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UNIVERSIDADE DO VALE DO RIO DOS SINOS – UNISINOS CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM HISTÓRIA
CONDIÇÃO FEMININA PROTESTANTE: UM ESTUDO DE CASO NA IGREJA PRESBITERIANA DO BRASIL.
ELISABETH DO AMARAL ECKER
ORIENTADOR: Prof. Dr. MARTIN NORBERTO DREH ER
SÃO LEOPOLDO
2002
Livros Grátis
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3
ELISABETH DO AMARAL ECKER
CONDIÇÃO FEMININA PROTESTANTE: UM ESTUDO DE CASO NA IGREJA PRESBITERIANA DO BRASIL.
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em História, Centro de Ciências Humanas da Universidade do Vale do Rio dos Sinos, como requisito parcial à obtenção do grau de Mestre Orientador: Prof. Dr. Martin Norberto Dreher
SÃO LEOPOLDO 2002
4
ELISABETH DO AMARAL ECKER
CONDIÇÃO FEMININA PROTESTANTE: UM ESTUDO DE CASO NA IGREJA PRESBITERIANA DO BRASIL
Dissertação aprovada como requisito
para a obtenção do grau de mestre no Curso de pós-graduação em História ibero-americana da Universidade do Vale do Rio dos Sinos, pela Comissão formada pelos professores.
Prof. Dr. Martin Norberto Dreher UNISINOS Profº Drº. Eliane Cristina Deckmann Fleck UNISINOS Profº Drº Wanda Deifelt
EST
SÃO LEOPOLDO, OUTUBRO DE 2002.
5
AGRADECIMENTOS
A Conclusão deste trabalho me permite refletir sobre cada momento
vivido e cada etapa superada que viabilizou o feito. Isto me faz reconhecer a
essência das pessoas que marcaram o processo e me sentir extremamente grata.
Inicialmente lembro-me do Prof. Dr. Martin Norberto Dreher, cuja
orientação, além de permitir minha caminhada, proporcionou, através de seu saber
e competência, o ânimo indispensável para persistir na execução do projeto.
Sou grata a Profª. Drª. Eliane Cristina Deckmann Fleck que, após leitura
criteriosa da pesquisa, me propôs sugestões coerentes e indispensáveis à melhoria
da mesma.
Minha gratidão aos demais professores do Curso de Pós-Graduação em
História da UNISINOS, que de forma direta contribuíram significativamente
durante o período de realização dos créditos, partilhando suas experiências e
conhecimentos, fazendo-me reconhecer a importância da pesquisa além de me
oportunizar o acesso ao embasamento teórico indispensável à execução do
trabalho.
Agradeço ainda o pessoal que atua em diversos setores da UNISINOS e
que me atendeu sempre que busquei auxílio.
Não posso deixar de lembrar entre aqueles à quem sou grata, das pessoas
que possibilitaram meu acesso a fontes indispensáveis a execução desta pesquisa.
Entre elas estão amigos, familiares, professores, autoridades religiosas, mulheres
membros da IPB, sócias de SAFs, bibliotecárias e auxiliares. Seria imprudente
nominá-las pois, correria o risco de ser injusta ao deixar de citar algum nome,
dado que consideramos de grande valia a contribuição de todos.
Minha profunda gratidão e reconhecimento ao Arney, que além de
incentivar-me, sempre acompanhou cada etapa, cada dificuldade e cada conquista
alegrando-se e/ou entristecendo-se a cada momento que isto era vivenciado por
6
mim. À ele, aos meus filhos e aos meus amados netos, razão concreta de um ideal,
dedico esta pesquisa.
7
SUMÁRIO
RESUMO...........................................................................
ABSTRACT.......................................................................
INTRODUÇÃO..................................................................01 1. Protestantismo Aspectos Dominantes..........................13
1.1 Mulheres Protestantes e Questão Cultural...............................14
1.2 Mulheres Protestantes e Questão de Gênero............................32
1.3 A Instalação do Protestantismo no Brasil................................44
1.3.1 Protestantismo de Imigração..........................................48
1.3.2 Protestantismo de Missão...............................................53
1.4 A Igreja Presbiteriana do Brasil...............................................62
1.5 Os Puritanos.............................................................................68
2. A Evolução Organizacional da IPB no Brasil...............77
2.1 Limites Establecidos na Hierarquia do Poder Presbiteriano....82
2.2 Estrutura Organizacional da IPB.............................................90
2.3 O Poder na Igreja.....................................................................97
2.4 Sociedades Internas do Modelo IPB......................................103
3 . Mulher e Presbiterianismo........................................112
3.1 Mulher e Pioneirismo Presbiteriano......................................114 3.2 O Perfíl da Mulher no início do século XX...........................118
3. 3 Mulher e Sistema Educacional Presbiteriano........................127
3.4 Mulher e Poder Instituído......................................................145
8
4. SAF em Revista Veículo de Informação e Formação..............................158 4.1 SAF Sociedade de Embaixatrizes e/ou
Sociedades de Auxiliadoras...................................................162
4.2 SAF em Revista Identidade com a
Realidade Social.....................................................................167
4.2.1 SAF e Temas Conflitantes....................................170
4.2.2 SAF e o Momento Político...................................174
4.3 A SAF e Movimento Dissidente da IPB................................183 4.4 A Virtude da Submissão em Revista....................................188
4.4.1 – SAF Um Veículo de Instrução Doméstico........198
CONCLUSÃO......................................................................204
BIBLIOGRAFIA..................................................................209
ANEXOS................................................................................225
9
RESUMO
A história do presbiterianismo no Brasil tem revelado aspectos
discriminatórios em seu contexto. O exclusivismo masculino no oficialato
presbiteriano é objeto de estudo desta dissertação. A análise sobre a estrutura de
poder em vigor faz reconhecer a permanência da sujeição feminina no sistema.
Possibilita, também, detectar inúmeras causas, entre as quais a presença de
nuances ideológicas deixadas pelos que implantaram a religião no país e a própria
herança cultural brasileira. Porém, fica evidenciado que as causas atuais decorrem
do aceite do modelo instituído pelos seus membros, da interpretação
andocêntrica e fundamentalista da Bíblia e da presença que um discurso cuja
pretensão é garantir o status quo vigente. O próprio instrumento de informação,
produzido, em sua essência, por mulheres e para elas, garante o exposto. Portanto,
muitas delas que se organizam em SAFs e que têm como leitura diária a “SAF em
Revista”, vêm perpetuando e transmitindo saberes que impedem a transmutação
do sistema. Outras, igualmente membros da IPB, mas que cultivam opiniões
desiguais, omitem-se, revela ndo desinteresse pelos espaços que sempre lhes
foram negados. As várias alocuções presentes na revista são suplantadas pelo
discurso mantenedor do sistema instituído. Porém, a participação ativa de
mulheres como Rute See, Miss Esther Cummings, Mary Cooke Lane, Cecília
Siqueira, Marina Magalhães Santos Silva e outras citadas, pode significar um
“abrir caminho” a avanços já legitimados em outras instituições que tiveram sua
origem na própria IPB.
10
ABSTRACT
The history of Presbyterianism in Brazil has revealed discriminatory
aspects in its context. The male exclusivism in the Presbyterian charge is the
object of studies of this dissertation. The analysis about the structures of the
power in validity, makes one to recognize the permanence of the female
submission in the septem. Also, enables to detect countless causes, among the
presence of ideological nuances left for those who implated the religion on parents
and the own cultural brazilian heritage. However, it is evident that the actual
causes happen due to the accepted pattern established by its members, from the
made interpretation and fundamentalist of the bible and the presence of a
discourse whose pretension is to guarantee the status quo established. The
instrument of information, produced, in its essence, by women and to them,
guarantees the exposed. Consequently, many of them, that organize themselves in
SAFs and that have as daily reading the “SAF magazine are pepetuating and
transmiting knowledge that imped the transmutation of the system. Othe rs,
equaly members of “IPB”, but cultivate different opinions, omit themselves,
reavaling disinterest for the space that were always denied. The several discourses
in question in the magazines are supplanted by the discourse sustained by the
established system. Nevertheless, the active participation of women as Rute See,
Miss Esther Cummings, Mary Cooke Lane, Cecília Siqueira, Marina Magalhães
Santos Silva and others who were mentioned, may mean an “opening course” to
the already legitimized progress in other instituons that had its origin at the IPB
itself.
11
INTRODUÇÃO
12
INTRODUÇÃO
Este trabalho nasceu de uma profunda curiosidade em compreender os
porquês que asseguraram à IPB1 o “Status”2 de conservadora. No decurso da
pesquisa foi possível reconhecer que a Instituição em questão mantém uma
estrutura organizacional patriarcalista.
A afirmativa acima decorre do fato de termos constatado que ao homem
é garantida exclusividade quanto ao direito de acesso às posições mais
significativas da hierarquia de poder da Igreja, mas à mulher é negada qualquer
representatividade no sistema instituído.
O fato exposto é legitimado não apenas através do discurso instituído
mas, também de instrumentos legitimadores do poder, tais como o Manual
Presbiteriano3 e Manual Unificado das Sociedades Internas4 que ditam os
regulamentos relativos à posição de todos os membros, comungantes5 ou não,
pertencentes ao meio presbiteriano.
Com base nos manuais citados, foi possível elaborar um parâmetro entre
a publicação inédita de 1951, respeitada como a Constituição da IPB, e o Manual
Unificado das Sociedades Internas com sua 7ª impressão no ano 2000. Isto
viabilizou o conhecimento das diretrizes estabelecidas, servindo de suporte ao
estudo de nossa problemática.
1 IPB – Igreja Presbiteriana do Brasil. 2 Status , segundo Lakatos é o lugar ou posição que a pessoa ocupa na estrutura social de acordo com o julgamento coletivo ou um consenso de opinião do grupo. É a posição ocupada pelo indivíduo respeitando os valores sociais estabelecidos pela sociedade. 3 Manual Presbiteriano – considerado e reconhecido pelos membros da instituição como a constituição da Igreja Presbiteriana do Brasil. 4 Manual Unificado das Sociedades Internas – além de apresentar breve histórico sobre cada sociedade interna da IPB, estabelece as normas específicas para os componentes das mesmas. 5 Comungantes – membros que aceitaram a doutrina da Igreja, professaram a fé (publicamente) e assumiram direitos e deveres instituídos pela Igreja e são admitidos à celebração eucarística, à santa ceia.
13
Para desenvolver esta dissertação optamos, metodologicamente, por um
estudo de caso, baseando-nos em pesquisa bibliográfica. Como se poderá
perceber, recorremos ao exame de dispositivos legais que regem a Instituição e à
análise de diversos documentos disponíveis como: atas, boletins, jornais, fotos,
etc., sobre os quais trataremos no decorrer da dissertação.
As publicações gerais, representadas por fontes inéditas e primárias, além
de algumas dissertações de mestrado e produções empíricas serviram como
embasamento teórico ao trabalho aqui proposto.
A possibilidade de observação livre na comunidade religiosa de Campo
Mourão – Pr, local onde residimos, e também em outras localidades onde tivemos
acesso, viabilizou a constatação de alguns aspectos descritos neste trabalho.
É mister deixar claro que o objetivo central da pesquisa é explicitar a
condição feminina na IPB considerando que a mulher, membro desta organização,
além de ter assimilado valores, princípios e ideologias, permanecer cotejando e
transferindo um pensar similar ao que foi instituído no período da criação da
Igreja no Brasil.
O período delimitado para este estudo priorizou a época de organização
do trabalho feminino na instituição, que data de 1884, e seu desenvolvimento até
aproximadamente 1970. Isto não impediu as buscas sobre a origem e evolução
histórica da IPB, cujos primórdios remontam aos idos de 1859.
Na constante busca por maiores esclarecimentos e no amealhar das fontes
existentes, constatamos que muitos autores se preocupam, em demasia, com o
aspecto doutrinário e institucional. Outros, reproduzem apenas relatos ditos
históricos que omitem a participação da mulher como agente da história da Igreja.
Com base nas fontes disponíveis, procuramos, inicialmente, esclarecer a
origem da Igreja e o modo como se processou sua implantação e expansão no
país.
14
Serviram, como fonte primária, alguns números da Imprensa Evangélica6
além do Diário de Ashbel Green Simonton7, escrito entre 1852-1867.
Entre outras obras escritas, destacamos a de Émile G. Léonard sobre o
“Protestantismo Brasileiro”, pioneira no tema, e publicada em 1951.
Observamos, igualmente, algumas publicações de historiadores
presbiterianos constatando modelos de narrativas sectárias 8 onde a figura feminina
não apresenta um caráter participativo na construção da história da Igreja. Ela é
citada, aqui e acolá, como mera auxiliar, como esposa de pastor e/ou missionário
e, às vezes, como alguém de destaque em determinada localidade ou família.
Isto pode ser exemplificado através da “História da Igreja Presbiteriana
do Brasil” em comemoração ao seu Primeiro Centenário9, de Júlio de Andrade
Ferreira que oferece um relato factual do período compreendido entre 1839 e
1950.
A obra citada menciona figuras de missionários norte-americanos,
privilegiando homens e, em raros momentos, deixando transparecer uma ou outra
figura feminina.
Sua produção não prima pelo aspecto crítico, mas descreve, com riqueza
6 Imprensa Evangélica – primeiro jornal evangélico, impresso no Brasil a partir de 1864 e criado por Simonton. 7 Ashbel Green Simonton – Primeiro missionário presbiteriano , oriundo dos Estados Unidos, do Seminário de Princeton; pioneiro que chegou ao Rio de Janeiro em 12-08-1859, onde fundou a 1ª IPB. 8 Sectárias – o termo utilizado traz o sentido da intolerância e intransigência presentes no discurso de historiadores presbiterianos que se colocam contrários a qualquer tipo de avanço que implique em transformação do modelo institucional presbiteriano. Essa mentalidade sectária impede a igualdade feminina de direitos em algumas funções da Igreja. João Dias de Araujo, em um breve artigo entitulado “Inquisição, fundamento e sectarismo, a prática teológica da Igreja Presbiteriana do Brasil”, in: Teologia no Brasil: teoria e prática, publicado pela ASTE 1985 afirma que em decorrência das tendências Inquisitorial e Fundamentalista, a partir de 1966 “a IPB foi se tornando cada vez mais sectária, deixando de ser igreja”. 9 Primeiro Centenário da IPB – comemora o ano da chegada do 1º Pastor Pres biteriano Ashbel Green Simonton em 1859 e as ações desenvolvidas até 1959. Neste ano, um projeto da Comissão Presbiteriana Unida do Centenário publicou um documento ilustrado sobre o Centenário da Igreja.
15
de detalhes, a origem, organização e expansão da IPB, destacando heróis,
utilizando um discurso de época, cuja metodologia coincide com outras obras que
citaremos.
Boanerges Ribeiro, pastor presbiteriano, desenvolveu escrito similar,
intitulado “A Igreja Presbiteriana no Brasil, da Autonomia ao Cisma”. Em sua
narrativa, a mulher permanece ocupando papel simbólico na história da
Instituição.
Também Carl Joseph Hahn, através de “História do Culto Protestante
no Brasil” , pouco subsídio oferece sobre a presença feminina em seu livro.
Outros estudiosos da ciência da religião desenvolveram pesquisas mais
elaboradas, cujos temas contribuíram sobremaneira para o alcance de nossa meta.
É possível citar, de Antônio Gouvêa Mendonça “O Celeste Porvir, a Inserção do
Protestantismo no Brasil” e, deste com Velasques Filho “Introdução do
Protestantismo no Brasil”.
Igualmente, obras de Martin N. Dreher e Rubem Alves foram relevantes,
considerando o esmero na apresentação de dados e detalhes muito bem
fundamentados. Suas pesquisas contêm um caráter crítico, viabilizando a análise
racional e coerente e, ao mesmo tempo, oportunizando uma visão diferenciada dos
aspectos formadores da História da Igreja. Entre as obras de Dreher, podemos
citar “A Coleção História da Igreja”, em 4 volumes; além de inúmeros artigos
publicados. De Rubem Alves, entre diversas obras publicadas podemos citar
“Protestantismo e Repressão”, “ O que é Religião”; O Enigma da Religião”.
Os autores mencionados e outros constantes de nossa bibliografia
serviram de suporte aos questionamentos surgidos no desenrolar da pesquisa.
Dentre as hipóteses levantadas, consideramos as seguintes: a) a questão
do predomínio do homem como detentor do poder de mando e liderança da Igreja;
b) o porquê da acomodação feminina frente à ideologia andocêntrica, transmitida
por um discurso que persiste; c) a influência da herança ibérica, cultural e
16
religiosa, no cotidiano brasileiro, dificultando o avanço, e mesmo um repensar,
voltado a possíveis mudanças.
Nossas indagações buscaram respostas também em estudiosas que se
dedicam ao aspecto cultural como, Mary Del Priori, Leila Mezan Algranti e Maria
Luiza Marcílio, entre outras.
A exemplo disto destacamos parte do estudo de Mary Del Priori que
salienta a importância da Igreja no período colonial, cuja função primordial era a
de servir de instrumento mantenedor da moral, garantindo ao homem o direito de
dominação e à mulher, o consentir com tal fato , como segue:
“Sermões e pastorais exaltando o sacramento do matrimônio serviam tanto para justificar a instalação de uma aparelho burocrático e afirmar o poder da Igreja no Novo Mundo, como exatamente para difundir as benesses desta falsa relação igualitária, no interior da qual o equilíbrio residia na dominação masculina e na consentida submissão feminina”. 10
Além do reconhecimento da influência patriarcal herdada da cultura
ibérica e transmitida às várias gerações brasileiras, procuramos mostrar também
uma outra presença étnica responsável pela definição dos padrões presbiterianos
adotados no Brasil.
O tema produzido pela historiadora Nancy F. Cott em referência “A
Mulher Moderna. O Estilo Americano de Vida”, in: “História das Mulheres no
Ocidente. O Século XIX” , clássico dirigido por Georges Duby e Michelle Perrot,
explicita com detalhes o estudo de vida da mulher nos Estados Unidos. Este fato
foi relevante em nossa pesquisa dada a presença da mulher americana no ambiente
presbiteriano brasileiro
10 PRIORI, Mary Del. As atitudes da Igreja em face da mulher no Brasil Colônia. São Paulo: Loyola, 1993, p. 171.
17
Analisar a organização das mulheres na Igreja significou estudar o papel
da imigrante vinda dos Estados Unidos, presente em todos os momentos
vivenciados pela história da IPB. O fato é amplamente divulgado pela SAF em
Revista11, órgão informativo e formativo das Sociedades Auxiliadoras Femininas,
com distribuição a nível nacional e escolhida como nossa principal fonte de
pesquisa.
A coletânea da SAF em Revista abrangendo o período de 1955 à 1970,
além de algumas obras sobre a história da Igreja, possibilitou o reconhecimento de
que mulheres norte -americanas se destacaram no meio presbiteriano brasileiro
como líderes, missionárias, professoras, administradoras de escolas, instrutoras de
arte e música. Nem todas se apresentavam como “esposas de pastor”. Muitas
vieram solteiras, outras, mesmo casadas, eram apenas visitantes, participantes de
congressos, encontros e passeios que lhes oportunizava difundir um discurso
aceito pelas Igrejas. Algumas vieram com função definida na organização, em
especial, para atuarem na área educacional.
Jether Pereira Ramalho em “Prática Educativa e Sociedade”, João
Paulo R. R. Aço com “A Voz Missionária (1930-1949) como Veículo Para
Educação Informal da Mulher Metodista” e Marlise Regina Meyrer em
“Evangelisches Stift: Uma Escola para “Moças das Melhores Famílias””,
estudaram o assunto. É verdade que o trabalho de Marlise R. Meyrer foi dedicado
a um modelo educacional de origem alemã e não norte -americana, serviu, porém,
de base comparativa em nossa pesquisa.
A educação sempre foi fator relevante entre os presbiterianos, bem como
entre outros grupos religiosos de diferentes denominações12 evangélicas tendo em
11 SAF – A Sigla tem como significado ser uma Sociedade Auxiliadora Feminina. É uma das Sociedades Internas da IPB, e é composta apenas por mulheres. Serviu como denominação à revista que é produzida e publicada no Brasil desde 1955 e destinada a todas as mulheres presbiterianas. 12 Denominações – O protestantismo norte-americano representado por missões no Brasil, foi de caráter denominacional. Vieram congregacionalistas, metodistas, batistas , presbiterianos...
18
vista que a leitura bíblica sempre foi imprescindível ao crente 13, cujo dever era a
busca do conhecimento dos fundamentos cristãos.
Nossa pesquisa mostra que, além do aspecto intelectual e instrutivo
promovido pela ação educacional, esta serviu, igualmente, como uma nova opção
de atuação para a mulher fora do espaço doméstico. Isto lhe valia como um
trabalho digno e apropriado, já que existiam reservas quanto às atividades a serem
desenvolvidas por ela. Neste aspecto, a presença norte -americana se destaca.
Mesquida, ao tratar sobre o assunto, pondera:
“A educação formal sem discriminação racial, nem ideológica, destinada a todos que queriam (e podiam) aprender, foi sempre um instrumento privilegiado de penetração e de difusão do protestantismo, bem como de propagação de valores morais e de idéias às quais os protestantes se achavam ligados.14
A ação feminina em um campo alheio ao doméstico está fundamentada
na história cultural e de gênero. Quanto à história cultural é possível comprovar o
predomínio do cristianismo europeu trazido pelos colonizadores e,
posteriormente, pelos imigrantes sobre as etnias dominadas e representadas
inicialmente por negros e índios. Igualmente, é possível detectar a influência do
modelo patriarcal fundamentador das distinções de gêneros e que estabeleceu
funções e posições hierárquicas distintas para homens e mulheres não só na
família, como também na sociedade.
A exemplo disto, Fernando Novais, em sua “História da Vida Privada no
Brasil”, oferece-nos subsídios através da produção de Marina Maluf e Maria
Lúcia Mott, que tratam do “Recôndito Mundo Feminino”, dando mostras da
realidade vivenciada por homens e mulheres, com funções definidas e
13 Crente – uma das identificações destinadas aos não-católicos no Brasil, originalmente, porém, tem sentido similar ao conceito “católico praticante”. 14 “MESQUIDA, Peri. Hegemonia Norte-Americana e Educação Protestante no Brasil. São Paulo: EDITEO, 1994, p. 116.
19
diferenciáveis em família. A responsabilidade do homem em garantir o sustento
da prole, bem como a da mulher, de ser a “rainha do lar”, apresentam algumas
distorções na sociedade.
Marina Maluf e Maria Lúcia Mott afirmam que o ser “rainha do lar”
tornou a atividade de muitas delas, mantenedoras da economia familiar, ignorada
e,
“Além disso, ocultou a importância social e econômica do trabalho prestado pelas mulheres dentro de casa; tornou invisível não apenas o trabalho produtivo realizado pelas mulheres como também o das crianças; camuflou a dureza e a dificuldade do serviço doméstico, o cansaço e o desgaste físico; limitou as atividades consideradas legítimas exercidas pelas mulheres; levou o trabalho feminino a ser visto como acessório, temporário; justificou o ganho diferenciado entre homens e mulheres, e abafou o grito doloroso daquelas que ousaram denunciar as iniquidade que sofriam”15
A Igreja Presbiteriana do Brasil, como espaço público reforça a condição
excludente do gênero feminino ao garantir ao homem a exclusividade de acesso
ao oficialato e ao poder de mando na sua hierarquia interna.
A mulher permanece excluída da estrutura de governo da Igreja e a
organização de poder da instituição conserva -se nos moldes implantados no Brasil
desde o século passado.
O discurso institucionalizado coloca o mundo doméstico como um
espaço privado onde a mulher deve ter papel prioritário. Porém, é importante
ressaltar que a ação feminina exterior a este espaço resultou em conquistas
15 MALUF, Marina e MOTT, Maria Lucia. Recôndito do Mundo Feminino, in: História da Vida Privada no Brasil. Vol 3. São Paulo: Schwarcz Ltda, 1998, p. 421.
20
notáveis em diferentes áreas, a saber, no social, econômico, político, intelectual e
profissional.
Tendo privilegiado a SAF em Revista como fonte primordial desta
investigação, foi possível detectar a presença de um discurso androcêntrico apesar
de dirigido à mulher.
Muitos dos artigos são produzidos por homens. Porém, quando escrito
por mulheres, percebe-se a marca do pensar masculinizante. Assim, a revista aqui
estudada espelha uma Igreja marcada pelo pensar masculino, sendo instrumento
da preservação de valores que remontam ao século XIX, quando a IPB foi
implantada no Brasil.
Nossa dissertação foi desenvolvida em quatro capítulos. No primeiro
deles, tratamos sobre os fatores que caracterizaram a presença do protestantismo
no Brasil, em especial do presbiterianismo, evidenciando o papel da mulher no
processo evolutivo da instituição.
Inicialmente, analisamos a mulher relacionada ao aspecto cultural e de
gênero procurando salientar a influência étnica na construção dos valores
perpetuados pela religiosidade.
Com referência ao item gênero, apresentamos dados comprobatórios da
permanente submissão feminina, embasados num referencial apresentado por
Marlene Neves Strey, organizadora da obra “Mulher Estudos de Gênero”, que
inclui temas alusivos à problemática feminina, elaborados por autoras como
Marilene Marodin, Áurea Tomatis Petersen, Marilene Silveira Guimarães,
Jussara Reis Prá, Marta Julia Marques Lopes, a própria organizadora do trabalho
entre outras. Também a Revista Brasileira de História nº18, produzida através da
ANPUH16, organizada por Maria Stella Martins Bresciani com diversos artigos
alusivos à questão como o de Eleni Varikas, “Pária – uma metáfora da Exclusão
das Mulheres”; de Esmeralda Blanco B. de Moura, “Além da História Têxtil: o
16 ANPUH – Associação Nacional dos Professores de História.
21
Trabalho Feminino em atividades Masculinas”, e outros de Elizabeth Souza-
Lobo, Marisa Corrêa, e Luiz Marques. Igualmente, as autoras Guacira Lopes
Lauro e Ana Maria Bidegain apresentam análise sobre gênero, algumas delas já
citadas.
O terceiro item trata de uma síntese histórica sobre a instalação do
protestantismo no Brasil e está subdividido em dois sub-itens que descrevem os
tipos que adentraram o país.
Ainda no primeiro capítulo discorremos sobre a Igreja Presbiteriana do
Brasil dada sua relevância para uma análise sobre o modo de ser da mulher neste
contexto. Igualmente, fazemos referência ao puritanismo, fator influente no
processo de estruturação da instituição, bem como na seleção dos valores
instituídos.
O Segundo Capítulo da pesquisa traz esclarecimentos sobre o aspecto
organizacional da Igreja, considerando sua evolução e o estabelecimento de
limites inseridos na hierarquia de poder da organização. Além da estrutura política
da instituição, o trabalho contempla as sociedades internas que compõem o
sistema, esclarecendo as respectivas funcionalidades.
O Terceiro capítulo está calcado na figura feminina. Prioriza seu papel
como contributo fundamental na construção e preservação da religião estudada.
Destaca sua presença desde a origem do movimento missionário no Brasil e sua
atuação na implantação e desenvolvimento do presbiterianismo em nosso
território. O capítulo reflete sobre o poder instituído e a manutenção da mulher em
uma posição de exclusão das funções consideradas relevantes na hierarquia
instituída.
O Quarto capítulo é, na verdade, a análise do discurso da SAF em
Revista, tida como veículo de formação e informação de mulheres presbiterianas.
Nossa pesquisa coloca e confronta o discurso da SAF em Revista e a
ação de mulheres que compõem a sociedade feminina presbiteriana.
22
Consideramos os aspectos políticos, sociais, econômicos, morais, principalmente,
a questão do modo de ser e pensar da mulher presbiteriana e da sua relação com a
preservação dos valores instituídos.
Com este trabalho, pretendemos apresentar subsídios de reflexão ao
elemento feminino envolvido no processo para que este possa reconhecer, mais
claramente, o porquê de sua limitada participação na instituição e, em especial,
nos espaços hierarquicamente destacáveis.
Considerando que este assunto também diz respeito à IPB, como um
todo, queremos que sirva de subsídio a uma análise mais criteriosa por parte dos
interessados e, em especial, daqueles a quem forem oportunizadas proposições em
prol de avanços no modelo em questão.
23
1. PROTESTANTISMO – ASPECTOS DOMINANTES
24
1. PROTESTANTISMO – ASPECTOS DOMINANTES
Ao procedermos a análise do protestantismo17 presente no Brasil,
privilegiamos a denominação presbiteriana para um exame mais detalhado.
Consideramos os aspectos mais relevantes que marcaram a história da Igreja
refletindo numa postura peculiar de seus membros em termos modo de pensar e
agir. Tais aspectos serão explicitados na seqüência do trabalho.
1.1 . MULHERES PROTESTANTES E QUESTÃO CULTURAL.
Os valores e concepções assimiladas no meio presbiteriano, bem como
sua ideologia18 ,não foram criados aleatoriamente a partir da introdução da Igreja
no Brasil. Mas, sim, foram sendo construídos e adotados através da hegemonia de
culturas que se fizeram presentes no decorrer da formação da sociedade.
Nossos antecedentes, colonizadores portugueses, através de uma
conquista ordenada, garantiram o estabelecimento do poder político da Igreja
Católica no Brasil. Esta implantou a religiosidade que ocupou um espaço
considerável no cotidiano, servindo de instrumento regulador dos bons costumes
entre os indivíduos.
Léonard afirmava que
17 Protestantismo, conforme afirma Weber, esteve inicialmente representado pelo calvinismo no século XVI, pelo Pietismo, Metodismo e pelas seitas que se derivaram do movimento Batista. Sua evolução ocorreu na Europa. Porém, segundo relato de Dreher, entre 1880 e 1914, com o fenômeno do Imperialismo a expansão protestante atinge também o Brasil. O protestantismo foi, na realidade, um processo religioso que englobou um significado social e político. 18 Para Antônio G. de Mendonça o “protestantismo brasileiro” é representado por diversos protestantismos. Esses se inseriram no Brasil, inicialmente com os movimentos migratórios, e, posteriormente, através da entrada de missionários no Brasil. O início se deu nos primórdios do século XIX.
25
“O catolicismo brasileiro do fim do século passado assemelhava-se ao europeu do século XVI. Ainda hoje, em muitos pontos do Brasil, se vivem e se reproduzem os choques, as polêmicas, as reações, as perseguições religiosas, da segunda metade do século passado. Esse ambiente seria muito parecido com aquele em que se operou a Reforma do século XVI.19
É importante considerar que os valores e dogmas instituídos pela religião
no Brasil têm um legado patriarcal que se manifesta através de um discurso
discriminatório, impondo condições diferentes a homens e mulheres quanto às
posições a serem ocupadas no contexto social.
Uma análise elaborada pela historiadora Miriam Lifchitz M. Leite sobre
o assunto traz a seguinte afirmativa.
“... A eficácia dos métodos da Igreja Católica que manipulam sentimentos de culpa e estabelecem tabus demonstra-se pela profunda incorporação da tradição cristã no estabelecimento do que é vicio e virtude, da diferenciação de papéis entre o homem e a mulher, mesmo em populações desligadas ou indiferentes à religião”.20
Também deve ficar explícita a presença, no período colonial, de
diferentes tipos femininos, incluindo índias, negras, mestiças e brancas, sendo
que, entre as últimas, mulheres de diferentes níveis sociais e origens. A população
feminina era constituída por livres e escravas, pobres e ricas, solteiras e casadas,
órfãs ou com família, filhas legítimas e/ou bastardas, etc., todas sob o estigma da
inferioridade biológica e da determinação cristã da subserviência.
A religiosidade serviu para fundamentar a construção da imagem
feminina como santa e/ou demoníaca. Em decorrência da associação com a
19 LÉONARD, Émile G. O Protestantismo brasileiro. São Paulo: ASTE, 1951, p 7. 20 LEITE, Miriam Lifchitz Moreira. Outra Face do Feminismo: Maria Lacerda de Moura. São Paulo: Ática, 1984, p. 9.
26
Imagem de Maria, mãe de Jesus, e com Eva, que tentou Adão, a mulher é
personificada como modelo de mãe, e/ou como pecadora.
Priore afirma que:
“Sendo a mulher naturalmente um “agente de Satã”, toda sexualidade feminina podia prestar-se à feitiçaria como se seu corpo, ungido pelo mal, se tornasse o território de intenções malignas...” 21
Nesta mesma linha, Carlos Roberto Nogueira apresenta a relação entre o
Cristianismo e o Paganismo, justificando sua visão sobre o Diabo presente na
sociedade, e escreve:
“Assim, o Diabo, incorporado aos dogmas do Cristianismo, representa as dificuldades do mundo material e espiritual, válvula de escape de uma nova fé, que busca conquistar o seu espaço no meio de crenças mais antigas e arraigadas no seio da população e que necessita de uniformidade das consciências para triunfar.” 22
A multiplicidade que caracterizava a sociedade da época garantia status
diferenciado aos dominantes e dominados. A Igreja permanecia, buscando meios
que garantissem o aportuguesamento social e a adoção dos dogmas católicos por
todos.
Para garantir o equilíbrio social e a preservação dos “bons costumes”, o
casamento era apresentado como solução. Isto visava promover o crescimento
populacional sem pecado, trazendo uma idéia de segurança à mulher e satisfação
ao homem.
Não só a religiosidade, mas também a economia exercia papel
fundamental no cotidiano brasileiro.
21 PRIORE, Mary del. op. cit, p. 240/241 22 NOGUEIRA, Carlos Roberto F. O Diabo no Imaginário Cristão. São Paulo: Ática, 1986, p.23.
27
O período colonial foi marcado por um modelo econômico monocultor
agro-exportador, baseado no regime latifundiário escravista que garantia a
manutenção da riqueza e do exclusivismo metropolitano.
Segundo Fernando A. Novais, a ascendência da Inglaterra sobre as
demais potências metropolitanas da Europa fez eclodir crises no século XVIII,
impondo alterações no sistema colonial. A evolução do industrialismo inglês
determinou reajustes no comércio internacional e, conforme afirma:
“Assim, na segunda metade do século XVIII, convergem duas tendências no comércio internacional e colonial, e essa convergência era de molde a pôr cada vez mais em xeque o sistema colonial como um todo. De um lado, o desenvolvimento irreversível da revolução industrial inglesa exigia cada vez mais a abertura dos mercados ultramarinos consumidores de produtos manufaturados; por outro lado, a política de autonomização e desenvolvimento econômico dos países ibéricos ia cada vez mais dificultando a penetração dos produtos ingleses nos mercados do ultramar pelas vias metropolitanas. O resultado dessa coincidência de tendências divergentes tinha necessariamente de fazer com que os interesses do industrialismo inglês se orientassem no sentido da ruptura do pacto colonial, removendo-se o intermediário das metrópoles”. (grifo nosso)23
Se o sistema colonial como um todo estava em xeque, as relações sociais
e de trabalho também estavam. O escravismo se faz questionável frente ao
capitalismo nascente em decorrência do industrialismo inglês.
O Brasil, que no século XVIII tem na Inglaterra sua principal fonte de
mercado, sofre pressões e opta por medidas ajustáveis à nova política mercantil.
23 NOVAIS, Fernando A. Portugal e Brasil na crise do Antigo Sistema Colonial (1777 – 1808). São Paulo:. Hucitec, 1989, p. 123.
28
O mercado é aberto à imigração visando inovar a força de trabalho e a produção.
Imigrantes eram tidos como representantes de uma cultura mais avançada que
poderiam propiciar benefícios à realidade brasileira. Esta presença migratória no
Brasil não ocorreu de forma homogênea. Regiões foram se diferenciando de
acordo com grupos étnicos que se fixavam de época em época. Não apenas
europeus, mas também, “norte-americanos”, se instalam no país, concorrendo para
sensíveis transformações no contexto nacional.
A presença das diversas etnias traz reflexos manifestados através de
ideologias que geram conseqüentes transformações sociais, econômicas e
políticas. Concepções ligadas as protestantismo e ao liberalismo, entre outras
chegaram com o movimento migratório.
Nossa atenção estará voltada, em especial, à presença norte-americana,
considerando que foi determinante para o surgimento do presbiterianismo no país.
É importante lembrar que a base filosófica do protestantismo implantado
teve relação com os padrões do catolicismo em vigor. A abordagem sobre a
autoridade masculina se identificava plenamente com a instituída na sociedade da
época.
Os valores advindos da Reforma Protestante reforçavam e legitimavam a
discriminação da mulher.
Priore focaliza a questão do poder masculinizante, bem como da
influência da religião quanto ao estabelecimento de limites ao que é permitido ou
não à mulher. Para ela, em se tratando de costumes,
“A Reforma Protestante e a Contra Reforma Católica, introduzindo mais austeridade nos costumes, dão o tom severo dos discursos, e a mulher torna-se o alvo dos pregadores que subiam ao púlpito para acusá-la de luxúria.
29
A necessidade de recato é uma regra.”24
A autora citada faz uma abordagem sobre a dificuldade em romper com
a negação dos papéis históricos representados pela mulher, salientando a
importância da “Nouvelle Historie” que proporcionou, a partir de 1970,
oportunidade de debate sobre o papel da família e da sexualidade. Observou ainda
que, através da História das Mentalidades oportunizou-se mais estudos sobre a
figura feminina.
Sua pesquisa viabilizou o reconhecimento do transplante cultural da
Metrópole, fonte geradora de valores para a família brasileira dentro dos moldes
cristãos em que homem e mulher permanecem ocupando papéis distintos.
A presença imigratória a partir do século XIX deveria viabilizar a
transformação social, garantindo aos indivíduos o acesso à igualdade de direitos
no conjunto da sociedade.
A mulher permanecia como parte excludente, sendo-lhe dificultado ter
qualquer representatividade no processo produtivo, político e econômico, mesmo
sendo elemento indispensável no processo. Porém, a economia do pós guerra, já
no século XIX, transformou-a em mão-de-obra abundante e barata estimulando-a
a organizar-se em prol de conquistas mais significativas no processo produtivo do
país.
O momento foi marcado pela ocorrência de movimentos feministas nos
anos 30, conflitos ideológicos e o surgimento de discursos que propunham um
novo modelo de sociedade com um tipo diferente de mulher.
A escolarização fazia, então, parte do cotidiano de muitas, oportunizando
não apenas um avanço intelectual como também o acesso a uma maior criticidade
frente aos problemas da época.
24 PRIORI, Mary Del. A mulher na História do Brasil. Raízes Histórica do Machismo Brasileiro. São Paulo: Loyola, 1955, p. 16.
30
Porém, isto não adentrou as fronteiras presbiterianas. A figura feminina
componente deste espaço a tudo assiste, sem deixar -se influenciar totalmente.
Mesmo buscando beneficiar -se do conhecimento, do saber, do dir eito de trabalhar
fora do espaço doméstico, não deixa que isto interfira na sua posição de mulher
submissa, esposa perfeita e boa mãe. Enfim, o que lhe é oportunizado serve como
suporte para uma vida tida como mais perfeita na Igreja. Ela não se fez presente
em movimentos feministas. Só os presenciou.
É necessário lembrar que a imigração norte -americana ocorreu em dois
momentos e, portanto, marcou duas fases da história da Igreja e de suas mulheres.
O primeiro momento da missão presbiteriana acontece em 1859 com a
presença de missionários que vinham espontaneamente, objetivando implantar a
nova doutrina. A mulher que os acompanha não traz uma fala de liderança ou
modernização. Apesar de advir de uma sociedade em transformação, não difunde
as ideologias desta. Ela incorpora os objetivos religiosos da organização
missionária e se adapta ao sistema em vigor no país que adota para viver. Se
coloca simplesmente como esposa de pastor e/ou missionário.
O segundo momento acontece após a guerra da secessão nos Estados
Unidos. Entre muitas mulheres que chegam, inúmeras se destacam pela
competência profissional e intelectual que apresentam. Ocupam posições
diferenciadas na comunidade, desempenhando funções de professoras, líderes
comunitárias e, até mesmo, esposas participativas nas atividades de seus
respectivos maridos.
Muitas destas mulheres emigraram dos Estados Unidos, juntamente com
sua família, após a Guerra Civil e a conseqüente derrota do sul, em 1865,
carregando um conjunto de sentimentos e experiências que embasaram suas ações
no Brasil.
A exemplo disto Léonard escreve:
31
“Estes missionários sulistas conservaram-se por muito tempo fiéis à lembrança de sua causa nacional. Diz-se de uma missionária da missão de Nashville, fundadora de um grande colégio, Miss Charlotte Kemper, que ela se inspirava no exemplo de Stonewall Jackson, um dos heróis dos confederados”. (grifo nosso) 25
O mesmo autor faz referência a outras personagens norte-americanas
apesar de omitir seus nomes. Isto pode ser observado quando se refere à Escola
Americana de São Paulo.
“Começaram modestamente em 1870, com aulas particulares que a esposa do missionário Chamberlain ministrava em sua própria casa, uma hora por dia, e onde recebia as crianças que a intolerância religiosa impedia de freqüentar as demais escolas.” (grifo nosso) 26
Léonard cita ainda a professora que acompanhara os primeiros
missionários metodistas e que abriu uma escola em Piracicaba (SP).
Sobre esta professora, Mendonça diz ser como Miss Watts e destaca sua
experiência no magistério e a origem cristã burguesa. Ainda enumera outras,
citando Miss Kuht, Miss Effie Lenington, ambas atuantes na Escola Americana de
Curitiba – Paraná.
O papel desempenhado por estas e outras mulheres, apresentado nesta
dissertação, procura evidenciar que as presbiterianas puderam conviver com
personagens diferentes. Conviveram com um modelo de mulher, cuja autonomia e
liderança era possível. Porém isto não foi suficiente para garantir a mudança de
postura das mesmas.
Ao analisarmos a SAF em Revista, no período de 1955 a 1970, não
25 Léonard, Émile G. O Protestantismo Brasileiro, Estudo de Eclesiologia e História Social. Trad. Linneu de Camrago Schutzer, São Paulo: ASTE, 1963, p. 76 26 Ibid, p. 134.
