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UNIVERSIDADE CATOacuteLICA DE PETROacutePOLIS Reitor Pe Pedro Paulo Carvalho Rosa Vice-Reitor Marcelo Vizani Calazans Proacute-Reitor Administrativo Anderson de Souza Cunha Proacute-Reitor Administrativo Adjunto Carlos Henrique Freire Lisboa Proacute-Reitora de Graduaccedilatildeo Regina Coeli Pinheiro Maacuteximo de Souza Proacute-Reitor de Pesquisa e Poacutes-Graduaccedilatildeo Sergio de Souza Salles
UNIVERSIDADE CATOacuteLICA DE PETROacutePOLIS Rua Benjamin Constant 213 - Centro ndash Petroacutepolis ndash Rio CEP 25610-130 Telefone (24) 2244-4046 httpwwwucpbr
UNILASALLE-RJ Reitor Ir Jardelino Menegat Vice-Reitor e Proacute-Reitor Acadecircmico Ronaldo Curi Gismondi Proacute-Reitor de Desenvolvimento Hugo Ceacutesar Said Amazonas
UNILASALLE RIO DE JANEIRO Rua Gastatildeo Gonccedilalves 79 ndash Niteroacutei ndash Rio de Janeiro CEP 24240-030 Telefone (21) 2199-6600 httpswwwunilasalleedubrrj
II SEMINAacuteRIO INTERISTITUCIONAL E
INTERNACIONAL SOBRE DIREITOS HUMANOS NA
CONTEMPORANEIDADE
MARCELO PEREIRA DE ALMEIDA TATIANA TROMMER BARBOSA
SERGIO DE SOUZA SALLES
DENISE MERCEDES NUNEZ NASCIMENTO LOPES SALLES ADRIANO MOURA DA FONSECA PINTO
LETIacuteCIA PEREIRA DE ARAUJO (ORGANIZADORES)
Petroacutepolis - Rio de Janeiro
UCP
2019
Dados Internacionais de Catalogaccedilatildeo na Publicaccedilatildeo (CIP)
5
Sumaacuterio
GT 1 - CRISE MIGRATOacuteRIA E DIREITOS HUMANOS 21
A EFETIVACcedilAtildeO DOS DIREITOS DOS VENEZUELANOS INDIacuteGENAS
NOS ABRIGOS EM RORAIMA 22
Matheus Cardim 22
Renata Alves da Costa 22
A SITUACcedilAtildeO JURIacuteDICA DOS VENEZUELANOS NO BRASIL UM ESTUDO
Agrave LUZ DA LEI DE MIGRACcedilOtildeES 26
Jeancezar Ditzz de Souza Ribeiro 26
Victor Arleacute Machado 26
DISCURSO DE OacuteDIO AOS MIGRANTES E OS LIMITES DA LIBERDADE
DE EXPRESSAtildeO 32
Tiago da Silva Cicilio 32
Carlos Marcel Ferrari Lima Fernandes 32
Daniel Machado Gomes 32
A QUESTAtildeO DA MORAL E DO MULTICULTURALISMO UM ESTUDO
SOBRE A CIRCUNSTAcircNCIA ATENUANTE DE PENA DO ARTIGO 65
INCISO III ALIacuteNEA A DO COacuteDIGO PENAL 36
Flaacutevio Mirza Maduro 36
Lorena Braga Raposo 36
Rafael Guedes Vaz Schettino 36
Natasha Benevides Rodrigues 36
OS MIGRANTES NA DEMOCRACIA DELIBERATIVA DE HABERMAS 41
Tiago da Silva Cicilio 41
Carlos Marcel Ferrari Lima Fernandes 41
Daniel Machado Gomes 41
DIREITOS HUMANOS E ORDENAMENTO JURIacuteDICO O AMPARO
(LEGAL) AO REFUGIADO VENEZUELANO EM MANAUSAM 45
Maria de Faacutetima Santiago da Cruz 45
Selmara Aparecida Batista de Oliveira Silva 45
Priscila Abreu da Silva3 45
MULHERES REFUGIADAS DESAFIOS PARA INSERCcedilAtildeO NO MERCADO
DE TRABALHO BRASILEIRO 49
Priscila Abreu da Silva 49
Selmara Aparecida Batista de Oliveira Silva 49
6
Maria de Faacutetima Santiago da Cruz 49
A VIOLACcedilAtildeO DE DIREITOS DAS MULHERES ESTRAGEIRAS NO
CAacuteRCERE 52
Raphaela Abud Neves 52
Daniel Machado Gomes 52
A IMPERATIVIDADE DAS NORMAS DE DIREITO INTERNACIONAL DE
PROTECcedilAtildeO AOS REFUGIADOS DIREITO FUNDAMENTAL DE
REFUacuteGIO 56
Andreacute Castro Hacl 56
Luiacutes Coelho da Silva Juacutenior 56
Renata Alves da Silva 56
MIGRANTES INDIacuteGENAS VENEZUELANOS NO BRASIL UMA ANAacuteLISE
A PARTIR DA TEORIA DA ACcedilAtildeO COMUNICATIVA DE JUumlRGEN
HABERMAS 60
Carolina Passeri Rebouccedilas de Oliveira 60
Tiago da Silva Cicilio 60
Daniel Machado Gomes 60
A CRISE MIGRATOacuteRIA NO CONTEXTO DA VENEZUELA E DO BRASIL
E SEUS TANGENCIAMENTOS COM OS SERVICcedilOS PUacuteBLICOS
BRASILEIROS NO CONTEXTO DE CRISE FISCAL 64
Alan da Costa Macedo 64
CONFLITOS ARMADOS E REFUacuteGIO A PROBLEMAacuteTICA MIGRATOacuteRIA
EM CONTEXTOS DE GUERRA 68
Isadora drsquoAvila Lima Nery Gonccedilalves 68
TERRITOacuteRIO EM MOVIMENTO O CASO DOS REFUGIADOS
APAacuteTRIDAS 71
Jeancezar Ditzz de Souza Ribeiro 71
Amanda Baacuterbara Cavalcante da Silva 71
Brenda Rafaelly da Silva Gonccedilalves 71
Rayane Martins de Sousa 71
O JUS COGENS E O REFUGIADO AMBIENTAL 74
Jeancezar Ditzz de Souza Ribeiro 74
Victor Mansur Ramos de Pinho 74
AS MEDIDAS DE COOPERACcedilAtildeO JURIacuteDICA INTERNACIONAL NA NOVA
LEI DE MIGRACcedilAtildeO SOB A PERSPECTIVA DOS DIREITOS HUMANOS 78
Jeancezar Ditzz de Souza Ribeiro 78
Liacutevia Rangel de Castro e Souza 78
7
DIREITOS E GARANTIAS CONSTITUCIONAIS DOS MIGRANTES NO
BRASIL UMA ANAacuteLISE DA PORTARIA 77019 82
Denise Mercedes Nunez Nascimento Lopes Salles 82
Eacutevelin Estecircvam Souza 82
Lara de Freitas Santos 82
REFUGIADOS E ACESSO Agrave JUSTICcedilA OBSTAacuteCULOS PARA SUA
EFETIVACcedilAtildeO 86
Larissa Borsato da Silva 86
Selmara Aparecida Batista de Oliveira Silva 86
Felipe Dutra Asensi 86
GT 2 ndash CIDADANIA E DIREITOS HUMANOS DECLARACcedilAtildeO DE DIREITOS DO
HOMEM E DO CIDADAtildeO (1789) 90
CIDADANIA E DIREITOS HUMANOS DECLARACcedilAtildeO DE DIREITOS DO HOMEM
E DO CIDADAtildeO (1789) 91
Rodrigo Braga de Souza 91
DIREITO Agrave INFORMACcedilAtildeO ANAacuteLISE DE UMA APLICACcedilAtildeO DA
TRANSPAREcircNCIA ATIVA 95
Tatiana Trommer Barbosa 95
Corintho Sampaio Lopes 95
Vitoacuteria Soares Almeida 95
IMPACTOS DA POacuteS-VERDADE E A DESVALORIZACcedilAtildeO DOS DIREITOS
HUMANOS 98
Henrique Pacheco Araujo 98
Seacutergio Antocircnio Cacircmara 98
DIREITOS HUMANOS NO PRESIacuteDIO DE GUANTAacuteNAMO 101
Seacutergio Antocircnio Cacircmara 101
Laiacutes Carvalho de Amaral 101
O PODER MODERADOR NA REPUacuteBLICA PRESIDENCIAL ANTE-
PROJETO DA CONSTITUINTE DE 1933 DE BORGES DE MEDEIROS 104
Rodrigo Alexandre Vilela Teodoro 104
Thiago Britto Mota 104
EVOLUCcedilAtildeO HISTOacuteRICA DO ESTADO DE BEM ESTAR SOCIAL E ATUAIS
REFORMAS LEGISLATIVAS NO PLANO DA SEGURIDADE SOCIAL 108
Alan da Costa Macedo 108
A SEGURIDADE SOCIAL COMO POLIacuteTICA DE DIREITOS HUMANOS
NO CONTEXTO DOS DOCUMENTOS E TRATADOS INTERNACIONAIS
112
Alan da Costa Macedo 112
8
GT 3 ndash AS DIFERENTES PERSPECTIVAS NO CONTEXTO DOS DIREITOS
HUMANOS 116
MORADORES DE RUA E SAUacuteDE DIREITO DE TODOS 117
Claudia Aparecida da Silva Pires 117
Felipe Dutra Asensi 117
Nubia do Nascimento Colombo 117
O ALCANCE DOS DIREITOS REPRODUTIVOS FRENTE O DIREITO Agrave
VIDA 120
Clara de Almeida Wagner 120
Helenice Pereira Sardenberg 120
O CENAacuteRIO DE CRISE DOS PROGRAMAS SOCIAIS NO BRASIL 126
Laura Marconi da Silva Pereira 126
Helenice Pereira Sardenberg 126
O SISTEMA PENITENCIAacuteRIO COMO INSTRUMENTO CRIACcedilAtildeO E
EXPANSAtildeO DAS FACCcedilOtildeES CRIMINOSAS 131
Daniel Chaves Segrillo 131
Helenice Pereira Sardenberg 131
INFANTICIacuteDIO UMA QUESTAtildeO CULTURAL OU DOS DIREITOS
HUMANOS 136
Karoline Almeida Vasco 136
Helenice Pereira Sardenberg 136
O INSTITUTO DA POSSE E OS CONFLITOS FUNDIAacuteRIOS URBANOS
BRASILEIROS 140
Renan de Souza Cid 140
Helenice Pereira Sardenberg 140
A APLICABILIDADE DA LEI MARIA DA PENHA AgraveS MULHERES
TRANSGEcircNEROS E TRANSEXUAIS 145
Helenice Pereira Sardenberg 145
Mariana Almeida Da Silva 145
A PARTICIPACcedilAtildeO DOS NEGROS NO MERCADO DE TRABALHO
BRASILEIRO 149
Raphaela Madeira Gonccedilalves Busch 149
Pedro Teixeira Gueiros 149
Flavia Maria Zangerolame 149
GT 4 ndash EDUCACcedilAtildeO E DIREITOS HUMANOS 153
A EDUCACcedilAtildeO E OS DIREITOS HUMANOS NO BRASIL 154
Daniele Custodio Marinho Jardim 154
9
Karen Cristine Marinho Jardim 154
ACcedilOtildeES AFIRMATIVAS NA EDUCACcedilAtildeO PUacuteBLICA DO ESTADO DO RIO
DE JANEIRO 158
Delcy Alex Linhares 158
DIREITOS HUMANOS NO BRASIL ANAacuteLISE DO DIREITO Agrave
EDUCACcedilAtildeO - ARTIGO XXI DA DECLARACcedilAtildeO UNIVERSAL DE 1948 176
Joseacute Claudio Torres Vasconcelos 176
Corintho Sampaio Lopes 176
Vitoacuteria Soares Almeida 176
Laiacutes Carvalho Amaral 176
A EDUCACcedilAtildeO COMO DIREITO HUMANO O POSICIONAMENTO DA
ASSOCIACcedilAtildeO NACIONAL DE EDUCACcedilAtildeO CATOacuteLICA DO BRASIL
(ANEC) SOBRE O FIM DO FUNDEB 181
Marcelo Siqueira Maia Vinagre Mocarzel 181
Letiacutecia Rodrigues Monteiro 181
EDUCACcedilAtildeO EM BUSCA DA FELICIDADE CIDADANIA DIGNIDADE E
LIBERDADE 185
Maria Lucia Sucupira Medeiros 185
Carlos Alberto Lima de Almeida 185
ACcedilOtildeES AFIRMATIVAS NAS SUPREMAS CORTES DO BRASIL E DOS
ESTADOS UNIDOS CULTURA JURIacuteDICA IDEOLOGIAS RACIAIS E
VALORES DE IGUALDADE EM PERSPECTIVA COMPARADA 189
Carlos Alberto Lima de Almeida 189
Matheus Guarino SantrsquoAnna Lima de Almeida 189
DECLARACcedilAtildeO UNIVERSAL SOBRE A DIVERSIDADE CULTURAL
DIREITOS HUMANOS E O DIAacuteLOGO (INTER)CULTURAL NA
EDUCACcedilAtildeO SUPERIOR 193
Angelina Accetta Rojas 193
Andreacute Cesari Batista de Lima 193
GT 5 ndash ASPECTOS INQUISITOacuteRIOS DO PROCESSO PENAL E CRIMINOGEcircNESE
DIREITOS HUMANOS E SISTEMA PENITENCIAacuteRIO 196
O SENSO COMUM PUNITIVO NO PROCESSO E EXECUCcedilAtildeO PENAL
BRASILEIRO E O DETRIMENTO AO DIREITO Agrave FELICIDADE 197
Alan Felipe de Oliveira Chagas 197
ADOLESCENTES E O ATO INFRACIONAL ESCOLHA POLIacuteTICA 200
Claudia Aparecida da Silva Pires 200
Felipe Dutra Asensi 200
Raphaela Abud Neves 200
10
CRIMINALIZACcedilAtildeO DA HOMOFOBIA COMO FORMA
CONTEMPORAcircNEA DE RACISMO 204
Jeancezar Ditzz de Souza Ribeiro 204
Jacqueline Nicole Negrete Blass 204
SUPERLOTACcedilAtildeO DAS UNIDADES PRISIONAIS BRASILEIRAS
A IMPLEMENTACcedilAtildeO DE UM DIREITO PENAL MAacuteXIMO E SUA
DESCONFORMIDADE COM AS NORMAS DE DIREITOS HUMANOS 210
Dieacutessica Ribas 210
Juacutelio Cesar das Flocircres Martins Rodrigues 210
Tatiana Trommer 210
USO DIFERENCIADO DA FORCcedilA POLICIAL EMBASAMENTO JURIacuteDICO
PAUTADO NA TUTELA DOS DIREITOS HUMANOS 213
Wilson Ferreira da Silva 213
Marlon Sinhorelo Pereira de Figueiredo 213
Paula Maiacutera da Rocha Caldeira e Sousa 213
MEDIACcedilAtildeO ESCOLAR ndash O OLHAR DO CONFLITO NA
CONTEMPORANEIDADE E O INSTRUMENTO PARA ALCANCE DA PAZ
COMO DIREITO FUNDAMENTAL 218
Cristiane Rodrigues Garcez Teixeira Dutra 218
Marcia Elaine Dias Pinheiro de Azevedo 218
O DIREITO DE RECUSA Agrave HEMOTRASNFUSAtildeO PELAS TESTEMUNHAS
DE JEOVAacute 222
Flavia Rodrigues Maia 222
Joseacute Amauri Cristino de Paula Neto 222
Raquel Drsquoavila Carvalho 222
A DESCRIMINALIZACcedilAtildeO DO ABORTO ndash ARGUICcedilAtildeO DE
DESCUMPRIMENTO DE PRECEITO FUNDAMENTAL 442 226
Liacutevia Penha da Silva Thompson 226
Tatiana Trommer Barbosa 226
RUPTURAS E CONTINUIDADES O ENCARCERAMENTO DA
POPULACcedilAtildeO ADOLESCENTE E ADULTA NA COMARCA DE JUIZ DE
FORA 230
Andreacute Luiz Camargo Marques 230
Denise Mercedes N N Lopes Salles 230
RESSIGNIFICANDO O CONDENADO NO SISTEMA PRISONAL
BRASILEIRO LOGOTERAPIA DE FRANKL E O SISTEMA APAC 233
Catarina Gervasio Alcides De Souza 234
Daniel Gonccedilalves Pequeno 234
11
Jorge Luis Fortes Pinheiro Da Cacircmara 234
CONSIDERACcedilOtildeES ACERCA DA DECRETACcedilAtildeO DA MEDIDA
SOCIOEDUCATIVA DE INTERNACcedilAtildeO POR PARTE DO PODER
JUDICIAacuteRIO 238
Luacutecia Frota Pestana de Aguiar 238
Eacuterica Maia C Arruda 238
Patricy Barros Justino 238
NEGATIVA DE ACESSO DE SUSPEITOS QUALIFICADOS COMO
TESTEMUNHAENVOLVIDO AO INQUEacuteRITO POLICIAL E A
RELATIVIZACcedilAtildeO DA AMPLA DEFESA E NAtildeO-AUTOINCRIMINACcedilAtildeO 243
Geisa Ferreira de Santana Gargel 243
GT 6 ndash DIREITOS FUNDAMENTAIS E MEacuteTODOS PROCESSUAIS 246
A APLICABILIDADE DA NATUREZA HIacuteBRIDA DA LEI MARIA DA
PENHA E SEUS ASPECTOS PROCESSUAIS 247
Paola Campos de Oliveira Lima 247
ARBITRAGEM COMO MEIO ALTERNARTIVO DE RESOLUCcedilAtildeO DE
CONTROVEacuteRSIAS 251
Beatriz Borges e Borges 251
Kely Betacircnia Abratildeo Borges e Borges 251
Professor Orientador Vanessa Quintatildeo Fernandes Neves 251
ESPEacuteCIES DE ESPACcedilOS NEGOCIAIS NA JUSTICcedilA CRIMINAL
BRASILEIRA 254
Lislie Almeida Dias 254
Marlon Sinhorelo Pereira de Figueiredo 254
Wilson Ferreira da Silva 254
DIREITO Agrave MORADIA E UTILIDADE DOS BENS PUacuteBLICOS
DOMINICAIS 259
Joseacute Claudio Torres Vasconcelos 259
Corintho Sampaio Lopes 259
Vitoacuteria Soares Almeida 259
O PRINCIacutePIO DA SEGURANCcedilA JURIacuteDICA E A DURACcedilAtildeO RAZOAacuteVEL DO
PROCESSO NA EFETIVACcedilAtildeO DOS DIREITOS HUMANOS 262
Ana Carolina de Freitas Feital 262
Camila Silva Baeta 262
A ATUACcedilAtildeO DE PROFISSIONAIS ESPECIALIZADOS NO SISTEMA DE
GARANTIAS DO DIREITO PROCESSUAL CIVIL 265
Raphaela Madeira Gonccedilalves Busch 265
Pedro Teixeira Gueiros 265
12
Flavia Maria Zangerolame 265
JURIMETRIA E INTELIGEcircNCIA ARTIFICIAL COMO DEFINIDORES DA
REINCIDEcircNCIA CRIMINAL ndash OS COMPUTADORES SAtildeO RACISTAS 270
Osias Pinto Peccedilanha 270
NEGOCIOS PROCESSUAIS ATIPICOS LIMITES E LIBERDADES 273
Marcelo Pereira de Almeida 273
Wagner Gomes da Silva 273
A AMEACcedilA CONTIDA NO PL 29992019 Agrave IMPARCIALIDADE DAS
PERICIAS MEacuteDICAS JUDICIAIS EM BENEFICIOS PREVIDENCIAacuteRIOS
POR INCAPACIDADE 277
Alan da Costa Macedo 277
A NECESSAacuteRIA APLICACcedilAtildeO SUBSIDIAacuteRIA DO CPC NO AcircMBITO DOS
JUIZADOS ESPECIAIS FEDERAIS 281
Alan da Costa Macedo 281
O DEVIDO PROCESSO CONSTITUCIONAL BRASILEIRO 285
Marcelo Pinto Chaves 285
Ana Caroline Barbosa De Oliveira 285
O PROCESSO CIVIL BRASILEIRO Agrave LUZ DA CONSTITUICcedilAtildeO DA
REPUacuteBLICA DE 1988 289
Marcelo Pinto Chaves 289
Adriana Da Vinha Nunes 289
DESJUDICIALIZACcedilAtildeO DO DIREITO Agrave SAUacuteDE E O PROCEDIMENTO DE
DECISOtildeES ESTRUTURAIS (STRUCTURAL INJUNCTIONS) 293
Bernard dos Reis Alocirc 293
AGRAVO DE INSTRUMENTO SENTENCcedilA SUPERVENIENTE E
APELACcedilAtildeO REFLEXOtildeES E CONSEQUEcircNCIAS 297
Joseacute Claudio Torres Vasconcelos 297
UMA ANAacuteLISE DA EXCECcedilAtildeO DE INCOMPETEcircNCIA TEMPORAL E DA
IMPRESCRITIBILIDADE NO CASO HERZOG 303
Jeancezar Ditzz de Souza Ribeiro 303
Letiacutecia Mounzer do Carmo 303
GT 7 ndash CONTROLE DE MERECIMENTO DE TUTELA NAS RELACcedilOtildeES
EXISTENCIAIS E PATRIMONIAIS E OS DIREITOS HUMANOS 307
AS VARIAacuteVEIS RELACIONADAS AO DIREITO AO ESQUECIMENTO
UMA ANAacuteLISE DO APARENTE CONFLITO ENTRE A LIBERDADE DE
EXPRESSAtildeO E O DIREITO Agrave INFORMACcedilAtildeO 308
Bianca Guimaratildees Pessanha 308
Mariana Dias Ribeiro Martins 308
13
NASCITURO DIREITOS EXISTENCIAIS X DIREITOS PATRIMONIAIS 312
Rodrigo Alexandre Vilela Teodoro 312
Thiago Britto Mota 312
A IMPREVIDEcircNCIA CULTURAL BRASILEIRA E A TUTELA ESTATAL
RELACIONADA AOS DIREITOS HUMANOS EXISTENCIAIS DA
SEGURIDADE SOCIAL 316
Alan da Costa Macedo 316
ANIMAIS NAtildeO-HUMANOS COMO SUJEITO DE DIREITO UMA ANAacuteLISE
DAS REPERCUSSOtildeES JURIacuteDICAS DO PLC Nordm 2718 320
Luiza Alves Chaves 320
Mylena Devezas Souza 320
AUTONOMIA CORPORAL X QUESTOtildeES CULTURAIS UM ESTUDO DE
CASO SOBRE AS MUTILACcedilOtildeES GENITAIS FEMININAS DA AacuteFRICA E DO
ORIENTE MEacuteDIO 324
Marcelo Pereira de Almeida 324
Letiacutecia F Teodoro da Silva 324
Ana Beatriz de Lima e Silva Atalla 324
O CORPO E O CAacuteRCERE A NECESSIDADE DA EUTANAacuteSIA 328
Vera Regina Froacutees Villela 328
Thais Froacutees Villela Aldrighi 328
GT 8 ndash REFLEXOtildeES NO DIREITO DE EMPRESA E SUAS CONEXOtildeES NO DIREITO
PENAL E TRIBUTAacuteRIO 332
DIREITO A SAUacuteDE APLICADO AOS GRUPOS SOCIAIS VULNERAacuteVEIS 333
Cristofer Cordeiro Alexandrino da Conceiccedilatildeo 333
Wagner de Mello Brito 333
DESENVOLVIMENTO COMO LIBERDADE 335
Nubia do Nascimento Colombo Santos 335
Claacuteudia Aparecida da Silva 335
Larissa Borsato da Silva 335
EQUILIacuteBRIO DE INTERESSES E TRIBUTACcedilAtildeO SOBRE DESAacuteGEOS NO
MICROSSISTEMA DE INSOLVEcircNCIA EMPRESARAL BRASILEIRO 340
Roberta Maria Costa Santos 340
GT 9 ndash TRIBUTACcedilAtildeO E DIREITOS HUMANOS 346
DA NECESSIDADE DE UM SISTEMA TRIBUTAacuteRIO EXTRAFISCAL PARA
EFETIVACcedilAtildeO DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS 347
Raphaela Madeira Gonccedilalves Busch 347
Pedro Teixeira Gueiros 347
14
Flavia Maria Zangerolame 347
MIacuteNIMO EXISTENCIAL IMUNIDADE DOS TEMPLOS RELIGIOSOS NO
BRASIL E A ISENCcedilAtildeO NORTE-AMERICANA 351
Diogo de Castro Ferreira 351
Lilia Nunes Silva 351
Larissa Borsato da Silva 351
OS DIREITOS FUNDAMENTAIS DOS CONTRIBUINTES E A
IMPLANTACcedilAtildeO DOS COacuteDIGOS DE DEFESA DOS CONTRIBUINTES 355
Vera Regina Froacutees Villela 355
Elaine Cristina Ferreira Villete 355
Thais Froacutees Villela Aldrighi 355
GT 10 ndash MEacuteTODOS CONSENSUAIS DE SOLUCcedilAtildeO DE CONFLITOS NA
EFETIVACcedilAtildeO DE DIREITOS HUMANOS 358
DIAacuteLOGOS SOBRE O CONTROLE IDEOLOacuteGICO DA PAZ 359
Klever Paulo Leal Filpo 359
Diogo de Castro Ferreira 359
APENADOS DO JECRIM DE ITAIPAVA UM OLHAR DIFERENCIADO 363
Claudia Aparecida da Silva Pires 363
Larissa Borsato da Silva 363
Diogo de Castro Ferreira 363
PERCEPCcedilAtildeO DOS JURISDICIONADOS SOBE A MEDIACcedilAtildeO JUDICIAL 366
Stephane Moreira da Rocha 366
INTERFACES ENTRE O DIREITO E A PSICOLOGIA JURIacuteDICA NOS
MEacuteTODOS DE SOLUCcedilAtildeO DE CONFLITOS 370
Ionara Coelho Araujo 370
Maria Cristina Drumond e Castro 370
Klever Paulo Leal Filpo 370
A POSSIBILIDADE DO EMPREGO DE MEacuteTODOS CONSENSUAIS NAS
ACcedilOtildeES DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA 374
Carlos Eduardo Dutra Curado 374
Marcelo Pereira de Almeida 374
Adriano Moura da Fonseca Pinto 374
Letiacutecia Pereira de Araujo 374
A CONCILIACcedilAtildeO NO AcircMBITO DOS JUIZADOS ESPECIAIS FEDERAIS EM
MATEacuteRIA PREVIDENCIAacuteRIA E O PROBLEMA DAS ldquoPROPOSTAS DE
ACORDOrdquo FEITAS PELO INSS 377
Alan da Costa Macedo 377
15
ACESSO Agrave JUSTICcedilA E DESJUDICIALIZACcedilAtildeO NO ATUAL COacuteDIGO DE
PROCESSO CIVIL 381
Larissa Borsato da Silva 381
Claacuteudia Aparecida da Silva Pires 381
Felipe Dutra Asensi 381
GT 11 ndash DIREITOS HUMANOS E GRUPOS SOCIAIS VULNERAacuteEIS 385
O DIREITO Agrave SAUacuteDE NA OacuteTICA DOS DIREITOS HUMANOS E DA
CONSTITUICcedilAtildeO BRASILEIRA 386
Nubia do Nascimento Colombo Santos 386
Claacuteudia Aparecida da Silva 386
Diogo de Castro Ferreira 386
A PESSOA COM DEFICIEcircNCIA E OS DIREITOS SEXUAIS E
REPRODUTIVOS EM UMA PERSPECTIVA DE DIREITOS HUMANOS 391
Mariana Dias Ribeiro 391
Rafaela Tuyane Pereira Pinheiro 391
Glaacuteucio Pedreiro de Oliveira 391
A RESPONSABILIZACcedilAtildeO DE EMPRESAS PELA EXPLORACcedilAtildeO DE
TRABALHADORES EM CONDICcedilOtildeES ANAacuteLOGAS A DE ESCRAVO NAS
CADEIAS PRODUTIVAS 395
Camila Silva Baeta 395
Ana Carolina de Freitas Feital 395
HIERARQUIAS REPRODUTIVAS (RE)VELADAS NA ESTERILIZACcedilAtildeO
COERCITIVA DE MULHERES 400
Tatiana Ferreira Lotfi 400
MULHERES AGREDIDAS PROJETO VIOLETA 405
Claudia Aparecida da Silva Pires 405
Felipe Dutra Asensi 405
Ana Carolina de Freitas Feital 405
NECROPOLIacuteTICA COMO INSTRUMENTO DE DOMINACcedilAtildeO E
CONTROLE DE MORADORES DE FAVELA ndash O CORPO NEGRO Eacute O
ALVO 408
Osias Pinto Peccedilanha 408
QUANDO O DIREITO Agrave PRISAtildeO DOMICILIAR NAtildeO Eacute CUMPRIDO - A
ENTEXTUALIZACcedilAtildeO E AS TRAJETOacuteRIAS TEXTUAIS NA ANAacuteLISE DO
DISCURSO JURIacuteDICO 412
Deise Ferreira Viana de Castro 412
PERSONALIDADE POTEcircNCIAS HUMANAS E HUMANIDADE 417
Renato Joseacute de Moraes 417
16
OS IDOSOS SUA INSERCcedilAtildeO NA TECNOLOGIA E O TRATAMENTO NAS
RELACcedilOtildeES DE CONSUMO 419
Mariana Dias Ribeiro Martins 419
Leonam Renato da Silva Nascimento 419
Raquel Gonccedilalves da Costa Belham Steglich 419
CONTEXTUALIZACcedilAtildeO E PROTECcedilAtildeO JURIacuteDICA DOS DIREITOS
HUMANOS DOS PACIENTES IDOSOS 423
Rafael Tinoco Palatnic 423
Henrique Lopes Dornelas 423
A SUPRESSAtildeO DAS GARANTIAS FUNDAMENTAIS AOS MENORES
INFRATORES SOB A OacuteTICA DOS DIREITOS HUMANOS 428
Paula Maiacutera da Rocha Caldeira e Sousa 428
Marlon Sinhorelo Pereira de Figueiredo 428
Wilson Ferreira da Silva 428
GT 12 ndash PRECEDENTES PROCESSOS SERIAIS E INTELIGEcircNCIA ARTIFICIAL NA
EFETIVACcedilAtildeO DE DIREITOS HUMANOS 432
A REMESSA NECESSAacuteRIA E A DURACcedilAtildeO RAZOAacuteVEL DO PROCESSO 433
Marcelo Pereira de Almeida 433
Yuri Rodrigues Gama 433
A CORTE EUROPEacuteIA DE DIREITOS HUMANOS E A UTILIZACcedilAtildeO DE
INTELIGEcircNCIA ARTIFICIAL NA OTIMIZACcedilAtildeO DE PROCESSOS
REPETITIVOS 437
Marcelo Pereira de Almeida 437
Letiacutecia Pereira de Araujo 437
Adriano Moura da Fonseca Pinto 437
Elaine Cristina Ferreira Villete 437
A REFORMA JUDICIAacuteRIA FRANCESA E A PROIBICcedilAtildeO DA JURIMETRIA
EM FAVOR DO DIREITO Agrave PRIVACIDADE DOS MAGISTRADOS 440
Marcelo Pereira de Almeida 440
Adriano Moura da Fonseca Pinto 440
Vera Regina Froacutees Villela 440
Mauro Bastos Alves Junior 440
A APLICACcedilAtildeO DA INTELIGEcircNCIA ARTIFICIAL PARA
PROCESSAMENTO DE DADOS NA RESOLUCcedilAtildeO DE DEMANDAS EM
MASSA NO SISTEMA JUDICIAacuteRIO BRASILEIRO 444
Marcelo Pereira de Almeida 444
Cinthia Gorges Rego Mello 444
Mayara dos Santos 444
17
O BLOCKCHAIN APLICADO AO SUS E A EFETIVACcedilAtildeO DO DIREITO
FUNDAMENTAL Agrave SAUacuteDE 447
Felipe Dutra Asensi 447
Diogo de Castro Ferreira 447
Claudia Aparecida da Silva Pires 447
A SUPERACcedilAtildeO DOS PRECEDENTES NO CPC DE 2015 RECLAMACcedilAtildeO 452
Daniel Schmitt 452
INCIDENTE DE RESOLUCcedilAtildeO DE DEMANDAS REPETITIVAS NO TRF 5
455
Claudia Aparecida da Silva Pires 455
Marcelo Pereira de Almeida 455
Lilia Nunes Silva 455
UMA RELEITURA DOS PRESSUPOSTOS PROCESSUAIS CAUSA DE
PEDIR E PEDIDO COMO FORMA DE VIABILIZAR OS PROCESSOS
ESTRUTURAIS 458
Marcelo Pereira de Almeida 458
Patrick Marins Barreto Quadros 458
BREVES CONSIDERACcedilOtildeES SOBRE A TUTELA PROVISOacuteRIA E SEU
IMPACTO NA EFETIVACcedilAtildeO DO DIREITO DE PROPRIEDADE 463
Marcelo Pereira de Almeida 463
Eduarda Pereira de Araujo 463
Gabriel Pillar Giordano 463
Matheus Barbutti 463
O PRINCIacutePIO DA PRIMAZIA DO JULGAMENTO DO MEacuteRITO E O
JULGAMENTO LIMINAR IMPROCEDENTE SOB A LUZ DA
EFETIVACcedilAtildeO DOS DIREITOS HUMANOS 467
Ana Carolina de Freitas Feital 467
Claacuteudia Aparecida da Silva Pires 467
BREVE HISTOacuteRICO DA PREVIDEcircNCIA SOCIAL NO CONTEXTO DA
SEGURIDADE SOCIAL COMO POLIacuteTICA DE DIREITOS HUMANOS
PARA PROTECcedilAtildeO DE GRUPOS VULNERAacuteVEIS E SEUS RETROCESSOS
470
Alan da Costa Macedo 470
ATIVIDADE JUDICIAL E O SISTEMA DE PRECEDENTES DO NOVO
COacuteDIGO DE PROCESSO CIVIL MAIS UM DESAFIO Agrave JUSTICcedilA NO
BRASIL 474
Lilia Nunes Silva 474
Marcelo Pereira de Almeida 474
18
Diogo de Castro Ferreira 474
A ESTABILIZACcedilAtildeO DA TUTELA ANTECIPADA REQUERIDA EM
CARAacuteTER ANTECEDENTE E A EFETIVACcedilAtildeO DO DIREITO
CONSTITUCIONAL Agrave SAUacuteDE 477
Marcelo Pereira de Almeida 477
Fernando Gama de Miranda Netto 477
Antocircnia Tavares Santos 477
Filipe de Abreu Amaral Salgado 477
Joatildeo Inaacutecio Gonccedilalves Goulart 477
INTELIGEcircNCIA ARTIFICIAL COMO SISTEMA DE VIGILAcircNCIA
NECESSIDADE DE EFETIVACcedilAtildeO DE DIREITOS HUMANOS 482
Jeancezar Ditzz de Sousa Ribeiro 482
Rebecca Nunes Franco 482
Jean Carlo de Melo Monteiro 482
PRINCIacutePIO DA COOPERACcedilAtildeO ALTERACcedilAtildeO DA CULTURA JURIacuteDICA
PARA SUA EFETIVIDADE DENTRO DO PROCESSO 487
Larissa Borsato da Silva 487
Lilia Nunes Silva 487
Diogo de Castro Ferreira 487
GT 13 ndash DIREITOS SOCIAIS EMPREENDEDORISMO E DIREITO DO TRABALHO
491
A ESCRAVIDAtildeO POR TRAacuteS DO CACAUEIRO NO ESTADO DA BAHIA 492
Carla Sendon Ameijeiras Veloso 492
Beatriz Araujo Prizo da Silva2 492
O LIMITE ENTRE O POLITICAMENTE CORRETO E OS DIREITOS
TRABALHISTAS E PREVIDENCIAacuteRIOS DAS PROSTITUTAS 497
Carla Sendon Ameijeiras Veloso 497
Gabriely Ribeiro Mendonccedila 497
MULHERES COMO OBJETOS DO TRAacuteFICO 501
Gabriely Ribeiro Mendonccedila 501
Larissa Pimentel Gonccedilalves Villar 501
A PARTICIPACcedilAtildeO DOS NEGROS NO MERCADO DE TRABALHO
BRASILEIRO 505
Raphaela Madeira Gonccedilalves Busch 505
Pedro Teixeira Gueiros 505
Flavia Maria Zangerolame 505
UBERIZACcedilAtildeO E O FIM DA CONSCIEcircNCIA DE CLASSE 509
19
Mylena Devezas Souza 509
Luiza Alves Chaves 509
O HABITUS DA IMPREVIDEcircNCIA E A EDUCACcedilAtildeO FINANCEIRA COMO
PROJETO PARA INDEPENDEcircNCIA FINANCEIRA DO CIDADAtildeO EM
RELACcedilAtildeO AO ESTADO 512
Alan da Costa Macedo 512
A EDUCACcedilAtildeO FINANCEIRA COMO PROJETO PARA INDEPENDEcircNCIA
FINANCEIRA DO CIDADAtildeO EM RELACcedilAtildeO AO ESTADO 516
Alan da Costa Macedo 516
A REFORMA TRABALHISTA E O ADIANTAMENTO DOS HONORAacuteRIOS
PERICIAIS O ESVAZIAMENTO DO ARTIGO 790-B sect3ordm DA CLT COM A
RECUSA DOS EXPERTS 520
Marcelo Gouvecirca Almeida Martins 520
Gustavo Abranches Bueno Sabino 520
TRABALHO ESCRAVO RURAL A COISIFICACcedilAtildeO DO SER HUMANO UM
ESTUDO DO CASO FAZENDA BRASIL VERDE 524
Letiacutecia Maria de Oliveira Borges 524
Arianne Albuquerque de Lima Oliveira 524
GT 14 ndash GARANTIAS E DIREITO COMPARADO 528
QUANDO O MENOS Eacute MAIS REFLEXOtildeES SOBRE DEMOCRACIA
ABORTO E REDUCcedilAtildeO DE DANOS 529
Luciano Filizola da Silva 529
A BUSCA DO INIMIGO NO ESTADO DEMOCRAacuteTICO DE DIREITO 532
Marlon Sinhorelo Pereira de Figueiredo 532
Lislie Almeida Dias 532
Paula Maiacutera da Rocha Caldeira e Sousa 532
AS MEDIDAS PROTETIVAS DE URGEcircNCIA DA LEI MARIA DA PENHA
536
Marcella Torres Barreto 536
AS GARANTIAS PROCESSUAIS PENAIS E CORTES CONSTITUCIONAIS
ESTUDO COMPARADO ENTRE A US SUPREME COURT E O STF 540
Jorge Luis Fortes Pinheiro da Cacircmara 540
Mauro Bastos Alves Juacutenior 540
Millena Vasconcelos Beleacutemsup3 540
A DESJUDICIALIZACcedilAtildeO DA EXECUCcedilAtildeO CIVIL EM PORTUGAL 544
Carolina Azevedo Assis 544
20
21
GT 1 - CRISE MIGRATOacuteRIA E
DIREITOS HUMANOS
22
A EFETIVACcedilAtildeO DOS DIREITOS DOS VENEZUELANOS INDIacuteGENAS NOS ABRIGOS EM RORAIMA
Matheus Cardim1
Renata Alves da Costa2
Eixo temaacutetico GT1 - Crise Migratoacuteria e Direitos Humanos
Palavras-chave indiacutegenas venezuelanos direitos abrigos Roraima
O debate acerca dos deslocamentos forccedilados das populaccedilotildees indiacutegenas natildeo eacute atual
o que haacute de novo nesse debate e que propomos tratar nesse trabalho eacute o deslocamento das
populaccedilotildees indiacutegenas venezuelanas para o Brasil A violecircncia e perseguiccedilatildeo poliacutetica frutos
da crise econocircmica poliacutetica e social tambeacutem atingiram as comunidades indiacutegenas mais
pobres da Venezuela resultando num ecircxodo sem precedentes
Um dos pilares da Operaccedilatildeo Acolhida instituiacuteda para atender as demandas
migratoacuterias dos imigrantes venezuelanos refere-se ao abrigamento A populaccedilatildeo indiacutegena
venezuelana foi alocada em um abrigo na cidade fronteiriccedila de Pacaraima e em outro na
capital Boa Vista Essa populaccedilatildeo natildeo estaacute inserida no processo de interiorizaccedilatildeo para outras
partes de Brasil e por isso se deslocam por conta proacutepria para outras regiotildees do paiacutes grande
parte para Manaus por essa razatildeo a rotatividade dentro dos abrigos indiacutegenas eacute constante
De todo modo essa populaccedilatildeo indiacutegena venezuelana jaacute tinha como caracteriacutestica o proacuteprio
deslocamento mas certamente num contexto dentro das suas fronteiras nacionais
O objetivo geral dessa investigaccedilatildeo eacute analisar qual tratamento estaacute sendo dispensado
a populaccedilatildeo indiacutegena venezuelana para a efetivaccedilatildeo dos seus direitos nos abrigos em
Roraima tendo em vista que satildeo imigrantes com caracteriacutesticas diferentes dos demais
imigrantes venezuelanos
Incialmente seraacute apresentada a definiccedilatildeo do conceito de cultura e identidade Em
seguida abordaremos quais satildeo os abrigos e quem satildeo os indiacutegenas venezuelanos que vivem
neles Por fim buscaremos apontar se os direitos desses povos indiacutegenas estatildeo sendo
efetivados
1 Graduando em Direito pela Unilasalle-RJ 2 Mestranda em Ciecircncias Militares pela Escola de Comando e Estado-Maior do Exeacutercito (ECEME) httplattescnpqbr4908656408352619
23
Os indiacutegenas migrantes para Baeninger (2018 p 20) ldquodevem ser protegidos em
termos da manutenccedilatildeo de sua cultura garantindo sua sobrevivecircncia enquanto grupo ou da
possibilidade de se proteger a coletividade migratoacuteriardquo Eacute fundamental que as autoridades
reconheccedilam que o deslocamento de grupos indiacutegenas venezuelanos natildeo corresponde a um
fluxo migratoacuterio nos termos convencionais dos quais estamos habituados presenciar
Observa-se a complexidade desse deslocamento forccedilado quando os indiacutegenas das
etnias Warao3 e Entildeepa4 comeccedilam tambeacutem a solicitar refuacutegio5 Resto claro que essa populaccedilatildeo
possui caracteriacutesticas e costumes diferentes dos outros imigrantes E desse modo para
preservar as suas tradiccedilotildees liacutengua e costumes eacute preciso dispensar um tratamento diferenciado
a eles
Pesquisa realizada pela OIM (2018 p 44) constatou que as instituiccedilotildees puacuteblicas natildeo
tinham um planejamento de accedilotildees para o atendimento dos indiacutegenas venezuelanos Na
ausecircncia de poliacuteticas puacuteblicas para essa populaccedilatildeo indiacutegena migrante as instituiccedilotildees
governamentais tendem a inseri-la na vida urbana local jaacute construiacuteda e consolidada
negligenciando as diferenccedilas desses povos
Ainda de acordo com a OIM (2018 p 24) ldquofora de seus paiacuteses os indiacutegenas
migrantes natildeo costumam ser considerados de maneira separada dos demais migrantes
nascidos no mesmo paiacutes de origem [] os governos tendem a natildeo reconhecer suas diferenccedilas
eacutetnicas e culturais [] Todavia esses grupos natildeo deixam de manter e exercer sua identidade
indiacutegena Ademais a proteccedilatildeo de seus direitos tambeacutem deve considerar sua condiccedilatildeo de
minoria eacutetnica e linguiacutestica sem perder ou diminuir sua identidade indiacutegena como forma de
garantir a proteccedilatildeo de seus direitos fundamentais inclusive o direito de existir como povos
indiacutegenas (OIM 2018 p 24)
A Fundaccedilatildeo Nacional do Iacutendio (FUNAI) afirma que ldquosoacute atua com indiacutegenas
nacionais ou trans-fronteiriccedilosrdquo (OIM 2018 p 54) e que natildeo haacute na legislaccedilatildeo brasileira
nenhum dispositivo que assegure amparo especiacutefico atraveacutes de sua representaccedilatildeo para os
indiacutegenas venezuelanos (OIM 2018 p 55) Utilizar esse argumento para justificar o natildeo
3 Os indiacutegenas Warao satildeo oriundos da regiatildeo norte da Venezuela e habitam haacute seacuteculos a regiatildeo do Delta do rio Orinoco estado Delta Amacuro (figura 5) e regiotildees proacuteximas dos estados Boliacutevar e Sucre Warao significa ldquopovo da canoardquo pela estreita relaccedilatildeo desse grupo com a aacutegua por isso satildeo tradicionalmente pescadores e vivem em comunidades localizadas nas zonas ribeirinhas fluviais e mariacutetimas da regiatildeo 4 De acordo com o censo venezuelano de 2001 existiam agrave eacutepoca 4205 indiacutegenas Entildeepa por auto identificaccedilatildeo dos quais 4020 estavam localizados no estado de Boliacutevar (ATLAS SOCIOLINGUIacuteSTICO 2008) Eles representam um grupo muito pequeno de deslocados no Brasil mas de igual modo buscam a manutenccedilatildeo da sua liacutengua e dos seus costumes tradicionais Vale ressaltar que natildeo haacute disponiacutevel uma vasta literatura sobre os indiacutegenas Entildeepa e que isso dificultou um estudo mais aprofundado sobre suas especificidades 5 A migraccedilatildeo venezuelana tambeacutem produziu o deslocamento forccedilado de indiacutegenas da etnia Pemon mas estes natildeo estatildeo nos abrigos oficiais do Governo Federal por essa razatildeo natildeo foram incluiacutedos nesse estudo
24
atendimento a essa populaccedilatildeo impossibilita o pleno acesso aos seus direitos civis individuais
e coletivos
Por seu turno o Ministeacuterio Puacuteblico Federal (2018 p2) afirma que ldquotodos os
direitos e garantias fundamentais previstos na Constituiccedilatildeo aplicam-se aos estrangeiros
residentes no paiacutes sem distinccedilatildeo de qualquer natureza e que por conseguinte os indiacutegenas
estrangeiros mantecircm no Brasil seu pertencimento eacutetnico e todos os direitos e garantias que
essa caracteriacutestica ensejardquo
Assim esse trabalho se desenvolveraacute para tentar compreender quais direitos dos
indiacutegenas venezuelanos natildeo vecircm sendo garantidos e em que medida o governo vem
avanccedilando para a real efetivaccedilatildeo desses direitos
REFEREcircNCIAS
ACNUR Refugees and migrants from Venezuela top 4 million UNHCR and IOM 2019 Disponiacutevel em lt httpswwwunhcrorgnewspress201965cfa2a4a4refugees-migrants-venezuela-top-4-million-unhcr-iomhtml gt Acesso em 08 jul 2019 ATLAS SOCIOLINGUumlIacuteSTICO DE PUEBLOS INDIacuteGENAS EN AMEacuteRICA LATINA Venezuela 2008 Disponiacutevel em lthttpsatlaspueblosindigenaswordpresscomvenezuelagt Acesso em 15 jul 2019 BAENINGER Rosana et al (organizadores) Migraccedilotildees Sul-Sul Campinas SP NepoUnicamp 2018 976 p BAUMAN Zigmunt Identidade entrevista a Benedetto Vecchi Rio de Janeiro Zahar 2005 BRASIL Decreto nordm 6040 de 7 de fevereiro de 2007 Institui a Poliacutetica Nacional de Desenvolvimento Sustentaacutevel dos Povos e Comunidades Tradicionais Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbrccivil_03_Ato2007-20102007DecretoD6040htmgt Acesso em 08 jul 2019
BRASIL Interiorizac a o Relatorio cumulativo Casa Civil Marccedilo 2019 Disponiacutevel em lt httpwwwcasacivilgovbroperacao-acolhidadocumentosinteriorizacao-relatorio-cumulativo-marco-2019viewgt Acesso em 15 jul 2019 BRASIL Recomendaccedilatildeo nordm 82018MPFRR Boa Vista 2018 Disponiacutevel em lthttpwwwmpfmpbrrrsala-de-imprensadocsRecomendaon92018pdfgt Acesso em 15 jul 2019 BRASIL Segundo Relatoacuterio Trimestral Comitecirc Federal de Assistecircncia Emergencial Casa Civil Outubro 2018 Disponiacutevel em lt httpwwwcasacivilgovbroperacao-acolhidadocumentos20181015_segundo-relatorio-tr-consolidandopdfgt Acesso em 15 jul 2019
25
CARDOSO Roberto de Oliveira Caminhos da identidade ensaios sobre etnicidade e multiculturalismo Satildeo Paulo Editora Unesp Brasiacutelia Paralelo 15 2006 258 p HALL Stuart A identidade cultural na poacutes-modernidade Traduccedilatildeo Tomaz Tadeu da Silva Guaracira Lopes Louro 11 ed 1 reimp Rio de Janeiro DPampA 2011 104 p MANTOVANI Emiliano Teran El fantasma de la Gran Venezuela un estudio del mito del desarrollo y los dilemas del petro-Estado en la Revolucioacuten Bolivariana Caracas CELARG 2014 334 p MANTOVANI Emiliano Teran Indiacutegenas warao (Delta del Orinoco) contaminados por Corporacioacuten Venezolana de Guayana y mineriacutea ilegal Venezuela 2016 Environmental Justice Atlas lthttpsejatlasorgconflictindigenas-warao-en-el-bajo-delta-del-orinoco-contaminados-por-desechos-de-la-corporacion-venezolana-de-guayana-y-de-la-mineria-ilegalgt Acesso em 14 jul 2019 OIM Aspectos juriacutedicos da atenccedilatildeo aos indiacutegenas migrantes da Venezuela para o Brasil Brasiacutelia 2018 SIMOtildeES Gustavo da Frota (organizador) Perfil sociodemograacutefico e laboral da imigraccedilatildeo venezuelana no Brasil Curitiba CRV 2017 112 p Disponiacutevel em lt httpsportaldeimigracaomjgovbrimagespublicacoesPerfil_Sociodemografico_e_laboral_venezuelanos_Brasilpdfgt Acesso em 15 jul 2019 WOODWARD Kathryn Identidade e diferenccedila uma introduccedilatildeo teoacuterica e conceitual In SILVA Tomaz T (organizador) Identidade e diferenccedila a perspectiva dos estudos culturais Petroacutepolis Vozes 2014
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A SITUACcedilAtildeO JURIacuteDICA DOS VENEZUELANOS NO BRASIL UM
ESTUDO Agrave LUZ DA LEI DE MIGRACcedilOtildeES
Jeancezar Ditzz de Souza Ribeiro1
Victor Arleacute Machado2
Eixo temaacutetico GT 1 Crise Migratoacuteria e Direitos Humanos
Palavras ndash Chave Lei de Migraccedilotildees Venezuelanos Asilo Refuacutegio acolhida humanitaacuteria
A Lei de Migraccedilotildees atualmente em vigor no Brasil veio para substituir o antigo
Estatuto do Estrangeiro instituiacutedo pela Lei 6815 de 1980 Introduzido durante o contexto
militar o estatuto tratava o imigrante como ameaccedila ao paiacutes agrave seguranccedila nacional 3 Esta lei
natildeo vislumbrava qualquer vieacutes humanitaacuterio pelo contraacuterio com caracteriacutesticas fortemente
protecionistas aos interesses nacionais o diploma se revela um reflexo do contexto poliacutetico
em que foi aprovado
Sancionada em 24 de maio de 2017 a Lei de Migraccedilotildees trouxe uma regulamentaccedilatildeo
completamente nova para as questotildees migratoacuterias no Brasil abandonando paradigmas
antigos racistas e xenoacutefobos que eram perpetuados pelo Estatuto do Estrangeiro
O Estado brasileiro dispotildee de variados institutos juriacutedicos acessiacuteveis aos migrantes
A maior parte delas emana da Lei de Refuacutegio (947497) e da Lei de Migraccedilotildees (1344517)
Haacute tambeacutem o asilo poliacutetico previsto como um princiacutepio das Relaccedilotildees Internacionais do
Brasil no artigo 4ordm da Constituiccedilatildeo Federal de 1988
O refuacutegio eacute um instituto recente em comparaccedilatildeo ao asilo emergindo somente no
seacuteculo passado Seus principais pilares satildeo a Convenccedilatildeo de 1951 Relativa ao Estatuto dos
Refugiados e o Protocolo de 1967 ambas ratificadas pelo Brasil
Eacute fundamentado na universalidade dos direitos humanos e assim sendo os
refugiados satildeo titulares de direitos humanos a serem respeitados a qualquer tempo
circunstancia e local Desta forma a Convenccedilatildeo sobre o Estatuto dos Refugiados de 1951
1 Doutor em Direito Internacional pela Faculdade de Direito da USP Largo Satildeo Francisco Professor de Direito Internacional no Centro Universitaacuterio La Salle do Rio de Janeiro UnilasalleRJ e na Universidade Candido Mendes (UCAM) Consultor juriacutedico e pesquisador na USP E-mail jeanditzzuspbr link para o curriacuteculo Lattes httplattescnpqbr8005429036796861 2 Graduando em Direito na Universidade Candido Mendes- Niteroacuteindash E-mail arlevictorgmailcom 3 OLIVEIRA Antocircnio Tadeu Ribeiro de Nova lei brasileira de migraccedilatildeo avanccedilos desafios e ameaccedilas Satildeo Paulo Disponiacutevel em httpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamppid=S0102-30982017000100171aff1 Acesso em 20 de setembro de 2018
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deve ser interpretada em consonacircncia com a Declaraccedilatildeo Universal de 1948 assim como os
tratados internacionais de proteccedilatildeo de direitos humanos4
Tanto o refuacutegio como o asilo tem o escopo de garantir os requisitos miacutenimos de vida
e de dignidade para aqueles que carecem de proteccedilatildeo humana no seu territoacuterio de origem5
No entanto haacute que se observar que a despeito de ambos compartilharem caraacuteter humanitaacuterio
satildeo em verdade institutos com abrangecircncia hipoacuteteses de aplicabilidade e funcionamentos
distintos
Enquanto o asilo admite apenas questotildees poliacuteticas que justifiquem a sua concessatildeo
o refuacutegio abarca uma quantidade maior de cenaacuterios possiacuteveis fundados em temor por
perseguiccedilatildeo por ordem de opiniatildeo poliacutetica raccedila religiatildeo nacionalidade e pertencimento a
grupo social demonstrando assim que eacute um instituto de alcance mais amplo Vale observar
que para a solicitaccedilatildeo do refuacutegio basta o fundado temor de perseguiccedilatildeo e natildeo a
demonstraccedilatildeo que haacute uma perseguiccedilatildeo materializada de fato
O refuacutegio encontra sua base legal na Lei 974797 Trata sobretudo dos fluxos
migratoacuterios de indiviacuteduos que saem do seu paiacutes temendo perseguiccedilotildees fundadas em questotildees
raciais religiosas de nacionalidade social ou em razatildeo de opiniatildeo poliacutetica admitindo-se
tambeacutem a violaccedilatildeo de direitos humanos de forma grave e generalizada conforme descreve a
lei em seu artigo 1ordm Natildeo se pode confundir poreacutem com o instituto asilo que apesar das
similaridades eacute concedido caso a caso enquanto o refuacutegio visa tratar de fluxos populacionais
maciccedilos Vale lembrar tambeacutem que o refuacutegio pode ser requerido ainda que o solicitante natildeo
esteja em territoacuterio nacional
A Lei 974797 eacute responsaacutevel tambeacutem pela criaccedilatildeo do Comitecirc Nacional para os
Refugiados o CONARE oacutergatildeo responsaacutevel por analisar e reconhecer os pedidos de refuacutegio
no Brasil aleacutem de todo o seu respectivo processo poreacutem natildeo se restringe a somente esta
funccedilatildeo Graccedilas a sua composiccedilatildeo multidisciplinar que abarca setores do governo como
Sauacutede Educaccedilatildeo Trabalho sociedade civil observa-se que o CONARE extrapola funccedilotildees
meramente burocraacuteticas representando tambeacutem um importante espaccedilo de debate para novas
soluccedilotildees para a questatildeo dos refugiados6
Outra caracteriacutestica interessante da Lei de refuacutegio eacute o alcance da proteccedilatildeo oferecida
ao refugiado Uma vez reconhecida sua condiccedilatildeo o refugiado natildeo pode ser extraditado
ficando tambeacutem suspenso qualquer processo de extradiccedilatildeo pendente Tambeacutem eacute vetada pela
4 PIOVESAN Flavia Temas de Direitos Humanos 7 ed Satildeo Paulo Saraiva 2014 253p 5 JUBILUT Liliana Lyra O Direito Internacional dos Refugiados e sua Aplicaccedilatildeo no Ordenamento Juriacutedico Brasileiro Satildeo Paulo Meacutetodo 2007 43p 6 JUBILUT Liliana Lyra GODOY Gabriel Gualano Refuacutegio no Brasil Comentaacuterios a Lei 947497 Satildeo Paulo Ed Quartier Latin do Brasil 2017 14p
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Lei a deportaccedilatildeo daquele que busca o reconhecimento do status de refugiado para fronteira
de territoacuterio onde haja ameaccedila a sua vida ou liberdade outra proteccedilatildeo importantiacutessima
A Lei brasileira eacute conhecida por ser uma das mais modernas sobre o tema aleacutem do
seu caraacuteter inovador servindo inclusive de inspiraccedilatildeo para outras legislaccedilotildees nas Ameacutericas
Tratando especificamente sobre o caso da Venezuela estima-se que entre 3000 e
5000 pessoas deixem o paiacutes diariamente Por esta razatildeo inclusive a orientaccedilatildeo mais recente
do ACNUR eacute que estes fluxos migratoacuterios recebam a proteccedilatildeo de refugiados jaacute que muitos
se encontram com sua vida seguranccedila e liberdade ameaccedilados7 Trata-se de uma mudanccedila
importante decorrente do agravamento da crise venezuelana
O refuacutegio eacute um instituto de grande importacircncia em cenaacuterios como esse Primeiro
em razatildeo da sua gratuidade bastante relevante nesse contexto devido agrave crise econocircmica na
Venezuela mas tambeacutem em razatildeo da seguranccedila que que oferece ao migrante pois impede a
deportaccedilatildeo destes ao seu paiacutes de origem mesmo se tiverem adentrado o territoacuterio nacional
de forma ilegal8 Esta eacute uma garantia que vem se tornando indispensaacutevel jaacute que muitos
venezuelanos sofreram ameaccedilas de morte A disseminaccedilatildeo de doenccedilas tambeacutem eacute outro
motivo que pressiona os venezuelanos a buscar o Brasil e outros paiacuteses vizinhos9
O instituto da acolhida humanitaacuteria integra a poliacutetica de migraccedilotildees brasileira e
encontra-se previsto na Lei de Migraccedilotildees em seu artigo 3ordm inciso VI
A acolhida humanitaacuteria oferta ao imigrante a possibilidade de usufruir de um visto
temporaacuterio e de uma autorizaccedilatildeo de residecircncia que pode ser concedida ao residente
fronteiriccedilo ou visitante tambeacutem conforme a previsatildeo do artigo 30 da lei
O texto legal tambeacutem enumera as hipoacuteteses de concessatildeo do visto temporaacuterio em
seu artigo 14 sect 3ordm podendo ele ser ofertado ao nacional de qualquer paiacutes e tambeacutem ao
apaacutetrida nos casos de grave ou iminente instabilidade institucional conflito armado grandes
calamidades desastre ambiental grave violaccedilatildeo de direitos humanos ou de direito
internacional humanitaacuterio mas sem se limitar a estas hipoacuteteses10
7 Imigrantes venezuelanos devem ser reconhecidos como refugiados diz ONU Folha de S Paulo Satildeo Paulo 21 de maio de 2019 Disponiacutevel em httpswww1folhauolcombrmundo201905imigrantes-venezuelanos-devem-ser-reconhecidos-como-refugiados-diz-onushtml Acesso em 3 de junho de 2019 8 JUBILUT Liliana Lyra O Procedimento de Concessatildeo de Refuacutegio no Brasil Disponiacutevel em httpswwwjusticagovbrcentral-de-conteudoestrangeiroso-procedimento-refugio-no-brasilpdf Acesso em 3 de junho de 2019 9 Venezuelanos fogem devido a ameaccedilas de morte e doenccedilas leia relatos Disponiacutevel em httpsnacoesunidasorgvenezuelanos-fogem-devido-a-ameacas-de-morte-e-doencas-leia-relatos Acesso em 3 de junho de 2019 10 BRASIL Lei nordm 13445 de 24 de maio de 2017 Disponiacutevel em httpwwwplanaltogovbrccivil_03_ato2015-20182017leil13445htm Acesso em 4 de junho de 2019
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Infelizmente a nova Lei de migraccedilotildees carece de regulamentaccedilatildeo em especial sobre
a acolhida humanitaacuteria trazendo incerteza sobre as hipoacuteteses e competecircncia de concessatildeo
do visto temporaacuterio A ediccedilatildeo do Decreto 9199 de 20 de novembro de 2017 natildeo trouxe
soluccedilatildeo ao problema deixando a questatildeo aberta a potenciais violaccedilotildees de direitos e decisotildees
diacutespares sobre situaccedilotildees idecircnticas11
Diferentemente do refuacutegio o asilo encontra suas origens na Antiguidade claacutessica
sendo um instituto muito mais antigo12
No Brasil o asilo emana da Constituiccedilatildeo Federal de 1988 em seu artigo 4ordm tanto
no inciso II que trata da prevalecircncia dos direitos humanos como no inciso X que regulamenta
o asilo explicitamente Antes este instituto encontrava sua regulamentaccedilatildeo tambeacutem na Lei
68151980 (Estatuto do Estrangeiro) atualmente revogada em favor da Lei de migraccedilatildeo
(Lei 134452017) que tambeacutem faz previsatildeo ao asilo13
Eacute importante tambeacutem frisar que enquanto o refuacutegio tem um alcance muito maior
abrangendo perseguiccedilatildeo natildeo soacute de ordem poliacutetica mas tambeacutem eacutetnica religiosa em razatildeo da
nacionalidade convicccedilatildeo poliacutetica grupo social podendo inclusive ser justificado em fundado
temor de perseguiccedilatildeo O asilo por sua vez necessita de que a perseguiccedilatildeo jaacute esteja
materializada natildeo sendo bastante o temor por si soacute Por outro lado natildeo eacute necessaacuterio que o
solicitante esteja fora do seu territoacuterio de origem ou nacionalidade para que seja solicitado o
asilo (neste caso a modalidade de asilo territorial)14
Vale observar que o instituto do asilo na praacutetica mostra-se mais presente na
Ameacuterica Latina em decorrecircncia de fatores histoacutericos notadamente a forte instabilidade
poliacutetica na regiatildeo15
Nota-se tambeacutem que enquanto o refuacutegio apresenta-se como uma medida
essencialmente humanitaacuteria portadora de claacuteusulas de cessaccedilatildeo perda e exclusatildeo o asilo tem
caraacuteter distinto sendo essencialmente poliacutetico concedido atraveacutes de ato discricionaacuterio do
Estado e livre de quaisquer claacuteusulas de exclusatildeo16
REFEREcircNCIAS
BARICHELLO Stefania A Evoluccedilatildeo dos Instrumentos de Proteccedilatildeo do Direito Internacional dos Refugiados na Ameacuterica Latina da Convenccedilatildeo de 51 ao Plano de Accedilatildeo do Meacutexico (The Evolution of the International Refugee Law in Latin America From the 1951 Convention to the Mexico Plan of Action)
11 VEDOVATO Luiacutes Renato A Nova Lei de Migraccedilatildeo e a acolhida humanitaacuteria Disponiacutevel em httpwwweventoodhunicampbrsimposio2018wp-contentuploads201809Luis_Renato_Vedovato_177pdf Acesso em 14 de Junho de 2019 12 JUBILUT Liliana Lyra O Direito Internacional dos Refugiados e sua Aplicaccedilatildeo no Ordenamento Juriacutedico Brasileiro Satildeo Paulo Meacutetodo 2007 37p 13 Ibidem 42p 14 Ibidem 50p 15 Ibidem 38p 16 BARICHELLO Stefania A Evoluccedilatildeo dos Instrumentos de Proteccedilatildeo do Direito Internacional dos Refugiados na Ameacuterica Latina da Convenccedilatildeo de 51 ao Plano de Accedilatildeo do Meacutexico (The Evolution of the International Refugee Law in Latin America From the 1951 Convention to the Mexico Plan of Action) Universitas Relaccedilotildees Internacionais Brasiacutelia v 10 n 1 p 33-51 janjun 2012 Disponiacutevel em httpsssrncomabstract=2319068 Acesso em 14 de junho de 2019
30
Universitas Relaccedilotildees Internacionais Brasiacutelia v 10 n 1 p 33-51 janjun 2012 Disponiacutevel em httpsssrncomabstract=2319068 Acesso em 14 de junho de 2019
BRASIL Decreto ndeg 678 de 6 de novembro de 1992 Disponiacutevel em httpwwwplanaltogovbrccivil_03decretod0678htm Acesso em 01 nov BRASIL Lei nordm 13445 de 24 de maio de 2017 Disponiacutevel em httpwwwplanaltogovbrccivil_03_ato2015-20182017leil13445htm Acesso em 4 de junho de 2019 ___ Decreto ndeg 4388 de 25 de setembro de 2002 Disponiacutevel em httpwwwplanaltogovbrccivil_03decreto2002d4388htm Acesso em 01 nov 2019
CORTE INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS Caso Almonacid Arellano e outros Vs Chile Sentenccedila de 26 de setembro de 2006 Disponiacutevel em httpwwwcorteidhorcrdocscasosarticulosseriec_154_esppdf Acesso em 01 nov 2019
____Caso Gomes Lund e outros (ldquoGuerrilha do Araguaiardquo) Vs Brasil Sentenccedila de 24 de novembro de 2010 Disponiacutevel em httpwwwcorteidhorcrdocscasosarticulosseriec_219_porpdf Acesso em 01 nov 2019 ____Caso Herzog e outros vs Brasil Sentenccedila de 15 mar 2018 Disponiacutevel em httpwwwcorteidhorcrdocscasosarticulosseriec_353_porpdf Acesso em 07 out 2019 Imigrantes venezuelanos devem ser reconhecidos como refugiados diz ONU Folha de S Paulo Satildeo Paulo 21 de maio de 2019 Disponiacutevel em httpswww1folhauolcombrmundo201905imigrantes-venezuelanos-devem-ser-reconhecidos-como-refugiados-diz-onushtml Acesso em 3 de junho de 2019 JUBILUT Liliana Lyra O Direito Internacional dos Refugiados e sua Aplicaccedilatildeo no Ordenamento Juriacutedico Brasileiro Satildeo Paulo Meacutetodo 2007 JUBILUT Liliana Lyra O Procedimento de Concessatildeo de Refuacutegio no Brasil Disponiacutevel em httpswwwjusticagovbrcentral-de-conteudoestrangeiroso-procedimento-refugio-no-brasilpdf Acesso em 3 de junho de 2019 JUBILUT Liliana Lyra GODOY Gabriel Gualano Refuacutegio no Brasil Comentaacuterios a Lei 947497 Satildeo Paulo Ed Quartier Latin do Brasil 2017 MINISTEacuteRIO DAS RELACcedilOtildeES EXTERIORES A Organizaccedilatildeo dos Estados Americanos Disponiacutevel em httpwwwitamaratygovbrpt-BRpolitica-externaintegracao-regional14394-a-organizacao-dos-estados-americanos Acesso em 01 nov 2019 OLIVEIRA Antocircnio Tadeu Ribeiro de Nova lei brasileira de migraccedilatildeo avanccedilos desafios e ameaccedilas Satildeo Paulo Disponiacutevel em httpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamppid=S0102-30982017000100171aff1 Acesso em 20 de setembro de 2018 PIOVESAN Flavia Temas de Direitos Humanos 7 ed Satildeo Paulo Saraiva 2014
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VEDOVATO Luiacutes Renato A Nova Lei de Migraccedilatildeo e a acolhida humanitaacuteria Disponiacutevel em httpwwweventoodhunicampbrsimposio2018wp-contentuploads201809Luis_Renato_Vedovato_177pdf Acesso em 14 de Junho de 2019 Venezuelanos fogem devido a ameaccedilas de morte e doenccedilas leia relatos Disponiacutevel em httpsnacoesunidasorgvenezuelanos-fogem-devido-a-ameacas-de-morte-e-doencas-leia-relatos Acesso em 3 de junho de 2019
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DISCURSO DE OacuteDIO AOS MIGRANTES E OS LIMITES DA LIBERDADE DE EXPRESSAtildeO
Tiago da Silva Cicilio1
Carlos Marcel Ferrari Lima Fernandes2
Daniel Machado Gomes3
Eixo temaacutetico GT1 Crise migratoacuteria e direitos humanos
Palavras-chave migrantes dignidade humana Taylor Habermas
INTRODUCcedilAtildeO
Ainda hoje a falta de efetividade das normas protetivas dos migrantes produz riscos
iminentes agrave dignidade de quem se vecirc obrigado a deixar a proacutepria paacutetria por razotildees
humanitaacuterias Como se natildeo bastassem os problemas preteacuteritos e aqueles decorrentes do
deslocamento e a total incerteza do presente e futuro os migrantes tornam-se alvos de
discursos radicalmente xenoacutefobos e satildeo recepcionados com hostilidade e preconceito De
Estados autoritaacuterios aos democraacuteticos a retoacuterica do insulto aos estrangeiros tem se tornado
comum e tem intoxicado o ambiente poliacutetico o que tem gerado inuacutemeros atos de intoleracircncia
e de violecircncia baseada no oacutedio ao diferente Diante deste contexto de urgente hospitalidade
aos migrantes comungada com o combate agrave xenofobia o texto pretende demonstrar que o
discurso de oacutedio aos estrangeiros natildeo se sustenta nem juriacutedica nem moralmente pois a ideia
de uma liberdade de expressatildeo sem limites eacute equivocada do ponto de vista dos direitos
humanos jaacute que a alteridade configura um limite eacutetico e objetivo ao exerciacutecio dessa liberdade
Para tanto o artigo percorre as propostas de Charles Taylor e Jurgen Habermas a respeito
da igualdade e do reconhecimento da diferenccedila como sustentaacuteculos da cultura poliacutetica
pluralista garantindo o direito agrave natildeo discriminaccedilatildeo Na elaboraccedilatildeo deste artigo foi utilizado
o meacutetodo dedutivo e qualitativo com pesquisa bibliograacutefica nos principais livros perioacutedicos
e artigos da internet O marco teoacuterico empregado no texto satildeo as ideias de igualdade esfera
1 Bacharelando em Direito pela Universidade Catoacutelica de PetroacutepolisRJ Pesquisador bolsista de iniciaccedilatildeo cientiacutefica do CNPq tiagociciliogmailcom Lattes httplattescnpqbr1634337283930907 2 Bacharel em Direito pela UNESARJ especialista em Direito Administrativo pela UCAMRJ Mestrando em Direito pela UCPRJ carlosmarcelferrarigmailcom Lattes httplattescnpqbr6240508970843538 3 Doutor em Filosofia pelo IFCS UFRJ (2015) Mestre em Ciecircncias Juriacutedico-Civiliacutesticas pela Universidade de Coimbra Portugal (2003) Coordenador e Professor do PPGD-UCP Atua na graduaccedilatildeo em Direito da UCP e da FACHA danielmachadoucpbr Lattes httplattescnpqbr5147053344281753
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puacuteblica e accedilatildeo comunicativa expostas pelo filoacutesofo alematildeo Jurgen Habermas bem como a
eacutetica do reconhecimento de Charles Taylor
DISCUSSAtildeO
A migraccedilatildeo pode ser desencadeada por diferentes fatores como os desastres
ambientais a crise econocircmica os conflitos armados as perseguiccedilotildees poliacuteticas eacutetnicas ou
culturais Crises como a dos refugiados na Europa dos haitianos e latino-americanos no
Brasil ou do ecircxodo venezuelano tornaram-se uma das principais pautas de direitos humanos
justamente por levantarem questotildees criacuteticas como problemas socioeconocircmicos traacutefico de
pessoas exploraccedilatildeo sexual etc Neste contexto tem-se assistido ao crescimento do discurso
de oacutedio contra migrantes motivado pela xenofobia a qual emerge como uma das maiores
ameaccedilas agrave dignidade humana ainda presente no seacuteculo XXI
Na busca por seguranccedila e condiccedilotildees dignas para viver o migrante submete-se ao
risco da clandestinidade e precariedade Se consegue chegar ao seu destino por diversas vezes
eacute culpabilizado por problemas sociais e visto como um estranho indesejado um forasteiro
com haacutebitos e manifestaccedilotildees culturais distintas das quais colocam em risco o bem-estar
nacional A profunda antipatia ao estrangeiro impulsionada pelo nacionalismo exacerbado
pelo extremismo gera perplexidade e estaacute presente a cada dia mais nas manifestaccedilotildees de
pensamento em variados contextos indo de publicaccedilotildees de perfis anocircnimos em redes sociais
ateacute pronunciamentos oficiais de autoridades puacuteblicas
Esse movimento de intoleracircncia e violecircncia baseada na aversatildeo aos migrantes estaacute
em ascensatildeo e os ditos discursos de oacutedio proliferam-se sem qualquer vedaccedilatildeo fazendo nascer
uma sensaccedilatildeo de proteccedilatildeo via liberdade de expressatildeo e servindo como inspiraccedilatildeo para as
inuacutemeras accedilotildees extremistas e criminosas como judeus sendo mortos em sinagogas e seus
tuacutemulos desfigurados com suaacutesticas locais religiosos sendo vandalizados como mesquitas
mulccedilumanas haitianos sendo alvejados a tiros por serem quem satildeo muros sendo
construiacutedos fronteiras sendo fechadas com fundamento em valores abstratos (seguranccedila
nacional) prisotildees ilegais torturas e constrangimentos na entrada e saiacuteda etc
Essa retoacuterica abominaacutevel contra o migrante objetiva a criaccedilatildeo de bodes expiatoacuterios
para os mais diferentes problemas fazendo-os ocupar o papel de inimigos puacuteblicos da
sociedade da famiacutelia do Estado Todavia tal exerciacutecio da liberdade de expressatildeo eacute
insustentaacutevel por infringir um limite eacutetico intransponiacutevel - a dignidade do outro O discurso
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extremista tem como principal causa a intoleracircncia com a diferenccedila um ataque agrave inclusatildeo e
agrave diversidade e nesse sentido configura flagrante violaccedilatildeo aos direitos humanos
Deste modo somos chamados a refletir sobre as questotildees de violecircncia contidas nas
manifestaccedilotildees publicizadas confrontando-as com o arcabouccedilo juriacutedico e com as propostas
de dois pensadores contemporacircneos a eacutetica do reconhecimento de Charles Taylor e a accedilatildeo
comunicativa de Jurgen Habermas De plano constata-se que o direito internacional e o
direito constitucional moderno vedam o discurso de oacutedio pois estatildeo fundados na dignidade
da pessoa humana Contudo a desconstruccedilatildeo desse tipo de discurso depende da adoccedilatildeo de
um padratildeo eacutetico que permita ultrapassar o clima de hostilidade que se instaura contra os
migrantes Para se evitar a discriminaccedilatildeo e outras formas de injusticcedila Taylor propotildee que a
convivecircncia no espaccedilo puacuteblico esteja fundada no reconhecimento igualitaacuterio agraves muacuteltiplas
diferenccedilas identitaacuterias que coexistem na sociedade Essas poliacuteticas de reconhecimento
propostas por Taylor tecircm o potencial de atuarem como antiacutedoto contra toda forma de
aversatildeo agrave diversidade alvo preferencial do discurso de oacutedio Em lugar de insultar sujeitos e
grupos o reconhecimento conduz agrave valorizaccedilatildeo da diferenccedila e da dignidade humana
propiciando uma eacutetica que vai aleacutem da toleracircncia por estar baseada na hospitalidade
A teoria da accedilatildeo comunicativa desenvolvida por Jurgen Habermas permite a
ampliaccedilatildeo da esfera puacuteblica no exerciacutecio da cidadania viabilizando a construccedilatildeo de discursos
pautados pelos ideais de solidariedade ciacutevica ou de patriotismo constitucional Com isso os
argumentos nacionalistas satildeo enfraquecidos anulando a crenccedila na existecircncia de uma base
cultural homogecircnea a qual todos os integrantes estariam vinculados A teoria de Habermas
viabiliza a construccedilatildeo de uma sociedade constituiacuteda para aleacutem das vinculaccedilotildees decorrentes
de mecanismos identitaacuterios derivados do sentido egoiacutestico de naccedilatildeo garantindo o exerciacutecio
dos processos de participaccedilatildeo igualitaacuteria fundamentais na formaccedilatildeo da esfera puacuteblica ndash os
quais satildeo comprometidos pelo oacutedio ao diverso ndash revelando-se como local ideal para o
desenvolvimento de valores ciacutevicos Por fim ressalte-se que Habermas propotildee um ambiente
propiacutecio para o desenvolvimento de uma sociedade inclusiva aos migrantes e mais apta agrave
extensatildeo da igualdade
CONCLUSAtildeO
O desenvolvimento das telecomunicaccedilotildees e a ascensatildeo de pessoas puacuteblicas na miacutedia
que destilam oacutedio propiciou um campo aparentemente imune para a retoacuterica do insulto aos
migrantes tornando-se um obstaacuteculo ao conviacutevio na contemporaneidade devido agrave adoccedilatildeo
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de um discurso baseado na intoleracircncia agrave diferenccedila que busca a exclusatildeo e ateacute o extermiacutenio
dos estrangeiros Assim para que a construccedilatildeo do espaccedilo puacuteblico seja mais inclusiva
tolerante reconhecedora da diferenccedila torna-se necessaacuterio a adoccedilatildeo de uma eacutetica do
reconhecimento num contexto de respeito ao direito agrave igualdade A partir disto conclui-se
que quaisquer manifestaccedilotildees de oacutedio contra a dignidade humana que visem negar a proacutepria
alteridade satildeo abusivas e violam os direitos humanos natildeo devendo ser toleradas Ademais
a desconstruccedilatildeo do discurso de oacutedio por meio da efetivaccedilatildeo da poliacutetica do reconhecimento
e da garantia ao princiacutepio da igualdade promovem o ambiente democraacutetico garantidor de
direitos humanos
REFEREcircNCIAS
HABERMAS Juumlrgen Mudanccedila estrutural da esfera puacuteblica Rio de Janeiro Tempo Brasileiro
1984
HABERMAS Juumlrgen Facticidad y Validez sobre el derecho y el Estado democraacutetico de derecho en
teacuterminos de teoriacutea del discurso Trad Manuel Jimeacutenez Redondo Madrid Trotta 1998
TAYLOR Charles et al Multiculturalismo examinando a poliacutetica de reconhecimento Lisboa
Piaget 1998
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A QUESTAtildeO DA MORAL E DO MULTICULTURALISMO UM ESTUDO SOBRE A CIRCUNSTAcircNCIA ATENUANTE DE PENA DO ARTIGO 65
INCISO III ALIacuteNEA A DO COacuteDIGO PENAL
Flaacutevio Mirza Maduro1
Lorena Braga Raposo2
Rafael Guedes Vaz Schettino3
Natasha Benevides Rodrigues4
Eixo temaacutetico GT1 Crise migratoacuteria e direitos humanos
Palavras-chave multiculturalismo atenuante de pena hermenecircutica juriacutedica
OBJETIVO
O estudo proposto possui como escopo uma anaacutelise criacutetica do criteacuterio atenuante da
pena contido no texto do artigo 65 III A do Coacutedigo Penal tendo como paradigma
argumentativo o multiculturalismo Em um primeiro momento seraacute abordada a questatildeo
essencial para o desenvolvimento deste trabalho ateacute que ponto a moral eacute influenciada pelos
valores culturais de uma sociedade Passando por uma anaacutelise filosoacutefica sobre o tema para
em um segundo momento introduzir o debate doutrinaacuterio acerca do disposto no referido
texto legal
Concluiacuteda a delineaccedilatildeo epistemoloacutegica apresentaremos o criteacuterio hermenecircutico de
interpretaccedilatildeo buscando uma possiacutevel justificativa para a aplicaccedilatildeo do criteacuterio atenuante pelo
crime cometido por sujeitos provenientes de culturas diversas levando-se em conta o
relevante valor moral do delito
O meacutetodo utilizado para o desenvolvimento desta pesquisa seraacute o qualitativo por
meio de revisatildeo bibliograacutefica tendo como fontes secundaacuterias autores que versam sobre
cultura moral e hermenecircutica principalmente no campo da filosofia Em complemento seraacute
1 Poacutes-Doutor pela Universidade de Coimbra Professor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro Professor e Coordenador do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Direito da Universidade Catoacutelica de Petroacutepolis Advogado Criminalista E-mail flaviomirzagmailcom Lattes httplattescnpqbr4526253051246397 2 Mestranda em Direito na Universidade Catoacutelica de Petroacutepolis na linha de Processo e Efetivaccedilatildeo de Justiccedila e dos Direitos Professora de Direito Processual Penal da UNIGRANRIO - Universidade Grande Rio Advogada Criminalista Email dralorenabragagmailcom Lattes httplattescnpqbr803302027896313 3 Graduando em Direito pela Universidade Catoacutelica de Petroacutepolis orientado pelo professor Flaacutevio Mirza E-mail rafaelsamadvcombr Lattes httplattescnpqbr2616278251331399 4 Graduanda de Direito pela Universidade Catoacutelica de Petroacutepolis orientada pelo professor Flaacutevio Mirza E-mail natashabenevidedgmailcom Lattes httplattescnpqbr9414275333821376
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abarcada doutrina juriacutedica pertinente ao tema Como fonte primaacuteria seraacute utilizado o Coacutedigo
Penal Brasileiro de 1940 e a Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil de 1988
ABORDAGEM TEOacuteRICA
A cultura natildeo existe em abstrato ela eacute portanto consequecircncia da capacidade criativa
do ser humano mediada por uma interpretaccedilatildeo da realidade tornando o ser humano agente
criador e produto da cultura Portanto ao remontarmos a origem da cultura retornaremos a
gecircnese do proacuteprio ser humano apoacutes a revoluccedilatildeo cognitiva quando as primeiras formas
incipientes de grupos sociais surgiram momento em que a humanidade comeccedila a conviver
em pequenas tribos e agrupamentos o que gerou a necessidade do estabelecimento de regras
de conviacutevio social as primeiras manifestaccedilotildees artiacutesticas os cultos aos iacutedolos e a natureza
bem como a moral
Poderiacuteamos citar as teorias contratualistas que surgiram nos seacuteculos XVI agrave XVIII
que procuram estabelecer este momento de transiccedilatildeo do estado de hordas e jangadas sociais
(SLOTERDIJK 1999 p 96) para inserir-se em um contexto poliacutetico mas cremos que sejam
demasiadamente imprecisas hoje em dia visto o avanccedilo das pesquisas cientiacuteficas e
antropoloacutegicas
Conclui-se portanto que desde a Revoluccedilatildeo Cognitiva natildeo haacute um modo de vida
definitivo para a nossa espeacutecie Aprofundando o afirmado tendemos a crer que a cultura
por si jaacute exclui qualquer interpretaccedilatildeo sobre um modo de vida natural Darcy Ribeiro (1995
p 84) via a cultura como ldquoo conjunto e a integraccedilatildeo dos modos de fazer agir pensar
desenvolvidos ou adotados por uma sociedade como soluccedilatildeo para as necessidades da vida
humana associativardquo
Somos mestres da criaccedilatildeo e a lei e o direito natildeo escapam a essa idiossincrasia
humana Assim podemos tirar uma conclusatildeo de fato observando nossos ancestrais e como
nos comportamos hoje somos animais essencialmente sociais e poliacuteticos e eacute justamente
deste fato que deriva a cultura e por conseguinte todas as construccedilotildees que fizemos ateacute hoje
inclusive o Direito
Aristoacuteteles em ldquoA Poliacuteticardquo (2004 p 147) observou sabiamente que
A prova de que o Estado eacute uma criaccedilatildeo da natureza e tem prioridade sobre o indiviacuteduo eacute que o indiviacuteduo quando isolado natildeo eacute auto-suficiente no entanto ele o eacute como parte relacionada com o conjunto Mas aquele que for incapaz de viver em sociedade ou que natildeo tiver necessidade disso por ser auto-suficiente seraacute uma besta ou um deus natildeo uma parte do Estado
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Com o advento da hiperpoliacutetica e da globalizaccedilatildeo os fluxos migratoacuterios se
intensificaram trazendo novos desafios para o Direito Uma vez que sujeitos imigrantes das
mais diversas culturas se inserem no contexto do paiacutes emigrado e passam a ser tutelados pelo
sistema juriacutedico vigente desta naccedilatildeo consequentemente o direito penal vem enfrentando
uma seacuterie de novos dilemas e questionamentos
O multiculturalismo emerge portanto como um desafio para as sociedades globais
fortemente apoiadas na ideia de equidade apoiada no axioma da unidade de sujeito de
direitos qual seja que todos os sujeitos no ordenamento juriacutedico possuem os mesmos
direitos as mesmas obrigaccedilotildees as mesmas liberdades as mesmas prerrogativas e
consequentemente as mesmas posiccedilotildees em relaccedilatildeo agrave lei penal mas uma sociedade que natildeo
eacute una pode corresponder um uacutenico Direito
Para elucidar o disposto no presente estudo podemos exemplificar com casos
ocorridos no Brasil e no mundo para que possam servir como base para iniciarmos nossas
reflexotildees relativa agrave sua punibilidade como no caso Kargar ocorrido em 193 nos EUA quando
o estrangeiro de origem afegatildeo beija as partes genitais do filho de tenra idade seguindo as
tradiccedilotildees e praacuteticas ancestrais da sua comunidade de origem o infanticiacutedio ocorrido no Brasil
nas aldeias indiacutegenas em razatildeo do nascimento com deficiecircncia fiacutesica ou mental e a circulaccedilatildeo
de moto sem capacete de proteccedilatildeo em razatildeo do uso de turbante que a cultura e religiatildeo da
comunidade Sikh do Paquitatildeo e da Iacutendia impotildee e impede que retire
Neste sentido buscando uma possiacutevel atenuaccedilatildeo de pena entendemos que os
requisitos a seguir elencados deveratildeo ser provados na instruccedilatildeo criminal simultaneamente
quais sejam o motivo cultural a coincidecircncia de reaccedilatildeo e a comprovaccedilatildeo de divergecircncia
entre culturas
O primeiro motivo cultural serve como paracircmetro a fim de estabelecer se a causa
psiacutequica que determinou o sujeito a cometer o crime encontra explicaccedilatildeo na bagagem cultural
da qual eacute portador o agente
O segundo requisito consistente na coincidecircncia de reaccedilatildeo deveraacute ser a
demonstraccedilatildeo que a motivaccedilatildeo cultural do indiviacuteduo possui uma dimensatildeo objetiva ou
individual do agente mas eacute tambeacutem expressatildeo da bagagem cultural bem consolidada do
grupo eacutetnico de pertenccedila Seraacute necessaacuterio assim determinar se os componentes do grupo
eacutetnico do qual faz parte o sujeito valoram a situaccedilatildeo concreta na qual o crime se realizou
do mesmo modo em que valorou o imputado
O terceiro e uacuteltimo requisito seraacute a evidenciaccedilatildeo entre a divergecircncia entre culturas
ou seja a cultura do grupo eacutetnico ao qual pertence o agente deveraacute ser finalmente
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comparada com a do paiacutes hospedeiro de modo a identificar as diferenccedilas de consideraccedilatildeo e
tratamento entre os dois sistemas Se a divergecircncia for consistente tambeacutem esta verificaccedilatildeo
seraacute tida como superada e poder-se-aacute concluir pela existecircncia de um fato culturalmente
motivado
A prova de existecircncia de um delito culturalmente condicionado necessita de
constataccedilatildeo para seu assentimento A diversidade cultural veio acentuar as ciecircncias criminais
natildeo podendo esta ser insensiacutevel e porque natildeo dizer invisiacutevel para as respostas nos tribunais
penais
Ao ser feita uma anaacutelise das previsotildees sobre circunstacircncias que podem atenuar a pena
do reacuteu explicitadas em nosso Coacutedigo Penal (1940) em seu artigo 65 temos a seguinte
exposiccedilatildeo ldquoter o agente a) cometido o crime por motivo de relevante valor social ou moralrdquo
Assim questionamos se por natildeo ser o valor social ou moral um imperativo categoacuterico de
interpretaccedilatildeo dos fatos e da realidade seria levada em consideraccedilatildeo a cultura do estrangeiro
como criteacuterio de atenuaccedilatildeo da pena tendo como base o referido artigo
No intuito de aclarar o debate nos serviremos dos estudos sobre hermenecircutica
juriacutedica posto que conforme preceitua Lecircnio Streck (1999 p 36-43) em seu livro
Hermenecircutica Juriacutedica em Crise a simples afirmaccedilatildeo da existecircncia de um direito ou sua
previsatildeo legal natildeo o torna imediatamente aplicaacutevel necessitando da imposiccedilatildeo de um oacutergatildeo
estatal para o seu devido cumprimento
CONCLUSOtildeES
Propomos um repensar sobre a poliacutetica criminal nos delitos culturais a fim
de superarmos os limites encontrados no direito penal - caminhando ao lado e com este -
para obtermos estrateacutegias mais eficazes e legiacutetimas com uma abordagem diferenciada no que
se refere ao crime e visando solucionar os conflitos de forma mais construtiva e humanitaacuteria
atraveacutes do reconhecimento da atenuaccedilatildeo de pena com fulcro no art 65 inciso III aliacutenea a
