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História do movimento ginástico na Europa e sua influência no na ginástica brasileira
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Século XIX e o Movimento Ginástico Europeu:o processo de sistematização da ginásticaEl Siglo XIX y el Movimiento Gimnástico Europeo: el proceso de sistematización de la gimnasia
*Especialista em Ginástica Rítmica pela Universidade Norte do ParanáGraduada em Educação Física pela Universidade Federal do Ceará**Professora do Instituto de Educação Física e Esportes da Universidade Federal do CearáMestre em Educação Física pelo programa associado UEM/UEL. Especialistaem Ginástica Rítmica pela Universidade Norte do Paraná, Graduadaem Educação Física pela Universidade Estadual de Maringá
Aline Menezes Dodô*Lorena Nabanete dos Reis**alinemenezes.ce@hotmail.com(Brasil)
Resumo O Movimento Ginástico Europeu que surgiu no século XIX foi responsável por organizar e sistematizar a Ginástica, proporcionando seu desenvolvimento. Este trabalho objetivou caracterizar os Métodos Ginásticos, oriundos desse movimento, e relacioná-los entre si, por meio de uma pesquisa bibliográfica. Constatou-se que durante o Movimento Ginástico Europeu surgiram quatro principais escolas: Alemã, Sueca, Francesa e Inglesa, dessas, apenas as três primeiras influenciaram as práticas gímnicas. Encontramos nas mesmas, as raízes de manifestações gímnicas atual, o que comprova a relevância do conhecimento desse período que trouxe tantas contribuições não apenas para a Ginástica, mas também para a Educação Física. Unitermos: Ginástica. Histórico. Métodos.
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 18, Nº 190, Marzo de 2014. http://www.efdeportes.com/
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Introdução
A Ginástica sempre foi proposta como prática corporal nos mais diferentes locais
e períodos históricos. O termo Ginástica veio ganhando diferentes definições de
acordo com épocas, culturas e interesses diversos (FIORIN, 2002). Em alguns
momentos, chegou a designar toda e qualquer atividade física sistematizada,
abrangendo desde exercícios militares até práticas esportivas.
No século XIX, passou por um processo de sistematização, denominado de
Movimento Ginástico Europeu, que objetivava romper seus vínculos com práticas
populares, além de disciplinar a população moral e fisicamente (SOARES, 2002).
Deste processo, resultaram os Métodos Ginásticos.
Tais métodos foram os precursores da ginástica atual, assim como de diversas
práticas da Educação Física. Eles “[...] tiveram desenvolvimentos simultâneos,
favorecendo a troca de informações entre os mesmos” (FIGUEIREDO; HUNGER,
2010, p.193) e criando uma relação bastante dinâmica entre eles, na qual
encontramos semelhanças e divergências.
Caracterizar os Métodos Ginásticos oriundos do Movimento Ginástico Europeu,
relacionando-os, nos permite compreender a gênese e estruturação da Ginástica
atual. Para tanto, realizou-se uma pesquisa bibliográfica que, segundo Marconi e
Lakatos (2002), coloca o pesquisador em contato direto com o material já publicado
em relação ao tema de estudo. A bibliografia consultada foi composta de livros,
dissertações, teses e artigos científicos, publicados na área da Educação Física, sem
delimitação do período de publicação, em razão da escassez de material que
abordasse o histórico e as características da Ginástica, assim como foram
priorizados os materiais pertencentes aos idiomas português, inglês e espanhol.
Inicialmente foi feita uma leitura exploratória, que determinou qual material tinha
relevância para a pesquisa (GIL, 2010), seguida por uma leitura analítica que foi
fundamental para a ordenação das informações obtidas, de forma que viessem a
responder os problemas da pesquisa (GIL, 2010).
Os dados obtidos na análise do material foram utilizados para a construção de
uma narrativa que caracteriza e estabelece uma relação entre os Métodos
Ginásticos e a Ginástica atual.
