Sociocognição

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Descrição e explicação do processo de referência segundo a perspectiva sociocognitiva.

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Universidade Estácio de Sá

Pós-graduação em Leitura e Produção Textual

Processos de Referenciação Discursiva

Profª: Fernanda Gomes da Silva

Aluna: Silvia Clara Beniflah Carvão

Descreva e explique o processo de referenciação segundo a perspectiva sociocognitiva-interacionista da linguagem.

Na década de 1980, o texto em termos de produção e compreensão passa a ser considerado resultado de processos mentais iniciando-se uma nova orientação para o processamento textual de ordem cognitiva. Trata-se da abordagem em que , segundo Koch, os usuários da língua, que possuem saberes acumulados quanto aos diversos tipos de atividades da vida social, representam o conhecimento na memória e o ativam, por meio de diferentes estratégias, em todas as fases preparatórias da construção textual, de acordo com suas experiências e objetivos.

A partir desses estudos foi constatado que muitos de nossos processos cognitivos têm por base a percepção e a capacidade de atuação no mundo. Tal visão incorpora aspectos sociais, culturais e interacionais à compreensão do processamento cognitivo.

A escrita pressupõe em seu desenvolvimento que façamos frequentemente referência a algo, alguém, fatos. O processo que diz respeito às diversas formas de introdução, no texto, de novas entidades ou referentes é chamado de referenciação. Quando tais referentes são retomados mais adiante ou servem de base para a introdução de novos, tem-se o que se denomina progressão referencial. A retomada do referente pode ser feita de forma retrospectiva ou anafórica ou, então, de forma prospectiva ou catafórica, ajudando a construir o sentido do texto e manter sua coesão.

A referenciação é considerada atividade discursiva e é realizada por sujeitos ativos. Implica, da parte dos interlocutores, fazer escolhas significativas entre as múltiplas possibilidades que a língua oferece. Esse processo diz respeito às operações efetuadas pelos sujeitos à medida que o discurso se desenvolve. Dessa forma, o sujeito, na interação, opera sobre o material linguístico que tem à sua disposição, operando escolhas significativas para representar estados de coisas, com vistas à concretização do seu projeto de dizer (KOCH). Isto é, os processos de referenciação são escolhas do sujeito em função de um querer dizer.

Estão envolvidas nessas operações básicas as seguintes estratégias de referenciação, segundo Koch (2004):

1. Ativação: pela qual um objeto textual até então não mencionado é introduzido, passando a preencher um nódulo (endereço cognitivo, locação) na rede conceptual do texto.

2. Reativação: um nódulo já introduzido é novamente ativado na memória de curto termo, por meio de uma forma referencial, de modo que o nódulo continua em foco.

3. Desativação: ativação de um novo nódulo, deslocando-se a atenção para um outro referente textual e desativando-se, assim, o referente que estava em foco anteriormente.

São de dois tipos os processos de construção de referentes textuais, isto é, de sua introdução / ativação no modelo textual. Segundo Prince o referente pode ser introduzido de forma não ancorada ou ancorada.

Quando o escritor introduz no texto um objeto de discurso totalmente novo, dizemos que produziu uma introdução não-ancorada. Por sua vez, produz uma introdução (ativação) ancorada sempre que um novo objeto de discurso é introduzido no texto, com base em algum tipo de associação com elementos já presentes no co-texto ou no contexto sociocognitvo, passível de ser estabelecida por associação e/ou inferenciação. Entre esses casos estão as chamadas anáforas associativas e anáforas indiretas.

Os referentes modificam-se ao longo do texto. Para manter o controle sobre o que foi dito a respeito deles, é usado constantemente termos/expressões que retomam outros do próprio texto, constituindo, assim, cadeias referenciais. É nesse processo que dois indivíduos, ao interagirem linguisticamente, chegam, a saber, do que estão falando e como estão construindo seus referentes (MARCUSCHI, 2002).

Ao que escreve cabe a tarefa de delimitar o referente, ou seja, enquadrá-lo em uma classe, torná-lo reconhecível. Ao leitor compete a tarefa de identificar o referente, lançando mão, para alcançar esse objetivo, de toda informação tornada disponível no enunciado.

Para garantir a continuidade de um texto é preciso equilibrar a repetição e progressão. Às retomadas ou remissões a um mesmo referente dá-se o nome de progressão referencial que pode ser realizada por uma série de elementos linguísticos: pronomes, numerais, certos advérbios de lugar, elipses, formas nominais reiteradas, sinônimos, hiperônimos, nomes genéricos.

Nessa progressão é possível sumarizar-se todo um trecho anterior ou posterior do texto, por meio de uma forma pronominal ou nominal denominado encapsulamento. Assim, pode ser feito por meio de um pronome demonstrativo neutro ( isto, isso, aquilo) ou então por meio de uma expressão nominal chamada de rotulação.

Bibliografia

ESTEVES, Giselle Aparecida Toledo. Rotulações em textos jornalísticos: construção de imagens e de pontos de vista. Disponível em: http://www.revistadiadorim.letras.ufrj.br/index.php/revistadiadorim/article/view/118/139

KOCH, I.G.V. Introdução à Linguística Textual. São Paulo: Martins fontes, 2004

KOCH, I.G.V. Elias. V. M. Escrita progressão referencial: In Ler e Escrever estratégias de produção textual. São Paulo. Contexto, 2011

MARUCI, Fátima Aparecida de Souza. Referenciação no gênero artigo de opinião produzido por alunos de educação básica. Disponível em: http://www.filologia.org.br/xiv cnlf/tomo 3/2551-2563. pdf

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