do nosso Diploma Repressivo O trabalho expocircs quais os requisitos miacutenimos que devem ser
superados na comprovaccedilatildeo da accedilatildeo penal para a caracterizaccedilatildeo dos crimes culturalmente
motivados a partir de uma interpretaccedilatildeo do conceito analiacutetico e filosoacutefico do
multiculturalismo
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REFEREcircNCIAS
ARISTOacuteTELES A Poliacutetica Satildeo Paulo Editora Nova Cultural 2004
BRASIL Coacutedigo Penal Decreto-Lei nordm 2848 de 07 de dezembro de 1940 Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbrccivil_03decreto-leidel2848compiladohtmgt Acesso em 31 de out de 2019 RIBEIRO Darcy O Povo Brasileiro a formaccedilatildeo e o sentido do Brasil Satildeo Paulo Companhia das Letras 1995 SLOTERDIJK Peter No mesmo barco ensaio sobre a hiperpoliacuteticaPeter Sloterdijk traduccedilatildeo de Claudia Cavalcanti Satildeo Paulo Estaccedilatildeo Liberdade 1999 p 96 STRECK Lecircnio Luiz Hermenecircutica juriacutedica em crise uma exploraccedilatildeo hermenecircutica da construccedilatildeo do direito Porto Alegre Livraria do Advogado 1999
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OS MIGRANTES NA DEMOCRACIA DELIBERATIVA DE HABERMAS
Tiago da Silva Cicilio1
Carlos Marcel Ferrari Lima Fernandes2
Daniel Machado Gomes3
Eixo temaacutetico GT1 Crise migratoacuteria e direitos humanos
Palavras-chave modelos de democracia espaccedilo puacuteblico proteccedilatildeo internacional Habermas
INTRODUCcedilAtildeO
Podemos sintetizar os modelos claacutessicos de democracia em liberal e republicano O
primeiro modelo estaacute vinculado agrave existecircncia de uma vida poliacutetica centrada no Estado com
uma niacutetida divisatildeo entre sociedade e Estado desempenhada pelo aparato estatal No segundo
modelo dito republicano o processo democraacutetico vai aleacutem da mediaccedilatildeo sendo constituiacutedo
por uma necessidade de formaccedilatildeo da opiniatildeo poliacutetica e da vontade que resulta da reflexatildeo e
conscientizaccedilatildeo dos atores sociais e livres Como alternativa agrave dualidade
liberalismorepublicanismo Jurgen Habermas desenvolve uma concepccedilatildeo de democracia
deliberativa que possui caraacuteter procedimental e tem o condatildeo tanto de aproximar quanto de
substituir os modelos republicano e liberal Assim diante da insuficiente proteccedilatildeo
internacional dispensada aos migrantes o trabalho pretende analisar de que maneira a teoria
democraacutetica de Habermas ao ampliar a noccedilatildeo de espaccedilo puacuteblico contribui para salvaguarda
dos direitos humanos de tal grupo de pessoas vulneraacuteveis O trabalho estaacute dividido em duas
seccedilotildees Na primeira parte seratildeo apresentadas as teorias existentes sobre democracia e na
sequecircncia seraacute discutida a ampliaccedilatildeo do espaccedilo puacuteblico como forma de garantia dos direitos
fundamentais aos migrantes
A DEMOCRACIA DELIBERATIVA E PROCEDIMENTAL EM HABERMAS
1 Bacharelando em Direito pela Universidade Catoacutelica de PetroacutepolisRJ Pesquisador bolsista de iniciaccedilatildeo cientiacutefica do CNPq tiagociciliogmailcom Lattes httplattescnpqbr1634337283930907 2 Bacharel em Direito pela UNESARJ especialista em Direito Administrativo pela UCAMRJ Mestrando em Direito pela UCPRJ carlosmarcelferrarigmailcom Lattes httplattescnpqbr6240508970843538 3 Doutor em Filosofia pelo IFCS UFRJ (2015) Mestre em Ciecircncias Juriacutedico-Civiliacutesticas pela Universidade de Coimbra Portugal (2003) Coordenador e Professor do PPGD-UCP Atua na graduaccedilatildeo em Direito da UCP e da FACHA danielmachadoucpbr Lattes httplattescnpqbr5147053344281753
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Eacute possiacutevel apontarmos a existecircncia de dois tradicionais modelos sobre democracia
um conhecido como liberal e outro como republicano No primeiro o processo democraacutetico
tem por escopo intermediar a sociedade e o Estado pela utilizaccedilatildeo de seu aparato estatal
sendo este um modelo minimalista em que a preocupaccedilatildeo recai sobre a natildeo interferecircncia na
esfera de direitos dos cidadatildeos Assim a democracia liberal disciplina uma vida poliacutetica
centrada no Estado (HABERMAS 1995 p 46) De outra maneira no modelo republicano
o processo democraacutetico ultrapassa essa funccedilatildeo de mediaccedilatildeo sendo constituiacutedo por uma
necessidade de formaccedilatildeo da opiniatildeo e da vontade que resulta da reflexatildeo e conscientizaccedilatildeo
dos atores sociais iguais e livres Por isso a sociedade possui neste modelo democraacutetico o
condatildeo de se auto-organizar e empregar forccedila legitimadora ao processo poliacutetico
(HABERMAS apud LUBNOW 2010 p 233)
Habermas por sua vez elabora uma teoria da democracia procedimental e
deliberativa a partir do modelo das ldquoeclusasrdquo em que a formaccedilatildeo da opiniatildeo puacuteblica ao
vencer determinadas barreiras podem influenciar a vontade administrativa Eacute possiacutevel
afirmamos que a teoria defendida pelo autor pode ser compreendida como uma forma de
agregar e ao mesmo tempo substituir os modelos republicano e liberal (SOUZA apud
LUBNOW 2010 p 231)
A INCLUSAtildeO DOS MIGRANTES NO ESPACcedilO PUacuteBLICO
Em relaccedilatildeo aos migrantes o primeiro ponto que merece ser destacado eacute a insuficiente
proteccedilatildeo internacional para efetiva salvaguarda de seus direitos humanos Este quadro fica
evidenciado pela ausecircncia de um tratado internacional que tutele especificamente os direitos
fundamentais dos migrantes pois seus interesses estatildeo contemplados em diferentes
instrumentos internacionais de maneira indireta (BICHARA 2018 p 141) Assim tal
insuficiente proteccedilatildeo internacional torna imprescindiacutevel a adoccedilatildeo e a efetivaccedilatildeo de novos
mecanismos de proteccedilatildeo especialmente pela adoccedilatildeo de colaboraccedilatildeo muacutetua entre os paiacuteses
por intermeacutedio da via diplomaacutetica De tal modo eacute mister que os instrumentos gerais de
direitos humanos sejam aplicados na medida em que possuem titularidade universal e devem
ser prestigiados em quaisquer circunstacircncias Destarte pela adoccedilatildeo das citadas medidas
assegurar-se-ia um miacutenimo de proteccedilatildeo enquanto se busca compatibilizar os interesses dos
Estados com as necessidades dos migrantes e conceber documentos mais especiacuteficos de
proteccedilatildeo (JUBILUT APOLINAacuteRIO 2010 p 283)
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Fato eacute que as necessidades vivenciadas pelos migrantes natildeo se conciliam com a
demora em se estabelecer compromissos internacionais aptos a tutelarem seus miacutenimos
direitos Desse modo eacute fundamental que os paiacuteses assegurem ainda dentro de seu territoacuterio
condiccedilotildees existenciais para que tal grupo de pessoas marcadas pela extrema vulnerabilidade
possam subsistir na medida que a demora em agir justificada na necessidade de adoccedilatildeo de
medidas conjuntas pelos paiacuteses do globo soacute agravaria o problema Portanto o que deve ser
evidenciado eacute que aleacutem dos mecanismos internacionais existentes devem os Estados
assegurar dentro de suas possibilidades medidas concretas para que os migrantes tenham
seus direitos humanos assegurados
Portanto o modelo de democracia procedimental e deliberativa de Habermas
fomenta uma cultura poliacutetica inclusiva exercida dentro dos ldquoespaccedilos puacuteblicosrdquo o que possui
o condatildeo de incentivar a disseminaccedilatildeo de valores ciacutevicos e solidaacuterios o que vai ao encontro
dos direitos humanos titularizados pelos grupos migratoacuterios (LUBNOW 2010 p 232) na
medida em que os debates travados em tais espaccedilos natildeo se destinam com exclusividade aos
considerados ldquonacionaisrdquo Portanto ao defender a ampliaccedilatildeo da esfera puacuteblica Habermas
potencialmente viabiliza a construccedilatildeo de uma cultura poliacutetica inclusiva e mais apta a extensatildeo
da igualdade o que se revela de extrema valia quando pensamos na fragilidade intriacutenseca dos
migrantes (ANGEacuteLICO POKER 2017 p69)
Destarte eacute possiacutevel afirmar que a ampliaccedilatildeo da esfera puacuteblica defendida por
Habermas permite a construccedilatildeo de discursos ciacutevicos pautados por ideais de solidariedade ou
de patriotismo constitucional dando voz inclusive aos migrantes que venham a residir em
tal territoacuterio
CONCLUSAtildeO
Diante do exposto devemos ter como premissa o fato de a proteccedilatildeo internacional
dispensada aos migrantes ser insuficiente o que se constata dentre outros fatores pela
ausecircncia de um especiacutefico tratado versando sobre tal assunto Dessa maneira os migrantes
satildeo pessoas extremamente vulneraacuteveis e por isso demandam a adoccedilatildeo de medidas imediatas
e eficazes para que seus direitos fundamentais possam ser respeitados Assim muito embora
seja salutar a existecircncia de compromissos internacionais para preservaccedilatildeo de seus direitos
temos que o enfoque da proteccedilatildeo natildeo pode repousar exclusivamente sob o prisma
internacional Lado outro rompendo com os modelos tradicionais existentes sobre
democracia Habermas defende uma teoria democraacutetica procedimental e deliberativa em que
44
se aprofunda o espaccedilo puacuteblico possibilitando o fomento a valores solidaacuterios e ciacutevicos tiacutepicos
de sociedades inclusivas Com isso o debate travado dentro dessa visatildeo ampliada do espaccedilo
puacuteblico permite ao menos em potencial o nascimento de uma cultura verdadeiramente
democraacutetica com fomento a valores solidaacuterios e ciacutevicos que assegurem um lugar na
sociedade aos migrantes
REFEREcircNCIAS
ANGEacuteLICO Gabriela Garcia POKER AB Joseacute Geraldo Direitos humanos poliacuteticas
puacuteblicas e o problema da inclusatildeo de populaccedilotildees deslocadas Revista Interdisciplinar de
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45
DIREITOS HUMANOS E ORDENAMENTO JURIacuteDICO O AMPARO (LEGAL) AO REFUGIADO VENEZUELANO EM MANAUSAM
Maria de Faacutetima Santiago da Cruz 1
Selmara Aparecida Batista de Oliveira Silva2
Priscila Abreu da Silva3
Eixo temaacutetico GT1 Crise migratoacuteria e direitos humanos
Palavras-Chave direitos humanos refugiados venezuelanos ordenamento juriacutedico
Por motivaccedilotildees forccediladas o refugiado sai de seu paiacutes em busca de proteccedilatildeo e de
seguranccedila em outros territoacuterios de Estado-naccedilatildeo e paacutetria estrangeiros e em alguns casos
gera conotaccedilotildees e discriminaccedilotildees negativas por parte de segmentos das sociedades anfitriatildes
em consequecircncia de desconhecimentos dos direitos agrave proteccedilatildeo prevista em leis nacionais e
no ordenamento juriacutedico internacional gerando mal-entendidos podendo comprometer
portanto o seu amparo legal contemplando natildeo somente a sua integridade fiacutesica mas
tambeacutem a sua autoestima e sua subjetividade ontoloacutegica humana
O presente trabalho discute a forma como os refugiados venezuelanos em
ManausAM satildeo tratados no Brasil e a disparidade entre a legislaccedilatildeo existente (nacional e
internacional) e a efetividade dos direitos humanos em relaccedilatildeo a esse grupo posto que na
maioria das vezes satildeo vistos como intrusos invasores e pedintes inoportunos no paiacutes alheio
natildeo recebendo a acolhida humanitaacuteria necessaacuteria
Por uma perspectiva de mundo haacute oscilaccedilotildees desigualdade em diferentes dimensotildees
de aplicaccedilatildeo dos direitos humanos que como bem postula Bobbio (2004 p 7) o direito eacute
historicamente construiacutedo e no caso dos direitos humanos depende da situaccedilatildeo de
democracia vivida por cada sociedade e sua relaccedilatildeo com seu respectivo Estado pois haacute paiacuteses
1 Graduada em Direito pela Faculdade Martha Falcatildeo Poacutes-Graduada em Gerenciamento em Administraccedilatildeo Puacuteblica na Universidade Federal do Amazonas e Mestranda em Direito na Universidade Catoacutelica de Petroacutepolis E-mail fatimasanthotmailcombr Lattes httplattescnpqbr0478423983133829 2 sup2 Graduada em Direito e Poacutes-Graduada em Direito Civil e Processo Civil pela Universidade Estaacutecio de Saacute e Mestranda em Direito na Universidade Catoacutelica de Petroacutepolis E-mail selmaraosilvagmailcom Lattes httplattescnpqbr2732624937063165 sup3 Graduada em Direito e Poacutes-Graduada em Direito Puacuteblico pela Universidade Iguaccedilu e Mestranda em Direito na Universidade Catoacutelica de Petroacutepolis E-mail abreucilasgmailcom Lattes httplattescnpqbr6451485204630666
46
em que a democracia eacute plena existem outros em que ela eacute aplicada parcialmente e haacute os casos
de ditaduras onde esses direitos satildeo excluiacutedos por meio de praacuteticas de torturas de
perseguiccedilotildees e de outros expedientes agrave revelia da lei elementar de proteccedilatildeo agrave pessoa humana
no que tange agrave sua vida e agrave sua liberdade pois
O problema eacute estreitamente ligado aos da democracia e da paz aos quais dediquei a maior parte de meus escritos poliacuteticos O reconhecimento e a proteccedilatildeo dos direitos do homem estatildeo na base das Constituiccedilotildees democraacuteticas modernas A paz por sua vez eacute o pressuposto necessaacuterio para o reconhecimento e a efetiva proteccedilatildeo dos direitos do homem em cada Estado e no sistema internacional Ao mesmo tempo o processo de democratizaccedilatildeo do sistema internacional que eacute o caminho obrigatoacuterio para a busca do ideal da ldquopaz perpeacutetuardquo no sentido kantiano da expressatildeo natildeo pode avanccedilar sem uma gradativa ampliaccedilatildeo do reconhecimento e da proteccedilatildeo dos direitos do homem acima de cada Estado Direitos do homem democracia e paz satildeo trecircs momentos necessaacuterios do mesmo movimento histoacuterico sem direitos do homem reconhecidos e protegidos natildeo haacute democracia sem democracia natildeo existem as condiccedilotildees miacutenimas para a soluccedilatildeo paciacutefica dos conflitos Em outras palavras a democracia eacute a sociedade dos cidadatildeos e os suacuteditos se tornam cidadatildeos quando lhes satildeo reconhecidos alguns direitos fundamentais haveraacute paz estaacutevel uma paz que natildeo tenha a guerra como alternativa somente quando existirem cidadatildeos natildeo mais apenas deste ou daquele Estado mas do mundo (BOBBIO 2004 p 7)
Desta maneira cabe a cada paiacutes buscar o miacutenimo de dignidade agrave pessoa humana
objetivando a construccedilatildeo de uma sociedade justa igualitaacuteria e democraacutetica onde a paz social
possa se perpetuar O refugiado tem que deixar de ser visto como um peso para a naccedilatildeo que
o acolheu e passar a conduzir sua existecircncia de forma a gozar de suas potencialidades
Os artigos 1ordm e 2ordm da Convenccedilatildeo de Viena de 1951 da organizaccedilatildeo das Naccedilotildees
UnidasONU e o artigo 1ordm da Lei 947407 conceituam o refugiado como sendo aquela
pessoa constrangida a sair da sua terra natal por motivo de perseguiccedilatildeo poliacutetica religiosa
social cultural dentre outros que coloquem a sua proacutepria existecircncia em risco
Em 04 de agosto de 2015 foi apresentado pelo Senador Aloysio Nunes Ferreira -
PSDBSP o Projeto de Lei 25162015 que instituiu a Lei de Migraccedilatildeo (134452017)
adequando-se mais agrave Constituiccedilatildeo e aos direitos humanos Contudo por uma questatildeo
nitidamente ldquopoliacuteticardquo em nosso paiacutes por ocasiatildeo da sanccedilatildeo da Lei 134452017 ocorreram
diversos vetos por parte do ex-presidente Michel Temer (Mensagem 163 de 24 de maio de
2017) retrocedendo o amparo juriacutedico aos migrantes a exemplo do sect 10 do artigo 14 que
previa a concessatildeo de visto temporaacuterio atraveacutes de regulamento alcanccedilando assim todos os
migrantes inclusive os refugiados Poreacutem apoacutes o veto do referido paraacutegrafo a concessatildeo de
visto ficou sendo apenas o rol taxativo previsto na lei
47
Portanto observa-se o descaso do governo em amparar de forma justa os direitos
humanos limitando a Lei de Migraccedilatildeo Entretanto apesar de algumas de suas vicissitudes a
Lei de Migraccedilatildeo ainda representa um avanccedilo na poliacutetica brasileira de proteccedilatildeo ao migrante
No caso do venezuelano no Brasil especificamente em ManausAM a aplicaccedilatildeo das
legislaccedilotildees supracitadas tem sido cumprida com as dificuldades proacuteprias da logiacutestica de uma
administraccedilatildeo puacuteblica municipal natildeo esquecendo a crise econocircmica experimentada pelos
brasileiros haacute mais de 4 anos fazendo valer o que o ministro Lewandowski diz a respeito dos
direitos humanos em momentos de crise econocircmica
O princiacutepio da proibiccedilatildeo do retrocesso portanto impede que a pretexto de superar dificuldades econocircmicas o Estado possa sem uma contrapartida adequada revogar ou anular o nuacutecleo essencial dos direitos conquistados pelo povo Eacute que ele corresponde ao miacutenimo existencial ou seja ao conjunto de bens materiais e imateriais sem o qual natildeo eacute possiacutevel viver com dignidade (LEWANDOWSKI 2008 p 2)
Ou seja a despeito de qualquer crise natildeo se pode negligenciar e nem comprometer a
aplicaccedilatildeo dos direitos elementares da pessoa humana em consonacircncia com o ordenamento
juriacutedico internacional em vigecircncia Essa maacutexima pode (e deve) ser tomada como referecircncia
e ser divulgada agrave populaccedilatildeo em geral para que tenha em mente que amparar o imigrante por
motivaccedilatildeo forccedilada eacute dever do Estado e direito daquele que teve que sair de seu paiacutes por falta
de alternativa por vulneraccedilatildeo ou outra motivaccedilatildeo de conotaccedilatildeo de risco e de perigo agrave vida e
agrave liberdade
Pode-se dizer que o direito internacional dos direitos humanos eacute construiacutedo nas
contingecircncias histoacutericas e sedimentado nos Estados democraacuteticos de direito garantindo-se
direitos e garantias agraves pessoas em situaccedilatildeo de vulnerabilidade e de risco de suas vidas e
liberdades em seus proacuteprios paiacuteses e em paiacuteses estrangeiros para onde migram em busca de
proteccedilatildeo
Os direitos humanos portanto satildeo resultado da proacutepria histoacuteria humana de
segmentos sociais em prol da paz perpeacutetua em que o ideal seja cada vez mais proacuteximo de
eventos factuais palpaacuteveis nas vidas de todos com suas devidas diferenccedilas eacutetnicas culturais
ideoloacutegicas religiosas de cor da pele e de fenoacutetipos guardando dos direitos para que se
preserve a riqueza da pluralidade humana na qual todos satildeo diferentes por direitos e natildeo
unicamente pela natureza
48
REFEREcircNCIAS
ARNS Dom Paulo Evaristo Brasil Nunca Mais Petroacutepolis Vozes 1985
BOBBIO Norberto A Era dos direitos Rio de Janeiro Elsevier 2004
BRASIL PALACIO DO PLANALTOCASA CIVIL Lei nordm 94741997 Brasiacutelia
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proibicao-retrocesso Acessado em 27 de junho de 2019 Originalmente publicado no jornal Folha
de Satildeo Paulo Opiniatildeo em 01 de fevereiro de 2018
49
MULHERES REFUGIADAS DESAFIOS PARA INSERCcedilAtildeO NO MERCADO DE TRABALHO BRASILEIRO
Priscila Abreu da Silva1
Selmara Aparecida Batista de Oliveira Silva2
Maria de Faacutetima Santiago da Cruz3
Eixo temaacutetico GT1 Crise migratoacuteria e direitos humanos
Palavras-Chave direitos humanos refugiados mulheres trabalho
Antes de entrarmos no cerne do presente trabalho eacute indispensaacutevel compreender o
conceito de refugiado A Professora Julia Bertino Moreira nos ensina que
Os refugiados satildeo considerados migrantes internacionais forccedilados que cruzam as fronteiras nacionais de seus paiacuteses de origem em busca de proteccedilatildeo Eles fogem de situaccedilotildees de violecircncia como conflitos internos internacionais ou regionais perseguiccedilotildees em decorrecircncia de regimes poliacuteticos repressivos entre outras violaccedilotildees de direitos humanos (MOREIRA 2014 p 85)
Na mesma linha os artigos 1ordm e 2ordm da Convenccedilatildeo de Viena de 1951 e o artigo 1ordm I
da Lei 947497 conceituam o refugiado como sendo aquela pessoa que foi submetida agrave
guerra ou agrave tortura ou por fundados temores de perseguiccedilatildeo por motivo poliacutetico religioso
de sexo de raccedila de nacionalidade dentre outros procura abrigo em outro paiacutes para sua
sobrevivecircncia
Natildeo resta duacutevida da dificuldade encontrada pelos refugiados para se estabelecerem
em um paiacutes que natildeo o seu de origem Isso ocorre muito em funccedilatildeo da barreira do idioma
dos parcos recursos financeiros dos refugiados da carecircncia de infraestrutura das burocracias
1 Graduada em Direito e Poacutes-Graduada em Direito Puacuteblico pela Universidade Iguaccedilu e Mestranda em Direito na Universidade Catoacutelica de Petroacutepolis E-mail abreucilasgmailcom Lattes httplattescnpqbr6451485204630666 2 Graduada em Direito e Poacutes-Graduada em Direito Civil e Processo Civil pela Universidade Estaacutecio de Saacute e Mestranda em Direito na Universidade Catoacutelica de Petroacutepolis E-mail selmaraosilvagmailcom Lattes httplattescnpqbr2732624937063165 3 Graduada em Direito pela Faculdade Martha Falcatildeo Poacutes-Graduada em Gerenciamento em Administraccedilatildeo Puacuteblica na Universidade Federal do Amazonas e Mestranda em Direito na Universidade Catoacutelica de Petroacutepolis E-mail fatimasanthotmailcombr Lattes httplattescnpqbr0478423983133829
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impostas para as crianccedilas serem inseridas nas escolas ou no preconceito do brasileiro em
viabilizar por exemplo uma oportunidade de trabalho ao refugiado
Se para o homem refugiado eacute difiacutecil encontrar meios de subsistecircncia para si e para
sua famiacutelia o que diraacute para a mulher posto que infelizmente ainda vivemos em uma
sociedade bastante machista Com base nos dados do IBGE (Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatiacutestica) ldquoem 2018 mulher recebia 795 do rendimento do homemrdquo
Os dados acima apresentados referem-se apenas agrave mulher sem considerar a condiccedilatildeo
de refugiada estrangeira homoafetiva negra sem experiecircncia ou qualificaccedilatildeo profissional
sem estudo e outros que podemos imaginar contribuiriam para a discriminaccedilatildeo ainda maior
De acordo com artigo 3ordm XI da Lei de Migraccedilatildeo a poliacutetica migratoacuteria brasileira tem
como base diversos princiacutepios e diretrizes entre eles o ldquoacesso igualitaacuterio e livre do migrante
a serviccedilos programas e benefiacutecios sociais bens puacuteblicos educaccedilatildeo assistecircncia juriacutedica
integral puacuteblica TRABALHO moradia serviccedilo bancaacuterio e seguridade socialrdquo (grifo nosso)
Apesar de encontrarmos uma preocupaccedilatildeo com a dogmaacutetica juriacutedica infelizmente
natildeo se constata a efetivaccedilatildeo desses direitos no Brasil e a questatildeo da mulher natildeo deveria mas
ainda eacute um gravame como podemos verificar na reportagem de Fernanda Cruz
O Atlas Temaacutetico da Migraccedilatildeo Refugiada em Satildeo Paulo aponta que 55 das mulheres refugiadas natildeo tecircm ocupaccedilatildeo no mercado de trabalho ou estatildeo em empregos precaacuterios Considerando homens e mulheres o percentual eacute 38 Os dados fazem parte da publicaccedilatildeo da Universidade de Campinas (Unicamp) lanccedilada hoje (19) em homenagem ao Dia Mundial do Refugiado 20 de junho De acordo com Rosana Baeninger cientista social da Unicamp e uma das autoras do atlas muitos dos refugiados natildeo terminaram os estudos e faltam empregos para alocar essa populaccedilatildeo ldquoComo jaacute tem uma desigualdade de gecircnero na questatildeo das mulheres vai sobrepondo particularidades da migraccedilatildeo refugiada na migraccedilatildeo de mulheresrdquo (CRUZ Fernanda 2018)
Portanto o Brasil precisa implantar poliacuteticas puacuteblicas eficazes para oportunizar a
inserccedilatildeo das mulheres refugiadas no mercado de trabalho incentivando as grandes empresas
a contratarem facilitando a obtenccedilatildeo de qualificaccedilatildeo dessas profissionais capacitando as
refugiadas para os empregos existentes ou ateacute diminuindo as burocracias de ingresso no
trabalho para esse grupo vulneraacutevel
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MOREIRA Julia Bertino Poliacutetica em Relaccedilatildeo aos Refugiados no Brasil (1947-2010)
Disponiacutevel em
httprepositoriounicampbrbitstreamREPOSIP2809621Moreira_JuliaBertino_Dpdf
Acesso em 02112019
52
A VIOLACcedilAtildeO DE DIREITOS DAS MULHERES ESTRAGEIRAS NO CAacuteRCERE
Raphaela Abud Neves1
Daniel Machado Gomes2
Eixo temaacutetico GT1 Crise migratoacuteria e direitos humanos
INTRODUCcedilAtildeO
O presente resumo expandido tem por escopo expor os resultados da pesquisa
acerca das mulheres migrantes no caacutercere feminino brasileiro Para tanto seraacute feito uma
anaacutelise dos conceitos de migraccedilatildeo e dos motivos que levam as mulheres a migrarem Feito
isso dentro das migraccedilotildees algumas mulheres no Brasil acabam por serem detidas antes
mesmo de se inserirem na sociedade brasileira livre O motivo dessas mulheres serem presas
a condiccedilatildeo dessas mulheres ao migrarem e posteriormente a condiccedilatildeo dentro da prisatildeo
seratildeo os aspectos mais importantes e debatidos ao longo do trabalho consonante a isso seraacute
feita uma correlaccedilatildeo entre os temas acima mencionados com o fato de que a junccedilatildeo desses
aspectos eacute influenciadora para que haja uma verdadeira violaccedilatildeo aos direitos humanos das
mulheres estrangeiras no sistema prisional brasileiro
PALAVRAS-CHAVE Mulheres estrangeiras Direitos Humanos Prisatildeo
OBJETIVOS
O objetivo do estudo eacute tratar da realidade vivida pelas mulheres estrangeiras dentro
do sistema prisional brasileiro apontando as violaccedilotildees dos direitos humanos dessas
mulheres decorrentes das condiccedilotildees precaacuterias e pela maacute estrutura das prisotildees
METODOLOGIA
O meacutetodo de pesquisa utilizado eacute o descritivo e a apresentaccedilatildeo dos resultados se deu
de forma qualitativa A coleta dos dados necessaacuterios se deu atraveacutes de anaacutelise documental
1 Graduanda em Direito pela Universidade Catoacutelica de Petroacutepolis E-mail raphaelaabudgmailcom Lattes httplattescnpqbr9209817417639271 2 Coordenador adjunto do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo Stricto Sensu em Direito da Universidade Catoacutelica de Petroacutepolis E-mail danielmachadoucpbr Lattes httplattescnpqbr5147053344281753
53
junto ao INFOPEN ndash mulheres e DEPEN A contribuiccedilatildeo bibliograacutefica foi feita com a
leitura de ldquoPresos que Menstruamrdquo de Nana Queiroz
RESULTADOS
A movimentaccedilatildeo dos indiviacuteduos que rompem as fronteiras territoriais dos Estados
gerando um fluxo migratoacuterio vem afetando gradativamente as pessoas e os paiacuteses que
compotildeem um mundo cada vez mais globalizado e interconectado Para entender o conceito
de migraccedilatildeo eacute necessaacuterio partir de uma compreensatildeo mais profunda de que esse processo
natildeo eacute um evento unicamente demograacutefico e individual pois se trata de um fenocircmeno que
envolve uma seacuterie de aspectos socioculturais econocircmicos e de seguridade Dentro desse
contexto a migraccedilatildeo eacute um fator preponderante de contribuiccedilatildeo para a melhoria de vida
dessas pessoas que se encontram em situaccedilotildees desfavoraacuteveis e conflituosas ou
simplesmente que buscam viver melhor e com maiores oportunidades (ONU 2018)
Diante do aumento da migraccedilatildeo e do consequente impacto gerado na vida das
pessoas que migram e das naccedilotildees que constantemente recebem imigrantes tal questatildeo
passou a ser debatida de forma puacuteblica governamental e integrante do cenaacuterio geopoliacutetico
dos Estados Inicialmente para tratar de imigrantes no Brasil cabe ressaltar que a Declaraccedilatildeo
Universal de Direitos Humanos estabelece que todo e qualquer indiviacuteduo deva ter seus
direitos preservados sem distinccedilatildeo de qualquer natureza no mesmo sentido a Constituiccedilatildeo
Federal de 1988 jaacute previu como fundamento do Estado Democraacutetico de Direito a dignidade
da pessoa humana e tratou de consolidar ainda direitos e garantias aos brasileiros e
estrangeiros residentes no paiacutes natildeo havendo inclusive distinccedilatildeo entre os estrangeiros livres
e os estrangeiros dentro do sistema prisional
O fluxo migratoacuterio decorre de muitas razotildees sendo as questotildees econocircmicas e
poliacuteticas as mais associadas a tal fenocircmeno Certo eacute que homens e mulheres migram desde
sempre contudo para tratar da migraccedilatildeo feminina especificamente eacute preciso esclarecer que
ldquoas mulheres migram natildeo apenas por razotildees econocircmicasrdquo (ASSIS 2007 p751) E apesar da
busca por sobrevivecircncia e maior qualidade de vida ser legiacutetima o meio de migraccedilatildeo nem
sempre estaacute pautado em adequaccedilatildeo e legalidade E o fato dessas migrantes mulheres estarem
vivendo em circunstacircncias desfavoraacuteveis facilita para que essas ilegalidades ocorram Nesse
universo natildeo raro as mulheres acabam sendo presas por se associarem mesmo que
inconscientemente ao mundo do crime A populaccedilatildeo prisional brasileira segundo o
INFOPEN - 2016 se consolidava em 42355 presas dentre as unidades prisionais que
participaram do levantamento estavam presentes 529 mulheres estrangeiras sendo que 95
54
dessas mulheres estrangeiras declararam terem sido presas pela praacutetica de traacutefico de drogas
mais especificamente por exercerem o papel de mula3 (BUMACHAR 2016 p 80)
Um dos exemplos mais escandalosos das mulheres usadas como mulas satildeo as portadoras do HIV o viacuterus da Aids que moram em paiacuteses onde natildeo haacute tratamento para a doenccedila ou ele eacute precaacuterio Jaacute que o Brasil tem um programa para Aids gratuito e de qualidade os traficantes facilitam a entrada dessas mulheres no paiacutes e as convencem com o argumento ldquoMesmo se vocecirc for pega na cadeia teraacute tratamento retroviral e natildeo morreraacuterdquo A situaccedilatildeo de vulnerabilidade dessas mulheres eacute tatildeo extrema []rdquo (QUEIROZ 2019 p 160)
Apesar dessas mulheres por vezes natildeo estarem envolvidas diretamente com
organizaccedilotildees internacionais criminosas o fato eacute que elas entram para o sistema prisional pelo
mesmo motivo que a maioria das mulheres brasileiras tambeacutem entram o traacutefico de drogas
Todavia se as condiccedilotildees da prisatildeo jaacute satildeo brutais para as mulheres brasileiras esse cenaacuterio eacute
ainda pior para as estrangeiras ldquoPrincipalmente estrangeira como elas sofremrdquo (QUEIROZ
2019 p183) que enfrentam as condiccedilotildees precaacuterias de um sistema prisional que encarcera
muito e eacute mal estruturada para o encarceramento em massa os obstaacuteculos decorrentes da
distacircncia entre seus familiares as dificuldades de acesso agrave justiccedila e sobretudo do idioma
E tambeacutem nem sempre a interaccedilatildeo eacute cordial podendo se desdobrar atraveacutes de praacuteticas autoritaacuterias consoante o plantatildeo a ocasiatildeo o momento poliacutetico intramuros os interesses e os afetos em jogo Nesses casos ordens repressotildees humilhaccedilotildees ameaccedilas xingamentos e castigos podem se efetuar num portuguecircs aacutespero e nada sensiacutevel aacute condiccedilatildeo de noviccedilas estrangeiras A (suposta) falta de compreensatildeo idiomaacutetica e seus possiacuteveis equiacutevocos comunicacionais podem ser inclusive mobilizados estrategicamente para punir arbitrariamente estrangeiras [] (BUMACHAR 2016 p99)
CONCLUSAtildeO
Ao longo do trabalho foi possiacutevel perceber que todas essas dificuldades enfrentadas
por mulheres estrangeiras dentro do sistema prisional satildeo completamente violadoras dos
direitos humanos e coloca o Brasil em um estado de total descumprimento daquilo que se
comprometeu a cumprir Por isso que discutir a condiccedilatildeo imposta as mulheres estrangeiras
no caacutercere brasileiro eacute crucial para um debate global e de promoccedilatildeo dos direitos humanos
das mulheres estrangeiras que cumprem pena ou aguardam julgamento no Brasil
REFEREcircNCIAS
ASSIS Glaacuteucia de Oliveira Mulheres migrantes no passado e no presente gecircnero
redes sociais e migraccedilatildeo internacional Estudos Feministas Florianoacutepolis v15 n3
3 O termo ldquomulardquo se refere ao indiviacuteduo que conscientemente ou natildeo transporta droga em seu corpo geralmente para outros paiacuteses
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160
56
A IMPERATIVIDADE DAS NORMAS DE DIREITO INTERNACIONAL DE PROTECcedilAtildeO AOS REFUGIADOS DIREITO FUNDAMENTAL DE REFUacuteGIO
Andreacute Castro Hacl1
Luiacutes Coelho da Silva Juacutenior2
Renata Alves da Silva3
Eixo temaacutetico GT1 Crise migratoacuteria e direitos humanos
Palavras-chave Migraccedilatildeo Refuacutegio Direito fundamental Refugiados
O presente trabalho enquadra-se no eixo temaacutetico descrito pelo grupo GT I ndash Crise
Migratoacuteria e Direitos Humanos ao se analisar a situaccedilatildeo juriacutedica dos refugiados quanto agrave
existecircncia de direito fundamental ao refuacutegio
A situaccedilatildeo juriacutedica dos refugiados gera intensos debates uma vez que natildeo satildeo raros
os conflitos entre aqueles que acolhem e os que satildeo acolhidos seja pela utilizaccedilatildeo da liacutengua
aacuterabe (tida como sagrada) o tratamento dado agraves mulheres as oraccedilotildees diaacuterias e a constante
ameaccedila de atentados terroristas perpetrados por grupos jihadistas como o Estado Islacircmico e
Al Quaeda
Nesse sentido considerando a necessidade de amparo juriacutedico a proteccedilatildeo aos
direitos dos refugiados diante do atual contexto geopoliacutetico reclama-se a reanalise da tutela
dos direitos humanos em especial dos direitos fundamentais e sua efetivaccedilatildeo pois o
acolhimento dos milhares de migrantes que chegam agrave Europa e em outros paiacuteses e
assumindo o Brasil uma posiccedilatildeo de destaque na Ameacuterica Latina eacute mais que um ato de
solidariedade e transcende o conceito humanitaacuterio construiacutedo ao longo de deacutecadas
Objetivos
O presente trabalho tem como objetivo analisar o sistema de proteccedilatildeo aos refugiados
em especial a efetividade das normas constitucionais nacionais quanto ao direito
fundamental ao refuacutegio
Para que se cumpra tal objetivo considera-se o seguinte problema Como assegurar
a imperatividade das normas internacionais de direito dos refugiados e efetividade das
normas constitucionais nacionais quanto ao direito fundamental ao refuacutegio
Busca-se uma anaacutelise do Texto Constitucional especialmente agraves normas referentes
aos direitos fundamentais expressos no art 5ordm alinhadas ao previsto pelo art 4ordm II e X
ambos da CRFB1988 bem como pela anaacutelise de dispositivos da Lei nordm 9474 de 22 de julho
1 Advogado Professor de Direito Constitucional na Universidade Estaacutecio de Saacute Mestre em Justiccedila Administrativa e Doutor em Ciecircncias Juriacutedicas e Sociais ambos pela Universidade Federal Fluminense E-mail andrecastroiduffbr Curriacuteculo lattes httplattescnpqbr7615099241489700 2 Advogado Poacutes-graduando em Direito Processual Civil pela Universidade Cacircndido Mendes Bacharel em Direito pelo Centro Universitaacuterio La Salle do Rio Janeiro ndash Unilasalle-RJ E-mail luiscsjadvoutlookcom Curriacuteculo lattes httplattescnpqbr1570193774535906 3 Licenciada em Histoacuteria e graduanda em Direito pelo Centro Universitaacuterio La Salle do Rio de Janeiro ndash Unilasalle-RJ E-mail renatasilvaadsgmailcom Curriacuteculo lattes httplattescnpqbr6494201039115858
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de 1997 a qual implementa o Estatutos dos Refugiados
Abordagem teoacuterica
O sistema de proteccedilatildeo aos refugiados construiu-se gradualmente com cada conquista
a niacutevel institucional para responder agraves necessidades das viacutetimas da perseguiccedilatildeo e intoleracircncia
Consolidou-se num sistema internacional com a Convenccedilatildeo sobre o Estatuto dos
Refugiados aprovado em 1951 pela Assembleia Geral da ONU ainda que naquele momento
limitadas geograficamente agrave Europa e aos acontecimentos relacionados agrave 2ordf Guerra Mundial
universalizando-se somente em 1967 com o Protocolo (JUBILUT 2007 p 17)4
No Brasil o tratamento juriacutedico dedicado aos refugiados passou por significativas e
profundas mudanccedilas ao longo dos uacuteltimos anos Apesar de estar comprometido com a
normativa de proteccedilatildeo aos refugiados desde o iniacutecio da universalizaccedilatildeo do instituto a partir
da deacutecada de 1950 e fazer parte do Conselho Executivo do ACNUR desde 1958 natildeo houve
por aproximadamente duas deacutecadas manifestaccedilatildeo de efetiva poliacutetica de acolhida de
refugiados em nosso territoacuterio fato que soacute veio a mudar no final da deacutecada de 1970
(JUBILUT 2007 p 171)5
Entretanto vecirc-se que o intenso fluxo migratoacuterio a crise econocircmica e as diferenccedilas
culturais dificultam a aplicaccedilatildeo de princiacutepios baacutesicos relativos aos refugiados dentre eles o
conceito do non-refoulement (natildeo devoluccedilatildeo)
A preocupaccedilatildeo com a manutenccedilatildeo dos direitos dos refugiados e principalmente com
a garantia de observacircncia ao conceito de non-refoulement assume relevacircncia diante de cenaacuterios
criacuteticos como acordo de transferecircncia de refugiados firmado entre a Uniatildeo Europeia e a
Turquia o qual natildeo contou com a participaccedilatildeo do United Nations High Commissioner for Refugees
(UNHCR)6
A imperatividade das normas de direito internacional geral estaacute prevista no art 53
da Convenccedilatildeo de Viena dos Tratados de 23 de maio de 1969 entendida como norma de
aceita e reconhecida pela comunidade internacional dos Estados como um todo como
norma da qual nenhuma derrogaccedilatildeo eacute permitida e que soacute pode ser modificada por norma de
direito internacional geral da mesma natureza7
Enquanto da delimitaccedilatildeo do tema observou-se que os direitos dos refugiados
alcanccedilaram seu aacutepice (normativo) com a Convenccedilatildeo Relativa ao Estatuto dos Refugiados a
qual representou significativo avanccedilo em mateacuteria de proteccedilatildeo aos direitos humanos ao
reconhecer o caraacuteter social e humanitaacuterio do problema dos refugiados
Metodologia
4 JUBILUT Liliana Lyra O direito internacional dos refugiados e sua aplicaccedilatildeo no orccedilamento juriacutedico brasileiro ndash Satildeo Paulo Meacutetodo 2007 p 17 5 Ibid p 171 6 The UN refugee agency emerged in the wake of World War II to help Europeans displaced by that conflict Optimistically the Office of the United Nations High Commissioner for Refugees was established on December 14 1950 by the United Nations General Assembly with a three-year mandate to complete its work and then disband The following year on July 28 the United Nations Convention relating to the Status of Refugees - the legal foundation of helping refugees and the basic statute guiding UNHCRs work - was adopted Disponiacutevel em lthttpwwwunhcrorgpages49c3646cbchtmlgt Acesso em 29 out 2019 7 Artigo 53 da Convenccedilatildeo de Viena dos Tratados de 23 de maio de 1969 Eacute nulo um tratado que no momento de sua conclusatildeo conflite com uma norma imperativa de Direito Internacional geral Para os fins da presente Convenccedilatildeo uma norma imperativa de Direito Internacional geral eacute uma norma aceita e reconhecida pela comunidade internacional dos Estados como um todo como norma da qual nenhuma derrogaccedilatildeo eacute permitida e que soacute pode ser modificada por norma ulterior de Direito Internacional geral da mesma natureza
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Adotar-se-aacute metodologia fundada nos meacutetodos dedutivo histoacuterico e monograacutefico A
partir dos referidos meacutetodos de anaacutelise seraacute possiacutevel verificar a evoluccedilatildeo dos direitos
humanos em especial aqueles relacionados aos refugiados convergindo para a criaccedilatildeo de um
sistema de proteccedilatildeo agrave pessoa humana submetida a perseguiccedilotildees por motivo de raccedila religiatildeo
nacionalidade etc que se encontra fora de seu paiacutes de nacionalidade ou de residecircncia
habitual se natildeo for nacional ou por temor natildeo pode valer-se da proteccedilatildeo desse paiacutes ou
retornar a ele8
Verificar-se-aacute tambeacutem a imperatividade das normas de Direito Internacional
referentes conceito de non-refoulement e a impossibilidade juriacutedica de celebraccedilatildeo de acordo
internacional para devoluccedilatildeo de migrantes por ser norma imperativa de Direito
Internacional geral natildeo admitindo qualquer espeacutecie de derrogaccedilatildeo
Para que se fuja de conclusotildees equivocadas ou infundadas a presente pesquisa conta
com revisatildeo bibliograacutefica ampla a respeito da imperatividade das normas de Direito
Internacional em especial a posiccedilatildeo da European Court of Human Rights que jaacute se manifestou
contrariamente a devoluccedilatildeo de migrantes quando na condiccedilatildeo de refugiados nos autos do
CASE OF HIRSI JAMAA AND OTHERS v ITALY Processo nordm 2776509 julgado em
23 de fevereiro de 20129
Satildeo utilizadas tambeacutem as seguintes fontes primaacuterias Convenccedilatildeo sobre o Estatuto
dos Refugiados (1951) Protocolo sobre o Estatuto dos Refugiados (1967) e a Declaraccedilatildeo
Universal dos Direitos Humanos (1948)
Comporaacute ainda o presente trabalho obra eou artigo de autores como Norberto
Bobbio Antocircnio Augusto Canccedilado Trindade Liliana Lyra Jubilut Flaacutevia Piovesan dentre
outros
Conclusotildees
Apoacutes a anaacutelise dos diplomas legais de direito internacional e nacional espera-se que
seja possiacutevel assegurar aos refugiados sua permanecircncia no paiacuteses receptores em razatildeo do
direito de refuacutegio alccedilado agrave condiccedilatildeo de direito fundamental e necessaacuterio agrave efetivaccedilatildeo da
dignidade da pessoa humana natildeo admitindo-se derrogaccedilatildeo ante o caraacuteter imperativo nas
normas de direito internacional em especial agravequelas relativas aos direitos humanos
Referecircncias
EUROPEAN COURT OF HUMAN RIGHTS CASE OF HIRSI JAMAA AND OTHERS v ITALY Disponiacutevel em lthttphudocechrcoeintengrespondent[ITA]kpthesaurus[210]documentcollectionid2[GRANDCHAMBERCHAMBER]itemid[001-109231]gt
8 Artigo 1ordm Paraacutegrafo 2ordm da Convenccedilatildeo Relativa ao Estatuto dos Refugiados de 28 de julho de 1951 Que em consequumlecircncia dos acontecimentos ocorridos antes de 1ordm de janeiro de 1951 e temendo ser perseguida por motivos de raccedila religiatildeo nacionalidade grupo social ou opiniotildees poliacuteticas se encontra fora do paiacutes de sua nacionalidade e que natildeo pode ou em virtude desse temor natildeo quer valer-se da proteccedilatildeo desse paiacutes ou que se natildeo tem nacionalidade e se encontra fora do paiacutes no qual tinha sua residecircncia habitual em consequumlecircncia de tais acontecimentos natildeo pode ou devido ao referido temor natildeo quer voltar a ele 9 HODOC ndash European Court of Human Rights Disponiacutevel em lt httphudocechrcoeintengi=001-109231gt Acesso em 29 out 2019
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JUBILUT Liliana Lyra O direito internacional dos refugiados e sua aplicaccedilatildeo no orccedilamento juriacutedico brasileiro ndash Satildeo Paulo Meacutetodo 2007
PIOVESAN Flaacutevia Direitos humanos e o direito constitucional internacional ndash Satildeo Paulo Saraiva 2011
RISSE Thomas SIKKIKN Kathryn (1999) ldquoThe socialization of international human rights norms into domestic practices Introductionrdquo The power of human rights international norms and domestic changes (pp 1-38) Cambridge Cambridge University Press
TRINDADE Antocircnio Augusto Canccedilado A proteccedilatildeo internacional dos direitos humanos e o Brasil ndash 2ordf ediccedilatildeo ndash Editora Universidade de Brasiacutelia 2000
UNITED NATIONS HIGH COMMISSIONER FOR REFUGEES UNHCR Disponiacutevel em lthttpwwwunhcrorgpages49c3646cbchtmlgt
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MIGRANTES INDIacuteGENAS VENEZUELANOS NO BRASIL UMA ANAacuteLISE A PARTIR DA TEORIA DA ACcedilAtildeO COMUNICATIVA DE JUumlRGEN HABERMAS
Carolina Passeri Rebouccedilas de Oliveira1
Tiago da Silva Cicilio2
Daniel Machado Gomes3
Eixo temaacutetico GT1 Crise migratoacuteria e direitos humanos
Palavras-chave migrantes democracia deliberativa Venezuela
INTRODUCcedilAtildeO
Com o agravamento da crise econocircmica na Venezuela entre 2014 e 2015 ocorreu
dentre outros contingenciamentos de poliacuteticas puacuteblicas no orccedilamento estatal venezuelano o
corte de accedilotildees voltadas para os povos indiacutegenas Neste sentido vale mencionar que a ONU
ndash Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas calcula que mais de 36 milhotildees de venezuelanos jaacute
deixaram seu paiacutes desde 2016 sendo tal situaccedilatildeo comparada ateacute mesmo agrave crise siacuteria Diante
da grave situaccedilatildeo econocircmica os povos indiacutegenas como por exemplo os Warao passaram a
percorrer mais de 800 quilocircmetros - da Venezuela ateacute o cruzamento da fronteira com o norte
do Brasil (atraveacutes de Roraima) em busca de empregos de alimentos e de cuidados meacutedicos
A presente pesquisa tem o objetivo de analisar a situaccedilatildeo atual dos indiacutegenas venezuelanos
migrantes no Brasil a partir da teoria da Accedilatildeo Comunicativa de Jurgen Habermas Para tanto
foi empregada a metodologia qualitativa de pesquisa atraveacutes da revisatildeo bibliograacutefica em
livros e artigos de perioacutedicos cientiacuteficos tendo como referencial teoacuterico as ideias do filoacutesofo
e socioacutelogo alematildeo Habermas
DISCUSSAtildeO
1 Graduanda do curso de Direito da FACHA e faz parte do Grupo de Pesquisa ldquoLei Justiccedila e Direitos Humanos da Universidade Catoacutelica de Petroacutepolisrdquo ndash UCP carolinapasserigmailcom httplattescnpqbr6423176787257261 2 Bacharelando em Direito pela Universidade Catoacutelica de PetroacutepolisRJ Pesquisador bolsista de iniciaccedilatildeo cientiacutefica do CNPq tiagociciliogmailcom Lattes httplattescnpqbr1634337283930907 3 Doutor em Filosofia pelo IFCS UFRJ (2015) Mestre em Ciecircncias Juriacutedico-Civiliacutesticas pela Universidade de Coimbra Portugal (2003) Coordenador e Professor do PPGD-UCP Atua na graduaccedilatildeo em Direito da UCP e da FACHA danielmachadoucpbr Lattes httplattescnpqbr5147053344281753
61
Importante destacar que o Brasil eacute signataacuterio da Convenccedilatildeo Internacional sobre o
Estatuto dos Refugiados a qual prevecirc a solicitaccedilatildeo de refuacutegio no paiacutes ao imigrante que sofra
perseguiccedilotildees de cunho racial religioso poliacutetico e que por essas razotildees esteja impedido de
retornar ao seu paiacutes de origem A Convenccedilatildeo foi ratificada com a ediccedilatildeo da Lei nordm 9474 de
1997 que garantiu aos refugiados vaacuterios direitos dentre eles os de fixar residecircncia no paiacutes e
trabalhar tendo deste modo sua situaccedilatildeo regularizada
No que concerne agrave situaccedilatildeo dos iacutendios existem particularidades a serem consideradas
em relaccedilatildeo aos demais migrantes venezuelanos Isso porque os indiacutegenas da Venezuela se
encontram vinculados por laccedilos culturais ancestrais com indiacutegenas brasileiros e este fato por
si soacute deve ser considerado como relevante para a proteccedilatildeo juriacutedica da condiccedilatildeo de migrantes
O tracircnsito destes indiacutegenas entre os territoacuterios brasileiro e venezuelano tem sido
historicamente intenso natildeo importando tanto a questatildeo de suas nacionalidades mas sim a
partilha das mesmas tradiccedilotildees culturais Assim as autoridades brasileiras necessitam
dispensar atenccedilatildeo especial ao caso das migraccedilotildees de indiacutegenas ainda mais considerando que
estes povos tecircm encontrado dificuldades na concessatildeo de vistos de permanecircncia por causa
de natildeo enquadramento nas hipoacuteteses previstas para concessatildeo de refuacutegio
Em razatildeo disso destas adversidades e limitados ao prazo de concessatildeo de visto de
turista os indiacutegenas venezuelanos passaram a ter sua permanecircncia tratada como ilegal pela
Poliacutecia Federal resultando assim num aumento significativo de imigrantes clandestinos em
Roraima Consequecircncia da problemaacutetica supracitada os casos de mendicacircncia violecircncia
alcoolismo e uso de drogas entre os refugiados indiacutegenas cresceu de modo vultoso
obstaculizando ainda mais o processo de interiorizaccedilatildeo destes povos agraves comunidades locais
Acerca do tema como bem destaca Gabriela Garcia Angeacutelico (2017 p9) as
migraccedilotildees internacionais apontam para o dever e o desafio de se repensar o mundo natildeo a
partir da competitividade econocircmica e do fechamento das naccedilotildees mas sim a partir da
concepccedilatildeo da cidadania universal e da solidariedade Continua a autora citando Habermas
que as soluccedilotildees para essa problemaacutetica do fluxo migratoacuterio podem ser buscadas na afirmaccedilatildeo
do princiacutepio baacutesico de legitimaccedilatildeo do Estado Moderno atraveacutes da conciliaccedilatildeo soberania
popular e direitos humanos sendo necessaacuterio para tanto medidas de ordem externa e de
ordem interna
No aspecto externo tem-se que o enfrentamento dos problemas exige a construccedilatildeo
de instituiccedilotildees poliacuteticas internacionais democraacuteticas que permitam uma governanccedila
supranacional Jaacute no aspecto interno Habermas sugere a criaccedilatildeo de formas de exerciacutecio de
62
cidadania deliberativa na esfera puacuteblica Ou seja devem ser estabelecidos lugares em que
pessoas das mais diferentes vinculaccedilotildees culturais possam se encontrar para debater de modo
democraacutetico Seguindo este raciociacutenio Habermas afirma que o exerciacutecio da soberania
popular por meio da accedilatildeo comunicativa em ambientes democraacuteticos eacute a soluccedilatildeo inicial
sendo viaacutevel superar os desafios da sociedade e possibilitando a formaccedilatildeo de um diaacutelogo
intercultural efetivo Deste modo na perspectiva habermasiana os indiacutegenas migrantes
oriundos da Venezuela deveriam ser integrados como vozes que participem dos debates
puacuteblicos condiccedilatildeo fundamental para se viabilizar uma democracia deliberativa
CONCLUSAtildeO
A presente pesquisa buscou analisar a situaccedilatildeo atual dos indiacutegenas venezuelanos no
Brasil a partir da teoria da Accedilatildeo Comunicativa de Habermas Como resultado percebeu-se
que para a construccedilatildeo de uma sociedade intercultural e diversa em tempos de globalizaccedilatildeo
faz-se necessaacuterio estabelecer diaacutelogos democraacuteticos que efetivamente incluam os diversos
indiviacuteduos na formaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas solidaacuterias Conclui-se portanto que
os migrantes indiacutegenas devem ser incorporados como participantes dos debates puacuteblicos
sobre o acolhimento dos venezuelanos na sociedade brasileira
REFEREcircNCIAS
ANGEacuteLICO Gabriela Garcia POKER Joseacute Geraldo A B Direitos humanos poliacuteticas puacuteblicas e o problema da inclusatildeo de populaccedilotildees deslocadas RIDH Bauru v 5 n 1 p 57-76 janjun 2017 Disponiacutevel em lt httpswww3faacunespbr rsaquo ridhgt Acesso em outubro de 2019 PATARRA N L Migraccedilotildees internacionais de e para o Brasil contemporacircneo volumes fluxos significados e poliacuteticas Satildeo Paulo Perspectiva Satildeo Paulo v 19 n 3 p 23-33 set 2005 Disponiacutevel em lt httpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamppid=S0102-88392005000300002gt Acesso em outubro de 2019 PATARRA Neide Lopes Migraccedilotildees internacionais teorias poliacuteticas e movimentos sociais Estudos Avanccedilados Satildeo Paulo v 20 n 57 p 7-24 agosto 2006 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophppid=S010340142006000200002ampscript=sci_abstractamptlng=ptgt Acesso em novembro de 2019 RAMOS N Diversidade cultural educaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo intercultural minus poliacuteticas e es-trateacutegias de promoccedilatildeo do diaacutelogo intercultural Revista Educaccedilatildeo em Questatildeo Natal v 34 n 20 p 9-32 janabr 2009 Disponiacutevel em lt httpsperiodicosufrnbr rsaquo educacaoemquestao rsaquo article rsaquo view gt Acesso em 5 ago 2016
63
RIBEIRO H M Movimentos migratoacuterios internacionais e direitos humanos na esfera do multiculturalismo Fragmentos de Cultura Goiacircnia v 18 n 12 p 35-48 janfev 2008 Disponiacutevel em lthttpswww3faacunespbrgt Acesso em outubro de 2019 SIMOtildeES Gustavo da Frota Perfil sociodemograacutefico e laboral da imigraccedilatildeo venezuelana no Brasil ndash Curitiba CRV 2017 112 p Disponiacutevel em lt httpsportaldeimigracaomjgovbrimagespublicacoesPerfil_Sociodemografico_e_laboral_venezuelanos_Brasilpdfgt Acesso em novembro de 2019
64
A CRISE MIGRATOacuteRIA NO CONTEXTO DA VENEZUELA E DO BRASIL E SEUS TANGENCIAMENTOS COM OS SERVICcedilOS PUacuteBLICOS BRASILEIROS
NO CONTEXTO DE CRISE FISCAL
Alan da Costa Macedo1
Eixo temaacutetico GT1 Crise migratoacuteria e direitos humanos
Palavras-Chave Crise Migratoacuteria Venezuela Brasil Crise Fiscal
A crise econocircmica e poliacutetica na Venezuela que ficou evidente desde o ano de 2013
tem gerado uma maciccedila migraccedilatildeo dos indiviacuteduos daquele paiacutes para paiacuteses vizinhos entre os
quais se destaca o Brasil principalmente a partir da fronteira com o Estado de Roraima
O presente ldquorecorte acadecircmicordquo se propotildee portanto a fazer uma anaacutelise loacutegico-
indutiva sobre uma eventual sobrecarga do serviccedilo puacuteblico inerente agrave Seguridade Social (
Assistecircncia Social e Sauacutede Pugraveblica) e outros ( Educaccedilatildeo e Seguranccedila) no contexto de um
Estado Constitucional que ldquo aindardquo prevecirc a dignidade da pessoa humana como fundamento
a prevalecircncia dos direitos humanos e a cooperaccedilatildeo entre os povos para o progresso da
humanidade como princiacutepios e a integraccedilatildeo econocircmica poliacutetica social e cultural dos povos
da Ameacuterica Latina visando agrave formaccedilatildeo de uma comunidade latino-americana de naccedilotildees
como primado especial no contexto principioloacutegico Constitucional
A questatildeo da migraccedilatildeo Venezuela pode ser problematizada aqui sob o ponto de
vista das condiccedilotildees dadas aos migrantes como destinataacuterios de direitos humanos existenciais
em tangenciamento com contingecircncias econocircmicas de um paiacutes que ainda ostenta grandes
taxas de desigualdade social e miseacuteria
Roraima por exemplo que jaacute ostentava a ldquomaacute famardquo de Estado com altos iacutendices de
violaccedilatildeo a Direitos Humanos se viu de frente para uma situaccedilatildeo complicada do ponto de
vista econocircmico ter que atingir os niacuteveis miacutenimos de atendimento puacuteblico para seus cidadatildeos
nacionais e atender a nova demanda por serviccedilos puacuteblicos dos Venezuelanos Em estado de
ldquocalamidade financeirardquo o ente federativo chegou a decretar ldquo situaccedilatildeo de emergecircnciardquo e
solicitar intervenccedilatildeo federal no final do ano de 2018
A decretaccedilatildeo de ldquocalamidade financeirardquo teve como motivaccedilatildeo as inuacutemeras diacutevidas
do ente federativo os constantes atrasos salariais dos seus servidores o risco de colapso de
1 Mestrando em Direito na Universidade Catoacutelica de Petroacutepolis-RJ Bacharel em Direito pela UFJF Poacutes Graduado em Direito Constitucional ndash Complexo Educacional Damaacutesio de Jesus Poacutes Graduado em Direito Penal- FIJ-RJ Poacutes Graduado em Direito Processual- UFJF Coordenador Geral Cientiacutefico do IPEDIS Lattes httplattescnpqbr0949039778117306
65
serviccedilos essenciais como sauacutede educaccedilatildeo e seguranccedila e todos os impactos adjacentes da
migraccedilatildeo venezuelana
O aumento do fluxo migratoacuterio tambeacutem deu origem ao decreto de calamidade
puacuteblica na sauacutede de Roraima O nuacutemero de atendimentos no Hospital puacuteblico do Estado
aumentou em niacuteveis insustentaacuteveis jaacute natildeo conseguindo segundo dados jornaliacutesticos fazer
frente agrave demanda brasileira e dos migrantes que pediam atendimento
Desde agosto de 2018 a Defensoria Puacuteblica da Uniatildeo tem realizado algumas ldquo
Operaccedilotildeesrdquo como objetivo de resguardar direitos dos que se encontram em situaccedilatildeo de
vulnerabilidade e constatando a articulaccedilatildeo das autoridades para recepcionar os imigrantes
na fronteira ( ALMEIDA 2019 p 128)
Por meio da Medida Provisoacuteria (MP) nordm 820 de 15 de fevereiro de 2018 o Brasil
instituiu o Comitecirc Federal de Assistecircncia Emergencial dispondo sobre medidas de
assistecircncia para acolhimento a pessoas em situaccedilatildeo de vulnerabilidade decorrente do fluxo
migratoacuterio provocado por crise humanitaacuteria
As medidas de assistecircncia emergencial para acolhimento a pessoas em situaccedilatildeo de
vulnerabilidade decorrente de fluxo migratoacuterio provocado por crise humanitaacuteria tecircm o
objetivo de articular accedilotildees integradas destinadas a pessoas nacionais ou estrangeiras que
faccedilam parte de fluxo migratoacuterio desordenado a serem desempenhadas pelos Governos
federal estaduais distrital e municipais por meio de adesatildeo a instrumento de cooperaccedilatildeo
federativa no qual seratildeo estabelecidas as responsabilidades dos entes federativos envolvidos
A referida MP foi convertida na Lei 136842018 que consoante seu artigo 5ordm prevecirc
as seguintes poliacuteticas
I ndash proteccedilatildeo social II ndash atenccedilatildeo agrave sauacutede III ndash oferta de atividades educacionais IV ndash formaccedilatildeo e qualificaccedilatildeo profissional V ndash garantia dos direitos humanos VI ndash proteccedilatildeo dos direitos das mulheres das crianccedilas dos adolescentes dos idosos das pessoas com deficiecircncia da populaccedilatildeo indiacutegena das comunidades tradicionais atingidas e de outros grupos sociais vulneraacuteveis VII ndash oferta de infraestrutura e saneamento VIII ndash seguranccedila puacuteblica e fortalecimento do controle de fronteiras IX ndash logiacutestica e distribuiccedilatildeo de insumos e X ndash mobilidade contemplados a distribuiccedilatildeo e a interiorizaccedilatildeo no territoacuterio nacional o repatriamento e o reassentamento das pessoas mencionadas no caput deste artigo
Sobre as fontes de custeio de tais poliacuteticas importante a previsatildeo na Lei 136842018
de dispositivos que permitissem ao Brasil a celebraccedilatildeo de acordos de cooperaccedilatildeo ou
instrumentos congecircneres com organismos internacionais bem como com organizaccedilotildees civis
nacionais dedicadas ao apoio a Direitos Humanos( Art 5ordm sect3ordm I e II da referida legislaccedilatildeo)
Por ato do Presidente da Cacircmara dos Deputados de 26 de marccedilo de 2019 conforme
Requerimento nordm 586 de 2019 foi criada a Comissatildeo Externa destinada a tratar da crise na
66
Venezuela (CEXVENEZ) com a finalidade de colher informaccedilotildees para subsidiar as accedilotildees
do Governo Federal em prol da populaccedilatildeo do Estado de Roraima
A primeira reuniatildeo da Comissatildeo Externa realizou-se em 3 de abril de 2019 Na
oportunidade foi aprovada a seguinte proposta de Plano de Trabalho
PROPOSTA DE ROTEIRO DE TRABALHO DA COMISSAtildeO EXTERNA DESTINADA A TRATAR DA CRISE NA VENEZUELA EM ESPECIAL NA FRONTEIRA COM O BRASIL (REQ 5862019) Como roteiro de trabalho da Comissatildeo Externa propotildee-se a realizaccedilatildeo das seguintes atividades 1) Recebimento de requerimentos dos ilustres Deputados relacionados agrave finalidade da Comissatildeo Externa a serem encaminhados agraves autoridades federais e agraves do Estado de Roraima (prazo ateacute o dia 8 de abril de 2018) 2) Reuniatildeo para a discussatildeo e votaccedilatildeo dos requerimentos (dia 942019 terccedila-feira agraves 1430 no Anexo II Plenaacuterio 14) 3) Visita agraves cidades de Boavista e Pacaraima com o intuito de a) verificar in loco o impacto nos serviccedilos puacuteblicos oferecidos agrave populaccedilatildeo em razatildeo do fluxo migratoacuterio de venezuelanos provocado por crise humanitaacuteria b) entregar as solicitaccedilotildees de informaccedilatildeo aprovadas na Comissatildeo agraves autoridades competentes do Estado de Roraima 4) Reuniotildees de trabalho (em Roraima e em outros estados diretamente afetados pela crise migratoacuteria) e de audiecircncias puacuteblicas (na Cacircmara dos Deputados) com autoridades puacuteblicas e representantes de entidades da sociedade civil 5) Reuniatildeo para discussatildeo e votaccedilatildeo do relatoacuterio da Comissatildeo Externa encaminhamento de eventuais proposiccedilotildees legislativas relativas ao tema Sala de Reuniatildeo em 3 de abril de 2019 ( CAcircMARA DOS DEPUTADOS 2019 p 9-10)
De acordo com dados fornecidos pelo Governo de Roraima agrave CEXVENEZ
somente no sistema de sauacutede puacuteblico de 2016 a 2019 foram atendidos em meacutedia 79873
venezuelanos em serviccedilos ambulatoriais na capital No que se refere ao nuacutemero de
internaccedilotildees a Secretaria de Sauacutede Roraimense informou que de 2016 a 2019 foram
internados 7833 venezuelanos ( CAcircMARA DOS DEPUTADOS 2019 p 14)
Aleacutem das questotildees financeiras que atingem a Sauacutede Puacuteblica brasileira especialmente
no Estado de Roraima o Relatoacuterio Comissatildeo Externa destinada a tratar da crise na Venezuela
aponta para problemas no sistema penitenciaacuterio ( devido ao aumento de praacuteticas delituosas
decorrentes do fluxo migratoacuterio) e na Educaccedilatildeo ( aumento na procura por educaccedilatildeo baacutesica
por parte de migrantes que se fixam no Estado) (CAcircMARA DOS DEPUTADOS 2019 p
15)
Apesar de natildeo constar no relatoacuterio da CEXVENEX tais dados certamente deve ter
havido tambeacutem aumento nas concessotildees de Benefiacutecios Assistencias de Prestaccedilatildeo
Continuada a idosos e deficientes venezuelanos o que importa em demanda por maiores
recursos federais no acircmbito da Seguridade Social
Assim a crise migratoacuteria gera problemas relacionados agrave cidadania agraves questotildees
humanitaacuterias existenciais que demandam a obrigatoriedade de observacircncia dos fundamentos
e princiacutepios Constitucionais relacionados agrave dignidade da pessoa humana na ordem nacional
e internacional e que trazem consigo outros problemas relacionados ao primado ldquo reserva do
possiacutevelrdquo ( Instituto do Direito Alematildeo que visa limitar determinadas exigecircncias em prol
67
dos direitos fundamentais e humanos levando em consideraccedilatildeo a conformidade financeira
do Estado)
Natildeo se poderia negar acesso aos direitos humanos existenciais diante do fluxo
migratoacuterio em comento sob o fundamento da ldquo reserva do possiacutevelrdquo Inteligente portanto
a previsatildeo da Lei 136842018 para que em situaccedilatildeo de contingecircncia recorrer-se a
organismos internacionais de ajuda humanitaacuteria
Em situaccedilatildeo de ajuste fiscal com a previsatildeo de incidecircncia em Crime de
responsabilidade para o governante que natildeo observar a Lei de Responsabilidade Fiscal eacute
salutar o debate sobre as obrigaccedilotildees constitucionais de ajuda humanitaacuteria diante de crises
migratoacuterias e a ldquo reserva do possiacutevelrdquo Os mecanismos gerados pelo legislador (Lei
136842018) poderatildeo indicar caminhos ao administrador puacuteblico para lidar com as situaccedilotildees
que lhe seratildeo submetidas obrigando-lhe a cumprir com as garantias humanitaacuterias sem se
descuidar do equiliacutebrio fiscal que lhe eacute exigido
REFEREcircNCIAS
BRASIL Lei 13684 de 21 de junho de 2018 Dispotildee sobre medidas de assistecircncia emergencial para acolhimento a pessoas em situaccedilatildeo de vulnerabilidade decorrente de fluxo migratoacuterio provocado por crise humanitaacuteria e daacute outras providecircncias Disponiacutevel em lt httpwwwplanaltogovbrccivil_03_ato2015-20182018LeiL13684htmgt Acesso em 29 out 2019 CAcircMARA DOS DEPUTADOS 1ordm Relatoacuterio da Comissatildeo Externa da Crise na Fronteira da Venezuela com o Brasil Disponiacutevel em lthttpswwwcamaralegbrproposicoesWebprop_mostrarintegracodteor=1774525ampfilename=REL+12019+CEXVENEZgt Acesso em 29 out 2019 ALMEIDA Luciane Pinto de Atendimento agrave populaccedilatildeo venezuelana no Brasil uma anaacutelise da ldquo reserva do possiacutevelrdquo e do miacutenimo existencial
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CONFLITOS ARMADOS E REFUacuteGIO A PROBLEMAacuteTICA MIGRATOacuteRIA EM CONTEXTOS DE GUERRA
Isadora drsquoAvila Lima Nery Gonccedilalves 1
Eixo temaacutetico GT1 Crise migratoacuteria e direitos humanos
Palavras-chave Direitos Humanos Conflitos Armados Migraccedilotildees Refuacutegio Refugiados
O presente trabalho tem por objetivo analisar o instituto do refuacutegio em decorrecircncia
dos conflitos armados no mundo contemporacircneo e tem por objeto as migraccedilotildees em
contextos de guerra Para o desenvolvimento desta pesquisa utiliza-se metodologia
qualitativa e levantamentos bibliograacuteficos Desde o fim da Primeira Guerra Mundial (1914-
1918) a temaacutetica do refuacutegio comeccedilou a ser discutida contudo foi ao final da Segunda Guerra
Mundial (1939-1945) que o refuacutegio consolidou-se enquanto um instituto atraveacutes do Estatuto
dos Refugiados conhecido como Convenccedilatildeo de Genebra de 1951 (JUBILUT 2007)
Posteriormente outros mecanismos internacionais se consolidaram como a Convenccedilatildeo de
Cartagena (1984) por exemplo discutindo a problemaacutetica do refuacutegio principalmente pela
grave e generalizada violaccedilatildeo de direitos humanos
Analisar os conflitos armados e o refuacutegio na atual conjuntura nos permite
compreender a relevacircncia da temaacutetica natildeo soacute por necessitarmos de capacitaccedilatildeo sobre mas
para buscarmos soluccedilotildees imediatas em como lidar com milhotildees de vidas que satildeo forccediladas a
migrar por se encontrarem em regiotildees de conflitos e guerras Discutir conflitos armados e
refuacutegio permite-nos analisar natildeo apenas fatores internos que os fomentam como a
importante compreensatildeo de que os fatores externos influenciam sobremaneira no que
consiste os movimentos internos principalmente a influecircncia dos paiacuteses desenvolvidos nas
conjunturas poliacutetica e econocircmica de paiacuteses em desenvolvimento ou subdesenvolvimento
(ZIZEK 2016)
Os refugiados satildeo pessoas forccediladas a deixarem seus paiacuteses e sofrem fundado temor
de perseguiccedilatildeo e grave e generalizada violaccedilatildeo de direitos humanos Se tomarmos como
exemplo o caso da Repuacuteblica Democraacutetica do Congo e da Siacuteria observaremos que os
conflitos armados e o refuacutegio satildeo fatores interligados e que a grave e generalizada violaccedilatildeo
1 Mestre em Ciecircncias Juriacutedicas e Sociais pela Universidade Federal Fluminense httplattescnpqbr3518745408872341
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de direitos humanos permeia distintas formaccedilotildees territoriais sendo promovida por fatores
distintos mas com influecircncias e motivaccedilotildees externas para o interno e natildeo apenas motivaccedilotildees
internas para o interno
O cenaacuterio da Repuacuteblica Democraacutetica do Congo segundo a ONU (Organizaccedilatildeo das
Naccedilotildees Unidas) apenas no ano de 2018 aproximadamente 5 milhotildees de congoleses2 eram
deslocados - refugiados ou deslocados internos - pois desde a guerra civil que ocorrera no
paiacutes (1988-2003) a situaccedilatildeo eacute considerada uma das mais complexas do mundo onde os
conflitos locais permanecem tendo o paiacutes uma das maiores crises de deslocamento do
mundo O mesmo ocorre na Siacuteria onde segundo a ONU o conflito armado fomentou o
deslocamento de 56 milhotildees3 de pessoas que deixaram o paiacutes devido agrave falta de seguranccedila e
de direitos baacutesicos sendo considerado um dos piores conflitos armados desde a Segunda
Guerra Mundial e o maior deslocamento humano da atualidade
Destarte conclui-se que questotildees e movimentos migratoacuterios existem por distintas
causas poreacutem migraccedilotildees em decorrecircncia de grave e generalizada violaccedilatildeo de direitos
humanos e de conflitos armados fazem parte de um cenaacuterio de tensotildees mundiais que nos
permitem analisar de maneira criacutetica agraves poliacuteticas de fronteiras os discursos de oacutedio a
xenofobia as poliacuteticas nacionais e internacionais adotadas por distintas formaccedilotildees territoriais
no que consiste o acolhimento de refugiados
BIBLIOGRAFIA
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sociologia da USP v 18 n 2 pp 197-215 nov 2006
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2 httpsnacoesunidasorgonu-alerta-para-aumento-da-violencia-na-republica-democratica-do-congo Acesso 05112019 3 httpsnacoesunidasorgonu-alerta-para-aumento-da-violencia-na-republica-democratica-do-congo Acesso 05112019
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ZENHA C O seacuteculo XX - O tempo das duacutevidas do decliacutenio das utopias agraves globalizaccedilotildees
Rio de Janeiro Civilizaccedilatildeo Brasileira v 2 p 165-193 2000
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Littera Mundi p 143-163 2001
JUBILUT L L O Direito internacional dos refugiados e sua aplicaccedilatildeo no ordenamento
juriacutedico brasileiro Satildeo Paulo Meacutetodo 2007
ZIZEK S Europa agrave deriva Traduccedilatildeo de Jorge Pereirinha Pires 1a ed Lisboa Penguin
Random House 2015
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TERRITOacuteRIO EM MOVIMENTO O CASO DOS REFUGIADOS APAacuteTRIDAS
Jeancezar Ditzz de Souza Ribeiro1
Amanda Baacuterbara Cavalcante da Silva2
Brenda Rafaelly da Silva Gonccedilalves3
Rayane Martins de Sousa4
Eixo temaacutetico GT1 Crise migratoacuteria e direitos humanos
Palavras-Chave refugiados apaacutetrida direitos humanos movimento migratoacuterio
O presente artigo tem por objetivo abordar o caso dos refugiados apaacutetridas e as
soluccedilotildees juriacutedicas apresentadas a eles tendo como ponto de partida o caso dos refugiados
apaacutetridas em Bangladesh e a ideia de territoacuterio em movimento abordado por Ruggie em
Territoriality and beyond problematizing modernity in international relations de 1993
Segundo a ONU haacute mais de 900 mil refugiados rohingya no sudeste do paiacutes e cerca
de 741 mil chegaram fugindo da violecircncia no Mianmar a partir de 2017 (ONU NEWS 2019)
Como observado em Bangladesh existe um grande movimento migratoacuterio Ruggie afirma
que o territoacuterio eacute uma ideia que estaacute em movimento e ainda natildeo estamos preparados para
compreendecirc-la Atualmente no Sistema Internacional somos apenas capazes de lidar com a
ideia de fronteiras e com isso o refugiado eacute visto como um lugar de problema (RUGGIE
