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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ............................................................. 1
DEDICATÓRIA ............................................................ 2
HEDONGELHO ............................................................ 3
GRANDE PORCARIA!! ............................................... 9
INSTITUCIONOFOBIA ............................................ 18
A IGREJA É PARA DOENTES ................................ 30
JULGANDO OS DE DENTRO .................................. 35
NOVOS ISCARIOTES, VELHA GANÂNCIA ........ 40
IMATURIDADE ESPIRITUAL ................................ 57
UM DIA PARA A CELEBRAÇÃO ........................... 69
DEUS ESTÁ MORTO? .............................................. 78
A ARTE DA BUFOFAGIA ........................................ 83
UMA PARÁBOLA ...................................................... 89
O TREM ....................................................................... 89
BIBLIOGRAFIA ......................................................... 96
1
INTRODUÇÃO
Vamos meditar no Evangelho que hoje é pregado
no Brasil, será que estamos prontos? Vivemos o
Evangelho ou o Hedongelho? A igreja tem resgatado aos
doentes? Por que há tantos vivendo a institucionofobia?
Precisamos fugir dos Novos Iscariotes, que com
sua ganância têm vendido falsas bênçãos e aprisionado a
muitos.
Não percamos o Trem! Pois, Deus não está morto.
REV. EJF ÁZARA
Elogios, comentários, sugestões, críticas,
protestos, ofensas ou processos. Escreva para:
Email: edszara@yahoo.com.br
Zap: (93) 99118-7905
2
DEDICATÓRIA
É claro que não poderia deixar de dedicar este
ao meu Senhor, pois é por Ele, por meio dEle e
para Ele todas as coisas.
Dedico-o também à minha amada esposa:
Alessandra, ao meu serelepe e alegre filho:
Calebe, o electric boy, à minha mãe, também
uma amante da leitura, que me influenciou, e
aos meus irmãos que me incentivaram, os de
sangue, e os que se tornaram pelo sangue dEle.
3
HEDONGELHO Mas ainda que nós ou um anjo do céu pregue um
evangelho diferente daquele que lhes pregamos, que seja
amaldiçoado!
(Gálatas 1:8 - NVI)
Paulo foi um grande evangelista missionário, e
também um pastor que se preocupava muito com as
ovelhas do seu Mestre. No texto acima encontramos um
verdadeiro pastor decidido a abrir os olhos de seus
queridos e amados gálatas para verem claramente o
perigo do desvio da verdade maravilhosa do Evangelho
da graça. O perigo em questão era o legalismo
exacerbado dos crentes judeus, que ainda queriam mantê-
los presos aos rigores da Lei Mosaica, o ponto principal
era a circuncisão, rito ultrapassado que já havia,
inclusive, encontrado um substituto: o batismo. O
apóstolo estava tão irritado com tanta fraqueza espiritual,
que evocou maldição sobre os rigorosos legalistas, que,
simplesmente, pisavam na cruz e na graça.
Obviamente, mesmo tendo passado milhares de
anos, e com um vasto material sobre justificação pela fé,
não apenas em Gálatas, mas também em Romanos (um
4
presente gracioso de Deus), encontramos facilmente
legalistas nos dias de hoje, e sempre encontraremos. Há
pessoas que "não largam o osso", não podem aceitar um
presente assim, sem fazer por merecer, como se fosse
possível merecer um décimo de segundo de vida sequer.
Não merecemos nada. Somos tão injustos que não seria
injustiça alguma se todos nós fôssemos mandados para o
destino aterrorizante do lar futuro e final do Cramunhão e
sua corja. Contudo, em sua infinita graça e bondade, o
Pai decidiu por seu beneplácito dar aos seus amados um
melhor destino.
Nos tempos pós-modernos de hoje o ascetismo já
não é tão popular, apesar de muitos ainda acreditarem
que é preciso "pagar o preço para conseguir as bênçãos",
ou até mesmo para conseguir o perdão. Para que se tenha
uma ideia de como muitas pessoas enxergam Deus, basta
observar algumas frases que são ditas por aí: "Será que
atirei pedra na cruz?", "Deus vai pesar a mão sobre
você!"
Se por um lado o legalismo com tendências
ascéticas sempre foi um grande perigo para o verdadeiro
Evangelho, por outro o hedonismo tem sido, atualmente
um perigo ainda maior. O hedonismo é caracterizado pela
5
busca da felicidade a qualquer custo, ou a busca
desenfreada pelo prazer. Em casos extremos isso pode ser
notado nos casos de abuso sexual de crianças, por
exemplo, em que o abusador busca o prazer sem se
preocupar com a dor e o trauma causados à vítima. Outro
caso extremo é o do assassino em série que mata apenas
pelo prazer em ver suas vítimas sofrerem e agonizarem.
Mas, não há apenas casos extremos, o hedonismo
é mais comum que isso. Vivemos em uma geração em
que cada vez mais esta filosofia é adotada como um
estilo de vida padrão. Em muitos casos, senão a maioria,
inconscientemente. Muitos vivem sob tal propósito sem
mesmo saber o significado do termo.
Vivemos um tempo de grandes decepções com as
instituições, isso tem sido motivo inclusive para afastar a
muitos da igreja. Muitos têm, inclusive, aproveitado esta
crise institucional para viverem uma vida desregrada com
menos peso na consciência: "E eu vou perder meu tempo
indo à igreja? Prefiro ser crente no meu quarto, minha
comunhão é entre eu e Deus, oro, leio a Bíblia e depois
vou curtir minha vida em algum bar ou na balada, afinal:
Deus é amor, e nunca vai punir ninguém."
6
O vazio permanece. Um vazio tão profundo que é
preciso que se faça todo esforço (em vão) para que seja
preenchido. Mas, como diz a antiga música do Fruto
Sagrado: "...o vazio no peito é do tamanho de Deus e a
fome da sanguessuga é fome de Deus." (A sanguessuga,
O que na verdade somos, 2005). Por mais que o
hedonista tente satisfazer seus prazeres, jamais estará
saciado e sempre desejará mais, mais, mais e mais,
infinitamente.
Infelizmente, igrejas "evangélicas" têm
aproveitado o espírito da época e tem modificado
exaustivamente o Evangelho para adaptar-se ao "gosto do
freguês", tornando a Verdade em mentira, transformando
o Evangelho em Hedongelho. Um palatável, suave,
atrativo e tentador caminho religioso. O Hedongelho não
tem cruz, não tem dor, não tem renúncia, só tem bênçãos
e vitórias. Nele não se vive de fé em fé (Rm. 1:17), mas,
de vitória em vitória. No Hedongelho Jesus também é
pregado, é até reverenciado e adorado, seu nome é
engrandecido e exaltado, pois Ele é fonte de bênçãos,
mas seu senhorio é negligenciado e até ignorado se os
anseios do crente não são satisfeitos. É necessário exigir,
cobrar, reivindicar a restituição. O Senhor deixa de ser
7
Soberano, já que nesta teologia Ele está preso às suas
"promessas", o problema é que a maioria de tais
promessas são embustes de untados com títulos de
ungidos intocáveis. Já não mais suportam a sã doutrina e
agora querem ouvir o que lhes agrada somente (II Tm.
4:3). Por isso, os novos líderes religiosos são produzidos
em série, fazem um curso rápido e depois de uma "oração
poderosa" são untados com uma mãozada de azeite de
oliva comprado no supermercado por por $15 a latinha,
mas que segundo os famosos líderes religiosos é óleo
ungido com poder ministroformador.
Se Paulo escrevesse uma carta aos cristãos do
Brasil do século XXI, certamente seria de protesto tal
qual foi a carta aos gálatas, a diferença é que certamente
o alvo principal não seria o legalismo judaizante, mas
sim o Hedongelho sofista que tem iludido e manietado
em seus rincões, milhões de vidas famintas como as
filhas da sanguessuga (Pv. 30:15).
QUANDO
Quando a noite chegar, a lua brilhar, a estrela pulsar
Quando o amor sorrir, o bebê dormir, o céu se abrir
Quando a madrugada romper, o sonho antever, o sono
8
ceder
Quando o cenário se compor, o sol se opor, a esperança
supor
Quando o galo cantar, o sol levantar, a flor desabrochar
Quando o dia sorrir, a manhã surgir, a lua partir
Quando o bebê chorar, a mãe amamentar, o pai levantar
Quando a água ferver, o café se beber, o pão se comer
Quando o motor ligar, a engrenagem iniciar, a cidade
acordar
Quando o dia findar, outro começar, a rotina continuar
Quando o verão surgir, o inverno partir, a chuva
extinguir
Quando o rei morrer, o reinado esmaecer, o príncipe
crescer
Quando o império desabar, o déspota se curvar, e outro
levantar
Quando o século partir, o milênio surgir, o ciclo seguir
Quando o homem se deitar, e depois acordar, e Ele
chegar
Quando Ele surgir, aos seus reunir, a história concluir.
9
GRANDE PORCARIA!!
Título chocante e provocante propositadamente.
Esta minha reflexão baseia-se no capítulo 3 da
carta de Paulo aos filipenses. O apóstolo é um verdadeiro
pastor, preocupado com as ovelhas do Senhor chega a
este capítulo orientando-os a serem muito cuidadosos
com os falsos mestres, que aqui ele chama de cães, é bom
saber que cães naquela época não tem nada a ver com a
imagem de hoje. Hoje os cães são verdadeiros xodós, a
figura de um cão hoje, inspira carinho e afeição, mas
naquela época os cães viviam em matilhas em busca de
comida, sempre latindo e agredindo. Era uma imagem
muito negativa.
Paulo foi duro? Certamente, pois era necessário,
muito diferente dele, os judaizantes a quem ele chama
"carinhosamente" de cães, não pensavam como o
apóstolo. Não devemos confundir judaizantes com
judeus, estes mantêm sua esperança na Lei, aqueles
haviam se unido aos cristãos na fé em Jesus, mas, qual o
problema? O problema é que apesar disso, estes não
abriam mão da sua "valiosíssima" herança, e o orgulho de
10
serem os herdeiros da promessa, da Lei, dos profetas e
até do Messias. Para eles não bastava ser apenas povo de
exclusiva propriedade de Deus, mas o próprio Deus era
visto como sua propriedade, assim como seu Cristo, o
Messias. Sendo assim só havia uma maneira dos gentios
receberem a Cristo, tornando-se judeus, obviamente. Daí
a insistente necessidade de circuncidar a todos. Tanta
arrogância irritou Paulo grandemente. Pois, não lhes
bastava serem rigorosos entre eles, queriam levar o rigor
a todos, desta forma, os afastava totalmente da graça de
Cristo.
O apóstolo aos gentios jamais aceitaria inerte tal
investida destes legalistas fanáticos. Por isso, admoesta-
os a entenderem que a verdadeira circuncisão não era a
feita na carne, mas a do coração. Ou seja, não são as
regras que os tornariam merecedores da vida eterna, não
existe nada mais carnal que confiar em si mesmo, em
seus próprios méritos para ser aceito por Deus. O cristão
que compreende o Evangelho sabe que nada o torna mais
próximo de Deus que andar no Espírito, e este andar nada
mais é do que uma total entrega e dependência de Deus.
11
Onde estava a confiança dos cães? Justamente
naquilo que Paulo era expert, doutor e herdeiro. Tais
homens se achavam especiais por sua herança étnica,
religiosa e moral. E é aí que o apóstolo entra com sua
biografia da mais alta patente, cheia de "pedigrees" e
reputações. Quem mais que ele poderia orgulhar-se por
sua herança nobre, por sua educação, por seu favor e zelo
religioso? Paulo superava a todos, era muito mais zeloso
e fervoroso, além de ser um legítimo descendente da sua
nação.
Contudo, Paulo, que tinha antes grande rigor, zelo
e admiração por sua religião e herança, ao ponto de ter se
tornado um grande perseguidor dos primeiros cristãos,
encontrou-se com Cristo a caminho de Damasco, um
encontro dramático que levou o fariseu de Tarso a refletir
seriamente sobre sua fé, e depois de compreender por
obra do Espírito Santo em sua vida, não teve outra
decisão a tomar, senão a de reconhecer que tudo o que
antes era extremamente valioso para ele, agora não
passava de "skubalon" - "a porção não nutritiva dos
alimentos refugada pelo organismo", ou seja, bos..., bom
você já sabe. É claro que nenhuma das traduções bíblicas
traz esta palavra, todos os tradutores procuraram usar um
12
termo mais fácil de ser assimilado por todos, assim nós
vamos encontrar os termos: "lixo", "refugo", ou
"esterco", este último o mais próximo, mas que ameniza
bastante a palavra de Paulo, afinal, esterco é algo útil.
Mas, a realidade é que o ex-fariseu não alisou nenhum
um pouco. Sua intenção era ser bem claro, até mesmo
duro, totalmente inequívoco.
Há ainda uma questão a ser esclarecida, nós
geralmente não conseguimos compreender objetivamente
por que Paulo teve de considerar como perda sua
herança, afinal de contas, nós tivemos experiências
completamente diferentes da dele. E mais, ele afirma que
sua herança era para ele lucro. Nós, geralmente não
consideramos lucro nosso passado obscuro e sujo,
contudo, o irrepreensível e zeloso fariseu tinha uma vida
exemplar. Eu não posso orgulhar-me de meu passado, Já,
em termos de justiça religiosa, Paulo era um exemplo,
entretanto, foi exatamente este zelo que o impedia de
conhecer a Verdade, até que Cristo revelou-se
gloriosamente a ele. Aí sim, não lhe restava mais
dúvidas, "a sublimidade do conhecimento de Cristo
Jesus" era para ele agora uma nova e muito mais valiosa
herança, muita acima de sua irrepreensível religião, que
13
agora passou a ser vista por ele como uma "grande
porcaria", sem valor algum, pois ele compreendeu que
não passava de um mero e inútil esforço humano,
completamente infrutífero.
