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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ
CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS
DEPARTAMENTO DE QUÍMICA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM QUÍMICA
Náilon 6 e 6,6 em Blendas com Lignina Kraft Modificada por Ácido
Fórmico: Caracterização e Efeito de Radiação UV
Tese apresentada por Paulo Rodrigo Stival Bittencourt ao Programa de Pós-Graduação em Química do Departamento de Química do Centro de Ciências Exatas da Universidade Estadual de Maringá como parte dos requisitos para a obtenção do título de Doutor em Ciências.
MARINGÁ, DEZEMBRO/2008
Universidade Estadual de Maringá Centro de Ciências Exatas Departamento de Química Programa de Pós-Graduação em Química
Este é o exemplar definitivo da Tese apresentada por Paulo Rodrigo Stival Bittencourt, perante a
Comissão Julgadora do Programa de Pós-Graduação em Química em 11 de dezembro de 2008.
COMISSÃO JULGADORA:
................................................................................... Prof. Dr. Edgardo Alfonso Gomes Pineda PRESIDENTE - UEM/DQI ........................................................................................ .................................................................................. Prof. Dr. Adley Forti Rubira Prof. Dr. Eduardo Radovanovic MEMBRO -UEM/DQI MEMBRO - UEM/DQI
........................................................................................ ....……........................................................................ Prof. Dr. Aldo Eloizo Job Prof. Dr. Alfredo Tibúrcio Nunes Pires MEMBRO - UNESP MEMBRO - UFSC
Dados Internacionais de Catalogação-na-Publicação (CIP) (Biblioteca Central - UEM, Maringá – PR., Brasil)
Bittencourt, Paulo Rodrigo Stival B624n Náilon 6 e 6,6 em blendas com lignina kraft
modificada por ácido fórmico : caracterização e efeito de radiação UV / Paulo Rodrigo Stival Bittencourt. -- Maringá : [s.n.], 2008.
102 f. : il., figs. Orientador : Prof. Dr. Edgardo Alfonso Gómez
Pineda. Tese (doutorado) - Universidade Estadual de
Maringá, Programa de Pós-Graduação em Química, área de concentração: Polímeros e Compósitos, 2008.
1. Polímeros. 2. Blendas poliméricas. 3. Náilon
6. 4. Náilon 6,6. 5. Lignina. I. Universidade Estadual de Maringá, Programa de Pós-Graduação em Química. II. Título.
CDD 21.ed. 547.84
Aos meus pais, Benjamim e Inês, a minha esposa Cláudia e aos meus filhos João Pedro e Mariana, pela paciência e incentivo.
2
AGRADECIMENTOS
A Deus...
Ao Prof. Dr. Edgardo Pineda, pela orientação, amizade, sugestões e pela constante dedicação e apoio tornando possível a realização deste trabalho.
À Profª. Drª. Ana Adelina (Anita) por sua amizade e grande colaboração neste trabalho.
Ao Prof. Dr. Aldo Job e ao colega Deuber Agostini (UNESP – Presidente Prudente) pela obtenção das análises FTIR.
Ao Prof. Dr. Eduardo Radovanovic pela obtenção e interpretação das imagens da microscopia eletrônica (MEV) dos filmes.
Ao Departamento de Química e a Secretaria do Curso de Pós-graduação em Química Aplicada da Universidade Estadual de Maringá por atenderem sempre que necessário.
Aos sempre prestativos secretários da PQU e amigos Claudemir e Cristina.
Aos colegas Marcos Kunita, Daniela Martins, Marcela Fernandes e Maylon Rodrigues pelo considerável apoio durante o trabalho experimental.
À Ana, Frimmel, Edson, Sílvia e Ivânia pela obtenção das diversas análises e espectros das amostras mostrados posteriormente neste trabalho.
Aos Professores Adley Rubira e Edvani Muniz por todos os ensinamentos e pela compreensão.
A todos que contribuíram na realização e elaboração deste trabalho, direta ou indiretamente.
3
SUMÁRIO
ÍNDICE DE ABREVIATURAS..................................................................................................I
ÍNDICE DE FIGURAS.............................................................................................................. II
ÍNDICE DE TABELAS ............................................................................................................VI
RESUMO ................................................................................................................................. VII
ABSTRACT............................................................................................................................VIII
1. INTRODUÇÃO....................................................................................................................... 1
2. OBJETIVO .............................................................................................................................. 3
3. TÉCNICAS UTILIZADAS PARA ANÁLISES DE SISTEMAS POLIMÉRICOS.......... 4
3.1. ANÁLISES TÉRMICAS ............................................................................................................. 4
3.1.1. TERMOGRAVIMETRIA (TG).................................................................................................. 4
3.1.2. CALORIMETRIA EXPLORATÓRIA DIFERENCIAL (DSC) ......................................................... 5
3.1.2.1. parâmetro a/b.................................................................................................................... 7
3.2. MICROSCOPIA ELETRÔNICA DE VARREDURA (MEV) ......................................................... 8
3.3. DIFRAÇÃO DE RAIOS-X.......................................................................................................... 9
3.4. ÂNGULO DE CONTATO - INTERFACE SÓLIDO-LÍQUIDO ..................................................... 11
3.5. RESSONÂNCIA MAGNÉTICA NUCLEAR (RMN)................................................................... 12
4. POLIAMIDAS....................................................................................................................... 13
4.1. PROPRIEDADES FÍSICAS E QUIMICAS DAS POLIAMIDAS ALIFÁTICAS ............................... 15
4.1.1. SOLUBILIDADE ................................................................................................................... 15
4.1.2. FOTODEGRADAÇÃO............................................................................................................ 17
4.1.3. PRÉ-CRISTALIZAÇÃO.......................................................................................................... 18
4.1.4. ESPECTROSCOPIA NA REGIÃO DO INFRAVERMELHO (IV) .................................................. 18
4.2. SINTESE DOS MÔNOMEROS DO NÁILON 6 E DO NÁILON 6,6............................................... 19
4.3. NÁILON 6 .............................................................................................................................. 20
4.3.1. SÍNTESE DO NÁILON 6 ........................................................................................................ 20
4
4.3.2. FORMAS CRISTALOGRÁFICAS............................................................................................. 21
4.3.3. PROPRIEDADES TÉRMICAS – NÁILON 6 .............................................................................. 22
4.4. NÁILON 6,6 ........................................................................................................................... 24
4.4.1. SÍNTESE DO NÁILON 6,6 ..................................................................................................... 24
4.4.2. FORMAS CRISTALOGRÁFICAS............................................................................................. 26
4.4.3. PROPRIEDADES TÉRMICAS – NÁILON 6,6 ........................................................................... 27
5. LIGNINA ............................................................................................................................... 30
5.1. COMPOSIÇÃO E ESTRUTURA DA LIGNINA .......................................................................... 32
5.2. MASSA MOLAR DA LIGNINA................................................................................................. 34
5.3. A LIGNINA E SEU USO PARA FINS INDUSTRIAIS .................................................................. 35
5.4. A LIGNINA KRAFT ................................................................................................................ 35
5.5. CARACTERIZAÇÃO DE LIGNINAS ........................................................................................ 36
5.5.1. ESPECTROSCOPIAS ............................................................................................................. 36
5.5.1.1. espectroscopia na região do ultravioleta-visível............................................................. 36
5.5.1.2. espectroscopia na região do infravermelho .................................................................... 36
5.5.1.3. caracterização de lignina por ressonância magnética nuclear (1H-RMN)...................... 38
5.5.2. CARACTERIZAÇÃO DE LIGNINA POR ANÁLISES TÉRMICAS (TGA – DSC).......................... 40
6. BLENDAS POLIMÉRICAS ................................................................................................ 42
6.1. DEFINIÇÃO E ASPECTOS TERMODINÂMICOS...................................................................... 42
6.2. PREPARAÇÃO DE BLENDAS POLIMÉRICAS ......................................................................... 43
6.3. BLENDAS CONTENDO LIGNINA............................................................................................ 43
7. FRACIONAMENTO E CARACTERIZAÇÃO DA LIGNINA........................................ 46
7.1. OBJETIVOS........................................................................................................................... 46
7.2. EXPERIMENTAL ................................................................................................................... 46
7.2.1. MATERIAIS E EQUIPAMENTOS ............................................................................................ 46
7.2.2. PROCEDIMENTO ................................................................................................................. 47
7.2.2.1. purificação da lignina kraft ............................................................................................ 47
7.2.2.2. fracionamento da lignina kraft ....................................................................................... 47
7.2.2.3. espectroscopia de absorção na região do infravermelho - (FTIR) ................................. 47
7.2.2.4. análise termogravimétrica - (TGA) ................................................................................ 47
7.2.2.5. calorimetria exploratória diferencial - (DSC) ................................................................ 48
5
7.2.2.6. espectrometria de ressonância magnética nuclear de hidrogênio (1H-RMN)................. 48
7.2.2.7. microscopia eletrônica de varredura – (MEV) ............................................................... 49
7.3. RESULTADOS E DISCUSSÃO ................................................................................................. 49
7.4. CONCLUSÕES ....................................................................................................................... 56
8. ESTUDO DO EFEITO DA ADIÇÃO DE LKF AO NÁILON 6 E 6,6; RADIAÇÃO UV
NAS BLENDAS......................................................................................................................... 57
8.1. OBJETIVO ............................................................................................................................. 57
8.2. MATERIAIS E EQUIPAMENTOS: ........................................................................................... 57
8.3. PROCEDIMENTO................................................................................................................... 58
8.3.1. PREPARAÇÃO DOS FILMES.................................................................................................. 58
8.3.2. IRRADIAÇÃO DAS BLENDAS COM LUZ ULTRAVIOLETA ...................................................... 58
8.3.3. TÉCNICAS PARA ANÁLISE DE AMOSTRAS DE POLÍMEROS................................................... 58
8.3.3.1. calorimetria diferencial exploratória - (DSC) ................................................................ 58
8.3.3.2. análise termogravimétrica - (TGA) ................................................................................ 59
8.3.3.3. espectroscopia de absorção na região do infravermelho ................................................ 59
8.3.3.4. espectroscopia de absorção na região de ultravioleta-visível - (UV-Vis) ...................... 59
8.3.3.5. microscopia eletrônica de varredura – (MEV) ............................................................... 59
8.3.3.6. medidas de ângulo de contato de avanço ....................................................................... 59
8.3.3.7. difração de raios-X – (DRX).......................................................................................... 60
8.4. RESULTADOS E DISCUSSÃO ................................................................................................. 60
8.4.1. CARACTERIZAÇÃO DOS POLÍMEROS PUROS ....................................................................... 60
8.5. FILMES DE NÁILON 6 E NÁILON 6/LKF.............................................................................. 63
8.6. ANÁLISE DOS FILMES DE NÁILON 6 E NÁILON 6/LKF IRRADIADOS COM LUZ UV........... 70
8.7. QUENCHING DOS SISTEMAS NÁILON 6, E NÁILON 6/LKF................................................... 77
8.8. ANÁLISE DOS FILMES DE NÁILON 6,6 E NÁILON 6,6/LKF.................................................. 80
8.9. ANÁLISE DOS FILMES DE NÁILON 6,6 E NÁILON 6,6/LKF IRRADIADOS COM LUZ UV..... 86
8.10. QUENCHING DOS SISTEMAS NÁILON 6,6 E NÁILON 6,6/LKF............................................ 93
8.11. CONCLUSÕES ..................................................................................................................... 95
9. REFERÊNCIAS .................................................................................................................... 97
I
ÍNDICE DE ABREVIATURAS
LK - Lignina Kraft
LKF - Fração da lignina kraft modificada em ácido fórmico
A100 - náilon 6 puro não irradiado
A124 - náilon 6 puro irradiados 24 horas com luz UV
A148 - náilon 6 puro irradiados 48 horas com luz UV
A196 - náilon 6 puro irradiados 96 horas com luz UV
A200 - náilon 6 contendo 0,25% de LKF em massa não irradiado
A224 - náilon 6 contendo 0,25% de LKF em massa irradiados 24 horas com luz UV
A248 - náilon 6 contendo 0,25% de LKF em massa irradiados 48 horas com luz UV
A296 - náilon 6 contendo 0,25% de LKF em massa irradiados 96 horas com luz UV
A300 - náilon 6 contendo 0,50% de LKF em massa não irradiado
A324 - náilon 6 contendo 0,50% de LKF em massa irradiados 24 horas com luz UV
A348 - náilon 6 contendo 0,50% de LKF em massa irradiados 48 horas com luz UV
A396 - náilon 6 contendo 0,50% de LKF em massa irradiados 96 horas com luz UV
A400 - náilon 6 contendo 1,00% de LKF em massa não irradiado
A424 - náilon 6 contendo 1,00% de LKF em massa irradiados 24 horas com luz UV
A448 - náilon 6 contendo 1,00% de LKF em massa irradiados 48 horas com luz UV
A496 - náilon 6 contendo 1,00% de LKF em massa irradiados 96 horas com luz UV
A100q - náilon 6 puro não irradiado – quenching
A400q - náilon 6 contendo 1,00% de LKF em massa não irradiado – quenching
B100 - náilon 6,6 puro não irradiado
B124 - náilon 6,6 puro irradiados 24 horas com luz UV
B148 - náilon 6,6 puro irradiados 48 horas com luz UV
B196 - náilon 6,6 puro irradiados 96 horas com luz UV
B200 - náilon 6,6 contendo 0,25% de LKF em massa não irradiado
B224 - náilon 6,6 contendo 0,25% de LKF em massa irradiados 24 horas com luz UV
B248 - náilon 6,6 contendo 0,25% de LKF em massa irradiados 48 horas com luz UV
B296 - náilon 6,6 contendo 0,25% de LKF em massa irradiados 96 horas com luz UV
B300 - náilon 6,6 contendo 0,50% de LKF em massa não irradiado
B324 - náilon 6,6 contendo 0,50% de LKF em massa irradiados 24 horas com luz UV
B348 - náilon 6,6 contendo 0,50% de LKF em massa irradiados 48 horas com luz UV
B396 - náilon 6,6 contendo 0,50% de LKF em massa irradiados 96 horas com luz UV
B400 - náilon 6,6 contendo 1,00% de LKF em massa não irradiado
B424 - náilon 6,6 contendo 1,00% de LKF em massa irradiados 24 horas com luz UV
B448 - náilon 6,6 contendo 1,00% de LKF em massa irradiados 48 horas com luz UV
B496 - náilon 6,6 contendo 1,00% de LKF em massa irradiados 96 horas com luz UV
B100q - náilon 6,6 puro não irradiado – quenching
B400q - náilon 6,6 contendo 1,00% de LKF em massa não irradiado – quenching
II
ÍNDICE DE FIGURAS
Figura 1: Curva TG de um polímero............................................................................................................5
Figura 2: Esquema do arranjo do termopar num tipo de cela DSC. ...........................................................6
Figura 3: Eventos típicos vistos em uma análise de DSC de um polímero semicristalino...........................6
Figura 4: DSC de um pico de fusão, mostrando a linha base e a definição de a e b. ..................................7
Figura 5: Reflexão de um feixe de raio-X por dois planos paralelos, separados por uma distância d......10
Figura 6: Difratograma esquemático de cristais de uma substância (a) altamente cristalino, (b) cristalino
(c) pouco cristalino. ...................................................................................................................................10
Figura 7: Representação gráfica da obtenção do ângulo de contato de uma gota em um sistema sólido-
líquido.........................................................................................................................................................11
Figura 8: (a) Representação da ligação entre o grupo carbonila e o grupo amina, com os respectivos
comprimentos de ligação (em Ângstrons) e (b) estruturas de ligações de hidrogênio existentes em uma
poliamida (náilon 6,6). ...............................................................................................................................14
Figura 9: Reações de fotocisão comuns em poliamidas alifáticas. ............................................................17
Figura 10: Termograma DSC do náilon 6,6 puro, apresentando o evento de pré-cristalização precedendo
a fusão. .......................................................................................................................................................18
Figura 11: Espectro infravermelho para o náilon 6,6; 6,10 e 6,12 a temperatura ambiente. ...................18
Figura 12: Síntese dos monômeros do náilon 6 e náilon 6,6. ....................................................................20
Figura 13: Polimerização da εεεε-caprolactama via aniônica.......................................................................20
Figura 14: Interação de cadeias de poliamida 6 adjacentes, de forma (a) antiparalela (forma αααα) e (b)
paralela (forma γγγγ); (c) projeção da célula unitária do náilon 6 (forma αααα) e (d) forma geométrica de sua
estrutura triclínica e seus planos cristalográficos. (e) Curva WAXD padrão do náilon 6 e as curvas
deconvoluídas de suas fases cristalinas e amorfa. .....................................................................................22
Figura 15: TG e DTG do náilon 6, em atmosfera de gás nitrogênio (N2) e ar sintético, ambos mecanismos
desaceleratórios. ........................................................................................................................................23
Figura 16: Mecanismos propostos para a formação de monômero no NÁILON 6 por pirólise, mostrando
um (a) processo rápido e um (b) processo lento. .......................................................................................23
Figura 17: Termograma DSC de um filme de náilon 6 prensado, com taxa de aquecimento de 10 ºC/min,
em atmosfera de N2 ....................................................................................................................................24
Figura 18: Reação da hexametileno diamina com ácido adípico para a síntese do náilon 6,6.................25
Figura 19: Obtenção do ácido adípico tendo a D-glicose como material de partida................................25
Figura 20: (a) Curva WAXD padrão do náilon 6,6 e seus picos característicos; (b) projeção da célula
unitária do náilon 6,6 (forma αααα) e (c) forma geométrica de sua estrutura triclínica e seus planos
cristalográficos...........................................................................................................................................26
Figura 21: Curva DSC de uma amostra de náilon 6,6...............................................................................27
Figura 22: Curvas (TG) do náilon 6,6 em N2, após 620 ºC em ar sintético...............................................28
Figura 23: (a) e (b) Reações de degradação térmica do náilon 6,6. .........................................................29
III
Figura 24: Modelo da estrutura celular de coníferas e folhosas. LM = lamela média, P = parede
primária, S1 = camada 1 da parede secundária, S2 = camada 2 da parede secundária, S3 = camada 3
da parede secundária ou parede terciária, W= camada verrugosa (warts). .............................................31
Figura 25: As unidades que compõem as ligninas, (I) álcool transconiferílico, (II) álcool trans-sinapílico
e (III) álcool para- trans-cumarílico. .........................................................................................................33
Figura 26: (a) Esquema estrutural da lignina de madeira mole, proposto por Adler (1977) e (b) sua
projeção espacial, compreendendo 16 unidades fenilpropânicas. .............................................................34
Figura 27: Espectro UV-Vis de lignina de faia (Fagus sylvatica). ............................................................36
Figura 28: Espectro de FTIR típico de lignina de palha de triticale (híbrido de trigo e centeio), obtida em
meio ácido. .................................................................................................................................................37
Figura 29: Espectro 1H RMN da lignina de piaçava acetilada..................................................................39
Figura 30: Termograma de uma fração de lignina de Tamarix spp. .........................................................41
Figura 31: FTIR de LK e LKF em KBr, normalizados pela área total do espectro de LK. .......................50
Figura 32: Representação da reação de esterificação de um grupo guaiacila por ácido fórmico, cujo
precursor é o álcool transconiferílico. .......................................................................................................50
Figura 33: Espectro 1H RMN de LK e LKF, após o processo de acetilação (solvente: CDCl3). ...............51
Figura 34: Reações de modificação do grupo guaiacila da lignina kraft..................................................51
Figura 35: Termograma de LK e LKF, realizadas em atmosfera de N2. ...................................................53
Figura 36: Curvas DTG para LK e LKF....................................................................................................53
Figura 37: Termograma de LKF, realizada em atmosfera de ar sintético.................................................54
Figura 38: Curva DSC para LK e LKF, sob atmosfera de gás nitrogênio.................................................55
Figura 39: Micrografias obtidas por MEV de LKF, com barra de escala de (a) 50 µµµµm e (b) 20 µµµµm........55
Figura 40: Absorbância de radiação UV-Vis que ocorre nas soluções de lignina e dos náilons 6 e 6,6. .60
