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UMA ABORDAGEM EVOLUCIONRIA DA DINMICA COMPETITIVA EM ARRANJOS PRODUTIVOS LOCAIS
SEBASTIO DCIO COIMBRA DE SOUZA
Tese apresentada ao Centro de Cincia e
Tecnologia da Universidade Estadual do
Norte Fluminense como parte das
exigncias para obteno do ttulo de
Doutor em Cincias de Engenharia,
concentrao em Engenharia de
Produo.
Orientador: Prof. Jos Ramn Arica Chvez, D. Sc.
Campos RJ
Agosto de 2003
FICHA CATALOGRFICA Preparada pela Biblioteca do CCT / UENF 35/2003
Souza, Sebastio Dcio Coimbra de Uma abordagem evolucionria da dinmica competitiva em arranjos produtivos locais / Sebastio Dcio Coimbra de Souza. Campos dos Goytacazes, 2003. xv, 342 f. : il. Orientador: Jos Ramn Arica Chvez Tese (Doutorado em Cincias de Engenharia) -- Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro. Centro de Cincia e Tecnologia. Laboratrio de Engenharia de Produo. Campos dos Goytacazes, 2003. rea de concentrao: Engenharia de Produo. Bibliografia: f. 234-251 1. Abordagem Evolucionria 2. Trajetria Competitiva 3. Arranjos Produtivos Locais I. Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro. Centro de Cincia e Tecnologia. Laboratrio de Engenharia de Produo II. Ttulo
CDD 338.6048
ii
UMA ABORDAGEM EVOLUCIONRIA DA DINMICA COMPETITIVA EM ARRANJOS PRODUTIVOS LOCAIS
SEBASTIO DCIO COIMBRA DE SOUZA
Tese apresentada ao Centro de Cincia e
Tecnologia da Universidade Estadual do
Norte Fluminense como parte das
exigncias para obteno do ttulo de
Doutor em Cincias de Engenharia,
concentrao em Engenharia de
Produo.
Aprovada em 29 de agosto de 2003.
Comisso Examinadora:
Prof. Jorge Britto, D.Sc. UFF (Economia)
Prof. Luis Antnio Cardoso, D.Sc. UENF (Eng. Produo)
Prof. Victor Prochnik, D.Sc. UFRJ (Eng. Produo)
Prof. Jos Ramn Arica Chvez, D.Sc. UENF (Sistemas)
Orientador
iii
DEDICATRIA
Dedico este trabalho memria de meu pai, Sebastio Sanches de Souza, e minha me, Maria Souza.
iv
AGRADECIMENTOS
! Ao professor Jos Arica, pela confiana e incentivo, que influenciou
positivamente minha trajetria acadmica e profissional.
! Ao professor Helder Gomes Costa, pelo apoio em contornar obstculos
institucionais que surgiram durante o curso.
! A todos os professores do Laboratrio de Engenharia de Produo, por
compartilharem seus conhecimentos durante o curso.
! Aos Professores Victor Prochnik (UFRJ) e Jorge Britto (UFF), pela ateno
dispensada e pelas dicas.
! Aos Ceramistas, que abriram as portas de suas empresas e disponibilizam
as informaes solicitadas, em especial, ao Sr. Nildo Cardoso, pela
ateno.
! Aos colegas de curso Alcimar e Roberto, pelas discusses que
contriburam para a consolidao das minhas idias seminais sobre o tema
abordado.
! Em especial, a minha namorada, companheira de todas as horas,
Jacqueline Cortes, pela pacincia, incentivo e colaborao ao longo desses
anos de convivncia.
! A todos os colegas de curso e de trabalho pelo respeito e solidariedade.
! A Luis Maurcio Menezes (in memorian), ex-Diretor de Projetos da
FENORTE, pela influncia positiva no incio do curso.
! Ao Prof. Darcy Ribeiro, idealizador do sonho Universidade Estadual do
Norte Fluminense, em que acreditei, e a todos que ajudaram a transform-
lo em realidade, que me proporcionou a concluso desse importante e
difcil ciclo acadmico-profissional.
! A toda a minha famlia, meus irmos e amigos, pelo carinho e fora nos
momentos difceis.
! Ao meu pai (in memorian) e a minha me, pela herana tica e moral, e
pelos ensinamentos.
! Finalmente a Deus, pela fora para superar nossas limitaes e as
barreiras pelo caminho, nos impulsionando para seguir em frente.
v
SUMRIO
Resumo............................................................................................................
Abstract............................................................................................................
Lista de Figuras...............................................................................................
Lista de Grficos..............................................................................................
Lista de Quadros.............................................................................................
Lista de Fotos..................................................................................................
Lista de Tabelas..............................................................................................
CAPTULO 1 INTRODUO...............................................................................
CAPTULO 2 - COMPETITIVIDADE: CONCEITOS, ABORDAGENS E ANLISE............. Resumo...........................................................................................................
2.1 Introduo..................................................................................................
2.2 A abordagens da competitividade.............................................................
2.2.1 A abordagem tradicional da competitividade e suas limitaes........
2.2.2 A abordagem dinmica da competitividade......................................
2.3 Determinantes da competitividade............................................................
2.3.1 Anlise da competitividade empresarial............................................
2.3.1.1 Anlise ambiental....................................................................
2.3.1.2 Anlise do padro de concorrncia setorial............................
2.4 Competitividade empresarial x competitividade regional........................
2.5 Competitividade e desenvolvimento econmico regional.........................
2.5.1 A viso tradicional e as novas abordagens......................................
2.5.2 A competitividade de regies e localidades...................................
2.6 Para um conceito integrado de competitividade.......................................
2.7 Para uma abordagem estratificada da competitividade em arranjos
produtivos locais.......................................................................................
2.8. Consideraes finais sobre o Captulo...................................................
ix
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xi
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vi
CAPTULO 3 - PARA UMA ABORDAGEM EVOLUCIONRIA DA DINMICA COMPETITIVA EM ARRANJOS PRODUTIVOS LOCAIS........................................ Resumo.....................................................................................................
3.1 Introduo...........................................................................................
3.2 Mtodo cientfico, evoluo e entropia................................................
3.3 Competitividade e desenvolvimento na perspectiva evolucionria.....
3.4 Fundamentos para uma abordagem evolucionria da dinmica
competitiva em arranjos produtivos locais.................................................
3.5 Consideraes finais sobre o Captulo................................................
CAPTULO 4 - ROTINAS ORGANIZACIONAIS, TRAJETRIAS TECNOLGICAS E O CONCEITO DE TRAJETRIA COMPETITIVA...........................
Resumo......................................................................................................
4.1 Introduo............................................................................................
4.2 Tipos de problemas organizacionais....................................................
4.3 Rotinas como unidade de anlise competitiva entre firmas.................
4.4 Aprendizado e adaptao....................................................................
4.5 Mudana de rotinas (padres).............................................................
4.6 Comportamento e competio.............................................................
4.7 Evoluo e complexidade....................................................................
4.8 Padres e recursos da firma................................................................
4.9 Regras, procedimentos e rotinas.........................................................
4.9.1 Regra...........................................................................................
4.9.2 Procedimento operacional padro (pop).....................................
4.9.3 Rotina..........................................................................................
4.10 Dependncia da trajetria (do contexto local)...................................
4.11 O vnculo entre rotinas e trajetrias tecnolgicas.............................
4.12 O conceito de Trajetria Competitiva..............................................
4.13 Consideraes finais sobre o Captulo..............................................
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vii
CAPTULO 5 - ESTRATIFICAO TECNOLGICA E TRAJETRIA COMPETITIVA EM ARRANJOS PRODUTIVOS LOCAIS: UMA METODOLOGIA ..........
Resumo.....................................................................................................
5.1 Introduo...........................................................................................
5.2 A anlise de sistemas industriais e a abordagem evolucionria.........
5.2.1 Sistemas de Inovao e o Diamante de Porter.....................
5.2.2 Sistemas Tecnolgicos............................................................
5.3 Estratificao tecnolgica...................................................................
5.4 Uma proposta para a anlise da estratificao tecnolgica em
arranjos produtivos locais...................................................................
5.5 Consideraes preliminares sobre a mudana tecnolgica em
arranjos produtivos locais: o caso do Plo de Cermica Vermelha
do Norte Fluminense..........................................................................
5.5.1 Anlise geral e contextualizao do arranjo..............................
5.5.2 Um esboo de aplicao da abordagem proposta....................
5.6 Uma proposta metodolgica para o estudo da estratificao
tecnolgica e da trajetria competitiva em arranjos
produtivos locais.................................................................................
5.6.1 Pesquisa emprica.....................................................................
5.6.1.1 Etapas da metodologia.................................................
5.6.1.2 Detalhamento de cada etapa........................................
5.6.1.3 Agenda Futura...............................................................
5.7 Consideraes finais sobre o Captulo...............................................
5.7.1 Hipteses da abordagem proposta...........................................
CAPTULO 6 - ESTRATIFICAO E TRAJETRIA COMPETITIVA EM UM ARRANJO PRODUTIVO LOCAL: O CASO DO PLO DE CERMICA VERMELHA DO NORTE FLUMINENSE.............................................................
Resumo....................................................................................................
6.1 Introduo..........................................................................................
6.2. Metodologia e etapas do estudo.......................................................
6.2.1 Mtodo de abordagem.............................................................
6.2.2 Mtodo de procedimento..........................................................
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viii
6.3. Apresentao dos dados e informaes...........................................
6.3.1 Consideraes preliminares......................................................
6.3.2 Anlise de padres, rotinas e recursos.....................................
6.4 Clculo dos ndices de recursos e de desempenho...........................
6.4.1 Tratamento e interpretao das informaes...........................
6.4.2 Anlise dos resultados..............................................................
6.5 Grupos estratificados para o arranjo..................................................
6.6 Consideraes finais sobre o Captulo..............................................
CAPTULO 7 - CONCLUSES............................................................................ 7.1 Consideraes finais..........................................................................