Nos versos seguintes o apóstolo aos gentios deixa
ainda mais claro o motivo de desprezar totalmente seu
passado de grande "reputação" e "pedigree", para, por
meio da fé, conhecer a Cristo e o poder de sua
ressurreição, para também dela participar. E no verso 12
encontramos uma magistral e esclarecedora palavra de
Paulo: "Não que já a tenha alcançado, ou que seja
perfeito; mas vou prosseguindo, para ver se poderei
alcançar aquilo para o que fui também alcançado por
Cristo Jesus." - Bíblia JFA Offline. Durante séculos se
discute a maneira correta de relacionar harmoniosamente
a soberania de Deus e a responsabilidade humana, mas
Paulo não foge do tema, para que ninguém esqueça, ou
despreze um dos lados e enfatize outro, ele deixa claro
que jamais alcançou a perfeição, mas segue em busca de
alcançar, o quê? Aquilo para o que foi alcançado por
Cristo, em outras palavras, o cristão só pode alcançar
aquilo que busca, se Cristo já o buscou. A santidade não
é inerte, tampouco é uma busca humana, ela é fruto de
14
uma ação divina em nossas vidas. O cristão deve
frutificar, mas só frutifica se estiver na videira. Soberania
e responsabilidade sempre andam juntas. O apóstolo
compreendeu enfim, que buscava sozinho a justiça, que
já lhe estava completamente disponível gratuitamente,
bastava-lhe a fé, e Jesus lhe concedeu a caminho de
Damasco.
No capítulo 2 Paulo havia escrito a respeito da
renúncia do próprio Senhor Jesus, mesmo sendo Deus, o
criador de todo este imenso e complexo universo decidiu
vir até nós, humilhando-se totalmente, a ponto de
depender de humanos para se alimentar, de ser protegido,
para poder ser o único e suficiente sacrifício para a
remissão dos nossos pecados. O apóstolo seguiu seu
exemplo, mas, abriu mão de suas riquezas por outro
motivo, por compreender de forma muito clara que, seu
tesouro era lixo, refugo, uma porcaria sem valor.
E como isso se aplica a nós?
Muitos acreditam que isso só se aplica somente a
religiosos que não largam o osso da religião metódica e
legalista. Tais quais os judaizantes, muitos religiosos de
hoje creem ser extremamente necessário que sigamos sua
15
ideologia religiosa. Mas, não é só isso. O texto aplica-se
também a todos nós. Quantas pessoas você conhece, e
você pode ser uma delas, que dizem: "olha, não sou
santo, reconheço, mas nunca roubei, nem matei, pago
meus impostos, sou um ótimo cidadão, até faço muita
caridade, sou muito solidário, acho até que mereço o
céu". São muitos que, não dizem exatamente isso, mas
pensam algo bem semelhante. É uma fé toda depositada
em si mesmo, em suas obras, mas que deveriam, como
Paulo, considerar todas suas elas como grande porcaria,
como algo completamente descartável de tão impuro.
Sim, nossas obras de justiça, que muitas vezes nos
gloriamos delas, são, como Isaías nos revela: "trapo da
imundícia" (64:6). E você sabe que trapo é esse? Bom,
naquela época as mulheres não tinham supermercados
para comprarem absorventes íntimos, então só lhes
restava usar pedaços de tecidos, trapos, que se tornavam
imundamente asquerosos, claro. Percebem a relação das
palavras de Paulo e Isaías? Toda religião humana que se
baseia em atos de justiça própria é repugnante, por isso
figuras tão pesadas são apresentadas, não é para chocar e
causar uma simples comoção, e sim para nos alertar o
quanto é inútil e perigoso, e até mesmo vergonhoso,
16
confiar em si mesmo. "Porque todos pecaram e
destituídos estão da glória de Deus" Rm. 3:23 - Bíblia
JFA Offline
Assim como Paulo, devemos nos lançar na graça,
nos colocar sob a cruz de Cristo, só nela podemos nos
gloriar, pois nos gloriamos nos seus méritos e não nos
nossos, aliás, que méritos temos? Muitos ainda parecem
acreditar que no juízo final haverá uma balança em que
se colocarão nossos pecados de um lado, e nossas "Boas
obras de justiça" do outro. A boa notícia é que está
redondamente enganado quem pensa assim (eu estaria
perdido). Graças a Deus que "nenhuma condenação há
para os que estão em Cristo Jesus". Rm. 8:1.
Sola gratia!
FIZESTE-ME FILHO
Eis que do barro me fizeste, me formaste com seu
Espírito e seu amor
Eis que no mundo nada sou senão mera criatura, cheio
de lutas e dor
Eis que longe sempre andei de teus caminhos, peregrino
e abandonado
Eis que o mundo não me conhece, nem ama, nem por ele
fui adotado
Eis que sem destino certo, o que me esperava era o fim
triste e vão
17
Mas, eis que veio teu Filho, que me amou, levou-me a
Ti, e fez-me seu irmão
Eis que hoje sou mais que feliz, sou teu, somente teu e
de mais ninguém
Eis que o mundo abandonou-me, mas seus anjos, no céu
cantam amém!
18
INSTITUCIONOFOBIA
Muitos supostos cristãos têm trazido extremo
constrangimento aos cristãos evangélicos. Temos que ser
sinceros, Jesus não nos chamou para ODIAR os
homossexuais, nem para APEDREJAR garotinhas do
candomblé, muito menos para UNGIR "vassouras da
libertação" (artimanha ridícula). O padrão de Deus
sempre foi o amor, a Ele e ao próximo, nunca houve uma
mensagem sequer de ódio nas palavras do Grande
Mestre. Sua única intolerância foi à hipocrisia dos
arrogantes, e também ao pecado que escraviza o
HOMEM. Sim, você leu certo, PECADO, alguns
acreditam ser uma palavra antiquada e ultrapassada, que
deve ser completamente abandonada. Mas, com certeza
não é este o propósito de Deus. Nós que necessitamos de
mudança e não a Palavra, pois ela é eterna!
Voltando ao assunto, nos últimos tempos
assistimos nas mídias uma avalanche de maus exemplos
nossos, daqueles que deveriam ser paradigmas à
sociedade. Mas, finalmente algo exemplar aconteceu,
fruto de uma grande tragédia. Não foi no Brasil, mas
envolveu cristãos, discriminação e intolerância, foi nos
19
EUA. Um jovem extremamente perturbado entrou em
uma igreja, sentou-se ao lado do pastor, ouviu o estudo
bíblico por uma hora e depois anunciou, FRIAMENTE,
que estava ali para matar negros, sua primeira vítima foi
o reverendo e depois outras oito pessoas inocentes. Com
aquele infame e extremamente CRUEL atentado, afirmou
ele, pretendia iniciar uma guerra RACIAL (que palavra
estúpida, pois só existe uma raça, a HUMANA). Mas,
seu objetivo não teve sucesso, por quê? Simplesmente
porque BRANCOS E NEGROS se uniram em ORAÇÃO
e PERDÃO. Que acontecimento mais lindo!
Agora é que vem meu questionamento: Por que
tal atitude não “bombou” nas redes sociais? Por que não
se comentou tanto isso? A resposta é simples: Não é nada
negativo para a igreja, ao contrário é extremamente
positivo. É claro que não podemos negar nossos pecados,
nossos erros, nossa própria intolerância, mas, a verdade é
que para muitos, é muito mais satisfatório, gratificante e,
principalmente, conveniente, CRITICAR os erros dos
crentes. É muito mais fácil "descer a lenha" em fanáticos
que vociferam maldições aos homossexuais, ou em
loucos que atiram pedras em crianças inocentes de outro
credo, ou em LOBOS VORAZES que arrancam o
20
dinheiro suado de fiéis com seu PODRE "Evangelho" da
prosperidade. Mais fácil ainda, e que geralmente
acontece, é a GENERALIZAÇÃO, a multiplicação de
estereótipos. Para muita gente a maior alegria e felicidade
é colocar todos nós cristãos dentro do mesmo saco e
dizer com o peito estufado: "Igreja é tudo comércio e
opressão, por isso prefiro ficar de fora!"
Por que tais atitudes são comuns, tão populares?
Vejo isso como um dos grandes prazeres dos
comentaristas de plantão, e funciona muito bem como
uma "válvula de escape", como um grande desabafo dos
feridos de alma, dos enfermos, frutos da própria igreja
que distorce continuamente o Evangelho e prega tudo,
menos a GRAÇA DE CRISTO. Grande parte dos
detratores da igreja hoje são DESIGREJADOS, que não
suportaram a escravidão da religiosidade vazia de amor e
graça e se afastaram. E hoje, "atiram pedras nos telhados
da igreja" como um MECANISMO DE DEFESA, isso
lhes faz sentir muito bem. "Estou fora porque Deus não
está ali!" É um discurso comum, uma grande desculpa
para ficar de fora. A verdade é que, enquanto eles não
conhecerem o verdadeiro Evangelho, seguirão distantes,
famintos, desejando as "alfarrobas dos porcos", enquanto
21
os irmãos mais velhos continuarem a pregar a "Duralex",
eles estarão distantes da casa do Pai e em guerra com os
mais velhos, que lhes colocam barreiras intransponíveis
nas entradas da igreja.
É por causa de atos como esses que nos últimos
anos tem se intensificado o número de pessoas que, por
um ou vários motivos, acabaram se afastando
completamente de sua igreja. Decepcionados, não
querem se aproximar de nenhuma. Alguns, de forma
radical, quase cheguevariana, abominam qualquer tipo
de liderança eclesiástica.
Infelizmente, alguns estão feridos de tal forma
que sempre apresentam discursos negativos como
justificativa, para se manterem longe. Muitas vezes, até
acusando de empresas todas as igrejas, além de chamar a
praticamente todos os pastores não de missionários, mas
de mercenários, ladrões.
É óbvio que não podemos negar o momento atual
do Brasil em termos religiosos, e reconhecer que a
acusação que já fizeram, parodiando o lema do Sebrae,
tem seu fundamento: "Pequenas igrejas, grandes
negócios." Contudo, deve-se "jogar fora o bebê junto
com a água da banheira?" Certamente que não.
22
O motivo de escrever esta reflexão se dá por um
acontecimento que ocorreu no Facebook, há algum
tempo. Houve uma discussão acalorada, um debate, entre
cristãos enganjados e um jovem desigrejado, que
insistentemente, afirmava que a igreja institucionalizada
deve ser completamente desprezada, pois, no discurso
dele e de outros, não devem existir hierarquia, liderança,
dízimos, ofertas, etc. O que importa é a fé particular de
cada um e por aí vai.
Tal discurso não é novo, mas, infelizmente tem
feito mais mal que bem. Grande parte dos desigrejados
têm se enfraquecido na fé, por se isolarem
completamente daqueles que poderiam ajudá-los.
Será que Deus realmente não deixou líderes? Será
que é possível viver o cristianismo virtual, alimentado
apenas com vídeos no YouTube e textos de sites, sem a
comunhão da igreja, mesmo com todas as suas falhas e
mazelas? A institucionalização é o verdadeiro mal da fé?
Ou o problema é mais profundo?
Gostaria de trazer os argumentos bíblicos que
revelam o propósito de Deus em ter uma liderança na
igreja.
23
"E o fizeram, enviando suas ofertas aos
presbíteros pelas mãos de Barnabé e Saulo." (Atos 11:30-
NVI).
Gostaria de iniciar com este texto que é bem
conhecido de todos, pois enfatiza a ajuda aos pobres. De
fato este é o contexto, em um momento de fome, ofertas
foram enviadas para ajudar os carentes, o que chamo sua
atenção é que os discípulos enviaram as ofertas, pelas
mãos de Barnabé e Paulo, aos presbíteros, por quê? Não,
não vou dizer que eles foram os beneficiados, não é isso,
o que fica claro ali é que os presbíteros eram os líderes da
igreja, por isso eles receberam para distribuir aos
carentes. A igreja sempre teve líderes. Liderança é algo
natural.
"Paulo e Barnabé designaram-lhes presbíteros em
cada igreja; tendo orado e jejuado, eles os encomendaram
ao Senhor, em quem haviam confiado." (Atos 14:23 -
NVI).
E quanto a esse texto? Paulo e Barnabé fundaram
igrejas em Listra, Derbe e Antioquia e em todas deixou
líderes (Presbíteros, anciãos), homens experientes e
tementes a Deus, com condições de orientar, alimentar e
24
proteger o rebanho das variadas heresias que surgiram no
jovem cristianismo (At. 20:28-30). E como surgiram!
No início do cristianismo surgiram terríveis
heresias, que negavam ora a divindade de Jesus, ora a sua
humanidade, outras negavam a personalidade do Espírito
Santo, entre outras, como o gnosticismo, docetismo,
apolinarismo, arianismo, entre outros ismos. Com tantos
perigos à fé, era natural e fundamental que líderes fossem
instruídos mais profundamente na Palavra para proteger o
rebanho com o ensino claro das Escrituras, por isso Paulo
defende que esses devem receber apoio financeiro
(ITm.5:17-18).
Que tal Atos 15?
