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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO SERIDÓ – CAMPUS DE CAICÓ
DEPARTAMENTO DE GEOGRAFIA
TONIVALDO ANTÔNIO DE MEDEIROS JUNIOR
O FUTEBOL NA PRODUÇÃO DO ESPAÇO URBANO DE
CURRAIS NOVOS/RN
Caicó – RN
2017
Tonivaldo Antônio de Medeiros Junior
O FUTEBOL NA PRODUÇÃO DO ESPAÇO URBANO DE CURRAIS NOVOS/RN
Monografia apresentada ao Departamento de Geografia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte – CERES, como parte dos requisitos necessários para a obtenção do título Bacharel em Geografia.
Orientadora: Profa. Dra. Jeane Medeiros Silva.
Caicó – RN
2017
Medeiros Junior, Tonivaldo Antônio de. O futebol na produção do espaço urbano de Currais Novos/RN /Tonivaldo Antônio de Medeiros Junior. - Caicó: UFRN, 2017. 73f.: il.
Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Centro de EnsinoSuperior do Seridó, Curso de Geografia Bacharelado. Orientadora: Ms. Jeane Medeiros Silva.
1. Espaço Urbano. 2. Futebol. 3. Currais Novos/RN. I. Silva,Jeane Medeiros. II. Título.
RN/UF/BS-Caicó CDU 911.375.1(813.2)
Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRNSistema de Bibliotecas - SISBI
Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial Profª. Maria Lúcia da Costa Bezerra - CERES-Caicó
Tonivaldo Antônio de Medeiros Junior
O FUTEBOL NA PRODUÇÃO DO ESPAÇO URBANO DE CURRAIS NOVOS/RN
Monografia apresentada ao Departamento de Geografia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte – CERES, como parte dos requisitos necessários para a obtenção do título Bacharel em Geografia.
BANCA EXAMINADORA
Profa. Dra. Jeane Medeiros Silva (Orientadora) - UFRN
Profa. Dra. Sandra Kelly de Araújo (Membro Interno) - UFRN
Profa. Ms. Isabel Cristina dos Santos (Membro Interno) - UFRN
Caicó, ______ de _________________ de 2017.
Em futebol, o pior cego é o que só vê a bola.
(Nelson Rodrigues)
Dedico este trabalho a minha família, que me apoiou durante toda a sua construção e que me incentivou a realiza-lo.
Dedico a todos os futebolistas e amantes do futebol que contribuem para ajudar a tornar esse esporte cada vez melhor.
RESUMO
O futebol como conhecemos hoje surgiu na Inglaterra, por volta da segunda metade do século XVII. Desde lá, o esporte foi se adaptando e se transformando, se espalhando por todo o mundo e se popularizando. Atualmente, o futebol é o esporte mais popular do mundo, presente em todos os continentes e praticado por homens e mulheres de todas as idades e até mesmo por pessoas portadoras de deficiências. Muito dessa popularidade se deve à beleza e à emoção que o esporte transmite e, principalmente, pela facilidade que ele oferece para ser praticado, já que são necessários poucos equipamentos para se jogar. Devido à popularidade que alcançou, o futebol passou a atuar no processo de integração do território, se tornando traço marcante da nossa cultura, assumindo um papel de influência dentro da sociedade. Dessa forma, o futebol afeta diretamente a dinâmica social e urbana do lugar onde está inserido, então é possível observarmos o futebol por meio de uma perspectiva geográfica. A cidade de Currais Novos, localizada na região Seridó do Rio Grande do Norte, é uma cidade que possui o futebol em seu cotidiano. Dessa forma, é preciso buscar entender o papel e a importância da prática desse esporte na cidade para a construção do espaço urbano. Para isso, é preciso conhecer a história de formação do município e entender a forma como o futebol é praticado, apontando os espaços disponíveis para esse objetivo e a influência do esporte para a construção de novos espaços e como isso afeta a vida das pessoas.
Palavras-chave: Espaço urbano; Futebol; Currais Novos/RN.
ABSTRACT
Soccer as we know it today has come to England, by the second half of the seventeenth century. Since then, the sport has been adapting and transforming itself, spreading all over the world and becoming popular. Currently, soccer is the most popular sport in the world, present in all continents and practiced by men and women of all ages and even by people with disabilities. Much of this popularity is due to beauty and the emotion that the sport transmits and mainly because of the ease it offers to be practiced, since few equipment is needed to play. Due to the popularity that reached, soccer began to act in the process of integrating the territory, becoming a striking feature of our culture, assuming a role of influence within society. In this way, soccer directly affects the social and urban dynamics of the place where it is inserted, then it is possible to observe soccer from a geographical perspective. The city of Currais Novos, located in the Seridó region of Rio Grande do Norte, is a city that owns football in its daily life. In this way, we must seek to understand the role and importance of the practice of this sport in the city for the construction of urban space. For this, it is necessary to know the history of formation of the municipality and understand how soccer is practiced, pointing out the spaces available for this purpose and the influence of sport for the construction of new spaces and how it affects people's lives.
Keywords: Urban Space; Soccer; Currais Novos/RN.
AGRADECIMENTOS
Ao meu pai, Tonivaldo Antônio de Medeiros, e à minha mãe, Maria Aparecida da Silva,
pelo amor, educação, pelo incondicional apoio durante toda minha vida estudantil e
pelas demonstrações de orgulho em relação aos caminhos que resolvi trilhar.
À minha irmã, Tamara Silva Medeiros, pelo carinho, amor, pela parceria e por todas
as coisas que me ensina todos os dias mesmo sendo bem mais jovem que eu.
Aos meus avós paternos, Antônio de Medeiros (in memoriam) e Maria Livalde Bezerra
de Medeiros (in memoriam), e aos meus avós maternos, José Rafael da Silva e Isabel
Ferreira da Silva, por toda a sabedoria e amor.
À minha família em geral, tios e primos, pela força e apoio.
À Jeane Medeiros Silva, pela orientação e contribuição fundamental para a
concretização desta monografia.
Aos amigos e colegas de faculdade, em especial Samuel Dantas, Raul Breno,
Wanderson Silva, Inácio Henrique, Nils Kastberg, Luiz Felipe, Jucielho Pedro e José
Erasmo, pelo companheirismo e amizade.
E, por fim, agradeço à Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN, em
especial o CERES Caicó.
LISTA DE FIGURAS
01 - Estádio Municipal Cel. José Bezerra em Currais Novos/RN 22
02 - Ginásio de Esportes Professor Cortez Pereira em Currais Novos/RN 25
03 - Fachada original do Estádio Municipal Cel. José Bezerra (1967) 40
04 - Fachada atual do Estádio Municipal Cel. José Bezerra (2017) 40
05 - Distribuição dos campos de futebol na cidade de Currais Novos 44
06 - Distribuição das quadras na cidade de Currais Novos 47
07 - Distribuição dos ginásios poliesportivos na cidade de Currais Novos 49
08 - Ginásio Municipal Agenor Maria, o “Agenorzão”, com destaque a um monumento alusivo ao futebol
52
09 - Ginásio recebe partida de futsal válida pelo JOMEC 57
10 - Crianças participam de projeto social em Currais Novos 60
11 - Ginásio público sobre com o abandono (2017) 62
12 - Cabines de rádio e TV apresentam portas e janelas danificadas (2017) 65
13 - Banheiros do estádio estão praticamente inutilizáveis (2017) 66
LISTA DE GRÁFICOS
01 - Distribuição dos campos de futebol de acordo com a administração 42
02 - Distribuição dos ginásios poliesportivos de acordo com a administração 48
LISTA DE QUADROS
01 - Campos de futebol na cidade de Currais Novos 45
02 - Ginásios Poliesportivos na cidade de Currais Novos 50
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 12
CAPÍTULO 01 - CONSIDERAÇÕES SOBRE O FUTEBOL E O ESPAÇO
URBANO 15
1.1 Origem e desenvolvimento do futebol 15
1.2 O jogo de futebol 19
1.3 Os espaços do futebol 21
1.4 Popularização do futebol no Brasil 27
1.5 Futebol e Geografia? 33
CAPÍTULO 2 - ESPACIALIZAÇÃO DO FUTEBOL NA CIDADE DE CURRAIS
NOVOS/RN 35
2.1 Mapeando os espaços do futebol em Currais Novos 39
2.1.1 Os campos 39
2.1.2 As quadras e ginásios 46
CAPÍTULO 3 - O FUTEBOL E A CONSTRUÇÃO DO ESPAÇO URBANO 53
3.1 O futebol e o seu papel cultural em Currais Novos 53
3.2 O futebol na escola e os projetos sociais 55
3.3 A precariedade dos espaços públicos do futebol 61
3.4 A decadência do futebol profissional em Currais Novos 64
CONSIDERAÇÕES FINAIS 70
REFERÊNCIAS 71
12
INTRODUÇÃO
A atividade mais antiga que se assemelha ao futebol moderno da qual se tem
conhecimento data dos séculos III e II a.C., mas foi na Inglaterra, por volta da segunda
metade do século XVII, que algo mais parecido com o futebol que conhecemos
atualmente surgiu. O futebol é o esporte mais popular do mundo, praticado por
homens, mulheres, crianças, jovens e até pessoas portadoras de necessidades
especiais. Estima-se que aproximadamente 270 milhões de pessoas estão ligadas ao
esporte, em que 98% praticam ele regularmente, seja como profissional,
semiprofissional ou amador, considerando todas as categorias e suas mais diferentes
variações. Essas variantes podem ser no número de jogadores ou no espaço onde é
praticado, daí o surgimento do futebol de salão (futsal), futebol de areia, futebol
society, futebol indoor, futebol-de-cinco (para atletas com deficiência visual), futebol-
de-sete (para atletas com paralisia cerebral) e até mesmo o futevôlei.
Muito dessa popularidade que o futebol possui se deve à beleza e à emoção
que o esporte transmite e à facilidade que ele oferece para ser praticado, já que
necessita de poucos recursos e equipamentos. Basta uma bola e uma área plana (ou
nem isso). Este esporte é jogado nas ruas, calçadas, terrenos baldios, nas praias ou
em lugares específicos, como os ginásios ou os estádios. A rapidez com que se
dissemina pelos mais remotos pontos do planeta faz com que ele atue no processo
de integração cultural, permitindo, inclusive, aproximações e dinâmicas territoriais, e
no Brasil isso não é diferente.