7.2 Contribuies.....................................................................................
7.3 Perspectivas de futuros trabalhos.....................................................
REFERNCIAS................................................................................................ APNDICE A - PESQUISA DE CAMPO REALIZADA NO PLO DE CERMICA
VERMELHA DO NORTE FLUMINENSE..........................................
APNDICE B - MODELO E MTODO DE CLCULO DOS NDICES DE RECURSOS E DE DESEMPENHO PARA O ARRANJO ESTUDADO.....
APNDICE C - QUESTIONRIOS APLICADOS.....................................................
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ix
Resumo da Tese apresentada ao CCT/UENF, como parte dos requisitos
necessrios obteno do grau de Doutor em Cincias de Engenharia (D.Sc.)
Uma Abordagem Evolucionria da Dinmica Competitiva
em Arranjos Produtivos Locais
Sebastio Dcio Coimbra de Souza
Orientador: Prof. Jos Ramn Arica Chvez, D Sc.
Curso: Doutorado em Cincias de Engenharia
rea de Concentrao: Engenharia de Produo
A partir de fundamentos da teoria evolucionria de mudana tcnica e de
conceitos da teoria comportamental e da viso baseada em recursos e
competncias da firma, neste trabalho, constri-se uma abordagem especfica
para o entendimento e anlise da dinmica competitiva de firmas em arranjos
produtivos locais. Assume-se que nesses sistemas, ocorre um processo de
estratificao entre grupos de firmas, o qual, pode ser visto como um fenmeno
decorrente da dinmica competitiva prpria e da capacidade de adaptao de
cada componente frente a um ambiente em constante processo de mudana
tcnica e organizacional. Na abordagem desenvolvida, introduz-se o conceito de
trajetria competitiva. Adicionalmente, prope-se uma metodologia para estudo
da dinmica competitiva em arranjos produtivos locais, baseada na abordagem
proposta e em tal conceito introduzido. Uma pesquisa emprica realizada em
estudo exploratrio em um arranjo local tpico, apresentada ao final, confirma as
hipteses assumidas e sustenta a consistncia da abordagem e da metodologia
propostas para o estudo da dinmica competitiva no arranjo tratado.
x
Abstract of Thesis presented to CCT/UENF as a partial fulfillment of the
requirements for the degree of Doctor of Engineering Sciences (D.Sc.).
An Evolutionary Approach to Competitive Dynamic in Local Productive Systems
Sebastio Dcio Coimbra de Souza
Advisor: Jos Ramn Arica Chvez, D.Sc.
Subject: Doctor in Engineering Science
Major Subject: Production Engineering
Linking foundations of the evolutionary theory of technical change with
concepts of the behavioral theory of the firm and resource-based view of the firm,
in this work, a specific approach is built for the understanding and analysis of the
competitive dynamics of firms in local production systems. It is assumed a
stratification process among groups of firms as a phenomenon due to competitive
dynamics and capacity of adaptation of each component in a constant process of
localized technical and organizational change.
Additionally, it is introduced the "competitive trajectory concept and a
methodology based on evolutionary perspective approach for the study of a typical
local production system. Results from an empiric research developed confirms the
hypotheses and sustains the approach and methodology proposed for the study of
the competitive dynamic on such systems.
xi
LISTA DE FIGURAS Captulo 2 Figura 2.1 Relaes genricas de medida de desempenho...................
Figura 2.2 Comportamento da firma com base no desempenho
no mercado............................................................................
Figura 2.3 Nveis de anlise da competitividade empresarial..................
Figura 2.4 Padro de concorrncia setorial.............................................
Figura 2.5 Determinantes da competitividade organizacional.................
Figura 2.6 Determinantes da competitividade estrutural/setorial.............
Figura 2.7 Viso-resumo da dinmica competitiva.................................. Captulo 3 Figura 3.1 Reduo de sistemas complexos a sistemas simples............
Captulo 4 Figura 4.1 O mecanismo da atividade de resoluo de problemas.........
Figura 4.2 Diferentes nveis de regras de comportamento......................
Captulo 5 Figura 5.1 Representao de um Sistema Tecnolgico..........................
Figura 5.2 Exemplo simplificado de Cadeia-Padro de Valor..................
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LISTA DE GRFICOS Captulo 2 Grfico 2.1 Diviso do trabalho por tipos e caractersticas......................
Captulo 4 Grfico 4.1 Diferena entre Regra e POP............................................
Grfico 4.2 Diferena entre Regra e Rotina.........................................
Grfico 4.3 Trade-off entre diferentes padres de rotinas........................
Grfico 4.4 Mudana tecnolgica pela viso estruturalista......................
Grfico 4.5 Srie histrica do desenvolvimento de uma tecnologia.........
Grfico 4.6 O modelo de Curva-S.............................................................
Grfico 4.7 Trajetrias tecnolgicas possveis..........................................
Grfico 4.8 Trajetrias e inovaes..........................................................
Grfico 4.9 Trajetria Competitiva em Arranjos Produtivos Locais/1.......
Grfico 4.10 Trajetria Competitiva em Arranjos Produtivos Locais/2......
Grfico 4.11 Trajetria Competitiva em Arranjos Produtivos Locais/3......
Captulo 5 Grfico 5.1 Diferentes trajetrias de organizao da atividade de inovao
Grfico 5.2 Estratificao tecnolgica hipottica no arranjo....................
Grfico 5.3 Trajetrias evolutivas hipotticas de dois arranjos locais......
Captulo 6 Grfico 6.1 Padro de recursos para as unidades da amostra...............
Grfico 6.2 Distribuio de padres da amostra (IRTk1, PEk1 e PQ k1)
Grfico 6.3 Correlao: Recursos x Produtividade energtica (Ek1)......
Grfico 6.4 Correlao: Recursos x Produtividade na queima (PQk1)
Grfico 6.5 Distribuio de padres da amostra (para IRTk1 e PVPk1)
Grfico 6.6 Correlao: Recursos x Produtividade na queima (PVPk1)
Grfico 6.7 Trajetria competitiva hipottica...........................................
Grfico 6.8 Distribuio de padres da amostra (para IRTk1 e PHhk1)
Grfico 6.9 Correlao: Recursos x Produtividade Homem-hora...........
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xiii
LISTA DE QUADROS
Captulo 2 Quadro 2.1 Diferentes abordagens da competitividade das empresas.... Quadro 2.2 Foras e fatores da competitividade empresarial..................
Quadro 2.3 A viso de Porter sobre a competitividade............................
Quadro 2.4 Atividades de sustentao da competitividade empresarial
Quadro 2.5 Pontos de conflitos na abordagem da competitividade.........
Quadro 2.6 Variaes no conceito de competitividade............................
Quadro 2.7 Integrao entre polticas de longo e curto prazos............... Captulo 3 Quadro 3.1 Alguns aspectos gerais da abordagem evolucionria...........
Captulo 4 Quadro 4.1 Comparao entre unidades de anlise da firma.................. Quadro 4.2 Diferentes concepes de rotina...........................................
Quadro 4.3 Caractersticas de procedimentos e de rotinas individuais...
Quadro 4.4 Evoluo do processo criativo tcnico.................................. Captulo 5 Quadro 5.1 Diferenas entre Sistemas de Inovao e o Modelo de Porter Quadro 5.2 Estrutura analtica de Sistemas Tecnolgicos.......................
Quadro 5.3 Classificao tecnolgica de firmas.......................................
Quadro 5.4 Classificao de atividades de inovao dentro das firmas
Quadro 5.5 Tipologia de firmas segundo a segmentao do mercado
Quadro 5.6 Classes de capacidade de manufatura.................................
Quadro 5.7 Hipteses da abordagem......................................................
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LISTA DE FOTOS Captulo 6 Foto 6.1 - Telhas revestidas (Cermica L)..................................................
Foto 6.2 Revestimento em diversas cores (idem)....................................
Foto 6.3 Cortador mecnico giratrio (idem)...........................................
Foto 6.4 Exemplo de cortador convencional (com arames).....................
Foto 6.5 Prensas modernas para produo de telhas (Cermica C).......
Foto 6.6 Bloco vazado aparente e plaquetas de revestimento (Cermica F)
Foto 6.7 Massa muito heterognea (Cermica O)...................................
Foto 6.8 Blocos danificados (idem)..........................................................
Foto 6.9 Transporte braal das peas (Cermica I).................................
Foto 6.10 Utilizao de microtrator para transporte (Cermica M)..........
Foto 6.11 Secagem natural (ao ar livre) (Cermica N)............................
Foto 6.12 - Ventiladores mveis para secagem (Cermica D)...................
Foto 6.13 Forno tipo circular (secular) (Cermica J)................................
Foto 6.14 - Forno tnel (moderno) (Cermica K)........................................
Foto 6.15 Processo produtivo catico (Cermica J).................................
Foto 6.16 Layout limpo e organizado (Cermica F).................................
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xv
LISTA DE TABELAS Captulo 6 Tabela 6.1 Caractersticas dos grupos estratificados...............................
Tabela 6.2 Estratificao em grupos para o arranjo estudado.................
220
221
CAPTULO 1
INTRODUO
A intensificao da competio internacional tem forado cada vez mais as
empresas a se capacitarem para absorver novas tecnologias de modo a sustentar ou ampliar
mercados e se manterem competitivas. Paralelamente, o desempenho econmico nacional
ou regional, est vinculado diretamente capacidade de aproveitamento das oportunidades
de mercado, dos recursos locais e das bases existentes de tecnologia, atravs de
treinamento profissional e cientfico e da explorao econmica eficiente dessas bases.
No atual cenrio econmico, a competitividade das firmas cada vez mais
determinada pela tecnologia dominada e pela capacidade de adaptao mudana (DOSI,
1988; BAUM & SINGH, 1994). Nesse sentido, o desenvolvimento de processos e produtos
tecnolgicos mais avanados, eventualmente inovadores, um dos principais pilares para
uma empresa obter vantagens competitivas, respondendo s contnuas mudanas exigidas
pelo mercado.