"Chegando a Jerusalém, foram bem recebidos
pela igreja, pelos apóstolos e pelos presbíteros, a quem
relataram tudo o que Deus tinha feito por meio deles.
Então se levantaram alguns do partido religioso dos
fariseus que haviam crido e disseram: "É necessário
circuncidá-los e exigir deles que obedeçam à lei de
Moisés". Os apóstolos e os presbíteros se reuniram para
considerar essa questão." (Atos 15:4-6 - NVI).
Veja o papel extremamente importante dos líderes
da novíssima igreja, um concílio para debaterem a
25
ingerência dos judeus que queriam forçar os cristãos
gentios a se tornarem judeus, porque a circuncisão era
exatamente isso. Pedro falou, Paulo e Barnabé falaram e
também Tiago, líderes, colunas da igreja. Que tomaram
uma decisão extremamente importante naquele momento
crucial da jovem igreja.
Existem vários outros textos que falam
claramente de liderança. Mas, eu acredito que alguns só
aceitam a palavra de Jesus, como se os apóstolos não
tivessem autoridade para falar inspirados pelo Espírito
Santo. Sendo assim, aí vai.
Quero que vocês leiam com sabedoria e cuidado:
"Depois de comerem, Jesus perguntou a Simão
Pedro: "Simão, filho de João, você me ama realmente
mais do que estes?" Disse ele: "Sim, Senhor, tu sabes que
te amo". Disse Jesus: "Cuide dos meus cordeiros".
Novamente Jesus disse: "Simão, filho de João, você
realmente me ama?" Ele respondeu: "Sim, Senhor tu
sabes que te amo". Disse Jesus: "Pastoreie as minhas
ovelhas". Pela terceira vez, ele lhe disse: "Simão, filho de
João, você me ama? " Pedro ficou magoado por Jesus lhe
ter perguntado pela terceira vez "Você me ama?" e lhe
disse: "Senhor, tu sabes todas as coisas e sabes que te
26
amo". Disse-lhe Jesus: "Cuide das minhas ovelhas.
(João21:15-17 - NVI).
Será que Jesus não estava dando uma missão a
Pedro? Por que Ele disse: "Tu és Pedro, e sobre esta
pedra edificarei minha igreja" (Mt.16:18), Pedro era a
pedra viva sobre a qual a igreja estava sendo edificada,
mas, não era a única, todos os apóstolos eram e os
primeiros cristãos (IPe.2:5-8). Pedro foi o líder dos
discípulos desde o início, Pedro aparece como o primeiro
nome na lista de Lucas em Atos 1, reunidos depois da
ascensão de Cristo (v13), Pedro foi o que pregou no dia
de pentecostes, leia os primeiros capítulos de Atos e verá
que Pedro sempre era visto como o líder. Obviamente,
Pedro não foi o primeiro papa (uma invenção católica)
(Mt.23:9) Pedro cometeu erros, foi até repreendido por
Paulo (Gl.2:11), ainda assim Pedro admirava e respeitava
Paulo (IIPe.3:15-16).
Não existe razão alguma para negar que Deus
colocou líderes sobre a igreja. O problema está no fato de
que alguns exercem a liderança sem o devido amor, de
fato, alguns se apoderaram do rebanho, como se fosse
seu, e não do Senhor (IPe.5:2).
27
Existem algumas pessoas que não conseguem ver
o agir de Deus por meio das instituições. Como se o
poder de Deus pudesse ser limitado pelos homens. Além
disso, a maioria não leva em consideração a história,
quantas benfeitorias as instituições das igrejas já
concederam à humanidade! Pensemos nos hospitais e nas
grandes universidades, só para citar duas. Como vemos,
não foram apenas mazelas que as igrejas
institucionalizadas produziram.
O surgimento das instituições foi natural, e isso
jamais vai invalidar ou impedir a ação do Espírito Santo.
A realidade é que alguns sofrem do que decidi
chamar de institucionofobia, pavor, medo, rejeição à
instituições, como se todas as mazelas do mundo e da
igreja, fossem culpa da institucionalização. Mas, não é
verdade, instituições são formadas por humanos, e aí está
o grande problema, nós seres humanos somos pecadores
por natureza, corruptíveis e corruptores por natureza. Por
isso, qualquer instituição é problemática, basta olharmos
o momento político que vivemos no Brasil. Quantas
instituições corrompidas! Elas foram corrompidas pelos
seus representantes e não o contrário. É triste reconhecer,
mas, onde nós seres humanos estamos, aí haverá
28
corrupção. Instituições não corrompem os seres
humanos, os seres humanos que corrompem as
instituições.
Mas, a Igreja do Senhor, a Igreja invisível, dentro
das igrejas visíveis é a Noiva que está sendo adornada,
santificada, mesmo com pessoas falhas e frágeis, para o
casamento final. Temos de fazer parte dessa Igreja. Fazer
parte da VISÍVEL não nos impede de fazer parte da
INVISÍVEL, nem o contrário. De fato, nos ajuda. Pois,
somos um grupo de miseráveis carentes da graça de
Deus, ajudando a carregar as cruzes uns dos outros.
Enquanto isso o PAI continuará com os olhos por
cima da porteira aguardando o retorno dos seus amados
filhos que se foram, pronto a correr e lhes abraçar, beijar,
vestir, festejar e restaurar. Ao mesmo tempo insistirá com
os que ficaram: "Tudo que é meu é de vocês", "Parem de
buscar futilidades consumíveis, vocês têm a mim e a
minha graça, isso lhes basta!" Lc.15.
A DECISÃO
Quem dizem as pessoas que sou eu?
Elias, João, ou um profeta que já morreu.
Mas, e vocês, o que dizem de mim, discípulos da
29
intimidade?
Tu és o Messias, o filho de Deus, o caminho, a vida, a
verdade.
Questionamentos de um momento tão crucial e de
comoção.
Chegava tão rapidamente a última ida a
Jerusalém,aproximava a crucificação.
Ao deserto precisava o líder, seus amigos levar
Ao deixar os seus era preciso sua comunidade preparar
Lunático, farsante, médico, mestre ou profeta
Negativa ou positiva nenhuma destas resposta é certa
Firmados na rocha, em uma pedra de canto
Somente os iluminados pelo Espírito Santo
Pedra que pode construir ou destruir, juntar ou afastar
Pedra que se pode crer ou duvidar, confessar ou negar.
Posta diante da humanidade, impossível se ignorar
Mais cedo ou mais tarde, uma decisão todos terão de
tomar.
Qual será a sua? O que você vai escolher?
O certo é que sobre o muro não poderá permanecer.
30
A IGREJA É PARA DOENTES
O título é um pouco chocante, e a intenção era
essa.
"Mas os filhos de Israel tornaram a fazer o que era
mau aos olhos do Senhor, depois da morte de Eúde" (Jz.
4:1Bíblia JFA Offline).
Quando era ainda jovem na fé e avidamente lia a
bíblia desde Gênesis, textos como esse me deixavam
chateado com os judeus, pensava comigo mesmo, "oh
povo difícil, teimoso". E tenho certeza que não era o
único. Sei que muitos ainda pensam assim. Apesar de
ainda pensar assim, acredito que não devo ser tão duro.
Hoje, amadurecido entendo que não devo julgá-
los tão duramente, afinal, olhemos para nós, somos
melhores? Somos mais fiéis? A igreja é completamente
diferente? Mas, o que a Palavra nos mostra?
Quando saímos do AT e vamos para o NT,
precisamente à Primeira carta aos Coríntios, encontramos
Paulo às lutas para explicar a estes cristãos o que vem a
ser a igreja. Lá ele usa várias figuras: edifício, lavoura,
corpo. Havia tantos problemas. Mas, qual igreja você
31
conhece sem problemas, somente com cristãos fiéis e
fervorosos?
Quando olhamos para Israel vemos a nós
mesmos, a igreja é muito parecida. Olhemos para dentro.
Quando Jesus foi preso todos os discípulos que antes
pareciam dispostos a morrer por ele (Jo.11:16), fugiram,
um o traiu, outro o negou e por 40 dias ficaram
escondidos, até que o Espírito Santo os deu forças para
seguirem.
Mas, a história nos mostra que seguimos
titubeando pelos séculos. Nunca chegamos nem perto da
perfeição. E, claro, nunca seremos perfeitos.
Philip Yancey faz uma comparação muito
interessante da igreja com o AA. Bill Wilson, seu
fundador, certa vez, depois de lutar por seis meses em
abstinência contra o alcoolismo, viajou e depois de um
negócio frustrado encontrava-se em um bar, pensando
consigo: "preciso de um trago", lutando com tal
pensamento, veio-lhe outro: "Não, não preciso de um
trago, preciso de outro alcoólatra". Entrou em contato
com um médico amigo e ali nascia os AA. Yancey
argumenta: “A igreja é o lugar onde posso dizer, sem
vergonha alguma: 'Não preciso pecar, preciso de outro
32
pecador’” (Igreja: porque me importar? Sepal. São Paulo,
2000).
Algo que aprendi com o Pr. Gelson, em Londrina,
é que não se pode ser cristão sozinho, isso é impossível,
nós precisamos uns dos outros. Não acredito na "igreja
virtual" nos "pastores virtuais", a Internet não substitui a
igreja física, local. Podemos até (e somos, este texto
objetiva isso) ser edificados em sites cristãos, mas nada
substitui o relacionamento. Os cristãos devem ajudar-se,
admoestar-se, exortar-se. Há momentos, que vamos
chorar e pedir: "irmão ore comigo, está difícil".
Precisamos da graça de Deus e do poder do
Espírito Santo para vencer o pecado, mas também
precisamos de outros, precisamos de ombros para abraçar
e buscar ajuda. É aí que a nossa semelhança com os AA é
ainda mais forte. Somos um monte de pessoas enfermas
que não têm forças em si mesmas para continuar e
vencer. Os alcoólatras e os viciados em drogas lutam
contra o vício que é mais forte que eles, nós contra o
pecado, mais forte que nós (Rm. 7:19).
Assim como os AA, nós temos passos a seguir,
temos metas, alvos, baseados em um livro, que é nossa
regra de fé e prática. Igrejas não são perfeitas, todas são
33
cheias de falhas, mas tem algo que distingue claramente
todas elas: o foco, o alvo. "Olhando para Jesus, autor e
consumador da nossa fé" (Hb. 12:2). Nem todas as
igrejas mantêm tal foco, muitas perderam o sentido de
corpo, a melhor figura da igreja apresentada por Paulo.
Muitas se transformaram em circo de histerias
insanas, outras, em clube social, e o pior de tudo, várias
não passam de pequenas empresas que mercadejam
"bênçãos" com seus templos suntuosos e abomináveis.
Contudo, assim como em Israel sempre havia o
remanescente fiel, os Elias, os Josués e Calebes, os
Danieis, Otonieis, ainda há igrejas centradas na Palavra,
nunca serão perfeitas, mas têm um alvo a seguir que as
mantêm de pé.
Claro, para concluir não poderia deixar de citar as
palavras do próprio Mestre: "Os sãos não necessitam de
médicos, mas sim, os doentes" (Mt. 9:12).
Se tudo lhe vai bem, sua vida é perfeita, e você
não se reconhece como pecador a igreja não é o seu
lugar. Mas, se você é cheio de falhas como eu? Seu lugar
é na igreja. Venha caminhar junto!
34
NÃO ESTAMOS PRONTOS
Não se assuste com as grandes ondas, mas passe a
admirar o mar
Não lhe traga temor o vento, mas contemple a paisagem
como uma mensagem
Não lhe incomode os pesadelos sinistros, mas fortaleça-
se com sonhos risonhos
Não se irrite com os injustos, mas enfrente a lida com
sua vida
Não lhe atormente erros passados, mas descanse no
perdão da salvação
Não seja cínico diante do mal, mas vença a maldade com
santidade
Não se creia pronto nem terminado, mas creia no agir
certeiro do Oleiro
Não acredite ser todo justo, mas descanse na justificação
de nosso IRMÃO
Não lhe traga pânico o mal atroz, mas descanse no
Senhor de todo amor!
35
JULGANDO OS DE DENTRO
Na atualidade há muita discussão a respeito dos
valores morais que atingem a família, e os perigos que
ela passa. Há até mesmo uma espécie de guerra moral na
nossa sociedade.
Paulo ao escrever a sua primeira carta aos
coríntios no capítulo 5 chama a atenção dos seus filhos
na fé para algo extremamente importante na igreja, o
combate à imoralidade. A preocupação do apóstolo é que
no meio dos santos havia um homem que se dizia
discípulo de Cristo, mas, vivia uma vida completamente
antagônica à imagem do Mestre. Por isso, o zeloso pastor
ordena que tal pessoa seja expurgada do meio deles como
se expurga o fermento velho (v.5-7). Paulo enfatiza que
já havia orientado seus discípulos a não ter nem
comunhão com esse e com outros que, ESTAVAM NA
IGREJA, mas não eram dignos do Senhor (v.9). No
versículo seguinte (10) ele deixa claro algo
completamente esquecido pelos “Grandes defensores da
família brasileira”. O que devemos combater? A
imoralidade do mundo? Ou nossa própria imoralidade?
