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Textos e artigos produzidos no âmbito da Unidade Local de Análise de Imprensa In Other Words, Janeiro 2013
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POR OUTRAS PALAVRAS Janeiro 2013
IN OTHER WORDS é um projecto financiado com o apoio da Comissão Europeia. A informação contida nesta publicação (comunicação)
vincula exclusivamente o autor, não sendo a Comissão responsável pela utilização que dela possa ser feita.
Textos e artigos produzidos no âmbito da
Unidade Local de Análise de Imprensa
Visita ao parceiro da Estónia, Tallinn University
Página 2 POR OUTRAS PALAVRAS
in other words cesso de monitorização e aná-
lise dos media; todos estes
boletins estão disponíveis on
line a partir da página de
internet do projecto: http://
www.inotherwords-
project.eu/ e os 17 boletins
Iinformativos Portugueses
POR OUTRAS PALAVRAS
também estão disponíveis em
http://issuu.com/ieba.
Foram ainda publicadas 5
newsletters Europeias, sobre:
1. desconstrução de estereóti-
pos;
2. Roma & Sinti;
3. LGBT;
4. Islamofobia e
5. Migrantes.
Estas newsletters integram
informação temática comple-
mentar e uma selecção de
análises de notícias produzi-
da pelos vários parceiros; são
editadas em Inglês e estão
disponíveis on line em:
http://www.inotherwords-
project.eu/?q=node/155.
Foi editada uma publicação
final do projecto, em Inglês,
intitulada “Grassroot Antidis-
criminatio - The Role of Civil
Society in Media Monitoring
Policies”. Este livro integra os
seguintes conteúdos:
1. construção de estereótipos
e exemplos para a sua des-
construção, incluindo os
métodos e as práticas de
monitorização desenvolvidas
nos 6 países da parceria e os
principais resultados obti-
dos;
2. abordagem teórica e empí-
rica relativa à grelha de aná-
lise para monitorização dos
media;
3. análise dos aspectos pro-
blemáticos da comunicação
dos media, incluindo orienta-
ções para uma e comunica-
ção jornalística efectiva e
com diversidade e
4. uma análise detalhada
sobre a criação e gestão de
unidades locais de análise de
imprensa;
5. os anexos incluem referên-
cias bibliográficas, termino-
logia relevante, glossário de
termos pejorativos, incluindo
uma tabela com os termos
nas 6 línguas do projecto.
Esta publicação está acessí-
v e l o n l i n e e m
http://issuu.com/ieba e
também no website do projec-
to.
O projecto IN OTHER
WORDS Web Observatory
and Review, for Discrimina-
tion Alerts and Stereotypes
Deconstruction visou chamar
a atenção para o papel e rea-
lidade dos media na Europa,
para a presença de discursos
discriminatórios e estereoti-
pados, de vários tipos, nas
notícias que difundem, que
criam representações sociais
erróneas e podem influenciar
comportamentos intoleran-
tes.
Este projecto desenvolveu
uma metodologia e imple-
mentou uma acção piloto que
procurou reduzir o impacto
de notícias discriminatórias
e estereotipadas, produzidas
pelos media. Para isso,
foram constituídas 7 Unida-
des Locais de Análise de
Imprensa, em 6 países Euro-
peus (Espanha, Estónia,
França, Itália, Portugal e
Roménia), cuja tarefa foi a
monitorização da imprensa
local e nacional, por um
período de 15 meses, entre
Novembro de 2011 e Janeiro
de 2013.
Cada Unidade Local de Aná-
lise Imprensa publicou men-
salmente boletins informati-
vos, com o resultado do pro-
Página 3 POR OUTRAS PALAVRAS
por outras palavras
cial, cumprindo a sua função
informativa, de forma objectiva
e inclusiva, contribuindo para a
formação de uma opinião públi-
ca informada e com capacidade
crítica, bem como para a adop-
ção de boas práticas de escrita
jornalística. Após a análise das
notícias, a ULAI seleccionava as
consideradas mais relevantes,
para integrarem o boletim infor-
mativo POR OUTRAS PALA-
VAS do respectivo mês.
Entre 1 de Janeiro e 31 de
Dezembro de 2012, foram anali-
sadas 149 notícias dos 10 jornais
monitorizados, categorizadas de
acordo com o tipo de discurso
discriminatório que continham:
45 - estereótipos, 39 xenofobia,
12 - racismo, 12 - LGBTfobia, 9 -
discriminação de género, 8 -
ciganofobia, 8 - Dia internacio-
nal da Mulher, 7 - intolerância
religiosa, 6 - outros, 2 - orienta-
ção sexual, 1 - nacionalismo.
Foram publicados 12 boletins
POR OUTRAS PALAVAS men-
sais e 5 temáticos, sobre 1. Ciga-
nofobia, 2. Deficiência, 3. Imi-
grantes; 4. Género e 5. LGBTfo-
bia, que são acessíveis no sítio
da Internet do projecto, tam-
bém a partir da página do Face-
b o o k , e m : h t t p : / /
w w w . f a c e b o o k . c o m /
PorOutrasPalavras e na prate-
leira de publicações on line do
IEBA, em http://issuu.com/
ieba.
A presente publicação integra
uma compilação de textos,
apresentações, artigos e outros
produzidos no âmbito da ULAI
e dos eventos organizados pelo
projecto, destacando-se a apre-
sentação de todas as entidades
da ULAI, a apresentação de
Maria João Silveirinha feita no
Colóquio de 28 de Maio de
2012, organizado no CES Cen-
tro de Estudos Sociais e os arti-
gos de Diana Andringa, Carla
Cerqueira e Rita Basílio, apre-
sentados no seminário final do
projecto, realizado em 14 de
Janeiro de 2013, na Faculdade
de Economia da Universidade
de Coimbra.
Em Portugal foi consti-
tuída uma Unidade
Local de Análise de
Imprensa (ULAI), da
qual fazem parte as
seguintes entidades:
IEBA (parceiro portu-
guês do projecto),
APAV - GAV de Coim-
bra, APPACDM de
Coimbra, GRAAL,
NÃO TE PRIVES e
SOS RACISMO.
As reuniões da ULAI
decorreram na Casa de
Chá da APPACDM, no Jardim
da Sereia, em Coimbra, de for-
ma aberta e pública, podendo
qualquer pessoa ou entidade
interessada participar nestas
reuniões. Durante o ano de
2012, a ULAI reuniu mensal-
mente para analisar a selecção
de notícias dos jornais monito-
rizados em Portugal: 3 regio-
nais: Campeão das Províncias,
Diário As Beiras e Diário de
Coimbra e 7 de referência e
âmbito nacional: Diário de
Notícias, Jornal i, Jornal de
Notícias, O Expresso, O Públi-
co, Primeiro de Janeiro e Sol.
A análise das notícias pela
ULAI constitui-se como um
processo participado, de debate,
reflexão e desconstrução, iden-
tificando os discursos (conteúdo
escritos) e os elementos (as
imagens) discriminatórios e/ou
estereotipados, dos mais varia-
dos tipos. Complementarmente,
a ULAI apresentou propostas,
sugestões e recomendações, de
modo a que as notícias se cen-
trassem na informação essen-
Visita ao parceiro da Estónia, Tallinn University
Página 4 POR OUTRAS PALAVRAS
ieba elevar a qualificação das pes-
soas através do planeamento,
organização, execução e avalia-
ção de ações de formação profis-
sional.
- Promover o emprego, através
do aconselhamento profissional
e apoiando a procura ativa de
emprego.
Áreas de Atuação:
Formação Profissional: melho-
rar as competências, elevar os
níveis de qualificação dos recur-
sos humanos;
Emprego: facilitar o encontro
entre a procura e a oferta de
emprego e apoiar a procura ati-
va de emprego;
Inclusão Social: favorecer a
inclusão social de grupos sociais
desfavorecidos;
Igualdade de Género e de Opor-
tunidades: contribuir para a
igualdade de entre homens e
mulheres e combater todas as
formas de discriminação.
Animação e Divulgação: contri-
buir para a animação sócio-
cultural, divulgar o território e
os produtos locais.
Empreendedorismo: aumentar o
espírito empreendedor, apoiar a
criação de empresas e o auto-
emprego.
Desporto: promover estilos de
vida saudável, o bem-estar, a
qualidade de vida e a prática de
actividades desportivas.
TIC: tornar acessíveis, aprovei-
tar as potencialidades, formar e
disseminar a utilização das TIC.
Qualificação das organizações:
intervenções de melhoria e capa-
citação organizacional, realiza-
das em empresas e em entida-
des da economia social, através
de processos e formação e con-
sultoria.
Qualidade: desenvolver proces-
sos de certificação de qualidade
nas empresas e em organiza-
ções da Economia Social.
Competitividade e Produtivida-
de: elaborar candidaturas a sis-
temas de incentivo ao investi-
mento e à criação de emprego.
Mobilidade Europeia: organiza-
ção de intercâmbios europeus
para profissionais da formação
e para pessoas no mercado de
trabalho.
Internacionalização: apoiar pro-
cessos de internacionalização,
através da organização de mis-
sões e do estabelecimento de
parcerias.
Projectos mais recentes:
NACIONAIS
Q3 Qualificar o 3º Sector III
Ser ou Não Ser Igual III
Plano Anual de Formação
Programa Formação PME
Corpo São, Mente Sã
EUROPEUS
INSIGHT
http://www.insight-training.eu/
CRISTAL
http://cristalgrundtvig.wordpress.com
Q3.eu
www.q3-eu.info
VALIDAID
http://www.validaid.eu
O IEBA Centro de Iniciati-
vas Empresariais e Sociais
(www.ieba.org.pt) é uma asso-
ciação de desenvolvimento
local, com sede no concelho de
Mortágua, na região Centro de
Portugal, que foi criada em 27
de Dezembro de 1994.
Esta associação foi criada por
um conjunto de pessoas e de
entidades do meio local, com-
prometidas com a promoção do
desenvolvimento do seu territó-
rio, das pessoas e das organiza-
ções.
De acordo com os seus estatu-
tos, o IEBA tem por objetivo
“(...) o desenvolvimento da sua
área de intervenção, nomeada-
mente através de apoio técnico e
promoção das atividades econó-
micas, culturais e sociais, dos
recursos humanos, do ensino e
formação profissional, bem
como a criação e gestão de
empresas (...). “
Objetivos Estratégicos:
- Conceber, gerir e participar
em projetos e atividades de
âmbito Europeu, nacional,
regional e local, que contri-
buam para o desenvolvimento
do território, das pessoas e das
organizações.
- Informar e prestar serviços
técnicos especializados às
empresas, entidades da econo-
mia social, autarquias e a
empreendedores/as.
- Melhorar as competências e
Página 5 POR OUTRAS PALAVRAS
apav - gav coimbra Em Portugal, e apesar da legis-
lação penal e processual penal
conferirem à vítima um estatuto
e direitos ímpares, não existia,
na ocasião, qualquer organiza-
ção para apoiar as vítimas de
crime e os seus familiares e/ou
amigos.