No mbito das empresas, a mudana tecnolgica pode ser entendida como um
processo de crescimento influenciado pela configurao local dos arranjos onde elas se
inserem (aglomerados, distritos, redes, blocos etc), bem como, por fatores endgenos
(trajetrias, rotinas organizacionais, estratgias etc). Essa dinmica envolve explorao,
adaptao e imitao de novas tecnologias (DOSI, 1982). Presses competitivas de
tecnologias novas ou correlatas e desafios ou ideais visionrios dos lderes, alm das
caractersticas do ambiente local, contribuem para acelerar o processo de mudana e
inovao.
CAPTULO 1 INTRODUO
2
Nesse sentido, os conceitos tradicionais de algumas variveis envolvidas no
contexto da competitividade tm sido revistos. Uma das principais, a tecnologia, antes
entendida como simples elemento residual, tem agora seu conceito ampliado, passando as
considerar mltiplas facetas.
Um efeito decorrente dessa concepo do ambiente econmico que a viso
tradicional de inovao tecnolgica, baseada nos conceitos de science push e technology
pull, linear e unidimensional, tem sido ampliada, e, em alguns casos, substituda por uma
apreciao mais complexa, incorporando diferentes aspectos alm daqueles tradicionais de
alta e baixa tecnologia e de tecnologia do produto e de processo (NORTH &
SMALLBONE, 2000). Neste aspecto, tecnologia e inovao so vistos mais como um
processo interativo entre homem, organizao e contexto ambiental, e relacionados a ativos
invisveis e a conceitos evolucionrios (DOSI, 1988; EDQUIST, 1997; ZIMAN, 2000;
SAVIOTTI & NOOTEBOOM, 2000).
Paralelamente, a infra-estrutura e o ambiente regional/local assumem papel
determinante nas novas abordagens do desenvolvimento econmico. Muitos trabalhos
nesse sentido tm enfatizado essa questo (ver, por exemplo, PORTER, 1989; BENKO &
LIPIETZ, 1994; MALECKI & INAS, 1998; PACI & USAI, 2000). Um aspecto
caracterstico desses trabalhos a grande nfase em pases centrais e quase que
exclusivamente em setores industriais altamente avanados, onde a inovao stricto sensu
uma das armas essenciais na arena competitiva.
Permanece, entretanto, uma lacuna entre as teorias e conceitos evolucionrios e os
mtodos empregados para a anlise de ambientes pouco evoludos tecnologicamente, mas
fundamentais para a economia de certas microrregies perifricas, cuja mudana se d de
maneira lenta e, muitas vezes, somente induzidas por fontes externas. Por outro lado,
metodologias e abordagens adequadas para a anlise de micro-sistemas produtivos, e a
considerao de conceitos no-estticos em nvel microrregional e/ou mesoeconmico,
necessitam ser adaptadas ao contexto. No existem metodologias gerais que considerem
aspectos dinmicos evolutivos e, ao mesmo tempo, caractersticas locais e setoriais.
Abordagens prprias tm de ser construdas. Nestes casos, h a necessidade de estudos das
relaes interfirmas e de segmentos de cadeias industriais que permitam a anlise dos
agentes e ao mesmo tempo do contexto no qual se inserem.
O emprego de abordagens e metodologias baseadas em sistemas tecnolgica e
CAPTULO 1 INTRODUO
3
economicamente avanados, ipsis litteris, ao estudo de arranjos produtivos locais1 de
indstrias tradicionais, menos densos em termos de tecnologia, tem gerado vazios de
interpretao, o que no tem contribudo para uma viso realista da dinmica do
desenvolvimento desses sistemas, principalmente para aqueles localizados em regies
perifricas. Nesse sentido, o preenchimento desses vazios requer a criao de abordagens
que captem as diversidades locais e regionais e as diferenas entre firmas de um mesmo
arranjo produtivo em termos de dinmica competitiva e tecnolgica.
A dinmica competitiva em arranjos produtivos locais influenciada, entre outros
fatores, pela freqncia e impacto de novas tecnologias e pelas caractersticas especficas
do mercado, que pressionam as empresas a uma constante reavaliao de suas estratgias,
mtodos e rotinas organizacionais, provocando um processo de estratificao tecnolgica
no arranjo (SOUZA & ARICA, 2001).
A estratificao tecnolgica de empresas pode ser vista como um fenmeno
decorrente da dinmica competitiva do sistema e da capacidade de adaptao de cada
componente frente a um ambiente em constante processo de mudana tecnolgica. No
nvel micro-dinmico, essa estratificao pode ser verificada atravs da dotao de
recursos e dos ndices de desempenho de cada empresa, os quais, afetam suas estratgias
de mercado. Nesse contexto, entender a formao de segmentaes e a dinmica
competitiva nesses sistemas, de forma geral, uma condio fundamental para proposio
de planos e programas compatveis com a realidade local, de modo a superar deficincias
tcnicas, contornar de barreiras comerciais, direcionar novos investimentos e preservar
condies scio-ambientais satisfatrias.
Entretanto, por razes metodolgicas, tradicionalmente as polticas de incentivo e
os programas de apoio ao desenvolvimento e competitividade so distribudos de forma
genrica regies ou setores, e tratam aglomerados e segmentos industriais como um
bloco homogneo e integral. As diversidades internas desses arranjos e a estratificao
entre empresas no so captadas, o que torna tais iniciativas pouco eficientes e, muitas
1 Esta expresso aqui adotada, e de forma recorrente nos captulos subseqentes, uma denominao genrica para a concentrao espacial de unidades econmicas de manufatura, desde aquelas voltadas para a utilizao de recursos naturais e dispostas de forma fragmentada at aglomerados, clusters, distritos industriais e outros tipos de concentrao de indstrias com caractersticas dinmicas mais acentuadas. Nesse sentido, o termo arranjo, menos restritivo que sistema, e no necessariamente pressupe atividades dinmicas de coordenao e cooperao, podendo referir-se tanto a aglomerados informais (ver Mytelka & Farinelli, 2000; Santos et al., 2002) e a clusters de sobrevivncia (ver Meyer-Stamer, 2000). Ver tambm Cassiolato & Lastres (2001).
CAPTULO 1 INTRODUO
4
vezes, ineficazes. Um dos efeitos desse tratamento s atividades microeconmicas que
muitas empresas no conseguem se capacitar para serem includas em tais programas.
Visando contribuir para o estudo e o entendimento dos micro-elementos desse
contexto, neste trabalho, apresenta-se uma abordagem para a anlise da dinmica
competitiva em arranjos produtivos locais a partir dos conceitos de trajetria
competitiva2 e estratificao tecnolgica. Tal abordagem baseada em fundamentos
evolucionrios como os de dependncia da trajetria, trajetrias, regimes tecnolgicos e
padres tcnicos e rotinas. Ao invs de se analisar a evoluo de uma determinada
tecnologia em termos globais, como o conceito tradicional de trajetria tecnolgica
sugere, pela abordagem proposta, o foco da anlise centra-se na dinmica competitiva de
um determinado arranjo produtivo local, para paralelamente, se avaliar como as empresas
componentes se comportam e se posicionam frente aos concorrentes dentro desse sistema.
Nesse sentido, o objetivo geral do trabalho o de contribuir para o avano da
pesquisa cientfica atravs da proposio de novos mtodos de soluo para problemas de
interesse de meio acadmico e da sociedade, focando casos aplicados de regies, setores e
micro-sistemas produtivos locais.
Especificamente no que se refere ao problema tratado, o objetivo propor uma
metodologia prpria para o estudo da dinmica competitiva em arranjos produtivos locais,
atravs de uma abordagem que permita captar, ao mesmo tempo, o processo de mudana
tecnolgica e as micro-diversidades entre firmas, possibilitando a identificao e anlise
das fontes das vantagens competitivas individuais e em grupo, gerando informaes teis
para o entendimento desses sistemas.
As hipteses assumidas so: (i) que a dinmica competitiva e o processo de
mudana tecnolgica em arranjos produtivos locais provocam um processo de
estratificao em grupos entre as empresas do arranjo, e; (ii) que a abordagem
evolucionria constitui uma base terica consistente para sustentar uma metodologia capaz
de captar tal dinmica. Outras hipteses secundrias so levantadas e discutidas ao longo
do texto.
2 Trajetria aqui refere-se a um certo caminho trilhado pelas firmas na transio entre dois regimes tecnolgicos diferentes, o qual influencia o comportamento de outras firmas. O termo competitivo refere-se ao conceito evolucionrio de disputa entre agentes (firmas) em um determinado contexto para adquirirem primeiro certos caracteres fortes que lhes permitam obter vantagens e se sobrepor frente aos concorrentes (Vide Captulos 3 e 4).
CAPTULO 1 INTRODUO
5
O trabalho foi estruturado em sete Captulos, incluindo a Introduo e as
Concluses, alm das Referncias e de trs Apndices, ao final. Os Captulos foram
encadeados de maneira a permitir um entendimento seqencial do trabalho, de um escopo
geral para um mais restrito, apesar de guardarem uma certa independncia entre si.
No Captulo 2, aborda-se os fundamentos por trs do termo competitividade,
contrapondo, sempre que possvel, os diversos enfoques, de modo a prover uma viso
sinttica das dicotomias e divergncias conceituais mais destacadas.
De uma forma geral, na anlise da competitividade esto envolvidos vrios nveis,
internos e externos, que, em suma, buscam captar o comportamento da firma. Entretanto, a
diviso tradicional da anlise competitiva nos nveis organizacional, estrutural, geogrfico
e sistmico, negligencia certos arranjos produtivos locais, pouco competitivos fora da
esfera regional. De modo a prover uma alternativa de tratamento desses sistemas, sugere-se
a incluso de um nvel especfico para anlise da competitividade nesses arranjos.