36
O sábio apóstolo nos ensina de forma muito clara,
tão clara, que é para mim incompreensível, como esses
pregadores de hoje não percebem o mal que estão
fazendo ao Evangelho. Há um ditado pesado que diz:
“Tem coisas que são como b...(ou m...), quanto mais se
mexe mais fede”. Sei que muitos não gostaram deste
ditado citado por mim. Peguei pesado? Pode ser, mas
quero chamar a atenção de todos para o que está
acontecendo. Estão dando tiros para todos os lados, e
simplesmente estão errando feio o alvo. Sejamos
sinceros, a igreja brasileira é um exemplo de moral e
santidade? Somos um exemplo de amor ao próximo e aos
famintos e pobres? Nem precisamos responder.
O fato é que, se a igreja brasileira fosse mais
bíblica, fosse mais parecida com a igreja primitiva, seria
muito diferente. Nós temos é que espalhar Evangelho e o
amor, sim. Mas, temos que viver o Evangelho e o amor.
O problema, é que o Evangelho no Brasil está todo
distorcido.
Muitos convocam a igreja para a “guerra” aos
ataques imorais dos de fora, mas eles mesmos distorcem
o Verdadeiro Evangelho, e querem postar de moralistas.
37
Não vejo razão alguma para ficarmos irritados
com as atitudes de ímpios que zombam do Evangelho,
Deus não nos chamou para isso. Não! Ele nos chamou
para irmos e dar frutos que permaneçam (Jo.15:16). Se
fosse para nos preocupar com a vida dos de fora, não
poderíamos permanecer neste mundo (v.10).
O problema dos evangélicos no Brasil é que
estamos nos preocupando demais com os pecados
alheios. Não devemos dar lição de moral para quem não
segue a Jesus, temos que ensinar o caminho do
discipulado para quem segue, porque se conseguíssemos
fazer com que os evangélicos seguissem a Cristo de fato,
isso faria uma enorme diferença neste mundo.
Como Paulo conclui o capítulo 5: “Pois, como
haveria eu de julgar os de fora da igreja? Não devem
vocês julgar os que estão dentro? DEUS JULGARÁ OS
DE FORA.” (v.12, 13a).
Quanta simplicidade na Palavra de Deus! Quanta
clareza! Mas, tem gente que só fica preocupado com a
vida dos outros e esquece sua própria realidade.
Aprendamos com o apóstolo Paulo, vamos cuidar
de nós mesmos, pregar e VIVER o Evangelho. Vamos
parar com esse papo de guerra. As pessoas fazem o que
38
fazem porque são os seus valores (deturpados, claro),
Deus vai julgá-las, não nós. Elas não querem nossa
moral, querem viver suas vidas. Deixemos essas pessoas
dentro de seus padrões e elas ficarão mais no canto delas.
Este tipo de guerra só fomenta o ódio. O que adiantaria
lavar o exterior do copo, se o interior permanecer sujo
(Mt.23:25; Lc.11:39), será que se as pessoas mudassem
seu comportamento isso faria delas dignas do céu? Será
que o comportamento exemplar é o caminho? Quanta
obviedade nessas perguntas.
Vejamos que um dos motivos principais que
levam famosos pregadores a se ocuparem com isso está
na sua teologia manca, que enfatiza a responsabilidade
humana, e se esquece de que nosso Deus é Soberano, e
que é por graça e não por força ou Lei. Sei que muitos
não concordarão comigo e vão até dizer: “Você se mostra
às vezes duro, outras vezes conivente.” Contudo, penso
que tenho minha opinião baseada nas Escrituras. Você
pode não concordar, mas use a Palavra de Deus para
refutá-la.
39
EM UM MUNDO
Em um mundo injusto, os justos não precisam se
justificar
Em um mundo de mentiras, os francos não devem mentir
Em um mundo corrupto, os honestos não podem se
corromper
Em um mundo violento, os pacíficos não devem agredir
Em um mundo de trevas, iluminados devem reluzir
Em um mundo cego, os visionários precisam enxergar
Em um mundo em decadência, os firmes precisam
fortalecer
Em um mundo mau, os que amam o bem devem
abençoar
Em um mundo impuro, o sal precisa salgar
40
NOVOS ISCARIOTES, VELHA GANÂNCIA
Há alguns anos impactou-me uma rápida notícia,
como costumam ser rápidas as noticias nos telejornais,
durou menos de trinta segundos, mas sua força era
suficiente para impactar. O famoso Jornal Nacional
noticiava o assassinato de vinte cristãos no Quênia por
extremistas muçulmanos que queriam vingar-se do
governo que havia destruído uma célula terrorista. Os
assassinos abordaram o ônibus e permitiram que todos os
que se declaravam muçulmanos e recitavam algum trecho
do Corão fossem embora, os cristãos, 20, foram
fuzilados. Agora, em novembro de 2014. Às vezes
notícias assim passam despercebidas por nós, o jornal é
muito rápido e cada notícia é fragmentada ao máximo.
Mas não é só isso, existem outras razões, como,
por exemplo: estamos mais preocupados com a
informação política ou esportiva que virá a seguir, ou, em
muitos casos, as pessoas só estão aguardando a novela
começar. Em todo caso, o fato é que, a nós, cristãos,
notícias assim não deveriam passar em branco, a mim
não passou.
41
Pense um pouco comigo, será que isto que
aconteceu a nossos distantes irmãos é uma raridade?
Infelizmente, a nós sempre parece que sim, mas, a
verdade é que não, isso não é raro. O problema é que
aqui, vivendo em uma forte democracia no Brasil, temos
toda a liberdade para vivermos nossa fé sem barreiras, ou
perseguição. É verdade que muitas vezes somos
criticados, rotulados, zombados, mas o que é uma crítica
boba, perto das lutas enfrentadas por nossos irmãos em
Cristo que sofrem em várias partes do mundo? Além
disso, muitas das críticas são merecidas, não por todos,
obviamente, mas por aqueles que envergonham o nome
de Cristo, pelos novos Iscariotes.
Talvez boa parte, senão a maioria, dos crentes
ignora que no mundo inteiro, em vários países,
particularmente, nos países muçulmanos, os cristãos
experimentam algo parecido à grande tribulação, muitos
são presos, torturados, abandonados pela família e
amigos, simplesmente por decidirem seguir a Jesus. Se
você é um destes que desconhecem essas informações,
sugiro que aproveite todas as vantagens da internet e
conheça sites como o de Portas Abertas, que retrata a
Igreja Perseguida no mundo. Contudo, infelizmente, o
42
desconhecimento dessa realidade por muitos é proposital,
fazem-se de cegos e surdos, pois isso lhes tiraria a
tranquilidade. É fato, não custa nada ser evangélico aqui,
às vezes é febre, é moda, e para alguns é até lucrativo.
É triste ver como o Evangelho no Brasil foi, em
boa parte das igrejas, deturpado, descrucificado, perdeu-
se na exagerada bonança, tal qual nos tempos
constantinos. Enquanto muitos irmãos sofrem lá fora,
aqui se brinca com a Palavra de Deus, os novos Iscariotes
usam-na, não como a Verdade, mas como um simples
manual para manipular, enganar e enriquecer, tal qual o
Carnegie, personagem de Gary Oldman, que perseguia
Eli para tomar-lhe o livro, no filme: "O Livro de Eli".
Seus telecultos são um circo dramático, ufanista e
místico. Talvez, repetindo em seus subconscientes a
máxima do velho e famoso apresentador: "Quem quer
dinheiro?" O fato é que milhões querem, e por isso seus
templos estão lotados, não de fiéis, mas de consumidores
ávidos por uma bênçãozinha.
De nada valem os avisos de Paulo: "O amor ao
dinheiro é a raiz de todos os males" (ITm. 6:10), nem de
Pedro: "Também, movidos pela ganância, e com palavras
fingidas, eles farão de vós negócio..." (IIPe.2:3), e nem
43
mesmo, as do próprio Jesus: "Não podeis servir a Deus e
às riquezas." (Mt. 6:24). A ignorância total de mensagens
tão claras como essas se deve ao fato de que os novos
Iscariotes são muito inteligentes, muito sagazes (para não
dizer outro termo com sa...), você nunca vai ouvi-los
pregando mensagens expositivas que, de fato, ensinam
claramente as verdades das Escrituras. Suas mensagens,
além de água com açúcar, não passam de um bate papo
furado, como se estivessem explicando o Evangelho,
quando na verdade são lorotas baseadas em versículos
descontextualizados, completamente retirados de algum
texto muito rico, mas, com muita habilidade sofista,
conseguem levar as pessoas a crerem que realmente foi
aquilo que Jesus e os apóstolos quiseram ensinar.
Vamos ver alguns exemplos: No Evangelho de
Lucas capítulo 11 Jesus está ensinando sobre oração aos
seus discípulos, no versículo 9 Ele diz que se pedirmos
receberemos, se batermos as portas se abrirão e se
buscarmos acharemos, é claro, que este versículo é um
prato cheio para os novos Iscariotes, é um dos versículos
preferidos para fazerem suas mensagens. Isolado, este
versículo realmente parece ensinar que Deus está pronto
a atender aos nossos gananciosos pedidos de
44
prosperidade, é simples, peça e Deus dará. Mas, o que
nos diz o contexto? Será que de fato Deus quer nos dar
tudo que pedimos? Não há necessidade de se fazer uma
exegese exaustiva, ler o texto no grego original, nem ser
um teólogo experiente, qualquer um de nós conseguirá
entender o contexto, basta-nos ser honestos, sinceros e ler
o capítulo do início.
Agindo assim veremos que um discípulo é quem
pediu a Jesus que se lhes ensinasse a orar, então Ele lhes
ensina (e a nós) a famosa oração do Pai Nosso, depois,
continuando, lhes ensina sobre importância de serem
perseverantes na oração, daí o motivo porque Jesus fala
de pedir, buscar e bater. Depois do famoso versículo e do
versículo 10 que lhe complementa, Ele nos fala algo
maravilhoso, se nós, sendo maus (pois todos somos Rm.
3:10-18) sabemos dar coisas boas aos nossos filhos,
certamente o bom Deus nos dará...Carros importados?
Mansões luxuosas? Prêmios acumulados da Loteria?
Milagres estrondosos? O versículo final do assunto (13)
nos revela o quanto são enganadores os novos Iscariotes.
O que o Mestre ensinava aos discípulos (e a nós) era que
sua promessa falava do mais importante, do mais sublime
e fundamental ao cristão, e não tem nada a ver com
45
bênçãos materiais e passageiras, riquezas consumíveis
que podem ser destruídas pelas traças ou roubadas por
ladrões (Mt. 6:19). O que cada um de nós deveria
aprender a pedir seria Aquele que pode transformar e
fazer de cada um de nós um novo homem ou mulher,
Aquele que nos ilumina e capacita a crer e entender a voz
de Deus.
Obviamente, se famintos clamarmos, Deus nos
alimentará, se nus pedirmos Ele nos vestirá. Porém, o que
Jesus quer deixar claro é que o material não é nada
comparado ao espiritual. Tristemente, alguns preferem o
material, leviano, consumível e passageiro.
Há um outro também famoso versículo, sempre
descontextualizado, que também é usado por aqueles que
querem manipular a Palavra de Deus. Provavelmente,
você já deve tê-lo visto no vidro traseiro de algum carro,
ou na camiseta de alguém. Trata-se de Filipenses 4:13:
"Posso todas as coisas naquele que me fortalece."
Isolado assim sempre é usado para dar ao cristão a
falsa ideia de que ele pode fazer o que bem entender,
basta ter fé em Jesus.
Há poucos anos vi, num destes programas
televisivos, um famoso pregador com seu convidado
46
gringo convidar seus fiéis contribuintes do programa a
dar uma "pequena" oferta de fé (R$500), e Deus iria, em
seis meses, retribuir com uma grande bênção.
Bênçãozinha cara essa, heim? Mas, a questão não
é nem tanto em relação ao valor, e sim ao fato da
promessa. Será que podemos até marcar data e
comprometer a Deus? Podemos todas coisas mesmo?
Parece até aquelas piadinhas bobas: "Deus lhe pague,
porque eu não tenho dinheiro". A ideia é parecida, "você
nos dá a oferta e Deus que se vire para abençoá-lo".
Provavelmente, quem doou e não se sentiu abençoado
nem adianta reclamar, a resposta cínica estarã na ponta
da língua: "você é que não teve fé meu irmão!"
Mas, era isso o que Paulo tinha em mente? Neste
caso um exame simples dos versículos anteriores vai nos
mostrar que Paulo agradecia a esta igreja por todo o
apoio recebido, principalmente apoio financeiro. E apesar
de toda sua gratidão, o apóstolo quis deixar-lhes claro,
nos versículos 11 e 12 que sua força sempre foi o Senhor.
Ele estava preparado para encarar qualquer circunstância,
sejam os momentos de escassez ou de abundância. Se
havia abundância ele sabia que ela vinha de Deus e não
podia fiar-se nela, se havia escassez, a graça de Deus o
47
ajudaria, ou seja, em qualquer situação ele podia viver no
poder de Cristo. A interpretação é simples assim.
É compreensível que os novos Iscariotes não
interpretem corretamente essa lição de Paulo, afinal ela é
completamente antagônica à sua teologia da
prosperidade, na qual só a abundância é encarada como
uma situação aceitável ao cristão.
Alguém já disse, sabiamente: "A Bíblia é a mãe
das heresias", é provável que alguém se assuste com a
frase, mas é a pura verdade, vejam os exemplos acima,
ninguém formulou aquelas meias-verdades a partir do
Corão, Sânscrito, Livro de Mórmon, ou algum outro livro
religioso ou filosófico. A Palavra de Deus quando não
ensinada integralmente pode ser grande fonte de
mentiras.