Assim, em 25 de Junho de 1990,
por iniciativa de um grupo de 27
associados fundadores, foi cria-
da a Associação Portuguesa de
Apoio à Vítima, com sede em
Lisboa.
O Gabinete de Apoio à Vítima
de Coimbra (GAV-Coimbra) sur-
ge em 1994, num momento ain-
da inicial da vida da APAV.
Sendo a APAV uma organização
cujo objectivo é apoiar todas as
vítimas de crime era, no entan-
to, previsível que os crimes con-
tra as pessoas, e em particular
os crimes de violência doméstica
(conjugal, contra idosos e crian-
ças), tivessem um maior relevo
nos pedidos de ajuda dirigidos
aos gabinetes locais.
E, de facto, assim tem sido ao
longo dos anos: como demons-
tram as mais recentes estatísti-
cas nacionais da APAV relativa-
mente ao ano de 2011, 85% dos
apelos dirigidos à APAV refe-
rem-se a crimes de violência
doméstica (em sentido lato, ou
seja, incluindo outros crimes em
contacto doméstico, além do cri-
me de violência doméstica do
art. 152º do Código Penal).
O GAV-Coimbra não escapa a
esta evidência, e também nas
estatísticas de 2011, tal como
tem vindo a suceder no passado,
verificamos 91% de pedidos de
apoio relativamente a crimes de
violência doméstica. Natural-
mente tornou-se imperativo,
desde o surgimento da APAV,
dar uma especial atenção a
estes crimes, tendo sido desen-
volvido projectos específicos
nesta área, como o Projecto
Alcipe, do qual resultou um
manual de boas práticas
(disponível online).
Desde então a APAV tem vindo
a desenvolver e colaborar em
projectos e campanhas em
diversas áreas.
Destacamos os projectos reali-
zados relativamente à violência
contra as crianças e jovens,
(Projecto Core, Projecto Musas,
Projecto Iuno, APAV 4D, Projec-
to “Corta com a violência”) e a
violência contra pessoas idosas
(Projecto Títono).
Salienta-se também a campa-
nha de sensibilização e infor-
mação sobre a violência domés-
tica entre pessoas do mesmo
sexo, bem como o Projecto
Caronte – apoio a familiares e
amigos de vítimas de homicídio,
entre muitos outros projectos e
campanhas e o Projecto Unise-
xo – prevenção da violência
sexual no ensino superior, sen-
do que este último, com finan-
ciamento do POPH, se encontra
a ser dinamizado no GAV-
Coimbra até Agosto de 2013.
A APAV Associação Portu-
guesa de Apoio à Vítima
(www.apav.pt) é uma institui-
ção particular de solidariedade
social, pessoa colectiva de utili-
dade pública, assente no volun-
tariado social, que tem como
objectivo estatutário promover
e contribuir para a informação,
protecção e apoio aos cidadãos
vítimas de infracções penais.
É missão primeira da APAV
apoiar as vítimas de crime,
suas famílias e amigos, pres-
tando-lhes serviços de qualida-
de, gratuitos e confidenciais e
contribuir para o aperfeiçoa-
mento das políticas públicas,
sociais e privadas centradas no
estatuto da vítima.
Na APAV as vítimas podem
encontrar o apoio emocional,
prático, jurídico, social e psico-
lógico que necessitam para
ultrapassar as consequências
da vitimação.
No início dos anos 80 alguns
países começaram a debater a
problemática da vítima de cri-
me, nomeadamente, qual o
lugar da vítima no direito penal
de cada país, a organização dos
serviços de apoio às vítimas, e
quais as questões éticas e pro-
blemáticas específicas das víti-
mas.
Visita ao parceiro da Estónia, Tallinn University
Página 6 POR OUTRAS PALAVRAS
appacdm - coimbra área. Neste sentido, a
APPACDM de Coimbra tem
como repostas sociais o Colégio
de Santa Maria, o Centro de
Recursos para a Inclusão, o Cen-
tro de Atividades Ocupacionais,
a Formação Profissional, os
Lares Residenciais, o Apoio
Domiciliário e um Centro de
Medicina Física e de Reabilita-
ção. Para além disto, possui ain-
da empresas de economia social
nas áreas de Jardinagem, Lava-
gem-auto, Recolha de óleos usa-
dos, Lavandaria, Hotel Quinta
da Fonte Quente, Jardinagem,
Produtos de Artesanato e/ou
culinária e uma Casa de Chá
situada no Jardim da Sereia, em
Coimbra. Tendo como mote a
missão: criar condições para que
cada pessoa com deficiência
mental (ou em situação de
exclusão), possa atingir a sua
plenitude como ser humano e
social, potenciando a sua indivi-
dualidade e consolidando a sua
participação efetiva na socieda-
de, a APPACDM de Coimbra
orgulha-se também de ter obtido
a 21 de Dezembro de 2010 a cer-
tificação EQUASS Assurance,
para todas as suas respostas
sociais. Sendo, desta forma, a
primeira instituição do distrito
de Coimbra a obter uma Certi-
ficação de Qualidade, funda-
mentada nos Princípios
EQUASS e a primeira
APPACDM do País.
Remoto o seu início ao ano de
1969, mas apenas constituída
em 2000 como Instituição autó-
noma, a APPACDM de Coim-
bra (www.appacdmcoimbra.pt)
é uma das mais importantes e
reconhecidas Instituições de
apoio ao cidadão com deficiên-
cia mental, quer na sua envol-
vente, quer a nível nacional.
Atualmente, a APPACDM de
Coimbra cobre os concelhos de
Coimbra, Arganil, Montemor-o-
Velho e Cantanhede, podendo
ainda prestar apoio a indiví-
duos ou famílias de outros con-
celhos.
Ao longo dos anos a Associação
foi-se desenvolvendo, procuran-
do criar respostas adaptadas às
diferentes necessidades, que ao
longo do ciclo de vida as pes-
soas portadoras de deficiência
mental e suas famílias vão sen-
tindo em sintonia com a pró-
pria evolução de conceitos e
modelos de intervenção nesta
Página 7 POR OUTRAS PALAVRAS
graal - coimbra Ao longo destes mais de 50 anos
de experiência na dinamização e
organização de iniciativas, o
Graal tem procurado proporcio-
nar à sociedade portuguesa, e
em particular às mulheres, con-
dições de valorização e educação
permanente que conduzam ao
desenvolvimento de competên-
cias de análise crítica e de mobi-
lização para uma intervenção
transformadora.
Nos últimos anos, os Centros da
Golegã, do Terraço/Lisboa e em
Coimbra têm promovido progra-
mas e projetos que visam a
igualdade de oportunidades
entre as mulheres e os homens,
a conciliação da vida profissio-
nal com outras esferas de vida, o
reforço do papel das mulheres
na liderança e tomada de deci-
são, a luta contra todas as dis-
criminações, a educação para a
vivência multicultural e para a
cidadania planetária, a reflexão
sobre o desenvolvimento e a coo-
peração com países africanos de
língua oficial portuguesa.
O Graal procura responder aos
desafios que resultam de uma
sociedade em processo de globa-
lização em que as diferenças
sociais tendem a ser acentua-
das. Para isso, propõe o reforço
da intervenção, proporcionando
à sociedade portuguesa, e em
particular às mulheres, contex-
tos que promovam o seu poten-
cial transformador e o seu senti-
do de responsabilidade, nos
quais está sempre presente a
dimensão de sensibilização e
conscientização. Também a for-
mação de adultos é transversal
na atuação do Graal, recorrendo
a princípios metodológicos que
estimulem a capacidade de ini-
ciativa e de intervenção na
sociedade.
As principais áreas de ação são:
• A igualdade de oportunidades
entre as mulheres e os homens;
• A conciliação da vida profis-
sional com outras esferas da
vida;
• A diversidade e o diálogo
intercultural e inter-religioso;
• A intervenção comunitária e a
construção de relações de soli-
dariedade;
• A educação para o desenvolvi-
mento;
• A cooperação com países afri-
canos de língua portuguesa.
O Graal, a nível internacional,
tem assento no Conselho Eco-
nómico e Social da Organização
das Nações Unidas e é membro
da UFER – Movimento Inter-
nacional pela União Fraterna
entre Raças e Povos.
Enquanto associação, o Graal
em Portugal tem representação
na Secção das Organizações
Não-Governamentais do Conse-
lho Consultivo da Comissão
para a Cidadania e Igualdade
de Género. Está registado como
O r g a n i z a ç ã o N ã o -
Governamental para o Desen-
volvimento no Instituto Portu-
guês de Apoio ao Desenvolvi-
mento, I. P. do Ministério dos
Negócios Estrangeiros. E é ain-
da acreditado como Entidade
Formadora pela Direção de Ser-
viços de Qualidade e Acredita-
ção da Direção Geral do Empre-
go e das Relações do Trabalho
do Ministério do Trabalho e da
Solidariedade Social.
O GRAAL (www.graal.org.pt)
é um movimento internacional
de mulheres motivadas pela
procura espiritual e empenha-
das na transformação do mun-
do numa comunidade global de
justiça e paz, conforme o senti-
do simbólico da lenda que deu
origem ao nome do movimento.
É uma corrente de ideias e ini-
ciativas partilhada por mulhe-
res de diversas gerações e cul-
turas, que unem os seus talen-
tos numa rede que amplia a
capacidade para “mudar a
vida”, respondendo aos sinais
dos tempos e à realidade de
cada lugar.
Este movimento começou na
Holanda, em 1921, com um
grupo de estudantes cristãs que
acreditaram ser necessário tor-
nar visível e operacional a pre-
sença das mulheres na socieda-
de. Espalhou-se pelos cinco con-
tinentes, cresceu em diversida-
de e em experiência multicultu-
ral e está, atualmente, ativo em
17 países em todos os continen-
te.
O movimento chegou a Portu-
gal, e a Coimbra, em 1957, com
Maria de Lourdes Pintasilgo e
Teresa Santa Clara Gomes.
Desde então muito aconteceu.
O Graal constituiu-se como
Associação de Caráter Social e
Cultural em 1977, reconhecida
como Pessoa Coletiva de Utili-
dade Pública em 1985.
Visita ao parceiro da Estónia, Tallinn University
Página 8 POR OUTRAS PALAVRAS
não te prives tância ou voluntariado – o fun-
damental é acreditar que se
pode fazer a diferença, mesmo
que de grão em grão. A diversi-
dade de iniciativas e públicos
abrangidos por estas temáticas
demonstrou a importância de
trabalhar sobre género e sexua-
lidade de forma séria e pedagó-
gica, mas sem cedências ao
(hetero)sexismo.
Coimbra hoje é uma cidade bem
diferente de há 10 anos atrás, e
é com muito orgulho e redobrado
sentido de responsabilidade que
assumimos o nosso contributo
para tornar esta cidade mais
inclusiva para todas as pessoas.