No Captulo 3, defende-se uma abordagem da competitividade em arranjos
produtivos locais atravs de uma perspectiva evolucionria. A partir de uma reviso dos
conceitos e hipteses fundamentais da teoria econmica evolucionria, enfatiza-se suas
principais diferenas em relao teoria neoclssica, buscando-se evidenciar sua maior
relevncia para o tratamento e a anlise de problemas dinmicos do ambiente socioeconmico local. Nesse aspecto, conceitos como Entropia e Evoluo so importantes
para o entendimento de como sistemas abertos (como o econmico) interagem com o
ambiente e quais os efeitos dessa interao no comportamento de sistemas dinmicos.
Subseqentemente, apresentam-se os reflexos mais imediatos dessa abordagem para o
enfoque do ambiente competitivo e do desenvolvimento econmico regional e local.
Tambm so traadas algumas consideraes sobre polticas e programas pblicos de
sustentao da competitividade local, compatveis com a perspectiva evolucionria. Por
fim, destacam-se algumas questes de pesquisa iminente a serem tratadas mais adiante.
No Captulo 4, fundamentos evolucionrios so combinados com conceitos da
teoria comportamental e da viso baseada nos recursos e competncias da firma para o
desenvolvimento de uma abordagem evolucionria especfica da dinmica competitiva em
arranjos produtivos locais.
Inicialmente, a noo de que o ritmo de incorporao de tecnologias mais
avanadas um dos principais fatores condicionantes da competitividade das empresas
CAPTULO 1 INTRODUO
6
revista. Ressalta-se que esta incorporao no se d de maneira homognea nem simtrica
a todas s firmas, provocando um processo que se pode denominar de estratificao
tecnolgica competitiva no arranjo. Considera-se que este seja decorrente do desempenho
de cada empresa em incorporar mudanas tcnicas e organizacionais e em adotar
estratgias de adaptao s variaes de mercado. Pela abordagem evolucionria, tais
fatores poderiam ser captados pela identificao de traos (padres) recorrentes em
certos grupos de diferentes empresas.
Nesse ponto, explora-se a relao entre os fundamentos endgenos e exgenos da
firma. Pela abordagem adotada, o conjunto de regras, procedimentos, rotinas e os vrios
padres de comportamento, carregam as impresses e os caracteres que podem revelar
sua verdadeira fonte de vantagens ou desvantagens no jogo competitivo. Assim, a
identificao de padres de comportamento embutidos em tais elementos intrnsecos
firma assumida como um meio consistente a se explorar na anlise competitiva e no
estudo do comportamento das organizaes. A partir dos conceitos de dependncia da
trajetria, trajetria tecnolgica e rotinas, ao final, introduz-se o conceito de Trajetria
Competitiva.
Neste sentido, no Captulo 5, prope-se uma abordagem e uma metodologia
prprias para o estudo da estratificao tecnolgica em arranjos produtivos locais, a partir
do conceito de Trajetria Competitiva. Inicialmente, faz-se uma reviso das abordagens
mais recentes para anlise de sistemas produtivos locais, regionais e setoriais. So
destacados alguns enfoques para o problema da estratificao de atividades tecnolgicas,
no mbito da firma, de setor industrial e em termos de nao. Ao final, so traadas as
consideraes prvias sobre a aplicao da metodologia ao caso especfico de um arranjo
produtivo local.
No Captulo 6, apresenta-se um caso aplicado da abordagem e metodologia
propostas, atravs de uma sntese de projeto de pesquisa vinculado, realizado no Plo de
Cermica Vermelha do Norte Fluminense (Campos-RJ). Ao final discutem-se os resultados
obtidos, a consistncia da metodologia e as hipteses assumidas.
No Captulo 7, as Concluses encerram o trabalho. Os Apndices complementam
as informaes e dados que sustentaram as concluses, seguido das Referncias, que
formaram a base fundamental para construo da abordagem e metodologia propostas
nesta obra.
CAPTULO 2
COMPETITIVIDADE: CONCEITOS, ABORDAGENS E ANLISE
RESUMO
Nos dias de hoje, o termo competitividade amplamente empregado nas mais diversas situaes e, na maior parte das vezes, sem rigor de definio do conceito que est por trs da palavra, o que tem gerado um verdadeiro mosaico de definies, dificultando o entendimento e, muitas vezes, induzindo conflitos de interpretao. Para sintetizar e definir um marco terico sobre o tema, nesse Captulo procura-se desenvolver uma avaliao sobre os principais conceitos por trs do termo competitividade, contrapondo, sempre que possvel, os diversos enfoques, de modo a prover uma viso sinttica das dicotomias e divergncias conceituais mais destacadas.
Atravs da reviso bibliogrfica sobre o tema, verifica-se que na anlise da competitividade esto envolvidos vrios nveis, internos e externos, que, em suma, buscam captar o comportamento da firma. Entretanto, a diviso tradicional da anlise competitiva nos nveis organizacional, estrutural, geogrfico e sistmico, negligencia certos arranjos produtivos locais, pouco competitivos fora da esfera regional. Nesse sentido, para quando esta anlise envolver plos de indstrias locais, prope-se a considerao de um quinto nvel, o qual foi denominado de segmental, por aqueles constiturem-se geralmente de pequenos segmentos de cadeias produtivas, pouco representativos comercialmente na cadeia, mas contudo, em muitos casos, exercerem papel importante na economia regional e suscetveis a propostas de desenvolvimento local.
Conclui-se que a competitividade, como o prprio processo produtivo, antes de tudo comportamental e dinmica.
CAPTULO 2: COMPETITIVIDADE: CONCEITOS, ABORDAGENS E ANLISE
8
2.1 Introduo
Desde o incio do sculo passado, com os princpios da administrao dos tempos e
movimentos de Taylor e Fayol, at os dias de hoje, os conceitos de crescimento e
expanso, mesmo passando por um processo de constante evoluo de pontos de vista,
sempre estiveram presentes nos propsitos da organizao industrial.
Neste perodo, o conceito de organizao produtiva expandiu-se, passando a
incorporar novos requisitos, como produzir, vender e entregar melhor, mais barato e mais
rpido que os concorrentes. Este processo acelerou a disputa para superao de obstculos
e adaptao aos novos requisitos exigidos pelos mercados, o que se acentuou com o
processo de abertura econmica e a internacionalizao dos negcios (LANGLOIS, 2001).
Paralelamente, os pases e regies, por sua vez, passaram a depender cada vez mais
de empresas, indstrias e setores fortes internacionalmente1 (PORTER, 1989; MALECKI,
1997; CHANDLER, 1997).
Por outro lado, a expanso da riqueza nacional, o aumento da capacidade produtiva
e a melhoria das condies de infra-estrutura energtica, de telecomunicaes e de
transporte, so algumas das preocupaes que sempre moveram as economias mais
avanadas.
Entretanto, o progresso tecnolgico alcanou uma dimenso tal que na sociedade
moderna, a competitividade nacional est baseada primeiramente na tecnologia. Cincia e
tecnologia passam a constituir os fatores decisivos nas novas foras produtivas. Naes em
desenvolvimento precisam investir pesadamente em tecnologia para expandir a economia.
Ns acreditamos que cincia e tecnologia sero o ncleo da competitividade no futuro
(PORTER et al., 2001:477).
1 Na viso tradicional, o crescimento econmico e o progresso social de uma nao estariam atrelados e dependentes da eficincia e eficcia com que as empresas e indstrias efetivamente atingiriam a seus propsitos. Estas, atravs do pagamento de tributos, permitiriam e sustentariam investimentos pblicos em reas estratgicas, como infra-estrutura urbana, segurana, educao, sade e preservao do meio ambiente, e tambm em financiamentos aos setores produtivos. De certa forma, o desempenho de um pas, a qualidade de vida e o bem estar da populao, passaram a estar vinculados diretamente ao desempenho das indstrias e da boa administrao do dinheiro pblico. Teoricamente, porm, o fluxo de capital neste ciclo no isolado nem conservativo. Na prtica, perdas devido s limitaes inerentes ao prprio processo, controle e fiscalizao, e a tolerncia corrupo, podem comprometer o funcionamento desse ciclo. Nesse sentido, em ambientes democrticos, sociedades mais bem informadas e de melhor nvel educacional exercem maiores presses para resoluo dos problemas, a busca de solues alternativas e a correo de falhas, contribuindo de forma fundamental para a melhoria no desempenho do pas. Para diferentes pontos de vista sobre este tema, ver Piore & Sabel (1984); Buitelaar & Van Dijck (1996); Landes (1998), e os trs primeiros captulos em von Tunzelman (1995).
CAPTULO 2: COMPETITIVIDADE: CONCEITOS, ABORDAGENS E ANLISE
9
Apesar de afirmaes contundentes como a anterior, e de servirem a propsitos
semelhantes, os atributos que levam uma nao a ser considerada evoluda e uma
empresa a ser vista como competitiva, carregam contradies intrnsecas. Contudo,
muitas vezes so assumidos como equivalentes, sob a denominao genrica de
competitividade.
Conceitualmente, o termo competitividade pode ter suas razes atribudas
biologia, mais especificamente aos estudos de Lamarck e Darwin sobre a Teoria da
Evoluo das Espcies, pela qual, grosso modo, os seres lutam para sobreviver em um
processo de competio de vida ou morte, onde os sobreviventes ganham o direito de
transmitir seus genes s geraes posteriores.
As primeiras tentativas de aplicao de conceitos evolucionrios aos fenmenos
econmicos remontam ao final do sculo XIX, com Veblen (ver, MAYHEW, 1998), e ao
incio do sculo XX, com Schumpeter, e sua metfora de destruio criativa para os
efeitos do avano tecnolgico sobre a economia2.
A literatura com questes relativas competitividade extremamente dispersa e
difusa. Especialmente no campo dos negcios, o seu emprego e a conotao que se atribui
ao termo, livre de qualquer rigor conceitual. Geralmente, parte-se do pressuposto que o
conceito ampla e inquestionavelmente definido, ignorando-se os conflitos tericos que
traz embutido. Ultimamente, o emprego do conceito de competitividade ganhou fora
epidmica, especialmente no mundo dos negcios, com o crescimento da
internacionalizao e abertura de novos mercados. Mais recentemente, com a consolidao
das operaes globais de investimento e de produo (mais a primeira que a ltima), este
termo tem sido trasladado para denominar pases e regies com o mesmo sentido, o que
tem gerado grande polmica e conflitos conceituais.
