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Departamento de Economia - FEA/USP
História Econômica Geral I
Aula 7 - Revolução Industrial: interpretações
Renato Perim Colistete Departamento de Economia
FEA-USP2008
Aula 7 – Revolução Industrial: abordagensObjetivos
Esta é a primeira aula sobre um tema clássico da história econômica: a Revolução Industrial Britânica.
O objetivo é apresentar definições básicas e as principais interpretações e divergências sobre o tema.
A discussão trata tanto dos conceitos quanto de evidências apresentadas pelos diferentes autores que investigaram a Revolução Industrial.
Aula 7 – Revolução Industrial: abordagensInterpretação clássica x gradualista
Até a década de 1980 a visão predominante na historiografia era que a RI havia sido um evento revolucionário.
Teria havido grande descontinuidade nas variáveis macro (PIB, produto industrial, produtividade), na tecnologia e nas condições sociais.
Porém, a partir de novos dados e estimativas, os historiadores têm revisado esta interpretação clássica.
Aula 7 – Revolução Industrial: abordagensToynbee
O termo RI apareceu primeiro nas descrições da sociedade inglesa por viajantes/observadores frances na década de 1830 ou mesmo antes.
Primeiro uso acadêmico reconhecido foi por A. Toynbee (1884).
Para Toynbee, a RI era um termo que evocava mudanças amplas que transformaram o cenário econômico, social e político da Grã-Bretanha entre os anos 1760 e 1830.
Aula 7 – Revolução Industrial: abordagensOs contemporâneos
A amplitude e profundidade das transformações a que se referia o termo utilizado por Toynbee já haviam sido notadas por contemporâneos.
Robert Owen (1771-1858), industrial, reformador social e socialista falou em:
“rápido avanço dos arranjos e aperfeiçoamentos científicos, introduzidos (...) em todos os departamentos da indústria produtiva por todo o império”.
Aula 7 – Revolução Industrial: abordagensOs contemporâneos
James Hole (1820-1895), reformador social e socialista:
“[o] princípio da oferta e demanda estendeu-se das mercadorias para os homens. Esses últimos obtiveram mais liberdade, mas menos pão. Eles descobriram que saindo da servidão do Feudalismo entraram na do Capital; que a escravidão terminou em nome mas sobreviveu de fato”.
Aula 7 – Revolução Industrial: abordagensOs contemporâneos
Mais conhecido ainda é o livro de Friedrich Engels (1820-1895), A Situação da Classe Operária na Inglaterra, de 1845.
Engels descreveu as condições deterioradas de habitação, saúde, alimentação e trabalho da nova classe de trabalhadores industriais em Manchester.
Para Engels, tais condições eram um produto direto da máquina a vapor e das inovações na indústria têxtil.
Aula 7 – Revolução Industrial: abordagens Visão clássica
A percepção de mudanças econômicas radicais e, para autores como Engels e Toynbee, catastróficas mudanças sociais trazidas pela RI foi transmitida em obras subseqüentes.
Sidney e Beatrice Webb são um exemplo. Também reformadores sociais de final do século XIX e início do século XX, produziram obras retratando e condenando as condições sociais da industrialização. Webbs - fundadores da LSE (1895).
Aula 7 – Revolução Industrial: abordagens Críticas à visão clássica
A interpretação clássica da RI passou a ser contestada já nos anos 1920, com o uso de pesquisas com forte conteúdo empírico.
O principal nome dessa nova tendência historiográfica foi John H. Clapham, em seu Economic History of Modern Britain, publicado entre 1926-1938 em 3 volumes.
Clapham, com dados do Censo de 1851, argumentou que as transformações na indústria foram graduais, localizadas e incompletas.
Aula 7 – Revolução Industrial: abordagens Críticas à visão clássica
Segundo Clapham, a maior parte das indústrias em meados do século XIX ainda era artesanal, com fontes de energia tradicionais e pequenas unidades produtivas.
Ou seja, a imagem de grandes fábricas, com máquinas movidas a energia a vapor, repletas de mulheres e crianças trabalhando como operadoras e auxiliares, seria equivocada como retrato geral da indústria.
Aula 7 – Revolução Industrial: abordagens Críticas à visão clássica
Essa seria, para Clapham, mais uma realidade específica de segmentos da indústria (principalmente a indústria têxtil de algodão) do que um fenômeno generalizado da indústria inglesa.
Além disso, embora algumas grupos perdessem, o padrão de vida dos trabalhadores em geral teria aumentado ao longo da RI, ao contrário do que afirmara a visão clássica.