Ao longo da última década,
desenvolvemos um conjunto de
actividades na cidade. Entre
estas destaca-se a parceria com
a Campanha Fazer Ondas, que
trouxe a Portugal o barco das
Women on Waves em 2004, e a
co-realização das Marchas con-
tra a Homofobia e Transfobia
em Coimbra desde 2010. Em 10
anos juntámos centenas de pes-
soas em debates que aproxima-
ram a academia dos movimentos
sociais e da sociedade civil. Em
10 anos organizámos lançamen-
tos de livros, realizámos ciclos
de cinema e campanhas, fizemos
sessões em escolas secundárias
e instituições de ensino supe-
rior. Em 10 anos produzimos
material informativo sobre
igualdade, justiça e cidadania.
Em 10 anos estivemos nas ruas,
em protesto, em celebração ou a
distribuir material preventivo
de ISTs.
O nosso ponto de partida é 2002.
Estamos ainda muito longe do
ponto de chegada, mas quere-
mos prosseguir a caminhada,
com a participação de quem se
indigna contra a discriminação.
Até porque uma sociedade mais
justa é aquela em que todas/os
caminhamos iguais em dignida-
de, expectativas e direitos.
A 14 de fevereiro de 2012, Dia
dos Namorados e das Namora-
das, a associação NÃO TE
PRIVES – Grupo de Defesa
d o s D i r e i t o s S e x u a i s
(http://naoteprives.org/) cele-
brou 10 anos de existência em
Coimbra.
A NTP é uma associação de
pessoas voluntárias a trabalhar
na área dos direitos humanos,
com dois eixos principais. Por
um lado, investe no fortaleci-
mento dos direitos das mulhe-
res e na afirmação de novas
masculinidades, desconstruin-
do estereótipos de género e pro-
movendo a igualdade de opor-
tunidades entre mulheres e
homens. Por outro lado, traba-
lha em prol dos direitos de lés-
bicas, gays, bissexuais e trans-
género (LGBT), combatendo
todas as formas de discrimina-
ção legal, política, cultural e
social com base na orientação
sexual e na identidade de géne-
ro. Para assinalar uma década
de trabalho, a NTP preparou 10
dias de actividades, desde a
exposição “10 Anos a Mudar
Coimbra” e a Festa Fora do
Armário com a Plataforma Anti
Transfobia e Homofobia, pas-
sando por debates e sessões em
escolas sobre género e feminis-
mo, acções de rua, leituras de
poesia e prosa homo/erótica e
sessões de contos infantis inclu-
sivos ‘De Pequenin@ Se Torce a
Discriminação’, e culminando
num jantar com sorteio de um
Cabaz de Direitos Sexuais.
Chamemos-lhe activismo, mili-
Página 9 POR OUTRAS PALAVRAS
sos racismo e xenófoba;
- Estabelecemos uma acção con-
certada, com as diversas asso-
ciações de direitos humanos, de
imigrantes e anti-racistas;
- Alertamos para que os imi-
grantes e minorias étnicas
conheçam e reivindiquem os
seus direitos.
Por isso, privilegiamos as
seguintes áreas de intervenção:
- Na área da educação participa-
mos em projectos educativos
relativos à problemática do
racismo e da xenofobia promo-
vendo a interculturalidade,
nomeadamente através de for-
mações, workshops e debates em
Escolas.
- O trabalho jurídico foi adqui-
rindo ao longo dos anos enorme
importância na associação dada
a necessidade manifestada pelas
comunidades imigrantes e mino-
rias étnicas que a nós recorrem.
Qualquer pessoa pode contactar-
nos telefonicamente, ou então
através de carta ou e-mail,
pedindo informações, ou infor-
mando-nos, por exemplo, de
situações de racismo de que
tenham conhecimento.
- Tomamos posições públicas
contra todos os actos racistas ou
que promovam o racismo, quer
por parte dos diversos poderes
instituídos, quer por parte dos
órgãos de comunicação social.
- Desenvolvemos acções concre-
tas para promover os direitos
humanos, quer através da apre-
sentação de propostas, tendo em
vista a inclusão sócio-económica
das minorias étnicas em Portu-
gal, quer pela contestação e pela
alteração de leis, relativas a
estrangeiros, que se revestem de
teor racista e xenófobo.
- A participação em debates,
colóquios, campanhas de infor-
mação e esclarecimento é tam-
bém uma das formas de actua-
ção que privilegiamos na cons-
trução da sociedade que defen-
demos.
- Os projectos nacionais e inter-
nacionais em que o SOS
RACISMO participa permitem
à associação realizar acções
concretas como actividades em
conjunto com as comunidades,
eventos culturais, edição de
publicações e participação em
programas de formação.
- Mantemos ainda um vasto
centro de documentação na
sede de Lisboa com os princi-
pais livros publicados por nós
ou por outros sobre as temáti-
cas em que trabalhamos, bem
como o arquivo de imprensa,
aberto a qualquer pessoa que o
deseje consultar.
Sobretudo na área de Lisboa,
desenvolvemos intervenção
comunitária, trabalhando direc-
tamente com a população local
de alguns bairros, promovendo
a inserção escolar e social das
crianças, dos jovens e dos fami-
liares dos residentes, promo-
vendo e/ou integrando projectos
que visam a educação para a
igualdade entre todos os cida-
dãos e cidadãs e ao combate aos
O S O S R A C I S M O
(http://sosracis.wordpress.co)
existe desde 1990 e propõe uma
sociedade mais justa, igualitá-
ria e intercultural onde todos,
nacionais e estrangeiros, com
qualquer tom de pele, possam
usufruir dos mesmos direitos
de cidadania. Constituímos
uma associação sem fins lucra-
tivos, tendo-nos sido atribuído o
estatuto de utilidade pública
em 1996. Esforçamo-nos no
sentido de colaborar com outras
associações anti-racistas e de
imigrantes a nível nacional.
O SOS RACISMO desenvolve,
igualmente, actividades e
acções em conjunto com outras
associações de países europeus,
estando actualmente activa-
mente envolvido numa rede
anti-racista europeia, em con-
junto com vários países da
Europa. Para isso:
- Cooperamos na criação de
uma política concreta de inser-
ção das minorias étnicas na
sociedade portuguesa;
- Lutamos pela concepção de
um quadro jurídico-legal sus-
ceptível de punir eficazmente
comportamentos racistas e
xenófobos;
- Agimos no sentido da cons-
ciencialização e responsabiliza-
ção das autoridades e popula-
ção portuguesa face à proble-
mática da discriminação racial
Visita ao parceiro da Estónia, Tallinn University
Página 10 POR OUTRAS PALAVRAS
o projeto in other words
pelos olhos e pela reflexão de uma estagiária
tes de divulgação dos processos
de formação discursiva da opi-
nião e da vontade. “São eles que
permitem estender e sistemati-
zar as micro-comunicações quo-
tidianas do mundo vivido e, des-
sa forma, preservar os espaços
públicos das tendências coloni-
zadoras dos sistemas económi-
cos e político, mantendo a sua
autonomia” (Silveirinha, 2004:
229). No entanto, os discursos
construídos pelos media não
constituem, de modo algum, a
totalidade dos elementos que
contribuem para a construção
da realidade mas unicamente
uma parte dela.
A discriminação é um comporta-
mento ou convicção que tem
usualmente na base preconcei-
tos, sem fundamentos e, a maior
parte das vezes, inconscientes.
Podemos, assim, referir alguns
tipos de discriminação, tais
como, o racismo/xenofobia, ciga-
nofobia, LGBTfobia, discrimina-
ção de género, discriminação das
pessoas com deficiência. São
estes os principais tipos de dis-
criminação que foram encontra-
dos no escrutínio a que vários
meios de comunicação foram
submetidos ao longo de todo o
projeto In Other Words.
Durante o meu período de está-
gio no IEBA, no âmbito deste
projeto, fui desempenhando
várias tarefas, tais como, a cola-
boração na organização, redação
e publicação dos cinco boletins
informativos temáticos sobre os
tipos de discriminação já men-
cionados anteriormente; partici-
pação nas reuniões da Unidade
Local de Análise de Imprensa;
participação em colóquios, semi-
nários, conferências e formações
realizados no âmbito do projeto
ou que contribuam para a sua
divulgação e disseminação; ela-
boração de entrevistas e inquéri-
tos; monitorização de notícias
nos jornais regionais (As Bei-
ras, Diário de Coimbra, Cam-
peão das Províncias).
Em todos os jornais monitoriza-
dos (os três regionais e os 7 de
referência nacionais: Expresso,
Diário de Notícias, Jornal de
Notícias, Sol, Público, O Pri-
meiro de Janeiro e o Jornal i)
foram encontradas várias notí-
cias que continham discursos
discriminatórios, acabando
assim por me aperceber da rea-
lidade da comunicação social.
Posto isto, refiro que fiquei per-
plexa quando me apercebi
melhor da situação, talvez por-
que nunca tinha tido a noção de
que através da imprensa escri-
ta se praticassem atos de dis-
criminação, de forma tão siste-
mática. Posso afirmar que,
antes de conhecer e trabalhar
no projeto, nunca tinha dado
conta da incidência destes atos
que agora percebi que são dis-
criminatórios e inaceitáveis.
Em suma, posso enunciar que
ao longo deste tempo ainda não
houve uma mudança no sentido
de a comunicação social se
empenhar em disseminar
representações sociais que res-
peitem a diversidade e as dife-
renças de forma não discrimi-
natória. As práticas registadas
nos media pela análise não aju-
dam à necessária mudança de
mentalidades. Assim sendo, e
na minha opinião, seria impor-
tante, para combater a discri-
minação, que os media dessem
o devido valor ao projeto para
que dessa forma conseguísse-
mos diminuir a discriminação,
dada a importância dos media
no reforço e vulgarização de
estereótipos.
Soraia Correia
Aluna de Mestrado
em Sociologia,
na Faculdade de Economia
da Universidade de Coimbra
Enquanto
aluna de
mestrado
em Socio-
logia pela
Faculda-
de de
Economia
da Uni-
versidade
de Coim-
bra integrei um estágio curricu-
lar de quatro meses (Outubro
de 2012 a Janeiro de 2013) no
IEBA – Centro de Iniciativas
Empresariais e Sociais.
Após a escolha do local de está-
gio, a etapa seguinte foi selecio-
nar o projeto, dentro daqueles
em desenvolvimento no IEBA,
adequado a um estágio no
âmbito da Sociologia. O projeto
In Other Words – Por Outras
Palavras chamou-me desde
logo a atenção, pelos seus obje-
tivos e temática, uma vez que
esta é passível de um vasto
leque de abordagens sociológi-
cas.
O projeto In Other Words tem
como objetivo chamar a atenção
para o papel e para a realidade
dos media na Europa, tentando
perceber de que forma estes
incutem comportamentos into-
lerantes e como, pelo contrário,
podem contribuir positivamen-
te para combater a discrimina-
ção, a intolerância e fomentar a
diversidade cultural. Assim
sendo, para combater a discri-
minação o projeto recomenda
aos media a utilização de uma
linguagem positiva, objetiva e
intercultural, reduzindo deste
modo o impacto da comunica-
ção pública com mensagens
incorretas que são frequente-
mente difundidas pelos mes-
mos.