Algo que fazia na infância e que guardo até hoje na memória eram os
momentos em que me juntava ao meu pai, religiosamente todas as quartas e
domingos, de frente a TV ou ao lado do rádio, para acompanhar os jogos de futebol
do Flamengo. Pela pouca idade, tinha por volta de seis anos, ainda era difícil
compreender o esporte, mas compreendia bem quando meu pai apontava todas as
qualidades do Flamengo, tentando juntar ao clube mais um torcedor (ele conseguiu).
Esse relato pode se justificar pelo fato de que o futebol historicamente é um elemento
central na cultura brasileira, e não é difícil encontrar outros casos como o meu.
Quando uma criança nasce, ganha nome, religião e um time de futebol, normalmente
13
do pai ou do avô. Essa identificação é um traço marcante de nossa cultura, enquanto
brasileiros, fazendo com que o futebol então assuma um papel de influência dentro da
nossa sociedade. Höfig; Bragueto (2013) reforçam essa ideia dizendo que “o futebol
constitui um amplo sistema de práticas e representações sociais, uma complexa teia
de sentidos e significados”. Dessa forma, é possível perceber que esse esporte afeta
diretamente a dinâmica social e urbana, por isso ele merece ser visto através de um
olhar geográfico, uma vez que sua prática ocasiona em transformações expressivas
na dinâmica do território.
O presente trabalho tem como objetivo geral analisar o papel e a importância
da prática do futebol para a construção do espaço urbano na cidade de Currais
Novos/RN. Para isso, é preciso compreender como e onde o esporte está sendo
praticado, verificando se esses lugares são ou não adequados. A adaptação é algo
muito comum, onde a população ocupa lugares vazios para jogar futebol e acabam
mudando a função original daquele espaço. Dessa forma, é possível ver de que
maneira o poder público municipal atua para adequar esses espaços, garantindo ao
cidadão o direito ao lazer assegurado pela constituição. É importante que se tenha um
conhecimento de como sua popularização se deu ao longo do tempo, dessa forma é
possível responder se o futebol tem realmente um poder de transformação onde ele
está inserido. Com um entendimento completo, buscando estudar diversos fatores que
envolvem o esporte, é possível também esboçar soluções para a melhoria da prática
do futebol na cidade, tentando englobar todos os setores da comunidade, com o
objetivo de oferecer e garantir o direito ao lazer.
É pela escassez de pesquisas e produções científicas que associam futebol e
Geografia que esse trabalho de justifica. Além disso, a pesquisa pode vir a contribuir
para a análise geográfica do município estudado, já que por meio dela vai ser possível
ver de que forma a prática do futebol pode interferir na transformação e dinâmica
urbana, proporcionando visão e compreensão do papel dos esportes, em especial do
futebol, tanto no urbano quanto no social, no momento de planejar ações referentes a
cidade. É importante destacar também que, obter conhecimento sobre o esporte que
se pratica é a melhor forma de desempenhá-lo com mais eficiência. Então, o trabalho
também pode ser importante para aqueles que trabalham ou que estão diretamente
ligados ao futebol como praticantes, já que obtendo conhecimento sobre o esporte e
14
do papel que o praticante representa dentro do cotidiano urbano, pode se mudar a
visão de que são meros coadjuvantes.
15
CAPÍTULO 01
CONSIDERAÇÕES SOBRE O FUTEBOL E O ESPAÇO URBANO
1.1 Origem e desenvolvimento do futebol
Um esporte praticado pelos quatro cantos do planeta, nos mais diferentes
espaços e em suas mais diferentes variações. Fonte de renda para muitas famílias,
fonte de lazer e saúde para outras. Uma profissão, um hobby. Jogado por crianças,
jovens, adultos, mulheres, portadores de necessidades especiais, ricos ou pobres.
Atualmente, no mundo, o futebol se tornou bem mais que uma modalidade esportiva,
mas pouco se tem conhecimento sobre o seu surgimento.
Boschilia; Marchi (2007, p. 02 apud GIULIANOTTI, 2002) apontam que “os
primeiros indícios da prática de atividades com bola em contato com os pés remontam
a antigos povos que habitavam o planeta”. O registro mais antigo de uma atividade
que se assemelha ao futebol moderno que conhecemos hoje advém da China.
Registros feitos em uma espécie de manual de exercícios da época indicam a
existência de um esporte chamado de “cuju”, que consistia em lançar uma bola com
os pés para uma pequena rede. Ele é reconhecido pela Fédération Internationale de
Football Association – FIFA como um dos principais precursores do futebol moderno.
Originou-se na China, mas também há registros de sua pratica na Coreia, Japão e
Indochina. Atualmente, alguns países orientais ainda o praticam com o intuito de
preservar a história e as tradições.
Influenciado pelo “cuju” chinês, uma variante semelhante ao futebol também foi
identificada no Japão. Chamado de “kemari”, esse esporte consistia basicamente em
manter uma bola no ar, passando-a entre os jogadores, algo parecido com o que
conhecemos hoje popularmente como “altinha” (o nome varia em alguns lugares do
Brasil: embaixadinhas, domínio), onde os jogadores passam a bola uns para os outros
com os pés sem que ela toque o chão. Essa variante japonesa tinha um caráter mais
cerimonial do que esportivo e é praticado ainda hoje em eventos culturais japoneses.
Registros de atividades parecidas com o futebol moderno também foram encontrados
16
na Grécia e Roma antiga, mas praticamente não existe informações sobre essas
práticas.
Boschilia; Marchi (2007) afirmam que “não existem elementos que possam
afirmar com clareza que estes jogos com bola deram origem ao futebol como o que
conhecemos atualmente”. Por mais que estes jogos e atividades apresentem certas
características que os assemelham ao futebol, a incidência dos mesmos no futebol
atual é discutível, já que praticamente não há vínculos dos mesmos com as Ilhas
Britânicas, o local de nascimento do futebol moderno. Foi na Inglaterra que o futebol
passou a se assemelhar com o esporte que conhecemos hoje. É na Inglaterra também
que o futebol é “batizado”. A palavra futebol deriva do termo em inglês “football”,
apesar de ser chamado de forma diferente em algumas partes do mundo1.
O processo de parlamentarização do regime político inglês teve um papel
importante para o desenvolvimento do futebol. Esse processo de parlamentatização
foi responsável por impor regras e condutas que passaram a ser aceitas socialmente.
Boschilia; Marchi relatam que:
Os conflitos e divergências que anteriormente eram resolvidos, em sua grande maioria, em disputas violentas, com o aumento das cadeias de configurações que, consequentemente, elevaram as interdependências entre os indivíduos, aos poucos foram sendo solucionados pacificamente através
do “jogo político” (BOSCHILIA; MARCHI, 2007, p. 02).
Dessa forma, a sociedade inglesa agora buscava a diplomacia e uma conduta
de não violência para resolver as discordâncias políticas e sociais. Essa mudança de
conduta foi ampliada a todos os espaços e classes. A partir dessa transformação,
mudanças foram sentidos também nos esportes, inclusive no futebol, que antes era
marcado por muita violência, como nos conta Boschilia; Marchi:
Nos séculos XIII e XIV, na Grã-Bretanha, era comum os jogadores levarem consigo punhais, objetos pontiagudos e outras armas que causassem ferimentos em seus adversários. Pontapés, socos e chutes eram maneiras, socialmente aceitas, de serem acertados antigos conflitos sociais (GIULIANOTTI, 2002, apud BOSCHILIA; MARCHI, 2007, p. 04).
1 Nos Estados Unidos é chamado de “soccer”, enquanto na Itália de “cálcio”.
17
Com a modernização dos esportes em geral no século XVIII, essas ações
violentas aos poucos desaparecem e o jogo passa a ganhar regulamentações. Ele vai
passando de uma prática que era usada para se resolver conflitos para uma atividade
realmente com fins esportivos, passando a ser usado como ferramenta de cunho
educacional nas escolas de elite. Inclusive, o futebol passa a ser também uma
ferramenta de distinção social, já que seus praticantes eram pessoas abastadas e que
por isso dispunham de tempo livre para jogá-lo. Esse fato é corroborado por Boschilia;
Marchi ao dizer que:
Os novos esportes, e em nosso objeto de estudo o futebol, em consequência desse processo, espalharia-se por clubes seletos como uma atividade de lazer praticada no tempo disponível por seus frequentadores. Dentro de escolas e, principalmente, clubes e associações, o comportamento rude e grosseiro foi aos poucos sendo substituído por atitudes cavalheiras e de respeito ao adversário. O objetivo não era ferir ou machucar o oponente, mas sim fruir e desfrutar uma prática reservada as elites, que tinham acesso à educação e aos bons modos. Assim, nesse ambiente o futebol assumiria um novo sentido na busca da vitória: o respeito às regras. Eram essas as atitudes
esperadas dos cidadãos ingleses (BOSCHILIA; MARCHI, 2007, p. 05).
O grande marco para o futebol só aconteceu no século XIX, mais precisamente
no ano de 1863, na Inglaterra, com a fundação da Football Association – The FA2, que
existe até hoje. Essa é a federação de futebol mais antiga do mundo. Até a criação da
Football Association, as regras do futebol não eram unificadas, ou seja, o jogo era
praticado de formas diferentes. Isso era um problema na Inglaterra, onde o esporte já
era popular nas escolas e clubes de elite. Isso inviabilizava a disputa de partidas e o
intercâmbio entre essas entidades, já que cada um desenvolvia suas próprias regras
e códigos. A Football Association foi responsável pela unificação e criação do primeiro
livro de regras do futebol. Regras essas que pouco mudaram desde a formulação
inicial. Um fato curioso é que inicialmente o futebol tinha muita semelhança com o
rúgbi, herdando várias de suas regras. Isso gerava muitas desavenças durantes os
confrontos entres escolas e clubes diferentes, já que a aceitação do uso das mãos
nas partidas era muito discutido. Durante a primeira reunião para a formulação das
regras do futebol, vários clubes romperam com a Football Association e abandonaram
a entidade por que esta decidiu remover a regra que permitia o jogador correr com a
2 Em português: Associação de Futebol.
18
bola nas mãos, e a regra que permitia o adversário interromper tal corrida com chutes,
pontapés e agarrões.