Aula 7 – Revolução Industrial: abordagens A retomada da visão clássica
A interpretração gradualista de Clapham somente seria desafiada após a II Guerra Mundial, por T.S. Ashton em A Revolução Industrial, 1760-1830, de 1948.
Ashton reintroduziu uma concepção clássica da Revolução Industrial, enfatizando as descontinuidades, mudanças e impactos profundos do período.
Além disso, Ashton viu a Revolução Industrial como um fenômento abrangente, que não se limitava à indústria.
Aula 7 – Revolução Industrial: abordagens A retomada da visão clássica
Outros trabalhos que se tornaram clássicos seguiram a perspectiva de Ashton, como o de Peter Mathias, The First Industrial Revolution (1969).
Outro trabalho influente nesta linha foi o do historiador francês, Paul Mantoux, A Revolução Industrial no Século XVIII, publicado em 1928.
Trabalhos nessa tradição mantiveram-se dominantes até a década de 1980, quando surgiram novas críticas à interpretação clássica.
Aula 7 – Revolução Industrial: abordagens A interpretação revisionista
Os nomes associados a essa nova interpretação revisionista incluem Nick Harley, Jeffrey Williamson, Charles Feinstein e, em especial, Nicholas Crafts.
Em sucessivos trabalhos a partir do início dos anos 1980, Crafts reavaliou as estimativas mais aceitas de índices macroeconômicos da Inglaterra nos séculos XVIII e XIX - de Phyllis Deane e W. Cole (1962).
Aula 7 – Revolução Industrial: abordagens A interpretação revisionista
Crafts elaborou novos indicadores macro, a partir de amostra de ramos industriais e reestimativas da distribuição do valor adicionado entre setores, crescimento do produto industrial, ocupações, renda e índices de preços.
Os resultados de Crafts: crescimento econômico britânico na época da RI teria sido lento, limitado a algumas poucas indústrias dinâmicas (sobretudo têxtil de algodão e ferro) e caracterizado por baixo crescimento da produtividade.
Aula 7 – Revolução Industrial: abordagens Deane & Cole x Crafts
Estimativas de Deane & Cole x Crafts:
Aula 7 – Revolução Industrial: abordagens Deane & Cole x Crafts
Apesar de aparentemente pequenas, as diferenças entre as estimativas são substanciais.
Regra prática: a taxa anual composta de crescimento r de uma série, multiplicada pelo tempo necessário n para que essa série dobre é aproximadamente igual a 70.
Ou seja, r . n = 70. Se r é conhecido, então é possível obter n por meio de n = 70/r.
Aula 7 – Revolução Industrial: abordagens Deane & Cole x Crafts
Por exemplo, com as taxas de Deane & Cole para 1780-1801, seriam necessários 65 anos (n = 70/1.08) para que o produto per capita da Grã-Bretanha dobrasse de tamanho.
Já pelas estimativas de Crafts, seriam necessários 200 anos (n = 70/0.35) para que o produto per capita britânico dobrasse.
Aula 7 – Revolução Industrial: abordagens Críticas ao revisionismo de Crafts
Surgiram dois tipos de críticas à revisão de Crafts e outros:
i) o primeiro tem sido o de reexaminar técnicas e estimativas adotadas, reformular dados originais ou adicionar novas fontes, com objetivo de elaborar novos indicadores;
ii) o segundo questiona ou rejeita a possibilidade de abordagem macroeconômica captar o conjunto de mudanças da Revolução Industrial.
Aula 7 – Revolução Industrial: abordagens Críticas ao revisionismo de Crafts
Maxine Berg e Pat Hudson (1992) argumentam que problemas com precariedade dos dados compremeteriam irremediavelmente a abordagem macroeconômica como método de análise.
Além disso, a existência de aspectos qualitativos e não-mensuráveis fundamentais seria mais um motivo para rejeitar a interpretação gradualista, baseada em dados macroeconômicos.
P.ex.: mudança tecnológica x aumento de produtividade.
Aula 7 – Revolução Industrial: abordagens Críticas ao revisionismo de Crafts
Efeitos dos erros de classificação das ocupações: a) afeta os cálculos da distribuição setorial
(agricultura, manufatura e serviços) da PEA que são utilizados para estimar a estrutura da economia;
As margens de erro das estimativas de distribuição setorial da população sob bases tão precárias seriam extremamente significativas – entre - 40% e + 60%.
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