2 Porm, somente no incio da dcada de 80, com a publicao do livro An Evolutionary Theory of Economic Change de Nelson & Winter (1982), que foram lanadas as bases para um tratamento mais formal da aplicao dos conceitos evolucionrios ao ambiente microeconmico. Este trabalho consolidou a abertura de uma avenida de pesquisa, que passou a ser denominada teoria econmica evolucionria, ou neo-schumpeteriana. De forma geral, esta se caracteriza por defender que os processos econmicos de crescimento e desenvolvimento so reflexos de mudanas estruturais (basicamente, inovaes), desequilbrios e coalizes, e, fundamentalmente, que os agentes atuam em condies de informao imperfeita e racionalidade limitada e que a tecnologia no um pacote livremente disponvel no mercado e absorvido de forma idntica por todas as firmas. Estas hipteses contrapem frontalmente os preceitos bsicos da Teoria Neoclssica, de informao perfeita, racionalidade e equilbrio geral. Para um survey sobre a abordagem evolucionria ver Freeman (1994). Para enfoques alternativos dessa teoria, ver, por exemplo, Metcalfe (1995a, b) e Nooteboom (1999).
CAPTULO 2: COMPETITIVIDADE: CONCEITOS, ABORDAGENS E ANLISE
10
At em meios acadmicos, nota-se pouca preocupao sobre ao que o termo
competitividade realmente corresponde, qual o conceito por trs, e se adequado ao
contexto. Este comportamento tem contribudo para formar um mosaico de interpretaes e
distores a respeito do assunto.
A abordagem desse tema varia de mltiplas formas, de acordo com a corrente
terica da economia (neoclssica tradicional, do crescimento endgeno, evolucionria,
estruturalista etc.); com a dimenso da anlise (em nvel macro ou microeconmico); com
o objeto de estudo (firma, setor, pas, blocos econmicos); e com o contexto (econmico,
social, ambiental), entre outros.
Em um nvel microeconmico, competitividade geralmente entendida como a
habilidade de uma firma crescer, aumentando sua lucratividade e seu mercado. Pela teoria
econmica tradicional, custos comparativos de produo determinariam a vantagem
competitiva da firma, e uma forma de torn-la mais competitiva seria atravs da produo
de produtos com custos menores aos dos concorrentes. Contudo, o conceito de
competitividade tambm varia de acordo com a teoria organizacional da firma, como a
comportamental e a contingencial3.
Tradicionalmente, o principal enfoque da competitividade tem sido nos fatores
organizacionais endgenos como desempenho, eficincia tcnica e, principalmente, a
otimizao dos recursos das empresas. Paralelamente, cada vez maior o enfoque no
comrcio internacional e nas especificidades dos fatores locais.
Alm da influncia dos efeitos locais e regionais na competitividade de firmas e
indstrias, alguns autores tambm procuram destacar o papel de fatores mais subjetivos,
no monetrios, como importantes determinantes da competitividade (ver, por exemplo,
Doeringer & Terkla, 1990).
Alguns estudos recentes, com diferentes enfoques sobre o tema competitividade,
incluem Porter et al. (2001); Clark & Guy (1998); Maskel et. al. (1998), Krugman (1994) e
Porter (1989,1988). Utilizando a metodologia proposta em Porter (1989), Coutinho &
Ferraz (1995), desenvolveram um importante estudo sobre a competitividade da indstria
3 Neste trabalho adotamos uma perspectiva comportamental da firma, utilizando conceitos de trabalhos clssicos como Penrose (1959), Cyert & March (1963) e March (1988), e Burgelman et al., (1995). Desdobramentos recentes nessa linha utilizam duas denominaes para a mesma viso, a baseada em recursos (ver, por exemplo, Lieberman & Montgomery, 1998), e a baseada na competncia (ver, por exemplo, Reed & DeFillippi, 1990).
CAPTULO 2: COMPETITIVIDADE: CONCEITOS, ABORDAGENS E ANLISE
11
no Brasil. Tambm merecem destaque na anlise da competitividade no cenrio brasileiro
os trabalhos de Ferraz et al. (1997) e Costa e Arruda (1999).
2.2 Abordagens da competitividade
Segundo Coutinho & Ferraz (1995), um ambiente de livre mercado e competio
aberta estabelece o contexto no qual a capacidade competitiva formada. Nesse contexto,
a competitividade da firma pode ser vista como a produtividade das empresas ligada
capacidade dos governos, ao comportamento da sociedade e aos recursos naturais e
construdos, e aferida por indicadores nacionais e internacionais, permitindo conquistar e
assegurar fatias do mercado (p.10).
Porm, esta aferio pode ser prejudicada pela dificuldade de se obter dados e
informaes atualizados. A carncia de dados estatsticos e de indicadores de desempenho
confiveis, limita o acompanhamento da evoluo industrial, da distribuio social dos
benefcios e do estado-da-arte da tecnologia (op.cit.: 11).
No mbito internacional, historicamente, o indicador mais difundido de
competitividade o comrcio exterior, cujo principal fator de desempenho o preo (em
US$). Entretanto, esta maneira de avaliar a competitividade tem sido reconsiderada, desde
que, em alguns pases, constatou-se que a queda nos preos dos produtos exportados, e a
elevao dos mesmos em outros, estavam, na verdade, relacionadas variao do mercado
compartilhado e no especificamente ao preo (KALDOR, 1981). Segundo Clark & Guy
(1998), este fato diminuiu a credibilidade do enfoque no preo e alimentou o interesse pelo
estudo dos fatores no monetrios da competitividade.
2.2.1 A abordagem tradicional da competitividade e suas limitaes
Dependendo do conceito e da abordagem, percebem-se dois critrios distintos para
se avaliar a competitividade. O primeiro v a competitividade como uma capacidade
intrnseca e restrita ao processo produtivo, com nfase nos meios de produo. Neste caso,
sua medida feita atravs de um critrio especfico, a eficincia. O segundo, assume a
competitividade como um fenmeno dinmico e relativo aos fins da produo, e a mede
pela participao no mercado. Segundo Haguenauer (1989), Kupfer (1992) e Ferraz et al.,
(1997), podemos caracterizar as duas abordagens da seguinte forma:
CAPTULO 2: COMPETITIVIDADE: CONCEITOS, ABORDAGENS E ANLISE
12
1) Uma, que define competitividade a partir da noo de eficincia do processo produtivo
(ou na relao insumo-produto), e representa a competitividade potencial, a qual se
expressa atravs da produtividade e da qualidade em relao aos concorrentes. Neste caso,
os indicadores mais utilizados para a avaliao so o preo, o custo, os coeficientes
tcnicos e parmetros de produtividade dos fatores da indstria internacional. Essa medida
revela uma competitividade potencial que demonstra a capacidade da empresa em
converter insumos em produtos com o mximo rendimento. Por esta viso, a
competitividade determinada pela capacidade do produtor de escolher quais tcnicas
utilizar, de acordo com as limitaes de seus recursos, principalmente os financeiros, os
tecnolgicos e os gerenciais. Dessa forma, a competitividade um fenmeno ex ante facto.
2) Outra, que defende que a competitividade est diretamente relacionada com a
participao no mercado. medida pela eficcia ou posio no mercado, principalmente
pelo volume das exportaes e o mercado compartilhado. Neste caso, os indicadores a
serem avaliados vo desde as condies de produo at as polticas cambial e comercial, a
eficcia dos canais de comercializao, os sistemas de financiamento produo e
estratgias. Por esta tica, a competitividade definida pelo mercado, atravs da demanda.
A satisfao dos consumidores em adquirir os produtos e servios influencia a
competitividade das empresas. Esta seria uma medida da competitividade ex post facto.
Indiretamente, a produtividade e todos os outros fatores no mensurveis e intangveis,
estariam embutidos nessa avaliao, apesar de no se poder identific-los. Segundo
Haguenauer (1989), uma das vantagens deste conceito sua menor complexidade de
mensurao.
A seguir so apresentadas duas formas de abordar o desempenho competitivo das
firmas. A Figura 2.1 mostra um sistema de produo genrico, no qual os insumos
(entrada) so transformados em algum tipo de produto acabado (sada). As medidas de
desempenho mais comuns, e suas respectivas definies gerais, so mostradas na legenda
(ver WAEYENBERGH & PINTELON, 2002). Este tipo de medida pode ser considerado
uma avaliao da competitividade internamente referenciada.
A Figura 2.2 apresenta uma viso do comportamento competitivo da firma baseado
na posio do mercado. Neste caso, as vantagens comparativas seriam aquelas
tradicionalmente baseadas em recursos internos. As vantagens competitivas adviriam de
estratgias bem sucedidas adotadas perante o ambiente. A posio no mercado refletiria
CAPTULO 2: COMPETITIVIDADE: CONCEITOS, ABORDAGENS E ANLISE
13
estas vantagens ou desvantagens competitivas. A partir de resultados alcanados no
mercado, realimentaes no processo (feedbacks) provocariam decises de ajuste e
reposicionamento estratgico com a reformulao e a adoo de novos recursos (ver
HUNT & MORGAN, 1997). Esta seria uma medida externamente referenciada.
Figura 2.1 Relaes genricas de medida de desempenho (baseado em Waeyenbergh & Pintelon, 2002: 311, Fig.7)
Figura 2.2 Comportamento da firma com base no desempenho no mercado
(adaptada de Hunt & Morgan, 1997: 78, Fig.1)
Recursos -Vantagens comparativas- Paridade - Desvantagens comparativas
Posio no Mercado -Vantagens competitivas - Paridade - Desvantagens competitivas
Desempenho financeiro - Superior - Paridade - Inferior
Processo (caixa preta) Insumo (entrada) Produo (sada)
Definies genricas:
Entrada terica
Entrada presente
Sada
Entrada
Eficincia =
Produtividade =
Eficcia =
Efetividade = Eficcia x tempo
Sada presente
Sada terica
CAPTULO 2: COMPETITIVIDADE: CONCEITOS, ABORDAGENS E ANLISE
14
Apesar de difundidas e utilizadas amplamente, as formas tradicionais de avaliao
da competitividade tm sofrido severas crticas por apresentarem algumas deficincias
crnicas.
