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TRAMAS DO IMPEDIMENTO: OS SENTIDOS DA
DESISTÊNCIA ENTRE ALFABETIZANDOS DA
EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS87
PLOTS OF PREVENTION: THE SENSES OF DISCONTINUANCE AMONG
LEARNERS OF YOUTH AND ADULT EDUCATION: SYNOPSIS OF
DISSERTATION
Cícera Romana Cardoso88.
Orientadora: Profª Drª Maria do Rosário
de Fátima de Carvalho
Co-orientadora: Profª Drª Erika dos
Reis Gusmão Andrade
RESUMO
A condição de alfabetizado, para jovens e adultos que ainda não conseguem dominar a leitura e a escrita, “é a coisa mais importante da vida”, “um sonho”. A aprendizagem escolar é entendida por eles como um saber hegemônico na sociedade contemporânea letrada. Por isso, entram na escola, buscam deter tal conhecimento e, através dele, sentir-se inseridos nesta sociedade. Entretanto, no decorrer desse processo de aprendizagem, vão aos poucos desistindo, o que contribui tanto para elevar as estatísticas da desistência na Educação de Jovens e Adultos/Eja quanto para, lentamente, reduzir o contingente de analfabetos do país. A partir dessa
87 Dissertação defendida e aprovada no Programa de Pós-Graduação em Educação, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, no dia 21 de dezembro de 2007, pela banca examinadora composta pelos professores: Profª Drª Maria do Rosário de Fátima de Carvalho (Orientadora- Presidente) Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN; Profª Drª Erika dos Reis Gusmão Andrade (Co-orientadora) – UFRN; Profª Drª Laêda Bezerra Machado – UFPE; Prof. Dr. Alessandro Augusto de Azevêdo – UFRN; Prof. Dr. Moisés Domingos Sobrinho – UFRN (Suplente). Esta sinopse foi organizada com trechos transcritos do próprio texto da dissertação que se encontra publicada na íntegra na página eletrônica da Biblioteca Central Zila Mamede da UFRN.
88 Professora Mestre da Educação Básica – Ensino Fundamental do Município de Natal/RN e Pedagoga – Cargo Técnico Administrativo do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte/IFRN.
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realidade, questionamo-nos sobre as razões ou motivos concretos e simbólicos que levam à desistência nas classes de alfabetização da Eja. Para tanto, configuramos nosso objeto de estudo como os sentidos da desistência entre alfabetizandos da Eja, cuja compreensão é nosso objetivo. A Teoria das Representações Sociais (MOSCOVICI, 1978, 2004) foi a opção teórico-metodológica para subsidiar a busca, as análises e as interpretações dos dados, fazendo-nos perceber o significado do objeto de estudo para esses indivíduos. Para captar tal conteúdo simbólico, realizamos entrevistas semi-estruturadas com onze alunos desistentes e dez repetentes dessa modalidade de ensino em escolas públicas de Natal/RN durante o ano letivo de 2006. A partir das análises temática e categorial (BARDIN, 1977), identificamos elementos que suscitaram temas. Estes, posteriormente, levaram a três categorias, sugerindo como sentidos da desistência: dificuldades na aprendizagem por não compreenderem os conteúdos; exposição do não saber, trazendo à tona os sentimentos de vergonha, humilhação, constrangimento por não saberem ler e escrever em idade madura; trabalho/cansaço e doenças. Aqueles que conseguem permanecer na escola são os que se obrigam a conviver com os “sentimentos de desadaptação”, e os que desenvolvem com a Instituição uma “adaptação ao avesso”, isto é, a aceitação das falhas e das omissões institucionais.
Palavras-chaves: Representações Sociais. Educação de Jovens e Adultos. Desistência.
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INTRODUÇÃO: TECENDO O OBJETO DE ESTUDO
Foi a experiência na iniciação científica que nos possibilitou os
primeiros contatos com a teoria das representações sociais. Nessa
ocasião, participamos de algumas pesquisas89 que tinham como suporte
esse campo teórico.
Essa teoria propõe que, ao acessarmos com maior profundidade
os conteúdos que estão inscritos no mais íntimo dos sujeitos que agem e
se comunicam num determinado grupo social, temos a possibilidade de
interpretar e explicar a realidade experimentada em seu dia-a-dia, do
ponto de vista cognitivo e psicológico, e compreender como essas
dimensões se produzem a partir do seu contexto de vida. Assim,
embasadas pela referida teoria e amadurecendo reflexões sobre a nossa
prática como alfabetizadora de adultos, surgiram às questões que
originaram os estudos e instigaram a realização da pesquisa
representações sociais de educação por pais não alfabetizados, do qual
resultou a monografia homônima do curso de especialização em
educação oferecido pelo Programa De Pós-Graduação em Educação
(PPGED) realizada a partir do segundo semestre de 1999 e concluído
em fevereiro de 2001.
No contato com os sujeitos da pesquisa citada, percebemos a existência
de alguns marcados pelo não saber, pelo desvalor pessoal, os quais se sentem
alijados das qualidades valorizadas e exigidas pela sociedade letrada. O fato
de não conseguirem ler os códigos escritos para compreender os diversos
textos que lhes são apresentados cotidianamente estigmatiza-os como
inferiores perante os outros.
89 “Classe Média Assalariada e Representação Social da Educação”, pesquisa coordenada pelo Prof. Dr. Moisés Domingos Sobrinho (UFRN); “O valor Simbólico do Prédio Escolar”, coordenada pelo Prof. Doutorando Luis Carlos Sales (UFPI); “Representações Sociais de Política”, coordenada pela Profª. Drª. Maria do Rosário de Fátima de Carvalho (UFRN).
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A condição de não alfabetizados faz emergir diversos sentimentos como
complexo de inferioridade, vergonha, humilhação - quando “teem que botar o
dedo no lugar da assinatura do nome”, e medo de realizarem certas atividades
do cotidiano, como ler uma pequena informação, uma placa de orientação, o
destino do ônibus etc. As marcas da experiência negativa do passado em
relação à aquisição da leitura e da escrita estavam fortemente refletidas no
presente, e, ao mesmo tempo em que se colocavam como incapazes de ainda
aprender, expressavam um enorme desejo de saber, no presente, e de ter, no
passado, conseguido estudar. Na análise realizada, a partir dos dados
coletados, foi possível identificar quatro polos representacionais sobre o objeto
Educação:
a) Domínio de saberes sistematizados;
b) Sinônimo de boa conduta/boas maneiras;
c) Pré-requisito para acesso a emprego e a bens materiais;
d) Condição para a conquista da respeitabilidade social.