Os media são uma forma de
acesso ao espaço público mas,
além disso, são potenciais agen-
Página 11 POR OUTRAS PALAVRAS
ulai - resultados 10 Jornais de referência, nacionais e regionais, foram monitorizados e, mensalmente, são
identificadas as notícias consideradas mais problemáticas.
12 Reuniões mensais da ULAI, para debater as notícias identificadas como mais problemáticas, consensualizar a análise e o comentário crítico e seleccionar as que vão integrar o Boletim
Informativo; é também feita uma validação do Boletim a publicar. Campeão das Províncias; 1 Diário As Beiras; 3
Diário de Coimbra; 17
Diário de Notícias; 41
Expresso; 6
Jornal de Notícias; 27
Jornal I; 7
Primeiro de Janeiro; 10
Público; 28
Sol; 9
Distribuição das 149 notícias analisadas pela ULAI, entre Janeiro e Dezembro de 2012, pelos 10 jornais monitorizados
Estereótipos; 45
Xenofobia; 39Racismo; 12
Ciganofobia; 8
LGBTfobia; 12
Discriminação de género; 9
Orientação sexual; 2
Dia Internacional da Mulher; 8
Nacionalismo; 1
Intolerância religiosa; 7 Outros; 6
Distribuição das 149 notícias analisadas pela ULAI, entre Janeiro e Dezembro de 2012, por categorias de conteúdos
Mulheres; 34
Vítimas; 14
LGBT; 18
Imigrantes; 35
Estrangeiros; 13
Pessoas com deficiência; 10
Ciganos; 6Outros; 9
Muçulmanos; 7
Não especificado; 3
Distribuição das 149 notícias analisadas pela ULAI, entre Janeiro e
Dezembro de 2012, por grupos visados
Eventos
Sessão pública de apresentaçãodo projecto e da ULAICasa de Chá - 13/01/2012
Colóquio Media e (Não)DiscriminaçãoCES - 28/05/2012
Seminário Por Outras Palavras, nos MediaFEUC – 14/01/2013
17 Boletins Informativos12 Mensais
entre Fevereiro e Dezembro de 2012
5 TemáticosCiganofobia,
Deficiência Imigrantes
GéneroLGBTfobia
Disponíveis em:
http://issuu.com/ieba
Visita ao parceiro da Estónia, Tallinn University
Página 12 POR OUTRAS PALAVRAS
Não Te Prives: “Este projecto
revelou-se um sucesso a vários
níveis, alguns deles mais inespe-
rados que outros. Desde logo, a
possibilidade rara de colocar em
diálogo regular, e sem pressa,
várias organizações da socieda-
de civil, todas empenhadas em
lutas pelos direitos humanos,
mas que nem sempre encontram
espaço ou tempo para construir
conjuntamente massa crítica.
Não se tratou de trabalho pon-
tual para a organização de um
evento ou de uma manifestação,
mas sim a troca de ideias, a dis-
ponibilidade para aprendiza-
gens mútuas, para criar pontes
e traduções entre aquilo que nos
move individualmente, para
consolidar solidariedade. O
método foi excelente, porque
permitiu apoiar a discussão
numa digestão prévia dos mate-
riais, facilitada pelo excelente
profissionalismo e impressio-
nante capacidade reflectiva da
Ana Rita Alves. As mentoras do
projecto em Portugal (IEBA)
também desempenharam um
papel fundamental, identifican-
do interlocutores/as, criando
todas as condições, gerando um
ambiente sério e simultanea-
mente estimulante. O que fun-
cionou pior foi o envolvimento
de jornalistas e a nossa incapa-
cidade em dar maior visibilidade
aos boletins. Com exceção dos 2
momentos de colóquio – iniciati-
vas da maior importância – cor-
remos o risco de ter estado a tra-
balhar para nós, a falar para
convertidos/as. Não temos res-
postas sobre como evitar isso
mesmo, mas acredito que este
terá sido um primeiro passo
importante no sentido de apro-
ximar e sensibilizar públicos
novos.”
SOS Racismo: “Tratou-se de
uma iniciativa muito enrique-
cedora, em que foi possível con-
jugar experiências pessoais
diversificadas e entidades asso-
ciativas com modos diferentes
de olhar a realidade social,
embora convergentes numa
ação continuada contra as dis-
criminações. A metodologia
aplicada foi eficaz e proveitosa
porque permitiu articular mui-
to bem o trabalho organizativo
e dinamizador das técnicas do
IEBA, sobretudo da Carla
Duarte e da Patrícia Silva, a
ação exigente de pesquisa e
promotora de debate aberto da
Rita e os contributos esclareci-
dos de todos e todas os/as par-
ceiros/as. O tipo de análise rea-
lizado e os resultados elabora-
dos, sem se enredarem em pro-
cedimentos demasiado formais,
mostraram que a reflexão críti-
ca e o empenhamento cívico se
alimentam mutuamente.”
Questionámos as entidades
da ULAI sobre o balanço
que fazem do projecto In
Other Words, designada-
mente, da metodologia apli-
cada e do tipo de análise
que tem sido elaborada.
Eis as respostas das 5 entida-
des que integram ULAI - Uni-
dade Local de Análise de
Imprensa.
A P A V - G A V C o i m b r a :
“Considero que o balanço do
projecto é muito positivo. A
metodologia aplicada permite
uma discussão aberta e abran-
gente sobre as várias temáti-
cas, o cruzamento de informa-
ções e novos olhares gerados
pelas sinergias criadas entre os
vários participantes.”
APPACDM Coimbra: “Em
primeiro lugar achamos que o
projeto em si é muito inovador
e que deverá ter uma continui-
dade quer em Coimbra como
deveria ser disseminado por
outras cidades do país. No que
diz respeito à metodologia utili-
zada pareceu-nos muito inte-
ressante e produtiva, uma vez
que atempadamente todos os
parceiros tinham acesso às
notícias selecionadas e as eram
reuniões bastante participadas
por todos.”
GRAAL: “Consideramos que
este projecto teve uma metodo-
logia adequada baseada na
análise crítica partilhada por
especialistas de várias áreas. O
convite a organizações que tra-
balham no terreno com as pes-
soas traz uma visão realista.”
ulai - balanço do projecto
Visita ao parceiro da Estónia, Tallinn University
Página 14 POR OUTRAS PALAVRAS
“o mundo a preto e branco”
O mundo
a preto e branco
Representações
e os suspeitos
do costume
Maria João Silveirinha
Faculdade de Letras, UC
Colóquio Media e (Não)Discriminação
CES, 28 de Maio de 2012
3
4
Jan van Eyck,
1434
5
27 Fevereiro 2011
6 de 44
Media: os suspeitos do costume
Porquê?
(Re)apresentam-nos
Constituem as nossas identidades
Constituem o espaço público
Têm efeitos
Compreensão: Uma abordagem holística
6
Página 15 POR OUTRAS PALAVRAS
“o mundo a preto e branco”
Instituições: Meio,
objetivo, forma,
género, tom.
Regulação: Direito
Audiências
• audiências-alvo
• descodificação
Media Seleção e produção de
significados, linguagem,
códigos técnicos,
culturais, narrativos
Sociedade
Esferas: individual,
social, cultural,
económica, politica
acontecimentosEconomia
políticaEspaço
público
Agendas
Tecnologia
SignificadoIdentidades
(representações)
Representação
A produção cultural
do significado
9 de 44
O Circuito da cultura
Os significados são produzidos em várias instâncias e circulam por vários processos e práticas diferentes.
Importa: como um artefacto cultural é representado, que identidades sociais lhe estão associados, como é produzido e consumido, e quais os mecanismos que regulam a sua distribuição e uso.
The Circuit of Culture (Du Gay et al., 1997)
Representação: 3 perspetivas
ReflexoQuando representamos alguma coisa, estamos a dar o seu verdadeiro significado, tentando criar uma réplica na mente do nosso público - como um espelho
IntencionalRepresentamos a nossa versão
Construcionista
"The work of representation" (Hall, 1997).
10 de 45
11 de 44
Construcionista
Qualquer representação é uma mistura de:
A coisa em si (reflexo)
As opiniões de quem faz a representação (intencional)
A reação do individuo/grupo à representação.
O contexto da sociedade.
12 de 44
A construção do significado: princípios
Realidade e identidades são construções sociais.
Códigos culturais criam identidades para emissor e recetor.
As crenças são baseadas em perceções da realidade.
A sociedade é marcada por lutas pelo poder (também discursivo).
Visita ao parceiro da Estónia, Tallinn University
Página 16 POR OUTRAS PALAVRAS
“o mundo a preto e branco”
13 de 4413
Poder e representação
O poder não é apenas político, físico
Também pode ser produzido pela comunicação
Quem fala - e quem não fala
Quem decide como as coisas, pessoas e acontecimentos são descritos ou representados
Ou seja, como o mundo é representado
Saber/Poder
14 de 4414
Estudos culturais e dos media
As imagens dos media não capturam (apenas) alguma distinção categórica pré-existente
Elas criam (ou, pelo menos, reforçam) as próprias distinções
Representações — visuais e linguísticas de comunicação – existem em interceção.
Poder e representação
CulturaCultura
representação Identidade
Poder
15 de 4415
Representação como constitutiva
Identidade M/F
A identidade não pré-existe à sua nomeação
Não é uma categoria natural, cientifica, ou biológica
Não é um facto do mundo objetivo
Só é uma categoria porque a criamos discursivamente à luz de padrões e de outras criações discursivas como a ‘normalidade’ e os ‘papéis naturais’.
16 de 44
Realidade e significado
A sociedade produz o significado.
Importa: como esses significados são construídos, como constituem e são uma perceção da realidade, não a realidade em si.
Para entender uma cultura, devemos entender como eles definem a realidade.
Múltiplos lugares discursivos
17 de 44
Ex: Acrónimos
PIGS (PIIGS)
GIPSY)
18 de 44
Lutas pelo poder discursivo
Autoridade: moldar a forma como uma
sociedade define o significado.
Relações de poder: formação do que é
"certo“; definir os sem-poder como "o Outro“
– (des)igualdade.
Lutas anti-essencialistas: lutas pela afirmação
da diferença
O poder de contestar, de (re)definir
Página 17 POR OUTRAS PALAVRAS
“o mundo a preto e branco”
19 de 4419
Essencialismo e diferença
Linguística estrutural: diferença é essencial ao significado
Só podemos entender "quente" por contraste com seu oposto, "frio“
("quente" = "não frio")
A diferença entre dois conceitos é o que constitui o seu significado
Comunicamos estabelecendo fronteiras Nós-Outros.
20 de 4420
Códigos, tipos e classificação
Tipos: classificações gerais e necessárias Ligam ou distribuem as pessoas / coisas / eventos
segundo esquemas classificatórios gerais onde, de acordo com a nossa cultura, eles se encaixam.
Categorização, classificação e gradação parecem mesmo inevitáveis- inatas?- Traços humanos.
21 de 44
A estranheza da diferença
21
22 de 44
A ‘naturalização’ da diferença
Cultura mediática reproduz incansavelmente as relações entre grupos dominantes e subordinados.
Apagar a diferença e tornar as representações sexistas, de classe, racistas e coloniais parecerem naturais.