A primeira partida de futebol realizada depois da unificação das regras pela
Football Association aconteceu no dia 19 de dezembro de 1863 entre o Barnes Rugby
Football Club e o Richmond Football Club e terminou empatada em 0 a 0.
A padronização das regras e a consolidação da Football Association como
instituição gerenciadora do futebol foi muito importante para o processo de expansão
e massificação do esporte, já que a partir daí passa a ser possível o intercâmbio de
clubes e escolas, não só na Inglaterra, mas em várias partes do mundo. Fato antes
raro pela diferença de regras e códigos que cada clube ou escola possuía. Aliado a
unificação das regras, a facilidade que o futebol apresenta para ser praticado também
serve para explicar sua rápida massificação pelo mundo. Boschilia; Marchi destacam
a importância da unificação das regras falando que:
A padronização das normas pressupunha uma regulação esportiva universal possibilitando o seu acesso a diferentes culturas, estando todos, apesar de suas diferenças e peculiaridades, regidos sob normas únicas. Isto resultou na internacionalização da modalidade, podendo países de continentes diferentes e culturas diversas participarem de uma atividade de maneira igualitária e sob as mesmas condições e comportamentos (BOSCHILIA; MARCHI, 2007, p. 06).
Atualmente, a reponsabilidade de gerenciar as regras e códigos do futebol, do
futsal (futebol de salão) e do beach soccer (futebol de areia) em todo o mundo é da
Fédération Internationale de Football Association – FIFA3. Fundada na França em
1904 e sediada na Suíça, a FIFA conta com 209 países associados (a FIFA reconhece
um total de 209 federações nacionais masculinas e 129 federações femininas),
possuindo mais membros filiados do que a Organização das Nações Unidas - ONU e
o Comitê Olímpico Internacional – COI. A FIFA funciona como um órgão centralizador.
Atuando junto dela existem seis confederações continentais (América do Sul:
CONMEBOL; América do Norte, América Central e Caribe: CONCACAF; Europa:
UEFA; Ásia: AFC; África: CAF; Oceania: OFC), que organizam competições na sua
área de atuação, seguindo as determinações da FIFA.
3 Em português: Federação Internacional de Futebol.
19
Uma pesquisa realizada pela FIFA em 2006 apontou que aproximadamente
270 milhões de pessoas estão ligadas ao futebol, em que 98% praticam ele
regulamente, seja como profissional, semiprofissional ou amador, considerando todas
as categorias e variações. Esse valor representa 4% da população mundial.
1.2 O jogo de futebol
Segundo o documento Laws of the Game4 da FIFA (2015/2016), o jogo de
futebol consiste basicamente em dois times que se confrontam durante dois períodos
de 45 minutos, com o objetivo maior de fazer a bola entrar na baliza (trave) da equipe
adversária, o que é chamado de gol5. As balizas ficam nas extremidades do campo,
uma de frente para a outra. O time vencedor é aquele que marcar mais gols, podendo
também o jogo terminar empatado. Em caso de empate, o jogo pode ser desempatado
através da prorrogação do tempo de jogo, ou seja, a partida é disputada por mais trinta
minutos além do tempo regulamentar. Se o empate persistir, é feito uma disputa de
cobrança de pênaltis. O pênalti é um tiro livre direto cobrado da marca de 11 metros
a partir da baliza e somente pode ser defendido pelo goleiro. Cada equipe cobra uma
série de cinco pênaltis até que uma delas assuma uma vantagem que não possa ser
alcançada pelo adversário.
A regra principal e fundamental do futebol consiste em não tocar a bola com as
mãos. No futebol de campo cada time conta com 11 atletas, sendo 10 jogadores de
linha e um goleiro, esse último é o único que pode tocar a bola com as mãos, mas
respeitando o espaço da área delimitada para isso. A função do goleiro é justamente
usar as mãos para impedir que a bola entre na baliza. Os jogadores de linha só podem
tocar a bola com a mão para executar as cobranças de lateral. Além de não poder
tocar a bola com mão, existem outras regras básicas, chamadas popularmente de
“faltas”. As “faltas” são irregularidades assinaladas pelo árbitro (no Brasil chamado
popularmente de juiz), figura que é responsável por fazer valer as regras. As faltas
4 Em tradução livre: Regras do Jogo. 5 Do inglês “goal”: objetivo.
20
mais comuns são colisões entre jogadores, segurar o jogador adversário, simulação
de faltas e ofender verbalmente o adversário.
O árbitro assinala as faltas por meio de um apito e é munido também de dois
cartões, um amarelo e um vermelho. Os cartões são mostrados aos jogadores
dependendo da gravidade das faltas. O cartão amarelo é mostrado a um jogador
depois deste cometer uma falta de gravidade moderada ou depois de praticar uma
atitude antidesportiva. O cartão é mostrado como uma espécie de advertência,
indicando que este não volte a cometer outra infração. O cartão vermelho é mostrado
a um jogador depois deste cometer uma falta grave ou no caso de receber dois cartões
amarelos. Receber o cartão vermelho significa que o jogador está expulso do jogo e
o seu time ficará desfalcado pelo restante da partida. A necessidade de usar cartões
para advertir ou expulsar os jogadores surgiu para resolver o problema de
comunicação entre os atletas e os árbitros de línguas diferentes. Esse problema ficou
evidente durante a Copa do Mundo da FIFA de 1966, disputada na Inglaterra, em um
jogo entre a própria Inglaterra e a Argentina. Depois de um jogador argentino, que
falava espanhol, contestar a marcação de uma falta. O árbitro alemão, que não
entendia nada de espanhol, usou o dedo indicador para expulsar de campo o jogador
argentino devido a sua reclamação. Os argentinos ainda chegaram a pedir o auxílio
de um interprete para esclarecer a situação, mas o árbitro manteve sua decisão.
Como já citado, o futebol apresenta diversas variantes, umas mais populares
que outras. Essas variantes podem ser no número de jogadores ou no espaço onde é
praticado, daí o surgimento do futsal (futebol de salão), do beach soccer (futebol de
areia), futebol society, futebol indoor, futebol-de-cinco (para atletas com deficiência
visual), futebol-de-sete (para atletas com paralisia cerebral) e até mesmo o futevôlei,
mistura de vôlei com futebol.
Algumas dessas variantes são regulamentadas e geridas por confederações e
até mesmo pela própria FIFA, já outras são praticadas de forma não institucionalizada,
em espaços muitas vezes improvisados, com regras que se adaptam dependendo da
necessidade. O fato de se adaptar ao espaço talvez seja a principal causa para o
surgimento dessas variações do futebol, onde a necessidade dos praticantes leva a
modificação das regras para que para que o jogo seja possível, podendo acontecer
na rua, em uma quadra, na areia etc.
21
Entre as variações mais inusitadas do futebol está o “futebol de pântano”, que
como o próprio nome já diz, é disputado dentro de um pântano. Essa variante surgiu
na Finlândia, mas se popularizou no Reino Unido. Existe também o “bossaball”,
variante que se assemelha bastante ao futevôlei, ao não ser pela quadra que é inflável
e possui duas camas elásticas separadas por uma rede. O futetênis, como o próprio
nome já indica, é disputado em uma quadra de tênis onde os jogadores, ao invés de
raquetes, usam os pés ou a cabeça para passar a bola para o lado adversário. Além
desses, podemos citar muitos outros esportes baseados nas regras fundamentais do
futebol, onde todos compartilham dessa necessidade de adaptação a um novo espaço
para a prática do jogo.
1.3 Os espaços do futebol
Desde que o futebol passou a ter regras unificadas e uma instituição
regulamentadora, ele acabou sofrendo diversas mudanças em sua prática. Essas
transformações aconteceram para melhorar o ritmo do jogo, a comunicação entre os
atletas e o árbitro, diminuir a violência, entre outros. Mas a maior mudança aconteceu
devido aos espaços utilizados para a realização do jogo. A partir disso, diversos
esportes derivados do futebol acabaram surgindo junto com instituições
organizadoras, regulamentos e características próprias, como mencionado no tópico
anterior. Dos campos gramados o futebol passou a ser jogado na areia, em piso de
madeira, na rua, na praia e nos mais inusitados e diferentes lugares, desde os
previamente adaptados para receber o esporte, aos improvisados, dessa forma se
afastando cada vez mais da modalidade original.
O principal espaço destinado à prática do futebol, principalmente o profissional,
é o estádio. O estádio nada mais é do que um espaço destinado a qualquer tipo de
jogo esportivo e que equivocadamente, devido à popularidade do futebol, acaba sendo
confundido como o lugar exclusivamente feito para a prática do futebol. Chamado
quase sempre de campo de futebol ou estádio de futebol, essas estruturas se
espelham bastante nos antigos coliseus e anfiteatros romanos, construídos com
arquibancadas circulares. Com o crescimento das cidades e a iminente falta de
22
espaço, os estádios passaram a ser construídos nas regiões periféricas ou passaram
a assumir formas retangulares para diminuir os custos com a construção e ocupar
menos espaço em áreas povoadas do centro.
Figura 01 - Estádio Municipal Cel. José Bezerra em Currais Novos/RN
Autoria: Tonivaldo Antônio de Medeiros Junior, 2016.
A forma como os estádios eram e ainda são construídos, determina como as
diferentes classes sociais são divididas durantes os jogos de futebol, como nos
confirmam Höfig; Bragueto (2013) ao dizer que “a classe alta se acomodava nos
assentos onde a arquibancada fosse coberta”. Esses lugares são as áreas nobre do
estádio. Geralmente ficam localizadas em um setor alto e com uma ótima visão do
campo e por isso custam mais caro, acomodando dessa forma a elite. Höfig; Bragueto
(2013) complementam falando que “em contrapartida, os operários ficavam em pé,
sem cobertura e, na maioria dos casos, atrás do gol”. Chamados de lugares populares,
esses lugares oferecem uma péssima visão do campo, além de serem
desconfortáveis. No Brasil, mais precisamente no estádio do Maracanã (Estádio
Jornalista Mário Filho), os lugares populares ficaram conhecidos como “Geral”. Da
Geral do Maracanã mal se dava para assistir ao jogo, mas por ter preços muito baixos
23
reunia a população mais carente do Rio de Janeiro. Quando o estádio passou por
reformas para o Jogos Pan-americanos em 2007, a Geral começou a ser destruída
para que ganhasse corpo o processo de modernização do Maracanã. Os quase 30
mil lugares da Geral foram reduzidos para pouco menos de 18 mil. Essa mudança faz
parte de uma série de regras impostas pela FIFA, onde uma delas impede de que as
pessoas vejam os jogos de pé ou que o estádio apresente pontos cegos. É muito
comum em estádios mais antigos do Brasil, a presença de grades que separam as
torcidas, e a presença de fossos entre a arquibancada e o campo de jogo, separando
o público dos atletas. A construção dessas estruturas no passado é resultado do
comportamento e educação do público brasileiro nos estádios, assim como o
despreparo da segurança pública em saber lidar com multidões (DE LA CORTE, 2009,
apud BARRETO; NASCIMENTO, s.d., p. 06).