32
encontramos qualquer relato sobre liderança feminista inserida na organização
das mulheres da Igreja, pelo contrário, deparamo-nos com artigos de alerta sobre
os riscos de idéias novas. Inúmeras manifestações demonstram preocupação e
interesse em priorizar a questão religiosa frente a qualquer outro fator. O primeiro
Boletim da SAF, publicado em 1955, traz algumas indagações sobre o papel da
mulher.
“O que faremos para que os elementos de preparo e de cultura não sejam absorvidos por outras organizações, não cristãs, perdendo o seu valioso concurso para o trabalho da Igreja? (grifo nosso)27
As mudanças no modo de vida da família presbiteriana aconteceram em
decorrência da evolução natural da sociedade e não pela manifestação concreta de
vontades. Ocorre, portanto, uma transformação silenciosa e que muitas vezes é
dificultada pelo espírito reacionário presente no interior da instituição.
Nossa afirmação decorre da constatação de que muitas mulheres deste
meio não optaram pela própria profissionalização, nem mesmo manifestaram
intenção em conquistar sua realização pessoal fora do espaço doméstico. Isto se
vincula à realidade social em que estavam inseridas.
A IPB não foi organizada por comunidades homogêneas no que se refere
ao poder aquisitivo de seus adeptos. A realidade econômica das regiões onde se
instalaram congregações e igrejas refletia a maneira humilde dos habitantes e, por
conseguinte, da mulher.
Mendonça, ao relatar uma cena religiosa sertaneja, deixa transparecer a
presença de indivíduos pertencentes às variadas camadas sociais e que estão
presentes na Instituição.
“... O bairro começava com o sítio do Nhonho Terra, espécie de patriarca do bairro
27 WERNER, Nady. Estudos Bíblicos. Boletim nº 1 da Secretaria Geral do Trabalho Feminino. São Paulo: Presbiteriana, março/1955.
33
e o mais abastado. Seguiam-se os de Arlindo Terra, filho de Nhonhô, o do dito Neném Coutinho, genro de Nhonhô, e de Osório Balduino, a tal ovelha negra, e o de Osório Monteiro, o último sítio ruim, quase só campos e sapezais. Neném Coutinho e Osório Monteiro eram os subpatriarcas da congregação presbiteriana, composta pelas quatro famílias de sitiantes e mais as dos agregados, também ligados a eles por laços de parentesco. Toda a congregação, quarenta ou cinqüenta pessoas, compunha uma família extensa,”28
O autor traz um relato minucioso sobre homens pobres e livres, presentes
na sociedade da época e que adentraram o meio presbiteriano. O fato reporta-se ao
período de implantação do presbiterianismo a partir de 1859.
É sabido que os primeiros missionários e pastores encontraram no Brasil
uma realidade marcada pelo estigma do escravismo e do analfabetismo. Isto
perdurará por algum tempo e deixará marcas indeléveis por todo século XIX,
adentrando ao XX. A organização missionária, a partir de 1870, preocupou-se em
criar colégios, visando atender demanda de interesse da elit e, e escolas paroquiais
para os mais humildes.
Nosso estudo pretende deixar claro que tanto no meio rural, como no
urbano, proprietários e pessoas mais abastadas aderiram à nova religião e eram
acompanhadas por seus agregados e empregados.
Não é de estranhar que, pelas diferentes posições ocupadas pelos
presbiterianos na sociedade, as mulheres também apresentassem posturas
diferenciáveis.
A organização destas em sociedade interna da Igreja só teve início em
1884, quando surgiu, em Pernambuco, a Primeira Associação Evangélica de
Senhoras. Porém, apesar deste dado em relação à organização feminina, não há
28 MENDONÇA, Antonio Gouvêa. O Celeste Porvir – A Inserção do Protestantismo no Brasil. São Paulo: Paulinas, 1984, p. 159.
34
estudos sobre a razão desta organização e, no meio presbiteriano se comemora
apenas a organização da SAF considerando o ano de 1928 quando foi eleito pelo
Supremo Concílio um Secretário Geral para coordenar as atividades da SAF a
nível nacional. A veiculação da SAF em Revista só se deu a partir de 1955,
portanto quase um século após a implantação da Igreja no Brasil.
O discurso deste instrumento traz raras abordagens sobre a categoria
pobre e simples, presente na frente pioneira rural da instituição. Pelo contrário,
evidencia valores e influência urbano-burguesa, em razão das lideranças da
organização como um todo.
Constatamos que, desde o primeiro boletim, o aspecto citado já está
evidenciado. Alguns relatos sobre ilustres visitantes norte-americanos descrevem:
“Henry L. Mc Corkle, um dos redatôres da revista “Presbyterian Life”. Um mês esteve no Brasil em contacto com os líderes da Igreja Presbiteriana visitando S. Paulo e outros centros importantes para seu trabalho.
... O casal Moomaw. A Snra Mayo Moomaw é Vice-presidentte da organização Feminina da Igreja Presbiteriana do Sul dos Estados Unidos. Representando a nossa Secretaria D. Bárbara J. da Silva e a Secretária fizeram-lhe uma visita”. 29
Como a informação acima, inúmeras outras notícias apresentam
rotineiramente anúncios sobre reuniões de Federações30, contatos com diretorias
de SAFs, visitas a diversas cidades e estados, etc.
Ao afirmarmos sobre a influência burguesa da revista, podemos oferecer
29 WERNER, Nady B. Boletim Informativo da Secretaria Geral do Trabalho Feminino nº1 S.Paulo: Presbiteriana, Março/1955, p. 4. 30 Federação – Conjunto de SAF de Igrejas e Congregações de diversas cidades, pertencentes a uma região e que tem uma cidade como sede e uma diretoria para coordenar e servir de elo de ligação entre as mesmas.
35
exemplos. Blanche Lício, líder presbiteriana e membro da Secretaria Geral do
Trabalho Feminino no Brasil, em um artigo sobre um modelo de Lar Cristão,
estabelece as seguintes normas:
“1º Deixar a casa limpa a roupa preparada, e a comida adiantada, no dia anterior.
2º Fazer todas as compras no sábado.
3º Deitar-se cêdo no sábado a noite.
4º Levantar-se a uma hora que permita ir a Igreja, sem pressa, e sem atraso.
5º Assistência aos cultos de toda a família, incluindo empregados.
6º Não inventar comidas trabalhosas, para que todos possam descansar.
7º Não tomar parte em diversões mundanas.
8º Dedicar tempo a boa leitura, a passear no campo com as crianças, e que também seja um dia para a família.
9º Visitar os abatidos, infermos, tristes, os indiferentes, encarcerados, etc.
10º Que seja um dia guardado de tal modo que tenhas novas forças espirituais e físicas para as tarefas da semana.”31
Neste estatuto reconhecemos itens que destoam da realidade rural pobre.
Uma família que vivencia o dia a dia na roça não sentiria prazer em um
passeio no campo ao domingo, seu local de labuta constante. Igualmente, não
parece coerente esperar uma boa leitura em um ambiente humilde, onde o
analfabetismo ainda pode ser realidade.
O item que se refere às compras do sábado também não condiz com o
31 LICIO, Blanche. O Lar Cristão. SAF em Revista. São Paulo: Presbiteriana, 1956, p. 15.
36
espaço rural e com o “modus vivendi” do trabalhador urbano pobre.
Um outro artigo da mesma autora, num outro momento, reflete sua
consciência quanto aos limites e carência cultural presentes na sociedade. Neste,
ela estabelece alguns objetivos do trabalho feminino em prol da superação de
problemas, como segue.
“Para instrução e informação contamos com a “SAF em Revista”, o “Brasil Presbiteriano”, órgão da nossa Igreja que deve se colocado em cada lar, livros evangélicos e outros recomendáveis e , finalmente, os cursos de Treinamento. Devemos melhorar o nosso intelecto e instruir-nos nas coisas do Reino, a fim de melhor servirmos à Causa...
2) Cada SAF mantenha pelo menos uma escola de alfabetização para adultos, na qual sejam também ministradas noções de higiene.”32
Estes dois momentos apresentados pela líder comprovam que a IPB não
era composta apenas por indivíduos advindos dos setores médios da sociedade,
mas também por outros advindos dos setores mais humildes.
Dadas as dificuldades que afetavam as diferentes categorias sociais,
muitos temas estão voltados ao estímulo espiritual. As tristezas, incertezas,
conflitos familiares, angústias são colocados como provas a serem superadas
através da fé como nos mostra um dos modelos.
“Irmãs, quando vierem as angústias, as incertezas, quando a nossa jornada for difícil a ponto de se assemelhar ao Vale da Sombra da Morte, não devemos temer mal algum; Ele estará conosco; a Sua vara e Seu cajado nos consolarão.
32 LICIO, Blanche. Organização do trabalho Feminino. SAF em Revista. São Paulo: Presbiteriana. jul/1959, p.
37
Cristo disse: No mundo tereis aflições, mas tende bom ânimo: eu venci o mundo!” 33
O artigo citado foi embasado no texto bíblico de Salmos 23.
Apesar da constante utilização de discursos similares, detectamos
vestígios de rebeldia interna . Muitos jovens, filhos de famílias presbiterianas, ao
conquistar relativa autonomia, abandonavam os princípios e costumes,
aparentemente assimilados, deixando de freqüentar a Igreja.
A relativa autonomia, à qual nos referimos, está vinculada ao trabalho e
sua conseqüente remuneração, possibilitando ao jovem participar dos problemas
econômicos da família. Um artigo do Rev. Benjamim Moraes traz a questão da
“moderna colaboração da esposa e dos filhos no sustento do lar”34 quando afirma
que “nosso regime econômico, no Brasil, é de transição (caótico).” Tal referência
é de junho/1964. Este momento de participação coincide com as crises da
mocidade, relacionadas ao momento de amadurecimento e de busca de liberdade
pelos jovens.
Azenath de Moraes Coelho, que produziu muitos artigos para o
Departamento de Educação da Revista SAF, afirmava que:
“Em geral os pais desconhecem os fenômenos que se passam com os filhos, esquecidos das suas dificuldades já passadas e então, a guerra estabelece-se em casa: pais não entendem os filhos e os conflitos vão se tornando cada dia mais terríveis. Se em casa não se harmonizam, não querem saber da Igreja também e assistimos o triste quadro dos jovens deixarem as suas congregações.”35
33 SAF em Revista. Boletim 3. O Cristão em Face ao Sofrimento. Autor desconhecido. São Paulo: Presbiteriana, Out/1955, p. 12. 34 MORAES, Benjamim. Problemas Econômicos do Lar. As várias Soluções. SAF em Revista. São Paulo: Presbiteriana, jun/1964, p. 7 35 COELHO, Azenath de Moraes. Mãe e Filho. In SAF em Revista. São Paulo: Presbiteriana, jul/1965, p.11
38
O fato apresentado era mais comum entre rapazes, considerando que as
moças estavam mais subjugadas à autoridade paterna e, posteriormente, à do
marido, garantindo a preservação dos valores institucionalizados.
Enquanto ao homem era permitido maior liberdade e tolerância,
decorrente da ideologia patria rcal, a mulher permanecia privada da liberdade sob
vários aspectos. Desde jovem era preparada e educada, com base em um ideário
ético que propunha o desenvolvimento de virtudes tidas por fundamentais, tais
como, delicadeza, singeleza, temperança, humildade , cultura geral, beleza interior,
etc.
Muitos temas produzidos e divulgados pela revista visam legitimar tais
princípios.
Lydia Leitão, líder feminina da Igreja , com base em um relato histórico e
sua interpretação dos Salmos 143:10, apresenta o seguinte modelo de mulher:
“Foi dócil, foi bondosa para com o esposo espalhando felicidade no lar. E procurou melhor desenvolver o talento da oração. Orou com perseverança vivendo em comunhão perfeita com Deus. Viveu dentro do lar uma vida de oração e poder.”36
Quando o assunto é trabalho, o que conta para a mulher não é sua
independência econômica, nem sua realização pessoal e/ou profissional, nem
habilidades e/ou competência técnica, mas sim, a missão de colaborar.
O Rev. Dr. Laudelino de Oliveira Lima faz referência a um sermão por
ele ouvido e descreve:
“Mostrou o Dr. Benjamin Moraes que a mulher, dentre outras funções nobres que exerce, tem a missão de educar e instruir as crianças, tem a responsabilidade de agir também fora do lar em funções de colaboração e não de competição com o
36 LEITÃO, Lydia. Submissão. In: SAF em Revista nº3 São Paulo: Presbiteriana, Out/1955, p. 13.
39
homem, e como elemento de amálgama para desenvolver e fortalecer o amor no seio da humanidade, especialmente nos dias que correm, atribulados pelos fatores de perturbação de uma época de transição social” (grifo nosso) 37
Em vários momentos encontramos discursos que desestimulam a busca
pela realização pessoal.
Em um dos artigos escritos por Otília M. Teixeira Braga e destinado a
servir de estudo em reuniões departamentais38, a autora afirma
“O conforto, a prosperidade e o sentimento de segurança e independência são os melhores ardis que Satanás tem para fazer repousar e adormecer o nosso espírito, cegando, ensurdecendo e insensibilizando-nos na vida moral e espiritual.” 39
Ao expor a questão, a preocupação predominante é estimular a mulher ao
serviço da Igreja. Ela é questionada quanto à sua responsabilidade de atuar nas
necessidades dos que a cercam.
Pode-se extrair da SAF mais do que uma leitura. É possível constatar que
apesar do discurso patriarcal proeminente, muitas moças buscam por formação e
trabalho nos centros urbanos.
Alguns artigos informativos confirmam o fato. Eis um modelo sob o
título: “Você sabia?”
“... 4º - que a Igreja de Copacabana, que tem como pastor Rev. Benjamim Moraes, mantém um lar presbiteriano para moças do interior que estudam ou exercem atividades no
37 LIMA, Laudelino de Oliveira. A Missão da Mulher nos Dias que Correm in: SAF em Revista. São Paulo: Presbiteriana, Jun/1966, p. 23 38 Departamentais – reuniões de subgrupos da Sociedade Auxiliadora Feminina, para estudos variados e que ocorrem semanalmente obedecendo norma do Manuel das Sociedades Internas Presbiterianas. 39 BRAGA, Otilia M. Teixeira. Vigilância e Trabalho. In SAF em Revista. São Paulo: Presbiteriana, Nov/1963, p. 6.
40
Rio, oferecendo-lhes ambiente cristão e doméstico pela mínima contribuição financeira.”40
O exposto não se limita ao Rio de Janeiro. Também o Instituto José
Maria da Conceição em Jandira - SP, fundado em 1928, oferecia cursos para
turmas mistas, recebendo moças de diversas partes do Brasil. Isto é descrito no
fascículo de julho de 1957.
As mutações que ocorrem na sociedade estão retratadas na SAF em
Revista através de artigos reveladores do momento que está sendo vivenciado.
Ainda que se privilegiem temas que tratam a mulher como mantenedora da moral
e dos bons costumes, ocorrem outros que destacam o mérito de sua presença no
processo de transformação social como participante. Já se admite que a mulher
deva desenvolver-se para estar mais preparada e poder resolver os problemas de
família.
Altiva Alt dos Santos ao escrever sobre a infância afirma que “educar é
um processo que requer do educador eficiência, perseverança e fibra” e comenta:
“Diante do avanço vertiginoso da civilização moderna, que voa a jato, a escola vem tentando acompanha-la de trem, e a família a cavalo... Daí o sentirem-se alarmados e frustrados em seus métodos educativos: estão sempre aquém do adiantamento de seus alunos e filhos. E é bem verdade, confessemos, que por meio comodismo pernicioso, muita vez, cruzamos os braços ante a invasão do mal. A hora que vivemos é uma hora de ação. Há muito que fazer! Aquela irmã que se sentir desajustada em suas atividades, seja no lar, na Igreja ou na sociedade procure reajustar-se. É urgente e inadiável que nos “reeduquemos para educar”. (grifo nosso).41
40 WERNER, Nady. Você Sabia? In: SAF em Revista. São Paulo: Presbiteriana, 1957, p. 14. 41 SANTOS, Altiva Alt dos. Secretaria Geral do Trabalho da Infância in: SAF em Revista. São Paulo: Presbiteriana, mar/1967, p.7.
41
Ao mesmo tempo que a autora procura responsabilizar apenas a mulher
pela educação dos filhos, permite um vislumbrar de crescimento através de um
discurso voltado à reeducação pessoal. Porém, se o discurso de Altiva Santos
vislumbra um repensar, a ideologia conservadora da Igreja o impede. Reeducar
exigiria uma reconstrução de valores e idéias, o que não ocorre.
A Igreja reforça as diferenças ao responsabilizar a mulher pela garantia
de satisfação e sucesso do chefe da família e dos filhos, no lar e fora dele. Como
também em atribuir a ela a função de propiciar o desenvolvimento moral,
educacional e espiritual da prole, de acordo com os padrões estabelecidos por ela.
Raramente se atribui ao homem a responsabilidade da educação dos filhos, ou
mesmo da satisfação e realização feminina.
O discurso se torna claro ao observarmos um modelo escrito por Laura
de Souza Lupo sobre os problemas dos adolescentes. Apesar de afirmar “que os
pais são o espelho dos filhos” estabelece à mulher maior responsabilidade. Para
ela,
“A mãe verdadeiramente cristã, encontrará a resolução para êsses problemas à luz da Palavra de Deus, preparando seus filhos para viverem uma vida cristã na sociedade, preparando-os moralmente e não só religiosamente, para viverem no mundo e serem cristãos em toda parte.”42
A preservação de valores tidos como patriarcal têm servido como tema
de pesquisa para aqueles que se dedicam ao estudo de gênero, como é possível
comprovar.
42 LUPO, Laura de Souza. A Fuga dos Adolescentes da Igreja. In: SAF em Revista. São Paulo: Presbiteriana , Jun/1967, p.7.
42
1.2. MULHERES PROTESTANTES – QUESTÕES DE GÊNERO.
Pensar na herança patriarcal implica reconhecer a invisibilidade da
mulher nas decisões que configuram as definições da vida política, econômica e
cultural de um povo.
O entendimento deste fenômeno é possível através do estudo de gênero.
Para isto, é necessário lembrar que a origem da desigualdade institucionalizada
está vinculada à própria origem da ciência como o é entendida no hodierno.
Ao explicitar sobre a origem e consolidação da ciência, Bidegain afirma:
“A ideologia da ciência, por um lado, sancionou o saque contra a natureza e, por outro, legitimou a dependência da mulher da autoridade do homem e o domínio de umas nações sobre outras; desse modo justificou-se a sua invisibilidade, assim como a dos marginalizados pelo processo de desenvolvimento capitalista, chegando ao ponto de considerá-los “povos sem história”.
A ciência e a masculinidade associaram-se no domínio da natureza e da mulher, a ideologia científica e a discriminação sexual sustentaram-se mutuamente”.43
A ciência que surgiu na Europa graças à Revolução Científica dos
séculos XV, XVI e XVII fundamentou ideologicamente as conquistas européias
no mundo todo. Daí a realidade vivenciada no Brasil e a justificativa da
construção cultural de sua sociedade.
A IPB não ficou ilesa aos valores implantados através das conquistas
européias. O indivíduo evangelizado já estava imbuído da ideologia que garantia
as diferenciações genéricas. Isto estará presente na elaboração de um
43 BIDEGAIN, Ana Maria. Gênero como Categoria de Análise na História das Religiões in: Mulheres: Autonomia e Controle Religioso na América Latina. Petrópolis: Vozes, 1996.
43
organograma que determina papéis distintos para homens e mulheres em seu
interior.
As justificativas apresentadas podem ser identificadas com o resultado do
estudo de Guacira Lopes Louro que conclui:
“Relacionada, a princípio às distinções biológicas, a diferença entre os gêneros serviu para explicar e justificar as mais variadas distinções entre mulheres e homens. Teorias foram construídas e utilizadas para “provar” distinções físicas, psíquicas, comportamentais; para indicar diferentes habilidades sociais, talentos ou aptidões; para justificar os lugares sociais, as possibilidades e os destinos “próprios” de cada gênero.”44
Ao avaliarmos a influência cultural presente no âmbito presbiteriano, foi
possível detectar a assimilação de valores existentes antes da inserção da Igreja.
Homens e mulheres que adotaram o presbiterianismo a partir de 1859 já
estavam de posse de um discurso garantidor das distinções genéricas.
Esses indivíduos, formadores de famílias, eram os responsáveis pela
transmissão de normas e valores e, consequentemente, pela definição dos
significados de masculinidade e feminilidade.
Marodin afirma que:
“A estrutura social é que prescreve uma série de funções para o homem e para a mulher, como próprias ou “naturais” de seus respectivos gêneros. Essas diferem de acordo com as culturas, as classes sociais e os períodos da história.
A maioria dessas categorizações, estabelecidas pela sociedade, é transmitida via família, pois essa é a fonte fundamental de
44 LOURO, Guacira Lopes. Gênero, Sexualidade e Educação. Uma Perspectiva Pós- estruturatista. Petrópolis: Vozes, 1997, p. 45.
44
transmissão de normas e valores da cultura, ensinando aos indivíduos o que significa ser masculino ou feminino a partir do nascimento.”45
Ao observar a mulher no contexto presbiteriano no início da organização
da Igreja, fica claro a presença de um modelo patriarcal de família. O fato fica
mais evidenciado em congregações de áreas rurais e em regiões caracterizadas
pela economia agrária onde é priorizada à ela a responsabilidade pelos afazeres
domésticos. Este fato decorre da expectativa que se tem quanto ao papel feminino
no âmbito familiar e na sociedade. A família permanece sendo um foco de atenção
da instituição.
Rosalina M. de Lima, em um comentário destinado à reflexão feminina,
faz uma análise sobre Provérbios 31:10 a 31 e descreve:
“A mulher virtuosa apresentada por Salomão, olha pelo governo de sua casa. Geralmente temos alguém que nos ajude nos serviços de casa. Mas o nosso trabalho é organizar tudo de maneira que tudo tenha seu tempo próprio. Às vezes eu me pergunto e todas nós devemos fazer essa indagação: Temos olhado pelo governo de nossa casa? Nosso marido é conhecido pelas roupas bem cuidadas, pelo trajar?... Já paramos para pensar na responsabilidade de um botão?...46
Outra característica presente no modelo patriarcal é a tarefa procriadora.
Nas regiões pioneiras do presbiterianismo, muitas mulheres se destacaram devido
ao seu papel de valorosas mães. Podemos citar a Srª Francisca Barreto da Silva,
membro da IPB de Miguel Couto no Rio de Janeiro que ao falecer, em maio de
1961, deixou 19 filhos, 37 netos e 3 bisnetos. Este aspecto também fica
evidenciado no catolicismo.
45 MARODIN, Marilene. As relações entre o homem e a mulher na atualidade. In: Mulher Estudo de Gênero, Marlene Neves Strey. São Leopoldo: UNISINOS, 1997, p. 10. 46 LIMA, Rosalina M. de Comentando. In SAF em Revista. São Paulo: Presbiteriana, Jun/1961, p.7.
45
Outra mulher citada pela SAF em Revista foi D. Orminda Cesar, uma das
fundadoras da Sociedade Feminina em Jetiquibá MG, com 10 filhos, 44 netos, 17
bisnetos e 2 tetranetos. Algumas outras são aludidas em documentos da Igreja.
Porém, encontramos, na mesma revista citada, um discurso que busca o
desenvolvimento da mulher e sua melhor participação no meio em que está
inserida.
Isto mostra uma aparente dicotomia interna. Se num momento a mulher
foi colocada apenas como a rainha do lar, num outro, ela surge sob uma visão
mais consciente. As transformações sociais justificam as colocações de
Guaraciaba S. de Abreu ao perguntar:
O que é lar no século XX? Onde começa e onde acaba? O lar estende-se a todas as modalidade de trabalho, sejam oficinas, fábricas, escritórios, campos, enfim em toda parte onde há atividade humana...
Precisamos aceitar novos costumes e não ter a tendência de querer preservar aquele mesmo ambiente em que fomos criados”47
O advento de inovações tecnológicas e a inserção da mulher no espaço
produtivo afetam a definição de funções generalizadas culturalmente. Os valores
que estabelecem para o gênero feminino a obrigação de garantir o bem estar da
família implicam num ideário complexo.
Guaraciaba considera que “quando toda mulher compreender que a
mansidão e a doçura são alavancas capazes de levantar o mundo então teremos
lares e não apenas casa”. Ao mesmo tempo coloca a responsabilidade mútua, isto
é, homem e mulher responsáveis pela família.
Na seqüência do discurso abordado, continuamos com um modelo de
47 ABREU, Guaraciaba Silveira de. A Mulher no Lar in: SAF em Revista. São Paulo: Presbiteriana, 1963, p. 8/9.
46
mulher que foge aos padrões da normalidade. É a exposição de um modelo de
perfeição e, portanto, como afirma a autora:
“Olha pelo governo de sua casa e não come o pão da preguiça.
Levantam-se seus filhos e chamam-na bem-aventurada como também seu marido...
Não é preguiçosa, não desperdiça seu tempo lendo novelas, explorando escândalos, deitando e levantando tarde, suas horas preciosas são gastas em trabalho útil em proveito dos que dela dependem.”48
Apesar da infinidade de obrigações atribuídas ao feminino desde a
Reforma Protestante49, o protestantismo abriu-lhe espaço a um possível saber. A
alfabetização foi-lhe facultada dada a necessidade do estudo e aprendizado bíblico
e sua transmissão aos filhos.
Jean Baubérot, em estudo que desenvolveu sobre a mulher protestante,
fala da ocorrência de conseqüências referentes à ambivalência inerente à condição
feminina, assim como suas contradições diante das repartições de papéis
masculino e feminino. Argumenta o autor que:
Em muitos casos esta contradição resolve-se concretamente, confiando à mulher protestante a missão de secundar activamente o marido e de ser para ele realmente um parceiro. Ela aparece, em grande parte, como corresponsável pelo bem estar afectivo e simultaneamente pela ascensão cultural e social do casal e da família...”50
É possível reconhecer que o modelo de mulher protestante, que embasa
nosso estudo, traz como herança a influência cultural estrangeira, incluindo uma
48 Ibid, p.11 49 Reforma Protestante – foi um movimento reformatório deflagrado pelo monge agostiniano –Martin Lutero (1483-1546), na Alemanha, que resultou no processo divisionário da Igreja Ocidental. 50 BAUBÉROT, Jean. Da Mulher Protestante. In: História das Mulheres no Ocidente. O século XIX. São Paulo: EBRADIL, 1991, p. 240.
47
gama de valores que serviram de sustentáculo ao movimento missionário, em
especial, o norte-americano. Além da influência ideológica inserida no contexto
nacional é mister considerar os costumes vivenciados na época em que o fato
ocorreu.
Os costumes vigentes na sociedade da época impunham diferentes papéis
para homens e mulheres. Se ao homem estava reservado o acesso ao público com
direitos e liberdades que a natureza lhe conferia, à mulher era limitado o âmbito
privado do lar e, certamente, todos os deveres que este espaço lhe reservava.
O homem, representava a autoridade, o poder, o dever de ser o chefe e o
direito de ser respeitado e obedecido.
À mulher estava facultada a submissão, o dever de obedecer, atender,
servir e satisfazer.
Marconi, ao expor sobre diferentes tipos de família, cita a patriarcal,
matriarcal e a paternal ou igualitária. Para melhor compreensão da influência
patriarcal no meio presbiteriano, apresentamos seu conceito:
“a) Patriarcal – se a figura central é o pai, que possui autoridade de chefe sobre a mulher e os filhos (senhores de engenho no nordeste brasileiro). 51
A realidade brasileira do século XIX refletia discriminações não apenas
de sexo, mas igualmente a étnica e a social.
O escravismo ainda era gerador da produção, garantindo às oligarquias o
poder político e econômico de então. A religião oficial do Estado estava adaptada
a esta realidade, impregnada de um discurso voltado à manutenção do “status
quo”.
Priorizamos a mulher presbiteriana visando elucidar as distinções entre o
51 MARCONI, Marina de Andrade. Instituição Família e Parentesco. In: LAKATOS, Eva Maria, Sociologia Geral.. São Paulo: Atlas, 1992, p. 171
48
modelo feminino que adentrou no Brasil em finais do século XIX e a figura
brasileira participante do espaço instituído. A primeira, oriunda dos Estados
Unidos, além de sufragista já vivenciara movimentos feministas de repercussão
nacional e vinha como líder profissional cuja competência e ideal tinha real
significação.
Baubérot descreve o fato, mostrando a participação feminina nos
movimentos de Dispertamento52 do século XIX, na luta contra a escravatura, na
organização do diaconato e, em especial na busca pelo acesso ao ministério
pastoral. Este movimento que incluía a luta pelo direito de pregação em púlpito já
se fazia presente na Igreja Presbiteriana norte -americana.
“O problema da pregação do alto de um púlpito começou a ser seriamente colocado a partir da década de 1870. Entre os quacres existem tradicionalmente mulheres pregadoras. Uma delas, Sarah Smiley, foi convidada nessa altura a pregar em algumas igrejas presbiterianas, em Brooklyn por exemplo.”53
No segundo caso, ao nos referirmos às presbiterianas brasileiras, os
movimentos feministas não se fizeram presentes na Igreja.
O ritmo de adesão às novas formas de comportamento, isto é, à
participação em organizações instituídas na sociedade, não eram tão significativas
quanto a das mulheres norte-americanas.
As presbiterianas brasileiras assimilaram o regime conservador que a
Igreja incorporou.
Este regime é legitimado através de normas estabelecidas por estatuto
52 Dispertamento – Movimento revivalista do final do século XIX que legitimava às mulheres lugar de maior importância, com base nas epístolas de Paulo. BAUBÉROT, Jean. Da Mulher Protestante. In: História das Mulheres no Ocidente. O Século XIX. São Paulo: EBRADIL, 1991. 53 BAUBÉROT – op. cit., p. 253
49
próprio que garante apenas aos homens acesso às funções de governo e de
ministério.
Deste modo, as funções mais respeitadas e tidas como de maior
representatividade na estrutura organizacional da Igreja são ocupadas
exclusivamente pelo gênero masculino. Estes garantem o poder de governar e
tomar decisões em nome da Igreja. Para que isto ocorra, a organização da
instituição possui um Conselho, formado por presbíteros eleitos e cuja presidência
é de competência do pastor. Todos os elementos que compõem o Conselho devem
ser homens, membros comungantes e que apresentem idoneidade comprovada. O
Manual Presbiteriano expõe:
“Art. 50 – O presbítero regente é o representante imediato do povo, por este eleito e ordenado pelo Conselho, para, juntamente com o Pastor, exercer o govêrno e a disciplina e zelar pelos interêsses da igreja a que pertencer, bem como de tôda a comunidade, quando para isso eleito ou designado.”54
Como vemos, além do poder de governo, o presbítero tem o poder de
disciplina.
O Código de Disciplina estabelece os propósitos da mesma como: “Tôda
disciplina visa edificar o povo de Deus, corrigir escândalos, êrros ou faltas,
promover a honra de Deus e o próprio bem dos culpados.”55
Rubem Alves analisa este poder, reconhecendo a ação de uns sobre a
definição da vida de outros no ambiente religioso e afirma:
“Interessa –nos indicar que a disciplina é um ato comunitário -jurídico, pelo qual se interdita ao pecador a participação nos sacramentos. Ele poderá estar presente fisicamente, no local onde se celebram os cultos. Mas a Igreja lhe nega o direito de
54 Manual Presbiteriano – IPB, São Paulo: Presbiteriana, 1951. 55 Código de Disciplina. Manual Presbiteriano. São Paulo: Presbiteriana, 1951, p.65.
50
participar naquilo que é a sua própria essência: o sacramento.” 56
O fato diz respeito ao nosso estudo, por constatarmos que a punição parte
do Conselho e este é formado apenas por homens. Porém, é visto como um ato
comunitário, considerando que a escolha dos componentes do mesmo pela
comunidade legitima o poder a eles concedido.
Portanto no Brasil, o poder lhes foi outorgado no momento da escolha
destes. A mulher brasileira presbiteriana assimila e repassa, através da educação,
as diferenciações pertinentes à instituição.
É necessário considerar que o presbiterianismo, vindo dos EUA, se
desenvolveu no país a partir da segunda metade do século XIX. Inúmeras
mulheres americanas que aqui chegaram no final deste século e início do século
XX, já vivenciara movimentos feministas peculiares em seu país de origem, não
só no espaço religioso como na sociedade em geral.
O mundo todo presenciava movimentos que repercutiam em toda
sociedade européia. Em Versalhes, em dois “Congressos Internacionais das
Obras e Instituições Femininas”, ocorridos em 1889 e 1890 respectivamente,
prevalece a presença de protestantes. Segundo Baubérot.
“Neles se constata que a “questão da mulher” está “infinitamente mais avançada” na América, na Dinamarca e na Suécia do que em França (Mme Legrand – Priestley). Esses congressos são inteiramente representativos, daquilo que é possível chamar o movimento protestante feminino...”(grifo nosso).57
A mulher protestante norte-americana já participara de questões sociais
relevantes, tais como a luta contra a escravatura e a busca de direitos no ambiente
religioso.
56 ALVES, Ruben A. Protestantismo e Repressão. São Paulo: Ática, 1982, p. 209. 57 BAUBÉROT. op. cit., p. 252.
51
Baubérot descreve a atuação de mulheres afirmando, inclusive, que
algumas discursavam em igrejas para considerável platéia mista. Isto estimulava
reações questionadoras por parte daqueles que discordavam do conteúdo dos
discursos feitos por estas mulheres.
Este fato possibilita a prática de atitudes machistas por parte do próprio
clero protestante que reage frente ao apoio dado a elas pela Igreja. O autor citado
dá o exemplo da Igreja congregacionalista, o que não significa que outras
denominações tenham estado fora do problema, visto que a abrangência atingia a
sociedade num todo.
“... A cumplicidade das Igrejas na manutenção de uma situação de inferioridade dos negros, mesmo quando livres, foi denunciada. A extensão desta tomada de consciência feminina, o conteúdo dos discursos feitos, não podiam deixar de desagradar a uma grande parte do clero protestante. Por essa razão, a associação dos pastores congregacionalistas publicou uma carta pastoral que afirmava, com o apoio de citação do novo te stamento que o papel das mulheres não consistia em tratar dos assuntos públicos.”58
O que se pode extrair do texto é que para os líderes religiosos protestante
não é a questão social que importa, mas, sim, a própria caracterização de gêneros
e a definição dos papéis a serem desempenhados pelo homem e/ou pela mulher. O
objetivo foi coibir o avanço feminino em assunto que, evidentemente, não
interessava aos líderes religiosos.
A atitude dos pastores nos EUA, já em 1837, traz em seu bojo uma clara
discriminação relacionada à figura feminina. Fica explícita a diferenciação que
faziam dos indivíduos frente à sociedade, garantindo a manutenção de uma
ideologia discriminatória.
58 Ibid, p. 248
52
No contexto da ação pastoral, a distinção de direitos não se limita à
questão étnica e/ou econômica, mas assume uma maior abrangência atingindo a
questão de gênero, quando define que “homens podem” e “mulheres não
podem” tratar de assuntos públicos.
Não importa tratar aqui o que podem uns e outros não. É necessário
reconhecer a presença de um discurso unilateral. Este é produzido apenas por
pastores homens, que se utilizam da interpretação bíblica para conquistar
credibilidade e legitimar suas verdades.
O pesquisador francês Baubérot, ao desenvolver pesquisa sobre
“Protestantes contra a escravatura”, descreve o pensamento dos homens aos
quais fazemos referência, esclarecendo que a interpretação dada aos problemas da
época e aos textos bíblicos utilizados era deles mesmos.
O exposto não limitou a ação feminina nos Estados Unidos. A busca da
mulher por conquistas no campo social e religioso continuou. A questão da
escravatura neste país passava a partilhar com uma nova polêmica, ou seja, estava
presente também a questão feminina e as diferenças existentes no âmbito social.
Isto serviu de estímulo ao feminismo protestante do século XIX não só nos EUA
como também na Europa.
Do mesmo modo que o elemento masculino se utilizou da Bíblia como
instrumento justificador de sua posição de domínio e poder, as mulheres
apresentam uma interpretação peculiar sobre o discurso bíblico o que as coloca
em igualdade de condições perante Deus.
Há momentos em que o discurso se torna conflitante pelo fato de
apresentar um radicalismo, onde uma parte das protestantes não se mostra
interessada em lutas reivindicatória s, mas apenas busca a igualdade nas relações
entre os sexos, visando o respeito e a integração entre os mesmos.
Mesmo considerando que a figura da protestante norte-americana
53
ocupava posição de destaque na construção de uma história de conquistas no
âmbito do direito ao acesso na hierarquia da Igreja instituída em seu país, no
Brasil a mesma não propagou mudanças. Este modelo de mulher consciente e
participativo, no espaço brasileiro se fez líder como mera colaboradora.
O momento vivenciado posteriormente à Guerra da Secessão (1861-
1865) promoveu a vinda de uma leva de imigrantes e missionários norte-
americanos ao mesmo tempo em que garantia, nos Estados Unidos, a afirmação e
credibilidade das organizações femininas. É bom lembrar que este fator contribuiu
para a expansão presbiteriana no Brasil.
Mendonça relata que, em 1868, ocorreu o estabelecimento da missão da
Igreja Presbiteriana do Sul dos Estados Unidos em Campinas, considerando o fato
como favorável à expansão presbiteriana.
Lembra ainda que:
“Em 1868, o Sínodo Presbiteriano da Carolina do Sul enviou os missionários Edward Lane e G. Nash Morton, que se estabeleceram em Campinas. No entanto, o atendimento religioso aos confederados de Santa Barbara não parece ter sido o objetivo exclusivo da Igreja do Sul, porque logo mais, em 1873, os missionários William Leconte e J. Rockwell Smilh foram enviados para o Recife...”59
Neste momento, a organização missionária foi fundamental no
desenvolvimento do protestantismo brasileiro. Também contou com a influência
na construção de um modelo de mulher que procurava imitar os padrões e valores,
apresentados pelas professoras, missionárias e esposas de pastores que agiam
ativamente no espaço onde chegava.
Como a mulher que chegava já havia presenciado a luta pelo acesso ao
59 MENDONÇA, Antonio Govêa. O Celeste Porvir A Inserção do Protestantismo no Brasil, São Paulo: Paulinas, 1984, p. 25.
54
ministério e também convivera com conflitos até o momento da guerra, isto
concorreu para que ela se afirmasse nas ações organizacionais da Igreja, como
afirma Baubérot.:
“... No entanto, depois da Guerra da Secessão, o poder das organizações controladas pelas mulheres afirmou-se no seio de várias denominações (baptistas, metodistas, episcopalianos, etc.) nomeadamente no que se refere às actividades missionárias. As suas finanças (geridas, no norte, pelas próprias mulheres) e a sua influência permitiram-lhes ampliar a sua pressão.”60
Para conhecer a extensão da ação de homens e mulheres no processo de
implantação do presbiterianismo no Brasil, é necessário avaliar como isto ocorreu.
1.3. A INSTALAÇÃO DO PROTESTANTISMO NO
BRASIL.
A presença do protestantismo no Brasil não significou um acontecimento
isolado da história do país. Pelo contrário, foi resultado de um conjunto de fatores
decorrentes da evolução sócio-econômica e política que tornou necessária a
abertura no campo religioso.
O Brasil, em sua evolução política, vivenciou a transferência da família
real portuguesa, em 1808, transformando-se, somente em 1815, de Colônia em
Reino Unido de Portugal e Algarves. A partir deste fato, o país não seria mais o
mesmo, pois como sede do Governo Real, melhorias deveriam ser efetivadas. E
este é um momento de importância para nossa investigação.
60 BAUBÉROT, Jean. op. cit., p. 253.
55
Entre as conseqüências da presença Real no Brasil, chegam também
reflexos da política liberal que crescia no Estado Moderno Europeu.
Este fato teve sua origem já no século XVI, com a decadência da
autoridade eclesiástica na esfera econômica.
Ramalho afirma que:
“O Estado nacional solidifica sua função de responsável pelo bem-estar social (ou seja pelo funcionamento pleno da economia de mercado) em detrimento da posição ocupada anteriormente pela Igreja. O mercantilismo é o primeiro passo dado pelo crescente Estado secular no caminho da plena realização do liberalismo. Ele simplesmente transfere, na sua primeira fase, da Igreja para o Estado, a idéia de controle social”. 61
Conflitos entre a França e Inglaterra em busca da hegemonia política e
econômica na Europa resultaram na transferência da Corte Portuguesa para sua
Colônia Brasil. Os países beligerantes seguiam uma política liberal, voltada para o
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61 RAMALHO, Jether Pereira. Prática Educativa e Sociedade Um estudo de Sociologia da Educação. Rio de Janeiro: Zahar, 1976, p. 32/33.
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63 DREHER, Martin N. A Igreja Latino-Americana no Contexto Mundial. São Leopoldo: Sinodal, 1999, p. 203.
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65 RAMALHO, Jether Pereira: Prática Educativa e Sociedade. Um Estudo de Sociologia da Educação. Rio de Janeiro: Zahar , 1976, p. 35
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66 WEBER, Max. A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo. 1999, São Paulo: Pioneira, p.56-57.
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67 Muito instrutivo para compreensão do termo pseudo-pastores é a obra de Martin N. Dreher “Igreja e Germanidade. Estudo crítico da história da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil”. Informa que a designação é referente aos leigos nomeados pelas comunidades luterana do Rio Grande do Sul, na falta de Teólogos, desde o estabelecimento da imigração alemã.
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68 Diaconisas - mulheres que fazem parte da hierarquia de algumas Igrejas evangélicas e que desempenham funções ligadas ao ministério pastoral. A dissertação de mestrado em Teologia de Ruthild Brakemeier sob o título “O Surgimento de um Modelo de Diaconato Feminino, Sua Implantação no Brasil e Perspectiva para o Futuro” apresentado em 1998 na Escola Superior de Teologia, S. Leopoldo, é bastante elucidativa sobre o tema.
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69 DREHER, op. cit., p. 225.
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70 DREHER, Martin N. A Igreja Latino – Americana no Contexto Mundial. 1999, São Leopoldo: Sinodal, p. 89-90. 71 KREUTZ, Lúcio. Modelo de Uma Igreja imigrante: Educação e Escola. In: Populações Rio Grandenses e Modelos de Igreja. Org. Martin N. Dreher. São Leopoldo: UNISINOS, 1998, p. 208.