Importa: tornar visíveis as ideias sobre género, raça, classe, sexualidade e ‘normalidade que se mascaram como autoritárias e fixas.
22
23 de 4423
Tipos tornam-se estereótipos quando:
Reduzem
Redução aos traços simples e vívidos
Exageram
Amplificam ou caricaturizam
Simplificam
Características da individualidade são obscurecidas
“Fixam”: não reconhecem a mudança societária
24 de 4424
Problema dos binários
Redutores
O mundo não é (apenas) preto e branco
Muitas zonas de cinzento
Todas as distinções são apagadas
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Página 18 POR OUTRAS PALAVRAS
“o mundo a preto e branco”
Visões do Outro
A nossa visão do mundo: os nossos códigos culturais
Os que entendemos que não partilham dos nossos significados: “O Outro”
Incomunicação e preconceito
Culture of Origin
Close Other
Distant Other
Nós
Outro próximo
Outro distante
25 de 45
26 de 44
Epistemologia crítica
A ideologia funciona tornando as ligações entre símbolos, referentes e ideias parecerem naturais, inevitáveis ou permanentes.
“Senso comum": torna as ideias socialmente consensuais parecem tão óbvias e naturais - de senso comum - que ninguém questiona a sua origem ou implicações.
27 de 4427
Representação nos media: as suspeitas
Estereótipos
Invisibilidade
O ‘outro’ como problema
Outro = objeto, não sujeito
Assimilacionismo
O mundo a preto e branco
28 de 45
“"Que impacto ver a minha foto na primeira página do
próprio jornal! Revolta-me descobrir a utilização de fotos
sem minha aprovação ou um aviso", Twitter, Março 2012
O mundo a preto e branco
29 de 45
30
Página 19 POR OUTRAS PALAVRAS
“o mundo a preto e branco”
31 de 44
Media e economia política da
diferença
Diferença não é apenas cultural: tem associadas diferenças materiais e de distribuição.
Recusar o domínio do simbólico sobre o material.
Políticas de reconhecimento da diferença incorporando questões de justiça distributiva
Fraser, N. (2003) “Recognition or Redistribution”.
31
32 de 44
Comunicação e Justiça Comunicativa
Garantia material de que o espaço públicoé inclusivo.
Internamente: igualdade no acesso à tomadade decisão
Externamente: Igualdade no acesso àrepresentação justa e igual - Regulação
32
Regulação
Alguns exemplos deregulação externa
34 de 45
35 de 45
36 de 45
Visita ao parceiro da Estónia, Tallinn University
Página 20 POR OUTRAS PALAVRAS
“o mundo a preto e branco”
37 de 45
38 de 45
39 de 45
A concluir
Por um mundo mediático justo (e a cores)
41 de 44
Os suspeitos do costume
É tentador isolar e exagerar o papel dos media como as instituições-chave onde originam e se mantêm os discursos dominantes. Mas ...!.
Um modelo dos media como mera transmissão de informações é indevidamente simplificador.
O/a " jornalista", como "sujeito", é constituído pelo discurso e opera dentro dos seus parâmetros conceptuais.
No entanto, jornalismo é poder: aparelhos e técnicas institucionais intimamente ligados no complicado nexus poder/saber.
43 de 44
Suspeitos, mas não só:
Os media são uma parte indissociável da comunicação comum, baseada no reconhecimento do valor mútuo das vidas que quotidianamente narramos.
SUGESTÕES DE LEITURA
Fürsich, Elfriede (2010) “Media and the representation of Others”, Unesco, [Online]
Siapera, Eugenia (2010), Cultural Diversity and Global Media. The Mediation of Difference, Blackwell
Ross, Susan D e Paul Martin Lester (2011) Images that injure: pictorial stereotypes in the media, Praeger
43
Visita ao parceiro da Estónia, Tallinn University
Página 22 POR OUTRAS PALAVRAS
“preconceito e rotina no olhar dos media”
Diana Andringa
Jornalista
Embora nem sempre os que trabalham nos órgãos, nomea-
damente os jornalistas, vejam com bons olhos que, por
uma vez, sejam eles os escrutinados, entendo que o exercí-
cio da crítica sobre os media é benéfica para todos, media,
jornalistas e público e que todas as iniciativas de análise
da produção dos media podem permitir que esses façam
melhor o seu trabalho, indispensável à vida colectiva. E
digo “façam melhor o seu trabalho” porque não creio que
haja, por parte dos media, uma “agenda oculta” que tenha
por fim fomentar a discriminação e o estereótipos. Creio, sim, que falta muitas vezes a necessária
reflexão crítica sobre o seu próprio trabalho e até, por vezes, a humildade de reconhecer os erros
cometidos.
Muitos poderão ainda ter presente o caso do pseudo-arrastão de Junho de 2005, quando diversos
órgãos de Comunicação Social anunciaram que cerca de quinhentos jovens dos bairros da periferia de
Lisboa tinham cometido um gigantesco roubo organizado na praia de Carcavelos. A maior parte deles
baseou-se nas mesmas fontes: o gerente de um bar que tinha alertado a polícia ao ver a presença de
muitos jovens negros na praia, e um responsável policial no local, onde acorrera alertado pela mesma
pessoa. A reforçar a crença dos jornalistas, fotografias tiradas também pelo mesmo cidadão, que lhes
atribuiu um significado que veio a verificar-se incorrecto – mas que correspondia aos preconceitos dos
jornalistas.
Graças, em primeiro lugar, ao jornalista Nuno Guedes, do extinto jornal A Capital, e também ao
Superintendente da PSP de Lisboa, que corrigiu a primeira versão policial e também a um vídeo
colectivo em que tive o prazer de participar, veio a demonstrar-se que as notícias sobre um arrastão
em Carcavelos tinham sido um tremendo erro mediático, que os jovens negros que, a partir das foto-
grafias, tinham sido descritos como ladrões fugindo com o seu saque, fugiam de facto da violência
policial com os seus haveres. Mas o curioso é que os grandes órgãos de Comunicação Socil não acha-
ram necessário corrigir o seu erro. Ainda em 2005, a realizadora francesa Véronique Berthonneau
entrevistou, para o programa La télévision des Portugais, os responsáveis da Informação da TVI e da
RTP, sobre o caso do pseudo-arrastão de Carcavelos.
Segundo o então diretor da TVI, “é possível que tenha havido exageros, algum excesso, aqui na TVI, na
RTP, na SIC. Eu prefiro que se cometam exageros a que se faça Censura. Portanto, temos de correr
esse risco. Não é uma questão de sensacionalismo, é uma questão de fluidez de informação, de veloci-
dade, de vontade de mostrar rapidamente a verdade sobre o que se passa.” O então diretor de Informa-
ção da RTP, por sua vez, explicou que “é muitas vezes a tentação da informação, de cobrir a informa-
ção muito em cima, sem preparação, na realidade de uma forma muito superficial. Isso não é jornalis-
mo. Assumimos o nosso erro. De facto analisámos a situação de forma muito excessiva, com a cumpli-
cidade da polícia, que depois se quis desculpar com as televisões, o que é um pouco ridículo, mas come-
temos todos esse erro, vimos essa realidade, mas compreendemo-la mal.” Ambos explicaram não fazer
parte dos hábitos corrigir a informação dada. Aiás, no artigo “O arrastão de Carcavelos como onda
noticiosa”, Gonçalo Rosa relata que “no dia 29 de Julho de 2005, mais de mês e meio depois do inci-
dente de Carcavelos, o jornal Meios e Publicidade publicou uma sondagem a editores, coordenadores,
chefes de redação e diretores de órgãos de comunicação social nacionais. Mais de metade dos inquiri-
Página 23 POR OUTRAS PALAVRAS
“preconceito e rotina no olhar dos media”
dos (53%) defendeu então que os jornalistas não foram manipulados no caso do “arrastão”, traduzindo
a ideia bem enraizada de que, se obedecer a normas profissionais aceites pela maioria da comunidade,
a prática jornalística é auto-avaliada com mérito. [ Sublinha ainda aquilo a que considerou ] a resis-
tência dos jornalistas a escutar imigrantes ou descendentes de migrantes que, de alguma forma,
pudessem rebater as acusações que lhes estavam a ser imputadas e, sobretudo, generalizadas”. (Rosa,
2011: 133, 127-128) (1)
Essa diferença de tratamento entre fontes fora já salientada por João Carlos Correia, no artigo
“Regresso ao arrastão de Lisboa”: “(...) há um claro défice de diversidade: todas as entrevistas dizem
respeito a criminalistas, advogados, polícias, especialistas em segurança, autarcas, preocupados com o
turismo, e comerciantes, preocupados com o negócio. Não há, por exemplo, entrevistas com membros
das Associações dos bairros problemáticos de onde provinham os jovens que participam no assal-
to.” (Correia, 2006:10) (2)
Não admira, assim, que dois e três anos depois das notícias sobre o pseudo-arrastão, as televisões con-
tinuem a incorrer em erros semelhantes. Em Março de 2007, dizendo-se “completamente impressiona-
da com o grau de racismo manifestado pela jornalista” uma espectadora protestou contra uma repor-
tagem de 18 de Março de 2007 sobre a Quinta da Fonte, perguntando se “um bairro é de risco por ter
africanos e ciganos” e se “já pensaram que (...) é uma expressão criada nas redações e não nas ruas”.
E, a finalizar, comenta: “Depois da barraca do "arrastão" pensei que os jornalistas tivessem a preocu-
pação em investigar em vez de "criar".” Em 2008, é um engenheiro florestal morador em Santarém
que se indigna ao ouvir, na RTP, uma referência ao “arrastão”, dizendo: “ (...) já é mais do que prova-
do que aquele arrastão foi uma invenção dos média, habilidosamente aproveitado em termos políticos.
Não abona a favor do rigor jornalístico dos serviços noticiários da RTP que volta a insistir na tese do
arrastão da praia de Carcavelos, sem benefício nenhum para a peça jornalística (sobre os atos de vio-
lência em Loures), cuja única relação aparente é de se tratar de cidadãos Portugueses de origem afri-
cana.”
O caso do pseudo-arrastão de Carcavelos pode ser em parte explicado por ter apanhado as redacções
de surpresa. Mas, infelizmente, não é a surpresa a única explicação para a manutenção de estereóti-
pos. Analisando a forma como a RTP cobriu, em 2007, a campanha para o referendo sobre a IVG,
verificaremos a repetição da tendência para as fontes oficiais, a exclusão de determinadas categorias
de entrevistados, a utilização, como neutra, de uma linguagem carregada de significado.
Em 1979, no decurso de uma reportagem sobre a questão do aborto – que viria a não ser emitida –
uma das minhas entrevistadas, membro da organização católica Graal, contou-me ter-se confrontado,
num “bairro de lata” de Lisboa, com a curiosa ambiguidade de mulheres que se afirmavam contra o
“aborto”, mas revelavam ter feito “desmanchos”. Segundo ela, “desmancho” corresponderia ao aborto
clandestino a que muitas mulheres se viam forçadas, enquanto que “aborto” era a palavra usada pela
Igreja Católica na sua atitude de condenação. A ser assim, o termo “interrupção voluntária de gravi-
dez” permitiria afastar a noção de pecado de uma decisão que se pretendia ver julgada, sobretudo, em
termos de saúde pública.