Para a construção de um estádio é necessário a análise de vários fatores, entre
eles fatores estruturais, geográficos, sociais etc. Tudo é feito seguindo um
planejamento, justamente por que o estádio tem o poder de modificar e reorganizar a
área territorial de onde está inserido, como nos dizem Jesus (1999, apud HÖFIG;
BRAGUETO, 2013, p. 86):
[...] o estádio pode ser considerado um “objeto geográfico” capaz de modificar e reorganizar a área territorial a qual está situado, da mesma forma como os shoppings center o fazem. Entende-se, então, que os estádios estabelecem uma relação constante com a sociedade e a paisagem do território, modificando-os e sendo modificado por eles.
Essa capacidade de modificar a área onde está inserido faz que os grandes
estádios sejam construídos “em locais de maior movimentação de transportes
públicos e maior concentração de vias de transporte” (HÖFIG; BRAGUETO, 2013),
como forma de facilitar o acesso da população e também evitar transtornos a sua área
de entorno em dias de evento. Facilitar a chegada das pessoas ao estádio proporciona
uma maior presença e dessa forma um maior consumo. Essa forma de fazer futebol,
impulsionado pelo consumo e não pelo prazer do esporte, faz com que o futebol se
torne um produto. Tudo é motivo para se lucrar com o futebol. Os novos estádios
agora são chamados de arenas, e muitas vezes não oferecem lugares com preços
populares, afastando as pessoas de classes mais baixas dos jogos dos grandes
24
clubes, ou até mesmo de clubes mais modestos que jogam em arenas modernas.
Para Höfig; Bragueto (2013, p. 86) os torcedores estão sendo substituídos por famílias
que vão ao estádio para consumir:
A gradativa elitização mostra que o futebol faz parte dos interesses do capital. Expressa a imposição da lei da oferta e da procura em um comércio cultural e esportivo como qualquer outro. Isto é: não se trata de uma organização dentro do futebol que esteja contra os interesses do torcedor tradicional, mas, sim, da exclusão das pessoas que não têm poder de compra.
Voltando a destacar o poder de reconfiguração territorial que o estádio possui,
é muito comum atualmente no Brasil, principalmente depois do anúncio de que o
nosso país sediaria a Copa do Mundo da FIFA 2014, a construção de novos estádios
e arenas em regiões metropolitanas em expansão ou áreas periféricas da cidade com
potencial de crescimento. Isso, como já citado anteriormente, ocorre com intuito de
que o estádio atraia investimentos e valorize todo seu entorno, atraindo pessoas para
aquela região, proporcionando a chegada de outros empreendimentos, além de
proporcionar melhorias na acessibilidade e meios de transporte públicos.
O estádio de futebol é um espaço que atrai um público bastante específico. Não
é a figura do estádio em si, sua estrutura, ou arquitetura que desperta o interesse nas
pessoas de visitá-lo ou frequentá-lo. Concordando com Höfig; Bragueto (2013), o
estádio é atraente apenas para quem aprecia ou ama o futebol e o espetáculo
proporcionado por ele. As pessoas vão ao estádio para ver seu time favorito, seu ídolo
e, principalmente, vão ao estádio pela emoção que ele provoca nelas, seja quando o
time entra em campo, no momento do gol ou depois de uma grande jogada. Existem
raras exceções onde o estádio atrai pessoas por si só e não somente pelo futebol,
como é o caso do Maracanã, atualmente um ponto turístico da cidade do Rio de
Janeiro/RJ. Mesmo assim, a fama conseguida pelo Maracanã se deu devido grandes
partidas e campeonatos de futebol que ali já acorreram durante seus 66 de anos de
construção, ao ponto de o estádio ficar conhecido como “templo do futebol”.
Fugindo um pouco da modalidade original, é importante destacar os espaços
dedicados a variante mais popular do futebol, o futsal. Presente em grande número
na maioria das cidades, os ginásios poliesportivos são os principais espaços
destinados a prática desse esporte. Os ginásios são locais geralmente fechados e que
25
se caracterizam principalmente por conter arquibancadas para receber e acomodar o
público. No centro do ginásio, geralmente na parte mais baixa, para garantir uma maior
visibilidade, existe uma quadra retangular de piso rígido adaptada para receber a
prática de diversos esportes, entre eles o futsal.
Figura 02 - Ginásio de Esportes Professor Cortez Pereira em Currais Novos/RN
Autoria: Tonivaldo Antônio de Medeiros Junior, 2017.
É muito comum também no Brasil a construção de quadras sem cobertura e
arquibancada. Por ter um custo de construção e manutenção bem menor que os
ginásios, esses espaços são facilmente encontrados em escolas, centros recreativos
ou espaços públicos, facilitando a população mais carente o acesso ao esporte.
Devido ao grande número de ginásios e quadras espalhados pelo país, hoje se
tornou possível dizer que o futsal já é tão praticado quanto o futebol, apesar de ser
menos popular. Escolas de todo o país fazem do futsal uma das principais atividades
esportivas das aulas de Educação Física. A maioria dos jogadores profissionais ou
semiprofissionais de futebol, que atuam no Brasil, começaram suas carreiras em uma
quadra ou ginásio jogando futsal.
26
É importante também destacar a rua como espaço do futebol. Esse lado do
futebol tem um caráter mais informal e tem como objetivo fundamental proporcionar
lazer as pessoas que não tem acesso aos estádios, campos, ginásios ou quadras. O
lazer é descrito por Ramos (2001) como o tempo do não trabalho, durante o qual pode-
se dedicar a atividades de predileção pessoal. Essa parcela da população que recorre
as ruas, principalmente crianças e jovens, para jogar futebol e usufruir do seu tempo
de lazer, o faz por que, assim como o “futebol moderno”, baseado no consumo, “o
próprio lazer se tornou objeto de consumo, bem como os espaços a ele destinados”
(RAMOS, 2001), dificultando dessa forma o acesso da população, principalmente a
mais carente que habita nas periferias, aos campos e quadras.
Trabalhando nessa tese de que os espaços do futebol não são totalmente
democráticos, é possível concordar com Ramos (2001) que afirma que o uso do
espaço de forma não democrática aparece como um agravante as diferenças de
classes, ao mesmo tempo em que as expõe. O pobre da periferia tem que usar a rua
para jogar futebol enquanto as classes mais abastadas usufruem de espaços
modernos e bem equipados. Esses espaços modernos são construídos visando o
lucro e acabam limitando o acesso das classes mais desprovidas financeiramente,
seguindo o padrão do que está acontecendo com os espaços do lazer no nosso país.
Ramos (2001) nos conta que a iniciativa privada passou a explorar o espaço dedicado
ao lazer, transformando este em uma mercadoria e fazendo com que a maior parte da
população que não pode pagar pelo seu usufruto acabe ficando excluída.
Quando há o acesso dessa classe mais pobre as estruturas públicas
destinadas ao futebol, geralmente esses lugares estão em péssimas condições de
infraestrutura e inclusive oferecem riscos à saúde de quem as utilizam. Dessa forma,
a rua surge com uma opção.
O futebol de rua tem como principal característica o improviso. Diferente do
futebol profissional, o futebol de rua praticamente não tem regras e não possui um
número de jogadores específico. Quase sempre não há goleiros defendendo as
balizas e para se construir as balizas os jogadores utilizam qualquer objeto que estiver
a mão, como pedaços de madeira, chinelos, camisas enroladas. Não existe arbitro
para fazer valer as regras. Os jogadores geralmente costumam coibir no futebol de
rua tocar a bola com a mão e derrubar o adversário. Praças, terrenos baldios, áreas
descampadas ou ruas de pouco movimento passam a ser adaptados para receber as
27
partidas de futebol. Como argumenta Ramos (2001), esses espaços surgem para
desempenhar determinadas funções, diferente das funções estabelecidas
originalmente, “assim tem-se na paisagem urbana formas que servem para fins de
lazer, como resultado do processo social de produção do espaço e de modos de vida
específicos”.
Esses lugares muitas vezes são utilizados de forma irregular, já que não há
uma vistoria por parte dos órgãos públicos para adequar o espaço para receber as
partidas de futebol, ou por que as vezes os jogadores acabam se apropriando de
terrenos particulares que no momento se encontram sem utilização. Com isso a
própria população que não concorda com a prática do futebol na rua passa a coibir o
uso de espaços adaptados. Entre as principais reclamações estão o barulho e o fato
da bola muitas vezes adentrar as casas ou até mesmo acabar quebrando vidraças ou
objetos dos moradores da vizinhança. A proibição dos jogos de futebol na rua é uma
realidade no Brasil e essa proibição, como já dito anteriormente, passa mais pela
própria população do que pelos órgãos públicos. Giulianotti (2002, apud HÖFIG;
BRAGUETO, 2013, p. 82) sustenta essa afirmação falando que “avisos como 'proibido
jogar bola', comuns na Europa, gradativamente tornam-se naturais no Brasil e, com
isso, a organização informal do futebol de rua perde força”.
É importante lembrar que o direito ao lazer é garantido pela Constituição
Federal em seu Artigo 6º. A utilização da rua ou de outros espaços impróprios para a
prática do futebol só mostra o quanto a administração pública peca em oferecer à
população, locais específicos, não só para o futebol, mas para os mais diversos fins
de lazer.