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72 DREHER, op. cit., p. 145.
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73 MENDONÇA, Antônio Gouvêa. O Celeste Porvir. A Inserção do Protestantismo no Brasil. São Paulo: Paulinas, 1984, p.55.
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74 MENDONÇA, Antônio Gouvêa; VELASQUES Filho, Prócopo. Introdução ao Protestantismo no Brasil. São Paulo: Loyola, 1990, p. 32.
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75 Justin R. Spaulding – Foi um dos representantes da Sociedade Bíblica Americana, fundada em 1816, que veio para o Brasil. Era metodista e dividia seu tempo como colportor e proselitesta. VELASQUES Filho, Prócoro faz referência à sua pessoa na obra Introdução ao Protestantismo no Brasil. São Paulo: Loyola, 1990, p. 101.
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76 Kidder – “Pastor metodista norte-americano que percorreu o Brasil durante a minoridade de D. Pedro II. Manteve excelente relação diplomática com Padre Diogo Antonio Feijó, Regente Imperial, sugerindo a adoção do chamado “catecismo de Montpellier” de autoria de Colbert, para ser usado juntamente com a Bíblia como texto de leitura nas escolas públicas de São Paulo.” David Gueiros Vieira, em sua obra “O Protestantismo, a maçonaria e a Questão Religiosa no Brasil”publicada em Brasília pela Editora UNB, 1980, relata sobre Kidder.(p. 31).
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77 DREHER, Martin N. Op. Cit. p. 226.
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78 Jansenismo – movimento que teve início em meados do século XVII e trouxe como objetivo principal a luta em prol da Reforma e o reavivamento interno da Igreja Católica na Europa. Seu líder foi Fleming Cornelius Otto Jansen. 79 VIEIRA, op. Cit., p. 29.
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80 KLEIN, Carlos Jeremias – Presbiterianismo Brasileiro e Rebatismo. Barueri: Simpósio, 2000, p. 62.
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81 LEONARD, op cit p. 32.
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82 Destino Manifesto – implica na ideologia que defendia a supremacia norte-americana e seu dever de transmitir a religião e cultura protestante a povos tidos como culturalmente mais atrasados por estes.
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××××××××××××××V•××××××××××××××××××××׬+ +¬×××××××××××××××
×××××××××V V¬×××××××××ficava com a dos missionários, porém, isto não
impedia a ação dos mesmos.
O fato é explicitado por Mendonça e Velasques da seguinte forma:
“... É por isso que há um visível descompasso com a sociedade, descompasso que é historicamente explicável: no momento em que o protestantismo foi inserido na
83 DREHER, op cit p. 226
242
sociedade brasileira, esta se achava num estágio de desenvolvimento anterior à sociedade norte -americana, por isso o protestantismo foi recebido como vanguarda do progresso e da modernidade...” 84
O protestantismo de missão que veio para o Brasil não foi oriundo da
Europa, mas dos Estados Unidos, onde já havia sofrido transformações e
adequações relacionadas à vivência do povo norte-americano. Isto significa que os
valores apregoados no Brasil já estavam modificados em função da ideologia que
embasava a ação das organizações criadas para este fim.
Inúmeras organizações missionárias foram criadas nos Estados Unidos
para atender os projetos das diversas denominações instituídas no país. Todas
enviavam representantes para divulgar a religião e, igualmente, a cultura pré-
idealizada. Estes representantes, muitos dos quais pastores e/ou missionários,
vinham acompanhados de suas respectivas esposas, sobre as quais há pouca
referência. Porém, é possível reconhecer que o elemento feminino serviu de apoio
no processo de implantação do protestantismo no país.
À exemplo do que foi afirmado, mencionou-se a obra “A Introdução do
Protestantismo no Brasil”, de Mendonça e Velasques Filho, que apresenta uma
diminuta referência à Srª Sara P. Kalley como autora de hinos, cantados por
muitas igrejas até o hodierno.
Outra ação de importância na implantação do protestantismo brasileiro
foi a viabilização de funcionamento da Escola Dominical pela Srª Kalley. Esta
característica, própria do protestantismo, possibilita a participação ativa de
adultos, jovens e crianças, respeitadas quaisquer que sejam as diferenças, no
estudo doutrinário de inúmeras denominações espalhadas pelo território
brasileiro.
84 MENDONÇA e VELASQUES, op cit, p. 13
243
A Igreja que se instalava pela ação missionária se fez sustentar por
discurso patriarcal. Sua implantação foi liderada pelo gênero masculino tido
como mais capaz, desenvolvido e culto da espécie humana, oriundo de uma
sociedade que se mostrava mais moderna e avançada. Eram eles os representantes
de uma cultura superior frente à nascente sociedade brasileira que concordava em
pertencer a uma situação inferior.
Mesmo tendo permanecido escravocrata e com acentuados sinais
discriminatórios em seu conjunto de valores, nada ofuscava o brilho que
caracterizava a realidade norte -americana. Havia credibilidade quanto ao regime
econômico implantado na América do Norte, considerado mais moderno e
profícuo. Tudo concorria favoravelmente para a divulgação da nova religião uma
vez que, para o Brasil, o momento era de busca de alternativas em prol da
construção de uma melhor realidade social.
Ramalho explicita sobre o momento da chegada do protestantismo no
Brasil e afirma:
“A chegada do protestantismo está, portanto, muito ligada às condições favoráveis do contexto histórico. É de se notar, entretanto, que não somente se abrem possibilidades para esse sistema religioso, outras correntes de pensamento encontram campo também para se estabelecerem.”85
Analisando o projeto de missões, Mendonça procura mostrar que o
mesmo não se limitava à fé, concluído que: “A expansão missionária das igrejas
americanas no último terço do século XIX, foi produto do sentimento nacional
expansionista combinado com motivos teológicos”. 86
No transcurso dos anos, a atividade missionária voltava-se cada vez mais
para a educação, sendo esta uma das fórmulas utilizadas para a transmissão de
85 RAMALHO, Jether Pereira, Pratica Educativa e Sociedade. Um Estudo Sociologia da Educação. Rio de Janeiro: Zahar , 1976, p. 53. 86 MENDONÇA, op. cit., p. 57
244
uma ideologia–padrão, tida como ideal e progressista. Não apenas seminários
eram criados, mas também escolas voltadas para a elite, nos principais centros do
país.
Dreher, ao enumerar algumas características do denominado
“protestantismo de missão” escreve:
Dentre todas essas características, uma sobressai: a educação. Os colégios do protestantismo de missão não pretendiam apenas educar para a fé, mas dar expressão aos “valores da vida cristã”. Esses valores da vida cristã eram identificados com os valores-padrão da cultura dos Estados Unidos: liberdade, democracia e êxito...”87
Ao final da República Velha o protestantismo de missão estava instalado
no Brasil não só através da implantação de igrejas como, igualmente, por
intermédio da criação de escolas e seminários.
Entre as Igrejas de missões implantadas, selecionamos a Igreja
Presbiteriana do Brasil como foco de nossa pesquisa.
1.4. - A IGREJA PRESBITERIANA DO BRASIL
O presbiterianismo brasileiro também foi resultante do processo
desencadeado pela ação missionária norte-americana.
Para conhecer a origem da Igreja Presbiteriana do Brasil é necessário
compreender o processo de instalação do protestantismo de missão já exposto.
87 DREHER, op. cit., p.230
245
A evolução da denominação presbiteriana em território brasileiro
implicou numa seqüência de etapas dada a peculiaridade do povo, em seu
primeiro momento, vivenciado por missionários norte-americanos.
Apesar do advento do protestantismo de missão ao Brasil ter iniciado em
1835, o presbiterianismo só se fez presente em 1859 com a chegada do primeiro
missionário, Asbhel G. Simonton.
Desde o princípio, a presença de missionários no Brasil deixava claro o
interesse em criar e organizar igrejas.
O primeiro missionário presbiteriano Ashebel Green Simonton foi
exemplo disto, pois apesar de ter chegado em 1859, já em 1862 havia fundado a
Igreja Presbiteriana do Rio de Janeiro.
No transcurso do tempo, como ele, também outros pastores e
missionários procuraram organizar Igrejas onde quer que se instalavam. Podemos
citar o Rev. Alexander l. Blackford e o Rev. F. J. C. Schneider que chegaram ao
Brasil em 1860 e 1861 respectivamente.
A fase de divulgação do presbiterianismo no Brasil não foi
monopolizada apenas por norte -americanos. Brasileiros convertidos
desenvolveram importante papel para expansão da doutrina em estudo.
Podemos citar José Manuel da Conceição como um destacável
proselitista a partir de 1865. O mesmo não limitou seu trabalho a Brotas SP, onde
havia ensinado como padre que fora mas, após tornar-se pastor presbiteriano,
desenvolveu considerável campanha evangelística nas províncias de São Paulo e
Minas Gerais, contribuindo para a expansão presbiteriana.
Como resultado inicial da atuação dos missionários norte-americanos,
além da Igreja do Rio de Janeiro, outras foram criadas dando origem, inclusive, à
organização do Primeiro Presbitério brasileiro e a implantação do primeiro jornal
protestante, intitulado Imprensa Evangélica, no ano de 1864.
246
Klein nos permite conhecer o momento em que os fatos ocorreram ao
explicar que:
“Em 5 de novembro de 1864, Simonton fundou a Imprensa Evangélica. Em 5 de março de 1865, Blackford organizou a Igreja Presbiteriana de São Paulo e, em 13 de novembro de 1865, a Igreja de Brotas, no interior paulista.
Em 16 de dezembro de 1865, estando presentes Simonton, Blackford e Schneider, foi fundado o Presbitério do Rio de Janeiro, em São Paulo, sob a jurisdição do Sinodo de Baltimore, da Igreja Presbiteriana nos Estados Unidos da América(PCUSA)”88
Os missionários que aqui chegaram, além de Igrejas, criavam também
colégios porque viam na educação uma excelente estratégia para a transformação
da sociedade. É neste espaço que a mulher desempenhará um papel fundamenta l
de ação expansionista, não apenas do modelo educacional, mas em especial de
novos valores ligados à realidade feminina. A mulher deixa de ter como única
opção o “ser” doméstica e mãe, podendo almejar a busca pela autonomia
econômica e realização pessoal. É possível enumerar uma gama de mulheres que
se destacaram como professoras e missionárias no Brasil entre as quais, Miss
France Hessar e Mary Cook Lane no Instituto Bíblico de Patrocínio (MG), Clara
Gamon e Genovera Marchant em Lavras (MG), Hilda Bergo Duarte, missionária
brasileira e Miss Rute See.
Este tipo de mulher é exemplificado por Mendonça e Velasques Filho na
pesquisa que trata da inserção do protestantismo no Brasil, como segue:
“A educação, como estratégia missionária, nunca deixou de acompanhar os missionários norte-americanos. Os
88 KLEIN, Carlos Geremias. Presbiterianismo Brasileiro e Rebatismo. Barueri: Simpósio, 2000, p.67. 89 MENDONÇA, Antonio Gouvea. O Celeste Porvir. A Inserção do Protestantismo no Brasil. São Paulo: Paulinas, 1990, p.93.
247
missionários desempenhavam sempre o duplo papel de evangelistas e professores, não se esquecendo, porém, as empresas missionárias, de incluir no seu papel especialistas em educação, principalmente mulheres. Algumas destas conquistaram reconhecimento na educação brasileira, como Carlota Kemper, Marcia Brown e Martha Watts.” 89
Sabendo-se que a base doutrinária do presbiterianismo era versada nos
ensinamentos bíblicos e que o conhecimento da Bíblia era exigência fundamental,
sua leitura implicava na necessidade de alfabetização de toda a sociedade.
A educação estava inicialmente relacionada aos ideais de difusão da
religião. Este fato “justifica um aparente desinteresse inicial das missões por
cursos superiores”, segundo Mendonça, porém não impediu que, no Brasil
Universidades e Faculdades, bem como, inúmeros colégios surgissem, oriundos
das primeiras escolas criadas.
Inúmeras igrejas foram organizadas na zona rural, considerando-se que
a urbanização só acontecerá em início do século XX, com o movimento
imigratório e as transformações econômicas e sociais daí advindas.
Importante aspecto a ser considerado foi a expansão cafeeira que
concorreu para que a evangelização seguisse a trilha do café. Este fato resultou na
conseqüente criação de muitas Igrejas no Estado de São Paulo, atingindo os
estados do Rio de Janeiro, Minas Gerais, Espírito Santo e Paraná.
Mendonça e Velasques Filho afirmam que o Presbiterianismo
“... foi a denominação que mais se expandiu no século XIX, principalmente na província de São Paulo, na qual, seguindo a trilha de expansão do café, foi favorecida pela pregação de José Manuel da Conceição,
248
ex-padre convertido ao presbiterianismo e primeiro pastor protestante brasileiro”. 90
A expansão presbiteriana foi resultado da aplicação de diferentes
métodos de trabalho. Não se limitou apenas ao proselitismo, mas os colportores
desempenharam um destacável papel na divulgação de literatura, venda e
distribuição de Bíblias, favorecendo o surgimento de muitas congregações e
igrejas locais. Também pastores itinerantes e líderes locais colaboravam para a
fixação e desenvolvimento doutrinário.
Com base na ideologia norte-americana de que o cristão teria uma
maneira “própria” de ser, houve excessivo interesse pela criação de escolas,
voltadas não apenas para o atendimento a alunos, como também à família destes.
Além das instituições escolares foram criadas outras organizações como,
creches, orfanatos, ambulatórios médicos, hospitais e abrigos destinados a suprir
as carências sociais da época e, inclusive, cativar adeptos à nova religião.
Ainda fazendo referência a Mendonça e Velasques Filho:
“A educação paroquial e as campanhas de alfabetização enquadraram-se noutra técnica de evangelização. Elas se alinham com a chamada ação social das Igrejas: criação de creches, orfanatos, asilos, ambulatórios médicos e hospitais. Trata -se de uma forma bastante deturpada de evangelho social, apropriada pelos evangelicais e transformada em “agência de evangelização.””91
A organização das Igrejas se fazia embasada na tradição patriarcal,
respeitando o caráter calvinista adotado pelas Igrejas-mães dos EUA, de onde
vieram os primeiros missionários. Deste modo, inexiste espaço para a mulher na
hierarquia de governo instituído. Mesmo com a presença de missionárias no
Brasil, estas não ocupavam funções na hierarquia de governo da Igreja.
90 VELASQUES FILHO e MENDONÇA, op. cit., p. 35. 91 VELASQUES FILHO E MENDONÇA, op. cit., p. 106.
249
Apesar da realidade existente em inúmeras outras denominações que
permitiam o diaconato feminino, o presbiterianismo impunha reservas ao
desempenho da função por mulheres, mantendo a ideologia sobre as
consideráveis diferenças que acreditavam existir entre homem e mulher,
mantendo algumas alegações de que a inferioridade intelectual era inerente ao
gênero feminino. Porém, diante de uma ou outra justificativa, visando impedir o
acesso da mulher a funções prioritárias dentro da estrutura governamental da
Igreja, lhe é concedido o privilégio de ser uma “auxiliadora” em diversas
atividades a ela destinadas, desde que com a devida autorização dos respectivos
Conselhos e órgãos competentes.
A SAF92 em Revista do trimestre Out. Dez/1964, em um de seus artigos
intitulado “Conversando com as mulheres”, expõe os vários tipos de trabalhos,
classificando-os em próprios para homens e, outros, adequados às mulheres.
Segundo afirmação de Nady Werner “... há, porém, trabalho aparentemente
pequeno que exige... coração e mentalidade feminina para resolve-lo, cousas que
só as mulheres sabem e podem faze-lo.”93
O exposto vem demonstrar que líderes femininas, inseridas no contexto
presbiteriano, assimilam passivamente a discriminação apresentada pela estrutura
de governo instituído.
No trabalho de É. G. Léonard sobre o Protestantismo Brasileiro
encontramos a afirmativa:
“ A nomeação de uma diaconisa pareceu perigosa às Igrejas Presbiterianas do Norte, e a única estudante de teologia diplomada por um seminário (da Igreja Presbiteriana Independente), da. Cesarina Xavier Pinto, perturba os meios protestantes
92 SAF – A sigla dada como nome à Revista Feminina da Igreja Presbiteriana do Brasil tem como significado Sociedade Auxiliadora Feminina identificando, portanto, a quem se destina na sua essência. 93 WERNER, Nady. Conversando com Mulheres. SAF em Revista. São Paulo: Presbiteriana, 1964, p. 6.
250
habituais pelo caráter místico de sua piedade, que ela reduzia a uma atividade absolutamente pessoal” 94
Outro aspecto perceptível é o grau de burocracia presente na organização
das sociedades internas da Igreja. As referidas sociedades adotam um modelo
onde cada componente do quadro de funções assume atividades restritivas com
responsabilidade delimitada à respectiva função. É. G. Léonard confirma o fato
exposto ao lembrar “o presbiterianismo de cujo governo se encarregam
delegados das comunidades, unidas todos, pelo laço federal de conselhos
superpostos, Presbitérios e Sínodos.” 95
Considerando que a Igreja Presbiteriana tem origem na missão
estrangeira, sua organização institucional também foi herdada, pois os
missionários não se limitavam a evangelizar, mas estenderam suas atividades
criando e estruturando inúmeras instituições. Pelo exposto, não só Igrejas, mas
igualmente, escolas, asilos e creches iam surgindo e sendo institucionalizados à
maneira de quem liderava.
Essa maneira refletia um sincretismo religioso e cultural no qual o
puritanismo exerceu forte influência. Tal fato se fez representar pela fusão de
elementos presentes na herança cultural e religiosa patriarcal e na sua relação
com o que foi trazido pelos missionários americanos. Esta fusão não elimina os
valores anteriormente assimilados.
1.5. – O PURITANISMO
Ao observarmos os fatores que serviram de contributo ao
desenvolvimento da IPB, o puritanismo aflora na sua forma mais original e pura.
94 LÉONARD, op. cit., .p. 239. 95 Ibid p. 265
251
Resquícios do modo de ser, do regime eclesiástico e dos valores
defendidos desde sua origem, na Europa do século XVI, se fazem notar ainda no
hodierno.
Compreender o modo de ser protestante e/ou presbiteriano implica em
conhecer, igualmente, a origem e os costumes dos puritanos norte-americanos.
Mendonça esclarece que,
“... o puritanismo foi mais um modo de ser da vida religiosa que se foi ajustando, nem sempre passivamente, às várias correntes de pensamento que vão desembocar na América e se prolonga pela história do protestantismo daquele país e pelas suas áreas de influência missionária.96
A presença de puritanos na América foi resultado da evolução política e
religiosa da Inglaterra que vivenciou verdadeiros embates, a partir do século
XVII, conseqüência da busca de definição de poder e religião.
Sendo a Inglaterra uma poderosa nação colonialista na época, um
contingente de adeptos do puritanismo pode emigrar para a América em 1620, no
navio Mayflower, aportando em Massachussets, no dia 4 de dezembro, onde
fundam uma colônia.
Dreher relata que,
“No outono inglês de 1620, partiu de Plymouth o navio que ficou famoso sob o nome de Mayflower, 122 emigrantes deixaram a Inglaterra para obter liberdade e poder viver a obediência da fé. Foi a primeira viagem do Mayflower através do oceano. Só 30 de seus passageiros eram “pais peregrinos”. Entre os demais passageiros havia outras pessoas, que não eram muito confiáveis. Os “pais peregrinos” elaboraram
96 MENDONÇA. op. cit. p.42
252
um documento, no qual esboçavam as bases de sua futura comunidade...”97
A chegada dos puritanos no Novo Mundo oportunizou estabelecerem-se
política e eclesiasticamente de acordo com os seus ideais.
É interessante lembrar que a liberdade de expressão religiosa e a
convicção em ter na Bíblia a única norma de fé e prática era inerente ao
puritanismo.
Ver a Bíblia de tal modo implicava no hábito de sua leitura diária e na
conseqüente aceitação e aplicação à vida.
Dreher esclarece sobre aspectos relevantes da doutrina puritana
mencionando a importância da santificação da vida toda; da piedade pessoal; da
oração como base de vida; do senso pragmático da realidade; do moralismo
utilitarista e de outras questões como segue:
“... Do puritanismo vem um senso pragmático da realidade, uma aceitação simplória, irrefletida da palavra bíblica e de sua aplicação à vida; um moralismo utilitarista; a rejeição de qualquer especulação teórica. Destaque merece a difusão da doutrina da predestinação calvinista, acontecida no puritanismo e através dele e popularizado pelo estudo de Max Weber: o espírito do capitalismo é a criação da ética profissional proveniente da doutrina calvinista da predestinação.”98
Algo que marcou de forma definitiva o protestantismo puritano foi a
questão da predestinação que permitia ao povo inglês o privilégio de poder
acreditar ser ele o escolhido por Deus com direito de conquistar o mundo. Tal
97 DREHER, Martin N. A. Igreja Latino – Americana no Contexto Mundial. São Leopoldo: Sinodal, 1999, p. 113. 98 Ibid. p.117 99 Cromwell – De acordo com DREHER, Martin N. no seu livro A Igreja Lati no – Americana no Contexto Mundial, Oliver Cromwell foi membro do Parlamento inglês em 1620. Era originário dos
253
ideologia alcançou o território americano, embasando o projeto de missão
operacionalizando pelos Estados Unidos no século XIX.
O mesmo puritanismo que com o fim do período Cromwell99 havia
determinado o modo de ser inglês caracterizaria o espírito do protestantismo
norte-americano e, consequentemente, o transplantado para o Brasil.
É importante ainda lembrar a figura de George Fox que deu origem ao
movimento dos quacres entre os puritanos congregacionalistas e batistas. Ao
realizar peregrinações pela Europa, em 1643, já questionava pontos da
fundamentação religiosa como as confissões e os credos. Sua reação ao pregar
deu origem ao termo “quaker, quacre=tremedor”100
Sua influência não se limitou à Europa. Na América, surge a figura de
William Penn, criador do Estado da Pensilvânia e de sua capital Filadélfia, onde
os princípios quacres se fizeram presentes. Esses princípios nortearam a
existência de um estado democrático onde se defendia o aspecto humanista
cristão.
Missionários norte -americanos, oriundos de várias denominações,
trazem esta influência ao Brasil. Entre eles estão os presbiterianos, razão desta
pesquisa.
É interessante destacar que o puritanismo impunha a seus adeptos uma
disciplina rígida que primava por um modo de ser fundamentado nos preceitos
bíblicos.
Comprovando o fato, Roberto H. Nichols ao escrever sobre a história
dos puritanos no Parlamento inglês, afirmou:
setores médios que juntamente com a aristocracia formava o grupo do qual o puritanismo recrutava seus seguidores. Promoveu um golpe de Estado em 1653. Em 1654 foi designado Lord Protector e chefe do executivo. Instalava-se a ditadura militar com Bíblia embasando todo o processo. 100 DREHER, op. cit. p. 118. 101 NICHOLS, Robert Hastings. História da Igreja Cristã. São Paulo: Presbiteriana, 1990, p.209.
254
“As leis aprovadas exigiam alto padrão de moralidade pessoal. A severidade do espírito puritano manifestou-se no ataque às diversões populares. Fecharam-se os teatros, foram proibidos os esportes brutais e alguns divertimentos inocentes muito do gosto popular, tais como o festejo do Natal e as danças populares do mês de maio.” 101
Ainda hoje é possível constatar a mesma severidade e rigidez quanto à
moralidade difundida no ambiente presbiteriano. Alguns tipos de divertimentos
comuns à sociedade em geral são tidos como impróprios aos membros da Igreja.
Isto inclui danças, freqüência a determinados ambientes como “barzinhos”, casa
de “shows” ou mesmo festas populares que oportunizem espetáculos
considerados nocivos aos bons costumes.
Apesar das transformações no cotidiano brasileiro decorrentes dos
avanços sociais, tecnológicos, econômicos, políticos, entre outros, o discurso
presbiteriano ainda reflete a presença da moralidade puritana, que busca respaldo
no conteúdo bíblico.
Comprovando o fato e relacionando-o à questão de gênero, citamos um
artigo de Otília M. Teixeira Braga apresentado em 1963 e destinado a estudo em
reuniões departamentais da SAF no qual alertava,
“Vós também filhas, que estais tão seguras nos vossos divertimentos, nas vossas “toiletes” custosas e caras, dai ouvidos às advertências bíblicas que visam o nosso bem.”102
A autora desenvolve seu tema tomando como base Efésios 6:10 a 18,
destacando que “ao iniciarmos a grandiosa obra, tomemos “toda a armadura de
Deus” dizendo, com o apóstolo: “Senhor que queres tu que eu faça?””.103
102 BRAGA, Otília M. Teixeira. Vigilância e Trabalho. SAF. São Paulo: Presbiteriana, 1963, p. 8 103 Ibid., p.8
255
Há uma preocupação eminente com o modo de ser da mulher
presbiteriana, o que leva a autora a realçar a necessidade de vigiar sempre as
próprias atitudes.
Outro artigo, cujo autor é omitido, intitulado “O vestir do crente” afirma,
“o que é visto por fora deve ser um índice do que há por dentro. A modéstia feminina é um encanto cristão. Um vestido berrante ou provocante será evitado pelas mulheres que desejam agradar a Deus.”104
Além dos valores morais apregoados, o modelo de ritual adotado nos
cultos presbiterianos conserva a simplicidade herdada do utilizado pelos
puritanos.
Mendonça afirma que,
Sem muita dificuldade, ainda hoje se podem identificar formas e áreas de influência do pensamento religioso puritano. O importante é a influência do puritanismo na vida civil e social, e parece ter sido uma feliz tradução do calvinismo no sentido de sua viabilidade eclesiástica e política.”105
O sistema de governo da Igreja que vigora na atualidade é o mesmo
desde sua origem.
A noção de democracia e o regime que define a presença das Igrejas
locais, Presbitérios, Sínodos e Assembléias Nacionais é fruto do puritanismo que
tem sua história ligada à Revolução Gloriosa (1688-89) 106 na Inglaterra.
Também, a disciplina da Igreja, cuja manutenção é de competência do
Conselho107 instituído, traz muito da ideologia puritana.
104 SAF em Revista. O Vestir do Crente. Adap. Haroldo Cook. São Paulo: Presbiteriana, 1965, p.6. 105 MENDONÇA, op. cit., p.37.
256
Tal fato pode ser confirmado pela observação de Mendonça ao afirmar
que, “A congregação é que determina quem são os santos, estabelece a
disciplina e exclui seus membros quando julga necessário.”108
As sanções e punições apresentadas pelo Conselho são resultado de
julgamento deste órgão em relação aos membros da Igreja, definindo quem pode e
quem não pode participar da comunhão interna.
Outro aspecto relevante do puritanismo presente no presbiterianismo é a
idéia da aceitabilidade da doutrina pelo indivíduo. Sob este aspecto prevalece o
voluntarismo e o individualismo. Igualmente, merece destaque a visão de mundo,
o ascetismo109 austero e a piedade bíblica que acompanha o modo de ser dos
membros presbiterianos.
Como instrumento mantenedor do sistema e da doutrina, tem-se a
Confissão de Fé e Catecismo Maior da Igreja Presbiteriana do Brasil, publicado
em 1957 e que ainda hoje é aceito e assimilado pelos presbiterianos no país.
Nesta obra está contido que,
“A Igreja Presbiteriana sustenta que a Escritura é a suprema e infalível regra de fé e prática; e também que a Confissão de Fé e os Catecismos contém o sistema de doutrina
106 Revolução Gloriosa (1688-89) resultou na deposição de Carlos I, rei da Inglaterra e deu início ao período republicano possibilitando, posteriormente, a ditadura de Crowell. Foi, marcadamente, uma revolução puritana. 107 Conselho – segundo afirmativa de Ruth da Silva Faria, assessora de Espiritualidade da Confederação Nacional SAF em 1965, é formado pelos presbíteros e pastor da Igreja local. O número de presbíteros varia em cada Igreja de acordo com o número de seus membros. Deste modo, presbíteros regentes e docentes orientam os membros das Igrejas e procuram solucionar os seus problemas, tudo fazendo para que haja a maior harmonia possível, a fim de que o evangelho possa progredir. 108 Ibid, p.38 109 Ascetismo – Doutrina que considera a ascese (exercício espiritual), como o essencial da vida moral. Moral que desvaloriza os aspectos corpóreos e perceptível humanos. 110 CONFISSÃO DE FÉ e CATECISMO MAIOR da Igreja Presbiteriana. São Paulo: Presbiteriana, 1957, p. XI.
257
ensinado na Escritura, e dela deriva toda a sua autoridade e a ela tudo se subordina.”110
É mister lembrar que a Confissão de Fé e Catecismo Maior da IPB tem
estreita vinculação com a Confissão de Fé e Catecismos formulados pela
Assembléia de Westminter (1643-1649), cujo objetivo era a base da Reforma da
Igreja Nacional da Inglaterra.
A evolução da sociedade garantiu mudanças como a que ocorreu em
1788, ao formar-se a Igreja Presbiteriana nos Estados Unidos da América do
Norte que tornou a Igreja livre da União com o Estado. Ao chegar em território
brasileiro, a denominação em pauta já continha definida a diferença de funções
para a Igreja e para o Estado. Porém, a fundamentação doutrinária e o sistema de
governo da Igreja estavam resguardados.
Encontramos na Confissão de Fé o seguinte,
“A utilidade de uma Confissão de Fé evidencia-se na História das Igrejas Reformadas ou Presbiterianas. Sendo a Confissão de Westminster a mais perfeita que elas têm podido formular, serve de laço de união e estreita as relações entre os presbiterianos de todo o mundo. Os Catecismos especialmente têm servido para doutrinar a mocidade nas puras verdades do evangelho.”111
Considerando que a Confissão de Fé e Catecismos formulados na
Assembléia de Westminster com a participação de puritanos e, sendo a Confissão
de Fé e o Catecismo Maior da IPB um protótipo do anterior, fica explícita a
relação entre o presbiterianismo brasileiro e o puritanismo em sua essência.
111 Ibid, p.IV e V.
258
259
2. - A EVOLUÇÃO ORGANIZACIONAL DA IPB NO BRASIL
2. – A EVOLUÇÃO ORGANIZACIONAL DA IPB NO BRASIL.
O fato de o presbiterianismo se fazer presente no Brasil já em 1859 não
significou que sua organização administrativa estava sediada no país.
Ashbel G. Simonton, primeiro missionário presbiteriano que chegou ao
Brasil, foi enviado pela Junta de Missões de Nova Iorque e, durante alguns anos,
toda atividade desenvolvida por ele, além de outros missionários enviados
posteriormente, respeitava orientações da entidade mantenedora do trabalho
destes.
Simonton deu início à organização da estrutura presbiteriana,
estabelecendo a Primeira Igreja e, em seguida, contribuindo para a formação do
Primeiro Presbitério com sede no Rio de Janeiro. O local foi escolhido
considerando que, além de ser capital do Império já estava sediando as Sociedades
Bíblicas Inglesa e Americana. A relação política e comercial favorecia a escolha.
Apesar da dificuldade com o idioma português, tanto Simonton como
outros missionários que vêm ao Brasil procuram aprender a língua com apoio dos
que já estavam radicados há mais tempo no país.
260
Um projeto desenvolvido pela Comissão Presbiteriana Unida do
Centenário publicou um trabalho intitulado “Presbiterianismo no Brasil 1859-
1959” e, ao referir-se a Ashbel G. Simonton, afirma que:
“Sendo o primeiro missionário presbiteriano no Brasil, estabeleceu a primeira igreja presbiteriana (1862), redigiu o primeiro jornal evangélico “Imprensa Evangélica” (1864) ajudou na formação do primeiro presbitério (1865), e fundou o primeiro seminário teológico (1867).” 112
A criação do primeiro presbitério no Brasil não representava a conquista
da autonomia da Igreja brasileira em termos de governo. Apenas simbolizava a
adoção de um sistema já instituído nos Estados Unidos como modelo
organizacional. O Presbitério implantado no Rio de Janeiro estaria vinculado à
tutela da Assembléia Geral da Igreja Presbiteriana dos Estados Unidos da América
do Norte, fazendo parte do Sínodo de Baltimore.
O exposto serve para apontar para a influência norte-americana nos
padrões de vida dos presbiterianos como já foi aludido no 1º capítulo.
Julio de Andrade Ferreira, proeminente historiador presbiteriano,
transcreve o ato constitutivo do primeiro presbitério113 no Bras il como segue:
“Nós, Ashbel G. Simonton, do Presbitério de Charlisle; Alexandre L. Blackford, do Presbitério de Washington; e Francisco J. C. Schneider, do Presbitério de Ohio, querendo melhor promover a glória e o reino de Nosso Senhor Jesus Cristo no
112 CPUC. Presbiterianismo no Brasil 1859-1959. São Paulo: Presbiteriana, 1959, p. 4. 113 No sistema presbiteriano, o Presbitério é o órgão que representa diversas Igrejas abrangendo determinada região. Tem por finalidade promover o entrosamento entre elas através de reuniões, encontros e outros eventos. Para que tal ocorra, são escolhidos representantes das Igrejas componentes do mesmo para estarem presentes em todas atividade que se proponha realizar. Num plano superior vem a organização dos sínodos. Estes implicam na participação de alguns presbitérios, ou melhor explicando, a união de Igrejas forma e Presbitério e a união dos Presbitérios resulta na organização dos sínodos. (Estatuto da IPB). 114 FERREIRA, J. A. História da Igreja Presbiteriana do Brasil Vol I. São Paulo: Presbiteriana, 1959, p. 42.
261
Império do Brasil, julgamos útil e conveniente exercer o direito que nos confere a Constituição de nossa Igreja, constituindo um Presbitério sob o governo e direção da Assembléia Geral da Igreja Presbiteriana dos Estados Unidos da América do Norte. Portanto, de conformidade com a forma da referida Igreja, de fato nos constituímos em um presbitério que será chamado pelo título de Presbitério do Rio de Janeiro, o qual deverá estar anexo ao Sínodo de Baltimore”.
114
No território brasileiro, a presença dos Sínodos Presbiterianos
permaneceu inviável durante anos, uma vez que toda administração do sistema
advinha da entidade mantenedora, representada por órgão de missão norte-
americana que enviava e mantinha considerável número de missionários no país.
A dependência da Igreja Presbiteriana do Brasil permitia à Junta de
Missões Mundiais da Igreja Presbiteriana dos Estados Unidos liderar todo o
processo de desenvolvimento da Igreja. Verbas para construção de seminários,
Igrejas, escolas, hospitais e outros organismos eram garantidas pela instituição
citada, além do envio de mão-de-obra qualificada, representada por pastores e
professores que traziam conhecimentos não só da doutrina, como também da
música, arte e técnicas tão valorizadas na sociedade da época.
A assistência decorrente do vínculo com a entidade norte americana
parecia desestimular a busca de autonomia à organização governamental da Igreja.
Na década de 1860 um fato importante viria estimular a expansão do
protestantismo no Brasil e, por conseqüência, do presbiterianismo. Nos referimos
à Guerra Civil Americana que causou a derrota sulista, concorrendo para um
considerável movimento emigratório daqueles que não se sentiam seguros e
satisfeitos com a crise instalada.
262
O Brasil foi um dos países tido como preferênciais aos que buscavam
uma nova oportunidade de vida.
É importante considerar que os primeiros missionários, ou seja,
Simonton, Blackford e Schneider vieram ao Brasil, representando a Junta de
Missão Presbiteriana de Nova Iorque. Portanto, eram elementos advindos do
norte, região que saíra vitoriosa na Guerra da Secessão.
Já entre os sulistas, destacam-se os presbiterianos enviados pelo Comitê
de Nashville.
O momento caracterizado pela emigração norte-americana, em especial,
a vinda de indivíduos dos estados do sul, resultou no crescimento demográfico de
regiões como Campinas, Santa Bárbara e Americana, garantindo, inclusive, a
escolha de Campinas – SP, para ser a sede da Missão no Sul do Brasil.
O aumento populacional representado pelos imigrantes sulistas em
regiões paulistas redundaria na fundação de novas igrejas presbiterianas e,
consequentemente, em novos presbitérios.
Outros estados do país também contaram com a presença de novos
imigrantes, mas de forma transitória, como foi o caso do Espírito Santo, de
Paranaguá (Paraná) e de Santarém (Pará).
Porém, em São Paulo esta presença foi decisiva na estruturação e
organização da Igreja brasileira, garantindo o surgimento do Primeiro Sínodo em
1888.
Além da organização do Primeiro Sínodo, ficava determinada a criação
de um seminário teológico, considerando que os primeiros existentes no Brasil já
haviam deixado de funcionar.
É importante ressaltar que o momento da reestruturação da Igreja
Presbiteriana no Brasil se insere num contexto da história em que ocorreram
263
mudanças fundamentais na sociedade. É o ano da abolição da escravatura,
advindo logo após o momento em que a República substituía o Império como
sistema de governo.
Além das transformações da época, também a Igreja Presbiteriana estava
se organizando em Sínodo, almejando ampliar sua liderança internamente. A meta
de criação de seminários era preparar pastores da terra para atender a crescente
demanda, resultante da expansão da Igreja no território brasileiro.
Já haviam transcorrido três décadas desde a chegada dos primeiros
missionários e a Igreja permanecia sob a tutela norte -americana. Porém, era
visível sua evolução, considerando-se que os órgãos de estruturação
administrativa desta já estavam definidos. Faltava apenas a criação do Supremo
Concílio no país, órgão de poder máximo da Igreja Presbiteriana, o que veio a
ocorrer em janeiro de 1910, quando houve a divisão em três regiões, isto é, o
Sínodo do Norte, o Sínodo do Sul e o Sínodo Central.
Tal fato é de grande relevância, mostrando que, apesar do país apresentar
uma dimensão geográfica continental, a missão tinha atingido pontos
extremamente distantes.
De Norte a Sul havia a presença de Igrejas e missionários norte -
americanos, o que garantia a homogeneidade do padrão presbiteriano nas dist intas
regiões brasileiras.
Ao fazermos referência à homogeneidade do padrão presbiteriano,
estamos aquilatando as normas de conduta instituídas, a estrutura governamental
do sistema, a disciplina estabelecida, o discurso trabalhado, a forma de reuniões e
cultos.
A Comissão Presbiteriana Unida do Centenário, em seu trabalho
publicado sobre “Presbiterianismo no Brasil” 1859-1959, afirma o seguinte:
“O Supremo Concílio foi organizado em janeiro de 1910, dividindo a Igreja brasileira
264
em três regiões: o Sínodo do Norte (Bahia até Amazonas), o Sínodo do Sul (São Paulo até Santa Catarina) e o Sínodo Central (Rio de Janeiro e Espirito Santo, estendendo -se ao interior). Foi um passo que mostrou o amadurecimento da organização e da obra presbiteriana, a maior obra evangélica no Brasil, naquela época.” 115
Estava, portanto, concluída, em 1910, a estrutura organizacional
administrativa da Igreja Presbiteriana no Brasil, com o estabelecimento
hierárquico de todos os departamentos e organismos inerentes ao sistema. (Ver
anexo I, pág. 228).
2.1. – LIMITES ESTABELECIDOS NA HIERARQUIA DO PODER
PRESBITERIANO.
A Igreja Presbiteriana do Brasil tem Constituição própria que estabelece
suas regras de funcionamento e os princípios que devem ser respeitados e
acatados por todos os seus membros
Deve ficar claro que há duas categorias de membros: os comungantes e
os não comungantes. São membros comungantes todos aqueles que fizeram a
“pública profissão de fé”, comprometendo-se, portanto, a respeitar a doutrina da
Igreja e as leis estabelecidas pela sua Constituição. São os denominados
“membros professos”, os que participam da ceia, que podem participar nas
eleições, os que podem ser advertidos pelo Conselho da Igreja, quando deixarem
de cumprir alguma norma instituída. Os membros não comungantes são todos os
que freqüentam a Igreja e participam das atividades, que foram batizados, mas que
ainda não fizeram a “pública profissão de fé”.
115 CPUC , op. cit., p. 11.
265
A IPB segue um manual criado em 1950, embasado na Constituição da
Igreja de 1946. “Sua última edição data de 1999 e contém inserções das emendas
aprovadas ao longo dos anos pelo Supremo Concílio da Igreja Presbiteriana do
Brasil.” 116
Mesmo diante das alterações contidas no manual é possível constatar
que a estrutura organizacional da Igreja não sofreu mudanças e o sistema
permanece igual, em sua essência, desde sua fundação no país.
Apesar de todos os membros comungantes e em plena comunhão com a
Igreja gozarem do privilégio de participação nas Assembléias, com direito a
sufrágio nem todos podem ser votados. A mulher não pode ser votada para ocupar
funções no Conselho da Igreja pelas regras instituídas na Constituição da IPB o
que delineia uma discriminação patente no sistema de governo em vigor.
O capítulo IV do manual que se refere aos oficiais apresenta o seguinte:
“Art. 25 – A Igreja exerce suas funções na esfera da doutrina, governo e beneficência, mediante oficiais que se classificam em:
a) ministros do evangelho ou presbíteros docentes;
b) presbíteros regentes;
c) diáconos.
§ 1º - Estes ofícios são permanentes, mas o seu exercício é temporário.
§ 2º - Para o oficialato só poderão ser votados homens maiores de 18 anos e civilmente capazes. (grifo nosso) 117
O artigo apresentado nos parece contraditório uma vez que no capítulo 1º
da Constituição da Igreja Presbiteriana do Brasil consta:
116 CONSTITUIÇÃO da IPB. Manual Presbiteriano. São Paulo: Presbiteriana, 1951, p. 5. 117 CONSTITUIÇÃO da IPB, op. cit, p. 18.
266
“Art. 1º - A Igreja Presbiteriana do Brasil é uma federação de igrejas locais, que adota como única regra de fé e prática as Escrituras Sagradas do Velho e Novo Testamento e como sistema expositivo de doutrina e prática a sua Confissão de Fé e os Catecismos Maior e Breve; rege -se pela presente Constituição; é pessoa jurídica, de acordo com as leis do Brasil, sempre representada civilmente pela sua Comissão Executiva e exerce o seu governo por meio de concílios e indivíduos, regularmente instalados.”118
A Constituição Brasileira de 1988 garante a todos a igualdade perante a
Lei tornando punível qualquer tipo de discriminação. Deste modo, é possível
constatar certa dicotomia entre o sistema organizacional interno instituído pela
IPB frente à Constituição Federal já que esta entidade se apresenta como pessoa
jurídica que afirma respeitar as leis do país.