Figura 41: Representação gráfica das análises IR para filmes de náilon 6 e náilon 6,6, espectros
normalizados pela área total do espectro do náilon 6. ..............................................................................61
Figura 42: Curvas DSC, TG e DTG para (a) filme de náilon 6 e (b) filme de náilon 6,6 puros, sob
atmosfera de gás nitrogênio. ......................................................................................................................62
Figura 43: Difratograma para (a) filme de náilon 6 e (b) náilon 6,6. A intensidade do maior pico nos
filmes foi de 1000 CPS e 4200 CPS, respectivamente; as linhas tracejadas é resultado da deconvolução
do difratograma..........................................................................................................................................63
Figura 44: (a) Difratogramas de raios-X dos sistemas Náilon 6/LKF. DRX de (b) A200 e (c) A400,
deconvoluído na posição das formas cristalinas do náilon 6.....................................................................64
Figura 45: Curvas (a) TG e (b) DTG de filmes de náilon 6 contendo 0; 0,25; 0,50 e 1,00% de LKF em
massa..........................................................................................................................................................65
Figura 46: Entalpia de fusão (∆∆∆∆Hf) dos filmes de náilon 6, com diferentes proporções de LKF...............66
Figura 47: (a) parâmetro a/b e (b) a entalpia de fusão (∆∆∆∆Hf) dos filmes de náilon 6, com diferentes
proporções de LKF.....................................................................................................................................67
Figura 48: Curvas DSC para os sistemas náilon 6/LKF contendo 0,25%, 0,50% e 1,00% de LKF em
massa, A200, A300 e A400 respectivamente. .............................................................................................68
IV
Figura 49: Micrografias dos filmes náilon 6 com (a) 0; (b) 0,25%; (c) 0,50% e (d) 1,00% de LKF em
massa (Barra de escala 10 µµµµm) e os respectivos sistemas (e); (f); (g) - escala de 20 µµµµm, e (h) irradiados
por 96 H em luz UV....................................................................................................................................69
Figura 50: Micrografia do filme náilon 6 com 0,50% em massa de LKF. (Barra de escala 1 µµµµm)...........70
Figura 51: Espectros FTIR para A100 e A196, nas regiões do espectro infravermelho compreendidas
entre (a) 2980-2900 cm-1, (b) 1735-1715 cm-1 e em (c) 1670-1600 cm-1. ...............................................71
Figura 52: Gráfico das análises ATR para A200 e A296, nas regiões do espectro infravermelho
compreendidas entre (a) 2980-2900 cm-1, (b) 1735-1715 cm-1 e em (c) 1670-1600 cm-1...........................71
Figura 53: (a) Difratogramas dos sistemas náilon 6 puro sem irradiar (A100) e irradiado com luz UV
durante 96 H (A196); (b) náilon 6 com 0,25% de LKF em a massa, sem irradiar (A200) e irradiado com
luz UV durante 96 H (A296); (c) náilon 6 com 0,50% de LKF sem irradiar (A400) e irradiado (A496)e
(d) náilon 6 com 1,00% de LKF sem irradiar (A400) e irradiado (A496), intensidade em unidades
arbitrárias. .................................................................................................................................................72
Figura 54: Temperatura de fusão dos filmes de náilon 6/LKF em proporções de (A1) 0%, (A2) 0,25%;
(A3) 0,50% e (A4) 1,00% em massa de LKF, expostos em diferentes tempos sob luz ultravioleta. ...........72
Figura 55: Esquema da degradação fotoquímica da superfície de um filme Náilon 6/LKF, conhecida
como fotodecomposição ablativa. (a) esferulitos recobertos com fase amorfa; (b) incidência de luz UV na
superfície do filme; (c) liberação de produtos formados pela fotodegradação e (d) esferulitos expostos na
superfície do filme37....................................................................................................................................74
Figura 56: Termogramas experimentais, curvas deconvoluídas e a resultante da soma das curvas
deconvoluídas (C1 e C2) dos picos de fusão de (a) A100; (b) A200; (c) A300 (d) A400 – filmes sem
irradiar – e (e) A196; (f) A296; (g) A396 (h) A496 – filmes irradiados por luz UV durante 96 H; curva
C1, fusão/recristalização de pequenos cristais – forma cristalina γγγγ, curva C2, fusão da forma cristalina
αααα. ................................................................................................................................................................75
Figura 57: Razão entre as curvas deconvoluídas (C1/C2) do pico de fusão dos sistemas náilon 6 com
diferentes proporções de LKF, antes e depois de irradiados com luz UV por 96 H. .................................76
Figura 58: Valores dos ângulos de contato da gota de água em filmes de náilon 6/LKF, em diferentes
proporções de LKF, e dos mesmos após 96 H de exposição a luz UV. ......................................................77
Figura 59: Termogramas DSC do (a) náilon 6 puro e com 1,00% de LKF (A100q e A400q
respectivamente). Deconvolução da curva de fusão de (b) A100q e (c) A400q; onde as amostras foram
submetidas a resfriamento instantâneo em nitrogênio liquido (quenching)...............................................78
Figura 60: Gráfico das análises FTIR experimentais para B100 (Náilon 6,6 puro), B200, B300 e B400
nas regiões de infravermelho compreendidas entre (a) 1210-1130 cm-1 e (b) valor da razão entre os picos
de ~1200 cm-1 por 1180 cm-1. .....................................................................................................................80
Figura 61: (a) Difratogramas dos sistemas Náilon 6,6/LKF. Difratograma de (b) B200 e (c) B400, em
mesma escala de intensidade, deconvoluído na posição dos planos cristalográficos ααααI (2θθθθ ≈ 20,5º) e ααααII
(2θθθθ ≈ 24,0º) do náilon 6,6...........................................................................................................................81
Figura 62: Termogramas (a)TG e (b)DTG de filmes de náilon 6,6 contendo 0; 0,25; 0,50 e 1,00% de LKF
em massa. ...................................................................................................................................................82
V
Figura 63: (a) parâmetro a/b e (b) sua com a entalpia de fusão (∆∆∆∆Hf) dos filmes de náilon 6,6, com
diferentes proporções de LKF. ...................................................................................................................83
Figura 64: Termograma DSC para os sistemas náilon 6,6/LKF contendo 0,25%; 0,50% e 1,00% de LKF
em massa, B200, B300 e B400 respectivamente.........................................................................................84
Figura 65: Micrografias dos filmes náilon 6,6 com (a) 0; (b) 0,25%; (c) 0,50% e (d) 1,00% de LKF em
massa (Barra de escala 10 µµµµm) e os respectivos sistemas (e); (f); (g) - escala de 20 µµµµm, e (h) irradiados
por 96 H em luz UV....................................................................................................................................85
Figura 66: Micrografia do filme náilon 6,6 com 1,00% em massa de LKF. (Escala: 5 µµµµm).....................86
Figura 67: Gráfico das análises FTIR para B100 e B196, nas regiões do espectro infravermelho
compreendidas entre (a) 2980-2900 cm-1, (b) 1735-1715 cm-1 e em (c) 1650-1600 cm-1...........................87
Figura 68: Gráfico das análises FTIR para B300 e B396, nas regiões do espectro infravermelho
compreendidas entre (a) 2970-2920 cm-1, (b) 1735-1715 cm-1 e em (c) 1650-1600 cm-1...........................87
Figura 69: (a) Difratogramas dos sistemas náilon 6,6 puro sem irradiar (B100) e irradiado com luz UV
durante 96 H (B196); (b) náilon 6,6 com 0,25% de LKF em a massa, sem irradiar (B200) e irradiado
com luz UV durante 96 H (B296); (c) náilon 6,6 com 0,50% de LKF sem irradiar (B400) e irradiado
(B496) e (d) náilon 6,6 com 1,00% de LKF sem irradiar (B400) e irradiado (B496), intensidade em
unidades arbitrárias. ..................................................................................................................................88
Figura 70: Temperatura de fusão dos filmes de náilon 6,6/LKF em proporções de (a) 0%, (b) 0,25%; (c)
0,50% e (d) 1,00% em massa de LKF, expostos em diferentes tempos sob luz ultravioleta.......................89
Figura 71: Termogramas e curvas deconvoluídas dos picos de fusão de (a) B100; (b) B200; (c) B300; (d)
B400 – filmes sem irradiar – e (e) B196; (f) B296; (g) B396; (h) B496 – filmes irradiados por luz UV
durante 96 H...............................................................................................................................................91
Figura 72: Razão entre as curvas deconvoluídas (C1/C2) do pico de fusão dos sistemas náilon 6,6 com
diferentes proporções de LKF, antes e depois de irradiados com luz UV por 96 H. .................................92
Figura 73: Valores dos ângulos de contato da gota de água em filmes de náilon 6,6/LKF, em diferentes
proporções de LKF, e dos mesmos após 96 H de exposição à luz UV. ......................................................92
Figura 74: Termogramas DSC do náilon 6,6 puro e com 1,00% de LKF (B100q e B400q
respectivamente), Deconvolução da curva de fusão de (b) B100q e (c) B400q; onde as amostras foram
submetidas a resfriamento instantâneo em nitrogênio liquido (quenching)...............................................93
VI
ÍNDICE DE TABELAS
Tabela 1: Nome comercial e fabricantes das poliamidas náilon 6 e náilon 6,6.........................................15
Tabela 2: Atribuição das bandas de absorção mais importantes na região do infravermelho de
poliamidas alifáticas ..................................................................................................................................19
Tabela 3: Parâmetros de rede monoclínica do náilon 6 (d = densidade do cristal)..................................21
Tabela 4: Parâmetros de rede triclínica do náilon 6,6 (d = densidade do cristal) ....................................27
Tabela 5: Teor de lignina em algumas espécies de plantas. ......................................................................31
Tabela 6: Atribuição das bandas de absorção de lignina mais importantes na região do infravermelho. 38
Tabela 7: Regiões de deslocamentos químicos mais significativos na lignina acetilada...........................39
Tabela 8: Comparação de áreas relativas (%) das diferentes regiões de deslocamentos químicos de
interesse no espectro 1H-RMN de LK e LKF (%). ......................................................................................52
Tabela 9: Calor de fusão de náilon 6 puro e com LKF, em filmes irradiados por radiação UV, em
diferentes tempos. Os ∆∆∆∆Hf são dados em Joule por grama de náilon 6.(∆∆∆∆Hf; erro = ±±±± 2 J/g) ...................73
Tabela 10: Parâmetro a/b avaliado no pico de fusão de curva DSC de filmes de náilon 6 com lignina,
irradiados com luz UV em diferentes intervalos de tempo. ........................................................................73
Tabela 11: Calor de fusão de náilon 6 puro e com LKF, em filmes irradiados por radiação UV, em
diferentes tempos. Os ∆∆∆∆Hf são dados em Joule por grama de náilon 6,6.(∆∆∆∆Hf; erro = ±±±± 2 J/g) ................89
Tabela 12: Parâmetro a/b avaliado no pico de fusão de curva DSC de filmes de náilon 6,6 com lignina,
irradiados com luz UV em diferentes intervalos de tempo. (erro = ±±±± 0,1).................................................90
VII
RESUMO
Palavras chave: nylon 6, nylon 6,6, lignina kraft, foto-oxidação. A lignina é um polímero natural amorfo, cuja estrutura é composta por unidades fenilpropânicas. Possui várias propriedades interessantes para utilização em diversos sistemas poliméricos; podendo agir como antioxidante, dispersante, emulsificante, seqüestrante, carga, etc. Neste trabalho foi utilizada lignina Kraft do licor residual do processo de polpação de papel (fornecida pela indústria KLABIN) que foi purificada e logo fracionada por dissolução em ácido fórmico. Aproximadamente 90% da lignina Kraft (LK) foi solúvel e modificada em ácido fórmico, e essa fração da lignina foi denominada LKF. As duas amostras de lignina (LK e LKF) foram caracterizadas por análises espectroscópicas (FTIR, 1H-NMR) e análise termogravimétrica (TG). As análises de UV-Vis, DSC, TG em atmosfera oxidante, microscopia eletrônica de varredura (MEV) foram feitas somente para LKF. Foram preparadas blendas de nylon 6 ou nylon 6,6 contendo até 1,00% de LKF em massa, na forma de filmes. Eles foram obtidos por dissolução dos dois polímeros em ácido fórmico e posterior evaporação do solvente (casting). Os filmes de nylon 6; nylon 6/LKF; nylon 6,6 e nylon 6,6/LKF foram expostos à luz ultravioleta por diferentes períodos de tempo (de até 96 horas), para estudar o efeito dessa radiação nas amostras. Para a caracterização destes filmes foram utilizadas as técnicas de FTIR, TG, DSC, MEV, DRX e medidas de ângulo de contato. Foi observado que a lignina LKF possui grupos funcionais com proporções diferentes, quando comparados com a amostra sem fracionar, LK. Algumas diferenças nas propriedades térmicas dos filmes também foram observadas. No filme de nylon 6 e nylon 6,6 puro irradiado com luz UV foi detectado variação no teor de grupos C=O, CH2 e NH por análises FTIR indicando foto-decomposição do polímero, também foram observados mudanças na cristalinidade do sistema. Pelas análises DRX foi observado que efeito da radiação UV parece ter sido atenuado com a presença de LKF nos sistemas. As medidas de ângulo de contato mostraram que a superfície dos filmes com maior teor de lignina tiveram menor variação na estrutura. As curvas TG e DSC mostram aumento de estabilidade térmica das poliamidas com a incorporação de lignina nos filmes.
VIII
ABSTRACT
Keywords: nylon 6, nylon 6,6, kraft lignin, photo-oxidation. Lignin is a natural amorphous polymer consisting of a branched network of phenylpropane units. It has various interesting properties for utilization in different polymeric materials. It can act as antioxidant, filler, dispersant, binder, emulsifier, etc. In this work, kraft lignin (from KLABIN paper industry) was purified and then fractionated through dissolution in formic acid. Near 90% of the kraft lignin was soluble in formic acid and this modified fraction was identified as KLF (LKF). Both lignin samples, KL and KLF, were characterized through spectroscopic analysis (FTIR, 1H-NMR) and thermal analysis (TG). The analyses UV-Vis, DSC, TG in oxidant atmosphere, scanning electronic microscopy (SEM) were made only in KLF. Blends of nylon 6 or 6,6 containing until 1,00% of KLF in mass were prepared like films. The films were obtained from solutions of the polymers in formic acid, which were mixed in the desired proportions and the solvent was then evaporated (casting). The nylon 6 and 6,6; nylon 6/KLF and nylon 6,6/KLF films were irradiated with ultraviolet light for different periods of time (until 96 hours), for studying the effects of such radiation on the samples. The techniques used in this study were FTIR, TGA, DSC, WAXD, SEM microscopy and contact angle of water drop on the films. It was found that KLF possesses functional groups in different contents, in comparison with LK sample. Some differences in thermal properties were also observed. The pure nylon 6 and 6,6 film irradiated with UV light, showed variation in carbonyl and amide groups as in paraffin chain content for FTIR analysis, indicating that the polymer undergoes photodecomposition, changes in samples crystallinity were also observed. In WAXD analysis was observed that UV light effects in films seem to be minimized with lignin presence, mainly in nylon 6 films. The contact angle data indicate that the films with higher lignin content suffer smaller alteration in surface chemical structure. The TG and curves DSC show an increase of thermal stability, in both polyamides, when lignin is incorporate in the films.
1. INTRODUÇÃO
Em 1929, W. C. Carothers, químico da DuPont, desenvolveu
de modo eficiente às reações de condensação que dariam origem as
poliamidas, polímeros que ele batizou de NÁILON (nylon), no entanto sua
produção em escala industrial iniciou-se aproximadamente em 19401. As
poliamidas são uma classe de polímeros de grande aplicação na engenharia,
mesmo assim ainda existem algumas deficiências deste polímero para
determinadas aplicações, tais como fragilidade, alta sorção de umidade e
sensibilidade a luz, assim como a foto-oxidação iniciada pela luz ultravioleta.
Entretanto a maioria dos materiais poliméricos é suscetível à degradação
iniciada por luz ultravioleta e visível. De interesse especial está a radiação de
comprimento de onda entre 190-400 nm (UV-próximo) que contribui
significativamente para a diminuição do tempo de vida de polímeros de uso
externo. Com a constante depleção da camada de ozônio nos anos recentes, o
processo de “envelhecimento” desses materiais esta se tornando cada vez
mais acelerado. Desde o inicio da década de 1960 numerosos esforços tem
resultado em várias publicações descrevendo modificações das poliamidas
para reduzir algumas dessas deficiências2,3. Atualmente 12% do total das fibras
sintéticas produzidas no mundo correspondem ao náilon, sendo que os mais
utilizados comercialmente são o náilon 6 e o náilon 6,64. As propriedades
físicas e químicas de polímeros são modificadas pela fotodegradação, afetando
suas propriedades mecânicas. No caso das poliamidas, várias destas
alterações causadas pela radiação UV têm sido estudadas por vários autores
nos últimos anos5,6. A incorporação de aditivos antioxidantes nos sistemas
poliméricos é um método bastante utilizado para minimizar a fotodegradação
dos polímeros, entre estes a lignina vem sendo estudada devido a esta ser um
excelente material absorvedor de luz, principalmente na faixa de comprimento
de onda entre 190-400 nm. A lignina encontra-se dentre as substâncias
naturais com propriedades antioxidantes, sendo esta um polímero amorfo
encontrado na parede secundária de vegetais. Sua macromolécula é formada
por unidades fenilpropânicas unidas por cerca de dez diferentes tipos de
2
ligação. Esta característica oferece à lignina a propriedade adequada para ser
empregado como material antioxidante7,8.
3
2. OBJETIVO
O objetivo deste trabalho foi a preparação de filmes de náilon
6/lignina e náilon 6,6/lignina, a avaliação de suas propriedades físicas e
químicas comparadas as poliamidas puras bem como estudo da ação da
lignina como um aditivo foto-antioxidante nestes sistemas. A lignina utilizada foi
a fração da lignina Kraft modificada e solúvel em acido fórmico, denominada
LKF.
4
3. TÉCNICAS UTILIZADAS PARA ANÁLISES DE SISTEMAS POLIMÉRICOS
Diversos métodos são utilizados para estudo de polímeros, os
mais comumente usados são as análises térmicas, espectroscopias e
microscopias.
3.1. ANÁLISES TÉRMICAS
As análises térmicas (TA) são freqüentemente usadas para
descrever técnicas analíticas experimentais que investigam o comportamento
de uma amostra em função do tempo ou da temperatura. Estas análises
termoanalíticas são amplamente empregadas, das mais diversas formas para
fins científicos e industriais. As principais técnicas de análises térmicas são:
termogravimetria (TG); calorimetria diferencial de varredura (DSC); análise
térmica diferencial (DTA); análise térmico-dinâmico mecânica (DTMA) e análise
termomecânica.9
3.1.1. TERMOGRAVIMETRIA (TG)
A análise termogravimétrica (TGA) é uma técnica que permite
medir a variação de massa de uma amostra em função da temperatura ou do
tempo. As medidas são realizadas numa determinada atmosfera, geralmente
gás nitrogênio (para condição de atmosfera inerte), ou em ar ou gás oxigênio
(para uma atmosfera oxidante), onde a massa da amostra é monitorada por
uma balança eletrônica altamente sensível. Essa técnica é utilizada para
caracterizar a decomposição e estabilidade térmica dos materiais bem como
para examinar as cinéticas dos processos físico-químicos que ocorrem na
amostra10.
As curvas TG são normalmente expressas graficamente com a
variação da massa (∆m), que pode ser expressa em percentagem no eixo das
ordenadas e temperatura (T) ou tempo (t) no eixo das abscissas. Na
termogravimetria dinâmica a amostra é submetida a uma variação de
temperatura registrando a massa durante todo processo de aquecimento. Os
resultados podem ser usados de forma quantitativa para relacionar com a
formação de produtos voláteis quando se tem perda de massa ou com a
5
incorporação de átomos ou moléculas (provenientes do gás de arraste) quando
ocorre aumento de massa. Na Figura 1 é observado eventos típicos em
polímeros por TG11.
ETAPAS DE PERDA DE MASSA
1) voláteis (solventes, monômeros, etc);
2) decomposição polimérica e pirólise;
3) mudança de atmosfera;
4) etapa de combustão e
5) resíduos.
Figura 1: Curva TG de um polímero.
3.1.2. CALORIMETRIA EXPLORATÓRIA DIFERENCIAL (DSC)
Uma análise por calorimetria exploratória diferencial mede a
diferença entre o fluxo de calor de uma determinada amostra e uma referência,
geralmente um porta-amostra vazio, que são expostas a um mesmo programa
de mudança de temperatura. O fluxo de calor corresponde a potência
transmitida que é medida em Watts (ou miliwatts (mW)). Integrando a potência
em função do tempo temos uma quantidade de energia expressa em milijoule
(mJ = mWs). A variação da energia observada é correspondente à mudança de
entalpia durante alguma mudança de estado da amostra, sendo assim o DSC é
uma técnica que analisa indiretamente a variação de entalpia de uma amostra
em função do tempo (∆H/∆t), na Figura 2 observa-se um esquema simplificado
de um tipo de aparelho DSC.
6
Figura 2: Esquema do arranjo do termopar num tipo de cela DSC.
A análise DSC é uma técnica muito sensível, sendo atualmente
utilizada na determinação e caracterização de pureza de substâncias. As
medidas de DSC fornecem informações que se fundamentam nas propriedades
físicas das amostras, como ponto de fusão, cristalização, transições sólido-
sólido, capacidade calorífica, perda de massa e reação química.
Deste modo, tendo-se uma amostra pura ou uma mistura, com
cada um dos componentes apresentando suas características definidas, é
possível identificar qual ou quais componentes estão envolvidos12. Na Figura 3
são apresentados eventos geralmente observados em análise de DSC de um
polímero semicristalino10.
EVENTOS
1) deflexão inicial que é proporcional a capacidade calorífica da amostra;
2) curva DSC sem efeito térmico (linha base);
3) transição vítrea da fração amorfa;
4) pico de recristalização (transição cristalina);
5) ponto de fusão da fração cristalina e
6) pirólise da substancia ou inicio da degradação oxidativa, em atmosfera oxidante
Figura 3: Eventos típicos vistos em uma análise de DSC de um polímero semicristalino
A temperatura de transição vítrea (Tg) é a temperatura onde
ocorre uma transição de segunda ordem, sendo esta encontrada somente em
polímeros amorfos ou parcialmente cristalinos. Esta transição é caracterizada
por uma mudança no coeficiente de expansão térmica e na capacidade
calorífica. O fundamento do processo molecular é que na Tg há um aumento na
7
mobilidade dos segmentos na fração amorfa das cadeias poliméricas. Esta
transição provoca mudanças em algumas propriedades físicas do polímero,
como a densidade e o calor específico. Em temperaturas inferiores ao da
transição vítrea a mobilidade das cadeias macromoleculares desaparece e o
material torna-se mais rígido. Todos os elastômeros têm Tg abaixo da
temperatura ambiente13.