1.4 Popularização do futebol no Brasil
Com o surgimento de entidades reguladoras e a padronização das regras, o
futebol passa a se expandir por todo o mundo. O fato do esporte passar a ser jogado
seguindo as mesmas regras em qualquer lugar e a facilidade que ele apresenta para
ser praticado é o que explica sua rápida disseminação pelo planeta. Curry; Dunning,
2006 (apud BOSCHILIA; MARCHI, 2007, p. 07) complementam essa tese falando que
28
“o esporte requer pouco equipamento e é comparativamente barato de jogar. Suas
regras – exceto talvez as que dizem respeito ás jogadas em impedimento – são
relativamente fáceis de compreender”. Além disso,
A padronização das normas pressupunha uma regulação esportiva universal possibilitando o seu acesso a diferentes culturas, estando todos, apesar de suas diferenças e peculiaridades, regidos sob normas únicas. Isto resultou na internacionalização da modalidade, podendo países de continentes diferentes e culturas diversas participarem de uma atividade de maneira igualitária e sob as mesmas condições e comportamentos (BOSCHILIA; MARCHI, 2007, p. 06).
Para se entender como o futebol chegou ao Brasil é importante saber que o
nosso país “manteve relações com a Inglaterra no momento em que as elites daqui
enviam seus filhos à Europa para realização de estudos universitários. Ali, naquele
intercâmbio, conhecemos o futebol dentro das universidades inglesas” (SILVA, 2011).
Charles Miller é considerado pela maioria dos autores como o homem que trouxe o
futebol para o Brasil no final dos anos 1890. Mas há quem questione isso. Silva (2011)
nos diz que se infere que Miller tenha sido escolhido para ser “o pai do futebol
brasileiro” devido ser filho das elites brasileiras da época. Nesse mesmo sentido,
Boschilia; Marchi (2007) afirmam que além de Charles Miller, que estudava na Europa,
outros também ajudaram a trazer o futebol ao Brasil, como Oscar Cox, que retornou
da Suíça, e Hans Nobiling, que estudou na Alemanha. Todos de família nobre.
A princípio,
[...] o futebol no Brasil se estabeleceu como uma prática circunscrita a empregados de firmas britânicas e a certos jovens da elite, desejosos de copiar aspectos “civilizadores” do modo de vida europeu. Uma atividade discreta que se espacializa apenas esporadicamente em parques públicos, praias e praças (MASCARENHAS, 2005, p. 61).
Nessa época já eram comuns os clubes organizados e dedicados à esportes
como o remo, o hipismo e as corridas de cavalo, esportes bastante populares que
começam a se mesclar com o futebol dentro dos clubes, que mesmo com uma
popularidade relativamente grande, ainda era praticado somente como uma atividade
29
recreativa de lazer, sem campeonatos, ligas, federações ou o pagamento de salário
aos jogadores (SILVA, 2011).
Os primeiros clubes exclusivamente de futebol que começaram a surgir no
Brasil,
[...] quando não eram organizados pelas elites, se apresentaram pela organização dos estudantes como no caso do Botafogo de Futebol e Regatas; ou da organização dos trabalhadores como a Associação Atlética Ponte Preta fundada por jovens filhos de ferroviários da Companhia Paulista de Ferrovias sob uma ponte da própria Companhia (SILVA, 2001, p. 35).
Depois de ser trazido e disseminado no Brasil pela elite, o futebol rapidamente
se espalhou pelas classes mais baixas, influenciadas pelo avanço do capitalismo e
pelo processo de urbanização. Dessa forma,
[...] a prática do futebol introduzida em território nacional apresenta uma lógica de como o desenvolvimento do capitalismo se expande contextualizando a sociedade e consequentemente a prática futebolista propalada dentro da lógica e da contradição social, uma vez que os times ora foram organizados pelas elites, ora por operários e outrora por estudantes, de maneira que estes indivíduos disseminadores da modalidade estão imersos nas relações estabelecidas dentro de um país se industrializando, urbanizando [...] (SILVA, 2011, p. 36).
Para Boschilia; Marchi,
A inserção das camadas menos abastadas da população e, em seguida, a consequente popularização e profissionalização da modalidade em nosso país, levaram à necessidade de alcançar resultados e atingir objetivos, ao passo que surgiam ligas e campeonatos e a busca da vitória tornava-se uma necessidade (BOSCHILIA; MARCHI, 2007, p. 08).
É a partir desse momento que o futebol no Brasil ganha esse viés mais
competitivo e começam a surgir as primeiras ligas, federações, comissões de
arbitragem etc. Um marco para o processo de profissionalização do futebol no Brasil
é a criação do Conselho Nacional de Desportos (CND) que tinha como objetivo
fiscalizar os clubes, as federações e as confederações, regulamentando a prática do
futebol (SILVA, 2011).
30
Depois do profissionalismo ser adotado ao futebol no início da década de 1930,
e com isso a atribuição de um salário aos jogadores, que o esporte se torna cada vez
mais democrático, pois cresce o número de jogadores de futebol negros e mestiços
que, apesar do preconceito, almejavam através do futebol conseguir uma ascensão
financeira e social, fenômeno esse que permitiu que este esporte viesse a ocupar
posição central na construção da identidade nacional (SILVA, 2011, p. 41 apud
FERNANDES, 2003). Até hoje é bastante comum ver jovens garotos de famílias
pobres buscando no futebol uma chance de vencer na vida.
Mascarenhas confirma essa ideia ao dizer que:
O futebol se tornou, no Brasil, muito mais que mera modalidade esportiva. Sua rápida e profunda disseminação, atuando inclusive no processo de integração do território, propiciou-lhe a condição de elemento central na cultura brasileira. Constitui o futebol um amplo sistema de práticas e representações sociais, uma complexa teia de sentidos e significados, que entendemos como passível de se analisar como uma poderosa forma simbólica, com densa impregnação na paisagem urbana (MASCARENHAS, 2005, p. 62).
Depois de entendermos como o futebol no Brasil assumiu esse papel capaz de
provocar transformações sociais e econômicas, sendo parte central da nossa cultura
e representando muito mais que um esporte, principalmente pelas oportunidades que
ele pode oferecer, é importante destacar também a forma como esse esporte foi usado
ao longo dos tempos como instrumento político e de manobra da sociedade brasileira.
Campos (2008, p. 253 apud GIULIANOTTI, 2002) nos confirma esse poder
transformador do futebol e sua importância nas questões políticas ao falar que o
futebol é um elemento central em diversas culturas e essa centralidade cultural
significa que o futebol pode assumir uma importância política e simbólica profunda, “já
que o jogo pode contribuir fundamentalmente para as ações sociais, filosofias práticas
e identidades culturais de muitos e muitos povos”.
É possível destacar durante os governos ditatoriais na América do Sul, o futebol
surgindo como o “circo do povo”, inclusive no Brasil depois do golpe militar de 1964.
No nosso país, a seleção brasileira de futebol foi o grande trunfo durante o período da
ditadura militar. Era muito comum o governo tentar passar a ideia de que uma seleção
vitoriosa organizada de forma militarizada representaria o sucesso de uma sociedade
31
organizada da mesma forma. Nesse período, principalmente por volta de 1970, ano
da Copa Mundo FIFA disputada no México e vencida pelo Brasil, foi muito comum o
surgimento de canções de cunho nacionalista, a maioria encomendadas pelo próprio
governo que exaltavam em suas letras o país e a seleção de futebol. A mais famosa
dessas canções foi “Pra frente Brasil” de Miguel Gustavo, vencedora de um concurso
de canções em 1970 e que em um de seus versos dizia: “Noventa milhões em ação,
pra frente Brasil, no meu coração! Todos juntos, vamos pra frente Brasil, salve a
seleção!”.
Todos eram levados a se unir em torno da seleção, como uma espécie de
defesa do país perante o resto do mundo. E além das propagandas veiculadas em
todos os meios de comunicação existentes e das canções nacionalistas, o governo
militar foi muito mais além. Algo que se tornou muito comum durante o governo dos
militares foi a construção e ampliação de diversos estádios nos mais diversos lugares
do país, mesmo quando a prática do futebol nesses lugares se restringia a clubes
locais e que não demandavam muito público.
Segundo Stein (2014), “foram construídos ou ampliados consideravelmente 52
estádios significativos durante o período da ditadura militar, 32 deles durante a década
de 1970” e além disso todos eles se caracterizavam por serem gigantescos, estratégia
da ditadura para mostrar presença e poderio econômico. Entre os principais estádios
construídos durante a ditadura militar estão o Mineirão em Belo Horizonte (1965), o
Arruda em Recife (1972), o Machadão em Natal (1972), o Castelão em Fortaleza
(1973), o Serra Dourada em Goiânia (1975) e o Mangueirão em Belém (1978). Todos
com capacidade superior a 40 mil pessoas.
O governo militar também chegou a interferir diretamente na escalação da
seleção brasileira. Depois do fracasso na Copa do Mundo FIFA de 1966 disputada na
Inglaterra, onde a seleção brasileira foi eliminada na primeira fase, os militares
decidiram imprimir no time brasileiro o modelo de organização e disciplina que
desejavam para o Brasil (STEIN, 2014). Vários militares foram indicados para cargos
dentro da CBD (Confederação Brasileira de Desportos). Os cargos de preparador
físico, auxiliar técnico, chefe de delegação, entre outros, foram ocupados por militares.
Vários jogadores assinavam documentos concordando em colaborar com o regime,
meio que servindo como “garotos-propaganda”, e tudo isso servia para que o foco da
população não fosse os problemas ocasionados pelo regime vigente e sim o futebol,
32
representado pela seleção nacional, deixando até mesmo os clubes em segundo
plano. Campos (2008) nos confirma esse movimento em torno do futebol, mais
precisamente da seleção brasileira dizendo que o futebol “foi capaz de reunir sob a
mesma égide a elite e o povo, os símbolos nacionais e os valores populares”.
Por outro lado, na contramão desse movimento nacionalista imposto pela
ditadura em torno do futebol, aqueles que faziam oposição ao governo também se
utilizavam do esporte para se expressar e espalhar sua opinião. A repressão e a
censura são as principais marcas do período da ditadura militar no Brasil, mas isso
não significou que as pessoas não tenham tentando mostrar seu ponto de vista, seja
através de músicas, peças de teatro, textos, poesias e também do futebol.