Aquilo que deveria ser fonte de vida, torna-
sefonte de morte. A Palavra de Deus pode ser bem
manejada (II Tm. 2:15), ou manipulada.
Um paralelo poderia ser relacionado aos
alimentos, fonte de vida e saúde, mas a manipulação
errada deste alimento pode contaminar, adoecer e até
matar. Um cozinheiro, por imperícia, pode contaminar
centenas de pessoas no refeitório de uma empresa, ou
48
escola. E isso, deveras, já aconteceu várias vezes, é,
geralmente, por imperícia mesmo. Contudo, infelizmente,
a manipulação da Palavra de Deus não se dá por
imperícia, mas, por malícia. Os novos Iscariotes sabem
muito bem o que estão fazendo.
É verdade, que muitos dos seus discípulos, não
recebem uma preparação adequada. Mas, isso não os
justifica, é um grande erro querer ensinar a Palavra sem
ao menos conhecê-la profundamente (Mt. 22:29;
Mc.12:24). É notório que tais obreiros nem sequer
frequentam faculdades teológicas, por um ano que seja,
no máximo, recebem um treinamento básico de poucos
meses, não para manejar bem a Palavra, mas, para
reproduzirem fielmente os ensinamentos de seus líderes.
Um exemplo desse treinamento é conhecido de
todos, pois foi filmado e divulgado. Informalmente, em
uma pelada de futebol, o líder ensina seus discípulos:
"tem que pedir mesmo, sem ter vergonha", e conclui de
maneira bem leviana, e imoral, com a velha piadinha: "é
dá ou desce!" E muitos dão, alguns inocentemente,
muitos outros, como investindo na "Bolsa de valores do
céu". Infelizmente, nem todos poderão resgatar seu
"investimento", pois, não terão acesso ao "banco".
49
Manipular a Palavra de Deus, além de ser trágico,
é imoral. Os evangelistas, Paulo, Pedro, Davi, e outros.
Servos de Deus, muito sofreram para dar-nos a revelação
maravilhosa, fonte de vida. E muitos deixam suas casas
para irem aos seus suntuosos templos, ou os assistem
pela televisão, pessoas que, muitas vezes, acreditam
piamente estarem ouvindo a Palavra de Deus. Quando, na
verdade, ouvem guias cegos, e infelizmente, todos cairão
no barranco (Mt. 15:14).
Mas, por que prosperam e fazem sucesso os novos
Iscariotes? É simples, usando uma linguagem, um pouco
pesada, do mundo policial: "Só há traficantes porque há
consumidores de drogas", da mesma forma, os suntuosos
templos que hoje são construídos e as redes de televisão
são compradas porque há muitos "crentes" ávidos por
bênçãos e riquezas. Como escreveu Paulo em sua
segunda carta a Timóteo 4:3, chegou o tempo em que as
pessoas não estão mais interessadas na sã doutrina, eles
querem é ouvir coisas agradáveis, palatáveis, nada de
cruz, morte, novo nascimento ou renúncia, mas só
bênçãos, bênçãos, bênçãos, assim como as filhas da
sanguessuga (Pv. 30:15).
50
É possível que a esta altura do texto alguém já
deve ter perguntado: "Por que você chama os pregadores
da teologia da prosperidade de novos Iscariotes?”
Minha resposta tem origem no excelentíssimo
livro: "A Cruz de Cristo" de John Stott, certamente, um
dos mais belos e edificantes livros que cada cristão
deveria ler. Compreender a morte de Cristo é essencial à
fé, e este livro ajuda muito.
Ao analisar os responsáveis diretos pela morte de
Jesus, no âmbito terreno, Stott percebe que para Pilatos,
de forma covarde, entregar Jesus para a crucificação ele
sofreu enorme pressão dos religiosos judeus que lhe
entregaram o Mestre por inveja, e Iscariotes por sua vez o
entregou a estes, por qual motivo?
Fantasiosas interpretações de alguns acreditavam
ser ele um zelote, que se decepcionou com seu
messianismo pacífico, ao invés de lutar e derrotar os
romanos cruéis. Outros tiveram uma ideia ainda mais
tresloucada: Ele esperava que ao ser preso, Jesus reagiria,
convocaria seu exército de anjos e derrotaria as forças de
César. Apesar de todas as especulações, o evangelista
João traz a verdade, Iscariotes traiu ao Senhor por pura
ganância. Próximo à crucificação, João narra a
51
interessante história de Maria, que perfumou os pés do
Mestre com um caríssimo bálsamo, Iscariotes, fingindo
preocupação com os pobres a critica muito, dizendo que
antes de derramar sobre os pés santos, deveriam mesmo
era vender para dar aos necessitados. João, um dos
apóstolos, e que, certamente conheceu bem este
desonesto tesoureiro da equipe do Messias, afirma que
ele costumava roubar a bolsa onde era guardado o
dinheiro. O traidor deve ter ficado revoltadíssimo pelo
grande prejuízo, mas logo encontrou uma solução de
como recuperar pelo menos parte da grana. O bálsamo
valia, segundo avaliação do próprio avaro: 300 denários,
ou seja um ano de salário de um trabalhador, os
sacerdotes só lhe deram 30 moedas de prata (Mt. 26:15),
"melhor do que nada" deve ter pensado ele.
A ganância é um dos mais terríveis motores dos
piores pecados e crimes da humanidade. Os dias atuais
no Brasil têm revelado claramente isso a nós.
A cada semana uma operação da PF é deflagrada,
mostrando-nos o quão frágil é nossa democracia, de fato,
ela existe, mas muito facilmente é manipulada pelo
$$$$$$$$$. Nossa maior empresa, uma das grandes
52
produtoras de petróleo do mundo, vilipendiada, roubada e
desvalorizada.
Sempre pagamos muitos impostos, mas por que
aquela nossa tia fica quatro horas em um posto de saúde
para o (único) médico lhe atender em dois minutos e sem
lhe olhar o rosto tem o diagnóstico na ponta da
língua:"virose", e a receita na ponta da caneta:
"buscopam"?
Por que temos tantos analfabetos funcionais e
muitos professores que migram para outras carreiras em
busca de melhores salários?
Por que pobres camponeses são expulsos de suas
terras para que grandes latifúndios ressurjam como uma
praga persistente?
Por que crianças ficam sem merenda, o aparelho
de raio X do hospital está quebrado, mas as casas do
prefeito e dos vereadores estão cada vez maiores, e as
garagens sem espaço para os carros importados?
Por que ainda é possível encontrar escravos em
pleno século XXI? GANÂNCIA: "amor aodinheiro, raiz
de todos os males"(ITm. 6:10).
É verdade que depois de tudo, o remorso (não o
arrependimento) alcançou Iscariotes, mas, já era tarde.
53
De fato, como argumenta Stott, não apenas ele, os
sacerdotes e Pilatos foram os que levaram Cristo à cruz,
mas sim os pecados de todos nós. Contudo, mais que os
sacerdotes e Pilatos, ele foi o maior traidor, que comia no
prato com o Senhor, traição extremamente vil. Por causa
da sua traição, a Verdade, foi humilhada, zombada, lhe
cuspiram, e mataram. Esta é a grande semelhança com os
novos Iscariotes, por causa de sua atitude de traição, a
Verdade é humilhada, zombada e desprezada nos dias de
hoje. Por causa do dinheiro eles traem a Verdade de
Deus, por meias-verdades, ou mentiras descaradas que
não passam de fábulas que enganam os incautos e
àqueles que desejam "ouvir coisas agradáveis" (II Tm.
4:3).
Pesadas palavras? Você pensa que não
deveríamos discutir temas como esse, afinal eles
arrebanham milhões e têm feito coisas "boas"? Não
penso assim, afinal, não fui eu, nem qualquer outro
missionário, pastor, padre, monge, filósofo ou outra
pessoa quem disse as palavras a seguir: "Muitos me dirão
naquele dia: Senhor, Senhor, não profetizamos nós em
teu nome? E em teu nome não expulsamos demônios? E
em teu nome não fizemos muitos milagres?" A resposta
54
do Senhor, sim, será muito pesada: "Então, lhes direi
claramente: Nunca vos conheci, apartai-vos de mim, vós
que praticais a iniquidade" (Mt.7:22-23).
Para quem acredita que o sucesso de público e
movimento respaldam qualquer ministério, esses
versículos são esclarecedores, o contexto desses
versículos é uma orientação do Mestre a respeito dos
falsos profetas, que se parecem ovelhas, mas são lobos
devoradores (V. 15). Alguns podem estar questionando:
"Por que Jesus diz: Nunca vos conheci? Ele não conhece
todas as coisas?" Esse tipo de conhecimento não se refere
apenas ao saber quem é quem, mas refere-se àquele
conhecimento relacional, íntimo de amizade que o
Senhor tem com suas ovelhas. Paulo deixa isso bem claro
na segunda carta a Timóteo 2: 19, o Senhor de fato
conhece cada um dos seus. E isso está de pleno acordo
com o contexto de Mt. 7, são os frutos e não as palavras
que revelarão os falsos e os verdadeiros profetas. E Jesus
deixa claro no V. 21 que os bons frutos referem-se a
fazer a vontade do Pai.
A expressão: "Jesus é o Senhor!" só faz sentido e
tem valor, se de fato, tomarmos nossa cruz, renunciarmos
a nós mesmos e aceitarmos seu domínio sobre nossas
55
vidas, ou então, ela não passará de palavras bonitas, mas,
vazias.
É verdade, todo texto tem um objetivo, talvez
muitos pensem que este é a crítica somente. Contudo,
afirmo que meu desejo é que reflitamos sobre nossa fé
evangélica. Não devemos discutir os rumos da Igreja
Brasileira? Será que está tudo bem? Estamos no caminho
certo? Não nos afastamos da cruz? Precisamos de uma
nova Reforma? Reflitamos!
LOBOS CRUÉIS
Traiu-se a Luz, um beijo antes da cruz
Uma noite angustiante, um clamor perseverante
Lágrimas, sangue e dor revelaram seu amor
Angústia por sua breve separação, fruto da maldição,
Feita por nossas mãos
A vida ninguém lhe tomou, pois, Ele a doou
Sangue que Ele mesmo verteu, cálice que bebeu
Na manhã o Sol da justiça levantou-se determinado
Sua hora havia chegado
Levantado do chão, perdoou seus irmãos
Tirado da Terra, venceu a guerra
A morte o levou, e morta ela ficou
56
Ao terceiro dia a vida se erguia
Rompendo o véu, subiu ao céu
Séculos à frente, seguiu sua semente
Levando a cruz, servos da Luz
Mas, sempre há traidores, falsos pastores
A Verdade negociada, a Palavra humilhada
Almas vendidas, ovelhas perdidas
Lobos cruéis, rebanhos infiéis.
57
IMATURIDADE ESPIRITUAL
“Se ouvires atentamente a voz do Senhor teu
Deus, tendo cuidado de guardar todos os seus
mandamentos que eu hoje te ordeno, o Senhor teu Deus
te exaltará sobre todas as nações da terra; e todas estas
bênçãos virão sobre ti e te alcançarão, se ouvires a voz do
Senhor teu Deus: Bendito serás na cidade, e bendito
serás no campo...”
Dt.28:1-3...
Um dos textos do AT mais conhecidos,
apreciados e citados pelos pregadores pós-modernos e
ufanistas da teologia da prosperidade é a famosa
passagem repleta de promessas apresentadas por Moisés,
já no final de sua vida e ministério entre os hebreus. Era a
sua despedida, logo após sua morte o povo deveria
continuar sua caminhada em direção à terra prometida
sob a liderança de Josué. Mas, antes apresentou ao povo
maravilhosas promessas de bênçãos como fruto de sua
obediência (VV.1-14) e, por outro lado, duras ameaças de
maldições caso insistissem em manter-se desobediente
58
seguindo outros deuses e abandonando o Senhor e suas
justas leis, que serviam para protegê-los (vv. 15-68).
Existem alguns pregadores que gostam de
apropriar-se destas promessas indiscriminadamente,
como se elas pudessem ser lidas e aplicadas de qualquer
forma aos cristãos de hoje. Algo que, logo de início,
chama a atenção é o fato de que, geralmente, a leitura é
interrompida no versículo 14, já que do 15 ao final (um
trecho ainda maior) não interessa e nem é atraente.
Contudo, o grande erro está na hermenêutica imprópria e
caduca. Não se leva em consideração o objeto das
promessas e o motivo. Para quem foram tais promessas?
A quem foi prometido riquezas no campo e na cidade,
chuvas torrenciais, famílias prósperas de filhos e bens,
vitórias nas guerras e uma nação poderosa por cabeça e
não cauda? Com certeza não foi a nenhuma nação atual,
ou à igrejas e rebanhos especiais, filhos prediletos.
E por que a nação de Israel recebeu tais
promessas? Segundo W. W. Wiersbe o contexto mostra
uma nação ainda em formação e em sua infância
espiritual, que necessitava de tutores, incentivos e
punições assim como nossos filhos recebem, e isso em
59
pleno acordo com os argumentos de Paulo em Gálatas
4:1-7. Portanto, não é exagero afirmar que desejar o
mesmo tratamento demonstra infantilidade espiritual.