O Movimento Ginástico Europeu
Na Europa, no século XIX, era comum apresentações de ruas de funâmbulos,
acrobatas e artistas.
Nos meios urbanos, são diferentes manifestações lúdicas de caráter popular
realizadas com base nas atividades circenses que se impõem [...]. Suas
apresentações aproveitavam dias de festas, feiras, mantendo uma tradição de
representar e de apresentar-se nos lugares onde houvesse concentração de
pessoas do povo. Artistas, estrangeiros, errantes. Situados no limite da
marginalidade fascinavam as pessoas fincadas em vidas metrificadas e fixas. Eram
ao mesmo tempo elementos de barbárie e de civilização nos lugares por onde
passavam (SOARES, 2002, p. 24, 25).
O grande fascínio gerado por tais exibições passou a ser motivo de apreensão do
Estado, “pois seu modo de ser e viver desafiava as instituições, tão caras à
sociedade que as inventara de modo tão profundo” (SOARES, 2002, p. 25). Desse
modo, como reação a tais acontecimentos, surge o Movimento Ginástico Europeu,
um processo de sistematização da Ginástica, com o intuito de moralizar os
indivíduos e a sociedade.
Embasado nas ciências biológicas e influenciado pela Revolução Industrial em
ascensão, difundia o higienismo e trazia como princípios a utilidade dos gestos e
economia de energia. De caráter disciplinador, ordenativo e metódico, exigia o
afastamento de seus vínculos populares, do uso do corpo como simples
entretenimento. Surgia aí a chamada Ginástica Científica que deu origem aos
Métodos Ginásticos (SOARES, 2002).
“Estes métodos foram sistematizações criadas por médicos, pedagogos ou
militares que tentavam organizar a prática das atividades físicas” (FIORIN, 2002, p.
25-26). Tinham em comum a valorização da saúde por meio da prática regular de
exercícios físicos associados à transmissão de preceitos sociais extremamente
patrióticos, e se diferenciavam por serem específicos às necessidades de suas
populações.
A ascensão destes Métodos se difundiu por toda a Europa, dotada de um
sentimento nacionalista como forma de causar melhorias físicas aos jovens que
enfrentariam as guerras da época, bem como melhorias étnico-raciais à nação
(FIGUEIREDO; HUNGER, 2010, p.193).
Encontramos aqui quatro principais escolas: A Escola Alemã, A Escola Sueca, A
Escola Francesa e a Escola Inglesa. As três primeiras serviram de suporte para o
surgimento dos principais métodos ginásticos, o que resultou nos três grandes
movimentos ginásticos da Europa: o Movimento do Oeste na França, o Movimento
do Centro na Alemanha, Áustria e Suíça e o Movimento do Norte englobando os
países da Escandinávia; enquanto que a Escola Inglesa voltou-se para as atividades
desportivas (SOUZA, 1997).
Como o foco de estudo desse trabalho é a Ginástica, nos aprofundaremos apenas
nas três primeiras escolas e seus respectivos métodos.
A Escola Alemã
De caráter extremamente nacionalista, a ginástica surge na Alemanha com o
objetivo de preparar os corpos para a defesa da pátria, uma vez que esse país ainda
não havia conquistado sua unidade territorial e vivia sob a constante ameaça de
guerras. “Era preciso, portanto, criar um forte espírito nacionalista para atingir a
unidade, a qual seria conseguida com homens e mulheres fortes, robustos e
saudáveis” (SOARES, 2002, p.53). Para tanto, seus idealizadores apoiaram-se nas
ciências biológicas, para desenvolver seus métodos.