Ao mesmo tempo, ao representar a Educação como boa conduta/boas
maneiras, os sujeitos apresentavam palavras cujos sentidos estavam
impregnados de valores do discurso circulante, tal como o “respeito aos mais
velhos”. Essa boa educação/boas maneiras renderiam ao seu possuidor a
aceitação e receptividade do outro, o respeito social. Por outro lado, vimos que
a educação é representada como pré-requisito para empregos; e esses, como
condição para aquisição de bens materiais e para provimento da sobrevivência.
Neste estudo monográfico, foram entrevistados trinta sujeitos, dos
quais dez atribuíram ao objeto “educação”, nas suas evocações, o
sentido de apreensão do saber, de apreensão do conhecimento
sistematizado, e para os quais o sistema oficial de ensino é que
possibilitará a formalização e validação desse conhecimento.
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O quadro 1 a seguir ilustra esta constatação. Dos trinta sujeitos, cada
um escolheu uma palavra como a mais importante, apoiando suas justificativas,
predominantemente, na ideia de que a educação conduz à apreensão do saber
e do conhecimento
Quadro 1: A representação social de educação como conhecimento sistematizado
Fonte: Monografia de Especialização.UFRN.Natal/2001.
Nº. de ordem do
sujeito
Idade
Evocação mais importante
5 34 Aprender
8 S/d Respeito
9 48 Sabedoria
10 20 É bom
11 32 Ler
13 63 SABER LER
16 44 Estudo
26 27 Estudo
29 49 Educar
30 33 ESTUDAR
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As palavras do quadro acima, evocadas a partir da técnica de
Associação Livre de Palavras90 nos remetem à compreensão de que o objeto
educação é, para os sujeitos, entendido como o instrumento básico de
aquisição do saber sistematizado, do conhecimento formalizado. A fala abaixo
reforça nossa inferência:
A pessoa saber ler é uma coisa muito importante, porque da
leitura é que vem a educação, é que vem o saber, é que vem
as pessoas pra gente ficar junto, é ou não é? É que vem muitas
coisas importante pela/pela educação. E então a gente sem
educação não somo nada, porque às vezes a gente quer saber
assim, de qualquer coisa, assim... uma palavra e num sabe,
tem que pedir a outro, tem que mandar: "fulano, isso num sei
quê”. A gente sabendo, já num vai perguntar não é não?
(Sujeito nº. 13, 63 anos. Trabalho monográfico).
O saber ou conhecimento formal parece ser o sentido mais significativo
na vida dos sujeitos pesquisados, ao constatarmos que, do total, dez atribuíram
à educação o sentido de apreensão do conhecimento, evidenciando, desse
modo, que esse objeto social é, para eles, o caminho que conduz à
aprendizagem da leitura, da escrita e das operações matemáticas. Não saber
ler significa dependência, cegueira, desprestígio e falta de autonomia em suas
ações cotidianas, pois, a sociedade letrada exige a interpretação dos códigos
escritos, e desse modo, será possível apreender o mundo e interagir com suas
realidades. Para os sujeitos, é com a instrução formal, adquirida por meio do
sistema oficial de ensino, que se concretiza esse saber (CARDOSO, 2001). De
posse desse saber específico, é que sentem alguma possibilidade de
conquistar seus próprios espaços, realizando com certa autonomia suas
atividades. O conhecimento permite-lhes movimentar-se no dia-a-dia com
dinamicidade e criticidade na leitura que fazem do mundo de que se apropriam
e no qual se inscrevem enquanto escrevendo sua história.
90 Para conhecimento desta técnica, consultar o livro: Núcleo central das representações sociais, de Celso Pereira Sá, Vozes,1996.
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Essa constatação de que a educação é representada como
conhecimento nos remete às referências dos estudos de Domingos
Sobrinho (l998), em que a educação formal é entendida pela classe
média assalariada de natal como ascensão social e mudança, visto que
é por meio da aquisição do conhecimento e do saber adquiridos na
escola e materializados em diplomas que essa classe espera progressos
e promoção social. Para o ator classe média, a educação é um bem
cultural, um capital simbólico que não se perde nem se evapora. O autor
assinala que
[...] A educação sendo considerada pela classe média
assalariada como o principal caminho de ascensão social
e de mudança, tanto social quanto individual, no plano da
ação cotidiana isto vai se traduzir no desenvolvimento de
estratégias concretas de acumulação do máximo de
capital educacional [...] A posse de um saber
sistematizado e especializado permite à classe média
assalariada construir uma visão de mundo estruturada e
coerente com valores filosóficos, psicológicos, éticos que
vão orientar as práticas cotidianas e dar sentido à vida.
(DOMINGOS SOBRINHO, 1998, P. 35-36).
Em outras palavras, a educação escolar é um bem cultural fortemente
requisitado na atual sociedade, não só por esse segmento da população (a
classe média assalariada), mas pelas diversas camadas sociais,
essencialmente pelas que vivem no meio urbano. Isso se constitui numa
demonstração clara de que homens e mulheres que não dominam a língua
escrita necessitam ser incluídos no mundo letrado para poderem interagir com
autonomia e segurança nos diversos espaços em que circulam.
Simultaneamente à citada pesquisa, vivenciamos, na atividade
docente, a procura, a insistência e um grande anseio de jovens e adultos
pela aprendizagem da leitura e da escrita. Muitos chegam à escola após
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o período das matrículas e, mesmo não sendo possível realizá-la pelo
fato de não haver vagas, insistem para ficar na sala de aula e ir tentando
aprender, porque necessitam daquele conhecimento. Deparamo-nos
com falas do tipo “não tem problema de ficar em pé, mas eu queria
ficar”. Tal situação ocorria porque, algumas vezes, a sala já não tinha
espaço para que todos ficassem sentados nas cadeiras. Evidentemente
que procurávamos resolver aquela situação, acomodando-os sentados
para que fosse possível assistir às aulas e participar delas, como seus
colegas. Fatos como esses aconteceram numa escola voltada à
educação de jovens e adultos (eja), cujas salas de aula eram
razoavelmente espaçosas, geralmente com acomodação para trinta
cadeiras, e bem iluminadas.