Além disso, essa hermenêutica apressada e superficial
não leva em consideração os destinatários originais da
Lei. Mas, não é só isso, havia algo a mais nessas
promessas direcionadas exclusivamente aos hebreus. Tais
promessas estão intimamente relacionadas à missão de
Israel. Para uma percepção mais clara desta missão é
preciso a observação do versículo 10 “E todos os povos
da terra verão que és chamado pelo nome do Senhor e
terão medo de ti”. Superficialmente, alguém poderia
pensar que a ênfase neste caso recai sobre o povo que
seria temido, mas, nada mais enganoso. É óbvio que o ser
“chamado pelo nome do Senhor” mostra o verdadeiro
propósito de tornar a pequena e nascente nação uma
potência sobre outras. O salmista escritor do salmo 67
compreendeu muito bem o motivo das bênçãos serem
espalhadas e alcançarem graciosamente a nação: “Seja
Deus gracioso para conosco, e nos abençoe, e faça
resplandecer sobre nós o rosto, para que se conheça na
terra o teu caminho e, em todas as nações, a tua salvação.
Louvem-te os povos, ó Deus, louvem-te os povos todos”
60
V.1-3. O último versículo é ainda mais esclarecedor:
“Abençoe-nos Deus, e todos os confins da terra o
temerão.” V.7. O salmista veio a compreender
claramente o que todo o povo deveria ter compreendido
desde o princípio, o conjunto de bênçãos não era um fim
em si mesmo, as bênçãos condicionadas à obediência à
Lei não visavam formar um povo mimado, e
privilegiado, como se fosse o filho único de Deus.
Engana-se quem acredita que somente os judeus eram
amados pelo Senhor. Obviamente, os judeus eram
amados e Deus tinha um projeto especial, uma missão
especial para a nação, mas, a verdade é que Deus ama e
sempre amou a todos os povos do mundo, Ele não faz e
nunca fez acepção de pessoas ou povos.
Então por que a nação foi escolhida dentre
muitas? Primeiramente, porque Deus a amou e decidiu
por sua livre e soberana vontade, e porque a nação tinha
uma missão: Atrair todos os povos a Deus. Em termos
missiológicos esta missão é chamada de missão
centrípeta, o objetivo claro era ser um centro de atração,
Israel foi chamada para ser luz para as nações, como
mostra o v. 10 de Dt. 28 e o salmo 67, Além destes
textos, encontramos o profeta Isaías afirmando de forma
61
ainda mais inequívoca esta verdade incontestável (42:6 e
49:6). Israel foi uma nação formada com o único e claro
propósito de ser Luz para os povos “...a minha salvação
até à extremidade da terra” (Is.49:6).
Nos tempos do rei Salomão encontramos uma
nação forte e próspera ao ponto da rainha de Sabá sair de
sua nação rica e civilizada no sudoeste da Arábia para
provar Salomão com perguntas e conhecer o esplendor de
seu reino, em I Rs. 10:9 o texto diz que ela exaltou ao
Deus de Salomão, afirmando que só podia ver ali o amor
de Deus sobre a nação, o v. 23 afirma claramente que ele
veio a ser o mais rico entre os reis e muitos iam até ele
para ouvir sua sabedoria e lhe enchiam de presentes.
Infelizmente, logo no capítulo a seguir (11) o texto nos
mostra como este rei afastou-se de Deus por influência de
suas muitas mulheres que não temiam a Deus. Salomão
veio a desobedecer totalmente a Deus e a seus
mandamentos, após a sua morte, seu filho acabou por
dividir o reino e nunca mais a nação foi unida, a
decadência levou os reinos divididos a sofrerem as
consequências de sua desobediência. Especificamente a
parte das maldiçoes de Dt. 28:49 ao final do capítulo
alcançaram os judeus e transtornaram o povo
62
desobediente. Percebe-se que toda a segunda parte de Dt.
28, do versículo 15 em diante, foi profética e realizou-se
cabalmente.
Contudo, as profecias de Isaías 42 e 49 também
eram proféticas. Entretanto, sua realização não se
relacionava à nação como um todo, mas ao seu
Descendente: Jesus. O Messias veio para cumprir o
chamado que seria de Israel, pois, este falhou
completamente em sua missão, era necessário que Jesus
viesse para, como o servo de Is.49:6 restaurar as tribos,
alcançar os remanescentes e, finalmente, ser a verdadeira
luz para às nações. A nação de Israel não foi capaz de
cumprir a Lei que Jesus cumpriu cabalmente. As bênçãos
prometidas em Deuteronômio não necessitavam vir sobre
aquele que alcançou o nome que está sobre todo nome
(Fl.2:9), sendo Ele aquele que possui toda a plenitude de
Deus e em quem tudo subsiste (Cl.1:17-19).
Alguns podem ainda crer que existe razão para a
igreja ser herdeira das promessas de Deuteronômio 28,
como muitos têm pregado ufanisticamente, acreditando
que ser próspero é um meio de mostrar sua verdadeira fé
e “atrair” outros. Uma aplicação um tanto duvidosa e mal
63
interpretada. Não apenas as leis do AT eram sombras do
que haveria de vir, pois a realidade é Cristo (Cl. 2:17),
mas aquelas promessas também não foram e nem podem
ser direcionadas a nós e não passam de sombras. Tais
promessas de bênçãos, inclusive, são extremamente
inferiores às verdadeiras e reais bênçãos que a nós já
foram ordenadas. Precisamente, ordenadas, decretadas,
não prometidas, não condicionadas.
Quais são as bênçãos direcionadas à igreja, agora
formada por judeus e povos de todas as nações que creem
em Cristo (Ef. 2:11-22)? Nesta mesma carta no capítulo
1:3-14, o apóstolo Paulo nos mostra em uma única e
extensa frase, um dos trechos mais famosos, belos,
teológicos e complexos do NT, como afirma William
Hendriksen: vai se formando uma bola de neve e se
avolumando palavra após palavra, cheias de tanta
profundidade e graça sem igual, à medida que lemos
sobre “toda sorte de bênção espiritual”. Já de início pode-
se perceber claramente a superioridade dessas bênçãos,
elas não são as migalhas das bênçãos materiais, hoje tão
fervorosamente e ansiosamente buscadas por milhões de
pessoas. Não, essas bênçãos são espirituais, são aquelas
que a traça e a ferrugem não podem corroer, nem os
64
ladrões roubarem (Mt.6:19). Infelizmente, muitos
preferem as migalhas e correm aos pés de lobos vorazes
com suas promessas vãs e enganosas. Contudo, os que de
fato são filhos de Deus já foram alcançados com bênçãos
superiores. Além dessa superioridade essencial há ainda
outras razões que tornam estas bênçãos de Efésios
extremamente superiores às de Deuteronômio, elas não
são promessas futuras, mas, são bênçãos já realizadas, já
confirmadas. O tempo verbal no original ainda deixa isso
mais claro, os verbos: escolher, predestinar, conceder,
derramar, estão todos no aoristo, um tempo verbal do
grego que é mais perfeito que o nosso tempo perfeito do
português, significa algo que já foi realizado e não tem
volta, não tem possibilidade de ser revogado. Outro
detalhe? Essas bênçãos não são condicionadas à nossa
obediência, até porque se fossem jamais as
alcançaríamos, pois não somos diferentes dos judeus,
somos falhos e jamais conseguiríamos cumprir a Lei, mas
estas bênçãos foram conquistadas por Cristo, e isso antes
da fundação do mundo (v.4). Portanto, inteiramente
imerecidas, mas garantidas por sua maravilhosa graça. E,
por fim, encontramos a razão de sermos abençoados com
tais bênçãos: “...para sermos santos e irrepreensíveis
65
perante ele” (v.4). Tais bênçãos não foram nos dadas para
que delas gozássemos despreocupadamente e
descomprometidamente.
A igreja também tem uma missão, mas, a sua
missão é completamente diferente da missão de Israel,
enquanto a missão deles era centrípeta, um movimento de
atração para o centro, para atrair para si mesmos a
atenção dos povos para que vissem a glória e o poder de
Deus ali manifestado, e assim o temessem e o adorassem.
A igreja não foi chamada para atrair, ainda que,
obviamente, não deve nunca repelir os de fora, mas
repelir os de dentro, lançá-los para longe, para que
possam alcançar outros. Em termos missiológicos chama-
se: missão centrífuga. O próprio nome deixa claro, uma
fuga do centro, é um movimento de espalhar-se a partir
do centro, de sair, de repelir e não de atrair. Somos um só
corpo com uma missão específica, fomos reunidos por
obra do Espírito Santo para ser sal, o sal só pode salgar se
for espalhado, somos chamados para ser luz, a luz só
pode iluminar se estiver em meio às trevas. Ou seja, sal
não faz diferença no saleiro, nem luz faz diferença onde
tudo está iluminado.
66
CONCLUINDO:
A relação com as bênçãos revelam muito a
respeito da nossa fé. Alguém que vive buscando
desenfreadamente e ansiosamente bênçãos materiais e
passageiras demonstra: infantilidade espiritual,
incapacidade de compreender o Evangelho, desprezo
pelas bênçãos espirituais já decretadas e concedidas. Por
outro lado, cristãos sinceros e convertidos reconhecem a
maravilhosa graça divina, são gratos pelas bênçãos
espirituais e não se consomem em busca do inferior,
buscam em primeiro lugar o Reino de Deus e sua justiça,
sabendo que as demais e (necessárias) coisas serão
acrescentadas (Mt.6:33), por sua gratidão, reconhecem
também que as bênçãos da salvação, como dom de Deus
devem levá-los a servir e realizar as obras a que foram
chamados (Ef.2:10).
Que deixemos de ser como as filhas da
sanguessuga a exigir: dá, dá! (Pv.30:15) Já fomos
extremamente abençoados, não vá à igreja para buscar
uma bênção, SEJA UMA BÊNÇÃO NA VIDA DE
OUTROS!
67
POEMA DE DEUS
(Ef.2:8-10)
Cego para a Realidade, surdo para a Verdade
Morto para a Vida, a anos-luz da Luz
Sem fé e sem casa, sem família e sem nada
Inerte e sem vida, sem lar, nem guarida
Herdeiro da escravidão, em um mundo de ilusão
Impossível ver, incapaz de crer, sem nem mesmo ser
Mas, alvo de um amor sem igual, eterno e sobrenatural
Uma graça gratuita, franca e abundante, até redundante
Um amor irresistível, gracioso e infalível
Eternamente destinado para a graça, selado para a
glória, escrita na história
Me gloriarei? Ser filho do Rei? Que fiz? Eu não sei!
Se até "minha" fé, minha não é, é mesmo um presente,
surpreendente!
68
Impossível pagar, só posso louvar, e render-me aos pés,
sem vacilar, de quem amou me salvar.
Da morte à Vida, das trevas à Luz
Da escravidão à liberdade, pela Verdade
Para a inatividade? Para o comodismo ou a ociosidade?
Para um fim glorioso, não para ser orgulhoso
Graça da Majestade, que produz serviço, missão,
santidade
Amor surpreendente, que produz servos, não clientes
Eternamente destinado para servir ao Rei, ser sal e luz,
exemplo à grei, me gloriarei?
Nesta nova vida de amor e perdão, me resta servir, com
gratidão
Sou poema do Eterno, obra-prima da criação, para o
erigir de seu Reino, de graça, amor e perdão.
69
UM DIA PARA A CELEBRAÇÃO
"Portanto, não permitam que ninguém os julgue pelo que
vocês comem ou bebem, ou com relação a alguma
festividade religiosa ou à celebração das luas novas ou
dos dias de sábado. Estas coisas são sombras do que
haveria de vir; a realidade, porém, encontra-se em
Cristo." (Col. 2:16-17 - NVI)
Desde que a suposta profetisa, ainda no século
XIX, fez a falsa acusação de que os cristãos guardam o
domingo por ordem do imperador Constantino, há uma
árdua batalha em defesa do dia certo a ser guardado.
Ainda que existam provas bíblicas de que o domingo foi
adotado já no início da igreja (At. 20:7; ICo.16:1-2) e
também foi defendido por vários pais da igreja,
antecessores ao imperador, como: Justino, Inácio,
Tertuliano e Eusébio de Cesárea, o dia não é, de fato, a
questão central, tudo está centrado nas alianças de Deus
com seu povo.
Obviamente, não desprezo o AT, quero começar
assim minha reflexão para evitar um mal entendido. O
AT é de um valor inestimável, é Palavra de Deus, eu
gosto de ler e pregar no AT, sempre podemos encontrar
70
histórias maravilhosas que exaltam a grandeza, e a graça
de Deus. Isso mesmo, Graça, está muito enganado quem
pensa que a graça de Deus encontra-se apenas no NT, o
AT é repleto de demonstrações da graça de Deus nas
histórias de seus servos fiéis, como Moisés, Davi, Daniel,
entre outros.
É maravilhoso o AT sim, mas, é antigo, é
ultrapassado, é ineficaz. Não consigo entender porque
muitos "cristãos" insistem em viver no passado, parece
que ainda não acordaram, não compreenderam a
mensagem do Evangelho, poder de Deus para salvação
de todo aquele que crê (Rm. 1:16), seja judeu, grego,
americano, brasileiro, coreano, iraquiano...
Paulo não despreza o AT, de forma alguma, antes
diz que foi glorioso, contudo o Antigo Pacto, feito
graciosamente e unilateralmente pelo Pai com Moisés e o
povo judeu, veio a tornar-se o ministério da morte
(IICo.3:6,7) por quê? Por que a Lei é injusta? Jamais, o
próprio apóstolo vai dizer que a Lei é santa, justa e boa
(Rm. 7:12). O que torna o Pacto Antigo ministério de
Morte? Obviamente, nosso pecado, quantos justos você
conhece? Não há um sequer, Paulo diz (Rm. 3:10) e,
certamente quando olhamos para nós mesmos,
71
percebemos que é a mais pura verdade. A Lei mostra a
justiça de Deus, é pela Lei que fica mais claro o quanto
estamos distante da justiça.