Segundo Ferraz et al. (1997), pelo fato de a participao no mercado e da
produtividade serem referenciais medidos a posteriori, no caso, por exemplo, de haver
uma poltica de subsdios especficos exportao para certos setores, os resultados
medidos dessa forma estariam distorcidos, pois o desempenho das empresas poderia no
ser fruto da eficincia no processo produtivo. Alm disso, esta seria uma abordagem
esttica, focada apenas nos efeitos, sem identificar as relaes causais, podendo no ser
sustentvel no longo prazo.
Coutinho & Ferraz (1995), afirmam que a viso econmica tradicional da
competitividade, que a assume como uma questo de preos, custos (especialmente
salrios) e taxa de cmbio, est superada. Historicamente, paises com polticas focadas na
desvalorizao cambial, no controle de custos e na produtividade do trabalho naufragaram
sem conseguir melhorar a competitividade das empresas, enquanto que outros, foram
vitoriosos e se afirmaram no mercado mundial, apesar de elevarem seus custos trabalhistas
e de longos perodos de sobrevalorizao cambial (op.cit.:16). Se observados
dinamicamente, tanto o desempenho quanto a eficincia so resultados de capacitaes
acumuladas e estratgias competitivas adotadas pelas empresas, baseadas em percepes
quanto ao processo concorrencial e ao meio ambiente econmico e social em que esto
inseridas (op.cit.: 18).
Nesse sentido, Vasconcelos & Cyrino (2000:33), destacam que com a alterao
das condies ambientais, mudam tambm os recursos essenciais para garantir a
sobrevivncia e o desempenho econmico diferenciado das firmas. Seria a antecipao
dessas mudanas no ambiente, e a adoo de estratgias vencedoras, que garantiria a
possibilidade de sustentao das vantagens competitivas das firmas.
Nesta linha de pensamento, um conceito mais representativo do termo
competitividade deveria integrar os critrios de avaliao da eficincia e do desempenho
presente, com sua evoluo e perspectivas de sustentao futura. Dessa forma, seria
importante responder a uma pergunta fundamental: Onde estariam as fontes das vantagens
competitivas?
CAPTULO 2: COMPETITIVIDADE: CONCEITOS, ABORDAGENS E ANLISE
15
Tais questionamentos indicaram a necessidade de se incluir na abordagem da
competitividade tanto fatores endgenos como exgenos do ambiente em que as empresas
atuam, em uma perspectiva dinmica e sistmica.
2.2.2 A abordagem dinmica da competitividade
Segundo Ferraz et al. (1997: 3), a partir de uma perspectiva dinmica, o
desempenho no mercado e a eficincia produtiva decorrem da capacitao acumulada pelas
empresas que, por sua vez, reflete as estratgias competitivas adotadas em funo de suas
percepes quanto ao processo concorrencial e ao meio ambiente econmico onde esto
inseridas. Desse modo, ao invs de entendida como um fator intrnseco de um produto ou
de uma firma, a competitividade surge como uma caracterstica extrnseca, relacionada ao
padro de concorrncia vigente em cada mercado. Este, por sua vez, corresponde ao
conjunto de fatores crticos de sucesso em um mercado especfico.
Pela abordagem dinmica, o processo de tomada de deciso estratgica concentra
os fatores primordiais da competitividade. Porm, devido s incertezas do ambiente, e
conseqentemente, pela impossibilidade de se conhecer antecipadamente as estratgias dos
concorrentes, as empresas definem seu comportamento e suas estratgias competitivas a
partir de experincias passadas e de sua perspectiva quanto ao ambiente, o que est
relacionado a conceitos econmicos evolucionrios (ver NELSON & WINTER, 1982;
DOSI, 1988).
de, seriam: o
tama s tecnologias
utiliz de escopo, as
comp e s prprias
firma
titivo torna-se
depe es. Em adio
que produo e o
temp iderar certas
parti al.
Nesta linha, alguns fatores a serem avaliados, alm da produtivida
nho das firmas, a estrutura produtiva, o padro de concorrncia, a
adas e alternativas presentes e futuras, as economias de escala e
etncias especficas, entre outros mais especficos regio, ao setor
s, como a histria especfica e a cadeia de agregao de valor.
Dessa forma, inovar passa a ser fundamental e o sucesso compe
ndente da criao de novas vantagens e da recombinao das anterior
les fatores tradicionais como custo, preo, qualidade e flexibilidade na
o e confiabilidade de entrega, torna-se fundamental tambm cons
cularidades, menos aparentes, vinculadas diversidade setorial e region
CAPTULO 2: COMPETITIVIDADE: CONCEITOS, ABORDAGENS E ANLISE
16
Pela abordagem dinmica, fatores como o capital humano (habilidades, experincia
e motivao do trabalhador); fatores tcnicos e culturais (capacidade de adaptao a novas
tecnologias); habilidade gerencial para manter e expandir relacionamentos internos e
externos firma (com firmas correlatas, com empregados, fornecedores, clientes, rgos
pblicos e instituies de pesquisa), que influenciam a habilidade da firma em obter e
manter uma posio lucrativa em face s mudanas tecnolgicas, econmicas e sociais e a
outros desafios do ambiente.
Nesse sentido, a abordagem dinmica da competitividade encontra ecos muito
ntidos na teoria dos recursos da firma (resource-based view, no ingls). Tal abordagem
foca nos recursos e capacitaes, fatores base para o estabelecimento e sustentao das
vantagens competitivas das firmas, de modo a entender o desempenho estratgico dos
negcios e prover direes para a formulao das estratgias de mercado
(HADJIMANOLIS, 2000).
Assim, a lucratividade e o mercado compartilhado permanecem como indicadores a
serem considerados, todavia, passam a ter menor significncia diante da maior dimenso
da anlise, com uma viso de mais longo prazo. Dessa forma, o conceito de
competitividade assume outra conotao e a questo de quais so os indicadores mais
representativos, torna-se mais complexa. O Quadro 2.1, a seguir, mostra um resumo das
diferenas entre as diferentes abordagens da competitividade apresentadas anteriormente.
Quadro 2.1 Diferentes abordagens da competitividade das empresas
Abordagens Tradicionais Abordagem Dinmica Baseada na eficincia Baseada na eficcia/efetividade Baseada no comportamento da
firma Fatores
Otimizao da produo: aumento da
produtividade, qualidade do processo, reduo de
perdas etc.
Fatores Desempenho, participao no
mercado, satisfao dos clientes, qualidade no produto etc.
Fatores Estrutura produtiva;
Padro de concorrncia; Economias de escala e de escopo;
Competncias especficas; Experincias passadas;
Perspectiva quanto ao ambiente. Indicadores
Preo, custo, coeficientes tcnicos, parmetros de
produtividade dos fatores da indstria internacional.
Indicadores Lucratividade, volume das vendas,
exportaes, mercado compartilhado, nmero de contratos firmados ou
concorrncias vencidas etc.
Indicadores Conjugados (preo, custos,
produtividade, lucratividade, volume de vendas, mercado
compartilhado etc.)
Foco Estratgico Engenharia e Processos
Produtivos
Foco Estratgico Gesto e Marketing
Foco Estratgico Nas capacidades e no processo de
formao e tomada de deciso
CAPTULO 2: COMPETITIVIDADE: CONCEITOS, ABORDAGENS E ANLISE
17
Uma abordagem dinmica procura caracterizar e formalizar o ambiente competitivo
da firma atravs de uma avaliao mais sistmica e comportamental. Assim, as causas do
sucesso das firmas seriam mais abrangentes, porm especficas ao meio ambiente onde a
empresa surge e se desenvolve.
Vrias vertentes do campo da administrao corporativa procuram explorar tais
questes pelo ponto de vista da firma, atravs de conceitos como estratgias
competitivas (PORTER, 1989; BARNETT & BURGELMAN, 1996), competncias
essenciais (PRAHALAD & HAMEL, 1990), capacidades dinmicas (TEECE & PISANO,
1994), e ativos invisveis (ITAMI, 1994).
2.3 Determinantes da competitividade
Segundo Porter (1988), a competitividade das empresas especfica a cada setor
industrial, e dessa forma, determinada por seus elementos estruturais, os quais
compreendem os fornecedores, os compradores, os concorrentes atuais e os concorrentes
potenciais. Tais elementos influenciam diretamente o posicionamento das empresas no
setor (indstria), podendo ser caracterizados atravs de cinco foras principais que
pressionam as empresas, que foram definidas da seguinte forma:
1. O poder de negociao dos fornecedores;
2. O poder de negociao dos compradores;
3. A ameaa de produtos substitutos;
4. A ameaa dos novos entrantes;
5. A intensidade da concorrncia e rivalidade no setor.
Assim, tal abordagem ficou conhecida na literatura como omodelo das 5 foras de
Porter. O Quadro 2.2 mostra alguns fatores de anlise em cada uma dessas foras.
CAPTULO 2: COMPETITIVIDADE: CONCEITOS, ABORDAGENS E ANLISE
18
Quadro 2.2 - Foras e fatores da competitividade empresarial
Fora Fatores de anlise Rivalidade e concorrncia
Custos fixos (ou de armazenamento)/valor agregado; Diferenciao de produtos; Concentrao; Poder da marca; Custos de mudana; Regulao; Complexidade das informaes. Alavancagem de negociao Sensibilidade ao preo O poder do comprador Concentrao de compradores versus concentrao de empresas; Volume do comprador; Custos de mudana do comprador em relao aos custos mudana na empresa
Preo/ compras totais Diferenas nos produtos Identidade da marca Lucros do comprador Impacto na qualidade Impacto no desempenho
A ameaa de substituio
Custos de mudana; Desempenho relativo; Preos; Qualidade; Diferenciao; Flexibilidade; Condies de entrega.