No dia-a-dia com esses jovens e adultos, regularmente
matriculados ou não, percebíamos o quanto se sentiam satisfeitos por
estarem na escola tentando “recuperar o tempo perdido”, como
repetiam. Entretanto, no decorrer do ano letivo, esses aprendizes iam se
afastando, e, ao final do ano, eram poucos os que concluíam aquela
etapa do ensino básico. Essa constatação suscitou reflexões e
inquietações sobre o porquê da desistência. Nesse contexto,
buscávamos fazer contato – muitas vezes por telefone e também por
meio de algum colega que morasse próximo – com esses alunos que
deixaram de assistir às aulas. Geralmente tínhamos êxito, alguns
retornavam, mas, no decorrer do processo, parte deles acabava
desistindo mais uma vez.
Entender os motivos pelos quais muitos daqueles alfabetizandos
desistiam de estudar gerava questionamentos. Paulatinamente, aquelas
reflexões foram dando forma a algumas questões que poderiam ser
estudadas a fim de entendermos esse fenômeno tão intenso naquele
segmento de ensino. Assim, levantamos alguns questionamentos que
consideramos pertinentes às nossas preocupações: por que, ao
chegarem próximo do saber tão desejado, afastam-se da escola? Para
esses atores, a aprendizagem escolar é considerada imprescindível às
suas vidas, uma vez que ela se configura como forma de adquirir
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prestígio social, respeito, autonomia, emprego etc. Se pensam dessa
forma, por que desistem do espaço que lhes proporcionaria o que dizem
ser tão necessário em suas vidas? Quais suas representações de
escola, aprendizagem e desistência? Por que renunciam ao sonho de
serem vistos como “cidadãos”?
Com base nos referentes da pesquisa realizada no curso de
especialização bem como na experiência de alfabetizadora na eja,
propomo-nos a investigar, em nível de mestrado, as prováveis razões
que mobilizam os alunos jovens e adultos em processo inicial de
aprendizagem da língua escrita a desistirem de estudar. Considerando
esses questionamentos, configuramos nosso objeto de estudo como os
sentidos da desistência entre alfabetizandos da eja. Nosso objetivo era
compreender as razões ou os motivos dessa desistência a fim de
encontrar elementos que possam evocar os seus sentidos por alunos
desistentes e repetentes na alfabetização de adultos em escolas
estaduais de Natal/RN.
Nesse sentido, o estudo em tela apoiou-se no prisma teórico-
metodológico da Teoria das Representações Sociais, a qual nos permite
encontrar as representações de determinados objetos sociais assim como nos
possibilita também compreender como indivíduos e grupos os apreendem e
lhes dão sentido na complexidade dialética da atual sociedade. Com essa
compreensão, passamos a sistematizar as questões que nos inquietavam,
delimitando-as a partir do arcabouço teórico anteriormente referido,
considerando o rigor e as limitações de uma investigação científica em nível de
mestrado.
Nesta sinopse, apresentamos a investigação que concluímos em 2007,
no PPGed/UFRN, elaborada com partes da Dissertação defendida no referido
ano, e que tem o mesmo título deste trabalho, com o propósito de contribuir
para a ampliação do conhecimento nesse campo de estudo, bem como de
ampliar nossas buscas e respostas a alguns questionamentos que se nos
apresentam no dia-a-dia enquanto educadores/investigadores. Isto é, enquanto
homens e mulheres possíveis e passíveis a ilimitadas buscas e, principalmente,
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a ilimitadas respostas. Compreendemos que nisto está a grandeza humana:
reconhecer que tanto as buscas quanto as respostas (quando as encontramos)
são incompletas e, por isso, não nos satisfazem, ao contrário, sempre suscitam
mais buscas, mais respostas.
Com esse espírito de inconclusão, característico do viver, é que
escolhemos a tecelagem como metáfora da trama dissertativa/argumentativa
para indexar os tópicos do trabalho dissertativo. Na verdade, os “nós” foram os
primeiros elementos a sugerir-nos que estávamos num tear. Em busca de
desatar aqueles “nós”, vibramos com cada des(a)fio vencido e cada fio
identificado na tessitura do aprender e, assim, fomos desvelando as razões da
desistência.
No primeiro capítulo da Dissertação, estão alguns dados sobre a
educação. Sem jamais ter a intenção de detalhá-los em profundidade,
tampouco de esgotá-los, dada a sua enorme riqueza histórica, cultural,
filosófica e científica para nossos estudos. Nesse capítulo, realizamos também
uma rápida análise de elementos verbalizados pelos participantes, os quais
denominamos de a trama com o conhecimento escrito e a partir desses nos foi
possível compreender algumas representações que os alfabetizandos têm da
escrita e de si enquanto pessoas que ocupam o lugar de não leitores.
Apresentamos no segundo capítulo os fios teóricos das representações
sociais, considerados por nós como fundamentos imprescindíveis a todo o
percurso investigativo e, essencialmente, às nossas análises e às
interpretações que serviram de base para sustentar nossos achados sobre as
representações sociais das pessoas que constituíram nosso universo
investigativo. Tais fundamentos nos auxiliaram também como suporte à coleta
dos dados, à recomendação na busca pelos participantes do estudo e ao
trajeto procedimental da análise, os quais foram explicitados no terceiro
capítulo, definido como andarilhagem metodológica.
Na tentativa de encontrar os sentidos constitutivos das desistências dos
jovens e dos adultos em processo de alfabetização, no quarto capítulo,
buscamos destecer alguns fios da trama, desvelando como se constituem as
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tessituras relacionais entre os alfabetizandos. Como que em teares, os
alfabetizandos constroem compreensões míticas sobre a escola, fazendo com
que nos defrontemos com os “nós” temáticos da desistência, a partir dos quais
vislumbramos indícios dos elementos que lhes compõem o campo
representacional, incitando-nos a aproximações que foram revelando os
sentidos da desistência para eles.