Com o crescimento midiático do futebol a partir do início dos anos 1980, as
movimentações contra o regime militar se ampliaram e os estádios tornaram-se
grandes palanques. O caso que ficou conhecido como “Democracia Corintiana” foi o
mais marcante em relação aos protestos contra o governo que aconteceram no
futebol. O movimento se caracterizou por colocar em votação assuntos importantes
relativos a administração do clube. Todos dentro do clube tinham direito ao voto, que
era igualitário. Além disso, os jogadores também “entravam em campo com faixas,
cartazes e dizeres na camisa do time como: diretas já, eu quero votar para presidente”
(SILVA, 2004). Apesar do movimento não ter resultado em mudanças diretas na
sociedade e nem mesmo entre os clubes de futebol, a Democracia Corintiana naquele
período foi a forma como o time usou isso para externar o engajamento na luta pela
redemocratização no país (STEIN, 2014).
Além da Democracia Corintiana, outras figuras se destacaram no futebol por
expressar sua opinião contrária a ditadura como Afonsinho, que lutou para ter seu
passe livre, Reinaldo, que comemorava seus gols com o punho erguido em referência
ao movimento dos Panteras Negras, João Saldanha, jornalista e técnico de futebol
que foi apelidado de João Sem-medo por causa de sua postura firme contra a ditadura,
entre outros.
Então, é nesse contexto de regime ditatorial que o futebol no Brasil atinge seu
ápice de popularidade, muito em conta do crescimento midiático do esporte, fato esse
corroborado pelo início das transmissões de partidas pela TV, e pela forma que o
futebol é tratado pelo governo militar, como um meio de unir o povo em torno de um
ideal ao mesmo tempo que os entretêm. Por outro lado, é através do futebol também
33
que aqueles que faziam oposição ao regime militar buscavam se expressar e mostrar,
para uma audiência cada vez maior, sua insatisfação com o cenário político da época,
marcado pela opressão e censura.
1.5 Futebol e Geografia?
“Qual a relação da Geografia com o futebol?”, “é possível encontrar Geografia
no futebol?”, “por que Geografia e futebol?”. Desde que comecei a trabalhar neste
projeto, perguntas como essas se tornaram muito comuns e frequentes sempre que
eu comentava sobre o tema da minha pesquisa. Familiares, amigos, colegas de curso,
entre outras pessoas, me questionavam como eu poderia “misturar” Geografia com
futebol. Para eles isso parecia loucura. E a resposta é mais simples do que aparenta:
eu não estou misturando Geografia e futebol. A Geografia está dentro do futebol na
medida que ele transcende sua qualidade de esporte e passa a se tornar elemento
central da cultura, não só brasileira, mas de vários países pelo mundo (CAMPOS,
2008). Dessa forma, o estudo do futebol passa pela abordagem cultural e espacial do
esporte.
A partir da leitura dos tópicos anteriores é possível perceber como o futebol é
capaz de envolver inúmeros interesses, sejam eles políticos ou econômicos, além de
atuar na integração de povos e nações. Essa característica que o futebol assume,
resultado da sua massiva popularização pelo mundo, é que faz com que ele seja
colocado em uma posição de destaque em relação a outras práticas esportivas,
confirmando a afirmação de Campos (2008) em que o futebol se apresenta como algo
mais que um esporte. Höfig; Bragueto (2013) sustentam essa tese ao falarem que “o
futebol constitui um amplo sistema de práticas e representações sociais, uma
complexa teia de sentidos e significados”, e que por isso ele deve ser analisado por
uma visão geográfica, já que através do futebol é possível estudar o espaço e
entender regiões e lugares. Campos (2008) vai mais além ao falar que “o estudo do
futebol pela Geografia passa também pela abordagem cultural, pois este se refere a
um aspecto marcante das culturas de países, estados e cidades”.
34
Então, é pautando entre o espaço e a cultura que podemos enxergar mais além
do campo de jogo e ter um olhar geográfico acerca do futebol, pois como dizia o
famoso jornalista e escritor Nelson Rodrigues: “Em futebol, o pior cego é o que só vê
a bola”.
35
CAPÍTULO 2
ESPACIALIZAÇÃO DO FUTEBOL NA CIDADE DE
CURRAIS NOVOS/RN
Currais Novos é um município localizado no interior do estado do Rio Grande
do Norte e conta com uma população estimada de 45.060 habitantes (IBGE, 2016).
Localizado a 172 km da capital estadual, Natal, Currais Novos se encontra na região
do Seridó, na região central do estado junto à divisa com o estado da Paraíba.
Considerada um centro sub-regional, suas principais atividades econômicas são a
agricultura, a pecuária e principalmente a extração mineral.
A cidade tem origem a partir das primeiras fazendas de gado fixadas no entorno
do pico do Totoró em meados do século XVIII. Com o crescimento da feira de gado,
sentiu-se a necessidade de se reformar os currais e hospedarias da região, se
investindo cada vez mais no comércio do gado. O povoado foi ficando cada vez mais
movimentado já que era ponto de encontro comercial de várias partes do estado.
Todos os tropeiros e viajantes marcavam suas reuniões nos “Currais Novos”, nome
pelo qual o crescente povoado passou a ser designado.
Currais Novos foi elevada à condição de cidade apenas em 20 de novembro de
1920. Antes disso, o município fazia parte Ribeira do Seridó, pertencente à comarca
da Paraíba, depois à Vila do Príncipe, atual município de Caicó/RN e, posteriormente,
passou a pertencer ao município de Acari.
A cidade se desenvolveu e teve toda a sua história conectada a ciclos
econômicos bem definidos, sendo o primeiro o ciclo do gado, responsável pela
povoação, sucedido pelo ciclo do algodão e depois pelo ciclo da mineração, o mais
exitoso dos três. Historicamente a cidade sempre se destacou e se diferenciou das
cidades circunvizinhas, avançando repentinamente em vários aspectos, sendo eles
econômicos, geográficos, arquitetônicos, culturais, esportivos, entre outros. Todo
esse avanço foi impulsionado pela extração mineral, na qual Currais Novos se destaca
pela produção da scheelita, tendo seu apogeu durante a Segunda Guerra Mundial.
Nesse período o município passou por um forte investimento em sua infraestrutura
36
urbana, que transformou a cidade em uma das maiores exportadoras de scheelita do
mundo, atraindo empresas de mineração, milhares de garimpeiros e vários
comerciantes que impulsionaram a economia municipal. Com a decadência das
minas, na década de 1990, o município foi perdendo, aos poucos, seu poder aquisitivo
e muitas famílias optaram pela capital do estado como polo de migração.
O declínio da mineração acontece em consequência da oscilação dos preços
internacionais da scheelita e da utilização de outros minérios para a fabricação de
artefatos industriais e tecnológicos, fazendo com que Currais Novos reduza suas
atividades de extração mineral e busque novas alternativas econômicas. Atualmente,
as minerações do município de Currais Novos estão voltando às suas atividades
minerais, paralisadas parcialmente desde o final da década de 90. Além da volta das
atividades minerais, a Mina Brejuí tornou-se nos últimos anos o maior parque temático
do Rio Grande do Norte, sendo visitada diariamente por turistas e estudantes vindos
de toda parte do Brasil e do Exterior. Além da scheelita, Currais Novos em breve
começará a extração de ouro, que terá uma capacidade anual de produção de 5
toneladas, o que representa cerca de 8% da produção nacional. Tudo isso faz com
que Currais Novos exerça um papel de influência em seu entorno, se tornando um
polo para as cidades das Microrregiões da Serra de Santana e do Seridó Oriental.
Por ser uma cidade polo e em permanente desenvolvimento, Currais Novos
oferece diversas estruturas administrativas e espaços para a prática do futebol. A
cidade conta com dois clubes profissionais, o Potyguar e o Currais Novos Esporte
Clube. O Potyguar é o time mais tradicional e antigo da cidade. O clube foi fundado
na década de 1970, sendo campeão do Campeonato do Seridó, considerado o mais
importante torneio amador da região naquela época. Disputou o campeonato estadual
profissional da 1º divisão pela primeira vez em 1976. Depois de adquirir diversas
dívidas, o clube acabou falindo em 1984, sendo reaberto novamente em 1989, desta
vez adotando a letra “y” na grafia do nome e passando a se chamar oficialmente de
“Associação Cultural e Desportiva Potyguar Seridoense”. O Potyguar foi campeão da
2º Divisão do Campeonato Potiguar em 2007 e 2012, campeão da Taça Cidade do
Natal em 2009 e vice-campeão da 1º Divisão do Campeonato Potiguar também em
2009. Em 2010 o clube disputou a Copa do Brasil, sendo eliminado na primeira fase.
Ocupa a 206º posição no ranking da Confederação Brasileira de Futebol – CBF, com
100 pontos.
37
O rival do Potyguar é o Currais Novos Esporte Clube, fundado em 1993. O
clube disputou o Campeonato Potiguar até o ano de 1995, quando teve que paralisar
suas atividades também devido a problemas financeiros. Reaberto novamente em
2012, o “Azulão”, como é conhecido popularmente, acumula fracassos desde então
na tentativa de conseguir o acesso à 1º Divisão do Campeonato Potiguar.
Atualmente, o futebol profissional em Currais Novos está afundado em uma
enorme crise. A última vez que um clube da cidade disputou uma competição oficial
foi em 2013, quando o Potyguar disputou o Campeonato Potiguar e acabou sendo
rebaixado para a segunda divisão depois de ter feito a pior campanha entre todos os
times. Naquele ano, o time sofreu com salários atrasados e a falta de investimento por
parte dos patrocinadores. Além disso, a falta de estrutura dos espaços para jogos e
treinos tem se tornando, junto com a falta de dinheiro, um dos principais empecilhos
para que os times da cidade façam boas campanhas. A medida que o tempo passa,
a estrutura do Estádio Municipal Coronel José Bezerra, único estádio da cidade e que
abriga os jogos dos times locais, vai ficando cada vez mais ultrapassada. O estádio,
inaugurado no ano de 1967, possui praticamente a mesma configuração de quando
foi aberto a 48 anos atrás. Talvez a maior transformação pela qual o estádio tenha
passado tenha sido a construção das arquibancadas em 1972 e a construção de uma
pista de atletismo em volta do gramado alguns anos depois.