A Tg é o critério mais utilizado para avaliar a miscibilidade de
blendas poliméricas. Em uma mistura binária miscível, onde não existe
separação de fases, os polímeros se tornam interdispersos formando uma fase
homogênea e apresentando uma única Tg; isto não ocorre em misturas
poliméricas imiscíveis, onde há o aparecimento de duas Tgs diferentes com
valores próximos aos das Tgs dos polímeros puros. O critério se baseia na
premissa de que o aparecimento de uma única Tg indica uniformidade em
escala molecular14,15,16,17.
3.1.2.1. PARÂMETRO a/b
Através dos picos de fusão das curvas DSC é possível se
calcular um parâmetro (a/b), como a razão entre a distância à esquerda (a) e à
direita (b) do centro do pico na meia altura do mesmo como observado na
Figura 4. Este parâmetro, que representa uma distorção da forma do pico de
fusão, está diretamente relacionado com a heterogeneidade do sistema,
podendo ser de origem tanto da massa molar como da composição da
amostra. O pico de fusão é relativamente mais simétrico e delgado quanto
maior for à monodispersidade e a pureza do polímero18.
Figura 4: DSC de um pico de fusão, mostrando a linha base e a definição de a e b.
8
3.2. MICROSCOPIA ELETRÔNICA DE VARREDURA (MEV)
A microscopia eletrônica de varredura (MEV) utiliza-se, para a varredura
da superfície de uma amostra, um fino feixe de elétrons ao invés da radiação
da luz. Como resultado da interação do feixe de elétrons com a superfície da
amostra, uma série de radiações são emitidas tais como: elétrons secundários,
elétrons retroespalhados, raios-X característicos, elétrons Auger, fótons, etc.
Estas radiações quando captadas corretamente irão fornecer informações
características sobre a amostra (topografia da superfície, composição, planos
cristalograficos, etc.). Em medidas de caracterização para a microeletrônica,
existe um conjunto de métodos que oferecem alta resolução e alta precisão.
Estes métodos são baseados fundamentalmente na interação da matéria com
os elétrons incidentes e a emissão de ondas ou partículas19.
Na microscopia eletrônica de varredura os sinais de maior interesse para
a formação da imagem são os elétrons secundários e os retroespalhados. A
medida que o feixe de elétrons primários vai varrendo a amostra estes sinais
vão sofrendo modificações de acordo com as variações da superfície. Os
elétrons secundários fornecem imagem de topografia da superfície da amostra
e são os responsáveis pela obtenção das imagens de alta resolução, já os
retroespalhados fornecem imagem característica de variação de composição.
O Microscópio Eletrônico de Varredura (MEV) se tornou um
instrumento imprescindível nas mais diversas áreas: eletrônica, geologia,
ciência e engenharia dos materiais, ciências da vida, etc. Em particular, o
desenvolvimento de novos materiais tem exigido um número de informações
bastante detalhado das características microestruturais só possível de ser
observado no MEV.
Para a obtenção de uma micrografia de MEV é utilizado um
aparelho que permite observar a área da superfície de um dado substrato
dentro de uma escala que pode variar. Com o auxílio do microscópio eletrônico,
por exemplo, é possível observar uma superfície rugosa através do contraste
de relevo, as diferentes fases na região estudada e estimar o tamanho das
mesmas; portanto, o MEV permite observar e caracterizar materiais
heterogêneos de origem orgânica e inorgânica20.
9
O principio do funcionamento do MEV são elétrons gerados por
um dispositivo chamado canhão de elétrons. No canhão de elétrons
convencional, os elétrons são gerados pelo aquecimento resistivo de um
filamento de tungstênio em forma de V usando uma fonte de alta tensão. Já no
MEV com canhão de emissão de campo (MEV-FEG), os elétrons são gerados
por um arame de monocristal de tungstênio onde é aplicado um forte campo
elétrico na ponta do tungstênio. O MEV-FEG deve ser operado em pressões
menores que a 10-10 mmHg, a fim de se obter emissão de elétrons estáveis e
com um feixe bem colimado.
A tensão de operação é a tensão de aceleração dos elétrons
que pode variar de 1 kV até 40 kV e, quanto maior a tensão de aceleração,
mais fino torna-se o feixe de elétrons.
No MEV a imagem pode ser obtida através dos diferentes tipos
de sinais produzidos pela interação elétron-matéria. Para cada tipo de radiação
utilizada, podemos obter diferentes informações sobre a superfície da amostra,
tais como, morfologia, formato das partículas e textura do material21,22.
3.3. DIFRAÇÃO DE RAIOS-X
A difração é um fenômeno de interferência que aparece
quando as ondas passam através de um objeto de dimensões similares ao
comprimento de onda. Para compreender e elucidar as estruturas cristalinas de
alguns sistemas, a difração de raios-X é uma técnica bastante utilizada. As
distâncias interatômicas/intermoleculares em sólidos é da mesma ordem do
comprimento de onda do raio-X, aproximadamente uma unidade de Ângstron.
Nos sólidos, o arranjo regular da rede cristalina atua como uma rede
tridimensional de difração para o raio-X, onde o feixe colimado incide na
amostra sólida e é difratado intensamente em determinadas direções. Apenas
em certas condições as ondas difratadas por diferentes planos sucessivas
estarão em fase.
Nesta técnica a diferença de fase em comprimento de trajetória
entre as ondas difratadas por planos sucessivos deve ser um número inteiro de
comprimento de onda (nλ). Se o feixe incidente formar um ângulo θ com o
determinado plano cristalino, conforme mostrado na Figura 5, ele poderá ser
10
difratado tanto pelo plano superior quanto pelo plano inferior23. O feixe difratado
pelo plano inferior percorre uma distância 2d•senθ a mais que o feixe refletido
pelo plano superior. Para ocorrer a interferência construtiva entre estes feixes,
a diferença entre o caminho refletido deverá ser múltiplo inteiro do comprimento
de onda, ou seja, 2d•senθ = nλ, para n = 1, 2, 3,..., conforme a lei de Bragg.
Portanto, conhecendo-se λ e θ é possível calcular as distâncias interatômicas.
Figura 5: Reflexão de um feixe de raio-X por dois planos paralelos, separados por uma distância d.
Os polímeros semicristalinos, quando se encontram abaixo da
temperatura de fusão, sempre contem uma fração de matéria desordenada por
entre determinadas regiões ordenadas, estes últimos não são cristais perfeitos,
contudo podem ser investigados por difração de raios-X.
Os diagramas de raios-X permitem determinar uma rede
cristalina dos átomos dentro de um determinado sistema. Na Figura 6 observa-
se o difratograma de uma substância em condições diferentes24.
A comparação dos três diagramas mostra que no polímero
parcialmente cristalino os domínios ordenados da fração cristalina da amostra
se arranjam da mesma forma que no sólido totalmente cristalizado25.
Figura 6: Difratograma esquemático de cristais de uma substância (a) altamente cristalino, (b) cristalino (c) pouco cristalino.
11
3.4. ÂNGULO DE CONTATO - INTERFACE SÓLIDO-LÍQUIDO
Quando uma gota de líquido é colocada sobre uma superfície
sólida plana ela pode se espalhar ou não, dependendo da natureza do sólido e
do líquido. Um líquido que não se espalha completamente formará uma gota,
que terá certo ângulo de contato com a superfície sólida. O ângulo de contato
(θ) é o ângulo medido no líquido, formado entre a superfície sólida e a tangente
a superfície do líquido que passa pelo ponto de encontro das três fases (Figura
7)26.
Figura 7: Representação gráfica da obtenção do ângulo de contato de uma gota em um sistema sólido-líquido.
Supondo que as diversas forças superficiais podem ser
representadas por tensões superficiais, atuando na direção das superfícies,
podemos equacionar os componentes horizontais destas tensões.
θγγγ cos/// ArLLSArS += (Eq. de Young)
Onde γS/Ar, γS/L e γL/Ar são as tensões interfaciais entre a
superfície do sólido e do ar, entre sólido e do líquido e entre o liquido e a
atmosfera, respectivamente. Combinando a equação de Young com a definição
de trabalho de adesão:
LSArLArSLSW //// γγγ −+=
Temos:
)cos1(// θγ += ArLLSW (Eq. de Dupré)
WS/L é o trabalho de adesão liquido/sólido.
O sólido se mostrará completamente umedecido pelo líquido
quando o ângulo de contato for nulo, e somente parcialmente umedecido se o
ângulo de contato tiver um valor finito. A ausência completa de umedecimento
12
implicaria num ângulo de contato de 180o, não sendo válida para equação de
Dupré. Isto constitui uma situação impossível, já que ela requer WS/L = 0 ou γL/Ar
= ∞, não havendo assim gasto de energia de Gibbs, que depende do trabalho
de adesão W para separar o sólido e o líquido.
A rugosidade da superfície tem o efeito de alterar o ângulo de
contato, pois o liquido penetrará nos espaços vazios, formando uma superfície
plana que não pertence efetivamente ao sólido, mas ao liquido; como θ entre
líquido e líquido é 0, o valor de θ deve diminuir. Por outro lado, se θ for maior
que 90º, o líquido não tenderá a penetrar pelos poros do sólido, portanto pode
ser considerado como um líquido situado em uma superfície plana, pertencente
ao sólido e a atmosfera27,28.
3.5. RESSONÂNCIA MAGNÉTICA NUCLEAR (RMN)
A espectroscopia de ressonância magnética nuclear (RMN) é
outra forma de espectroscopia de absorção, semelhante às espectroscopias IR
ou UV, pois também ocorre a absorção de energia eletromagnética,
ocasionada pela transição entre níveis de energia rotacionais dos núcleos
atômicos, níveis estes desdobrados em função do campo magnético. Esta
técnica permite a caracterização da estrutura de uma substância através da
relação da energia absorvida pela freqüência, na faixa de megahertz (MHz) do
espectro eletromagnético. Esta técnica usa as transições entre níveis de
energia rotacionais dos núcleos componentes das espécies contidas na
amostra sob a influência de um campo magnético na faixa de freqüência citada
acima29.
Como o campo magnético efetivo sentido pelo núcleo é
levemente afetado (perturbação essa geralmente medida em escala de partes
por milhão) pelos fracos campos eletromagnéticos gerados pelos elétrons
envolvidos nas ligações químicas, o chamado ambiente químico nas
vizinhanças do núcleo em questão, cada núcleo responde diferentemente de
acordo com sua localização no objeto em estudo, atuando assim como uma
“sonda” sensível à estrutura, indicando onde este se situa30.
13
4. POLIAMIDAS
Precursoras nas aplicações de polímeros na fabricação de
materiais de engenharia, as poliamidas (PA), comumente conhecidas como
náilons, pertencem a uma família de polímeros com excelentes propriedades
para este fim. Os náilons possuem estabilidade dimensional, resistência a
temperaturas elevadas, boa resistência ao impacto sem sofrer deformação e
facilidade de processamento, bem como a excelente resistência química a
solventes não ácidos31. Existe uma série de poliamidas que podem ser obtidas
através da polimerização de uma lactama (série Perlon) ou ainda através da
condensação de uma diamina com um diácido carboxílico (série Náilon), no
entanto, a palavra náilon já se tornou genérico para todas essas poliamidas32.
As aplicações típicas para os náilons passam pela indústria de
transportes (engrenagens, velocímetros, reservatório de fluidos, etc.); e ainda
como componentes mecânicos para aparelhos domésticos, cabos de
ferramentas, partes móveis de máquinas, conectores elétricos, filmes
embalagens de alimentos, fibras para meias e roupas, equipamento para
processamento de alimentos e tecidos, escovas, linhas de pesca, materiais
esportivos, etc.
Nas poliamidas, as unidades monoméricas se encontram
unidas por ligações amida (Figura 8a) cujos átomos possibilitam a formação de
ligações de hidrogênio intra e intermoleculares (Figura 8b)33.
Apesar das qualidades descritas anteriormente, ainda existem
deficiências para determinadas aplicações, como a alta sorção de umidade e
foto-oxidação. Desde o inicio da década de 1960 várias pesquisas nessa área
têm resultado em várias patentes e publicações descrevendo modificações das
poliamidas para reduzir algumas dessas deficiências. Grande parte destas
falhas acontece devido à natureza da funcionalidade química do grupo amida
em sua cadeia5.
14
(a)
(b)
Figura 8: (a) Representação da ligação entre o grupo carbonila e o grupo amina, com os respectivos comprimentos de ligação (em Ângstrons) e (b) estruturas de ligações de hidrogênio existentes em uma poliamida (náilon 6,6).
Entre as poliamidas mais utilizadas comercialmente estão o
náilon 6 (ε-policaprolactama), um homopolímero e o náilon 6,6 (poli-
hexametileno adipamida), um copolímero, sendo que estes se encontram,
juntamente com o policarbonato (PC) e o poli-óxido de metileno (POM), entre
os três plásticos mais importantes na engenharia. Alguns nomes comerciais
dos náilons 6 e 6,6, bem como seus respectivos fabricantes são mostrados na
Tabela 113.
15
Tabela 1: Nome comercial e fabricantes das poliamidas náilon 6 e náilon 6,6.
TIPO NOME COMERCIAL FABRICANTE
Náilon 6
Akulon Amilan CRI Capran Capron Durethan Grilamid Grilon Novamid Nycoa Nytron Plaskon Orgamid Sniamid UBE
Schulman Toray Bemis Allied Allied Bayer Mazzaferro – BR Emser Mitsubishi Nylon corp. Nitrocarbono – BR Allied ATO Technopolimeri Ube
Náilon 6,6
Akulon Celanese Leona Maranyl Minlon Technyl Technyl Ultramid Vydyne Zytel
Schulman Celanese Asahi ICI DuPont Rhone-Poulene Rhodia – BR BASF Monsanto Dupont
4.1. PROPRIEDADES FÍSICAS E QUIMICAS DAS POLIAMIDAS
ALIFÁTICAS
4.1.1. SOLUBILIDADE
A solubilização de um polímero é um processo lento que ocorre
em dois estágios: a) O intumescimento do material sólido, por meio da difusão
do solvente para dentro da massa polimérica, formando um gel inchado e b) a
formação da solução verdadeira.
Para ocorrer solubilização de um soluto em um solvente, a
variação de energia livre deve ser negativa em ∆G = ∆H – T∆S. Quando
pequenas moléculas são misturadas ao solvente ocorre um elevado aumento
na entropia, favorecendo a miscibilidade, contudo quando moléculas de massa
molar elevada são misturadas o valor de T∆S raramente excede o valor de ∆H.
Assim sendo, se a variação de entalpia e de entropia são ambas positivas,
como ocorre na dissolução de um polímero, então para que haja dissolução é
necessário que ∆H seja o menor possível. A entalpia e a entropia são afetados
pelo parâmetro de solubilidade (δ = medida de força de coesão ou da
intensidade das forças atrativas entre suas moléculas) e pela massa molar. A
16
relação entre o parâmetro de solubilidade(δ) e ∆H, para mistura de dois
componentes, é dada pela equação de Hildebrand:
svssvsVH φφδδ 2)( −=∆
onde V é o volume molar e δ é o parâmetro de solubilidade e φ é a fração
volumétrica, S e SV indicam o polímero e o solvente, respectivamente.
A teoria de Flöry-Huggins é mais abrangente que a teoria de
Hildebrand, pois leva em consideração a massa molar além de outros
parâmetros, sendo a miscibilidade de polímeros de alta massa molar só é
possível quando o processo de mistura é exotérmico. Baseando-se na teoria de
Flory-Huggins, modificada por Nishi e Wang (1975) tem-se a seguinte relação:
( )( ) ( ) ( )[ ]12
20 .11ln..1
_1
χωφφ aaaccmamcmmm
MMMVVHRTT c
+−+∆=o
Onde estão relacionadas as temperaturas de fusão do polímero puro (Tm
o) e do
mesmo polímero na solução ou blenda (Tm), a constante universal dos gases
(R), o volume molar da unidade monomérica do polímero cristalizável (Vmc) e
do polímero amorfo (Vma), a variação da entalpia de fusão por mol de unidade
de repetição (∆Hmo), grau de polimerização do polímero cristalizável (Mc) e
amorfo (Ma)17.
Para blendas poliméricas, segundo a literatura, o grau de
polimerização tende ao infinito (Mc ≈ Ma → ∞), e experimentalmente é mais
comum o uso da fração mássica (ωa) no lugar da fração volumétrica (φa),
substituindo as suposições na equação anterior temos:
( )( )( ) 12
2...
1_
1χωamamcm
mm
VVHRTT
oo
∆=
Desta equação, pode-se facilmente estimar o valor do
parâmetro de interação de Flory ( 12χ ), utilizando os pontos de fusão obtidos por
meio da Calorimetria Exploratória Diferencial (DSC)34,35.
Os polímeros termoplásticos altamente cristalinos apresentam
solubilidade somente em temperaturas próximas a sua temperatura de fusão.
17
Os náilons 6 e 6,6 são termoplásticos semicristalinos em que apresentam alta
solubilidade em ácido fórmico, mesmo em temperatura ambiente, apesar de
seu alto grau de cristalinidade.
4.1.2. FOTODEGRADAÇÃO
A maioria dos polímeros sintéticos é suscetível à degradação
iniciada pela luz ultravioleta-visível. Nas poliamidas, a ligação carbono-
nitrogênio (C-N) é a mais fraca em sua estrutura, com energia de ligação de
aproximadamente 290 kJ/mol.
A etapa inicial na fotocisão das poliamidas alifáticas ocorre em
comprimento de onda curto (≤ 254 nm), a fotocisão do grupo NH-CO inicia a
foto-oxidação do náilon, com a formação de radicais livres que levam ao
processo degradação do polimero5,2. Nesta primeira etapa se forma,
principalmente, grupos hidroperóxido, cuja fotólise pode levar a formação de
grupos imida (-CO-NH-CO-). Outro fenômeno que poder ocorrer com a foto-
oxidação é a formação de oxi-radicais, que induzirão a formação de grupos
hidroxila e, posteriormente com a cisão da molécula, um grupo aldoxila e um
radical carbono. Para prevenir os polímeros da foto-oxidação geralmente são
incorporados estabilizadores UV, como o dióxido de titânio utilizado como
aditivo, no entanto estes produtos possuem custos elevados36. O fenômeno da
foto-oxidação é independente do comprimento da cadeia carbônica. As reações
representadas na Figura 9 mostram o passo principal na fotocisão (foto-
oxidação) de poliamidas alifáticas com radiação de comprimento de onda
próxima a 254 nm, onde os principais grupos formados são aminas, aldeídos e
ácidos carboxílicos37.
CO CH2 CH2 CO+
CH2 CO
H
hνO2
CH2 CO
OH
CO CH2+CH2 NH CO CH2 CH2 CO
HCH NH CO CH2+
CH2 NH + CH2 NH CO CH2 CH2 NH2 CH NH CO CH2+
CH2 NH CO CH2
hνCH2 NH CO CH2+
Figura 9: Reações de fotocisão comuns em poliamidas alifáticas.
18
4.1.3. PRÉ-CRISTALIZAÇÃO
As poliamidas, quando são resfriadas rapidamente a partir de
seu estado fundido (processo denominado quenching), formam praticamente
uma fase amorfa. Ao se aquecer o filme tratado desta forma se observa um
evento de pré-cristalização, precedente a sua fusão, fenômeno que pode ser
observado na curva DSC como um pico exotérmico quase superposto ao
endotérmico da fusão, como apresentado na Figura 1011,38.
Figura 10: Termograma DSC do náilon 6,6 puro, apresentando o evento de pré-cristalização precedendo a fusão.
4.1.4. ESPECTROSCOPIA NA REGIÃO DO INFRAVERMELHO (IV)
Na Tabela 2 são mostrados os numero de onda onde ocorrem
as absorções mais importantes na região do infravermelho de poliamidas
alifáticas, e na Figura 11 são mostrados os espectros FTIR de três poliamidas
alifáticas39,40,41.
Figura 11: Espectro infravermelho para o náilon 6,6; 6,10 e 6,12 a temperatura ambiente.
19
Tabela 2: Atribuição das bandas de absorção mais importantes na região do infravermelho de poliamidas alifáticas
Posição cm-1
Origem da banda
3500 -3400 Estiramento axial assimétrico N-H livre (sol. diluída)
3400 -3320 Estiramento axial simétrico N-H livre (sol. diluída)
3370 -3220 Estiramento axial assimétrico N-H livre (sol. concentrada/amostra sólida)
3130 -3060 Estiramento axial simétrico N-H livre (sol. concentrada/amostra sólida)
2940 Estiramento de C-H em CH2
1675 1600 Amida I
1650 -1615 Deformação angular simétrica no plano de N-H
1650 -1640 Deformação axial do grupo C=O
1370 Estiramento C-N com deformação N-H
1305 -1300 Estrutura triclínica: torção N-H
1250 -1020 Deformação axial do grupo C-N
1228 -1224 Estrutura triclínica: torção CH2 acoplado com ν (HN-C=O)
1202 -1196 Modo de vibração em carbonila em fase cristalina
1200 Amida acoplada a um esqueleto parafínico
1146 -1140 Modo de "torção" em carbonila, parcialmente amorfa
1136 -1128 Estiramento do esqueleto carbônico na fase amorfa
1066 -1014 Estrutura triclínica: estiramento do esqueleto carbônico ν(C-C)
987 -983 Estrutura triclínica: modo de vibração de N-H
937 -932 Fase cristalina: estiramento ν(C-C=O) em amida
934 Estiramento em banda cristalina de C-C=O
922 Fase amorfa: estiramento ν(C-C=O) em amida
909 -666 Deformação angular simétrica fora do plano de N-H
907 -900 Estrutura triclínica: estiramento ν(C-C=O) em amida
Várias poliamidas podem possuir diferentes formas cristalinas,
como as formas α e γ do náilon 6, que podem ser detectados através de um
pequeno deslocamento nos picos de absorção no infravermelho, contudo a
análise de formas cristalinas por análise infravermelha não é muito freqüente,
sendo mais aconselhável a utilização de análise por DRX42.