Dessa forma, foi possível identificar as categorias de sentido atribuídas
pelos participantes à sua desistência e a de seus colegas. Essas categorias,
embora denominadas de formas distintas, podem ser consideradas
intercomunicáveis, pois os participantes, ao falarem de si enquanto aprendizes
e pessoas não letradas foram revelando sentimentos e situações constitutivas
de um mesmo tecido – o viés mitificado sobre escola e saberes que aí são
veiculados. Para tanto, consideramos, nas análises e interpretações, as
diversas linguagens, inclusive as gestuais, as lágrimas, os olhares e outras
expressões corporais.
Como arremates e franjas, no quinto capítulo, fizemos algumas sínteses
sobre a investigação, assim como abrimos questionamentos para buscas
futuras, naquela que é a função precípua das conclusões de pesquisas e das
franjas dos tecidos: abrir novas linhas de possibilidades ao mesmo tempo em
que se arremata um trabalho.
Para melhor compressão da investigação realizada mostramos a seguir
algumas reflexões constantes da Dissertação aqui apresentada em forma de
sinopse.
A TRAMA COM O CONHECIMENTO ESCRITO
Iniciar o processo de aprendizagem escolar na fase adulta é um grande
desafio tanto para os mais jovens quanto para as pessoas com idade superior a
50 anos. Em sua maioria, os jovens e adultos migraram de comunidades rurais,
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de pequenas cidades do interior do estado do Rio Grande do Norte ou de
estados vizinhos, com o objetivo principal de conseguir trabalho na capital.
Mas é o centro urbano que impõe algumas exigências a esses migrantes,
dentre elas a urgente necessidade de se apropriar da língua escrita, instrumento
extremamente solicitado principalmente na sociedade contemporânea. Adquirir o
conhecimento da leitura e da escrita tornou-se indispensável à sobrevivência de
milhares de homens e mulheres atualmente. Esse requisitado conhecimento
acelera um movimento de procura por matrícula nas escolas de Educação de
Jovens e Adultos, especialmente naquelas em que há classes de alfabetização.
Todos os anos presenciamos essa busca por parte de uma parcela da
população que, por motivos diversos, não teve acesso ou não conseguiu
permanecer na escola durante a infância.
Esses homens e mulheres em processo inicial de aprendizagem da língua
escrita compreendem que a escola pode criar oportunidade de acesso a um
emprego que não seja braçal ou, como eles dizem, que não seja “pegando no
pesado”, como o de carregador de mercadorias, limpador de chão ou o da roça.
Esse emprego também possibilita a aquisição de diversos bens materiais que
não possuem. Conseguir terminar pelo menos “a 4ª série e ter o diploma” é uma
forma de materialização da aprendizagem, a qual lhes permitirá adquirir outros
bens, inclusive os simbólicos, porque não saber os faz se sentirem humilhados e
discriminados até mesmo no meio familiar.
Aprender a ler e escrever para esses indivíduos é “a coisa mais
importante da vida, é um sonho”. Contudo, é na tentativa de realizar esse sonho
que vêm à procura da escola, porque “a pessoa não saber é mesmo que ser
uma pessoa cega”.
Como já ressaltamos, no início do período letivo, convivemos geralmente
com salas de aula lotadas ou superlotadas, contudo, ainda no primeiro
semestre, inicia-se um processo de vacância, os alunos vão desistindo e, ao
término do ano letivo, a frequência fica com um número muito reduzido
comparado ao inicial.
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Essa realidade da desistência é verificada no ensino formal regular e em
todas as etapas da escolaridade, mas se os jovens e adultos não alfabetizados
têm tanta necessidade de aprender, por que desistem? O que mais gera o
conflito nesse encontro com a escola e, mais precisamente, com o
conhecimento escrito? As representações de escrita e de analfabeto que têm
interferem nesse contato real com a escola?
Pesquisas desenvolvidas por Azevêdo (2006) observam que os
assentados da reforma agrária apresentam uma relação assistemática com a
educação escolar e que isso não decorre apenas de fatores de ordem sócio-
econômica, mas também de fatores relacionados à dimensão simbólica fazendo
emergir:
construções cotidianas do universo simbólico, das ideologias e
das representações sociais. Pois é nesse universo simbólico
que ocorre a sedimentação das “explicações” dos sujeitos
acerca de suas respectivas presenças no mundo, bem como se
legitimam e demarcam os “lugares sociais”, os destinos e
sonhos “possíveis” para eles, consequentemente, o espaço
reservado à educação escolar nesses “lugares” e sonhos
(AZEVÊDO, 2006, p. 215).
Segundo a compreensão moscoviciana, os indivíduos, através das
comunicações, abastecem-se de normas e símbolos coletivos para efetuarem a
filtragem necessária às informações, fazendo, nesse movimento, com que as
palavras mudem de gramática e que os conteúdos tomem outra forma. Nessa
mesma perspectiva, Bakhtin (2004) argumenta que as palavras estão
constantemente constituídas por conteúdos ou sentidos ideológicos, vivenciais.
Com base nesses referentes, compreendemos que os aprendizes da Educação
de Jovens e Adultos, ao experienciarem o ambiente escolar, no qual se
defrontam objetivamente com a escrita, deparam-se também com suas
construções simbólicas com relação a ela (a escrita) e a todo o universo
representacional do mundo letrado e não letrado, resultando desse encontro
estranhamento, impossibilidades ou dificuldades, como dizem. A instituição
escolar é constituída por diversificadas formas de relações nas quais são
iminentes as relações de poder, sendo o poder simbólico fortemente entrelaçado
11
375
e anunciado nos teares relacionais do cotidiano entre seus membros. Em
relação a essa forma de poder, Bourdieu (1989) destaca que este permite
construir o dado pela enunciação, fazer ver e fazer crer, confirmar ou
transformar a visão do mundo e, dessa maneira, agir sobre este, sendo um
poder quase mágico que permite obter o equivalente daquilo
que é obtido pela força (física ou econômica), graças ao efeito
específico de mobilização, só se exerce se for reconhecido,
quer dizer, ignorado como arbitrário. [...] o poder simbólico não
reside nos “sistemas simbólicos” em forma de uma
“illocutionary force” mas que se define numa relação
determinada – e por meio desta – entre os que exercem o
poder e os que lhe estão sujeitos, quer dizer, na própria
estrutura do campo em que se produz e se reproduz a crença
(BOURDIEU, 1989, p.14).