Em 1760, inspirado nas doutrinas pedagógicas de Jean Jacques Rousseau (1712-
1778) e John Locke (1632-1704), Johann Bernard Basedow (1723-1790) iniciou um
processo de estruturação, denominado Método Alemão, que posteriormente atingiu
o ápice com os trabalhos de Johann Christoph Friedrich Guts-Muths (1759-1839),
Adolph Spiess (1810-18540 e Friedrich Ludwig Jahn (1778-1852). Guts-Muths foi
considerado o Pai da Ginástica Pedagógica. Para ele, deveria ser organizada pelo
Estado e ministrada todos os dias e para todos. Spiess preocupou-se com a inserção
da ginástica nas escolas e procurou colocá-la no mesmo plano das demais
disciplinas escolares. Jahn, principal responsável pela disseminação do método
entre a população, trouxe ao seu sistema o caráter militarista e extremamente
patriótico, chegando a criar termos próprios, como por exemplo a palavra “Turnen”
que significa ginástica (RAMOS, 1982).
Os exercícios tinham objetivos que transcendiam a forma física.
“O turnen também tinha um exercício moral: alcançar autoconfiança, autodisciplina,
independência, lealdade, e obediência. Essas eram as metas a serem atingidas por
meio de atividades completas e informais” (PUBLIO, 2005, p. 17).
Os exercícios ginásticos, coordenados paulatinamente, foram grupados em
dezessete famílias: marchar, correr, saltar, tomar impulso (no cavalete e no cavalo),
equilibrar, exercícios de barra, exercícios de paralela, trepar, arremessar, puxar,
empurrar, levantar, transportar, esticar, lutar braço a braço, saltar arco e pular
corda. [...] Além dos exercícios citados, quando as atividades podiam ser realizadas
ao ar livre, a natação, a marcha, a equitação, a esgrima, a luta e os exercícios
bélicos eram previstos nos programas. A corrida, o arremesso e o salto realizados
sob variadas formas constituíam, com suas práticas, verdadeira escola de atletismo
(RAMOS, 1982, p. 188).
Também derivado da Escola Alemã temos o Método Natural Austríaco. Em 1926,
após o desmembramento do império provocado pela Primeira Grande Guerra (1914-
1918), iniciou-se uma grande reforma com o intuito de regenerar física e
moralmente a juventude por meio dos exercícios físicos (MARINHO, S/D).
Desenvolvido em um país formado por vários povos, com diversas línguas,
costumes e hábitos, tal método de ginástica sofreu bastante influência dos métodos
já existentes, gerando correntes de pensamentos que se diferenciavam em
movimentos ginásticos independentes.
Buscando ser uma oposição ao Método Alemão, dominado por exercícios
violentos em aparelhos, o sistema austríaco foi uma variação original de ideias
interessantes, mais das ciências médicas do que pedagógicas. Sua maior qualidade
consistia no fato de buscar ser interessante para as crianças e incentivar a
juventude a manter uma postura correta, despertando uma consciência higiênica e
o desejo de cuidar do corpo para alcançar a saúde. Entretanto, errou pela ausência
de condições de execução e pela falta de controle de intensidade, esquecendo a
influência educativa e formativa dos exercícios físicos. Seus principais idealizadores
foram Margarete Streicher e Karl Gaulhofer. Margarete esforçou-se para levar às
escolas uma ginástica “natural”, com aplicação de higiene (MARINHO, S/D).
Considerando as formas de exercícios naturais, Gaulhofer aconselha o seguinte:
1) – respirar, andar, sentar, levantar, rodar, saltar; 2.º) – correr, trepar, carregar,
jogar, suspender-se; equilibrar-se, e outros atos do trabalho humano; 3º) –
movimentos executados em atitudes dos trabalhos ou nas da vida habitual, seja de
pé, ajoelhado, acocorado, ou sentado; 4º) – provas para vencer obstáculos ou
resistências, 5º) – exteriorização dos conhecimentos adquiridos: artísticos ou
acrobáticos; 6º) – exercícios fundamentais de aplicação: balançar-se, levantar-se,
carregar, atirar, empurrar, trepar, lutar; 7º) – jogos e esportes, passeios, auto-
defesa, natação e outros exercícios em grupo (MARINHO, S/D, p. 407)
Vemos que ambos os métodos surgiram a partir de necessidades militares.