1993)
De acordo com as disposiccedilotildees gerais da Convenccedilatildeo Sobre o Estatuto dos Apaacutetridas
de 1954 o termo apaacutetrida eacute denominado a toda e qualquer pessoa natildeo amparada por qualquer
Estado como um nacional possuidor de direitos civis Ao falar de apaacutetridas portanto deve-
se levar em consideraccedilatildeo o conceito de nacionalidade uma vez que o mesmo traz uma
relaccedilatildeo entre o indiviacuteduo e o Estado que por sua vez eacute quem determina regulamentos para
perda obtenccedilatildeo manutenccedilatildeo e retomada da nacionalidade
1 Coordenador e orientador da pesquisa Doutor em Direito Internacional pela Faculdade de Direito da Universidade de Satildeo Paulo (USP) Lattes httplattescnpqbr8005429036796861 2 Graduanda em Relaccedilotildees Internacionais no Centro Universitaacuterio IBMR Laureate - RJ Lattes httplattescnpqbr9204850339643648 3 Graduanda em Relaccedilotildees Internacionais no Centro Universitaacuterio IBMR Laureate - RJ Lattes httplattescnpqbr9082576805700416 4 Graduanda em Relaccedilotildees Internacionais no Centro Universitaacuterio IBMR Laureate - RJ Lattes httplattescnpqbr9266767895693645
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A Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos Humanos esclarece que todas as pessoas tecircm
direito a uma nacionalidade Pessoas apaacutetridas convivem com a inseguranccedila e a
marginalizaccedilatildeo pois sem uma nacionalidade os indiviacuteduos satildeo impedidos de usufruir de
direitos como igualdade perante a lei educaccedilatildeo trabalho ou atendimento meacutedico Tendo isso
em vista o ACNUR (Alto Comissariado das Naccedilotildees Unidas para refugiados) publicou o
ldquoManual de Proteccedilatildeo aos Apaacutetridasrdquo a fim de orientar oficiais de governo juiacutezes
profissionais do Direito funcionaacuterios do ACNUR e outros envolvidos com o tema da
apaacutetrida e tambeacutem servir como referecircncia para a determinaccedilatildeo da condiccedilatildeo de apaacutetrida para
o desenvolvimento e implementaccedilatildeo de leis e poliacuteticas relacionadas agrave proteccedilatildeo dos mesmos
Considerando essas questotildees observamos a poliacutetica de acolhimento de refugiados
realizada em Portugal que embora ainda encontre dificuldades em maior parte por
consequecircncia da demora na distribuiccedilatildeo dos refugiados ao abrigo do programa eacute um dos
paiacuteses mais receptivos a acolher os apaacutetridas O paiacutes demonstrou interesse em receber mais
do dobro da quota inicialmente prevista pelos Estados europeus e foi elogiado por diversas
organizaccedilotildees internacionais por sua aceitabilidade Atraveacutes dessa poliacutetica buscamos
encontrar saiacutedas juriacutedicas e de acolhimento para o caso dos refugiados apaacutetrida para que
possam gozar dos direitos que lhes satildeo assegurados pela Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos
Humanos
Referecircncias
ACNURORG Manual de Proteccedilatildeo aos Apaacutetridas Disponiacutevel em httpswwwacnurorgportugueswp-contentuploads201802Manual_de_proteC3A7C3A3o_aos_apC3A1tridaspdf Acesso em 28 out 2019
COSTA Bruno Ferreira A POLIacuteTICA DE ACOLHIMENTO DE REFUGIADOS CONSIDERACcedilOtildeES SOBRE O CASO PORTUGUEcircS REHMU Brasiacutelia v 25 n 51 p 29-46 dez2017 Disponiacutevel em lthttpremhucsemorgbrindexphpremhuarticleview839gt Acesso em 28 out 2019
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RUGGIE John Gerard Territoriality and Beyond Problematizing Modernity in International Relations International Organization winter v 47 n 1 p 139-147 dez1993 Disponiacutevel em lthttpswwwjstororgstable2706885seq=1page_scan_tab_contentsgt Acesso em 28 out 2019
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O JUS COGENS E O REFUGIADO AMBIENTAL
Jeancezar Ditzz de Souza Ribeiro1
Victor Mansur Ramos de Pinho 2
Eixo temaacutetico GT1 Crise migratoacuteria e direitos humanos
Palavras ndash Chave Jus Cogens Refugiados Ambientais Direitos Humanos
A proteccedilatildeo aos refugiados consolidou-se em perspectiva contemporacircnea e
materializada em um complexo sistema normativo de Direito Internacional Puacuteblico a partir
da vigecircncia da Convenccedilatildeo Relativa ao Estatuto dos Refugiados de 1951 somada agraves
disposiccedilotildees de seu Protocolo Adicional de 1967 Fundamentada nos princiacutepios da
solidariedade humana da cooperaccedilatildeo e da ajuda humanitaacuteria a proteccedilatildeo aos refugiados
encontra amparo juriacutedico no instituto do refuacutegio previstos no Direito Internacional atual
No processo de evoluccedilatildeo do Direito Internacional dos Refugiados Joseacute H Fischel
de Andrade aponta o que seriam os primeiros registros histoacutericos da presenccedila de ldquorefugiados
ambientaisrdquo em passagens da biacuteblia sagrada na qual se encontram narradas fugas forccediladas
por calamidades devastadoras ou privaccedilotildees causadas pelo meio ambiente17 A convivecircncia
do homem com situaccedilotildees de risco a ocorrecircncia de desastres e com os impactos da alteraccedilatildeo
climaacutetica natildeo satildeo portanto problemas ineacuteditos
A extensatildeo da proteccedilatildeo conferida pelos instrumentos regionais a outras categorias
de migrantes forccedilados eacute controversa inclusive no tocante agraves pessoas afetadas por desastres
naturais como bem observa Antocircnio Augusto Canccedilado Trindade
De acordo com o documento de 1989 a expressatildeo ldquooutras circunstacircncias que tenham perturbado gravemente a ordem puacuteblicardquo deve cobrir ldquoo resultado de atos do homem e natildeo de desastres naturaisrdquo Aleacutem disso natildeo se deveriam confundir os ldquomigrantes econocircmicosrdquo com as ldquoviacutetimas de desastres naturaisrdquo estas uacuteltimas ndash agregou o documento de 1989 ndash natildeo se qualificam como refugiados a natildeo ser que ocorram ldquocircunstacircncias especiaisrdquo intimamente ligadas agrave definiccedilatildeo de refugiados3
1 Doutor em Direito Internacional pela Faculdade de Direito da USP Largo Satildeo Francisco Professor de Direito Internacional no Centro Universitaacuterio La Salle do Rio de Janeiro UnilasalleRJ e na Universidade Candido Mendes (UCAM) Consultor juriacutedico e pesquisador na USP E-mail jeanditzzuspbr link para o curriacuteculo Lattes httplattescnpqbr8005429036796861 2 Graduando em Direito na Universidade Candido Mendes- Niteroacuteindash E-mail victormansur61gmailcom Lattes 17 ANDRADE Joseacute H Fishel Direito internacional dos refugiados evoluccedilatildeo histoacuterica (1921-1952) Rio de Janeiro Renovar 1996 p 8-9 3 O documento de 89 mencionado por Canccedilado Trindade refere-se aos ldquoPrinciacutepios e Criteacuterios para a Proteccedilatildeo e Assistecircncia dos Refugiados Repatriados e Deslocados Centroamericanos na Ameacuterica Latinardquo apresentado por um Comitecirc de Peritos Juriacutedicos agrave Conferecircncia Internacional sobre Refugiados Centroamericanos (CIREFCA) realizada na Guatemala em 29-31 de maio de 1989 TRINDADE Antocircnio Augusto Canccedilado
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Os migrantes ambientais assim como outras categorias de migrantes carecem de um
regime internacional de proteccedilatildeo De uma forma geral contam apenas com uma proteccedilatildeo
juriacutedica reflexa com base em diplomas internacionais que compotildeem o acervo do Direito
Internacional dos Direitos Humanos
Ao contraacuterio do que ocorria no passado quando as ameaccedilas eram pessoais e
direcionadas a determinados indiviacuteduos e grupos os novos perigos advindos da sociedade
globalizada conhecida como ldquosociedade de riscordquo 4 natildeo respeitam fronteiras geograacuteficas e
diferenccedilas poliacuteticas sociais e culturais eliminando as ldquozonas de proteccedilatildeordquo de outrora Dentre
os elementos centrais de identificaccedilatildeo da ldquosociedade de riscordquo destacam-se justamente as
cataacutestrofes ecoloacutegicas Os processos de degradaccedilatildeo do ambiente global natildeo podem ser
considerados unicamente como preocupaccedilatildeo ambiental mas tambeacutem humanitaacuteria e de
desenvolvimento humano e afetam em uacuteltima anaacutelise a paz e a seguranccedila internacional
uma vez que apontam para um aumento potencial de instabilidades e conflitos de natureza
poliacutetica econocircmica e social
Aleacutem disso o tema vem ganhando notoriedade e o interesse da miacutedia nacional e
internacional especialmente em razatildeo do constante apelo feito pelos Estados mais
vulneraacuteveis agrave ocorrecircncia de desastres que satildeo mais suscetiacuteveis agrave formaccedilatildeo de fluxos de
refugiados ambientais para que essa questatildeo ganhe o devido espaccedilo na agenda
internacional Alguns desses Estados dentre os quais se destacam os pequenos Estados
insulares5 jaacute enfrentam o desaparecimento progressivo de seu territoacuterio com a elevaccedilatildeo
anormal do niacutevel dos oceanos o que ocasionaraacute a migraccedilatildeo em massa e a transferecircncia total
da populaccedilatildeo para outros Estados
Dentro do debate sobre as mudanccedilas climaacuteticas o tema das migraccedilotildees ambientais
surge como situaccedilatildeo juriacutedica nova natildeo contemplada pelo Direito Internacional uma vez que
os chamados ldquorefugiados ambientaisrdquo natildeo se enquadram nas categorias tradicionais
existentes como eacute o caso do refugiado em sua acepccedilatildeo convencional bem como natildeo estatildeo
compreendidos nos demais grupos de migrantes reconhecidos em tratados e convenccedilotildees
internacionais vigentes Torna-se portanto imprescindiacutevel analisar como essa temaacutetica vem
sendo tratada dentro da literatura juriacutedica buscando-se identificar as bases para a construccedilatildeo
de um sistema de proteccedilatildeo especiacutefico para essa categoria emergente de refugiados que
reconheccedila formalmente um status juriacutedico para as pessoas que se encontram nessa condiccedilatildeo
Aleacutem disso seraacute necessaacuterio prever mecanismos institucionais que de um lado
possam garantir uma efetiva proteccedilatildeo de outro possam prevenir antecipar financiar e
organizar os movimentos populacionais dessa natureza o que jaacute haacute algum tempo sinaliza
para uma crise humanitaacuteria sem precedentes
O reconhecimento oficial dos rdquorefugiados ambientaisrdquo em instrumentos
internacionais certamente proporciona uma compreensatildeo mais aprofundada das principais
causas da deterioraccedilatildeo ambiental e um melhor preparo para o seu enfrentamento Seria
Direitos humanos e meio ambiente paralelos dos sistemas de proteccedilatildeo internacional Porto Alegre Sergio Antonio Fabris 1993 p 133-134 4 Construiacutedo em 1986 pelo socioacutelogo alematildeo Ulrich Beck para designar um novo estaacutegio de desenvolvimento social resultante do conjunto de transformaccedilotildees trazidas com o processo de globalizaccedilatildeo 5 Um paiacutes insular eacute um paiacutes independente cujo territoacuterio eacute composto de uma ilha ou um grupo de ilhas
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portanto um grande passo para a busca de uma soluccedilatildeo duradoura para o problema inclusive
por meio de poliacuteticas preventivas e de accedilotildees de combate agraves causas estruturais das migraccedilotildees
ambientais em niacutevel global regional e local Como se vecirc o problema legal (status juriacutedico) e
o problema ambiental como complementares e natildeo excludentes
REFEREcircNCIAS
TRINDADE Antocircnio Augusto Canccedilado A humanizaccedilatildeo do Direito Internacional 2 edrevatual e ampl Belo Horizonte Del Rey 2015 TRINDADE Antocircnio Augusto Canccedilado O Direito internacional em um mundo em transformaccedilatildeo Rio de janeiro ed Renovar 2002 BRASIL Lei ndeg 13445 de 24 de maio de 2017 Disponiacutevel em httpwwwplanaltogovbrccivil_03_ato2015-20182017DecretoD9199htm Acesso em 02 nov 2019 BRASIL Decreto ndeg 9199 de 20 de novembro de 2017 Disponiacutevel em httpwwwplanaltogovbrccivil_03_ato2015-20182017DecretoD9199htm Acesso em 02 nov2019 BRASIL mensagem ndeg 163 de 24 de maio de 2017 Disponiacutevel em httpwwwplanaltogovbrccivil_03_ato2015-20182017MsgVEP-163htm Acesso em 02 nov2019 BRASIL Decreto ndeg 678 de 6 de novembro de 1992 Disponiacutevel em httpwwwplanaltogovbrccivil_03decretod0678htm Acesso em 01 nov2019 BRASIL Decreto ndeg 4388 de 25 de setembro de 2002 Disponiacutevel em httpwwwplanaltogovbrccivil_03decreto2002d4388htm Acesso em 01 nov 2019 CORTE INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS Parecer consultivo OC-1803 de setembro de 2003 Disponiacutevel em httpswwwcnjjusbrwp-contentuploads20160458a49408579728bd7f7a6bf3f1f80051pdf Acesso em 02 nov de 2019 Caso Almonacid Arellano e outros Vs Chile Sentenccedila de 26 de setembro de 2006 Disponiacutevel em httpwwwcorteidhorcrdocscasosarticulosseriec_154_esppdf Acesso em 01 nov 2019 Caso Gomes Lund e outros (ldquoGuerrilha do Araguaiardquo) Vs Brasil Sentenccedila de 24 de novembro de 2010 Disponiacutevel em httpwwwcorteidhorcrdocscasosarticulosseriec_219_porpdf Acesso em 01 nov 2019 Caso Herzog e outros vs Brasil Sentenccedila de 15 mar 2018 Disponiacutevel em httpwwwcorteidhorcrdocscasosarticulosseriec_353_porpdf Acesso em 07 out 2019
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O ALTO COMISSARIADO DAS NACcedilOtildeES UNIDAS PARA OS REFUGIADOS TAVARES HELENA Os haitianos recebem residecircncia no Brasil Brasiacutelia 30 de agosto de 2011 Disponiacutevel em httpswwwacnurorgportugues20110830haitianos-recebem-residencia-permanente-no-brasil Acesso em 02 nov2019 TURNER VANIA 8 refugiados estatildeo lutando pelo planeta 23 de setembro de 2019 Disponiacutevel em httpswwwacnurorgportugues201909238-refugiados-que-estao-lutando-pelo-planeta Acesso em 02 nov2019 PACHIONI MIGUEL Soluccedilotildees para refugiados urbanos passam por sustentabilidade e estiacutemulo agraves capacidades locais afirma ACNUR Satildeo Paulo 10 de abril de 2017 Disponiacutevel em httpswwwacnurorgportugues20170410solucoes-para-refugiados-urbanos-passam-por-sustentabilidade-e-estimulo-as-capacidades-locais-afirma-acnur Acesso em 02 nov2019
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AS MEDIDAS DE COOPERACcedilAtildeO JURIacuteDICA INTERNACIONAL NA NOVA LEI DE MIGRACcedilAtildeO SOB A PERSPECTIVA DOS DIREITOS HUMANOS
Jeancezar Ditzz de Souza Ribeiro1
Liacutevia Rangel de Castro e Souza 2
Eixo temaacutetico GT1 Crise migratoacuteria e direitos humanos
Palavras-chave cooperaccedilatildeo juriacutedica internacional Nova Lei de Migraccedilatildeo Direitos
Humanos
Ao analisar a Nova Lei de Migraccedilatildeo se deve ter em mente que a perspectiva dos
Direitos Humanos balizou a sua elaboraccedilatildeo o que a opotildee ao regulamento anterior o
Estatuto do Estrangeiro fortemente pautado pela oacutetica da seguranccedila nacional devido ao
periacuteodo em que foi implantado no Regime Militar
Nesse sentido o migrante era considerado ameaccedila agrave estabilidade e a coesatildeo
social do paiacutes predominando o enfoque da seguranccedila nacional de que era preciso manter
fora das fronteiras o estrangeiro que poderia vir a causar problemas no territoacuterio brasileiro
Dessa forma com o objetivo de tornar possiacutevel a utilizaccedilatildeo dos institutos de
cooperaccedilatildeo juriacutedica internacional para proteger o migrante e natildeo soacute garantir a seguranccedila
estatal a nova Lei trouxe mudanccedilas e inovaccedilotildees em relaccedilatildeo agraves medidas de cooperaccedilatildeo tendo
como eixo central a perspectiva dos Direitos Humanos (RAMOS 2017)
O presente trabalho busca elucidar portanto o que a Lei 1344517 e o seu
regulamento o Decreto 919917 trazem acerca desses institutos e verificar se as inovaccedilotildees
estatildeo de fato sendo aplicadas pelos juiacutezes criminais do Brasil
Em 24 de maio de 2017 foi publicada a Lei 13455 que aleacutem de modificar a
disciplina do instituto da extradiccedilatildeo disciplinou os institutos da Transferecircncia de Execuccedilatildeo
de Pena (TEP) e da Transferecircncia de Pessoas Condenadas (TPC) tendo este caraacuteter
eminentemente humanitaacuterio (MUZZI 2017 p2)
O primeiro instituto o da extradiccedilatildeo eacute um dos mais antigos institutos de
cooperaccedilatildeo juriacutedica internacional e tem como principal objetivo possibilitar a entrega por um
Estado a outro de pessoa que se encontra fora do territoacuterio que deva responder a processo
penal ou cumprir pena (RESEK 2011 p 230)
A Nova Lei traz uma alteraccedilatildeo e uma inovaccedilatildeo em relaccedilatildeo agrave extradiccedilatildeo na
medida em que limitou no inciso IV do artigo 82 as hipoacuteteses de aplicabilidade desse
instituto ao impor como requisito pena igual ou superior a dois anos quando no Estatuto
do Estrangeiro a pena miacutenima era de um ano Aleacutem disso no inciso IX apresenta a
1 Doutor em Direito Internacional pela Faculdade de Direito da USP Largo Satildeo Francisco Professor de Direito Internacional no Centro Universitaacuterio La Salle do Rio de Janeiro UnilasalleRJ e na Universidade Candido Mendes (UCAM) Consultor juriacutedico e pesquisador na USP E-mail jeanditzzuspbr link para o curriacuteculo Lattes httplattescnpqbr8005429036796861 2 Bacharel em Relaccedilotildees Internacionais pela PUC-Rio graduanda em Direito na Universidade Cacircndido Mendes- Niteroacuteindash E-mail liviarcsouzahotmailcom
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impossibilidade de concessatildeo de extradiccedilatildeo caso o indiviacuteduo seja beneficiaacuterio de asilo
territorial ou refuacutegio o que implica importante inovaccedilatildeo (DELrsquoOLMO e ROTTA 2018)
A Transferecircncia da Execuccedilatildeo da Pena (TEP) tambeacutem pretende impedir a
impunidade mas especificamente nos casos em que a extradiccedilatildeo executoacuteria eacute negada como
por exemplo no caso de pedido por um paiacutes estrangeiro da extradiccedilatildeo de um nacional vedada
pelo ordenamento juriacutedico interno
Nesses casos o Estado que nega a extradiccedilatildeo deve empregar esforccedilos para que
a pessoa seja processada criminalmente em territoacuterio nacional por meio da transferecircncia do
processo ou no caso de jaacute haver sentenccedila transitada em julgado no exterior da Transferecircncia
de Execuccedilatildeo da Pena prevista no artigo 100 do novo diploma legal
Eacute importante elucidar que existem dois tipos de TEP a ativa e a passiva A
primeira se refere a situaccedilatildeo em que o Brasil solicita o cumprimento de pena a outro paiacutes e a
segunda quando o Estado estrangeiro solicita a execuccedilatildeo de pena no Brasil
Jaacute o instituto da Transferecircncia de Pessoas Condenadas (TPC) em vez de buscar
evitar a impunidade tem caraacuteter fundamentalmente humanitaacuterio uma vez que busca
proteger os direitos fundamentais da pessoa condenada ao garantir que ela possa cumprir
pena no paiacutes com o qual tenha viacutenculo pessoal ou de residecircncia para que possa dessa forma
estar perto de seus familiares (MUZZI 2017 p 8)
Exatamente por ser uma medida que busca proteger o migrante eacute requisito
essencial para a concessatildeo da TPC a sua expressa manifestaccedilatildeo de vontade Dessa forma a
solicitaccedilatildeo deve partir do proacuteprio beneficiaacuterio da medida ou do Estado Brasileiro sendo
imprescindiacutevel no uacuteltimo caso a concordacircncia do preso
Tambeacutem no caso da TPC haacute as modalidades ativas e passivas sendo a primeira
quando um brasileiro preso em Estado estrangeiro quer cumprir pena no Brasil e a segunda
quando estrangeiro preso no Brasil solicita o cumprimento de pena no seu paiacutes de origem
ou com o qual possua o viacutenculo pessoal ou de residecircncia
O Departamento de Recuperaccedilatildeo de Ativos e Cooperaccedilatildeo Juriacutedica
Internacional (DRCI) eacute o oacutergatildeo do Ministeacuterio da Justiccedila e Seguranccedila Puacuteblica (MJSP)
responsaacutevel pelos tracircmites de todos os processos administrativos para fins de transferecircncia
de pessoas condenadas
A solicitaccedilatildeo deve ser realizada portanto perante autoridade competente no
exterior ou diretamente ao DRCI seja pelo condenado ou por seu representante Seratildeo
analisados os seguintes requisitos para a admissibilidade do pedido
Art 104 A transferecircncia de pessoa condenada seraacute possiacutevel quando preenchidos os seguintes requisitos
I - o condenado no territoacuterio de uma das partes for nacional ou tiver residecircncia habitual ou viacutenculo pessoal no territoacuterio da outra parte que justifique a transferecircncia
II - a sentenccedila tiver transitado em julgado
III - a duraccedilatildeo da condenaccedilatildeo a cumprir ou que restar para cumprir for de pelo menos 1 (um) ano na data de apresentaccedilatildeo do pedido ao Estado da condenaccedilatildeo
80
IV - o fato que originou a condenaccedilatildeo constituir infraccedilatildeo penal perante a lei de ambos os Estados
V - houver manifestaccedilatildeo de vontade do condenado ou quando for o caso de seu representante e
VI - houver concordacircncia de ambos os Estados
Apoacutes a anaacutelise dos referidos requisitos formais seraacute verificada pelo oacutergatildeo
competente a existecircncia de vaga e se houver possibilidade de efetivar o pedido o Brasil iraacute
requerer a concordacircncia do Estado no qual a pessoa foi condenada por meio de Tratado
Bilateral ou promessa de reciprocidade (MINISTEacuteRIO DA JUSTICcedilA E SEGURANCcedilA
PUacuteBLICA 2019)
Eacute importante ressaltar ainda que natildeo eacute necessaacuterio homologar a sentenccedila
estrangeira no Brasil para que seja consolidada a TPC conforme entendimento do Superior
Tribunal de Justiccedila
Cabe consignar que atualmente o Brasil possui dezessete Tratados bilaterais de
Transferecircncia de Pessoas Condenadas em vigor e quatro multilaterais especiacuteficos sobre o
tema a Convenccedilatildeo Interamericana sobre o Cumprimento de Sentenccedilas Penais no Exterior
a Convenccedilatildeo sobre a Transferecircncia de Pessoas Condenadas entre os Estados Membros da
Comunidade dos Paiacuteses de Liacutengua Portuguesa (CPLP) o Acordo sobre Transferecircncia de
Pessoas Condenadas entre os Estados Partes do Mercosul e o Acordo de Transferecircncia de
Pessoas Condenadas dos Estados Parte do Mercosul e a Repuacuteblica da Boliacutevia e a Repuacuteblica
do Chile
Eacute notoacuterio que o novo diploma legal e seu regulamento tecircm como base natildeo soacute a
defesa do territoacuterio nacional mas busca efetivar a perspectiva vigente no cenaacuterio juriacutedico
brasileiro de consolidaccedilatildeo dos Direitos Humanos e interpretaccedilatildeo de todo o Ordenamento
por meio do Princiacutepio da Dignidade da Pessoa Humana (SARMENTO 2016) Cabe agora
investigar se as novas medidas disciplinadas vecircm sendo de fato aplicadas
REFEREcircNCIAS
BRASIL Lei 13445 de 24 de maio de 2017 Institui a Lei de Migraccedilatildeo Disponiacutevel em
httpwwwplanaltogovbrccivil_03_ato2015-20182017leil13445htm
BRASIL Decreto nordm 9199 de 20 de novembro de 2017 Regulamenta a Lei nordm 13445 de 24
de maio de 2017 que institui a Lei de Migraccedilatildeo Disponiacutevel em
httpwwwplanaltogovbrccivil_03_ato2015-20182017DecretoD9199htm
DELrsquoOLMO FLORISBAL DE SOUZA ROTTA DIEGO GUILHERME A extradiccedilatildeo
a partir da lei de migraccedilatildeo construccedilatildeo de um cenaacuterio de cooperaccedilatildeo juriacutedica internacional agrave
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httpswwwresearchgatenetpublication331076161_A_EXTRADICAO_A_PARTIR_
DA_LEI_DE_MIGRACAO_CONSTRUCAO_DE_UM_CENARIO_DE_COOPERAC
AO_JURIDICA_INTERNACIONAL_A_LUZ_DOS_DIREITOS_HUMANOS Acesso
em 01112019
81
MINISTEacuteRIO DA JUSTICcedilA E SEGURANCcedilA PUacuteBLICA Transferecircncia da Pessoa
Condenada Disponiacutevel em httpswwwjusticagovbrsua-protecaocooperacao-
internacionaltransferencia-de-pessoas-condenadas
MUZZI Taacutecio Os mecanismos de cooperaccedilatildeo juriacutedica internacional na nova lei de
migraccedilatildeo In ISSN ndash 2446 ndash 9211 nordm 30 ndash Agosto de 2017 Disponiacutevel em
httpswwwjusticagovbrsua-protecaolavagem-de
dinheiroinstitucional2publicacoescooperacao-em-pautacooperacao-em-pauta-n30a
Acesso em 01112019
RAMOS Andreacute de Carvalho Direitos humanos satildeo eixo central da nova Lei de Migraccedilatildeo
In Revista Consultor Juriacutedico 26 de maio de 2017 16h20 Disponiacutevel em
httpswwwconjurcombr2017-mai-26andre-ramos-direitos-humanos-sao-eixo-central-
lei-migracao Acesso em 31102019
REZEK J F Direito Internacional Puacuteblico curso elementar 13ordf ediccedilatildeo Satildeo Paulo
Saraiva 2001
SARMENTO Daniel Dignidade da Pessoa Humana conteuacutedo trajetoacuterias e
metodologia 2ordm ediccedilatildeo Belo Horizonte Editora Foacuterum 2016
82
DIREITOS E GARANTIAS CONSTITUCIONAIS DOS MIGRANTES NO BRASIL UMA ANAacuteLISE DA PORTARIA 77019
Denise Mercedes Nunez Nascimento Lopes Salles1
Eacutevelin Estecircvam Souza2
Lara de Freitas Santos3
Eixo temaacutetico GT1 Crise migratoacuteria e direitos humanos
Palavras-chave Portaria 770 Migraccedilatildeo Devido Processo Legal Direitos Humanos
O presente trabalho trata sobre a Portaria nordm 770 de 20194 e a observacircncia do devido
processo legal na deportaccedilatildeo de migrantes Inicialmente questiona-se sobre a medida
utilizada para tratar de um tema sensiacutevel como a retirada forccedilada do migrante no Brasil por
motivo de seguranccedila nacional sobre a maneira passiacutevel de interpretaccedilotildees que justifica a
deportaccedilatildeo do migrante e por fim tambeacutem a perigosa possibilidade de cerceamento do
devido processo legal e demais princiacutepios constitucionais A pesquisa combina o uso de uma
metodologia de pesquisa juriacutedica baseada em um estudo comparativo entre a Constituiccedilatildeo
Federal de 1988 a Lei de Migraccedilatildeo e as Portarias nordm 666 e 770 com teoria do direito
constitucional e dos direitos humanos
O objetivo deste trabalho diante deste contexto eacute analisar detalhadamente a Portaria
nordm 770 publicada pelo Ministeacuterio da Justiccedila e Seguranccedila Puacuteblica em outubro a fim de verificar
possiacuteveis desacordos da mesma em relaccedilatildeo a tratados internacionais de Direitos Humanos
assinados pelo Brasil agrave Constituiccedilatildeo Federal e tambeacutem agraves leis federais
Publicada inicialmente no dia 25 de julho de 2019 pelo Ministro da Justiccedila e Seguranccedila
Puacuteblica no Diaacuterio Oficial da Uniatildeo a Portaria nordm 666 foi amplamente questionada por
diversos grupos da sociedade civil e do poder judiciaacuterio que entenderam se tratar de uma
1 Doutora em Ciecircncia Poliacutetica pelo IESPUERJ Professora do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Direito da UCP Coordenadora Geral de Pesquisas do UnilasalleRJ Lattes httplattescnpqbr1594102305404307 2 Aluna do Curso de Graduaccedilatildeo em Direito da Universidade Catoacutelica de Petroacutepolis Lattes httplattescnpqbr0576708252084196 3 Aluna do Curso de Graduaccedilatildeo em Direito da Universidade Catoacutelica de Petroacutepolis Lattes httplattescnpqbr4219269907460926 4 A portaria 77019 veio substituir o texto da Portaria 6662019 publicada em 25 de julho de 2019
83
portaria ilegal e inconstitucional Diante da repercussatildeo a normativa foi revogada e
substituiacuteda pela Portaria nordm 770 em 14 de outubro de 2019 O novo texto apresenta alteraccedilotildees
relevantes que amenizam equiacutevocos presentes no primeiro mesmo assim muitos pontos
ainda apresentam incongruecircncias em termos de respeito agrave direitos fundamentais quando
ponderadas com outros textos legais
A princiacutepio a primeira publicaccedilatildeo do Ministeacuterio ndash a Portaria nordm 666 - versava a respeito
do impedimento de ingresso da repatriaccedilatildeo e da deportaccedilatildeo de ldquopessoa perigosa a seguranccedila
do Brasil ou de pessoa que tenha praticado ato contraacuterio aos princiacutepios e objetivos dispostos
na Constituiccedilatildeo Federalrdquo O uso de tal terminologia jaacute se encontra em descompasso com a
nova legislaccedilatildeo migratoacuteria brasileira vigente desde 2018 que natildeo usa o termo pessoa
perigosa para o Brasil demasiado amplo aleacutem de indeterminado e vago (GRECO 2019 p
3) Ademais a Lei 1344517 estabeleceu (no seu artigo 50 sect 1ordm) o prazo de sessenta dias
para a regularizaccedilatildeo migratoacuteria apenas ocorrendo a deportaccedilatildeo caso o processo natildeo seja bem
sucedido durante este periacuteodo Ainda a referida lei trouxe em seu bojo um prazo
diferenciado (artigo 45 IX) quando do impedimento de ingresso para os migrantes que
tenham ldquopraticado ato contraacuterio aos princiacutepios e objetivosrdquo previstos em nossa Carta Matildee
Diante disso reforccedila-se que a Lei de Migraccedilatildeo eacute o meio legiacutetimo para tratar sobre o tema e
que o prazo de sessenta dias deveria ser respeitado
Importa ressaltar tambeacutem que a Portaria nordm 666 por si soacute foi alvo de
questionamentos5 pois ela atua como se fosse autossuficiente para inferir sobre a deportaccedilatildeo
sumaacuteria do migrante Apoacutes vaacuterias criacuteticas por parte de juristas organizaccedilotildees natildeo
governamentais e especialistas em migraccedilatildeo publicou-se entatildeo a Portaria nordm 770 de 2019
com algumas modificaccedilotildees especialmente no periacuteodo6 concedido agrave defesa do migrante
considerado ldquoperigoso para a seguranccedila do Brasilrdquo quando da sua deportaccedilatildeo impedimento
de ingresso e repatriaccedilatildeo
Assim mesmo apoacutes a publicaccedilatildeo de portaria substitutiva agrave Portaria 666 diversos
pontos ainda merecem uma anaacutelise mais aprofundada tendo em vista a abrangecircncia da
norma e tambeacutem dos termos utilizados Primeiramente eacute necessaacuterio observar que a Portaria
5 A Procuradoria Geral da Repuacuteblica ingressou com uma Arguiccedilatildeo de Descumprimento de Preceito Fundamental - ADPF 619 - no Supremo Tribunal Federal sob o argumento de violaccedilatildeo de princiacutepios constitucionais O grupo de trabalho da Defensoria Puacuteblica da Uniatildeo Migraccedilotildees Apatridia e Refuacutegio tambeacutem afirmou em uma nota teacutecnica que o texto viola o devido processo legal e a ampla defesa Cf tambeacutem GRECO 20195 6 A portaria 66619 previa inicialmente prazo de 48h para apresentaccedilatildeo de defesa destes casos e a portaria 77019 reviu esse prazo para ainda exiacuteguos 5 dias o que continua em descompasso com a previsatildeo legal e ameaccedila garantias processuais constitucionais legais como seraacute analisado neste trabalho6
84
tem a sua importacircncia pois regula o disposto no paraacutegrafo uacutenico do artigo 191 e no Art 207
do Decreto nordm 9199 de 20 de novembro de 2017 decreto esse que regulamenta a Lei
nordm13445 - a Nova Lei de Migraccedilotildees - portanto a funccedilatildeo da portaria era a de esclarecer o
que seria a reduccedilatildeo de prazos (sect 6ordm do Art 50 da Lei 134452017) nos casos em que a pessoa
tenha praticado ato contraacuterio aos princiacutepios e objetivos da Carta Magna aleacutem de esclarecer
o que o ldquoato contraacuterio aos princiacutepios e objetivos dispostos na Constituiccedilatildeo Federalrdquo (inciso
IX do Art 45 da Lei 134452017) abarca por tratar-se de termo demasiadamente amplo
Logo no Art 2ordm da Portaria 770 o texto informa a quais pessoas essa portaria afeta
teoricamente esclarecendo a abrangecircncia do termo ldquoato contraacuterio aos princiacutepios e objetivos
dispostos na Constituiccedilatildeo Federalrdquo incluindo envolvimento em terrorismo grupo criminoso
organizado traacutefico de drogas e pornografia ou exploraccedilatildeo sexual infantil Atos esses que na
maioria dos paiacuteses satildeo causa de impedimento de entrada do migrante no paiacutes Apesar disso
o maior problema encontra-se no paraacutegrafo primeiro do mesmo artigo em que as ldquorazotildees
seacuteriasrdquo previstas no caput satildeo explicitadas prevendo a investigaccedilatildeo criminal em curso e
informaccedilotildees de inteligecircncia proveniente de autoridade brasileira e estrangeira por exemplo
como justificativa para o impedimento de ingresso e para a deportaccedilatildeo Contrariando
previsatildeo constitucional que estabelece a necessidade de sentenccedila prevista no Artigo LXII da
Constituiccedilatildeo Federal
Outras questotildees ainda merecem anaacutelise como o prazo de apenas 5 (cinco) dias a partir
da notificaccedilatildeo para que a pessoa apresente defesa ou deixe o paiacutes previsto no Artigo 6ordm
estando em desacordo com a Carta Magna que estabelece a necessidade de de ampla defesa
e uma duraccedilatildeo razoaacutevel do processo incisos LV e LXXVIII do Artigo 5ordm respectivamente
bem como com a nova Lei de Migraccedilatildeo Aleacutem disso o sect1 do mesmo artigo ainda prevecirc que
todo o procedimento de deportaccedilatildeo pode ser instaurado e decidido pelo chefe da unidade
da Poliacutecia Federal abrindo brecha para uma possiacutevel accedilatildeo discricionaacuteria do mesmo jaacute que
todo o processo pode ser realizado pela mesma pessoa aleacutem de natildeo se tratar de um juiz de
direito
Conclui-se entatildeo que a portaria necessita de nova revisatildeo para que a Constituiccedilatildeo
Federal e os Tratados Internacionais ratificados pelo Brasil sejam respeitados garantindo ao
migrante a dignidade da pessoa humana o acesso agrave justiccedila o devido processo legal a duraccedilatildeo
razoaacutevel do processo e diversos outros direitos que devem ser garantidos a todo e qualquer
ser humano
85
REFEREcircNCIAS
GRECO Pedro Teixeira Pinos A ANAacuteLISE JURIacuteDICA DA PORTARIA Nordm 6662019 DO MINISTEacuteRIO DA JUSTICcedilA E SEGURANCcedilA PUacuteBLICA CONCEITOS ABERTOS GARANTIAS PROCESSUAIS DEPORTACcedilAtildeO SUMAacuteRIA E OS REFUGIADOS IAB - Instituto dos Advogados Brasileiros sd Disponiacutevel em httpsdigitaliabnacionalorgbrdiversosa-analise-juridica-da-portaria-no-666-2019-do-ministerio-da-justica-e-seguranca-publica-conceitos-abertos-garantias-processuais-deportacao-sumaria-e-os-refugiados Acesso em 02 nov 2019
LEITE Larissa O devido processo legal para o refuacutegio no Brasil Tese (Doutorado em Direito) ndash Faculdade de Direito Universidade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 2014
MIGALHAS Moro publica nova portaria para deportar pessoas perigosas 14 outubro 2019 Disponiacutevel em httpswwwmigalhascombrQuentes17MI31297761044-Moro+publica+nova+portaria+para+deportar+pessoas+perigosas Acesso em 19 out 2019
SILVA Joseacute Afonso da Curso de direito constitucional positivo 42 ed Editora Malheiros 2019
86
REFUGIADOS E ACESSO Agrave JUSTICcedilA OBSTAacuteCULOS PARA SUA EFETIVACcedilAtildeO
Larissa Borsato da Silva1
Selmara Aparecida Batista de Oliveira Silva2
Felipe Dutra Asensi3
Eixo temaacutetico GT1 Crise migratoacuteria e direitos humanos
Palavras-Chave acesso agrave justiccedila migraccedilatildeo refugiados obstaacuteculos
O presente ensaio tem como objetivo analisar o acesso agrave justiccedila direito fundamental
constitucionalmente previsto como forma de garantia da confirmaccedilatildeo dos direitos humanos
e os obstaacuteculos enfrentados pelos refugiados no Brasil
A crise migratoacuteria no mundo nos uacuteltimos anos vem crescendo substancialmente
havendo assim grande deslocamento de cidadatildeos de seus paiacuteses de origem para outros
paiacuteses em busca de um lugar melhor para se viver com dignidade e que se tenha os direitos
fundamentais e humanos respeitados
De acordo com dados do Alto Comissariado das Naccedilotildees Unidas para os Refugiados
(ACNUR) ao final de 2018 cerca de 708 milhotildees de pessoas foram forccediladas a deixar seus
locais de origem por diferentes tipos de conflitos Desses cerca de 259 milhotildees satildeo
refugiados e 35 milhotildees satildeo solicitantes de reconhecimento da condiccedilatildeo de refugiado
A Constituiccedilatildeo Federal Brasileira de 1988 consagrou no artigo 5ordm XXXV o direito
fundamental ao acesso agrave justiccedila que pode ser compreendido como sendo a ciecircncia e o
conhecimento do direito a busca pela efetivaccedilatildeo ou reparaccedilatildeo do direito a resoluccedilatildeo judicial
ou extrajudicial do conflito atraveacutes do acesso agrave pluralidade de mecanismos existentes na
sociedade para a resoluccedilatildeo dos litiacutegios e para a concretizaccedilatildeo dos direitos de forma justa
adequada e ceacutelere trazendo as respostas necessaacuterias e no momento necessaacuterio
Cappelletti e Garth (1988) em projeto acerca das experiecircncias de efetivaccedilatildeo do acesso
agrave justiccedila em diversos paiacuteses o chamado ldquoProjeto Florenccedilardquo traz as chamadas trecircs ondas de
acesso fatores que devem ser superados para que os direitos sejam garantidos A primeira
1 Mestranda em Direito na Universidade Catoacutelica de Petroacutepolis E-mail larissaborsatogmailcom Lattes httplattescnpqbr9984833665335523 2 Mestranda em Direito na Universidade Catoacutelica de Petroacutepolis E-mail Lattes httplattescnpqbr2732624937063165 2 3 Poacutes-Doutor em Direito pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro E-mail felipemdlyahoocombr Lattes httplattescnpqbr43321852189199253
87
onda diz respeito agrave assistecircncia judiciaacuteria agravequeles considerados hipossuficientes econocircmicos
por sua vez a segunda onda se refere agrave representaccedilatildeo dos interesses difusos em juiacutezo e a
terceira onda traz a necessidade de se buscar outras formas e procedimentos para a resoluccedilatildeo
dos conflitos sem que estes tenham que necessariamente serem avalizados pelo Poder
Judiciaacuterio aleacutem de trazer a busca da educaccedilatildeo para os direitos para que se tenha efetivo
acesso agrave justiccedila e um verdadeiro Estado Democraacutetico
Watanabe (2012 p 128) prefere utilizar a expressatildeo ldquoacesso agrave ordem juriacutedica justardquo
Isto porque ldquoa problemaacutetica do acesso agrave justiccedila natildeo pode ser estudada nos acanhados limites
do acesso aos oacutergatildeos judiciais jaacute que existentes Natildeo se trata apenas de possibilitar o acesso
agrave justiccedila enquanto instituiccedilatildeo estatal e sim de viabilizar o acesso agrave ordem juriacutedica justardquo com
a superaccedilatildeo de todos as barreias que impeccedilam o efetivo acesso agrave justiccedila em seus conceitos
mais amplos
A Lei 947497 trata a respeito dos refugiados e os definem como pessoas que por
fundados temores por motivo de raccedila religiatildeo grupo social ou opiniatildeo poliacutetica estatildeo fora de
seu paiacutes de origem natildeo podendo permanecer nele buscando abrigo em outro paiacutes (artigo 1ordm
I II e III da Lei 947497)
A Lei 134472017 intitulada Lei de Migraccedilotildees que serve como analogia para os
refugiados dispotildee acerca dos direitos e deveres do migrante considerando imigrante toda
pessoa nacional de outro paiacutes ou apaacutetrida que trabalha ou reside e se estabelece temporaacuteria
ou definitivamente no Brasil
Conforme o artigo 4ordm da referida Lei de Migraccedilotildees ao migrante eacute garantida no
territoacuterio nacional em condiccedilatildeo de igualdade com os nacionais a inviolabilidade do direito
agrave vida agrave liberdade agrave igualdade agrave seguranccedila e agrave propriedade bem como satildeo assegurados
amplo acesso agrave justiccedila
O que se observa da simples leitura da Lei 947497 e da Lei 134472017 eacute que a
efetividade e a observacircncia do direito fundamental ao acesso agrave justiccedila eacute condiccedilatildeo basilar para
que se respeite os direitos humanos desse cidadatildeo que chega a um paiacutes totalmente diferente
muita vezes como uacutenica alternativa de ter uma vida digna e caso natildeo lhe seja oportunizada
a informaccedilatildeo acerca dos seus direitos e deveres assim como as formas de concretizaccedilatildeo
desses direitos esse ser humano dificilmente conseguiraacute ter reconhecida a sua condiccedilatildeo de
refugiado jaacute que natildeo lhe seraacute facultado todas as formas e meios necessaacuterios
A efetivaccedilatildeo do acesso agrave justiccedila perpassa principalmente pelo encurtamento da
distacircncia entre o direito formalmente positivado e o direito capaz de sanar os anseios e a
busca de justiccedila em especial os refugiados que jaacute se encontram em posiccedilatildeo tatildeo fragilizada e
88
que buscam a confirmaccedilatildeo da sua condiccedilatildeo de refugiado no paiacutes Eacute preciso que se olhe para
essas pessoas com olhar acolhedor e humano
Identificar os principais entraves dos refugiados ao acesso aacute justiccedila eacute imprescindiacutevel
para que se possa buscar sanar os mesmos O Ministeacuterio da Justiccedila no ano de 2015
identificou que as principais barreiras encontradas na busca pela consumaccedilatildeo do acesso aos
direitos agrave justiccedila e aos serviccedilos puacuteblicos satildeo o idioma (1981) a ausecircncia de documentaccedilatildeo
(1698) a falta de informaccedilatildeo (1132) a falta de recursos financeiros (1132) e a
discriminaccedilatildeo (1038)
Diante da identificaccedilatildeo dos principais obstaacuteculos que dificultam o acesso agrave justiccedila e
aos direitos dessa parcela da populaccedilatildeo eacute preciso que se busque poliacuteticas puacuteblicas capazes
de superar tais oacutebices criando uma sociedade brasileira mais acolhedora e entendedora das
adversidades que esses indiviacuteduos enfrentam e de que forma se seraacute capaz de dar plena
eficaacutecia ao direito fundamental de acesso agrave justiccedila em seu conceito mais amplo sanando os
anseios sociais e dando as respostas necessaacuterias dentro do tempo esperado
Caso natildeo haja um olhar de fato diferenciado para essa parcela da populaccedilatildeo que vem
crescendo ao longo dos uacuteltimos anos as barreiras do idioma educacionais econocircmicas e
financeiras geograacuteficas e do desconhecimento dos ritos e tracircmites legais jamais conseguiratildeo
ser superadas e essas pessoas natildeo seratildeo capazes de buscarem uma vida digna e com pleno
respeito aos seus direitos humanos e fundamentais ficando assim agrave margem da sociedade
jaacute que para se encontrar em situaccedilatildeo migratoacuteria regular se faz necessaacuterio que essas pessoas
solicitem ao Estado Brasileiro seu reconhecimento oficial como refugiados e enquanto
aguardam a decisatildeo o solicitante de reconhecimento da condiccedilatildeo de refugiado se encontra
em situaccedilatildeo migratoacuteria regular em todo o territoacuterio nacional bem como possui protocolo
provando esta condiccedilatildeo e Documento Provisoacuterio de Registro Nacional Migratoacuterio Mas
como realizar todo o procedimento de solicitaccedilatildeo da condiccedilatildeo de refugiado se as barreiras
de acesso agrave justiccedila natildeo forem sanadas
Pode-se concluir assim que eacute um dos principais deveres do Estado a garantia e a
efetividade do acesso agrave justiccedila em seu sentido mais amplo cabendo ao mesmo buscar as
formas necessaacuterias para romper as barreias em especial a linguiacutestica e cultural para informar
os refugiados acerca dos seus direitos e deveres assim como servir de facilitador orientando
como busca-los e obtecirc-los A educaccedilatildeo e a informaccedilatildeo para o conhecimento dos direitos satildeo
fundamentais para que se efetive o acesso agrave justiccedila jaacute que a ignoracircncia juriacutedica marginaliza e
deixa cada vez mais grande parcela da sociedade agrave margem pois natildeo soacute natildeo se conhece os
seus direitos como tambeacutem natildeo sabe como e onde agir em caso de violaccedilatildeo
89
Natildeo basta simplesmente criar legislaccedilotildees que protejam os refugiados eacute preciso que
haja interesse do Estado para a promoccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas capazes de concretizarem de
forma de fato efetiva o acesso agrave justiccedila em seu conceito mais amplo desses indiviacuteduos que
se encontram na fraacutegil condiccedilatildeo humana de refugiados
REFEREcircNCIAS
AGEcircNCIA DA ONU PARA REFUGIAGOS Relatoacuterio Refuacutegio em Nuacutemeros
httpswwwacnurorgportuguesdados-sobre-refugiodados-sobre-refugio-no-brasil Acesso
em 29 de outubro de 2019
CAPPELLETTI Mauro GARTH Bryant Acesso agrave Justiccedila Porto Alegre Sergio Antonio
Fabris Editor 1988
MINISTEacuteRIO DA JUSTICcedilA Migrantes Apaacutetridas e Refugiados subsiacutedios para o aperfeiccediloamento de
acesso a serviccedilos direitos e poliacuteticas puacuteblicas no Brasil Seacuterie Pensando o Direito nordm 57 Brasiacutelia 2015
Disponiacutevel em httppensandomjgovbrpublicacoes Acesso em 29 de outubro de
2019
WATANABE Kazuo Acesso agrave justiccedila e meios consensuais de soluccedilatildeo de conflitos Rio de Janeiro
Editora FGV 2012
90
GT 2 ndash CIDADANIA E DIREITOS
HUMANOS DECLARACcedilAtildeO DE
DIREITOS DO HOMEM E DO
CIDADAtildeO (1789)
91
CIDADANIA E DIREITOS HUMANOS DECLARACcedilAtildeO DE DIREITOS DO HOMEM E DO CIDADAtildeO (1789)
Rodrigo Braga de Souza 1
Eixo temaacutetico GT 2 Cidadania e Direitos Humanos Declaraccedilatildeo de Direitos do Homem e do Cidadatildeo
(1789)
Palavras ndash Chave Direitos humanos cidadania desafios conquistas
O presente ensaio tem como objetivo analisar a conquista dos Direitos Humanos e
da Cidadania a partir da Declaraccedilatildeo de Direitos do Homem e do Cidadatildeo visando responder
as seguintes indagaccedilotildees Qual o contexto histoacuterico para se chegar agrave discussatildeo de se criar a
declaraccedilatildeo Qual objetivo e aplicabilidade da Declaraccedilatildeo Qual a representaccedilatildeo nos dias
atuais dos direitos humanos e da cidadania
Inicialmente podemos afirmar que direitos humanos consistem nas garantias
fundamentais para que todo ser humano possa viver com dignidade Satildeo conquistas
histoacutericas que refletem o ideal comum da sociedade humana e devem ser asseguradas pelo
Estado de Direito Jaacute a cidadania juridicamente afirma que cidadatildeo eacute o indiviacuteduo no gozo
dos direitos civis e poliacuteticos de um Estado Em um conceito mais amplo cidadania quer dizer
a qualidade de ser cidadatildeo e consequentemente sujeito de direitos e deveres
Verificamos que o sistema feudal vinha perdendo forccedila onde apenas aqueles que
tinham relaccedilotildees de parentesco recebiam privileacutegios Foi surgindo uma sociedade capitalista
onde o meio de produccedilatildeo organizava o meio social natildeo apenas relacionadas a revoltas
camponesas ou de vasalos contra o sistema feudal mas impulsionando uma nova forma de
forccedila social denominada burguesia onde pessoas livres independentes das relaccedilotildees feudais
possibilitou um profundo crescimento das cidades relacionadas as atividades econocircmicas
desenvolvidas levando em consideraccedilatildeo a atividades produtivas e comerciais
Nos seacuteculos XVII e XVIII a burguesia sofreu algumas mutaccedilotildees relevantes levando
em consideraccedilatildeo principalmente as atividades desenvolvidas por cada setor econocircmico
surgindo para alguns desse uma nova classe que hoje chamamos de classe meacutedia que ficava
entre a grande massa da populaccedilatildeo e a aristocracia Neste mesmo momento surge uma nova
sociedade erguida pelo renascimento da cultura religiatildeo e do absolutismo onde novas
descobertas eram feitas e a ampliaccedilatildeo do conhecimento cientiacutefico poreacutem fatores do velho
feudalismo ainda persistiam levando o atraso a vaacuterios paiacuteses mesmo com o capitalismo em
franco crescimento
Logo buscando se livrar desse atraso enraizado pelo feudalismo surgiu um
movimento na Franccedila intitulado de Revoluccedilatildeo Francesa onde aleacutem das inovaccedilotildees trazidas
1 Especialista em Direito Civil e Processo Civil Unesa 2012 Mestrando do PPGD UNESA Lattes lattescnpqbr9963331432527685
92
pela nova sociedade conceitos de direitos humanos eram discutidos preservando a relaccedilatildeo
humana
Um dos grandes benefiacutecios dessa revoluccedilatildeo foi a afirmaccedilatildeo das relaccedilotildees sociais
amparada pelo principio da igualdade entre os homens alinhando tambeacutem o discurso poliacutetico
e o desenvolvimento econocircmico capitalista surgindo as noccedilotildees de soberania popular de
Estado e de cidadania A importacircncia da Revoluccedilatildeo francesa remete ao fato de que seus ideais
norteadores expandiram-se por todo o mundo fazendo dela ldquoo modelo ideal para todos os
que combateram pela proacutepria emancipaccedilatildeo e pela libertaccedilatildeo do proacuteprio povordquo (BOBBIO
2004 p105)
Nessa mesma eacutepoca e aprofundada por um desejo de transformaccedilatildeo de sociedade
surgiram vaacuterias nuacutecleos de crescimento que no conjunto representavam essa nova fase O
surgimento de meacutetodos de loacutegica matemaacutetica fiacutesica pensamento iluminista levaram a
sociedade a pensar de uma forma racional
A burguesia soube utilizar bem os conceitos da filosofia com o intuito de avanccedilar
com a revoluccedilatildeo francesa buscando consequecircncias imediatas na poliacutetica e nessa busca
conseguiu criar um pensamento que o individuo poderia se sobrepor a qualquer organizaccedilatildeo
poliacutetica e social logo esse individuo era um sujeito que tinha seus direitos individuais
Os pensadores mais representativos dessa corrente foram Rousseau e Locke o
primeiro defendendo o princiacutepio de que a vontade geral do povo eacute a uacutenica fonte de
legitimidade dos governantes o segundo elaborando a imagem do estado de natureza
humano e assinalando a existecircncia de direitos inatos preexistentes a qualquer poder
(COMPARATO 1999 p131)
Foi no processo de total ruptura com o sistema feudal fortalecendo o capitalismo e
burguesia e durante a revoluccedilatildeo francesa que foi proclamada a Declaraccedilatildeo dos Direitos do
Homem e do Cidadatildeo em 1789 Esta declaraccedilatildeo se tornou a primeira com pretensotildees
universais onde o foco era o homem em sentido abstrato e natildeo apenas o povo Embora no
processo de independecircncia das colocircnias inglesas na Ameacuterica do Norte uma declaraccedilatildeo de
direitos tenha sido proclamada pouco mais de uma deacutecada antes da declaraccedilatildeo francesa eacute a
esta uacuteltima que diversos autores (BOBBIO 2004 TRINDADE 2002 FERREIRA FILHO
2000) conferem centralidade pois apesar de ambas serem orientadas pelas mesmas
perspectivas filosoacuteficas e almejarem fins semelhantes apenas a de 1789 potildee-se o imperativo
de expandir seus ideais para todos os cantos do mundo Como se trata aqui de demonstrar
como os direitos humanos se desenvolveram ateacute ganharem o palco internacional a anaacutelise
da Declaraccedilatildeo de 1789 mostra-se entatildeo mais ilustrativa
Os princiacutepios da declaraccedilatildeo representam o fim da sociedade feudal e sugere o fim
dessa sociedade para todo o mundo elevando a nova sociedade criada dando poderes
individuais e preservando a liberdade enfrentando de frente qualquer pode arbitraacuterio
Eacute preciso ter clareza dos limites dessa carta de direitos HOBSBAWN (2001 p77)
assinala que a Declaraccedilatildeo ldquoeacute um manifesto contra a sociedade hieraacuterquica de privileacutegios
nobres mas natildeo um manifesto a favor de uma sociedade democraacutetica e igualitaacuteriardquo Nesse
sentido cabe reconhecer que a igualdade invocada na Declaraccedilatildeo estaacute relacionada agrave igualdade
civil juriacutedica e natildeo social Ou seja trata-se do princiacutepio de que todo indiviacuteduo deve ser
tratado de modo igual perante a justiccedila e natildeo de que todo indiviacuteduo deva viver em iguais
condiccedilotildees sociais e econocircmicas Eacute importante notar que os artigos estatildeo sintonizados com
93
os interesses da burguesia o que explica o fato da defesa da liberdade e da propriedade
ocupar posiccedilatildeo central no documento e tambeacutem o caraacuteter eminentemente formal conferido
agrave igualdade
No que diz respeito agraves mudanccedilas poliacuteticas alicerccediladas pela Revoluccedilatildeo cabe
mencionar que a Declaraccedilatildeo estaacute pautada por uma concepccedilatildeo individualista de sociedade
segundo a qual ldquoo indiviacuteduo isolado independente de todos os outros embora juntamente
com todos os outros mas cada um por si eacute o fundamento da sociedade em oposiccedilatildeo agrave ideacuteia
que atravessou seacuteculos do homem como animal poliacutetico e como tal social desde as origensrdquo
(BOBBIO 2004 p104)
A emergecircncia dessa concepccedilatildeo individualista de sociedade que ganha substrato
poliacutetico e juriacutedico com a proclamaccedilatildeo de direitos humanos fundamentais significou a
derrocada da concepccedilatildeo orgacircnica tradicional de interpretaccedilatildeo da sociedade e da poliacutetica
segundo a qual a sociedade como um todo vem antes dos indiviacuteduos e proporcionou uma
ldquoinversatildeo de perspectivardquo (BOBBIO) nas relaccedilotildees poliacuteticas entre governantes e governados
de importacircncia insofismaacutevel para a constituiccedilatildeo do Estado Moderno de Direito
Nesse sentido a revoluccedilatildeo francesa pode ser vista como um evento poliacutetico
extraordinaacuterio que rompendo a continuidade do curso histoacuterico assinala o fim uacuteltimo de
uma eacutepoca e o princiacutepio de outra Naquele momento histoacuterico as teorias individualistas que
buscavam compreender a sociedade foram bem assimiladas pelos agentes da mudanccedila ndash
personificados na burguesia - o que permitiu que o indiviacuteduo fosse afirmado por seu valor
intriacutenseco que direitos do homem reorganizassem as relaccedilotildees sociais e poliacuteticas e que
surgissem as bases da democracia moderna
Eacute preciso compreender entretanto que a simples declaraccedilatildeo de direitos natildeo acarreta
a sua plena vigecircncia Cabe agrave lei estabelecer os limites do exerciacutecio das liberdades e poderes
proclamados Os princiacutepios da Declaraccedilatildeo de 1789 foram enunciados antes da redaccedilatildeo da
Constituiccedilatildeo Francesa que foi aprovada apenas em 1791 Nela a igualdade poliacutetica foi
rejeitada em nome do voto censitaacuterio o que tornou evidente que os propoacutesitos que
orientavam a revoluccedilatildeo estavam norteados para a destruiccedilatildeo do passado feudal e natildeo para a
construccedilatildeo de uma sociedade democraacutetica e igualitaacuteria
Trazendo para os dias atuais a preservaccedilatildeo dos direitos humanos recebeu uma
conotaccedilatildeo um pouco diferente das defendidas na Declaraccedilatildeo de 1789
Com o passar dos anos diversas discussotildees para se preservar os direitos humanos e
a cidadania foram travadas Alguns paiacuteses tiveram posiccedilatildeo de vanguarda com a preservaccedilatildeo
desses direitos poreacutem apenas em 1948 com a Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos Humanos
aprovada na ONU ( Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas) esses direitos individuais foram
garantidos pois a ONU agrega boa parte dos paiacuteses do mundo
As respostas para as perguntas formuladas no inicio do texto buscam explicar os reais
motivos de se discutir uma alteraccedilatildeo no regime de sociedade para se conquistar novas
perspectivas buscando um fortalecimento do individuo perante a sociedade Apoacutes essa
conquista se verificou de fato o surgimento de uma nova forma de se viver em sociedade
tendo direitos e deveres preservado seu direito individual Fica claro que esses direitos
individuais e a busca da igualdade jamais colocariam todos em uma situaccedilatildeo de igualdade
principalmente financeira poreacutem a garantia que seus direitos estariam preservados Nos dias
94
atuais o grande marco dessas garantias eacute a Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos Humanos da
ONU onde se busca expandir toda preservaccedilatildeo de direitos humanos e cidadania aos Estados
membros e natildeo membros da Organizaccedilatildeo
REFEREcircNCIAS
BOBBIO N A era dos direitos Satildeo Paulo Editora Campus 2004
COMPARATO F B Afirmaccedilatildeo histoacuterica dos direitos humanos Satildeo Paulo Saraiva
1999
FERREIRA FILHO MA Direitos humanos fundamentais 4 ed Satildeo Paulo Saraiva
2000
HOBSBAWN E A era das Revoluccedilotildees 15 ed Satildeo Paulo Paz e Terra 2001
TRINDADE JD de L Histoacuteria Social dos direitos humanos Satildeo Paulo Fundaccedilatildeo
Peiroacutepolis 2002
95
DIREITO Agrave INFORMACcedilAtildeO ANAacuteLISE DE UMA APLICACcedilAtildeO DA TRANSPAREcircNCIA ATIVA
Tatiana Trommer Barbosa1
Corintho Sampaio Lopes2
Vitoacuteria Soares Almeida3
Eixo temaacutetico GT 2 Cidadania e Direitos Humanos Declaraccedilatildeo de Direitos do Homem e do Cidadatildeo
(1789)
Palavras ndash Chave direito agrave informaccedilatildeo lei de acesso agrave informaccedilatildeo transparecircncia ativa
A presente pesquisa tem como objetivo avaliar o website da prefeitura de Satildeo
Gonccedilalo municiacutepio do estado do Rio de Janeiro para saber se a Lei ndeg125272011- Lei de
Acesso agrave Informaccedilatildeo (LAI) estaacute sendo cumprida integralmente tendo por base os criteacuterios
estabelecidos pela Controladoria-Geral Da Uniatildeo no documento intitulado Escala Brasil
Transparente para transparecircncia ativa
Antes de tudo valer lembra que o direito agrave informaccedilatildeo estaacute previsto na Declaraccedilatildeo
Universal dos Direitos Humanos (DUDH) e na Constituiccedilatildeo Federal de 1988
Declaraccedilatildeo Universal Dos Direitos Humanos
ldquoArtigo 19 Todo ser humano tem direito agrave liberdade de opiniatildeo e expressatildeo este
direito inclui a liberdade de sem interferecircncia ter opiniotildees e de procurar receber
e transmitir informaccedilotildees e ideacuteias por quaisquer meios e independentemente de
fronteirasrdquo
Constituiccedilatildeo Federal de 1988
ldquoArtigo 5ordm inciso XIV eacute assegurado a todos o acesso agrave informaccedilatildeo e resguardado
o sigilo da fonte quando necessaacuterio ao exerciacutecio profissionalrdquo
A Lei de Acesso agrave Informaccedilatildeo Puacuteblica foi um grande passo para o Brasil Considerada
avanccedilada na anaacutelise de oacutergatildeos internacionais como a UNESCO traz normas que com base
na transparecircncia de dados puacuteblicos engrandece o papel do cidadatildeo que se torna mais
participativo e aperfeiccediloa os instrumentos democraacuteticos para o combate agrave corrupccedilatildeo
1 Coordenadora e orientadora da pesquisa cientiacutefica Mestre em Direito pela Universidade Gama Filho Lattes httplattescnpqbr 2 Graduando em Direito na Unilasalle-RJ ndash Email lopescorinthogmailcom Lattes httplattescnpqbr 3 Graduanda em Biblioteconomia na UNIRIO ndash Email vitoacuteriaalmeidauniriobr Lattes httplattescnpqbr1696248513610080
96
De acordo com a Lei 1252711 sect 2ordm do artigo 8ordm sect 2deg ldquoPara cumprimento do disposto no caput os oacutergatildeos e entidades puacuteblicas deveratildeo utilizar todos os meios e instrumentos legiacutetimos de que dispuserem sendo obrigatoacuteria a divulgaccedilatildeo em siacutetios oficiais da rede mundial de computadores (internet)rdquo
Portanto eacute estabelecido que oacutergatildeos e entidades puacuteblicas tem a obrigaccedilatildeo de divulgar
por meio eletrocircnico as suas informaccedilotildees que sejam de interesse coletivo para fins de
transparecircncia da aplicaccedilatildeo dos recursos puacuteblicos
Resguardadas agraves exceccedilotildees18 ao Princiacutepio Constitucional da Publicidade19 e agraves
determinaccedilotildees da lei a chamada transparecircncia ativa eacute tatildeo importante quanto agrave atuaccedilatildeo de
fornecimento de informaccedilotildees de forma provocada pois quando a Administraccedilatildeo Puacuteblica
pratica a transparecircncia ativa20 estaacute disponibilizando dados de importacircncia geral e cumprindo
as suas obrigaccedilotildees impostas de forma proativa e espontacircnea
Dentre os mecanismos e criteacuterios gerais para a verificaccedilatildeo foram selecionados os
seguintes de acordo com a LAI e outras leis se existe Site Oficial (art 8ordm sect 2deg LAI) Portal da
Transparecircncia (Lei Complementar n 10100) se existe uma lista ou organograma das
secretarias mostrando a Estrutura Organizacional (art 8ordm sect1ordm da LAI) se existe
demonstrativo de receitas (art 48 inc II da Lei Complementar n 10100) Informaccedilotildees
sobre unidades administrativas (art 8deg sect 1deg inciso I da Lei ndeg 1252711) Despesas (Lei
Complementar ndeg 10100 art 48-A inciso I) e as informaccedilotildees imprescindiacuteveis de Licitaccedilatildeo
(como nuacutemeroano do edital modalidade etc) exigecircncia da Lei ndeg 1252711 art 8deg sect 1deg
inciso IV
Para a anaacutelise seratildeo adotados os criteacuterios se existe a informaccedilatildeo sua periodicidade
o formato do arquivo disponiacutevel a qualidade e se as informaccedilotildees estatildeo completas
classificando-as em satisfatoacuterias ou incompletas
REFEREcircNCIAS
BRASIL Constituiccedilatildeo (1988) Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia DF
05 out 1988 Disponiacutevel em
18 Exemplos Art 5deg incisos XXXIII e LX da CF88 19 Art 37 caput da CF88 20 Disponiacutevel em httpswwwpolitizecombrtransparencia-municipal-ativa-passiva
97
httpwwwplanaltogovbrccivil_03ConstituicaoConstituicaohtm Acesso em
26102019
Site Unidos Pelos Direitos Humanos Disponiacutevel em
httpswwwunidosparaosdireitoshumanoscomptcourselessonarticles-26-30read-
article-26html Acesso em 26102019
Site do Governo Federal Disponiacutevel em
httpwwwacessoainformacaogovbrcentraldeconteudopublicacoesarquivoscartilhaa
cessoainformaca o-1pdf Acesso em 03112019
BRASIL Controladoria-Geral da Uniatildeo - CGU Secretaria de Transparecircncia e Prevenccedilatildeo da
Corrupccedilatildeo Escala Brasil Transparente 360ordm Metodologia e Criteacuterios de Avaliaccedilatildeo EBT
360deg 1ordf ediccedilatildeo Brasiacutelia 2019
ARAUacuteJO Luiacutes Paulo Maia de MARQUES Rodrigo Moreno Uma anaacutelise da
transparecircncia ativa nos sites ministeriais do Poder Executivo Federal brasileiro
Monografia da Universidade FUMEC Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Sistemas de
Informaccedilatildeo e Gestatildeo do Conhecimento Belo Horizonte (MG) 2019
BRASIL Controladoria-Geral da Uniatildeo - CGU Acesso agrave Informaccedilatildeo Puacuteblica Uma
introduccedilatildeo agrave Lei 12527 de 18 de novembro de 2011 Impressa pela Imprensa Nacional
Brasiacutelia 2011
BRASIL Controladoria-Geral da Uniatildeo - CGU Secretaria de Prevenccedilatildeo da Corrupccedilatildeo e
Informaccedilotildees Estrateacutegicas Manual da Lei de Acesso agrave Informaccedilatildeo para Estados e
Municiacutepios 1ordf ediccedilatildeo Brasiacutelia2013
Site Politize Disponiacutevel em httpswwwpolitizecombrtransparencia-municipal-ativa-
passiva Acesso em 03112019
98
IMPACTOS DA POacuteS-VERDADE E A DESVALORIZACcedilAtildeO DOS DIREITOS HUMANOS
Henrique Pacheco Araujo
Seacutergio Antocircnio Cacircmara
Eixo temaacutetico GT 2 Cidadania e Direitos Humanos Declaraccedilatildeo de Direitos do Homem e do Cidadatildeo
(1789)
Palavras Chave Poacutes-verdade - Direitos Humanos - Necessidades Sociais
RESUMO
Este ensaio tem o intuito de analisar o movimento crescente na contemporaneidade
quanto aos questionamentos insurgentes sobre a temaacutetica dos Direitos Humanos e seus
efeitos sobre uma oacutetica da presenccedila iminente da Poacutes-verdade e seus impactos na sociedade
Mormente eacute importante notarmos que a Poacutes-verdade palavra que foi eleita como
palavra do ano pelo dicionaacuterio de Oxford em 2016 estaacute em expansatildeo exponencial na nossa
sociedade atual cada vez mais presente e impactando em nossas vidas diretamente
Um dos grandes cientistas poliacuteticos do nosso Mundo contemporacircneo Michel
Foucault discursa sobre a temaacutetica da forccedila da linguiacutestica e os impactos quanto ao poder
exercido da mesma sobre a sociedade diz
ldquoSuponho que em toda sociedade a produccedilatildeo do discurso eacute ao mesmo tempo
controlada selecionada organizada e redistribuiacuteda por certo nuacutemero de procedimentos que
tecircm por funccedilatildeo conjurar seus poderes e perigos dominar seu acontecimento aleatoacuterio
esquivar sua pesada e temiacutevel materialidaderdquo (FOUCALT M 1996 p 8)
Nessa vertente a poacutes-verdade viceja oportunamente tendo como amparo a
fragilidade do ser humano frente ao medo e suas necessidades de pertencimento de grupo
como jaacute dizia o Abraham Maslow em seu conceito das hierarquias de necessidades
(MASLOW A 1943)
A teoria de Maslow propotildee que os fatores de satisfaccedilatildeo e necessidade do ser humano
dividem-se em cinco niacuteveis dispostos em forma de piracircmide A base da piracircmide compreende
as necessidades de niacutevel baixo que satildeo as necessidades fisioloacutegicas e de seguranccedila o topo da
piracircmide eacute constituiacutedo pelas necessidades de niacutevel alto representantes da busca pela
individualizaccedilatildeo do ser satildeo as necessidades sociais de estima e de auto-realizaccedilatildeo Agrave medida
99
que um niacutevel de necessidade eacute atendido o proacuteximo torna-se dominante Robbins
(ROBBINS S 2002) define cada um dos niacuteveis de necessidade da seguinte forma
Fisioloacutegicas incluem fome sede abrigo sexo e outras necessidades corporais Seguranccedila
inclui seguranccedila e proteccedilatildeo contra danos fiacutesicos e emocionais Sociais Incluem afeiccedilatildeo
aceitaccedilatildeo amizade e sensaccedilatildeo de pertencer a um grupo Estima Inclui fatores internos de
estima como respeito proacuteprio realizaccedilatildeo e autonomia e fatores externos de estima como
status reconhecimento e atenccedilatildeo Auto-realizaccedilatildeo a intenccedilatildeo de tornar-se tudo aquilo que a
pessoa eacute capaz de ser inclui crescimento autodesenvolvimento e alcance do proacuteprio
potencial
Sendo assim a poacutes-verdade atinge diversas camadas da sociedade chegando aos
efeitos no ordenamento juriacutedico o jurista Pontes de Miranda ao firmar o conceito do que
chamamos de ldquoEscada Ponteanardquo em que fala a respeito dos Efeitos como a ponta do
ordenamento juriacutedico ou seja a extremidade em que se atinge a sociedade os impactos na
sociedade (PONTES DE MIRANDA FC 2012 p66) E eacute nos efeitos que a poacutes-verdade
se faz presente potencializa e causa problemas agrave medida que desvaloriza algumas vertentes
base para o ordenamento juriacutedico
Ao exemplo do movimento preocupante da anti-vacina que se faz presente na nossa
realidade contemporacircnea em todo o Mundo como demonstram os dados organizados pela
OMS - Organizaccedilatildeo Mundial da Sauacutede - que incluiu nesse ano de 2019 o combate a relutacircncia
na vacinaccedilatildeo em seu relatoacuterio Nessa mesma linha tendo como motivador a poacutes-verdade a
desvalorizaccedilatildeo dos direitos humanos tambeacutem se faz presente e jaacute causa estragos ao passo
quando o assunto eacute desvalorizaccedilatildeo das conquistas de suma importacircncia para a realidade
cotidiana coletiva
ldquoOs direitos humanos como conjunto de valores histoacutericos baacutesicos e fundamentais que
dizem respeito agrave vida digna juriacutedico-poliacutetico-psiacutequico-econocircmico-fiacutesica e afetiva dos seres e
de seu habitat tanto daqueles do presente quanto daqueles porvir surgem sempre como
condiccedilatildeo fundamental da vida impondo aos agentes poliacuteticos-juriacutedicos-sociais a tarefa de
agirem no sentido de permitir que a todos seja consignada a possibilidade de usufruiacute-los em
benefiacutecio proacuteprio e comum ao mesmo tempo Assim como os direitos humanos se dirigem
a todos o compromisso de sua concretizaccedilatildeo caracteriza tarefa de todos em um
comprometimento comum com a dignidade comum (MORAIS 2002 p 64)
Portanto defender os Direitos Humanos nada mais eacute do que defender o
ordenamento juriacutedico ou seja o Direito em sua essecircncia mais pura E encerramos com a
frase de Hannah Arendt ldquoA essecircncia dos Direitos Humanos eacute o direito a ter direitosrdquo (SNordm)
100
REFEREcircNCIAS FOUCAULT Michel A ordem do discurso aula inaugural no Collegravege de France pronunciada em 2 de dezembro de 1970 Traduccedilatildeo de Laura Fraga de Almeida Sampaio Satildeo Paulo Ediccedilotildees Loyola 2012 MASLOW A H A Theory of Human Motivation 1943 Disponiacutevel httppsychclassicsyorkucaMaslowmotivationhtm Acesso em 01 de novembro de 2019 ROBBINS S Comportamento organizacional Satildeo Paulo Prentice Hall 2002 PONTES DE MIRANDA Francisco Cavalcanti Tratado de direito privado 4 ed Satildeo Paulo RT 2012 t IV MORAIS Joseacute Luis Bolzan de As crises do Estado e da Constituiccedilatildeo e a transformaccedilatildeo espacial dos Direitos Humanos 1 ed Porto Alegre Livraria do Advogado 2002 Dez ameaccedilas agrave sauacutede que a OMS combateraacute em 2019 Naccedilotildees Unidas Brasil Brasiacutelia-DF 16 de janeiro de 2019 Disponiacutevel em lthttpswwwpahoorgbraindexphpoption=com_contentampview=articleampid=5848dez-ameacas-a-saude-que-a-oms-combatera-em-2019ampItemid=875gt Acesso em 01 de novembro de 2019
101
DIREITOS HUMANOS NO PRESIacuteDIO DE GUANTAacuteNAMO
Seacutergio Antocircnio Cacircmara1
Laiacutes Carvalho de Amaral2
Eixo temaacutetico GT 2 Cidadania e Direitos Humanos Declaraccedilatildeo de Direitos do Homem e do Cidadatildeo
(1789)
Palavras ndash Chave Cidadania Guantaacutenamo Direitos Humanos
O ensaio tem objetivo de analisar o presiacutedio Guantaacutenamo discutindo sua
existecircncia no Estado Democraacutetico de Direito Norte-Americano e o conceito de cidadania
e direitos humanos no acircmbito global
Usando o meacutetodo de investigaccedilatildeo fundamentalmente os textos de Giorgio
Agamben Marshall e Piovesan natildeo os restringindo a determinada aacuterea de conhecimento
mas aproximando seus conceitos e argumentos A bibliografia que seraacute empregada eacute
direcionada aos conceitos relacionados ao estado de exceccedilatildeo e aos direitos inerentes do
homem como cidadatildeo
Nesta perspectiva eacute necessaacuteria agrave compreensatildeo de forma analiacutetica da proclamaccedilatildeo
americana da chamada ldquoguerra contra o terrorrdquo que originou as diversas medidas e
dispositivos de seguranccedila realizados pelo governo Norte-Americano apoacutes o atentado 11
de setembro O governo Bush cria o presidio de Guantaacutenamo uma prisatildeo fora dos
paracircmetros legais divergente das normais constitucionais um presidio onde os direitos
humanos e os tratados internacionais natildeo possui nenhuma vigecircncia Maquiavel neste
sentido ressalta que
Deveis portanto saber que haacute dois meios de combate um com as leis outro com a forccedila o primeiro eacute proacuteprio do homem o segundo das bestas mas como o primeiro muitas vezes natildeo basta conveacutem recorrer ao segundo Portanto a um priacutencipe eacute necessaacuterio saber usar bem a besta e o homem(MAQUIAVEL2011)
No combate ao terrorismo agrave ilegalidade encontrou ldquojustificativardquo como evidecircncia
Agamben (2004) a necessidade natildeo tem lei a necessidade torna licito o que eacute iliacutecito e
encontra justificativas para violaccedilotildees atraveacutes de uma exceccedilatildeo
1 Professor adjunto do Centro Universitaacuterio La Salle do Rio de Janeiro Doutorado em Histoacuteria Social da Cultura pela Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica do Rio de Janeiro Lattes httplattescnpqbr0441928814304615 2 Graduanda em Direito na Unilasalle-RJ ndash E-mail laiscarvamaraloutlookcom Lattes httplattescnpqbr6962553010843172
102
Desde janeiro de 2002 775 pessoas permanecem presas em Guantaacutenamo sem
terem o direito ao devido processo legal mesmo sem acusaccedilotildees formais continuam presas