Parece óbvio que esta Lei Maior foi consideravelmente melhorada no que
tange aos direitos humanos, se a compararmos com a Carta Constitucional
existente na época da inserção do presbiterianismo no Brasil. Porém, o fato pode
ser justificado ao considerarmos sua fundamentação bíblica legitimada pela
Confissão de Fé e Catecismo Maior da Igreja Presbiteriana, cuja origem remonta
ao período da Reforma. Apesar de algumas adaptações, o instrumento preserva
sua essência e afirma:
“A Igreja Presbiteriana sustenta que a Escritura é a suprema e infalível regra de fé e prática; e também que a Confissão de Fé contém o sistema de doutrina ensinado na Escritura e, dela deriva toda sua autoridade e a ela tudo se subordina.” 119
A mesma obra traz um conteúdo sobre o governo da Igreja, citando
sínodos e concílios.
118 Ibid, p.8.
267
“I – Para melhor govêrno e maior edificação da Igreja, deverá haver as assembléias comumente chamadas sínodos ou concílios. Em virtude do seu cargo e do poder que Cristo lhes deu para edificações e não para destruição, pertence aos pastores e outros presbíteros das igrejas particulares criar tais assembléias e reunir-se nelas quantas vezes julgaremútil para o bem da Igreja.”120
A organização de governo da IPB, por ocasião de sua implantação,
combinava perfeitamente com os valores e costumes da época. Garantir aos
homens a supremacia de poder não representava nenhum desrespeito às normas
sociais instituídas considerando-se que, no momento em questão, as mulheres não
tinham sequer direito ao voto e o ranço da escravidão ainda se fazia presente.
Porém, a evolução da sociedade ocorreu e pode ser notada através de sua
transformação cultural que resultou em fatos inerentes à própria legislação atual.
Entendemos que não atingiu a perfeição, pois somos forçados a
reconhecer que a mesma Constituição, que afirma garantir a igualdade de todos
perante a lei, traz em seu bojo aspectos que concorrem para a legitimação de uma
desigualdade camuflada.
Além de assegurar a igualdade de direitos entre os indivíduos
independente de gênero, classe, etnia e cor, a Carta Magna prevê ainda a liberdade
de religião e dá autonomia para que cada Igreja elabore o próprio esta tuto. A não
intromissão do Estado no espaço religioso viabiliza a existência de preceitos que
privilegiam o gênero masculino no monopólio de certos direitos como o que
ocorre no caso da IPB.
No art. 5º, VI da Constituição brasileira, encontramos:
119 Confissão de Fé e Catecismo Maior da Igreja Presbiteriana. São Paulo: Presbiteriana, 1951, p.11. 120 Ibid, p. 70
268
“ ...é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e as suas liturgias”. 121
É possível constatar que o modelo de governo adotado pela Igreja em
questão está inserida no contexto da liberdade de consciência e de crença ficando,
portanto, em situação de inviolabilidade. Nos parece que ao estado não convém
interferir numa entidade cujos membros demonstram aceitar o “status quo”
vigente.
Podemos considerar que a lei possibilita interpretações diferenciadas o
que concorre para a presença de distorções em sua aplicabilidade.
O exposto deixa evidenciado que, se houve evolução e melhoria nas
relações interpessoais contribuindo para uma real busca pela igualdade entre os
gêneros humanos formadores da sociedade, o mesmo não atingiu o espaço
presbiteriano. Tal fato se mostra incoerente ao considerarmos que a estrutura de
governo atual das Igrejas Presbiterianas do Brasil permanece similar à implantada
na época da organização do Primeiro Sínodo Presbiteriano no país.
O curioso é que, algumas igrejas evangélicas conquistaram avanços e
abriram espaço à participação feminina. Entre estas podemos citar a própria
Igreja Presbiteriana Independente, oriunda do modelo em estudo.
A pesquisadora Leciane Goulart Duque Estrada em seu trabalho
intitulado “Acontece no Brasil” publicado em 1999 na Revista Mundo
Reformado122 explicita o desenvolvimento histórico da ordenação de mulheres ao
ministério entre as Igrejas Presbiterianas do Brasil. No artigo citado, a autora
apresenta argumento “favorável” e “contrário” à ordenação feminina e lembra
que mulheres têm buscado o conhecimento teológico através do Bacharelado,
121 CONSTITUIÇÃO da República Federativa do Brasil. Edição Especial. São Paulo: Encyclopaedia Britannica do Brasil, 1988, p. 7. 122 A Revista “Mundo Reformado” é uma publicação da Aliança Reformada Mundial sediada em Genebra – Suíça, distribuídas internacionalmente.
269
ficando impedidas de desenvolver seus dons pela legislação da Igreja. A mesma
afirma que:
“A mulher, no entanto, mesmo depois de receber o diploma de Bacharel em Teologia, não pode ser apresentada a um presbitério (que ela mesma ajudou a eleger) para prosseguir sua formação e preparação através da licenciatura. Impedida de obter essa licenciatura fica também impedida de se apresentar à Igreja a fim de ser ordenada, embora esteja preparada, o que é contrário ao princípio do direito de votar e ser votada.”123
A questão da ordenação feminina no meio presbiteriano tem sido tema
conflitante, considerando o caráter conservador mantido por seus membros. É
curioso observar que as próprias mulheres estão envolvidas por um discurso
extremamente situacionista e convincente, e se mostram apáticas diante do
processo de transformação social que ocorre na atualidade. Detectamos o fato pela
análise da literatura disponível e pelo contato com mulheres da IPB.
Porém, outras igrejas que tiveram origem de movimentos dissidentes da
própria Igreja Presbiteriana do Brasil construíram uma realidade diferente. A
exemplo disto podemos citar a Igreja Presbiteriana Unida que permite a ordenação
de mulheres como também, a Igreja Presbiteriana Independente que a partir de
1999, com a aprovação de uma reforma constitucional, passou a permitir à mulher
o acesso ao oficialato.
Um artigo publicado na revista “Alvorada”124 , órgão de divulgação da
IPIB125 , apesar de omitir o autor, esclarece nosso comentário sobre a ordenação
feminina. O mesmo traz o título “conquista de mais um sonho” e informa:
123 ESTRADA, Leciane Goulart Duque. Acontece no Brasil, in: Mundo Reformado Vol. 49. Genebra: Alianza Reformada Mundial, 1999, p. 11. 124 ALVORADA – denominação do Órgão Oficial da Secretaria Nacional das Forças Leigas da Igreja Presbiteriana Independente do Brasil (IPIB). Fundada em 1968, sua publicação se destina à família com uma tiragem de aproximadamente 3000 exemplares é distribuída pelo território nacional através das IPIB.
270
“Desde o último dia 3 de fevereiro, a Constituição da Igreja Presbiteriana Independente do Brasil dá direitos às mulheres de exercerem o ministério ordenando, presbíteras e pastoras. Foram muitos anos de reflexão e debates até que esse tema fosse aprovado. Nesse processo que já dura várias gerações, mulheres e homens deram sua contribuição a fim de que as mulheres pudessem ter mais esse direito respeitado” 126
Se Igrejas Presbiterianas, “Independentes” ou não, após detalhados
estudos e embasados na Bíblia, puderam concluir sobre o direito da mulher ao
oficialato, paira no ar a questão da discriminação que parece perdurar no interior
da Igreja Presbiteriana do Brasil.
Sobre esta questão, Edilene Aureliano França127 publica um artigo no “O
Estandarte”128 intitulado, “Ordenação Feminina”, e indaga: “há dons apenas
para o sexo masculino? Não podemos ser pastoras aos olhos de Deus ou aos
olhos dos homens?”129
O artigo citado é extremamente questionador e analisa diversos textos
bíblicos que colocam a personagem em questão em evidência. Esclarece sobre o
companheirismo feminino no momento das crises econômicas, considerando que
a mulher buscou o trabalho fora do ambiente doméstico para contribuir com o
atendimento dos compromissos econômicos da família. Portanto, conquistou sua
emancipação, forçada pela necessidade econômica, cumprindo o papel de auxiliar
125 IPIB – Igreja Presbiteriana Independente do Brasil cuja origem ocorreu após um movimento dissidente da IPB sob a liderança do Rev Eduardo Carlos Pereira, que iniciou em 1900 na 1ª IPB de São Paulo. O movimento teve por motivo a questão maçônica e o problema da tutela norte-americana em relação à direção da IPB. Boanerges Ribeiro nos instrui através da obra “A Igreja Presbiteriana no Brasil, Da autonomia ao Cisma”. São Paulo: 1987. 126 ALVORADA. Conquista de Mais um Sonho. São Paulo: 1999, p. 19 127 Edilene Aureliano França – Secretária da Secretaria de Missões da IPIB. 128 O Estandarte – Órgão Oficial da Igreja Presbiteirana Independente do Brasil. Publicado em S.Paulo e com abrangência nacional, foi criado em 1898. 129 FRANÇA, Edilene Aureliano. Ordenação Feminina. Jornal O Estandarte. São Paulo: 1998, p.17.
271
como traz Gênesis 2:18: “Disse mais o Senhor Deus: Não é bom que o homem
esteja só: far-lhe-ei uma auxiliadora que lhe seja idônea”.
Edilene A. França a apresenta ainda como corretora e agrônoma
embasada em Provérbios 31:16 e continua a discorrer sobre vários modelos
femininos que marcaram a realidade de uma época e/ou de um povo. Questiona
sobremodo a culpabilidade atribuída à mulher quando do desequilíbrio familiar,
salientando a responsabilidade do homem em relação ao problema em referência.
Portanto, expõe:
“Quando acusam na nova sociedade: “a mãe deixou o lar, e as crianças se tornaram delinqüentes? Prostitutas? Drogados?”, “A pergunta é: será que não foi a falta do homem, que só prega ser o cabeça da casa e na verdade não o é? Homens tão ocupados com o poder sem tempo para a família? Homens falando tantas línguas e sem ter diálogo com filhos e esposa?”130
O exposto comprova a existência de um discurso questionador frente às
diferenças instituídas. Homens e mulheres são membros de uma única Igreja que
apresenta uma filosofia doutrinária embasada na Bíblia e que defende a justiça, a
igualdade, a humildade, o amor, o respeito e a busca pelo cultivar dos dons.
Porém, o estabelecimento das regras advém do domínio masculino, sendo
resultante de valores firmados por tradição cultural, mas também por leitura
fundamentalista da Bíblia, na qual se encontra a formulação de S. Paulo, conforme
I Cor. 14:34-35:
“Conservem-se as mulheres cladas nas igrejas, porque não lhes é permitido falar; mas estejam submissas como também a Lei o determina.
Se, porém, querem aprender alguma coisa, interroguem, em casa, a seu próprio
130 Ibid p. 17 131 BÍBLIA SAGRADA. I Cor. 14:34-35
272
marido; porque para a mulher é vergonhoso falar na Igreja.”131
O discurso apresentado por Paulo não encontra similaridade nos
exemplos de Jesus. Nenhuma alocução ou ensinamento de Jesus, constante na
Bíblia, coloca a mulher em posição tão irrelevante. Deste modo se estabelece um
impasse quanto às interpretações existentes. Quando a leitura bíblica se faz de
modo fundamentalista, tende a prevalecer que a “mulher deve calar a boca”. E,
apesar de diminutos avanços, este discurso ainda existe.
A Igreja Presbiteriana do Brasil tem se mostrado extremamente
conservadora, dificultando o avanço de qualquer medida que altere o sistema
organizacional como um todo. Isto justifica a lentidão das mudanças o que tem
garantido a manutenção do “status quo” da organização política secularmente
instituída na entidade.
A realidade vigente traduz um modelo discriminatório de poder e, para
sanar o problema, necessário se faz a conscientização dos elementos que
compõem a liderança vigente.
O processo não é simples, se considerarmos que a cultura brasileira traz
em seu âmago valores patriarcais bem arraigados e o presbiterianismo acentua
esses mesmos valores em razão de um discurso que também premia o elemento
masculino como o escolhido.
2.2 – ESTRUTURA ORGANIZACIONAL DA IPB
273
De acordo com a Constituição Presbiteriana, a comunidade local poderá
organizar-se em Igreja quando puder tornar-se auto suficiente e tiver elementos
que possam compor seu Conselho. Caso isto não ocorra, as mesmas estarão sob a
responsabilidade dos Presbitérios, juntas missionárias ou Conselhos e recebendo a
denominação de “pontos de pregação” ou “congregação”132
Além dos recursos materiais para manutenção da Igreja, há necessidade
da existência de membros que estejam aptos a serem eleitos. Portanto, se uma
Congregação contar com um bom número de membros, mas insuficiência
numérica de homens disponíveis ao oficialato, esta não poderá tornar-se Igreja.
“Art. 5 – Uma comunidade de cristãos poderá ser organizada em Igreja, somente quando oferecer garantias de estabilidade, não só quanto ao número de crentes professos, mas também quanto aos recursos pecuniários indispensáveis à manutenção regular de seus encargos, inclusive as causas gerais e disponha de pessoas aptas para os cargos eletivos. 133
A Igreja, desde que instituída, deverá tornar-se pessoa jurídica. A partir
desta nova situação estará se tornando um organismo submetido à Constituição
do país, portanto, devendo pautar-se de acordo com as normas do governo civil
instituído.
Internamente, a Igreja possui um Manual, redigido pelos representantes
do Supremo Concílio e que define sobre sua natureza, governo e fins.
132 “Pontos de Pregação”- são locais escolhidos pelo Conselho da Igreja, para o desenvolvimento periódico de atividades de evangelização, considerando a inexistência de Igreja no local. Normalmente se localizam em bairros e/ou casas de membros da IPB, organizados em localidade onde há falta de condições para manter o pastor e o grupo não consegue os requisitos necessários para compor o Conselho. 133 MANUAL PRESBITERIANO. São Paulo: Presbiteriana, 1998, p. 9. 134 IPB de Campo Mourão – Pr, fundada em 1954, conta com 441 membros comungantes e 369 não comungantes num total de 810 membros. E estão vinculadas à instituição 2 Congregações e 2 Pontos de Pregação. Entre os comungantes somam 187 homens e 262 mulheres e, entre os não comungantes, 199 homens e 170 mulheres.
274
De acordo com as normas estatutária, a Igreja local é composta pelos
membros, com governo próprio representado por Conselho. Este é escolhido em
Assembléia Geral através de processo eletivo no qual participam apenas os
membros comungantes. Apesar de homens e mulheres terem direito ao sufrágio,
com base no Estatuto interno, apenas homens podem ser eleitos.
Para melhor compreensão da estrutura organizacional da IPB,
apresentamos um cronograma tendo como modelo, a Igreja Presbiteriana de
Campo Mourão134 no Paraná. (Ver anexo II, pág. 229)
O Conselho, órgão de governo da Igreja, é formado pelo pastor e/ou
pastores e Presbíteros.
Também são eleitos os Diáconos, sempre homens, igualmente oficiais,
mas hierarquicamente submetidos ao Conselho.
O Presbítero tem autoridade equivalente ao do ministro, o que torna seu
papel extremamente respeitável.
Para o acesso ao oficialato os membros são orientados a votar em
indivíduos que apresentem qualidades pessoais substanciais, traduzidas por um
modelo de vida exemplar sob todos os aspectos, quer em família, como
profissional, como cidadão e como cristão. Evidentemente, nem sempre é
possível aos eleitores o conhecimento profundo de seus candidatos. Porém, uma
vez eleitos, são ordenados na função e aceitos como autoridade na comunidade.
Tal fato não impede a exoneração de algum dos eleitos, quando apresentarem um
comportamento incoerente com sua posição.
De acordo com o Manual Presbiteriano constatamos que:
“Art. 52 – O presbítero tem nos
Concílios da Igreja autoridade igual a dos ministros.
275
Art. 53 – O diácono é o oficial eleito pela Igreja e ordenado pelo Conselho, para, sob a supervisão deste, dedicar-se especialmente:
a) à arrecadação de ofertas para fins piedosos;
b) ao cuidado dos pobres, doentes e inválidos;
c) à manutenção da ordem e reverência nos lugares reservados ao serviço divino;
d) exercer a fiscalização para que haja boa ordem na casa de Deus e suas dependências”.135
Analisando as funções a serem desempenhadas por presbíteros e
diáconos, é possível considerar que inúmeras obrigações destes podem vir a ser
desempenhadas por mulheres vinculadas à Igreja. O fato demonstra a aptidão e
interesse destas pela causa, mas não faculta a elas o direito de reconhecimento por
rea lizarem essencialmente esta prática. São vistas como pessoas no cumprimento
de seus deveres como cristãs.
Além do Conselho e da Junta Diaconal constituídos como órgãos de
governo e administração da Igreja, existem também as Sociedades Internas que
estão subordinadas ao Conselho.
São estas: a UPH – União Presbiteriana de Homens; a SAF – Sociedade
Auxiliadora Feminina; a UMP – União de Moços Presbiterianos (grifo nosso);
UPA – União Presbiteriana de Adolescentes; UCP – União de Crianças
Presbiterianas.
As referidas sociedades são regidas sob o critério de um Manual
Unificado que, além de um breve histórico das sociedades, orienta quanto à
organização e funcionamento das mesmas.
135 Manual Presbiteriano. São Paulo: Presbiteriana, 1998, p. 25.
276
A finalidade destas organizações é de apoio à Igreja e promoção de
inúmeras atividades tais como, lazer, devocionais, sociais, etc., que contribuam
para a integração e desenvolvimento de seus membros.
O art. 2º do capítulo I do Manual esclarece que:
“São objetivos específicos das sociedades Internas:
a) cooperar com a Igreja, como parte integrante da mesma, nos seus objetivos de servir a Deus e ao próximo em todas as suas atividades, promovendo a plena integração de seus membros;
b) incentivar o cultivo sadio de atividades espirituais, evangelísticas, missionárias, culturais, artísticas, sociais e desportivas;
c) promover uma salutar convivência com os outros Departamentos e Organizações da IPB e também com denominações evangélicas fraternas.”136
Todas as sociedades internas são organizadas sob a tutela do Conselho,
dependendo, portanto, da aprovação deste órgão. Seu funcionamento depende da
constituição de uma Diretoria, sendo que, no caso da UPH, SAF e UMP, seus
componentes devem ser membros comungantes da Igreja local. Esta exigência só
inexiste quando se tratar da Diretoria da UPA e UCP. Tudo deverá ser registrado
em livros próprios e a reunião para organização exige a presença de um
representante do Conselho.
Visando garantir a perfeita funcionalidade das sociedades, é mister a
escolha de um conselheiro pelo Conselho, que servirá de elo de ligação entre este
órgão e a sociedade organizada.
136 MANUAL UNIFICADO. São Paulo: Presbiteriana, 1998, p. 23.
277
O Manual Unificado esclarece sobre a situação dos sócios, define faixa
etária para adentrar nas respectivas sociedades e estabelece, igualmente, os
deveres e direitos dos mesmos.
Tais sociedades são administradas por uma Diretoria eleita, formada por
Presidente, Vice-Presidente, Primeiro e Segundo Secretário e Tesoureiro.
Existem, também, diversos departamentos e/ou secretarias que visam o
desenvolvimento de atividades específicas. Tudo depende do número de sócios e
dos recursos da entidade para definir a quantidade de secretarias.
A nível regional, todas as sociedades são federadas, o que explica o Art.
53 do Manual Unificado, como segue:
“A Federação é a entidade que congrega cada um dos tipos de Sociedades Internas das igrejas jurisdicionada a um Presbitério da IPB, ao qual se subordina e que funciona sob a supervisão de um Secretário Presbiterial.”137
As Federações fazem parte da Confederação Sinodal138. Portanto, servem
de elo entre as sociedades internas e os Sínodos, por isso devem promover
encontros periódicos e são responsáveis pela organização do Congresso Anual.
A Federação também conta com uma Diretoria eleita na qual poderão
participar representantes de sociedades internas, escolhidos como delegados, para
fazerem parte dos encontros promovidos pela Federação.
Em referência à participação masculina e feminina, é possível detectar
diretorias mistas no caso da Federação da UMP, UPA e UCP. As demais se
apresentam como organismos de representação específica, isto é, a UPH por
137 Ibid, p. 54 138 Confederação Sinodal – é o conjunto das várias Federações, sendo estas de abrangência regional, a Confederação Sinodal tem caráter nacional.
278
homens e a SAF, por mulheres, contando, porém, com a presença de autoridades
masculinas, uma vez que dependem da anuência dos Conselhos.
Além das sociedades internas, as Igrejas locais contam com
departamentos responsáveis por atividades variadas, como por exemplo, a música,
grupos corais, conjuntos, bandas, grupos teatrais que desenvolvem atividades sob
observação do Conselho.
Também a atividade da Escola Dominical apresenta uma divisão interna
com base na faixa etária e sexo, para garantir ensino doutrinário adequado aos
interesses dos participantes. Isto pode ser constatado ainda hoje em inúmeras
Igrejas visitadas.
É importante lembrar que essas escolas haviam chegado à América do
Norte nas primeiras décadas do século XIX, destinadas ao ensino religioso para
crianças. Segundo Mendonça:
“A Escola Dominical, como instituição paralela à Igreja, passou a desempenhar função importante no desenvolvimento e consolidação das igrejas. A sede de aprender construiu pouco a pouco, uma epistemologia cristã -protestante, desenvolveu métodos próprios e, nas áreas missionárias, foi servindo de atração para futuros convertidos, principalmente por intermédio das crianças que aderiam às reuniões conduzidas por habilidosas missionárias-professoras. Por outro lado, exerceu também o papel de fixar as doutrinas e a ética nos recém – convertidos.” 139
A estrutura, sobre a qual fizemos referência anteriormente, pode ser
melhor compreendida através de Organograma que segue.
Dentre os organogramas elaborados, destacamos um representativo da
SAF, considerando que a mulher é o foco da atenção desta pesquisa.
139 MENDONÇA, op. cit., p. 61
279
A organização de mulheres na IPB é identificada como Ministério SAF e
está assim constituída. A nível nacional existe a Confederação Nacional,
representada por uma Secretaria Nacional, composta por mulheres ligadas a
diversas Confederações Sinodais. Estas são escolhidas através de eleições
realizadas quadrienalmente em Congressos de nível nacional.
O evento acontece supervisionado por um Secretário Geral eleito pelo
Supremo Concílio140 , e que serve de elo entre este órgão e a Secretaria Nacional
da SAF.
O mesmo critério serve para todas as Sociedades internas da IPB.
De acordo com o Manual Unificado das Sociedades Internas, o fato fica
assim esclarecido:
Art. 116. A Confederação Nacional é a entidade que congrega as Sociedades Internas, as Federações e Confederações Sinodais da Igreja Presbiteriana do Brasil, sob a supervisão de um Secretário Geral, eleito pelo Supremo Concílio”.141
As Confederações Sinodais, por sua vez, representam o conjunto das
Federações organizadas nos respectivos Presbitérios142. Igualmente, neste caso,
existe a figura do Secretário Sinodal como elemento de ligação entre o órgão
superior e a entidade que ele representa.
Entre as várias funções do escolhido, também é responsável pela posse
da diretoria eleita.
Além do Conselheiro, a SAF é organizada através de uma diretoria eleita
e está dividida em departamentos, cuja quantidade varia de acordo com o número
140 Supremo Concílio. Órgão máximo de poder da IPB que coordena, dirige e decide sob as normas e regimentos da IPB. 141 Manual Unificado das Sociedades Internas. Das Confederações Nacionais. Art. 116. 1999. 142 Presbitérios – Art. 85 do Manual Presbiterianos – O Presbitério é o Concílio constituído de todos os ministros e presbíteros representantes de igrejas de uma região determinada pelo Sínodo.
280
de associadas. Estes de partamentos têm funções diversas, que podem ser
identificadas pela própria denominação que trazem, tais como: departamento de
ação social, de música, de missões, de cultura, de comunicação e marketing, de
esporte e recreação, de evangelização e de espiritualidade.
A organização descrita, dependente da subordinação a um Conselheiro,
que garante a supremacia determinante de um Conselho frente à iniciativa de uma
das sociedades internas da Igreja, confirma que o poder permanece com aqueles
que ocupam funções dirigentes, isto é, pastores e presbíteros.
2.3. O PODER NA IGREJA
A estrutura de poder na IPB só pode ser compreendida com base na
análise de sua origem.
A ideologia transmitida pelos missionários estrangeiros, representantes
da política de Monroe e que se embasava no Destino Manifesto, justificava a
superioridade cultural destes frente à nação e população brasileira.
Mendonça nos relata sobre a importância do puritanismo na evolução e
organização do protestantismo na América do Norte e sobre a influência da
ideologia do “Destino Manifesto” na sua expansão afirmando que,
“Pelo menos no século XIX, o melhor e mais eficiente condutor da ideologia do “Destino Manifesto” foi a religião americana, ou melhor dizendo, o protestantismo americano, com a sua vasta empresa educacional e religiosa, que preparou e abriu caminho para o seu expansionismo político e econômico. No caso do Brasil, se no campo religioso seu sucesso foi quase nulo, na
Parágrafo Único - cada igreja será representada por um presbítero, eleito pelo respectivo Conselho, 1951, p. 32
281
educação e na cultura em geral, para não dizer no político e econômico, a influência americana não pode deixar de ser sentida, embora não logo após a implantação do protestantismo, mas ao longo dos cento e tantos anos de sua chegada.”143
As Igrejas Presbiterianas nascentes eram organizadas de forma a retratar,
em sua estrutura, valores autoritários que garantiam poder àqueles que ocupavam
as funções dirigentes da mesma. Por conseguinte, estas eram de exclusividade
masculina, restando às mulheres a tarefa de auxiliadoras quando, para isto, fossem
requisitadas. Isto decorre da fundamentação doutrinária que justifica a legitimação
das diferenças instituídas.
É possível constatar que havia um excesso de burocracia caracterizando
a estrutura governamental da referida entidade.
Podemos demonstrar o exposto através do Estatuto da Igreja
Presbiteriana do Brasil de S. Paulo, divulgado através da Imprensa Evangélica,
em dezembro de 1883, como segue:
“Artigo 1º A Egreja Presbyteriana de S. Paulo, organizada segundo o exposto na Forma de Governo da Egreja Presbyteriana no Brazil, e que adopta os Symbolos da dita Egreja (Confissão de Fé, Breve e Grande Cathecismos, Forma de Governo e as Regras de Disciplina) encorpora-se em sociedade para adquirir, possuir e administrar os estabelecimentos necessários ao culto e instrução da mesma comunidade e residência do Pastor...
Art. 4º A direcção dos negócios econômicos desta sociedade fica a cargo de mais uma comissão composta de cinco ou mais membros, à qual os Diáconos pertencerão ex officio e os mais membros serão eleitos annualmente na sessão ordinaria da Assembléia Geral, compondo-se
143 MENDONÇA, Antonio Gouvêa. O Celeste Porvir. A Inserção do Protestantismo no Brasil. São Paulo: IMS, 1995, p. 62.
282
a referida commissão de um presidente, primeiro e segundo secretários, um thesoureiro e um procurador” 144.
O documento citado, do qual procuramos expor pequena parte, segue
mostrando as determinações de cada função e especificando, inclusive, o papel da
Assembléia Geral representada por todos os membros em comunhão com a
Igreja, na escolha (eleição) dos cargos.
A definição de cargos com delimitações de funções regidas por uma
Constituição própria vai, pouco a pouco, estabelecendo uma burocracia em nome
da ordem e funcionamento da Instituição.
De acordo com o crescimento numérico das Igrejas, a burocracia se
aprimora.
São criadas sociedades internas, departamentos, subdepartamentos. Tudo
com representantes eleitos e/ou nomeados pelo Conselho, que devem garantir o
registro e documentação de todos os atos.
Todos os membros estão subordinados às normas reguladoras da
organização institucional como um todo presentes no Estatuto da Igreja.
Quando se faz referência à questão dos membros em comunhão com a
Igreja, é importante considerar que o sistema Presbiteriano dá ao seu Conselho o
poder de deliberar sobre penalidades aos membros que se “desviam” da disciplina
estabelecida pela Igreja podendo, inclusive, eliminá-los do rol de membros
comungantes.
O exposto demonstra a existência de clara dicotomia interna, visto que
inclui ações democráticas e anti-democráticas simultaneamente, à exemplo de sua
funcionalidade. É democrática, ao permitir à Assembléia instituída o direito de
escolha de um Conselho através do voto. Porém, é extremamente autoritária ao
conceder ao Conselho escolhido o poder de decidir sobre a vida íntima dos
144 Imprensa Evangélica. São Paulo: 1883., Vol. XIX, nº23.
283
próprios membros. Compete ao mesmo julgar e punir qualquer conduta
interpretada como desviante o que garante a submissão dos membros aos
preceitos instituídos.
O termo desviante reflete atitude divergente do padrão estabelecido pela
moral normativa da igreja. Quanto às penalidade, variam da advertência oral à
suspensão da comunhão.
Apesar das transformações que ocorreram na sociedade, modificando
valores e costumes, a estrutura governamental presbiteriana permaneceu
garantindo a observância do mesmo “status quo” dos seus primórdios. Se evoluiu
no tratamento das questões ideológicas, não permitiu que isto transformasse a
estrutura de poder instituída. Passou-se a admitir o gênero feminino como útil e
capaz, responsável pela educação e manutenção dos valores morais instituídos
pela doutrina, mas o processo não viabilizou a participação deste na estrutura de
poder da Igreja.
É possível constatar que o conservadorismo presente nesta instituição
contribuiu para movimentos dissidentes internos e resultou no surgimento de
outras inúmeras denominações presbiterianas, como nos afirmam Mendonça e
Velasques Filho. Estes autores descrevem com admirável perícia a organização
do sistema institucional da IPB, como segue.
“ Os presbiterianos brasileiros são fiéis a João Calvino quanto ao governo eclesiástico. Organizam-se a partir da relativa autonomia da congregação local, num sistema federativo e piramidal de concílios. Cada congregação local tem um conselho de presbíteros leigos eleitos por ela; um grupo de congregações locais forma um presbitério; um grupo de presbitérios forma um sínodo, e todos os presbitérios formam o supremo concílio ou assembléia geral.” 145
145 MENDONÇA, Antônio Gouvêa; VELASQUES FILHO, Prócoro. Introdução ao Protestantismo no Brasil. São Paulo: Loyola, 1990, p. 36.
284
Como citamos no parágrafo anterior, crises internas levaram ao
surgimento de outras Igrejas Presbiterianas que defendem noções diferentes não
apenas em relação à doutrinária, como também, na própria estrutura
governamental, permitindo o acesso da mulher em seu Conselho, seja como
diaconisa, presbítera e até no ministério pastoral, como é o caso da Igreja
Presbiteriana Independente, a primeira oriunda de dissidência, já em 1892.
Velasques Filho e Mendonça relacionam os seis diferentes grupos de
presbiterianos brasileiros, destacando-os por características básicas, como segue:
“Igreja Presbiteriana do Brasil – IPB (muito conservadora)
Igreja Presbiteriana Independente do Brasil – IPI (moderadamente conservadora)
Igreja Presbiteriana Unida do Brasil – IPU (aberta e ecumênica)
Igreja Presbiteriana Conservadora – IPC (conservadora radical)
Igreja Presbiteriana Fundamentalista – IPF (conservadora radical)
Igreja Presbiteriana Renovada – IPR (pentecostal).” 146
Outras denominações, presentes em território brasileiro, possuem um
modelo estrutural que permite a presença feminina em seus Conselhos, podendo
esta exercer qualquer ministério para o qual tenha se sentido chamada. A
exemplo do que foi afirmado, pode -se fazer referência à IECLB, Igreja
Evangélica da Confissão Luterana no Brasil, na qual a mulher vem
desempenhando papel de considerável importância desde o século XIX.147
146 Ibid. p. 36 147 Em referência ao papel desempenhado pela mulher a partir do século XIX, diversos autores se destacam. BRAKEMEIER, Ruthild em sua dissertação de mestrado intitulada “O Surgimento de um Modelo de Diaconato Feminino, sua Implantação no Brasil e Perspectivas para o Futuro” (1998), apresenta na Escola Superior de Teologia em São Leopoldo – RS, trata da ação feminina na IECLB. Igualmente, a pesquisadora ESTRADA, Leciane G. Duque em seu artigo “Acontece no Brasil” editado no periódico Mundo Reformado in: “Las mujeres el ministério ordenado”, de
285
É possível citar ainda o modelo metodista, cujo surgimento foi similar
ao do presbiterianismo, mas que demonstrou ter evoluído mais em relação à
superação da questão homem/mulher em sua organização hierárquica de poder.
Na obra “O protestantismo Brasileiro” de Émile G. Léonard fica
explícita a posição da Igreja Metodista frente ao ministério feminino ao relatar
sobre a decisão do Concílio Geral de 1946 que viabilizou a publicação dos
“Estatutos da Ordem das Diaconisas da Igreja Metodista do Brasil” 148.
O autor mencionado apresenta uma transcrição afirmando que “... a
mesma denominação acaba de aumentar seu corpo de auxiliares, apelando para
o ministério feminino...” 149
Outro texto que enfoca a questão assinalada é apresentado por Jean
Baubérot , sob o tema “Para o acesso ao ministério.”
Porém, limitamos nosso estudo ao modelo presbiteriano.
2.4. SOCIEDADES INTERNAS DO MODELO IPB.
Além dos organismos instituídos que garantem a funcionalidade
administrativa, política, econômica, social e moral da IPB, existem inúmeros
departamentos que têm por função garantir atividades que envolvam seus
membros, respeitando os diferentes níveis de interesse.
Tais departamentos, e/ou, sociedades internas, como também são
chamadas, são organizadas com base em padrões preestabelecidos, com diretorias
marzo – junho de 1999. Também DREHER, Martin N. explicita sobre o tema em suas publicações “Imigrações e História da Igreja no Brasil” e “Igreja e Germanidade” editada em 1984. 148 LEONARD, op. cit., p. 238 149 Ibid, p. 238
286
representadas por indivíduos escolhidos democraticamente pelo grupo através de
processo eleitoral e que devem exercer funções definidas antecipadamente pelo
próprio sistema. Os departamentos citados, existentes nas Igrejas locais, se
articulam a níveis regionais e nacional. Há uma unidade que permite a relação de
representantes nos vários níveis e concorre para o conservadorismo do sistema
instituído.
Os grupos a que fazemos referência são os seguintes:
UPH – União Presbiteriana de Homens
SAF – Sociedade Auxiliadora Feminina
UMP – União de Mocidade Presbiteriana
UPA - Uniã o Presbiteriana de Adolescentes
UCP – União de Crianças Presbiterianas.
“Art.1º - A UPH (União Presbiteriana de Homens); a SAF (Sociedade Auxiliadora Feminina); a UMP (União de Mocidade Presbiteriana); a UPA (União Presbiterinada de Adolescentes) e a UCP (União de Crianças Presbiterianas) são Sociedades Internas da Igreja Presbiteriana do Brasil, que congregam seus sócios sob critério de sexo e idade, sob a orientação, supervisão e superintendência do Conselho da Igreja, com o qual se relacionam por meio de um Conselheiro.”150
UPH – UNIÃO PRESBITERIANA DE HOMENS.
É uma organização relativamente recente no Brasil. Porém, os homens
sempre representaram figura de destaque na história do Cristianismo e,
igualmente, do presbiterianismo.
150 MANUAL UNIFICADO DAS SOCIEDADES INTERNAS. São Paulo: Cristã, 1999, p. 23.
287
Quanto à organização deste departamento interno da IPB, o Manual
Unificado das Sociedades Internas apresenta breve relato onde dispõe que “em
1951 foi eleito Secretário Geral do Trabalho Masculino o Rev. Israel
Gueiros.”151 Na seqüência, apresenta a evolução da organização departamental,
bem como as publicações ligadas ao órgão.
Esta sociedade tem características próprias que definem uma maior
autonomia considerando-se que, entre seus sócios, figuram presbíteros e
diáconos.
Em suas reuniões se discutem questões que não estão vinculadas apenas
à questão doutrinária, mas também relacionadas com a administração da Igreja.
A sociedade promove atividades devocionais e evangelísticas tais como
cultos de evangelização em bairros, na zona rural, em residências de membros da
Igreja e participa de Congressos e outros eventos promovidos regularmente pela
Sociedade.
SAF – SOCIEDADE AUXILIADORA FEMININA.
É composta por mulheres que, geralmente, não desempenham profissões
fora do âmbito doméstico. Isto significa que nem todos os membros femininos da
IPB estão associadas à SAF, em função do razoável número de atividades que
este departamento desenvolve semanalmente.
Ao nos referirmos à SAF devemos nos reportar à sua origem.
Mendonça faz referência às atividades desenvolvidas por sociedades
auxiliadoras femininas antes mesmo de sua existência no Brasil. Escreve que:
“Após a Guerra Civil Americana surgiram as sociedades auxiliadoras femininas. Essas associações leigas exercem poderoso papel na empresa missionária, seja entusiasmando jovens para as missões, seja
151 Ibid. p. 7
288
sustentando-os com suas contribuições, ao lado das agências missionárias oficiais...”152
No Brasil, as sociedades auxiliadoras femininas não se organizaram no
início da criação da Igreja. Porém, sua organização contou com a influência
norte-americana, uma vez que a presença de missionárias e missionários dos
EUA é que viabilizou a presença da Igreja no Brasil. (Ver anexo III, pág.230)
O Manual Unificado contém um breve histórico com o relato do
surgimento da primeira SAF em território brasileiro e que data de 1884, como
segue:
“As senhoras, membros da Igreja Presbiteriana de Pernambuco, reuniram-se em uma Associação Evangélica, com o fim de estudos bíblicos e arrecadação de fundos para auxílio aos necessitados e à Igreja e, no dia 11 de novembro de 1884, houve a reunião de instalação desta Associação, tendo sida eleita Presidente a Sra. Carolina Smith. Temos aí a primeira SAF.”153
O mesmo documento apresenta dados decorrentes da expansão da
referida organização, que conta atualmente com mais de 50.000 sócias,
representadas por 54 Confederações Sinodais154.
A SAF desenvolve atividades devocionais e também sociais.
Normalmente se relaciona com todas as sociedades internas da igreja por seu
caráter de auxiliar.
Nos eventos organizados pelas demais sociedades, tais como encontros,
congressos e acampamentos, auxilia na organização, na cozinha e demais funções
destinadas às mulheres.
152 MENDONÇA, op. cit., p. 61. 153 MANUAL UNIFICADO. São Paulo: Presbiteriana, 1998, p. 9 154 Confederações Sinodais – Áreas de abrangência de Igrejas, Congregações onde existe a organização da SAF, englobando vários municípios, distritos e bairros.
289
Na área social atua em campanhas e visitação a hospitais, cadeias, asilos
e favelas.
Também contribui apoiando jovens e crianças nas atividades
programadas por estes.
UMP – UNIÃO DE MOCIDADE PRESBITERIANA
Reúne moças e rapazes a partir de 16/17 anos. Estes podem participar da
sociedade enquanto se entenderem jovens. Em razão disto, muitos continuam a
fazer parte do grupo mesmo após o casamento. É comum, ao chegarem os filhos,
o casal mudar para a UPH e SAF, onde continuarão a desempenhar funções
participativas na Igreja.
O surgimento da organização de jovens presbiterianos remonta à década
de 30, quando se apresentavam sob diversas nomenclaturas.
Segundo o Manual Unificado,
“Em 1936 os jovens das centenas de igrejas presbiterianas do Brasil já estavam se organizando sob vários nomes, como por exemplo: Sociedade de Jovens, Sociedade Heróis da Fé, Sociedade Esforço Cristão, etc. O Supremo Concílio então recomendou que os pastores dessem todo o apoio para que os jovens se organizassem em cada igreja sob o nome de União da Mocidade Presbiteriana (UMP).” 155
Normalmente, a UMP desenvolve ações culturais sempre presentes nas
atividades da Igreja. Formam grupos teatrais, bandas, grupos de coreografia
religiosa, quartetos, conjuntos instrumentais e vocais, o que contribui para a
característica “animada” dos eventos religiosos.
São comuns entre os jovens a participação em encontros
interdenominacionais, congressos, retiros, acampamentos e viagens.
155 MANUAL UNIFICADO DAS SOCIEDADES INTERNAS; op. cit., p. 13.
290
Todas as atividades devem estar respaldadas pelo Conselho.
UPA – UNIÃO PRESBITERIANA DE ADOLESCENTES.
Teve sua origem em 1967, através do trabalho da Sra. Dorcas
Araújo Machado, na IPB do Rio de Janeiro,
A preocupação com adolescentes e o interesse em orientá-los e abrir-lhes
mais espaço à participação interna da Igreja, idéia de sua fundadora, estimulou
outras igrejas a oportunizar a organização de UPAS.
Rapidamente houve expansão do modelo resultando no surgimento de
UPAs locais, federações e confederações.
Atualmente estas organizações estão espalhadas pelo país, presentes em
todas as IPBs, possibilitando aos adolescentes organizarem-se e participarem de
atividades religiosas, de lazer e cultura.
UCP – UNIÃO DE CRIANÇAS P RESBITERIANAS
O Departamento infantil teve início com a denominação de liga-juvenil.
Durante anos ficou sob a responsabilidade da SAF.
Somente em 1980 o Departamento assumiu a sigla UCP, conforme
relato do Manual Unificado que transcrevemos:
“E por que UCP? No ano de 1980, numa reunião realizada em São Paulo com a Secretária Nacional do Trabalho Feminino, com a presença da Sra. Edna Costa, o pastor Loria (não me lembro o nome todo) e eu, como assessora da Sra. Edna Costa no trabalho da Liga Juvenil, foi proposto trocar o nome deste departamento para União de Crianças Presbiterianas – UCP.” 156
156 Ibid p. 20
291
Até 1982, o trabalho com crianças estava vinculado à Secretaria
Nacional das SAFs. Só a partir desta data foi criada a Primeira Secretaria
Nacional de Crianças, com a incumbência de dirigir e orientar o trabalho.