Formar indivíduos aptos a defender a pátria era imperativo para essas sociedades,
para isso, além de fortalecer seus corpos era necessário despertar o espírito
nacionalista, atribuindo um aspecto moral aos exercícios físicos.
Ou seja, a Escola Alemã se baseou nas ciências biológicas para transformar a
ginástica em um meio de educação em massa capaz de atender às necessidades do
Estado. Característica também encontrada nas demais escolas, mas o que as
diferencia são seus distintos anseios.
A Escola Alemã resultou na modalidade competitiva atual Ginástica Artística
(PUBLIO, 2005) e “foi a base para a estruturação da “Ginástica Moderna”, que é a
atual Ginástica Rítmica” (FIORIN, 2002, p.27).
A Escola Sueca
Idealizada por Pehr Henrick Ling (1776–1839), a ginástica sueca surgiu com a
finalidade de extirpar os vícios da sociedade, em especial o alcoolismo. Com a
missão de regenerar a população, possuía um caráter não acentuadamente militar,
mas sim “pedagógico” e “social”. Deveria gerar indivíduos fortes que pudessem ser
úteis à pátria, como soldados ou trabalhadores civis (SOARES, 2004).
Ling acreditava que seu método assegurava a saúde, por ser essencialmente
respiratório, e a beleza, por seus efeitos corretivos e ortopédicos. Por isso, o
destinou a todos, independente de sexo, idade ou condições materiais e sociais,
dividindo-o em quatros partes: Ginástica Pedagógica ou Educativa – para todas as
pessoas, tinha como objetivo assegurar a saúde, evitar a instalação de doenças,
vícios e defeitos posturais e desenvolver normalmente o indivíduo; Ginástica Militar-
com as mesmas características da pedagógica, acrescentando os exercícios de
preparação para a guerra; Ginástica Médica e Ortopédica – também baseada na
pedagógica, objetivava eliminar vícios e defeitos posturais, sendo específica para
cada caso; Ginástica Estética – mais uma vez apoiada na pedagógica buscou o
desenvolvimento harmonioso do organismo, utilizando-se da dança e de
movimentos suaves para proporcionar beleza e graça ao corpo (MARINHO, S/D).
Levando em consideração os princípios estabelecidos dentro das ciências
biológicas, Ling criou exercícios livres sem aparelhos, de execução fácil e estética,
além de saltos no cavalo, cambalhotas, jogos ginásticos, patinação e esgrima. Tudo
associado a cantos alegres e disciplina militar (RAMOS, 1982).
Uma sessão de exercícios livres era composta da seguinte forma:
1º- Exercícios de ordem
2º - Exercícios de pernas ou movimentos preparatórios formando uma pequena
série; [...]
3º - Extensão da coluna vertebral;
4º - Suspensões simples e fáceis;
5º- Equilíbrio;
6º - Passo ginástico ou marcha;
7º- Movimentos dos músculos dorsais;
8º - Movimentos músculos abdominais;
9º - Movimentos laterais de tronco;
10º - Movimentos de pernas;
11º - Suspensões mais intensas que as do nº 4;
12º - Marchas ou movimentos de pernas, executados mais rapidamente que os
outros para preparar saltos;
13º - Saltos;
14º - Movimentos de pernas;
15º - Movimentos respiratórios (MARINHO, S/D, p. 188).
“A extensão do movimento não ficou na Suécia, estendeu-se com entusiasmo por
todo o mundo, principalmente aos demais países nórdicos – Dinamarca, Noruega e
Finlândia” (RAMOS, 1982, p. 211). Na Dinamarca, o Método Sueco, foi chamado de
Ginástica Racional por ser fundamentado e consciente de seu objetivo. Entretanto,
foi considerado inapto para as necessidades e interesses da juventude
dinamarquesa por ser composto por posições rígidas (MARINHO, S/D). “Não é
necessário modificar o fundamento nem o objetivo da Ginástica básica, mas é o
emprego dos meios que deve ser levado a um terreno mais firme” (BUKH, 1939
apud MARINHO, S/D, p.198).