O poder que se encontra instaurado na instituição escolar é consolidado
nessa teia de relações na qual sua força se manifesta através de leis, regras e
normas delegadas à escola, tendo como principais propagadores os corpos
administrativo, pedagógico e docente, os quais, por sua vez, imbuídos de tal
poder, exercem-no rigorosamente, impondo sua força simbólica aos que lhes
são subordinados. No curso dessa força, podemos destacar um espaço
molecular dentro da própria escola - a sala de aula - por entendermos ser, na
relação professor-aluno, a forma mais incisiva de sua atuação. Nesse espaço,
configura-se a autoridade daquele que “sabe” – o professor – frente àqueles que
geralmente são considerados ignorantes – os alunos. Na maioria dos casos, é
esse professor quem estabelece como os alunos devem agir e se comportar em
sala. O mesmo ocorre em relação ao processo de escolha dos conteúdos
ensinados, já que são trabalhados geralmente sem discussão prévia com os
alunos sobre a necessidade e importância prática para suas vidas.
Freire (2002) chama atenção para o aprendizado da leitura e da escrita
por jovens e adultos, apontando-o como algo que não pode se dar de forma
paralela ou quase paralela à realidade concreta dos alfabetizandos, mas que
este aprendizado
11
376
demanda a compreensão da significação profunda da palavra,
[...] os alfabetizandos necessitam perceber a necessidade de
um outro aprendizado: o de “escrever” a sua vida, o de “ler” a
sua realidade, o que não será possível se não tomam nas
mãos para, fazendo-a, por ela serem feitos e refeitos (FREIRE,
2002, p. 18-19).
A partir dessa ótica freireana e amparada pela investigação realizada,
compreendemos a necessidade de um despertar enquanto educadoras e
educadores sobre conteúdos e metodologias a serem trabalhados em sala de
aula em conexão com o mundo. Compreendemos também ser necessário
solicitar a atuação da instituição escolar e convocar sua ação no sentido de
proporcionar condições (materiais e humanas) que favoreçam aos docentes uma
prática pedagógica possível de viabilizar a aprendizagem de fato dos alunos. Se
a escola desempenhasse a sua real função de promover o conhecimento
sistematizado, proporcionando condições estruturais para ser desenvolvido um
ensino mais significativo, seriam menores as reprovações, as desistências e o
número de analfabetos no país. Assim, não teríamos realidades vividas com
tantos dissabores por aqueles que não se apropriam da língua escrita, conforme
atestam os depoimentos seguintes, sobre a necessidade de se saber ler e
escrever:
Saber assim, ah! Em tantas coisas que eu não tenho nem
palavras, em muitas e muitas coisas. É ruim assim, você quer
fazer uma, uma carta pra alguém, você quer escrever alguma,
exemplo no meu emprego, às vezes eu saio, ela não está, às
vezes quero deixar um recado pra ela, não tenho como
entendeu? [...] a outra não sabe que não sei ler, escrever, que
eu tenho vergonha de dizer pra ela, aí ela deixa um bilhetim,
assim, pra mim, dizendo o que é que eu faço, aí eu já tenho
que pedir a outra pessoa [...] aí quando eu vejo, ‘Jesus, e
agora!’ eu já fiz amizade com o porteiro e chego lá: leia isso
aqui pra mim. Aí é isso aí, coisas, pequenas coisas que pra
mim é grande coisa, entendeu? É chato, por isso que eu quero,
quero sair daqui lendo tudo. (Participante 6 do trabalho
dissertativo).
11
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Eu sinto, assim, quando eu passo numa rua eu fico olhando,
meu Deus, que nome é esse que eu não sei. Eu fico
imaginando meus pensamento. Queria tanto aprender ler
muito, que eu não sei, de nada. (Participante 7 do trabalho
dissertativo).
Ler e escrever? Nossa, eu penso tanta coisa boa. Pra ter um
bom emprego não é? Uma boa profissão, para você saber
onde chegou, onde é que você ta, aonde você vai. A gente sem
saber ler e escrever fica perdido. Eu me sinto às vezes assim,
tão humilhada porque eu não sei. Às vezes eu quero ler assim,
um nome enorme assim sabe? Ler, rápido e não consigo ler.
Nem devagar. [...] É, chegar assim, pra mim fazer um curso
sabe? Assim você tem quantos graus de estudo, assim? Aí eu
não posso fazer. É a maior dificuldade, pra você ter, fazer o
curso assim, que você queira fazer. [...] porque geralmente, a
pessoa que quer uma empregada, quer pra ler escrever, fazer
umas compra de supermercado. Eu não faço compra de
supermercado, porque eu tenho dificuldade assim sabe?
Contar, eu também não sei conta. Aí, eu me prejudico demais,
meu esposo que faz compra que faz tudo. Não sei fazer conta.
Eu me prejudico muito, é a maior dificuldade assim, em tudo.
Até mesmo pra ta em casa, a gente às vezes que ler uma
coisa, escrever uma coisa pra deixar pra o esposo, um recado.
Até isso eu me prejudico assim, tenho dificuldade. Sabe?
Quero escrever um recado, não posso. Quero escrever uma
carta pra minha mãe, que mora em Petrolina não posso. Eu
não sei escrever uma carta só. Aí tem que pedir pra ele [...]. Eu
me sinto arrasada, me sinto triste porque eu não tenho
condições de ir lá que é longe, é distante. (Participante 19 do
trabalho dissertativo).