Muito tem se falado sobre a construção de um novo estádio na cidade. Por
parte dos desportistas que fazem uso da estrutura existe um grande clamor que
esbarra na falta de verba e principalmente interesse político. Recentemente esse
assunto voltou a pauta da cidade quando um grupo de investidores ofereceu uma
proposta a prefeitura municipal para adquirir o terreno onde está situado o estádio
municipal para a construção de um shopping center e em troca seria construído um
novo e moderno estádio em uma nova localização. O assunto tem divido aqueles que
gostam de futebol, principalmente os mais saudosistas, que fazem questão de ver a
memória do antigo estádio preservada.
No tocante ao futebol amador, a cidade possui sua própria liga, a Liga
Desportiva Curraisnovense – LDC, que organiza campeonatos de futebol amador
anualmente. Cabe a Liga regulamentar os times e jogadores, além de organizar o
calendário de competições. Fundada em 1974, a LDC conta hoje com equipes de
bairros da cidade e da zona rural do município de Currais Novos. A Liga Desportiva
38
Curraisnovense sobrevive a partir de recursos provenientes de convênios com a
Prefeitura Municipal, já que a LDC é uma entidade sem fins lucrativos. Toda a diretoria
é formada por membros voluntários, que tem como motivação o amor pelo futebol e o
desejo de melhorar cada vez mais o nível dos campeonatos amadores disputados na
cidade.
Os jogos da LDC também acontecem no Estádio Municipal Cel. José Bezerra,
visto que essa é a única praça esportiva que comporta jogos dessa grandeza. Os
campeonatos promovidos pela LDC têm um importante papel de integração. Cada
time filiado a Liga representa um bairro ou uma determinada comunidade, fazendo
com que os jogos proporcionem uma espécie de intercâmbio, promovendo a interação
entre centro e periferia. As partidas são sempre marcadas pelo clima amistoso entre
as equipes, tanto no campo quanto nas arquibancadas.
As competições amadoras em nível escolar são organizadas pela
Subcoordenadoria de Esportes da Secretaria Municipal de Educação, Cultura e
Esportes – SEMEC e pela 9ª Diretoria Regional de Educação e Cultura – DIRED. O
Jogos Municipais Esportivos e Culturais (JOMEC) e o Jogos Escolares do Rio Grande
do Norte (JERNs) são as principais competições escolares que acontecem no
município anualmente.
Organizado e promovido pela SEMEC, o JOMEC é a principal competição
esportiva escolar no âmbito municipal e começou a ser disputada em 2001, reunindo
alunos de treze a dezoito anos das escolas municipais, estaduais, privadas e federal.
Hoje o evento conta com a disputa de doze modalidades esportivas, entre elas o
futebol society e o futsal, duas variantes do futebol. A realização dos jogos busca
promover a disciplina e a educação dos jovens atletas, estimulando dessa forma a
integração e a união de todas as escolas a partir do esporte.
A SEMEC também é responsável pela organização da Copa CEC, principal
competição de futsal da cidade, além da Copa Rural, competição que conta somente
com times da zona rural do município, promovendo assim a interação entre as
comunidades rurais através da prática do futebol.
Organizado e promovido pela 9ª DIRED, o JERNs é a principal competição
esportiva escolar no âmbito regional. Disputada na cidade desde 1970, a Regional de
Currais Novos reúne anualmente cerca de 2.000 alunos de 13 municípios da região
39
Seridó do estado. No JERNs são disputadas oito modalidades esportivas, incluindo o
futsal e o futebol society. Os campeões de cada modalidade da Regional Currais
Novos se classificam para disputar a fase final em Natal.
O JERNs é uma competição grandiosa, e apesar de já ter vivido dias mais
gloriosos, ainda é o sonho de qualquer jovem atleta representar sua escola nessa
competição.
2.1 Mapeando os espaços do futebol em Currais Novos
2.1.1 Os campos
A cidade de Currais Novos possui apenas um estádio de futebol. Inaugurado
oficialmente no dia 24 de junho 1967, durante a administração de Silvio Bezerra de
Melo e Gilberto de Barros Lins, o Estádio Municipal Coronel José Bezerra é a principal
praça esportiva do município. Chamado popularmente de “Bezerrão” e apelidado
carinhosamente pelo narrador esportivo José Leônidas de “Colosso do Seridó”, o
estádio municipal abriga os jogos do Potyguar e do Currais Novos Esporte Clube,
times de futebol profissional da cidade, além de partidas de campeonatos amadores
e escolares.
Construído inicialmente sem arquibancadas ou qualquer outra estrutura para
abrigar o público, o estádio teve que esperar até o ano de 1972, durante a
administração de Gilberto de Barros Lins, para que fosse construído dois lances de
arquibancada com capacidade para 2.000 pessoas, além de oito cabines de rádio e
TV para a transmissão dos jogos. O estádio passou por outra grande transformação
anos depois, quando foi construído ao redor do campo de jogo uma pista de atletismo.
Esse fato causou muita discussão na cidade, principalmente entre os fãs de futebol,
que eram totalmente contra a construção da pista, visto que a mesma iria provocar
uma diminuição de 5 metros em cada um dos lados do campo, diminuindo as
dimensões do gramado e prejudicando o jogo. Apesar disso, a pista foi construída e
rendeu frutos, já que revelou diversos talentos no atletismo, incluindo o medalhista
40
olímpico Vicente Lenilson, atleta natural de Currais Novos e que iniciou sua carreira
treinando no estádio Cel. José Bezerra.
Figura 03 - Fachada original do Estádio Municipal Cel. José Bezerra (1967)
Fonte: http://documentacn.blogspot.com.br. Acesso em 23 dez. 2015.
Figura 04 - Fachada atual do Estádio Municipal Cel. José Bezerra (2017)
Autoria: Tonivaldo Antônio de Medeiros Junior, 2017.
O estádio passou por uma restauração total e foi reaberto em abril de 1990,
durante a administração de Mozar Dias de Almeida. Desde essa data já se passaram
26 anos sem que nenhuma mudança significativa tenha sido realizada. Hoje a
41
estrutura do estádio é completamente ultrapassada e mal conservada, oferecendo
riscos a quem faz uso do local. Desde que os times de futebol profissional da cidade
paralisaram suas atividades em 2013, o estádio sofreu muito com isso. Apesar do
gramado e da pista de atletismo continuarem recebendo manutenção constante e
estarem em ótimo estado, a parte estrutural “agoniza”. Pintura desgastada com o
tempo, ferragens à mostra, paredes danificadas, grades enferrujadas, banheiros
praticamente inutilizáveis, entre outros, são os principais problemas que é possível
notar à primeira vista quando se visita o local.
Apesar da situação atual do estádio, é importante destacar acontecimentos
marcantes que já ocorreram no “Colosso do Seridó. Um dos momentos mais
lembrados aconteceu em 6 de dezembro de 1981, quando o Botafogo-RJ do craque
Jairzinho enfrentou o Potyguar de Currais Novos em partida amistosa. Outro momento
que permeia a memória dos torcedores é a partida entre Potyguar e Paysandu-PA,
jogo válido pela Copa do Brasil de 2010. Além desses, os torcedores puderam
testemunhar outros grandes jogos e comemorar grandes títulos durantes os 48 anos
de existência da praça esportiva mais importante de Currais Novos.
A construção de um novo estádio na cidade é um assunto recorrente. Existe
um clamor por parte dos desportistas para que isso se torne realidade, porém a
construção de uma nova praça esportiva esbarra na falta de verba e principalmente
interesse político. Muitos apontam que a construção de um novo estádio pode encher
de ânimo os torcedores e fazer com que os clubes de futebol profissional da cidade
reativem suas atividades. O atual estado de conservação do estádio municipal sempre
foi um dos maiores problemas para os clubes, uma vez que a praça esportiva em
muitas oportunidades não estava apta a receber jogos de grande apelo, fazendo com
que as partidas fossem remarcadas em outras cidades como Caicó/RN e Santa
Cruz/RN, elevando os gastos e dificultando ainda mais a vida financeira dos clubes
locais.
Ao todo, a cidade de Currais Novos conta com treze campos de futebol,
conforme listados no Quadro 1. Dos 13 campos de futebol que a cidade dispõe, cinco
desses campos são públicos e oito são privados.
42
Gráfico 01 - Distribuição dos campos de futebol de acordo com a administração
Autoria: Tonivaldo Antônio de Medeiros Junior, 2016.
Entre os campos de futebol públicos, Currais Novos possui cinco,
representando 38% do total, Além do estádio municipal, os outros campos se
localizam em uma instituição de ensino federal, em um complexo onde originalmente
funcionava o Serviço Social da Indústria – SESI e que hoje foi adquirido pela prefeitura
e teve sua função original descaracterizada, levando a interdição do campo de futebol
e mais dois campos que acabaram surgindo a partir do improviso, uma vez que foram
criados em terrenos de areia desocupados e acabaram se tornando fixos na área onde
foram instalados.
A escassez de campos públicos pode ser explicada pelo alto custo da
manutenção desses espaços. Hoje, apenas a manutenção do estádio municipal é de
responsabilidade da prefeitura e apesar disso, o local sofre com a decadência de sua
estrutura física, oferecendo riscos os usuários. Outro reflexo do alto custo da
manutenção, levando-se em conta campos públicos e privados, é que, com exceção
do estádio municipal, nenhum deles possui arquibancada ou qualquer outra estrutura
para receber torcedores, e apenas sete possuem cobertura de grama, sendo apenas
um público que possui um piso gramado.
Entre os campos de futebol particulares, Currais Novos possui oito, o que
representa 62% do total. Desses oito, sete fazem parte de clubes e são utilizados por
38%
62%
Público
Privado
43
seus sócios e alugados aos não-sócios em horários livres, e apenas um faz parte de
uma instituição de ensino privada, mas que apesar disso, abre o espaço para usuários
de fora da comunidade escolar. Os clubes privados que dispõe dos campos de futebol
se beneficiam da escassez e das péssimas condições de campos de futebol públicos,
atraindo assim sócios, hospedando campeonatos importantes e ainda conseguem
lucrar vendendo os horários livres para usuários não-sócios. Todos eles apresentam
ótimas condições de conservação. É importante frisar que nenhum dos campos possui
arquibancada para alocar o público que vai acompanhar os jogos e que isso ajuda a
baratear os custos com a manutenção.