Nas Igrejas locais a UCP é, normalmente, liderada por jovens senhoras e
senhoritas que planejam e operacionalizam atividades, com o apoio dos pais e
aprovação do Conselho.
Essas responsáveis são eleitas em Assembléia com a anuência do
Conselho da Igreja.
São oportunizadas às crianças a participação em atividades devocionais,
recreativas e culturais, sempre respeitando uma metodologia própria para a idade .
Assim como as demais sociedades internas da Igreja, a UCP participa de
ações paraeclesiásticas 157 como gincanas, torneios, acampamentos e passeios.
Os diversos grupos abordados apresentam organização semelhante, isto
é, elegem Presidente, Vice-presidente , Secretário(a) e Vice, Tesoureiro(a)
primeiro e segundo e representantes de Departamentos. Estes variam conforme o
número de sócios e o interesse dos mesmos. Mas, é comum a existência de
Departamento Cultural, Esportivo, Devocional, Conselho Deliberativo e outros.
Enfim, inúmeras pessoas podem exercer distintos papéis e, neste caso,
independente de sexo, cor e poder aquisitivo. É aí que se delineia um dos aspecto
da democracia.
No cerne deste modelo, entretanto, se pode perceber a separação
existente entre UPH e SAF, colocando homens e mulheres em sociedades
distintas, enquanto as três últimas UCP, UPA e UMP reúnem os dois gêneros que
atuam juntos e desenvolvem atividades inerentes às respectivas idades.
157 Paraeclesiásticas – atividades diversificadas, com finalidade evangelística, representada por acampamentos, retiros, intercâmbios e torneios esportivos.
292
Os grupos citados promovem, respectivamente, reuniões, seminários
com uma parte devocional e desenvolvem, além de atividades evangelísticas,
também o lazer.
Todos esses departamentos estão sob a autoridade do Conselho que tem
poder para deliberar sobre a escolha da diretoria eleita e, igualmente, sobre as
atividades programadas.
É interessante observar até que ponto existe a presença patriarcal,
legitimando a realidade institucionalizada pela IPB. Esta afirmação decorre da
observação que se pode fazer ao se considerar a sigla representativa da
organização feminina da Igreja. Enquanto as quatro, que representam as crianças,
os adolescentes, os jovens e os homens são designadas “por união de”, as
mulheres encabeçam uma SAF, isto é, uma Sociedade Auxiliadora Feminina. O
termo Auxiliadora demonstra claramente à qual função a mulher foi destinada,
fato que merece especial atenção.
Além dos organismos citados, a Igreja desenvolve seus trabalhos
teológicos com base em duas metodologias internas distintas: cultos e escolas
dominicais. Os cultos mantêm a simplicidade herdada da Reforma, em ambiente
próprio, oriundo da política religiosa adotada desde sua chegada no país.
Como nos expõem Mendonça e Velasques Filho:
“Nos templos dessas Igrejas o altar ganhou sintomaticamente o nome de “púlpito”. A pregação conquista assim o lugar mais privilegiado da celebração, o que faz com que freqüentemente o atendimento ao serviço religioso seja determinado pela eloquência do pregador, por sua ortodoxia doutrinária, ou por ambas. As orações devem ser espontâneas, nunca preparadas previamente nem escritas. Numa mesma oração podem estar reunidos todos os diferentes momentos do culto. A seleção dos hinos utilizados no culto não recorre a
293
critério específico, a não ser o efeito psicológico causado pelos ritmos...” 158
As escolas dominicais são coordenadas por uma diretoria eleita e
aprovada pelo Conselho. O mesmo acontece com os professores que lidam com
as diversa classes componentes da atividade.
As diferenças de funcionamento destas Escolas Dominicais podem
ocorrer em função da realidade vivenciada por pequenos e/ou grandes centros.
Porém, a essência do sistema é garantida pela própria estrutura da Igreja que
possui uma abrangência nacional.
Os grupos citados são elementares. Existem outros organismos internos
que variam de acordo com a realidade que permeia as Igrejas locais. Estes,
sempre sob tutela do Conselho, agem de modo organizado, escolhendo
lideranças e contando com a adesão de seus componentes. A exemplo disto
existem os grupos musicais, os de missão, entre outros.
Em tudo está explícita a autoridade do Conselho.
Com base nesta autoridade, literalmente masculina, decorrente da
própria normatização contida no Estatuto Presbiteriano, buscamos analisar a
figura feminina no contexto da Igreja.
158 MENDONÇA e VELASQUES FILHO, op. cit., p. 156
294
3. MULHER E PREBITERIANISMO
3. MULHER E PRESBITERIANISMO
O estudo do Presbiterianismo no Brasil por pesquisadores respeitáveis
como Antonio G. Mendonça, David G. Vieira, Boanerges Ribeiro, Julio Andrade
Ferreira, Rubem Alves, entre outros, tem deixado considerável lacuna quanto à
295
analise da presença da mulher no processo de origem e desenvolvimento do
mesmo.
Incontáveis subsídios justificam a presença do presbiterianismo no
Brasil, como também a metodologia utilizada, as áreas alcançadas, o tipo de
elemento humano envolvido, os efeitos nas regiões atingidas, o controle
organizacional das Igrejas, enfim, estudos que fazem entender a presença desta
denominação e o modo de ser de seus seguidores. Porém, pouco há sobre a
participação da mulher. Há momentos em que ela aparece sem nome, sem função,
sem expressão. É a esposa do pastor X, ou do presbítero Y ou a filha do
importante fulano, não é a Maria, a Benedita, a Antonia ou, muito menos, a
professora Joana, a lavadeira Joaquina, a lavradora Clara. Ela parece não fazer
parte do contexto de produção onde trabalha, mas apenas representa parte de uma
sociedade em formação, cujo papel essencial é ser filha, esposa e mãe. O exposto
coloca sempre a mulher no espaço doméstico, excluindo-a como elemento
participativo no espaço que ocupa.
Marlene Neves Strey em sua pesquisa sobre “a mulher, seu trabalho,
sua família e os conflitos” expõe o seguinte:
“O trabalho doméstico se situa dentro da cadeia produtiva do sistema capitalista com a mesma contribuição que outros componentes óbvios, tais como a sanidade, o ensino, a publicidade, etc., porém com uma conotação de marginalidade, que tem provavelmente muito a ver com sua escassa produtividade social e seu caráter familiar, nuclear, isolado da textura social. O fato de que a ideologia familiar tradicional (patriarcal) facilite a mobilização gratuita do trabalho feminino para a produção e reprodução social não muda em nada sua situação subordinada no sistema.” 159
159 STREY, Marlene Neves. A Mulher, seu trabalho, sua família e Conflitos. São Leopoldo: UNISINOS, 1997, p. 60
296
A questão apresentada coloca o trabalho doméstico como algo marginal
à cadeia produtiva do sistema capitalista, o que resulta no obscurantismo da
figura feminina no processo histórico.
Porém, numa análise minuciosa é possível detectar fatos que envolveram
sua figura, e que possibilitaram efeitos favoráveis ao desenvolvimento e
expansão do presbiterianismo.
A própria preservação dos valores e das características patriarcais
existentes no âmbito da religião presbiteriana torna imprescindível o
reconhecimento da influência feminina nesta realidade, uma vez que seu papel se
inser ia sempre no contexto familiar e era de sua responsabilidade o zelo pelos
bons costumes, moral e religião.
No estudo de gênero elaborado por Marilene Marodin, a autora destaca o
papel da mulher na preservação das características patriarcais, declarando:
“Nessas, os papéis de gênero colocam os homens em uma posição dominante e as mulheres em uma posição subordinada. As tarefas dos homens são, então, de maior status, maior reconhecimento. A mulher, na posição subordinada, desempenha tarefas de menor status e menor valor.”160
Estando a mulher relegada a um “espaço de menor valor”, é
compreensível abstrair a limitação imposta por longo período apesar de ser ela
um elemento que, igualmente, constrói a história e participa desta.
3.1. MULHER E PIONEIRISMO PRESBITERIANO.
Alguns autores relatam sobre o pioneirismo presbiteriano destacando a
figura de Ashbel Green Simonton, primeiro missionário norte-americano enviado
297
pela Junta das Missões Estrangeiras e que aportou no Rio de Janeiro em
12/08/1859. Na seqüência apresentam os personagens Rev. Alexander L.
Blackford (1860) e o Rev. F. J. C. Schneider (1861).
Antonio Gouveia de Mendonça em sua obra “O Celeste Porvir – A
Inserção do Protestantismo no Brasil” (1995) apresenta a seqüência da chegada
dos inúmeros missionários desde o século XIX, mas omite se vinham
acompanhados, se traziam esposas e filhos. Isto pode ser atribuído à época e
tradição literária em vigor. O autor relata sobre o paradigma da criação de
Igrejas, mas não específica a representação dos conversos. Em sua alusão à vinda
de evangelistas e educadores, nada diz sobre a presença de mulheres.
“Entre 1859 e 1889, as duas missões presbiterianas, entre evangelistas e educadores, enviaram para o Brasil 45 missionários... A relação entre o vulto da empresa missionária e os adeptos em 1891 mostra cerca de 50 convertidos para cada agente empregado...” 161
Outro fator importante a considerar no momento pioneiro do
presbiterianismo é a presença do leigo como elemento de divulgação. O papel
itinerante, não só dos colportores na distribuição e venda de Bíblias, como
também do pregador, inviabilizava à mulher da época o desempenho da mesma
função tendo em vista os valores característicos da mentalidade vigente. O
caráter itinerante do trabalho, por si só, era obstáculo à ação feminina.
Considerando isto, Mendonça torna justificável a afirmação de que:
“Além do pregador itinerante, a peça mais importante desse protestantismo incipiente era o líder leigo local. Esse leigo era em geral uma pessoa de meia-idade, homem, capaz de ler e liderar a congregação. Devia, além disso, ser pessoa de reputação
160 MARODIN, Marilene. As relações entre o homem e a mulher na Atualidade in: Mulher, Estudos de Gênero. São Leopoldo: UNISINOS, 1997, p. 11. 161 MENDONÇA, op. cit., p. 27.
298
exemplar. Cumpria, assim, tarefas de pastor, médico, conselheiro e irmão mais velho dos demais fiéis”162
O êxito da presença pioneira de missionários presbiterianos se faz
condizente com o papel desempenhado por outros indivíduos, que desde a
independência estiveram presentes no país divulgando e distribuindo Bíblias.
Émile-G. Léonard escreve sobre isto e aborda sobre a presença da mulher que
acompanhou o trabalho e, certamente, fez parte dele.
“Com relação ao Brasil as providências se limitaram à vinda do Rev. Sapulding e à pequena escola para crianças brasileiras e estrangeiras que ele fundou além de seu ministério nas colônias inglesa e norte -americana, e entre os marinheiros desses países. Em 1847 recebeu o auxílio de um grupo de professores e do Rev. Daniel Parish Kidder, acompanhado de sua esposa” (grifo nosso)163
Neste caso também encontramos o tratamento “esposa”, que significa
companhia. Isto se justifica considerando que, na época citada, inúmeras
mulheres que adentraram nosso país não ocupavam posição de liderança. Elas se
limitavam a assumir o papel de “esposa de missionário e/ou pastor”, cuja
função era apoiar e estimular o projeto evangelístico do marido.
Outra figura interessante do momento pioneiro presbiteriano foi o Dr.
Robert Reid Kalley, médico escocês que, oriundo de uma perseguição na Ilha da
Madeira, concedeu essencial apoio a Simonton. Sua esposa, Sara Kalley
desempenhou destacável papel no desenvolvimento protestante brasileiro,
contribuindo literalmente com quase todas igrejas que foram criadas no Brasil,
considerando-se que, como compositora musical e poetisa, criou muitos hinos
162 VELASQUES FILHO e MENDONÇA, op. cit., p. 166 163 LÉONARD, op. cit., p. 42
299
que passaram a fazer parte do ritual de cultos evangélicos, inclusive da Igreja
Presbiteriana.
Tal fato mostra que seus limites não estavam singularmente atrelados à
questão doméstica. Além do “ser mulher”, a competência artística legitimou-a
como agente da história.
Nos relatos sobre as adesões à Igreja é possível reinterpretar o papel de
mulheres que puderam influenciar outras pessoas contribuindo para a expansão
da Igreja. Porém, as mesmas não pareciam perceber a importância deste papel,
agiam apenas no intuíto de cumprir o papel cristão.
Émile-G Léonard nos demonstra este aspecto, ao relatar sobre a
conversão de uma das irmãs do Pe. Conceição, citando-a apenas pelo apelido de
“Tudica” e afirmando que: “Esta atraiu seu marido, sua sogra D. Cândida
Cerqueira Leite, a mais respeitada e influente fundadora do povoado, e todos os
filhos desta.” 164
O fato apresenta também uma outra mulher que, além de sogra e mãe, é
respeitada como influente fundadora de um povoado, o que demonstra claramente
a influência política e social de uma mulher fora do espaço doméstico e a
importância da mesma nesta organização.
O desenrolar da atividade missionária em áreas rurais e a carência de
espaços adequados ao desenvolvimento da mesma resultava numa real
dependência da cooperação de famílias simpatizantes com a causa. A reunião de
vizinhos, amigos, e parentes, impunha à mulher a preocupação com a alteração
de toda rotina cotidiana a que estava habituada.
Era fundamental receber e servir bem, hospedar o pregador, adequar o
espaço, enfim, corroborar para que a imagem de perfeição doméstica fosse
mantida. Além do que, era imprescindível apresentar filhos bem tratados,
arrumados e, acima de tudo, visivelmente educados.
300
Tal desvelo também possibilitou a divulgação do presbiterianismo e
crescimento do número de adeptos, bem como a própria transmissão dos
ensinamentos que as famílias convertidas garantiam aos seus.
A cada evento onde ocorriam batizados e profissão de fé, muitas
mulheres se faziam presentes. Era, na maioria das vezes, um ato de família,
independente do poder aquisitivo das mesmas.
O crescimento da Igreja não ocorria apenas no meio rural. A urbanização
trazia em seu bojo o desenvolvimento protestante, incluindo o presbiterianismo.
Famílias de destaque na sociedade tornavam-se protestantes e passavam a
propagar a nova religião. Isto é mostrado por Émile-G. Léonard, quando escreve
em referência a figuras importantes que:
“...houve outra família, da mesma classe, que pelo número de adeptos à nova fé e pelo zelo religioso se tornou o centro da Igreja Presbiteriana de São Paulo: foram os Souza Barros, a quem os genealogistas fazem descender, através dos soberanos de Portugal, dos Imperadores de Leão e Carlos Magno, não esquecendo contudo, esses caciques Piquerobí e Tibiriça, de quem todas as antigas famílias de São Paulo se orgulham de descender.” 165
O período de introdução do protestantismo no Brasil é marcado por um
momento em que a figura feminina ocupa um espaço consideravelmente limitado
na política, economia e sociedade. Isto se reflete no processo em análise,
tornando-a quase incógnita na história da Igreja, apesar do indispensável papel
que exerceu garantindo boa parte do resultado almejado.
164 Ibid, p. 59 165 Ibid, p. 96
301
3.2. – O PERFIL DA MULHER NO INÍCIO DO SÉCULO XX.
Para entender a exclusão da mulher no processo histórico de
desenvolvimento e expansão do presbiterianismo, necessário se faz conhecer o
período e a realidade envolvente que interferiu no seu desenrolar.
A sociedade brasileira da época, herdeira da miscigenação cultural
ibérica, negra e índia, assimilava basicamente os valores patriarcais transmitidos
pelo cristianismo oriundo de Portugal. A influência tridentina 166 decorrente da
presença, imigratória européia desde meados do século XIX não alterava em nada
o cotidiano aprovado para a mulher e aceito pelas famílias na época.
No contexto da sociedade brasileira da época podem ser detectadas
algumas manifestações de rebeldia decorrentes das discriminações e
desigualdades de direitos vigentes.
O início do século já vivenciava movimentos resultantes da insatisfação
de determinados grupos de mulheres, dada a situação de dependência e submissão
retratada pela realidade da maioria.
Marina Maluf e M. Lucia Mott desenvolveram pesquisa não sobre a
mulher presbiteriana, mas sobre a realidade feminina no Brasil dos anos 20. Para
isto, valeram-se de uma Revista Feminina publicada na época, retratando
aspectos da sociedade mineira como segue:
“Sejamos mulheres” proclamava de Minas Gerais uma colaboradora da Revista Feminina, em 1920. Reivindicando igualdade de formação para ambos os sexos, chamava a atenção das leitoras para as mulheres “vítimas do preconceito”, que viviam fechadas no lar, arrastando uma “existência
166 Tridentina – denominação dada ao novo modelo de catolicismo trazido pelos imigrantes do século XIX, com base nas normas instituídas pelo Concílio de Trento em fins do século XVI.
302
monótona, insípida, despida de ideais”, monetariamente algemadas aos maridos.” 167
O meio urbano propiciava as manifestações feministas do início do
século, o que não atingia o meio rural, em função da dificuldade de comunicação
e do acesso restrito que as mulheres deste ambiente tinham em relação às
informações.
A moral da época impunha à mulher a responsabilidade da manutenção
familiar, da integridade moral, especialmente, das filhas. Os usos e costumes
estavam impregnados da ideologia patriarcal, que estabelecia a diferenciação
substancial de direitos aos respectivos gêneros humanos formadores da
sociedade. O próprio Estado mostrava interesse na preservação do “status quo”,
uma vez que a disciplina familiar contribuía para a preservação da disciplina
social e, consequentemente, para a manutenção do poder político instituído.
Pesquisadoras afirmam que:
“... Conjugaram-se esforços para disciplinar toda e qualquer iniciativa que pudesse ser interpretada como ameaçadora à ordem familiar, tida como o mais importante “suporte do Estado” e única instituição social capaz de represar as intimidadoras vagas da “modernidade”.”168
É interessante lembrar que, apesar de Maluf e Mott limitarem o estudo a
Minas Gerais, isto nos interessa, já que o presbiterianismo teve considerável
expansão neste estado.
As instituições religiosas, bem como as educacionais e outras, primavam
pelo repasse da ideologia que reafirmava as diferenças inerentes ao homem e à
mulher, perpetuando a supremacia masculina no âmbito público e a excelência
primordial da mulher no âmbito privado. Era a essência feminina, a única capaz
167 MALUF, Marina; MOTT, Maria Lucia. Recônditos do Mundo Feminino. In: História da Vida Privada no Brasil República: Da Belle Époque à Era do Rádio. São Paulo: Schwarcz , 1998, p.371. 168 Ibid p. 371 e 372.
303
de desenvolver os atributos domésticos e sua felicidade estava condiciona da à
realização como esposa, mãe e dona-de-casa. Além do “dever ser” eficiente
doméstica, também era de sua competência a questão do “gerar” filhos perfeitos,
e, em boa quantidade. Estes deveriam ser saudáveis, bem cuidados e educados,
pois isto fazia parte do rol de obrigações atribuídas à “rainha do lar”. Era
inviável pensar em realização pessoal da mulher fora do âmbito familiar. Sua
perspectiva de vida se fazia implícita aos deveres domésticos.
Comprovadamente, suas tarefas não se limitavam ao cumprimento dos
afazeres domésticos rotineiros. Implicavam ainda no aspecto afetivo, uma vez
que dela se esperava a satisfação e orgulho de todos. A ela competia contribuir
para a conquista da prosperidade econômica, garantir a honra e o respeito pelo
nome que traziam, enfim, era o sustentáculo da integridade do grupo familiar.
Seus ideais e sonhos fora deste ambiente não deveriam nem mesmo ser
manifestados. Eram tidos como frivolidades descabíveis e mesmo ilegais, já que a
legislação existente estabelecia limites definidos para homem e mulher,
respectivamente, como pode ser encontrado no Código Civil de 1916.
Sob o tema “Recônditos do mundo Feminino”, Maluf e Mott afirmam que:
“... a nova ordem jurídica incorporava e legalizava o modelo que concebia a mulher como dependente e subordinada ao homem, e este como senhor da ação. A esposa foi, ainda, declarada relativamente inabilitada para o exercício de determinados atos civis, limitações só comparáveis às que eram impostas aos pródigos, aos menores de idade e aos índios.”169
O exposto não impedia a mulher de desempenhar atividades extras para
contribuir com a manutenção familiar desde que com a permissão do chefe da
família e jamais negligenciando seus deveres de esposa, mãe e dona -de-casa. A
169 Ibid, p. 375
304
própria legislação previa tal possibilidade dado o grande número de famílias que
compunham a classe proletária.
Sobre isto Suzana Albornoz afirma:
“Nas classes de renda insuficiente, a mulher é muitas vezes impelida a trabalhar fora de casa por absoluta necessidade de sobrevivência, dela e de sua família. O mercado de trabalho abre-lhe as portas do serviço doméstico, e de alguns setores menos remunerados da indústria...” 170
Como se pode ver, a sociedade apresenta em seu bojo não apenas
diferenças entre homens e mulheres, mas também entre as categorias sociais às
quais estas mulheres pertenciam. Além da questão apresentada envolver apenas
representantes da classe pobre, seus salários eram inferiores aos destinados aos
homens.
Nas diferentes classes sociais, a postura de submissão feminina deveria
estar garantida, porém, nem todas poderiam e/ou deveriam desenvolver
atividades extras, visando contribuir para o sustento da família.
O trabalho feminino, quando necessário, era motivo de desprestígio para
o homem, tendo em consideração que a ideologia dominante da época implicava
na responsabilidade deste em suprir as necessidades da família, gerir os negócios
e ser realmente o chefe.
Interessante se faz conhecer a gama de qualidades impostas à mulher em
prol da manutenção da família e da sociedade, sem com isto implicar em qualquer
acesso a compensações de qualquer espécie. Para ser tida como uma esposa
virtuosa, estudos relatam que:
“Prescrevem-se para ela complacência e bondade, para prever e satisfazer os desejos
170 ALBORNOZ, Suzana. O Trabalho Invisível. In: Na Condição de Mul her. Santa Cruz: APESC, 1985, p. 26.
305
do marido sequer expres sos: dedicação, para compartilhar abnegadamente com o cônjugue os deveres que o casamento encerra: paciência para aceitar as fraquezas de caráter do cônjuge... O perfil traçado para a esposa conveniente contava ainda com indefiníveis qualidades tais como, simplicidade, justiça, modéstia e humor”” 171
Evidentemente, uma atitude contrária aos moldes estabelecidos era tida
como resultado de leviandade e incompetência do “ser mulher”.
Alguns ideais pertinentes ao movimento missionário norte-americano,
decorrentes da filosofia liberal, influenciaram criteriosamente o paradigma do
trabalho. Porém, o aspecto familiar continuava mantendo os mesmos princípios
que impunha à mulher a mesma condição de subserviência, mesmo entre os
membros da Igreja nascente.
A realidade apresentada não impediu o surgimento de contradições
detectadas pela pesquisadora Maria Valéria Rezende em seu estudo “O
Feminismo do Movimento Missionário na América Latina” . Ela analisa o
feminismo protestante na América Latina, no período de 1910 a 1940, e entre
suas afirmações mostra que: “Foi um feminismo impulsionado sobretudo por
valores externos ao campo religioso e às condições próprias da América
Latina”172
Rezende comenta ainda sobre o caráter feminista presente em três
Congressos Missionár ios Protestantes , ou seja, o do Panamá em 1916, o de
Montevidéu em 1925 e o de Havana em 1929, como segue:
“Tanto os três congressos mencionados, como também a revista do Comitê de Cooperação, mostram não somente um
171 MALUF E MOTT, op. cit., p. 390 172 REZENDE, Maria Valéria. O Feminismo do Movimento Missionário na América Latina. In: A Mulher Pobre na História da Igreja Latino Americana. Org. MARCILIO, Maria Luiza. São Paulo: Paulinas, 1984, p.37.
306
grande interesse pelo tema da mulher, mas assumem uma posição francamente feminista, propondo como tarefas importantes a educação da mulher, a luta para alcançar a igualdade de direitos civis e políticos, o direito da mulher ao trabalho produtivo fora do lar, à proteção à mulher trabalhadora, defendendo a igualdade da mulher com o homem quanto ao seu valor, importância social e capacidade moral e intelectual.” 173
Rezende expõe a influência norte-americana no feminismo presente na
América Latina e reconhece que o mesmo não se limitou à questão imperialista e
capitalista. Considera a importância do movimento missionário protestante dada
sua característica de relativa autonomia, e afirma:
“Integram-se ao tema, de maneira muito acentuada, valores típicos do protestantismo que as juntas missionárias representam: a ética do trabalho e da austeridade quando condena, mesmo para a mulher das elites econômicas, a ociosidade, a vaidade, a frivolidade, e propõe o trabalho constante e sem descanso, como modelo de vida e meio de desenvolvimento da personalidade feminina; a necessidade da reforma moral e religiosa do indivíduo, da conservação pessoal como única esperança de progresso para a humanidade.”174
Rezende constatou que havia interesse das Igrejas protestantes norte-
americanas em acompanhar os movimentos de penetração política e econômica
dos Estados Unidos no espaço latino americano. O apoio dos governantes,
interessados em limitar o poder da Igreja Católica nos países da América Latina,
facilitou a presença missionária.
O feminismo apresentado pela presença do protestantismo se
harmonizava com as propostas do capitalismo industrial incipiente, no início do
173 Ibid p. 41 174 Ibid, p. 44
307
século XX. Porém, não foi suficiente para modificar os valores vigentes na
sociedade brasileira.
Pode-se observar a existência de grupos que sugerem um ideal de
mulher submissa, recatada, possuidora de qualidades voltadas à família, casa-lar e
cuja competência intelectual deva estar centrada especialmente na educação dos
filhos. O modelo citado ainda se faz presente na ideologia presbiteriana, podendo
ser comprovado não apenas em seu discurso mas, igualmente, na prática da
maioria das famílias. Isto porque a educação que é repassada aos filhos traz em
seu bojo os mesmos valores e princípios instituídos socialmente.
Analisando o órgão de divulgação da sociedade de mulheres da IPB, ou
seja, a SAF em Revista, desde o início de sua publicação até os meados de 1970,
foi possível detectar vários expressões que demonstram o fato. Temos, como
exemplo um artigo de Blanche Lício na Revista que, apesar de ter sido escrito em
1972, refletia a ideologia citada, como segue:
“Para as meninas, cultivo e arranjo de flôres, rudimentos de corte e costura, bordados, pinturas, bichinhos, culinária, etc.. Para os garotos, jardinagem, horticultura, rudimentos de carpintaria, confecção de brinquedos de madeira, arame, etc..” 175
Mas, apesar de ainda poder ser constatada a presença dos que almejam a
permanência do “status quo” da mulher dócil, submissa, mãe capaz de educar
verdadeiros cidadãos, que saibam calar e que, além de excelentes esposas sejam
“auxiliares” nas atividades da Igreja, ocorrem também manifestações de buscas
por transformações no meio em questão. Isto pode ser percebido visto que
inúmeras mulheres presbiterianas estão cursando Teologia em seminários, outrora
destinado apenas a homens, mesmo sabendo estarem impedidas à ordenação.
175 LÍCIO, Blanche. Assessoria Cultural e Artística. SAF em Revista. São Paulo: Presbiteriana, jan -mar/72, pág. 9
308
A participação ativa da mulher no espaço profissional, intelectual,
político entre outros, antes reservado apenas ao homem, estimulou o
desenvolvimento de um espírito mais crítico e uma reflexão voltada a ideais mais
compensadores que o simples fato de ser apenas dona de casa e mãe.
Tal fato pode ter servido de subsídio à investigação feita pela
pesquisadora Maria Valéria Rezende sobre “O Feminismo do Movimento
Missionário Protestante na América Latina”, integrando uma das obras do
CEHILA176. Outras inúmeras pesquisadoras, também mulheres, tais como: Ana
Maria Bidegain; Gerdi Nuetzel; Maria José F. R. Nunes; Elisabeth S. Fiorenza
investigam sobre a questão de gênero e também demonstram interesse pelo
problema em questão.
Durante longo período foi inviável a participação ativa feminina nos
setores representativos da sociedade, o que pode ser constatado na ideologia que
impregnava a realidade vivencial dos membros da IPB em todo país
O exposto garante dar mostras de uma realidade “sui generis” que
envolve a mulher, criando uma imagem deturpada de feminilidade.
Além das qualidades relacionadas e exigidas da esposa, continuam
outras como cabíveis e indispensáveis. Podemos lembrar algumas como o limite à
vaidade, a importância do falar pouco, o vestir-se com elegância e sobriedade.
Disto o presbiterianismo impregnou-se, ditando e estabelecendo normas através
de uma disciplina regulamentada e expressamente controlada.
À mulher presbiteriana não era permitido aderir à modernidade, ao corte
de cabelo, às pinturas usuais da época, às roupas curtas e chamativas. Não era de
bom tom falar, rir e/ou cantar de modo a chamar a atenção das pessoas. Não
176 CEHILA, Centro de Estudos de História da Igreja na América Latina. É membro da Co missão Internacional de História da Igreja Comparada (CIHEC), filiada à Comissão Internacional de Filosofia e Ciências Humanas (CIPSH), à Associação Internacional de Estudos Missionários (IAMS) é à Federação Internacional de Institutos de Investigação Social e Sócio-Religiosa (FERES).
309
deviam sair de casa desnecessariamente, a não ser para reuniões evangelísticas
e/ou, acompanhadas por alguém da família. A elas competia o papel de boas
filhas, excelentes esposas e mães, fiéis como membros da Igreja e, acima de tudo,
simples, submissas e verdadeiras auxiliares no desempenho da obra evangélica .
A Imprensa Evangélica, primeiro jornal Presbiteriano, já em sua edição
de novembro de 1883 discorria sobre a questão da educação da mulher,
estabelecendo limites à sua maneira de ser. Um dos artigos relata que:
“Duas escriptoras norte -americanas, que teem debatido largamente a questão da educação da mulher, recommendam o seguinte: Ensinae à mulher a confiar em si mesma e a viver independente.”177
O “viver independente” apresentado no artigo não deve ser interpretado
com base nos moldes atuais, já que impunha limitações incomuns à mulher de
nossos dias. O mesmo artigo inclui uma extensa relação de tarefas e obrigações,
tais como: especialidades no cozinhar, no desempenho de variadas atribuições
domésticas, no controle do “como” vestir-se e/ou comportar-se, limitações a
relacionamentos com outras pessoas, aos gasto e às manifestações de alegria.
O “como poder ser“ mulher no modelo Presbiteriano foi garantido por
legislação interna própria, embasada no consuetudinário e com garantia de
controle de órgão de governo da instituição que fiscaliza a vida de todos os
membros.
É fundamental considerar que as décadas após 1920 foram
marcadamente de transformações. Foi a era de utilização dos modernos
equipamentos eletrodomésticos, tais como o ferro elétrico, a boa iluminação, pia
com água encanada, o fogão a gás e/ou elétrico. Porém, nem todas as famílias
tiveram rápido acesso a estas conquistas, o que diferenciava signitivamente a
rotina vivenciada pelas mulheres inseridas em espaços diferentes.
177 IMPRENSA EVANGÉLICA. VOLUME XIX. São Paulo: 1883, N 19.
310
Suzana Albornoz, ao escrever sobre os diferentes tipos de participação
feminina no espaço produtivo capitalista, faz uma ligeira referência sobre a
existência de eletrodomésticos. Mostra a diferença de oportunidade de acesso a
estes instrumentos, procurando retratar a posição de mulheres nas diferentes
classes sociais existentes.
Afirma que:
“A mulher burguesa conta atualmente com a colaboração de outras mulheres – empregadas domésticas. Elas ajudam em tarefas determinadas mas não lhes cabe substituir a mãe no apoio psicológico dos filhos. Para tanto, os modernos eletrodomésticos também não tem serventia... (grifo nosso) 178
Tais circunstâncias envolvem, igualmente, as presbiterianas. A realidade
da vida urbana difere da realidade rural. A dicotomia presente no espaço
doméstico também se faz real no contexto religioso.
3.3. MULHER E SISTEMA EDUCACIONAL PRESBITERIANO
O espaço educacional oportunizou à mulher sua inclusão no processo
produtivo como elemento capaz e inerente à sociedade, como ser produtivo a
quem, em dado momento, era facultado o direito de optar entre o âmbito da
“casa” e o âmbito do “trabalho”; o zelo à família e a dedicação a uma profissão.
Durante considerável período, a sociedade brasileira manteve como
verdade absoluta a incapacidade feminina relativa ao desempenho de qualquer
atividade alheia ao âmbito doméstico. Toda educação estava baseada nesta
178 ALBORNOZ, Suzana. O Trabalho Invisível. In: Na Condição de Mulher. Santa Cruz: APESC, 1985, p.30.
311
premissa, o que impossibilitava a conquista de ideais diferentes e, quando isto
ocorria, surgiam os conflitos.
Inicialmente a mulher buscou conquistar espaços onde poderia exercer
atividades condizentes com as relacionadas à feminilidade, aceita pelo meio em
questão.
Este fato não foi exclusivo de mulheres presbiterianas. Podemos citar
exemplo de mulheres católicas que, almejando um tipo diferente de vida,
buscavam na religião sua liberdade de ação. Foi o caso das “Irmãzinhas da
Imaculada Conceição”, uma congregação religiosa criada em Nova Trento – SC,
numa colônia de imigrantes italianos, orientada por jesuítas e tendo como líder
religiosa a jovem Amábile Wisintainer.
Segundo Riolando Azzi, a Congregação citada foi idealizada em fins do
período imperial, tendo sido organizada apenas no primeiro decênio da
República. Porém, o que chama nossa atenção não é o relato histórico sobre a
entidade, mas a constatação de opção feminina em buscar na atividade caritativa
uma alternativa de ação e atuação.
O autor esclarece que:
“Sob esse aspecto, a vida religiosa feminina no Brasil fora fecunda em exemplos análogos. Quer no período colonial, como na época imperial, são inúmeros os casos de beatas e penitentes, que vivem uma vida de consagração religiosa, ou em suas próprias casa, ou em recolhimentos, especialmente construídos para tal finalidade... Diante das classes populares, essas mulheres consagradas eram tão admiradas e respeitadas como as próprias religiosas oficialmente reconhecidas pela hierarquia eclesiástica”.179
179 AZZI, Riolando. As Irmãzinhas da Imaculada Conceição. In: Os Religiosos no Brasil. São Paulo: Paulinas, 1986, p. 29.
312
Não só Riolando Azzi, como também Maria V. Rezende apresenta a
opção à vida religiosa católica como libertação feminina ainda no período
colonial brasileiro, afirmando que, na condição de religiosas, lhes era facultada a
participação em diferentes atividades:
“... como a administração de propriedades e capitais, a organização interna da instituição, a instrução das educandas e o contato um pouco mais livre com mulheres e mesmo homens de sua própria classe, nos parlatórios dos mosteiros”180
Também M. José F. Rosado Nunes, em um artigo, faz referência às
mulheres como agentes religiosas e políticas, no início do período republicano e
afirma:
Elas trazem também uma significativa contribuição no sentido da conquista de certa autonomia pela mulher, através de seu trabalho educativo. O alargamento dos horizontes culturais da mulher brasileira, pela elevação de seu grau de instrução, é tarefa realizada pelas escolas católicas femininas espalhadas por esse interior de Brasil afora.”181
A autora considera que “à elevação do nível cultural corresponde o
crescimento das possibilidades de auto-afirmação e de redefinição da posição
social da mulher”182
Nunes analisa o modelo de vida religiosa feminina no Brasil,
considerando o papel das instituições de caridade e dos colégios católicos,
reconhecendo nas freiras a verdadeira função de agentes sociais.
180 AZZI e REZENDE, A vida Religiosa Feminina no Brasil Colonial, In: A Vida Religiosa no Brasil. São Paulo: Paulinas, 1983, p. 48. 181 NUNES, M José F. Rosado. Prática político religiosa das Congregações Femininas no Brasil – uma abordagem histórico social. In: Os Religiosos no Brasil. São Paulo: Paulinas, 1986, p.200. 182 Ibid, p. 200.
313
A criação de escolas, desde fins do período imperial, oportunizou o
acesso da mulher a atividades não só pedagógicas como, também, administrativas
da entidade instituída.
Velasques Filho e Mendonça descrevem a importância do sistema
educacional trazido por norte-americanos e o que represe ntava à elite brasileira.
Neste trabalho, fica patente a participação feminina como elemento de construção
e transmissão de um saber.
“O sistema educacional que os missionários norte-americanos trouxeram obteve grande êxito junto à elite brasileira. É lugar comum nos relatórios dos missionários educadores a expressão “filhos das melhores famílias” como referência às novas matrículas anuais em seus colégios... Estava ansiosa pelo progresso, e os colégios protestantes constituíam boa alternativa, pois sem descuidar dos aspectos humanísticos, ofereciam aos alunos instrução científica, técnica e física (educação física) em proporção muito acima da educação tradicional, tanto em intensidade como em qualidade... No estado de São Paulo, por exemplo, missionárias educadoras protestantes foram chamadas a colaborar na reforma do ensino empreendida em princípios deste século.”(grifo nosso).183
Constatamos que missionárias serviram de mola propulsora na criação
de escolas, renovação de metodologias de ensino, reorganização de currículos
enfim, propiciaram avanços no modelo de ensino existente no Brasil. Além delas,
esposas de pastores e outras mulheres de destaque da época são mencionadas
como atuantes em várias instituições educacionais das diversas unidades da
federação brasileira. Entre os nomes apresentados foi possível reconhecer que, a
priori a oportunidade de atuar como docente decorria de privilégio relacionado
ao “status quo” no qual estava inserida a referida pessoa. Nas obras consultadas
183 VELASQUES FILHO e MENDONÇA, op. cit., 1990, p. 74.
314
não vislumbramos alusão sobre a forma como era pleiteada, pelas mulheres, o
acesso à educação.
É possível considerar que, não apenas a mulher presbiteriana estava
presente no processo educacional mas, igualmente, representantes de outras
denominações desempenhavam atividades junto a instituições educacionais
nascentes, bem como atuavam na assistência social e em outros setores que lhes
eram permitidos.
Contemporâneos aos missionários presbiterianos e metodistas, atuaram
outros religiosos. Assim afirma José Oscar Beozzo, no tocante à questão
educacional em relação à burguesia nascente dos primórdios do século XX:
“Religiosos e religiosas educam os filhos dessa burguesia nos seus internatos e colégios e recebem, de outro lado, ajuda para a ereção e manutenção de suas obras. A vida religiosa, até então desacreditada, justifica -se, a partir de então, pela sua alta e insubstituível função social”184
Ao falar sobre as escolas protestantes é mister considerar que, as norte-
americanas traziam objetivos intimamente relacionados à questão religiosa,
almejando “difundir a cultura protestante através de métodos educacionais
modernos”, como afirmam Velasques Filho e Mendonça na obra “Introdução ao
Protestantismo no Brasil”.
Além dos objetivos de caráter religioso, inúmeras escolas foram criadas,
visando atender a elite brasileira que se firmava.
O interesse em implantar escolas que atendessem aos “filhos das
melhores famílias” não se limitou ao presbiterianismo e nem a mulheres ligadas a
esta denominação. Representantes de outras instituições religiosas manifestaram
184 BEOZZO, José Oscar. Decadência e Morte, Restauração e Multiplicação da Ordens e Congregações Religiosas no Brasil. 1870-1930. In: A Vida Religiosa no Brasil. São Paulo: Paulinas, 1983, p. 104.
315
igual interesse, como mostra a dissertação de mestrado de Marlise Meyrer
intitulada “Evangelisches Stift: uma Escola para “Moças das melhores
famílias”” (1895-1927):
“A emergente burguesia brasileira do período moldou o comportamento de suas mulheres de acordo com estes valores, definindo “estilos de vida” distintos, próprios à sua posição social. Para que tais comportamentos fossem apreendidos, tornou -se necessário as moças das classes abastadas freqüentarem uma escola, ou em alguns casos terem professoras particulares, comumente estrangeiras que lhes ensinassem a exercer o seu papel nesta nova sociedade”185
Ao referir-se às escolas protestantes, Marlise Meyrer relata que:
“As escolas protestantes, por sua vez, através de uma educação mais pragmática, racional e voltada à atuação do homem na sociedade urbano industrial, atuavam também no sentido de atender os interesses e os anseios de uma classe média urbana.” 186
É importante considerar que o estudo de Meyrer se limitou a um modelo
de escola protestante, vinculado ao protestantismo de imigração. Isto não impede
o reconhecimento de pontos que se identificam com a filosofia educacional do
protestantismo de missão, foco deste estudo.
Os missionários norte-americanos vinham imbuídos da convicção de que
o Brasil necessitava assimilar a cultura protestante dos EUA para atingir o
progresso. Acreditavam que contribuiriam para o fato, evangelizando alunos e
suas respectivas famílias.
A criação de inúmeros internatos femininos e masculinos e o cotidiano
vivenciado nestes organismos possibilitou a adesão ao presbiterianismo por parte 185 MEYRER, Marlise. Evangelisches Stift: Uma Escola para “Moças das Melhores Famílias”. 1997. 160 fls. Dissertação de Mestrado da UNISINOS. São Leopoldo: f.33. 186 Ibid f. 62
316
de muitos alunos e familiares, confirmando a prática pré-determinada dos
missionários e educadores. Nestes ambientes surgiam, ainda, os interessados em
tornar-se religiosos.
Com base na investigação de Velasques Filho e Mendonça, há referência
à questão, como segue:
“... a criação dos internatos favoreceu o contato cotidiano entre mestres e educandos. Fazia parte das atividades do internato a freqüência aos cultos da Igreja local e, principalmente, à escola dominical. Muitos alunos ou seus familiares tornaram-se protestantes, bem como muitas “vocações pastorais” nasceram através das atividades evangelísticas das escolas...” 187
Dada a importância do papel feminino no contexto educacional, se faz
necessário destacar alguns exemplos que deixaram consideráveis resultados. É
mister apresentar sucintamente a existência de algumas escolas que fizeram parte
da origem do sistema educacional presbiteriano no Brasil.