Paulo deixa claro em Romanos que a Lei apenas
serviu para encerrar a todos debaixo do pecado (Rm.
11:32) para ser misericordioso com todos, judeus,
possuidores e conhecedores da Lei, e gentios,
desconhecedores. O argumento de Paulo de que a Nova
Aliança é completamente superior à Antiga não pode ser
contestado por ninguém, nem pelos judeus, pois a ideia
de ter a Lei gravada não em pedras, mas na carne do
coração não é dele, Deus não revelou a ele primeiramente
essa promessa, mas a um respeitado profeta da Antiga
Aliança, Jeremias (31:31-34), assim como também Paulo
não é o autor da frase: "o justo viverá pela fé" (Rm.
1:17), ele cita Habacuque (2:4).
Paulo sempre deixou claro, que seu Evangelho
não era uma invenção moderna, mas uma promessa de
Deus, promessa pela qual obtiveram vida: Abraão,
Isaque, Jacó, Moisés e todos que vieram depois, todos os
judeus piedosos, sabiam que a Lei era incumprível, todos
dependiam da graça, todos viveram pela fé, é incrível que
ainda haja alguns que queiram viver pela Lei, que mata.
72
Deus enviou seu Filho, o Verbo se fez carne para
ser o único a cumprir toda justiça, para que por meio do
seu sangue este Novo Pacto, extremamente superior ao
Antigo e eficaz fosse concretizado (Hb. 9:11-15).
E ao cumprir todo seu ministério, Cristo afirmou
que iria para o Pai, para que o Consolador, o Espírito
Santo viesse para, exatamente, escrever em nossos
corações sua Palavra (Jo. 14:26). Por isso, Paulo não
titubeia em dizer: "a letra (LEI) mata, mas o Espírito
vivifica". Fixar-se na Lei é buscar a morte, depender do
Espírito é viver.
Atentemo-nos às palavras de Calvino em relação
ao quarto mandamento: "Mas, não há dúvida de que pela
vinda do Senhor Jesus Cristo o que era aqui cerimonial
foi abolido. Pois ele é a verdade, por cuja presença se
desvanecem todas as figuras; o corpo, a cuja visão são
deixadas para trás as sombras. Ele é, digo-o, o verdadeiro
cumprimento do sábado. Com ele, sepultados por meio
do batismo, fomos enxertados na participação de sua
morte, para que, participantes de sua ressurreição,
andemos em novidade de vida [Rm 6.4]. Por isso,
escreve o Apóstolo em outro lugar que o sábado tem sido
uma sombra da realidade futura, e que o corpo, isto é, a
73
sólida substância da verdade, que bem explicou naquela
passagem, está em Cristo [Cl 2.17]. Esta não consiste em
apenas um dia, mas em todo o curso de nossa vida, até
que, inteiramente mortos para nós mesmos, nos
enchamos da vida de Deus. Portanto, que esteja longe dos
cristãos a observância supersticiosa de dias". (Institutas
da Religião Cristã, Livro II, Capítulo 8, seções 28-
33.Disponível no site:
https://resistireconstruir.wordpress.com/2012/07/12/oqua
rto-mandamento-joao-calvino/)
O que mais chama atenção nas palavras do grande
reformador, refere-se a seu lúcido entendimento do
ensino de Paulo. Assim como o apóstolo, Calvino
angustiava-se com o legalismo presente na igreja entre
aqueles que insistiam (e ainda insistem) em prender-se, e
prender a outros, a jugos alheios ao Evangelho da graça.
O teólogo francês (assim como Paulo) defendia
que o dia do Senhor, domingo (o termo tem origem no
latim, Dominus: Senhor), primeiro dia da semana, fosse
adotado para as reuniões, celebrações, reflexões nas
obras de Deus e descanso dos trabalhos da semana,
afinal, ninguém é de ferro. Este descanso vai além do
físico, pois é também um descanso nAquele que cumpriu
74
toda a Lei, e cumpriu fielmente o sábado cerimonial,
dando-nos o descanso esperado. Calvino continua:
"Contudo, não foi sem alguma razão que os
antigos escolheram o dia do domingo para pô-lo no lugar
do sábado. Ora, como na ressurreição do Senhor está o
fim e cumprimento daquele verdadeiro descanso que o
antigo sábado prefigurava, os cristãos são advertidos pelo
próprio dia que pôs termo às sombras a não se apegarem
ao cerimonial envolto em sombras. A tal ponto, contudo,
não me prendo ao número sete que obrigue a Igreja à sua
servidão, pois não haverei de condenar as igrejas que
tenham outros dias solenes para suas reuniões, desde que
se guardem da superstição. Isto ocorrerá, se se mantiver a
observância da disciplina e da ordem bem regulada."
(op.cit.).
Sim, Calvino nunca foi radical em sua posição, se
Cristo cumpriu toda a Lei e o descanso, não devemos nos
aferrar na austeridade de cerimoniais, ainda que
mudemos o dia da semana. A preocupação do reformador
era com o fato que muitos continuavam com a mesma
teologia judaica do rigor da Lei, tendo mudado apenas o
dia. Reforçando suas palavras: "...que esteja longe dos
cristãos a observância supersticiosa de dias".
75
O domingo, dia do Senhor, deve ser visto por nós
cristãos como um dia especial sim, pois foi o dia mais
glorioso da história, deve ser para nós um dia de reflexão,
contrição e louvor, mas o radicalismo da Lei não deve ser
sua padronização. O dia do Senhor é para louvá-lo,
engrandecê-lo, mas também é dia para médicos e
enfermeiros cristãos em plantão salvarem vidas,
bombeiros cristãos em plantão resgatarem feridos,
motoristas de ônibus e condutores de trens e metrôs
cristãos transportarem outros, inclusive os cristãos para
suas igrejas, também é dia para almoçarmos em família e
ter comunhão com os nossos.
Obviamente, muitos não concordarão e poderão
até dizer: "Seis dias apenas podemos trabalhar, mas
nunca no domingo." Não tenho outra resposta senão
perguntar-lhe: "Se o seu filho adoecer gravemente no
domingo, você vai esperar a segunda para levá-lo ao
hospital, só para evitar ser o responsável por fazer o
médico e os atendentes "pecarem" no dia santo?" (Lc.
13:14-15). Também posso lhe dizer: "Nosso Pai e Jesus
trabalham sempre, e em qualquer dia que se faz
necessário, então nossos irmãos médicos, enfermeiros,
motoristas, bombeiros podem também trabalhar, se
76
necessário". (Jo. 5:17) O trabalho compulsório aos
domingos não faz de ninguém menos santo que os
demais. E ainda que fizesse, qual seria a diferença entre
os que trabalham e os que não trabalham? Acaso é a
"santidade perfeita" que justifica? Obviamente que não.
Sola Scriptura, Solo Christus, Sola Gratia, Sola
Fide, Soli Deo Gloria!
O Velho já morreu, celebremos o Novo!
UM HOMEM
Um homem está só
Para dar vida ao que veio do pó.
Um homem sente o abandono
Para levantar outros de seu sono.
Um homem aceita a morte
Para mudar de muitos a sorte.
Um homem sente em si todo o peso
Para livrar aquele que está preso.
Um homem olha para o amanhã
Quando novo mundo chega em uma manhã.
Um homem é, e morre pela verdade
Escrita desde a imensa eternidade.
Um homem que desapareceu entre nuvens do céu
77
É aguardado por muitos, em seu retorno rompendo o
véu.
Um homem morreu na linha do tempo
E deu início ao seu rebento.
Um homem que decidiu ser humilhado
Conheceu a glória ao ser Rei entronizado.
Um homem rejeitado pelos seus
Era mais que um homem, era homem/Deus
78
DEUS ESTÁ MORTO?
Esta expressão Nietzcheniana do gênio e
perturbado filósofo pode assustar. A verdade é que muito
diferente do que este dizia, DEUS NÃO ESTÁ MORTO,
mas com certeza, foi por causa do FILHO que a MORTE
MORREU. De fato, Ele morreu na eternidade, antes da
fundação do mundo (Ap. 13:8; IPe. 1:19-20). A morte é
um dos grandes inimigos da humanidade, ela é divisora
de águas em muitas vidas, ela traz tristeza, traz dor, traz,
em muitas ocasiões, desespero. A morte é dura e cruel.
Muitos questionam por que Deus permite a morte de
inocentes e justos? Ainda que não haja efetivamente
justos e inocentes, pois todos nascemos em pecados, quer
aceitemos ou não, pois é o que diz a Palavra (Rm. 3:10).
E sim, Deus conheceu intimamente a morte, seu Filho
morreu, mas, antes que ela pudesse sorrir vitoriosa, Ele
ressuscitou gloriosamente.
O poder da morte, ainda que grande, não era
suficiente para derrotar a Deus. Até ela foi vencida, sim,
foi completamente derrotada.
Acreditamos, muitas vezes, ser Deus injusto em
certas mortes, mas não atentamos que o único inocente a
79
morrer em toda história foi Seu Filho, um com Ele. Era
necessária sua morte, pois somente Ele poderia receber
em si toda a condenação de nosso pecado. Meu e seu. Só
Ele poderia receber a maldição destinada a nós. E só
pudemos receber o perdão porque Ele recebeu a maldição
(Gl.3:13-14). Sim, havia uma maldição, não destas
quebradas em estúpidas correntes e rituais místicos de
certas igrejas, mas a maldição da morte eterna, a
maldição que escravizou a humanidade e selou o destino
de todos. Ricos e pobres, homens e mulheres, famosos e
anônimos enfrentaremos a morte. Mas, o destino final
não é o túmulo.
John Stott, no livro A cruz de Cristo, já citado,
afirma que Deus não pode morrer, por isso fez-se carne,
fez-se homem para poder encarar a morte e vencê-la.
A pura verdade é que toda a injustiça humana
cobra o sangue, mas nenhum sangue seria puro suficiente
para pagar o preço se o próprio Deus não provesse o
Cordeiro para si, seu Filho. Só Ele é Justo e justificador
(Rm.3:26). Nada que eu faça, nenhum esforço humano de
santidade poderia dar-me vida, nem toda “bondade” e
caridade humana nos aproximam mais de Deus. Por isso,
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era necessário o Homem/Deus receber em si o castigo
que nos traz a paz (Is.53:5).
Não tenham dúvida, O Filho morreu e foi por
você! Sim o Filho é Deus, e Ele morreu.
Por que precisamos saber disso? Porque
precisamos voltar ao Evangelho, à Bíblia, à Palavra de
Deus. Porque precisamos deixar de ser CRIANÇAS
evangélicas, porque precisamos levar a sério a CRUZ.
Porque precisamos ser cristãos, verdadeiros discípulos,
dispostos a morrer por aquele que morreu por nós. Para
que saibamos que já fomos extremamente abençoados
com toda sorte de bênçãos espirituais (Ef.1:3), para que
deixemos de correr atrás de bênçãos materiais, como se
fôssemos “meninos do buchão”. O Filho de Deus
morreu, não para formarmos guetos, não para criarmos
clubes sociais, não para subirmos em pedestais para
sermos tietados e louvados. Cristo morreu e é diante dEle
que devemos nos ajoelhar e adorar.
A Ele somente! Soli Deo gloria!
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Numa sexta
Hoje está muito escuro, ontem, sorrateiramente a luz foi
Aprisionada, fagulhas espalharam-se por todos os lados,
Por um medo natural as ovelhas fugiram ao verem o
Pastor ferido. Brutalmente torturada a luz seguiu
Brilhando, mas, aquelas mãos que se levantaram em
Adoração e estenderam ramos, agora tapavam seus
olhos
Para não se ofuscarem com seu brilho, as vozes que
Bendiziam, agora, insufladas pelos invejosos pediam sua
Morte.
Um amigo próximo o seguia afastado
O poderoso governador fraquejava
O piedoso sinédrio odiava
O brilhante sol se apagava
A barulhenta turba se calava
Seu sagrado corpo sangrava
Seu coração amava
Seu pai se calava
O chão tremia
Túmulos se abriam
O véu se rasgava
A luz esmaecia
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O dia findava
...
E o silêncio reinava...
...um grito rompeu o silêncio
A história está consumada!
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A ARTE DA BUFOFAGIA*
"A resposta calma desvia a fúria, mas a palavra
ríspida desperta a ira." (Provérbios 15:1 - NVI).
Geralmente, não respondemos bem aos insultos, diante
dos conflitos nossa reação natural, típica da natureza
adâmica, é uma reação de mesmo nível, altura e até
volume de voz. Um exemplo? Basta uma simples
pesquisa na internet para nos certificarmos disso, digite
apenas: "conflitos no trânsito". Outro dia o fiz, e a
quantidade de notícias no tema era exorbitante, brigas,
desentendimentos, prisões e, tristemente, até mortes
foram as consequências mais comuns a esses eventos
cotidianos. Parece-me que nós estamos cada vez mais
intolerantes. O mundo em que vivemos mais agitado,
mais elétrico, mais informatizado, não tem se tornado
melhor com todos os avanços tecnológicos, ao contrário,
tem aumentado a pressão, acirrado os ânimos, já não
contamos mais até dez, é perda de tempo, temos de
chegar logo! Onde? Quando? Não interessa, temos de
chegar! É o pensamento comum.