em condiccedilotildees crueacuteis e desumanas3 Diante das violaccedilotildees de diversos direitos denuacutencias e
campanhas internacionais tem sido realizada em todo mundo requerendo com urgecircncia o
fechamento de Guantaacutenamo e o termino do encarceramento vitaliacutecio das torturas e dos
maus tratos
Eacute importante ressaltar que esses 775 presos em 2002 pertencem a paiacuteses como
Zacircmbia Afeganistatildeo Egito Emirados Aacuterabes Unidos Gacircmbia Indoneacutesia Mauritacircnia
Paquistatildeo e Tailacircndia todos os cidadatildeos dos seus respectivos paiacuteses cabendo salientar que
estes Estados dispotildeem de carateriacutestica de cunho autoritarista ditatorial e nesses governos
natildeo haacute o cuidado na observacircncia dos direitos humanos
Os EUA Estado democraacutetico de Direito que historicamente sempre se opocircs ha
Estados ilegais legalizou a ilegalidade em Guantaacutenamo Todavia entendemos esses sujeitos
chamados terroristas como cidadatildeo de direitos e deveres somente em sua naccedilatildeo Ou esse
sujeito eacute cidadatildeo de direitos e deveres no acircmbito global
Na concepccedilatildeo Marshall para o individuo obter o status de cidadatildeo ele deveria ser
considerado membro integral de uma comunidade O autor ressalta que
A cidadania eacute um status concedido agravequeles que satildeo membros integrais de uma comunidade Todos agravequeles que possuem o status satildeo iguais com respeito aos direitos e obrigaccedilotildees pertinentes ao status Natildeo haacute nenhum princiacutepio universal que determine o que estes direitos e obrigaccedilotildees seratildeo mas as sociedades nas quais a cidadania eacute uma instituiccedilatildeo em desenvolvimento criam uma imagem de uma cidadania ideal em relaccedilatildeo agrave qual o sucesso pode ser medido e em relaccedilatildeo a qual a aspiraccedilatildeo pode ser dirigida A insistecircncia em seguir o caminho assim determinado equivale a uma insistecircncia por uma medida efetiva de igualdade um enriquecimento da mateacuteria-prima do status e um aumento no nuacutemero daqueles a quem eacute conferido o status (MARSHALL 1967)
Para Marshall cidadatildeo eacute aquele que pertence ou estaacute associado voluntariamente agrave
determinada coletividade poreacutem a cidadania natildeo estaacute limitada ao pertencimento
nacionalista com o advento dos direitos fundamentais no Estado Democraacutetico de direito
a cidadania passa a abrigar a todos independentemente de serem nacionais ou natildeo
Neste sentido a declaraccedilatildeo universal dos direitos humanos eacute caraterizada pela
universalidade e invisibilidade dos direitos civis poliacuteticos sociais e culturais quando um
3 Disponiacutevel emlt httpswwwhrworg gt Acesso em 260919 Disponiacutevel emlt httpswwwamnestyorgen gtAcesso em 260919
103
desses direitos eacute abolido os outros tambeacutem o satildeo (PIOVESAN 2000) Com adesatildeo de
diversos tratados internacionais direcionados para a proteccedilatildeo dos direitos fundamentais eacute
estabelecida uma proteccedilatildeo aos direitos natildeo somente dentro do proacuteprio Estado mais uma
proteccedilatildeo externa (Estados Estrangeiros)
Logo a presente pesquisa objetiva compreender a criaccedilatildeo da prisatildeo na baiacutea de
Guantaacutenamo por um Estado democraacutetico de direito percebendo os prisioneiros de
Guantaacutenamo como cidadatildeos de direitos civis poliacuteticos e sociais possuidores dos direitos
humanos globais
REFEREcircNCIAS AGAMBEN Giorgio Estado de Exceccedilatildeo Satildeo Paulo Editorial Boitempo 2004 MAQUIAVEL Nicolau O Priacutencipe Volume 1 1ordf ediccedilatildeo Satildeo Paulo Hunter books editora 2011 p57 MARSHALL Thomas H Cidadania classe social e status Traduccedilatildeo de Meton Porto Gadelha Rio de Janeiro Zahar 1967 p 76 PIOVESAN Flaacutevia Direitos Humanos Globais Justiccedila Internacional e o Brasil In Revista Fundaccedilatildeo Escola Superior do Ministeacuterio Puacuteblico do Distrito Federal Brasiacutelia Ano 8 V 15 janjun 2000 Disponiacutevel em httpswwwhrworg Acesso em 260919 Disponiacutevel em httpswwwamnestyorgen Acesso em 260919
104
O PODER MODERADOR NA REPUacuteBLICA PRESIDENCIAL ANTE-PROJETO DA CONSTITUINTE DE 1933 DE BORGES DE MEDEIROS
Rodrigo Alexandre Vilela Teodoro
Thiago Britto Mota
Eixo temaacutetico GT 2 Cidadania e Direitos Humanos Declaraccedilatildeo de Direitos do Homem e do Cidadatildeo
(1789)
Palavras-Chave poder moderador repuacuteblica constituinte e Borges de Medeiros
Trata-se o presente resumo de uma anaacutelise do ante-projeto de Constituiccedilatildeo Federal
proposta por Borges de Medeiros na qual abordamos a questatildeo da forma federativa implantada com
inspiraccedilatildeo na federaccedilatildeo americana a centralizaccedilatildeo praticada no Brasil e principalmente a proposta
de reinserccedilatildeo do Poder Moderador na Constituiccedilatildeo Federal de 1934
A federaccedilatildeo eacute uma forma de organizaccedilatildeo do Estado onde haacute mais de uma esfera de poder
os entes poliacuteticos que possuem autonomia Borges de Medeiros (MEDEIROS 1933 p 40) afirma
que este modelo Estatal eacute fruto da ldquoevoluccedilatildeo poliacuteticardquo O federalismo brasileiro foi inspirado nos
moldes americano todavia natildeo alcanccedilou a mesma perfeiccedilatildeo
Borges de Medeiros afirma que a intervenccedilatildeo federal eacute um meio poderoso de destruir o
federalismo pois estabelece uma ditadura presidencial como por exemplo com o poder de prender
e expulsar pessoas sem intervenccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio
Cabe ressaltar que nos Estados Unidos o elemento de centralizaccedilatildeo eacute a Justiccedila
Constitucional ndash atraveacutes dos juiacutezes - e na Ameacuterica Latina ao contraacuterio eacute no presidente da Repuacuteblica
Sendo esta centralizaccedilatildeo a diferenccedila entre o federalismo Norte Americano e o latino
O Brasil viveu uma experiecircncia centralizadora durante o primeiro e segundo reinado
mesmo tendo as provinciais locais todavia devido a uma cultura conservadora foram sufocadas e
os pro-consules lhe impunha o governo imperial
Segundo (MEDEIROS 1933 P 43) ldquoNa constancia desse regime era rudimentar a accedilatildeo
democraacutetica viciosa a educaccedilatildeo poliacutetica precaacuteria a instruccedilatildeo ciacutevicardquo Devido agrave falta da educaccedilatildeo
poliacutetica e opiniatildeo puacuteblica os povos latinos natildeo compreenderatildeo o federalismo
Cabe ressaltar que as presidecircncias civis ateacute o ano de 1910 favorecem a expansatildeo do
federalismo pois a Constituiccedilatildeo estava sendo cumprida Todavia no fim daquele ano recomeccedilavam
sup1Mestre em Ciecircncias Ambientais Especialista em Direito Processual Civil e Direito Notarial e Registral mestrando
na PPGD da Universidade Catoacutelica de Petroacutepolis ndash E-mail ravteodorogmailcom Lattes
httplattescnpqbr8379278418167438
sup2Especialista em Direito Eleitoral mestrando na PPGD da Universidade Catoacutelica de Petroacutepolis ndash E-mail
thiagomotaadvocaciagmailcom Lattes httplattescnpqbr9690623243592820
105
as ameaccedilas de subversatildeo com a presidecircncia militar na qual utilizavam da intervenccedilatildeo legal prevista
no artigo 6deg da Constituiccedilatildeo Federal de 1891
Borges de Medeiros (MEDEIROS 1933 p 46) destaca que a intervenccedilatildeo legal constitui
uma ameaccedila a autonomia dos Estados Vale lembrar que os Estados nem mesmo podiam buscar
apoio no Poder Judiciaacuterio posto que o artigo 60 paraacutegrafo 5deg da Constituiccedilatildeo de 1891 vetava a sua
atuaccedilatildeo
Na qual Borges de Medeiros critica veementemente a falta de teacutecnica do federalismo
brasileiro principalmente em relaccedilatildeo agrave intervenccedilatildeo federal e defende um fortalecimento do Poder
Judiciaacuterio em face da onipotecircncia presidencial
Segundo (MEDEIROS 1933 p 58) ldquoAs Constituiccedilotildees da America Latina contecircm assim a
claacuteusula da ditadura legal O presidente eacute um soberano seu poder eacute absolutordquo Ou seja o sistema de
freios e contrapesos era ineficiente e favorecia a um regime unipessoal e ditatorial Nesse contexto a
independecircncia dos poderes trata-se de mera ficccedilatildeo
Devido a este contexto Borges de Medeiros propotildee na sua obra um novo modelo de
presidencialismo equumlidistante do puro e do sistema parlamentar Entatildeo o presidente tem a
atribuiccedilatildeo de presidir a repuacuteblica como seu primeiro magistrado e natildeo como um chefe poliacutetico
Equidistante do ambiente poliacutetico e livre de interesse e paixotildees poliacuteticas atuando como um
verdadeiro magistrado
Cabe ressaltar que o Poder Moderador eacute uma novidade na Repuacuteblica todavia jaacute foi
realidade no impeacuterio na figura do imperador e constava expressamente na Constituiccedilatildeo de 1824 em
seu artigo 98
A claacutessica divisatildeo de poderes na qual Aristoacuteteles concebeu a divisatildeo do poder em
legislativo executivo e judiciaacuterio disseminado por outros autores tais como Locke e Montesquieu
foi consagrada em diversas Constituiccedilotildees do seacuteculo XIX Todavia este sistema eacute ameaccedilado se natildeo
houve equiliacutebrio entre eles conforme liccedilotildees de Braz Florentino Henriques em sua obra Do Poder
Moderador de 1864 (apud MEDEIROS 1933 p 69)
Sendo que segundo este autor a divisatildeo claacutessica de poder eacute insuficiente para proteger a
liberdade em face da injusta opressatildeo Na qual para que haja a regular harmonia entre os poderes faz
necessaacuterio um centro de accedilatildeo reguladora ou seja um grande mediador neutro com o escopo de
prevenir choques ou que extrapolem os limites estabelecidos Conforme Benjamim Constant um
aacuterbitro para que os poderes sociais estejam unidos e marchem harmonicamente
106
Na qual cabe ao Poder Moderador este papel sendo o grande centro de unidade
um meio externo aos outros poderes com o escopo de manter a independecircncia o equiliacutebrio e a
harmonia entre eles
Conforme o idealizador deste poder ndash Benjamin Constant ndash este quarto poder seria
exercido na pessoa do Rei dentro de uma monarquia constitucional Jaacute o ante-projeto de autoria de
Borges de Medeiros idealizou a sua implantaccedilatildeo dentro do sistema republicano na pessoa do
presidente
Cabe a este magistrado da naccedilatildeo corrigir os desvios moderar os excessos e conter
os demais poderes no limite imposto pela lei na qual deve zelar constantemente para o
funcionamento harmocircnico e independente dos demais poderes
No acircmbito legislativo cabe ao poder moderador por exemplo o veto a projetos de
lei ndash inconstitucionais ou contraacuterios aos interesses da naccedilatildeo - corrigir as falhas que houver propor
projetos de lei e convocar sessotildees extraordinaacuterias no interesse puacuteblico
Jaacute com o poder executivo por exemplo cabe nomear e demitir ministros aprovar
ou rejeitar os decretos regulamentos e instruccedilotildees Quanto ao Poder Judiciaacuterio nomear os
magistrados federais conceder indulto e comutas as penas
Em relaccedilatildeo agrave intervenccedilatildeo federal nos Estados nos limites constitucionais com
objetivo de restabelecer e manter o equiliacutebrio constitucional da Federaccedilatildeo resguardando sua unidade
e autonomia
Borges de Medeiros em seu ante-projeto da constituinte de 1933 estabeleceu que
este presidente ndash o magistrado da naccedilatildeo ndash somente teria legitimidade se fosse eleito pelo povo
atraveacutes de eleiccedilotildees diretas para que sua origem seja democraacutetica com direito agrave reeleiccedilatildeo
Com este ante-projeto o poder executivo sem duacutevida teraacute suas vigas mestres mais
afetadas posto que compete a este poder a funccedilatildeo de governo gestatildeo estatal que na triparticcedilatildeo
claacutessica ficava a cargo do presidente poreacutem na esfera quatripartite o Poder Executivo competiria a
uma entidade coletiva ou seja um conselho de ministros ou ministeacuterio
Segundo (MEDEIROS 1933 p 79)
ldquoExercendo o presidente o poder moderador poder neutral mediador estaacute visto que natildeo mais deveraacute chefiar o executivo que eacute um dos poderes sujeitos a vigilacircncia daquele Si fora permitida a acumulaccedilatildeo estaria ipso facto violada a neutralidade do presidente e comprometida irremediavelmente agrave virtualidade e a accedilatildeo do poder moderador Natildeo sendo isso possiacutevel
107
forccediloso se torna que o executivo seja delegado a uma entidade coletiva denominada conselho de ministros ou simplesmente ministeacuteriordquo
Assim o poder executivo seraacute exercido por este conselho de ministros ou
ministeacuterio cumprindo as funccedilotildees tiacutepicas deste poder Sendo o presidente que escolheraacute os ministros
todavia a efetivaccedilatildeo destes ministros depende do voto da assembleia
Segundo (MEDEIROS 1933 p 82) ldquoa consulta aos representantes populares seraacute
uma condiccedilatildeo primaria de unidade poliacutetica e de equiliacutebrio no funcionamento dos poderes
constitucionaisrdquo
4 ndash Conclusatildeo
Assim o ante-projeto teve consideraacutevel repercussatildeo na Constituinte de 1933 e
tendo o Poder Moderador na Repuacuteblica certa originalidade posto que o seu idealizador ndash Benjamim
Constant ndash projetou sua repercussatildeo no acircmbito da monarquia natildeo foi acolhido na Constituiccedilatildeo
Federal de 1934 Todavia nos remete a uma reflexatildeo criacutetica sobre a instauraccedilatildeo de um poder neutro
com o escopo de garantir agrave estabilidade das instituiccedilotildees democraacuteticas
Referecircncias
BRASIL CONSTITUICcedilAtildeO POLITICA DO IMPERIO DO BRAZIL Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbrccivil_03constituicaoconstituicao24htmgt Acesso em 25 de outubro de 2019
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CONSTANT Benjamim Princiacutepios poliacuteticos constitucionais princiacutepios poliacuteticos aplicaacuteveis a todos os governos representativos e particularmente agrave constituiccedilatildeo atual da Franccedila (1814) Organizaccedilatildeo e prefaacutecio de Aureacutelio Wander Bastos Introduccedilatildeo de Joseacute Ribas Traduccedilatildeo de Maria do Ceacuteu Carvalho Rio de Janeiro Liber Juris 1989
LYNCH Christian Edward Cyril O Poder Moderador na Constituiccedilatildeo de 1824 e no anteprojeto Borges de Medeiros de 1933 um estudo de direito comparado Brasiacutelia a 47 n 188 outdez 2010
MEDEIROS Borges de O Poder Moderador na Repuacuteblica Presidencial Coleccedilatildeo Histoacuteria Constitucional Brasileira Senado Federal 2004
RODRIGUEZ Ricardo Veacutelez Castilhismo Uma filosofia da Repuacuteblica Londrina 2015
108
EVOLUCcedilAtildeO HISTOacuteRICA DO ESTADO DE BEM ESTAR SOCIAL E ATUAIS REFORMAS LEGISLATIVAS NO PLANO DA SEGURIDADE SOCIAL
Alan da Costa Macedo1
Eixo temaacutetico GT 2 Cidadania e Direitos Humanos Declaraccedilatildeo de Direitos do Homem e do Cidadatildeo
(1789)
Palavras-Chave Estado de Bem Estar Social Seguridade Social Reformas Legislativas Crise do Estado de Providecircncia
A Seguridade Social pode ser concebida como um instrumento do Estado destinado
a cuidar das necessidades sociais individuais e coletivas atraveacutes de accedilotildees preventivas ou
reparadoras Eacute contemplada como elemento essencial nos Estados de Bem Estar Social e
tem suas coberturas ampliadas ou reduzidas conforme a remodelaccedilatildeo daqueles Estados sob
perspectivas poliacuteticas de maior ou menor intervenccedilatildeo do Estado nas questotildees de natureza
social
Aleacutem de ser garantida pela Constituiccedilatildeo Federal de 1988 a Seguridade social tambeacutem
eacute prevista pelos documentos internacionais que tratam dos direitos humanos Tanto a
Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos Humanos de 1948 quanto o Pacto Internacional de
Direitos Econocircmicos Sociais e Culturais de 1966 trazem em seus textos dispositivos que
declaram expressamente o direito de todo indiviacuteduo agrave seguranccedila social
O presente ensaio tem como objetivo entatildeo analisar de forma ldquorecortadardquo a
evoluccedilatildeo histoacuterica do Estado de Bem Estar Social cotejando-se o contexto do Brasil no
mundo levantando-se a tese de que este pode ser um meacutetodo adequado para introduzir de
forma coesa e coerente diversos objetos de pesquisa ligados aos Direitos da Seguridade Social
no contexto dos direitos humanos previstos na Declaraccedilatildeo de Direitos do Homem e do
cidadatildeo
As dificuldades encontradas por pesquisadores ao tentar captar a essecircncia de certos
fenocircmenos de organizaccedilatildeo poliacutetico-econocircmica dos Estados ou os obstaacuteculos enfrentados
pelos governos para tentar implantar processos de mudanccedilas indicam a necessidade de se
entender o contexto mundial a partir de grandes fenocircmenos globais e tentar nesse sentido
buscar informaccedilotildees coerentes sobre as suas origens
1 Mestrando em Direito na Universidade Catoacutelica de Petroacutepolis-RJ Bacharel em Direito pela UFJF Poacutes Graduado em Direito Constitucional ndash Complexo Educacional Damaacutesio de Jesus Poacutes Graduado em Direito Penal- FIJ-RJ Poacutes Graduado em Direito Processual- UFJF Coordenador Geral Cientiacutefico do IPEDIS Lattes httplattescnpqbr0949039778117306
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Assim eacute interessante pontuar que o sistema de proteccedilatildeo social construiacutedo
principalmente a partir das uacuteltimas deacutecadas do seacuteculo XIX decorreu guardadas as devidas
diferenccedilas econocircmico-culturais de cada naccedilatildeo de alguns padrotildees comuns identificados agrave luz
de um vieacutes temporalmente dominante de promoccedilatildeo ao bem estar social
Atualmente as discussotildees ideologizadas infelizmente omitem propositalmente ou
se esquecem de mencionar que o ldquoprocessordquo de transformaccedilatildeo nos modelos de Estado existe
e que haacute fenocircmenos histoacutericos poliacuteticos econocircmicos e culturais que podem explicaacute-los de
forma coerente e loacutegica
Na tentativa de se encontrar algo que justifique a observacircncia da ldquocrise do Estado de
Bem Estar Socialrdquo em terreno nacional sem que os fundamentos sejam baseados em meras
ldquoteorias da conspiraccedilatildeordquo eacute que pesquisadores das vaacuterias ciecircncias humanas e sociais se
debruccedilam sobre a histoacuteria mundial construindo e destruindo suas hipoacuteteses de pesquisa
quando dos resultados
A expressatildeo inglesa ndash Welfare State teria sido criada na deacutecada de 40 ainda no seacuteculo
XIX O ldquoPlano Beveridgerdquo originaacuterio e do relatoacuterio elaborado por William Beveridge sobre
o sistema britacircnico de seguranccedila social em 1942 foi talvez o primeiro documento a ditar
os primados do Estado de Bem Estar Social ( NOGUEIRA 2001 p 91) sendo a Seguridade
Social um dos maiores pilares daquele modelo de Estado
O ldquoPlano Beveridgerdquo teve repercussatildeo positiva em diversos paiacuteses do mundo os
quais depois de um longo periacuteodo de guerra e desrespeito a direitos humanos resolveram
marcar o retorno agrave civilizaccedilatildeo com uma carta de intenccedilotildees que contemplassem direitos
miacutenimos da sociedade Assim muitas naccedilotildees passaram a organizar sua poliacutetica de seguranccedila
social a partir de premissas pontuadas por Beveridge (NOGUEIRA 2001 p 92)
Conforme trabalho de Theodor Marshall (1967) a construccedilatildeo da cidadania social
fenocircmeno originaacuterio do seacuteculo XIX mas com materializaccedilatildeo observaacutevel no iniacutecio do Seacuteculo
XX teria por base os fundamentos centrais do Welfare State A divisatildeo da riqueza socialmente
produzida sob o reconhecimento de uma igualdade formal e material entre as pessoas seriam
as bases de sustentaccedilatildeo dos atuais Estados de Bem Estar Social ( NOGUEIRA 2001 p 91)
No que se refere agraves relaccedilotildees de trabalho segundo Marta Arretche (1995) as reformas
sociais que originaram o modelo de Estado de Bem Estar faziam parte de um processo de
criaccedilatildeo das classes trabalhadoras enquanto ldquoclasse para sirdquo passando pela
desmercadorizaccedilatildeo da forccedila de trabalho e do consumo da instituiccedilatildeo de uma sociedade que
se rege sob um princiacutepio solidaacuterio pela correccedilatildeo das desigualdades produzidas pelo sistema
capitalista de produccedilatildeo e pela cobertura estatal do risco social (ARRETCHE 1995 p28)
110
Tal como descrevem Joseacute Paulo Netto e Marcelo Braz (2005) a realidade das formas
poliacutetico-econocircmicas satildeo dinacircmicas de forma que determinadas estrateacutegias de crescimento
econocircmico e desenvolvimentista social de determinados paiacuteses satildeo alteradas ao longo do
tempo para acompanhar as transformaccedilotildees do sistema capitalista de produccedilatildeo e consumo
(NETTO et al 2005 p32)
Essa variaccedilatildeo entre os periacuteodos geralmente marcados por grandes fenocircmenos
globais (Grande Depressatildeo de 1929 Guerras mundiais Revoluccedilatildeo Industrial) eacute que permite
perscrutar se haacute alguma ligaccedilatildeo entre a influecircncia das grandes economias nos rumos que os
paiacuteses emergentes datildeo aos seus paiacuteses e se haacute igual interferecircncia poliacutetica para que
determinadas linhas econocircmicas sejam implantadas
Sobre os a histoacuterica cessatildeo de espaccedilo pelo capitalismo produtivo poacutes-industrial a
poliacuteticas Keyneisanas pautadas na forte interferecircncia do Estado nas relaccedilotildees sociais e
econocircmicas Juliana Torrales dos Santos Braga e Joseacute Ricardo Caetano Costa (2010)
colocaram que ldquo[] apoacutes a Grande Depressatildeo de 1929 o capitalismo cedeu espaccedilo agraves
poliacuteticas keynesianas tatildeo detestadas pelos neoliberaisrdquo (COSTA 2010 p16)
Entretanto segundo Costa (2010) alguns anos depois da crescente implantaccedilatildeo do
modelo de Bem Estar Social diversos economistas franceses alematildees e norte americanos
na primeira metade do seacuteculo XX comeccedilaram a elaborar teses que se voltavam agrave adaptaccedilatildeo
de princiacutepios do liberalismo claacutessico agraves exigecircncias do modelo Keynesiano de ldquoEstado
regulador e assistencialistardquo desnaturando-o e iniciando um ciclo de contratomada de
protagonismo liberal
Entre muitas discordacircncias entendem-se ateacute mesmo os antagocircnicos das correntes
econocircmicas que eacute com base nas relaccedilotildees de trabalho e na dinacircmica entre o capital e lucro
que ocorrem as transformaccedilotildees dos modelos de Estado implantados sendo as poliacuteticas
sociais apenas parte de um processo dinacircmico de retomada do lucro
Nesse contexto eacute que se rompem ciclos e que eventualmente se teorizam as rupturas
com um poliacuteticas universais fundadas na vigecircncia do Estado de Bem-Estar Social e buscam-
se soluccedilotildees nas poliacuteticas proacute-mercado (BEHRING BOSCHETTI 2007)
As interpretaccedilotildees sobre a evoluccedilatildeo e da dinacircmica do Welfare State satildeo inuacutemeras e de
distintas orientaccedilotildees metodoloacutegicas bem como transcendem de uma anaacutelise puramente
histoacuterica para os planos da poliacutetica da filosofia da economia e de diversas outras correntes
de abordagem
Mas eacute com esta apresentaccedilatildeo sucinta sobre as teses relacionadas agraves origens histoacutericas
dos Estados Liberais e dos Estados de Bem Estar Social eacute que se torna possiacutevel em alguns
111
casos entender o contexto das reformas legislativas no plano nacional sendo este talvez
um meacutetodo adequado para o iniacutecio das pesquisa relacionadas ao tema
REFEREcircNCIAS ARRETCHE M TS Emergecircncia e Desenvolvimento do Welfare State Teorias Explicativas Boletim Informativo e Bibliograacutefico (BIB) das Ciecircncias Sociais n 39 Rio de Janeiro ANPOCSRelume-Dumaraacute 1995 BEHRING Elaine BOSCHETTI Ivanete Poliacutetica social fundamentos e histoacuteria Satildeo Paulo Cortez 2006 COSTA Joseacute Ricardo Caetano A Previdecircncia Social no Ideaacuterio Neoliberal Curitiba Juruaacute 2010 COSTA Joseacute Ricardo Caetano BRAGA Juliana Toralles dos Santos O deacuteficit da previdecircncia social e os reflexos do pensamento neoconservador nos direitos previdenciaacuterios no Brasil Meacutexico e Chile Juris Rio Grande V 24 p-63-902015 NETTO Joatildeo Paulo BRAZ Marcelo Economia poliacutetica uma introduccedilatildeo criacutetica Satildeo Paulo Cortez 2005 NOGUEIRA Vera Maria Ribeiro Estado de Bem-Estar Social- Origens e desenvolvimento Katalysis n 5 juldez 2001
112
A SEGURIDADE SOCIAL COMO POLIacuteTICA DE DIREITOS HUMANOS NO CONTEXTO DOS DOCUMENTOS E TRATADOS INTERNACIONAIS
Alan da Costa Macedo1
Eixo temaacutetico GT 2 Cidadania e Direitos Humanos Declaraccedilatildeo de Direitos do Homem e do Cidadatildeo
(1789)
Palavras-Chave Seguridade Social Direitos Humanos Tratados Internacionais
O presente ldquorecorte acadecircmicordquo se propotildee a fazer uma anaacutelise loacutegico-indutiva sobre
a hipoacutetese da Seguridade Social ser uma das poliacuteticas essenciais sobre Direitos Humanos
assegurada pelos documentos internacionais que tratam daqueles direitos
Rezam os artigos 13 e 14 da Declaraccedilatildeo dos Direitos do Homem e do Cidadatildeo de
1789- DDHC que foi aprovada segundo MARCAGGI (1912) pela Assembleia Nacional
Constituinte da Franccedila revolucionaacuteria
Artigo 13ordm- Para a manutenccedilatildeo da forccedila puacuteblica e para as despesas de administraccedilatildeo eacute indispensaacutevel uma contribuiccedilatildeo comum que deve ser repartida entre os cidadatildeos de acordo com as suas possibilidades Artigo 14ordm- Todos os cidadatildeos tecircm o direito de verificar por si ou pelos seus representantes a necessidade da contribuiccedilatildeo puacuteblica de consenti-la livremente de observar o seu emprego e de lhe fixar a reparticcedilatildeo a colecta a cobranccedila e a duraccedilatildeo ( grifos nossos) ( ASSEMBLEIA NACIONAL CONSTITUINTE DA FRANCcedilA REVOLUCIONAacuteRIA 1879)
Como se pode ver apesar da Declaraccedilatildeo dos Direitos do Homem e do Cidadatildeo de
1789 natildeo prever expressamente a Seguridade Social como mecanismo de garantia de Direitos
Humanos seus artigos 13 e 14 remetem a ideia original daquele tipo de poliacutetica puacuteblica
concebida 94 anos depois na Pruacutessia ( atual Alemanha) em 1883 por Otto Von Bismark e
em seguida de forma aperfeiccediloada e mais contemplativa em 1942 na Inglaterra por William
Beveridge
No dia 10 de dezembro de 1948 a Assembleacuteia Geral das Naccedilotildees Unidas proclamou
a Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos Humanos- DUDH- que entre outros direitos previu
expressamente o direito agrave Seguridade Social como se pode ver no seu art 22 a seguir
transcrito
Artigo XXII
1 Mestrando em Direito na Universidade Catoacutelica de Petroacutepolis-RJ Bacharel em Direito pela UFJF Poacutes Graduado em Direito Constitucional ndash Complexo Educacional Damaacutesio de Jesus Poacutes Graduado em Direito Penal- FIJ-RJ Poacutes Graduado em Direito Processual- UFJF Coordenador Geral Cientiacutefico do IPEDIS Lattes httplattescnpqbr0949039778117306
113
Todo ser humano como membro da sociedade tem direito agrave seguranccedila social agrave realizaccedilatildeo pelo esforccedilo nacional pela cooperaccedilatildeo internacional e de acordo com a organizaccedilatildeo e recursos de cada Estado dos direitos econocircmicos sociais e culturais indispensaacuteveis agrave sua dignidade e ao livre desenvolvimento da sua personalidade ( grifamos) ( Assembleia Geral das Naccedilotildees Unidas 1948)
A condiccedilatildeo da espeacutecie humana de seres eminentemente sociais ou seja que
dependem uns dos outros para a proacutepria sobrevivecircncia implica em um necessaacuterio
reconhecimento de que satildeo necessaacuterios esforccedilos coletivos e solidaacuterios para lidar com os
infortuacutenios que a proacutepria existecircncia pode lhes fazer sucumbir
A Seguranccedila Social tal como previsto no artigo XXII da DUDH de 1948 acima
exposto decorre de uma obrigaccedilatildeo do Estado na condiccedilatildeo de pacificador das relaccedilotildees sociais
Enquanto abstraccedilatildeo juriacutedica que tutela os direitos dos homens diante do seu natural ldquo medo
da morterdquo o Estado acaba se comprometendo com a promoccedilatildeo da paz e da seguranccedila
necessaacuterias ao bom conviacutevio humano em sociedade
Nesse sentido eacute o que afirma o filoacutesofo Thomas Hobbes (1979)
As paixotildees que fazem os homens tender para a paz satildeo o medo da morte o desejo daquelas coisas que satildeo necessaacuterias para uma vida confortaacutevel e a esperanccedila de consegui-las atraveacutes do trabalho E a razatildeo sugere adequadas normas de paz em torno das quais os homens podem chegar a acordo (grifamos) (HOBBES 1979 p 77)
Aleacutem da previsatildeo impliacutecita da DDHC de 1979 e expressa da DUDH de 1948 o Pacto
Internacional sobre Direitos Econocircmicos Sociais e Culturais- PIDESC promulgado pela
Assembleacuteia Geral das Naccedilotildees Unidas em 16 de dezembro de 1966 com vigecircncia na ordem
internacional a partir de 03 de janeiro de 1976 prevecirc a seguridade social como direito inerente
agrave dignidade da pessoa humana
Segundo o PIDESC (1966) o reconhecimento da dignidade do ser humano sob os
direitos inalienaacuteveis previstos naquele documento constituem o fundamento da liberdade da
justiccedila e da paz mundial Em seu preacircmbulo soergue a DUDH reafirmando que o ideal de
homem livre liberto do medo e da miseacuteria natildeo pode ser realizado sem que sejam criadas
condiccedilotildees para que cada desfrute satisfatoriamente dos seus direitos econocircmicos sociais e
culturais bem como dos seus direitos civis e poliacuteticos ( PIDESC 1966 p1)
A previsatildeo expressa da seguridade social na PIDESC( 1966) pode ser vista no seu
art 9ordm
Artigo 9ordm Os Estados Partes no presente Pacto reconhecem o direito de todas as pessoas agrave seguranccedila social incluindo os seguros sociais ( grifamos)
O Congresso Nacional Brasileiro aprovou o texto do referido diploma internacional
por meio do Decreto Legislativo ndeg 226 de 12 de dezembro de 1991 tendo o entatildeo
114
presidente da Repuacuteblica Fernando Collor de Melo pelo decreto 591 de 06 de julho de 1992
promulgado o inteiro teor daquele expediente colocando em plena vigecircncia o seu texto para
integral execuccedilatildeo e cumprimento no plano nacional
Segundo Arnaldo Sussekind (1986) ldquoO Brasil como um dos paiacuteses vitoriosos na
guerra mundial de 1914-1918 foi um dos vinte e nove Estados signataacuterios do Tratado de
Versailles e () tornou-se membro fundador da Organizaccedilatildeo Internacional do Trabalhordquo (
SUSSEKIND 1986 p105)
Nesse contexto aleacutem dos documentos internacionais especiacuteficos sobre Direitos
Humanos mencionados neste trabalho a Convenccedilatildeo nordm 102 da Organizaccedilatildeo Internacional
do Trabalho- OIT aprovada na 35ordf reuniatildeo da Conferecircncia Internacional do Trabalho
(Genebra- 1952) com entrada em vigor em 24041955 no plano internacional e com
aprovaccedilatildeo no Brasil a partir do Decreto Legislativo do Congrresso Nacional nordm 269 de
19092008 e ratificaccedilatildeo em 15 de junho de 2009 ( SUSSEKIND 2011 p 4) prevecirc as ldquo
Normas Miacutenimas de Seguridade Socialrdquo a serem respeitadas pelos Estados signataacuterios
O documento da OIT eacute bastante abrangente e sob a premissa de que os direitos
inerentes ao trabalho digno satildeo contemplados na categoria de Direitos Humanos pode-se
dizer que a referida Convenccedilatildeo tambeacutem eacute norma relacionada aqueles direitos do homem
devendo ser tratada no plano interpretativo como tal Nesta linha de raciociacutenio eacute o que
expotildee Mazzouli ( 2013)
A diferenccedila entre as convenccedilotildees e as recomendaccedilotildees da OIT eacute puramente formal uma vez que materialmente ambas podem tratar dos mesmos assuntos ou temas Em sua essecircncia tais instrumentos nada tecircm de diferente de outros tratados e declaraccedilotildees internacionais de proteccedilatildeo dos direitos humanos versam sobre a proteccedilatildeo do trabalho e do trabalhador e um sem nuacutemero de mateacuterias a estes coligados Mas formalmente ambas se distinguem uma vez que as convenccedilotildees satildeo tratados internacionais em devida forma e devem ser ratificadas pelos Estados-membros da Organizaccedilatildeo para que tenham eficaacutecia e aplicabilidade nos seus respectivos Direitos internos ao passo que as recomendaccedilotildees natildeo satildeo tratados e visam tatildeo somente sugerir ao legislador de cada um dos paiacuteses vinculados agrave OIT mudanccedilas no seu Direito interno relativamente agraves questotildees que disciplina ( grifamos) (MAZZUOLI 2013 p 73)
A loacutegica dos direitos sociais pode basear-se na percepccedilatildeo de que todos tecircm igual
direito agrave liberdade e igual agraves necessidades baacutesicas e geralmente se baseia na obrigaccedilatildeo moral
de uma distribuiccedilatildeo igualitaacuterias dos bens e riquezas que satildeo produzidas pelo proacuteprio ser
humano Portanto a ideia de justiccedila social eacute contemplativa e inclui a visatildeo de que os direitos
sociais pertencem a todo o ser humano sendo a seguridade social eacute um tipo de poliacutetica que
contempla aquela ideia
115
REFEREcircNCIAS
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MARCAGGI Vincent As origens da descriccedilatildeo dos direitos dos homens de 1789 Fontenmoing Paris 1912 MAZZUOLI Valeacuterio de Oliveira Integraccedilatildeo das convenccedilotildees e recomendaccedilotildees internacionais da OIT no Brasil e sua aplicaccedilatildeo sob a perspectiva do princiacutepio pro homine Revista do Tribunal Regional do Trabalho da 15ordf Regiatildeo n 43 2013 p 71-92 SUumlSSEKIND Arnaldo O Brasil e a Organizaccedilatildeo Internacional do Trabalho Revista do Tribunal Superior do Trabalho Satildeo Paulo v 55 p 105-116 1986 ___________ Arnaldo Convenccedilotildees da OIT 2ordf ediccedilatildeo LTR 2011
116
GT 3 ndash AS DIFERENTES
PERSPECTIVAS NO CONTEXTO DOS
DIREITOS HUMANOS
117
MORADORES DE RUA E SAUacuteDE DIREITO DE TODOS
Claudia Aparecida da Silva Pires1
Felipe Dutra Asensi2
Nubia do Nascimento Colombo3
Eixo temaacutetico GT 3 As diferentes perspectivas no contexto dos direitos humanos
Na atualidade observamos uma fragilidade dos viacutenculos empregatiacutecios e familiares o
que contribui para o fenocircmeno da exclusatildeo social e ocasiona um aumento da Populaccedilatildeo em
Situaccedilatildeo de Rua ndash PSR ficando cada dia mais visiacutevel para a sociedade
Este artigo trata do estudo da efetivaccedilatildeo das poliacuteticas puacuteblicas na aacuterea de sauacutede do
municiacutepio de Petroacutepolis em relaccedilatildeo ao morador de rua analisando os dados fornecidos pelo
Consultoacuterio na Rua que pertence a secretaria de Sauacutede
Em Petroacutepolis temos vaacuterios equipamentos tanto da Secretaria de Assistecircncia (Centro
Pop NIS Abordagem e Restaurante Popular) e na Sauacutede(Consultoacuterio de Rua) que atendem
as necessidades baacutesicas e emergenciais dos usuaacuterios poreacutem nenhum deles se aprofunda para
que essa populaccedilatildeo consiga sair dessa situaccedilatildeo
Pesquisa descritiva com estudo empiacuterico e bibliograacutefico na cidade de Petroacutepolis
estudo realizado de janeiro de 2019 a dezembro de 2019 estaratildeo sendo analisados os dados
coletados nos equipamentos da Secretaria de Sauacutede
Tem como objetivo demonstrar que apesar dos procedimentos e funcionamento dos
equipamentos da Secretaacuteria de Sauacutede no suprimento das necessidades baacutesicas e imediatas da
Populaccedilatildeo de Rua natildeo existe uma poliacutetica puacuteblica consistente para que esse indiviacuteduo retome
sua vida na integralidade e o atendimento continuado na sauacutede eacute deficitaacuterio
Nossa sociedade eacute marcada pela desigualdade econocircmica e social e pelas diversas
carecircncias de recursos em algumas comunidades Essas diferentes formas de desigualdade
podem colocar os indiviacuteduos longe de seus direitos
Um dos caminhos para reduzir essa desigualdade social existente no Brasil eacute a
construccedilatildeo de uma rede social de serviccedilos integrados(educaccedilatildeo sauacutede e social) e programas
que contribuam para o empoderamento desses indiviacuteduos
Em nosso paiacutes a Assistecircncia Social cabe cuidar daqueles que satildeo ldquoinvisiacuteveis para o
capitalrdquo se preocupando com os que natildeo tem renda proacutepria e no caso dos moradores de
rua a Secretaria de Sauacutede colabora com esse cuidado com o Consultoacuterio de Rua Wagner Balera adverte que eacute preciso verificar se este enorme contingente humano de excluiacutedos possuem direitos e se os possuindo esses direitos satildeo respeitados Ensina ainda que o destino do direito eacute a justiccedila e que a
1 Claudia A S Pires mestranda em Direito pela Universidade Catoacutelica de Petroacutepolis clausynglegmailcom httplattescnpqbr3496831525307190 2 Felipe Asensi Dutra Poacutes-Doutor em Direito pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro felipeasensiucpbr httplattescnpqbr4332185218919925 3 Nubia do Nascimento Colombo mestanda em Direito pela Universidade Catoacutelica de Petroacutepolis nubiacolomboyahoocombr httplattescnpqbr6697353355284574
118
lei natildeo resolve o problema da miseacuteria da doenccedila e da marginalizaccedilatildeo ( BALERA 1982 p 11)
No Brasil a partir de 1980 tem crescido a preocupaccedilatildeo do setor puacuteblico e dos
gestores das instituiccedilotildees acerca das PSR Sendo criadas normativas baacutesicas destinadas agrave
Populaccedilatildeo em Situaccedilatildeo de Rua
Em Petroacutepolis os dois Centros de atendimento da Secretaacuteria de Assistecircncia Social o
Centro Pop e o NIS tem por funccedilatildeo a gestatildeo e organizaccedilatildeo de programas projetos e ofertas
de serviccedilos visando benefiacutecios da poliacutetica de assistecircncia social
Para auxiliar os equipamentos da Assistecircncia existe o Consultoacuterio de Rua que
pertence a Secretaria de Sauacutede e a Equipe de Abordagem que pertence ao CREAS da
Assistecircncia Social
Esses equipamentos tem como objetivos contribuir para a prevenccedilatildeo de
agravamentos e a potencializaccedilatildeo de recursos para a reparaccedilatildeo de situaccedilatildeo que envolvam
risco pessoal e social violecircncia fragilizaccedilatildeo e rompimento de viacutenculos familiares
comunitaacuterios e sociais Buscando contribuir para a restauraccedilatildeo e preservaccedilatildeo da integridade
e da autonomia da populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua bem como a promoccedilatildeo para a reinserccedilatildeo
familiar e comunitaacuteria (MDSA) Os deveres de proteger e sobretudo os de promover esse acesso envolvem em princiacutepio os custos financeiros requeridos pelas prestaccedilotildees faacutecticas ou pela disponibilizaccedilatildeo de serviccedilos e instituiccedilotildees que satildeo impostas ao Estado (NOVAIS p 92 2010)
De acordo com os dados fornecidos pelo Consultoacuterio de Rua(Secretaria de Sauacutede)
sobre a Populaccedilatildeo em Situaccedilatildeo de Rua realizado no mecircs de abril de 2019 existem 190 pessoas
acompanhadas que tem uma equipe formada por uma meacutedica uma enfermeira uma teacutecnica
em enfermagem uma psicoacuteloga uma teacutecnica de sauacutede bucal e uma assistente social
O Consultoacuterio de Rua funciona de segunda a sexta de 8 as 17 hs cuidando da
sauacutede desses indiviacuteduos e necessidades baacutesicas de atendimento
A populaccedilatildeo em situaccedilatildeo de rua eacute composta por um grupo populacional
diversificado com indiviacuteduos com experiecircncias e realidades diferentes mas que estatildeo em
condiccedilotildees de pobreza absoluta e falta de uma habitaccedilatildeo convencional regular
Os dados fornecidos pelo consultoacuterio de rua satildeo os seguintes Em relaccedilatildeo a
populaccedilatildeo formada por 82 de homens e 18 de mulheres sendo desse quantitativo
2950 de pessoas que se consideram brancas 2790 pretas 3110 pardas e 350 que
natildeo sabem informar
Essa situaccedilatildeo ocorre como reflexo da exclusatildeo social ocorrida por essas pessoas
desprovidas de condiccedilotildees baacutesicas de sobrevivecircncia A maior parte dos moradores de rua
possuem ocupaccedilotildees temporaacuterias variadas e muito irregulares Possuindo muitas vezes
dificuldades de acesso a sauacutede e seguranccedila social e satildeo geralmente dependentes de
instituiccedilotildees puacuteblicas e assistenciais () a pessoa moradora de rua que encontra um emprego regular de baixa remuneraccedilatildeo frequentemente natildeo consegue trabalhar de modo sistemaacutetico nesses empregos mas tende em lugar disso a permanecer por periacuteodos curtos de tempo ateacute que ele ou ela eacute forccedilado a voltar para as instituiccedilotildees de rua para sua sobrevivecircncia Surge um padratildeo de porta-giratoacuteria em que o trabalho regular se torna temporaacuterio e ciacuteclico (SNOW 1998 p 200)
O que constatamos atraveacutes dos dados fornecidos pelo Consultoacuterio de Rua eacute que
709 possui alguma remuneraccedilatildeo sendo 2750 catadores de lixo 1410 flanelinhas
119
63 da construccedilatildeo civil 42 da limpeza 31 carregadores e estivadores e 157 pedem
dinheiro e 291 natildeo quiseram informar Esses dados demonstram que essa populaccedilatildeo
possui algum tipo de trabalho mas que os valores recebidos natildeo satildeo o suficiente para se
manterem Os moradores de rua sem viacutenculos no entanto tendem a encarar a vida cotidiana como quase destituiacuteda de apoio familiar confiaacutevel() muitos dos moradores de rua nunca tiveram uma rede familiar confiaacutevel (SNOW 1998 pg 25)
Pelos relatos da equipe a maioria dessas pessoas acaba optando por se
concentrarem nas ruas do centro das cidades onde geralmente ficam localizados os
equipamentos da assistecircncia social e sauacutede que fornecem oportunidades e uma atenccedilatildeo
especial para elas As relaccedilotildees pessoais e interpessoais que ocorrem na rua satildeo muito
importantes e podem se tornar fontes de subsistecircncia Como as pessoas em toda parte os moradores de rua tecircm de comer dormir eliminar viver dentro de seu orccedilamento e construir um senso de significado e amor-proacuteprio Os moradores de rua entretanto devem atender a esses requisitos de sobrevivecircncia sem os recursos e estruturas de apoio social que a maior parte de noacutes daacute como certas(SNOW 1998 p 77 e 78)
Esses grupos utilizam geralmente os espaccedilos puacuteblicos abandonados estruturas de
edificaccedilotildees moradias vazias e os equipamentos urbanos como moradia O que ocasiona
inuacutemeros problemas de sauacutede que muitas vezes natildeo conseguem ser acompanhados como
devem pois natildeo tomam os remeacutedios indicados seguindo horaacuterios determinados e muitas
vezes perdem os medicamentos fornecidos
Nos relatos das teacutecnicas nas reuniotildees dos equipamentos foi observado que quando
haacute necessidade de uma intervenccedilatildeo ou internaccedilatildeo desse indiviacuteduo natildeo tem ocorrido um
retorno raacutepido do oacutergatildeo puacuteblico O que traz maiores prejuiacutezos a populaccedilatildeo como um todo
pois muitas vezes algumas dessas pessoas possuem desequiliacutebrio mental e precisam de
acompanhamento contiacutenuo
O debate acerca dessa populaccedilatildeo eacute um desafio diaacuterio Observarmos vaacuterias
normativas mas a maioria ineficaz pois natildeo corrobora para que esse indiviacuteduo saia dessa
situaccedilatildeo ou tenha um acompanhamento de forma coerente
Natildeo existem causas especiacuteficas que levam uma pessoa a morar na rua mas esse
indiviacuteduo precisa de ajuda principalmente da sauacutede Com acesso aos equipamentos de
atendimento a populaccedilatildeo como um todo e aos tratamentos especializados na sauacutede mental
REFEREcircNCIAS
BALERA Wagner O direito dos pobres Satildeo Paulo ed Paulinas 1982
NOVAIS J Direitos Sociais Coimbra Coimbra Editora 2010
SNOW David A Desafortunados um estudo sobre o povo da rua Petroacutepolis 1998
wwwmdsgovbrwebarquivospeccedilasguia depoliacuteticas MDSA onlinepdf disponiacutevel em
10102019
120
O ALCANCE DOS DIREITOS REPRODUTIVOS FRENTE O DIREITO Agrave VIDA
Clara de Almeida Wagner1
Helenice Pereira Sardenberg2
Eixo temaacutetico GT 3 As diferentes perspectivas no contexto dos direitos humanos
Palavras ndash Chave direito agrave vida direitos reprodutivos direito a sauacutede reproduccedilatildeo
assistida embriotildees direitos humanos
RESUMO
O presente trabalho tem como objetivo analisar a adequaccedilatildeo dos direitos humanos agrave
legislaccedilatildeo existente bem como agrave constante evoluccedilatildeo cientiacutefica e tecnoloacutegica Assim propotildee-
se a responder os seguintes questionamentos quais satildeo os direitos envolvidos na reproduccedilatildeo
assistida Quais satildeo impactos presentes na sociedade e ordenamento juriacutedico Como
balancear os direitos agrave vida do embriatildeo contra os direitos reprodutivos dos pais e o direito agrave
sauacutede Utiliza-se como ponto de partida o conceito de Reproduccedilatildeo Assistida dado por
Gustavo Pereira Leite (2002) qual seja o conjunto de teacutecnicas que favorecem a fecundaccedilatildeo
humana a partir da manipulaccedilatildeo de gametas e embriotildees objetivando principalmente
combater a infertilidade e propiciando o nascimento de uma nova vida humana As respostas
para as perguntas formuladas no buscam como marco teoacuterico os ensinamentos de Chaves
(sd) Cabral e Camarda (2012) e Ribeiro (2002)
INTRODUCcedilAtildeO
A medicina reprodutiva eacute um campo em constante desenvolvimento cuja evoluccedilatildeo
tecnoloacutegica provoca alteraccedilotildees na sociedade e nas relaccedilotildees juriacutedicas A reproduccedilatildeo assistida
pode ser definida tambeacutem como a intervenccedilatildeo humana com o intuito de facilitar ou viabilizar
a procriaccedilatildeo de homens e mulheres esteacutereis ou infeacuterteis
A referida evoluccedilatildeo possibilitou a procriaccedilatildeo independente de relaccedilotildees sexuais
permitindo aos indiviacuteduos uma maior possibilidade de escolhas sobre o momento de se ter
filhos bem como em quais circunstacircncias inclusive podendo optar pela anticoncepccedilatildeo
Diante do que foi dito verifica-se que a primeira alteraccedilatildeo se deu com o surgimento
de novos arranjos familiares fundado no afeto natildeo estando mais necessariamente ligado agrave
1 Graduanda no curso de Direito do Centro Universitaacuterio La Salle (Polo NiteroacuteiRJ) httplattescnpqbr1277056055961015 2 Professora nos Cursos de Direito e Administraccedilatildeo do Centro Universitaacuterio La Salle (Polo NiteroacuteiRJ) httplattescnpqbr01292809939590642
121
consanguinidade ou ao casamento Houve uma flexibilizaccedilatildeo devido ao desenvolvimento
social fundamentando-se nos princiacutepios da solidariedade da eacutetica e da dignidade os quais
passaram a ser elementos centrais da famiacutelia
Aleacutem disso deve-se evidenciar o princiacutepio do planejamento familiar definido pela
Constituiccedilatildeo Federal e pela Lei 9263 de 1996 como ldquoo conjunto de accedilotildees de regulaccedilatildeo da
fecundidade que garanta direito igual de constituiccedilatildeo limitaccedilatildeo ou aumento da prole pela
mulher pelo homem ou pelo casal Eacute considerado um ato consciente de escolher entre ter
ou natildeo filhos de acordo com seus planos e expectativasrdquo
O referido princiacutepio funda-se na dignidade da pessoa humana e na parentalidade
responsaacutevel orientado por accedilotildees preventivas e educativas e por garantia de acesso igualitaacuterio
a informaccedilotildees meios meacutetodos e teacutecnicas disponiacuteveis para a regulaccedilatildeo da fecundidade
Outrossim autoriza a utilizaccedilatildeo de meacutetodos de reproduccedilatildeo assistida para o exerciacutecio do
planejamento familiar
Nesse contexto eacute possiacutevel associar o planejamento familiar aos direitos reprodutivos
no sentido de que estes se ancoram na possibilidade de livre decisatildeo do casal e de todo
indiviacuteduo sobre o nuacutemero espaccedilamento e oportunidade de ter filhos bem como o acesso a
informaccedilotildees e meacutetodos para fazecirc-lo Devendo atender os interesses e felicidade da famiacutelia
em vez de fixar-se em normas padronizadas e tatildeo enraizadas que natildeo permitem o
preenchimento dos desejos individuais
Os princiacutepios supramencionados impulsionam a formaccedilatildeo de famiacutelias ampliadas
pelas teacutecnicas de reproduccedilatildeo assistida e empoderam os indiviacuteduos ao oferecer a possibilidade
de escolha Assim tal discussatildeo eacute necessaacuteria para que seja possiacutevel a criaccedilatildeo de normas que
regulem as relaccedilotildees familiares e as novas teacutecnicas priorizando a proteccedilatildeo de uma potencial
vida humana e o melhor interesse da crianccedila que seraacute gerada salvaguardando a dignidade
dos demais sujeitos envolvidos sejam os pais intencionais doadores de gametas ou gestantes
de substituiccedilatildeo por exemplo
ABORDAGEM TEOacuteRICA
No que tange agrave legislaccedilatildeo existente sobre reproduccedilatildeo assistida eacute possiacutevel afirmar
que no Brasil ainda natildeo haacute uma lei especiacutefica que regulamente suas teacutecnicas Entretanto eacute
necessaacuterio que leis sejam criadas para que haja a definiccedilatildeo de quais tratamentos podem ser
utilizados bem como as modalidades de aplicaccedilatildeo com a finalidade de garantir o bem-estar
e dignidade de todos os envolvidos com o tratamento limitando o avanccedilo cientiacutefico a partir
dos direitos fundamentais das partes
122
Ainda no contexto legislativo eacute imperativo tratar da proibiccedilatildeo feita pelo Estado da
Costa Rica quanto a fertilizaccedilatildeo in vitro (FIV) e sua consequente responsabilizaccedilatildeo
internacional
Os processos inerentes agrave fertilizaccedilatildeo in vitro sofreram vedaccedilatildeo na Costa Rica em
2000 Havia um Decreto regulamentar do Poder Executivo que permitia de forma
condicionada o acesso a procedimentos de fertilizaccedilatildeo in vitro Contudo a Turma
Constitucional da Suprema Corte oacutergatildeo responsaacutevel pelo controle de constitucionalidade no
paiacutes declarou inconstitucional o referido decreto A decisatildeo teve fortes repercussotildees
atingindo muitos casais e forccedilando a interrupccedilatildeo de tratamentos jaacute iniciados Em vista disso
as partes prejudicadas demandaram perante a Comissatildeo Interamericana de Direitos
Humanos A questatildeo ficou conhecida como o caso Artavia Murillo sendo julgado
definitivamente pela Corte Interamericana de Direitos Humanos (Corte IDH) em 2012
A Corte Interamericana de Direitos Humanos (Corte IDH) determinou que tal
proibiccedilatildeo violou direitos humanos e estabeleceu uma proteccedilatildeo absoluta agrave vida do embriatildeo
Baseou sua resoluccedilatildeo natildeo apenas na Convenccedilatildeo mas tambeacutem em dispositivos protetores de
Direitos Humanos das naccedilotildees signataacuterias bem como outras decisotildees de oacutergatildeos jurisdicionais
nacionais e regionais Analisou o artigo 41 da Convenccedilatildeo Interamericana de Direitos
Humanos fixando o entendimento de que a vida se inicia a partir da nidaccedilatildeo de modo que
o direito previsto nesse artigo natildeo se estenderia aos embriotildees natildeo implantados Passou a
interpretar o artigo como uma proteccedilatildeo gradativa da vida preacute-natal a ser aplicada conforme
sua progressatildeo
Existe similaridade entre a definiccedilatildeo do estatuto do embriatildeo pelo Coacutedigo Civil
Brasileiro e entendimento da Corte IDH uma vez que aquele natildeo lhe atribui personalidade
apenas proteccedilatildeo legal desde a concepccedilatildeo
Conforme interpretaccedilatildeo do Superior Tribunal Federal (STF) a Constituiccedilatildeo Federal
resguarda a vida humana poreacutem esse direito natildeo abrange os embriotildees e fetos Contudo a
Suprema Corte daacute liberdade ao legislador infraconstitucional oferecer proteccedilatildeo em diversos
graus agrave vida anterior ao nascimento
A decisatildeo da Corte IDH gerou relevantes discussotildees sobre o tema inclusive o
apontamento de contradiccedilotildees e surgimento de controveacutersias poreacutem a influecircncia da sentenccedila
da Corte IDH e demais aspectos do caso Artavia Murillo firmou-se o entendimento de que
a tutela da vida humana deve amparar-se em outros criteacuterios os quais vatildeo aleacutem da concepccedilatildeo
exemplificado pela presenccedila de atividade cerebral Esses fatores passam a integrar o direito
123
agrave vida daquele que ainda natildeo nasceu bem como a contraposiccedilatildeo com os direitos
fundamentais como os da mulher que o gera
Natildeo obstante as contradiccedilotildees e efeitos poliacuteticos a sentenccedila proporciona diretrizes
para a soluccedilatildeo de questotildees polecircmicas tanto em acircmbito internacional quanto nacional que
por muito tempo natildeo eram discutidas devido agrave tendecircncia conservadora latino-americana
Verifica-se pela anaacutelise do caso a dificuldade de balanceamento dos direitos
reprodutivos dos genitores e o direito agrave vida do embriatildeo que natildeo deve ser tratada de forma
absoluta pois requer o estudo cuidadoso de cada caso especiacutefico
Outra situaccedilatildeo que requer o sopesamento dos referidos direitos eacute a disputa de
embriotildees criopreservados Esta ocorre no acircmbito de processos ou acordos de divoacutercio em
que o casal congelou embriotildees na constacircncia do casamento natildeo tendo sido implantados de
forma que sua destinaccedilatildeo pode ser discutida no momento da separaccedilatildeo
A motivaccedilatildeo para o congelamento dos embriotildees ou gametas geralmente relaciona-se
com a imediata impossibilidade de procriaccedilatildeo seja por infertilidade escolha ou condiccedilatildeo
meacutedica que impeccedila a maternidade ou paternidade
Na anaacutelise dos direitos envolvidos nesses casos os juiacutezes das cortes americanas
tratam da qualificaccedilatildeo do embriatildeo Pode ser designado como pessoa propriedade ou ente
merecedor de direitos especiais sendo estas as diretrizes que definem os direitos inerentes
ao embriatildeo
Aleacutem disso ainda deve ser enfrentada a questatildeo de como solucionar os conflitos
entre os cocircnjuges ou companheiros quando um deles tem o desejo de utilizar os embriotildees
para procriaccedilatildeo Para deliberaccedilatildeo algumas cortes norte-americanas utilizam-se do
balanceamento de direitos considerando as circunstacircncias de cada caso concreto bem como
os argumentos e posiccedilotildees apresentadas por cada parte Tais situaccedilotildees englobam direitos
protegidos constitucionalmente de forma que majoritariamente as Cortes tendem a priorizar
o direito de anticoncepccedilatildeo sustentando que ningueacutem pode ser obrigado a tornar-se pai ou
matildee contra sua vontade Entretanto tal posicionamento pode ser excepcionado em casos
em que o direito de procriaccedilatildeo seja totalmente suprimido como tambeacutem em casos de
infertilidade superveniente Outra exceccedilatildeo a este entendimento seria a existecircncia de contrato
entre os genitores que verse sobre a disposiccedilatildeo dos embriotildees
Nesse sentido eacute possiacutevel perceber que natildeo haacute uma unificaccedilatildeo das decisotildees ou um
entendimento soacutelido quanto a custoacutedia de embriotildees congelados uma vez que haacute uma
multiplicidade de criteacuterios utilizados pelos juiacutezes tais como a consideraccedilatildeo de uma condiccedilatildeo
meacutedica que causa infertilidade quantidade de filhos do casal por exemplo Aleacutem disso
124
destaca-se a magnitude dos direitos envolvidos quais sejam a vida dos embriotildees os direitos
reprodutivos dos pais bem como direito agrave privacidade e escolha da parte que natildeo deseja ter
filhos
Assim faz-se necessaacuterio discutir as possibilidades de destinaccedilatildeo dos embriotildees
excedentaacuterios enfatizando-se a pesquisa cientiacutefica como forma de discutir o direito agrave vida
do embriatildeo em face do direito agrave sauacutede que deve ser resguardado pelo Estado
A pesquisa em embriotildees humanos eacute regulada pelo art 5ordm Lei de Biosseguranccedila
poreacutem eacute bastante restritiva estabelece que eacute possiacutevel a utilizaccedilatildeo de ceacutelulas embrionaacuterias para
pesquisas entretanto devem ser produzidas in vitro e inviaacuteveis ou congeladas haacute mais de trecircs
anos mediante consentimento dos genitores
Em 2008 o STF julgou a constitucionalidade da pesquisa com ceacutelulas tronco
embrionaacuterias em sede de Accedilatildeo Direta de Inconstitucionalidade contra o referido artigo A
referida accedilatildeo de nordm 3510DF foi ajuizada pela Procuradoria Geral da Repuacuteblica a utilizaccedilatildeo
em pesquisas ou terapias de ceacutelulas tronco coletadas de embriotildees que seriam descartados
violaria o direito agrave vida e o princiacutepio da dignidade humana O representante do Ministeacuterio
Puacuteblico manifestou-se no sentido de que o iniacutecio da vida humana ocorre com a fecundaccedilatildeo
Assim o autor aduziu que a Lei nordm 111052005 seria inconstitucional uma vez que o direito
agrave vida eacute mateacuteria que deve ser tratada pela Constitucional de modo que o embriatildeo deveria ser
tutelado por ela
ALGUMAS CONSIDERACcedilOtildeES
Em defesa da constitucionalidade da lei foi argumentado que a medicina ou texto
constitucional natildeo indicam o iniacutecio da vida natildeo sendo possiacutevel afirmar que ocorre quando
da formaccedilatildeo do zigoto Aleacutem disso o direito agrave vida natildeo eacute absoluto devendo haver um
balanceamento frente a dignidade humana diante falta de perspectiva de vida personalidade
e dignidade dos embriotildees inviaacuteveis ou que natildeo seratildeo implantados Verifica-se que a proteccedilatildeo
legal da ceacutelula tronco embrionaacuteria eacute menor que as garantias inerentes agrave vida intrauterina e a
pessoa nascida
Outro argumento empreendido a favor da lei fundou-se na disposiccedilatildeo do Coacutedigo
Civil que estabelece a morte a partir da interrupccedilatildeo da atividade cerebral em reverso o iniacutecio
da vida ocorreria por volta do 14ordm dia de gestaccedilatildeo quando ocorre o surgimento da atividade
cerebral Assim defendeu-se que as ceacutelulas tronco seriam extraiacutedas ateacute 14ordm dia apoacutes a
fertilizaccedilatildeo
125
O voto do ministro relator Ayres Britto fundamentou-se no fato de que natildeo haacute
indicaccedilatildeo do iniacutecio da vida na Constituiccedilatildeo e natildeo haacute pronunciamento quanto a vida preacute-natal
Entende-se que o art 5ordm da Constituiccedilatildeo trata apenas daqueles indiviacuteduos que possuem
personalidade de forma que natildeo haacute inviolabilidade da vida
O Supremo Tribunal Federal entendeu pela constitucionalidade da Lei de
Biosseguranccedila asseverando que natildeo fere o direito agrave vida e o princiacutepio da dignidade da pessoa
humana sendo importante para assegurar essas garantias um maior nuacutemero de pessoas em
razatildeo de pesquisas cientiacuteficas que visam a cura de doenccedilas
REFEREcircNCIAS
CABRAL Hildeliza Lacerda Tionoco Boechat CAMARDA Dayane Ferreira Intimidade Versus Origem Geneacutetica A ponderaccedilatildeo de interesses aplicada agrave reproduccedilatildeo assistida heteroacuteloga 2012 Disponiacutevel em httpwwwibdfamorgbr_imgartigosPonderaC3A7C3A3o20de20interesses20aplicada20C3A020reproduC3A7C3A3o20assisitida2010_02_2012pdf CHAVES Marianna Famiacutelias Ectogeneacuteticas os limites juriacutedicos para utilizaccedilatildeo de teacutecnicas de reproduccedilatildeo assistida sd Disponiacutevel em httpwwwibdfamorgbrassetsuploadanais246pdf MAZUOLLI Valeacuterio de Oliveira O Controle Jurisdicional da Convencionalidade das Leis Satildeo Paulo Editora Revista dos Tribuinais 2011 RIBEIRO Gustavo Pereira Leite Breve comentaacuterio sobre aspectos destacados da reproduccedilatildeo humana assistida In SAacute Maria de Faacutetima Freire de Biodireito Belo Horizonte Del Rey 2002 pp 283-303 286 SOUZA Marise Cunha As Teacutecnicas de Reproduccedilatildeo Assistida A Barriga de Aluguel A Definiccedilatildeo da Maternidade e da Paternidade Bioeacutetica 2010 Disponiacutevel em httpscoreacukdownloadpdf16040822pdf
126
O CENAacuteRIO DE CRISE DOS PROGRAMAS SOCIAIS NO BRASIL
Laura Marconi da Silva Pereira 1
Helenice Pereira Sardenberg2
Eixo temaacutetico GT 3 As diferentes perspectivas no contexto dos direitos humanos
RESUMO
Este artigo iraacute abordar sobre a entrada do modelo poliacutetico neoliberal no Brasil no governo de Fernando Collor de Mello (1990-1992) e notadamente como esse modelo influenciou as poliacuteticas sociais no paiacutes Seraacute demonstrado que desde a entrada do neoliberalismo os programas sociais encontram obstaacuteculos de ordem poliacutetica e econocircmica dificultando a sua proposta integradora para a sociedade Ademais observa-se que essa forma de atuaccedilatildeo do Estado reduz a democracia e fere os direitos humanos priorizando uma parcela da sociedade isto eacute a classe dirigente Importante destacar que a pesquisa eacute exploratoacuteria bibliograacutefica e documental cujo o meacutetodo eacute o fenomenoloacutegico Palavras-chave Poliacuteticas puacuteblicas democracia cidadania direitos humanos e direitos
sociais
INTRODUCcedilAtildeO
Fazendo um recorte na poliacutetica brasileira no fim do seacuteculo XX podemos observar
que a entrada do neoliberalismo no Brasil se deu no governo Collor (1990 ndash 1992) A
princiacutepio o Brasil rejeitou o receituaacuterio neoliberal em funccedilatildeo do modelo de desenvolvimento
e da poliacutetica econocircmica extensa pois havia um projeto de industrializaccedilatildeo e reserva de
mercado para induacutestrias do capital no campo da informaacutetica e desenvolvimento tecnoloacutegico
Diante desse cenaacuterio emergem alguns problemas internos como a crise da diacutevida
externa o desequiliacutebrio das contas puacuteblicas (devido ao pagamento do serviccedilo da diacutevida
externa) a crise fiscal a altiacutessima inflaccedilatildeo e a perda de competitividade da economia ligadas
a fatores externos como o fim da Guerra Fria e ao conjunto de sistemaacuteticas sobre a
economia preconizadas pelo chamado ldquoConsenso de Washington3rdquo
1 Bacharel em Direito e Licenciada em Pedagogia - Link plataforma Lattes httplattescnpqbr8277926273901553 2 Professora nos Cursos de Direito e Administraccedilatildeo do Centro Universitaacuterio La Salle (Polo NiteroacuteiRJ) httplattescnpqbr0129280993959064 3 De acordo com Thais Caroline Lacerda Mattos ldquoAspecto importante do contexto em que o governo Collor inicia as suas poliacuteticas liberalizantes foi a difusatildeo das ideias do ldquoConsenso de Washingtonrdquo na Ameacuterica Latina e 8 nos paiacuteses do antigo bloco sovieacutetico O ldquoConsensordquo decorreu de uma seacuterie de reuniotildees entre os dirigentes do FMI Banco Mundial BID - Banco Interamericano de Desenvolvimento e Tesouro dos Estados Unidos aleacutem de poliacuteticos e economistas latinoamericanos A primeira delas convocada pelo economista inglecircs John Williamson do Institute for International Economics ocorreu em novembro de 1989 em que foram debatidos os problemas enfrentados pelos paiacuteses da regiatildeo (inflaccedilatildeo e crise econocircmica) aleacutem de discutir as experiecircncias
127
O governo Collor introduziu o ideaacuterio neoliberal no Brasil com a ideia de trazer um
liberalismo radical e alinhar suas estrateacutegias com os EUA como liberaccedilatildeo do efetivo do
regime de importaccedilotildees abertura do mercado brasileiro ao mercado Americano visando o
retorno do paiacutes aos ciacuterculos financeiros internacionais a renegociaccedilatildeo da diacutevida a partir da
condiccedilatildeo dos credores (o proacuteprio EUA ditava as regras) e o processo de privatizaccedilotildees das
empresas estatais
Diante disso podemos compreender o cenaacuterio em que o modelo econocircmico
neoliberal foi adentrando no Brasil e nos eacute presente ateacute os dias atuais
De acordo com Leda Paulani (2006 p 71) o neoliberalismo eacute um modelo poliacutetico
econocircmico que tem como base o fortalecimento do mercado como ldquocomandanterdquo em todas
as instacircncias no processo de reproduccedilatildeo material da sociedade sendo que para manter esta
ideologia eacute preciso reduzir o Estado ao miacutenimo necessaacuterio para garantir as regras do jogo
capitalista isto eacute impedir que o Estado faccedila regulaccedilotildees que interfiram no mercado
segurando tambeacutem os gastos do Estado (cortar verbas ldquodesnecessaacuteriasrdquo por exemplo
educaccedilatildeo sauacutede programas sociais e seguranccedila ndash como o atual governo vem fazendo)
aumentar o controle do Estado e impedir os problemas inflacionaacuterios privatizar as empresas
estatais (impedir que o Estado desempenhe o papel de produtor) abrir a economia ao
mercado internacional garantir a concorrecircncia e a competitividade diminuir as regras
trabalhistas e favorecer a terceirizaccedilatildeo
A loacutegica do Estado nessa nova era busca preservar os interesses de uma parcela
especiacutefica da sociedade - da classe dominante e dirigente deixando de lado a classe dos
trabalhadores (que eacute a grande maioria da populaccedilatildeo) natildeo dando atendimento ao emprego
nem proporcionando o aumento de renda a proteccedilatildeo social a educaccedilatildeo entre outros
Entretanto vale ressaltar que a diminuiccedilatildeo dos direitos sociais da classe proletaacuteria
tambeacutem atinge a classe dominante e dirigente pois satildeo os que mais precisam da forccedila de
trabalho deles Os problemas sociais comeccedilam a emergir como aumento da violecircncia falta
de investimentos na seguranccedila puacuteblica falta de investimentos na educaccedilatildeo falta de
investimentos em programas sociais etc
O Estado com medo dessa pauperizaccedilatildeo e para evitar uma possiacutevel convulsatildeo social
cria poliacuteticas pautadas em medidas compensatoacuterias entretanto sem evitar a superaccedilatildeo da
adotadas com ldquosucessordquo como as do Chile e Meacutexico que entatildeo se abriam ao capital estrangeiro e aparentemente conseguiam enfrentar tais problemas Tambeacutem ali foram reafirmados os princiacutepios neoliberais tal como preconizado pelo governo norte-americanordquo Disponiacutevel em httpswwwmariliaunespbrHomeEventos2015xiiisemanaderelacoesinternacionaiso-projeto-da-reforma_thais-carolinepdf acessado em 29102109
128
pobreza (pois faz parte do ideaacuterio neoliberal manterter parcela da populaccedilatildeo na linha da
pobreza ndash que eacute onde se encontra a grande massa dos trabalhadores)
Diante desse modelo poliacutetico a democracia foi reduzida O neoliberalismo adota
alguns elementos da democracia com o objetivo de buscar uma aceitaccedilatildeo pela sociedade
entretanto essa democracia natildeo eacute exercida plenamente
De acordo com Wood (2003) haacute uma divisatildeo entre a ldquoesfera poliacuteticardquo e a ldquoesfera
econocircmicardquo de modo que as questotildees econocircmicas natildeo se relacionam com as questotildees
poliacuteticas elas assumem posiccedilotildees especiacuteficas na sociedade O Estado - que eacute separado da
economia embora intervenha nela ndash pode aparentemente pertencer (por meio do sufraacutegio
universal) a todos sem revelar o poder de exploraccedilatildeo da classe dirigente
Wood (2003) esclarece ainda que eacute dessa forma que a democracia assume seu papel
no modelo poliacutetico de ideaacuterio neoliberal seguindo a ideologia do capitalismo fazendo com
que as atividades de produccedilatildeo e apropriaccedilatildeo estejam alocadas no controle privado de forma
que o proacuteprio capitalismo cria mecanismo para a democracia ficar confinada agrave esfera juriacutedico-
poliacutetica tornando restrito o terreno poliacutetico e consequentemente sem repercussotildees nas
questotildees econocircmicas
Essa ideia afasta o controle democraacutetico das instacircncias que decidem sobre a produccedilatildeo
e aproximaccedilatildeo da riqueza direciona a democracia para atuar nos limites do Estado e mantem
a economia intocada
Eacute nesse contexto poliacutetico-histoacuterico que o presente trabalho iraacute abordar os direitos
sociais no atual cenaacuterio do Brasil e como podemos mudaacute-lo atraveacutes de poliacuteticas puacuteblicas
democraacuteticas e liberais
ABORDAGEM TEOacuteRICA
Tendo em vista que os direitos sociais satildeo os que permitem ao cidadatildeo uma
participaccedilatildeo miacutenima do que eacute produzido coletivamente pela sociedade seja qual for o paiacutes
eles se tornam de extrema importacircncia na sociedade assim como os direitos civis e poliacuteticos
que tambeacutem satildeo direitos sociais como afirma Coutinho (1997)
Podemos observar que o cenaacuterio brasileiro desde a implementaccedilatildeo do modelo
neoliberal assumiu o papel de restringir por muito tempo os direitos sociais sob a alegaccedilatildeo
de que ajudar financeiramente a populaccedilatildeo atraveacutes dos auxiacutelios concedendo isenccedilotildees nas
aacutereas econocircmicas educacionais e de sauacutede e ainda garantir direitos poliacuteticos e civis
violariam as leis do mercado (e portanto o direito individual agrave propriedade)
129
Embora a presenccedila desses direitos na Constituiccedilatildeo e em algumas leis o
reconhecimento legal natildeo garante automaticamente a sua materializaccedilatildeo Inclusive haacute uma
forccedila para que os direitos jaacute garantidos sejam alterados e eliminados da proacutepria Constituiccedilatildeo
(caso recente da Reforma Trabalhista e da Reforma Previdenciaacuteria)
Neste sentido para ampliar nossos debates e para contribuir com o entendimento a
partir do ingresso do neoliberalismo no Brasil no governo Collor (1990-1992) e a mudanccedila
nas poliacuteticas sociais desde a sua implementaccedilatildeo que levaram agrave grave crise no paiacutes iremos
dialogar com os pensamentos e estudos de alguns autores de diferentes aacutereas mas que
conversam entre si Entre eles destacamos Carlos Nelson Coutinho (1997) sobre o processo
histoacuterico-poliacutetico da cidadania na modernidade seus avanccedilos e recuos Maria Helena Oliva
Augusto (1989) sobre as poliacuteticas sociais e as poliacuteticas puacuteblicas acerca do planejamento
estatal Michael Foucault (1979) acerca da existecircncia de formas de exerciacutecio do poder
diferentes do Estado sendo indispensaacuteveis agrave sua sustentaccedilatildeo e atuaccedilatildeo eficaz Lucia Neves
e Julio Lima (2006) com textos de diversos autores abordando o processo mais amplo de
reflexatildeo sobre a educaccedilatildeo brasileira contemporacircnea e Ellen Wood (2003) que discute sobre
a noccedilatildeo de democracia e a sua relaccedilatildeo com o capitalismo como um sistema de relaccedilotildees sociais
de poder poliacutetico
CONSIDERACcedilOtildeES PRELIMINARES
A ideologia do neoliberalismo assumida pela burguesia pugna pelo fim dos direitos
sociais Diante da queda da taxa de lucro que abala natildeo soacute o Brasil mas outras grandes
potecircncias mundiais os atuais governantes buscam pocircr fim ao Estado de Bem-Estar Social
ao conjunto dos direitos sociais jaacute conquistados pelos trabalhadores propondo devolver ao
mercado a regulaccedilatildeo de questotildees como educaccedilatildeo sauacutede previdecircncia transporte etc como