4.2. SINTESE DOS MÔNOMEROS DO NÁILON 6 E DO NÁILON 6,6
O petróleo é a principal fonte obtenção dos materiais de partida
utilizados na fabricação dos monômeros de algumas poliamidas, os
monômeros utilizados na fabricação do náilon 6 e 6,6, a ε-caprolactama, o
ácido adípico e a hexametileno diamina são sintetizados, por uma variedade
20
processos, a partir do benzeno, do ciclohexano e do tolueno entre outros. A
rota das sínteses que formam estes monômeros é mostrada na Figura 1243.
Figura 12: Síntese dos monômeros do náilon 6 e náilon 6,6.
4.3. NÁILON 6
4.3.1. SÍNTESE DO NÁILON 6
A síntese do náilon 6 ocorre através da abertura do anel do
monômero ε-caprolactama, o que provoca a formação de uma bifuncionalidade
que, ao reagir com seus outros monômeros, formará uma cadeia polimérica,
conforme representado na Figura 13. Esta lactama pode ser anionicamente,
cationicamente ou hidrocataliticamente polimerizada, no entanto a
polimerização aniônica tem maior velocidade que as demais, por este motivo é
o método mais utilizado industrialmente1.
Figura 13: Polimerização da ε-caprolactama via aniônica.
21
Por ter sua cadeia principal formada a partir de um único
monômero, o náilon 6 é considerado um homopolímero.
4.3.2. FORMAS CRISTALOGRÁFICAS
De acordo com Khanna e Khun44, o náilon 6 pode assumir duas
formas cristalográficas, monoclínica α e monoclínica ou pseudo-hexagonal γ.
Na forma α as ligações de hidrogênio são formadas entre cadeias anti-
paralelas, e na forma γ entre cadeias paralelas por ligações de hidrogênio,
causando a torção das cadeias moleculares em planos zigzag. Como resultado
deste fenômeno a densidade cristalina e o calor de fusão da forma γ, onde as
interações entre as cadeias são mais fracas, são menores que da forma α. A
densidade da forma amorfa do náilon 6 é de 1,09 g/cm3 45. Os parâmetros de
rede do náilon 6 estão mostrados na Tabela 346. As interações das cadeias
adjacentes na forma antiparalela (forma α) e paralela (forma γ) são
apresentadas na Figura 14(a e b); As Figura 14(c e d) representam um
modelo da célula unitária do náilon 6,6 e seus planos cristalográficos na forma
α, bem como a atribuição dessas formas cristalográficas em análises de raios-x
(Figura 14e)47.
A forma α pode ser identificada no difratograma de raios-X nos
picos α2 e α1, com difração 2θ em aproximadamente 24º e 20º
respectivamente; sendo que o primeiro é relacionado com a distância entre as
ligações de hidrogênio das cadeias poliméricas e o segundo com a separação
entre os planos formados por estas cadeias, a forma cristalina γ é mostrada no
difratograma como um pico entre 21º e 22º 48.
Tabela 3: Parâmetros de rede monoclínica do náilon 6 (d = densidade do cristal)
Forma αααα Forma γγγγ
d = 1,23 g/cm3 d = 1,17 g/cm3
a = 9,56Å -- a = 9,33Å --
b = 17,2Å β = 67,5o b = 16,9Å β = 121o
c = 8,01Å -- c = 4,78Å --
22
(a) (b)
(c)
(200) (002) (202)
(d)
(e)
Figura 14: Interação de cadeias de poliamida 6 adjacentes, de forma (a) antiparalela (forma α)
e (b) paralela (forma γ); (c) projeção da célula unitária do náilon 6 (forma α) e (d) forma geométrica de sua estrutura triclínica e seus planos cristalográficos. (e) Curva WAXD padrão do náilon 6 e as curvas deconvoluídas de suas fases cristalinas e amorfa.
4.3.3. PROPRIEDADES TÉRMICAS – NÁILON 6
Na Figura 15 é apresentado um termograma típico do náilon 6,
onde se observa, em atmosfera de ar ou de nitrogênio, que a perda de massa
por pirólise começa a ocorrer em temperatura ao redor de 380 ºC, sendo que a
23
etapa principal de degradação térmica ocorre entre 400 e 500 ºC. O teor de
massa residual, acima de 650 ºC, para este sistema é praticamente 0%. Um
dos principais produtos da reação de pirólise náilon 6 é o seu próprio
monômero, ou seja, a ε-caprolactama que pode ser produzido através de dois
possíveis mecanismos49, representados na Figura 16.
Figura 15: TG e DTG do náilon 6, em atmosfera de gás nitrogênio (N2) e ar sintético, ambos mecanismos desaceleratórios
50.
(a)
(b)
Figura 16: Mecanismos propostos para a formação de monômero no NÁILON 6 por pirólise, mostrando um (a) processo rápido e um (b) processo lento.
24
Como os sítios ativos finais, como os grupos amina (NH2),
estão envolvidos na promoção da etapa rápida do processo, sugere-se que um
modo do náilon 6 se tornar mais estável termicamente seria modificando ou
bloqueando estes sítios49.
Através da análise DSC apresentada na Figura 17 pode se
observar que o náilon 6 funde como um termoplástico, sendo que a
temperatura de fusão (Tf) é de 219 ºC, a entalpia de fusão (∆Hf) para o náilon 6
cristalino é aproximadamente 191 J/g e sua temperatura de transição vítrea
(Tg), não observada no termograma, é de 52 ºC 51.
Figura 17: Termograma DSC de um filme de náilon 6 prensado, com taxa de aquecimento de 10 ºC/min, em atmosfera de N2
52.
4.4. NÁILON 6,6
4.4.1. SÍNTESE DO NÁILON 6,6
O náilon 6,6 é um polímero de condensação, ou seja, originário
da reação de um diácido com uma diamina, onde ocorre a eliminação de
moléculas de baixa massa molecular, como água e amônia. A polimerização
industrial do náilon 6,6 inicia-se com a formação do hexametileno adipamida
através da reação do ácido adípico com o hexametileno diamina. Este produto,
denominado sal de náilon, permite a equimolaridade e, consequentemente,
evita a heterogeneidade no tamanho das cadeias do polímero. A seguir o sal
de náilon, insolúvel em meio aquoso, é removido da solução, seco e levado ao
reator de polimerização para a formação do náilon 6,6, que irá ocorrer em altas
temperaturas. Tanto na formação do sal do náilon como na polimerização
ocorre a formação e liberação de uma molécula de água (Figura 18), que
deverá ser continuamente removida durante a polimerização para que ocorra
um elevado índice de conversão.
25
H2NNH2 + HO
OH
O
O
NOH
O
O
H
H2N+ H2O
NOH
O
O
H
H2NnN
N
O
O
H
H
n
nH2O+
Figura 18: Reação da hexametileno diamina com ácido adípico para a síntese do náilon 6,6.
Milhões de toneladas de ácido adípico são necessários,
anualmente, como estoque para alimentação da síntese do náilon 6,6.
Atualmente, a maior parte do ácido adípico é sintetizada a partir do benzeno,
que além de ser cancerígeno, é obtido de uma fonte natural não renovável.
Uma alternativa interessante é a obtenção do ácido adípico a partir da glicose.
Frost e Draths desenvolveram uma rota relativamente segura para se obter o
ácido adípico, através de uma bactéria geneticamente modificada. Eles
utilizaram técnicas de fatiamento de gene para criar a bactéria Escherichia coli
geneticamente alterada que, produz o ácido cis-mucônico que, por sua vez,
pode ser convertido em acido adípico através de hidrogenação catalítica como
apresentado na Figura 1953.
D-GLICOSE
COOH
O OH
OH
COOH
HO
OH
HO
OH
HOOC
HOOC
HOOCCOOH
COOH
HO OH
OH
Figura 19: Obtenção do ácido adípico tendo a D-glicose como material de partida.
26
4.4.2. FORMAS CRISTALOGRÁFICAS
O náilon 6,6 apresenta-se em, pelo menos, três formas
cristalográficas distintas. Na temperatura ambiente ele é estável na forma α (α1
e α2), que aparece no difratograma em 24º e 20º respectivamente (Figura
20a)40 e γ, todas triclínicas, sendo o primeiro relacionado com a distância das
ligações de hidrogênio do náilon 6,6 e o segundo com a separação dos planos
formados pelas cadeias. A Figura 20(b e c) mostram a célula unitária do náilon
6,6 na forma α. A forma γ aparece no DRX somente em temperaturas elevadas
e ainda não esta bem definida. Os parâmetros de rede das formas estruturais α
e γ do náilon 6,6 são mostrados na Tabela 433. A densidade da fase amorfa do
náilon 6,6 é de aproximadamente 0,99 g/cm3 54.
(a)
(b)
(010) (100) (110)
(c)
Figura 20: (a) Curva WAXD padrão do náilon 6,6 e seus picos característicos; (b) projeção da
célula unitária do náilon 6,6 (forma α) e (c) forma geométrica de sua estrutura triclínica e seus planos cristalográficos.
27
Tabela 4: Parâmetros de rede triclínica do náilon 6,6 (d = densidade do cristal)
Forma αααα (αααα1) Forma αααα (αααα2) Forma γγγγ
d = 1,24 g/cm3 d = 1,15 g/cm3 d = 1,25 g/cm3
a = 4,9Å α = 48,5º a = 4,95Å α = 52,0º a = 4,9Å α = 90,0º
b = 5,4Å β = 77,0o b = 5,45Å β = 80,0o b = 8,0Å β = 77,0o
c = 17,2Å γ = 63,5º c = 17,12Å γ = 63,0º c = 17,2Å γ = 67,0º
4.4.3. PROPRIEDADES TÉRMICAS – NÁILON 6,6
Na Figura 21 é observado o termograma DSC típico de uma
amostra de náilon 6,641. A grande regularidade na estrutura cristalina do náilon
6,6 resulta num maior ponto de fusão quando comparado a outras poliamidas
alifáticas, sendo esta de aproximadamente 262 ºC, possuindo uma entalpia de
fusão, quando totalmente cristalino, de 196 J/g; sua temperatura de transição
vítrea aparece próxima de 65 ºC51.
Figura 21: Curva DSC de uma amostra de náilon 6,6
Observa-se na Figura 22 uma análise TG típica do náilon 6,6
em atmosfera de nitrogênio (N2) com taxa de aquecimento de 20 ºC/min., onde
se observa uma leve e gradual perda de massa da temperatura ambiente até
cerca de 300 ºC, a etapa principal de decomposição por pirólise ocorre entre
380 e 500 ºC; a massa residual observada nesta análise é de 1,53% da massa
inicial.
28
Quando a amostra é submetida em atmosfera de ar sintético,
ocorre oxidação completa da mesma fazendo com que não haja massa
residual da amostra55.
Figura 22: Curvas (TG) do náilon 6,6 em N2, após 620 ºC em ar sintético
Os produtos de degradação térmica do náilon 6,6 em
atmosfera de nitrogênio são liberados em duas etapas, ou seja, em duas
regiões de temperaturas diferentes, este fenômeno não pode ser observado na
Figura 22.
Na primeira etapa de degradação, até aproximadamente 300
ºC, os produtos eliminados são: água, gás carbônico, amônia, monômeros
cíclicos, ciclopentanona, ciclopentilciclopentanona, hexilamina,
hexametilenoimina e hexametileno diamina (monômero); na segunda etapa
(acima de 300 ºC) os produtos liberados são principalmente: água, gás
carbônico, amônia e ciclopentanona56.
Exemplos de duas reações de pirólise do náilon 6,6 que
ocorrem nessas etapas são mostrados na Figura 23(a e b).
29
N
OH
O
O
H H
N
O
H
O
N
H
O
O
O-
HH
N OH
O
H O
OHH
+
+
(a)
T>270º C
N
O
N
O
N
O
HN
N
O
N
H
H O
+H2N
N
H
O
H2NN
H
O
+NH2N
H
O
NH3
NN
H
O
N
H
H
O
(b)
Figura 23: (a) e (b) Reações de degradação térmica do náilon 6,6.
30
5. LIGNINA
A lignina foi originalmente descoberta por Anselme Payen em
1838 após tratamento da madeira com ácido sulfúrico concentrado. O nome
lignina vem do latim “lignum” que significa madeira. Em 1897, Peter Klason
estudou a composição de lignosulfonatos, provenientes da polpação sulfito da
madeira, e lançou a idéia de que a lignina é quimicamente relacionada com o
álcool coniferílico. Em 1907, ele propôs que a lignina era uma substância
macromolecular, e 10 anos mais tarde, que as unidades de álcool coniferilico
eram unidos por ligação éter.
As ligninas são a fração não-carboidrato da madeira livre de
extrativos, extremamente complexas e difíceis de caracterizar. Ela compreende
de 20 a 40% do peso da madeira, sendo depois da celulose a mais abundante
e mais importante substância orgânica polimérica nos vegetais. Contudo a
lignina não ocorre sozinha na natureza e é impossível de ser removida
quantitativamente da estrutura da madeira sem considerável degradação. A
lignina é basicamente um polímero aromático constituído de um sistema
heterogêneo e ramificado sem unidade repetitiva definida. O sistema é
totalmente amorfo e, nos vegetais, se encontra ligado quimicamente as
polioses.
A lignina ocorre na maioria das plantas mas sua composição
não é idêntica em todas elas. De fato, as ligninas de madeiras de fibras longas
(coníferas), madeiras de fibras curtas (folhosas) e gramineas possuem
estruturas básicas muito diferentes entre elas. Em plantas aquáticas,
angiospermas, herbáceas bem como muitas monocotiledôneas a quantidade
de lignina é relativamente bem menor. Na Tabela 5 é apresentado o teor de
lignina em algumas espécies de plantas7.
Pelo menos 70% da lignina das coníferas é localizada na
parede secundária, sendo que estes valores são bastante similares para
madeiras de folhosas. Quando o processo de lignificação é completado
geralmente a célula morre, formando o que se denomina tecido de resistência,
31
podendo dizer que a lignina é um produto final do metabolismo da planta, na
Figura 24 é mostrado o modelo da estrutura celular do abeto57.
Figura 24: Modelo da estrutura celular de coníferas e folhosas. LM = lamela média, P = parede primária, S1 = camada 1 da parede secundária, S2 = camada 2 da parede secundária, S3 = camada 3 da parede secundária ou parede terciária, W= camada verrugosa (warts).
Tabela 5: Teor de lignina em algumas espécies de plantas.
Nome científico Nome popular Teor de lignina (%)
Araucária angustifólia
Pinus nigra
Pinus radiata
Pinus strobus
Pinus sylvestris
Salix sp.
Sequóia sempervirens
Pinheiro do Paraná
Pinheiro da Áustria
Pinheiro Radiata
Pinheiro Amarelo
Pinheiro escocês
Salgueiro
Sequóia
30
27
27
30-28
26
25
37
Em contraste com a celulose, que é formada por todas as
plantas, a formação da lignina só ocorre em plantas vasculares que
desenvolvem tecidos especializados em funções tais como transporte de
soluções aquosas e suporte mecânico, sendo um componente estrutural que
dá a madeira propriedades de elasticidade e resistência. As plantas primitivas
tais como fungos e algas não possuem lignina aparentemente porque os seus
32
aglomerados de células não diferenciadas não requerem a ação protetora e de
suporte que é oferecida pela lignina. Além de proteger os elementos
vasculares, a lignina funciona como um elemento de suporte para toda a
arvore.
A lignificação ocorre como uma conseqüência não somente do
desenvolvimento do sistema de condução de água mas também como uma
necessidade da árvore para suportar sua copa a muitos metros de altura. Esta
necessidade é atingida pelo reforço das fibras celulósicas de alta resistência à
tensão com um material capaz de absorver forças de compressão, ou seja, a
lignina. Adicionalmente ao já conhecido papel da lignina como um agente
selante e de reforço estrutural, a lignificação tem também sido considerada
como um mecanismo de descarga dos lixos metabólicos que bloqueia a difusão
desta e de nutrientes dissolvidos para dentro da célula, sendo esta uma das
razões para que as células com paredes lignificadas estejam mortas na
maturidade.
5.1. COMPOSIÇÃO E ESTRUTURA DA LIGNINA
Lange, em meados do século XX, aplicou microscopia
diretamente em finas camadas de madeira, obtendo espectros típicos de
compostos aromáticos, chegando-se posteriormente à conclusão de que a
lignina era constituída de unidades de fenil-propano. A lignina, que se encontra
principalmente em regiões escuras da madeira, é um material de natureza
fenólica, muito ramificado, cuja estrutura química pode ser estudada pelos seus
produtos de decomposição8,13.
A composição elementar da lignina é 53-65% de carbono, 6-9%
de hidrogênio e 26-36% de oxigênio. Quando não modificada a lignina não
apresenta enxofre, fósforo, nitrogênio ou outros elementos.
Estudos com carbono radioativo (14C) confirmam o fato da
lignina ter sua origem a partir da polimerização dehidrogenativa (iniciada por
enzimas) dos seguintes precursores primários: álcool transconiferílico, álcool
33
trans-sinapílico e álcool para-trans-cumárilico (Figura 25), cujos teores são
diferentes nos três grandes grupos vegetais.
I II III
H3COOH
OH
OH
OH
H3COOH
OH
OCH3
Figura 25: As unidades que compõem as ligninas, (I) álcool transconiferílico, (II) álcool trans-sinapílico e (III) álcool para- trans-cumarílico.
As ligninas G (guaiacila) têm como precursor o álcool
transconiferílico, estando presentes na maioria das madeiras moles
(gimnospermas ou coníferas). A lignina guaiacila-siringila (GS) possui como
precursor o álcool trans-sinapílico e transconiferílico, está presente em
madeiras duras (angiospermas e folhosas), possuindo quantidades
semelhantes de unidades guaiacila e siringila. A lignina cumarila-guaicila-
siringila (HGS) é característica de plantas anuais e gramíneas, apresentando
maior quantidade de unidades p-hidroxifenila, mas em proporções sempre
abaixo das outras unidades. As três unidades monoméricas da lignina se
encontram unidas por diferentes tipos de ligações. A composição e a estrutura
da lignina variam dependendo da espécie, parte e idade da planta, solo, etc.
Os grupos funcionais mais importantes encontrados em
ligninas são os grupos funcionais metoxila; hidroxila: carboxíla; éter; éster e
carbonilas de natureza aromática ou alifática58,59. A determinação destes
grupos funcionais para a elucidação da estrutura da lignina pode ser feita
atualmente por numerosos métodos químicos e físicos, como espectroscopia
de UV-Vis e infravermelho, espectroscopia de ressonância magnética nuclear
(1H RMN e 13C RMN) e espectrometria de massas, em combinação com
cromatografia gasosa7. Os teores de metoxila, hidroxila e carbonila são
34
usualmente expressos com base nas unidades fenilpropânicas (C9) das
ligninas.
Na Figura 26 (a e b) observa-se o esquema estrutural da
lignina de Pinus taeda segundo Adler, compreendendo 16 unidades
fenilpropânicas, correspondendo, assim, a uma massa de aproximadamente 2
Kg/mol 60,61.
(a)
(b)
Figura 26: (a) Esquema estrutural da lignina de madeira mole, proposto por Adler (1977) e (b) sua projeção espacial, compreendendo 16 unidades fenilpropânicas.
5.2. MASSA MOLAR DA LIGNINA
As massas molares dos derivados solúveis de lignina situam-se
numa faixa bastante ampla. Na literatura há desde valores inferiores a 103 até
valores acima de 106 , tanto para lignosulfonatos como para ligninas alcalinas.
A molécula de lignina pode ser reduzida a um tamanho suficientemente
pequeno, para ser considerado um composto químico, exibindo comportamento
35
dos compostos solúveis em determinados solventes ou suficientemente grande
para ter o comportamento de um alto polímero ou de um colóide. A maioria dos
estudos de massa molecular foi efetuada para lignina de coníferas, porém
resultados obtidos com lignina de folhosas indicam que estas possuem uma
massa molar média menor. No entanto tanto para coníferas como para
folhosas observa-se uma grande dispersão nos valores das massas
moleculares das ligninas em solução. Uma explicação possível para esta
dispersão é o conceito de que a lignina, na madeira, existe como um retículo
formado por cadeias lineares curtas, cruzadas de maneira aleatória para dar
uma estrutura tridimensional infinita. Considerando a massa molecular do
fenilpropano (unidade formadora) como 184, o grau de polimerização das
ligninas isoladas esta na faixa de 5 a 6057.
5.3. A LIGNINA E SEU USO PARA FINS INDUSTRIAIS
As ligninas são subprodutos principalmente do processo de
polpação na indústria de papel, saindo sob forma de um “licor negro”, e são
freqüentemente utilizadas como combustível no processo de polpação62. Nas
últimas décadas, muitos estudos foram realizados visando encontrar novas
aplicações para estes co-produtos e um grande campo de pesquisa foi
dedicado ao desenvolvimento de compósitos poliméricos de lignina63. Alguns
fatores como sua estrutura química complexa, heterogeneidade, impurezas no
licor negro, dificultam a utilização para fins mais nobres, no entanto a lignina é
produzida em grandes quantidades e possui algumas propriedades que lhe dão
a possibilidade de ser utilizada como dispersante, seqüestrante de metais,
adesivos, etc.
5.4. A LIGNINA KRAFT
Atualmente o processo sulfeto (Kraft) é o processo de polpação
alcalina dominante, e o mais importante processo no geral, constituindo a base
para vários processos alcalinos modificados. Isso ocorre devido as baixas
demandas na espécie e qualidade da madeira e ao baixo tempo de cozimento.