O poder do fornecedor Diferenciao; Custos de mudana; Concentrao; Volume-preo; Integrao para frente e para trs; Custos relativos s compras totais.
As barreiras entrada no negcio
Economias de escala; Diferenciao; Identidade da marca; Custos de mudana; Capital exigido; Acesso distribuio; Disponibilidade de insumos; Poltica governamental; Retaliao.
Fonte: Porter (1988)
Porter (op.cit.), destaca que a anlise da competitividade deve ser baseada nos
fatores que levam sua sustentao. Portanto, na sua viso, a anlise competitiva deve
focar principalmente a cadeia de valores, onde estaria a verdadeira essncia da vantagem
competitiva da empresa.
Ampliando o contexto empresarial/setorial da esfera nacional para a esfera
internacional, Porter (1989) liderou um estudo para levantar informaes e responder
porque algumas naes obtm mais sucesso no comrcio internacional que outras.
De acordo com este estudo, consolidado no livro A Vantagem Competitiva das
Naes, Porter (1989), sustenta que h quatro conjuntos interdependentes de atributos de
uma nao que influenciam e determinam mutuamente o ambiente que habilita as firmas a
alcanarem sucesso na competio internacional.
Tais conjuntos de atributos constituem o denominado modelo Diamante de
Porter, os quais podem ser assim descritos: 1. Condies de fatores: tais como a
disponibilidade de pessoal qualificado e infra-estrutura; 2. Condies de demanda para
bens e servios da indstria; 3. Indstrias auxiliares e correlatas, incluindo a presena de
fornecedores competitivos; 4. Estratgia das firmas, estrutura e rivalidade. A seguir feita
uma breve sntese deste modelo:
CAPTULO 2: COMPETITIVIDADE: CONCEITOS, ABORDAGENS E ANLISE
19
1. Condies de Fatores (insumos): Contrariamente ao que se tradicionalmente
pregava, simplesmente possuir uma fora de trabalho qualificada ou bem educada,
na moderna competio internacional, no representa vantagem competitiva.
Vantagens so sustentadas por fatores altamente especficos s necessidades de
uma indstria em particular (como, por exemplo, institutos de pesquisa, grupos de
capital de risco especficos em algumas reas). Para serem criados, tais fatores
requerem investimento continuado, pois so mais escassos e mais difceis de serem
copiados pelos competidores. Por isso so estratgicos.
Nesse sentido, eventuais desvantagens no necessariamente so prejudiciais, pois
podem prover estmulos para o desenvolvimento da competitividade. Se matrias-
primas baratas ou o trabalho so disponveis em abundncia, h uma tentao em se
basear somente nestas vantagens iniciais e uma tendncia em utiliz-las de forma
ineficiente. Por outro lado, certas desvantagens (preos relativos altos, trabalho
escasso, matrias-primas escassas) podem ser um desafio para a busca de solues
prprias criativas e inovadoras, as quais so difceis de imitar. Isto, evidentemente,
quando impulsos positivos so gerados por outros fatores ou sofrem estmulos do
ambiente (PORTER, 1990: 78).
2. Condies de demanda: Quanto maior a demanda de clientes em uma economia,
maiores sero as presses sobre os preos e os produtos. Assim, as firmas so
foradas a constantemente buscar um melhor balanceamento entre os fatores
caractersticos dessa demanda, melhorando sua competitividade, via produtos
inovadores, alta qualidade, melhores preos, confiabilidade, flexibilidade etc.
3. A existncia ou falta de indstrias auxiliares e vinculadas (Condies de suporte):
A proximidade espacial jusante e montante da cadeia industrial facilita o
intercmbio de idias e inovaes. Por isso a importncia dos clusters. Porter
refere-se, entre outros, ao caso dos distritos industriais na Itlia, considerando suas
especificidades e vantagens proporcionadas a empresas instaladas nesses
ambientes. Segundo o autor, indstrias jusante, em nenhum caso, deveriam ser
protegidas da competio internacional, pois quando certas indstrias fornecedoras
de insumos no existem, ou no os produzem em condies competitivas (baixa
qualidade, preos altos, capacidade etc), tais recursos poderiam ser obtidos no
mercado mundial.
CAPTULO 2: COMPETITIVIDADE: CONCEITOS, ABORDAGENS E ANLISE
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4. Estratgias dos negcios e estrutura e rivalidade (Condies de concorrncia):
Porter nota que apesar de todas as diferenas e peculiaridades nacionais, uma
caracterstica compartilhada por economias competitivas internacionalmente a
forte competio entre as firmas nacionais. De forma esttica, os campees
nacionais podem desfrutar de vantagens de escala, mas o mundo real dominado
por condies dinmicas, e a competio direta que impele firmas a trabalhar para
aumentar sua produtividade e melhorar seus produtos e servios. Neste ponto, a
competio annima freqentemente leva a rivalidades e feudos concretos, em
particular quando os competidores so concentrados espacialmente. Quanto mais
localizada, mais intensa a rivalidade. E quanto mais intensa, melhor. (PORTER,
1990: 83). Como resultado deste processo, h uma perda de importncia das
vantagens locacionais estticas, levando as firmas a desenvolverem vantagens
dinmicas.
Este ltimo ponto indica que os quatro atributos do diamante no atuam
isoladamente, mas sim de forma sinrgica, podendo intensificar-se reciprocamente.
Firmas que operam sob regime de forte competio, pressionam instituies de
suporte (Institutos de Pesquisa e Desenvolvimento e Instituies de treinamento e
aperfeioamento) com demandas mais especficas e objetivos mais concretos. Esta
intensificao recproca identificada particularmente em clusters, onde competem
firmas, fornecedores e instituies de suporte.
O primeiro conjunto de atributos (condies de fatores) captura os conceitos
neoclssicos de recursos fsicos, recurso humanos e capital, alm de envolver novos
elementos, como os recursos de conhecimento e infra-estrutura. As condies de demanda
refletem as condies do mercado domstico para produtos e servios, enfatizando
especialmente o papel de compradores sofisticados e exigentes, que pressionam as firmas a
melhorar a qualidade de seus produtos e servios. O terceiro conjunto destaca a
importncia da formao de clusters, os quais, em sendo competitivos internacionalmente,
transmitem e disseminam atravs de suas inter-relaes, os padres em nvel global para as
firmas correlatas e auxiliares. O quarto fator inclui aspectos legais, culturais e
institucionais que determinam e condicionam as estratgias, estruturas e padres de
CAPTULO 2: COMPETITIVIDADE: CONCEITOS, ABORDAGENS E ANLISE
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concorrncia, que habilitam as firmas a serem bem sucedidas em explorar oportunidades e
competir no mercado global (MEYER-STAMER, 1997).
Paralelamente, eventos fortuitos (acasos) e aes do governo tambm so
considerados como variveis adicionais. Estes eventos incluem invenes, conflitos
armados e guerras, e outras causas que provocam mudanas inesperadas na demanda
externa. Polticas governamentais, regulaes, investimentos e o volume de compras pelo
poder pblico, condicionam fortemente a vantagem competitiva internacional de certas
indstrias e setores (como, por exemplo, pecuria, agroindstria, militar, farmacuticos,
materiais esportivos e produtos hospitalares).
Segundo Porter (1990), estes conjuntos de atributos (que formam o diamante),
individualmente e como um sistema, que criam o contexto no qual as firmas de uma
nao nascem e competem. Porm, a condio fundamental para a competitividade, entre
todas, a presso que estes determinantes exercem sobre as firmas, levando-as a investir e
inovar. O Quadro 2.3 mostra um resumo geral do pensamento porteriano sobre a
competitividade.
O mercado compartilhado de uma indstria no mercado mundial e no mercado
domstico so os principais indicadores com os quais Porter (1989) baseia sua anlise da
competitividade. Entretanto, tais medidas so colhidas ex post, sendo a existncia de algum
mercado compartilhado, por mnimo que seja, o nico elemento qualitativo considerado
para qualificar um cluster como competitivo. Este um dos pontos criticados no modelo
Diamante. Outra crtica feita a tal modelo relativa a sua no aplicabilidade s
caractersticas de certas regies e pases (ver, por exemplo, GRANT, 1991; RUGMAN,
1991; SPRING, 1992),
Apesar das crticas, o modelo Diamante de Porter vem exercendo uma forte
influncia nas polticas de desenvolvimento regional e local, em vrias partes do mundo
(ver, por exemplo, COUTINHO & FERRAZ, 1995; HEALEY & DUNHAM, 1994) e tem
sido amplamente utilizado para anlise da competitividade de clusters setoriais, inclusive
no Brasil (ver ZAMITH & SANTOS, 1999).