Essas dificuldades apontadas nas falas anteriores foram mencionadas
com frequência pelos participantes de nossa investigação, assim como foram
ouvidas no dia-a-dia da sala de aula. Na verdade, a escola pública e seus
segmentos, mais precisamente professores, diretores e apoio pedagógico,
11
378
necessitam reinventar-se na sua função social de ensinar, visando incluir os
alfabetizandos e fazer com que se sintam pertencentes àquele ambiente como
sujeitos do conhecimento, e não somente como meros receptores de
informações.
Os alfabetizandos da Educação de Jovens e Adultos estão incluídos na
primeira etapa do primeiro segmento dessa modalidade de ensino, conforme a
estrutura organizacional da Lei 9394/96. Apoiadas nesta estrutura e seguindo
as orientações da Proposta Curricular do Ministério da Educação (MEC), as
Diretrizes Orientadoras para o 1º e 2º segmentos do ensino fundamental da
EJA no estado do Rio Grande do Norte definem para essa etapa de ensino um
ano de duração. Na Proposta Curricular/MEC, encontramos também a ressalva
de que estados e municípios tem autonomia para adequar as orientações
elaboradas nacionalmente às realidades locais.
Segundo as orientações gerais da Proposta Curricular/MEC, o ensino
para jovens e adultos consiste na alfabetização e na pós-alfabetização, cujo
conteúdo deve corresponder aos anos iniciais do ensino fundamental. Dentre
outras atribuições, a referida proposta define os objetivos para os educandos
do primeiro segmento, enfocando que estes sejam capazes de:
dominar instrumentos básicos da cultura letrada, que lhes
permitam melhor compreender o mundo em que vivem; ter
acesso a outros graus ou modalidades de ensino básico e
profissionalizante, assim como a outras oportunidades de
desenvolvimento cultural; incorporar-se ao mundo do trabalho
com melhores condições de desempenho e participação na
distribuição da riqueza produzida; valorizar a democracia,
desenvolvendo atitudes participativas, conhecer direitos e
deveres da cidadania; desempenhar de modo consciente e
responsável seu papel no cuidado e na educação das crianças,
no âmbito da família e da comunidade; conhecer e valorizar a
diversidade cultural brasileira, respeitar diferenças de gênero,
geração, raça e credo, fomentando atitudes de não-
discriminação; aumentar a auto-estima, fortalecer a confiança
na sua capacidade de aprendizagem, valorizar a educação
como meio de desenvolvimento pessoal e social; reconhecer e
11
379
valorizar os conhecimentos científicos e históricos, assim como
a produção literária e artística como patrimônios culturais da
humanidade; exercitar a sua autonomia pessoal com
responsabilidade, aperfeiçoando a convivência em diferentes
espaços sociais (BRASIL, 2001, p. 47).
Embora tenha conhecimento das proposições e dos objetivos das funções
a serem desenvolvidas, a escola continua reprodutora de valores sociais e
culturais não condizentes com os contextos vividos pela maioria de seus alunos.
Entendemos que essa realidade acarreta sanções ao conhecimento
sistematizado, as quais impedem que os conteúdos científicos sejam
desenvolvidos de forma mais objetiva e contextualizada. Tais sanções resultam
na falta de sentido entre o que é trabalhado na escola e as tarefas práticas que
as crianças, jovens e adultos tentam realizar cotidianamente. Ao agir dessa
forma, a escola não estaria correspondendo adequadamente à sua função
educativa de socializar o conhecimento público de uma forma mais direcionada
com relação à funcionalidade prática dos conteúdos escolares na vida de seus
aprendizes.
Na concepção de Gómez (2000), a função educativa da escola deve
ultrapassar o caráter reprodutor de socialização, essencialmente por fomentar o
conhecimento público, argumentando para isso que
a vinculação iniludível e própria da escola com o conhecimento
público, exige dela e dos que trabalham nela, que identifiquem e
desmascarem o caráter reprodutor das influências que a própria
instituição exerce sobre todos e cada um dos indivíduos que nela
convivem bem como os conteúdos que transmite e as
experiências e relações que organiza (GÓMEZ, 2000, p. 22).
Nessa teia de reprodução, emergem situações inadequadas à
apropriação da escrita pelos alfabetizandos, os quais não são, na maioria das
vezes, percebidos como co-participantes e co-autores do processo de
aprendizagem. Sobre esse aspecto, invocamos novamente Freire (2002) ao
11
380
dizer que a alfabetização se faz num “quefazer global, que envolve os
alfabetizandos em suas relações com o mundo e com os outros”. E afirma
ainda que o processo deve ser fundado na prática social dos alfabetizandos,
contribuindo-se, dessa maneira, para que eles “se assumam como seres do
quefazer da práxis” (FREIRE, 2002, p. 23). Na prática, vivenciam
cotidianamente, seja na escola ou em outros espaços, um constante medo de
fazer, pois as atividades que necessitam realizar estão sempre
consubstanciados pela insegurança, pela timidez ou pela vergonha, por não
serem autônomos nesse mundo pautado pelos códigos escritos.
Na trama com o conhecimento escrito, a face do outro é continuamente
solicitada. Para conseguirem movimentar-se diante das mensagens grafadas,
necessitam da mão e do olhar de outra pessoa, pois dessa forma é que têm
menos receio no seu agir. Esses homens e mulheres dizem que “quem não
tem leitura hoje, não sabe de nada, porque tudo vem da leitura”. Nesse
contexto, eles se sentem ofuscados, pois não podem estar no mundo escrito ou
decifrá-lo por si mesmos, mas somente através do outro, como podemos
perceber num estudo desenvolvido anteriormente por nós (CARDOSO,
CARVALHO e ANDRADE, 2006). A não-apropriação do objeto escrita os obriga
a estar sempre recorrendo a alguém, “pedindo pro outro, e isso é coisa chata”.
Nesse tecer educativo, no estudo ao qual nos referimos, constatamos
três lugares-comuns que as pessoas não alfabetizadas compartilham no
universo letrado. O primeiro desses lugares foi por nós denominado o lugar do
não ser, no qual os alfabetizandos se defrontam com as exigências dos
códigos linguísticos na sociedade. É o lugar da infância sacrificada por muitas
faltas, como a falta do brincar, a falta da comida, muitas vezes, a falta da
moradia e, por fim, a falta da escola. Além desse lugar, há outros dois: o lugar
de ser através dos outros e o lugar do presente, do aprender agora, mas
também do impossível, pois quase sempre o querer emaranhado nesses
lugares referidos se transforma em impossibilidades, em dificuldades que
acabam levando esses alfabetizandos à desistência da aprendizagem da
escrita.