A palavra “desmancho” não foi nunca utilizada no Telejornal ao longo do mês em que o acompanhei.
Sublinhando, aliás, outra das características da informação produzida: a ausência de vozes de pessoas
pertencentes às classes mais desfavorecidas e de mulheres mais idosas, para quem o “desmancho” foi,
muitas vezes, a única solução contra gravidezes sucessivas, impossíveis de suportar por razões econó-
micas e/ou de relação familiar.
A utilização da palavra “aborto” foi, aliás, um tema bastante focado nas mensagens ao Provedor do
Telespectador, nos dias anteriores ao referendo. Em 21 mensagens relativas à votação de 11 de feve-
Visita ao parceiro da Estónia, Tallinn University
Página 24 POR OUTRAS PALAVRAS
“preconceito e rotina no olhar dos media”
reiro de 2007, seis referem a utilização repetida da palavra, em vez da expressão constante da per-
gunta a que os cidadãos seriam chamados a responder: interrupção voluntária de gravidez.
Verifiquei a ocorrência dos dois termos nas legendas que acompanham as notícias e reportagens
relativas ao referendo sobre a despenalização da IVG, nos textos de lançamento – normalmente refe-
ridos na RTP por “pivots” – nos textos-off (“offs”) das notícias e nas intervenções de protagonistas
das notícias (vivos):
Utilização das expressões “aborto” ou “interrupção voluntária da gravidez”
Verifica-se assim que, apesar de os jornalistas deverem ter em conta o contexto em que usam as pala-
vras e o facto de estas nunca serem “neutras”, os apresentadores do Telejornal usam mais vezes o ter-
mo “aborto”, de conotação negativa, do que os entrevistados, muitos dos quais interessados em anate-
mizar a expressão “interrupção voluntária de gravidez”, considerada mais “neutra”.
Bakhtine, no entanto, torna bem claro que não há palavras neutra: “ Na língua não resta nenhuma
palavra nem nenhuma forma neutras (...) Cada palavra tem a marca do contexto e dos contextos em
que viveu a sua vida social intensa; todas as palavras e todas as formas são habitadas por inten-
ções.” ( in Todorov, 1981) (3)
“Aborto” ou “interrupção voluntária de gravidez” não podem, pois, ser usadas como sinónimos, já que,
embora ambas se refiram ao processo de pôr fim a uma gravidez, as suas conotações são diferentes. A
sua utilização não corresponde, fatalmente, a uma escolha ideológica deliberada do jornalista, sequer
da RTP, mas isso não impede que transmita ideologia. Como recorda Fowler, os valores estão já ins-
critos na linguagem, independentemente do jornalista e do público (2003:19-20). (4) Ou seja, citando
Berger & Luckman, a linguagem “concretiza um mundo, no sentido de o apreender e de o produ-
zir.” (1999:160) (5)
Mas não são apenas as palavras que transmite valores. A escolha de quem as diz, de quem ocupa o
lugar da fala, são também reveladores. Ora um dado imediatamente visível é que, embora a IVG se
passe no corpo da mulher, o número de homens ouvidos é muito superior ao de mulheres ouvidas: 149
contra 84.
Dividindo depois os diferentes intervenientes em 5 categorias – políticos, movimentos, médicos, igre-
ja, outros – verifica-se que numa só categoria (outros) as mulheres estão em maioria: 15 contra 13. A
maior disparidade é nos políticos – 56 contra 12 – refletindo a ausência de paridade nas estruturas
político-partidárias. A representação dos movimentos mostra-se bastante mais equilibrada: 45 inter-
venientes do género masculino, 42 do feminino. Curiosa é a predominância de intervenientes de géne-
ro masculino numa profissão cuja feminização se vem acentuando: a médica.(6)
Já não seria surpreendente que entre as vozes da igreja católica predominassem os homens – 16 con-
tra 3 – visto serem os que formam a sua hierarquia. Mas nem só de hierarquia se compõe uma igreja,
e um desequilíbrio de 16 para 3 não permite que os espectadores se apercebam do que, sobre a ques-
tão da IVG, pensam as mulheres católicas, confrontadas com as proibições pontifícias não apenas em
relação ao aborto, mas também às práticas contraceptivas de maior eficácia.
Utilização “aborto” “interrupção voluntária da gravidez”
Legenda 89 3
“Pivots” 114 18
“Offs” 120 36
Vivos 152 29
Total 457 86
Página 25 POR OUTRAS PALAVRAS
“preconceito e rotina no olhar dos media”
Vemos assim que, tal como no caso do pseudo-arrastão há vozes – a dos jovens portugueses de origem
africana – que não são escutadas, no caso da IVG também a voz das mulheres é menos audível que a
dos homens, ainda que o tema lhes diga directamente respeito. Parece, assim, não ser excessivo con-
cluir que, num caso como noutro, a cobertura noticiosa tendeu a discriminar aquelas partes da popu-
lação já normalmente discriminadas – ou seja, que o jornalismo, que usa assumir-se como contra-
poder, funcionou, no caso de minorias étnicas e da componente feminina da população, como um
amplificador da voz dos poderes, reforçando a marginalização de sectores já de si marginalizados da
população.
***
Referências bibliográficas:
(1) Rosa, G. (2011). O ‘arrastão’ de Carcavelos como onda noticiosa. Análise Social, XLVI(198), 115-135. Obtido
de http://www.scielo.oces.mctes.pt/pdf/aso/n198/n198a05.pdf
(2) Correia, J. C. (2006). Regresso ao arrastão de Lisboa: algumas reflexões sobre epistemologia do jornalismo.
In Telejornalismo: a Nova Praça Pública (pp. 193-219). Florianópolis: Brasil Insular. Obtido de http://
www.bocc.ubi.pt/pag/correia-joao-regresso-ao-arrastao-lisboa.pdf
(3) Todorov, T. (1981). Mikhaïl Bakhtine: le principe dialogique suivi de Écrits du Cercle de Bakhtine. Seuil: Col-
lection Poétique.
(4) Fowler, R. (2003). Language in the news - Discourse and Ideology in the Press. London and New York:
Routledge.
(5) Berger, P., & Luckmann, T. (1999). A construção Social da Realidade. Lisboa: Dinalivro.
(6) Em Janeiro de 2001, segundo a Ordem dos Médicos, havia em Portugal 34 460 médicos inscritos, 15 117
(43%) do sexo feminino e 19 343 (57%) do sexo masculino. A proporção alterava-se nos grupos etários
mais baixos: abaixo dos 45 anos, seriam já 56% de sexo feminino e 45% (? sic) de sexo masculino. Abaixo
dos 35 anos a diferença era ainda maior: 62% de médicas, 38 % de médicos. E um estudo levado a cabo
em 2003 apontava para uma percentagem de 69% de estudantes de sexo feminino em Medicina. Mas
essa presença das mulheres na Medicina Portuguesa não impede que, a falar da IVG no Telejornal hou-
vesse uma predominância do sexo masculino: 19 médicos contra apenas 12 médicas.
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Página 26 POR OUTRAS PALAVRAS
“mulheres e feminismos na imprensa:
continuidades e metamorfoses”
Carla Cerqueira
Investigadora do Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade
da Universidade do Minho
Um dos grandes desafios colocados ao movimento feminis-
ta na década de 1960 foi perceber o poder que os meios de
comunicação tinham na construção de identidades, isto é,
como agentes de produção das representações e práticas
que definem o género (e.g. Betterton, 1987; Silveirinha,
2004; van Zoonen, 1994). Desde essa altura até à atualida-
de têm sido realizados diversos estudos, em diferentes con-
textos e com metodologias diversificadas, para compreen-
der de que forma é que as mulheres e os feminismos são representados pelos media e que impactos
sociais é que essas representações têm.
No domínio mediático, o jornalismo, enquanto campo legitimado da esfera pública e local de debate de
várias temáticas, assume um papel preponderante na (re)construção das representações simbólicas
de género. Neste sentido, ao analisar os conteúdos jornalísticos é fundamental ter em consideração as
complexidades inerentes aos processos que envolvem a (re)construção dos discursos e as suas ineren-
tes configurações de sentido, as quais se encontram imbuídas numa intrincada teia de constrangi-
mentos internos (rotinas profissionais, questões editoriais e pressões económicas/concorrenciais) e
externos (estruturas societais enraizadas). Portanto, as produções jornalísticas não estão desligadas
do mundo material, muito pelo contrário, uma vez que as representações jornalísticas vão assumir
um papel crucial na (re)construção de um imaginário coletivo, e portanto na criação de significados
sobre o que é ou o que deve ser e fazer uma mulher e um homem na sociedade como se deve relacio-
nar com o mundo envolvente. Aliás, é de notar que, apesar de ter um potencial de resistência e por
isso de desconstrução das representações assimétricas persistentes, diversos estudos apontam para o
facto de o jornalismo continuar a ser uma prática genderizada (e.g. Álvares, 2006; Byerly & Ross,
2006; Carter & Steiner, 2004; Cerqueira, 2012; Gallagher, 2006; Gallego, 2009; Ross, 2009; Silveiri-
nha, 2006).
Os discursos que reproduzem simbolicamente a manutenção da ordem social vigente (Hall et al, 1999:
229) continuam a ser predominantes, mas começa a revelar-se cada vez com mais incidência o poten-
cial transgressor de algumas representações, embora ainda de forma muito ténue. Num estudo que
realizámos sobre a cobertura jornalística da efeméride do Dia Internacional da Mulher em Portugal
(de 1975 a 2007) verificámos que a existência de um tratamento noticioso mais episódico e menos
substantivo, ou seja, com pouco aprofundamentos das temáticas que giram em torno das mulheres, da
(des)igualdade de género e dos feminismos. As fontes oficiais continuam a ser predominantes e as
organizações da sociedade civil nem sempre conseguem ter voz nas notícias. Além disso, é de referir
uma visão polarizada presente na imprensa, em que as mulheres ou são apresentadas como vítimas
da sua fatalidade ou são seres excecionais que conseguiram triunfar num mundo dominado por
homens. Neste sentido, as mulheres que passam de objetos a sujeitos fazem-no segundo moldes asso-
ciados ao masculino, o que revela que a maior parte das mulheres continua a ser excluída dos espaços
de representação social e política. Além disso, há a destacar que o modelo de mulher parece ser indis-
sociável da noção de corpo feminino, isto é, continua a verificar-se uma valorização dos aspetos estéti-
cos. Além disso, o tipo de cobertura que é feita revela que as questões de género fazem parte do dis-
curso público, mas parece contribuir para a ideia que as lutas a travar já não têm grande expressão (a
efeméride passa de reivindicação a evento meramente simbólico). No que concerne aos feminismos,
estes acabam por ter pouca expressão nas narrativas, como se as conquistas e as lutas fossem desco-
Página 27 POR OUTRAS PALAVRAS
ladas desse movimento social.
