e tocar cada um da
platéia. Seja atuando num espetáculo infantil ou adulto, o público
alvo sempre sai da sala de teatro com alguma impressão, seja da
história, seja da mensagem ou qualquer coisa. Teatro é a arte de
acrescentar todo dia algo em alguém. Todos os atores que conhe-
ci durante o curso da UFRJ falam a mesma coisa: mesmo que não
dê dinheiro, o fato de beber um pouco da arte do teatro já faz a
vida inteira valer a pena”.
◙
Nas coxias de um teatro é comum ouvir expressões que
significam “boa sorte” entre os atores. Porém esses termos
possuem um tom um tanto curioso e inesperado. São eles:
quebre a perna ou “merda”. Você já parou para pensar o
porque disso?
Existem teorias que explicam a criação dessas expressões.
Mas, é claro, fica a critério de cada validá-las como verda-
deiras ou falsas.
- A expressão “merda”, segundo alguns, foi criada na Fran-
ça do século XIX. O público chegava às casas teatrais em
carruagens ou a cavalo. Os arredores do teatro eram lota-
dos das fezes desses animais: além do odor insuportável,
significava que muita gente havia comparecido para as-
sistir ao espetáculo. Assim, a expressão “merda” passou a
significar boa sorte para a companhia.
Uma passagem diz respeito ao autor inglês William
Shakespeare que, ao ver a quantidade de excrementos
em frente ao teatro, emprestou o termo “merda” para de-
sejar boa sorte antes dos espetáculos começarem.
- Já a expressão “quebre a perna” divide opiniões a respei-
to da sua criação. Contudo, uma das possíveis explicações
seria a respeito da expectativa do elenco de que, ao final
da apresentação, os aplausos do público fossem tantos
e tão fervorosos que as “pernas” do teatro (parte lateral
onde ficam as cortinas) se rompessem e levassem o teatro
abaixo.
Outra versão é que este termo foi criado durante uma das
muitas guerras em que os americanos estiveram envolvi-
dos. Antes de partir para o fronte de batalha, os soldados
diziam uns aos outros: “quebre uma perna”. Este seria o
melhor destino que eles poderiam ter durante o com-
bate. Afinal, mesmo ferido, o soldado continuaria vivo e,
melhor, seria dispensado, retornando assim ao seu lar. E,
assim, tal expressão se tornaria comum nas coxias de um
teatro.
- A terceira versão remete ao ato de o público, ao final do
espetáculo, jogar moedas para os atores de forma a de-
monstrar o quanto havia gostado da peça. Quanto mais
os artistas fossem obrigados a se abaixar para apanhar sua
recompensa, mais suas pernas sofreriam com o exercício.
Ou seja, o sobe-e-desce para recolher o dinheiro espalha-
do pelo palco poderia quebrar-lhes uma das pernas.
E então? Qual teoria você julga ser a mais coerente?
31
PARA FAZER UMA DEMONSTRAÇÃO MAIS PRÁTICA DOS CHOQUES CULTURAIS QUE PESSOAS DE
OUTROS ESTADOS SOFREM AO CHEGAR AO RIO DE JANEIRO, NOSSA REVISTA APRESENTA UMA
CRÔNICA BASEADA EM FATOS REAIS DO COTIDIANO DE UMA ALUNA PAULISTA QUE COMEÇOU A
ESTUDAR UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO HÁ POUCO MAIS DE 3 MESES.
“Foi mal, irmão, mas bixcoito só aquele de polvilho”
Saí pra dar um rolé (que na linguagem culta paulista é
rolê) hoje tardinha. Peguei o ônibus que tinha sentido Barra da Ti-
juca, esperei 40 minutos pelo frescão, mas acabei pegando o não
acaba, pensei comigo). Já era horário de pico (que ideia a minha
pegar ônibus aquela hora!). Cedi meu lugar pra senhorinha idosa
que entrou e continquente merrrmo. Entrei no 309 e... “Senhoras e
senhores, peço desculpas desde já por atrapalhar o silêncio da sua
viagem, eu podia estar roubando e matando.. maxxxx to aqui ten-
tando a vida na cidade grande...” fingi que não sabia o final daque-
le discurso mega original e dei uma moedinha pro garoto assim
que ele terminou de desenrolar! Percebi que o busão pro Terminal
Alvorada sacudia mais que o normal. Foi quando uma senhora
atrás de mim gritou “calmaê, piloto, vou descer cum criança”, e um
garoto pique surfista ao meu lado lançou o famoso “motorista, dá
pra parar aqui no sinal?” (a originalidade carioca uei meu traje-
to sentido Barra Shopping em pé. Saltei (vulgo desci), como uma
boa interiorana, no ponto errado. Percebi o erro assim que botei o
pé pra fora do busão, mas, como boa orgulhosa metida a sabicho-
na que também sou, fingi que tava tudo certin. Segui andando
até chegar ao Shopping, onde encontraria uma amiga da faculda-
de. Morrendo de medo no caminho, com o coração numa mão e
o terço na outra (e o celular na calcinha)! Cheguei. Encontrei. Fui
cumprimentar com um beijinho e ela já veio com dois (af... mai é
nunca que vou entender essa gastação de beijo dos carioca). Se-