CAPTULO 2: COMPETITIVIDADE: CONCEITOS, ABORDAGENS E ANLISE
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Quadro 2.3 A viso de Porter sobre a competitividade Nenhuma nao pode ser competitiva (e exportadora) em tudo e ao mesmo tempo (1989: 7). Porque as empresas de certas naes conseguem a liderana em determinados setores/indstrias? (1989: 17). Ao invs de simplesmente maximizar uma funo sob certas restries, a questo como as empresas podem obter vantagens competitivas quando mudam as restries. (em explcita crtica teoria neoclssica) (1989: 21). Empresas bem sucedidas esto freqentemente concentradas em certas regies ou certas cidades, dentro do pas (1989: 29). Algo nestas locaes prov um ambiente frtil para empresas nestes locais, para certas indstrias ou setores (1989: 29). O papel do governo impulsionar e estimular sua indstria a avanar, e no proteg-la da competio (1989: 30). As naes tendem a ser competitivas em atividades nas quais so admiradas ou se destacam, das quais surgem campees (1989: 115). A concorrncia domstica no somente cria presses sobre as empresas para melhorias e inovaes, mas tambm contribui para que elas possam alcanar e at superar os concorrentes internacionais (1989: 119). A concentrao geogrfica de concorrentes em uma localidade ou regio reflete e acentua os benefcios desta aglomerao. Este fenmeno percebido no mundo inteiro (1989:120). Em tais ambientes, um simples restaurante se torna ponto de encontro e troca de informaes e referncias de vrias empresas. As informaes fluem com enorme velocidade (1989: 121). Isto no restrito ao campo dos negcios, um processo social que se reflete nas artes, nas cincias e nos esportes (1989: 121). A prosperidade nacional criada, no herdada. Isto no surge dos recursos naturais de um pas, da sua fora de trabalho, de suas taxas de juros, ou do valor de sua moeda, como os economistas clssicos supunham (1990: 73). A competitividade de uma nao depende da capacidade de sua indstria em inovar e se modernizar. E as empresas ganham vantagem sobre seus competidores internacionais devido s presses e aos desafios aos quais so expostas. Elas se beneficiam quando tm rivais domsticos fortes e uma base local (nacional) de fornecedores agressivos e consumidores exigentes (em referncia implcita teoria evolucionria) (1990: 73). Em um mundo de competio crescente, as naes tendem a se tornar mais, e no menos importantes. Como as mudanas nas bases da competio, e o foco cada vez maior na criao e assimilao de conhecimento, o papel das naes tem crescido em importncia (1990: 73). A vantagem competitiva criada e sustentada atravs de um processo altamente localizado. Diferenas nacionais em valores, culturas, estruturas econmicas, instituies e histrias contribuem para o sucesso competitivo (crtica implcita aos preceitos neoclssicos) (1990: 73). H impressionantes diferenas setoriais nos padres de competitividade em cada pas e nenhuma nao ser competitiva em todos eles ou na maioria deles. Ultimamente, as naes tm sucesso em certos setores pelo fato de seu ambiente domstico ser mais audacioso, dinmico e desafiador (1990: 73).
Fonte: Porter (1989; 1990).
Porter (1989: 543-73) tambm prope um modelo de desenvolvimento econmico,
a partir de quatro estgios: 1) Desenvolvimento direcionado a fatores, privilegiando meios
de produo tradicionais (recursos naturais, capital e trabalho), ao invs dos mais
avanados; 2) Desenvolvimento direcionado ao investimento, quando os recursos
financeiros melhoram as condies de fatores e a utilizao de tecnologia, mas no na sua
melhoria; 3) desenvolvimento direcionado inovao, quando firmas criam novas
tecnologias e competem globalmente; 4) desenvolvimento direcionado riqueza, que em
CAPTULO 2: COMPETITIVIDADE: CONCEITOS, ABORDAGENS E ANLISE
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ltima instncia, leva ao declnio, pois a ateno desviada da estratgia de aumentar a
vantagem para, meramente, preserv-la.
Essa proposta tambm recebeu uma srie de crticas, especialmente por ser esttica
e genrica. Narula (1993), por exemplo, afirma que, para uma anlise mais consistente,
seria necessrio se incorporar nessa abordagem, entre outros fatores, a capacidade de
acumulao de capital no decorrer do tempo. Outros autores (entre os quais, os j citados
anteriormente) simplesmente desqualificam tal proposta sob a argumentao de falta de
sustentao terica.
2.3.1 Anlise da competitividade empresarial
Para fins metodolgicos, de um modo geral, pode-se dividir a anlise da
competitividade em duas etapas distintas, aqui denominadas de Anlise Ambiental e
Padro de Concorrncia Setorial. Estas etapas so apresentadas a seguir.
2.3.1.1 Anlise ambiental
Segundo Marcovitch (1993), a competitividade empresarial se apresenta em trs
nveis diferentes e inter-relacionados:
! Um nvel central, onde est a eficincia interna da empresa, na combinao de
recursos para produzir bens e servios de elevada qualidade e baixos custos,
colocando-os no mercado de acordo com algum critrio de segmentao;
! Um segundo nvel, configurado pela estrutura setorial, que estabelece as
caractersticas bsicas da concorrncia especficas aquele mercado, no qual so
medidas foras entre fornecedores e clientes, ameaas e oportunidades setoriais
determinantes da competitividade da empresa;
! Um terceiro e ltimo nvel, no qual encontram-se as condies gerais de produo e
o ambiente macroeconmico.
O autor acrescenta que, embora a competitividade seja determinada,
primordialmente, pela eficincia da empresa, as naes tm um papel fundamental neste
CAPTULO 2: COMPETITIVIDADE: CONCEITOS, ABORDAGENS E ANLISE
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processo, atravs de investimentos em infra-estrutura energtica, de transportes e
telecomunicaes, na educao e suporte pesquisa, legislao fiscal e trabalhista.
Assim, os trs nveis anteriormente apresentados podem ser caracterizados em
termos da anlise da competitividade, da seguinte forma:
! Competitividade Empresarial refere-se capacidade das empresas em sustentar
em termos mundiais padres elevados de eficincia na utilizao de recursos e
qualidade de bens e servios oferecidos. Uma empresa competitiva deve ser capaz
de projetar, produzir e comercializar produtos com preos e qualidade melhores que
os concorrentes.
! Competitividade Setorial reflete a capacidade de setores econmicos em gerar as
bases de criao e desenvolvimento de vantagens que sustentem uma posio
competitiva internacional. Pode ser medida, simultaneamente, pelo potencial que
um setor econmico oferece oportunidade de crescimento e retornos sobre os
investimentos atrativos para suas empresas.
! Competitividade Estrutural fruto das condies econmicas gerais de um pas
que determinam a capacidade das empresas em incrementar e sustentar sua
participao no mercado mundial, enquanto, simultaneamente, permite um aumento
do nvel de vida da populao e estimula o aumento da eficincia empresarial.
Marcovitch, (op.cit.) afirma que a medida da competitividade internacional mais
relevante o mercado compartilhado, atravs de uma participao ativa e estvel da
empresa no comrcio mundial de bens e servios. Esta, portanto, deriva da habilidade de
seus dirigentes em administrar a interao entre os trs nveis descritos de competitividade
e proporcionar condies, no mnimo, compatveis s dos concorrentes externos,
proporcionando bases sustentveis de competio.
De forma semelhante, Coutinho e Ferraz (1995) e Ferraz et al. (1997), diferenciam
trs nveis de fatores determinantes da competitividade, considerando o nvel setorial
dentro do estrutural. A Figura 2.3 mostra uma ilustrao dos nveis e fatores de anlise da
competitividade.
CAPTULO 2: COMPETITIVIDADE: CONCEITOS, ABORDAGENS E ANLISE
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Figura 2.3 Nveis de anlise da competitividade empresarial
(Marcovitch, 1993; Coutinho & Ferraz, 1995)
Segundo Ferraz et al. (1997), a unidade bsica de anlise da competitividade deve
ser a empresa, pois constitui o ncleo de planejamento e organizao da atividade de
produo. Este ncleo, por sua vez, estruturado em distintas reas de competncia. Na
obra supra citada, os autores defendem que a anlise da competitividade deve compreender
quatro reas principais que sustentam a competncia empresarial: produo, gesto,
inovao e recursos humanos (Quadro 2.4). Estas reas podem ser definidas da seguinte
forma:
! Atividades de Produo representam o arsenal de recursos manipulados no
processo de manufatura propriamente dito, incluindo equipamentos e instalaes, e
os mtodos de organizao e controle da qualidade.
! Atividades de Gesto compreendem as tarefas de administrao tpicas, o
planejamento estratgico, mtodos de tomada de deciso, anlise financeira e de
marketing e o relacionamento com clientes e fornecedores.
! Atividades de Inovao referem-se aos esforos de pesquisa e desenvolvimento
(P&D) de processos e produtos tanto internos quanto externamente empresa e a
transferncia (absoro) de tecnologia (licenciamentos, intercmbios etc.).
Estratgia e Gesto Capacitao para inovar Capacidade Produtiva Recursos Humanos
Macroeconmicos
Internacionais
Sociais
Tecnolgicos
Infra-estruturais
Fiscais
Financeiros
Polticos
Institucionais
Fatores Estruturais (Setoriais)
Fatores Organizacionais
Fatores Sistmicos
Mercado Indstria Concorrncia
S e t o r e s
CAPTULO 2: COMPETITIVIDADE: CONCEITOS, ABORDAGENS E ANLISE
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! Recursos Humanos contemplam o conjunto de condies que caracterizam as
relaes de trabalho, envolvendo os diversos aspectos que influenciam a
produtividade, qualificao e flexibilidade da mo-de-obra.
Quadro 2.4 - Atividades de sustentao da competitividade empresarial
Produo ! Capacidade ! Atualizao ! Eficincia ! Qualidade
Gesto ! Marketing ! Relaes
interpessoais ! Finanas ! Administrao ! Planejamento
RH ! Produtividade ! Qualificao ! Flexibilidade ! Confiabilidade
Inovao ! Produto ! Processo ! Organizao ! Adaptao
Fonte: Ferraz et al., 1997.
O nvel de capacitao que cada empresa formado por um processo de
acumulao, varivel com o tempo. Segundo Ferraz et. al. (1997), o desempenho da
empresa , em larga escala, determinado pelas capacitaes acumuladas em cada uma das
reas anteriormente descritas, no decorrer do seu ciclo de vida.
Neste ponto de vista, as empresas competitivas seriam simplesmente aquelas de
maior capacitao, tal como sugere a abordagem ex ante da competitividade, ou seja, a
competitividade potencial. Contudo, esta uma viso que pode induzir a equvocos, pois a
formao deste estoque de competncias no homognea nem simtrica em todas as
reas de atividades da organizao, o que representa um carter idiossincrtico de cada
empresa, influenciado por mudanas no ambiente.
As novas capacitaes incorporadas resultam de esforos de acordo com as
prioridades e caminhos definidos pela empresa. Esta, para implement-los, de acordo com
o estoque de informaes e competncias acumuladas e dos recursos financeiros
disponveis, geralmente e
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