Portanto, sucintamente, pode referir-se que, apesar de predominantes, as representações estereotipa-
das do feminino coexistem com representações que invertem os papéis tradicionais de género, susci-
tando uma ambivalência entre discurso dominante e discurso de resistência, sendo esta muito mais
visível nas narrativas recentes, as quais aparecem frequentemente mascaradas pelo socialmente cor-
reto (Cerqueira, 2012). De realçar que quando um discurso não critica ou questiona o dominante aca-
ba por reproduzi-lo e por isso, legitimá-lo, em maior ou menor grau. Concordamos com Bach et al
(2000) quando menciona que alguns artigos dão a impressão que são escritos apenas para cumprir o
socialmente estabelecido e não para tornar a informação mais plural, criando aquilo que pode ser
definido por uma “equality illusion” (Banyard, 2010: 12). É nos meandros destes discursos contraditó-
rios que se faz a cobertura jornalística, o que nos leva a falar de algumas metamorfoses, mas de
várias continuidades.
Apraz-nos, portanto, referir que os discursos jornalísticos acabam por transmitir aquilo que são os
“novos sexismos” (e.g. Amâncio, 2001; Cabecinhas, 2007; Gill, 2007; Rojo & Gallego, 1997). Isto signi-
fica que se verificam alterações nas narrativas veiculadas, mas estas apenas acontecem na superfície,
uma vez que às mulheres continua a não ser “atribuído o estatuto de ‘pessoa’ na sua plenitude e
diversidade” (Cabecinhas, 2007: 282) e muitas das ‘velhas’ dicotomias continuam a estar bem presen-
tes. É também valorizando esta tónica que Rosalind Gill (2011: 61) escreve um artigo intitulado
“Sexism Reloaded, or, it’s Time to get angry again”, onde refere a necessidade de se falar outra vez de
sexismo, chamando a atenção para a importância do “retorno a um pensamento mais politizado,
intersecional, transnacional e conjuntural”. Posicionamo-nos nesta linha de pensamento, pois consi-
deramos que é preciso desmantelar os discursos que continuam a cristalizar, mesmo que de forma
extremamente subtil, as assimetrias de género, sendo estas equacionadas em conjunto com outros
eixos de opressão, como a etnia, idade, orientação sexual, classe, entre outros.
Em jeito de conclusão, investigações no campo dos estudos feministas dos media revelam que a par
dos avanços conseguidos caminham ainda muitas assimetrias. Basta pensar que em 2009, numa con-
ferência em Coimbra, a socióloga Gaye Tuchman procurou refletir sobre a forma como o género e os
media se modificaram desde 1978, altura em que editou o livro Hearth and Home: Images of Women
in the Mass Media, um dos pioneiros nesta área de investigação, referindo que ficava “espantada ao
ver o quanto tanto mudou – e, também, o quanto tanto ficou na mesma”. (2009: 15). Esta expressão é
sinal que esta área de investigação tem ainda um longo e complexo caminho pela frente.
Assim, consideramos que é primordial fazer a monitorização contínua da produção jornalística nacio-
nal, discutindo a complexidade dos conteúdos veiculados, alertando as/os profissionais e as institui-
ções para determinados tópicos de abordagem e abrangência. Outro tipo de notícias, de imagens, de
textos de opinião e de fontes de informação, portanto, outro enquadramento, daria uma outra visão do
mundo e permitiria reconfigurar os cenários sociais. Paralelamente, entendemos que é essencial enfa-
tizar a importância da literacia dos/nos/para os media. Isto significa que os próprios meios de comuni-
cação e as/os várias/os profissionais que operam nesta área necessitam de ser consciencializados para
estas temáticas, podendo funcionar como instigadores da reflexão das/os cidadãs/ãos. Em simultâneo,
os públicos precisam de olhar criticamente para os conteúdos veiculados pelos diversos canais de
informação, de forma a fazerem uma filtragem mais atenta dos materiais apresentados.
Se “o jornalismo é a vida, em todas as suas dimensões, como uma enciclopédia” (Traquina, 2002: 9), os
conteúdos que são veiculados também devem mostrar essa diversidade, com carácter emancipatório,
através de narrativas que representem as pessoas e os vários grupos sociais em toda a sua plenitude.
***
“mulheres e feminismos na imprensa:
continuidades e metamorfoses”
Visita ao parceiro da Estónia, Tallinn University
Página 28 POR OUTRAS PALAVRAS
Referências bibliográficas:
Álvares, Cláudia (2006) ‘Feminismo e Representação Discursiva do Feminino: A Presença do Outro na Teoria e
na Prática’. Ex-Aequo, 14: 35-43.
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xiones sobre el género en la información y recomendaciones de estilo. Barcelona: Icaria.
Banyard, Kat (2010). Equality Illusion: The Truth about women and men today: Faber and Faber.
Betterton, Rosemary (1987) Looking On, Images of Feminity in the Visual Arts and the Media. London: Pan-
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Cabecinhas, Rosa (2007) Preto e Branco: A naturalização da discriminação racial. Porto: Campo das Letras.
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da Comunicação – especialidade de Psicologia da Comunicação, Braga: Universidade do Minho.
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Tuchman, Gaye (2009) ‘Media, género, nichos’ in Silveirinha, Maria João (org.) Género, Media e Espaço Público,
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Van Zoonen, Liesbet (1994) Feminist Media Studies. Londres: Sage Publications.
“mulheres e feminismos na imprensa:
continuidades e metamorfoses”
Página 29 POR OUTRAS PALAVRAS
“do escrutínio dos media aos media sob escrutínio:
estereótipos de género no espaço público mediatizado”
Rita Basílio de Simões
Assistente Convidada da Faculdade de Letras
da Universidade de Coimbra
A partir de uma perspetiva psicossocial, entende-se
por estereótipo um conjunto estruturado de crenças
acerca de um dado coletivo social ou a atribuição de
traços psicológicos de caráter geral a um grupo
humano amplo. É comum atribuir-se ao fenómeno
social de estereotipização três processos basilares de
caráter cognitivo, sendo que cada um deles antecipa
e ordena de forma relativamente estável a experiên-
cia intersubjetiva dos indivíduos. Refiro-me à catego-
rização, nomeadamente através da segmentação do
todo social em subconjuntos definidos; à comparação social, através da contraposição ou confronto
simbólicos entre os grupos sociais prefixados e definidos; e à atribuição de traços, isto é, à atribuição
de características que legitimam a categorização ou o parcelamento estabelecidos.(1)
Aos estereótipos assim entendidos é comum outorgar-se duas características fundamentais, a hiper-
simplificação da realidade social que pelo estereótipo é classificada e a autorreferencialidade, de tal
modo que, mesmo em presença de fatores que os contradigam, os estereótipos em uso são assaz resis-
tentes à mudança. Embora não seja pensada de forma unívoca, a primeira daquelas características é
amiúde ligada à construção e reprodução de preconceitos responsáveis pela segregação social. Sob
este prisma, a hipersimplificação da realidade não favorece apenas a criação de expectativas que frus-
tram os sujeitos desarmonizados com os aspetos psíquicos e cognitivos que o estereótipo valida, assim
conformando a autorrepresentação da identidade. Também a representação dos «outros» é marcada
por processos de reducionismo e de indiferenciação grupal responsáveis pelo fenómeno que a psicolo-
gia denomina de «homogeneização exo grupal», em contraponto com o «favoritismo endo grupal».
Assim, sem prejuízo de poderem favorecer a inteligibilidade do mundo fenomenológico, ao reduzir a
sua complexidade, os estereótipos constituem uma poderosa âncora do discurso etnocêntrico e precon-
ceituoso.
De um ponto de vista cognitivo, uma visão mais matizada dos estereótipos permite reconhecer-se-lhes
a capacidade de garantir aos agentes sociais o recurso a mecanismos de ajustamento à vida coletiva e
de adaptação nos processos de interação quotidiana.(2) Neste sentido, a segunda característica dos
estereótipos acima referida, que remete para o seu papel na cristalização, em categorias estanques,
de valores cognitivos que permitam ao sujeito orientar-se no intercâmbio social, freia as idiossincra-
sias da vida coletiva. Em todo o caso, é precisamente ao fazê-lo que a própria ideia do valor adaptati-
vo dos estereótipos é problemática. Isto porque, se a autorreferencialidade pressupõe que a estereoti-
pia prescinda de evidências empíricas que autentiquem ou desafiem a validade do estereótipo, nem a
mais irrefutável das provas o ferirá de morte. Pela autorreferencialidade, os estereótipos sustentam,
mais do que factos, juízos a respeito deles, isto é, acerca de «o que é», do mesmo modo que suportam
julgamentos de valor, ou seja, acerca do que «deve ser», com considerável imunidade à mudança.
Ainda que o conceito psicossocial de estereótipo tenha emergido com Walter Lippman(3), em 1922, no
quadro do pensamento sobre a comunicação de massas e a disseminação de crenças de forma abran-
gente e cumulativa, a estereotipia é um fenómeno com origens longínquas, que se confundem com as
da própria sociedade. O elemento novo que a sociedade de massas arrasta é a emergência e intensifi-
cação do papel dos media no espaço público como instâncias de mediação simbólica generalizada por
excelência. É neste ambiente sócio histórico particular, de trocas comunicacionais em massa, que
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Página 30 POR OUTRAS PALAVRAS
encontramos o contexto da investigação de diferentes modalidades de estereotipia presentes nos
media.
Em particular, a pesquisa feminista dos media tem-se ocupado da crítica à forma como os conteúdos
mediáticos sub-representam ou projetam as mulheres através de estereótipos de género pelos quais
são, com frequência, representadas como objetos em vez de sujeitos participantes ativos em diversos
papéis sociais. É também — e, porventura, sobretudo — por esta via que a valorização social diferen-
ciada de homens e de mulheres e a desigualdade baseada no sexo dos indivíduos se veem reforçadas.
O feminismo ou o conjunto de perspetivas a que esta designação pode reconduzir, sendo um campo de
sistematização do conhecimento, é igualmente um movimento político, que visa espoletar processos de
diferenciação social. Por isso, pode tecer-se um firme vínculo entre este edifício intelectivo e o compro-
misso político com o progresso societário. É em resposta a este desígnio que o feminismo tem mantido
sob escrutínio diferentes esferas da vida coletiva, revelando, dessa forma, as desigualdades sociais, os
mecanismos de opressão e os prejuízos que ambos representam para as mulheres.
De entre as preocupações centrais dos estudos feministas dos media estão as implicações sociopolíti-
cas das construções mediatizadas da identidade de género. Como ferramenta teórico-metodológica, o
conceito de género tem sido, portanto, determinante, na medida em que oferece um paradigma para
refletir sobre a ordem societária e o estatuto diferenciado que mulheres e homens ocupam nela(4).
O género corresponde a uma categoria sociopolítica, bem como a um modelo analítico a partir do qual
a longa história da subalternização e dominação femininas foi sendo descrita e as desigualdades e as
hierarquias alojadas nas estruturas e nas práticas discursivas combatidas, designadamente através
da desconstrução da ideia de que a biologia representa o destino. Através deste conceito, as imagens,
os universos semânticos, a argumentação, as representações sociais que, sendo tão comuns, contri-
buem para criar ou reproduzir uma certa ideia de mulher e de feminilidade, mas também de homem e
de masculinidade, podem, de forma estimulante, ser desconstruídos a partir do reconhecimento de
que a identidade de género é um produto sociocultural complexo, uma “estrutura ideológica”(5) que,
nas sociedades patriarcais, estratifica os indivíduos.