O hidróxido de sódio (NaOH) é o principal produto químico utilizado,
juntamente com o sulfeto de sódio (Na2S)7.
36
5.5. CARACTERIZAÇÃO DE LIGNINAS
5.5.1. ESPECTROSCOPIAS
Devido à complexidade da lignina e à sua susceptibilidade de
alteração durante os procedimentos de isolamento, é aconselhável a utilização
de técnicas não invasivas, como a espectroscopia RMN, FTIR e UV-Vis, para
sua caracterização64.
5.5.1.1. ESPECTROSCOPIA NA REGIÃO DO ULTRAVIOLETA-VISÍVEL
A absorção característica da lignina na região UV-Vis é
baseada em seu caráter aromático. A espectroscopia de absorção ultravioleta é
uma técnica muito utilizada para identificação da lignina, tanto para
determinações qualitativas quanto para análises quantitativas. Ela é também
utilizada como ferramenta para determinação de mudanças na estrutura e
propriedades da lignina. O espectro UV de diferentes ligninas varia pouco na
posição e na intensidade das absorções. O espectro típico da lignina inclui um
máximo entre 280 e 300 nm seguido de uma inclinação para baixos
comprimentos de onda, com um ombro pronunciado em 230 nm 65. Observa-se
na Figura 27 um espectro UV-Vis característico da lignina de faia 66.
Figura 27: Espectro UV-Vis de lignina de faia (Fagus sylvatica).
5.5.1.2. ESPECTROSCOPIA NA REGIÃO DO INFRAVERMELHO
A espectroscopia infravermelha na região de comprimento de
onda 2,5-15 µm (número de onda 4000-400 cm-1) é um método físico
amplamente utilizado para a caracterização da lignina e seus derivados.
37
Existem várias incertezas quanto à interpretação dos espectros
IR da lignina, quando se consideram sua heterogeneidade, as modificações
introduzidas durante o isolamento e ainda a técnica utilizada para a obtenção
do espectro. Apesar disto a espectroscopia na região do infravermelho pode
ser usada como uma ferramenta para compreender a estrutura de ligninas
isoladas, e para dar informação sobre grupos químicos alterados, removidos
e/ou adicionados durante o processo de polpação67.
Os resultados de Kawamura et al.68 (1967) e Sarkanen et al.69
(1967) permitiram a classificação do espectro IR de lignina de acordo com o
teor de guaiacila, siringila e unidades para-hidróxifenila. No entanto, a
interpretação do espectro IR ajuda a distinguir apenas diferenças relativas
entre amostras de lignina, que devem ser analisadas cuidadosamente.
A espectroscopia IR da lignina é utilizada quase
exclusivamente para caracterização qualitativa. Ainda são poucos os
resultados que têm sido conseguidos na avaliação quantitativa das bandas da
lignina65. Na Figura 28 é apresentado o espectro FTIR da lignina extraída da
palha de triticale70,71. Na Tabela 6 estão relacionadas às bandas de absorção,
na região do Infravermelho, de maior importância na lignina72,73.
Figura 28: Espectro de FTIR típico de lignina de palha de triticale (híbrido de trigo e centeio), obtida em meio ácido.
38
Tabela 6: Atribuição das bandas de absorção de lignina mais importantes na região do infravermelho.
Posição cm-1
Origem da banda
3450-3400
2940-2820
1740-1720
1715-1710
1675-1660
1605-1600
1585-1580
1515-1505
1470-1460
1430-1425
1420-1425
1370-1365
1330-1325
1270-1275
1268-1270
1230-1215
1130-1120
1085-1030
900-950
~ 840
~630
Estiramento OH
Estiramento CH em grupos metil e metileno
Estiramento de C=O em cetonas não conjugadas e de grupo éster
Estiramento C=O não conjugado ao anel aromático
Estiramento C=O conjugado ao anel aromático
Vibrações do anel aromático
Vibrações do anel conjugado com um grupo α carbonila
Vibrações do anel aromático
Deformações C-H assimétricas
Vibrações do anel aromático
Ligações C-H de grupos metil
Deformações C-H simétricas
Estiramento do anel siringila
Estiramento do anel guaiacila
Estiramento C-O, aromático (metoxilas)
Estiramento C-O, aromático (fenil)
Deformação (no plano) de C-H (em unidade siringila siringílico)
Deformações C-H no plano, em unidade guaiacila e C-O em álcoois secundários e éteres alifáticos.
Deformação C-H fora do plano presente em unidades siringila, deformação fora do plano em ácidos carboxílicos.
Deformação fora do plano atribuída a presença de anel aromático 1,2,3,5 tetrasubstituído (unidades siringila não conjugadas).
Banda larga de ligação C-S
5.5.1.3. CARACTERIZAÇÃO DE LIGNINA POR RESSONÂNCIA
MAGNÉTICA NUCLEAR (1H-RMN)
A espectrometria de ressonância magnética nuclear do
hidrogênio (1H-RMN) é utilizada para análise quantitativa de diferentes ligações
de prótons hidrogênio da lignina acetilada74.
O solvente comumente utilizado para a obtenção do espectro
RMN da lignina acetilada é clorofórmio deuterado (CDCl3). Na Figura 29 se
observa um espectro de H1-RMN de lignina acetilada extraída de fibras de
piaçava75.
39
Na Tabela 7 são apresentadas as regiões de deslocamento
típicas da lignina acetilada, atribuição dos sinais de prótons hidrogênio nas
principais regiões do espectro de 1H-RMN76,77.
Tabela 7: Regiões de deslocamentos químicos mais significativos na lignina acetilada
δδδδ em ppm Atribuição do sinal de próton
1,95 Acetato alifático
2,13 Acetato alifático (incluindo alguns acetatos aromáticos)
2,29 Acetato aromático
3,08 Hβ em estrutura β−β
3,76 Prótons em grupos metoxilas
4,18 Hγ em diversas estruturas
4,28 Hγ em diversas estruturas
4,43 Hγ em diversas estruturas
4,60 Hβ em estrutura β-O-4
4,70 Hα em estruturas β−β, prótons metilênicos em unidades de álcool
cinamílico
5,44 Hα em estruturas β-5 e éteres benzil aril não cíclicos
6,01 Hα em estruturas β-O-4 e β-1, em alguns prótons vinílicos
6,60 Prótons aromáticos em unidades siringila
6,94 Prótons aromáticos em unidades guaiacila
Figura 29: Espectro 1H RMN da lignina de piaçava acetilada.
40
5.5.2. CARACTERIZAÇÃO DE LIGNINA POR ANÁLISES TÉRMICAS (TGA –
DSC)
Na curva termogravimétrica da lignina obtida da espécie
Tamarix spp, em atmosfera de N2 (Figura 30) juntamente com seu DSC, se
observa perda de massa em temperatura abaixo de 100 oC, que ocorre devido
à evaporação de água, monóxido de carbono, dióxido de carbono e
evaporação de outras substâncias de baixa massa molar64.
A perda de massa que se inicia em 190 oC, corresponde ao
inicio da reação de pirólise da lignina. Em 257 oC a massa é cerca de 90% da
massa inicial. A perda de massa prossegue até a temperatura de 600 oC, onde
é reduzida a quase 41% da massa inicial. Durante a degradação térmica da
lignina (DSC da Figura 30) ocorrem, primeiramente, as fragmentações que
liberam fenol para a fase vapor, e após, entre 400 e 600 oC ocorrem processos
de decomposição e/ou condensação de anéis aromáticos.
Por ser um polímero amorfo, a lignina possui uma temperatura
de transição vítrea (Tg), que varia consideravelmente conforme a origem e o
método utilizado para o seu isolamento, geralmente encontrando-se na faixa de
temperatura de 120 - 200ºC. Uma das causas da variação é a massa molar,
quanto maior for esta, mais alta é a temperatura de amolecimento. A água
também possui um efeito significativo na temperatura de transição vítrea da
lignina, esta decresce com o aumento do teor de umidade78. No termograma
DSC, apresentado na Figura 30, esta transição ocorre aproximadamente em
140 oC79.
Durante a degradação térmica da madeira, os produtos
fenólicos produzidos são quase todos originários da lignina. A pirólise da
celulose produz somente traços de substâncias fenólicas, enquanto que a
pirólise da madeira e a lignina originam uma série de produtos fenólicos,
principalmente guaiacol e seus derivados, como o creosol, etil-vinil-guaiacol,
eugenol e o isoeugenol7.
42
6. BLENDAS POLIMÉRICAS
6.1. DEFINIÇÃO E ASPECTOS TERMODINÂMICOS
Blendas poliméricas são sistemas poliméricos originários da
mistura física de dois ou mais polímeros e/ou copolímeros, sem que haja um
elevado grau de reações químicas entre eles.80 Um dos métodos relativamente
simples para desenvolver novos materiais, com propriedades adequadas a sua
utilização, é a formação destas blendas, ou ligas, de dois ou mais materiais
poliméricos34, melhorando assim algumas propriedades físicas e químicas com
relação aos polímeros puros, como a processabilidade, resistência mecânica
ou estabilidade em determinadas condições81,82,83.
Os componentes das blendas são considerados miscíveis
(blendas miscíveis) quando os segmentos moleculares dos componentes
poliméricos se misturam intimamente, não havendo segregação entre suas
moléculas, ou seja, são homogêneas em escala molecular84. No caso de
blendas imiscíveis há a formação de mais de uma fase, onde nenhuma
molécula de uma fase se encontra intimamente ligada à fase vizinha.
A miscibilidade é um parâmetro muito importante no estudo de
blendas poliméricas e depende de três fatores: da compatibilidade, da
proporção relativa em que os componentes estão na mistura e das condições
experimentais (temperatura, pressão, solvente, etc.). O termo compatibilidade
se refere à natureza química e o termo miscibilidade à dispersão estável em
escala molecular com a formação de uma fase homogênea ou metaestável,
sendo um termo comercial comumente empregado em misturas poliméricas.
Em certos casos blendas imiscíveis apresentam boas propriedades mecânicas
e são ditas mecanicamente compatíveis. Um grande número de blendas
imiscíveis, porém compatíveis, tem despertado atualmente considerável
interesse comercial28,85.
A morfologia e o grau de compatibilidade das blendas são
determinados pelo método de preparação do filme, entre outros fatoresErro!
Indicador não definido.. Nas blendas preparadas por evaporação do solvente da
43
solução contendo ambos componentes, como no presente trabalho, a
morfologia depende de parâmetros cinéticos e termodinâmicos. Os parâmetros
cinéticos estão relacionados com a velocidade de separação de fases,
dependendo unicamente da velocidade de evaporação do solvente e
viscosidade do meio o qual pode criar uma dada morfologia em determinado
tempo. Aquecendo os filmes em temperaturas acima do ponto de fusão em um
curto intervalo de tempo pode não induzir uma miscibilidade uniforme, mesmo
que isto seja permitido termodinamicamente86.
A miscibilidade termodinâmica entre polímeros é caracterizada
por uma única transição vítrea e uma única fase amorfa. Usualmente a
miscibilidade de uma blenda é avaliada por sua aparência já que a separação
de fases causa espalhamento de luz, causando opacidade da amostra, no
entanto blendas miscíveis com fases amorfas e cristalinas também podem
causar o espalhamento de luz, reduzindo a transparência do sistema.
6.2. PREPARAÇÃO DE BLENDAS POLIMÉRICAS
Uma mistura de polímeros pode ser obtida de várias maneiras,
mas os métodos mais utilizados são as misturas mecânicas, dissolução dos
polímeros em solvente comum, mistura em pó fino ou redes poliméricas
interpenetrantes (redes IPN) 59,Erro! Indicador não definido.,87.
6.3. BLENDAS CONTENDO LIGNINA
A utilização de substâncias poliméricas de origem biológica
(biomacromoléculas) está surgindo como um novo e importante componente
para o desenvolvimento econômico. Através das transformações de florestas e
resíduos agrícolas, uma nova classe de materiais renováveis, biodegradáveis e
com biocompatibilidade está sendo aplicada. A biodegradabilidade de
biopolímeros é a base para suas aplicações, no entanto, sua processabilidade,
desempenho e custo, quando comparados aos polímeros petroquímicos
sintéticos, são de extrema importância36,88.
Nos últimos anos, pesquisas envolvendo o uso de
lignina/polímero sintético tiveram um aumento significativo, pelo fato da lignina
ser um polímero natural encontrado em madeira, um poliol poliaromático que é
44
de grande utilidade e relativamente barato. A extensa possibilidade de ligações
cruzadas e fortes interações intramoleculares de ligninas poliméricas
possibilitam a utilização destas em sistemas de materiais sólidos. Por meio de
blendas poliméricas estas interações podem ser rompidas, alterando desta
forma as propriedades viscoelásticas da lignina78.
FELDMAN et alii.89 estudaram blendas de lignina com
polímeros sintéticos. No estudo de blendas de lignina/poliuretana foi observado
que a adição de lignina diminuiu o módulo de elasticidade da mistura. Este
efeito foi recentemente observado também por CIOBANU et al.90. Eles
detectaram que a composição de lignina e poliuretana na blenda é um fator
chave em relação à degradação térmica destas blendas e que o conteúdo de
lignina em torno de 10% em massa foi adequado para aumentar a elasticidade
da poliuretana. FELDMAN et alii. também prepararam blendas de lignina com
resina epóxi termicamente curada (composição – até 40% de lignina). O efeito
da lignina, nas propriedades mecânicas das blendas foi analisado através de
cisalhamento adesivo, DSC, DTMA, RMN e FTIR. Testes de cisalhamento
adesivo mostraram um considerável aumento na adesão das blendas com até
30% de lignina. Por outro lado, a tensão de cisalhamento foi drasticamente
reduzida nas blendas com teores de lignina maior que 30%15.
Kosikova e Podstranska estudaram blendas de
lignina/polietileno e lignina/polipropileno, com relação à estabilidade no
processamento por fusão e propriedades mecânicas. Observou-se que o
aumento de concentração de lignina nas blendas diminui a resistência
mecânica dos filmes, no entanto a lignina mostrou ser um ótimo atenuador dos
efeitos da radiação UV nas propriedades físicas e químicas dos sistemas91,92.
Pouteau et. al. utilizaram-se da lignina como agente reticulador
no polipropileno (PP), mostrando que somente ligninas de baixa massa molar
são compatíveis com polímeros apolares ou com polaridade muito alta93.
Outras pesquisas mostraram que a lignina pode agir como antioxidante no
polibutadieno ou ainda como modificador, diminuindo a condutividade elétrica
da polianilina (PANI). Estudos da aplicação da lignina em polímeros polares,
como a álcool polivinílico e a polivinil pirrolidona, mostraram que a lignina pode
45
causar relativa estabilidade a foto-oxidação destes polímeros quando expostos
a luz ultravioleta94,95.
Outras recentes contribuições envolvem estudos baseados em
análises térmicas e termomecânicas, espectroscopia na região do
infravermelho, voltametria cíclica, determinação de massas molares e
microscopias, que investigam principalmente a estabilidade e/ou
homogeneidade das misturas, bem como a existência de possíveis interações
intermoleculares entre os polímeros90,96,97.
46
7. FRACIONAMENTO E CARACTERIZAÇÃO DA LIGNINA
7.1. OBJETIVOS
Fracionar e caracterizar a lignina kraft (LK) utilizando acido
fórmico como solvente.
7.2. EXPERIMENTAL
7.2.1. MATERIAIS E EQUIPAMENTOS
� Lignina Kraft (KLABIN - Telêmaco Borba)
� Solventes (PA), solução de hidróxido de sódio 0,5 mol/L,
ácido fórmico 85% - SYNTH
� Clorofórmio deuterado (CDCl3)
� Reagentes: piridina, anidrido acético
� Agitador magnético acoplado com aquecimento elétrico
� Agitador magnético
� Balança analítica SCIENTECH AS120, precisão 0,0001g -
TECNAL
� Centrifuga FANEM – modelo 204W – 6000 RPM
� Estufa Fabbe
� Evaporador Rotativo (MARCONI – MA120)
� Espectrofotômetro de infravermelho (FTIR - BOMEM-100)
� Espectrofotômetro ultravioleta visível (HITACHI U 2000)
� Termobalança (SHIMADZU TGA-50)
� Calorímetro diferencial de varredura (SHIMADZU DSC 50)
� Extrator Soxhlet
� Manta de aquecimento
47
� Microscópio Eletrônico de Varredura (SHIMADZU SS-550
SUPERSCAN)
� Espectrômetro de Ressonância Magnética Nuclear (RMN –
GEMINI-300 BB)
7.2.2. PROCEDIMENTO
7.2.2.1. PURIFICAÇÃO DA LIGNINA KRAFT
Foram adicionados 2 litros de água destilada à
aproximadamente 100 mL de licor negro, que contem a lignina kraft, sendo esta
mistura agitada vigorosamente e filtrada para a remoção do material fibroso. O
licor negro foi acidificado com solução de H2SO4 (0,5 mol/L) até pH 2 para
precipitar a lignina. Esta foi separada do sobrenadante por centrifugação. O
precipitado foi dissolvido em solução alcalina (NaOH 0,5 mol/L) e precipitado
novamente em solução ácida de pH 2, este procedimento foi realizado por mais
duas vezes. O produto obtido foi seco em estufa a uma temperatura de 50 ºC,
moído e lavado com água deionizada e seco em estufa a 50 ºC98.
7.2.2.2. FRACIONAMENTO DA LIGNINA KRAFT
A lignina Kraft (LK) foi fracionada com ácido fórmico em um
sistema soxhlet. O solvente foi recuperado em evaporador rotatório e a amostra
de lignina seca em estufa a 60 oC. A fração solúvel em ácido fórmico (LKF)
correspondeu à maior parte da amostra, aproximadamente 90 % da lignina de
partida.
7.2.2.3. ESPECTROSCOPIA DE ABSORÇÃO NA REGIÃO DO
INFRAVERMELHO - (FTIR)
Nesta análise os espectros de LK e LKF foram obtidos de
pastilha de KBr contendo 1% em massa de amostra. Os espectros foram
normalizados pela razão da área sob a curva FTIR de LKF pela área sob a
curva FTIR de LK.
7.2.2.4. ANÁLISE TERMOGRAVIMÉTRICA - (TGA)
As análises foram realizadas com aproximadamente 6,0 mg de
LK ou LKF em porta amostras de platina. O intervalo de temperatura da análise
48
foi desde a temperatura ambiente até 1000 oC. A taxa de aquecimento (β)
utilizada foi de 10 oC/min e fluxo de gás nitrogênio de 50 mL/min.
Também foi realizada uma análise termogravimétrica em
atmosfera oxidante (ar sintético), utilizando as mesmas condições
experimentais.
7.2.2.5. CALORIMETRIA EXPLORATÓRIA DIFERENCIAL - (DSC)
Para a análise de calorimetria exploratória diferencial, foram
utilizadas porta amostras de alumínio, tampadas e com um pequeno furo na
tampa, contendo aproximadamente de 6,0 mg de LKF.
O intervalo de temperatura a que as amostras foram
submetidas foi desde a temperatura ambiente até 500 oC ,com uma taxa de
aquecimento (β) de 10 oC/min e fluxo de gás nitrogênio de 50 mL/min.
7.2.2.6. ESPECTROMETRIA DE RESSONÂNCIA MAGNÉTICA NUCLEAR
DE HIDROGÊNIO (1H-RMN)
Para analisar os espectros 1H-RMN de LK e LKF, comparando
com os dados da literatura, foi necessário realizar a acetilação das amostras.
Em um balão volumétrico (50 mL), aproximadamente 100 mg
de LK ou LKF foram dissolvidas em piridina e anidrido acético (4,0 mL de cada
e ambos secos). O sistema foi mantido em atmosfera inerte (N2) com agitação
constante durante 48 horas, em temperatura ambiente. Posteriormente a
piridina foi neutralizada com ácido clorídrico obtendo-se assim um precipitado
de LK (ou LKF) acetilada. A dispersão foi filtrada e o precipitado foi seco em
estufa (temperatura de 60 oC) e em seguida a vácuo durante 24 horas99.
Os espectros 1H-RMN de LK e LKF acetiladas foram obtidos de
soluções usando clorofórmio deuterado como solvente e TMS como padrão
interno.
O espectro RMN foi obtido a temperatura ambiente, com
campo magnético de 300 MHz, tempo de aquisição de 2,5 segundos, pulso de
45º, 128 repetições e um intervalo de deslocamento químico (δ) de 0 a 9 ppm.
A análise dos espectros de RMN foi efetuada dividindo o mesmo em
determinadas regiões100.
49
7.2.2.7. MICROSCOPIA ELETRÔNICA DE VARREDURA – (MEV)
A micrografia foi obtida utilizando um microscópio eletrônico de
varredura (MEV) Shimadzu SSX 550 Superscan. As imagens obtidas, com
ampliações diferentes, foram da amostra de LKF pura e pulverizada. A
superfície da amostra foi recoberta com ouro (método sputter).
7.3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Na Figura 31 são apresentados os espectros de FTIR para LK
e para sua fração LKF. Os espectros foram corrigidos com linha base utilizando
os recursos do Software Bomen. LK e LKF apresentam espectros relativamente
diferentes, como um pico em aproximadamente 1125 cm-1, que em LKF
aparece de forma muito mais acentuada; sendo este pico atribuído deformação
de C-H no plano em unidades siringila, no entanto não se observa a presença
de um pico referente ao estiramento do anel siringila (entre 1330-1325 cm-1) no
espectro de LKF. O pico que aparece em ~1040 cm-1, atribuído a deformações
C-H no plano de unidades guaiacila, é mais pronunciado no espectro de LK,
bem como o pico em ~1275 cm-1, atribuído a estiramento de unidades
guaiacila, também é mais pronunciado em LK.