Provavelmente, o versículo acima é um dos mais
conhecidos do livro de Provérbios, entretanto, muito
pouco praticado. Acreditamos, geralmente, que temos
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sempre de "lutar pelos nossos direitos", uma frase muito
usada, outra é: "Não sou de levar desaforo para casa".
Dificilmente estamos dispostos a baixar a guarda. Isso
pode muitas vezes trazer-nos transtornos, mas,
acreditamos que, se pisam em nosso calo devemos
revidar. Outra frase muito usada é: "Não gosto de briga,
mas, se tiver que entrar numa é para ganhar". Nos,
esquecemos que em uma guerra ambas as partes saem
perdendo.
Os conflitos sempre existirão, mas, é possível
evitar que o conflito transforme-se em uma batalha, há
um ditado muito antigo que diz: "Quando um não quer,
dois não brigam", mas, geralmente, não fazemos todos os
esforços suficientes para evitar as querelas. Não foi
apenas o sábio Salomão que deu tal conselho, o apóstolo
Paulo também nos orienta na mesma linha em Filipenses
4:5: "Seja a amabilidade de vocês conhecida por todos.
Perto está o Senhor"(NVI). A expressão traduzida pela
NVI por amabilidade é na verdade um termo que
significa, agir com misericórdia mesmo quando se tem
todos os direitos a exigir. Em outras palavras, Paulo nos
ensina a abrir mão dos nossos direitos em muitas
ocasiões, tal qual o fez o maior de todos os exemplos
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para nós, como ele descreve nesta mesma carta no
capítulo 2:5-8. Aquele que era sobre todos, Maior que
todos, fez-se servo. Tudo que Jesus fez foi para nos dar
sua graça e a vida eterna, mas, também deu-nos o maior
exemplo de humildade. Aquele que ensinou que os
humildes serão exaltados.
Talvez possa parecer que a minha defesa seja a de
que sejamos sempre conformistas ou reacionários, de
forma alguma, a Palavra de Deus nos ensina que o
verdadeiro amor deve lutar contra as injustiças (I Co.
13:6), por outro lado, também diz que o amor está
disposto a sofrer (I Co. 13:7). O que devemos aprender é
que em muitas ocasiões não necessitamos e nem
devemos lutar com unhas e dentes para termos sempre a
razão, pois, em muitas ocasiões podemos sair
"vencedores" em disputas ao preço de perdermos coisas
muito mais valiosas. Podemos chegar em casa e pensar,
hoje estou de alma lavada, quando na verdade podemos
ter ferido alguém, ganhar uma disputa e perder uma
amizade jamais compensará, mesmo que não seja uma
amizade íntima.
Exemplo de guerras inúteis são as redes sociais,
que têm se tornado palco de debates ferrenhos e
86
discussões acirradas, onde nem todos têm maturidade
para divergirem opiniões sem levar para o lado pessoal:
"Magoei, não quero mais você no rol de amigos!".
A arte da bufofagia é muito importante para
evitar-se quebras-de-braços inúteis, guerras infindas,
amizades desfeitas, feridas e rancores, como dizia a
música "Superman" (Fruto Sagrado): "Às vezes eu
machuco, às vezes me machuco, explodindo por fora,
explodindo por dentro, mas, eu tô aprendendo..."
Precisamos aprender sempre.
Obviamente, engolir sapos não é muito agradável,
mas, é uma prática, até uma arte compensadora e muito
benéfica, ao contrário do que muitos pensam, não é um
sinal de fraqueza, antes, é de muita força e sabedoria. A
princípio o bufófago pode parecer ter sido derrotado,
quando na verdade é um vitorioso, tal prática evita dores,
rancores, desamores, e, em casos extremos, como nas
brigas de trânsito pode ser a diferença entre a vida e a
morte.
*bufos= nome científico do sapo cururu, fagia=
alimentar-se de, engolir.
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NUM SÁBADO
Hoje o dia não nasceu, a escuridão ainda é maior que
ontem, a Luz sob pedras aprisionada, por medo e
desânimo, incrédulas as ovelhas seguem escondidas,
"nosso Pastor se foi".
A Luz que esmaeceu, voltará a brilhar?
Aquelas mãos que curaram voltarão a se levantar?
As turbas voltaram para o seu cotidiano, os ramos
estendidos havia dias já se secaram, assim como o
sangue que escorreu pela via.
Os amigos choravam sua partida
O governador seguia lavando as mãos
O sinédrio reunido em seu dia sagrado celebrava a
vingança
O sol nasceu como antes
Seu sagrado corpo no sepulcro jazia
Seu coração seguia amando
Seu Pai esperava
O chão inerte
O túmulo fechado
O véu rasgado
A Luz escondida
O dia de celebração veio a tornar-se o dia de dor
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UMA PARÁBOLA
O TREM
Havia uma multidão enorme, quase todos
aguardavam alguma resposta. Para onde iriam? O que
deveriam esperar? Que futuro lhes aguardava? Alguns
momentos são cruciais em nossas vidas, muitos são
decisivos. Alguns estavam angustiados, outros
esperançosos, e, ainda outros, completamente
indiferentes. De repente todos os olhos se dirigiram à
mesma direção ao ouvir o apito do trem.
Muito tempo antes uma locomotiva havia passado
por aquela estação e todos ali haviam ouvido as palavras
do Maquinista: "No tempo certo, o trem virá com vagões
para levá-los, mas é preciso estar preparado e em
condições de entrar nele. Nenhum de vocês tem a mínima
condição de comprar um bilhete, mas não se preocupem,
as passagens já foram pagas, meu filho pagou por elas.
Para aguardar o trem vocês deverão usar estas vestes
vermelhas que ele lhes oferece gratuitamente".
Uma parte daquela multidão nem deu ouvidos ao
maquinista, estes o ignoraram completamente, afirmavam
90
que suas palavras para nada serviam, eram tolas e
desnecessárias, era o grupo dos indiferentes, e
continuaram despidos, tentando proteger-se do frio com
farrapos rotos e sujos, feitos por eles mesmos. Os demais
receberam as roupas, logo após ouvirem do maquinista:
"Quando o trem chegar, todos deverão estar com estas
vestes, ninguém poderá usar outras vestes ou modificar
estas, pois isto é o mesmo que desprezá-las."
Dentre aqueles que deram ouvidos às palavras do
Maquinista, alguns vestiram logo as vestes que mudaram
do vermelho para uma outra cor luminosa, que
resplandecia amor e bons sentimentos, estes ficaram
muito felizes, pois estavam com elas bem protegidos do
frio, do calor, da chuva, dos ventos, da poeira e de tudo
que lhes pudesse enfermar, diziam alegremente aos
demais que as roupas eram lindas, muito confortáveis e
justas.
As demais vestes ficaram aguardando que os
outros as vestissem, e aos poucos todos foram vestindo as
suas. Contudo, alguns diziam que as roupas estavam
muito folgadas, eles não gostavam assim, queriam algo
mais apertado e eles mesmos tinham condições de
modificá-las, haviam esquecido, ou ignoraram
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completamente as palavras do Maquinista. Ao modificar
as vestes, estes passaram a usar uma roupa estranha, de
uma cor árida, feia, que exalava ódio, rancor e outros
maus sentimentos. O primeiro grupo tentou dissuadi-los
de tal loucura. Em vão. O grupo que modificou as vestes
acreditava que não bastava receber gratuitamente as
roupas, era necessário fazer modificações importantes
nelas, até para torná-los merecedores da viagem.
Ainda um último grupo quis usar as vestes, mas
ao olhar para elas nos corpos do último grupo, julgaram
ser extremamente apertadas e de uma cor feia e triste. O
primeiro grupo que vestiu e sentiu-se feliz e confortável
dizia a eles: "Vocês estão enganados, as roupas são
confortáveis e perfeitas, o problema é que vocês só
olham para aqueles que as modificaram, as tornaram
áridas, apertadas e odiosas. Por que não experimentam
vestir as originais?"
Mas, não havia nada que lhes convencesse,
estavam determinados a rejeitar as vestes e ainda diziam
que tais roupas não lhes permitia viver a liberdade que
tanto sonharam, conquistaram e da qual jamais abririam
mão, afinal o Maquinista, era extremamente amoroso e
paciente, por isso iria entender sua decisão. Assim, este
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outro grupo rejeitou as vestes e fez para si roupas
extremamente largas e coloridas. "Nada daquela
monocromática veste apertada que os tolos usam!"
O período entre a promessa do Maquinista e a
chegada do trem foi longo para muitos, para alguns,
como o primeiro grupo dos indiferentes, não, pois não
esperavam nada mesmo. Durante este período, o grupo
que aceitou e vestiu as vestes/passagens originais sempre
tentou comunicar aos demais a alegria de vesti-las, mas
os demais grupos não lhe davam crédito, alguns os
zombavam. Enquanto isso, os demais grupos, o das
vestes áridas e apertadas, o das vestes largas e coloridas e
os despidos se digladiavam em acusações: "Imorais!",
"Intolerantes!", "Lunáticos!".
Algumas batalhas produziram mortes, inimizades
e feridas eternas. Em meio ao caos, todos sofreram,
inclusive o grupo que vestiu as roupas originais, ainda
que buscasse a paz.
De repente todos os olhos se dirigiram à mesma
direção ao ouvir o apito do trem. Alguns sorriam, outros
arregalaram os olhos de preocupação, outros continuaram
indiferentes, pois a estação era seu mundo, era seu lar,
outros fizeram dele seu lar, pois apesar do pandemônio
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que aquele local se transformara, para eles era a terra da
liberdade.
Quando o trem parou todos notaram que não
havia muitos vagões, não eram suficientes para todos,
mesmo excluindo-se os indiferentes que não
embarcariam ainda que lhes chamassem. Ao se abrirem
as portas os funcionários do trem convidaram para o
embarque: "Todos os que, atentaram para as palavras do
Maquinista e vestiram as suas vestes originais de amor e,
com amor e humildade receberam as vestes/passagens,
embarquem imediatamente!"
Ao final do embarque o trem ficou
completamente lotado. Os demais, que ainda sonhavam
embarcar, já desesperando, gritavam: "E nós?" O
condutor do trem então, colocou-se na porta principal e
disse: "Aqueles que modificaram as vestes por achá-las
muito largas, não poderão embarcar, não aceitaram o
presente maravilhoso que lhes foi concedido e tentaram
comprar as passagens com seu esforço, faltou-lhes amor
e humildade. Aqueles que rejeitaram as vestes por
pensarem ser elas apertadas e tristes, e amaram mais a
liberdade libertina que o maravilhoso presente que lhes
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foi concedido com amor, também não poderão
embarcar!"
O trem apitou novamente e começou a andar,
alguém da multidão dos que ficaram gritou: "E nós?"
Ainda houve tempo de ouvirem a resposta: "Esta estação
será desativada muito em breve, por isso outro trem vem
logo atrás para levar a todos." "Então nos veremos em
breve?" Gritou alguém da estação dos rejeitados, ao que
uma voz respondeu do trem:
"NÃO, OS DOIS TRENS TÊM DESTINOS
DIFERENTES."
NUM DOMINGO
Hoje bilhões de estrelas, supernovas ou explosões de
trilhões de ogivas nucleares não seriam suficientes para
ofuscar o dia que nasceu, a escuridão se foi, mais rápido
que um relâmpago e sua Luz brilhou
extraordinariamente, a pedra rolou para que Maria
visse,
para que Pedro sorrisse, para Tomés acreditarem, as
ovelhas ainda escondidas, receberam-no Glorioso, as
leis
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da física não mais o detinham, sonhavam? "nosso Pastor
voltou?"
A Luz que esmaeceu, voltou a brilhar!
Aquelas mãos que curaram voltaram a abençoar!
As turbas, em seu rígido cotidiano, ignorara, os ramos
não mais se estenderam.
Os amigos que choraram sua partida agora sorriam.
O governador seguia lavando as mãos.
E o sinédrio, em desespero, seguiu o governador, mas,
"molhando" as mãos dos soldados. Sua vingança não
poderia ter falhado. "seu corpo foi roubado".
Mentira atroz que ainda repercute. Mas, a Verdade não
se discute.
A morte morreu, quando seu sagrado corpo levantou-se.
Seu coração seguia amando
Seu Pai decretara
O túmulo aberto e vazio ficara
O véu rasgado
O acesso liberado
A Luz poderosamente brilhou
E novo dia Chegou!
... o silêncio foi quebrado, por miríades de vozes seu
nome foi exaltado!
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BIBLIOGRAFIA
BERKHOF, Louis. Teologia Sistemática/ Louis Berkhof;
trad. por Odayr Olivetti. Campinas: Luz Para o Caminho,
1990.
Institutas da Religião Cristã, Livro II, Capítulo 8, seções
28-33.Disponível no site:
https://resistireconstruir.wordpress.com/oquartomandame
nto-joao-calvino.
HEDRIKSEN, William. Comentario al nuevo
testamento: Efesios. Grand Rapids-MI (EUA): Libros
Desafío, 1984
___________________ Comentario al nuevo
testamento: Filipenses. Grand Rapids-MI (EUA):
Libros Desafío, 2006.
STOTT, John. A cruz de Cristo. São Paulo: Editora Vida,
2006.
WIERSBE, Warren W. Comentário Bíblico Expositivo :
Antigo Testamento : volume I, Pentateuco / Warren W.
Wiersbe ; traduzido
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