Para Mesquida, a viabilização da criação de algumas escolas protestantes
decorre de autorizações do governo, entre 1861 e 1869: “... outorgadas aos
protestantes Horace Manley Lane, George Chamberlaim, Thomaz Bruce, John
King (capital), Guilherme Krugner (Piracicaba) e Francisco Way (Campinas e
Piracicaba).” 188
O anseio por escola visava atender, inicialmente, na região de Campinas
imigrantes norte-americanos sulistas que haviam deixado os EUA devido aos
transtornos decorrentes da Guerra da Secessão.
“... É assim que, em 1869, a Igreja Presbiteriana fundou, em Campinas, o Colégio Internacional. Em 1867, foi criada
187 VELASQUES FILHO e MENDONÇA, op. cit., p. 105 188 MESQUIDA, Peri. Hegemonia Norte Americana e Educação Protestante no Brasil. São Bernardo do Campo: EDITEO, 1994, p. 66.
317
em Santa Bárbara, a primeira escola elementar para as crianças dos imigrantes, cuja professora, Joanna Browm Grady, era filha de um dos líderes maçons da comunidade.
Em 1872, a Igreja Presbiteriana norte-americana fundou, em São Paulo, a Escola Americana, embrião da Universidade Mackenzie”. 189
Paulatinamente, outras escolas iam sendo criadas nos diversos Estados
brasileiros, sempre em função da demanda, observando-se, contudo, a realidade
demográfica e sócio-econômica local.
Portanto, além do Colégio Internacional criado em Campinas (SP) e da
Escola Americana a que fizemos referência, outras instituições surgiram,
implementando a atividade educacional e religiosa inerente ao projeto de missão
norte-americano no Brasil.
Considerando que a existência da Igreja Presbiteriana no país esteve
intimamente vinculada à presença norte-americana, também a implantação de
escolas presbiterianas foi marcada pela ação de homens e mulheres oriundos dos
Estados Unidos da América.
O pesquisador Jether P. Ramalho, em 1986, desenvolveu investigação
que inclui os colégios presbiterianos e afirma em suas notas históricas que a
Escola Americana foi oriunda da iniciativa da “esposa” de um missionário
presbiteriano norte-americano Dr. George W. Chamberlain que usou a própria
residência, transformando-a em escola primária para atender alunos. Tal
iniciativa contou com o apoio da Igreja Presbiteriana e posteriormente ficou
jurisdicionada à “Board of Foreign Missions of the Presbyterian Church” de
Nova Iorque, de onde se originou todo plano educacional e mesmo o apoio
material e envio de professoras em outro momento.
189 Ibid, p. 66.
318
“Os anos de 1873 e 1874 são de grande prosperidade para a Escola Americana e lotam-se todas as suas dependências. As carteiras escolares compradas em Boston (EUA), tornam-se insuficientes para os alunos. Resolve-se ampliar as instalações da Escola construindo-se edifícios apropriados... A planta do edifício, o madeiramento e as esquadrias vêm dos Estados Unidos”190
A evolução da Escola Americana resultou na implantação de novos
cursos, sendo que a criação de uma Escola Normal significou uma considerável
conquista para a mulher brasileira, visto que podia optar por profissionalizar-se
como professora.
Intelectuais americanas, enviadas ao Brasil pela Board of Foreign
Missions de Nova Iorque, desempenharam destacado papel no campo
educacional de São Paulo, a convite do governo do Estado, transformando-se em
modelos diante da sociedade da época.
Ramalho esclarece que a prática educacional desenvolvida na Escola
Americana servia de modelo aos moldes da educação da época e afirma que:
“Miss Marcia Brown e mais quatro professoras, além do Dr. Horácio Lane, são nomeados para o serviço público do Estado de São Paulo por lei especial, para orientar o seu ensino primário e normal, sendo o Dr. Lane considerado o Consultor Educacional do Governo. É o modelo da Escola Americana que dá origem ao conhecido “Grupo Escolar.” 191
Novas escolas exigiam novos profissionais. Isto privilegiava a figura
feminina que era vista na comunidade como capaz de exercer o magistério dado
seu instinto maternal.
190 RAMALHO, op. cit., p. 83/84. 191 Ibid , p. 87
319
Verificando o órgão de divulgação feminino das IPB, referente ao
período de 1955 a 1980 “SAF em Revista”, sobre o qual discorreremos num
segundo momento, foi possível detectar o quanto esteve presente o modelo
feminino americano, estimulando que a mulher brasileira buscasse um novo
espaço profissional, além do já desgastado espaço doméstico. Entre o período de
1955 a 1968 são apresentadas inúmeras referências a mulheres norte americanas
que atuavam no Brasil como líderes femininas em diversas áreas, especialmente
no setor educacional. Entre elas há o relato biográfico sobre Ruth See que iniciou
seu trabalho no Instituto Gammon, em Lavras, (MG) participando,
posteriormente, do trabalho em outras escolas e localidades.
Margarida Sydenstricker, em artigo sobre a vida de Rute See, conta que:
“Cêdo Deus pôs a Mãe sobre sua vida, chamando-a ao Brasil em 1900, quando veio ajudar D. Margarida Yewll com as meninas na escola hoje denominada INSTITUTO GAMMON da Missão Leste Brasil. Durante doze anos Miss See fez diversos serviços desde lecionar, cuidar dos alunos no trabalho doméstico. Quando ela saiu havia 75 meninas internas.”192
Maria Sovereign através da Secretaria do Trabalho Feminino, faz
referência à Miss Esther Cummings, idealizadora de método para o ensino do
português, e a Clara Gammon, que atuou no Instituto Gammon, em Lavras MG.
A SAF em Revista de Dez/57 em um de seus artigos informativos, cujo
autor é omitido, comenta sobre uma “ Escola de Português e Orientação” dirigida
pelo casal Rev. Milton e Carrie Daugheity e esclarece:
“A escola adota o método de Miss Esther Cummings, professôra do Seminário Bíblico de New York que pessoalmente orientou os professores para o curso (fonética)...
192 SYDENSTRICKER, Margarida. Vida Inspiradora. Dona Rute See. SAF em Revista. São Paulo: Presbiteriana, 1960, p.5
320
É uma organização dos “Boards” americanos para missionários estrangeiros que vêm trabalhar no Brasil nas igrejas, com tempo integral e recomendados pelos “Boards”. 193
O mesmo artigo esclarece sobre a existência deste curso em outros
estados brasileiros.
Com referência às mulheres, além do magistério, há alusões a
participações na arte e na saúde. Vilhelmine Lens Cesar Mota é citada como
organista, regente de coral, criadora de curso de teoria musical, além de
professora e dona de casa exemplar no fascículo da SAF de set/64. A mesma
revista fornece os dados biográficos de Mary Cooke Lane, professora que veio
para o Brasil com Eduardo Lane, fundando com este o Instituto Bíblico de
Patrocínio (MG).
Outros modelos de mulheres norte-americanas são citados e, apesar de
não terem atuado no Brasil, serviram de estímulo a mulheres brasileiras por novas
verdades.
A SAF em Revista divulga o nome de Elizabeth Harriet com sua obra
prima “A cabana do Pai Tomás”, tendo considerável influência na questão
abolicionista. Igualmente, Miss Rowena Dikey MacCutchen, que contribuiu para
a manutenção do trabalho de missão no Brasil, graças a viagens de propagandas
que realizou nos Estados Unidos, conseguindo levantar considerável quantia para
seu objetivo missionário.
Uma nota informativa de junho de 1959, cujo autor é omitido, traz um
relato biográfico de Miss MacCutchen e, ao citá-la como Secretária do Trabalho
Feminino em 1956, esclarece:
“Sua contribuição para o trabalho entre as mulheres foi altamente expressivo apesar do pequeno período que ocupou o
193 SAF em Revista. São Paulo: Presbiteriana, 1957, p. 7 e 8.
321
cargo. Tendo uma visão do trabalho em conjunto e da capacidade de realização do elemento feminino, sentiu que “as mulheres de sua terra poderiam unidas realizar alguma coisa tão importante que pudesse determinar uma diferença real para o futuro” na História da Igreja no Brasil, sugerindo que fosse realizada uma campanha para que se oferecesse à nossa Igreja, pela celebração do seu Centenário , um Instituto de Leigos, que ora já é uma realidade gloriosa.”194
Entre outras figuras divulgadas pela revista citada constam Miss
Elizabeth Turner, missionária no Oriente, professora, supervisora de um hospital
de mulheres e Miss Virgínia Justus, diaconisa por 16 anos e que serviu na
Comissão Executiva do Conselho Nacional da Organização das Mulheres
Presbiterianas em 1846, sediada nos EUA, cujos dados constam no fascículo do
trimestre jun-ago/58.
Ainda como exemplo das divulgações podemos citar o artigo “Fraternal
“TIME” cuja autoria a revista omite e que, além de fotos, traz breves relatos
sobre os nomes citados, esclarecendo que:
“O “Board” de Missões estrangeiras da Ig. Presb. Do Norte dos EE. Unidos, pela sua Secretária Geral, Miss Margaret Shannon enviou-nos por ocasião do Congresso Nacional um grupo de líderes do T. F. da I. P. em diversas partes do mundo. Esta visita representou uma preciosa contribuição não só no Congresso, como também para a Igreja Presbiteriana...”195
O fato mostra que algumas das norte-americanas citadas estiveram no
Brasil. Apesar do não contato com a maioria das mulheres presbiterianas
brasileiras, puderam deixar seus discursos por onde passaram. A divulgação dos
mesmos ocorreu através de líderes das SAFs e, principalmente, através da
Revista, instrumento impresso da organização.
194 SAF em Revista. São Paulo: Presbiteriana, 1956, p.1.
322
Inúmeros outros nomes são citados e, entre as americanas cujas alusões
se apresentam acompanhadas de qualificações convincentes, surgem líderes
femininas brasileiras que são enaltecidas, em especial, pelo trabalho que
conseguem desempenhar não apenas no plano pedagógico e intelectual externo à
Igreja, como também na atuação ativa dos trabalhos femininos desta. Podemos
encontrar os nomes de Dra. Euzi Morais, professora em dois dos melhores
colégios de Vitória (ES): Faculdade de Filosofia e no Instituto Brasil- Estados
Unidos. Igualmente D. Virginia Newmann e Dra. Abigail Braga, que organizaram
o Orfanato Evangélico de Recife(PE).
É possível destacar ainda a liderança de Cecília Siqueira, ilustre
educadora de origem paraibana que conquistou o título de cidadã honorária em
Minas Gerais, no ano de 1967.
Em seu discurso pessoal, ela mostra a discriminação que vivenciou
como professora onde viveu.
“... A professora Maria Nair personifica tudo aquilo que desejei para a mulher em minha terra, quando eu me esforçava, nas cidades de Pernambuco, principalmente em Garanhuns, ensinando homens analfabetos a assinarem o nome, para que pudessem votar. Eu, porém, não tinha o direito de votar...”196
Além de Cecília Siqueira, também D. Marina Magalhães Santos Silva
conquistou o “status” de cidadã honorária, porém, na cidade de Santos, SP. Um
artigo da SAF “Ilustre Dama Presbiteriana” e que omite o autor, apresenta
extensa biografia com a relação das inúmeras atividades desenvolvidas por D.
Marina, não só na Igreja Presbiteriana como também no âmbito municipal.
“Sua liderança se faz presente em todos os setores das atividades evangélicas, onde sua atuação é marcante, quer como secretária
195 SAF em Revista – Fraternal “Time”. Boletim 10 RJ. São Paulo: Presbiteriana, 1958, p.20. 196 SAF em Revista. Cícero Siqueira é Cidadão do Mundo. São Paulo: Presbiteriana, 1967, p. 27. 197 SAF em Revista. Ilustre Dama Presbiteriana. São Paulo: Presbiteriana, 1967, p. 13.
323
de espiritualidade da SAF, quer como a dinâmica e piedosa dirigente das reuniões matinais de oração, mantidas semanalmente pela Igreja, como pregadora nos cultos de evangelização, como fundadora e presidente do Hospital Evangélico de Santos, como vice -presidente do Lar Evangélico da Velhice Desamparada de Santos. Na sociedade, foi a primeira mulher a receber o título de Cidadã Santista, que lhe foi conferido por unanimidade absoluta com a edilidade tôda em pé, como fato inédito no legislativo local...” (grifo nosso) 197
Esta citação nos revela que apesar do fato de a IPB estruturar-se sob uma
organização hierárquica que nega à mulher o direito de acesso à função
ministerial, isto não a impede de agir como uma “pastora” que prega. Apesar do
não reconhecimento da ação pastoral, muitas atuaram como tal em inúmeros
momentos.
Ao fazermos referência à diaconisas e pregadoras presentes no espaço
presbiteriano, não nos limitamos a tratar de presbiterianas brasileiras. A
uniformidade demonstrada está vinculada à existência de normas instituídas a
nível nacional que privilegia uma estrutura organizacional da Igreja como única
no país. Mesmo que a SAF em Revista tenha propiciado uma abertura e
reconhecimento pelas personagens (diaconisas e pregadoras) que estiveram no
país, a revista não apresenta questionamentos, seja a favor ou contra, que faça
refletir sobre a função e atribuição dessas mulheres. Apresenta apenas relatos
biográficos. Quanto aquelas que se destacaram no espaço público, inclusive como
cidadãs honorárias, não há relatos que dê mostra de produções críticas, feministas
ou questionadoras.
Pode estar ocorrendo a subversão dos espaços públicos e privados
porém, o espaço religioso permanece igual. Alguns dos modelos femininos
198 MARTINS, Francisco. Prezadas Irmãs: SAF em Revista. São Paulo: Presbiteriana, 1967, p. 3.
324
citados parecem preferir calar-se. Vivenciam, na sociedade, uma maneira de ser
diferente da vivenciada na igreja, mas não defendem o discurso que conhecem.
É viável citar outros exemplos lembrando que ao fazermos referência à
norte-americana procuramos evidenciar que esta trazia um discurso diferente e,
através de reuniões, seminários e palestras expunham suas idéias e eram ouvidas.
Ao expor um discurso, pregavam. O fato ocorria não apenas em igrejas dos
grandes centros urbanos, como também em localidades interioranas.
Francisco Martins relaciona várias mulheres evangelizador as e
pregadoras que se destacaram nos Estados Unidos, Europa e Brasil. Entre elas
cita as americanas Lucrécia Mott, Ana Howard Shaw, eloqüente pregadora que se
destacou na Europa, Mary Lyon e Clara Barton, presbiteriana fundadora da Cruz
Vermelha Americana. Ao referir-se a este modelo de mulher, Francisco Martins
lembrou que no Brasil também ela esteve presente:
“E aqui mesmo, neste país em que o Evangelho penetrou a pouco mais de 100 anos: uma Carlota Kemper, pregando, ensinando, sofrendo. Uma Eunice Weaver, conquistando todos os prêmios do govêrno e de particulares pelo que tem feito pelos Lázaros e seus filhos...”(grifo nosso)198
É interessante destacar que não apenas mulheres norte americanas
discursaram e pregaram em vários países, incluindo o Brasil como ponto de sua
ação.
A SAF em Revista publicou um discurso proferido em 1966 por Dr.
Batista Miranda que, na ocasião, homenageava a Srª Cecilia R. Siqueira a quem
fora outorgado o título de “Cidadã Honorária do Estado de Minas Gerais”, pela
Assembléia Es tadual. O discurso do referido Deputado salientava os predicados
da mesma como uma dama esclarecida, crítica, politizada e que, como
progressista, lutara pelos direitos da mulher.
325
Batista Miranda afirmou ainda que:
“A homenageada, sem embargo de seus afazeres, já correu mundo. Em 1945 e 1946 visitou dos Estados Unidos da América do Norte, onde proferiu conferências sobre o Brasil em 36 Estados da União Americana, tornando-se segundo a voz da imprensa local, “A Sul americana mais conhecida na América do Norte”199
Podemos constatar, portanto, que a figura de Cecilia R. Siqueira foge aos
padrões de mulher apenas do lar. O texto ressalta ainda a preocupação dela com a
educação e a necessidade de criar escolas.
Na seqüência, podemos lembrar ainda a figura de D. Branche Eunice
Gomes Lício, professora cuja formação é oriunda de um período de estudos no
Instituto Mackenzie (SP) e sua conclusão no Instituto Gammon em Lavras (MG).
Casando-se, fundou o Instituto Caxambuense em Caxambu (MG), depois de ter
ministrado aulas em Lavras e Varginha.
Outras destacadas líderes femininas foram as professoras Celly Moraes
Garcia, professora atuante no Estado de São Paulo e Edith Maia, natural do Rio
de Janeiro, onde trabalhou como costureira dos dezoito aos sessenta anos.
Também Nady Werner, idealizadora e criadora do informativo da SAF, é
tida como modelo de liderança, dado o importante papel que teve na história da
organização feminina presbiteriana e o seu desempenho internacional durante o
período em que ocupou o cargo de Secretária Geral do Trabalho Feminino da
IPB, cargo este que só foi possível ocupar graças à indicação advinda do I
Congresso Nacional no Rio de Janeiro e à devida aprovação pelo Supremo
Concílio, órgão máximo de autoridade da Igreja.
As líderes citadas estiveram sempre, direta ou indiretamente, aliadas à
questão da educação. Atuando ativamente em suas respectivas igrejas, na
326
ausência de escolas de ensino regular, como professoras das Escolas Dominicais,
onde era possível promover o ensino religioso para crianças, jovens e adultos,
bem como exercer sua liderança, relata que,
“A Escola Dominical, como instituição paralela à Igreja, passou a desempenhar função importante no desenvolvimento e consolidação das igrejas. A sede de aprender construiu, pouco a pouco, uma epistemologia cristã, protestante, desenvolveu métodos próprios e, nas áreas missionárias, foi servindo de atração para futuros convertidos, principalmente por intermédio das crianças que aderiram às reuniões conduzidas por habilidosas missionárias-professoras”. 200
A vinculação dessas mulheres à educação oportunizou um tipo de
questionamento mais ligado ao sistema educacional vigente e não propriamente a
outro tipo de desempenho feminino, apesar de servirem como modelo para a
sociedade da época.
É considerável a transformação do sistema educacional brasileiro,
representado pela presença de um ambiente escolar mais aberto, cativante e
menos autoritário. Isto foi resultado da introdução de planos norte -americanos e
do magistério feminino nas instituições escolares. A co-educação torna-se
comum, o que contribui na reestruturação do espaço onde se vivenciava o ensino.
Novas práticas educacionais foram inseridas e algumas já existentes foram
modificadas.
A preocupação das instituições protestantes com a formação adequada
de seus professores contribuiu para a valorização e respeito pelo ensino oferecido
por suas escolas. A mulher que aí atuava passou a ser entendida e respeitada
como capaz. Inúmeras instituições educacionais tornam-se modelos frente ao
ensino público existente.
199 MIRANDA, Batista. Dia da Mulher Presbiteriana. SAF em Revista. São Paulo: Presbiteriana, 1968, p. 2. 200 MENDONÇA, op. cit., p. 61.
327
Ramalho compara a prática educativa presente no Brasil com a
importada dos americanos. O mesmo afirma que, conforme a herança educacional
portuguesa:
“... f) não se dá a necessária importância ao preparo profissional do professor...
g) a co-educação não é comum. A tradição portuguesa implantada no Brasil encara o relacionamento entre alunos de sexos diferentes com muita rigidez...” 201
Outros aspectos apresentados têm relevância na organização curricular e
na prática educativa das escolas.
As mulheres, atuantes no modelo educacional protestante, foram
formadas pelo mesmo molde, implantado por escolas que só foram viáveis graças
à vinda de missionárias professoras enviadas pelas Organizações Norte -
americanas.
Isto foi o princípio da formação de profissionais femininas que, além do
magistério, puderam se desenvolver para trabalhar em diversas outras áreas, tais
como: enfermagem, auxiliar de contabilidade, costura e decoração.
3.4 MULHER E PODER INSTITUÍDO.
Ficou demonstrado, através de levantamento realizado por esta
investigação, que a criação da Igreja Presbiteriana no território brasileiro não
implicou inicialmente na organização da trabalho feminino. As mulheres se
fizeram presentes e atuantes apenas exercendo papéis inerentes à sua formação
cultural. Cumpriam suas responsabilidades domésticas, como mães e esposas.
201 RAMALHO, op. cit., p. 80.
328
Eram elas que preparavam as casas para receber pessoas por ocasião das reuniões
religiosas, hospedavam pastores e missionários e se responsabilizavam em
transmitir a doutrina aos filhos.
Somente em 11 de novembro de 1884, as senhoras da IPB de
Pernambuco, em Recife, organizaram a primeira associação evangélica feminina,
objetivando a realização de estudos bíblicos e arrecadação de coletas para ajuda a
necessitados.
Mesmo diante da iniciativa das Senhoras em formar uma associação, sua
Primeira Ata – Relatório 15/06/1885 demonstra que nem todas freqüentavam suas
reuniões, como coloca o texto:
“Longe de aventuras sensuras a Associação limita-se a notar que, sendo tão crescido o número das Srª que pertencem à Igreja e Congregações, tão poucas assistem às sessões das terça feiras!” 202
O artigo não esclarece o motivo da pouca participação feminina às
reuniões. Porém, é possível avaliar que as inúmeras obrigações domésticas e a
presença de numerosa prole representavam obstáculo a muitas mulheres.
Outro fator a ser mencionado é a questão da não conversão do chefe da
casa ao protestantismo. O sistema patriarcal presente na sociedade da época
dificultava à mulher liberdade de ação, mesmo quando isto se referia à questão
religiosa.
Também a precariedade dos meios de transporte impedia que mulheres
do meio rural pudessem estar se locomovendo para participar de atividades extras
na Igreja.
Apesar de comprovada a existência da organização feminina desde 1885,
o jornal Brasil Presbiteriano de 1962 traz um histórico transcrito pela Revista SAF
202 SAF em Revista. São Paulo: Presbiteriana, 1962, p. 12.
329
no trimestre out/dez-62, que apresenta como marco inicial do Trabalho Feminino
a data 24 de maio de 1921. Tal fato está embasado na criação da Federação Sul de
Minas e na escolha de sua primeira Presidente, a norte-americana D. Genoveva
Marchant.
O mesmo artigo relata sobre o posterior surgimento das Federações de
Pernambuco e sul de Pernambuco, em 1924 e 1929 respectivamente.
Porém, é interessante cons iderar a presença masculina na definição da
organização, sendo que o mesmo histórico salienta que o trabalho foi
propriamente organizado em 1928 com a eleição de um Secretário Geral pelo
Supremo Concílio, como segue: “Em 1828 foi propriamente organizado o
Trabalho Feminino. Foi eleito pelo Supremo Concílio, Secretário Geral desse
Trabalho, o Rev. Jorge Goulart” .203
Na seqüência, o texto enumera a criação de outras Federações,
abrangendo as demais regiões brasileiras e esclarece que a autora em pauta faz
referência ao trabalho feminino como uma organização complexa e abrangente e
não apenas como SAF, justificando, portanto, a omissão do documento quanto à
origem da associação de mulheres em Recife, datada de novembro de 1884.
Não é nossa pretensão fixar-nos apenas na questão da organização de
SAFs e federações, porém analisar o discurso da revista SAF, no período de 1955
a 1970 aproximadamente, considerando a posição ocupada pelo elemento
feminino no contexto organizacional da Igreja.
Os estatutos e manuais vigentes dão conta que, politicamente, a IPB
permanece estruturada em bases extremamente patriarcais, definindo papéis que
priorizam a importância do homem como elemento representativo de poder, isto é,
a quem compete governar, administrar e definir o sistema a ser seguido.
203 Ibid, 1962, p. 19.
330
O manual que atualmente rege a estrutura governamental da IPB está
embasado na Constituição de 1946 e repete o que já estava definido em 1951. Em
seu artigo 3º, propõe o seguinte:
“Art. 3º - O poder da Igreja já é espiritual e administrativo, residindo na corporação, isto é, nos que governam e nos que são governados.
§ 1º- A autoridade dos que são governados é exercida pelo povo reunido em assembléia, para:
a) eleger pastores e oficiais da Igreja ou pedir a
sua exoneração;
b) pronunciar-se a respeito dos mesmos, bem como sobre questões orçamentárias e administrativas, quando o Conselho o solicitar;
c) deliberar sobre a aquisição ou alienação de imóveis e propriedades, tudo de acordo com a presente Constituição e as regras estabelecidas pelos concílios competentes.
§ 2º- A autoridade dos que governam é de ordem e de jurisdição. É de ordem, quando exercida por oficiais, individualmente, na administração de sacramentos e na impetração da benção pelos ministros e na integração de concílios por ministros e presbíteros. É de jurisdição, quando exercida coletivamente por oficiais, em concílios, para legislar, julgar, admitir, excluir ou transferir membros e administrar as comunidades)” 204
É importante lembrar que, quando se faz referência aos que governam e
aos que são governados, somente homens podem ser escolhidos para compor os
organismos de governo da IPB.
204 MANUAL PRESBITERIANO. São Paulo: Presbiteriana, 1998, p. 8.
331
Todos os membros professos fazem parte da Assembléia da Igreja, com
direito de participar em eleições para escolha do oficialato. Porém, de acordo com
a Constituição Presbiteriana, somente homens, maiores de 18 anos, que
apresentem um comportamento exemplar e que manifestem dom para exercer a
função, podem ocupar a nobre posição de oficial e compor o órgão mais
respeitado da Igreja, o Conselho.
As normas inclusas no Estatuto da Igreja e que colocam a mulher entre
os considerados não idôneos e não possuidores do Dom divino para a função,
sendo portanto inelegíveis, são questionáveis. Se a elas fica o encargo da
educação, da formação do cidadão e, consequentemente, do cristão, nos parece
óbvio que a exclusão delas do âmbito de poder da Igreja é resultante apenas da
discriminação da mulher na Instituição. Isto não é teorizado tão claramente,
porém, sua prática é tida com aceite e óbvia e os questionamentos são pouco
divulgados.
Ao priorizarmos pela existência de uma mulher capaz de exercer o
oficialato, pensamos estar propondo um repensar da questão normativa e mesmo
doutrinária, uma reconstrução do que está superado, considerando que isto já foi
viabilizado em outras denominações.
Analisando os vários temas desenvolvidos pela SAF em Revista, é
possível detectar que nos primeiros fascículos há plena aceitação da estrutura e
governo instituído. Inúmeros artigos defendem um modelo de mulher submissa e
auxiliadora, cuja importância é representada pela ação voltada à fé, ao amor e
zelo pela família.
Uma nota na SAF de 1957 traz:“... Nunca devemos perder de vista que a
Sociedade Feminina é auxiliadora da Igreja em todas as suas atividades e não, a
Igreja a auxiliadora da Sociedade.”205
205 SAF em Revista. Secretaria de Causas Gerais. São Paulo: Presbiteria, 1956, p.11.
332
Alguns artigos enaltecem seu importante papel na busca do equilíbrio
familiar e afirmam que o bem estar da Igreja, como também da humanidade, só é
possível através da educação religiosa na família.
O Primeiro Boletim Informativo da SAF, publicado em março de 1955,
apresenta um artigo da Srª Nady B. Werner, onde ela afirma que mais da metade
dos membros das Congregações Presbiterianas são mulheres. Nesta publicação
salienta a existência de problemas na Igreja e afirma ser indispe nsável a
cooperação feminina, colocando como preocupação inerente à sua incumbência o
seguinte:
“1º - O que faremos pelas mães que se vêm, privadas de assistir aos cultos (e por se instruírem religiosamente, presas aos afazeres comuns a sua vocação de mãe) para que elas possam desenvolver a sua vida espiritual?
2º - O que faremos para estreitar mais os laços entre a Igreja e os lares visto que ambos se necessitam mutuamente?
3º - O que faremos para nos sentirmos mais unidas, para sermos mais fortes, e sobretudo, para estreitar os vínculos de cooperação e ajuda mútua entre todas as mulheres?...” 206
Muitos textos impelem a mulher no sentido de uma atuação de modo a
corresponder aos objetivos dos projetos propostos pela instituição, porém sua
responsabilidade como mãe e esposa permanecem, assim como as obrigações
inerentes a este papel.
Poder servir é visto como um privilégio e faz parte da posição ocupada
pela mulher no contexto religioso em que se insere.
206 Ibid, 1955, p. 2
333
A revista publicada em abril de 1956 apresenta um tema para estudo
intitulado “o Valor e Necessidade de Cooperação”. Waldete D. Cunha, autora do
mesmo, afirma que:
“Cooperar é compartilhar, repartir as responsabilidades, o uso dos talentos, os privilégios e também o serviço que é a prova mais concreta de fraternidade e amor.” 207
Ainda salienta a importância da mulher como cooperadora,
exemplificando a relação que Jesus teve com as mulheres e os privilégios que lhes
concedeu sem, no entanto, propor qualquer possibilidade de participação em
funções prioritárias da instituição.
É interessante constatar que, mesmo depois de um século de criação, a
Igreja Presbiteriana no Brasil, através de suas lideranças, permanece cultivando
um discurso que prima pela submissão feminina e esperando dela uma postura de
plena aceitação.
O fascículo da revista do trimestre set/dez de 1958 traz um artigo
interessante intitulado “O perigo de ser Tropeço.” Neste, Juracy Fialho Viana
afirma que, despertar um comportamento contrário às autoridades eclesiásticas,
mesmo entre os crentes, significa ser tropeço. Portanto, podemos concluir que
além de acatar a autoridade e governo da igreja, deve haver colaboração para que
os demais membros também o façam.
Para a autora, conceitos e opiniões são coisas sérias e afirma:
“... Basta que, emitindo conceitos e opiniões inteiramente pessoais, despertemos, entre os crentes, um espírito de rebeldia contra as autoridades eclesiásticas e de insubmissão contra o govêrno da Igreja. Basta que, diante de descrentes, teçamos comentários desagradáveis sobre assuntos privados ou pessoais da igreja, levando-os
207 CUNHA, Waldete. O Valor e necessidade de Cooperação. SAF em Revista. São Paulo: Presbiteriana, 1956, p. 4
334
talvez, por isso, a desprezarem o Evangelho”. 208
Como se pode notar, respeitar a organização da Igreja, evitando
questionamentos, é justificado como ato benéfico que visa garantir a divulgação
de um evangelho de paz, harmonia e humildade.
O texto impõe limites ao direito de manifestar opiniões. Considera que
expor idéias pessoais contrárias às autoridades eclesiásticas e apresentar postura
de insubmissão ao poder instituído contribui para afastar os não membros do
Evangelho.
Somente na conclusão do tema, a autora cita Mateus 18:67 fato que
demonstra ter a autora procurado relacionar o espírito de rebeldia e insubmissão
às autoridades eclesiásticas e governo da igreja, constatado neste ano com a noção
de escândalo apresentado pelo versículo.
“Mas qualquer que escandalizar um desses pequeninos, que crêm em mim, melhor lhe fôra que se lhe pendurasse no pescoço uma mó de azenda, e se submergisse na profundeza do mar. Ai do mundo por causa dos escândalos; porque é mister que venham escândalos, mas ai daquele homem por quem o escândalo vem”. Disse Jesus ( Mateus 18:67)209
Apesar da discriminação detectada na organização política da IPB, é
possível perceber que muitos artigos, presentes no órgão de divulgação da SAF,
estão voltados para uma ação feminina consideravelmente ampla e complexa em
sua prática. Tais artigos destacam a importância das atividades evangelísticas, de
ações sociais, educacionais e beneficentes. Descrevem a importância de se
cultivar os talentos, salientando a importância feminina nos trabalhos da igreja.
Expõem seu papel na sociedade e a importância da sua influência como modelo
de mulher.
208 VIANA, Juracy Fialho. O Perigo de Ser Tropeço. SAF em Revista. São Paulo: Presbiteriana, 1958, p. 4.
335
Podemos destacar uma certa dicotomia discursiva. Em alguns momentos,
na referência de sua figura, há o despertar de valores de igualdade. É vista como
indispensável colaboradora nas atividades internas da igreja, desempenhando
papéis que estão descritos no Manual Presbiteriano, inerentes ao oficialato. Pode
promover campanhas financeiras, cuidar da ordem da igreja, visitar doentes,
orientar jovens e crianças e desenvolver trabalhos missionários. Porém, não pode
colocar-se como candidata à função. Deve fazê -lo como mera colaboradora,
mesmo que não esteja simplesmente colaborando, mas executando.
Apesar dos limites impostos à mulher no reduto da Igreja, fora ela já
conquistou bem mais espaços. Pode trabalhar fora do ambiente familiar,
desempenhar papéis outrora atribuídos apenas aos homens, mas na Igreja
Presbiteriana, permanece auxiliadora. A única alteração permitida é que, como
profissional assalariada, pode ser dizimista. O dízimo, representado por dez por
cento da renda do trabalhador é considerado fundamental no cumprimento de
uma das obrigações com a igreja. Ser fiel em seu pagamento faz parte dos
preceitos estatuídos. A mulher que trabalha e recebe, obviamente conquistou a
responsabilidade de ser dizimista. Não mais dependendo só de campanhas para
auxiliar financeiramente a instituição porém, torna -se colaboradora permanente se
cumpridora desse compromisso.
É interessante constatar que a participação da mulher, no campo sócio-
econômico, profissional e político da sociedade, é aceita e até incentivada,
enquanto que sua participação na vida política da igreja é restringida.
Maria Kudzielicz em um artigo publicado pela SAF afirma:
“Cada vez mais, a mulher toma parte ativa em todos os setores da comunidade e sua atuação é sentida nos elevados campos profissionais.
Dentro do ramo técnico científico do mundo hodierno, podemos ressaltar a
209 BÍBLIA SAGRADA, Mateus, 18:67.
336
importância da mulher através da figura de “Valentina”. Primeira astronauta feminina que sobe ao espaço sideral.”210
A participação feminina em diversas áreas da atividade humana,
independente do âmbito familiar, propiciou um crescimento pessoal mais
globalizado, envolvendo o acesso ao saber laico, resultando no desabrochar de
uma postura mais crítica. Esse fato pode ser notado mediante uma posição de
questionamento frente às ações da Igreja, às quais estão indiretamente ligadas.
Um relatório apresentado à Comissão Executiva do Supremo Concílio da
IPB, em Brasília, no período de 9 a 11/02/82, destaca a preocupação em relação à
participação feminina mais ampla em determinadas situações. A Secretária Geral
do Trabalho Feminino no Brasil, Srª Edna Costa afirmou, por ocasião deste
Concílio, que:
“Sentimos que as mulheres, instruídas a acatarem sempre a autoridade dos conselhos de suas igrejas, têm, por vezes, enfrentado grandes dificuldades, principalmente no campo financeiro. Tentamos dirimir algumas dúvidas mas encontramos algumas dificuldades em alguns pontos.” 211
O artigo citado revela a presença de conflitos internos. É real a busca por
uma participação mais justa e igualitária nas atividades religiosas, onde a mulher
se faz presente.
O período que envolve a organização da sociedade de mulheres e sua
evolução na IPB foi acompanhado paralelamente pela transformação da sociedade
num todo. Mudanças ideológicas oportunizaram à mulher repensar os valores
herdados do patriarcalismo.
210 KUDZIELICZ, Maria. A Mulher Cristã a Serviço da Comunidade Moderna. SAF em Revista. São Paulo: Presbiteriana, 1970, p. 25. 211 COSTA, Edna. Relatório SAF em Revista. São Paulo: Presbiteriana, 1982, p.37.
337
A manutenção de um discurso patriarcal e conservador na instituição
ficou garantido pela constituição vigente.
A exemplo disto, podemos citar a transcrição do discurso de posse do
Presidente do Supremo Concílio da IPB, Rev Boanerges Ribeiro que, em 1970,
afirmava:
“Não há, na Igreja Presbiteriana do Brasil, lugar para insubordinação que desborde daqueles planos de lei que nós aceitamos com liberdade. Ninguém nos obriga a ser Presbiterianos. Mas, se queremos sê-lo, sejamo-lo honradamente. Ninguém nos obriga a aceitar a Constituição da Igreja. Mas se prometemos aceitá-la, sejamos honrados e cumpramos esses votos da ordenação. Ninguém nos obriga a aceitar êsses Símbolos da Fé. Mas, se o aceitamos; se, ao ser ordenado declaramos aceitá -lo, sejamos honestos.”212
Na seqüência do discurso fica claro que os indivíduos têm liberdade na
escolha da denominação em pauta. Porém, ao escolher, deverão ter consciência da
responsabilidade de acatar a lei da Igreja. Essa fala evidencia a influência do
regime militar213 em vigor na época.
A analogia entre o discurso de Boaneges Ribeiro em sua posse no
Supremo Concílio em 1970 com a influência militar, decorre da expressão usada
ao fazer referência àqueles que aceitam ser presbiterianos. Para ele, a igreja não
tem espaço para rebeldes. Também o Brasil dos anos 70 coibia rebeldias. Basta
lembrar os slogam “Brasil, ame -o ou deixe-o” tão expressivo do regime militar
instituído no país.
212 RIBEIRO, Boanerges. Discurso de Posse. SAF em Revista. São Paulo: Presbiteriana, 1970, p.4. 213 Regime Militar – instalou-se no Brasil com a deposição do Presidente João Goulart em 1964. O Controle político do país ficou subjugado ao Alto Comando Militar que colocou no poder Humberto de Alencar Castelo Branco. Outros militares governaram em períodos seguintes, perfazendo 20 anos de autoritarismo no país e cujo fim só aconteceu no governo do Presidente João Baptista de Oliveira Figueiredo (1979-1985)
338
Podemos afirmar que a IPB, desenvolve uma filosofia política
situacionista. Não prega dissenções, nem rebeldia, nem contravenções. Pelo
contrário, estimula o respeito às leis, as autoridade constituídas e a ordem
estabelecida. A busca de qualquer transformação implicaria uma mudança de
postura e, por conseguinte, atingiria valores fortemente arraigados, dificultando
possíveis alterações na estrutura da instituição.
Mesmo que alguns discursos, contidos na SAF em Revista, revelem um
caráter que implique mudanças, a Igreja convive com uma postura de
acomodação.
Foi possível detectar que este instrumento de leitura utilizado pelas
mulheres da IPB traz diferentes falácias. Há momentos em que a submissão,
humildade e a acomodação são apresentadas como essência de um modelo de
vida.
A transcrição de uma oração cujo autor aparece como “soldado
desconhecido”, apresenta o seguinte:
“Eu pedi a Deus forças para que pudesse realizar-me... Fui feito fraco para que aprendesse humildemente a obedecer... Pedi saúde para fazer as maiores coisas... Foi me dada enfermidade para que eu fizesse coisas ainda melhores.
Eu pedi riquezas, para que pudesse ser feliz... Foi-me dada pobreza, para que eu fosse sábio... Eu pedi poder, para que fôsse louvado pelos homens... Foi me dada fraqueza para que sentisse a necessidade de Deus.” (grifo nosso)214
Ao mesmo tempo em que os artigos procuram legitimar a importância da
humildade e submissão da mulher, deixam claro também a importância de seu
papel na sociedade. Isto não impede vislumbrar a discriminação presente no
ambiente presbiteriano e a tendência latente de uma busca pela conciliação.
214 SAF em Revista,. São Paulo: Presbiteriana, 1970, p. 26.
339
Elzi de Almeida Ferreira, em um artigo, relaciona inúmeros modelos de
mulheres, tanto americanas como brasileiras, que atuaram na Igreja e fora dela.
Apesar de citar exemplos de lideranças femininas, deixa transparecer a dificuldade
de participação ao afirmar:
“No mundo em que vivemos tem se tornado cada dia mais difícil o papel que se espera da mulher, principalmente a mulher cristã.
Cada uma poderá fazer algo de útil no seu cantinho, como tantas outras que estão em seus postos, sem esmorecer apesar dos dias difíceis que atravessamos, anônimas como aquelas mulheres que aparecem no Novo Testamento, mas cumprindo o seu dever.”(grifo nosso)215
Um artigo de Maria Kudzielicz, autora já mencionada, contém um
discurso que dá à mulher um papel mais distinto. A mesma entende a presença da
igualdade em relação ao homem ao afirmar:
“Também o papel da mulher está sofrendo transformação, e é grande a modificação que tem experimentado através dos últimos séculos. Nos tempos do paganismo a mulher era objeto, era mercadoria, sem direito algum. Foi o cristianismo que a honrou, conferindo-lhe a posição de igualdade com homem.”216
A dicotomia presente nos discursos, incluindo expressões que estimulam
ao mesmo tempo busca e acomodação, propicia por parte das leitoras identificar-
se com o artigo de sua preferência. Isto faz com que a revista venha de encontro
aos diferentes modos de pensar. Porém, não há espaços destinados a criticas ou
opiniões das leitoras.
215 FERREIRA, Elzi de Almeida. Influência da Mulher Cristã, SAF em Revista. São Paulo: Presbiteriana, 1969, p. 9. 216 KUDZIELICZ, Maria. A Mulher Cristã a Serviço da Comunidade Moderna. SAF em Revista. São Paulo: Presbiteriana, 1970, p. 25.
340
341
4. – SAF EM REVISTA – Veículo de Informação e
Formação
4. – SAF EM REVISTA – VEÍCULO DE INFORMAÇÃO E
FORMAÇÃO
Visando analisar o comportamento da mulher presbiteriana, que
apresenta posturas diferentes, isto é, um modo de ser como membro da IPB e
342
outro, como indivíduo de determinado grupo social, coletamos alguns dados
contidos na SAF em Revista, órgão de divulgação da Sociedade Auxiliadora
Feminina de alcance nacional.
A revista mencionada surgiu como um simples boletim informativo da
Secretaria Geral do Trabalho Feminino, em março de 1955, idealizado por sua
secretária e líder feminina da época, Sra. Nady B. Werner e, em outubro do
mesmo ano, quando da edição do 3º boletim, este se transformava na primeira
SAF em Revista.
O referido órgão de informação e divulgação é distribuído
trimestralmente, possuindo assinantes em todas as SAFs existentes no território
nacional brasileiro e é impressa pela Casa Editora Prebiteriana.
Apesar de sua origem como simples boletim informativo, ao tornar-se
revista procurou desenvolver temas variados, porém sempre destinados à mulher e
seu comprometimento com a família e a Igreja.