Surge então a Ginástica Básica Dinamarquesa, idealizada por Niels Bukh. “O
Professor Niels Illeris, ao fazer uma diferença entre a Ginástica Sueca e a Ginástica
Dinamarquesa, diz que a primeira é uma Ginástica de posições e a segunda uma
Ginástica de Movimento” (MARINHO, S/D, p. 201).
Assim como Ling, Bukh preocupou-se muito com a postura. Os exercícios
deveriam ser diferentes para homens e mulheres e voltados para a correção de
defeitos posturais oriundos do trabalho.
Marinho (S/D, p. 206-08) traz alguns exercícios propostos por Bukh:
extensão lateral das pernas em posição acocorada nas pontas dos pés, com as
mãos apoiadas no solo; separação e extensão das pernas em posição acocorada
nas pontas dos pés, apoiando as mãos no solo; flexão unilateral lenta e profunda
dos joelhos, em posição vertical com as pernas abertas e em colaboração com um
companheiro; torsão do tronco com movimento unilateral de braço para fora em
posição vertical com o tronco inclinado para a frente, as pernas abertas e os braços
flexionados horizontalmente à altura dos ombros.
Também inspirada na Ginástica Sueca de Ling, temos a Calistenia. Para Silva
(S/D), a Calistenia não é um sistema próprio de ginástica, mas sim uma série de
exercícios ginásticos localizados, com fins corretivos, fisiológicos e pedagógicos,
que pode integrar perfeitamente qualquer sistema ginástico. Por estar em
constante evolução teria grande vantagem sobre os sistemas clássicos.
A Calistenia trouxe características nunca antes abordadas. Examinando os dois
sistemas mais difundidos, o sueco e o alemão, educadores suecos chegaram à
conclusão de que ambos eram pobres no que se tratava de elementos psicológicos.
Por isso, inseriram a música na prática da ginástica, por considerarem que ela
incentivava o movimento, evitando a monotonia e contribuindo para a educação
dos sistemas psicomotor e neuromuscular (SILVA, S/D).
Ainda preocupados com os aspectos psicológicos, buscavam a variação dos
exercícios. “O professor deve estar municiado de uma quantidade bastante grande
de exercícios a fim de não repeti-los com muita frequência. A variação é um
elemento importante, pois além do lado psicológico, influi, também
fisiologicamente” (SILVA, S/D, p. 27).
Objetivando melhorar a forma física da população, foi introduzida nas escolas
americanas em 1860 por Dio Lewis (MARINHO, S/D). “[...] era dedicado ao homem
gordo, ao homem fraco ou enfermiço, aos jovens e às mulheres de todas as idades
– as classes que mais necessitavam de treinamento físico. [...] Não havia ninguém,
nem nenhum sistema que tivesse contemplado estes [...]” (MARINHO, S/D, p. 265).
Por fim, deveria ser uma ginástica simples, fundamentada na ciência e cativante
(MARINHO, S/D).
Os exercícios calistênicos foram divididos em oito grupos: “de braços e pernas;
para a região póstero-superior do tronco (parte superior da espádua); para a
região póstero-inferios do tronco (parte inferior da espádua); para a região lateral
do tronco (laterais); de equilíbrio;gerais de ombros e espáduas (Wood) ou gerais de
espáduas e ombros (Skartrom); Saltos e corridas (Skarstrom) ou sufocantes
(Wood)” (MARINHO, S/D, p. 268).
Ao analisarmos o Método Sueco e a Calistenia, percebemos que tal escola voltou-
se para a saúde, física e mental, da população, possuindo muito mais o caráter
médico e pedagógico do que militar.
Esse viés médico trouxe conceitos para as Ginásticas Fisioterápicas de SOUZA
(1997), além do fato de seu grande evento em homenagem ao seu idealizador Per
H. Ling servir de inspiração para a Gymnaestrada, principal manifestação da
Ginástica Geral (FIORIN, 2002).