11
381
Em virtude disso, enfatizamos a necessidade que esses homens e
mulheres têm da presença do outro para entender os códigos escritos e agir no
mundo letrado. Destacamos, portanto, neste tópico, o lugar de ser através dos
outros, posto que estão sempre recorrendo ao auxílio de alguém para realizar
atividades que exigem a leitura e sua compreensão, como disse um dos
sujeitos naquele estudo: “chego num banco, aí eu num sei, tenho que levar
sempre uma pessoa comigo, para eu tirar um dinheiro porque eu não aprendi
[...]” (Sujeito 01 de um estudo piloto antecedente a investigação do mestrado
com 58 anos de idade). Essa exposição desses sujeitos é incômoda, porque
para fazer algo é preciso recorrer ao outro, não lhes permitindo serem autores
de suas próprias tarefas. Nesse momento, o outro assume um caráter vicário,
“às vezes eu quero escrever uma carta que ninguém pode saber o que eu
estou escrevendo, aí vou pedir para os outro, eu não [...]” (Sujeito 05 de um
estudo piloto antecedente a investigação do mestrado com 28 anos de idade).
A dependência que esses sujeitos têm em decorrência da não-
apropriação da escrita impõe a necessidade de irem em busca de alguém que
os substitua nas suas ações. Daí resulta, muitas vezes, uma existência
anônima e nesse anonimato, não podem ser por si mesmos, mas através do
outro, não sendo possível serem independentes nem realizar as tarefas de que
necessitam, senão com um outro para auxiliá-los. A dependência os faz se
exporem, colocarem em evidência suas fragilidades e carências perante as
pessoas, decorrendo disso sentimentos de vergonha, discriminação, e
sensação de estar social e culturalmente à margem.
Contudo, a vivência dessa situação faz emergir um despertar, pois a
necessidade de autonomia no movimento de ir e vir os impulsiona para
encontrar uma saída, tentando conquistar espaços e ganhar autonomia, tanto
no aspecto material como simbólico.
[...] eu fiquei meio assim não sabe? Assim, eu tinha mais
vergonha, assim para ir resolver um negócio. Por acaso,
botar um dinheiro, tirar um dinheiro, aí lá eu tinha que
11
382
botar o dedo porque num sabia assinar o nome não é? Botar o
nome, o dedo, é chato demais. Aí, vergonhoso, porque é o
seguinte, todo mundo sabe ler. Me chamou lá dentro. Aí,
assine aqui. Aí ‘não assino não, sei só o de, o dedo’. Aí cadê, o
dedão acolá, aí, aí, saber ler, eu acho que por causa disso não
é? Acho que por isso, o caba fica vergonhoso não é? Aí eu
botei aquilo na cabeça. Eu vou estudar, vou criar vergonha e
vou estudar (Sujeito 11 de um estudo piloto antecedente a
investigação do mestrado).
Nesse sentido, percebemos o sentimento de vergonha manifesto na
gagueira do sujeito da fala anterior e explícito no fragmento: “num assino não,
sei só o de, o dedo’, aí cadê, o dedão acolá, aí, aí, saber ler, eu acho que por
causa disso não é? Acho que por isso, o caba fica vergonhoso não é? [...]”. Tal
sentimento se deve à substituição da assinatura pela impressão digital. Ao
mesmo tempo, o sentimento de vergonha, que a princípio é negativo por ser
doloroso, transforma-se em algo positivo quando esses indivíduos se refazem e
tomam consciência de que é preciso estudar, conforme afirmou o sujeito neste
trecho “aí eu botei aquilo na cabeça, eu vou estudar, vou criar vergonha e vou
estudar”.
Anuímos, pois, que os jovens e adultos da Educação de Jovens e
Adultos, ao falarem de suas experiências, mesmo através do outro, se veem e,
nesse ver a si mesmos, (re)constroem-se no intuito de tentar ser, apesar de
seus encontros com a escrita trazerem conflitos, negações e faltas, inclusive a
da escola no tempo da infância. Talvez isso explique também porque suas
perspectivas de futuro são sempre expressas com timidez, pois a maior
possibilidade em que acreditam é a de não conseguirem. Como disse um dos
sujeitos naquela pesquisa: “eu quero soó mesmo aprender...soó, não dá para
chegar muito longe não” (Sujeito 08 do trabalho monográfico).
Assim, vivem e convivem numa trama constituída de dilemas em relação
à língua escrita, à sua apropriação e às suas ações em sociedade. Em resumo,
sabem que são exigidos pela contemporaneidade, na qual se incluem as
necessidades advindas da própria família, como auxiliar nas tarefas escolares
dos filhos. Desse modo, esses sujeitos passam a exigir de si próprios a
11
383
compreensão desse universo a fim de agirem por eles mesmos, principalmente
para não experimentarem situações que os deixem constrangidos,
envergonhados, tristes.
[...] eu não sei ensinar um dever, porque eu não sei as
respostas, então eu acho que eu não sei de nada sabe? Aí eu
me sinto muito triste [...] aí eu digo, eu vou estudar [...]
(Participante 12 do trabalho dissertativo).
às vezes eu penso assim, em desenvolver mesmo. Aí tem
horas que bate aquela, sei lá, foge aquilo de mim, assim,
aquela vontade, assim, sei lá. Assim, alguma coisa atrapalha
assim, não é? Sei lá (Participante 20 do trabalho dissertativo).
[...] Eu penso em aprender a ler, que escrever eu sei, mas só
não sei ler. [...] eu sei escrever tirando do quadro. Eu me
arrependo muito porque é tão bom a pessoa saber ler, não é?
(Participante 7 do trabalho dissertativo).