O momento da criação da Revista já estava marcado pela ditadura de
Vargas e trazia em seu cerne a história do final da 2ª Grande Guerra. Já se faziam
presentes os primeiros momentos da industrialização e da evolução tecnológica
que iriam repercutir nas mudanças do cotidiano familiar. Não só os meios de
comunicação se aprimoravam como também os recursos do espaço doméstico,
representados por novos equipamentos de uso na casa, pouco a pouco, se faziam
presentes. As inovações tecnológicas estimulam novos interesses e a presença de
novos valores.
A sociedade brasileira fazia parte do mundo capitalista e a política de
dependência agro-exportadora vivenciada pela economia nacional resultava, cada
vez mais, no distanciamento entre os elementos das várias classes sociais. Pouco a
pouco, foi possível perceber a considerável diferença do poder aquisitivo vigente
entre as categorias representadas, culminado com a premente necessidade da
343
participação da mulher no campo de trabalho e na busca da manutenção
econômica da família.
O golpe militar de 64, igualmente, é retratado nos artigos da revista,
considerando que os vários temas, de cunho político e religioso, apresentam
velada manifestação ideológica em favor do sistema, através de conteúdos
voltados à busca da democracia ideal, do modelo de cidadão que a mulher pode
formar, da luta contra o comunismo e seus malefícios, da importância do respeito
e honra às autoridades.
Um dos artigos do Rev. José Borges dos Santos Junior destinado à estudo
em reuniões da SAF alertava:
“Quando as ideologias terrenas apresentam algumas verdades em matéria de conduta ou de vida religiosa, essa verdade já estava contida em tôda a sua plenitude no ensino de Cristo. O fato de haver em ideologias terrenas doses maiores ou menores de verdade, não quer dizer que Jesus Cristo tivesse sido adepto de qualquer dessas ideologias. As ideologias terrenas, quando apresentam alguma verdade acêrca dos direitos do homem, estão longe de esgotar ou expressar completamente o que Jesus Cristo ensinou. Não devemos confundir, pois, Cristo com comunista, nem cristianismo com comunismo”. (SAF, 1964 p. 9)217
Mesmo diante da velada preocupação presente no ambiente
presbiteriano, dada a instabilidade política resultante do “golpe militar” de 1964, é
interessante considerar que os títulos, contidos na revista, permanecem os
mesmos. Porém, em seu contexto, refletem a realidade e a época. Estão voltados a
objetivos que afirmam garantir a paz, a harmonia e, principalmente, a manutenção
do “status quo” na família, Igreja e sociedade.
217 SANTOS Jr, José Borges. Sal da terra. SAF em Revista. São Paulo: Presbiteriana, 1964, p. 9.
344
Além de informações sobre atividades desenvolvidas pela Secretaria
Nacional do Trabalho Feminino, o órgão traz orientações para o desenvolvimento
de ações destinadas às SAFs em nível local e departamental, fornece estatísticas,
programas para reuniões, congressos e eventos variados. Divulga artes e lições de
culinária e outros conhecimentos tidos como interessantes no espaço doméstico.
Engloba sugestões e assuntos de psicologia, nutrição e saúde; noções de bom
relacionamento; como bem servir ao marido e aos filhos. Desenvolve campanhas
financeiras e de apoio ao sistema vigente e às autoridades instituídas, seja na
Igreja ou fora desta.
Parte do exposto pode ser exemplificado através do plano de trabalho
proposto por Aracy Alves, assessora do Departamento de Assistência Social da
Secretaria Nacional do Trabalho Feminino, publicado em 1967 e que contém:
“PARA TRABALHO LOCAL – Durante um trimestre de JANEIRO A MARÇO cada SAF deve verificar qual dos domésticos na fé em sua igreja está mais necessitado. Felizmente, em nossas igrejas são poucos realmente que necessitam de ajuda. Sendo assim a SAF deve destacar uma ou duas famílias, de acordo com a possibilidade, para ajudar condignamente até a total recuperação de tudo.”218
Além do aspecto social, alguns artigos colocam a mulher como co-
responsável pelos vários problemas que afetam a sociedade. Ruth S. Faria,
Assessora de Espiritualidade da Confederação Nacional, afirma:
“Temos que apresentar a Deus pela oração: os pastores, os evangelistas, os oficiais da igreja, os líderes das diversas organizações, os doentes, os necessitados, os órfãos, as viúvas, a velhice desamparada, as missões nacionais e estrangeiras, os serviços de evangelização e de avivamento espiritual; temos as autoridades constituídas em nossa Pátria, os nossos patrícios que vivem na
218 ALVES, ARACY. Assistência Social. SAF em Revista. São Paulo: Presbiteriana, 1967, p. 10.
345
idolatria, nos vícios na maldade, nos crimes... Seria um nunca acabar, mencionarmos aqui todas as causas e pessoas por quem precisamos orar, suplicando ao bondoso Deus as ricas e abundantes bênçãos provindas de Sua infinita misericórdia. No entanto poucas pessoas encontram assunto para tomarem parte nas reuniões de oração.”219
As assessorias, componentes da Secretaria Nacional do Trabalho
Feminino, através das respectivas representantes, apresentam artigos destinados à
mulher, objetivando estimulá -las à maior participação nas atividades da Igreja.
Estes artigos apresentam uma linguagem característica do departamento, ou seja,
o de assistência social, o espiritual, o de educação, o financeiro, entre outros.
A Revista, em seu todo, esclarece sobre a funcionalidade da SAF como
órgão de atuação e colaboração da IPB, como pretendemos explicitar.
4.1. SAF – SOCIEDADE DE EMBAIXATRIZES E/OU SOCIEDADE
DE AUXILIADORAS.
Considerando o crescimento demográfico das Igrejas, surgiram vários
departamentos incluindo-se, no caso, a SAF – Sociedade Auxiliadora Feminina.
Nas regiões onde as Igrejas cresciam ia sendo viabilizado o surgimento
de Federações, isto é, a união de várias SAF de localidades próximas e que
promoviam reuniões com a participação de “delegadas”220. O conjunto das
Federações formava os sínodos que, assim como as SAF e Federações, também
eram organizados por Diretorias eleitas.
219 FARIA, RUTH S. Dificuldades Relacionadas com a Oração. SAF Revista. São Paulo: Presbiteriana, 1968, p. 25. 220 Representantes de Sociedades Locais, escolhidas pelas sócias para representá-las em eventos e reuniões regionais .
346
As referidas organizações surgiram inicialmente nos Estados brasileiros
onde o presbiterianismo evoluiu, atingindo inicialmente a área em que a economia
cafeeira se desenvolvera. Deste modo, os Estados de Rio de Janeiro, São Paulo,
Minas Gerais e Espírito Santo foram os primeiros a serem atingidos pelas
organizações citadas.
A obra de Mendonça sobre “A Inserção do Protestantismo no Brasil”
explicita a afirmação acima e considera que:
“Aí encontraram as condições favoráveis para expandir-se e fixar-se definitivamente. Pretendo explorar a hipótese sugestiva de que os presbiterianos aproveitaram o momento da expansão cafeeira e acompanharam o domínio rural na trilha do café, quando as frentes pioneiras apresentavam uma população móvel e em estado de crescimento...” 221
O envolvimento feminino na igreja e a funcionalidade de seu
despertamento concorreu para que lideranças religiosas priorizassem como meta
a conquista da estruturação da SAF em todos os níveis culminando com a
conquista de seu mais alto posto, a organização da Confederação Nacional das
Sociedades Auxiliadoras Femininas.
Um artigo da SAF em Revista do trimestre jan-mar/68 traz um “ligeiro
histórico e algumas considerações sobre o moto 222 do trabalho feminino
presbiteriano”. 223
O relato apresenta dados sobre a organização da Confederação Nacional
do Trabalho Feminino no país, comprovando sua total dependência da estrutura de
221 MENDONÇA, Antônio Gouvêa. O Celeste Porvir. A Inserção do Protestantismo no Brasil. São Paulo: Paulinas, 1984, p. 118. 222 Designação dada ao lema escolhido pela organização e que é recitado em cada reunião ou evento onde se fazem presentes as sócias da SAF 223 ALVES, Maria J. P. Ligeiro Histórico. SAF em Revista. São Paulo: Presbiteriana, 1968, p.30. 224 Ata do Congresso Nacional das Sociedades Auxiliadoras Femininas referente período de 02 à 09/07/1958 realizado em Salvador - BA
347
governo ligada ao órgão máximo da Igreja, representado pelo Supremo Concílio
que decide pela aprovação ou negação do projeto de organização das mulheres.
A ata datada de 02/07/1958 possibilita perceber o obscuro papel da
mulher na criação de sua mais importante organização, como segue:
“No Congresso Nacional das Sociedades Auxiliadoras Femininas, reunido no Colégio Dois de Julho, em Salvador, Bahia, de dois a nove de fevereiro de mil novecentos e cinquenta e oito, o Reverendo José Borges dos Santos Junior, M. D. Presidente do Supremo Concílio, usando das atribuições que lhes são facilitadas no cargo que ocupa, expôs a necessidade da organização da Confederação Nacional e sugeriu que a mesma fosse organizada ad-referendum do Supremo Concílio modificando o Manual das Sociedades Auxiliadoras Femininas,...”.224
A ata estabelece todas as normas de funcionamento e organização da
Confederação com base na proposta do citado Presidente do Supremo Concílio,
omitindo qualquer alusão à sugestão, ou mesmo, aceitação das propostas por parte
das representantes femininas. Apresenta em sua essência, os itens a serem
considerados na organização e encerra do seguinte modo:
“No dia nove, as vinte horas, por ocasião do culto de encerramento do Congresso, foi instalada solenemente a Confederação Nacional, ficando constituída a sua diretoria dos seguintes membros: Presidente – Blanche Lício, Vice-Presidente – Acidália Gripp, Secretária - Ana Monteiro, e Tesoureira – Eurídice Lima.” 225
225 Ibid. 226 ALVES, Maria J.P. Ligeiro Histórico e Algumas Considerações sobre o moto do Trabalho Feminino Presbiteriano. SAF em Revista. São Paulo: Presbiteriana, 1968, p. 30.
348
O fato documentado pela ata citada é relatado através do artigo da SAF
em Revista no trimestre jan-mar/68, quando se faz menção à figura de Maria
Pereira Alves, idealizadora do lema que ainda permanece em vigor na SAF.
“Corria o ano de 1949. O Sínodo Central se encontrava reunido, no dia 1º de julho, na Igreja Presbiteriana de Botafogo. Naquela mesma data achavam-se em reunião nas dependências do templo mencionado, quatro presidentes das Federações dos Presbitérios Oeste Fluminense, Sul de Minas, Oeste de Minas e Rio de Janeiro, vinte e sete visitantes e representante do Sínodo Central, Rev. Francisco Alves, que ali fôra levara a notícia alviçareira, desejada e esperada por todas, que o Sínodo consentia que se organizasse a Confederação das Sociedades Auxiliadoras Femininas e nomeava como sua presidente d. Nady Werner.” 226
Além do destaque à informação, o artigo se faz interessante pela tese
apresentada no transcurso da reunião do referido Sínodo, garantindo a escolha e
manutenção de um moto, ou seja, um mesmo lema, por mais de meio século. O
trabalho de Maria Pereira Alves intitulado “A mulher presbiteriana como
embaixatriz do Reino de Deus” discorre sobre a importância do papel da mulher
na sociedade e na família, como embaixatrizes em nome de Cristo e que deve
intermediar sua vontade. Relaciona o termo com ensinamentos bíblicos e com a
função política do papel.
De acordo com a autora citada,
“O ideal é que a embaixatriz conheça tão bem os planos do seu chefe de estado, ou do seu rei, e esteja a ele tão ligada, que sua própria vida seja uma expressão da vontade daquele que a enviou. Não basta que ela saiba de cór as leis que recebeu, mas que possa transmiti-las com absoluta fidelidade. No livro de Provérbios, cap. 13, verso 17, encontramos
349
estas palavras: “Um mau mensageiro cai no mal, mas o embaixador fiel é medicina.” O mundo precisa deste remédio.” 227
O trabalho prossegue numa linguagem teológica e conclui com o
seguinte moto: “Sejamos verdadeiras embaixatrizes, irrepreensíveis na conduta,
incansáveis na luta, firmes na fé, vitoriosas por Cristo Jesus.” 228
Apresentado, o lema foi escolhido para ser o oficial da Confederação de
Sociedades Auxiliadoras Femininas recém-criada. Posteriormente, tornou-se o
oficial do trabalho feminino presbiteriano no Brasil com a modificação de
embaixatrizes para auxiliadoras.
É praxe a recitação do moto em reuniões de SAF, sejam locais, regionais
ou nacionais, pelas presentes. Este fato mostra a preservação da ideologia da
entidade em termos filosóficos, uma vez que não se tem conhecimento de nenhum
grupo que tenha questionado o significado da frase.
O exposto retrata a presença de mulheres perfeitamente sincronizadas
com o sistema, o que não impede que estas e outras, que não estejam em perfeita
sincronia devam evitar reflexões sobre a realidade que as envolve. A ausência de
questionamentos tem justificado a existência de avanços no sentido de propiciar
maior igualdade entre seus membros .
4.2. SAF EM REVISTA – IDENTIDADE COM REALIDADE
SOCIAL
227 Ibid. p. 31 228 Ibid. p. 31
350
O final do século XIX foi marcado por consideráveis mudanças e
coincindiu com o movimento missionário no Brasil. O início do século XX
conviveu com questionamentos ligados às mudanças do comportamento feminino
resultantes das transformações urbanas.
Suzana Albornoz, ao escrever sobre as transformações que afetaram o
mundo e o Brasil, afirma que:
“A industrialização cria novas chances de emprego; o desenvolvimento dos serviços oferece oportunidades novas ao trabalho feminino; a urbanização moderniza atitudes e põe em contato com os meios de comunicação, veiculando informações de inspiração científica; os progressos da medicina possibilitam o controle da natalidade e a maternidade sem tanto custo pessoal; novos modos de trabalho modificam as formas de vida familiais e criam relações conjugais mais aproximadas da igualdade; a mulher é chamada a integrar -se no mercado de trabalho que a necessita... E assim, num processo nada simples e claro, muito conflituado e às vezes contraditório, as mulheres brasileiras vão mudando sua consciência de ser-inferior -e-tutelado para o de companheira-ativa-corresponsável. Muitos avanços foram feitos, mas têm seus limites bastantes visíveis.”229
Para os mais conservadores, havia riscos consideráveis para a sociedade,
visto que a família, célula mater desta, se mostrava em crise.
Pensava-se que a nova linguagem e costumes adotados, assim como o
novo tipo de relacionamento entre homens e mulheres da época, estariam
corroendo os valores morais vigentes e contribuindo para a decadência da ordem
social e costumes. As inovações nas rotinas das mulheres chocavam.
351
No momento em que as mudanças ocorriam nos centros urbanos, o
presbiterianismo se expandia, principalmente na área rural, implantando valores
identificados com os pré existentes. As mulheres que viviam no meio urbano
conviviam com as mudanças porém, mantinham-se como meras espectadoras.
As primeiras décadas do século XX apresentam, portanto, contrastes
consideráveis em relação aos usos e costumes, ocupando o gênero feminino papel
de destaque nos conflitos da época.
O primeiro Boletim da SAF, editado em 1955, apresenta um artigo sobre
o “Feminismo Cristão” no qual a autora, Nady B. Werner afirma:
“... Mister é que reconheçamos, que as condições com respeito a mulher se transformaram radicalmente em nossos dias e, portanto, pretender permanecer encerrado dentro dos velhos sistemas é absurdo; por isso é que como Igreja Cristã, temos que ir até onde ela se encontra, para cumprir com a nossa missão, para despertar em cada um a noção da própria responsabilidade afim de que cheguem a “desejam ardentemente os melhores dons”. 230
Entendendo que a Igreja tem como prática o cultivo de valores, e a
família, através da disciplina, a manutenção e assimilação dos mesmos; é
primordial ao Estado instituído a preservação de suas instituições plenamente
estruturadas. Para atender a este princípio existe a legalidade.
Se observarmos que os meios de comunicação do início do século não
apresentavam a potencialidade atual, é compreensível entender a morosidade das
mudanças do meio rural frente à realidade urbana.
229 ALBORNOZ, Suzana. A Conscientização da Mulheres Brasileiras. In: Na Condição de Mulher. Santa Cruz: APESC, 1985, pág. 74. 230 WERNER, Nady B. Feminismo Cristão, in: Estudos Bíblicos. Boletim 1, SAF. São Paulo: Presbiteriana, 1955, p. 2.
352
O modo de ser da mulher presbiteriana contou também com este
elemento, pois parte considerável do contingente das famílias que adotaram o
presbiterianismo como religião viviam no ambiente rural.
O temor pelas mudanças nos usos e costumes pode ser percebido através
de artigos da SAF em Revista como o que segue.
“O bem estar do lar, da pátria, da comunidade está nas mãos de suas mulheres.” Quando elas são ativas, bem informadas, interessadas e integradas nas necessidades da comunidde e estão prontas a dar de mãos cheias de seu tempo, talentos e títulos, tudo vai bem. Aonde elas são vexadas, furiosas, impetuosas, dominantes, intransigentes, intole rantes, lançando-se para alcançar posições de importância, poder e prestígio, toda instituição humana vai enfraquecendo e termina morrendo de morte natural.” (grifo nosso)231
É sabido que no Brasil, nas regiões de imigração estrangeira,
especialmente nas áreas cafeicultoras que abrangiam os Estados de São Paulo,
Minas Gerais, Espírito Santo, Rio de Janeiro e, posteriormente, parte do Paraná,
trabalhavam famílias inteiras. Homens, mulheres e mesmo crianças labutavam nas
roças garantindo a produção e, consequentemente, a manutenção de todos,
considerando-se que muitos dependiam disto para saldar os compromissos
decorrentes de contratos tendo em vista que nem sempre eram proprietários da
terra.
Quando surgiu a SAF em Revista, como órgão de informação e
divulgação das Sociedades de Trabalho Feminino, o discurso da Igreja já estava
concluído. Sua identificação com a realidade social se justifica, uma vez que a
mesma se originou decorrente de um organismo implantado em um espaço
religioso onde os valores já vinham sendo cultivados por uma cultura assimilada.
231 MEYER, Farida, Amor Maravilhoso. SAF em Revista. São Paulo: Presbiteriana, 1968, p. 27.
353
Verdades pré-estabelecidas através da religião e que sempre conseguiu ditar as
normas dos usos e costumes concorreram para a viabilização da Revista.
A mesma nunca apresentou proposta de questionamento dos valores ou
princípios instituídos, porém, em todo período de sua história, apresentou um
discurso voltado à manutenção da instituição como tal e como órgão de
divulgação dos trabalhos desenvolvidos por todos os departamentos e organismos
ligados aos objetivos do trabalho feminino presbiteriano.
4.2.1 – SAF E TEMAS CONFLITANTES
Na realidade, a Revista analisada não se mostra como um instrumento
próprio de reflexão e crítica em sua essência, dadas a sua origem e finalidade. É
muito mais um órgão de informação e divulgação, além de ser objeto de
orientação para a efetivação de ações práticas no âmbito social e religioso.
Apresenta um discurso nitidamente voltado para a manutenção do “status quo” da
Igreja, em relação à sua estrutura governamental e também a princípios
doutrinários.
Politicamente é possível perceber a constância de um posicionamento a
favor da situação, tendo em vista a noção de submissão e respeito à autoridade que
desenvolve.
Pode-se exemplificar o fato através de um dos muitos artigos
apresentados. O Rev. José Borges dos Santos Junior desenvolveu tema sobre
“Governo e Autoridade” onde afirma: “a ninguém assiste o direito de criticar, a
não ser senão depois de ter cumprido o seu dever e de estar procurando prestar
ajuda.” 232
232 SANTOS JR, JOSÉ BORGES. Governo e Autoridade. SAF em Revista. São Paulo: Presbiteriana, 1964, p. 7.
354
Igualmente, em texto destinado a estudo em Reuniões Plenárias, na
Revista do trimestre jan-mar/65, Ruth da Silva Faria solicita das mulheres “o
respeito e acatamento às leis do país e às autoridades da Igreja” 233
Um artigo de Beny Sandoval Oliveira que responde à questão “Qual a
responsabilidade do cristão evangélico?”, relaciona algumas afirmativas como:
“ O verdadeiro cidadão do Reino deve ser o melhor cidadão da Pátria” “... É da vontade de Deus que obedeçamos as autoridades constituídas”.
“Respeitar ao Rei”- “ Este respeito significa, acatamento à sua pessoa, obediência à leis, pagamentos dos impostos, serviços prestados à Pátria.” 234
No decurso da análise feita, é possível constatar que tanto artigos escritos
por homens quanto por mulheres apresentam discursos semelhantes.
Líderes masculinos defendem a manutenção da estrutura de poder da
Igreja, embasados no papel fundamental do homem como pessoa capaz e
escolhida por Deus para exercer sua função. As líderes femininas defendem a
importância de uma postura como auxiliares destes na manutenção da organização
e preservação dos costumes.
Apesar da diversidade de itens desenvolvidos e do interesse demonstrado
em informar mães sobre problemas sociais, educação dos filhos, noção de saúde e
higiene, também de trabalho, é possível perceber, claramente, que temas
conflitantes são evitados.
Em nenhum momento detectamos qualquer tipo de esclarecimento sobre
controle da natalidade, fosse artigo favorável ou contrário. Igualmente, sobre o
233 FARIA, Ruth da Silva. Estudo para as Reuniões Plenárias. SAF em Revista. São Paulo: Presbiteriana, 1965, p. 3. 234 OLIVEIRA, Beny Sandoval. Estudos Bíblicos para Reuniões Departamentais. SAF em Revista, São Paulo: Presbiteriana, 1972, p. 9.
355
trabalho da mulher fora do lar, no âmbito rural, ou sobre os movimentos
feministas vivenciados no início do século.
O acesso da mulher às transformações tecnológicas e à modernidade nos
usos e costumes é sempre apresentado como risco que merece ser cuidadosamente
observado e, mesmo, evitado.
A influência da televisão, os programas fora do âmbito familiar e os
ideais feministas são firmemente questionados através de artigos que
responsabilizam a mulher pela felicidade de todos os membros da família e pela
manutenção dos bons costumes.
Inúmeros artigos trabalham a questão da insatisfação da juventude e
conseqüente a indução ao “transvio do bom caminho”, decorrendo daí o termo
juventude transviada, como sendo de total responsabilidade da mãe, cujo papel
não estaria sendo cumprido a contento. Igualmente, a referência à pessoa do
cônjuge que deve sentir satisfação em voltar para sua casa após seu considerável
dia de trabalho.
É possível referendar tais afirmações, citando o periódico do trimestre
jul-set/66, onde Azenath de Moraes Coelho, em seu tema “Mãe e Filho”, traz uma
história de família modelo onde, em determinado momento, se vivencia uma crise,
perdendo sua referência de organizada, disciplinada e feliz. Seqüencialmente
expõe, que : “A esposa, talvez a maior responsável pela situação caótica do lar,
continua na sua irresponsabilidade e tudo se desmorona”. 235
A autora não esclarece sobre o motivo do conflito familiar apresentado.
Apenas coloca como dedução pessoal que todo o insucesso vivenciado pelo
conjunto familiar é conduzido como decorrente de alguma ação da mulher.
Cristina de Barcellos Vieira, líder feminina da SAF, em Fortaleza (CE),
escreve o artigo “Mulheres Presbiterianas Salvai o Brasil” afirmando:
356
“Quantas mulheres, nesta época de correria para o pecado, vivem despreocupadamente, esquecendo os deveres sagrados para com Deus e para os seus lares, e com hipocrisia, vaidade e ostencismo, perdem preciosas horas nos gabinetes de beleza, nos clubes, nas praias e nos cinemas.”
Pobres criaturas, de mente e corações vazios, de perucas e sombras, de garras postiças e colos desnudos, com álito de Royal Label e de biquines como terão dignidade, caráter e moral para cuidarem de seus próprios filhos.”236
Outros inúmeros trabalhos são divulgados pela revista. Muitas vezes
deixam de mencionar o autor, porém, conservam sempre a mesma linha de
pensamento nos temas desenvolvidos. É o caso do artigo intitulado “A Família e a
Mocidade” que apresenta a seguinte afirmativa : “... Uma espôsa cristã não
aborrecerá o espôso ou tentará faze-lo um submisso a ela porque sabe que Deus
o fêz e ela pode amá -lo como ele é...”237
Entendemos que o discurso do periódico em questão não oportuniza a
crítica, ou melhor, impede a análise do comportamento do gênero humano frente
às transformações de época e aos fenômenos sócio-políticos e econômicos
inerentes ao espaço e à sociedade na qual se faz presente. Traduz apenas o modo
de pensar legitimado pela igreja.
Todo discurso está voltado unicamente ao espaço que, supostamente,
é ocupado pela mulher presbiteriana e cuja meta principal é a permanência neste.
Os termos empregados estão voltados a um modelo de mulher que tem
“feições” e “funções” claramente definidas e que já foram largamente descritas.
235 COELHO, Azenath de Moraes. Mãe e Filho. SAF em Revista. São Paulo: Presbiteriana, 1966, p. 7. 236 VIEIRA, Cristina de Barcellos. Mulheres Presbiterianas Salvai o Brasil. SAF em Revista. São Paulo: Presbiteriana, 1968, p. 31. 237 SAF em Revista – A Família e a Mocidade. São Paulo: Presbiteriana, 1967, p.5.
357
4.2.2 .SAF E O MOMENTO POLÍTICO
O período delimitado para a análise do objeto desta pesquisa contou com
uma sucessão de fatos que marcaram a história do Brasil e deixaram cicatrizes
indeléveis na realidade do cotidiano social brasileiro.
Ocorreram momentos em que movimentos populares refletiam crises,
buscas, uso e abuso do poder. O espaço presbiteriano não estava incólume às
informações sobre os anseios e conflitos populares, fato que, de certa forma,
influenciava a construção de um discurso que almejava tornar a Igreja menos
vulnerável aos mesmos. Enquanto uma história brasileira se construía através
destes embates, a Igreja procurava firmar suas convicções já estabelecidas.
É importante considerar o momento de criação da revista SAF para
melhor compreensão de alguns posicionamentos diante de seu discurso.
Os conflitos decorrentes da Grande Guerra não poderiam ser esquecidos.
O país vivenciava uma política que ficou conhecida como “Desenvolvimentismo”
dado o grau de otimismo espalhado através dos meios de comunicação já bem
desenvolvidos na época. Era o momento em que Juscelino Kubitschek apresentava
um discurso voltado à industrialização e criação de empresas sem verificar a
origem do capital. Brasília era construída, representando um aspecto de forte
credibilidade na evolução da região central do Brasil.
O discurso político da época apresentava uma aproximação ilusória da
capital com outras regiões brasileiras. O Norte do Brasil já não parecia tão
distante e sua exploração já representava esperança de riquezas e progresso.
O trimestre abr-jun/64 apresenta na capa da revista um mapa do Brasil
com a região Norte em destaque e o tema “Visita ao Norte”. Internamente, contém
358
uma descrição de viagem com fotos apresentadas por Nimpha Protasio de
Almeida que relata o roteiro feito, no qual esteve acompanhada da Senhora Na dy
Werner, no período de 29/08 a 08/10/63. O relato descreve visitas às capitais do
Nordeste e inclui o Norte do país, onde se pode constatar também a presença
norte-americana na região.
O fato pode ser comprovado através da afirmação de Nimpha Protásio de
Oliveira:
“Foi para nós um prazer conhecer os casais missionários Crow e Dinkins que se dedicam ao trabalho naquela região. Os Crow estavam de mudança para Imperatriz, situada na estrada Belém- Brasília, onde iriam iniciar uma grande obra assistencial, educacional e de evangelização... Desenvolve-se bem o trabalho evangelístico no Pará, apesar das grandes distâncias, dos transportes difíceis e também da relutância na aceitação do evangelho.”
“Em Manaus nos sentimos no coração do Brasil. Uma vez mais dizemos, precisamos conhecer a nossa Pátria e avaliar as possibilidades que ela nos dá não apenas nas suas riquezas e belezas naturais mas também nas oportunidades que estão abertas à pregação da Palavra de Deus.” 238
A influência política e o apoio ao governo é inegável. Tal fato foi mesmo
capa da Revista da SAF no trimestre jul-ago/59, quando traz a foto do presidente
JK, “proferindo seu discurso no Culto Solene do Centenário Presbiteriano na
Catedral Presbiteriana do Rio de Janeiro, no dia 12 de agosto de 1959”.239
A credibilidade ao governo brasileiro da época no meio presbiteriano era
tão proeminente que justificou, inclusive, a aquisição de um terreno no local
238 ALMEIDA, Nimpha Protasio de. Visita do Norte. SAF em Revista. São Paulo: Presbiteriana, 1964, p. 19-20.
359
destinado à nova capital. O objetivo era a construção do futuro Instituto Nacional
de Leigos e contou com o apoio de mulheres e, em especial, com dinheiro
advindo de Organização Feminina Americana, haja visto que o discurso político
ultrapassara as fronteiras do país.
Um artigo sobre o referido instituto, cujo autor foi omitido pela SAF em
Revista, descreve um evento ocorrido em 18 de agosto de 1959, representado por
um “Culto de Dedicação, simbólica, do terreno adquirido para a construção da
entidade. Além de fotos, o artigo contém algumas falas de líderes presbiterianos,
tanto brasileiros quanto norte-americanos. Entre estes podemos citar o Rev.
Boanerges Ribeiro, presidente do Supremo Concílio240 na época, e a Senhora
Morreli de Reing, representante das mulheres das Igrejas do Sul dos EUA, que,
em suas respectivas manifestações deixaram clara a importância do investimento.
O artigo afirma que:
“A Igreja Presbiteriana do Brasil adquiriu 200.000 pés quadrados de terreno em uma futura área residencial que dará vista para o lago artificial que irá circundar a nova capital... Espera-se, segundo palavras do Rev. Boanerges Ribeiro, que ele sirva o continente, com estudantes e corpo docente de todos os países da América...”
“Anteriormente, no Rio de Janeiro, no dia 12 de agosto, a Senhora Morreli de Reign, presidente da Assembléia Geral da junta do trabalho Feminino da Igreja Presbiteriana dos Estados Unidos comunicara que o total de ofertas atingira a Cr$ 72.000.000,00.” 241
O artigo apresentado na Revista deixa claro, através da fala da Srª Reign,
que havia interesse quanto ao retorno do investimento representado pelo alto custo
da manutenção da entidade. O mesmo artigo especifica a origem de parte do
montante como segue:
239 SAF em Revista. São Paulo: Presbiteriana, 1969. 240 Supremo Concílio – órgão máximo de organização Política da Igreja Presbiteriana do Brasil. 241 SAF em Revista. Instituto Nacional de Leigos. São Paulo: Presbiteriana, 1959, p.11.
360
“As mulheres do sul já levantaram aproximadamente US$ 200.000,00 e ainda que os planos específicos para o uso da oferta estejam para serem completados em consultas com ambos os grupos femininos e respectivas juntas missionárias e a Igreja Presbiteriana do Brasil, a senhora De Reign proclamou a esperança de que alguma parte dos fundos deveria ser investida de maneira a prever uma renda anual que possa garantir a manutenção da escola proposta”. 242
A política desenvolvimentista de J. K., voltada para a criação de
indústria, investimento em estradas e a construção da capital, redundaram no
endividamento do país e no conseqüente crescimento inflacionário, concorrendo
para a presença de séria crise econômica.
A viabilização da expansão tecnológica não era acessível a todos os
elementos que compunham a sociedade da época. A modernidade já não era tão
sonhada. Tal fato resulta em um ambiente de inquietação social face à miséria e à
fome, o que caracterizava o fim do governo e a chegada de um novo momento
político.
A Igreja, inserida no contexto social, é composta por indivíduos
pertencentes às diferentes camadas sociais, o que sugere a prese nça dos reflexos
da crise instaurada no país. O fato incita o estabelecimento de medidas paleativas
pela organização, nos diversos pontos do país, onde a IPB se faz presente. O
objetivo não se restringia a atender apenas aos membros da instituição mas,
também, as comunidades de sua abrangência.
Ações voltadas aos problemas sócio-econômicos são descritas através de
relatórios e campanhas apresentados pela Revista.
Uma das Revistas de 1959 traz um pequeno parágrafo em destaque, não
assinado, e que comprova o que afirmamos no seguinte:
242 Ibid, p. 11
361
“CONSOLIDAÇÃO... Cremos que esta palavra continua sendo uma das que mais nos têm preocupado ultimamente. No Brasil sentimos o desequilíbrio financeiro em todos os sêtores de atividades, nada está verdadeiramente seguro e consolid ado. Mas a “Consolidação” que nos está interessando no momento é o do Plano Financeiro de nossa Igreja e é por isto que líderes das Federações dos Presbitérios da Guanabara, Rio, Niterói e Nova-Iguaçu, se reuniram, na Secretaria do Trabalho Feminino (Rio) onde receberam informações sobre os resultados da Campanha em 1959 e planos para 1960, pelo seu Secretário, Rev. Amilton Michalski, autoridade portanto no assunto. Graças ao Rev. Amilton pela inspiração que nos trouxe; desejamos que ele possa falar a tôdas as Federações e que muitos sejam os frutos do seu trabalho, são os desejos da SAF em Revista.”243
Além da promoção de auxílio material, é estimulada a luta pela
alfabetização de adultos, uma vez que a própria filosofia da Igreja entende que é
inviável a evangelização sem acesso à leitura e estudo da Bíblia.
A SAF em Revista propõe temas para serem trabalahdos em cursos de
orientação a mulheres, mães, jovens, adolescentes e crianças. Há uma vasta
programação que inclui noções de saúde, higiene, relacionamento familiar, como
também, orientações para execução de trabalhos manuais, hortas caseiras e outras
práticas.
Ruth S. Faria, em um pequeno artigo sobre “Curso de Treinamento”
relaciona as várias unidades e matérias a serem trabalhadas. Segundo a autora:
“São elas: Govêrno e Doutrina da Igreja Presbiteriana – Organização do Trabalho Feminino – Psicologia da Evangelização – Mordomia Cristã – Esfôrço missionário no lar – Trabalho educacional no
243 SAF em Revista. Consolidação. São Paulo: Presbiteriana, 1959, p. 16.
362
lar – Higiene mental – Higiene física – Educação sexual – Alimentação e nutrição – Economia doméstica – Puericultura e outros temas, visando a necessidade da época atual.”244
Ao mesmo tempo em que a Igreja convivia com as crises sócio-
econômicas presentes na sociedade brasileira, as ideologias proliferavam e
também se tornavam conhecidas no espaço presbiteriano.
As notícias da Revolução Cubana chegavam ao Brasil, impregnadas pela
influência norte -americana, defensora de uma fala anti-socialista. O temor pelo
comunismo infectou todos os ambientes e a Igreja, pois através de suas lideranças
e meios de comunicação passou a condenar o sistema sem mesmo explicá-lo.
Entre os instrumentos de comunicação, a SAF em Revista apresenta
artigos que fazem alusão ao perigo que o comunismo representa, porém, sem
nenhuma análise sobre qualquer sistema político existente ou forma de governo.
Há considerável interesse em embasar fatos numa linguagem bíblica e
voltada à questão doutrinária.
Em estudo publicado e indicado para ser analisado pelas SAFs, no
trimestre jan-mar/64, o Rev. José Borges Santos Jr produziu vários temas sobre
política, sempre numa linguagem teológica, entre os quais, um sobre o
comunismo. A introdução do mesmo é: “Jesus era comunista?” E, entre suas
conclusões, mostrando a influência norte-americana, afirma:
“Como disse Stanley Jones, o comunismo glorifica a sociedade, a sociedade sem classes, como o facismo glorifica a nação, o nazismo glorifica a raça, e o capitalismo glorifica o êxito financeiro encarnado no indivíduo multimilionário.”
244 FARIA, Ruth S. Você sabe o que é o “Curso de Treinamento”? SAF em Revista. São Paulo: Presbiteriana, 1960, p. 13.
363
“Não existe qualquer identidade entre a sociedade dos primeiros cristãos e a sociedade comunista”. 245
Segundo o autor do artigo citado, a confusão feita entre Cristo e
Comunismo é decorrente do pouco conhecimento que muitos têm da Bíblia.
A senhora Ruth da Silva Faria, Assessora de Espir itualidade da
Confederação Nacional, apresentou alguns subsídios para estudo das SAF, entre
os quais destacamos o de jan/65 que expõe o seguinte:
“Como brasileiras temos que acatar e respeitar as leis do país, como presbiterianos obedecer às determinações de nosso “Livro de Ordem”, atendendo às admoestações e à orientação daqueles que se acham como autoridade perante o supremo Concílio da Igreja Presbiteriana do Brasil, de acordo com a Palavra de Deus.” 246
Temas como “As Obrigações Recíprocas da Liberdade”, “Liberdade e
Legalismo”, “Privilégio e Responsabilidade” “Mulheres Presbiterianas salvai o
Brasil”, apesar de serem apresentados como meramente doutrinários, camuflam
considerável conteúdo de estímulo à submissão e acatamento às autoridades
instituídas, seja na Igreja ou fora dela.
Os assuntos aos quais nos referimos foram percebidos em inúmeras
revistas durante todo o transcurso compreendido pelo regime militar instituído no
governo brasileiro.
Outro conjunto de estudos que merece destaque está inserido no
periódico trimestral da SAF, tendo sido produzido por Beny Sandoval Oliveira, e
que apresenta uma explanação coincidente com o mesmo discurso apresentado
pelo sistema instituído.
245 SANTOS JR, José Borges. Sal da Terra. SAF em Revista. São Paulo: Presbiteriana, 1964, p. 8/9. 246 FARIA, Ruth da Silva, Estudo para as Reuniões Plenárias. SAF em Revista. São Paulo: Presbiteriana, 1965, p. 8.
364
“... O profissional de qualquer natureza deve ter perfeita conduta. Como operário, empregado ou patrão, ser cumpridor do dever, respeitoso, honesto, verdadeiro, humano e justo...” 247
O texto salienta a importância das várias profissões para a sociedade e
conclui que, se todos agirem da melhor forma “Estarão dando o devido a César,
aqueles que mantidos pelos cofres públicos, ocupando postos no legislativo,
judiciário ou executivo, cumprem realmente o seu dever”. 248
A série de estudos elaborada por Beny Sandoval Oliveira procura
apresentar um modelo ideal de cidadão. O autor busca embasar-se em preceitos
bíblicos e, entre estes, utiliza-se de I Pedro 2:11-17, salientando o seguinte:
“Sujeitai-vos pois a toda ordenação humana por amor do Senhor; quer ao rei, como superior;
Quer aos governadores como por ele enviados para castigo dos malfeitores, e para louvor dos que fazem o bem.
Porque assim é a vontade de Deus que, fazendo bem, tapeis a boca à ignorância dos homens loucos.”249
O autor citado afirmava que:
“... Se a religião de Cristo é boa como anunciamos, ela deve produzir cidadãos exemplares tanto na Igreja como no comércio, no lar como na repartição, honrados no pagamento do armazém como nos compromissos dos impostos com o governo, e, no respeito às autoridades constituídas.”250
247 OLIVEIRA, Beny Sandoval. Estudos Bíblicos para Reuniões Departamentais. SAF em Revista. São Paulo: Presbiteriana, 1972, p. 8. 248 Ibid, p. 8 249 Bíblia Sagrada - I Pedro. 2: 13 -15. 250 OLIVEIRA, op. cit., p. 9.
365
A influência do período político não esteve limitada apenas à questão
moral e ideológica, mas trouxe, igualmente, reflexos nas práticas instituídas.
As campanhas de alfabetização e a existência do MOBRAL, como órgão
de viabilização do projeto, se fizeram conhecidas através de várias ações internas
da “Sociedade de Mulheres”, o que pode ser detectado através de um destaque da
Revista em junho/71 que diz:
“Você conhece o MOBRAL? Lute para que a sua SAF este ano mantenha um estudante dando-lhe uma bolsa de estudos.
Alfabetizando alguém você estará ajudando o Brasil!” 251
A política expansionista adotada no período contribuiu para que a Junta
de Missões Nacionais, igualmente, desenvolvesse projetos de trabalhos
abrangentes, incluindo sua presença na Transamazônica e em locais distantes de
Rondônia, Acre e outros estados. O fato em questão pode ser comprovado pelo
relato de Edna Costa sobre sua viagem “À longínqua Rondônia ” no periódico
nov-dez/77. Em dado momento, se expressa com satisfação: “Viagem excelente! –
oportunidade de ver de cima e mais perto, a floresta cortada pela estrada de
terra e pelos rios, levando-nos à “missão da Sorria” 252
O documento a que fazemos referência é resultante de várias outras
presenças no espaço geográfico, previamente conquistado e que, através de muitas
campanhas das Sociedades Femininas, viabilizou a presença de missionários e
grupos de pessoas no meio antes considerado hostil da região norte.
4.3 – A SAF e o Movimento Dissidente da IPB
251 HERINGER, Barjout Mirray. SAF em Revista. São Paulo: Presbiteriana, 1971, p. 7. 252 COSTA, Edna. A longínqua Rondônia. SAF em Revista. São Paulo: Presbiteriana, 1977, p.14.
366
Apesar do sistema militar instituído coibir manifestações públicas e até
mesmo limitar a liberdade de expressão, justificando uma aparente apatia no meio
social, isto não ocorria no ambiente presbiteriano. Internamente eram vivenciados
movimentos que redundavam em sérios conflitos e na formação de grupos
discordantes das novas doutrinas que iam sendo, pouco a pouco, divulgadas.
As circunstâncias favorecedoras da presença de grupos diferenciados
tornavam-se cada vez mais abrangentes, alcançando as diversas regiões
brasileiras, de norte ao sul e de leste a oeste.