A Escola Francesa
A Ginástica na França baseou-se nas idéias dos alemães Jahn e Guts Muths e,
apresentava além do caráter moral e patriótico, uma preocupação com o
desenvolvimento social. Objetivava formar o homem “completo e universal”, sem
desvincular-se do utilitarismo, tão abordado pela ginástica científica, buscando o
desenvolvimento da força física, da destreza, agilidade e resistência (SOARES,
2004).
Para Ramos (1982), esse movimento teve como principais representantes o
Método Francês desenvolvido por D. Francisco de Amoros e Ondeaño (1770-1848),
George Demeny (1850-1917) e o Método Natural pensado por Hébert (1875- 1957).
Inspirado em Pestalozzi, Amoros negou veementemente toda e qualquer forma
de empiria, seus exercícios eram completamente explicados por enunciados
científicos, comprovando a relação existente entre a sua ginástica, a saúde da
população e a tão desejada utilidade dos gestos (SOARES, 2002). “Admitia no
sistema três tipos de ginástica: civil, militar e médica. Condenava o funambulismo,
que no dizer de Amorós, começa onde a utilidade do exercício cessa” (RAMOS,
1982, p.219).
Demeny, discordando do método sueco de Ling, propôs exercícios ginásticos
completos, arredondados e contínuos (RAMOS, 1982). Voltou-se para a saúde da
mulher, combatendo “hábitos elegantes”, tais como cintas, salto alto, porta-seios;
condenava os meios de sustentação artificiais (SOARES, 2004).
“O método (Francês) para alcançar os seus objetivos preconiza sete formas de
trabalho: jogos, flexionamentos, exercícios educativos, exercícios mímicos,
aplicações, desportos individuais e coletivos” (RAMOS, 1982, p. 222). Marinho (S/D)
descreve a abordagem de exercícios de marcha, corrida, salto, lançamentos, lutas,
esgrima, utilização de pesos e halteres, ginástica de aparelhos, remo, ciclismo,
natação e salvamento e desportos coletivos.
O Método Francês, oriundo da Escola Francesa, foi adotado em todos os
estabelecimentos de ensino brasileiros em 1929 (SOARES, 2002), e trouxe as
propostas pedagógicas que embasaram a Educação Física escolar brasileira no
período republicano (RESENDE, SOARES e MOURA, 2009).
A Escola Francesa inclui ainda a obra de Georges Hébert. O chamado Método
Natural de Hébert repudia todas as formas de exercícios analíticos, artificiais ou
formais, conhecidos sob a denominação de ginástica. Pretendia “utilizar os gestos
de nossa espécie para adquirir o desenvolvimento físico completo [...], além de
atender às dificuldades inerentes à vida moderna, particularmente à falta de tempo
e à falta de espaço” (MARINHO, S/D, p. 122).
Encontram- se nesse programa características naturistas: resistência corporal ao
frio, endurecimento, utilização do meio natural como terreno de exercício,
exercícios utilitários, nudez controlada. Todo o trabalho toma por base a utilidade
das ações e representa um retorno à natureza adaptado à vida urbana moderna e
concernente às atividades práticas da vida em sociedade (Hébert, 1941a apud
SOARES, 2003, p. 26).
Privilegiava a natureza e a qualidade do trabalho em detrimento da qualidade de
execução. Classificou os exercícios em 10 grupos fundamentais de acordo com as
funções úteis da vida cotidiana. Sendo eles: a marcha, a corrida, o salto, o
movimento quadrúpede, a escalada, o equilíbrio, o arremesso, o levantar, a defesa
e a natação. Os treinos deveriam ser ao ar livre para submeter o corpo às diferentes
temperaturas, tinha a corrida como elemento base e cada um deveria trabalhar no
seu ritmo e capacidade (MARINHO, S/D).