argumenta Coutinho (1997)
Natildeo restam duacutevidas que haacute um desinteresse dos governantes neoliberais em gerir
programas sociais que efetivem os direitos de parcela da sociedade aquela inclusive que
mais precisa haja vista a ineficiecircncia da Seguridade Social tal como inscrita na Constituiccedilatildeo
de 1988 que ainda natildeo teve sua implementaccedilatildeo de fato
As leis que regulamentam a sauacutede a assistecircncia social e a previdecircncia foram
elaboradas durante o modelo poliacutetico em questatildeo logo percebe-se o contingenciamento de
gasto social e privatizaccedilotildees ou seja estas leis natildeo priorizam sua efetivaccedilatildeo e nem haacute interesse
mesmo que aparente dos governantes em promovecirc-las
130
REFEREcircNCIAS
AUGUSTO Maria Helena Oliva Poliacuteticas puacuteblicas poliacuteticas sociais e poliacuteticas de sauacutede algumas questotildees para reflexatildeo e debate Tempo Social VerSociol USP SPaulo 1 (2) 105-1192 Sem 1989 - Disponiacutevel em httpwwwscielobrpdftsv1n20103-2070-ts-01-02-0105pdf COUTINHO Carlos Nelson Notas sobre cidadania e modernidade Praia Vermelha - Estudos de Poliacutetica e Teoria Social Vol 1 n1 set1997 Rio de Janeiro do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo da Escola de Serviccedilo Social da UFRJ ndash DPampA 1997 (p 145-165) FOUCAULT Michel Microfiacutesica do Poder Rio de Janeiro Graal 1979
GIL Antocircnio Carlos Meacutetodos e Teacutecnicas de Pesquisa Social 6deg Ediccedilatildeo Editora Atlas 2008 LACERDA MATTOS T C O Projeto de Reforma Liberal no Governo Collor de Mello Uma Reflexatildeo Acerca da Mudanccedila Estrateacutegica na Poliacutetica Externa Brasileira no Contexto Nacional de Reformas In XIII Semana de Relaccedilotildees Internacionais da Unesp Cultura e Direitos Humanos nas Relaccedilotildees Internacionais 2015 Mariacutelia Anais do Congresso 2015 Disponiacutevel em httpswwwmariliaunespbrHome Eventos2015xiiisemanaderelacoesinternacionaiso-projeto-da-reforma_thais-carolinepdf NEVES Lucia LIMA Julio (Orgs) Fundamentos da educaccedilatildeo escolar do Brasil contemporacircneo Rio de Janeiro Editora Fio Cruz 2006 WOOD E M Democracia contra o capitalismo a renovaccedilatildeo do materialismo histoacuterico Satildeo Paulo Boitempo 2003
131
O SISTEMA PENITENCIAacuteRIO COMO INSTRUMENTO CRIACcedilAtildeO E EXPANSAtildeO DAS FACCcedilOtildeES CRIMINOSAS
Daniel Chaves Segrillo1
Helenice Pereira Sardenberg2
Eixo temaacutetico GT 3 As diferentes perspectivas no contexto dos direitos humanos
Palavras-chave Maacutequina de Poder Sistema penitenciaacuterio Grupos Criminosos Poliacuteticas
Puacuteblicas
Resumo O presente trabalho tem como objetivo analisar o processo de estruturaccedilatildeo das
facccedilotildees criminosas debruccedilando-se nos anais de sua criaccedilatildeo atentando-se para a contribuiccedilatildeo
substancial do Estado Assevera-se que as facccedilotildees representam verdadeiras maacutequinas de
poder gozando de abrangecircncia nacional e internacional projetando-se como verdadeiros
Estados paralelos evidenciando desta forma o fracasso nas poliacuteticas puacuteblicas sobretudo
do sistema penitenciaacuterio nacional Nesse contexto visa-se responder as seguintes indagaccedilotildees
Como as facccedilotildees satildeo estruturadas Essas entidades paraestatais surgem com qual finalidade
De que forma o Estado contribuiu para sua criaccedilatildeo O sistema carceraacuterio eacute eficaz Para isso
utilizaremos o meacutetodo fenomenoloacutegico adotando-se como marco teoacuterico a obra do
pesquisador Bruno Paes Manso
INTRODUCcedilAtildeO
O presente trabalho busca o entendimento de possiacuteveis soluccedilotildees para que se evite
o uso da forccedila bruta ou mesmo o culto ao inimigo que atravessam o contexto prisional
buscando sobremaneira a efetiva ressocializaccedilatildeo daqueles que se encontram encarcerados
Ateacute porque a dignidade da pessoa humana se faz a partir da garantia de sentido existencial
Diante do que foi exposto torna-se imprescindiacutevel pensar sobre como dar fim
definitivamente agraves organizaccedilotildees criminosas por todo o paiacutes Natildeo obstante deve-se difundir
poliacuteticas humanitaacuterias nos locais que as instrumentalizam notadamente o sistema
penitenciaacuterio nacional Desta forma faz-se evidente que nosso objeto de estudo eacute a formaccedilatildeo
das entidades criminosas no contexto prisional
1 Graduando em Direito pelo Centro Universitaacuterio La Salle Rio de Janeiro ndash UNILASALLERJ httplattescnpqbr7330255781828368 2 Doutora em Serviccedilo Social UERJ Poacutes-Doutora em Histoacuteria Poliacutetica UERJ professora e pesquisadora no Centro Universitaacuterio La Salle Rio de Janeiro-UNILASALLE-RJ httplattescnpqbr0129280993959064
132
Desta forma o presente trabalho tem em FELTRAN (2018) em MANSO (2019) em
Dias (2009) e BUSATO (2005) o referencial teoacuterico necessaacuterio para embasaacute-lo
Natildeo menos importante vale dizer que esta eacute uma pesquisa bibliograacutefica e documental
cujo meacutetodo eacute o dedutivo Ressalta-se que o meacutetodo dedutivo conforme enuncia Gil (2008)
consiste em se adquirir uma conclusatildeo atraveacutes de inuacutemeras premissas que satildeo declaradas
como verdadeiras e indiscutiacuteveis
1 BREVE HISTOacuteRICO SOBRE AS FACCcedilOtildeES CRIMINOSAS
As primeiras facccedilotildees criminosas emergem dos calabouccedilos do sistema penitenciaacuterio
visando inicialmente combater o sistema violento e opressor bem como proteger
mutuamente seus membros perante o Estado e os outros presos de forma a garantir
disciplina no mundo do crime
A violecircncia no sistema penitenciaacuterio remonta a ditadura militar foi adotado como
poliacutetica de seguranccedila puacuteblica agrave praacutetica de extermiacutenio confinamento em massa e segregaccedilatildeo
territorial Nesse contexto surgiu um dos principais grupos o Esquadratildeo da Morte grupo
de extermiacutenio liderado por Seacutergio Fernando Paranhos Fleury que atuava na informalidade e
foi responsaacutevel pela morte de aproximadamente 200 pessoas
A adoccedilatildeo desse modelo produziu uma maacutequina de guerra em que a antiga Forccedila
Puacuteblica sucedeu a Poliacutecia Militar no ano de 1970 elevando a violecircncia a um patamar
superior Tal situaccedilatildeo expandiu o policiamento ostensivo em detrimento da investigaccedilatildeo
policial adotando como alvos endereccedilos perifeacutericos pessoas negras e de classes sociais mais
baixas
Por conseguinte surgiram diversas facccedilotildees dentre elas o Comando Vermelho e o
Primeiro Comando da Capital instituindo um coacutedigo de conduta no interior dos presiacutedios
de forma a abolir os roubos estupros e violecircncia entre os presos trazendo ordem disciplina
e previsibilidade ao mundo do crime
A partir disso esses grupos empregaram forccedila bruta conquistando hegemonia nas
prisotildees ao longo do paiacutes se apresentando como representante dos interesses da massa
carceraacuteria reivindicando direitos em nome do suposto interesse coletivo
Do mesmo modo a adoccedilatildeo da poliacutetica de encarceramento em massa no sistema
penitenciaacuterio foi fundamental para o processo de difusatildeo da ideologia visto que contribuiu
para o processo de expansatildeo do batismo de presos Este semelhante ao procedimento
133
religioso submete o preso a leitura do estatuto bem como a histoacuteria da facccedilatildeo impondo ao
apenado o abandono de sua individualidade em prol da coletividade criminosa
Nesse contexto as facccedilotildees se tornaram uma rede de parceiros estruturados
garantindo seguranccedila proteccedilatildeo e apoio aos filiados e seus familiares funcionando como um
verdadeiro sindicato dentro e fora dos presiacutedios
Dessa maneira o grupo passou a adotar planilhas tesoureiros meios de comunicaccedilatildeo
proacuteprios e um grupo de advogados exclusivos viabilizando a criaccedilatildeo de uma carreira no
crime Ressalta-se que a corporaccedilatildeo passou a controlar 90 das unidades prisionais
paulistas tornando-se estes locais estrateacutegicos para o controle dos criminosos desviantes de
seu ordenamento instituindo a obediecircncia do lado de fora e internamente nos presiacutedios
A vista disso instituiu-se uma ldquofaculdade do crimerdquo em que somada a poliacutetica de
seguranccedila puacuteblica de extermiacutenio fora dos presiacutedios e de renuacutencia em seu interior ocasionou
substancialmente a amplificaccedilatildeo dos discursos e das praacuteticas criminosas Natildeo sem razatildeo as
lideranccedilas poliacuteticas passaram a se ausentar desses espaccedilos proporcionando diversos projetos
de expansatildeo do crime para o resto do Brasil e da Ameacuterica Latina
Destaque-se que a hegemonia da organizaccedilatildeo no sistema penitenciaacuterio foi
fundamental eis que possibilitou angariar membros do alto escalatildeo do crime aleacutem de matildeo
de obra barata Assim garantia-se a perpetuaccedilatildeo das atividades criminosas rotineiras
controladas no interior dos presiacutedios dentre elas o domiacutenio territorial pelo uso da forccedila e do
proacuteprio traacutefico internacional de drogas
Ressalta-se ainda que em face da grave crise instaurada o governo adotou a poliacutetica
de isolamento das lideranccedilas no interior das cidades visando a retomada do monopoacutelio da
forccedila Posto isso a intenccedilatildeo era limitar a comunicaccedilatildeo entretanto a utilizaccedilatildeo diaacuteria dos
celulares nas prisotildees permitiu preservaccedilatildeo da comunicaccedilatildeo de seus membros com amigos
familiares e parceiros de negoacutecios
No contexto do submundo do crime as facccedilotildees convergiam a adotar o Estado como
inimigo cultuando-se sobretudo a aversatildeo e o oacutedio ao sistema deixando de lado desavenccedilas
locais em prol do coletivo marginal Aleacutem disso a explosatildeo da criminalidade sobretudo no
Rio de Janeiro orquestrada por Fernandinho Beira-mar liacuteder do CV ocasionou uma nova
crise na seguranccedila puacuteblica em que a partir de sua prisatildeo ficou evidente que as autoridades
fluminenses natildeo possuiacuteam condiccedilotildees de custodiaacute-lo
134
2 O PAPEL DO GOVERNO E O SURGIMENTO DE NOVAS ENTIDADES
CRIMINOSAS
Em virtude dos fatos mencionados o Governo Federal que por muito tempo se
omitiu em suas atribuiccedilotildees elaborou o sistema penitenciaacuterio nacional inaugurando diversas
penitenciaacuterias federais pelo paiacutes com o fito de solucionar o problema dos Estados Tal
modelo gozava de vagas qualitativas objetivando perpetrar intervenccedilotildees ciruacutergicas nos
territoacuterios extraindo os cabeccedilas das quadrilhas de cada regiatildeo do paiacutes submetendo-os
ocasionalmente ao Regime Disciplinar Diferenciado
Nesse quadro adotou-se um cotidiano riacutegido com inuacutemeras cacircmeras por todo o
estabelecimento prisional possuindo uma unidade de supervisatildeo em Brasiacutelia de forma a
controlar o banho de sol as visitaccedilotildees e a relaccedilatildeo entre os apenados e seus advogados Este
foi inicialmente concebido para alojar o preso pelo periacuteodo maacuteximo de 2 anos Contudo
muitos presos ultrapassaram este periacuteodo dentre eles o proacuteprio Fernandinho Beira-Mar
Esta poliacutetica propiciou a criaccedilatildeo de um elo entre indiviacuteduos grupos e organizaccedilotildees
criminosas de todos os lugares do Brasil comumente chamado de ldquocomitecirc central do crime
do Brasilrdquo reunindo presidiaacuterios de diversos Estados e facccedilotildees ainda oferecendo a
oportunidade de estabelecer contratos alianccedilas dentre elas a alianccedila marginal entre a Famiacutelia
do Norte e o Comando Vermelho e a criaccedilatildeo do Sindicato do Crime
A partir disso formaram-se redes nacionais do crime proporcionando a criaccedilatildeo de
novas facccedilotildees em regiotildees ateacute entatildeo inalcanccediladas bem como ampliaccedilatildeo das facccedilotildees existentes
nacionalizando os grupos de poder
Por fim as autoridades de seguranccedila incapazes de coibir essa expansatildeo continuaram
a empenhar seus esforccedilos no policiamento ostensivo nos bairros pobres adotando o
encarceramento em massa
Ressalta-se a contribuiccedilatildeo substancial da miacutedia dispondo de diversos programas nos
quais introduziram o medo constante no imaginaacuterio popular de forma a legitimar a adoccedilatildeo
de poliacuteticas puacuteblicas dentre elas o Regime Disciplinar Diferenciado Destarte ocasionando
o abismo entre o crime e as poliacuteticas de seguranccedila criando aparentemente postura de
indiferenccedila a despeito dos reais problemas do sistema preservando o status quo dominante
CONSIDERACcedilOtildeES PROVISOacuteRIAS
De acordo com o que foi dito torna-se imprescindiacutevel a adoccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas
capazes de efetivamente ressocializar o preso atuando no interior e exterior dos presiacutedios
135
garantindo condiccedilotildees existenciais miacutenimas inerentes a todos ser humano Natildeo obstante a
partir disto promove-se a desarticulaccedilatildeo dos grupos criminosos visto que esvazia-se os seus
motivos existecircncias quais sejam proteccedilatildeo ordem e disciplina
REFEREcircNCIAS
BUSATO P C Regime Disciplinar Diferenciado como produto de um direito penal
do inimigo Revista de Estudos Criminais Porto Alegre Notadez n 14 2005
DIAS Camila Caldeira Nunes Efeitos simboacutelicos e praacuteticos do Regime Disciplinar
Diferenciado na dinacircmica prisional Revista Brasileira de Seguranccedila Puacuteblica Ano 3
Ediccedilatildeo 5 2009
FELTRAN Gabriel Irmatildeos uma histoacuteria do PCC Satildeo Paulo Companhia das Letras
2018
GIL Antocircnio Carlos Meacutetodos de Teacutecnica e Pesquisa Social 6 ed Satildeo Paulo Editora
Atlas 2008
MANSO Bruno Paes A Guerra a ascensatildeo do PCC e o mundo do crime no Brasil Satildeo
Paulo Todavia 2019
136
INFANTICIacuteDIO UMA QUESTAtildeO CULTURAL OU DOS DIREITOS HUMANOS
Karoline Almeida Vasco1
Helenice Pereira Sardenberg2
Eixo Temaacutetico GT 3 ndash As diferentes perspectivas no contexto dos Direitos Humanos
Palavras-chave Direitos Humanos diversidade cultural infanticiacutedio indiacutegena
Resumo Este trabalho se propotildee a discutir a praacutetica do infanticiacutedio nas tribos brasileiras sob o olhar
dos Direitos Humanos natildeo se opondo a cultura destes e nem aos seus costumes apenas
observando os limites dos direitos fundamentais da crianccedila Neste sentido o presente estudo
entende que eacute a partir do diaacutelogo intercultural pautado na diversidade e na alteridade que se
pode encontrar uma soluccedilatildeo para este problema Ainda hoje no Brasil se verifica a praacutetica
do infanticiacutedio por diversos motivos crianccedilas satildeo mortas porque suas tribos natildeo as aceitam
pelas mais diferentes razotildees Portanto os costumes e tradiccedilotildees intriacutensecos a estes grupos
colidem com um dos mais importantes direitos isto eacute o direito fundamental agrave vida direito
universal Natildeo sem razatildeo buscar compreender se os costumes culturais devem se perpetuar
sem interferecircncias ou se a dignidade da pessoa humana eacute mais importante
Introduccedilatildeo
No mais recente Mapa de Violecircncia de 2014 foramidentificadas 96 mortes de bebecircs
indiacutegenas com menos de seis dias de vida nos estados de Roraima e no Amazonas no
periacuteodo de dois anos Segundo Adinolf esses costumes satildeo comuns nas tribos Kamayuraacute
Suyaacute Yanomami Suruwahaacute Kaiabi Kuikuro Amundawa e Urueu-Wau-WauAlvez Para
Alves e Vilas Boas A praacutetica tradicional nessas tribos vai desde a morte de receacutem-nascidos portadores de deficiecircncias fiacutesicas e mentais ateacute a morte de gecircmeos filhos de matildees solteiras dependendo dos costumes da tribo Nestes casos a morte de crianccedilas ocorre logo apoacutes o seu nascimento ou quando ainda pequenas (em caso de doenccedilas) sendo que muitas delas satildeo enterradas vivas estranguladas sufocadas ou simplesmente deixadas no meio da mata para morrer3
O costume do infanticiacutedio nestas tribos variaconforme sua etnia os principais casos
relatados se traduzem nonascimento de gecircmeos de crianccedilas com algum tipo de deficiecircncia
ou deformidadesexismo (onde haacute preferecircncia pelo sexo masculino) ou nascimento de
crianccedilas de matildees solteiras ou fruto de adulteacuterio
Cada etnia tem uma crenccedila que leva a matildee a cometer infanticiacutedio dentro das
possibilidades jaacute constatadas as crianccedilas viacutetimas desta praacutetica podem ser vistas como
1 Graduanda no curso de Direito do Centro Universitaacuterio La Salle (Polo NiteroacuteiRJ) httplattescnpqbr1053185698343482gt E-mail karolinealmeidavgmailcom 2 Professora nos Cursos de Direito e Administraccedilatildeo do Centro Universitaacuterio La Salle (Polo NiteroacuteiRJ)httplattescnpqbr0129280993959064 3 ALVES Fernando de Brito VILAS BOAS Maacutercia Cristina Alvater Direito agrave cultura e o direito agrave vida visatildeo criacutetica sobre a praacutetica do infanticiacutedio em tribos indiacutegenas Anais do XIX Encontro Nacional do CONPEDI realizado em Fortaleza ndash CE Junho de 2010 v XIX P 4962-4973 P4965
137
amaldiccediloadas dependendo da tribo As mortes podem ser ocasionadas por envenenamento
asfixia abandono quando natildeo satildeo enterrados ainda vivas Tudo isso se revela como costume
das comunidades costumes esses amparados pela Lei Maior a Constituiccedilatildeo Federal
quereconhece e garante os costumes indiacutegenas4
Por fim o infanticiacutedio indiacutegena pode ser comparado com outros costumes ao redor
do mundo como a ablaccedilatildeo clitoriana (muito comum na Aacutefrica) e o casamento infantil (na
Iacutendia) Todos esses atos violam os direitos humanos poreacutem a soluccedilatildeo natildeo estaria numa lei
que osproiacuteba mas no diaacutelogo e amparo do Estado a todas as situaccedilotildees citadas
Abordagem Teoacuterica
Este trabalho eacute fruto de uma pesquisa exploratoacuteria e bibliograacutefica elaborada com
base em livros artigos perioacutedicos e material disponibilizado na internet pois que visa
proporcionar maior familiaridade com o problema para tornaacute-lo explicito com o
aprimoramento das ideias conforme enunciado por Gil (2002)
O meacutetodo de pesquisa utilizado eacute fenomenoloacutegico visto que este se preocupa com a
descriccedilatildeo direta da experiecircncia como ela eacuteA realidade eacute construiacuteda socialmente e entendida
como o compreendido o interpretado o comunicado Pondera imediatamente o que estaacute
presente agrave consciecircncia o objeto o que consequentemente tende ao objetivo de acordo com
o autor supracitado (2008)
Tem-se como objeto de estudo o infanticiacutedio indiacutegena que ainda hoje em pleno
seacuteculo XXI assola o Brasil indo em direccedilatildeo oposta agravequelas indicadas na Carta dos Direitos
Humanos na qual a vida eacute o bem maior a ser protegido Existe um projeto de lei que haacute
tempos tramita no Congresso Nacional e que se traduz em enorme polecircmica A mudanccedila
legislativa ocorreria com a inclusatildeo do art54-A da Lei 6001735 o Estatuto do Iacutendio
Assegurar direitos miacutenimos que satildeo os direitos humanos eacute garantir que todos
tenham dignidade e capacidade de realizar planos de vida com liberdade e consciecircncia O
direito agrave vida portanto precisa ser garantido a todos independentemente da cultura em que
esteja imerso
Universalizar ao contraacuterio do que alguns pensam natildeo eacute uniformizar as ideias criar
um pensamento uacutenico Mas simentender que a vida tem que ser respeitada nas mais diversas
culturas pois esta eacute um direito fundamental Apesar de cada povo cada cultura ter direito agrave
liberdade de expressar suas tradiccedilotildees e crenccedilas a vida natildeo pode ser usurpada de quem quer
que seja
Desta forma o tema em debate se daacute na interface entre cultura e Direitos Humanos
especialmente no diz respeito ao infanticiacutedio praacutetica comum entre alguns povos indiacutegenas
brasileiros
Neste sentido este trabalho se estabelece na necessidade de uma anaacutelise desse
costume isto eacute se este eacute um simples haacutebito enraizado nas tradiccedilotildees indiacutegenas ou se
representa uma grave lesatildeo ao direito agrave vida Buscando assim uma resposta sobre o tema
4 Disponiacutevel em httpg1globocomfantasticonoticia201412tradicao-indigena-faz-pais-tirarem-vida-de-crianca-com-deficiencia-fisicahtml acesso em 11062019 5 Lei nordm 6001 de 19 de dezembro de 1973 Dispotildee sobre o Estatuto do Iacutendio Art 54 Os iacutendios tecircm direito aos meios de proteccedilatildeo agrave sauacutede facultados agrave comunhatildeo nacional Paraacutegrafo uacutenico Na infacircncia na maternidade na doenccedila e na velhice deve ser assegurada ao silviacutecola especial assistecircncia dos poderes puacuteblicos em estabelecimentos a esse fim destinados
138
por meio de anaacutelises sobre a manifestaccedilatildeo cultural indiacutegena os instrumentos normativos
nacionais e internacionais acerca dos direitos humanos e os direitos dos povos indiacutegenas
com aspectos eacuteticos morais socioloacutegicos antropoloacutegicos aleacutem do conflito entre os
argumentos do relativismo cultural e do universalismo dos direitos humanos
Conclusotildees preliminares
Com base no exposto apesar de o infanticiacutedio ser entendido como praacutetica cultural
de algumas tribos indiacutegenas deve ser combatido pelo Estado com intuito de preservar a vida
Acredita-se que a soluccedilatildeo estaraacute sustentada nodiaacutelogo para quem sabe num futuro proacuteximo
havercompreensatildeo sobre o que eacute o infanticiacutedio e que natildeo deve ser praticado pois o direito
agrave vida eacute para todos
Aleacutem disso eacute indispensaacutevel tambeacutem como medida que o Estado institua poliacuteticas
puacuteblicas voltadas agrave comunidade indiacutegena para que se possa mostrar aos iacutendios que a crianccedila
nascida com alguma deficiecircncia pode ser curada aleacutem de oferecer atendimento preacute-natal agraves
matildees como forma de prevenir futuras anomalias nos bebecircsbem como meacutetodos
contraceptivos O diaacutelogo deve ser sempre no intuito de preservar a vida e a dignidade da
pessoa humana
Referecircncias BAKAIRI E Carta do Movimento indiacutegena contra o infanticiacutedio 2008 Disponiacutevel em httpmovimentoindigenaafavordavidablogspotcombr200808carta-aberta-de-edson-bakairihtml BARRETO Vicente Universalismo Multiculturalismo e Direitos humanos sd Disponiacutevel em httpdhnetorgbrdireitostextosglobalizaccedilatildeo_dhbarretoglobalhtml BRASIL Projeto de Lei nordm nordm1057 maio de 2007 Dispotildee sobre o combate a praacuteticas tradicionais nocivas e agrave proteccedilatildeo dos direitos fundamentais de crianccedilas indiacutegenas bem como pertencentes a outras sociedades ditas natildeo tradicionais CAMACHO Wilsimara Almeida Barreto Infanticiacutedio indiacutegena O dilema da Travessia Curitiba PR Editora Appris 2017 DALLARI Dalmo de Abreu Os direitos humanos e os iacutendios In AMARAL JUacuteNIOR Alberto e PERRONE-MOISEacuteS Claacuteudia (orgs) O Cinquentenaacuterio da Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos do Homem Satildeo Paulo EDUSP FAPESP 1999
GIL Antonio Carlos Como elaborar projetos de pesquisa - 4 ed - Satildeo Paulo Atlas 2002
________ Meacutetodos e teacutecnicas de pesquisa social - 6 ed - Satildeo Paulo Atlas 2008
HOLANDA Mariana AF Quem satildeo os humanos dos direitos Sobre a criminalizaccedilatildeo do infanticiacutedio indiacutegena Dissertaccedilatildeo de Mestrado UNB agosto de 2008 LIDOacuteRIO Ronaldo Natildeo haacute morte sem dor uma visatildeo antropoloacutegica sobre a pratica do infanticiacutedio indiacutegena no Brasil In SOUZA Isaac Costa de LIDOacuteRIO Ronaldo (org) A
139
questatildeo indiacutegena uma luta desigual missotildees manipulaccedilatildeo e sacerdoacutecio acadecircmico Viccedilosa MG Ultimato 2008
MAGGIOVicente de Paula Rodrigues Infanticiacutedio - E a Morte Culposa do Receacutem-nascido Campinas SP Editora Millennium 2009
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RIBEIRO DARCY Os iacutendios e a Civilizaccedilatildeo A Integraccedilatildeo das Populaccedilotildees Indiacutegenas no Brasil Moderno Satildeo Paulo Global Editora 2017
SALLES Denise Lopes OLIVEIRA Raquel Moreira A Garantia do Direito agrave Vida Diante da Diversidade CulturalNotas sobre a Accedilatildeo e a omissatildeo do Estado Brasileiro em Relaccedilatildeo ao Infanticiacutedio Indiacutegena In BENICIO Mila Cacircmara Sergio (Orgs) Direitos Humanos Da Teoria agrave pratica O Complexo Dialogo Rio de Janeiro Autografia 2015 p179-191
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SILVA Welliton Carlos da Projeto de lei tenta impedir assassinatos de crianccedilas idosos e doentes em tribos Postado em 24 de janeiro de 2017 agraves 13h20 Disponiacutevel em httpswwwdmcombrpolitica201701o-dilema-do-infanticidio-indigenahtml - O dilema do infanticiacutedio indiacutegena Acesso em 12 de Nov2018
140
O INSTITUTO DA POSSE E OS CONFLITOS FUNDIAacuteRIOS URBANOS BRASILEIROS
Renan de Souza Cid1
Helenice Pereira Sardenberg 2
Eixo Temaacutetico GT 3 ndash As diferentes perspectivas no contexto dos Direitos Humanos
Palavras-chave direito civil posse propriedade privada conflitos fundiaacuterios urbanos
funccedilatildeo social da posse
INTRODUCcedilAtildeO
Tecircm-se ainda hoje o Brasil como um dos paiacuteses com o maior iacutendice de desigualdade
social percebida mundialmente A realidade brasileira ganha destaque mesmo no cenaacuterio da
Ameacuterica Latina regiatildeo marcada pela discrepacircncia de condiccedilotildees de vida sobretudo nas
regiotildees urbanas A concentraccedilatildeo de latifuacutendios em poucas matildeos e a escassa oportunidade de
aquisiccedilatildeo da propriedade explica parte da problemaacutetica aqui esposada
Juridicamente um dos institutos de interessante aplicaccedilatildeo na tentativa de suavizaccedilatildeo
das desigualdades sociais eacute a posse Hodiernamente pode-se inferir que a posse encontra
marco normativo proacuteprio e autonomia quanto a sua titularidade
Todavia em momentos de conflitos fundiaacuterios urbanos notamos que eacute o possuidor
o primeiro a ser atacado e diminuiacutedo quanto agrave sua legitimidade enquanto sujeito de direitos
Em razatildeo disso o presente trabalho tem por objeto a posse e o seu espaccedilo no
contexto dos conflitos fundiaacuterios urbanos no qual se quer definir o peso juriacutedico atribuiacutedo
a este instituto e os meios de mitigaccedilatildeo das constantes violaccedilotildees de direitos de possuidores
Para alcanccedilar os propoacutesitos por noacutes definidos este trabalho se pauta em uma
pesquisa bibliograacutefica visto que nos utilizaremos do conhecimento jaacute produzido acerca do
tema para que as finalidades aqui almejadas sejam respondidas aleacutem de nos valermos do
meacutetodo hipoteacutetico-dedutivo no tratamento de nossas hipoacuteteses Deste modo o
desenvolvimento desta investigaccedilatildeo se daraacute tendo como marco teoacuterico a produccedilatildeo de
1 Advogado Poacutes-Graduando no Programa de Residecircncia Juriacutedica da Procuradoria Geral do Municiacutepio de Niteroacutei Graduado em Direito pelo Centro Universitaacuterio La Salle do Rio de Janeiro ndash UNILASALLE-RJ httplattescnpqbr9571245194693362 2 Doutora em Serviccedilo Social UERJ Poacutes-doutora em Histoacuteria Poliacutetica UERJ professora e pesquisadora no Centro Universitaacuterio La Salle do Rio de Janeiro ndash UNILASALLE-RJ httplattescnpqbr0129280993959064
141
CASTRO E NOVAES (2015) HARVEY (2012) LEFEBVRE (2010) PEREIRA (2019)
STOLZE (2019) entre outros
1 A POSSE NO ORDENAMENTO JURIacuteDICO E CONTEXTO FAacuteTICO
BRASILEIRO
Cuida-se a posse do exerciacutecio de determinado poder faacutetico sobre coisa alheia ou
proacutepria com a finalidade de satisfazer necessidades inerentes ao ser humano Seria a posse
um direito natural acolhido pelo ordenamento juriacutedico dado a sua essencialidade (STOLZE
2019)
Para este estudo nos interessa a posse sobre coisa alheia dado que este cenaacuterio
estaria complemente desvinculado do direito de propriedade apresentando vulnerabilidade
maior
Em que pese agrave existecircncia de diversas teorias doutrinaacuterias que tecircm por finalidade a
conceituaccedilatildeo da posse a ideia adotada pelo ordenamento juriacutedico nacional aproxima-se do
pensamento de Ihering Conhecida como teoria objetiva esta linha de raciociacutenio tem como
premissa a anaacutelise tatildeo somente do comportamento do sujeito
Basta a experiecircncia do corpus em notoacuteria exteriorizaccedilatildeo do direito de propriedade In
casu a figura do dono nasce com a maneira como age o sujeito sobre esta coisa exprimindo
o seu poder faacutetico sobre a coisa sendo esse poder a posse Outrossim a posse seria o
exerciacutecio de fato de um ou mais dos poderes inerentes agrave propriedade bastando tatildeo somente
a vontade de comandar o bem em nome proacuteprio (affectio tenendi)
A natildeo positivaccedilatildeo da posse no art 1125 do Coacutedigo Civil de 2002 expressa a sua
desvalorizaccedilatildeo em relaccedilatildeo a tantos outros direitos reais ali elencados Deste modo a posse
em natildeo raras vezes se contrapotildee ao direito de propriedade detido nas matildeos de certa elite
Natildeo eacute de difiacutecil compreensatildeo que o fortalecimento deste primeiro instituto implicaria na
diminuiccedilatildeo do controle de terras e (por que natildeo) do domiacutenio da cidade como um todo
especialmente das aacutereas que seratildeo valorizadas ou receberatildeo investimentos puacuteblicos
Castro e Novaes3 (2015) lembram que ldquoobservou-se um fortalecimento de uma coalizatildeo de
poder que hegemoniza as diretrizes da gestatildeo da cidade tendo como principal vieacutes a sua mercantilizaccedilatildeordquo (p
84) Como mercadoria a cidade eacute voltada para quem ldquopode compraacute-lardquo portanto nesta
visatildeo de urbe ldquopossuidoresrdquo natildeo satildeo bem-vindos
3 CASTRO Demian G NOVAES Patriacutecia RCASTRO Empreendedorismo Urbano no contexto dos megaeventos esportivos impactos no direito agrave moradia na cidade do Rio de Janeiro In CASTRO D G GAFFNEY C RODRIGUES J M DOS SANTOS C P DOS SANTOS JUNIOR O A (Orgs) Rio de Janeiro Os Impactos da Copa do Mundo 2014 e das Olimpiacuteadas 2016 Rio de Janeiro Letra Capital 2015 p 63-88
142
2 CONFLITOS FUNDIAacuteRIOS URBANOS
Acerca do que seria considerado um conflito fundiaacuterio urbano resta trazer a
conceituaccedilatildeo asseverada pelo Conselho Nacional das Cidades ndash CONCIDADES oacutergatildeo
colegiado extinto pelo governo Bolsonaro por meio do Decreto Federal nordm 9759 de 11 de
abril de 2019 Para este conselho tais conflitos seriam caracterizados pela
[] disputa pela posse ou propriedade de imoacutevel urbano bem como impacto de empreendimentos puacuteblicos e privados envolvendo famiacutelias de baixa renda ou grupos sociais vulneraacuteveis que necessitem ou demandem a proteccedilatildeo do Estado na garantia do direito humano agrave moradia e agrave cidade4
Estas conflagraccedilotildees podem ser subdividas ainda em conflitos fundiaacuterios amplos ou
estritos Esta classificaccedilatildeo nos interessa em muito pois que eacute este uacuteltimo conjunto de
conflitos que nos interessa sem que se deixe de reconhecer a relevacircncia do conhecimento a
respeito dos conflitos amplos A bem da verdade os conflitos estritos soacute ocorrem porque os
conflitos amplos natildeo satildeo solucionados pelo Estado por meio de suas poliacuteticas puacuteblicas
Os conflitos fundiaacuterios amplos satildeo tipificados na violaccedilatildeo da ordem urbaniacutestica
incorporada no ordenamento juriacutedico ldquofruto do planejamento excludente da priorizaccedilatildeo do direito de
propriedade em detrimento do direito agrave moradiardquo5 Nesta loacutegica mercadoloacutegica de cidade insere-se a
desvalorizaccedilatildeo da posse enquanto situaccedilatildeo faacutetica tutelada minimamente pelo direito
brasileiro
Os conflitos fundiaacuterios estritos a seu tempo satildeo disputas casuiacutesticas individuais nas
quais conseguimos delimitar as partes Geralmente envolve proprietaacuterios e possuidores em
busca do objetivo comum de exercer o poder de fato sobre determinada coisa imoacutevel
Esta caracteriacutestica individual e bem delimitada dos conflitos estritos nos permite
visualizar os entraves faacuteticos e juriacutedicos enfrentados pelos possuidores e os instrumentos de
minimizaccedilatildeo da diminuiccedilatildeo do possuidor enquanto sujeito de direitos
3 MINIMIZACcedilAtildeO DE VIOLACcedilAtildeO DE DIREITOS
Cabe reconhecer que a origem dos conflitos fundiaacuterios urbanos estaacute atrelada
frequentemente a proacutepria atuaccedilatildeo estatal seja na realizaccedilatildeo de obras de infraestrutura seja
no embelezamento decorre do objetivo de tornar a cidade atraente ao mercado imobiliaacuterio6
4 Redaccedilatildeo do art 3ordm I da Resoluccedilatildeo Recomendada nordm 87 8 de dezembro de 2009 5 SECRETARIA DE REFORMA DO JUDICIAacuteRIO Diaacutelogos sobre Justiccedila Soluccedilotildees Alternativas Para Conflitos Fundiaacuterios Urbanos Brasiacutelia 2013 Satildeo Paulo 2013 p 26 6 Ibidem
143
Neste cenaacuterio poderiacuteamos narrar inuacutemeras afrontas as quais possuidores satildeo
submetidos Contudo chama atenccedilatildeo duas situaccedilotildees recorrentes e evitaacuteveis quais sejam a
dificuldade de acesso agrave informaccedilatildeo por parte da populaccedilatildeo afetada e a poliacutetica de indenizaccedilatildeo
que desconsidera a posse exercida
Acerca da falta de informaccedilatildeo importante frisar que tal posicionamento puacuteblico
acabar por ir de encontro com a Lei Federal nordm 125272011 que dispotildee sobre a transparecircncia
das accedilotildees estatais e com o proacuteprio Estatuto das Cidades Lei Federal nordm 102572001 que
preconiza a participaccedilatildeo popular no planejamento da urbe como um dos pilares da ordem
urbaniacutestica
Jaacute as indenizaccedilotildees oferecidas aos possuidores violam frontalmente o direito agrave
moradia destes sujeitos dado que o caacutelculo realizado leva em conta tatildeo somente as
benfeitorias realizadas nos imoacuteveis sob o argumento de que estes natildeo seriam os legiacutetimos
proprietaacuterios Os valores auferidos satildeo incapazes de garantir o acesso a novos imoacuteveis em
condiccedilotildees similares
Como medidas que poderiam ser observadas para mitigaccedilatildeo das condutas nefastas
aqui narradas acreditamos que a efetiva utilizaccedilatildeo dos instrumentos de poliacutetica urbana tais
como o reconhecimento da funccedilatildeo social da propriedade e da posse bem como a provisatildeo
de zonas especiais de interesse social ndash ZEIS e o reconhecimento da posse como direito de
mesma escala que a propriedade eacute capaz de afastar inuacutemeras violaccedilotildees de direitos
Ademais o combate agrave invisibilidade proposital de possuidores eacute poliacutetica que deve ser
aplicada pelo Poder Puacuteblico O enfrentamento da invisibilidade deve perpassar a participaccedilatildeo
popular nas decisotildees estatais e a cautela judicial na concessatildeo de tutelas provisoacuterias tendentes
a mitigar a posse sem que todas as partes envolvidas sejam efetivamente ouvidas
CONSIDERACcedilOtildeES PRELIMINARES
Buscou-se neste trabalho discorrer acerca da posse no ordenamento juriacutedico
brasileiro e a forma como este instituto eacute constantemente diminuiacutedo nos conflitos
fundiaacuterios urbanos Assim definimos como objetivos fundamentais definir o peso juriacutedico
atribuiacutedo agrave posse e identificar os meios de mitigaccedilatildeo das constantes violaccedilotildees de direitos de
possuidores
Em relaccedilatildeo ao nosso primeiro objetivo observamos que faz parte de um projeto
mercadoloacutegico de cidade a diminuiccedilatildeo da posse enquanto direito real em potencial Notamos
que natildeo eacute interessante para aqueles que entendem ser o fator econocircmico o principal motor
144
da poacutelis a legitimaccedilatildeo de direitos aos possuidores jaacute que estes pouco contribuiratildeo com a
engrenagem financeira de concentraccedilatildeo de terras
Jaacute em nosso questionamento referente a violaccedilotildees de direitos especiacuteficos delineados
por este trabalho pode-se observar que parte destas condutas eacute resultado de um
posicionamento poliacutetico do proacuteprio Estado Por outro lado identificamos que a valorizaccedilatildeo
da posse pode ser alcanccedilada se instrumentos urbaniacutesticos forem aplicados e os possuidores
ouvidos quando da caracterizaccedilatildeo de conflitos fundiaacuterios urbanos estritos
REFEREcircNCIAS CARVALHO FILHO Joseacute dos S Manual de Direito Administrativo Rio de Janeiro Atlas 2016 CASTRO Demian G NOVAES Patriacutecia RCASTRO Empreendedorismo Urbano no contexto dos meaeventos esportivos impactos no direito agrave moradia na cidade do Rio de Janeiro In CASTRO D G GAFFNEY C RODRIGUES J M DOS SANTOS C P DOS SANTOS JUNIOR O A (Orgs) Rio de Janeiro Os Impactos da Copa do Mundo 2014 e das Olimpiacuteadas 2016 Rio de Janeiro Letra Capital 2015 COMITEcirc DE DIREITOS ECONOcircMICOS SOCIAIS E CULTURAIS ndash ONU Comentaacuterio Geral nordm 07 Disponiacutevel em httppfdcpgrmpfmpbratuacao-e-conteudos-de-apoiolegislacaoreforma-agrariaComentarioGeral7_DESCview Acesso em 31102019 CONSELHO NACIONAL DAS CIDADES ndash CONCIDADES Resoluccedilatildeo Recomendada nordm 87 Brasiacutelia 2009 GAGLIANO Pablo Stolze PAMPLONA FILHO Rodolfo Novo Curso De Direito Civil vol 5 direitos reais Satildeo Paulo Saraiva 2019 HARVEY D O direito agrave cidade Revista Lutas Sociais Satildeo Paulo n 29 p 73-89 juldez 2012 LEFEBVRE Henri O direito agrave cidade Satildeo Paulo Centauro 2001 MARICATO Ermiacutenia Para entender a crise urbana Satildeo Paulo Expressatildeo Popular 2015 PEREIRA Caio Maacuterio da Silva Instituiccedilotildees De Direito Civil Direitos Reais Rio de Janeiro Editora Gen 2009 SECRETARIA DE REFORMA DO JUDICIAacuteRIO Diaacutelogos sobre Justiccedila Manual de Procedimentos prevenccedilatildeo e soluccedilotildees adequadas aos conflitos fundiaacuterios urbanos Brasiacutelia 2013 Satildeo Paulo 2013 SECRETARIA DE REFORMA DO JUDICIAacuteRIO Diaacutelogos sobre Justiccedila Soluccedilotildees Alternativas Para Conflitos Fundiaacuterios Urbanos Brasiacutelia 2013 Satildeo Paulo 2013 p 26
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A APLICABILIDADE DA LEI MARIA DA PENHA AgraveS MULHERES TRANSGEcircNEROS E TRANSEXUAIS
Helenice Pereira Sardenberg1
Mariana Almeida Da Silva2
Eixo Temaacutetico GT3 As diferentes perspectivas no contexto dos Direitos Humanos
Palavras-chave Lei Maria da Penha Violecircncia de gecircnero Mulheres transgecircneros e
transexuais
O presente trabalho nasceu da preocupaccedilatildeo em entender como aplicadores do direito
compreendem mulheres transexuais e transgecircneros quanto agrave aplicaccedilatildeo da Lei Maria da Penha
ou deferimento de medidas protetivas em favor destas
Isto porque a referida lei em seu bojo propugna que a violecircncia domeacutestica e familiar
eacute fundada no gecircnero (art 5ordm da Lei 1134006) Muito embora a palavra ldquogecircnerordquo natildeo se
relacione a questotildees bioloacutegicas certo eacute que parte da doutrina e jurisprudecircncia entende que a
proteccedilatildeo da Lei natildeo deve alcanccedilar mulheres trans
A vulnerabilidade que afeta as mulheres bioloacutegicas eacute a mesma que afeta todas agravequelas
que intitulam-se comportam-se identificam-se e satildeo identificadas enfim que vivem o
feminino Tais mulheres inclusive vivem todos os dias a negligecircncia das normas e a
desassistecircncia do Estado no tocante agraves poliacuteticas puacuteblicas
Em uma cultura como a brasileira carregada de preconceito e intoleracircncia impedir
o reconhecimento da mulher transgecircnero como sujeito de direitos principalmente de ser
aceita e reconhecida como quem eacute de fato ndash mulher ndash eacute dar o aval para que a invisibilidade
desta populaccedilatildeo perpetue Negar-lhes a proteccedilatildeo da lei eacute negar-lhes a dignidade e a
autodeterminaccedilatildeo
Fachin (2014) nos ensina que a autodeterminaccedilatildeo das pessoas configura-se como
elemento fundamental para garantia da qualidade de vida Sendo assim o direito de ser se
encapsula como direito da personalidade inerente a todo ser humano O entatildeo Ministro aduz
que impor um preacute-requisito como algumas decisotildees o fazem exigindo cirurgia preacutevia de
146
redesignaccedilatildeo sexual ou alteraccedilatildeo no Registro Civil3 ldquomutila em nosso ver a proacutepria definiccedilatildeo
de direitos fundamentais e direitos da personalidaderdquo
E continua
[] Uma vez se tratando de direitos inerentes ao sujeito impor condiccedilotildees se transmuta em genuiacuteno autoritarismo contra sujeitos que tecircm a prerrogativa de viverem a vida exercendo suas potencialidades e suas liberdades eacute o que o direito deve garantir
Em 2018 a ONG Transgender Europe publicou o Trans Murder Monitoring4 projeto de
pesquisa que monitora coleta e analisa relatoacuterios de homiciacutedios de pessoas transgecircneros e
transexuais em acircmbito mundial Segundo a pesquisa em um total de 369 assassinatos
registrados em 72 paiacuteses entre os anos de 2017 e 2018 167 ocorreram no Brasil o que nos
torna liacuteder em violecircncia contra pessoas trans
Muito embora esses dados ainda sejam escassos e natildeo se assemelhem agrave realidade
pois sequer existe um observatoacuterio nacional que possa contabilizaacute-los de forma precisa os
casos analisados refletem um ambiente de intoleracircncia e discriminaccedilatildeo ainda vividos no paiacutes
Tal repressatildeo por inuacutemeras vezes eacute perpetrada pela proacutepria famiacutelia por meio de violecircncias
fiacutesicas psicoloacutegicas e sexuais ndash estupro corretivo ndash sendo expulsas de casa na mais tenra
idade5
Esse cenaacuterio de perda dos viacutenculos familiares associado ao preconceito com as
muacuteltiplas formas de se viver o gecircnero contribuem para a evasatildeo escolar e a consequente
marginalizaccedilatildeo desta populaccedilatildeo
A Lei Maria da Penha delimita seu campo de abrangecircncia em unidade domeacutestica
familiar e qualquer relaccedilatildeo iacutentima de afeto o que nos permite concluir que para ser sujeito
ativo isto eacute autor deste crime natildeo se faz necessaacuterio que as partes sejam marido e mulher ndash
ou que sequer vivam em uniatildeo estaacutevel ndash muito embora a maioria dos crimes ocorra nesta
situaccedilatildeo
A violecircncia domeacutestica eacute tambeacutem reconhecida nas relaccedilotildees de parentesco quando haacute
motivaccedilatildeo de gecircnero ou situaccedilatildeo de vulnerabilidade Eacute admitida tambeacutem sua incidecircncia
entre irmatildeos ascendentes ou descendentes natildeo sendo necessaacuteria diferenccedila entre sexos entre
agressor e a mulher viacutetima de violecircncia
3 Em 20 de agosto de 2018 o Supremo Tribunal Federal em julgamento em que foi reconhecida repercussatildeo geral (ADI 4275) assegurou aos transgecircneros o direito agrave substituiccedilatildeo de prenome e gecircnero no Registro Civil independentemente da realizaccedilatildeo de qualquer procedimento ciruacutergico ou tratamentos hormonais 4 Disponiacutevel em lthttpstransrespectorgentmm-update-trans-day-of-remembrance-2018gt Acesso em 28 de outubro de 2019 5 Conforme pesquisas do ANTRA (Associaccedilatildeo Nacional de Travestis e Transexuais) treze anos eacute a meacutedia de idade em que travestis e transexuais satildeo expulsas de casa pelos proacuteprios pais Disponiacutevel em lthttpsantrabrasilfileswordpresscom201802relatc3b3rio-mapa-dos-assassinatos-2017-antrapdfgt Acesso em 28 de outubro de 2019
147
Este trabalho tem como principal objetivo discutir acerca do entendimento dos
tribunais hoje sobre o tema e priorizar a alteraccedilatildeo deste aleacutem de fomentar a discussatildeo do
tema em sociedade para que todos tenham igual acesso ao direito de viver seguros e livres de
quaisquer violecircncias e discriminaccedilotildees
Embora natildeo acreditemos que a cadeia seja soluccedilatildeo para diminuir o machismo a
intoleracircncia e desrespeito para com as diversas identidades de gecircnero a questatildeo que
porventura nos leva a pensar uma vez aplicada a Lei Maria da Penha agraves mulheres
transgecircneros e transexuais eacute que possiacuteveis agressores sejam obrigados a comparecer em
programas de recuperaccedilatildeo e reeducaccedilatildeo local em que seratildeo convidados a refletir sobre os
principais temas que levam agrave praacutetica do crime medida esta que pensamos ser a mais eficaz
para a diminuiccedilatildeo nos casos de violecircncia contra pessoas trans
A Lei Maria da Penha ao selecionar a mulher como elemento vulneraacutevel natildeo o fez
em razatildeo da presunccedilatildeo de que a mulher como sexo eacute biologicamente mais fraca que o
homem e que portanto merecia proteccedilatildeo
Eacute a mulher como gecircnero feminino o objeto de proteccedilatildeo e que a merece pois
carrega consigo estereoacutetipos seculares de submissatildeo e vulnerabilidade Justamente pela
violecircncia ser perpetrada em razatildeo do gecircnero e considerando-se que o gecircnero ultrapassa a
ideia de sexo bioloacutegico que se admite a aplicaccedilatildeo da Lei Maria da Penha agraves mulheres trans e
travestis
Impedir a proteccedilatildeo que tal lei tem a oferecer sustenta a invisibilidade trans Uma
categoria relativamente estigmatizada e marginalizada merece ter agrave sua disposiccedilatildeo
ferramentas que possibilitem sua proteccedilatildeo contra os abusos de uma sociedade
preconceituosa machista e opressora
REFEREcircNCIAS ANTRA (Associaccedilatildeo Nacional de Travestis e Transexuais) Dossiecirc assassinatos e violecircncia contra travestis e transexuais no Brasil em 2018 Disponiacutevel em lt httpsantrabrasilfileswordpresscom201901dossie-dos-assassinatos-e-violencia-contra-pessoas-trans-em-2018pdfgt Acesso em 28 de outubro de 2019 ANTRA (Associaccedilatildeo Nacional de Travestis e Transexuais) Mapa dos Assassinatos de Travestis e Transexuais no Brasil em 2017 Disponiacutevel em lthttpsantrabrasilfileswordpresscom201802relatc3b3rio-mapa-dos-assassinatos-2017-antrapdfgt Acesso em 28 de outubro de 2019 BRASIL Accedilatildeo Direta de Inconstitucionalidade 4275 Relator(a) Min Marco Aureacutelio Tribunal Pleno julgado em 01032018 DJE 06032018
148
BRASIL Lei no 11340 de 07 de agosto de 2006 Diaacuterio Oficial [da] Repuacuteblica Federativa do Brasil Poder Executivo Brasiacutelia DF 08 ago 2006 P 1 DIAS Maria Berenice A Lei Maria da Penha na Justiccedila 5 Ed Salvador Editora JusPodivm 2018 FACHIN Luiz Edson O Corpo do Registro no Registro do Corpo mudanccedila de nome e sexo sem cirurgia de redesignaccedilatildeo Revista Brasileira de Direito Civil Volume 1 JulhoSetembro 2014 JORGE Marco Antocircnio Coutinho TRAVASSOS Nataacutelia Pereira Transexualidade o corpo entre o sujeito e a ciecircncia ndash 1 Ed ndash Rio de Janeiro Zahar 2018 SCHREIBER Anderson Direitos da Personalidade 2 ed Satildeo Paulo Atlas 2013 STP S T (2012) Stop Trans Pathologization Disponiacutevel em lt httpsstp2012infooldptgt Acesso em 28 de outubro de 2019 TRANSGENDER EUROPE (TGEU) Trans Day of Remembrance (TDoR) 2018 Trans Respect versus Transphobia Disponiacutevel em lthttpstransrespectorgentmm-update-trans-day-of-remembrance-2018gt Acesso em 28 de outubro de 2019
149
A PARTICIPACcedilAtildeO DOS NEGROS NO MERCADO DE TRABALHO BRASILEIRO
Raphaela Madeira Gonccedilalves Busch1
Pedro Teixeira Gueiros2
Flavia Maria Zangerolame3
Eixo Temaacutetico GT 3 ndash As diferentes perspectivas no contexto dos Direitos Humanos
Palavras-chave Desigualdade Racial Mercado de Trabalho Reforma Trabalhista
Segregaccedilatildeo soacutecio-ocupacional
A despeito de todos os avanccedilos nas poliacuteticas puacuteblicas para o enfrentamento das
desigualdades sociais a populaccedilatildeo negra brasileira ainda enfrenta nos dias atuais diversos
empecilhos para alcanccedilar os postos de trabalho mais elevados na sociedade condizentes com
os niacuteveis mais elevados de escolaridade e remuneraccedilatildeo Sabe-se atraveacutes de estudos e
pesquisas inclusive com base em dados estatiacutesticos que essas desigualdades eacutetnico-raciais
tecircm seus loci de reproduccedilatildeo no sistema de ensino e no mercado de trabalho Tendo se
formado historicamente em bases profundamente hierarquizadas a sociedade brasileira se
desenvolve ao longo dos seacuteculos sob uma estrutura marcada por desigualdades dificilmente
superadas Eacute dessa forma que as transformaccedilotildees sociais poliacuteticas e econocircmicas por que tem
passado o paiacutes atingem de forma diferenciada os segmentos da sociedade da mesma maneira
em que as novas configuraccedilotildees que se estabelecem no mercado de trabalho brasileiro atual
principalmente regulado pela Reforma Trabalhista ora em curso devem produzir impactos
tambeacutem diferenciados sobre esses segmentos
Essa estrutura social desigual tem suas raiacutezes histoacutericas em paiacuteses que como o Brasil
cresceram ancorados numa economia escravista entre os seacuteculos XVI e XIX Uma nova
configuraccedilatildeo das relaccedilotildees raciais se estabelece a partir das lutas pela independecircncia e com o
advento da aboliccedilatildeo da escravatura Na condiccedilatildeo de escravos os negros natildeo eram vistos
como um grande problema na medida em que detinham um lugar determinado no sistema
colonial ou seja natildeo eram cidadatildeos detentores de direitos
1 Graduanda em Direito pelo Ibmec-RJ httplattescnpqbr3405911581453470 raphaelamgbgmailcom 2 Graduando em Direito pelo Ibmec-RJ httplattescnpqbr3185404403050883 pedrogueirosuolcombr 3 Mestre em Direito Civil pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) professora do Ibmec-RJ httplattescnpqbr9791580312273029
150
A partir do final do seacuteculo XIX a populaccedilatildeo negra receacutem liberta surge como um
problema para a jovem naccedilatildeo que surge nesse momento O negro juntamente com o sistema
escravocrata que lhe sustentava representavam o atraso econocircmico social e poliacutetico e o
racismo cientiacutefico construiacutedo na segunda metade do seacuteculo XIX serviu para justificar a ideia
de que um paiacutes desenvolvido natildeo podia abrigar a maioria de sua populaccedilatildeo com essa origem
e essa identidade
Estudos socioloacutegicos desde o iniacutecio do seacuteculo XX tecircm discutido a questatildeo racial na
sociedade brasileira e o lugar que o negro ocupa na construccedilatildeo dessa naccedilatildeo Tais estudos
marcaram os vaacuterios momentos da histoacuteria social poliacutetica e econocircmica brasileira
Eacute importante destacar que o Brasil produz informaccedilotildees sobre a cor ou raccedila de sua
populaccedilatildeo desde o primeiro censo do Impeacuterio em 1872 ainda no periacuteodo escravista Essas
informaccedilotildees foram coletadas para os censos seguintes 1890 1940 1950 1960 1980 1991
2000 2010 Portanto o Brasil eacute o paiacutes sul-americano que produziu a mais longa seacuterie histoacuterica
sobre esse aspecto de sua populaccedilatildeo o que eacute um dos fatores a corroborar a sua importacircncia
para compreender a naccedilatildeo Essa base de dados foi importante na construccedilatildeo de um
pensamento sobre as desigualdades raciais na sociedade brasileira principalmente no que se
refere agraves condiccedilotildees de vida educaccedilatildeo renda e mercado de trabalho
Desde os anos 1950 pesquisadores tem se debruccedilado sobre esses dados para estudar
temaacuteticas relacionadas agraves desigualdades sociais brasileiras Vaacuterios trabalhos ao longo dos
uacuteltimos 70 anos tem mostrando que a par todo o crescimento econocircmico alcanccedilado as
desigualdades entre brancos e negros tem se mantido em patamares elevados ou seja tudo
indica que ao longo de todo esse tempo a populaccedilatildeo negra ainda ocupa majoritariamente os
empregos mais precaacuterios possui os niacuteveis de instruccedilatildeo mais baixos e representa a maior parte
da populaccedilatildeo mais pobre do paiacutes
Criou-se assim uma dicotomia entre a igualdade formal e a realidade propiciando a
perpetuaccedilatildeo da segregaccedilatildeo soacutecio-racial do passado Isso inclusive e com destaque para o
acircmbito laboral mantiveram-se as amarras da escravidatildeo pois o negro permaneceu
subordinado aos demais indiviacuteduos brancos e livres tendo seu acesso ao mercado de trabalho
negado e quando permitido restritos aposiccedilotildees subalternas com a justificativa da baixa
qualificaccedilatildeo
Nesta perspectiva em razatildeo do processo histoacuterico-social intriacutenseco agrave sociedade
brasileira a populaccedilatildeo afrodescendente continuou restrita aos estratos menos favorecidos
formando uma imensa camada de marginalizados oacuterfatildeos do poder puacuteblico que ignorando
151
o fosso econocircmico existente preocupou-se apenas em assegurar a igualdade perante agrave lei
mantendo uma posiccedilatildeo poliacutetica de manutenccedilatildeo do status quo
Pode-se dizer que durante deacutecadas o ordenamento juriacutedico paacutetrio foi silente
sobretudo no que se refere agrave discriminaccedilatildeo racial e agrave manutenccedilatildeo das desigualdades sociais
Assim o Brasil diferentemente de outros paiacuteses como os Estados Unidos e a Aacutefrica do Sul
nunca estabeleceu um regime juriacutedico de segregaccedilatildeo mas ao ignorar a apartaccedilatildeo taacutecita
evidenciada no territoacuterio nacional que a despeito do ordenamento juriacutedico ocorria
demasiadamente legitimou sua ocorrecircncia
O proacuteprio Ministeacuterio do Trabalho e Emprego em pesquisa recente veiculada pelo Portal
de Notiacutecias G1 da rede Globo revelou que em 2016 dos 34 milhotildees de trabalhadores com carteira
assinada que declararam sua cor ou raccedila pretos e pardos que formam o grupo dos negros (que
representam mais da metade da populaccedilatildeo) somavam 141 milhotildees (cerca de 40) enquanto brancos
eram 194 milhotildees amarelos 274 mil e indiacutegenas 75 mil
O levantamento aponta ainda que os negros compotildeem o grupo populacional no Brasil que
ocupa a maioria das vagas em serviccedilos braccedilais ou que exigem pouco preparo como operador de
telemarketing vigilante e cortador de cana-de-accediluacutecar No grupo das profissotildees altamente qualificadas
como as de engenheiro de computaccedilatildeo e professor medicina a maioria dos trabalhadores eacute branca4
Nas relaccedilotildees empregatiacutecias cujos dados revelam a inequiacutevoca presenccedila das praacuteticas
discriminatoacuterias que atingem a populaccedilatildeo negra tecircm-se como principais instrumentos de
praacutetica isonocircmica a Lei 902995 e a Lei 771689 ambas relacionadas ao combate de
condutas discriminatoacuterias no acircmbito laboral Apesar disso atualmente ainda haacute a
manutenccedilatildeo destas praacuteticas obstando a inserccedilatildeo desta parcela tatildeo marginalizada
A escassez eacute o principal substrato do sistema econocircmico atual No que se refere agrave
escassez dos postos de trabalho na ausecircncia de vagas para todos tem-se a possibilidade de
o empregador selecionar aqueles com caracteriacutesticas e aptidotildees especiacuteficas para o cargo
pleiteado Todavia nesta discricionariedade em diversas ocasiotildees sob a eacutegide de um racismo
velado (no passado escamoteado pelas regras da ldquoboa aparecircnciardquo)5 extrapolam-se os criteacuterios
objetivos e a cor da pele juntamente com outras caracteriacutesticas fenotiacutepicas a ela agregadas
tende a se manter contaminando as diretrizes que norteiam os contratos de emprego na sua
execuccedilatildeo e tambeacutem na sua extinccedilatildeo isso com a conivecircncia do Estado
4 (GOMES Helton Simotildees Brancos Satildeo Maioria Em Empregos De Elite E Negros Ocupam Vagas Sem Qualificaccedilatildeo Disponiacutevel em lthttpsg1globocomeconomianoticiabrancos-sao-maioria-em-empregos-de-elite-e-negros-ocupam-vagas-sem-qualificacaoghtmlgt Acesso em 20 de junho de 2018) 5 No passado era comum anuacutencios de emprego nos jornais virem acompanhados da expressatildeo ldquoexige-se boa aparecircnciardquo Muitos estudos mostraram que por traacutes dessa expressatildeo o preconceito racial atuava para impedir o acesso dos negros a determinados postos de trabalho
152
Diante do exposto torna-se fundamental compreender o fenocircmeno da
etnizaccedilatildeoracializaccedilatildeo da forccedila de trabalho analisando seus aspectos e suas consequecircncias
e repensando suas possibilidades neste momento de reconfiguraccedilatildeo das normas trabalhistas
Este eacute o objetivo principal deste trabalho Haacute todavia a emergecircncia de uma nova ordem
constitucional estabelecida em 1988 baseada na dignidade humana na isonomia substancial
e nos valores sociais do trabalho e da livre iniciativa a qual almeja refutar veementemente
quaisquer condutas contraacuterias aos seus princiacutepios nucleares
No entanto paradoxalmente natildeo se percebe uma real e efetiva preocupaccedilatildeo estatal
de mudar esses paradigmas para aleacutem do aparato legal Corroborando com essa hipoacutetese de
que o Estado compactua com essa perspectiva de locaccedilatildeo do negro no mercado de trabalho
a preccedilo vil incentivando novas e precaacuterias formas de contrataccedilatildeo que reduzem o valor da
matildeo-de-obra eacute importante tecer algumas consideraccedilotildees sobre a Reforma Trabalhista
implementada pelo governo no uacuteltimo ano
Referecircncias
COSTA PINTO Luiz Antonio O negro no Rio de Janeiro relaccedilotildees de raccedilas numa
sociedade em mudanccedila R J Editora da UFRJ 1998
DELGADO M G A Reforma Trabalhista no Brasil com comentaacuterios agrave lei
134672017 S P LTR 2017
FERNANDES F A integraccedilatildeo do negro na sociedade de classes SP Aacutetica 1978
FREYRE Gilberto Casa Grande e Senzala formaccedilatildeo da famiacutelia brasileira sob o
regime da economia patriarcal 48ordf ed SP Global 2003
HASENBALG C Discriminaccedilatildeo e Desigualdades Raciais no Brasil R J Graal 1979
OLIVEIRA LE PORCARO R e ARAUacuteJO COSTA T C O lugar do negro na forccedila
de trabalho Fundaccedilatildeo IBGE R J 1985
PIOVESAN F SOUZA D M de (Org) Ordem Juriacutedica e Igualdade Eacutetnico-Racial
R J Luacutemen Iuris 2008
RAMOS FILHO W Direito Capitalista do Trabalho Histoacuteria Mitos e Perspectivas
no Brasil S P LTR 2012
153
GT 4 ndash EDUCACcedilAtildeO E DIREITOS
HUMANOS
154
A EDUCACcedilAtildeO E OS DIREITOS HUMANOS NO BRASIL
Daniele Custodio Marinho Jardim
Karen Cristine Marinho Jardim
Eixo Temaacutetico GT 4 ndash Educaccedilatildeo e Direitos Humanos
RESUMO O presente trabalho tem o condatildeo de destacar a importacircncia da educaccedilatildeo voltada
para os direitos humanos no Brasil uma vez que o paiacutes passa por uma crise de valores
privados e puacuteblicos com o esquecimento de temaacuteticas importantes como a igualdade e a
dignidade da pessoa humana Nesse acircmbito eacute necessaacuterio que esses princiacutepios natildeo estejam
presentes somente nos textos legais mas internalizados por todos os cidadatildeos A escola
como principal espaccedilo de interaccedilatildeo pode e deve promover reflexotildees acerca dos direitos
humanos afim de proporcionar jovens mais conscientes e ativos na vida poliacutetica e social
Palavras chave Direitos humanos Educaccedilatildeo Educaccedilatildeo em direitos humanos
1 INTRODUCcedilAtildeO
Os direitos humanos satildeo direitos inerentes a todos os seres humanos independentemente
de raccedila etnia sexo nacionalidade idioma religiatildeo ou qualquer outra condiccedilatildeo Esses direitos
satildeo inalienaacuteveis natildeo podem ser negados ou retirados de uma pessoa uma vez que jaacute nascem
com o ser humano Os direitos humanos estabelecem um limite para a atuaccedilatildeo do Estado e
para a interaccedilatildeo entre os proacuteprios sujeitos Apesar de os direitos humanos serem uma
importante ferramenta de proteccedilatildeo a qualquer cidadatildeo do mundo ainda hoje no Brasil
muitos natildeo sabem de fato sobre o conceito utilidade e garantias dos direitos humanos E eacute
nesse contexto que a escola se faz importante pois a escola eacute o primeiro lugar no qual o
indiviacuteduo se depara com as representaccedilotildees sociais laacute o indiviacuteduo forma relaccedilotildees
interpessoais aleacutem de estudar as disciplinas da grade curricular
Neste sentido apresenta-se o entendimento de Gadotti (2007 p 12) ao referir que ldquoa escola
natildeo eacute soacute um lugar para estudar mas para se encontrar conversar confrontar-se com o outro
discutir fazer poliacuteticardquo
Segundo a professora Aida Monteiro da Universidade Federal de Pernambuco ldquoa escola eacute
o local onde socializamos aprendemos e construiacutemos diferentes aprendizadosrdquo Esses
155
aprendizados podem ser em diferentes campos cognitivo afetivo emocional entre outros
Eacute funccedilatildeo social da escola possibilitar o conhecimento nos diferentes campos mesclando os
conteuacutedos curriculares com conhecimento de mundo pois a escola natildeo deve ficar isolada do
que acontece fora dos muros da instituiccedilatildeo se o assunto em alta do lado de fora for
corrupccedilatildeo deve ser abordado em sala de aula a questatildeo para que se construa alunos que
saibam dialogar e problematizar Logicamente que o profissional da educaccedilatildeo deve trabalhar
com as mais diferentes linguagens para que o aluno tenha capacidade de aprender natildeo eacute
viaacutevel dar um texto de lei para uma crianccedila de dez anos de idade ler poreacutem por meio de uma
muacutesica eacute possiacutevel que este compreenda sem dificuldades
A escola deve educar em valores valores esses voltados para a democracia para o respeito
e para a solidariedade sempre atenta as mudanccedilas que ocorrem na sociedade por exemplo
se no passado natildeo se abordava muito sobre os LGBTs hoje eacute fundamental trabalhar o
respeito a esse grupo Vale ressaltar que accedilotildees pontuais natildeo bastam para introjetar esses
valores o que se visa com a educaccedilatildeo em direitos humanos eacute o enraizamento que soacute ocorre
com a praacutetica sistemaacutetica
O compromisso com a educaccedilatildeo eacute tambeacutem o compromisso com a transformaccedilatildeo social para
uma realidade mais democraacutetica ldquo[] os direitos do homem por mais fundamentais que
sejam satildeo direitos histoacutericos ou seja nascidos em certas circunstacircncias caracterizadas por
lutas []rdquo (BOBBIO 2004 p25)
2 APLICACcedilAtildeO DA EDUCACcedilAtildeO EM DIREITOS HUMANOS
O primeiro passo para a aplicaccedilatildeo dos direitos humanos eacute entender que o aluno natildeo eacute uma
esponja que somente absorve conhecimento mas eacute um ser humano repleto de saberes O
conhecimento se daacute atraveacutes da troca entre professor e aluno e alunos entre si o professor
funciona como um mediador entre o conhecimento e as condicionantes sociais para a
produccedilatildeo do processo de ensino-aprendizagem Como bem destaca Paulo Freire
ldquo[] esses que-fazeres se encontram um no corpo do outro Enquanto ensino continuo buscando
reprocurando Ensino porque busco porque indaguei porque indago e me indago [] para conhecer o que
ainda natildeo conheccedilo e comunicar ou anunciar a novidaderdquo (FREIRE 1997 p32)
O segundo passo eacute trabalhar a identidade do aluno com o objetivo de fazer com que esse
reconheccedila suas caracteriacutesticas pessoais (fiacutesicas e culturais) com valorizaccedilatildeo das semelhanccedilas
156
e diferenccedilas para com os outros promovendo atitudes de respeito agraves individualidades aleacutem
de ajudar esse aluno a se perceber como importante e sendo importante eacute portador de
direitos humanos eacute sujeito de direitos e deveres
O terceiro passo estaacute relacionado agraves metodologias de ensino presentes nas Diretrizes
Nacionais para a Educaccedilatildeo em Direitos Humanos que satildeo
bull Construir normas de disciplina e de organizaccedilatildeo da escola com a participaccedilatildeo direta
dos estudantes
bull Discutir questotildees relacionadas agrave vida da comunidade tais como problema de sauacutede
saneamento baacutesico educaccedilatildeo moradia poluiccedilatildeo de rios e a defesa do meio ambiente
transporte entre outras
bull Trazer para a sala de aula exemplo de discriminaccedilotildees e preconceitos comuns na
sociedade a partir de situaccedilatildeo-problema e discutir de forma a resolvecirc-las
bull Tratar as datas comemorativas que permeiam o calendaacuterio escolar de forma articulada
com os conteuacutedos dos Direitos Humanos de forma transversal interdisciplinar e disciplinar
bull Trabalhar os conteuacutedos curriculares integrando-os aos conteuacutedos da aacuterea de Direitos
Humanos atraveacutes das diferentes linguagens musical corporal teatral literaacuteria plaacutestica
poeacutetica entre outras com metodologia ativa participativa e problematizadora
3 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Diante do que foi apresentado eacute notoacuterio entatildeo que a educaccedilatildeo em direitos humanos eacute de
suma importacircncia para o aluno em si e para a sociedade como um todo Para o aluno porque
este se empoderaraacute com conhecimento acerca dos seus direitos e deveres aleacutem da
consciecircncia sobre o seu papel poliacutetico e social E para a sociedade eacute uma tentativa de formar
cidadatildeos eacuteticos com valores introjetados para uma melhor convivecircncia
REFEREcircNCIAS
BOBBIO Norberto A era dos direitos Rio de Janeiro Elsevier 2004 BRASIL Secretaria de Direitos Humanos da Presidecircncia da Repuacuteblica Educaccedilatildeo em Direitos Humanos Diretrizes Nacionais Brasiacutelia 2013 FREIRE Paulo Pedagogia da autonomia saberes necessaacuterios agrave praacutetica educativa Satildeo Paulo Paz e Terra 1997
157
GADOTTI Moacir A escola e o professor Paulo Freire e a paixatildeo de ensinar Satildeo Paulo Publisher Brasil 2007 MONTEIRO Aida 1 Viacutedeo (1708 min) Educaccedilatildeo em Direitos Humanos O papel da escola no processo educativo de Direitos Humanos Publicado pela Universidade de Satildeo Paulo Disponiacutevel em httpeaulasuspbrportalvideoactionidItem=775 Acesso em 31 de out 2019 VALDAMERI Daiane soares Direitos Humanos e Educaccedilatildeo A construccedilatildeo de uma cultura Democraacutetica Revista Jus Navigandi Disponiacutevel em httpsjuscombr artigos66343direitos-humanos-e-educacao Acesso em 31 de out 2019
158
ACcedilOtildeES AFIRMATIVAS NA EDUCACcedilAtildeO PUacuteBLICA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO
Delcy Alex Linhares1
Eixo Temaacutetico GT 4 ndash Educaccedilatildeo e Direitos Humanos
Palavras-chave Accedilotildees afirmativas Educaccedilatildeo puacuteblica Direitos
Introduccedilatildeo
O presente estudo tem por objeto analisar a iniciativa do Estado do Rio de Janeiro
de instituir um sistema de reserva de vagas como forma de accedilatildeo afirmativa para o ingresso
em escolas e universidades puacuteblicas estaduais e tambeacutem para o acesso a cargos e empregos
no serviccedilo puacuteblico estadual
Inicialmente faremos uma siacutentese de dados fornecidos por oacutergatildeos oficiais de
geografia e estatiacutestica para traccedilar o perfil da populaccedilatildeo e as peculiaridades do mercado de
trabalho com ecircnfase na anaacutelise da escolaridade e renda Posteriormente faremos uma
contextualizaccedilatildeo histoacuterica e doutrinaacuteria das accedilotildees afirmativas
Em seguida passaremos agrave anaacutelise das experiecircncias advindas da iniciativa pioneira do
Estado do Rio de Janeiro na instituiccedilatildeo do sistema de reserva de vagas e seus reflexos nos
meios poliacutetico juriacutedico e acadecircmico onde abordaremos as diversas contestaccedilotildees ocorridas
ao longo do tempo perante o poder judiciaacuterio
Por fim demonstraremos os dados colhidos no relatoacuterio de revisatildeo do sistema de
reserva de vagas e concluiremos o estudo com a proposiccedilatildeo de que eacute necessaacuterio que mais
unidades da federaccedilatildeo adotem cotas para ingresso na educaccedilatildeo e no serviccedilo puacuteblico em
virtude da constitucionalidade do sistema e da vantajosidade social da iniciativa
1 Siacutentese dos dados estatiacutesticos
1 Procurador do Estado do Rio de Janeiro Mestre em Direito Puacuteblico e doutorando da Universidade Estaacutecio de Saacute - UNESA e professor da Escola Superior de Advocacia Puacuteblica da PGE-RJ - ESAP E-mail alexlinharesterracombr Curriculum Lattes httplattescnpqbr5579733201040475
159
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica - IBGE em 2018 a
populaccedilatildeo brasileira era de 208494900 indiviacuteduos2 e ldquona anaacutelise por cor ou raccedila a
proporccedilatildeo de brancos era de 458 e a de pretos e pardos de 532rdquo3 o que significa dizer
que a maioria da populaccedilatildeo eacute negra
Ainda segundo o mesmo instituto ldquodesigualdades tambeacutem satildeo reveladas quando se
compara a populaccedilatildeo segundo o criteacuterio de cor ou raccedila De fato ao longo de toda a seacuterie
histoacuterica a taxa de desocupaccedilatildeo da populaccedilatildeo preta ou parda foi maior do que a populaccedilatildeo
branca tendo alcanccedilado a maior diferenccedila em 2017 de 46 pontos percentuaisrdquo4 Tal
informaccedilatildeo nos leva a concluir que brancos tecircm mais acesso ao emprego do que pretos e
pardos
Prosseguindo o oacutergatildeo oficial de estatiacutestica registra que ldquoembora a populaccedilatildeo branca
seja mais escolarizada que a populaccedilatildeo preta ou parda esse aspecto natildeo pode ser apontado
como explicaccedilatildeo para tal resultado Afinal quando comparadas pessoas pretas ou pardas e
pessoas brancas com o mesmo niacutevel de instruccedilatildeo a taxa de desocupaccedilatildeo eacute sempre maior
para os pretos ou pardos A diferenccedila eacute substancialmente menor quando recortadas apenas
as pessoas com ensino superior completo indicando que concluir o ensino superior eacute um
fator que contribui para o acesso ao mercado de trabalho com mais intensidade para as
pessoas pretas ou pardas apesar de natildeo ser o suficiente para colocaacute-las em peacute de igualdade
com as pessoas brancasrdquo5
Dados divulgados mostram que em 2016 1 dos trabalhadores com os maiores
rendimentos no paiacutes recebia por mecircs em meacutedia R$ 2708500 A Renda nominal mensal
domiciliar per capita no Estado do Rio de Janeiro foi de R$ 168900 e a metade da
populaccedilatildeo do Estado ganhava em meacutedia R$ 747006 Em arremate o IBGE registra que
ldquoas pessoas de cor ou raccedila preta ou parda tiveram rendimento domiciliar per capita meacutedio
de quase a metade do valor observado para as pessoas brancas em 2017 (503)7 Ou seja
os brancos ganham salaacuterios mais altos que os pretos e pardos
2 httpswwwibgegovbrestatisticassociaispopulacao9103-estimativas-de populacaohtml=ampt=resultados acesso em 17052019 3 httpswwwibgegovbrestatisticassociaispopulacao9173-pesquisa-nacional-por-amostra-de-domicilios-continua-trimestral ndash 2018 acesso em 17052019 4 IBGE-Siacutentese de Indicadores Sociais uma anaacutelise das condiccedilotildees de vida da populaccedilatildeo brasileira 2018 IBGE Coordenaccedilatildeo de Populaccedilatildeo e Indicadores Sociais - Rio de Janeiro IBGE 2018 P 36 5 IBGE-Siacutentese de Indicadores Sociais op cit P37 6 httpscidadesibgegovbrbrasilrjpanorama 7 IBGE - Siacutentese de Indicadores Sociais op cit P55
160
Resumindo a maioria da populaccedilatildeo eacute preta ou parda mas as pessoas brancas que
satildeo minoria tecircm maior escolaridade mais emprego e ganham salaacuterios mais altos Natildeo eacute por