Para comparar o conteúdo de grupos carbonila e analisar os
padrões de substituição de anéis aromáticos nestas amostras, foi analisado o
espectro de absorbância máxima das bandas em 1740 cm-1 (estiramento C=O
em ésteres não conjugado); em 1600 cm-1 (vibração de anéis aromáticos com
estiramento C=O) e em 1500 cm-1 (vibração de anéis aromáticos; usado como
referência interna)101.
Em LKF, o pico de aproximadamente 1740 cm-1 aparece de
forma mais acentuada com relação à LK, ou seja, a quantidade de C=O de
grupos éster deve ser maior em LKF. Esta diferença de intensidade em 1740
cm-1 nas ligninas é inesperada, pois as ligninas geralmente contêm uma
pequena quantidade dos grupos carbonila, no entanto a presença desta em
LKF deve-se provavelmente a esterificação (formilação) de grupos álcool e/ou
fenol da lignina durante o processo de fracionamento por ácido fórmico71, a
formilação de um grupo guaiacila está representada na Figura 32. Também se
observa uma inversão na razão entre os picos de 1600 cm-1 e 1500 cm-1, sendo
50
que no espectro de LK o primeiro pico aparece de forma menos pronunciada,
ou seja, LK possui um maior teor de grupos guaiacila com relação a LKF.
Figura 31: FTIR de LK e LKF em KBr, normalizados pela área total do espectro de LK.
H3COOH
OH
+
H3COO
O C
C
OH
OH
H2O-2HHHH CCCCOOOO
OOOO HHHH2222
Figura 32: Representação da reação de esterificação de um grupo guaiacila por ácido fórmico, cujo precursor é o álcool transconiferílico.
O espectro de ressonância magnética nuclear 1H permitiu
analisar comparativamente o teor de alguns grupos existentes nas amostras de
LK e LKF. Na Figura 33 são observados os espectros RMN de LK e LKF
depois de submetidas ao processo de acetilação.
É possível notar, ao se comparar os dois espectros, que existe
diferença na forma da banda que se encontra em δ 7,10-6,50; sendo que o pico
em 6,94 é referente ao sinal de hidrogênio em anel aromático de unidades
guaiacila, onde em LK este sinal aparece com maior intensidade. Em LKF este
pico aparece em δ menor, ou seja, este deslocamento deve ter ocorrido devido
a um aumento na blindagem dos prótons H nesta lignina, com possível adição
de determinados grupos nas estruturas guaiacila. Esta modificação dos grupos
51
guaiacila, que também pode ser observada pela análise FTIR como uma
redução da quantidade destes grupos, pode ter sido causada tanto pela
esterificação como por uma reação de reticulação que estas podem sofrer em
meio ácido, conforme observado nas reações representadas na Figura 34102.
No intervalo de δ entre 2,5-1,5 ppm é observado que a amostra LK possui
prótons acetoxílicos aromáticos e alifáticos, picos estes não encontrados no
espectro de LKF. A ausência destes picos no espectro de LKF confirma que, na
extração com ácido fórmico, ocorre reação deste “solvente” com hidroxilas da
lignina, não sendo possível ocorrer a reação de acetilação da lignina utilizada
para análises de 1H-RMN.
Figura 33: Espectro 1H RMN de LK e LKF, após o processo de acetilação (solvente: CDCl3).
HC
CH
CH
OH
O
OCH3
H+
HC
CH
CH
OH2+
O
OCH3
O
R
OCH3+
HC
CH
CH
O
OCH3
H2O
H+
HC
CH
CH
O
OCH3
O
R
OCH3
HC
CH
CH
O
OCH3
+
OH
H3CO
R
H+
HC
CH
CH
O
OCH3
O
H3CO
R
A
B
Figura 34: Reações de modificação do grupo guaiacila da lignina kraft.
52
Os resultados obtidos pela integração dos intervalos 7,2-6,3,
4,5-3,6, 3,6-2,5 e 2,5-1,5 ppm são mostrados na Tabela 8. Com base na
atribuição de cada um destes sinais conclui-se que a amostra LK deve possuir
maior teor de ligações através do oxigênio fenólico (metoxila fenólica - β-O-4),
caracterizada pela presença do grupo guaiacila, bem como menor teor de
ligações β-β em comparação com a amostra LKF, sendo que estas ligações
podem ter ocorrido através de reações de reticulação nesta última. A
quantidade de metoxilas alifáticas é maior em LKF. O teor de prótons em
acetatos alifáticos e aromáticos inexiste em LKF.
Tabela 8: Comparação de áreas relativas (%) das diferentes regiões de deslocamentos químicos de interesse no espectro
1H-RMN de LK e LKF (%).
δδδδ em ppm Atribuição do sinal LK LKF
1,5 – 2,5 Prótons acetatos alifáticos e aromáticos 38 0
2,5 – 3,6 Hβ − em estruturas do tipo β−β 14 37
3,6 – 4,5 Prótons de grupos metoxílicos 22 31
6,3 – 7,2 Prótons aromáticos e
Hα - em estruturas do tipo β-O-4 20 14
As análises termogravimétricas feitas em atmosfera inerte,
apresentadas na Figura 35, mostraram que em aproximadamente 200 oC se
inicia a reação da pirólise de LK e LKF, e que LKF tem maior estabilidade
térmica com relação à LK até aproximadamente 720 ºC, provavelmente devido
à formação de novas ligações por reticulação, apresentando massa residual
nesta temperatura em 60% da inicial. No entanto LKF apresenta uma etapa de
degradação que não ocorre em LK entre 750 e 850 ºC, com 30% de perda de
massa aproximadamente, a provável explicação para este evento é que com o
aumento da temperatura ocorra a saída de CO2 a partir dos sítios da lignina
metoxilados por ácido fórmico. O teor de resíduo em 1000 oC é 45% da massa
inicial para LK e passa a ser menos de 30% para LKF.
A pequena diferença em perda de massa, observada entre a
temperatura ambiente e 100 oC, está relacionada com a perda de material
volátil, como a umidade ou a presença de ácido fórmico em LKF, sendo que
53
neste intervalo de temperatura LKF e LKF tiveram perda de massa de
aproximadamente 3%.
Figura 35: Termograma de LK e LKF, realizadas em atmosfera de N2.
A faixa de temperatura na qual ocorrem as etapas de ração de
pirólise aparecem melhor definidos na curva DTG apresentada na Figura 36, o
mínimo dos picos corresponde aos pontos de inflexão das curvas TG. Na etapa
principal de degradação térmica, estes picos aparecem em temperaturas de
aproximadamente 387 oC para LK e 372 oC para LKF. Nesta figura também se
observa claramente em LKF a outra etapa de degradação que se inicia após os
720 ºC.
Figura 36: Curvas DTG para LK e LKF
A amostra de LKF também foi submetida à análise TG em
atmosfera de ar sintético (atmosfera oxidante – Figura 37) para avaliar se o
54
resíduo contém material inorgânico, no entanto como a massa residual obtida
por esta análise foi zero conclui-se que não existe resíduo inorgânico na
amostra.
Figura 37: Termograma de LKF, realizada em atmosfera de ar sintético.
Na análise DSC, mostrada na Figura 38, a amostra LKF
apresentou duas curvas e um pico endotérmicos consecutivos, sendo que o
primeiro se inicia na temperatura ambiente, indo até aproximadamente 100 ºC.
Este evento está relacionado com a perda de material volátil, como água ou
solvente residual. Na segunda curva endotérmica, cujo intervalo de
temperatura é de 130 a 210 ºC (com um mínimo em ~170 ºC), ocorre também
perda de massa, sendo que nesta faixa de temperatura deve ocorrer uma
transição de segunda ordem (transição vítrea) da lignina, no entanto não é
possível distinguir este evento no termograma DSC; e o terceiro pico, entre 220
ºC e 270 ºC (mínimo em ~240 ºC), é a decomposição térmica da amostra, pois
nesta já se inicia o processo de perda de massa, observado pelo gráfico obtido
da análise termogravimétrica. O pico exotérmico que se inicia em
aproximadamente 300 ºC, e esta relacionado provavelmente com a
degradação térmica (pirólise) da lignina com perda de material volátil.
No termograma DSC de LK pode se observar as curvas
endotérmicas compreendidas entre a temperatura ambiente e ~100 ºC,
associado a perda de material volátil do sistema; e de 120 ºC a 210 ºC (mínimo
em ~170 ºC), cuja faixa de temperatura pode ser pertinente ao inicio da pirólise
da lignina. A diferença observada na curva DSC de LK e LKF se encontra na
faixa de temperatura de 210 a 250 ºC. Este corresponde ao inicio da
55
decomposição térmica (pirólise) das amostras, onde para LK observa-se um
pico exotérmico com um máximo em ~230 ºC e para LKF um pico endotérmico
com mínimo em ~240 ºC. Este pico em LK possivelmente deve estar associado
com a condensação de cadeias de lignina, com a saída de moléculas de água,
ocorrendo simultaneamente com a decomposição térmica da amostra7. O pico
posterior a 300 ºC em LK é similar ao pico de LKF.
Figura 38: Curva DSC para LK e LKF, sob atmosfera de gás nitrogênio.
A microscopia (MEV) da LKF pura,em pó, foi efetuada para
observar as estruturas que esta substância possui em escala micrométrica. É
possível notar que esta amostra apresenta uma grande polidispersidade no
tamanho e na forma das partículas. A Figura 39 (a e b) mostram as
micrografias de LKF em escalas diferentes.
(a)
(b)
Figura 39: Micrografias obtidas por MEV de LKF, com barra de escala de (a) 50 µm e (b) 20
µm.
56
7.4. CONCLUSÕES
Os resultados obtidos pelas espectroscopias FTIR e 1H-RMN
indicam que existem diferenças no teor de grupos funcionais e tipos de
ligações entre as ligninas LK e LKF. Estes espectros mostram que em LK o
teor de grupos guaiacila é maior quando comparado com LKF, e também que
LKF possui maior teor de grupos carbonila e éter do que LK. No espectro 1H-
RMN de LK acetilada está presente o sinal de hidrogênio de grupos acetoxila
enquanto que em LKF não é observada a presença deste sinal. Conclui-se que
na etapa de obtenção de LKF a partir de LK, através de extração com ácido
fórmico, ocorrem reações nas hidroxilas de LK, que podem ser esterificação ou
etereficação. Essas reações podem ocorrer facilmente próximas a temperatura
de ebulição do solvente. O maior teor de ligações do tipo β-β em LKF,
comparado com LK, sugere que esta sofreu reticulação durante o processo de
extração com acido fórmico.
Os termogramas DSC de LK e LKF mostram que existem
diferenças durante o processo de aquecimento das amostras na faixa de
temperatura entre 200 e 250 ºC, sendo que LK apresenta um pico exotérmico
nesta faixa de temperatura. Acima de 270 ºC as reações de pirólise das
amostras são semelhantes.
A perda de massa na TG de LK é maior do que a de LKF até
aproximadamente 720 ºC, contudo acima desta temperatura LKF perde massa
em outra etapa de reação, ficando com massa residual relativamente menor
que LK; esta etapa não é observada em LK.
Pela termogravimetria em atmosfera oxidante observa-se que
toda a amostra de LKF foi consumida, sendo possível afirmar que não existe
resíduo de material inorgânico na amostra de LKF em quantidades detectáveis.
57
8. ESTUDO DO EFEITO DA ADIÇÃO DE LKF AO NÁILON 6 E 6,6;
RADIAÇÃO UV NAS BLENDAS
8.1. OBJETIVO
Preparar filmes de náilon 6 ou náilon 6,6 puros e blendas de
náilon 6/LKF e náilon 6,6/LKF, por casting, com proporções em massa de 0,25;
0,50 e 1,00 % de LKF, utilizando acido fórmico como solvente.
Analisar o efeito da presença de LKF nas propriedades de
filmes de náilon 6 e náilon 6,6 e avaliar o efeito da presença de LKF na
estabilidade fotoquímica dos filmes, com incidência de luz ultravioleta por
determinados períodos de tempo, observando a ocorrência de modificações na
estrutura física e/ou química destes filmes.
8.2. MATERIAIS E EQUIPAMENTOS:
� Lignina kraft (KLABIN - Telêmaco Borba)
� Náilon 6 (ε-policaprolactama) – CAS 25038-54-4 -ALDRICH
� Náilon 6,6 (poli-hexametileno adipamida) – CAS 32131-17-2
-ALDRICH
� Solventes (PA), ácido fórmico 85% - SYNTH
� Agitador magnético acoplado com aquecimento elétrico
� Balança analítica SCIENTECH AS120, precisão 0,0001g -
TECNAL
� Calorímetro diferencial de varredura (SHIMADZU DSC 50)
� Difratômetro de Raios-X (SHIMADZU LABX XRD-6000)
� Espectrofotômetro de infravermelho (FTIR - BOMEM-100)
� Espectrofotômetro ultravioleta visível (BECKMAN DU 70)
� Espectrofotômetro ultravioleta visível (HITACHI U 2000)
� Lâmpada de vapor de mercúrio, 125W, modelo HQ –
OSRAM, sem o bulbo
� Manta de aquecimento
58
� Termobalança (SHIMADZU TGA-50)
� Powermeter COHERENT - Mod. LASERMAT/DLD10
� Microscópio Eletrônico de Varredura (SHIMADZU SS-550
SUPERSCAN)
� Goniômetro CAM-MICRO
8.3. PROCEDIMENTO
8.3.1. PREPARAÇÃO DOS FILMES
Os filmes foram preparados por evaporação do solvente a
partir de 5 mL de solução de náilon 6 ou náilon 6,6, em ácido fórmico, de
concentração 20 g/L. As soluções foram colocadas em placas de petri de 10
cm de diâmetro, para evaporação do solvente em chapa de aquecimento a
uma temperatura próxima a 100 ºC. No caso das misturas os volumes de
solução dos náilons 6 e 6,6 com LKF foram os que forneceram 0,25%; 0,50% e
1,00% em massa de LKF.
8.3.2. IRRADIAÇÃO DAS BLENDAS COM LUZ ULTRAVIOLETA
Os filmes foram irradiados com luz ultravioleta durante 96 horas
com luz de uma lâmpada de vapor de mercúrio com 125 W de potência e 20
mJ/cm2s de fluência. A lâmpada foi fixada a uma distância de 17,0 cm da
superfície do filme em uma câmara com exaustão continua. Este processo foi
realizado a temperatura ambiente.
8.3.3. TÉCNICAS PARA ANÁLISE DE AMOSTRAS DE POLÍMEROS.
Neste trabalho foram utilizadas as seguintes técnicas: FTIR,
TG, DSC, UV-Vis, MEV, XRD e ângulo de contato de avanço.
8.3.3.1. CALORIMETRIA DIFERENCIAL EXPLORATÓRIA - (DSC)
Para esta análise foi utilizada porta amostras de alumínio
contendo aproximadamente 6,0 mg de amostra. Estas foram submetidas a uma
variação de temperatura, da ambiente até 500 oC, com uma taxa de
aquecimento (β) de 10 oC/min e fluxo de nitrogênio de 50 mL/min.
59
8.3.3.2. ANÁLISE TERMOGRAVIMÉTRICA - (TGA)
Aproximadamente 6,0 mg de amostra foram colocadas em um
porta amostras de platina, cada uma destas amostras foi submetida a uma
variação de 30 ºC até 1000 oC, com β igual a 10 oC/min e fluxo de gás
nitrogênio de 50 mL/min.
8.3.3.3. ESPECTROSCOPIA DE ABSORÇÃO NA REGIÃO DO
INFRAVERMELHO
Para a obtenção do espectro das blendas e dos filmes de
náilon puros foram utilizados os filmes. Os espectros foram normalizados pela
razão das áreas sob a curva FTIR-ATR das amostras, usando o espectro de
náilon 6 puro como padrão.
8.3.3.4. ESPECTROSCOPIA DE ABSORÇÃO NA REGIÃO DE
ULTRAVIOLETA-VISÍVEL - (UV-VIS)
Foram preparadas soluções de LKF com concentração 50 mg/L
e das poliamidas puras numa concentração de 20 g/L, todas utilizando o ácido
fórmico como solvente. Os espectros de absorção foram realizados no intervalo
de comprimento de onda (λ) de 200 a 800 nm, com uma velocidade de
varredura de 200 nm/s para as amostras, em uma cubeta de quartzo.
8.3.3.5. MICROSCOPIA ELETRÔNICA DE VARREDURA – (MEV)
As micrografias foram obtidas no Microscópio Eletrônico de
Varredura Shimadzu SSX 550 Superscan, utilizando os filmes irradiados entre
0 e 96 horas, cujas superfícies foram metalizadas com ouro (método sputter), a
face micrografada dos filmes foi a face irradiada.
8.3.3.6. MEDIDAS DE ÂNGULO DE CONTATO DE AVANÇO
Foi colocada uma gota de água com volume de 1 µL sobre a
superfície irradiada dos filmes, o ângulo de contato foi obtido diretamente no
goniômetro. Foram realizadas três medidas para cada amostra.
60
8.3.3.7. DIFRAÇÃO DE RAIOS-X – (DRX)
As análises de difração de raios-X foram obtidas utilizando-se
os filmes de náilon puro e blendas náilon/LKF. Os parâmetros para a leitura da
difração foram de 30 mA, 40 kV e radiação de CuKα (λ =1,542 Å). A leitura 2θ
foi feita de 2º a 80º, com taxa de 2º/min.
8.4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
8.4.1. CARACTERIZAÇÃO DOS POLÍMEROS PUROS
Na Figura 40 são mostradas as análises UV-Vis das soluções
de LKF (50 mg/L), do náilon 6 e do náilon 6,6 (20 g/L). Na solução de LKF se
observa uma máxima absorbância em um comprimento de onda de 281 nm,
com um ombro bem definido em 400 nm, sendo possível notar que a solução
de lignina, mesmo sendo mais diluída que a solução das poliamidas,
aproximadamente 0,25% destas concentrações, absorve com maior
intensidade na região de comprimento de onda entre 200 e 600 nm. Essa maior
absortividade de LKF, mesmo em menor concentração com relação às
poliamidas, ocorre devido ao seu caráter fenólico.
Figura 40: Absorbância de radiação UV-Vis que ocorre nas soluções de lignina e dos náilons 6 e 6,6.
Na Figura 41 são mostradas as análises na região do
infravermelho dos filmes de náilon 6 e 6,6. Observa-se que os filmes puros,
obtidos por casting, apresentaram as bandas de absorção características
destes polímeros. Também pela espectroscopia no infravermelho, temos a
61
possibilidade de avaliar o grau de organização relativo destes sistemas,
comparando as intensidades relativas dos picos entre 890-970 cm-1 e em 1200
cm-1 103,104. Com estas informações podemos afirmar que o náilon 6,6 possui
uma estrutura mais organizada quando comparado ao náilon 6, pois o valor da
razão das intensidades das bandas de absorção nestas regiões de número de
onda são maiores no primeiro.
Figura 41: Representação gráfica das análises IR para filmes de náilon 6 e náilon 6,6, espectros normalizados pela área total do espectro do náilon 6.
Os resultados das análises térmicas DSC, TG e DTG obtidos
para as poliamidas são mostrados na Figura 42. Para o náilon 6 (Figura 42a),
na curva DSC observa-se o pico de fusão em 225 ºC e decomposição térmica
entre 400 e 480 ºC. Na curva TG observa-se uma perda de massa inicial de
aproximadamente 2% ao redor de 90 ºC devido à evaporação de compostos
voláteis. Entre 390 e 480 ºC ocorre a decomposição térmica em uma única
etapa.
Para o náilon 6,6 (DSC da Figura 42b) o pico de fusão aparece
em 266 ºC, sendo que em sua decomposição foi observada a presença de dois
picos entre 350 e 450 ºC, concluído que sua decomposição ocorre em mais de
uma etapa. A perda de massa de material volátil do náilon 6,6, antes dos 100
ºC, também é de aproximadamente 2% da massa inicial.
62
(a)
(b)
Figura 42: Curvas DSC, TG e DTG para (a) filme de náilon 6 e (b) filme de náilon 6,6 puros, sob atmosfera de gás nitrogênio.
Para o filme de náilon 6 a entalpia de fusão (∆Hf) foi de 67 ± 2
J/g, já para náilon 6,6 foi de 64 ± 2 J/g. Foi possível observar a transição vítrea
das amostras dos náilons puros pela análise DSC somente nos filmes
submetidos ao quenching, sendo de aproximadamente 55 ºC.
A análise DRX, cujo difratograma é apresentado na Figura
43(a e b), mostra que as amostras de náilon utilizadas possuem a forma
cristalina α, sendo que o sinal de α1 para o náilon 6,6 é bastante acentuado
com relação à α2, plano paralelo com ligações de hidrogênio formadas entre as
cadeias do polímero. As curvas dos difratogramas foram deconvoluídas para
identificação dos sinais dos respectivos planos cristalográficos nos sistemas.
63
(a)
(b)
Figura 43: Difratograma para (a) filme de náilon 6 e (b) náilon 6,6. A intensidade do maior pico nos filmes foi de 1000 CPS e 4200 CPS, respectivamente; as linhas tracejadas é resultado da deconvolução do difratograma.
8.5. FILMES DE NÁILON 6 E NÁILON 6/LKF
Foram preparadas blendas de náilon 6 com LKF na forma de
filmes, nas composições 0,25%, 0,50% e 1,00% em massa de LKF, bem como
o filme da poliamida pura.
A presença de mais de um pico nos difratogramas dos filmes
(Figura 44), mostra que estes sistemas possuem a forma cristalina α (α1 e α2).