O que Hébert deseja é aumentar as resistências orgânicas, realçar as aptidões
para a execução de exercícios naturais e utilitários (os seus 10 grupos) e,
sobretudo, desenvolver a energia, a qualidade de ação, a virilidade, para então
subordinar esse conjunto de qualidades físicas bem treinadas a uma moral altruísta,
física, inclusive (SOARES, 2003, p. 28).
Notamos que os métodos, apesar de específicos ao seu público, se relacionam e
se influenciam.
Desse ponto de vista, os “métodos de ginástica” até agora por nós discutidos
assemelham-se. Diferenciam-se apenas na forma, umas mais analíticas, outras
mais sintéticas. Todavia, o conteúdo anatomofisiológico ditado pela “ciência”,
constitui o núcleo central das distintas propostas, além do que, é claro, a moral da
classe, o culto ao esforço (individual), a disciplina, obediência... ordem, adaptação,
formação de hábitos [...] (SOARES, 2004, p 67).
E além de atender aos objetivos do Estado no século XIX, serviram de suporte
para a estruturação da Ginástica atual.
Conclusão
Surgindo de uma necessidade do Estado, o Movimento Ginástico Europeu
reformulou a sociedade europeia, difundindo preceitos higienistas, nacionalistas,
pedagógicos e morais por meio da prática da Ginástica. Os métodos resultantes
desse processo compartilhavam características básicas, mas buscavam ser
específicos aos interesses de cada nação, chegando a discordarem em alguns
aspectos.
Essa relação ocorreu de forma bastante dinâmica e trouxe uma rica diversidade
de práticas e conceitos, o que resultou não apenas na estruturação e
sistematização da Ginástica no século XIX, mas também nas origens da Ginástica
Atual. Dessa forma, buscou-se caracterizar e relacionar tais métodos, a fim de
compreender a gênese da Ginástica como a conhecemos hoje.
Das quatro Escolas criadas no Movimento Ginástico Europeu: Alemã, Sueca,
Francesa e Inglesa; apenas as três primeiras influenciaram as práticas gímnicas. A
Escola Alemã, de caráter essencialmente militarista, abrangeu os métodos Alemão
e Natural Austríaco; a Sueca possuía um viés médico, de onde surgiram os métodos
Sueco, Dinamarquês e a Calistenia; e a Escola Francesa trazia aspectos mais
acentuadamente pedagógicos e foi composta pelos métodos Francês e Natural de
Hébert.
A escola Alemã influenciou diretamente a modalidade competitiva Ginástica
Artística e indiretamente a Ginástica Rítmica. A Escola Sueca já abordava os
conceitos das Ginásticas Fisioterápicas de Souza (1997) e serviu de inspiração para
a Ginástica Geral. E a Escola Francesa auxiliou o desenvolvimento da Educação
Física escolar.
Apesar da escassez de material que abordasse o histórico da Ginástica e do
Movimento Ginástico Europeu, conseguimos identificar suas características
principais e relacionar suas diversas metodologias, encontrando, nas mesmas, as
raízes de manifestações gímnicas atuais. O que comprova a relevância do
conhecimento desse período que trouxe tantas contribuições não apenas para a
Ginástica, mas também para a Educação Física.
Referências
FIGUEIREDO, J.F; HUNGER, D.A.C.F. A relevância do conhecimento histórico
das ginásticas na formação e atuação do profissional de educação
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MARCONI, M. de A; LAKATOS, E. M. Técnicas de Pesquisa. 5 ed. São Paulo:
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PUBLIO, N. S. Origem da Ginástica Olímpica. In:_____. Compreendendo a
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SILVA, N. P. Ginástica Moderna com Música (Calistenia). 2 ed. São Paulo: Cia
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SOARES, C. L. Educação Física: Raízes europeias e Brasil. 3 ed. Campinas:
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SOARES, C. L. Imagens da Educação no Corpo: Estudo a partir da ginástica
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SOUZA, E. P. M. de. Ginástica Geral: uma área do conhecimento da Educação
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