Entre os membros das Igrejas surgiam grupos defensores de um modo de
ser cristão diferente. Estes almejavam uma maior espiritualidade, que deveria
manifestar-se por uma postura mais animada no ambiente religioso. Tornava-se
comum entre estes um excesso de rigidez quanto às exigências de boa conduta
dos religiosos. Havia grande preocupação em controlar a vida de todos e zelar
pelos “bons costumes.” Questionam-se desde a vestimenta de jovens e mulheres
até o ambiente freqüentado fora do âmbito religioso. Tudo passava a ser visto
como pecaminoso e desagradável aos olhos de Deus. O indivíduo deveria buscar
vivenciar cada vez mais a religião, o que tornava indispensável que sua
participação nas atividades da Igreja fosse mais visível. Tal fato só era possível
através de uma manifestação “ardente” de sua espiritualidade, característica
comum aos denominados “avivados”. Pastores e presbíteros adeptos da inovação
lideravam o movimento procurando impor aos membros uma nova postura, o que
gerava conflitos.
Na revista do trimestre abr -jun/69, o Rev. Eny Luz de Moura do Estado
de Santa Catarina faz referência ao movimento, afirmando que:
“ Os arraiais presbiterianos, e evangélicos em geral, andam sendo visitados por um movimento estranho, atordoante e pertubador.
367
O movimento “avivarenovacionismo – pentecostalizante”, cujas origens e resultados desagregadores não vai ao caso analisar aqui neste curto espaço (o que faremos oportunamente).” 253
O autor citado acima apresenta novo artigo intitulado “Alerta”, no
trimestre out-dez/69, no qual manifesta novamente sua preocupação com os
“excessos da Renovação.”
Como descreve o autor, o movimento “aviva-renovacionismo-
pentecostalizante” avançou por todo país, afetando consideravelmente a unidade
das Igrejas. Algumas sociedades internas da Igreja apresentam problemas, o que
pode ser confirmado pela mensagem escrita por Martha Pinto de Oliveira –
Secretária de Espiritualidade da Confederação Sinodal do Sínodo de Belo
Horizonte, em agosto de 1969, e publicada no trimestre jan-mar/70, como segue:
“Tenho sofrido muito por saber de problemas que estão perturbando e paralisando mesmo trabalhos de nossa amada Igreja Presbiteriana. Creio que igualmente a irmã tem sofrido demais com isso.
Parece-nos que Pastôres e líderes do trabalho estão necessitando da graça salvadora de Cristo para livrá -los do poder de Satanaz que os está usando para a dissenção na Igreja do Senhor; esta Igreja que Êle quer ‘sem mácula, nem ruga, nem coisa semelhante, porém santa e sem defeito.’”254
O movimento evoluiu consideravelmente, culminando com o surgimento
de uma nova Igreja, isto é, a divisão da instituição em estudo. Isto mostra que
trouxe sérios transtornos à Igreja, culminando com a separação entre seus
membros e a criação de uma nova denominação, à Igreja Presbiteriana Renovada.
253 MOURA, Eny Luz de. Alerta! SAF em Revista. São Paulo: Presbiteriana, 1969, p. 11. 254 OLIVEIRA, Martha Pinto de. Mensagem. SAF em Revista. São Paulo: Presbiteriana, 1970, p. 3-4. 255 LIVRO ATA Nº 4 CONSELHO DA IPB de Campo Mourão. 1970, p. 1.
368
Entre os diversos movimentos dissidentes que se sucederam na Igreja
Presbiteriana do Brasil limitamo-nos ao último, ocorrido em 1970, considerando
sua origem no noroeste do Paraná e o fato de terem alcançado a cidade de Campo
Mourão cujo o pastor em exercício Rev. Jonathan Ferreira dos Santos foi o líder
da questão e era, na época, presidente do Presbitério Regional sediado em
Cianorte.
O relato do conflito consta em livros de Atas do Conselho da Igreja
Presbiteriana de Campo Mourão, através de registro do Rev. Jofre Botão, em
1971 que afirmava:
“Nota - Esta Igreja sofreu a crise da divisão proveniente das doutrinas “pentecostistas” implantadas pelo ex pastor Presbiteriano Rev. Jonathan Ferreira dos Santos, então o Conselho foi dissolvido, e por este motivo até que seja constituído o novo Conselho, registraremos – Atos Pastoraes -, que continuamos o 3º livro...”255
Toda documentação e livros de registros existentes, anterior ao
movimento, estão desaparecidos. Isto foi informado verbalmente por membros
mais antigos e pelo atual pastor Rev. João dos Anjos.
Nos registros escritos, apenas um dos livros faz alusão ao fato. A nota
aparece na abertura de um dos livros de Atas da Junta Diaconal256 em agosto de
1971, escrito por seu Secretário Sr. Itamar Alves como segue:
“Como o livro anterior havia desaparecido comprou-se o presente livro, com 50 folhas numeradas tipograficamente, para passar as atas concernentes as reuniões da Junta Diaconal, que seguirá a ordem
256 Junta Diaconal – Conjunto de Diáconos eleitos pela Igreja com atividades definidas em estatuto próprio e que, na IPB são representados
369
numérica crescente a começar pelo número Um (1)”.257
O alcance do movimento também pode ser percebido através do registro
no Livro de Atas da Junta Diaconal da IPB de Campo Mourão, cujo histórico
apresenta:
“ Em virtude da crise doutrinária, que atingiu a região, a Igreja Presbiteriana de Campo Mourão – PR., teve seu Conselho e Junta Diaconal dissolvidas, passando a existir como congregação, até o dia 22 de agosto de 1971, precisamente as 14:00 horas quando reuniu-se em Assembléia para reorganizar-se, elegendo-se na oportunidade o Conselho e a Junta Diaconal.” 258
Do mesmo modo como foram reorganizados os órgãos básicos da Igreja,
as sociedades internas, afetadas pelo problema, foram sendo reestruturadas.
É importante considerar que apesar do conflito vivenciado por muitas
igrejas e a extinção de inúmeras SAFs, a SAF em Revista não deixou de ser
impressa e distribuída em nenhum momento.
Apenas foi possível detectar que o assunto sobre a crise interna da Igreja
era, esporadicamente, manifestado através de seus artigos, objetivando estimular
as mulheres a permanecerem como apoio nas atividades religiosas, ou procurando
conscientizá-las do problema presente. Algumas vezes transparecia certo
questionamento sobre a postura dos membros em relação ao grau de
espiritualidade.
Podemos exemplificar, através do artigo do Rev. Eny Luz de Moura, que
contrapõe a apatia religiosa aos excessos presentes e lembra: “... não
emocionalismos e gritarias, que são condenados pela palavra de Deus. Mas
257 Livro de Ata organizado a partir de 22/08/1971, nº 1. IPB Campo Mourão: Registro na p. 1. 258 Ibid., p. 1.
370
ordem e decência que são recomendados pela mesma Palavra ao povo do
Senhor”. 259
O autor demonstra preocupação com as reuniões, “avivadas”260 que
surgiam no período em algumas igrejas.
As revistas publicadas no último trimestre de 1970 e durante todo ano de
1971 não fizeram alusão ao movimento. Porém, no período jan-mar/72, um artigo
do Rev. Osvaldo Henrique Hack mostra que o problema estava presente.
“Em nossos dias o têrmo “reavivamento” deve ser reestudado. O uso demasiado e inconveniente por igrejas extremistas trouxe uma atitude de auto-defesa, chegando mesmo a uma reação negativa, no ambiente presbiteriano.
O movimento revivacionista penetrou em todas as igrejas e por isso a Igreja Presbiteriana também foi alvo, chegando ao extremo, da separação definitiva da ala pentecostalizada”.261
É importante lembrar que a separação a que se refere o autor fez surgir a
Igreja Presbiteriana Renovada, sendo hoje uma entidade que congrega muitos
adeptos e que está presente por todo país.
4.4. A VIRTUDE DA SUBMISSÃO EM REVISTA.
259 MOURA, Eny Luz. Renovação ou Inovação. SAF em Revista. São Paulo: Presbiteriana, 1970, p. 27 260 Avivadas – termo utilizado e que indica cultos e outras cerimônias, com manifestações ruidosas objetivando indicar um certo ânimo espiritual presente. 261 HACK, Osvaldo Henrique. Aspectos do Reavivamento. SAF em Revista. São Paulo: Presbiteriana, 1972, p. 13.
371
A submissão é apresentada como uma ação de acatamento a valores e
princípios instituídos, bem como de respeito e aceitação das autoridades e
instituições vigentes.
Sendo a SAF em Revista, um veículo dedicado essencialmente ao gênero
feminino, a elaboração de seu discurso privilegia determinados aspectos
perpetuadores de uma ideologia que deixa transparecer as diferenças de direitos
quanto às posições ocupadas na hierarquia organizacional presbiteriana.
Há uma infinidade de artigos, objetivando dar mostras à mulher da sua
responsabilidade como cristã, colocando-a como elemento fundamental na
solução e/ou razão dos conflitos, na conquista da felicidade dos membros da
família e, também, instrumento de harmonia e de força de trabalho na Igreja.
Ao lhe ser atribuída tal importância não se atribui que ela deva ocupar
posição de destaque adquirindo, deste modo, qualquer espécie de “poder” e/ou
“direitos”. Pelo contrário, sua função implica em uma infindável lista de
obrigações que vai desde o modo de falar e vestir, até a competência psicológica
de bem compreender o comportamento daqueles que dela dependem.
Um exemplo apresentado por Lydia Leitão sobre “submissão”, na
Revista de out/55, mostra como determinada senhora conquistou a felicidade.
“Foi dócil, foi bondosa para com o esposo espalhando felicidade no seu lar. E procurou melhor desenvolver o talento da Oração. Orou com perseverança vivendo em comunhão perfeita com Deus. Viveu dentro do lar uma vida de oração e de poder.
Deus abençoou tamanha submissão. Seu espôso começou a interessar-se pelas reuniões na Igreja...” 262
Nossa investigação não tem por objeto questionar a espiritualidade
apresentada, mas refletir sobre o discurso que é dirigido ao gênero feminino,
262 LEITÃO, Lydia. Submissão. SAF em Revista. São Paulo: Presbiteriana, 1955, p. 13.
372
determinando o papel de mera submissão ao homem, independentemente de
qualquer outro papel que a mulher possa ocupar ou mesmo de seu modo de
pensar.
No hodierno é inviável medir o grau de felicidade de alguém impedido
de manifestar-se inteiramente. A submissão imposta a mulher nos primórdios do
presbiterianismo no Brasil negava-lhe o direito de manifestação autentica.
Entre as muitas manifestações sobre a importância do calar, um dos
pontos conclusivos sobre o tema é apresentado no periódico de dez/59, intitulado
“As Lições da Girafa”. É mostrada como ilustração e conclui:
“Elas são mudas. Saibamos silenciar nos momentos precisos, usando o provérbio: “Ver, ouvir e calar”. Lembremos-nos que: “Quem muito fala pouco acerta”. As girafas vivem em bandos. Sejamos unidas e estaremos preparadas para enfrentar as hostes inimigas e vencê-las.” (grifo nosso). 263
O direito de falar e o dever de calar ocupa espaço de destaque na relação
de poder entre o homem e a mulher.
O discurso que garante ao homem a primazia do falar é embasado em
textos bíblicos escolhidos e interpretados por eles.
Nina Luz, ao escrever sobre o lar e a essência da submissão feminina,
utiliza I Pedro – 3:1.
“Mulheres, sede vós, igualmente submissas a vosso próprio marido, para que, se ele ainda não obedece à palavra seja ganho sem palavra alguma, por meio do procedimento de sua esposa. ( grifo nosso)264
263 Revista SAF, As Lições da Girafa. São Paulo: Presbiteriana, 1959, p. 25. 264 Bíblia Sagrada. I Pedro 3:1
373
Percebemos que a autora citada coloca o calar como procedimento
correto de uma esposa submissa.
Há momentos em que a referência à fala se identifica com uma crítica
dirigida especificamente às mulheres. Isto pode ser percebido através do relatório
escrito por Edith Maia sobre o Congresso Nacional do Trabalho Feminino da
Igreja Presbiteriana dos EUA. O evento ocorreu no período de 22 a 29/06/1964,
na Universidade de Purdue em Lafayette, no estado de Indiana.
Apesar da presença de homens e mulheres, Edith Maia salienta o
seguinte:
“Ficamos impressionados com a ordem e a disciplina das delegadas. Nas reuniões em conjunto, realizadas no auditório, (capacidade de 6 mil pessoas sentadas) antes do início dos trabalhos, era uma verdadeira Babel. Podem imaginar mais de 5 mil mulheres falando ao mesmo tempo? (elas são todas iguais em toda parte). Bastava uma levantar a mão, outras mãos faziam o mesmo, era a ordem de fazer silêncio, que num minuto era completa. Para os grupos de estudos, não havia necessidade de fiscalização, cada delegada se dirigia para o grupo que fazia. Os horários também foram obedecidos rigidamente. Nunca ouvimos ninguém reclamar nem passar à frente de outro grupo...”265
O relatório deixa claro a crítica ao afirmar que as mulheres “são iguais
em toda parte” pelo simples fato de conversarem ao estarem reunidas. Ao ler o
relatório fica a imagem de um grande “falatório” feminino enquanto aos homens
presentes não é feita nenhuma referência. A autora não rotula os homens como
iguais em toda parte, sejam eles falantes ou não.
Os termos utilizados pela autora demonstram a presença de um controle
bastante autoritário, considerando que a mesma demonstra certa admiração ao
265 MAIA, Edith. Relatório do Congresso Nacional do Trabalho Feminino nos EUA. SAF em Revista. São Paulo: Presbiteriana, 1965, p. 12.
374
tratar da não necessidade de fiscalização no decorrer de alguns trabalhos. Seu
comentário sobre o comportamento das mulheres no evento mostra a excelência
da organização já que, dentre as 5 mil mulheres presentes, ninguém reclamou
nada e nem desrespeitou a ordem instituída.
Num outro artigo que trata da questão do falar, podemos detectar a
presença de um aspecto diferente relacionado à mulher.
Ivany Escobar Becker, em colaboração com o Rev. Charles Carpenter,
publicou um artigo onde destaca as qualidades da modéstia e humildade. No
mesmo, o falar deve fazer parte da humildade. Com base nos primeiros 16 livros
do Velho Testamento, os autores citados elaboraram um estudo sobre algumas
mulheres e afirmavam:
“Modéstia – Nós lemos em Genesis 24 a modéstia de Rebeca quando se encontra com Isaque pela primeira vez. Há algo bonito nas palavras dos vs 64 “Tomou ela o véu e se cobriu”. Ela possui as qualidade de humildade e modéstia que nunca são absolutas mas sempre são bonitas e em dia. Humildade no falar, humildade em se vestir, se comportar e em toda maneira de viver. Deus já se declarou inimigo do orgulho e amigo da humildade. Vamos permitir que cresça e cultivar sempre esta virtude em nossas vidas.”(grifo nosso)266.
É possível perceber que a produção dos artigos procura garantir aceitação
e credibilidade não só do discurso, como também, de seus autores. A essência dos
escritos é de cunho teológico e apresenta modelos bíblicos de mulheres através de
estudos convincentes com o princípio doutrinário desenvolvido pela IPB. Entre
elas, há vários textos sobre: Marta e Maria, Ester, Débora, Lídia entre outras
mulheres consideradas exemplares para o meio cristão.
266 CARPENTER, Charles, BECKER, Cacilda Escobar. O Plano de Deus Para as Nossas Vidas . SAF em Revista. São Paulo: Presbiteriana, 1965, p. 19.
375
Nos artigos que comentam sobre o papel de Marta e Maria, há sempre o
destaque especial para Maria que demonstrou interesse em ouvir e aprender. Não
deu importância apenas às coisas “terrenas” como Marta, mas sentou-se para
ouvir Jesus.
Os artigos não interpretam a fala de Jesus para demérito da prática
doméstica, da boa hospedagem, mas sim, enaltecem a importância da preocupação
pelo conhecimento das verdades cristãs. Isto pode ser lido na revista do trimestre
jul-set/69 sob o título “A Melhor Escolha”, como segue:
“Jesus não impugnou as coisas que preocuparam Marta, mas classificou-as até de desnecessárias. Ele não viera para ser servido, mas para servir, nem reclamava atenção para o aspecto material de sua vida, que Marta tão bem queria cuidar; chamava ao contrário a atenção dos seus ouvintes para seus ensinos e por isso elogiou a escolha de Maria que não escolheu apenas alguma coisa boa, mas a boa parte, o lado bom por excelência da vida, seu aprofundamento nas coisas eternas, “pois as coisas terrenas são passageiras mas as que são de cima são eternas”.267
Apesar de encontrarmos diversos textos que aludem à beleza, como
exemplo a imagem da rainha Ester, amplamente utilizada como modelo de
sabedoria e beleza, na referência ao meio em questão, o discurso se modifica. Fica
exposta grave preocupação com a frivolidade feminina, tida como própria da
vaidade e que, se presente no meio cristão, é condenável.
O fascículo da SAF em Revista de abr/jun-70 apresenta um estudo sobre
o livro de Ester no qual omite qualquer análise sobre a ação de Vasthi. Apenas
descreve o comportamento do rei da Pérsia e a recusa de obediência por parte da
rainha.
267 SAF em Revista. A Melhor Escolha. São Paulo: Presbiteriana, 1969, p. 7.
376
Ao expor sobre os costumes no palácio, descreve:
“... Ali bebia-se sem constrangimento e o rei, movido pela excitação do vinho, ordenou que a rainha se apresentasse, exibindo a sua beleza perante os convidados. Vasthi, indignada, recusou-se a obedecer, desrespeitando assim a etiqueta oriental.
Naquela época a mulher era considerada como uma escrava simples joguete nas mãos de seus senhores; não podia ter vontade própria, porém obedecer cegamente às ordens. Onde os vícios e a orgia predominavam, a situação da mulher era ainda mais deplorável mais humilhante.”268
A descrição apresentada denota coragem na atitude de Vasthi. É
fundamental reconhecer que, na época em que ocorreu o fato, a mulher estava
destinada à submissão legalizada. Portanto, negar-se a servir aos caprichos de um
rei ou a qualquer senhor era muito mais difícil do que colocar -se humildemente
diante dos mesmos.
Porém, o texto deixa de lado a atitude de Vasthi e desenvolve ampla
análise sobre a postura comportamental de Ester.
No contexto fica aparente que o modelo escolhido enaltece virtudes
representadas pela humildade, submissão e simplicidade que devem estar
imbutidos no modo de ser feminino. A referência aos termos humildade e
simplicidade abrange a postura e conduta da mulher, exigindo dela sobriedade nos
usos e costumes.
O artigo “Em te mpos de Tentação” aludindo à questão da vaidade,
publicado pela SAF como transcrição de um Boletim da UMP de Copacabana, RJ
268 FARIA, Ruth da Silva. Ester O Livro de Ester e a sua mensagem. SAF em Revista. São Paulo: Presbiteriana, 1970, p.1.
377
omitindo autor e dados, afirma: “Salva-nos de nos tornarmos escravos da luxúria
e paixões, ou vítimas de desmedido apetite e gluton eria.”269
A constante preocupação com o cultivo das virtudes e uma adequação do
indivíduo a um modo de ser exemplar revela a influência do puritanismo herdado
dos missionários norte americanos, precursores do presbiterianismo no Brasil.
Mendonça afirma que:
“ O puritanismo foi mais um modo de ser da vida religiosa que se foi ajustando, nem sempre passivamente, às várias correntes de pensamento que, vão desembocar na América e se prolonga pela história do protestantismo naquele país e pelas suas áreas de influência missionária.
... É essencialmente um modo de viver”270
Um dos estudos produzidos para o VII Congresso Nacional, em 1970,
sobre “o livro de Ester e sua mensagem” faz referência à questão da humildade,
gratidão e outros aspectos necessários à figura feminina. Ruth da Silva Faria,
autora do estudo, ao referir-se à rainha Ester, afirma:
“Ela era obediente, meiga e sabia respeitar e estimar àquele que dela cuidara- Mardoqueu, seu parente. Ester foi uma verdadeira heroína, hábil, enérgica, corajosa, temente a Deus”. 271
O mesmo tema trás referências sobre o porquê da escolha de Ester como
rainha. Mostra a figura da rainha Vasthi que negou-se obedecer ao rei, servindo-o
apenas como modelo de formosura e, por isso, perdeu sua posição.
Não há uma discussão mais crítica sobre o caso, mas apenas um relato
demonstrativo da questão.
269 SAF em Revista. “Em tempos de Tentação. São Paulo, Presbiteriana, 1967, p. 1. 270 MENDONÇA, op. cit., p. 42/43. 271 FARIA, Ruth da Silva, Ester – A Rainha Heróica. São Paulo: Presbiteriana, 1970, p. 2.
378
É possível constatar que o momento político brasileiro, vivenciado pelo
regime militar nos anos 70 e legalmente instituído, justifica a postura de
acomodação percebida através do discurso apresentado.
Retomando o estudo de Ruth da Silva Faria, destacamos a seguinte
afirmação:
“O rei ficou furioso com a recusa de Vasthi e reunindo os conselheiros procurou uma solução para o caso. Eles opinaram pela destituição de sua posição de rainha, alegando que esta falta tão grave serviria de mau exemplo para as outras mulheres que passariam assim, a desobedecer a seus maridos. Foi por isso baixado um decreto, que cada homem se considerasse a pessoa mais importante em sua casa, devendo ser obedecidas suas ordens sem discutir.” 272
É possível observar que no caso apresentado, Vasthi é a representante da
desigualdade feminina. Ao negar-se a servir aos caprichos do homem (Rei),
colocou-se como diferente. É uma mulher que pensa e age contrariando os
ditames da época. Ignora os valores impostos socialmente e que determinam para
a mulher uma posição de declarada inferioridade e subserviência.
Entendemos que, ao colocar-se como senhora de sua própria vontade
garantiu para si o direito de optar e impor seus próprios desejos, mesmo que isto
tenha representado a perda do privilégio de ser a rainha.
Ester porém, diferentemente, é o modelo de submissão, o único aceito
pela sociedade da época retratada. Ela foi escolhida também como modelo a ser
observado no meio presbiteriano.
O livro de Ester, cap. 1: 10 a 22 traz a descrição do fato. Também o
estudo, organizado para o VII Congresso Nacional em Vitória (ES), limitou esta
parte do livro apenas a uma descrição. Ficou evidenciado que o objetivo do
272 Ibid, 1970, p. 1.
379
discurso era a exaltação dos dotes de Ester e sua relação com os deveres das
mulheres da época.
Continuando o relato histórico, e as lições tidas como exemplares, Ruth
da Silva Faria trabalha o tema sob outro título, isto é, “A missão de Ester e a
nossa na Época Atual”.
Fica evidenciada a problemática social vivenciada pela mulher dos anos
70, que passa a contribuir com o trabalho fora do lar.
O enfoque da Revista SAF, através de alguns artigos, deixa transparecer
a consciência de algumas mulheres sobre as transformações que estão ocorrendo.
É o caso de Maria Kudzielicz ao afirmar:
“Os atuais meios de comunicação permitem acompanhar de perto todos os acontecimentos mundiais, especialmente, nos setores de atividades profissionais e assistenciais.
As mudanças constantes nas condições e modo de vida moderna trouxeram problemas de trabalho, habitação, saúde pública, convívio e ajustamentos sociais.
Também o papel da mulher está sofrendo transformações, e é grande a modificação que tem experimentado através dos últimos séculos.”273
A autora citada descreve o acesso à educação e à profissão, salientando a
importância da mulher em servir a comunidade.
O desenvolvimento sócio-econômico da época impelia à busca de
crescimento intelectual e profissional. Os meios de comunicação, já bem
desenvolvidos, concorriam para a mudança de hábitos e valores, fazendo surgir
273 KUDZIELICZ, Maria. A Mulher Cristã a Serviço da Comunidade Moderna. SAF em Revista. São Paulo: Presbiteriana, 1970, p. 25.
380
consideráveis conflitos familiares que se refletiam nos meios religiosos. A
exemplo disto, A. H. V. Ferreira escreve:
“Se, por um lado esses meios poderosos de comunicação constituem grande conquista da vida contemporânea, por outro lado, trazem problemas graves, quando se considera o seu aspecto de influência negativa. Exemplo: muitos programas maléficos que a televisão atira, por assim dizer, aos lares, não passam pelo crivo de uma censura cuja formação ética seja irrefutável.”274
Ao mesmo tempo em que a comunicação está enchendo os lares, a
mulher está se ausentando em busca do trabalho.
O acesso ao saber, à profissão e, ao conseqüente ganho salarial, colocava
em decadência velhos padrões ligados à noção de submissão e responsabilidades
domésticas feminina.
4.4.1. SAF- UM VEÍCULO DE INSTRUÇÃO DOMÉSTICA
274 FERREIRA, A.H.V. – A Mulher Cristã e o Desafio do Mundo de Hoje. SAF em Revista. São Paulo: Presbiteriana, 1970, p. 1.
381
A função e educação dos filhos estão sensivelmente expostas na SAF em
Revista, garantindo constância e variedade de temas sempre dedicados ao gênero
feminino.
Através da revista é possível reconhecer que a sociedade destina à
mulher a responsabilidade da formação de homens capazes, trabalhadores,
responsáveis e dignos. O governo espera que estes mesmos homens, educados por
Ela , sejam verdadeiros cidadãos, cumpridores das leis, fiéis no recolhimento dos
impostos, acatadores e respeitadores das autoridades instituídas além de,
evidentemente, serem igualmente preparados para se transformar em políticos
quando advirem de famílias ligadas aos interesses do sistema.
Também a Igreja espera que todos os filhos sejam educados por suas
respectivas mães no sentido de preservarem a doutrina e o princípio vigente, bem
como auxiliarem na manutenção da estrutura organizacional existente. Para isto,
Deus as destinou e a Igreja lhes dá total apoio. Seu papel de “auxiliadora” é
muito importante para a Instituição e é defendido inclusive pelo órgão máximo, o
“Supremo Concílio”, que acompanha o desenvolvimento de suas efetivas
realizações.
Beny Sandoval de Oliveira, em um artigo destinado aos estudos em
reuniões plenárias da SAF , salienta a importância da mulher no lar e na educação
ao escrever:
“O lar é a Universidade de Deus, e os pais são os Mestres dessa Universidade.
A mãe representa influência poderosa na educação da criança. Ela tem em suas mãos todos os elementos necessários para moldar o coração e a mente dos seus filhos. “Ensina um homem e estarás escrevendo na água, ensina uma criança e estarás escrevendo no mármore”. É no lar que a criancinha bebe os
382
ensinamentos e onde tem sempre diante dos olhos o exemplo ao qual copiará.”275
Ao ser trabalhado o tema sobre o lar, a figura masculina aparece, às
vezes, no papel de autoridade.
É possível perceber claramente as diferentes funções determinadas ao pai
e à mãe, visando um modelo ideal de lar.
Zélia Maranhão afirmou que o pai é uma fonte de autoridade e a mãe
uma fonte de afeto, como segue:
“Em um lar bem formado e normal está presente uma fonte de autoridade, o pai, o liame, o contacto com a realidade, quem dá sentido na vida doméstica, (Esta função precípua do pai não lhe exclui outras. Também é sua função amar, ser companheiro, etc.)
Está presente também uma fonte de afeto, amor devocional, sacrificial na pessoa da mãe. (Note-se que afeto não é sinal de pieguice e não exclui autoridade e nem afirmação pessoal).” (grifo nosso)276
É interessante observar o que a autora citada deixa entre parênteses,
quando trata do sentimento do pai relacionado com o amor, e, do mesmo modo,
quando faz referência à autoridade e afirmação pessoal da mãe.
Na essência, o pai é o centro, o elo, o “liame” da vida doméstica e a mãe
a fonte do amor devocional, sacrificial, etc.
Entre os vários artigos analisados, é possível detectar que seu discurso
procura destacar um modelo de mulher ideal. Há mesmo preocupação com a
formação da mulher, visando prepará-la para melhor responder às necessidades do
lar e da família.
275 OLIVEIRA, Beny Sandoval de. A Influência da Educação Religiosa no Lar. SAF em Revista. São Paulo: Presbiteriana, 1971, p. 19.
383
Sob este aspecto Beny S. de Oliveira escreve:
“A mulher precisa ter cultura, capacidade pedagógica, e, principalmente a sã doutrina. A sã doutrina trará a sabedoria. Sabedoria bíblica: juízo, justiça, pureza, verdade e dons espirituais. A mulher precisa possuir conceito de justiça, senso de honestidade.”277
A seriedade com que é tratada a importânc ia do papel de “dona de casa”
possibilitou a manutenção, na Revista, de uma seção de receitas como também de
sugestões sobre utilidades domésticas dirigidas às mulheres
Um dos fascículos da SAF apresentam um teste interessante, com
inúmeras perguntas que refletem o grau de expectativa sobre o papel da “dona de
casa”. O autor foi omitido, mas seguem algumas das indagações:
“Proporciona à sua família alimentos nutritivos, saborosos, sem dispêndio de muito dinheiro?
Desenvolve aptidões nas crianças para a vida no lar e na sociedade?
Veste sua família com bom gosto e economia?
Compreende a divergência de temperamento dos componentes da família e procura orientá -los?
Domina os seus próprios problemas para resolver os de sua família?” 278
O interessante é que, após a avaliação, consta a representação dos pontos
em que o conjunto dos SIM garante a excelência da “dona de casa” e os NÃO
implica na necessidade de esforço para a superação das consideráveis falhas.
O Congresso Nacional de 1970, ocorrido em Vitória (ES), que garantiu a
presença de representantes dos diversos estados brasileiros, contando com
276 MARANHÃO, Zélia Fávaro. O Lar como Base da Educação Cristã. SAF em Revista. São Paulo: Presbiteriana, 1971, p. 1. 277 OLIVEIRA, Beny Sandoval de. A Responsabilidade da Mulher Moderna na Educação Religiosa. SAF em Revista. São Paulo: Presbiteriana, 1971, p. 24.
384
mulheres de níveis e interesses diversificados, oportunizou à liderança da época
apresentar temas que questionavam as transformações presentes na sociedade da
época.
Rute da Silva Faria, em 1970, ao apresentar o trabalho sobre “A missão
de Ester e a nossa na época atual”, mesmo admitindo o alto custo de vida, os
problemas de ordem material enfrentados pela dona de casa, questiona a busca da
mulher pela superação das carências, considerando:
“O modernismo com o seu cortejo de luxo, de vaidade, de mil e uma atrações, a preocupação de se exibir, têm levado o elemento feminino a ausentar-se do lar, a perder ótimas oportunidades de cuidar com dedicação do seu espôso, de educar convenientemente os filhos, proporcionando-lhes o zêlo que só uma mãe pode dispensar, deixando-os entregues a estranhas, a empregadas desumanas, a parentes que os estragam com mimos excessivos ou não sabem educá-los como seria necessário...” (grifo nosso) 279
Pelo exposto, pode-se entender que as empregadas tidas como
desumanas, e os parentes que “estragam os filhos” não teriam acesso ao
conhecimento inerente da mãe, ou então, o artigo estaria deixando transparecer
um discurso discriminatório motivado pela distinção de posição: mãe x
empregada.
Na realidade, há considerável insistência quanto ao insubstituível papel
da mãe como educadora e orientadora dos filhos. A maternidade implica não só na
busca pela formação e preparo intelectual dos filhos, como também no
encaminhamento religioso.
278 SAF em Revista. São Paulo: Presbiteriana, 1964, p. 19. 279 FARIA, Ruth da Silva. A Missão de Ester e a nossa na Época Atual. SAF em Revista. São Paulo: Presbiteriana, 1970, p.5.
385
Além do auxílio e acompanhamento nas atividades escolares, é mister
transmitir os primeiros ensinamentos da religião através do culto doméstico diário
e do exemplo de vida vivenciado por ela diante da família e da sociedade.
O apoio dado pelos organismos de poder da Igreja servem como suporte
à ação feminina que busca estar sempre em perfeita comunhão com os ditames
dos usos e costumes da entidade.
As habilidades esperadas delas não são poucas. A revista apresenta
modelos que visam motivá-las na busca da perfeição da imagem. Além do
exemplo de vida esperado da mulher, no aspecto da conduta moral, há também a
preocupação de salientar a importância do trabalho como virtude.
Guaraciaba S. de Abreu, em seu artigo sobre “a mulher na Igreja”,
exemplifica a competência de Dorcas como costureira. “Ela foi a pioneira do
trabalho de agulha posto em benefício, do próximo”.280
O artigo intitulado “Dorcas, uma Discípula”, de 1972, cujo autor é
omitido, apresenta Dorcas como uma discípula281 de Jesus.
Dorcas é uma personagem bíblica cuja descrição está contida em Atos
dos Apóstolos, como segue: “E havia em Jope uma discípula chamada Tabita,
que traduzido se diz Dorcas. Esta estava cheia de boas obras e esmolas que
fazia.”282
O artigo descreve o relato da morte de Dorcas e a ação de Pedro,
responsável pelo milagre de sua volta à vida. Neste contexto fica demonstrada a
importância desta mulher na comunidade em que se inseria, bem como sua
competência como costureira.
280 SAF em Revista. Estudos para Reuniões Plenárias. São Paulo: Presbiteriana, 1972, p. 16. 281 O artigo “Dorcas, uma Discípula” da SAF em Revista de 1972 conceitua discípulo, como aquele que aprende com outro. Coloca que no caso bíblico é aquele que segue a Jesus e procura aprender dele. 282 Bíblia Sagrada. At. 9:36.
386
A história conta que foram enviados dois varões a busca de Pedro em
Lida, local próximo a Jope para que viesse salvar a discípula.
“E levantando-se Pedro, foi com eles: e quando chegou o levaram ao quarto alto, e todas as viúvas o rodearam, chorando e mostrando as túnic as e vestidos que Dorcas fizera quando estava com elas. (grifo nosso)283
A citação não teria considerável destaque se apresentada apenas como
um fato histórico. Porém, seu poder de persuasão no sentido de pressionar o
gênero feminino em prol de assimilação de habilidades indispensáveis à sua
dignidade de mulher perfeita e capaz, chama nossa atenção.
Outros modelos de mulheres são exemplificados através da revista.
Haroldo Cock ao relacionar “Mulheres da Bíblia” não privilegiou apenas aquelas
se identificavam com o ideal feminino presbiteriano. O autor relacionou,
“Ana, a mãe ideal – I Samuel 1:20 Abigail, a mulher “sensata” – I Samuel
25:3 Débora, a mulher patriótica – Juizes
4:4. Dorcas, a mulher costureira – Atos 9:39. Eva, a mulher curiosa – Gênesis 3:6 Ester, a mulher que se sacrificou – Ester
4:16. Eunice, a mãe de Timóteo – II Timóteo
1:5. Febe, a mulher “protetora”- Romanos
16:12. Isabel, a mulher humilde – Lucas
1:43....”284
Porém, é interessante observar que na escolha dos versículos bíblicos
citados pelo autor há evidente preocupação em salientar as virtudes destas
mulheres.
283 Bíblia Sagrada. At. 9:39 284 COCK, Haroldo. Mulheres da Bíblia. SAF em Revista. São Paulo: Presbiteriana, 1970, p. 30.
387
CONCLUSÃO
388
CONCLUSÃO
O advento do protestantismo no Brasil, a partir do século XIX, causou
impacto diante do que existia no país em termos de religião cristã.
Dois fatores concorreram para o fato, ou seja, a presença de imigrantes
europeus não católicos num dado momento e a vinda de missionários norte -
americanos em outro.
Decorrente disto, o país contou com dois tipos de protestantismo. Um, o
de imigração, destinado a atender os imigrantes aqui instalados, possibilitando aos
mesmos a manutenção de sua cultura. O outro, o de missões, aberto ao projeto
norte-americano que, embasado na ideologia de “povo escolhido” trazia ao
território brasileiro a idéia de progresso e desenvolvimento.
Analisando o contexto social da “era missionária”, podemos constatar
que a figura feminina vivenciava aspectos discriminatórios comuns, decorrentes
do sistema vigente e dos valores embutidos na mentalidade do povo brasile iro.
O protestantismo de missão que adentrou no país carregava influências
do puritanismo, advindo dos Estados Unidos, onde chegara com os imigrantes
ingleses.
Isto influenciou a definição do “modo de ser” dos protestantes, porém
não contribuiu em nada para a eliminação dos aspectos discriminatórios
existentes relacionados a gênero, origem étnica, religião e classe social.
A condição feminina na sociedade em formação, no século XIX e início
do século XX, se identificava com sua condição como mulher protestante,
pertencente à uma sociedade onde a cultura patriarcal ainda se fazia presente.
As Igrejas Presbiterianas iam sendo criadas e organizadas estabelecendo
limites de poder para homens e mulheres no que se refere as funções a serem
389
desempenhadas no espaço religioso. Embasado em estatuto interno, somente aos
homens era concedido o direito de acesso ao oficialato, o que deixava clara a
discriminação da mulher.
Porém, fora do espaço religioso, a presença de missionárias e
professoras norte-americanas repercutiu no espaço brasileiro.
A criação de escolas e a presença da mulher americana no sistema
educacional instituído, especialmente a partir de 1865, abriu espaço à figura
feminina brasileira possibilitando-lhe, a partir daquele momento, apossar-se de
uma nova alternativa. A organização da Escola Normal foi relevante no sentido de
viabilizar à mulher o acesso à uma profissão respeitável ensejando-lhe a
alternativa de superar as barreiras da intelectualidade.
A evolução política e econômica do século XX trouxe ao gênero
feminino novas opções. Com o desenvolvimento da urbanização e o avanço do
processo industrial a partir dos anos 30, ela passou a compor o mercado
produtivo. Posteriormente, tornou-se mão-de-obra especializada granjeando
espaços anteriormente monopolizados profissionalmente por homens.
A manutenção do sistema instituído é garantida através de um discurso
embasado em preceitos bíblicos. Mas, é interessante lembrar que, com base neste
mesmo instrumento, a Bíblia, outras igrejas conquistaram consideráveis avanços,
permitindo à mulher o acesso ao oficialato e até mesmo ao ministério pastoral.
Como exemplo, podemos citar a Igreja Presbiteriana Independente.
A mulher presbiteriana, ainda conserva parte do discurso
tradicionalmente instituído e tem contribuído para a preservação do “status quo”
da igreja. Este fato ocorre, considerando que a ela tem competido a educação e
formação religiosa dos filhos e, neste papel, ela continua repassando os valores já
instituídos.
Estudando a SAF em Revista, veículo de informação e formação
feminina, constatamos que seus artigos retratam a despreocupação com a questão
390
organizacional da Igreja e priorizam temas voltados a questões do cumprimento
de obrigações como mães, esposas, auxiliares, etc..
Analisando as edições de 1955 a 1975, foi possível constatar que a
variedade dos assuntos não incluiu nunca um posicionamento crítico em relação
à mulher, nem mesmo relacionado a qualquer aspecto discriminatório presente na
sociedade, uma vez que isto não é prioridade da organização presbiteriana e
mesmo as mulheres ligadas à instituição não têm se preocupado com esta
problemática.
Homens e mulheres apresentaram sempre questões atinentes à
espiritualidade, à educação de filhos, à criatividade utilitária, às qualidades e
virtudes indispensáveis à figura feminina cristã, ao patriotismo e ao acatamento
das leis e autoridades, etc., enfim, temas sempre dirigidos à “política da paz”.
Concluindo, percebemos clara dicotomia do ser mulher.
Entendemos que esta personagem, enquanto cidadã, conquistou
considerável espaço na sociedade. Foi capaz de galgar degraus superiores na
hierarquia profissional e política. Porém, esta mesma pessoa, no espaço
presbiteriano, continua uma mera auxiliadora.
No espaço social, de dona de casa submissa transformou-se em
administradora, comerciante e comerciária, escritora e leitora, diplomata, política
e uma infinidade de outras funções e profissões. Mesmo no espaço doméstico,
decide, administra e opina. Porém, na Igreja, permanece no mesmo degrau.
Para que ocorra uma mudança no modelo de governo presbiteriano,
necessária se faz uma reflexão sobre a questão de gênero e da condição feminina.
Isto deve resultar numa mudança de mentalidade de todos que compõem a igreja.
Somente através da conscientização poderá ocorrer um posicionamento mais
crítico frente ao discurso instituído.
391
Se a ação feminina serviu ao sistema, firmando-o como tal, sua influência
poderá determinar, mesmo que lentamente, o aprimoramento do mesmo,
oportunizando aos membros, independentemente do gênero a que pertençam, o
direito de acesso às diferentes funções na Igreja.
Este fato pode ser considerado viável uma vez que outras instituições
(igrejas), que tiveram origem na IPB, já alcançaram este grau de democratização e
suas mulheres já têm aces so a funções que antes eram privilégio masculino.
Portanto, a reestruturação do sistema não é uma utopia e, sim, algo
perfeitamente viável e que depende apenas do avanço conseqüente de um repensar
de seus membros.
O processo é lento. Estudos como este e outros que se produzem devem
servir de mola propulsora para uma séria reflexão.
392
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III - JORNAIS E REVISTAS
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Brasil, 1998.
2 - Ano 104, nº 1. São Paulo, IPIB, 1997.
3 - ALVORADA, Revista. Ano XXXI nº 20 São Paulo, IPI, jan/mar de 1999.
4 - BRASIL Presbiteriano. Diversos número de 1985 a 1987.
5 -Voz Missionária. Fev/Abr. 1973 a out/dez. 1984. São Paulo. Imprensa
Metodista.
6 - SAF em Revista. São Paulo, Casa Editora Presbiteriana. 1976 a 1982.
IV - DISSERTAÇÕES
1 - AÇO, João Paulo Rito Rodrigues. A Revista “A Voz Missionária (1930-
1949) como Veículo Para Educação Informal da Mulher Metodista.
Porto Alegre, UFRGS/RS, 1999. Dissertação (Mestrado em
Sociologia.) Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
2 -BRAKEMEIER, Ruthild. O Surgimento de Um Modelo de Diaconato
Feminino, sua Implantação no Brasil e Perspectiva para O Futuro.
407
São Leopoldo, Escola Superior de Teologia, 1998. Dissertação
(Mestrado em Teologia). Escola Superior de Teologia.
3 - MEYRER, Marlise Regina. Evangelisches Stift: Uma Escola Para “Moças
das Melhores Famílias”. São Leopoldo, UNISINOS, 1997.
Dissertação (Mestrado em História ) Universidade Do Vale do Rio
de Sinos.
408
ANEXOS
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