Nesta figura é possível observar, através das diferenças relativas entre as
intensidades dos picos, uma variação quantitativa entre α1 e α2 nos filmes
contendo lignina. Em A200 (0,25 % de LKF em massa no filme de náilon 6)
nota-se uma diminuição da intensidade do pico referente à forma α2 quando
comparado com A100 (filme de náilon 6 puro), e o aparecimento de um pico
referente ao sinal da forma cristalina γ (2θ = 21,5º). Quando o filme possui
0,50% de LKF em massa (A300) ocorre uma diminuição na intensidade dos
picos relativos a forma cristalina α com relação a A100 e A200, no entanto,
nesta concentração não se observa, no difratograma, a presença do pico
referente a forma γ. A amostra contendo 1,00% de LKF em massa de LKF
(A400) manteve praticamente as mesmas intensidades que A300 nos
difratogramas DRX, contudo observa-se a presença do pico referente a forma
γ. O filme A300, apesar de possuir uma fração cristalina menor que A100,
observada pela comparação de intensidade dos picos nos difratogramas DRX,
é o que apresenta maior semelhança quanto à forma cristalina com o filme de
64
náilon 6 puro. A concentração de 0,50% de LKF em massa no náilon 6 foi o
único sistema em que este fenômeno foi observado.
(a)
(b)
(c)
Figura 44: (a) Difratogramas de raios-X dos sistemas Náilon 6/LKF. DRX de (b) A200 e (c) A400, deconvoluído na posição das formas cristalinas do náilon 6.
Para verificar o efeito da presença de lignina na estabilidade
térmica dos filmes de náilon 6/LKF, foi obtida, pelos gráficos da TG, a
temperatura na qual a amostra apresentava 80% da massa inicial para cada
amostra (T80) – Figura 45a -; e através dos gráficos de DTG, a temperatura na
qual a velocidade de reação de pirólise é máxima (Tmáx) – Figura 45b.
Observa-se pelo gráfico que, com a inserção de lignina nos filmes de náilon 6,
ocorre um deslocamento de T80 para temperaturas maiores, porem dentro do
erro instrumental (± 3 ºC). Também é possível deduzir, pelas formas das curvas
DTG do náilon 6, que a pirólise destas amostras ocorre em uma só etapa, e
que a presença de lignina nos filme não desloca Tmáx significativamente.
65
(a)
Figura 45: Curvas (a) TG e (b) DTG de filmes de náilon 6 contendo 0; 0,25; 0,50 e 1,00% de LKF em massa.
A entalpia de fusão (∆Hf) de um polímero está diretamente
relacionada com a energia necessária para fundir a sua fração cristalina,
podendo fornecer informações sobre o teor de cristalinidade de uma
determinada amostra.
Pelos termogramas obtidos das análises DSC dos filmes de
náilon 6, foi possível calcular o ∆Hf destes sistemas. Os valores destas
energias em função da concentração de LKF nos filmes são mostradas no
gráfico da Figura 46. É possível observar uma tendência de diminuição dos
valores de ∆Hf nos filmes contendo LKF, quando comparados à poliamida pura.
66
Esta diminuição está relacionada, provavelmente, com as interações do náilon
6 com LKF desenvolvidas a nível molecular durante a evaporação do ácido
fórmico para a formação dos filmes, diminuindo a fração cristalina dos filmes.
Assim como as análises DSC, os difratogramas DRX mostraram que houve
diminuição na intensidade do pico relativo ao plano cristalino α1 em A200, com
relação a A100, e com o aumento na concentração de lignina, tanto em A300
quanto em A400, a intensidade do pico do plano α2 também diminuiu, no
entanto observa-se uma tendência de aumento na ∆Hf em A400 com relação a
A300, cuja entalpia de fusão do filme com maior concentração de LKF fica
próxima ao valor de A200, sendo que somente nos difratogramas DRX destes
dois sistemas são observados os picos relativos a forma cristalina γ.
Figura 46: Entalpia de fusão (∆Hf) dos filmes de náilon 6, com diferentes proporções de LKF.
Nos termogramas DSC foi observado que a curva relativa a
temperatura de fusão tem um máximo de, aproximadamente, 225 ºC para os
sistemas náilon 6/LKF. Observa-se também que o pico de fusão se torna mais
fino e simétrico com a adição de lignina a blenda, indicando a tendência de
homogeneização na dimensão dos cristais poliméricos dos sistemas, fato este
quantificado pelo parâmetro a/b, onde quanto menor o valor deste parâmetro,
menor a polidispersidade do sistema18. O valor do parâmetro a/b mais alto foi o
do filme de náilon 6 puro, ou seja, foi o sistema que possuiu maior
polidispersidade na dimensão dos cristais. Os valores dos parâmetros de A200
e A400 foram praticamente os mesmos, e o filme de náilon 6 contendo 0,50%
de LKF foi o filme que teve comportamento mais próximo de um sistema
monodisperso, como observado na Figura 47a. A Figura 47b mostra a relação
67
entre o parâmetro a/b dos picos de fusão e o ∆Hf, onde é possível observar que
existe uma relação direta entre estes.
(a)
(b)
Figura 47: (a) parâmetro a/b e (b) a entalpia de fusão (∆Hf) dos filmes de náilon 6, com diferentes proporções de LKF.
As curvas DSC dos filmes de náilon 6/LKF apresentadas na
Figura 48 mostram o intervalo de temperatura onde ocorre transição vítrea dos
sistemas. Esta transição não foi detectada por DSC no náilon 6 puro, cujo ∆Hf
foi maior que nos sistemas contendo lignina, indicando que seu teor de
cristalinidade é maior que nos filmes contendo LKF. A presença de lignina
provoca um aumento da entalpia da transição vítrea, sendo que quando maior
a concentração de LKF, maior esta entalpia, ou seja, ocorre um relativo
aumento da fração amorfa nestes filmes. Observa-se também que a
68
temperatura de transição foi de aproximadamente 67 ºC, não variando muito
com a composição no intervalo estudado.
Figura 48: Curvas DSC para os sistemas náilon 6/LKF contendo 0,25%, 0,50% e 1,00% de LKF em massa, A200, A300 e A400 respectivamente.
As micrografias dos filmes de náilon 6, obtidas por microscopia
eletrônica de varredura – MEV; antes e depois de irradiadas por luz UV durante
96 horas, são apresentadas na Figura 49(a a h). Nessas imagens podemos
observar que a variação no teor de lignina nos filmes modifica as suas
morfologias. Estruturas semi-esféricas são observadas nas imagens da
superfície dos filmes, onde ocorre um aumento do raio destas estruturas com a
adição de lignina. Nos sistemas de náilon 6/LKF, a presença de lignina nos
filmes A300 e A400, mostradas na Figura 49c e Figura 49d, causa a formação
de estruturas cristalinas diferenciadas de forma acicular, sendo que estes
cristais foram observados nas fronteiras entre os esferulitos (Figura 50). Estas
estruturas em nada se parecem com as observadas na Figura 39 (MEV da
amostra de LKF pura).
69
(a)
(e)
(b)
(f)
(c)
(g)
(d)
(h)
Figura 49: Micrografias dos filmes náilon 6 com (a) 0; (b) 0,25%; (c) 0,50% e (d) 1,00% de LKF
em massa (Barra de escala 10 µm) e os respectivos sistemas (e); (f); (g) - escala de 20 µm, e (h) irradiados por 96 H em luz UV.
70
Figura 50: Micrografia do filme náilon 6 com 0,50% em massa de LKF. (Barra de escala 1 µm).
8.6. ANÁLISE DOS FILMES DE NÁILON 6 E NÁILON 6/LKF IRRADIADOS
COM LUZ UV
Os filmes de náilon 6 e náilon 6/LKF obtidos foram irradiados
com luz ultravioleta durante 96 H. Estes filmes, irradiados e não-irradiados,
foram submetidos a análise na região do infra-vermelho (FTIR).
Após submeter os filmes de náilon 6 puro a radiação
ultravioleta, foi observada mudança na forma de algumas bandas do espectro
IR. No espectro do filme de náilon 6 puro irradiado, mostrado na Figura 51, são
observadas diferenças significativas quando comparado com o espectro do
respectivo filme sem irradiar. Nota-se um aumento na intensidade do pico de
absorção em aproximadamente 2940 cm-1, bem como uma variação na forma
do pico em 1720 cm-1 e em 1640 cm-1, sendo o primeiro sinal referente à
presença de estiramento C-H em grupos CH2, o segundo relacionado a
presença de (C=O) e o terceiro a presença de grupos (N-H).
O espectro infravermelho dos filmes de náilon 6 contendo
lignina mostra que, quando se utiliza 0,25% de lignina, não ocorrem mudanças
significativas na forma e/ou na altura dos picos de absorção no filme depois de
irradiado, como mostra a Figura 52. Observa-se uma pequena variação na
forma do pico na região entre 1735–1715 cm-1, no entanto esta mudança é
menor que no filme de náilon 6 puro. Os filmes contendo 0,50% e 1,00% em
massa de LKF mostraram a mesma tendência que o filme contendo 0,25% de
LKF.
71
(a) (b) (c)
Figura 51: Espectros FTIR para A100 e A196, nas regiões do espectro infravermelho compreendidas entre (a) 2980-2900 cm-1, (b) 1735-1715 cm-1 e em (c) 1670-1600 cm-1.
(a) (b) (c)
Figura 52: Gráfico das análises ATR para A200 e A296, nas regiões do espectro infravermelho compreendidas entre (a) 2980-2900 cm
-1, (b) 1735-1715 cm
-1 e em (c) 1670-1600 cm
-1.
O espectro FTIR da amostra A100 mostrou-se diferente de
A200, Figura 51 e Figura 52 respectivamente, principalmente nas curvas
relativas aos grupos metileno e amina, indicando uma possível interação
intermolecular entre a lignina e o náilon 6 nos filmes. Na Figura 53 são
mostrados os difratogramas DRX de amostras, correspondentes ao (a) náilon 6
puro, náilon 6 contendo: (b) 0,25% de lignina e (c) 1,00% de lignina, antes e
depois de irradiadas com luz UV. No caso do náilon 6 puro a intensidade dos
picos diminui significativamente com a irradiação, indicando diminuição na
cristalinidade. Este efeito é atenuado com a presença de lignina e, no caso dos
filmes com maior teor de lignina (0,50 e 1,00%) os difratogramas praticamente
coincidem, ou seja, nestas concentrações de LKF o náilon 6 exposto a radiação
UV não sofre mudança na cristalinidade. Entretanto no sistema contendo
0,50% de lignina em massa observa-se o aparecimento do pico relativo a forma
cristalina γ do náilon 6.
72
(a) (b)
(c) (d)
Figura 53: (a) Difratogramas dos sistemas náilon 6 puro sem irradiar (A100) e irradiado com luz UV durante 96 H (A196); (b) náilon 6 com 0,25% de LKF em a massa, sem irradiar (A200) e irradiado com luz UV durante 96 H (A296); (c) náilon 6 com 0,50% de LKF sem irradiar (A400) e irradiado (A496)e (d) náilon 6 com 1,00% de LKF sem irradiar (A400) e irradiado (A496), intensidade em unidades arbitrárias.
Observando a Figura 54, onde a altura da barras corresponde
à temperatura de fusão dos filmes não irradiados e dos mesmos irradiados com
luz UV, nota-se que, ao se inserir LKF no náilon 6, a temperatura de fusão
diminui em aproximadamente 1,0 ºC. Como conseqüência da irradiação, nestes
filmes a temperatura de fusão do náilon 6 também diminui e a tendência desta
variação ser menor conforme aumenta o teor de LKF. Entre A100 e A196 a
variação da temperatura de fusão é de aproximadamente 2,5 ºC e entre A400 e
A496 de 1,0 oC.
Figura 54: Temperatura de fusão dos filmes de náilon 6/LKF em proporções de (A1) 0%, (A2) 0,25%; (A3) 0,50% e (A4) 1,00% em massa de LKF, expostos em diferentes tempos sob luz ultravioleta.
73
A entalpia de fusão dos filmes de náilon 6 e náilon 6/LKF
também mostrou variações em seus valores devido à irradiação. É possível
relacionar estas variações com as prováveis mudanças nos sistemas cristalinos
dos filmes, como formação ou cisão de ligações na estrutura molecular dos
polímeros, modificação de grupos funcionais e destruição de parte da estrutura
cristalina das amostras. O filme contendo 0,50% de lignina foi o que teve uma
menor variação de ∆Hf, como mostra a Tabela 9.
Tabela 9: Calor de fusão de náilon 6 puro e com LKF, em filmes irradiados por radiação UV, em
diferentes tempos. Os ∆Hf são dados em Joule por grama de náilon 6.(∆Hf; erro = ± 2 J/g)
Amostra 0 Horas 24 Horas 48 Horas 96 Horas
A1 67 65 70 72
A2 63 64 66 59
A3 60 61 58 62
A4 65 60 56 61
Os resultados do parâmetro a/b obtidos dos filmes de náilon 6,
sem irradiar e depois de irradiados, são apresentados na Tabela 10, observa-
se que os filmes contendo 1,00% de lignina tiveram valores que praticamente
não mudaram após a exposição à luz ultravioleta. Os sistemas com menor
quantidade de LKF adquiriram maior heterogeneidade na dimensão dos cristais
depois de irradiados. Esta variação na dimensão dos cristais, principalmente no
náilon 6 puro e na blenda com 0,25% de LKF, pode estar ocorrendo devido a
cisão e/ou coalescência das estruturas cristalinas devido a modificação na
estrutura química dos filmes, fenômeno este observado pelos espectros FTIR .
Tabela 10: Parâmetro a/b avaliado no pico de fusão de curva DSC de filmes de náilon 6 com lignina, irradiados com luz UV em diferentes intervalos de tempo.
Amostra 0 Horas 24 Horas 48 Horas 96 Horas
A1 1,7 1,6 2,3 2,2
A2 1,5 1,8 1,7 1,8
A3 1,3 2,2 2,1 2,1
A4 1,5 1,5 1,4 1,4
As micrografias da Figura 49 mostram que, ao menos na
superfície, o filme de náilon 6 puro parece ter sido modificado com maior
intensidade, depois de 96 horas de exposição a radiação UV, em comparação
com as blendas, onde estruturas esferulíticas da superfície dos filmes se
74
tornam mais visíveis. Este fenômeno pode ser atribuído devido ao
desaparecimento da fração amorfa que revestia a superfície do filme, fato que
pode ter sido ocasionado devido degradação fotoquímica causada pela
incidência de luz ultravioleta no filme. Este fenômeno está ilustrado pelo
esquema da Figura 55 (a a d). No caso dos filmes contendo a 0,25% e 1,00%
em massa de LKF, observa-se o aparecimento de fendas entre os esferulitos
de modo semelhante. 105
(a)
(b)
(c)
(d)
Figura 55: Esquema da degradação fotoquímica da superfície de um filme Náilon 6/LKF, conhecida como fotodecomposição ablativa. (a) esferulitos recobertos com fase amorfa; (b) incidência de luz UV na superfície do filme; (c) liberação de produtos formados pela fotodegradação e (d) esferulitos expostos na superfície do filme
37.
Com o objetivo de correlacionar os resultados do parâmetro a/b
com a curva de fusão das amostras, foi realizada deconvolução da curva deste
evento no termograma DSC Figura 56(a a f). Nestes termogramas é observada
a presença de um ombro no pico de fusão, fenômeno comum em análises DSC
de poliamidas. A presença deste ombro em temperaturas abaixo de 225 ºC
(temperatura de fusão da forma cristalina α) ocorre devido a formação da
formas cristalina γ106, assim como ao processo de fusão e recristalização de
cristais imperfeitos durante o processo de aquecimento.107,108 Nestes sistemas
são observadas diferenças entre a forma e a intensidade das curvas
deconvoluídas dos picos de fusão.
75
(a)
(e)
(b)
(f)
(c)
(g)
(d)
(h)
Figura 56: Termogramas experimentais, curvas deconvoluídas e a resultante da soma das curvas deconvoluídas (C1 e C2) dos picos de fusão de (a) A100; (b) A200; (c) A300 (d) A400 – filmes sem irradiar – e (e) A196; (f) A296; (g) A396 (h) A496 – filmes irradiados por luz UV
durante 96 H; curva C1, fusão/recristalização de pequenos cristais – forma cristalina γ, curva
C2, fusão da forma cristalina α.
76
No termograma DSC de todos os filmes é observada a
presença do ombro abaixo de 225 ºC.
A Figura 57 apresenta um gráfico da razão entre as curvas
deconvoluídas C1 (relativa à fusão da forma γ) e C2 relativa à fusão da forma
α), para verificar a proporção destas estruturas no sistema. No filme de náilon 6
contendo 0,50% de LKF em massa, sem irradiar (A300),observa-se o valor
desta razão próximo a 1, sendo esta amostra foi que apresentou também o
menor valor do parâmetro a/b, no entanto esta amostra foi a que mais sofreu
variação no valor desta razão após irradiado, isto é, após irradiado houve um
aumento relativo no teor da forma cristalina γ, fato este observado nos
difratogramas DRX apresentados na Figura 53. Não foram observadas,
proporcionalmente, diferenças significativas na razão entre curvas
deconvoluídas C1 e C2 do pico de fusão dos filmes de náilon 6 contendo
1,00% de LKF, antes e depois de irradiados.
Figura 57: Razão entre as curvas deconvoluídas (C1/C2) do pico de fusão dos sistemas náilon 6 com diferentes proporções de LKF, antes e depois de irradiados com luz UV por 96 H.
Para avaliar mudanças na superfície dos filmes de náilon 6 na
presença de LKF e devido a irradiação, foi também medido o ângulo de contato
de avanço. Os resultados obtidos se encontram na Figura 58.
Com relação ao teor de LKF nos filmes não irradiados
observamos θ entre 36º e 37º para os filmes com até 0,50% de LKF, sendo que
no filme contendo 1,00% de LKF este ângulo aumenta para aproximadamente
45º, indicando uma superfície mais hidrofóbica. Este fenômeno ocorre
provavelmente devido aos grupos funcionais responsáveis pela formação das
77
interações de hidrogênio poliamidas/lignina ficar indisponíveis para interações
com a água. Os filmes com teor de LKF abaixo de 1,00% depois de irradiados
tiveram um aumento no ângulo de contato, com relação aos filmes sem irradiar,
indicando que houve modificação química e/ou física na superfície do filme; a
mudança na estrutura química com a incidência de luz UV também foi
verificada no espectro FTIR do náilon 6 puro. No filme de náilon 6 com 1,00%
de LKF em massa não é observada diferença do ângulo de contato da gota de
água com filme antes e depois de irradiado.
Figura 58: Valores dos ângulos de contato da gota de água em filmes de náilon 6/LKF, em diferentes proporções de LKF, e dos mesmos após 96 H de exposição a luz UV.
8.7. QUENCHING DOS SISTEMAS NÁILON 6, E NÁILON 6/LKF
As poliamidas, quando resfriadas rapidamente a partir de seu
estado fundido (quenching), tendem formar principalmente fase amorfa,
Observa-se no DSC do filme arrefecido um evento de pré-cristalização
precedente a sua fusão.
Nas amostras de náilon 6 pura, e com 1,00% de LKF, foi
realizado esse resfriamento rápido em nitrogênio líquido, com o objetivo de se
avaliar o efeito da lignina na cristalização da poliamida a partir de seu estado
amorfo. Estes filmes foram submetidos posteriormente a análises DSC, cujos
termogramas são representados na Figura 59.
Observa-se que no náilon 6 com lignina (A400q) o pico
exotérmico devido ao evento de pré-cristalização (∆Hc) está mais pronunciado
78
quando comparado ao náilon 6 puro (A100q), confirmando que a lignina pode,
durante este evento, induzir cristalinidade na amostra arrefecida. A entalpia de
fusão do sistema que não possuía LKF foi de 77 J/g, já no filme contendo
1,00% a entalpia foi de 82 J/g, uma diferença não significativa, já que o erro
estimado para esta análise foi de ± 2 J/g.
(a)
(b)
(c)
Figura 59: Termogramas DSC do (a) náilon 6 puro e com 1,00% de LKF (A100q e A400q respectivamente). Deconvolução da curva de fusão de (b) A100q e (c) A400q; onde as amostras foram submetidas a resfriamento instantâneo em nitrogênio liquido (quenching).
Também foi observada a presença de um ombro no pico de
fusão da amostra A400q, que não é observado em A100q. Este ombro
provavelmente esta relacionado com a formação de um sistema mais
79
polidisperso, com a presença pronunciada da forma γ no sistema, induzida pela
presença de lignina durante o arrefecimento do filme. Também foi realizada
deconvolução da curva de fusão dos sistemas A100q e A400q (Figura 59a e
Figura 59b), onde é observado que a curva deconvoluída C2, referente a fusão
da forma cristalina α, é relativamente maior em A100q, no entanto a ∆Hf é
maior em A400q, indicando que a lignina pode ter induzido a cristalinidade no
filme.
No termograma DSC da Figura 59a também se observou um
deslocamento do inicio do pico de degradação do sistema contendo lignina,
que ocorre em 340 ºC para o náilon 6, para uma maior temperatura, sendo que
para a blenda de náilon 6 este deslocamento foi de aproximadamente 55 ºC,
com relação a A100q.
80
8.8. ANÁLISE DOS FILMES DE NÁILON 6,6 E NÁILON 6,6/LKF
Foram preparados filmes de náilon 6,6 e de blendas náilon
6,6/LKF, com 0,25%, 0,50% e 1,00% em massa de LKF, No estudo destas
amostras foram utilizadas as técnicas de FTIR, DSC, TG, MEV, DRX e
medidas de ângulo de contato de avanço (como no sistema náilon 6/LKF).