Vivendo nessa realidade, parece-nos oportuno destacar que, nesse
contexto, emerge uma situação de violência simbólica, a qual, segundo a ótica
bourdiesiana, não se processa senão através de um ato de conhecimento e
desconhecimento prático, mas que “este ato se efetiva aquém da consciência e
da vontade e que confere seu “poder hipnótico” a todas as suas manifestações,
injeções, sugestões, seduções, ameaças, censuras, ordens ou chamadas à
ordem” (BOURDIEU, 2005, p. 54).
O fato de experimentarem uma espécie de desconforto, provocado pela
condição de não leitores, e de, consequentemente, não saberem escrever,
desencadeia estados de confusão em relação ao que sabem objetivamente,
11
384
assim como lhes confere mais incertezas concernentes à própria busca por
esse conhecimento, como comentou o participante referido, que pensa “em
desenvolver mesmo”. No entanto, esse desejo é efêmero, pois em um
momento ele se modifica, “aí foge aquilo de mim”. E na busca pelo saber,
censuram a si mesmos pelo que não sabem frente àqueles que sabem.
Por conseguinte, a trama que tentamos elucidar sinalizou
representações sociais desses indivíduos relativas à desistência da
aprendizagem escolar em Educação de Jovens e Adultos, as quais se
constituíram em um complexo que inscreve a relação dos participantes dessa
investigação com o conhecimento escrito e o poder simbólico que envolve toda
a trama escolar.
CONSIDERAÇÕES: ARREMATES E FRANJAS
Nas considerações da Dissertação enfatizamos que na perspectiva da
tessitura, chegamos, pois, aos arremates e às franjas: refletindo sobre as
interpretações dadas, reiterando as indagações não respondidas,
encaminhando-as para estudos posteriores, bem como socializando as
implicações da pesquisa. Nessa tarefa, estabelecemos diálogos com os
teóricos, e estes, com nossos resultados, a fim de arrematarmos a peça que
naquele momento entregamos à academia e à sociedade.
Não acreditamos por tudo o que foi dito, que a escola seja ineficiente; ao
contrário, nada do que está posto é por acaso ou “natural”. Não
compreendemos ser natural tanta desistência, “ineficácia” e desmotivação. A
escola é eficiente para perpetuar uma trama de rotinas, reiterando a força
simbólica sobre aqueles que muitas vezes nem a percebem e que, dessa
forma, imobilizam-se. Imersos nessa teia mítica, tanto professores quanto
alunos vivenciam arquétipos identitários e representações, tecendo-se neles e
sendo por eles tecidos. As subversões vão figurando os nós dos fios nesse tear
dinâmico e sem trégua.
11
385
Ao transformar a escola em mito, acontecem algumas derivações: a
primeira é de cunho cronológico – um tempo eterno se instala... A segunda
consiste na isenção das responsabilidades, pois se responsabiliza o mito, o
qual, porém, não pode ser punido justamente porque é mito. Dessa maneira, os
responsáveis reais pelos fracassos (imputados à escola, ao professor e aos
alunos) ficam escudados neste mito, pois, ao mitificar a situação, ela é retirada
da concretude e posta entre parênteses em tempo e espaço fluidos. Na esteira
dessa mitificação, os conteúdos, as teorias, as ideologias, o ensino e a
aprendizagem também são mitificados.
Imersos nessa trama que vivenciamos no dia-a-dia, urge que todos, mas
especialmente nós, professores alfabetizadores e formadores de homens e
mulheres, exercitemos sistematicamente a leitura de mundo, entrando nas
sutilezas que ela nos apresenta a fim de que, desse modo, haja mudanças em
nossa prática, a qual deixará de ser alinhada para se tornar transformadora.
Nesse sentido, é pertinente e oportuno trazer a essa tessitura o destaque de
que os dados corroboraram os aspectos teóricos, explicitando conteúdos
específicos do senso comum dos participantes, principalmente por meio das
funções orientadora e justificadora91, como também da visão partilhada sobre
desistência e desistente, alfabetismo e analfabetismo. A isso chama-se
implicação teórica do estudo, nossa contribuição, a partir da empiria, ao avanço
das teorizações sobre a Educação de Jovens e Adultos e seus problemas.
Nas franjas/entrelinhas, compreendemos que os alfabetizandos não
desistem apenas pelas dificuldades pessoais verbalizadas, mas também por
uma série de entraves de cunho pedagógico, em especial pelas metodologias
adotadas pelas alfabetizadoras no processo de ensino a esses alunos. Essa é
a implicação pedagógica da investigação.
As implicações apontadas nasceram, portanto, de análises em acordo
com os pressupostos formulados. Ora, por serem consideradas as
representações sociais como teoria do senso comum, reconhecemos no
91 Sobre as funções das representações sociais, verificar o segundo capítulo da Dissertação a qual estamos apresentando nesta sinopse.
11
386
discurso circulante o estatuto de explicações válidas pelas quais os sujeitos
compartilham sentidos em relação à língua escrita, configurando-se como um
grupo social de fato, e não um grupo por nós nominado.
O processo de análise dos dados exigiu irmos além do mais aparente
nas falas. Para isso buscamos o apoio da análise temática e categorial,
proposta por Bardin (1977). Por meio desses procedimentos, foram emergindo
elementos do olhar mítico sobre a escola, a partir do qual são urdidas as
representações – verdadeiros nós a suscitar o impedimento de suas
aprendizagens. Para a maioria dos participantes da investigação, não há
problemas na instituição, o problema é assumido como sendo deles. Dessa
maneira, os alunos singularizam as dificuldades que sentem para aprender,
localizando-as somente em si próprios.
Por tudo que foi investigado e analisado, consideramos relevante e
urgente um estudo de intervenção controlada a ser viabilizado em um projeto
futuro, a fim de possibilitar o desenvolvimento de uma proposta de
alfabetização que atenda, especificamente, às necessidades de aprendizagem
e às condições psicossociais desses aprendizes. Tal proposta levaria em
consideração, sobretudo, o que sabem, convocando-os ao reconhecimento dos
saberes, das habilidades e das capacidades que teem ressignificando-os aos
conteúdos sistematizados. Desse modo, acreditamos poder amenizar e/ou
evitar a vergonha que sentem ao expor seu não-saber e, principalmente, poder
valorizá-los pelo que sabem e vivenciam cotidianamente.
11
387
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