outro motivo que o oacutergatildeo oficial de estatiacutestica registra a relevacircncia do ensino superior para
as pessoas pretas ou pardas haja vista que a qualificaccedilatildeo contribui decisivamente para o
acesso desta populaccedilatildeo ao mercado de trabalho sendo tambeacutem fator crucial para o aumento
da renda e a melhora dos iacutendices de empregabilidade o que significa dizer que o acesso ao
ensino superior eacute capaz de transformar a vida da maioria da nossa populaccedilatildeo
Segundo o Programa das Naccedilotildees Unidas para o Desenvolvimento ndash PNUD que
mede o Iacutendice de Desenvolvimento Humano (IDH) o Brasil ocupa a 79ordf posiccedilatildeo no ranking
entre 189 paiacuteses8 e embora seja integrante do grupo de paiacuteses considerados de alto
desenvolvimento humano seu desempenho retrata que ainda temos muito a fazer
Eacute objetivo fundamental do Brasil ldquoerradicar a pobreza e a marginalizaccedilatildeo e reduzir
as desigualdades sociais e regionaisrdquo (CF art 3ordm III) Portanto eacute necessaacuterio que o Estado
busque meios e instrumentos que materializem e tornem efetivo este objetivo de sorte que
uma vez identificados grupos ou indiviacuteduos em estado de vulnerabilidade torna-se imperioso
a reduccedilatildeo das desigualdades sociais ou regionais Sem duacutevida a desigualdade no Brasil estaacute
relacionada com a estrutura eacutetnica e racial dos indiviacuteduos
A Constituiccedilatildeo Brasileira garante a igualdade entre as pessoas A ideia de igualdade
tem sua maacutexima redaccedilatildeo na Oraccedilatildeo aos Moccedilos de Rui Barbosa ldquoA regra da igualdade natildeo
consiste senatildeo em quinhoar desigualmente aos desiguais na medida em que se desigualam
Nesta desigualdade social proporcionada a desigualdade natural eacute que se acha a verdadeira
lei da igualdaderdquo9 Trata-se de assegurar natildeo apenas uma igualdade formal entre os indiviacuteduos
mas principalmente a igualdade material de bens e de oportunidades sendo imprescindiacutevel
reconhecer que existem pessoas humanas em nossa populaccedilatildeo que necessitam de tratamento
diferenciado porque encontram-se em situaccedilatildeo de desigualdade histoacuterica que as manteacutem
com menor niacutevel de escolaridade com menos empregos e ganhando pouco
2 Contextualizaccedilatildeo das Accedilotildees Afirmativas
A histoacuteria da superaccedilatildeo da desigualdade racial tem muitos eventos significantes mas
em se tratando de accedilotildees afirmativas eacute preciso fazer uma contextualizaccedilatildeo para que se
identifique as principais fontes Inegavelmente a decisatildeo proferida em 1954 pela suprema
corte estadunidense que ao julgar o caso Brown vs Board of Education declarou a
8 Human Development Indices and Indicators in www hdrundporg 9 BARBOSA Rui Oraccedilatildeo aos Moccedilos Rio de Janeiro Organizaccedilotildees Simotildees 1951 p31
161
inconstitucionalidade da segregaccedilatildeo racial de crianccedilas nas escolas puacuteblicas eacute citada como a
principal fonte jurisprudencial Todavia a expressatildeo ldquoafirmative actionrdquo apareceu pela primeira
vez no no Executive Order nordm 109251961 editado pelo presidente americano John F Kennedy
Este ato normativo proibia a discriminaccedilatildeo com base na raccedila credo cor ou origem nacional
aos empregados ou candidatos a emprego e permitia que o contratante adotasse uma ldquoaccedilatildeo
afirmativardquo para assegurar que tais candidatos teratildeo emprego e que os empregados seratildeo
tratados durante o emprego sem levar em conta sua raccedila credo cor ou origem nacional
Posteriormente o mesmo presidente sancionou o Civil Rights Act em 1964 que trouxe a
proibiccedilatildeo de segregaccedilatildeo racial nas escolas e lugares puacuteblicos e vedaccedilatildeo de discriminaccedilatildeo no
emprego Poreacutem somente apoacutes a sanccedilatildeo da Equal Employment Opportunity Act em 1972 pelo
presidente Nixon ldquoas universidades e escolas passaram a reservar cotas em seus processos
de admissatildeo a fim de promover a discriminaccedilatildeo positiva das pessoas igualmente beneficiadas
no mercado de trabalho com o intuito de reduzir a discriminaccedilatildeo e efetivar a igualdade
materialrdquo10
Joaquim Barbosa registra que as accedilotildees afirmativas consistem em poliacuteticas puacuteblicas
(e tambeacutem privadas) voltadas agrave concretizaccedilatildeo do princiacutepio constitucional da igualdade
material e agrave neutralizaccedilatildeo dos efeitos da discriminaccedilatildeo racial de gecircnero de idade de origem
nacional e de compleiccedilatildeo fiacutesica Impostas ou sugeridas pelo Estado por seus entes
vinculados e ateacute mesmo por entidades puramente privadas elas visam a combater natildeo
somente as manifestaccedilotildees flagrantes de discriminaccedilatildeo de fundo cultural estrutural enraizada
na sociedade11
Carlos Alberto Lima de Almeida registra que ldquoa escola deve portanto criar um
ambiente favoraacutevel aos negros para a obtenccedilatildeo de conhecimento seguranccedila acolhimento
enfim valorizaccedilatildeo de sua histoacuteria tradiccedilotildees costumes Ou seja por intermeacutedio da vida
escolar deve ser-lhes desenvolvida uma nova percepccedilatildeo sobretudo no recorte dos
relacionamentos interpessoais com expresso reconhecimento por parte do Estado da
sociedade e da escola da diacutevida social que tecircm em relaccedilatildeo ao segmento negro da populaccedilatildeo
10 CARDOSO Oscar Valente AS accedilotildees afirmativas e a inefetividade do direito agrave educaccedilatildeo In NETO Joatildeo Pedro Gibran HIROSE Tadaaqui Curso Modular de Direito Constitucional Satildeo Paulo Conceito Editorial 2010 P 173174 176177 11 BARBOSA Joaquim Accedilatildeo Afirmativa e princiacutepio constitucional da igualdade o direito como instrumento de transformaccedilatildeo social A experiecircncia dos EUA Rio de Janeiro Renovar 2001 p 6-7
162
Trata-se de uma tomada de posiccedilatildeo expliacutecita contra o racismo e a discriminaccedilatildeo racial nos
diferentes niacuteveis de ensino da educaccedilatildeo brasileirardquo12
Por estas razotildees na educaccedilatildeo puacuteblica as accedilotildees afirmativas se mostram mais
necessaacuterias haja vista que a ausecircncia destas accedilotildees acarreta falta de perspectivas de ascensatildeo
social Joaquim Barbosa registrou em sua obra acadecircmica a seguinte passagem
ldquoprejudicados em um aspecto de fundamental importacircncia para o ulterior desenrolar de suas
vidas os membros dos grupos vitimados se veem assim desprovidos dos lsquomeiosrsquo
indispensaacuteveis agrave sua inserccedilatildeo em peacute de igualdade com os beneficiaacuterios da injusticcedila
perpetrada na competiccedilatildeo por melhores empregos e posiccedilotildees escassas no mercado de
trabalho Noutras palavras a discriminaccedilatildeo entendida sob esta oacutetica como uma privaccedilatildeo de
lsquomeiosrsquo ou de lsquoinstrumentosrsquo da competiccedilatildeo resulta igualmente em privaccedilatildeo de
oportunidadesrdquo13
As accedilotildees afirmativas na aacuterea da educaccedilatildeo tecircm o intuito de reduzir as desigualdades
sociais sobretudo as raciais permitindo pela reserva das vagas existentes nas escolas
universidades e no serviccedilo puacuteblico o acesso isonocircmico agrave educaccedilatildeo e a oportunidades de
emprego permitindo aumentar a renda e reduzindo a vulnerabilidade dos grupos
populacionais identificados como merecedores de proteccedilatildeo especial do Estado tais como os
carentes negros indiacutegenas quilombolas deficientes fiacutesicos e outros definidos por lei de
forma a permitir o acesso em iguais condiccedilotildees a melhores oportunidades de ascensatildeo social
3 A experiecircncia do Estado do Rio de Janeiro
Imbuiacutedo do espiacuterito de inovaccedilatildeo trazido pela virada do milecircnio o Estado do Rio de
Janeiro publicou em 2000 a Lei nordm 3524 que de maneira inovadora reservou 50 das vagas
das universidades estaduais para estudantes que cursaram integralmente os
ensinos fundamental e meacutedio em instituiccedilotildees da rede puacuteblica dos Municiacutepios eou do
Estado No ano seguinte em 2001 sobreveio a Lei nordm 3708 que estabeleceu a cota miacutenima
de ateacute 40 (quarenta por cento) para as populaccedilotildees negra e parda no preenchimento das
vagas relativas aos cursos de graduaccedilatildeo da Universidade do Estado do Rio de Janeiro ndash UERJ
e da Universidade Estadual do Norte Fluminense ndash UENF O alinhamento destas duas
normas introduziu o primeiro sistema de reserva de vagas para o ingresso na universidade
12 ALMEIDA Carlos Alberto Lima de Educaccedilatildeo escolar e racismo a lei 106392003 entre praacuteticas e representaccedilotildees Recife Universidade da UFPE 2014 P 251 13 BARBOSA Joaquim Op cit p 63
163
puacuteblica que se tem notiacutecia no paiacutes e promoveu intenso debate tanto no meio poliacutetico juriacutedico
e no meio acadecircmico
Surgiram vozes que diziam que os cotistas natildeo teriam base acadecircmica para
acompanhar as aulas dos cursos das universidades14 Jaacute no campo juriacutedico havia argumentos
que contestavam a constitucionalidade daquela legislaccedilatildeo porque natildeo havia criteacuterios para
definir os candidatos das populaccedilotildees negra e parda15 Tampouco havia a definiccedilatildeo de criteacuterios
para aferir a capacidade econocircmica do candidato a cotista o que ensejou ampla controveacutersia
sobre o tema
Por isso no ano de 2003 as duas leis estaduais antes citadas foram substituiacutedas pela
Lei nordm 4151 que pela primeira vez introduziu na qualificaccedilatildeo dos destinataacuterios da norma o
conceito de ldquoestudante carenterdquo cabendo agraves universidades definir criteacuterios miacutenimos para a
qualificaccedilatildeo do estudante Desta forma a referida lei estabeleceu a primeira premissa o
sistema de cotas eacute destinado aos estudantes mais pobres
Coube ainda agrave referida lei promover a reserva de vagas a estudantes carentes no
percentual miacutenimo de (i) 20 (vinte por cento) para estudantes oriundos da rede puacuteblica de
ensino (ii) 20 (vinte por cento) para negros e (iii) 5 (cinco por cento) para pessoas com
deficiecircncia nos termos da legislaccedilatildeo em vigor e integrantes de minorias eacutetnicas Definiu-se
assim a segunda premissa as cotas satildeo para estudantes carentes que pertenccedilam aos grupos
sociais mais vulneraacuteveis
Houve contestaccedilotildees sobre a forma de implementaccedilatildeo da poliacutetica de cotas Por isso
a Lei 41512003 em homenagem a autonomia universitaacuteria estabeleceu a Comissatildeo
Permanente de Avaliaccedilatildeo com a finalidade de (i) orientar o processo decisoacuterio de fixaccedilatildeo do
quantitativo de vagas reservadas aos beneficiaacuterios das cotas levando sempre em consideraccedilatildeo
seu objetivo maior de estimular a reduccedilatildeo de desigualdades sociais e econocircmicas (ii) avaliar
os resultados decorrentes da aplicaccedilatildeo do sistema de cotas na respectiva instituiccedilatildeo e (iii)
elaborar relatoacuterio anual sobre suas atividades
Tambeacutem para atender aos reclames da comunidade universitaacuteria sobretudo acerca
da alegada (mas natildeo comprovada) deficiecircncia acadecircmica dos cotistas a referida lei deixou a
cargo dos oacutergatildeos de direccedilatildeo pedagoacutegica superior das universidades a adoccedilatildeo dos criteacuterios
definidores de verificaccedilatildeo de suficiecircncia miacutenima de conhecimentos para assegurar a
excelecircncia acadecircmica e garantiu recursos financeiros para a criaccedilatildeo de um programa de
14 httpsepocaglobocomprimeiros-cotistas-da-uerj-refletem-sucesso-do-programa-15-anos-depois-23595995 acesso em 14052019 15 BRASILTJRJ Agravo De Instrumento nordm 0003380-2720038190000 de relatoria do Des(a) Edson Aguiar de Vasconcelos da Deacutecima Sexta Cacircmara Ciacutevel - Julgamento 05082003
164
apoio visando obter resultados satisfatoacuterios nas atividades acadecircmicas de graduaccedilatildeo dos
estudantes beneficiados pelas cotas bem como sua permanecircncia na instituiccedilatildeo Desta forma
prestigiou a autonomia universitaacuteria e arrefeceu em certa medida o debate na comunidade
acadecircmica universitaacuteria
No entanto como jaacute referido havia vozes que suscitavam a inconstitucionalidade da
Lei 41512003 em virtude de suposto viacutecio formal por invasatildeo da competecircncia reservada agrave
Uniatildeo para tratar sobre as diretrizes e bases da educaccedilatildeo nacional e tambeacutem por suposta
ofensa ao princiacutepio da isonomia por estabelecer um tratamento desigual entre os estudantes
nos vestibulares para o ingresso nas universidades puacuteblicas estaduais No acircmbito federal a
Confederaccedilatildeo Nacional dos Estabelecimentos de Ensino ndash CONFENEN ingressou com a
Accedilatildeo Direita de Inconstitucionalidade - ADI nordm 3197 perante o Supremo Tribunal Federal e
no plano estadual houve a Representaccedilatildeo de Inconstitucionalidade ndeg 200300700117
proposta pelo Deputado Estadual Flaacutevio Bolsonaro
Interessante notar que a CONFENEN que eacute a entidade maacutexima e uacutenica em niacutevel
nacional de representaccedilatildeo das escolas particulares em todos os seus niacuteveis foi contra a
referida lei estadual O que deixa claro natildeo soacute a insatisfaccedilatildeo com o sistema de cotas mas
tambeacutem o interesse em manter o acesso sem reservas dos egressos das escolas particulares
nas universidades puacuteblicas em detrimento daqueles oriundos da educaccedilatildeo puacuteblica o que a
grosso modo significa ser contra uma poliacutetica que favorece os estudantes carentes que a partir
daquele momento passaram a poder competir em melhores condiccedilotildees com os alunos das
escolas particulares ou seja os mais afortunados
Em 2007 a legislaccedilatildeo estadual para a reserva de vagas foi aperfeiccediloada pela Lei nordm
5074 que alterou dispositivos da Lei 41512003 para incluir no percentual de 5 (cinco
por cento) antes reservado para pessoas com deficiecircncia e integrantes de minorias eacutetnicas os
filhos de policiais civis militares bombeiros militares e de inspetores de seguranccedila e
administraccedilatildeo penitenciaacuteria mortos em razatildeo do serviccedilo Este movimento acirrou ainda mais
o debate e os questionamentos sobre a constitucionalidade das accedilotildees afirmativas no campo
da educaccedilatildeo porque ao incluir os filhos de algumas categorias de servidores puacuteblicos a
legislaccedilatildeo estadual acabou por alargar o espectro de destinataacuterios da lei
No entanto houve a alternacircncia de governo16 por conta de eleiccedilotildees e sobreveio em
2008 a ediccedilatildeo da Lei nordm 5346 que revogou expressamente a Lei 41512003 Por isso o
Ministro Celso de Mello julgou prejudicada a antes referida ADI por perda superveniente
16 A lei 41512003 foi editada pela entatildeo Governadora Rosinha Garotinho (01012003 a 01012007) e a Lei nordm 53462008 foi editada pelo Governador Seacutergio Cabral (01012007 a 03042014)
165
de seu objeto uma vez que a lei impugnada em sede de controle de constitucionalidade foi
revogada o que tambeacutem ensejou a extinccedilatildeo da Representaccedilatildeo por Inconstitucionalidade
proposta na justiccedila estadual
A Lei nordm 53462008 instituiu um novo sistema de cotas para ingresso nas
universidades estaduais estabelecendo uma nova premissa o sistema de cotas tem o prazo
certo de dez anos ou seja previu-se a vigecircncia temporaacuteria da lei com a obrigaccedilatildeo de se
instituir comissatildeo para avaliar os resultados do programa um ano antes do teacutermino de sua
vigecircncia e de revisatildeo legislativa a ser iniciada seis meses antes do termo final do aludido
prazo de vigecircncia
Tambeacutem houve alteraccedilatildeo nas cotas de vagas para ingresso nas universidades
estaduais que ampliadas passaram a ser respectivamente de (i) 20 (vinte por cento) para
os estudantes negros e indiacutegenas (ii) 20 (vinte por cento) para os estudantes oriundos da
rede puacuteblica de ensino e (iii) 5 (cinco por cento) para pessoas com deficiecircncia e filhos de
policiais civis militares bombeiros militares e de inspetores de seguranccedila e administraccedilatildeo
penitenciaacuteria mortos ou incapacitados em razatildeo do serviccedilo
Poreacutem foi no campo do financiamento do sistema de suporte que a Lei 53462008
andou melhor na medida em que estabeleceu como dever do Estado do Rio de Janeiro
proporcionar a inclusatildeo social dos estudantes carentes destinataacuterios da accedilatildeo afirmativa
promovendo a sua manutenccedilatildeo baacutesica e preparando seu ingresso no mercado de trabalho
mediante as seguintes accedilotildees (i) - pagamento de bolsa-auxiacutelio durante o periacuteodo do curso
universitaacuterio (ii) - reserva proporcional de vagas em estaacutegios na administraccedilatildeo direta e
indireta estadual (iii) - instituiccedilatildeo de programas especiacuteficos de creacutedito pessoal para instalaccedilatildeo
de estabelecimentos profissionais ou empresariais de pequeno porte e nuacutecleos de prestaccedilatildeo
de serviccedilos Como se nota o Estado assumiu obrigaccedilotildees significativas para com os
destinataacuterios da accedilatildeo afirmativa que incluem o pagamento de valores pecuniaacuterios a tiacutetulo de
bolsa de estudos e de financiamento por meio de fornecimento de creacutedito pessoal para
empreendimentos dos mesmos destinataacuterios Isso sem falar na introduccedilatildeo da obrigaccedilatildeo de
reserva proporcional de vagas de estaacutegio profissional na Administraccedilatildeo Puacuteblica
Notadamente exsurge mais uma caracteriacutestica do sistema a formaccedilatildeo de uma rede de apoio
ao estudante para que este possa natildeo soacute cursar a universidade mas tambeacutem fazer estaacutegio e
se estabelecer no mercado de trabalho depois de formado
Outra novidade trazida pelo novo sistema foi a normatizaccedilatildeo do procedimento de
declaraccedilatildeo pessoal para fins de afirmaccedilatildeo de pertencimento agrave raccedila negra com a possibilidade
166
de se instaurar procedimento disciplinar em caso de fraude Trata-se da consolidaccedilatildeo da
autodeclaraccedilatildeo para efeito de definiccedilatildeo do beneficiaacuterio agrave cota com a manutenccedilatildeo da
competecircncia das universidades estaduais para verificaccedilatildeo e controle do que foi declarado
No entanto no campo juriacutedico o tema continuou a ser discutido e contestado
principalmente as cotas para negros e o argumento era de que haveria ofensa ao que
princiacutepio da igualdade previsto na Constituiccedilatildeo federal porque a reserva de vagas com base
no criteacuterio da cor da pele privilegiaria as raccedilas mencionadas e na medida em que a educaccedilatildeo
eacute dever do Estado independentemente de criteacuterio eacutetnico natildeo seria constitucional fazer esta
distinccedilatildeo Ainda havia o argumento de que haveria ofensa aos artigos 306 e 307 inciso I da
Constituiccedilatildeo Estadual os quais dispotildeem que a educaccedilatildeo visa agrave eliminaccedilatildeo da discriminaccedilatildeo
e que deve ser garantida igualdade de condiccedilotildees para o acesso ao ensino Chegou-se a
sustentar que o novo sistema de cotas violaria o princiacutepio da isonomia uma vez que
importaria em ldquoprivileacutegio de poucosrdquo em ldquoprejuiacutezo de muitosrdquo aleacutem de fomentar o
preconceito e a discriminaccedilatildeo de negros e indiacutegenas os quais seriam taxados de menos
capazes No entanto quando do julgamento da Representaccedilatildeo por Inconstitucionalidade nordm
92009 proposta pelo mesmo deputado que jaacute havia contestado o sistema anterior e que
teve por objeto a Lei nordm 53462008 o Tribunal de Justiccedila do Estado do Rio de Janeiro em
controle concentrado assim decidiu
ldquoLEI DE COTAS PARA INGRESSO NAS UNIVERSIDADES ESTADUAIS
Discriminaccedilatildeo Positiva Accedilotildees Afirmativas Igualdade Formal e Material
Constitucionalidade Os direitos satildeo os mesmos para todos mas como nem
todos se acham em igualdade de condiccedilotildees para os exercer eacute preciso que estas
condiccedilotildees sejam criadas ou recriadas atraveacutes da transformaccedilatildeo da vida e das
estruturas dentro das quais as pessoas se movem () mesmo quando a igualdade
social se traduz na concessatildeo de certos direitos ou ateacute certas vantagens
especificamente a determinadas pessoas - as que se encontram em situaccedilotildees de
inferioridade de carecircncia de menor proteccedilatildeo - a diferenciaccedilatildeo ou a discriminaccedilatildeo
positiva tem em vista alcanccedilar a igualdade e tais direitos ou vantagens configuram-
se como instrumentais no rumo para esses fins (Jorge Miranda Manual de
Direito Constitucional 3ordf ed tomo IV Coimbra Editora p 225)A igualdade
somente pode ser verificada entre pessoas que se encontram em situaccedilatildeo
equivalente sendo levados em consideraccedilatildeo os fatores ditados pela realidade
econocircmica social e cultural O princiacutepio da isonomia garante que as normas natildeo
devem ser simplesmente elaboradas e aplicadas a todos os indiviacuteduos vai aleacutem na
medida em que considera a existecircncia de grupos minoritaacuterios e hipossuficientes
que necessitam de uma proteccedilatildeo especial para que alcancem a igualdade real esta
sim uma exigecircncia do princiacutepio maior da dignidade da pessoa humana Portanto
a igualdade prevista na Constituiccedilatildeo Federal e repetida na Constituiccedilatildeo do Estado
do Rio de Janeiro eacute a igualdade substancial Se assim natildeo fosse ainda estariacuteamos
na eacutepoca do Impeacuterio cuja Carta consagrava o princiacutepio da igualdade mas permitia
a convivecircncia do indigitado princiacutepio com a vergonha do regime escravocrata A
accedilatildeo afirmativa liga-se por um viacutenculo inquebrantaacutevel ao princiacutepio da isonomia
167
Ela eacute o instrumento eficaz a garantir sua concretizaccedilatildeo no seio da sociedade que
a exemplo da nossa jaacute nascem marcadas pela desigualdade e pelo preconceito
Neste contexto a Lei de Cotas (Lei Estadual nordm 534608) surge natildeo como um
diploma concessivo de direitos vez que estes jaacute satildeo assegurados na Constituiccedilatildeo
e em outros diplomas A Lei de Cotas em verdade eacute diploma concretizador de
direitos de constitucionalidade induvidosa Improcedecircncia da representaccedilatildeo 17rdquo
Assim com o julgamento da acima referida Representaccedilatildeo por Inconstitucionalidade
estabeleceu-se o precedente judicial que permitiu a expansatildeo do sistema de cotas para outras
aacutereas Nesse movimento foi editada a lei nordm 60672011 que dispocircs sobre a reserva de vagas
para negros e iacutendios nos concursos puacuteblicos para provimento de cargos efetivos e empregos
puacuteblicos integrantes dos quadros permanentes de pessoal do Poder Executivo e das
entidades da Administraccedilatildeo Indireta do Estado do Rio de Janeiro Esta lei teve o intuito de
fazer o fechamento do sistema de sorte que uma vez encerrada a graduaccedilatildeo nas
universidades puacuteblicas estaduais o egresso do sistema de cotas teria a chance de ingressar no
serviccedilo puacuteblico estadual seguindo o mesmo criteacuterio que havia sido definido para o ingresso
nas universidades Natildeo por outro motivo tambeacutem houve contestaccedilatildeo sobre a
constitucionalidade da referida lei pelo mesmo deputado mas o Oacutergatildeo Especial do Tribunal
de Justiccedila do Estado do Rio de Janeiro assim se pronunciou
REPRESENTACcedilAtildeO POR INCONSTITUCIONALIDADE Lei nordm 6067 de
25 de outubro de 2011 que dispotildee sobre a reserva de vagas para negros e iacutendios
nos concursos puacuteblicos para provimento de cargos efetivos e empregos puacuteblicos
integrantes dos quadros permanentes de pessoal do Poder Executivo e das
entidades da Administraccedilatildeo indireta do Estado do Rio de Janeiro A norma
impugnada veicula accedilatildeo afirmativa seguindo o conjunto de poliacuteticas puacuteblicas e
privadas que objetiva o combate agrave discriminaccedilatildeo racial de gecircnero e outras
intoleracircncias correlatas tal como preconiza a Constituiccedilatildeo Federal
expressamente no tocante agrave mulher (art 7ordm XX) e aos portadores de necessidades
especiais (art 37 VIII) sinalizando baliza fundamental para aplicaccedilatildeo do
princiacutepio da igualdade juriacutedica cujo implemento se daacute atraveacutes de legislaccedilatildeo
infraconstitucional Haacute pouco mais de 100 anos a pessoa negra era considerada
pelo Direito e pela sociedade como um objeto passiacutevel de propriedade e a
populaccedilatildeo indiacutegena foi viacutetima de verdadeiro holocausto A revisatildeo dos
paracircmetros claacutessicos do conceito de isonomia de forma a reconhecer sua dupla
faceta a) proibiccedilatildeo de diferenciaccedilatildeo em que ldquotratamento como igual significa
direito a um tratamento igualrdquo b) obrigaccedilatildeo de diferenciaccedilatildeo em que tratamento
como igual significa ldquodireito a um tratamento especialrdquo impotildee que a igualdade
juriacutedica se faccedila constitucionalmente como conceito positivo de condutas
promotoras de isonomia Dessa forma verifica-se que o atual entendimento
consolidado nos Tribunais Superiores eacute no sentido de que a poliacutetica de reserva de
vagas natildeo eacute de nenhum modo estranha agrave Constituiccedilatildeo asseverando-se que as
poliacuteticas de accedilatildeo afirmativa compreendidas como medidas que tem como escopo
ldquoreparar ou compensar os fatores de desigualdade factual com medidas de
superioridade juriacutedicardquo natildeo configuram meras concessotildees do Estado mas
17 BRASIL TJRJ Processo nordm 0034643-6720098190000 - Des(a) Sergio Cavalieri Filho - OE - Tribunal Pleno e Oacutergatildeo Especial- Julgamento 18112009
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consubstanciam deveres que se extraem dos princiacutepios constitucionais Dessa
forma estando o princiacutepio da igualdade consolidado em ambas as Constituiccedilotildees
da Repuacuteblica e do Estado do Rio de Janeiro devem todos os entes da Federaccedilatildeo
fomentar as accedilotildees afirmativas e dispender recursos para encurtar distacircncias sociais
e promover os desfavorecidos como forma de efetivar a isonomia material
IMPROCEDEcircNCIA da Representaccedilatildeo18
Vale registrar que a aludida decisatildeo foi proferida por maioria e o voto vencido
declarou ldquoEnquanto natildeo for modificado o sect 2ordm do artigo 9ordm da Constituiccedilatildeo Estadual vigente
tambeacutem na parte que trata dos Direitos e Garantias Individuais e Coletivas que tambeacutem de
forma expressa proiacutebe discriminaccedilatildeo por atos decorrentes de raccedila cor etnia entre outras
condiccedilotildees bem como o estabelecimento de quaisquer privileacutegios pelas mesmas condiccedilotildees
natildeo posso votar no sentido adotado pelo Exmo Desembargador Relator Frente a estes
dispositivos ldquopeacutetreasrdquo das Constituiccedilotildees Federal e Estadual natildeo consigo alcanccedilar
entendimento capaz de afirmar que a Lei aqui representada seja constitucional por
representar uma ldquoaccedilatildeo afirmativardquo19
Nota-se para aleacutem da controveacutersia acerca do tema a dificuldade de se tratar de
questotildees importantes tais como a desigualdade social as accedilotildees afirmativas e ateacute mesmo o
princiacutepio da isonomia sendo ateacute mesmo curioso perceber que natildeo haacute nenhum
constrangimento epistemoloacutegico em se reconhecer abertamente que existe certa dificuldade
de se entender o sistema de cotas como uma accedilatildeo afirmativa
Contudo seguindo na mesma trilha de inclusatildeo social traccedilada pela legislaccedilatildeo estadual
antes referida sobreveio a Lei estadual nordm 64342013 que instituiu o sistema de cotas para o
ingresso de negros pardos e iacutendios no Instituto de Aplicaccedilatildeo Fernando Rodrigues da Silva
ndash CAP ndash UERJ que estendeu mais ainda os limites do sistema de reserva de vagas levando-
o para o ensino fundamental e meacutedio de maneira a incorporar todos os niacuteveis da educaccedilatildeo
puacuteblica estadual Da mesma forma e pela mesma via tambeacutem foi contestada a
constitucionalidade da referida lei pelo mesmo deputado tendo o Tribunal de Justiccedila
fluminense adotado o mesmo precedente jaacute formado anteriormente
ldquoRepresentaccedilatildeo por inconstitucionalidade dos dispositivos da lei estadual nordm
64342013 que estabelecem sistema de cotas para o ingresso de negros pardos e
18 BRASIL TJRJ Processo no 0059568-5920118190000- Des Sidney Hartung Buarque - OE - Tribunal Pleno e Oacutergatildeo Especial- Julgamento 25092013 19 Disponiacutevel em httpwww1tjrjjusbrgedcachewebdefaultaspxUZIP=1ampGEDID=000416A8F8CBB986026A5967C81CA175C93AC50248314433ampUSER=
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iacutendios no Instituto de Aplicaccedilatildeo Fernando Rodrigues da Silva ndash CAP - UERJ ndash
questatildeo que tem sido objeto de reiteradas decisotildees deste egreacutegio oacutergatildeo especial
no sentido de reconhecer que a poliacutetica de reserva de vagas para o ingresso tanto
no serviccedilo puacuteblico quanto para as universidades ou coleacutegios estatais natildeo eacute
estranha agrave constituiccedilatildeo refletindo deveres extraiacutedos dos princiacutepios nela inseridos
ndash improcedecircncia do pedidordquo20
Assim apoacutes anos de intenso debate e disputas judiciais acerca do sistema de cotas
para ingresso no sistema educacional e no serviccedilo puacuteblico foi editada em 2018 a Lei nordm
8121 em revisatildeo da Lei nordm 53462008 que prorroga a reserva de vagas nas universidades
puacuteblicas estaduais por mais 10 anos A novidade da nova lei eacute que o referido prazo de uma
deacutecada de vigecircncia poderaacute ser ampliado por meio de proposta dirigida ao chefe do Poder
Executivo pelas instituiccedilotildees de ensino superior apoacutes a aprovaccedilatildeo por suas maacuteximas
instacircncias deliberativas que as encaminharaacute agrave Assembleia Legislativa
Outra novidade eacute que as universidades apoacutes a aprovaccedilatildeo por suas maacuteximas
instacircncias deliberativas poderatildeo (i) ndash fixar o percentual de vagas reservadas a negros
indiacutegenas e alunos oriundos de comunidades quilombolas observando o quantitativo
miacutenimo de 20 (vinte por cento) em cada curso e facultando agraves universidades puacuteblicas
estaduais decidir sobre reservas especiacuteficas para povos indiacutegenas e quilombolas (ii) ndash fixar
o percentual de vagas reservadas a alunos oriundos de ensino meacutedio da rede puacuteblica seja
municipal estadual ou federal e o quantitativo miacutenimo de 20 (vinte por cento) em cada
curso (iii) ndash fixar o percentual de vagas reservadas a estudantes com deficiecircncia e filhos
de policiais civis e militares bombeiros militares e inspetores de seguranccedila e administraccedilatildeo
penitenciaacuteria mortos ou incapacitados em razatildeo de serviccedilo observado o quantitativo
miacutenimo de 5 (cinco por cento) em cada curso (iv) ndash fixar o valor da bolsa auxiacutelio paga
aos estudantes destinataacuterios do programa de accedilatildeo afirmativa prorrogado por esta lei
observado o limite miacutenimo de meio salaacuterio miacutenimo vigente (v)ndash propor ao poder
executivo a adoccedilatildeo de procedimentos necessaacuterios para a publicidade dos atos relativos agrave
inscriccedilatildeo e agrave permanecircncia dos estudantes destinataacuterios desta lei no respectivo Programa
de Accedilatildeo Afirmativa (iv) ndash Propor ao Poder Executivo a disponibilizaccedilatildeo de vagas de
estaacutegio obrigatoacuterios e natildeo obrigatoacuterios para estudantes destinataacuterios desta lei na
administraccedilatildeo direta indireta e nas sociedades empresariais contratadas pelo poder puacuteblico
inclusive permissionaacuterias e concessionaacuterias do serviccedilo puacuteblico de acordo com a Lei
nordm 11788 de 25 de setembro de 2008 Tais medidas reforccedilam de sobremaneira a autonomia
20 BRASIL TJRJ Processo Nordm 00219362820138190000 Relator Desembargador Adriano Celso Guimaratildees - OE - Tribunal Pleno e Oacutergatildeo Especial- Julgamento 05022015
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universitaacuteria na medida em que coloca nas matildeos das instituiccedilotildees de ensino superior o
poder de decidir sobre a gestatildeo do sistema uma vez observados os limites descritos na lei
Tambeacutem deve ser ressaltado que restou mantido o regime de autodeclaraccedilatildeo nas
inscriccedilotildees e matriacuteculas para exames vestibulares e de admissatildeo para estudantes negros e
indiacutegenas sendo obrigatoacuteria a instituiccedilatildeo de Comissatildeo Permanente de Assistecircncia para
verificar a regularidade do exerciacutecio dos direitos reconhecidos e reparados por esta lei
especialmente para apurar casos de desvio de finalidade fraude ou falsidade ideoloacutegica
cabendo agraves Universidades criarem mecanismos para estes fins
No entanto a despeito da superaccedilatildeo da duacutevida acerca da constitucionalidade do
sistema de cotas ainda existem vozes que se insurgem contra o tema A tiacutetulo de exemplo
os meios de comunicaccedilatildeo noticiaram21 que um deputado estadual protocolou em
06052019 um projeto de lei22 que pretende acabar com as cotas raciais em instituiccedilotildees
puacuteblicas estaduais de ensino superior no Rio de Janeiro Relevante assinalar que o referido
parlamentar eacute do mesmo partido do entatildeo deputado que promoveu todas as representaccedilotildees
por inconstitucionalidade anteriormente citadas e que foram julgadas improcedentes pela
corte constitucional estadual O autor da proposiccedilatildeo legislativa se insurge apenas contra as
cotas raciais jaacute que segundo noticiado afirma que o sistema de cotas raciais cria um terriacutevel
precedente que eacute a discriminaccedilatildeo social para atingir objetivos poliacuteticos e que divide
negativamente as sociedades onde satildeo implantadas gerando oacutedio racial e o ressentimento
das pessoas que natildeo entraram na Universidade Curioso eacute que a referida proposta legislativa
natildeo pretende retirar as demais cotas que contemplam egressos da rede puacuteblica de ensino
pessoas com deficiecircncia e filhos de policiais civis e militares bombeiros militares e
inspetores de seguranccedila e administraccedilatildeo penitenciaacuteria mortos ou incapacitados em razatildeo
de serviccedilo por terem caraacuteter eminentemente social tal como registrado pelo parlamentar
Nota-se claramente que a insurgecircncia eacute contra a cota dos negros indiacutegenas e quilombolas e
a via de ataque natildeo eacute mais a contestaccedilatildeo judicial sobre a constitucionalidade da lei Pelo que
se percebe aproveita-se o momento de acirramento ideoloacutegico que exsurgiu no paiacutes apoacutes as
eleiccedilotildees de 2018 para tentar retroceder o sistema de cotas que eacute uma conquista social por
meio do processo legislativo
Trata-se de verificaccedilatildeo no mundo praacutetico do que chamamos de federalismo
pendular porque apesar de constituiccedilatildeo de 1988 eleger o federalismo como forma de Estado
21 Disponiacutevel em httpsogloboglobocomsociedadedeputado-que-quebrou-placa-de-marielle-quer-acabar-com-cotas-raciais-nas-universidades-do-rio-23650410 acesso em 13052019 22 BRASIL ALERJ PL 4702019
171
e prescrever em seu texto avanccedilados direitos e garantias no intuito de estabelecer e
incentivar avanccedilos sociais convivemos em um constante movimento de avanccedilos e
retrocessos que atingem principalmente os direitos fundamentais Neste contexto a face
mais cruel deste movimento pendular eacute a tentativa de aproveitar determinada legislatura para
tentar promover o retrocesso social
4 Reflexos no ordenamento juriacutedico nacional
Mesmo antes da primeira iniciativa do Estado do Rio de Janeiro na reserva de vagas
para o acesso agrave educaccedilatildeo ou ao serviccedilo puacuteblico a Lei federal nordm 811290 reservou ateacute 20
das vagas nos concursos puacuteblicos para portadores de deficiecircncia Seguindo a mesma linha a
Lei federal nordm 821391 instituiu cotas de 2 a 5 das vagas nas empresas privadas com mais
de 100 empregados para os mesmos destinataacuterios Esta legislaccedilatildeo foi amplamente aceita pela
sociedade e natildeo se tem notiacutecia de ter havido questionamento quanto a constitucionalidade
de ambas as leis
Em 2012 a Uniatildeo federal editou a Lei nordm 12711 que instituiu o sistema de reserva de
vagas nos concursos puacuteblicos para ingresso nas universidades federais que reservaratildeo em
cada concurso seletivo para ingresso nos cursos de graduaccedilatildeo por curso e turno no miacutenimo
50 (cinquenta por cento) de suas vagas para estudantes que tenham cursado integralmente
o ensino meacutedio em escolas puacuteblicas e se autodeclarem pretos pardos e indiacutegenas ou pessoas
com deficiecircncia nos termos da legislaccedilatildeo em proporccedilatildeo ao total de vagas no miacutenimo igual
agrave proporccedilatildeo respectiva de pretos pardos indiacutegenas e pessoas com deficiecircncia na populaccedilatildeo
da unidade da Federaccedilatildeo onde estaacute instalada a instituiccedilatildeo segundo o uacuteltimo censo da
Fundaccedilatildeo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica - IBGE No preenchimento das
vagas 50 (cinquenta por cento) deveratildeo ser reservados aos estudantes oriundos de famiacutelias
com renda igual ou inferior a 15 salaacuterio-miacutenimo (um salaacuterio-miacutenimo e meio) per capita
Posteriormente sobreveio a Lei federal nordm 129902014 que instituiu o sistema de
cotas no acesso ao serviccedilo puacuteblico federal reservando aos negros 20 (vinte por cento) das
vagas oferecidas nos concursos puacuteblicos para provimento de cargos efetivos e empregos
puacuteblicos no acircmbito d a administraccedilatildeo puacuteblica federal das autarquias das fundaccedilotildees puacuteblicas
das empresas puacuteblicas e das sociedades de economia mista controladas pela Uniatildeo
Tal como se vecirc somente apoacutes consolidada da experiecircncia da reserva de vagas no
Estado do Rio de Janeiro a Uniatildeo adotou esta forma de accedilatildeo afirmativa para o acesso a ao
ensino superior e ao serviccedilo puacuteblico federal o que confirma a importacircncia da iniciativa
172
fluminense na instituiccedilatildeo desta iniciativa que nasceu como poliacutetica de um governo e se
transformou em poliacutetica de Estado
5 Conclusatildeo
As cotas surgem para contrapor a desigualdade que existe entre os diversos grupos
sociais O sistema de reserva de vagas nas universidades puacuteblicas se destina a tornar mais
justo o acesso agrave educaccedilatildeo puacuteblica exatamente para garantir a igualdade formal e material
entre os indiviacuteduos Por isso no Estado do Rio de Janeiro onde 517 da populaccedilatildeo eacute de
pessoas pretas eou pardas subiu de 3 para 12 o percentual de indiviacuteduos com essas
mesmas caracteriacutesticas nas instituiccedilotildees puacuteblicas de ensino superior23 O sistema de cotas faz
justiccedila porque permite a concorrecircncia em igualdade de condiccedilotildees de indiviacuteduos que deteacutem
condiccedilotildees soacutecio-econocircmicas iguais entre si nos concursos que datildeo acesso agraves vagas
disponiacuteveis no sistema de educaccedilatildeo em todos os niacuteveis e no serviccedilo puacuteblico estadual
Eacute preciso reconhecer que o debate acerca do sistema de cotas natildeo eacute relacionado a
ideologias poliacuteticas Eacute um debate sobre o racismo e a dificuldade que existe no paiacutes de
reconhecer a populaccedilatildeo negra e parda como um grupo que merece proteccedilatildeo juriacutedica especial
do Estado porque historicamente relegados a situaccedilotildees de vulnerabilidade natildeo apenas pelo
regime escravocrata que se estabeleceu no paiacutes ateacute o seacuteculo XIX mas sobretudo pela
continuidade de praacuteticas sociais que verteram a esta populaccedilatildeo baixa escolaridade menos
empregos e menores salaacuterios apesar de representarem a maioria numeacuterica da populaccedilatildeo
O sistema de cotas tal como estaacute estabelecido na legislaccedilatildeo do Estado do Rio de
Janeiro eacute destinado aos estudantes carentes ou seja aos mais pobres eacute temporaacuterio e garante
a ascensatildeo social porque a educaccedilatildeo eacute transformadora sendo a uacutenica via capaz de promover
o ingresso de um nuacutemero significativo de indiviacuteduos nas melhores posiccedilotildees do mercado de
trabalho
Vale dizer que o sistema de cotas tem mecanismos de autocontrole que satildeo
destinados a combater e apurar casos de desvio de finalidade fraude ou falsidade ideoloacutegica
no procedimento de autodeclaraccedilatildeo dos beneficiaacuterios e que cabe agraves Universidades criarem
mecanismos para estes fins de sorte que se deve empenhar a confianccedila de que eventuais
incorreccedilotildees ou disparidades do sistema seratildeo corrigidos para o resguardo dos direitos natildeo
23 Disponiacutevel em httpsogloboglobocomsociedadedeputado-que-quebrou-placa-de-marielle-quer-acabar-com-cotas-raciais-nas-universidades-do-rio-23650410 acesso em 13052019
173
soacute dos beneficiaacuterios mas tambeacutem daqueles que o financiam natildeo existindo motivos para
haver questionamentos sobre a lisura de seus procedimentos
Os resultados obtidos apoacutes a implantaccedilatildeo do sistema mostram que os cotistas satildeo
assiacuteduos produtivos e determinados O relatoacuterio24 produzido pela Procuradoria-geral do
Estado do Rio de Janeiro em 2017 na revisatildeo da Lei nordm 53462008 aponta que ldquoos dados
analisados evidenciaram que ao contraacuterio do que sugeriram os criacuteticos do sistema de cotas
temerosos de uma queda generalizada da qualidade do ensino puacuteblico universitaacuterio no
Estado o desempenho dos cotistas eacute praticamente igual ao desempenho dos natildeo cotistasrdquo
Tambeacutem se evidenciou que a taxa de evasatildeo de cotistas eacute menor do que as do natildeo cotistas
ldquopor exemplo no estudo do abandono ou desistecircncia do curso comparaccedilatildeo realizada pela
UERJ mostra que de 2003 ateacute 2016 dos 22917 estudantes que laacute ingressaram por cotas
26 desistiram em meio ao curso Entre os natildeo cotistas o iacutendice eacute de 37rdquo Vale ainda
ressaltar que ldquonas aacutereas de educaccedilatildeo humanas e artes 41 dos formados satildeo cotistas em
ciecircncias matemaacutetica e computaccedilatildeo 31 dos formados satildeo cotistas e nas aacutereas de sauacutede
bem-estar social e serviccedilos 46 satildeo cotistasrdquo
Os resultados obtidos mostram que o sistema de cotas deu certo ldquoFizemos uma
avaliaccedilatildeo com 500 cotistas e descobrimos que 91 deles estatildeo empregados em diversas
carreiras ateacute naquelas que tecircm mais dificuldade para empregarrdquo diz Ricardo Vieiralves de
Castro ex-reitor da UERJ25 Portanto haacute justificativas plausiacuteveis para se afirmar que
contestaccedilotildees acerca da legitimidade do sistema de cotas satildeo na verdade argumentos
retoacutericos e despidos de qualquer fundamento teacutecnico ou cientiacutefico ou base empiacuterica
Portanto o sistema de cotas para a populaccedilatildeo carente sobretudo de cor preta ou
parda eacute essencial para a ascensatildeo social promove a inclusatildeo no mercado de trabalho e
oferece reais possibilidades de incremento da renda familiar com benefiacutecios natildeo soacute para o
cotista e sua famiacutelia mas tambeacutem para todo o paiacutes porque o aumento da renda se traduz em
maior arrecadaccedilatildeo de impostos que por sua vez torna o paiacutes mais rico Trata-se de um
ciacuterculo virtuoso onde o valor aplicado no ensino retorna acrescido de ganhos socias
Nosso povo em sua maioria eacute justo e democraacutetico certamente estaacute feliz com o
resultado da poliacutetica de cotas e natildeo iraacute permitir qualquer retrocesso neste inegaacutevel avanccedilo
24 Disponiacutevel em httpswwwpgerjgovbrcomumcodeMostrarArquivophpC=Mjc4Mg2C2C acesso em 14052019 25 Disponiacutevel em httpsistoecombr288556_POR+QUE+AS+COTAS+RACIAIS+DERAM+CERTO+NO+BRASIL acesso em 14052019
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social Ao contraacuterio iraacute cerrar fileiras para defender que o sistema de acesso agraves vagas nas
universidades e no serviccedilo puacuteblico seja o fiel reflexo de nossa sociedade independentemente
de credo cor raccedila ou religiatildeo
Por todas estas razotildees propotildee-se que todos os estados implementem um sistema de
reserva de vagas para o ingresso na educaccedilatildeo e no serviccedilo puacuteblico servindo a experiecircncia do
Estado do Rio de Janeiro como inspiraccedilatildeo para cada ente federativo na instituiccedilatildeo de poliacuteticas
de estado que assegurem agrave maioria da populaccedilatildeo que eacute preta ou parda a possibilidade de
ascensatildeo social
REFEREcircNCIAS
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Luacutemen Juris 2005
176
DIREITOS HUMANOS NO BRASIL ANAacuteLISE DO DIREITO Agrave EDUCACcedilAtildeO - ARTIGO XXI DA DECLARACcedilAtildeO UNIVERSAL DE 1948
Joseacute Claudio Torres Vasconcelos 1
Corintho Sampaio Lopes2
Vitoacuteria Soares Almeida3
Laiacutes Carvalho Amaral 4
Eixo Temaacutetico GT 4 ndash Educaccedilatildeo e Direitos Humanos
Palavras ndash Chave direito agrave educaccedilatildeo instrumentos acesso efetivaccedilatildeo hipossuficientes
O presente ensaio tem como objetivo analisar primeiramente o que satildeo direitos
humanos quais os formalmente previstos em nossa Constituiccedilatildeo e especificamente se
aprofundar no direito agrave educaccedilatildeo visando responder as seguintes indagaccedilotildees quem editou a
Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos Humanos Onde se situa o direito agrave educaccedilatildeo na temaacutetica
dos direitos humanos Qual o papel das entidades essenciais agrave justiccedila na defesa dos direitos
humanos Quais os instrumentos previstos para a sua proteccedilatildeo
Usando como ponto de partida a Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos Humanos
Resoluccedilatildeo 270 da qual o Brasil eacute signataacuterio e que influenciou em grande medida a atual
Constituiccedilatildeo paacutetria Dentre o texto da referida Declaraccedilatildeo pode-se destacar em especial os
trechos abaixo que corroboram com o tema
ldquoArtigo 26 (XXVI)
1 Todos os seres humanos tecircm direito agrave educaccedilatildeo A educaccedilatildeo seraacute gratuita pelo menos nos graus elementares e fundamentais A educaccedilatildeo elementar seraacute obrigatoacuteria A educaccedilatildeo teacutecnico-profissional seraacute acessiacutevel a todos bem como a educaccedilatildeo superior esta baseada no meacuterito
2 A educaccedilatildeo seraacute orientada no sentido do pleno desenvolvimento da personalidade humana e do fortalecimento do respeito pelos direitos humanos e pelas liberdades fundamentais A educaccedilatildeo promoveraacute a compreensatildeo a toleracircncia e a amizade entre todas as naccedilotildees e grupos raciais ou religiosos e coadjuvaraacute as atividades das Naccedilotildees Unidas em prol da manutenccedilatildeo da paz
3 Os pais tecircm prioridade de direito na escolha do geacutenero de educaccedilatildeo que seraacute ministrada aos seus filhosrdquo
1 Coordenador e orientador da pesquisa cientiacutefica Mestre em Direito pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro httplattescnpqbr2744963749996571 2 Graduando em Direito na Unilasalle-RJ ndash Email lopescorinthogmailcom Lattes httplattescnpqbr 3 Graduanda em Biblioteconomia na UNIRIO ndash Email vitoacuteriaalmeidauniriobr Lattes httplattescnpqbr1696248513610080 4 Graduanda em Direito na Unilasalle-RJ ndash Email laiscarvaamaralgmailcom Lattes httplattescnpqbr
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A Resoluccedilatildeo nordm 270 da Assembleia Geral da ONU conhecida como a Declaraccedilatildeo
Universal dos Direitos Humanos de 1948 - chamada comumente apenas de DUDH ndash eacute um
documento internacional que natildeo possui forccedila obrigacional por conta da sua natureza de
resoluccedilatildeo sendo considerada uma espeacutecie de ldquorecomendaccedilatildeordquo ou compromisso firmado
entre os paiacuteses signataacuterios Importante destacar que a DUDH natildeo eacute o primeiro documento
a tratar de direitos humanos no acircmbito internacional poreacutem a sua ediccedilatildeo eacute considerada um
marco documental por tornar o indiviacuteduo em um sujeito de direitos internacionais por trazer
uma proteccedilatildeo que transcende os limites dos estados nacionais Apesar de natildeo ter criado
viacutenculo obrigacional a DUDH foi considerada um ldquogrande passo da humanidaderdquo pois a
partir dela foram assinados anos depois tratados de direitos internacionais estes sim com
forccedilas obrigacionais e portanto passiacutevel de puniccedilatildeo agravequeles que descumprem seus termos
A ONU editora do documento em questatildeo eacute considerada uma Organizaccedilatildeo de
Estado as organizaccedilotildees de Estados existentes dentre as surgidas depois da II Guerra
Mundial permitem a identificaccedilatildeo dos seguintes modelos Organizaccedilotildees para fins
especiacuteficos Organizaccedilotildees regionais de fins amplos e Organizaccedilotildees de vocaccedilatildeo universal De
acordo com o Professor Dalmo Dallari das que fazem parte deste uacuteltimo modelo de
Organizaccedilatildeo de Estados fenocircmeno especiacutefico do seacuteculo XX soacute teriam existido a Sociedade
das Naccedilotildees (atualmente extinta) e a Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas (ONU)5 Tornando-se
pessoa juriacutedica de direito internacional puacuteblico tendo sua existecircncia organizaccedilatildeo objeto e
condiccedilotildees de funcionamento previstos no seu instrumento de constituiccedilatildeo que eacute a Carta das
Naccedilotildees Unidas
Especialmente no artigo XXVI do preacircmbulo da DUDH dentre os direitos sociais
temos direito agrave educaccedilatildeo conforme jaacute colacionado anteriormente o artigo traz em seu bojo
que a educaccedilatildeo elementar deve ser gratuita e obrigatoacuteria enquanto a educaccedilatildeo fundamental
deve ser ofertada de forma gratuita poreacutem sem obrigatoriedade Cabe destacar que o Brasil
natildeo diferencia a educaccedilatildeo elementar da fundamental e natildeo haacute a faculdade por parte dos pais
em oferecer educaccedilatildeo ou natildeo agraves crianccedilas podendo os responsaacuteveis que natildeo ofereceram aos
seus filhos tal educaccedilatildeo responder por Abandono Intelectual6 crime tipificado no artigo 246
do Coacutedigo Penal brasileiro (Decreto-lei 284840)
Ainda a respeito da responsabilidade dos pais importante ressaltar que eacute possiacutevel
escolher o gecircnero de educaccedilatildeo que estes ofereceratildeo aos filhos tudo de acordo com as Lei
5 DALLARI Dalmo de Abreu Elementos de Teoria Geral do Estado 2ordf ediccedilatildeo atualizada Satildeo Paulo Editora Saraiva 1998 Paacuteg 96 6 ldquoArt 246 - Deixar sem justa causa de prover agrave instruccedilatildeo primaacuteria de filho em idade escolar Pena - detenccedilatildeo de quinze dias a um mecircs ou multardquo httpwwwplanaltogovbrccivil_03decreto-leidel2848compiladohtm
178
de Diretrizes e Bases da Educaccedilatildeo Nacional (Lei 939496)7 Coacutedigo Civil (Lei 10406)
Estatuto da Crianccedila e do Adolescente (Lei 806990) e demais legislaccedilotildees
Deixando de lado a discussatildeo sobre a obrigatoriedade da obediecircncia aos termos da
declaraccedilatildeo de 1948 sustentada por alguns juristas como Marcel Sibert8 - defensores de que
independente da natureza de resoluccedilatildeo que possui a DUDH consideram-na uma extensatildeo
da Carta ONU (especialmente dos artigos 55 e 56) e portanto obrigatoacuteria pela forccedila
vinculante que haveria no documento de constituiccedilatildeo da ONU surgindo entatildeo para os
Estados-membros a necessidade de adequaccedilatildeo de suas legislaccedilotildees agraves determinaccedilotildees e
compromissos firmados na declaraccedilatildeo9 - fato eacute que a nossa Carta Magna de 1988 refletiu
tais determinaccedilotildees no corpo do seu texto conforme alguns trechos abaixo
ldquoArt 6ordm Satildeo direitos sociais a educaccedilatildeo a sauacutede a alimentaccedilatildeo o trabalho a
moradia o transporte o lazer []rdquo
ldquoArt 205 A educaccedilatildeo direito de todos e dever do Estado e da famiacutelia seraacute
promovida e incentivada com a colaboraccedilatildeo da sociedade []rdquo
Prevista em nossa Constituiccedilatildeo em diversos artigos o direito agrave educaccedilatildeo assim como
outros direitos sociais a sua efetivaccedilatildeo depende investimentos e de programaccedilatildeo por parte
do poder puacuteblico poreacutem existem situaccedilotildees em que natildeo haacute sequer a prestaccedilatildeo miacutenima e natildeo
eacute possiacutevel aguardar para ter tais direitos sob pena de causar um prejuiacutezo enorme a diversos
cidadatildeos Diante disso (a necessidade do oferecimento do miacutenimo existencial e a
impossibilidade do estado de se omitir em realizar sua prestaccedilatildeo positiva) em nome da
ldquodefesa da ordem juriacutedica do regime democraacutetico e dos interesses sociais e individuais
indisponiacuteveisrdquo e diante da necessidade de orientaccedilatildeo juriacutedica a promoccedilatildeo dos direitos
humanos e a defesa dos direitos individuais e coletivos aos necessitados faz-se
extremamente necessaacuterio falar nas instituiccedilotildees que satildeo essenciais ao estado democraacutetico de
direito o Ministeacuterio Puacuteblico (previsto no art 127 da CF88) e a Defensoria Puacuteblica (prevista
no art 134 da CF88) A eles cabem zelar pela promoccedilatildeo e defesa dos direitos humanos lato
senso em linhas gerais podemos destacar a atuaccedilatildeo dos Ministeacuterios Puacuteblicos estaduais ao
defender o acesso a vagas em creches e escolas puacuteblicas a fiscalizaccedilatildeo do orccedilamento puacuteblico
destinado agrave educaccedilatildeo em relaccedilatildeo agrave forma de aplicaccedilatildeo da verba puacuteblica o atendimento
educacional especializado para pessoas com deficiecircncia exercer a fiscalizaccedilatildeo dos sistemas
7 ldquoLei 939496 Art 6ordm - Eacute dever dos pais ou responsaacuteveis efetuar a matriacutecula das crianccedilas na educaccedilatildeo baacutesica a partir dos 4 (quatro) anos de idaderdquo httpwwwplanaltogovbrccivil_03leisl9394htm 8 SIBERT Marcel Traiteacute de droit international public le droit de la paix Paris Dalloz 1951 v I p 454 9 MAZZUOLI Valerio de Oliveira Curso de Direitos Humanos 5ordf ed rev atual ampl Rio de Janeiro Forense Satildeo Paulo MEacuteTODO 2018 paacuteg 96
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estadual e municipal de ensino quanto agrave igualdade de condiccedilotildees para acesso e permanecircncia
na escola entre outros
Para a proteccedilatildeo do direito agrave educaccedilatildeo satildeo utilizados os mais variados tipos de
instrumentos processuais principalmente as accedilotildees coletivas a exemplo da Accedilatildeo Civil
Puacuteblica (art 129 III da CF Lei nordm 73471985) movida em do municiacutepio de Inhapim
(MG) em fevereiro deste ano que conseguiu decisatildeo favoraacutevel agrave manutenccedilatildeo do serviccedilo de
transporte escolar aos alunos das redes municipal e estadual residentes na zona rural do
municiacutepio10 garantindo assim o acesso agrave educaccedilatildeo e o Termo de Ajustamento de Conduta
ndash TAC (art 5ordm sect 6ordm da Lei nordm 73471985) firmado com entes puacuteblicos visando ampliar o
atendimento educacional11 Entre outros instrumentos como a Recomendaccedilatildeo (art 6ordm XX
da LC nordm 751993) a Arguiccedilatildeo de Descumprimento de Preceito Federal (art 102 sect 1ordm
da CF) e a Accedilatildeo Direta de Inconstitucionalidade (art 102 I a da CF)
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10 Notiacuteciahttpswwwtjmgjusbrportal-tjmgnoticiastjmg-garante-transporte-escolar-em-inhapimhtmXbVfzmSJLDc Acesso em 26102019 11 Notiacutecia httpswwwmpmgmpbrareas-de-atuacaodefesa-do-cidadaoeducacaonoticiasacordo-firmado-entre-o-mpmg-e-o-municipio-de-ribeirao-das-neves-vai-ampliar-o-numero-de-vagas-em-crecheshtmXbVnEGSJLDc Acesso em 26102019
180
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181
A EDUCACcedilAtildeO COMO DIREITO HUMANO O POSICIONAMENTO DA ASSOCIACcedilAtildeO NACIONAL DE EDUCACcedilAtildeO CATOacuteLICA DO BRASIL (ANEC)
SOBRE O FIM DO FUNDEB
Marcelo Siqueira Maia Vinagre Mocarzel1
Letiacutecia Rodrigues Monteiro2
Eixo Temaacutetico GT 4 ndash Educaccedilatildeo e Direitos Humanos
Palavras-chave Educaccedilatildeo Catoacutelica ANEC Fundeb Direitos Humanos
Introduccedilatildeo e Objetivo
A histoacuteria da educaccedilatildeo brasileira eacute intrinsecamente marcada pela educaccedilatildeo confessional
especialmente a Catoacutelica Desde o periacuteodo colonial as primeiras iniciativas de ensino formal se deram
pelas matildeos de ordens religiosas quando natildeo havia uma separaccedilatildeo clara entre Igreja e Estado Alguns
dos principais autores do campo (SAVIANI 2007 ROMANELLI 1986) apontam para a accedilatildeo dos
jesuiacutetas em solo brasileiro como os primeiros agentes educacionais em iniciativas catequeacuteticas e de
ensino da liacutengua portuguesa (oral) aos nativos
Por mais que hoje a educaccedilatildeo baacutesica brasileira seja ofertada em sua grande maioria pelo
Estado ndash segundo dados do Censo 2018 quase 80 das matriacuteculas estatildeo nas instituiccedilotildees puacuteblicas ndash
a relevacircncia das instituiccedilotildees catoacutelicas no Brasil continua grande inclusive influenciando a agenda das
poliacuteticas educacionais Com base nessa hipoacutetese buscou-se analisar qual a posiccedilatildeo defendida pelas
instituiccedilotildees catoacutelicas hoje no Brasil em relaccedilatildeo ao Fundeb ndash Fundo de Manutenccedilatildeo e
Desenvolvimento da Educaccedilatildeo Baacutesica e de Valorizaccedilatildeo dos Profissionais da Educaccedilatildeo e sua relaccedilatildeo
direta com os direitos humanos
Esta pesquisa integra o corpus de uma pesquisa maior desenvolvida no acircmbito do Programa
de Iniciaccedilatildeo Cientiacutefica do Unilasalle-RJ que visa estudar o posicionamento da educaccedilatildeo catoacutelica no
Brasil frente a diversos projetos poliacuteticos educacionais que estatildeo se desenhando como a Base
Nacional Comum Curricular as Diretrizes para Formaccedilatildeo de Professores e o Fundeb
Segundo a paacutegina do Ministeacuterio da Educaccedilatildeo
O Fundo de Manutenccedilatildeo e Desenvolvimento da Educaccedilatildeo Baacutesica e de Valorizaccedilatildeo dos Profissionais da Educaccedilatildeo (Fundeb) atende toda a educaccedilatildeo
1 Doutor em Comunicaccedilatildeo (PUC-Rio) e Mestre em Educaccedilatildeo (UFF) Professor e pesquisador do Unilasalle-RJ e da UCP Bolsita PIBICUnilasalle-RJ Lattes httplattescnpqbr4368412805880296 2 Graduada em Publicidade e Propaganda (ESPM) e graduanda em Pedagogia (Unilasalle-RJ) Bolsita PIBICUnilasalle-RJ Lattes httplattescnpqbr1121338503073047
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baacutesica da creche ao ensino meacutedio Substituto do Fundo de Manutenccedilatildeo e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorizaccedilatildeo do Magisteacuterio (Fundef) que vigorou de 1997 a 2006 o Fundeb estaacute em vigor desde janeiro de 2007 e se estenderaacute ateacute 2020 Eacute um importante compromisso da Uniatildeo com a educaccedilatildeo baacutesica na medida em que aumenta em dez vezes o volume anual dos recursos federais Aleacutem disso materializa a visatildeo sistecircmica da educaccedilatildeo pois financia todas as etapas da educaccedilatildeo baacutesica e reserva recursos para os programas direcionados a jovens e adultos (MEC 2019)
Assim este ano se encerra a vigecircncia desse mecanismo redistributivo que eacute responsaacutevel por
complementar os orccedilamentos da educaccedilatildeo em milhares de municiacutepios e nos estados possibilitando
que muitos cumpra a vinculaccedilatildeo miacutenima constitucional Atualmente o Ministeacuterio da Economia jaacute
manifestou o desejo de acabar com o Fundeb assim como com os proacuteprios mecanismos
constitucionais de vinculaccedilatildeo dos orccedilamentos O objetivo geral deste trabalho eacute analisar o
posicionamento poliacutetico da ANEC entidade que representa grande parte das instituiccedilotildees catoacutelicas de
educaccedilatildeo baacutesica frente agrave proposta de fim do Fundeb frente agrave necessidade de efetivaccedilatildeo dos direitos
humanos
Abordagens teoacutericas
A Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos Humanos publicada em 1948 sob a chancela da
Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas traz a educaccedilatildeo como principal meio de promover o respeito aos
direitos e liberdades elencados Sendo assim o fortalecimento dos direitos humanos dependem de
accedilotildees educativas voltadas para sua publicidade e vivecircncia Tambeacutem entende-se que a democracia eacute a
condiccedilatildeo ideal para que a educaccedilatildeo e o ensino promovam os direitos humanos Somente em um
regime democraacutetico os direitos humanos tais como satildeo concebidos seratildeo plenamente respeitados
dentre eles a educaccedilatildeo
A Constituiccedilatildeo Federal garante a oferta do Estado para a educaccedilatildeo dos 4 aos 17 anos e o
Fundeb eacute ferramenta essencial para essa efetivaccedilatildeo Sem ele a maioria dos municiacutepios brasileiros e
muitos estados sobretudo os mais pobres natildeo teriam condiccedilotildees de ofertar o nuacutemero de vagas que
oferecem ainda que as metas do Plano Nacional de Educaccedilatildeo (BRASIL 2014) estejam longe de ser
cumpridas na iacutentegra
A ANEC posicionou-se por meio de Nota Teacutecnica (ANEC 2019) sobre a possibilidade de
fim do Fundeb de maneira bastante criacutetica defendendo a transformaccedilatildeo do fundo em permanente e
denunciando o possiacutevel colapso que essa proposta poderia causar na educaccedilatildeo brasileira
desrespeitando assim os direitos humanos
Na Nota Teacutecnica a entidade indica que deve-se ldquocompreender a Educaccedilatildeo Puacuteblica como
sendo um dos principais espaccedilos de construccedilatildeo da Repuacuteblicardquo (ANEC 2019 p 10) Por se tratar de
183
uma entidade que congrega somente instituiccedilotildees privadas confessionais a afirmativa tem ainda mais
forccedila Na sequecircncia indica que na escola puacuteblica eacute ldquoonde devem ser garantidos os direitos ao acesso
universal agrave qualidade social e agrave aprendizagem para todas e todos os estudantes para viabilizar sua
condiccedilatildeo de seres humanosrdquo (ANEC 2019 p 10)
Assim a entidade posiciona-se pela relaccedilatildeo direta entre direito agrave educaccedilatildeo de qualidade social
e direitos humanos sendo a primeira condiccedilatildeo sine qua non para a segunda Entende-se qualidade
social como aquela que lida natildeo apenas com aspectos ligados agrave eficiecircncia e eficaacutecia mas que se ancora
em princiacutepios humanistas democraacuteticos inclusivos e de transformaccedilatildeo social (MOCARZEL 2012)
Aprofundando a compreensatildeo da importacircncia do Fundeb a ANEC estabelece uma relaccedilatildeo
direta entre democracia gestatildeo democraacutetica da escola puacuteblica e direitos humanos
Assim uma gestatildeo democraacutetica na aacuterea de educaccedilatildeo deve assegurar o respeito aos
direitos humanos reconhecendo a diversidade e as diferenccedilas e contribuir para o
processo de emancipaccedilatildeo porque democracia natildeo eacute uma questatildeo abstrata ou
ideal ela se constroacutei no cotidiano real (ANEC 2019 p 10 e 11)
A Nota ainda afirma que vivemos ldquotempos de crise e de retrocesso cultural e educacionalrdquo
e que a transformaccedilatildeo do Fundeb em poliacutetica permanente eacute o uacutenico meio de garantirmos os recursos
necessaacuterios para cumprir as metas do Plano Nacional de Educaccedilatildeo (ANEC 2019 p 11) Por fim
dentre outras posiccedilotildees a Nota Teacutecnica traz a seguinte conclusatildeo
Poreacutem ao contraacuterio desta orientaccedilatildeo as poliacuteticas neoliberais que privilegiam as
relaccedilotildees de mercado (com ecircnfase no mercado financeiro) como reguladoras da
vida econocircmica e social tecircm sido fatores determinantes em gestotildees puacuteblicas de
maneira especial no Governo Federal que vem tomando decisotildees contraacuterias no
que tange ao papel constitucional do Estado promover a Justiccedila Social e
combater as desigualdades (ANEC 2019 p 11)
Assim o duro posicionamento da ANEC surpreende por dois motivos de um lado pelo
alto grau de conservadorismo que normalmente eacute atrelado agraves entidades catoacutelicas ndash e religiosas em
geral Depois pela forma direta como ataca os pontos que estatildeo em debate ainda que os mesmos
interfiram pouco em suas atividades
Conclusotildees Preliminares
Diante do que foi levantado o posicionamento da ANEC em relaccedilatildeo ao Fundeb encontra
ressonacircncia em setores progressistas da sociedade sobretudo na academia e nos partidos poliacuteticos de
esquerda e centro-esquerda Trata-se de uma visatildeo surpreendente dado o histoacuterico da instituiccedilatildeo
184
fundada em 2007 mas que soma a histoacuteria da Associaccedilatildeo de Educaccedilatildeo Catoacutelica (AEC) esta fundada
em 1945 e que por muitas vezes posicionou-se de forma bastante distinta como na proacutepria discussatildeo
das duas Leis de Diretrizes e Bases da Educaccedilatildeo Nacional
A pesquisa em questatildeo estaacute em andamento e seratildeo analisadas outras Notas Teacutecnicas com
vistas a compreender se haacute um posicionamento linear da entidade ou se as Notas refletem
posicionamentos divergentes ou mesmo contraditoacuterios A partir desta anaacutelise poderemos emitir
conclusotildees mais aprofundadas e assertivas
Referecircncias
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2007
185
EDUCACcedilAtildeO EM BUSCA DA FELICIDADE CIDADANIA DIGNIDADE E LIBERDADE
Maria Lucia Sucupira Medeiros1
Carlos Alberto Lima de Almeida2
Eixo Temaacutetico GT 4 ndash Educaccedilatildeo e Direitos Humanos
Palavras-chave educaccedilatildeo busca da felicidade direito fundamental humano e social
globalizaccedilatildeo
O artigo objetiva discutir os aspectos mais relevantes da educaccedilatildeo no sentido de
contribuir com a busca da felicidade pelas pessoas mediante o exerciacutecio pleno da cidadania
da dignidade e da liberdade Para isso parte do princiacutepio de que a educaccedilatildeo seja acessiacutevel a
todos enquanto direito fundamental humano e social na perspectiva doutrinaacuteria dos
diversos filoacutesofos e educadores que se dedicaram a refletir sobre ela como Aristoacuteteles Kant
Karl Popper e outros Em niacutevel mundial satildeo discutidos os impactos que a globalizaccedilatildeo vem
exercendo sobre as propostas da educaccedilatildeo neste caso considerada como uma mercadoria
Na perspectiva brasileira eacute discutida sua presenccedila filosoacutefica na Constituiccedilatildeo Federal de 1988
enquanto contribuiccedilatildeo para a formaccedilatildeo da cidadania Tal responsabilidade eacute compartilhada
pela accedilatildeo docente haja vista o trabalho de conscientizaccedilatildeo a ser feito cotidianamente ao
longo do desenvolvimento do processo ensino-aprendizagem
Partindo dos pressupostos do Direito Constitucional como a educaccedilatildeo eacute um direito
de todos cabe ao Estado e agrave famiacutelia promovecirc-la com a colaboraccedilatildeo da sociedade Portanto
conseguimos entender ou almejar que o Estado deve custeaacute-la em ao menos uma de suas
1 Professora da Graduaccedilatildeo em Direito da Universidade Estaacutecio de Saacute (UNESA) Doutorado em Direito pela UNESA Mestrado em Direito pela Universidade Gama Filho Graduada em Comunicaccedilatildeo Social e em Direito Pesquisadora em formaccedilatildeo do grupo de pesquisa Observatoacuterio de Poliacuteticas Puacuteblicas Direito e Proteccedilatildeo Social (PPGD-UNESA) Coordenadora do Nuacutecleo de Praacutetica Juriacutedica do Centro Universitaacuterio do Rio de Janeiro (UNIRJ) Membro ldquoad hocrdquo do Coleacutegio de Advogados da Escola Particular do Sindicato dos Estabelecimentos de Ensino do Rio de Janeiro Professora titular de Direito Tributaacuterio Laboratoacuterio de Praacutetica Juriacutedica Civil I e II e Toacutepicos Especiais em Educaccedilatildeo para o curso de Pedagogia (Direito Educacional) Assessora juriacutedica e advogada de estabelecimentos de ensino como o Coleacutegio Andrews e Universidade da Crianccedila E-mail mlsucupiragmailcom Link para curriacuteculo na Plataforma Lattes httplattescnpqbr1771658290243492 2 Poacutes-doutor em Direito (UERJ) Doutor e Mestre em Poliacutetica Social (UFF) Doutorando em Educaccedilatildeo (UFF) Professor Permanente do PPGD-UNESA Liacuteder do grupo de pesquisa Observatoacuterio de Poliacuteticas Puacuteblicas Direito e Proteccedilatildeo Social Coordenador do projeto de extensatildeo social Nuacutecleo de Extensatildeo e Pesquisa de Acessibilidade e Inclusatildeo (NEPAI) Voluntaacuterio do Preacute-vestibular social Dr Luiz Gama promovido pelo Coletivo de Direito Popular E-mail carlosalbertolimadealmeidagmailcom Link para a Plataforma Lattes httplattescnpqbr6717808991001267
186
etapas Se a Constituiccedilatildeo Brasileira enfoca a educaccedilatildeo como componente vital para se atingir
o exerciacutecio da cidadania e para o exerciacutecio da vida plena natildeo podemos prescindir de sua
busca a fim de alcanccedilar a felicidade
Em busca da felicidade o ser humano cultiva outros ideais e necessita de
instrumentos para compor o miacutenimo existencial que lhe dignifique nos termos do previsto
em nossa Constituiccedilatildeo Federal Assim natildeo foi agrave toa que a dignidade da pessoa humana
tomou lugar ao lado de outros fundamentos do Estado Democraacutetico de Direito tais como
a soberania a cidadania os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa e do pluralismo
poliacutetico expressos no artigo 1ordm de nossa Carta Magna
O direito agrave educaccedilatildeo dessa forma caminha pari passu com esses fundamentos e exige
por meio da proacutepria Constituiccedilatildeo e dos representantes eleitos que seja considerado como
direito fundamental na medida em que ela conseguiraacute erradicar a pobreza ou reduzir as
desigualdades sociais construindo uma sociedade mais justa e solidaacuteria e garantindo assim
o desenvolvimento nacional
Assegurar a educaccedilatildeo de maneira extensiva torna-se muitas vezes complexo pois natildeo
se consegue qualificar esse ou aquele direito dentro de diferentes culturas Na falta da
possibilidade de o cidadatildeo adquirir educaccedilatildeo para ensejar a felicidade surge uma realidade
frustrante quando esse direito apesar de ser fundamental e dever do Estado natildeo eacute
disponibilizado para o seu alcance como imaginava Portanto o cidadatildeo se vecirc na obrigaccedilatildeo
de acionar o Poder Judiciaacuterio para obter o cumprimento de um direito que recebeu o roacutetulo
de fundamental ou humano ou social
Embora entendamos ser o homem o criador de suas ideias e responsaacutevel por seus
atos o Estado se apresenta com a obrigatoriedade de ser o provedor de pelo menos a
educaccedilatildeo fundamental atuando como se fosse extensatildeo da famiacutelia Torna-se portanto
diretamente responsaacutevel pela sua sobrevivecircncia considerando-se protagonista de
proporcionar a felicidade de todos Karl Popper discorda do desempenho desse papel ao