Na Figura 60 são mostrados resultados de FTIR. A intensidade
dos picos em 1200 cm-1 e 1180 cm-1 permite avaliar a cristalinidade de náilon
6,6, sendo que quanto maior o valor da razão A1200/A1180 maior o grau de
cristalinidade.109 Desta forma foi possível observar que com a adição de lignina
a cristalinidade do náilon 6,6 tende a diminuir.
(a)
(b)
Figura 60: Gráfico das análises FTIR experimentais para B100 (Náilon 6,6 puro), B200, B300 e B400 nas regiões de infravermelho compreendidas entre (a) 1210-1130 cm
-1 e (b) valor da
razão entre os picos de ~1200 cm-1
por 1180 cm-1
.
As análises DRX das blendas de náilon 6,6 com lignina,
apresentadas nos difratogramas da Figura 61(a a c) comprovam a modificação
81
do teor da forma cristalina α, principalmente no plano cristalográfico αI, em
comparação com o filme da poliamida pura.
(a)
(b)
(c)
Figura 61: (a) Difratogramas dos sistemas Náilon 6,6/LKF. Difratograma de (b) B200 e (c) B400, em mesma escala de intensidade, deconvoluído na posição dos planos cristalográficos
αI (2θ ≈ 20,5º) e αII (2θ ≈ 24,0º) do náilon 6,6.
A redução do teor da fração cristalina das amostras contendo
lignina, evidenciada na diminuição da intensidade do pico em
aproximadamente 20,5º, relativo ao plano α1, plano perpendicular às ligações
de hidrogênio no cristal do náilon 6,6. Este fenômeno evidência que LKF
interage com o náilon 6,6 principalmente através de forças de Van der Waals
entre as partes apolares destas estruturas, dificultando a formação de planos
paralelos entre as cadeias de náilon (plano α1). Contudo, a cristalinidade total
da amostra contendo 1,00% de LKF tende aumentar levemente em
comparação com os outros filmes que contem LKF em sua composição, como
mostram os difratogramas de B200 e B400, Figura 61b e Figura 61c
respectivamente, indicando que com o aumento da concentração de lignina
existe a possibilidade de indução na cristalinidade das amostras.
82
Por termogravimetria, na etapa principal de degradação do
náilon 6,6 observam-se pequenos deslocamentos da curva devidos a adição de
LKF (Figura 62a), e as correspondentes curvas DTG (Figura 62b) sugerem
ocorrência de várias etapas de degradação. No caso dos filmes contendo mais
que 0,25% de LKF notam-se o deslocamento de T80 para temperaturas
maiores, como observado na Figura 62a, indicando aumento de estabilidade
térmica nos sistemas contendo 0,50% e 1,00% de lignina, provavelmente
devido à interação entre os polímeros da blenda. Nos gráficos DTG destes
mesmos sistemas (Figura 62b) observa-se que o perfil do pico de degradação
torna-se diferente com relação ao do náilon 6,6 puro, e que o pico da etapa
principal deste evento se desloca para temperatura menor em
aproximadamente 15 ºC.
(a)
(b)
Figura 62: Termogramas (a)TG e (b)DTG de filmes de náilon 6,6 contendo 0; 0,25; 0,50 e 1,00% de LKF em massa.
83
No gráfico da Figura 63a pode-se observar que o filme de
náilon 6,6 com 0,50% de LKF foi o que possui o comportamento de um filme
dimensionalmente mais homogêneo (monodisperso), pois teve o menor valor
do parâmetro a/b. Pelo gráfico da Figura 63b, que relaciona a variação de
entalpia com o parâmetro a/b, é possível observar que nos filmes de náilon 6,6
contendo lignina, o valor parâmetro a/b aumenta diretamente com o valor da
∆Hf. O filme de náilon 6,6 puro, que teve o valor de sua entalpia de fusão
menor que B200 e B400, possui o valor do parâmetro a/b mais alto (mais
polidisperso). Isto ocorre provavelmente devido ao filme de náilon 6,6 puro
possuir cristais menores e mais imperfeitos110 que os sistemas contendo
lignina. Nestes sistemas a LKF pode estar homogeneizando o tamanho e a
forma dos cristais nos filmes, dificultando a formação da interação entre os
planos referentes a αI em detrimento a αII, fato este verificado pelas análises
DRX.
(a)
(b)
Figura 63: (a) parâmetro a/b e (b) sua com a entalpia de fusão (∆Hf) dos filmes de náilon 6,6, com diferentes proporções de LKF.
84
A temperatura de transição vítrea do filme de náilon 6,6 puro
não foi observada no termograma DSC, somente nos termogramas dos filmes
contendo lignina as Tgs das blendas apareceram. Pelo termograma DSC
apresentado na Figura 64 pode se notar que o filme que possui maior
concentração de lignina tem o início da transição vítrea deslocada para
temperaturas relativamente mais altas.
Figura 64: Termograma DSC para os sistemas náilon 6,6/LKF contendo 0,25%; 0,50% e 1,00% de LKF em massa, B200, B300 e B400 respectivamente.
As micrografias dos sistemas náilon 6,6/LKF, apresentados na
Figura 65(a a d) mostram que a presença de lignina modifica a morfologia dos
filmes, aumentando os raios dos esferulitos.
Nas composições intermediárias, B200 e B300, observa-se que
a superfície dos filmes tem morfologias semelhantes, de acordo com a
micrografia apresentada na Figura 66. No filme B400 observa-se também a
presença de alguns cristais de formas distintas.
85
(a) (e)
(b)
(f)
(c)
(g)
(d)
(h)
Figura 65: Micrografias dos filmes náilon 6,6 com (a) 0; (b) 0,25%; (c) 0,50% e (d) 1,00% de
LKF em massa (Barra de escala 10 µm) e os respectivos sistemas (e); (f); (g) - escala de 20
µm, e (h) irradiados por 96 H em luz UV.
86
Figura 66: Micrografia do filme náilon 6,6 com 1,00% em massa de LKF. (Escala: 5 µm).
8.9. ANÁLISE DOS FILMES DE NÁILON 6,6 E NÁILON 6,6/LKF
IRRADIADOS COM LUZ UV
Na morfologia da superfície dos filmes de náilon 6,6,
apresentados nas micrografias da Figura 65, é observado que o filme que
permaneceu com a superfície praticamente inalterada foi aquele que continha
0,25% de lignina em massa, no entanto nota-se o aparecimento de algumas
fendas em sua morfologia. Os demais filmes contendo lignina tiveram,
visualmente, modificações na sua superfície, como a presença de esferulitos
mais definidos, provavelmente devido à fotodegradação ocorrida na parte
amorfa da superfície dos filmes contendo 0,50% e 1,00% de LKF.
Os espectros FTIR dos filmes de náilon 6,6 (Figura 67)
mostraram que quando o filme é exposto a radiação ultravioleta, durante 96 H,
tende a aumentar relativamente a intensidade de sinal em 2940 cm-1 (CH2), em
1720 cm-1 (C=O). Observa-se que, além de ocorrer variação na forma do pico,
existe um aumento significativo da intensidade do sinal de carbonila; e em
aproximadamente 1640 cm-1 (NH2) também se observa um aumento de
intensidade de um ombro encontrado naquela região, indicando modificação
química nos filmes sem lignina.
Para os filmes de Náilon 6,6 com 0,50% de lignina, em massa,
as diferenças dos espectros infravermelhos, dos filmes irradiados com UV e os
não irradiados, foram menos intensas quando comparados com os espectros
filmes de náilon 6,6 puros, os gráficos dos espectros IR de B300 e B396, nas
regiões de interesse, são mostrados na Figura 68.
87
(a) (b) (c)
Figura 67: Gráfico das análises FTIR para B100 e B196, nas regiões do espectro infravermelho compreendidas entre (a) 2980-2900 cm
-1, (b) 1735-1715 cm
-1 e em (c) 1650-1600 cm
-1.
Nos filmes contendo 0,25% e 1,00% de LKF, depois de
irradiados, também não foram observadas modificações intensas na forma
destas curvas, nas regiões de absorção entre 2970-2920 cm-1; 1735-1715 cm-1
e 1650-1600 cm-1, quando comparados com o filme de náilon 6,6 puro.
(a)
(b)
(c)
Figura 68: Gráfico das análises FTIR para B300 e B396, nas regiões do espectro infravermelho compreendidas entre (a) 2970-2920 cm
-1, (b) 1735-1715 cm
-1 e em (c) 1650-1600 cm
-1.
Comparando os espectros de B100 com B300 das Figura 67 e
Figura 68, respectivamente, pode-se observar que a presença de lignina nos
filmes modifica a forma das curvas relativas aos grupos metileno e carbonila,
indicando interação entre os dois polímeros.
Depois de irradiados por luz UV, os sistemas de náilon 6,6/LKF
sofreram perturbação em seus planos cristalográficos, como mostra os
difratogramas apresentados na Figura 69(a a c). Estas modificações
pareceram ocorrer com menor intensidade no filme contendo maior teor de
88
lignina, ou seja, quanto maior a concentração de lignina no sistema, menor a
mudança observada entre os difratogramas dos filmes irradiados e não
irradiados, principalmente no pico em 24º. No entanto o filme contendo 0,25%
de LKF em massa teve sua cristalinidade afetada de modo bastante intenso
quando comparados com o filme de náilon 6,6 puro.
(a) (b)
(c) (d)
Figura 69: (a) Difratogramas dos sistemas náilon 6,6 puro sem irradiar (B100) e irradiado com luz UV durante 96 H (B196); (b) náilon 6,6 com 0,25% de LKF em a massa, sem irradiar (B200) e irradiado com luz UV durante 96 H (B296); (c) náilon 6,6 com 0,50% de LKF sem irradiar (B400) e irradiado (B496) e (d) náilon 6,6 com 1,00% de LKF sem irradiar (B400) e irradiado (B496), intensidade em unidades arbitrárias.
Os filmes contendo até 0,25% de LKF foram os que tiveram
uma maior variação na temperatura de fusão entre os filmes antes e depois de
irradiados, aproximadamente 2,5 ºC; nos sistemas contendo 0,50% ou mais de
lignina em massa esta variação tendeu a diminuir para cerca de 1,0 ºC, como
mostra o gráfico da Figura 70, sendo que a menor variação ocorreu nos filmes
com 0,50% de LKF.
89
Figura 70: Temperatura de fusão dos filmes de náilon 6,6/LKF em proporções de (a) 0%, (b) 0,25%; (c) 0,50% e (d) 1,00% em massa de LKF, expostos em diferentes tempos sob luz ultravioleta.
A Tabela 11 mostra os valores de ∆Hf dos filmes de náilon 6,6
puro e com LKF. Observa-se que os valores da entalpia de fusão do náilon 6,6
puro tende a aumentar com a exposição de luz UV, ou seja, a fração amorfa do
filme de náilon 6,6 puro esta sofrendo degradação UV com maior intensidade
que a fração cristalina; já os filmes contendo lignina tende a sofrer uma
diminuição da entalpia de fusão. O filme cuja entalpia de fusão permaneceu
constante por mais tempo, depois de diferentes tempos de exposição sob luz
UV, foi o sistema contendo 0,25% de LKF.
Tabela 11: Calor de fusão de náilon 6 puro e com LKF, em filmes irradiados por radiação UV,
em diferentes tempos. Os ∆Hf são dados em Joule por grama de náilon 6,6.(∆Hf; erro = ± 2 J/g)
Amostra 0 Horas 24 Horas 48 Horas 96 Horas
B1 64 67 67 69
B2 66 66 66 60
B3 61 58 53 59
B4 67 60 55 55
Os valores calculados do parâmetro a/b para os filmes de
náilon 6,6 e náilon 6,6/LKF, que indicam a polidispersidade de um sistema, são
apresentados na Tabela 12. Novamente observa-se que o sistema que teve
maior valor foi o do náilon puro não irradiado, ou seja, com presença de cristais
de forma/tamanho diferentes; e o filme com maior homogeneidade entre os
cristais foi o filme contendo 0,50% de LKF em massa sem irradiar, no entanto,
considerando os valores deste parâmetro somente nos sistemas irradiados de
90
24 a 96 H; 3ª, 4ª e 5ª colunas da Tabela 12, os filmes que foram menos
influenciados pela radiação UV neste parâmetro foram os contendo 0,25% e
0,50% em massa de LKF.
Tabela 12: Parâmetro a/b avaliado no pico de fusão de curva DSC de filmes de náilon 6,6 com
lignina, irradiados com luz UV em diferentes intervalos de tempo. (erro = ± 0,1)
Amostra 0 Horas 24 Horas 48 Horas 96 Horas
B1 1,8 1,5 1,8 1,6
B2 1,5 1,8 1,8 1,8
B3 1,4 1,6 1,5 1,6
B4 1,6 1,5 1,8 1,5
Praticamente todos os filmes tiveram variação quanto à forma
do pico de fusão quando os filmes foram submetidos à exposição de luz UV,
como se observa nos gráficos da Figura 71. A deconvolução do pico de fusão
da curva DSC dos sistemas náilon 6,6 puro e náilon 6,6/LKF com 0,25% e
1,00%, irradiados e não irradiados, são apresentados na Figura 71(a a h). A
curva deconvoluída do pico de fusão, denominada C1, é encontrada em
temperatura menor, este fato deve ocorrer devido ao fenômeno de
recristalização de cristais menores e/ou imperfeitos. A curva C2, deconvoluída
do pico de fusão, aparece em temperatura maior ocorre devido à fusão
cristalina total do sistema.
Observa-se, pelo gráfico da Figura 72, que a razão C1/C2 das
curvas de fusão dos filmes, fato que pode esta indicando que a presença de
lignina altera relativamente às dimensões entre os cristais nos sistemas. A
inserção de LKF (0,25% e 0,50%) nestes filmes favorece a formação de
estruturas cristalinas mais regulares (filme mais homogêneo), como mostrou o
parâmetro a/b. No entanto, no filme de maior concentração de LKF em massa
nota-se novamente o favorecimento da formação de cristais com
dimensões/formas irregulares.
Entre os filmes irradiados durante 96 H com luz ultravioleta, o
sistema onde ocorreu menor variação entre a forma dos picos de fusão, bem
como a razão C1/C2, foi o que possuía 0,50% de lignina em massa. Nos
demais filmes contendo lignina notam-se visivelmente a inversão entre os as
91
curvas, indicando maior influência desta radiação na estrutura cristalinas dos
sistemas.
(a) (e)
(b)
(f)
(c) (g)
(d)
(h)
Figura 71: Termogramas e curvas deconvoluídas dos picos de fusão de (a) B100; (b) B200; (c) B300; (d) B400 – filmes sem irradiar – e (e) B196; (f) B296; (g) B396; (h) B496 – filmes irradiados por luz UV durante 96 H.
92
Figura 72: Razão entre as curvas deconvoluídas (C1/C2) do pico de fusão dos sistemas náilon 6,6 com diferentes proporções de LKF, antes e depois de irradiados com luz UV por 96 H.
Os valores dos ângulos de contato da gota de água na
superfície do náilon 6,6, mostrados na Figura 73, mostram um aumento deste
ângulo quando o teor de lignina ultrapassa 0,25% de LKF em massa. Este fato
provavelmente deve ocorrer devido à lignina estar interagindo através de
ligações de hidrogênio com o náilon 6,6, deixando os grupos funcionais
responsáveis por este tipo de ligação indisponível para interagir com a água.
Nos filmes irradiados os valores dos ângulos são maiores, ou seja, os filmes
irradiados possuem menor interação com a água, devido a modificação na
estrutura física e química da superfície dos filmes causados pela luz UV.
Entretanto com o aumento da concentração de LKF, a tendência é de igualar
os ângulos de contato entre os filmes antes e depois de irradiados,
permanecendo praticamente o mesmo quando o teor de lignina é 1,00%,
devido ao efeito anti-foto-oxidante que a LKF deve estar conferindo ao filmes
de náilon 6,6 nesta concentração.
Figura 73: Valores dos ângulos de contato da gota de água em filmes de náilon 6,6/LKF, em diferentes proporções de LKF, e dos mesmos após 96 H de exposição à luz UV.
93
8.10. QUENCHING DOS SISTEMAS NÁILON 6,6 E NÁILON 6,6/LKF
Na análise DSC do náilon 6,6 submetido a um resfriamento
rápido em nitrogênio líquido, a energia liberada para a reorganização no estado
cristalino, a energia de pré-cristalização (∆Hc), foi praticamente à mesma nos
dois sistemas (B100q e B400q), fato observado na Figura 74.
Os valores do ∆Hf para os filmes B100q e B400q foram
respectivamente 92 e 68 J/g, com erro estimado foi de ± 2 J/g, com estes
dados pode dizer que LKF dificultou a formação da fase cristalina em B400q
durante o resfriamento.
(a)
(b)
(c)
Figura 74: Termogramas DSC do náilon 6,6 puro e com 1,00% de LKF (B100q e B400q respectivamente), Deconvolução da curva de fusão de (b) B100q e (c) B400q; onde as amostras foram submetidas a resfriamento instantâneo em nitrogênio liquido (quenching).
As curvas de fusão, em ambos os sistemas, foram
deconvoluídas em C1 e C2, a razão entre as áreas destas curvas foram de 1,5
para B100q e 2,5 para B400q (erro = ± 2). A razão C1/C2 foi menor em B100q,
94
este fato pode estar ocorrendo devido à maior homogeneidade quanto ao
tamanho dos cristais. Este fato leva a crer que em B400q a lignina deve estar
favorecendo formação de cristais com dimensões distintas, ou seja, formando
sistemas com maior polidispersidade.
Nos termogramas DSC do náilon 6.6 e de sua blenda com LKF,
ambos quenchiados, também foi observado uma diferença no inicio da curva
de degradação dos sistemas. Para a blenda, este fenômeno ocorreu em
temperatura de aproximadamente 20 ºC maior, ou seja, a lignina estabilizou o
sistema com relação ao inicio de sua degradação térmica. O pico de
degradação das duas amostras apresenta superposição de, no mínimo, dois
picos, indicando que este processo deve acontecer em mais de uma etapa.
95
8.11. CONCLUSÕES
Neste trabalho foi incorporado até 1% de LKF em filmes de
náilon 6 e náilon 6,6 e estudado, nestas amostras, o efeito da incorporação da
lignina bem como o efeito da exposição à radiação UV por 24, 48 e 96 H.
As análises termogravimétricas mostraram que os filmes das
duas poliamidas contendo LKF ficaram termicamente mais estáveis até em
20% de perda de massa (T80).
A adição de LKF deve alterar a organização dos planos
cristalinos das duas poliamidas. No náilon 6 foi detectada mais de uma forma
cristalina por análises DRX. A adição de LKF contribui com a diminuição do
pico em θ = 24º, referente ao plano α2, seguido de uma diminuição de α1
quando se aumenta a concentração de LKF, nestas análises também se
observa aparecimento da forma cristalina γ com a incorporação de lignina. No
náilon 6,6 os resultados das análises DRX mostram a existência dos planos
cristalográficos α1 e α2, contudo com a adição de LKF nos sistemas, ocorre
diminuição significativa do sinal referente ao plano α1, em θ = 20º. A mudança
da cristalinidade dos sistemas de náilon 6,6 também pode ser confirmada a
partir de dados obtidos por FTIR.
Os sistemas de náilon contendo LKF se mostraram mais
monodispersos segundo análise do parâmetro a/b e razão entre as curvas
deconvoluídas do pico de fusão das amostras obtidos por análises DSC.
Os filmes de náilon contendo as maiores concentrações de
LKF mostraram sua superfície mais hidrofóbica através de medidas de ângulo
de contato de avanço da gota de água, provavelmente devido a interações a
nível molecular entre a lignina e as poliamidas, interações essas observadas
por espectrometria FTIR.
Também, pelos espectros FTIR, pode-se observar que os
filmes das poliamidas puras foram os que mais sofreram modificações em
alguns grupos funcionais depois de irradiados com luz UV, não foram
observadas mudanças significativas nos espectros FTIR relativos a estes
mesmos grupos nos sistemas contendo LKF.
96
Pelos difratogramas DRX dos sistemas náilon 6/LKF e náilon
6,6/LKF com concentração de lignina maior que 0,25% em massa, foi
observado que a lignina atenua a modificação dos picos α1 e α2, ou seja,
protege as estruturas do efeito da radiação ultravioleta. Este efeito da LKF
proteger o náilon 6 e o náilon 6,6 da degradação fotoquímica também foi
confirmado por análises de FTIR e pelo estudo da forma, da razão das curvas
deconvoluídas C1/C2 e do parâmetro a/b dos picos de fusão obtidos por
análises DSC.
Nas curvas de DSC somente foi detectada a transição vítrea
dos polímeros nas amostras que contem LKF. O menor valor da entalpia de
fusão dos sistemas contendo LKF indicou menor cristalinidade nestes filmes
quando comparado aos polímeros puros. O mesmo foi observado através das
micrografias, obtidas por MEV, através do aumento dos raios dos esferulitos
com a inserção de LKF nas poliamidas, sendo que a lignina pode ter agido
como um inibidor de cristalização deixando os filmes com maior fração amorfa.
Os filmes A400, B300 e B400, que possuem os teores mais
altos de lignina, tiveram os valores dos ângulos de contato com a água muito
próximos, mesmo depois de irradiados por UV durante 96 H, ou seja, ao menos
quimicamente a superfície dos filmes foi pouco modificada. Os filmes de náilon
6 e 6,6 contendo entre 0,25 e 0,50% de LKF em massa, pelas leituras de
ângulos de contato, aparentemente foram os sistemas tiveram sua superfície
menos afetada pela radiação UV quando comparando com os valores dos
ângulos de contato poliamidas puras.
97
9. REFERÊNCIAS
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