guimos caminho, jogando conversa fora... eu falava doUze, treze,
QUatorze vezes que essa coisa de A, É, I, O, U é mó furada e q o
certo merrrmo é bolacha e não bixcoito! “Pô maluco, na moral! Ces
tem que parar com essa caô de chamar tudo que é comestível de
Isabela Izidro
bixcoito. Tô ligada que isso é coisa de quem naiiisceu no Rio, mas,
lek... Mó esculacho!! TÁ DE SACANAGEM NÉ??” terminei o discurso,
nos olhamos, rimos.. ficou nítido que o carioquês já tinha criado
suas raizinhas em mim. “Nãão, eu me recuso. Eu sou paulista, amo
São Paulo e gosto de falaRRR deixando o R bem maRRcado” (mar-
quei o R propositalmente naquela frase, numa tentativa frustrada
de me defender). Ela respondeu com um “ih brother, tu deu mole
já... ficava me gaxxtando, mas nem adianta disfarçar, tá falando
igualzin, daqui a pouco é rendição na cer..” ela interrompeu a frase
no meio quando viu Caio Castro passar bem ao nosso lado “qual
é?! tu viu quem ta ali? não vai tietar, pedir autógrafo, selfie e todas
aquelas loucuras de sempre?” “ah nãão, to com preguiça..”, falei
sem nem ao menos perceber. Mas ela percebeu. “Oi? Você ouviu o
que disse?”. E o pior é que eu tinha ouvido. Preguiça? Desde quan-
do esbarrar com gente famosa tinha passado a ser algo normal
pra mim? Refleti. Discursei. Argumentei. Dissertei. Debati. Dei a
mim mesma direito a réplica, tréplica. Tudo mentalmente. E por
fim, conclui em voz alta: “NãOoOo pode ser, tô carioquizando.......
olha só que mio! Até inventei um verbo: ‘carioquizar’! Preciso de
ajuda”. Fui interrompida. “Você podia começar aceitando que dói
menos e parando de falar ‘mio’, ninguém aqui é gato pra miar”, me
senti envergonhada ao perceber que o meu desespero tinha sido
exposto em voz alta e PIOR: na frente de uma carioca. “Ai deixa isso
pra lá” repeti, em bom tom e internamente, pra convencer tanto a
ela quanto a mim mesma. Ela insistiu com um “daqui a pouco já vai
estar soltando uns ‘amostrar’ por aí”. Suspirei. Ela sabia que o que
mais me incomodava no mundo era a forma como os cariocas tro-
cavam a palavra “mostrar” por “amostrar”, na maior naturalidade,
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como se fossem sinônimas. Relevei. Continuamos a caminhada
por um tempo e do nada, meio que espontaneamente, disse “Can-
sei dessa elite engravatada aqui do Barra Shopping, vamo pro po-
drão ali da ixxquina, comer um joelho e tomar um guaravita”. Ela
riu, mas apenas concordou com a cabeça. Não havia mais porque
discutir. Percebi naquele momento que o Rio já fazia parte do que
eu era. E pela primeira vez, senti orgulho. Orgulho de morar na
cidade que todo gringo quer visitar e que todo paulista sonha em
passar umas férias de verão. A cidade das oportunidades, da acei-
tação, da diversidade, do amor. A cidade do cinema, da música,
da arte. De todo tipo, de todo lugar. A cidade que abriga as praias
mais lindas do mundo e que é vista e protegida de cima pelo olhar
do Cristo Redentor. A cidade sede das Olimpíadas 2016, a cida-
de que quase assume vida própria e fala por si só. A cidade que
abriga pessoas dispostas a lutar por todas as causas impossíveis e
perdidas, as causas das minorias. A cidade do Maracanã, da maior
torcida de futebol do mundo. A cidade do samba, do carnaval. A
cidade do gay, da lésbica, dx trans, do negro, branco, azul, amare-
lo, da garota, do garoto, do miserável, pobre, rico ou milionário. A
cidade que não rotula, a cidade de quem quiser, de qualquer um
que vier. Decidi ir pra casa, me despedi com dois beijinhos e pe-
guei meu rumo de volta. No caminho, vi cariocas colocando seus
sobretudos e cachecóis assim que o termômetro da praça mudou
de 30º C pra incríveis 28º C (o inverno havia chegado adiantado?).
Quando cheguei à orla, me encantei de novo pela vista do Pão de
Açúcar, que eu via todos os dias enquanto ia pra faculdade. Ela
parecia mais bonita naquela noite, ao som da Mc Carol que eu
ouvia no foninho. Depois de saltar (pela primeira vez na história)
no ponto certo, me senti um pouco carioca, um pouco paulista e
foi quando eu entendi que a sensação de “pertencimento” é uma
delícia, mas também é bem ampla. Eu pertenço ao Rio de Janeiro,
pertenço a São Paulo e pretendo pertencer a outros inúmeros lu-
gares se a vida me permitir. Encerrei meu dia tipicamente carioca
entrando na padaria e achei incrível a sensação de, pela primeira
vez, não começar uma crise existencial ao ter que pedir por um sa-
colé quando queria um geladinho. O que exatamente aquilo me
amostrava?
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