afirmar que ldquoo Estado natildeo deve intervir na educaccedilatildeo puacuteblica porque viria a impor sua
verdade e impedir a criacutetica []rdquo Para o filoacutesofo ldquonatildeo somente o Estado natildeo deve educar os
cidadatildeos mas tambeacutem natildeo deve ocupar-se da formaccedilatildeo da classe dirigenterdquo (POPPER apud
MARIN DASEN 2008 p 18)
A ideologia neoliberal de Popper considera a educaccedilatildeo como mera mercadoria que
para ser adquirida teria de ser provisionada pelas famiacutelias diante dos recursos
disponibilizados pela iniciativa privada Trata-se de um contrassenso pois o maior
beneficiado com a educaccedilatildeo popular ampla geral e irrestrita eacute o proacuteprio Estado devido ao
187
salto qualitativo que proporcionaraacute na construccedilatildeo da dignidade humana como uma das
aspiraccedilotildees mais relevantes para a populaccedilatildeo de determinado paiacutes
Num sentido a nosso ver mais adequado Marin Dasen (2008 p 23-24) destacam a
necessidade de se olhar a educaccedilatildeo como serviccedilo puacuteblico produto do desenvolvimento da
democratizaccedilatildeo desviando-se a discussatildeo econocircmica para o espaccedilo poliacutetico pois a mesma
deve ser reconhecida como direito humano fundamental resultado de uma conquista
histoacuterica que vai construir a identidade e a dignidade humana
Conclui-se que a educaccedilatildeo eacute direito de todos devendo ser oferecida ao indiviacuteduo
com a colaboraccedilatildeo da sociedade Esse fato no entanto natildeo pode isentar o Estado de
conceder os instrumentos necessaacuterios para sua concretizaccedilatildeo incluindo os recursos
financeiros ainda que ultrapassem a previsatildeo orccedilamentaacuteria ou pelo menos impeccedilam o corte
de tais verbas como vem acontecendo contemporaneamente resultado da situaccedilatildeo precaacuteria
pela qual atravessa o Estado brasileiro
Aleacutem de ser um direito de todos tambeacutem contribui decisivamente para obter
dignidade humana e conquista da cidadania o que eleva seu status ao tratar-se de direito
fundamental constitucionalmente previsto Como direito fundamental proacuteprio dos seres
humanos em todas as etapas da vida propicia a busca da felicidade ao ajudar na erradicaccedilatildeo
da pobreza e na reduccedilatildeo das desigualdades sociais resultando em contribuiccedilatildeo para o
desenvolvimento nacional Mais que a felicidade trata-se poreacutem de contribuir para a
sobrevivecircncia do indiviacuteduo que em contrapartida impulsiona o crescimento econocircmico
Neste sentido eacute preciso a existecircncia de poliacuteticas puacuteblicas que fomentem o oferecimento da
educaccedilatildeo pelo Estado na contribuiccedilatildeo da formaccedilatildeo do indiviacuteduo e de sua mente impedindo
o corte de recursos destinados a ela pelo simples reconhecimento de seus benefiacutecios
Ao se observar a educaccedilatildeo sob o aspecto econocircmico e globalizado torna-se vaacutelido
verificar o trato dado a esse direito pela comunidade internacional com as naccedilotildees
participantes de blocos econocircmicos que adotam a loacutegica neoliberal permeando a
globalizaccedilatildeo Como todo processo criacutetico a globalizaccedilatildeo deve ser analisada em seus aspectos
positivos e correlatos dispensando-se poreacutem os aspectos excludentes Deve-se voltar
preferencialmente para a anaacutelise da consciecircncia solidaacuteria no sentido de privilegiar a iniciativa
do Estado em oferecer benefiacutecios aos estratos mais carentes com a educaccedilatildeo configurada
como componente fundamental
O desentendimento da educaccedilatildeo como precioso bem da vida pode conduzir agrave
exclusiva visatildeo mercadoloacutegica Contudo natildeo podemos permitir que lhe seja retirado o espaccedilo
para futuras discussotildees sociais como recurso importante e vital para a Era do Conhecimento
188
Mesmo sendo considerada mercadoria a ser utilizada de forma raacutepida passageira e
descomprometida eacute inegaacutevel seu valor de ser eterna e duradoura para o indiviacuteduo do
nascimento ateacute seu desligamento das lides terrenas
REFEREcircNCIAS
ARISTOacuteTELES Eacutetica a Nicocircmaco Traduccedilatildeo Luciano Ferreira de Souza Satildeo Paulo Martin Claret 2015 BARRETO Vicente de Paulo O fetiche dos direitos humanos e outros temas 2 ed rev ampl Porto Alegre Livraria do Advogado 2013 DOTTRENS Robert A crise da educaccedilatildeo e seus remeacutedios Traduccedilatildeo Marco Aureacutelio de Moura Matos Rio de Janeiro Zahar 1976 FERNANDEZ Eusebio Teoria de la Justicia y Derechos Humanos Madrid Editorial Debate 1991 HUBERMAN A M Situacioacuten actual y perspectivas futuras In UNESCO El derecho del nintildeo a la educacioacuten Paris Unesco 1979 p 57-77 JOAQUIM Nelson Direito Educacional Brasileiro histoacuteria teoria e praacutetica 3 ed Rio de Janeiro Freitas Bastos 2015 LUCCI Elian Alabi A educaccedilatildeo no contexto da globalizaccedilatildeo Disponiacutevel em lthttpwwwhottoposcommirandumglobalihtmgt Acesso em 8 jun 2017 LUNtildeO Antonio E Perez Los derechos fundamentales 5 ed Madrid Tecnos 1993 MARIN Joseacute DASEN Pierre R A educaccedilatildeo no contexto da globalizaccedilatildeo migraccedilotildees e direitos humanos Ciecircncias Sociais Unisinos Porto Alegre n 44(1) p 13-27 janabr 2008 MEDEIROS Maria Lucia Sucupira Educaccedilatildeo um direito fundamental Direito da Educaccedilatildeo 1995 138 f Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Direito do Estado e Cidadania) - Faculdade de Direito Universidade Gama Filho Rio de Janeiro 1995 ROSEN Michael Dignidade sua histoacuteria e significado Traduccedilatildeo Andreacute de Godoy Vieira Satildeo Leopoldo Unisinos 2015
189
ACcedilOtildeES AFIRMATIVAS NAS SUPREMAS CORTES DO BRASIL E DOS ESTADOS UNIDOS CULTURA JURIacuteDICA IDEOLOGIAS RACIAIS E
VALORES DE IGUALDADE EM PERSPECTIVA COMPARADA
Carlos Alberto Lima de Almeida1
Matheus Guarino SantrsquoAnna Lima de Almeida2
Eixo Temaacutetico GT 4 ndash Educaccedilatildeo e Direitos Humanos
Palavras Chave Accedilotildees Afirmativas Cultura Juriacutedica Racismo Antirracismo Direito
Comparado
Resumo Expandido
O presente trabalho analisa em perspectiva comparada por diferenccedila as poliacuteticas de accedilotildees
afirmativas para ingresso no ensino superior no Brasil e nos Estados Unidos pautando-se
pela anaacutelise comparada dos julgamentos na Suprema Corte Americana e pelo Supremo
Tribunal Federal brasileiro e os impactos de tais poliacuteticas e julgamentos no debate sobre
racismo e acesso ao ensino superior nos dois paiacuteses principalmente no que tange as
discussotildees sobre reconhecimento racial Em 2016 o julgamento pela Suprema Corte
Americana do caso FISHER v UNIVERSITY OF TEXAS AT AUSTIN ET AL foi um
marco para as discussotildees sobre accedilotildees afirmativas raciais naquele paiacutes No Brasil o julgamento
da ADPF 186 que declarou a constitucionalidade do sistema de cotas na Universidade de
Brasiacutelia foi fundamental para a implementaccedilatildeo do sistema de cotas para as universidades
federais atraveacutes da Lei de Cotas (lei 127112012) O trabalho parte do senso comum no
campo juriacutedico brasileiro constado em pesquisas anteriores de que o sistema brasileiro de
accedilotildees afirmativas seria semelhante ao sistema americano argumento tambeacutem
constantemente presente nos discursos de criacuteticas agraves accedilotildees afirmativas O trabalho parte
entatildeo da hipoacutetese de que os dois paiacuteses possuem ideologias raciais distintas que se
relacionam com suas culturas juriacutedicas distintas principalmente no que tange a ideia de
igualdade o que se reflete na maneira como os dois paiacuteses entendem e aplicam as accedilotildees
1 Professor permanente do PPGD-UNESA Poacutes-doutorando em Direito (UERJ) Doutor e Mestre em Poliacutetica Social (UFF) Doutor em Educaccedilatildeo (UFF) Liacuteder do grupo de pesquisa Observatoacuterio de Poliacuteticas Puacuteblicas Direito e Proteccedilatildeo Social Coordenador do projeto de extensatildeo social Nuacutecleo de Extensatildeo e Pesquisa de Acessibilidade e Inclusatildeo E-mail carlosalbertolimadealmeidagmailcom Link para a Plataforma Lattes httplattescnpqbr6717808991001267 2 Mestrando no Ciecircncias Juriacutedicas e Sociais no Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo em Sociologia e Direito da UFF (PPGSD-UFF) Bolsista Capes Graduado em Direito pela UFF Graduando em Letras PortuguecircsGrego (licenciatura) na UFF E-mail matheus_almeidaiduffbr Link para a Plataforma Lattes httplattescnpqbr7434468517245802
190
afirmativas Partimos entatildeo da pergunta quais satildeo as diferenccedilas entre os modelos de accedilatildeo
afirmativa do Brasil e dos Estados Unidos e como estes modelos se relacionam com a cultura
juriacutedica destes paiacuteses e com suas ideologias raciais Assim o trabalho tinha como objetivo
geral realizar uma anaacutelise comparativa por diferenccedila das accedilotildees afirmativas do Brasil e dos
Estados Unidos e como objetivos especiacuteficos a) investigar as diferenccedilas entre as ideologias
raciais o racismo e o antirracismo no Brasil e nos Estados Unidos b) investigar as diferenccedilas
nas culturas juriacutedicas destes dos paiacuteses quanto agraves accedilotildees afirmativas e os valores de igualdade
c) investigar como este debate esteve presente no Supremo Tribunal Federal brasileiro e na
Suprema Corte dos Estados Unidos para relacionar accedilotildees afirmativas ideologias raciais e
cultura juriacutedica
Buscou-se por tanto investigar nas decisotildees da Suprema Corte americana e do Supremo
Tribunal Federal brasileiro atraveacutes da anaacutelise discursiva das decisotildees o reflexo destas
diferenccedilas no tratamento da questatildeo das accedilotildees afirmativas em sua perspectiva legal e
constitucional A pesquisa consistiu em uma pesquisa bibliograacutefica e documental que teve
como referenciais teoacutericos principais a) metodologias de anaacutelise do discurso com base
principal na anaacutelise semiolinguiacutestica do discurso a partir da obra de Patrick Charaudeau
(2011 2014) e Dominick Maingueneau (2008) b) a antropologia comparativa da cultura
acerca da igualdade com base principalmente na obra de Roberto DaMatta (2010) c) obras
de autores que discutem racismo e accedilotildees afirmativas em perspectiva comparada entre Brasil
e Estados Unidos como Carlos Alberto Medeiros (2004) Antonio Seacutergio Alfredo Guimaratildees
(2002) Joaquim Barbosa Gomes (2001) Thula de Oliveira Pires (2011) Randal Kennedy
(2011) dentre outros O trabalho se centrou entatildeo nos seguintes eixos 1) uma anaacutelise das
diferenccedilas entre as relaccedilotildees etnicorraciais no Brasil e nos Estados Unidos e os valores de
igualdade dos paiacuteses 2) uma histoacuteria das accedilotildees afirmativas nestes paiacuteses 3) uma anaacutelise
discursiva do julgamento das accedilotildees afirmativas na Suprema Corte dos Estados Unidos e no
Supremo Tribunal Federal Brasileiro buscando compreender o que estava em pauta
discursivamente em cada julgamento e como o judiciaacuterio de cada paiacutes tratou a questatildeo das
accedilotildees afirmativas
A pesquisa apontou que os sistemas de accedilotildees afirmativas dos dois paiacuteses satildeo completamente
distintos Enquanto nos Estados Unidos o sistema utiliza a raccedila como um dos criteacuterios em
uma seleccedilatildeo holiacutestica o sistema brasileiro trabalha com uma reserva de vagas para estudantes
de escolas puacuteblicas com recortes de raccedila e de renda A pesquisa analisa os principais
argumentos e categorias em conflito nos julgamentos contrastando-os com o debate que
permeiam a discussatildeo sobre accedilotildees afirmativas e questotildees eacutetnico-raciais nos dois paiacuteses
191
concluindo que uma vez que os dois paiacuteses desenvolveram ideologias raciais distintas assim
como diferentes valores quanto agrave ideia de igualdade os modelos de accedilotildees afirmativas em
cada paiacutes satildeo coerentes com suas questotildees raciais No Brasil um paiacutes fortemente desigual e
hierarquizado que negou durante toda sua histoacuteria a existecircncia do racismo atraveacutes do mito
da democracia racial o sistema de accedilotildees afirmativas eacute baseado num modelo de reserva de
vagas com base em criteacuterios raciais que tem como objetivo realizar uma reparaccedilatildeo histoacuterica
quanto ao passado de escravidatildeo desigualdade e negaccedilatildeo do racismo Nos Estados Unidos
uma sociedade que possui fortes valores igualitaacuterios apesar de ter convivido durante muito
tempo com leis explicitamente segregacionistas o sistema juriacutedico acabou por recusar
qualquer tipo de sistema de vagas permitindo apenas accedilotildees afirmativas que natildeo gerasse
desigualdades formais entre os cidadatildeos e tendo como justificativa para as accedilotildees afirmativas
apensar os benefiacutecios educacionais que elas poderiam trazer para a comunidade Assim a
pesquisa conclui que os sistemas de accedilotildees afirmativas dos dois paiacuteses satildeo divergentes porque
se adeacutequam a diferentes culturas juriacutedicas e porque respondem a problemaacuteticas raciais
distintas coerentes com a histoacuteria destes paiacuteses
Referecircncias
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193
DECLARACcedilAtildeO UNIVERSAL SOBRE A DIVERSIDADE CULTURAL DIREITOS HUMANOS E O DIAacuteLOGO (INTER)CULTURAL NA EDUCACcedilAtildeO
SUPERIOR
Angelina Accetta Rojas1
Andreacute Cesari Batista de Lima2
Eixo Temaacutetico GT 4 ndash Educaccedilatildeo e Direitos Humanos
Palavras-chaves Diversidade Cultural Direitos Humanos Interculturalidade
A Declaraccedilatildeo Universal sobre a Diversidade Cultural da UNESCO (2001) expressa
o compromisso com a plena realizaccedilatildeo dos direitos humanos e das liberdades fundamentais
proclamadas na Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos Humanos e em outros instrumentos
universalmente reconhecidos como os dois Pactos Internacionais de 1966 relativos
respectivamente aos direitos civis e poliacuteticos e aos direitos econocircmicos sociais e culturais
A UNESCO ao apresentar os princiacutepios adotados na Declaraccedilatildeo Universal sobre a
Diversidade Cultural reafirma o compromisso com a preservaccedilatildeo da cultura bem como agrave
importacircncia do diaacutelogo intercultural Os toacutepicos apresentados visam proteger e fomentar a
diversidade linguiacutestica promover por meio da educaccedilatildeo os valores positivos da diversidade
cultural aprofundar a discussatildeo internacional sobre o tema estimular o avanccedilo tecnoloacutegico
e a produccedilatildeo de conteuacutedos diversificados elaborar poliacuteticas de preservaccedilatildeo cultural e ldquoajudar
a criaccedilatildeo ou consolidaccedilatildeo de induacutestrias criativas nos paiacuteses em desenvolvimentordquo
O diaacutelogo intercultural contribui ainda para a riqueza das produccedilotildees culturais e
artiacutesticas jaacute que favorece sincretismos e o surgimento de diferentes leituras e interpretaccedilotildees
A Deacutecada Internacional para a Aproximaccedilatildeo das Culturas (2013-2022) instituiacuteda pela
UNESCO parte da noccedilatildeo de que a seguranccedila internacional e a inclusatildeo social apenas podem
ser alcanccediladas mediante o trabalho conjunto dos diferentes paiacuteses e culturas Tem como
objetivo a erradicaccedilatildeo do preconceito e dos estereoacutetipos que lhe datildeo origem atraveacutes do
diaacutelogo intercultural
Enquanto Educaccedilatildeo Superior somos desafiados na construccedilatildeo de diaacutelogos que
garantam o acesso da comunidade acadecircmica agraves expressotildees artiacutesticas e culturais diversas
Dessa forma esta pesquisa estaacute pautada no conhecimento da Declaraccedilatildeo Universal sobre a
Diversidade Cultural bem como a sua contribuiccedilatildeo para a formaccedilatildeo humana-profissional e
1 Doutora UNILASALLE-RJ - httplattescnpqbr9767294179555558 2 Mestrando Universidade Federal Fluminense - httplattescnpqbr8980552353465287
194
se justifica pelo reconhecimento dos direitos culturais como parte do patrimocircnio comum da
humanidade e como forccedila motriz para a paz solidariedade e a prosperidade
A compreensatildeo da diversidade como um direito humano se coloca como um grande
desafio para o reconhecimento da dignidade da pessoa humana mediante o respeito agraves
diferenccedilas o que incide na necessidade do entendimento mais amplo da cultura aleacutem dos
saberes formais Como ambiente acadecircmico de construccedilatildeo do conhecimento torna-se
fundamental a promoccedilatildeo do diaacutelogo e da alteridade como o resgate dos processos de
construccedilatildeo das identidades culturais tanto no niacutevel pessoal como coletivo
Dessa forma objetivamos com a referida pesquisa aprimorar a reflexatildeo a respeito da
diversidade cultural como fonte de intercacircmbios no exerciacutecio de praacuteticas dos direitos
humanos e da pluralidade que caracterizam as comunidades acadecircmicas
Mudar a cultura institucional de abertura agrave diversidade cultural requer a revisatildeo de
identidades individuais coletivas e institucionais no sentido de estabelecer novas relaccedilotildees
com o conceito de justiccedila e equidade social Tal processo representa o princiacutepio dialeacutetico
freireano de que o valor de cada cultura requer escuta bem como aprendizagem sobre
alteridade e sobre a capacidade de mudar o enfoque para o outro
Segundo a diretora-geral da Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Educaccedilatildeo a
Ciecircncia e a Cultura (UNESCO) Audrey Azoulay um mundo diversificado natildeo eacute apenas mais
paciacutefico mas tambeacutem mais proacutespero e mais equitativo ldquoPor meio da pluralidade de suas
vozes acredita-se que a diversidade cultural eacute um dos recursos renovaacuteveis originais da
humanidade ao oferecer uma fonte constante de inovaccedilatildeo e criatividaderdquo (2019)
Nessa perspectiva a diversidade cultural deve ser compreendida pelas instituiccedilotildees de
ensino como um projeto poliacutetico pedagoacutegico deliberado voltado agrave construccedilatildeo de diaacutelogos
interculturais a partir das diferenccedilas suas tensotildees e seus antagonismos inerentes
(BARBALHO 2007)
A Lei de Diretrizes Baacutesicas da Educaccedilatildeo Superior (1996) prioriza o estiacutemulo agrave criaccedilatildeo
cultural do espiacuterito cientiacutefico e do pensamento reflexivo (Capiacutetulo IV artigo 43 I) com o
objetivo de desenvolver o entendimento do homem e do meio em que vive Jaacute a Declaraccedilatildeo
Universal sobre a Diversidade Cultural (UNESCO 2001) constata que a cultura se encontra
no centro dos saberes contemporacircneos sobre a identidade a coesatildeo social e o
desenvolvimento de uma economia fundada no saber
Dessa forma podemos afirmar que os direitos culturais satildeo parte integrante dos
direitos humanos que satildeo universais indissociaacuteveis e independentes e que eacute missatildeo da
universidade promover o intercacircmbio cultural e o desenvolvimento da capacidade criadora
195
que alimentam a vida em sociedade Nesse contexto a metodologia se insere no acircmbito
universitaacuterio com o intercacircmbio cultural firmado entre a Universidad de La Salle Bajiacuteo e o
Unilasalle-RJ Esta parceria teve como resultado a apresentaccedilatildeo de obras de artistas
brasileiros em Bajiacuteo e a apresentaccedilatildeo do acervo de gravuras do MiMuseo relativo aos artistas
da comunidade de Guanajuato na Galeria La Salle
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196
GT 5 ndash ASPECTOS INQUISITOacuteRIOS DO
PROCESSO PENAL E
CRIMINOGEcircNESE DIREITOS
HUMANOS E SISTEMA
PENITENCIAacuteRIO
197
O SENSO COMUM PUNITIVO NO PROCESSO E EXECUCcedilAtildeO PENAL BRASILEIRO E O DETRIMENTO AO DIREITO Agrave FELICIDADE
Alan Felipe de Oliveira Chagas1
Eixo Temaacutetico GT 5 ndash Aspectos inquisitoacuterios do Processo Penal e Criminogecircnese Direitos Humanos e Sistema Penitenciaacuterio
Palavras-chave Direitos Humanos Penal Processo Punitivismo
Resumo Os efeitos de uma persecuccedilatildeo e uma execuccedilatildeo penal norteadas pelo sentimento
de punibilidade externam a problemaacutetica das instituiccedilotildees judiciais brasileiras que devido agrave
demasia de repeticcedilatildeo dos atos ilegais procuram atacar o agente e natildeo o meio social que possui
a ruptura Tal objeto tem como resultado uma investigaccedilatildeo falha uma execuccedilatildeo abrupta e
cruel e uma retroalimentaccedilatildeo da exclusatildeo social do apenado
1 OBJETIVOS
Identificar atraveacutes da anaacutelise clara e concisa a falha na atuaccedilatildeo da investigaccedilatildeo
policial e as recorrentes necessidades de denunciar reacuteus sem o miacutenimo vieacutes de culpa lotando
os presiacutedios com prisotildees preventivas
Consequentemente o transtorno e desespero dos suspeitos advecircm da necessidade
que o Estado brasileiro se impotildee em reverter o ocircnus da prova na persecuccedilatildeo penal para o
acusado que atraveacutes do senso comum judicial jaacute o condenou desde que o caso foi registrado
pela poliacutecia judiciaacuteria O Ministeacuterio Puacuteblico deixa de proteger a legalidade e se transforma
em um escritoacuterio de acusaccedilatildeo
Tal fato eacute tatildeo latente que haacute a insurgecircncia de projetos como a ONG Innocence Project
que visa reverter agraves condenaccedilotildees pela ineficaacutecia do poder puacuteblico em produzir a prova que
condenou o apenado assim como tambeacutem de que as instituiccedilotildees que deveriam proteger a
Lei e a legalidade dos atos satildeo as que demonstram imperatividade nos seus atos Vivemos
1 CHAGAS Alan Felipe de Oliveira Graduando em Direito pela Faculdade Presbiteriana Mackenzie Rio Especialista lato-sensu em Docecircncia de Ensino Superior pela AVM Faculdade IntegradaUniversidade Candido Mendes Bacharel em Administraccedilatildeo pela Fundaccedilatildeo Universidade do Tocantins e-mail alanfochagasgmailcom curriacuteculo Lattes httplattescnpqbr0066607781483648
198
uma velada inquisiccedilatildeo no qual o fracasso do judiciaacuterio a inadequaccedilatildeo do legislativo e o
recorrente populismo no executivo brasileiro perpetuam a praacutetica de penalizar por
segmentos econocircmicos e em sequencias por suas estruturas sociais
Ao transpor a audiecircncia de instruccedilatildeo e julgamento o cumprimento da pena se faz
em instalaccedilotildees desumanas e insalubres que natildeo vislumbram em momento algum a
recuperaccedilatildeo do apenado Veja que a partir deste momento natildeo se trata mais de comprovar
a legalidade de sua prisatildeo mas sim como se protege a vida nestas instituiccedilotildees
Neste diapasatildeo na atualidade vemos a recepccedilatildeo do direito a felicidade muito
utilizado por nossa Suprema Corte em consonacircncia agrave Constituiccedilatildeo Federal Nesse sentido
transpotildee aos direitos e garantias fundamentais o questionamento existe uma
institucionalizaccedilatildeo do senso comum judicial E existe direito agrave vida e agrave felicidade na
execuccedilatildeo penal brasileira
2 ABORDAGEM TEOacuteRICA
Para auxiliar essa pesquisa iniciaremos com os instrumentos norteadores da
Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil (1988) como o artigo 1ordm inciso III que trata
da dignidade da pessoa humana o caput do artigo 5ordm que trata do direito agrave vida e do sect2 do
artigo 5ordm que recepciona o reconhecido direito agrave felicidade
O processo penal em sua fase instrutoacuteria com a praacutexis atual fere inteiramente a
dicccedilatildeo do artigo 41 do Coacutedigo de Processo Penal (1941) que determina que a produccedilatildeo de
provas caiba agrave acusaccedilatildeo
E essa relaccedilatildeo entre a justiccedila e legalidade deve ser apreciada pois eacute grave conforme
nos ensina o jurista Lecircnio Streck (2019) como segue
Parece oacutebvio que o poder investigatoacuterio do Ministeacuterio Puacuteblico deve servir tambeacutem para a absolviccedilatildeo de inocentes Tal circunstacircncia colocaraacute o MP ao patamar de uma magistratura porque lhe impotildee a obrigaccedilatildeo de ser imparcial do mesmo modo que um juiz deve se conduzir com imparcialidade
Isto quer dizer que ou bem o ministeacuterio puacuteblico se comporta como uma magistratura ou bem se comporta como uma advocacia puacuteblica um escritoacuterio de advogados de acusaccedilatildeo
A condenaccedilatildeo sumaacuteria sem o devido processo legal satildeo comprovadas pelas
estatiacutesticas do Conselho Nacional de Justiccedila (2019) no Brasil existem 812000 presos sendo
que 415 estatildeo em prisatildeo provisoacuteria O que conforme anaacutelise do proacuteprio oacutergatildeo ldquoo sistema
viola de forma generalizada os direitos dos presos em relaccedilatildeo agrave dignidade e integridade
psiacutequica e fiacutesicardquo
199
3 CONCLUSOtildeES
Dessa forma atraveacutes das obras elencadas aleacutem da atenta observaccedilatildeo ao momento
atual na praacutetica do direito resta claro a se comprovar a falecircncia do sistema penal e executoacuterio
brasileiro sendo base para infringir a Constituiccedilatildeo Federal tratados internacionais de
proteccedilatildeo aos direitos humanos e da legislaccedilatildeo infraconstitucional
Aleacutem disso fica evidente a insurgecircncia de um grupo o qual pode nominar de
ldquotenentismo judicialrdquo que por exerciacutecio de seu merecimento vincula a legalidade de suas
accedilotildees em detrimentos aos direitos do acusado e do apenado
E por fim diante dessa dicotomia o preccedilo da legalidade ilegal nunca seraacute resolvido
a ponto de que sem esforccedilos muacutetuos de ambos os poderes natildeo haveraacute modificaccedilatildeo no
quadro penal brasileiro
Nesse sentido ademais das violaccedilotildees dos direitos conquistados resta tambeacutem
patente agrave existecircncia de um senso comum judicial atuante com os que deveriam regrar e
proteger os direitos e as liberdades coletivas e individuais
REFEREcircNCIAS
BRASIL Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil Senado Federal Brasiacutelia 1988
_______ Decreto-lei 3689 Senado Federal Rio de Janeiro 1941
CONSELHO NACIONAL DE JUSTICcedilA Justiccedila Em Nuacutemeros Brasiacutelia CNJ 2019
STRECK Lecircnio Luiz Senso Incomum projeto de lei para evitar a parcialidade na produccedilatildeo
da prova penal CONJUR 2019 Link lthttpswwwconjurcombr2019-set-19senso-
incomum-projeto-lei-evitar-parcialidade-producao-prova-penalgt acesso em 03 nov 2019
200
ADOLESCENTES E O ATO INFRACIONAL ESCOLHA POLIacuteTICA
Claudia Aparecida da Silva Pires1
Felipe Dutra Asensi2
Raphaela Abud Neves3
Eixo Temaacutetico GT 5 ndash Aspectos inquisitoacuterios do Processo Penal e Criminogecircnese Direitos Humanos e Sistema Penitenciaacuterio
Palavras-chave Adolescentes atos infracionais drogas conselho de seguranccedila
O consumo de drogas tem aumentado diariamente natildeo escolhendo religiatildeo ou niacutevel
social estaacute presente em todos os lugares A prevenccedilatildeo ao uso indevido das drogas eacute
fundamental para a sensibilizaccedilatildeo sobre os riscos e perigos do seu uso
A sociedade atraveacutes de suas leis determina o que eacute um ato infracional se utilizando
do Sistema de Justiccedila Criminal para sua aplicaccedilatildeo
No Brasil o Estatuto da Crianccedila e do Adolescente (ECA) considera adolescente a
faixa etaacuteria dos 12 ateacute os 18 anos de idade incompletos
Em 1990 foi criado o Estatuto da Crianccedila e do Adolescente - Lei 80691990
Apesar de ter quase 30 anos natildeo proporcionou as mudanccedilas necessaacuterias
Geralmente esses jovens natildeo dispotildeem de um padratildeo de vida suficiente ao seu
desenvolvimento sendo utilizados como matildeo-de-obra para o traacutefico de drogas Jovens que
acabam com as vidas interrompidas de forma violenta colaborando com o crescimento dos
iacutendices do nuacutemero dos envolvidos com o traacutefico
O avanccedilo do traacutefico nas cidades vem deixando um rastro de violecircncia com o
aumento do nuacutemero de homiciacutedios resultante a maioria das vezes por accedilotildees de quadrilhas
de traficantes e da poliacutecia E ldquoraros policiais se empenham em investigar mortes
principalmente quando a viacutetima eacute envolvida em crime ou eacute pobre e o caso natildeo provoca
barulho na miacutediardquo (ALCAcircNTARA 2008)
1 Claudia A S Pires mestranda em Direito pela Universidade Catoacutelica de Petroacutepolis clausynglegmailcom httplattescnpqbr3496831525307190 2 Felipe Asensi Dutra Poacutes-Doutor em Direito pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro felipeasensiucpbr httplattescnpqbr4332185218919925 3 Raphaela Abud Neves graduanda em Direito pela Universidade Catoacutelica de Petroacutepolis rapha-abudhotmailcom httplattescnpqbr9209817417639271
201
A violecircncia do traacutefico de drogas envolve e atinge diretamente toda a sociedade
extrapolando o acircmbito da seguranccedila puacuteblica
A carecircncia dos direitos fundamentais que satildeo deveres do Estado da sociedade e da
famiacutelia estatildeo elencados no artigo 227 da Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil que
satildeo fatores primordiais que resultam no contato do jovem brasileiro com o crime e
principalmente com o traacutefico de drogas
Eacute dever da famiacutelia da comunidade da sociedade em geral e do poder puacuteblico assegurar [a crianccedila e ao adolescente] com absoluta prioridade a efetivaccedilatildeo dos direitos referentes agrave vida agrave sauacutede agrave alimentaccedilatildeo agrave educaccedilatildeo ao esporte ao lazer agrave profissionalizaccedilatildeo agrave cultura agrave dignidade ao respeito agrave liberdade e agrave convivecircncia familiar e comunitaacuteriardquo Estatuto da Crianccedila e do Adolescente ndash Estatuto da Crianccedila e do Adolescente ndashECA 1990 ECA 1990 ECA 1990 Artigo 4ordm caput
Esse envolvimento com o traacutefico decorre de diversos fatores sociais e familiares que
e segundo Soares ldquoa rejeiccedilatildeo vivida em casa por vezes estende-se ao conviacutevio com uma
comunidade pouco acolhedora e se prolonga na escola que natildeo encanta natildeo atrai natildeo seduz
o imaginaacuterio do jovem e natildeo valoriza seus alunosrdquo
Apoacutes o envolvimento e registro ocorre as medidas socioeducativas apoacutes verificada
a praacutetica de ato infracional a autoridade compete aplicar algumas medidas advertecircncia
obrigaccedilatildeo de reparar o dano prestaccedilatildeo de serviccedilos agrave comunidade liberdade assistida
inserccedilatildeo em regime de semiliberdade internaccedilatildeo em estabelecimento educacional A medida
aplicada ao adolescente levaraacute em conta a sua capacidade de cumpri-la as circunstacircncias e a
sua gravidade
As regras as leis e as sanccedilotildees existem mas observa-se um distanciamento entre o que
estaacute previsto no ECA e a dura realidade enfrentada nas instituiccedilotildees socioeducativas
Apoacutes a criaccedilatildeo da Lei em 1990 fez-se necessaacuterio em 18 de janeiro de 2012 sancionar
a Lei nordm 12594 que institui o Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo (SINASE)
que regulamenta a execuccedilatildeo das medidas socioeducativas destinadas a adolescente (SINASE
p 06)
A legislaccedilatildeo desafia a poliacutetica puacuteblica e sua gestatildeo do sistema das unidades e dos
programas no atendimento socioeducativo realizado Propotildee inovaccedilotildees que busquem a
unificaccedilatildeo dos procedimentos de execuccedilatildeo das medidas socioeducativas pelo Judiciaacuterio bem
como atribui a esse Poder o novo papel de homologar o Plano Individual de Atendimento
(PIA) (SINASE p 07)
Alguns estudos demonstram que o fenocircmeno contemporacircneo do ato infracional de
adolescentes estaacute associado agrave desigualdade social e agrave dificuldade no acesso agraves poliacuteticas sociais
de proteccedilatildeo implementadas pelo Estado
202
Os jovens excluiacutedos enfrentam dificuldades de inserccedilatildeo social aumentando as
chances de uma trajetoacuteria com atos infracionais aleacutem de terem seu acesso agrave justiccedila
dificultado sofrendo preconceitos de classe social e de raccedila Mas os jovens de classes mais
abastadas tambeacutem se envolvem com drogas uso de armas atropelamentos etc A diferenccedila
eacute que possuem recursos para se defenderem sendo mais difiacutecil serem sentenciados em
unidades de privaccedilatildeo de liberdade (SILVA OLIVEIRA 2015 p23)
Em Petroacutepolis temos um Conselho Comunitaacuterio de Seguranccedila que foi criado em
2017 formado por vaacuterios profissionais da aacuterea de seguranccedila e sociedade civil que monitora
as poliacuteticas puacuteblicas do municiacutepio e financiam os equipamentos que trabalham com
seguranccedila
Pesquisa descritiva com estudo empiacuterico e bibliograacutefico na cidade de Petroacutepolis
estudo realizado de junho de 2017 a outubro de 2019 estaratildeo sendo analisados os dados
coletados no Tribunal de Justiccedila na Vara da Infacircncia de Adolescente no Foacuterum da Baratildeo de
Petroacutepolis
Este artigo trata do fenocircmeno do aumento do delito de drogas praticado por
adolescentes na cidade de Petroacutepolis e como a sociedade interfere na conduccedilatildeo de Poliacuteticas
Puacuteblicas de repressatildeo da venda de drogas
Os dados fornecidos pela Vara da Infacircncia satildeo que de setembro de 2018 a outubro
de 2019 ocorreram 175 atos infracionais 94 do traacutefico com somente 61 reincidecircncia devido
ao acompanhamento intenso da Vara Ministeacuterio Puacuteblico e oacutergatildeos municipais
Apoacutes a anaacutelise dos dados fornecidos pela Vara da Infacircncia e Juventude observamos
um aumento do envolvimento de Adolescentes no traacutefico de drogas mas uma diminuiccedilatildeo
da reincidecircncia
Combater a criminalidade eacute uma escolha poliacutetica e a sociedade civil tem o dever de
pressionar os oacutergatildeos puacuteblicos responsaacuteveis por essa fiscalizaccedilatildeo Por isso o Conselho
Comunitaacuterio de Seguranccedila de Petroacutepolis se tornou tatildeo importante para que o municiacutepio de
Petroacutepolis seja considerado a cidade mais segura do Estado
REFEREcircNCIAS
203
ALCAcircNTARA Deodato Delegado culpa policia por banalizaccedilotildees de execuccedilotildees A Tarde
Salvador 12062008 p8
BORGES Dadymo O traacutefico o contrabando o porte e a criminalidade 2003
Disponiacutevel em httpwwwconsciencianet20030920didymo3html acesso em 17 jul
2019
BRASIL Lei nordm 8069 de 13 de julho de 1990 Estatuto da Crianccedila e do Adolescente
Resoluccedilatildeo nordm 75 de 22 de outubro de 2001 Brasiacutelia 1990
BRASIL Lei nordm 8242 de12 de outubro de 1991 ndash Diaacuterio Oficial da Uniatildeo de 16101991
Conselho Nacional dos Direitos da Crianccedila e do Adolescente (Conanda) Brasiacutelia 1991
BRASIL Secretaria Especial dos Direitos Humanos Mapeamento Nacional da Situaccedilatildeo
do Atendimento dos Adolescentes em Cumprimento de Medidas Socioeducativas
Sumario Executivo Disponiacutevel em
lthttpwwwpresidenciagovbrestrutura_presidenciasedhspdcapublicacoesgt
Acesso em 25 abr 2019
________ Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo ndash SINASE Disponiacutevel
em
lthttpwwwpresidenciagovbrestrutura_presidenciasedhspdcapublicacoesgt
Acesso em 25 abr 2019
SILVA Enid Rocha Andrade da OLIVEIRA Raissa Menezes de O Adolescente em
Conflito com a Lei e o Debate sobre a Reduccedilatildeo da Maioridade Penal
esclarecimentos necessaacuterios Nordm 20 Brasiacutelia junho de 2015 Disponiacutevel em
httpwwwipeagovbrportalimagesstoriesPDFsnota_tecnica150616_nt_maioridad
e_penalpdf acesso 27 de outubro de 2019
204
CRIMINALIZACcedilAtildeO DA HOMOFOBIA COMO FORMA CONTEMPORAcircNEA DE RACISMO
Jeancezar Ditzz de Souza Ribeiro1
Jacqueline Nicole Negrete Blass2
Eixo Temaacutetico GT 5 ndash Aspectos inquisitoacuterios do Processo Penal e Criminogecircnese Direitos Humanos e Sistema Penitenciaacuterio
Palavras-Chave Homotransfobia Mora Constitucional Criminalizaccedilatildeo Direitos
Humanos Gecircnero Racismo
O presente ensaio objetiva abordar a interpretaccedilatildeo da homofobia receacutem julgada
pelo Supremo Tribunal Federal brasileiro por meio de duas accedilotildees que pedem a criminalizaccedilatildeo
da conduta de homofobia e transfobia como formas contemporacircneas de racismo um
Mandado de Injunccedilatildeo (MI nordm 4733) ajuizado pela ABGLT ndash Associaccedilatildeo Brasileira de
Leacutesbicas Gays Bissexuais Travestis Transexuais e Intersexos em 2012 e uma Accedilatildeo Direta
de Inconstitucionalidade por Omissatildeo (ADO nordm 26) impetrada pelo Partido Popular
Socialista ndash PPS em 2013
A homofobia vem sendo debatida desde 2001 no Congresso Nacional por meio
do Projeto de Lei 50032001 da deputada Iara Bernardi (PT-SP) este inicialmente pretendia
alterar a Lei Federal nordm 7716 de 5 de janeiro de 1989 (Lei do Racismo) que define crimes
resultantes de preconceito de raccedila ou de cor Seriam incluiacutedos a esse grupo os delitos como
etnia religiatildeo procedecircncia nacional gecircnero sexo orientaccedilatildeo sexual e identidade de gecircnero
No referido projeto de lei durante a tramitaccedilatildeo outros projetos foram
apensados ao mesmo por terem conteuacutedo semelhante como tambeacutem foi modificado
sofrendo alteraccedilotildees substanciais O PL foi aprovado no plenaacuterio da Cacircmara em 23 de
novembro de 2006 e seguiu para o Senado tornando-se o PLS1222006 Entretanto apoacutes
17 anos ele foi arquivado sem nunca ter sido votado Este eacute o resultado sobretudo pela
pressatildeo da bancada evangeacutelica fundamentalista que se opunha ao Projeto de Lei por natildeo
1 Doutor em Direito Internacional pela Faculdade de Direito da USP Largo Satildeo Francisco Professor de Direito Internacional no Centro Universitaacuterio La Salle do Rio de Janeiro UnilasalleRJ e na Universidade Candido Mendes (UCAM) Consultor juriacutedico e pesquisador na USP E-mail jeanditzzuspbr link para o curriacuteculo Lattes httplattescnpqbr8005429036796861 2 Graduanda em Direito na Universidade Candido MendesNiteroacutei E-mail nicoleblassgmailcom link para o curriacuteculo Lattes httplattescnpqbr9949570913021377
205
contemplar a liberdade religiosa ou melhor natildeo terem assegurado a liberdade de
manifestaccedilatildeo contraacuteria as relaccedilotildees homoafetivas nos cultos religiosos Gerou protestos em
junho de 2008 chegou a ser promovido um ato de defesa da liberdade religiosa promovido
por frentes parlamentares da Famiacutelia e Apoio a Vida
A omissatildeo do Congresso Nacional em natildeo editar lei para a proteccedilatildeo dos LGBTI
(Leacutesbicas Gays Bissexuais Travestis Transgecircneros e Interssexuais) ndash a demora
inconstitucional do Legislativo em tratar o tema ndash foi reconhecida por dez dos onze Ministros
da Suprema Corte Em 13 de junho de 2019 por oito votos a trecircs os ministros determinaram
que a homotransfobia passe a ser punida pela Lei de Racismo na acepccedilatildeo poliacutetico-social de raccedila
e racismo como jaacute afirmou em histoacuterico julgamento (HC 82424RS) enquanto
inferiorizaccedilatildeo desumanizante de um grupo social por outro
Portanto foi determinado pelo STF que a discriminaccedilatildeo ou violecircncia por
orientaccedilatildeo sexual e identidade de gecircnero passe a ser considerada crime no Brasil ateacute que o
Congresso Nacional edite lei regulamentadora Nesse sentido o Ministro Celso de Mello
relator das accedilotildees fundamenta em seu voto que
ldquo[]o Projeto da Cacircmara 1222006 que se acha atualmente anexado ao projeto do novo Coacutedigo Penal brasileiro (PL nordm 2362012) natildeo obstante transcorridos mais de dezessete (17) anos desde a sua proposiccedilatildeo sequer teve concluiacuteda a apreciaccedilatildeo pela Comissatildeo de Constituiccedilatildeo Justiccedila e Cidadania do Senado Federal encontrando-se ateacute o presente momento ldquosem prazo para ser votadordquo
Evidenciando assim a morosidade do Congresso Nacional
Hoje o Brasil segundo os dados do Grupo Gay da Bahia (ONG) a cada 19
horas uma pessoa LGBT eacute assassinada no Brasil Eacute notoacuterio o aumento dos crimes de oacutedio
a intoleracircncia e o preconceito contra a populaccedilatildeo LGBTI especialmente apoacutes os discursos
de oacutedio proferido pelo Governo Federal em que afirma que faraacute uma verdadeira cruzada
contra a ldquoideologia de gecircnerordquo termo criado por fundamentalistas religiosos ndash que natildeo existe
em nenhum lugar nos estudos de gecircnero e sexualidade ndash para ser contra a inclusatildeo do termo
ldquogecircnerordquo nos planos de educaccedilatildeo (dispositivos que se limitavam a proibir discriminaccedilotildees em
geral especialmente por gecircnero orientaccedilatildeo sexual e identidade de gecircnero) criando assim uma
verdadeira histeria social e promovendo a violecircncia e perseguiccedilatildeo frutos da ignoracircncia e
preconceito
As discriminaccedilotildees e violecircncias sofridas pela populaccedilatildeo LGBTI se junta agraves
abundantes evidecircncias de discriminaccedilatildeo racial e contra as mulheres As opressotildees satildeo
estimuladas por Deputados e Senadores que compotildee a bancada conservadora
fundamentalista religiosa do Congresso Nacional uma vez que se posicionam frontalmente
contra combater o bulling homofoacutebico lesbofoacutebico bifoacutebico transfoacutebico e machista
206
impondo uma sociedade cissexista impondo a cisgeneridade como uacutenica identidade de
gecircnero merecedora de dignidade ou de mais dignididade 3
O advogado autor das teses apresentadas na Accedilatildeo Direta de
Inconstitucionalidade e no Mandado de Injunccedilatildeo no julgamento da criminalizaccedilatildeo da
homotransfobia Paulo Iotti Vercchiatti em sua sustentaccedilatildeo oral alude para o princiacutepio da
dignidade da pessoa humana (art 1ordm inciso III CF88) ldquo[] garante o direito a autonomia
moral para viver suas vidas como bem entenderem desde que natildeo prejudiquem terceiros Eacute
um direito agrave liberdade natildeo prejudica ningueacutem a pessoa se identificar e viver como LGBTrdquo
Em 2008 no marco dos 60 anos da Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos
Humanos o Brasil assumiu o compromisso na Declaraccedilatildeo da ONU A63635 condenando
violaccedilotildees dos direitos humanos com base na orientaccedilatildeo sexual e na identidade de gecircnero
demandando que o Poder Legislativo crie por meio de legislaccedilatildeo forte e eficiente sobre o
tema proteccedilatildeo legal agraves cidadatildes e aos cidadatildeos LGBT ameaccedilados pelos efeitos da
discriminaccedilatildeo que sofrem
No mesmo plano internacional o Brasil eacute signataacuterio e deve respeitar os
princiacutepios de Yogyakarta nos quais foram atualizados em 2017 incluindo expressatildeo de
gecircnero e caracteriacutesticas sexuais em seu recorte de proteccedilatildeo Portanto o Estado brasileiro tem
obrigaccedilatildeo de criar lei especifica para proteccedilatildeo desta populaccedilatildeo Contudo o Itamaraty orienta
seus diplomatas que o termo ldquogecircnerordquo seja entendido como sexos masculino e feminino ndash
ou seja definido pelo sexo bioloacutegico e natildeo por uma construccedilatildeo social Essa posiccedilatildeo do
governo atende aos interesses das bancadas conservadoras de matriz fundamentalista
religiosa que vem tentando implementar ndash tanto em acircmbito nacional estadual e municipal
como em vaacuterias aacutereas da estrutura do Estado ndash projetos de lei e de censura e patrulha
ideoloacutegica proibindo o debate de gecircnero nas escolas atraveacutes por exemplo do ldquoPrograma
Escola Sem Partidordquo declarado inconstitucional no parecer do Instituto dos Advogados
Brasileiros (IAB) pela Comissatildeo Permanente de Direito Constitucional com relatoria do Dr
Seacutergio Luiz Pinheiro Santacuteanna
3 Uma breve explicaccedilatildeo sobre orientaccedilatildeo sexual e identidade de gecircnero Leacutesbicas gays e bissexuais satildeo expressotildees da orientaccedilatildeo sexual Leacutesbicas ndash satildeo aquelas que amam ou desejam outra mulher Gays ndash satildeo aqueles que amam ou desejam outro homem Bissexuais - amam e desejam homens e mulheres Jaacute a transexualidade tem a ver com a identidade de gecircnero Mulheres transexuais satildeo aquelas que nasceram com caracteriacutesticas de homem mas que se compreendem e se identificam como mulheres Homens transexuais satildeo aqueles que nasceram com caracteriacutesticas de mulher mas se compreendem e se identificam como homens Intersexuais satildeo pessoas que nascem com caracteriacutesticas sexuais bioloacutegicas que natildeo se encaixam nas categorias tiacutepicas do sexo feminino ou masculino antigamente eram chamadas de hermafroditas Cisgecircnera eacute a pessoa que se identifica com o gecircnero que lhe foi atribuiacutedo no nascimento Sexismo eacute o preconceito por gecircnero Cissexita eacute a imposiccedilatildeo da superioridade da cisgeneridade e a desconsideraccedilatildeo da existecircncia das pessoas trans
207
A proibiccedilatildeo do debate de gecircnero eacute incompatiacutevel com os fundamentos principioloacutegicos e programaacuteticos da Constituiccedilatildeo Federal de 1988 aleacutem de impedir o acesso ao debate dados informaccedilotildees e visotildees diferenciadas que envolve violecircncia agraves mulheres direito agrave orientaccedilatildeo sexual sauacutede puacuteblica dentre outros temas de cidadania e direitos humanos o que caracteriza um processo totalmente inverso agrave construccedilatildeo do saber e de acesso pleno ao conhecimento o que eacute uma violaccedilatildeo agrave dignidade da pessoa humana por condenar geraccedilotildees agrave ignoracircncia e agrave informaccedilatildeo direcionada
Entende-se que a criminalizaccedilatildeo da homofobia tem o intuito natildeo apenas de
punir condutas homotransfoacutebicas como tambeacutem a implementaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas
voltadas a sua irradicaccedilatildeo Deste modo haja vista que inexiste ainda a tipificaccedilatildeo penal
proacutepria mas uma interpretaccedilatildeo extensiva da conduta racista haacute prejuiacutezo para a coleta de
dados e de registro em sede policial Hoje no Rio de Janeiro funciona apenas uma delegacia
especializada em crimes de oacutedio a Degradi (Delegacia de Combate a Crimes Raciais e Delitos
de Intoleracircncia) inaugurada em dezembro de 2018
Natildeo haacute dados oficiais no Brasil sobre homotransfobia Existe uma resistecircncia
muito grande por parte das poliacutecias e dos oacutergatildeos oficiais em reconhecer as motivaccedilotildees
especificamente homotransfoacutebicas desses crimes A subnotificaccedilatildeo eacute uma realidade
normalmente os crimes motivados por oacutedio homotransfoacutebico eacute enquadrado como crime
comum sendo assim eacute inviaacutevel criar poliacuteticas puacuteblicas eficientes para enfrentar o preconceito
contra a populaccedilatildeo LGBTI
A expectativa de vida hoje para pessoas transexuais e travestis eacute de 37 anos no
Brasil Esse segmento da sociedade estaacute praticamente excluiacutedo do mercado de trabalho
formal da sauacutede da educaccedilatildeo Cerca de 90 acabam sobrevivendo da prostituiccedilatildeo por natildeo
terem outra opccedilatildeo consequecircncia das expulsotildees de casa e dos espaccedilos sociais Estima-se a
populaccedilatildeo LGBT brasileira em significativos 10 da populaccedilatildeo nacional
Uma referecircncia no acolhimento de pessoas LGBTI em situaccedilatildeo de rua ou por
serem expulsas de casa por preconceito contra a sua identidade de gecircnero ou orientaccedilatildeo
sexual ndash a CasaNem ndash eacute uma casa que oferece cursos teacutecnicos e o curso preacute-vestibular
chamado PreparaNem aleacutem de oferecer moradia Os ldquotravestisgecircneresrdquo (travestis
transexuais e transgecircros) como eacute chamado pela liacuteder da casa Indianara Siqueira mulher
travesti e ldquoputardquo ndash cerca de 80 das pessoas que vivem na casa satildeo travestigecircneres Percebe-
se que iniciativas como essa natildeo tem nenhum apoio do poder puacuteblico este projeto eacute
viabilizado por doaccedilotildees e voluntariado
Uma importante participaccedilatildeo no julgamento da criminalizaccedilatildeo da
homotransnfobia no STF foi a da Dra Maria Eduarda Aguiar agrave primeira advogada transexual
a conseguir seu nome social na carteira da OAB-RJ Ela participou da sustentaccedilatildeo oral como
208
Amicus Curiae nas accedilotildees do STF representando a ANTRA (Associaccedilatildeo Nacional das Travestis
e Transexuais) Em sua sustentaccedilatildeo oral ela afirma que a maioria das poliacuteticas puacuteblicas para
a ldquopopulaccedilatildeo transrdquo sequer saiacuteram do papel
Os crimes de oacutedio natildeo satildeo qualquer tipo de crime por isso ela identifica que a
ausecircncia de lei eacute nociva para o estado democraacutetico de direito para a democracia e fere os
direitos humanos fundamentais e a dignidade humana aleacutem dos compromissos
internacionais do Brasil ldquoO direito a felicidade eacute negado para essa parcela da populaccedilatildeordquo
A ANTRA em seu dossiecirc consta que no ano de 2018 foram 163 assassinatos de
pessoas transsexuais 83 deles com requinte de crueldade somente 10 tiveram seus
agressores presos e apenas 4 viraram processos judiciais Demostrando assim que a lei eacute
geneacuterica e natildeo funda uma base de dados que possa proteger a populaccedilatildeo LGBTI A maioria
das pessoas transexuais que morrem tem entre 16 e 26 anos Segundo a advogada ldquoo Brasil
tem uma diacutevida histoacuterica com a populaccedilatildeo de travestis e transexuais uma vez que a negativa
de criminalizar a homofobia eacute um grave atendado aos direitos humanosrdquo
O posicionamento do Governo Federal sobre temas das mulheres gecircnero e
LGBTI em acircmbito internacional estaacute sendo questionado pelo STF uma vez que o
posicionamento brasileiro chocou a comunidade internacional ao excluir das negociaccedilotildees e
da resoluccedilatildeo da ONU o termo ldquogecircnerordquo O Ministro Gilmar Mendes intimou o Ministeacuterio
das Relaccedilotildees Exteriores a fornecer documentos telegramas e instruccedilotildees internas a seus
diplomatas no que se refere ao posicionamento do Brasil sobre gecircnero mulheres e LGBTI
atraveacutes de uma liminar apresentada pela ABGLT (Associaccedilatildeo Brasileira de Gays Leacutesbicas
Bissexuais Travestis e Transexuais)
Eminentemente o Brasil hoje vive grave violaccedilatildeo dos direitos humanos O
Artigo 1ordm da Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos Humanos diz que todos os
seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos Dotados de razatildeo e de
consciecircncia devem agir uns para com os outros em espiacuterito de fraternidade ldquoTemos o direito
a ser iguais quando a diferenccedila nos inferioriza temos o direito a ser diferentes quando a
igualdade nos descaracterizardquo (BOAVENTURA)
Foi apresentado durante o julgamento da criminalizaccedilatildeo da homofobia o PLS
8602019 pelo Senador Alessandro Vieira (PPS) que visa colocar a discriminaccedilatildeo por
orientaccedilatildeo sexual identidade de gecircnero e sexo de forma expressa na Lei Antirracismo
Embora o STF jaacute tenha o entendimento que a homotransfobia se enquadra como crime de
discriminaccedilatildeo por raccedila na acepccedilatildeo politico-social de raccedila e racismo eacute fundamental que esta lei
209
seja aprovada pelo Congresso Nacional para escrevermos uma nova histoacuteria para a populaccedilatildeo
LGBTI e garantir a dignidade toleracircncia e respeito agrave diversidade
REFEREcircNCIAS HERRERA-FLORES Joaquiacuten A (Re)invenccedilatildeo dos Direitos Humanos Florianoacutepolis Fundaccedilatildeo Boiteux 2009 ________ Teoria Criacutetica dos Direitos Humanos os direitos humanos como produtos culturais Rio de Janeiro Editora Luacutemen Juris 2009 HUNT Lynn A Invenccedilatildeo dos Direitos Humanos Uma histoacuteria Traduccedilatildeo de Rosaura Eichenberg Satildeo Paulo Companhia das Letras 2009 JUBILUT Liliana Lyra BAHIA Alexandre Gustavo Melo Franco MAGALHAtildeES Joseacute Luiz Quadros de Direito agrave diferenccedila aspectos teoacutericos e conceituais da proteccedilatildeo agraves minorias e aos grupos vulneraacuteveis Satildeo Paulo Saraiva 2013 PIOVESAN Flaacutevia Temas de Direitos Humanos 7ordf ed Prefaacutecio de Faacutebio Konder Comparato Satildeo Paulo Saraiva 2014 ________ Direitos Humanos e o direito constitucional internacional 12ordf ed Satildeo Paulo Saraiva 2011 RAMOS Andreacute de Carvalho Curso de Direitos Humanos Satildeo Paulo ed Saraiva 2014 ________ Processo Internacional de Direitos Humanos Satildeo Paulo Saraiva 2012 RIBEIRO Jeancezar Ditzz de Souza Ribeiro A proibiccedilatildeo da Discriminaccedilatildeo homoafetiva na interpretaccedilatildeo da Corte Interamericana de Direitos Humanos Caso Atala Riffo y Nintildeas versus Chile Revista de Direito Constitucional Internacional e Comparado v 2 n 2 2017
210
SUPERLOTACcedilAtildeO DAS UNIDADES PRISIONAIS BRASILEIRAS A IMPLEMENTACcedilAtildeO DE UM DIREITO PENAL MAacuteXIMO E SUA
DESCONFORMIDADE COM AS NORMAS DE DIREITOS HUMANOS
Dieacutessica Ribas
Juacutelio Cesar das Flocircres Martins Rodrigues
Tatiana Trommer
Eixo Temaacutetico GT 5 ndash Aspectos inquisitoacuterios do Processo Penal e Criminogecircnese Direitos Humanos e Sistema Penitenciaacuterio
Palavras-chave Direito Penal Maacuteximo Superlotaccedilatildeo Prisional Direitos Humanos
Dignidade Humana Garantias Fundamentais
RESUMO
Trata-se de uma pesquisa que visa discorrer sobre o equiacutevoco na implementaccedilatildeo de
um Direito Penal Maacuteximo no contexto brasileiro sem desconsiderar a eficaacutecia das normas
de Direitos Humanos destacando como principal consequecircncia dessa implementaccedilatildeo o
agravamento da superlotaccedilatildeo das unidades prisionais brasileiras
Primeiramente cabe ressaltar que o Direito Penal Maacuteximo instaurado no contexto
estadunidense na deacutecada de 1980 foi uma poliacutetica criminal fundamentada na denominada
Teoria das Janelas Quebradas Tal teoria criada pelo cientista poliacutetico James Q Wilson e
pelo psicoacutelogo criminologista George Kelling apregoa que a desordem seria o principal fator
de elevaccedilatildeo dos iacutendices de criminalidade Nessa perspectiva caso natildeo reprimidos os
pequenos delitos conduziriam de forma inevitaacutevel a condutas criminosas mais graves
devido supostamente ao descaso estatal na sua funccedilatildeo de punir os responsaacuteveis pelos crimes
menos complexos Com base nisso o Direito Penal Maacuteximo viabilizaria a efetiva atuaccedilatildeo
estatal no combate agrave microcriminalidade ensejando a criaccedilatildeo de normas de ldquotoleracircncia zerordquo
Contudo o que pouco se percebe nos argumentos trazidos pelos defensores do Direito
Penal Maacuteximo eacute que ele por si soacute viola preceitos indispensaacuteveis da dignidade da pessoa
humana trazendo caracteriacutesticas que vatildeo encontro com direitos e garantias fundamentais do
211
paiacutes a exemplo autonomia da vontade integridade fiacutesica e moral natildeo coisificaccedilatildeo do ser
humano e garantia do miacutenimo existencial
Evidencia-se que no Brasil tanto a legislaccedilatildeo vigente quanto a jurisprudecircncia adotam
a poliacutetica do Direito Penal Miacutenimo A exemplo podemos citar o julgamento do HC 118533
onde o STF decidiu afastar a hediondez do crime de traacutefico privilegiado previsto no art 33
sect4ordm da Lei 1134306 Nesse contexto defende-se que a privaccedilatildeo da liberdade deve ser
imposta apenas nos casos onde haacute efetivo risco social No entanto ainda assim o paiacutes
enfrenta diversas problemaacuteticas relativas a uma execuccedilatildeo digna da pena imposta devido
essencialmente agrave superlotaccedilatildeo das unidades prisionais
Com efeito conforme dados constantes no Banco de Monitoramento de Prisotildees do
Conselho Nacional de Justiccedila o Brasil possui a terceira maior populaccedilatildeo carceraacuteria do
mundo porquanto conta atualmente com pelo menos 812564 presos sendo que 415
deles satildeo presos provisoacuterios Esses dados apontam para um crescimento da populaccedilatildeo
prisional brasileira que segundo anaacutelise do Departamento Penitenciaacuterio Nacional do
Ministeacuterio da Justiccedila aumenta a um ritmo de 83 ao ano Destarte a expectativa eacute que em
2025 o nuacutemero de presos possa chegar a quase 15 milhatildeo
Natildeo obstante o Brasil legislar com base em um Direito Penal Miacutenimo o crescimento
da populaccedilatildeo carceraacuteria brasileira que ocorre em total desatenccedilatildeo a garantias fundamentais
asseguradas pela Constituiccedilatildeo evidencia que caso sejam implementadas normas de
ldquotoleracircncia zerordquo no contexto atual brasileiro essa situaccedilatildeo se agravaraacute progressivamente
acentuando as condiccedilotildees degradantes nas quais os presos se encontram e os colocando ainda
mais agrave margem de direitos baacutesicos garantidos pela carta magna
Neste sentido eacute notoacuterio que grande parte da populaccedilatildeo carceraacuteria brasileira natildeo usufrui
de direitos disponiacuteveis agrave dignidade da pessoa humana Tais violaccedilotildees colidem diretamente
com o maior desafio dos defensores dos Direitos Humanos Asseverar a dignidade humana
como um direito de toda pessoa pelo uacutenico fato de serem humanas Ou seja desvincular a
dignidade preceitos e garantias fundamentais de uma condiccedilatildeo econocircmica ou uma posiccedilatildeo
social
Apesar da situaccedilatildeo atual eacute relevante destacar que um dos maiores legados da Segunda
Guerra Mundial foi o desprestigio - bem como o afastamento - do positivismo ou seja a
criaccedilatildeoaplicaccedilatildeo pura de uma norma sem que fosse observado o caraacuteter social e a dignidade
da pessoa humana Dessa forma adota-se em tese no contexto atual brasileiro o chamado
212
ldquopoacutes-positivismordquo caracterizado essencialmente por aceitar que os princiacutepios constitucionais
devam ser tratados como verdadeiras normas juriacutedicas por mais abstratos que sejam os
textos bem como por exigir que a norma juriacutedica para ser legitima deva tratar todos os seres
humanos com igual consideraccedilatildeo respeito e dignidade na medida de suas diferenccedilas
(Princiacutepio da Isonomia)
Dessa forma verifica-se desde jaacute o equiacutevoco na implementaccedilatildeo de um regime de
Direito Penal Maacuteximo no contexto social brasileiro dado o agravamento na superlotaccedilatildeo das
unidades prisionais e sua consequente transgressatildeo agraves normas de Direitos Humanos
Referecircncias
RAMOS Andreacute de Carvalho Curso de direitos humanos 4 ed Satildeo Paulo Saraiva 2017
NUCCI Guilherme de Souza Direitos humanos versus seguranccedila puacuteblica Rio de Janeiro Forense 2016
SARMENTO Daniel Dignidade da pessoa humana conteuacutedo trajetoacuterias e metodologia Belo Horizonte
Foacuterum 2016
MAZZUOLI Valeacuterio de Oliveira Curso de direitos humanos 5 ed rev atual ampl Satildeo Paulo
MEacuteTODO 2018
BARBIEacuteRI Luiz Felipe CNJ registra pelo menos 812 mil presos no paiacutes 415 natildeo tecircm condenaccedilatildeo Brasiacutelia
jul2019 Disponiacutevel em lthttpsg1globocompoliticanoticia201907 17cnj-registra-pelo-
menos-812-mil-presos-no-pais-415percent-nao-tem-condenacaoghtmlgt acesso em 01 nov 2019
213
USO DIFERENCIADO DA FORCcedilA POLICIAL EMBASAMENTO JURIacuteDICO
PAUTADO NA TUTELA DOS DIREITOS HUMANOS
Wilson Ferreira da Silva
Marlon Sinhorelo Pereira de Figueiredo
Paula Maiacutera da Rocha Caldeira e Sousa
Eixo Temaacutetico GT 5 ndash Aspectos inquisitoacuterios do Processo Penal e Criminogecircnese Direitos Humanos e Sistema Penitenciaacuterio
Palavras-chave Direitos Humanos Uso Diferenciado da forccedila policial Ponderaccedilatildeo entre
princiacutepios Razoabilidade
OBJETIVO
O principal escopo da pesquisa eacute analisar o aparato normativo que tutela os Direitos
Humanos pertinente ao embasamento do uso diferenciado da forccedila policial no cenaacuterio
juriacutedico brasileiro e internacional
ABORDAGEM TEOacuteRICA
A preocupaccedilatildeo com os direito humanos relacionados a atividade estatal eacute antiga
podendo se exemplificar com o artigo 9ordm da Declaraccedilatildeo dos Direitos do Homem e Cidadatildeo
(DDHC) de 1789 promulgada na Franccedila Em seu texto ldquoTodo acusado eacute considerado
inocente ateacute ser declarado culpado e se julgar indispensaacutevel prendecirc-lo todo o rigor
desnecessaacuterio agrave guarda da sua pessoa deveraacute ser severamente reprimido pela leirdquo (FRANCcedilA
1789) Assim a forccedila soacute poderia ser aplicada se razoaacutevel somente a necessaacuteria o excesso
seria ilegiacutetimo
A referida declaraccedilatildeo francesa serviu de inspiraccedilatildeo para a Declaraccedilatildeo Universal dos
Direitos Humanos (DUDH) promulgada pela Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas (ONU) em
1948 Esta em seu artigo V expressa que ldquoNingueacutem seraacute submetido agrave tortura nem a
tratamento ou castigo cruel desumano ou degradanterdquo (ONU 1948) o que limita a atuaccedilatildeo
estatal aos patamares da razoabilidade
Outros dispositivos foram editados pela ONU e internalizados pelo Brasil na tutela
dos Direitos Humanos Podem ser citados o Coacutedigo de Conduta para os Funcionaacuterios
214
Responsaacuteveis pela Aplicaccedilatildeo da Lei em 1979 os Princiacutepios Baacutesicos sobre o Uso da Forccedila e
Armas de Fogo pelos Funcionaacuterios Responsaacuteveis pela Aplicaccedilatildeo da Lei em 1999 os
Princiacutepios orientadores para a Aplicaccedilatildeo Efetiva do Coacutedigo de Conduta para os Funcionaacuterios
Responsaacuteveis pela Aplicaccedilatildeo da Lei em 1989 e a Convenccedilatildeo Contra a Tortura e outros
Tratamentos ou penas Crueacuteis Desumanos ou Degradantes em 1991 Todos tratam do uso
racional da forccedila pelo Estado
Importante salientar que o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu que ldquoas
convenccedilotildees e tratados internacionais de direitos humanos possuem status normativo
supralegal o que torna inaplicaacutevel a legislaccedilatildeo infraconstitucional com eles conflitantesrdquo
(STF 2008)
O ordenamento juriacutedico paacutetrio tambeacutem possui diversos dispositivos normativos que
tutelam os direitos humanos e regulam o uso da forccedila pelo Estado orientando e
padronizando os procedimentos da atuaccedilatildeo dos agentes de seguranccedila puacuteblica aos princiacutepios
internacionais sobre o uso da forccedila
Entre os dispositivos normativos nacionais destacam-se a atual carta magna que
elenca em seu artigo 5ordm diversos direitos fundamentais do ser humano o Coacutedigo Penal
(Decreto-Lei nordm 284840) Coacutedigo de Processo Penal (Decreto-Lei nordm 368941) Coacutedigo de
Processo Penal Militar (Decreto-Lei nordm 100269) Portaria Interministerial nordm 422610 do
Ministeacuterio da Justiccedila e Secretaria de Direitos Humanos da Presidecircncia da Repuacuteblica e lei ndeg
1306014 que disciplina o uso dos instrumentos de menor potencial ofensivo pelos agentes
de seguranccedila puacuteblica em todo o territoacuterio nacional
O uso da forccedila pelo Estado na aacuterea de seguranccedila puacuteblica encontra respaldo
constitucional no artigo 144 (BRASIL 1988) que expressa
ldquoA seguranccedila puacuteblica dever do Estado direito e responsabilidade de todos eacute exercida para a preservaccedilatildeo da ordem puacuteblica e da incolumidade das pessoas e do patrimocircnio atraveacutes dos seguintes oacutergatildeos I - poliacutecia federal II - poliacutecia rodoviaacuteria federal III - poliacutecia ferroviaacuteria federal IV - poliacutecias civis V - poliacutecias militares e corpos de bombeiros militaresrdquo
Daiacute surgem questionamentos a serem respondidos pela pesquisa Haacute respaldo
normativo que tutela os direitos humanos e legitima o uso da forccedila policial pelo Estado Tais
institutos juriacutedicos existentes satildeo suficientes para proporcionar agrave efetivaccedilatildeo dos direitos
humanos O que pode ser realizados para dar maior eficiecircncia e efetividade na tutela os
direitos humanos com o uso da forccedila policial pelo Estado
215
CONCLUSAtildeO
O uso diferenciado da forccedila policial pelo Estado possui respaldo normativo nacional
e internacional na tutela dos direitos humanos A atual carta magna em seu artigo 5ordm III
expressa como direito fundamental do ser humano que ldquoningueacutem seraacute submetido a tortura
nem a tratamento desumano ou degradanterdquo o que deixa claro a preocupaccedilatildeo do legislador
constituinte com o uso razoaacutevel da forccedila pelo Estado
Robert Alexy (Alexy 2018) ao definir direito humanos expressa que
ldquoDireito Humanos satildeo direitos em primeiro lugar universais em segundo lugar fundamentais em terceiro lugar abstratos e em quarto lugar morais que em quinto lugar possuem prioridade sobre todas as outras normasrdquo
Seguindo Alexy (Alexy 2018) trata sobre a abstraccedilatildeo dos direitos humanos
ldquoComo direitos abstratos direitos humanos inevitavelmente colidem com outros direitos humanos e com bens coletivos como a proteccedilatildeo do meio-ambiente e a seguranccedila puacuteblica Portanto direitos humanos demandam ponderaccedilatildeo A ponderaccedilatildeo eacute a dimensatildeo central do exame da proporcionalidaderdquo
Os direitos humanos satildeo tutelados com o uso diferenciado da forccedila policial nos
limites da legalidade e da razoabilidade O ordenamento juriacutedico paacutetrio possui vasta
normatizaccedilatildeo sobre a temaacutetica devendo os oacutergatildeos de seguranccedila puacuteblica manter seu efetivo
atualizado e treinado para atuar O agente de seguranccedila puacuteblica ao sopesar sobre o niacutevel de
forccedila a ser usado em determinada situaccedilatildeo faacutetica estaraacute ponderando a reaccedilatildeo que adotaraacute
proporcional agrave accedilatildeo do infrator social Assim sua atuaccedilatildeo seraacute legiacutetima
REFEREcircNCIAS ALEXY Robert Princiacutepios formais e outros aspectos da teoria discursiva do Direito
Organizadores Alexandre Travessoni Gomes Trivisonno Aziz Tuffi Saliba e Mocircnica Sette
Lopes Rio de Janeiro Forense 2018
BRASIL Constituiccedilatildeo 1988 Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia DF Senado Federal Centro Graacutefico 1988 _______ Decreto-Lei nordm 2848 de 7 de dezembro de 1940 Coacutedigo Penal Diaacuterio Oficial da
Uniatildeo Brasiacutelia DF DOU de 31 dez 1940
_______ Decreto-Lei nordm 3689 de 03 de outubro de 1941 Coacutedigo de Processo Penal Diaacuterio
Oficial da Uniatildeo Brasiacutelia DF DOU de 13 out 1941
216
_______ Decreto-Lei nordm 1002 de 21 de outubro de 1969 Coacutedigo de Processo Penal Militar
Diaacuterio Oficial da Uniatildeo Brasiacutelia DF DOU de 21 out 1969
_______ Lei nordm 13060 de 22 de dezembro de 2014 Disciplina o uso dos instrumentos de
menor potencial ofensivo pelos agentes de seguranccedila puacuteblica em todo o territoacuterio nacional
Diaacuterio Oficial da Uniatildeo Brasiacutelia DF DOU de 23 dez 2014
_______ Ministeacuterio da Justiccedila Secretaria de Direitos Humanos da Presidecircncia da Repuacuteblica
Portaria Interministerial nordm 4226 de 30 de dezembro de 2010 Estabelece Diretrizes sobre o
Uso da Forccedila pelos Agentes de Seguranccedila Puacuteblica Disponiacutevel em
httpswwwconjurcombrdlintegra-portaria-ministerialpdf Acesso em 01 nov 2019
_______ Supremo Tribunal Federal Tribunal Pleno RE 349703RS Rel Min Carlos Brito 03 dez 2008 Diaacuterio de Justiccedila Brasiacutelia DF DJe de 05 jun 2009
Declaraccedilatildeo dos direitos do homem e do cidadatildeo 1789 Universidade de Satildeo Paulo
Biblioteca Virtual de Direitos Humanos 2019 Disponiacutevel em
httpwwwdireitoshumanosuspbrindexphpDeclaraC3A7C3A3o-Universal-
dos-Direitos-Humanosdeclaracao-universal-dos-direitos-humanoshtml Acesso em 01
nov 2019
ONU Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas Coacutedigo de Conduta para Encarregados da Aplicaccedilatildeo da Lei Assembleacuteia Geral das Naccedilotildees Unidas Resoluccedilatildeo nordm 34169 de 17 dez 1979 Disponiacutevel em httpwwwdhnetorgbrdireitossiponuajusprev18htm Acesso em 01 nov 2019
_______ Convenccedilatildeo Contra a Tortura e outros Tratamentos ou penas Crueacuteis
Desumanos ou Degradantes Resoluccedilatildeo 3946 10 dez 1984 Disponiacutevel em
httpwwwdhnetorgbrdireitossiponutorturalex221htm Acesso em 01 nov 2019
_______ Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos Humanos 217 [III] A) Paris 1948
Disponiacutevel em httpwwwdhnetorgbrdireitosdeconutextosintegrahtm Acesso em
01 nov 2019
_______ Princiacutepios Baacutesicos sobre o Uso da Forccedila e Armas de fogo pelos
Funcionaacuterios Responsaacuteveis pela Aplicaccedilatildeo da Lei Oitavo Congresso das Naccedilotildees Unidas
sobre a Prevenccedilatildeo do Crime e o Tratamento dos Infratores Havana Cuba 27 de agosto a
07 de setembro de 1990 Disponiacutevel em
httpwwwdhnetorgbrdireitossiponuajusprev20htm Acesso em 01 nov 2019
217
_______ Princiacutepios orientadores para a Aplicaccedilatildeo Efetiva do Coacutedigo de Conduta
para os Funcionaacuterios Responsaacuteveis pela Aplicaccedilatildeo da Lei Resoluccedilatildeo nordm 198961 de 24 mai
1979 Disponiacutevel em httpwwwdireitoshumanosuspbrindexphpSistema-Global-
DeclaraC3A7C3B5es-e-Tratados-Internacionais-de-
ProteC3A7C3A3oprincipios-orientadores-para-a-aplicacao-efetiva-do-codigo-de-
conduta-para-os-funcionarios-responsaveis-pela-aplicacao-da-leihtml Acesso em 01 nov
2019
218
MEDIACcedilAtildeO ESCOLAR ndash O OLHAR DO CONFLITO NA
CONTEMPORANEIDADE E O INSTRUMENTO PARA ALCANCE DA PAZ
COMO DIREITO FUNDAMENTAL
Cristiane Rodrigues Garcez Teixeira Dutra1
Marcia Elaine Dias Pinheiro de Azevedo2
Eixo Temaacutetico GT 5 ndash Aspectos inquisitoacuterios do Processo Penal e Criminogecircnese Direitos Humanos e Sistema Penitenciaacuterio
Palavra-Chave Mediaccedilatildeo ndash Conflitos Escolares ndash Paz ndash Direito Fundamental
RESUMO
O presente resumo trata-se de projeto de pesquisa em andamento desenvolvido por
meio do estudo de casos na aacuterea de mediaccedilatildeo tratamento de conflitos escolares na utilizam
a mediaccedilatildeo para resoluccedilatildeo de um litiacutegio ou quando natildeo eacute utilizado tal ferramenta A pesquisa
observa e compreende as formas como esses conflitos satildeo administrados no ambiente
escolar seja entre aluno-professor professor-diretor professor-funcionaacuterio pais e todos que
integram o ambiente escolar seja em sede judicial ou extrajudicial O projeto vem ao
encontro de uma demanda social de prevenccedilatildeo dos conflitos nas suas diferentes formas com
finalidade de haver o tratamento do conflito e como a implementaccedilatildeo dos meios de resoluccedilatildeo
de conflito mais precisamente a mediaccedilatildeo desde do ensino fundamental com um estiacutemulo
agrave procura da resoluccedilatildeo dos litiacutegios incentivando a uma cultura da paz
A pesquisa surgiu a partir de casos decididos pelo Tribunal de Justiccedila do Rio de
Janeiro que envolve conflitos escolares salientando que muitos sequer satildeo ajuizados e
tambeacutem em alguns casos que podem ser observados envolvendo a questatildeo do conflito
escolar onde se utiliza a mediaccedilatildeo para resoluccedilatildeo do conflito escolar poderia ter a soluccedilatildeo
do conflito incentivando a cultura da paz sendo este direito fundamental de 5ordf geraccedilatildeo
1 Mestranda em Direito do programa de Poacutes Graduaccedilatildeo da Universidade Catoacutelica de Petroacutepolis mediadora do tribunal de Justiccedila do Rio de Janeiro e Professora Universitaacuteria da UNESA- Universidade Estaacutecio de Saacute httplattescnpqbr7843046938671710 e dutracristianeglobocom 2 Mestranda em Direito do Programa de Poacutes Graduaccedilatildeo da Universidade Catoacutelica de Petroacutepolis advogada httplattescnpqbr9493452258245532 e melaine_advhotmailcom