Grande parte da reflexão neste domínio utiliza o termo sexo para referir as diferenças biológicas entre
homens e mulheres e o termo género para referir as diferenças culturalmente construídas. Assim, se o
conceito de sexo traduz o conjunto de características biológicas que distinguem os seres humanos, o
conceito de género refere-se às representações sociais e culturais do sexo biológico, muitas vezes tra-
duzidas em traços de género e em papéis de género que se reforçam mutuamente e que «naturalizam»
no senso comum a diferença entre sexos baseada na natureza. Esta diferença prestou-se, e presta-se,
à construção de uma disparidade histórica, sobre a qual a divisão do trabalho e o acesso à esfera inte-
lectual e simbólica, por exemplo, se organizaram, ao longo do tempo, segundo uma profunda assime-
tria. A esta luz, se a classe, tal como a raça, a etnia, a religião e a idade, por exemplo, configura uma
parte importante do sistema de desigualdade e de privilégios que permeia, de modo mais ou menos
dissimulado, todos os campos da vida social, o género, feminino e masculino, é o modelo que, varrendo
o universo social por inteiro, auxilia a desconstrução desse sistema.
A partir de uma perspetiva feminista, os estereótipos de género configuram, por conseguinte, um tipo
de mecanismo social no qual o patriarcado encontra uma importante fonte de auto legitimação. Daí a
importância de manter vivas a identificação e a análise crítica da presença de estereótipos nos media,
entendidos, como já realçado, como instâncias de mediação simbólica abrangente.
A preocupação original da pesquisa feminista dos media centrou-se na identificação dos estereótipos
presentes nos textos mediáticos. Em particular, o trabalho dos anos de 1960, de cariz sobretudo quan-
titativo, procurou documentar o modo como os estereótipos reforçam as noções de diferenciação dos
papéis sexuais de homens e mulheres. A convicção de que as imagens «falsas», distorcidas da realida-
de social, que o discurso estereotipado condensa, sociabiliza os públicos, encorajando-os a aceitar os
“do escrutínio dos media aos media sob escrutínio:
estereótipos de género no espaço público mediatizado”
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“do escrutínio dos media aos media sob escrutínio:
estereótipos de género no espaço público mediatizado”
estereótipos de papéis sexuais como normais, óbvios e naturais estruturou o horizonte teórico então
erigido.
A importância de estudar as imagens das mulheres e da feminilidade passou, no final da década de
1970, a estar menos ligada à estereotipia ou categorização simplificada do universo feminino —
composto por «fadas do lar» ou «objetos sexuais», por exemplo — do que, como refere Maria João
Silveirinha(6), à assunção de que essas imagens teriam “inscritas uma dimensão cultural destinada a
fazer crer que elas representam o que as mulheres são ou deveriam ser”. Assim, se as primeiras
investigações foram feitas com o intuito de “proceder a uma «correção» das representações mediáticas,
isto é, devotadas a mostrar que estas têm, de uma forma ou de outra, qualquer coisa de errado, em
termos históricos, biográficos, sociais ou sob qualquer outra base de exatidão”(7), o reconhecimento da
opacidade da linguagem redirecionou as preocupações com as dinâmicas de distorção para os
processos de construção social.
É já neste enquadramento que duas influentes hipóteses explicativas da relação entre os media e as
mulheres, apresentadas em 1978 por Gaye Tuchman(8), devem situar-se: a invisibilidade e a
«aniquilação simbólica» do universo feminino. Mostrou a autora que a representação simbólica das
mulheres não as desvaloriza apenas quando as ignora; mesmo quando representadas, as mulheres
trabalhadoras, por exemplo, são “condenadas”, “trivializadas”, retratadas como “ornamentos infantis”
que carecem de proteção, ou, simplesmente, “desvalorizadas dentro das fronteiras protetoras do
lar”(9). A mudança epistemológica que estas propostas arrastam corresponde, com efeito, menos à
preocupação com o papel dos media na distorção da realidade do que na própria construção discursiva
da realidade através do reforço de sistemas de valores opressivos.
Uma forma de analisar a formação das construções «genderizadas» da realidade consiste em pôr em
relevo a representação mediática das mulheres e de temáticas feministas elementares. Como essa
representação se relaciona com fatores macroestruturais, tais como as conceções patriarcais de femi-
nilidade e as políticas do mercado neoliberal, e micro estruturais, nomeadamente os processos de pro-
dução de notícias, são questões que assumem, neste contexto de pesquisa, uma relevância particular
e, que desde os anos de 1990, também em Portugal têm sido colocadas.
Com frequência, a investigação feminista tem tornado saliente o modo como os seus específicos
propósitos são diminuídos ou desacreditados pelos media. Estas visões representam uma parcela do
eixo mais cético da pluralidade de propostas de compreensão da relação media-género no espaço
público e é a partir delas que, designadamente, a ideia da «deslegitimação» dos propósitos feministas
adquire ressonância.
A polarização de género é outro dos traços distintivos documentados, que assenta na comparação sis-
temática homens/mulheres como princípio organizador da vida social e cultural. Na base destas cons-
truções está, entre outros, o essencialismo biológico, isto é, a ideia de que a biologia representa o des-
tino, patente, por exemplo, na construção da imagem da mulher objeto sexual, que povoa reiterada-
mente o imaginário da feminilidade proeminente no universo mediático.
Na representação da política formal, onde a presença das mulheres é ainda, manifestamente, reduzi-
da, a feminilidade é também reconduzida à comparação com o masculino. As mulheres são a exceção,
o desvio à norma, na medida em que ou são masculinizadas ou reduzidas a padrões de feminilidade.
Esta cosmovisão construída do ponto de vista masculino justifica, em parte, o escrutínio permanente
menos das qualidades intelectuais e políticas das mulheres estadistas do que dos seus papéis femini-
nos e atributos físicos.
O reforço deste estatuto diferenciado entre homens e mulheres é também mensurável pela forma
como as mulheres perdem, com frequência, a qualidade de sujeitos autónomos ao serem caracteriza-
das por referência a uma figura masculina. Neste sentido, os media contam, de forma regular, histó-
rias de «viúvas de», «mulheres de», «namoradas de», «companheiras de», processo discurso que reforça
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Página 32 POR OUTRAS PALAVRAS
as desigualdades de género, na medida em que afeta a configuração da identidade individual e social
de homens e de mulheres.
Claro que, a regra, na cultura mediática, é categorizar. Categoriza-se para simplificar a apresentação
da realidade cuja complexidade não se compadece, em muitos casos, com as lógicas de produção e de
transmissão de conteúdos, especialmente de conteúdos informativos, para o espaço público mediatiza-
do. Os media, em particular os media noticiosos, são, na verdade, altamente seletivos. Todavia, há
que reconhecer que essa seletividade carrega conteúdo ideológico ou, dito de outro modo, transporta
sistemas de valores em relação às matérias que é importante conhecer, mas também no que diz res-
peito aos modos como essas matérias são tornadas visíveis no discurso público. Assim, a desigualdade
de género construída pelos media não decorre apenas de constrangimentos vários, impostos pela lin-
guagem e por rotinas específicas, mas também de uma visão androcêntrica do mundo, inscrita na cul-
tura, que explica o seu papel na aniquilação simbólica das mulheres.
Os media estão, em todo o caso, em condições tanto de desafiar como de reproduzir e reforçar a trans-
histórica valorização social diferenciada de homens e de mulheres. Ora, a categoria género permite
que, de forma sistemática, se analise o seu papel tendo em conta os processos de categorização que
desencadeiam e que se interligam com as demais práticas de categorização social. Em particular
quando reproduzem estereótipos que, como acima referido, hiper simplificam o contexto sociocultural
existente, além de configurarem uma poderosa âncora da estereotipia sexista.
A forma como, no espaço público contemporâneo, as questões de género e de status são disputadas não
assenta, de um modo geral, em consensos fáceis, nomeadamente porque, pelo menos em parte, os
temas e os argumentos prosperam ou fracassam precisamente a partir da gestão contingente que
deles é feita por diferentes tipos de media e desempenhos mediáticos. A partir de uma perspetiva
feminista, uma das vantagens do envolvimento com a complexidade destes processos é permitir situar
os media em intrincadas relações de poder, sem deixar de reconhecer o seu papel na transformação
dessas relações, em nome de uma sociedade mais justa. Trata-se igualmente de um desafio que passa,
inevitavelmente, por invocar a responsabilidade social destas instituições, que se estende aos planos
da formação da opinião pública, da sinalização e configuração de problemas coletivos e da construção
das identidades e das relações sociais.
Daí a importância de manter viva a análise crítica dos media, à semelhança do que propõe o projeto
“Por Outras Palavras”. Mundos simbólicos e reais mais equitativos, solidários e justos são possíveis.
É, no entanto, crucial que, “por outras palavras”, os media possam apoiar a sua construção.
***
Referências bibliográficas:
(1) Sigo o pensamento de Tajfel, H. (1969). “Cognitive Aspects of Prejudice”, Journal of Social Sciences 25, pp.
79-97.
(2) Hamilton, D. L. (1981). [ed.] Cognitive Processes in Stereotyping and Intergroup Behaviour, Hillsdale, N. J.:
Erlbaum, pp. 1-35.
(3) Lippman, W. (1991). Public Opinion, Londres: Transaction.
(4) A este respeito, veja-se, por exemplo, Van Zoonen, L. (1994). Feminist Media Studies, London: Sage.
(5) Lazar, M.M. (2008). “Language and communication in the public sphere: a perspective from feminist critical
discourse analysis” in R. Wodak e V. Koller (eds.) Communication in the Public Sphere. Handbooks of Applied
Linguistics Vol. 4, Berlin, New York: Mounton de Gruyter, pp. 89-110.
(6) Silveirinha, M. J. (2008). “A representação das mulheres nos media: dos estereótipos e «imagens da mulher»
ao «feminismo» no circuito da cultura” in J. P. Esteves (org.) Comunicação e Identidades Sociais, Lisboa: Livros
Horizonte, pp. 117-118.
(7) Ibidem: 125.
(8) Tuchman, G. (2004). “O aniquilamento simbólico das mulheres pelos meios de comunicação de massas” in M.
(9) Ibidem: 139-140.
“do escrutínio dos media aos media sob escrutínio:
estereótipos de género no espaço público mediatizado”
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reflecção de uma estagiária
10
ULAI - Resultados 11
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Colóquio “Media e (Não)Discriminação” 13
“O mundo a preto e branco” 14-20
Seminário “Por outras palavras, nos media” 21
“Preconceito e rotina no olhar dos media” 22-25
“”Mulheres e feminismos na imprensa: continuidades
e metamorfoses”
26-28
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estereótipos de género no espaço público mediatizado”
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