219
Como exemplificaccedilatildeo do ajuizamento de demanda que o conflito chegou ao
judiciaacuterio trata-se de accedilatildeo indenizatoacuteria ajuizada pela a matildee de uma aluna de um Coleacutegio
Estadual do Rio de Janeiro contra a Diretora do Coleacutegio a Coordenadora Pedagoacutegica e o
Estado do Rio de Janeiro enfatizando que a Autora (matildee da menor) que foi solicitada a sua
presenccedila no coleacutegio Estadual onde a filha estuda para tratar de assunto do mau
comportamento da aluna (filha) em sala de aula segundo a Matildee autora da accedilatildeo tentou
contato telefocircnico com a Coordenaccedilatildeo Pedagoacutegica da escola a fim de marcar um horaacuterio
pois estava impedida de se ausentar do seu trabalho elenca que foi desrespeitada pela
Coordenadora Pedagoacutegica diante do fato a matildee da aluna faltou o trabalho e foi agrave escola na
tentativa de solucionar a pendecircncia e tomar conhecimento sobre o assunto que envolvia a
filha entretanto segundo seu relato ela esperou atendimento por 40 (quarenta) minutos e
com uma filha receacutem-nascida no colo e recebeu a informaccedilatildeo de que o professor responsaacutevel
jaacute havia ido embora neste momento houve trocas de agressotildees verbais entre a matildee da
menor a Coordenadora Pedagoacutegica e a Diretora da Escola que culminou na expulsatildeo da matildee
da menor do local Ato continuo relata a matildee da menor que a Diretora afixou um cartaz no
portatildeo da escola proibindo a entrada dela com reproduccedilatildeo de fotografia de sua carteira de
identidade pleiteia em juiacutezo a retirada do cartaz e o pagamento de indenizaccedilatildeo por danos
morais a sentenccedila em 1ordf Instacircncia julgou procedente o pedido condenado o Estado ao
pagamento de uma indenizaccedilatildeo de R$80000 (oitocentos reais) agrave tiacutetulo de danos morais a
Matildee da menor recorreu da sentenccedila solicitando a majoraccedilatildeo do dano moral e a condenaccedilatildeo
da Coordenadora Pedagoacutegica e da Diretora da Escola no pagamento a indenizaccedilatildeo por danos
morais No julgamento em 2ordf Instacircncia o Relator do processo salientou o depoimento das
testemunhas e das partes envolvidas caracterizando que as ofensas foram muacutetuas os seja
todas as partes envolvidas ofenderam-se mutuamente entretanto o ato da Diretora fixar o
cartaz o aviso na entrada da escola caracterizou dano agrave honra e agrave imagem da matildee da menor
majorando o dano moral para o valor de R$ 200000 (dois mil reais) considerando o
tamanho do cartaz (uma cartolina) e o tempo de permanecircncia na escola (menos de uma
semana)
Nessa situaccedilatildeo observada natildeo houve uma soluccedilatildeo consensual e extrajudicial ao nosso
olhar a utilizaccedilatildeo da teacutecnica de mediaccedilatildeo que poderia ser conduzida no proacuteprio ambiente
escolar poderia evitar o ajuizamento de uma accedilatildeo indenizatoacuteria que foi muito mais
prejudicial custosa e demorada pois a accedilatildeo foi ajuizada em 2015 e julgada em 2017 para os
envolvidos Observou-se tambeacutem que natildeo houve o tratamento do conflito onde a utilizaccedilatildeo
da mediaccedilatildeo poderia se ter um aspecto educativo propondo modificaccedilatildeo de
220
comportamentos e restabelecendo as condiccedilotildees para a convivecircncia paciacutefica entre as partes
envolvida Matildee da menor Coordenadora Pedagoacutegica e Diretora de Escola sem necessidade
de providecircncias mais severas e desgastantes
Nesse contesto temos outro exemplo praacutetico ocorrido em uma escola particular
em Petroacutepolis havia uma rixa entre duas alunas perpetuada por meses que por pouco natildeo
descambou em agressotildees fiacutesicas Como uma das estudantes era um pouco mais velha e
visivelmente mais alta e forte do que sua rival esta uacuteltima ficou intimidada passando a
apresentar queda no ambiente escolar Sua matildee tambeacutem relatou que a filha geralmente uma
estudante assiacutedua e interessada passou a inventar desculpas para natildeo ir agrave escola queixando-
se com frequentes dores de cabeccedila e enjoos como justificativa para permanecer em casa A
situaccedilatildeo poderia ser encaixada como bullying que se entende como agressotildees fiacutesicas ou
verbais ocorridas de maneira repetitivas no caso em tela por estudantes em uma relaccedilatildeo
desigual
Preocupada a matildee procurou a escola e ficou sabendo que a desavenccedila tinha sido
causada em razatildeo de um comentaacuterio feito durante um intervalo a partir do qual as estudantes
antes boas colegas se tornaram rivais Os pais das estudantes foram chamados agrave escola e
junto com seus dirigentes e um mediador (o proponente) construiacuteram uma soluccedilatildeo paciacutefica
entre eles A reuniatildeo culminou com o compromisso de que cada uma dali por diante
respeitaria o espaccedilo da outra evitando agressotildees O problema foi contornado Uma das matildees
admitiu ao final da uacuteltima reuniatildeo que pensara em transferir a filha para outro
estabelecimento e que jaacute contratara um advogado para ajuizar accedilatildeo contra a escola e os pais
da aluna desafeta de sua filha pois natildeo enxergavam outra soluccedilatildeo para o problema mas ficou
satisfeita com o resultado da Mediaccedilatildeo O objetivo de nossa proposta de comunicaccedilatildeo oral
para o evento ode podemos ter um olhar de como a mediaccedilatildeo poderia ajudar na composiccedilatildeo
dos conflitos objetivando a cultura de uma paz social sendo esta tratada como direito
fundamental oriunda do ser humano Nossa percepccedilatildeo empiacuterica tem sido ampliada por conta
da autuaccedilatildeo de uma das autoras do trabalho como Mediadora escolar e professora
oportunizando experiecircncias interessantes para serem tambeacutem objeto de nossas reflexotildees
Nesse contexto a contribuiccedilatildeo que pretendemos compartilhar com os colegas alguns
resultados preliminares sobre a pesquisa Interessa compreender como ocorre esses conflitos
e como os mesmos satildeo administrados no ambiente escolar e ainda como satildeo recebidos e
administrados no judiciaacuterio Acreditamos que o trabalho pode contribuir com esforccedilo mais
amplo do evento ao examinar diferenccedilas nas formas de lidar com o conflito e seus
marcadores sociais
221
REFEREcircNCIAS
BONAVIDES Paulo Curso de Direito Constitucional 6ordf Ediccedilatildeo 1996 (janeiro) Malheiros
Satildeo Paulo
________________ A Quinta Geraccedilatildeo de Direitos Fundamentais disponiacutevel em
httpdfjemnuvenscombrdfjarticleview534127 acessado em 01 de novembro de
2019
FILPO klever Paulo Leal Mediaccedilatildeo Judicial Discursos e Praticas 1ordf Ed Mauad Editora
Ltda e Faperj 2016
SARLET Ingo Wonfgang Dignidade da Pessoa Humana e Direitos Fundamentais 2 ED
Porto Alegre Livraria do Advogado 2002
222
O DIREITO DE RECUSA Agrave HEMOTRASNFUSAtildeO PELAS TESTEMUNHAS DE JEOVAacute
Flavia Rodrigues Maia1
Joseacute Amauri Cristino de Paula Neto2
Raquel Drsquoavila Carvalho3
Eixo Temaacutetico GT 5 ndash Aspectos inquisitoacuterios do Processo Penal e Criminogecircnese Direitos Humanos e Sistema Penitenciaacuterio
Palavras ndash Chave hemotrasnfusatildeo Testemunha de Jeovaacute autonomia da vontade liberdade
religiosa vida
O Presente trabalho tem por finalidade analisar as questotildees que permiam a recusa
das Testemunhas de Jeovaacute frente agrave realizaccedilatildeo de trasnfusotildees sanguiacuteneas mesmo em situaccedilotildees
de iminente risco de morte Ressaltando essa recusa como um direito instransponiacutevel desse
grupo religioso cuja supressatildeo caracteriza grave desrespeito agrave Declaraccedilatildeo Universal dos
Direitos Humanos
A ateacute entatildeo Procuradora-Geral da Repuacuteblica Raquel Dodge ajuizou no Supremo
Tribunal Federal (STF) na data de 09092019 a Arguiccedilatildeo de Descumprimento de Preceito
Fundamental (ADPF) 618 com pedido de medida cautelar objetivando garantir agraves
Testemunhas de Jeovaacute maiores de idade e capazes o direito de natildeo se submeterem agrave
hemotransfusatildeo em virtude de convicccedilatildeo pessoal Nesse cenaacuterio faz-se necessaacuterio destacar
o conflito existente entre os atos normativos que obrigam o meacutedico a realizar a
hemotrasnfusatildeo e determinados preceitos fundamentais inerentes agrave natureza humana
No tocante agrave obrigaccedilatildeo meacutedica quanto agrave realizaccedilatildeo de intervenccedilotildees ciruacutergicas na
esfera eacutetica torna-se imprescindiacutevel a anaacutelise do Coacutedigo de Eacutetica Meacutedica A Legislaccedilatildeo
especiacutefica por sua vez reforccedila a prevalecircncia da decisatildeo do paciente ou de seu representante
1 Mestre em Direito Penal e Criminologia Lattes httplattescnpqbr9603583929346601 2 Graduando em Direito na Unilasalle-RJ ndash E-mail joseacutepaulasoulasallecombr Lattes httplattescnpqbr5586273247675670 3 Graduanda em Direito na Unilasalle-RJ ndash E-mail raquelcarvalhosoulasallecombr Lattes httplattescnpqbr8042985530306711
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frente agrave intervenccedilatildeo meacutedica obrigatoacuteria salvo em situaccedilotildees de iminente risco de morte
Conforme colhe-se do Coacutedigo de Eacutetica Meacutedica
ldquoCapitulo IV ndash Dos Direitos Humanos
Eacute vedado ao meacutedico
Art 22 Deixar de obter consentimento do paciente ou de seu representante legal apoacutes esclarececirc-lo sobre o procedimento a ser realizado salvo em caso de risco iminente de morte
(hellip)
Capitulo V ndash Relaccedilatildeo com pacientes e familiares
Eacute vedado ao meacutedico
Art 31 Desrespeitar o direito do paciente ou de seu representante legal de decidir livremente sobre a execuccedilatildeo de praacuteticas diagnoacutesticas ou terapecircuticas salvo em caso de iminente risco de morte
Art 32 Deixar de usar todos os meios disponiacuteveis de diagnoacutestico e tratamento cientificamente reconhecidos e a seu alcance em favor do paciente rdquo
Depreende-se da leitura do dispositivo regulador destacado que a autonomia de
vontade do paciente estaacute condicionada ao quadro a qual ele se encontra Tratando-se do
cenaacuterio em que natildeo haacute iminente risco de morte a vontade do paciente ou de seus
responsaacuteveis deve prevalecer havendo iminente risco de morte o meacutedico deve tomar as
providecircncias necessaacuterias para manutenccedilatildeo da vida e da sauacutede do paciente
independentemente da sua vontade ou da vontade de seus representantes legais Na segunda
hipoacutetese portanto prepondera o direito agrave vida sobre a autonomia da vontade
Contudo tratando-se de paciente Testemunha de Jeovaacute mesmo esse em situaccedilotildees
de iminente risco de morte a intervenccedilatildeo meacutedico-ciruacutergica deve ser limitada natildeo podendo
contemplar a hemotransfusatildeo sob pena de ferir Direitos Fundamentais da natureza humana
Para entendermos a importacircncia fundamental de tal restriccedilatildeo faz-se necessaacuterio analisarmos
a presente situaccedilatildeo sob a perspectiva dos Testemunhas de Jeovaacute
As premissas que sustentam essa religiatildeo estatildeo ancoradas na Biacuteblia Segundo o
entendimento das Testemunhas de Jeovaacute conforme publicado em site oficial4ldquoTanto o
Velho como o Novo Testamento claramente nos ordenam a nos abster de sanguerdquo
Essa conclusatildeo decorre da leitura de determinados trechos biacuteblicos tais quais
Gecircnesis 94 ldquoSomente natildeo comam a carne de um animal com seu sangue e que eacute a sua
vidardquo Deuteronocircmio 1223 ldquoApenas esteja firmemente decidido a natildeo comer o sangue
4 Site oficial ldquoJWORG - Testemunhas de Jeovaacuterdquo disponiacutevel em httpswwwjworgpttestemunhas-de-jeovaperguntas-frequentes
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porque o sangue eacute a vida natildeo coma a vida junto com a carnerdquo Leviacutetico 1714 ldquoPois a
vida de todo tipo de criatura eacute seu sangue porque a vida estaacute no sangue ()rdquo
Sendo assim eacute notoacuterio que a hemotransfusatildeo para as Testemunhas de Jeovaacute eacute mais
uma questatildeo religiosa do que meacutedica Segundo os pilares fundamentais de tal religiatildeo o
sangue exerce uma funccedilatildeo que extrapola o conceito cientiacutefico sendo o elemento de
representaccedilatildeo direta da vida (Leviacutetico 1714) Dessa forma a negativa frente a realizaccedilatildeo da
transfusatildeo escora-se ldquonatildeo apenas na obediecircncia a Deus mas tambeacutem por respeito a Ele
como Dador da vidardquo segundo publicaccedilatildeo oficial no site oficial dessa religiatildeo
Contudo para esses religiosos a questatildeo da hemotransfusatildeo ultrapassa o acircmbito de
associaccedilatildeo entre o sangue e a vida Em Leviacuteticos 1711 estaacute expliacutecito ldquoA alma da carne estaacute
no sangue e eu mesmo o pus para voacutes sobre o altar para fazer expiaccedilatildeo pelas vossas almas
porque eacute o sangue que faz expiaccedilatildeo pela alma nelerdquo E em Ezequiel 1820 ldquoA alma que
pecar essa morreraacute o filho natildeo levaraacute a iniquidade do pai nem o pai levaraacute a iniquidade do
filho A justiccedila do justo ficaraacute sobre ele e a impiedade do iacutempio cairaacute sobre elerdquo
Da leitura concomitante desses trechos biacuteblicos as Testemunhas de Jeovaacute entendem
que a alma do ser humano estaacute contida em seu sangue e que a esse pertence a funccedilatildeo de
purificaccedilatildeo dos pecados cometidos mas que essa expiaccedilatildeo eacute por natureza personalista
A vista disso no entendimento dessa doutrina religiosa quando uma Testemunha de
Jeovaacute recebe sangue por transfusatildeo estaacute recebendo junto todos os pecados cometidos pelo
doador No entanto como a redenccedilatildeo dos pecados eacute um ato personaliacutessimo a Testemunha
de Jeovaacute natildeo teraacute meios de se redimir dos pecados herdados pela transfusatildeo pois essa
redenccedilatildeo compete apenas ao pecador originaacuterio
Portanto a hemotransfusatildeo realizada nas Testemunhas de Jeovaacute mesmo quando em
situaccedilatildeo de iminente risco de morte garante-lhe a vida mas condena-lhe agrave morte espiritual
Conviver com a certeza de que nada poderaacute fazer para redimir-se de seus erros para com isso
ingressar no Reino Celestial mas pelo contraacuterio com a convicccedilatildeo de que a sua condenaccedilatildeo
eterna eacute apenas uma questatildeo de tempo coloca em xeque a concepccedilatildeo da vida como um valor
intransponiacutevel
Conforme estabelece a Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos Humanos (DUDH) em
seu artigo 18ordm
ldquoArtigo XVIII Todo ser humano tem direito agrave liberdade de pensamento consciecircncia e religiatildeo este direito inclui a liberdade de mudar de religiatildeo ou
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crenccedila e a liberdade de manifestar essa religiatildeo ou crenccedila pelo ensino pela praacutetica pelo culto e pela observacircncia em puacuteblico ou em particular rdquo
A transfusatildeo de sangue se caracteriza como uma ofensa imensuraacutevel aos princiacutepios
que norteiam as Testemunhas de Jeovaacute Nesse sentido a hemotrasnfusatildeo configura
claramente um desrespeito ao que determina a Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos Humanos
no tocante agrave liberdade de manifestaccedilatildeo e praacutetica religiosa
A essecircncia da religiatildeo eacute a religaccedilatildeo do homem para com o divino cujo objetivo maior
repousa sobre a ideia da Salvaccedilatildeo Eterna Para essa religiatildeo especificamente o acesso agrave
Salvaccedilatildeo estaacute condicionado agrave praacutetica de diversos ritos comportamentais Tamanha eacute a
importacircncia da Redenccedilatildeo Eterna que os praticantes dessa religiatildeo condicionam suas vidas
em detrimento da obtenccedilatildeo desta
Dessa forma natildeo cabe aos terceiros agrave essa religiatildeo realizar juiacutezos de valor a respeito
do entendimento que esses crentes possuem sobre as Escrituras Sagradas apenas respeitar
esses preceitos garantindo-lhes o direito intransponiacutevel de praticarem seus dogmas Para
tanto faz-se necessaacuterio que a presente situaccedilatildeo seja analisada sobre a oacutetica correta pelos
olhos daqueles que mortos (espiritualmente) satildeo condenados agrave vida
REFEREcircNCIAS
DODGE Raquel Arguiccedilatildeo de Descumprimento de Preceito Fundamental 618 -
httpsportalstfjusbrprocessosdetalheaspincidente=5769402
ANESTESIOLOGIA Sociedade Brasielira de Parecer Juriacutedico sobre transfusatildeo sanguiacutenea
e pacientes Testemunhas de Jeovaacute 2018
MORAES A Direito Constitucional 18 ed Satildeo Paulo Atlas 2005
226
A DESCRIMINALIZACcedilAtildeO DO ABORTO ndash ARGUICcedilAtildeO DE DESCUMPRIMENTO DE PRECEITO FUNDAMENTAL 442
Liacutevia Penha da Silva Thompson 1
Tatiana Trommer Barbosa2
Eixo Temaacutetico GT 5 ndash Aspectos inquisitoacuterios do Processo Penal e Criminogecircnese Direitos Humanos e Sistema Penitenciaacuterio
Palavras ndash Chave Descriminalizaccedilatildeo Aborto ADPF
RESUMO
O presente estudo visa agrave anaacutelise da Arguiccedilatildeo de Descumprimento de Preceito
Fundamental 442 proposta em 08032017 pelo Partido Socialismo e Liberdade - PSOL
que tem por objeto a descriminalizaccedilatildeo do aborto Esse tema vem gerando grandes
discussotildees entre o direito agrave vida do feto e a liberdade de escolha da mulher A ADPF traz
em sua redaccedilatildeo a natildeo recepccedilatildeo parcial dos artigos 124 e 126 do Coacutedigo Penal ou seja o
direito de liberdade da mulher em interromper a gestaccedilatildeo induzida e voluntaacuteria ateacute as 12
(doze) primeiras semanas de modo a garantir o direito constitucional de interromper a
gestaccedilatildeo de acordo com a autonomia dela sem necessidade de qualquer forma de permissatildeo
especiacutefica do Estado bem como garantir aos profissionais de sauacutede o direito de realizar o
procedimento ciruacutergico
A ADPF defende que a criminalizaccedilatildeo do aborto viola o princiacutepio da dignidade da
pessoa humana e a cidadania das mulheres o princiacutepio da natildeo discriminaccedilatildeo o direito agrave
sauacutede agrave integridade fiacutesica e psicoloacutegica das mulheres a inviolabilidade do direito agrave vida e a
seguranccedila o direito ao planejamento familiar e o princiacutepio da igualdade de gecircnero
Uma pesquisa divulgada pela Folha de Satildeo Paulo estima que 950 mil a 12 milhotildees
de abortos sejam feitos por ano no Brasil trata-se de um problema grave de sauacutede puacuteblica3
Sabemos que embora a praacutetica do aborto seja proibida as pesquisas demonstram que haacute um
aumento no nuacutemero de abortos independentemente da religiatildeo condiccedilatildeo social condiccedilatildeo
financeira estado civil se a mulher possui ou natildeo filhos se possui um ou vaacuterios parceiros
1 Graduanda em Direito na Mackenzie-RJ - Email liviathompsonhotmailcom CV httplattescnpqbr5740374842406518 2 Mestre em Direito pela Universidade Gama FilhoBrasil (2001) Poacutes-graduada em Direito Previdenciaacuterio pela Universidade Gama FilhoBrasil (2005) e poacutes-graduada em Direito Penal e Processual Penal pela Universidade Estaacutecio de Saacute (1994) Graduada em Direito pela Universidade Federal do Rio de Janeiro ndash UFRJ (1988) Coordenadora e Professora de Direito Penal do Curso de Direito da UNILASALLE-RJ Professora de Direito Penal e Advogada Orientadora do Nuacutecleo de Praacutetica Juriacutedica da Faculdade Presbiteriana Mackenzie-Rio Advogada especializada na aacuterea Criminal e Previdenciaacuteria- Email tatianatrommerterracombr - CV httplattescnpqbr9793348402708923 3 COLLUCCI Claacuteudia FARIA Flaacutevia SUS gasta R$ 500 milhotildees com complicaccedilotildees por aborto em uma deacutecada Folha de SPaulo [online] Satildeo Paulo 29 jul2018 Disponiacutevel em lthttpswww1folhauolcombrcotidiano201807sus-gasta-r-500-milhoes-com-complicacoes-por-aborto-em-uma-decadashtmlgt Acesso em 02112019
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tendo em vista que a decisatildeo de interromper a gravidez envolve questotildees pessoais que a lei
natildeo controla
O Fantaacutestico programa de televisatildeo da Rede Globo em 2015 divulgou pesquisa
sobre o aborto clandestino onde a antropoacuteloga hoje licenciada da UnB Debora Diniz
Rodrigues e pesquisadora da Anis ndash Instituto de Bioeacutetica revelou que ateacute os quarenta anos
de idade uma em cada cinco mulheres jaacute se submeteu a um aborto A pesquisa ouviu 2000
mulheres entre 18 e 39 anos Segundo a pesquisa em 2015 meio milhatildeo de brasileiras jaacute
haviam abortado e um fato curioso eacute que a maioria jaacute possuiacutea filhos O meacutetodo mais
procurado eacute o uso de medicamento (52) O aborto eacute frequente nas mulheres entre 20 e 24
anos e em todas as classes sociais4
Pelo procedimento ser uma praacutetica iliacutecita o aborto eacute realizado em cliacutenicas
clandestinas de forma insegura levando muitas mulheres a oacutebito Como exemplo tivemos
o caso da Jandira Magdalena dos Santos Cruz 27 anos auxiliar administrativa matildee de duas
meninas que natildeo desejava levar a termo uma terceira gravidez que foi fruto de um raacutepido
relacionamento por isso realizou a interrupccedilatildeo da gravidez em uma cliacutenica clandestina Seu
corpo foi achado mutilado e carbonizado no dia seguinte ao procedimento 5
Vale ressaltar que atualmente temos no Brasil os seguintes abortos legais Aborto
necessaacuterio ou terapecircutico que constitui autecircntico estado de necessidade justificando-se
quando natildeo houver outro meio de salvar a vida da gestante (artigo 128 inciso I do diploma
penal) O Aborto Humanitaacuterio realizado quando a gravidez eacute decorrente de estupro e a
gestante consente em sua realizaccedilatildeo (artigo 128 inciso II do coacutedigo penal) E por uacuteltimo o
Aborto Anencefaacutelico (ADPF-54) realizado quando haacute uma grave malformaccedilatildeo fetal que
resulta da falha do fechamento do tubo neural A Lei permite nos casos citados que seja
realizado o aborto preservando assim a vida matildee o seu direito agrave sauacutede agrave integridade fiacutesica e
psicoloacutegica A grande problemaacutetica da ADPF 442 estaacute no fato de que se por um lado ao
criminalizarmos a interrupccedilatildeo da gravidez temos a violaccedilatildeo ao direito agrave autonomia da mulher
e ao direito do planejamento familiar por outro temos a proteccedilatildeo do direito agrave vida do feto
que natildeo seraacute violado direito este consagrado na Constituiccedilatildeo Federal Aleacutem disto a
Convenccedilatildeo Americana dos Direitos Humanos adotada e aberta agrave assinatura na Conferecircncia
Especializada Interamericana sobre Direitos Humanos em San Joseacute de Costa Rica em
22111969 e ratificada pelo Brasil em 25091992 em seu art 4deg item 1 estabelece que toda
pessoa tem direito que se respeite a vida desde o momento da concepccedilatildeo6
Na ADPF 442 trinta e oito instituiccedilotildees se habilitaram como amicus curiae para auxiliar
no julgamento do processo tendo opiniotildees tanto a favor como contra a descriminalizaccedilatildeo
4 EM 2015 MEIO MILHAtildeO DE BRASILEIRAS PASSARAM POR ABORTO ILEGAL Fantaacutestico Rio de Janeiro TV Globo 4 de dezembro de 2016 Programa de TV Disponiacutevel em lthttpg1globocomfantasticonoticia201612em-2015-meio-milhao-de-brasileiras-passaram-por-aborto-ilegalhtmlgt Acesso em 02112019 5 CASO JANDIRA GRAacuteVIDA MORTA EM CLIacuteNICA CLANDESTINA DE ABORTO SE TORNA SIacuteMBOLO NO RIO R7 [online] Rio de Janeiro 18 dezembro 2014 Disponiacutevel em lthttpsnoticiasr7comrio-de-janeirocaso-jandira-gravida-morta-em-clinica-clandestina-de-aborto-se-torna-simbolo-no-rio-18122014gt Acesso em 02112019 6 CONVENCcedilAtildeO AMERICANA DE DIREITOS HUMANOS (1969) Disponiacutevel em lthttpwwwpgespgovbrcentrodeestudosbibliotecavirtualinstrumentossanjosehtmgt Acesso em 02 de novembro de 2019
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do aborto Nos dias 03 (trecircs) e 06 (seis) de agosto de 2018 foi aberta a audiecircncia puacuteblica
tendo sidos selecionados quarenta e quatro expositores para opinarem sobre o tema
Devemos ressaltar que natildeo haacute uma demora excessiva no julgamento principalmente se
compararmos com o julgamento da ADPF 54 que demorou oito anos para ser votada
Questatildeo relevante e natildeo tratada pela ADPF 442 eacute que ela busca tatildeo somente a
descriminalizaccedilatildeo do aborto sem nenhum estudo ou proposta de como passaria a ser
realizado o procedimento O SUS (Sistema Uacutenico de Sauacutede) teraacute condiccedilotildees de realizar ateacute a
deacutecima segunda semana o aborto de todas as mulheres que assim optarem por realizar o
procedimento Haveraacute um nuacutemero de abortos permitidos Seraacute necessaacuterio um
acompanhamento psicoacutelogo Outra indagaccedilatildeo que a ADPF 442 natildeo responde eacute se a mulher
continuaraacute a utilizar todos os meios de prevenccedilatildeo existentes para evitar uma gravidez ou
passaraacute a utilizar o aborto como um meacutetodo contraceptivo Eacute dever do Estado garantir o
direito a sauacutede a seguranccedila e a vida das mulheres sendo assim porque natildeo criar poliacuteticas e
movimentos que mostrem a importacircncia de prevenir e evitar uma gravidez indesejada ao
inveacutes de legalizar a realizaccedilatildeo do aborto
Discutir a descriminalizaccedilatildeo do aborto eacute de suma importacircncia tendo em vista que
inuacutemeras mulheres vecircm a oacutebito por realizar o procedimento ilegal Criminalizar nunca
impediu que o aborto fosse realizado e descriminalizar tambeacutem natildeo iraacute aumentar ou diminuir
o nuacutemero de abortos hoje realizados de forma ilegal Sendo assim eacute preciso tratar
abertamente de prevenccedilatildeo e sauacutede sexual pois existem vaacuterios meios de prevenccedilatildeo natildeo
devendo a praacutetica do aborto se tornar mais um pois se de um lado temos o direito agrave
autonomia da mulher e do outro temos o direito inviolaacutevel agrave vida
REFEREcircNCIAS
BRASIL Coacutedigo Penal (1940) Coacutedigo Penal de 1940 Brasiacutelia DF dez 1940 Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbrccivil_03decreto-leidel2848compiladohtmgt Acesso em 02112019
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_______ Peticcedilatildeo Inicial ADPF 442 Disponiacutevel em lthttpredirstfjusbrestfvisualizadorpubjspconsultarprocessoeletronicoConsultarProcessoEletronicojsfseqobjetoincidente=5144865gt Acesso em 011119
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_______ Audiecircncia Puacuteblica ADPF 442 Disponiacutevel em lthttpredirstfjusbrestfvisualizadorpubjspconsultarprocessoeletronicoConsultarProcessoEletronicojsfseqobjetoincidente=5144865gt Acesso em 011119
CASO JANDIRA GRAacuteVIDA MORTA EM CLIacuteNICA CLANDESTINA DE ABORTO SE TORNA SIacuteMBOLO NO RIO R7 [online] Rio de Janeiro 18 dezembro 2014 Disponiacutevel em lthttpsnoticiasr7comrio-de-janeirocaso-jandira-gravida-morta-em-clinica-clandestina-de-aborto-se-torna-simbolo-no-rio-18122014gt Acesso em 02112019
COLLUCCI Claacuteudia FARIA Flaacutevia SUS gasta R$ 500 milhotildees com complicaccedilotildees por aborto em uma deacutecada Folha de SPaulo [online] Satildeo Paulo 29 jul2018 Disponiacutevel em
lthttpswww1folhauolcombrcotidiano201807sus-gasta-r-500-milhoes-com-complicacoes-por-aborto-em-uma-decadashtmlgt Acesso em 02112019
CONVENCcedilAtildeO AMERICANA DE DIREITOS HUMANOS (1969) Disponiacutevel em lthttpwwwpgespgovbrcentrodeestudosbibliotecavirtualinstrumentossanjosehtmgt Acesso em 02 de novembro de 2019
EM 2015 MEIO MILHAtildeO DE BRASILEIRAS PASSARAM POR ABORTO ILEGAL Fantaacutestico Rio de Janeiro TV Globo 4 de dezembro de 2016 Programa de TV Disponiacutevel em lthttpg1globocomfantasticonoticia201612em-2015-meio-milhao-de-brasileiras-passaram-por-aborto-ilegalhtmlgt Acesso em 02112019
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RUPTURAS E CONTINUIDADES O ENCARCERAMENTO DA POPULACcedilAtildeO ADOLESCENTE E ADULTA NA COMARCA DE JUIZ DE FORA
Andreacute Luiz Camargo Marques1
Denise Mercedes N N Lopes Salles2
Eixo Temaacutetico GT 5 ndash Aspectos inquisitoacuterios do Processo Penal e Criminogecircnese Direitos Humanos e Sistema Penitenciaacuterio
Palavras-chave direitos humanos sociologia do crime adolescentes desviantes adultos
apenados medidas socioeducativas
De acordo com o uacuteltimo Censo do IBGE (2010)3 Juiz de Fora contava com o
seguinte iacutendice populacional 80160 adolescentes e 375395 adultos (19 a 74 anos) Dessa
populaccedilatildeo adolescente da cidade nos trecircs anos consecutivos (2015 a 2017) 035 041 e
054 encontravam-se em cumprimento de medidas socioeducativas quanto agrave populaccedilatildeo
adulta os percentuais de aprisionados eram 726 727 e 852 Esses dados sob o olhar
percentual e natildeo sob nuacutemeros absolutos conduz a uma melhor percepccedilatildeo da realidade Para
melhor compreender eacute necessaacuterio analisar a partir de outro olhar observando-se os dados
que se tecircm em matildeos distribuindo-se a cada 100000 habitantes Analisando-se por esse vieacutes
desfaz-se a aparente superioridade do encarceramento de adultos em relaccedilatildeo ao internamento
de adolescentes (MARQUES 2019)
Partindo dessa realidade este estudo tendo como abordagem teoacuterica subjacente a
criminologia cultural buscar compreender o encarceramento seletivo de adolescentes
desviantes juiz-foranos em comparaccedilatildeo com o de adultos reforccedilando a persistecircncia do
paradigma do Coacutedigo de Menores em detrimento do ECA Como objetivos especiacuteficos
procura natildeo soacute comparar o quantitativo de adolescentes em cumprimento de medidas
socioeducativas com o de adultos em caacutercere mas tambeacutem analisar os dados sobre a
prisionalizaccedilatildeo da populaccedilatildeo adolescente de Juiz de Fora em relaccedilatildeo agrave de adultos no periacuteodo
de 2015 a 2017
Entre os anos de 2015 e 2017 assim se desenhava o iacutendice de atendimento
socioeducativo na comarca de Juiz de Fora 282 (2015) 334 (2016) e 434 (2017) O somatoacuterio
dos trecircs anos chega a 1050 adolescentes internados e semi-internados Somando-se os
1 Mestre em Direito Puacuteblico pela Universidade Catoacutelica de Petroacutepolis (UCP) Lattes httpcnpqbr2047631687269678 2 Doutora em Ciecircncia Poliacutetica pelo Instituto de Estudos Sociais e Poliacuteticos da UERJ Lattes httpcnpqbr1594102305404307 3 Disponiacutevel em httpscenso2010ibgegovbrresultadoshtml
231
adultos aprisionados e os adolescentes em cumprimento de medidas chega-se ao seguinte
resultado 27548 (2015) 27645 (2016) e 32419 (2017) Do total de 27548 em 2015 102
eacute de adolescentes e 9898 eacute de adultos Do total de 27645 em 2016 121 eacute de adolescente
e 9879 eacute de adulto Do total de 32419 em 2017 134 eacute de adolescentes e 9866 eacute de
adultos (MARQUES 2019)
De posse dos dados comparativos de encarceramentointernaccedilatildeo de adultos e de
adolescentes e de posse dos dados estatiacutesticos de 2015 a 2017 percebe-se que a evoluccedilatildeo do
encarceramento de adultos eacute aparentemente maior poreacutem analisando-se a partir da
populaccedilatildeo total de Juiz de Fora (516247 habitantes) a cada 100000 habitantes chega-se a
uma configuraccedilatildeo contraacuteria que desfaz a aparente superioridade do encarceramento de
adultos o nuacutemero de adolescentes internados em 2015 (282 ndash correspondendo a 55
habitantes) para 2016 (334 ndash correspondendo a 65 habitantes) revelou um aumento de 182
enquanto o de adultos em 2015 (27266 ndash correspondendo a 5282 habitantes) para 2016
(27311 ndash correspondendo a 5290 habitantes) revelou um aumento de 015 o nuacutemero de
adolescentes internados em 2016 (334 ndash correspondendo a 65 habitantes) para 2017 (434 ndash
correspondendo a 84 habitantes) revelou um aumento de 2923 enquanto o de adulto
em 2016 (27311 ndash correspondendo a 5290 habitantes) para 2017 (31985 ndash correspondendo
a 6196 habitantes) evidenciou um aumento de 1702 Continuando esse raciociacutenio de 2015
para 2017 enquanto o nuacutemero de adultos encarcerados correspondeu a 1730 o de
adolescentes em cumprimento de mediadas correspondeu a 5272
Segundo dados do Levantamento Anual do SINASE de 20163 relativo ao ano de
2015 situando Juiz de Fora em relaccedilatildeo a Minas Gerais e ao Brasil quanto agrave populaccedilatildeo
adolescente em cumprimento de medida socioeducativa (internaccedilatildeo e semiliberdade)
apresenta-se a seguinte configuraccedilatildeo enquanto no Brasil havia 26450 adolescentes
cumprindo medidas em Minas Gerais havia 1964 e em Juiz de Fora 282 Em percentuais
Juiz de Fora representava na eacutepoca 116 do total de adolescentes internados em Minas
Gerais e 086 do total de adolescentes internados no paiacutes
Em outra pesquisa que comparou ocorrecircncias policiais (iliacutecitos penais) de adultos
com as de adolescentes foi evidenciada numa meacutedia dos trecircs anos estudados um aumento
gradativo entre adultos (branco ndash 371 negro ndash 215 pardo ndash 298) ndash e adolescentes
(branco ndash253 negro ndash 326 pardo ndash 345) Esse substancial aumento do perfil de
pardos e negros respectivamente corrobora os pressupostos teoacutericos segundos os quais
3 Disponiacutevel em httpswwwmdhgovbrnavegue-por-temascrianca-e-adolescenteLevantamento_2016Finalpdf
232
predomina o caraacuteter de segregaccedilatildeo social e racial e de crescente criminalizaccedilatildeo desses
segmentos (MARQUES 2019)
Entre os adolescentes internados e semi-internados em Juiz de Fora observa-se
substancial aumento do perfil de pardos e negros respectivamente em cumprimento de
medidas ndash 259 e 241 (2015) 245 e 243 (2016) e 191 e 332 (2017) ndash
corroborando os pressupostos teoacutericos segundos os quais predomina o caraacuteter de segregaccedilatildeo
social e racial e de crescente criminalizaccedilatildeo desses segmentos na comarca
Esse perfil dos adolescentes em cumprimento de medidas do municiacutepio reforccedila a
reproduccedilatildeo da sujeiccedilatildeo criminal a que se refere Misse (2010) Quanto agrave escolaridade a
maioria natildeo completou os ensinos fundamental e meacutedio havendo inclusive os que natildeo
estudaram Como consequecircncia vem a dificuldade de inserccedilatildeo no mercado de trabalho A
renda das famiacutelias desses adolescentes quase sempre numerosas estende-se de zero a dois
salaacuterios miacutenimos evidenciando uma realidade de extrema carecircncia o que contribui cada vez
mais para a exclusatildeo segregaccedilatildeo e marginalizaccedilatildeo No fator etnia o nuacutemero de negros eacute mais
que o dobro do nuacutemero de brancos Esses fatores revelam estigmatizaccedilatildeo dos internados
pela discriminaccedilatildeo social e racial corroborando a concepccedilatildeo de Misse (2010) segundo a qual
a sujeiccedilatildeo criminal eacute resultado de processos de construccedilatildeo social
Partindo do conceito de sujeiccedilatildeo criminal de Misse (2010) e do perfil elaborado dos
internos do CSEJF eacute possiacutevel perceber dois aspectos Primeiramente que o referido sistema
estaacute distante de romper com a loacutegica do Estado panpenal numa perpetuaccedilatildeo da escalada
punitivista estigmatizando e tipificando uma uacutenica identidade social O perfil dos
adolescentes internos que se caracteriza como oriundos de vulnerabilidade social e de
predominacircncia negra ratifica a concepccedilatildeo de que esses sujeitos satildeo socialmente
representados como potencialmente criminosos e cuja identidade eacute resultado do estigma que
lhes eacute imposto
Outro aspecto que precisa ser ressaltado eacute a forma como eacute fundamentada a
imposiccedilatildeo das medidas ao inveacutes de incidir sobre o ato infracional vale-se de justificativas
ligadas agraves condiccedilotildees pessoais dos adolescentes como desajuste social e moral inclinaccedilatildeo agrave
violecircncia risco para a sociedade desvio de personalidade rebeldia violenta entre outras
as quais natildeo soacute criam estereoacutetipos para os adolescentes acusados e sentenciados a
cumprirem as medidas mas tambeacutem dificultam a reinserccedilatildeo dos mesmos (MINAHIM
SPOSATO 2011) o que torna o sistema mais punitivista para eles do que para os adultos
Passetti tece severas criacuteticas agrave Justiccedila sobre cujos aplicadores (juiacutezes) e operadores
(promotores advogados e teacutecnicos) pesa a conservaccedilatildeo da mentalidade encarceradora
233
independentemente do ECA (PASSETTI 1999 p 63) Para o autor a Justiccedila natildeo daacute conta
do que dela se espera como meio de restaurar a sociabilidade perdida distribuindo sentenccedilas
encarceradoras e ldquoincapaz de perceber o oacutebvio pela obstruccedilatildeo de sua accedilatildeo pedagoacutegica natildeo
existe cidadatildeo sem infacircncia e juventuderdquo Desse modo a Justiccedila para o autor ldquoafirma a
continuidade da delinquecircncia e participa de maneira decisiva da situaccedilatildeo-problema Enfim
ela proacutepria constitui-se numa situaccedilatildeo-problemardquo (PASSETTI 1995 p 113)
Diante dessa realidade um fato que natildeo pode ser olvidado eacute o de que se instalou
um hiato entre o que avanccedilou em termos da lei na reformulaccedilatildeo de um projeto
socioeducativo com o ECA e o posterior SINASE e a realidade do sistema
socioeducativo Esse hiato eacute provocado por um retesamento de forccedilas de um lado
prevalecem estruturas repressoras e o intermitente domiacutenio da cultura punitiva que
concebe a seguranccedila puacuteblica por meio do armamento da forccedila da prisatildeo e do Estado penal
de outro os que acreditam na capacidade humana de reorganizar-se ressignificar valores
na busca de novas perspectivas
REFEREcircNCIAS
MARQUES Andreacute Luiz Camargo A marca de Cain Uma anaacutelise do Sistema
Socioeducativo na comarca de Juiz de Fora 2019 229 f Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Direito)
ndash Curso de Direito Universidade Catoacutelica de Petroacutepolis Petroacutepolis 2019 Cap 4
MISSE Michel Crime Sujeito e Sujeiccedilatildeo Criminal Aspectos de uma contribuiccedilatildeo analiacutetica sobre a categoria ldquobandidordquo Satildeo Paulo Lua Nova n79 pp15-38 2010
MINAHIM Maria Auxiliadora SPOSATO Karyna Batista A internaccedilatildeo de adolescentes pela lente dos tribunais Revista Direito GV Satildeo Paulo n 7 p277-298 2011 Semestral Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrpdfrdgvv7n1a14v7n1pdfgt Acesso em 02 out 2018
PASSETTI Edson Violentados crianccedilas adolescentes e justiccedila Satildeo Paulo Imaginaacuterio 1995 172 p
_____ Sociedade de controle e aboliccedilatildeo da puniccedilatildeo Satildeo Paulo em Perspectiva Satildeo Paulo v 13 n 3 p56-66 set 1999 FapUNIFESP (SciELO) httpdxdoiorg101590s0102-88391999000300008
RESSIGNIFICANDO O CONDENADO NO SISTEMA PRISONAL BRASILEIRO LOGOTERAPIA DE FRANKL E O SISTEMA APAC
234
Catarina Gervasio Alcides De Souza1
Daniel Gonccedilalves Pequeno2
Jorge Luis Fortes Pinheiro Da Cacircmara3
Eixo Temaacutetico GT 5 ndash Aspectos inquisitoacuterios do Processo Penal e Criminogecircnese Direitos Humanos e Sistema Penitenciaacuterio
Palavras-Chave Logoterapia Sistema Prisional APAC Vikor Frankl Execuccedilatildeo Penal
Objetivo
Com a terceira maior populaccedilatildeo carceraacuteria do mundo o sistema prisional brasileiro
comporta atualmente mais de oitocentos mil detentos dos quais segundo o Conselho
Nacional de Justiccedila (CNJ) 415 satildeo de presos provisoacuterios Aleacutem disso segundo dados de
2019 no ritmo atual o Departamento Penitenciaacuterio Nacional (DEPEN) estima que o
nuacutemero de prisioneiros alcance 15 milhatildeo ateacute 2025 um aumento de 83 por ano Natildeo
obstante a evidente- e preocupante- crescente projetada faz-se mister observar que uma das
maiores problemaacuteticas reforccediladas pela superlotaccedilatildeo dos presiacutedios brasileiros seja a
precarizaccedilatildeo da estrutura dos complexos penitenciaacuterios que uma vez com seus limites
excedidos encontra ainda mais dificuldades em realizar o papel punitivo em conjunto com
o de reintegraccedilatildeo social- privilegiando em regra aquele em detrimento desse
Dessa forma evidenciando o deacuteficit no tratamento humano nas prisotildees projetos
como os realizados pela Associaccedilatildeo de Assistecircncia ao Condenado (APAC) objetivam a
recuperaccedilatildeo e reintegraccedilatildeo dos condenados a penas privativas de liberdade tendo como
principal diferencial a presenccedila de abordagens com fundamentos religiosos ecumecircnicos e
trabalho nos valores humanos na missatildeo de evitar a reincidecircncia
No mesmo sentido encontra-se consonante aos valores metodoloacutegicos da APAC as
ideias da neuropsiquiatria de Viktor Frankl (1905-1997) sobrevivente de campos de
concentraccedilatildeo durante a segunda guerra mundial que em sua obra desenvolveu a ideia da
logoterapia que para fins deste trabalho definimos como a metodologia de
autorresponsabilidade por traacutes de um determinado sentido da vida individual
(FRANKL2007)
Destarte presente trabalho teve como objetivo a construccedilatildeo de uma anaacutelise acerca
do sistema prisional em acircmbito nacional com foco especial no que tange a proposta de
235
adoccedilatildeo do sistema APAC em consonacircncia com as ideias defendidas na neuropsiquiatria por
Frankl quanto a aplicaccedilatildeo da pena dos condenados atraveacutes da logoterapia Para tal fim
buscou-se compreender a forma mais efetiva pela qual o sistema prisional brasileiro pode
comportar modificaccedilotildees semelhantes ao observado pela APAC nos uacuteltimos anos
observando modelos de natureza similar ao redor do mundo sem deixar de tecer
consideraccedilotildees acerca das diferenccedilas sociais que limitam formas semelhantes de aplicaccedilatildeo da
pena no paiacutes
Abordagem teoacuterica
A abordagem empreendida no trabalho teve como base as ideias de Frankl
correlacionados com o atual sistema APAC implementado em acircmbito nacional em vista de
analisar e ponderar a respeito de possiacuteveis mudanccedilas dentro da loacutegica pouco humanista
adotado em complexos penitenciaacuterios ao redor do paiacutes Para tal fim o trabalho se divide em
dois momentos
Primeiramente eacute realizada comparaccedilatildeo de dados entre o sistema APAC o modelo
de prisatildeo normalmente aplicado em solo nacional modelos alternativos adotados em paiacuteses
com altas taxas de sucesso na reinserccedilatildeo social do preso e outros modelos comuns de outros
Estados em vista de averiguar acerca dos meacutetodos mais efetivo para a reintegraccedilatildeo do
detento em sociedade sem abrir matildeo da devida aplicaccedilatildeo de um regime de pena formal
Ademais tambeacutem eacute observado em que aspectos podemos traccedilar semelhanccedilas e diferenccedilas
nas sociedades nos quais tais sistemas satildeo aplicados de forma que seja possiacutevel compreender
e constatar ateacute que ponto satildeo reproduziacuteveis ou adaptaacuteveis casos de sucesso em paiacuteses como
Noruega Franccedila e Portugal para o contexto brasileiro
Em seguida satildeo rastreados dentro do sistema APAC elementos da logoterapia de
Frankl em vista de encontrar caminhos pelos quais o sistema pode evoluir no sentindo de
aplicar as ideias da neuropsiquiatria no que tange a forma de tratamento do preso e
ressignificaccedilatildeo de seu papel para aleacutem de um simples criminoso excluiacutedo sistematicamente
da sociedade Nesse momento satildeo trabalhados com maiores detalhes a forma como Frankl
observava o ser humanos especialmente no que concerne suas ideias de tratamento e
ldquosentidordquo dento do aspecto humanista
Conclusotildees
236
Com base nas anaacutelises realizadas quanto aos dados de sistemas prisionais ao redor do
mundo observa-se que o modelo APAC adotado no Brasil realiza nas devidas proporccedilotildees
experiencias de sucesso no acircmbito do tratamento humano e do preparo do recluso para o
retorno na sociedade O principal fator observado que diferencia o Brasil de outros paiacuteses
com sistemas de tal natureza concerne dois principais aspectos a elevada taxa de presos sem
condenaccedilatildeo e a notoacuteria disparidade de renda No primeiro eacute observado uma falha do
judiciaacuterio que compromete natildeo soacute o sistema carceraacuterio em si- em funccedilatildeo de superlotaccedilotildees
que tornam ainda mais difiacuteceis as condiccedilotildees de vida na prisatildeo- mas natildeo obstante trazem ao
recluso sequelas psicoloacutegicas que dificultam seu retorno a sociedade Jaacute no segundo tem-se
uma condiccedilatildeo socioeconocircmica na qual a perspectiva limitada de ascensatildeo econocircmica se vecirc
extremamente limitada fato que condiciona a populaccedilatildeo reclusa de baixa renda a natildeo
procurar alternativas fora de atividades iliacutecitas para viver mesmo apoacutes adquirirem liberdade
Tais elementos impedem atualmente que modelos mais liberais estabelecidos em outros
paiacuteses sejam reproduzidos em todas as suas particularidades
Quando a logoterapia dentro do sistema APAC percebe-se um esforccedilo em promover
para a populaccedilatildeo reclusa a busca do sentido como forccedila motriz para o ser humano de forma
individual atraveacutes de objetivos pessoais que os presos deveriam optar por escolher com base
em sua particular e atual realidade se tem algum familiar para amar ou algum projeto ou ideal
o qual acredite o bastante para se doar Tudo isto levando em conta a perspectiva de que a
doaccedilatildeo pessoal para algo motiva o ser humano para continuar e ir em direccedilatildeo a um presente
em razatildeo de um futuro desejado Logo deve haver uma ressignificaccedilatildeo do sofrimento
tornando neste caso a vivecircncia da sanccedilatildeo penal de regime fechado uma etapa necessaacuteria para
que depois de cumprida a pena ele se torne algueacutem melhor ou desempenhe o que soacute ele pode
desempenhar no conviacutevio social Assim o objetivo nas APACs no sistema prisional brasileiro
deve ser o de entender a fase de regime fechado tanto para o Estado quanto para o preso
como uma oportunidade de se reestruturar para a integridade e natildeo como a laacutestima
pessimismo e conformismo que satildeo presentes
Referecircncias
BRASIL Tribunal de Justiccedila de Minas Gerais Projeto novos rumos na execuccedilatildeo
penal Todo homem eacute maior que o seu erro Mai 2009 p 19 (Cartilha)
237
FRANKL Vikor Um sentido para a vida Psicoterapia e Humanismo Satildeo Paulo Ideias
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OTTOBONI Maacuterio Vamos matar o criminoso Meacutetodo APAC 3 ed Satildeo Paulo
Paulinas 2001
PRADO Luiz Regis Direito penal parte geral 2 ed reform atual e amplSatildeo Paulo Revista dos Tribunais 2008
O que eacute a APAC Disponiacutevel em lthttpwwwfbacorgbrindexphpptcomo-fazerapac-o-
que-egt acesso em 02 de nov 2019
Relatoacuterios sobre as APACs Disponiacutevel em lt
httpwwwfbacorgbrinfoapacrelatoriogeralphpgt acesso em 02 de nov 2019
Ministeacuterio da Justiccedila e Seguranccedila Puacuteblica disponiacutevel em
lthttpwwwjusticagovbrnewscopy_of_collective-nitf-content-26gt acesso em 02 de
nov 2019
238
CONSIDERACcedilOtildeES ACERCA DA DECRETACcedilAtildeO DA MEDIDA SOCIOEDUCATIVA DE INTERNACcedilAtildeO POR PARTE DO PODER
JUDICIAacuteRIO
Luacutecia Frota Pestana de Aguiar1
Eacuterica Maia C Arruda2
Patricy Barros Justino3
Eixo Temaacutetico GT 5 ndash Aspectos inquisitoacuterios do Processo Penal e Criminogecircnese Direitos Humanos e Sistema Penitenciaacuterio
Palavras-chave Direitos Fundamentais Direito Penal Medidas Socioeducativas Poder
Judiciaacuterio Adolescente em Conflito com a Lei
Objetivos
A justificativa para o tema em questatildeo eacute em face de continua violecircncia retratada pela
miacutedia em geral envolvendo crianccedilas e adolescentes que desenvolvem e causam na sociedade
uma enorme indignaccedilatildeo Assim a agressividade aumenta em virtude de fatores familiares
sociais morais e psicoloacutegicos Dessa forma a sociedade comeccedila a criticar que os infratores
de menoridade natildeo estatildeo sendo devidamente punidos Natildeo obstante o Direito Penal Juvenil
natildeo tem como alvo punir apenas os que contrariam o ordenamento juriacutedico mas apresentar
meios de ressocializaccedilatildeo aos menores
Igualmente se objetiva discutir a efetivaccedilatildeo de direitos fundamentais do adolescente
em cumprimento de medidas socioeducativas pela via das decisotildees do Poder Judiciaacuterio em
meio fechado no Brasil especialmente no campo do Direito Processual Penal
Se de fato as decisotildees judiciais oportunizam ao adolescente em cumprimento da
medida socioeducativa de internaccedilatildeo as oportunidades de superaccedilatildeo de sua situaccedilatildeo de
1 Doutora em Direito e Evoluccedilatildeo Social pela Universidade Estaacutecio de Saacute (PPGDUNESA) Curriacuteculo lattes httplattescnpqbr7811095605686107 2 Doutora em Direito e Evoluccedilatildeo Social pela Universidade Estaacutecio de Saacute (PPGDUNESA) Curriacuteculo lattes httplattescnpqbr1982669843934440 3 Doutoranda em Direito e Evoluccedilatildeo Social pela Universidade Estaacutecio de Saacute (PPGDUNESA) Curriacuteculo lattes httplattescnpqbr1622448076847397
239
exclusatildeo para a ressignificaccedilatildeo de sua vida e formaccedilatildeo de novos valores para a participaccedilatildeo
social
Abordagem teoacuterica
Os direitos fundamentais assim considerados faratildeo parte dos textos constitucionais
na medida em que reconhecem e respeitam a essecircncia do Estado Para Perez Luntildeo (2001)
sua funccedilatildeo eacute principalmente de limitaccedilatildeo do poder poliacutetico participaccedilatildeo social e justificaccedilatildeo
do proacuteprio Estado para colocar agrave prova a estrutura e funcionamento do aparato estatal O
autor enquadra os direitos fundamentais como normas constitucionais programaacuteticas que
exigem do legislador infraconstitucional a concretizaccedilatildeo em um futuro proacuteximo Na sua
visatildeo haacute o problema da demora excessiva no cumprimento dos direitos inseridos em normas
programaacuteticas no plano poliacutetico causando desencanto de amplos setores sociais
especialmente os mais interessados na sua efetivaccedilatildeo Para ele as normas programaacuteticas de
direitos e liberdades baacutesicas contecircm pouco valor juriacutedico mas possuem valor poliacutetico pois
significam um compromisso que vincula toda a orientaccedilatildeo poliacutetica estatal O autor entende
que os direitos fundamentais possuem a funccedilatildeo e aparecem como princiacutepios organizadores
na medida em que colocam limites ao Poder Executivo e Legislativo
Em razatildeo dessas dificuldades haacute doutrinadores que se posicionam defendendo a
irrealidade dos direitos humanos por conta de sua linguagem vaga e ilusoacuteria aposta nas
declaraccedilotildees nacionais e internacionais de direitos humanos Villey (2009) eacute um deles pois
compreende esses documentos como verdadeiras foacutermulas desprovidas de sentido que
geram falsas expectativas ou direitos utoacutepicos caracterizando-os como ideais e afirmando
que ateacute mesmo quando podem ser exercidos natildeo o satildeo jaacute que satildeo contraditoacuterios indicando
que para cada um destes direitos do homem haacute a negaccedilatildeo de outros direitos do homem que
se praticados separadamente originam injusticcedilas A siacutentese do autor eacute que os direitos
humanos satildeo interiores ou espirituais gerando a consequecircncia de carecerem de exterioridade
por natildeo ser stricto sensu direitos daiacute decorre a conclusatildeo de que os direitos humanos assim
como hoje satildeo concebidos natildeo servirem aos interesses de todos
Os avanccedilos decorrentes do ECA no acircmbito da limitaccedilatildeo do poder punitivo sobre os
adolescentes representa profunda modificaccedilatildeo com o modelo anterior A estrita tipicidade
decorrente do princiacutepio da legalidade substituiu a discricionariedade do Juiz de Menores A
partir do ECA os adolescentes que praticarem atos infracionais soacute poderatildeo ser julgados e a
eles aplicada medida socioeducativa se a lei fizer previsatildeo expressa da adequaccedilatildeo do fato
praticado agrave penalidade imposta isto eacute deveratildeo ser respeitados os criteacuterios previstos na lei
240
quanto ao tipo de ato infracional cometido e a medida socioeducativa aplicada pelo Juiz de
Direito
O ECA introduziu mudanccedilas importantes sobre a praacutetica de atos infracionais
cometidos por adolescentes determinando no art 103 eacute ldquoa conduta descrita como crime ou
contravenccedilatildeo penalrdquo A lei assegurou ao adolescente que praticou ato infracional a possibilidade
de ao mesmo tempo em que eacute responsabilizado ser submetido a medidas de caraacuteter
pedagoacutegico O adolescente atendido deve ser compreendido como um sujeito de direitos
pessoa em condiccedilatildeo especial de desenvolvimento e em processo progressivo do exerciacutecio de
autonomia e de responsabilidades
Nesse contexto de construccedilatildeo normativo-institucional o Conselho Nacional dos
Direitos da Crianccedila e do Adolescente (CONANDA) e a Secretaria Especial de Direitos
Humanos da Presidecircncia da Repuacuteblica (SEDHPR) em conjunto com diversos setores da
sociedade governamental e natildeo governamental apresentaram em 2004 a proposta do
Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo (SINASE)
Em 2012 o SINASE se tornou a Lei nordm 12594 de 18 de janeiro de 2012 cujo
objetivo eacute a implementaccedilatildeo de accedilotildees socioeducativas para adolescentes em conflito com a
lei baseando-se nos princiacutepios dos direitos humanos Neste sentido estados e municiacutepios
tiveram que se reorganizar na forma de atender as medidas socioeducativas articulando as
trecircs esferas de governo para desenvolver programas que atendam a intersetorialidade e a co-
responsabilidade da famiacutelia comunidade e Estado O SINASE indica a preferecircncia pelas
medidas em meio aberto uma vez que essas medidas satildeo consideradas verdadeiras medidas
de ressocializaccedilatildeo e reinserccedilatildeo do jovem no ambiente social
Dessa forma o Poder Judiciaacuterio tem grande responsabilidade na poliacutetica puacuteblica de
atendimento socioeducativo pois eacute o oacutergatildeo responsaacutevel pela aplicaccedilatildeo ao adolescente que
pratica alguma conduta tipificada como crime ou contravenccedilatildeo penal de acordo com o artigo
103 do ECA A competecircncia exclusiva do Juiz de Direito uma vez que a apuraccedilatildeo da
responsabilidade do jovem deve ser realizada observando-se o devido processo legal
A decisatildeo judicial que aplica as medidas socioeducativas deve levar em conta as
necessidades pedagoacutegicas do adolescente a natureza da infraccedilatildeo cometida a inclusatildeo em
programas comunitaacuterios matriacutecula e frequecircncia obrigatoacuteria em estabelecimento oficial de
ensino fundamental e meacutedio O adolescente precisa ser visto como um sujeito de direitos e
ser responsabilizado ao discutir seus deveres diante da sociedade As medidas
socioeducativas satildeo sanccedilotildees mas sobretudo instrumentos pedagoacutegicos A medida de
241
internaccedilatildeo mais gravosa eacute preconizado pelo ECA como exceccedilatildeo mas na praacutetica natildeo eacute essa
a realidade praticada no pais causando dentre outras violaccedilotildees de direitos a superlotaccedilatildeo
das unidades de internaccedilatildeo
A desigualdade social eacute tambeacutem um elemento importante a ser considerado pois
assim como Vilhena (2008) compactua-se neste trabalho com o entendimento de que a
desigualdade mitiga a compreensatildeo e o conhecimento de conceitos juriacutedicos baacutesicos
subvertendo a aplicaccedilatildeo das leis e o uso da coerccedilatildeo estatal O autor pontua que a lei e os
direitos sob essas circunstacircncias podem ser vistos como uma farsa pois concretizam uma
relaccedilatildeo de poder onde seus donos negociam os termos de suas relaccedilotildees com os mais
excluiacutedos De acordo com essa perspectiva o sistema juriacutedico brasileiro sofre com a
incongruecircncia entre as leis editadas e o comportamento dos indiviacuteduos e dos agentes
puacuteblicos uma vez que a exclusatildeo social e econocircmica seria a causa da invisibilidade daqueles
submetidos agrave pobreza extrema colocando agrave prova a imparcialidade da lei e desestimulando
os dois poacutelos - donos do poder e excluiacutedos ndash em obedecer agraves leis e respeitar os direitos dentro
de uma esfera de relaccedilotildees interpessoais
Conclusotildees
Os dados apresentados apontam que o Poder Judiciaacuterio decide de forma
conservadora nas questotildees que envolvem o adolescente em conflito com a lei privilegiando
as medidas socioeducativas em meio fechado ao adolescente que pratica ato infracional O
bovarismo juriacutedico marcador da cultura juriacutedica impregna pelo conservadorismo e a
tradiccedilatildeo as praacuteticas do Poder Judiciaacuterio compondo o quadro em que o Juiz da Infacircncia e
Juventude substituiu o Juiz de Menores nas decisotildees que criminalizam o adolescente em
conflito com a lei
Referecircncias
BRANCHER Leoberto Narciso Organizaccedilatildeo e Gestatildeo do sistema de direitos da Infacircncia e da Juventude in Encontros pela Justiccedila na educaccedilatildeo Brasiacutelia Fundescola - MEC 2001 p126
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MINAHIM Maria Auxiliadora (Cord Acad) ECA ndash Apuraccedilatildeo do Ato Infracional atribuiacutedo a Adolescentes Seacuterie Pensando o Direito N 262010 ndash versatildeo publicaccedilatildeo
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PEacuteREZ LUNtildeO A E Derechos Humanos Estado de Derecho y Constitucioacuten 9 ed Madrid Tecnos 2001
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VILLEY M Le droit et les droits de lrsquohomme Paris PUF 2009
243
NEGATIVA DE ACESSO DE SUSPEITOS QUALIFICADOS COMO TESTEMUNHAENVOLVIDO AO INQUEacuteRITO POLICIAL E A
RELATIVIZACcedilAtildeO DA AMPLA DEFESA E NAtildeO-AUTOINCRIMINACcedilAtildeO
Geisa Ferreira de Santana Gargel1
Eixo Temaacutetico GT 5 ndash Aspectos inquisitoacuterios do Processo Penal e Criminogecircnese Direitos Humanos e Sistema Penitenciaacuterio
Palavras-Chave ampla defesa inqueacuterito testemunha frustraccedilatildeo constitucional
O presente trabalho busca uma leitura constitucional do inqueacuterito policial quanto a
participaccedilatildeo de indiviacuteduo qualificado como testemunha ou envolvido cujo acesso aos
elementos da investigaccedilatildeo eacute obstado agrave sua defesa teacutecnica ainda que sob o risco de ferir seu
direito a natildeo-autoincriminaccedilatildeo Trata-se de fenocircmeno muito presente na atividade policial
a vedaccedilatildeo pela autoridade responsaacutevel de acesso aos autos do inqueacuterito agrave defesa de
testemunha ou mero envolvido sob o argumento de natildeo se aplicar a estes o direito ao
silecircncio a proteccedilatildeo do nemo tenetur se detegere imperando o interesse social e a exigecircncia do
sigilo como forma de proteccedilatildeo agrave investigaccedilatildeo ou de outras pessoas envolvidas Apesar da
plausibilidade dos argumentos normalmente assumidos por aquelas autoridades para
impedir publicidade do procedimento tal praacutetica vem demonstrando grave prejuiacutezo agrave
defesa dos interesses de pessoa cuja contribuiccedilatildeo no inqueacuterito se faz muitas vezes
descaracterizando uma evidente posiccedilatildeo de suspeito ou indiciado a fim de extrair
informaccedilotildees sob ameaccedila de um processo criminal por ldquocalar a verdaderdquo
Por meio da ponderaccedilatildeo dos direitos fundamentais e sobretudo reconhecendo que
ningueacutem pode ser compelido a emitir declaraccedilotildees em prejuiacutezo proacuteprio ou ainda participar
ativamente em procedimento que possa o incriminar (LOPES JR 2019) eacute necessaacuterio
analisar se a qualificaccedilatildeo como testemunha ou simples envolvido pode ser utilizada como
artifiacutecio coativo proibindo-se conhecimento preacutevio pelo advogado do indiviacuteduo
sabatinado de informaccedilotildees essenciais agrave sua defesa
1 Especialista em Direito e Processo Penal E-mail geisasantanabolcombr Lattes httplattescnpqbr9349659043984113
244
Na leitura do art 1ordm III combinado com o art 5ordm LXIII da Constituiccedilatildeo da
Repuacuteblica bem como dos tratados internacionais sobre direitos humanos buscar-se-aacute
ainda verificar a mens legis da lei 1386919 quando passa a incriminar a conduta de negativa
de acesso do interessado ao inqueacuterito Nesta direccedilatildeo a caracteriacutestica inquisitorial natildeo pode
fazer olvidar a qualificaccedilatildeo do inqueacuterito policial como ato administrativo sendo limitada e
balizada pelos princiacutepios da legalidade impessoalidade moralidade publicidade e eficiecircncia
O reconhecimento da aplicaccedilatildeo integral dos direitos e garantias da pessoa indiciada
agraves testemunhas e envolvidos no inqueacuterito ainda que sopesada as idiossincrasias do caso
investigado agiria como elemento saneador daqueles interesses refrataacuterios aos direitos
fundamentais e causadores de uma recorrente frustraccedilatildeo constitucional (BARROSO 1993)
A aparente legitimaccedilatildeo de atividades investigativas ilegais atraveacutes de um populismo penal
midiaacutetico vem produzir a instrumentalizaccedilatildeo dos agentes de poliacutecia como executores de
uma poliacutetica de destruiccedilatildeo e de guerra (ROSA 2014) exigindo anaacutelise criacutetica da utilizaccedilatildeo
de premiaccedilotildees por produtividade aplicada pelo Sistema de Metas e Acompanhamento de
Resultados no Estado do Rio de Janeiro (SIM)
Observando o incentivo na criaccedilatildeo de nuacutemeros positivos no combate agrave
criminalidade o atrativo financeiro legalmente instituiacutedo para classes de servidores tatildeo
desvalorizadas pelo Estado se tornaria uma variaacutevel tendente a esvaziar a forccedila normativa da
Constituiccedilatildeo (HESSE) especialmente no que tange agrave ampla defesa a dignidade da pessoa
humana e ao princiacutepio do nemo tenetur se detegere fomentando a produccedilatildeo de inqueacuteritos e
indiciamentos em escala industrial atraveacutes de manobras e aplicaccedilatildeo cenograacutefica da qualidade
de testemunha a suspeitos
A metodologia aplicada neste trabalho inclui a revisatildeo bibliograacutefica e
jurisprudencial visando a construccedilatildeo um diaacutelogo sobre paracircmetros miacutenimos da garantia de
efetividade dos direitos fundamentais na fase de inqueacuterito policial com a interpretaccedilatildeo
harmonizando o interesse coletivo de seguranccedila agraves regras processuais e procedimentais
inafastaacuteveis em um Estado Democraacutetico de Direito sob a luz do Garantismo Penal
REFEREcircNCIAS
LOPES JR Aury Direito processual penal 16 ed Satildeo Paulo Saraiva Educaccedilatildeo 2019
HESSE Konrad A forccedila normativa da Constituiccedilatildeo Porto Alegre Sergio Antonio Fabris Editor 1991
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ROSA Alexandre Morais da KHALED JR Salah H In dubio pro hell profanando o sistema penal Rio de Janeiro Lumen Juris
ZAFFARONI Eugenio Rauacutel A questatildeo criminal 1 ed Rio de Janeiro Revan 2013
ZEHR Howard Trocando as lentes um novo foco sobre o crime e a justiccedila Satildeo Paulo Palas Athena 2008
BARROSO LR O direito constitucional e a efetividade de suas normas limites e possibilidades da Constituiccedilatildeo brasileira 3 ed Rio de Janeiro Renovar 1993
SARLET IW A eficaacutecia dos direitos fundamentais Porto Alegre Livraria do Advogado 2015
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GT 6 ndash DIREITOS FUNDAMENTAIS E
MEacuteTODOS PROCESSUAIS
247
A APLICABILIDADE DA NATUREZA HIacuteBRIDA DA LEI MARIA DA PENHA E SEUS ASPECTOS PROCESSUAIS
Paola Campos de Oliveira Lima
Eixo Temaacutetico GT 6 ndash Direitos Fundamentais e Meacutetodos Processuais
Palavras - Chaves Lei Maria da Penha natureza hiacutebrida aspectos processuais
aplicabilidade Acesso agrave Justiccedila
O presente ensaio visa abordar as problemaacuteticas que incidem com relaccedilatildeo a natureza
hiacutebrida da Lei Maria da Penha e como a sua aplicaccedilatildeo gera implicaccedilotildees a celeridade e ao
acesso a justiccedila da viacutetima de violecircncia domeacutestica Inicialmente eacute importante esclarecer o que
seria natureza hiacutebrida da Lei Maria da Penha pois a mesma possui caraacuteter penal civil e
assistencial em razatildeo do estiacutemulo a criaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas para as mulheres
A Lei Maria da Penha entrou em vigecircncia no ano de 2006 apoacutes muitas lutas e foacuteruns
elaborados por diferentes camadas da sociedade no intuito de coibir a violecircncia domeacutestica
latente na sociedade brasileira
O Estado brasileiro foi denunciado pela Corte Interamericana de Direitos Humanos
em 2001 por natildeo haver efetivamente tomado por mais de 15 anos as medidas necessaacuterias
para processar e punir o agressor da Maria da Penha apesar das denuacutencias efetuadas
Os Juizados de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher possui competecircncia
para julgar causas ciacuteveis e criminais no entanto na praacutetica natildeo ocorre desta forma
___________________________________
sup1 Graduada em Direito na Universidade Estaacutecio de Saacute Poacutes Graduanda em Direito Civil e Direito Processual Civil na UniLaSalle ndash E-mail limapaolaadvgmailcom Lattes httplattescnpqbr9163145031189018
Art 14 Os Juizados de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher oacutergatildeos da Justiccedila
Ordinaacuteria com competecircncia ciacutevel e criminal poderatildeo ser criados pela Uniatildeo no Distrito Federal e nos
Territoacuterios e pelos Estados para o processo o julgamento e a execuccedilatildeo das causas decorrentes da praacutetica de
violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher
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Existem Tribunais que natildeo respeitam tal atribuiccedilatildeo da Lei Maria da Penha e quando
existem delitos decorrentes de violecircncia domeacutestica e um pedido de divoacutercio por exemplo
as accedilotildees seguem em locais separados Um iraacute seguir nos Juizados e a outra na Vara de Famiacutelia
O Estado da Bahia apresentou recentemente uma Resoluccedilatildeo no qual veda a
competecircncia hibrida da Lei Maria da Penha sendo esta uma Lei Federal No artigo 3ordm da
referida resoluccedilatildeo 47 do Tribunal de Justiccedila da Bahia fica instituiacutedo que a competecircncia ciacutevel
seraacute exclusiva para expediccedilatildeo e execuccedilatildeo de Medidas Protetivas conforme segue trecho
Art 3ordm Na aacuterea ciacutevel a competecircncia da Vara de Violecircncia Domeacutestica abrange apenas o processo
e a execuccedilatildeo de Medidas Protetivas de Urgecircncia definidas nos arts 22 a 24 da Lei Federal ndeg 1134006
(Lei Maria da Penha)
No entanto jaacute existem julgados que garantem a aplicaccedilatildeo da natureza hibrida
decorrente da proacutepria lei conforme o REsp 1475006MT Rel Ministro MOURA
RIBEIRO TERCEIRA TURMA julgado em 14102014 DJe 30102014 em que permite
a execuccedilatildeo da accedilatildeo de alimentos no Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a
Mulher ldquo1 Os Juizados de Violecircncia oacutergatildeos da justiccedila ordinaacuteria tecircm competecircncia
cumulativa para o julgamento e a execuccedilatildeo das causas decorrentes da praacutetica de violecircncia
domeacutestica e familiar contra a mulher nos termos do art 14 da Lei nordm 113402006 2 Negar
o julgamento pela Vara especializada postergando o recebimento dos provisionais arbitrados
como urgentes seria natildeo somente afastar o espiacuterito protetivo da lei mas tambeacutem submeter
a mulher a nova agressatildeo ainda que de iacutendole diversa com o prolongamento de seu
sofrimento ao menos no plano psicoloacutegico 3 Recurso especial natildeo providordquo
Contudo apesar de haver previsatildeo legal o entendimento em sede nacional natildeo eacute
unificado Cada Magistrado entende e aplica tal natureza de uma forma tanto eacute que no
Enunciado 35 do FONAVID - Foacuterum Nacional de Juiacutezes de Violecircncia Domeacutestica e Familiar
Contra a Mulher dispotildee que
ldquoO juiacutezo de violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher natildeo eacute competente para a
execuccedilatildeo de alimentos fixados em medidas protetivas de urgecircnciardquo
O fato da natureza da Lei Maria da Penha ser hiacutebrida em tese gera seguranccedila juriacutedica
a viacutetima de violecircncia domeacutestica visto que em diversas situaccedilotildees haacute mateacuterias ciacuteveis como
divoacutercio e a accedilatildeo de alimentos conforme jaacute mencionado nos paraacutegrafos anteriores e tambeacutem
mateacuterias criminais enfim satildeo infinidades de procedimentos em que o Juizado de Violecircncia
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Domeacutestica poderiam abarcar no entanto natildeo eacute isso que ocorre na praacutetica Os processos na
maioria dos casos seguem em varas distintas
Eacute importante destacar que existem cidades em que o Juizado de Violecircncia Domeacutestica
se localiza em uma Comarca e apesar desta comarca tambeacutem possuir Vara de Famiacutelia
dependendo do local que a viacutetima more ela deveraacute ajuizar a accedilatildeo na Vara de Famiacutelia em outra
Comarca como eacute o caso da Cidade de Satildeo GonccedilaloRJ A Comarca de Santa Catarina natildeo
possui Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar Contra a Mulher este somente se
localiza na Comarca de Regional do Foro de Alcantara Como essa viacutetima iraacute se deslocar de
uma Comarca para a outra sem ao menos saber como funcionam os tracircmites judiciais
Eacute uma reflexatildeo importante a se fazer visto que neste caso a natureza hiacutebrida da Lei
Maria da Penha seria primordial em razatildeo da celeridade e principalmente o acesso a justiccedila
que eacute um direito garantido pela Constituiccedilatildeo A viacutetima jaacute estaacute fragilizada em razatildeo de tudo o
que suportou durante anos e anos finalmente encontra forccedilas para denunciar e encerrar essa
situaccedilatildeo e depois de tudo ainda teraacute de enfrentar um sistema judiciaacuterio fragmentado Natildeo
parece razoaacutevel
Diante de modificaccedilotildees na legislaccedilatildeo eacute importante destacar o Projeto de Lei (PL
5102019) que visa dar prioridade nos processos judiciais de separaccedilatildeo ou divoacutercio agrave mulher
viacutetima de violecircncia domeacutestica Nestes casos a viacutetima teraacute a opccedilatildeo de propor accedilatildeo de divoacutercio
separaccedilatildeo anulaccedilatildeo de casamento ou dissoluccedilatildeo de uniatildeo estaacutevel no Juizado de Violecircncia
Domeacutestica e Familiar que natildeo teraacute competecircncia em relaccedilatildeo agrave partilha de bens Haacute ainda a
garantia de prioridade de tramitaccedilatildeo em qualquer juiacutezo ou tribunal aos procedimentos
judiciais em que figure como parte a viacutetima de violecircncia domeacutestica e familiar
Um avanccedilo consideraacutevel visto que conforme mencionado anteriormente a aplicaccedilatildeo
da natureza hiacutebrida apesar de previsto expressamente em Lei era escolha de cada
magistrado Se o Projeto de Lei for aprovado ao menos com relaccedilatildeo ao divoacutercio e uniatildeo
estaacutevel deveraacute ser processado e julgado nos Juizado de violecircncia domestica sendo inclusive
caso de prioridade
REFEREcircNCIAS
CRISOacuteSTOMO Laina A competecircncia hiacutebrida da Lei Maria da Penha Disponiacutevel em
httpscanalcienciascriminaiscombrcompetencia-hibrida-lei-maria-penha Acesso em
29102019