Por meio da análise da Figura 5, os campos estão bem distribuídos pela cidade.
Com exceção de parte da zona norte, as pessoas não precisam se deslocar muito
para ter acesso a um campo de futebol para praticar o esporte. Os dois campos
identificados na pesquisa que surgiram a partir do improviso e acabaram se fixando
na configuração do bairro, estão localizados em pontos extremos da cidade, um a
leste e outro ao sul.
44
Figura 05 - Distribuição dos campos de futebol na cidade de Currais Novos
Autoria: Tonivaldo Antônio de Medeiros Junior, 2016.
45
Quadro 01 - Campos de futebol na cidade de Currais Novos
Autoria: Tonivaldo Antônio de Medeiros Junior, 2016.
É possível que esses campos tenham surgido como uma solução para a
ausência de um espaço adequado para a população jogar futebol sem ter que se
descolar até o centro da cidade, ou fazer uso de um espaço particular, o que
demandaria dinheiro. A medida que a cidade foi crescendo, esses campos passaram
a fazer parte da configuração urbana.
Nº LOCAL ENDEREÇO TIPO DE
ADMINISTRAÇÃO TIPO DE
PISO
01 AABB Rua Aristides Gomes Privado Grama
02 AABB 2 Rua Aristides Gomes Privado Grana
03 Campo “sem nome” Rua Prof. Manoel Targino de Agripino
Público Terra
04 Campo “sem nome” 2 Rua “sem nome” Público Terra
05 Clube de Caça e Pesca Avenida Silvio Bezerra de Melo
Privado Terra
06 Complexo Du Rei Casa Show
Avenida Cel. José Bezerra Privado Grama
07 Complexo Du Rei Casa Show 2
Avenida Cel. José Bezerra Privado Grama
08 Complexo Esportivo “sem nome”
Rua Estudante Josué Araújo
Privado Grama
09 Complexo Esportivo “sem nome” 2
Rua Estudante Josué Araújo
Privado Grama
10 Escola Única Master Rua Prefeito Alcindo Gomes
Privado Terra
11 Estádio Municipal Coronel José Bezerra
Rua Bernadete Xavier Público Grama
12 IFRN Rua Manoel Lopes Filho Público Grama
13 Secretaria municipal de Saúde (antiga sede do SESI)
Rua Abílio Chacon Público Terra
46
O estádio municipal se localiza próximo do centro comercial. Sua construção
acompanha a de outras importantes locações que surgiram próximo à área central,
pois era onde se localizava a maior concentração de pessoas e de onde partiu o
povoamento da cidade. Dessa forma, o estádio, com seu poder de reorganizar o
território, surge com um fator para impulsionar o povoamento do seu entorno e regiões
adjacentes.
2.1.2 As quadras e ginásios
As quadras são estruturas destinadas à prática do futsal, uma variante do
futebol. Algumas quadras fazem parte de complexos esportivos, os ginásios, que
geralmente são locais fechados, possuem uma cobertura e dispõe de estrutura para
receber o público. Em Currais Novos existem apenas sete quadras. Em compensação,
existem dezessete ginásios poliesportivos.
A construção das quadras surge como uma alternativa para aqueles locais que
dispõe de pouco espaço. Em sua maioria, essas quadras são encontradas em escolas
mais antigas e que por estarem localizadas em locais mais povoados da cidade, não
tem condições de expandir sua estrutura física, impossibilitando, por exemplo, a
construção de um ginásio. Das sete quadras existentes, seis são públicas e apenas
uma é particular. Apesar de serem estruturas de um custo menor, tanto de construção
quanto de manutenção, as quadras são escassas na cidade. Todos esses espaços já
são bem antigos e hoje apresentam péssimas condições de conservação. Algumas
dessas quadras estão praticamente inutilizáveis. Apesar de poucas, elas estão bem
distribuídas pela cidade.
47
Figura 06 - Distribuição das quadras na cidade de Currais Novos
Autoria: Tonivaldo Antônio de Medeiros Junior, 2016.
48
Em relação aos ginásios, esses são a maioria dos espaços destinados ao
futebol em Currais Novos. Dezessete ginásios estão espalhados pelos mais diversos
pontos da cidade. Desse número, onze são espaços públicos, o que corresponde a
65% do total, enquanto seis são particulares, 35% do total. A grande maioria dos
ginásios em Currais Novos fazem parte de instituições de ensino. Ao todo são 12
praças esportivas que estão distribuídas entre as escolas públicas e particulares da
cidade. Isso só reforçam a ideia de que a implementação de esportes no âmbito
escolar é um aliado no processo de aprendizagem das crianças e jovens. Isso se
reflete no grande número de escolas que possuem espaços destinados a prática de
atividades esportivas, entre elas o futebol. Além disso, esse incentivo dado pelas
escolas provoca o aumento no número de crianças que buscam jogar futebol ou
praticar outros esportes, fazendo com que as competições escolares sejam
fortalecidas, promovendo a integração e o intercâmbio entre diferentes camadas da
sociedade através da prática esportiva. Apesar de serem abundantes, os ginásios que
pertencem as escolas acabam ficando um pouco restritos somente a comunidade
escolar, dando pouco espaço a quem não faz parte da instituição.
Gráfico 02 - Distribuição dos ginásios poliesportivos de acordo com a administração
Autoria: Tonivaldo Antônio de Medeiros Junior, 2016.
35%
65%
Público
Privado
65%
35%
Público
Privado
49
Figura 07 - Distribuição dos ginásios poliesportivos na cidade de Currais Novos
Autoria: Tonivaldo Antônio de Medeiros Junior, 2016.
50
Quadro 02 - Ginásios Poliesportivos na cidade de Currais Novos
Autoria: Tonivaldo Antônio de Medeiros Junior, 2016.
Nº LOCAL ENDEREÇO TIPO DE
ADMINISTRAÇÃO
01 Aero Clube de Currais Novos Avenida Coronel
José Bezerra Particular
02 Centro Educacional LOGOS Avenida Tungstênio Particular
03 CIVE Rua Mimosa Leite Particular
04 Colégio Camilo Toscano Rua Bernadete Xavier Particular
05 Educandário Jesus Menino Rua Vivaldo Pereira
de Araújo Particular
06 Escola Estadual Poeta Celestino Alves
Rua Vereador José
Sales Sobrinho Público
07 Escola Estadual Silvio
Bezerra de Melo Rua Luís Janílson Público
08 Escola Municipal
Ausonio Araújo Rua Luís Janílson Público
09 Escola Municipal
Gilson Firmino Rua Rio São Bento Público
10 Escola Municipal Prof. Humberto Gama
Rua Moisés Galvão Público
11 Escola Municipal Prof.ª
Socorro Amaral
Rua Oscar
Alberto Dantas Público
12 Escola Municipal Prof.ª Trindade Campelo
Rua Primo Martins Público
13 Escola Única Master Rua Prefeito Alcindo Gomes Particular
14 Ginásio Poliesportivo
Agenor Maria
Rua Dr. João Dutra de Almeida
Público
15 Ginásio Poliesportivo
Elísio Galvão Rua Maria Rufino Público
16 Ginásio Poliesportivo
Padre Cortez Rua Maria Galvão Chacon Público
17 IFRN Rua Manoel Lopes Filho Público
51
Para aqueles que buscam um local para jogar o futsal sem que tenham que
desembolsar qualquer quantia em dinheiro, existem na cidade três ginásios públicos
longe do ambiente escolar. Esses espaços estão localizados em três bairros
diferentes, longe do centro. Construídos e inaugurados praticamente na mesma
época, no início dos anos 2000, esses ginásios vieram com o objetivo de oferecer uma
opção para a prática de esporte e lazer às pessoas que moram nas áreas mais
periféricas da cidade. A população que antes precisava se deslocar ao centro da
cidade onde estão a maioria das praças esportivas, agora passam a dispor de um
espaço próximo e gratuito. A gestão dos três ginásios é de responsabilidade da
Subcoordenadoria de Esportes da Secretaria Municipal de Educação. Para fazer uso
desses espaços, as pessoas devem se dirigir até a referida secretaria e agendar um
horário disponível.
O maior dos três ginásios públicos é o Ginásio Municipal Agenor Maria,
chamado popularmente de “Agenorzão”. Inicialmente chamado de Ginásio Municipal
“Geraldo Gomes de Oliveira – O Geraldão”, teve seu nome modificado devido uma lei
municipal que impedia que prédios públicos recebessem o nome de pessoas ainda
vivas. Ele é o principal ginásio da cidade, podendo receber uma grande quantidade
de público. Ele é sede de diversas competições de futsal, handebol e vôlei, como o
JOMEC, o JERNs, a Copa CEC e a Copa Jorge Guimarães, além de receber diversos
eventos culturais e musicais da cidade. O “Agenorzão” já foi sede de uma edição da
Copa Norte-Nordeste de Futsal e frequentemente recebe partidas do Campeonato
Estadual de Futsal. Quando não está sediando nenhum evento, o ginásio fica à
disposição da comunidade e também de escolas circunvizinhas que não dispões de
quadras poliesportivas.
A manutenção dos ginásios públicos é de responsabilidade da Prefeitura
Municipal, representada pela Secretaria Municipal de Infraestrutura e Serviços
Urbanos – SEMOSU. O mal estado de conservação é uma característica comum em
todos esses ginásios públicos, incluindo a maioria dos ginásios e quadras das escolas
públicas municipais. Ao visitar esses locais é possível ver pintura desgastada, paredes
danificadas, ferragens à mostra, portas quebradas, banheiros em péssimo estado, e
em alguns deles o próprio piso da quadra de jogo apresenta avarias que oferecem
riscos a quem faz uso do espaço. Reparos são feitos em raras ocasiões, e na maioria
52
das vezes não passam de uma nova pintura e alguns consertos pontuais, como nas
ferragens e portas de banheiros e vestiários.
Figura 08 - Ginásio Municipal Agenor Maria, o “Agenorzão”, com destaque a um monumento alusivo ao futebol
Autoria: Tonivaldo Antônio de Medeiros Junior, 2017.
Até a construção do Ginásio Municipal Agenor Maria, o principal ginásio
poliesportivo da cidade e que abrigava a grande maioria das competições de futsal
pertencia ao “Aero Clube de Currais Novos”, um dos clubes mais antigos e
prestigiados da cidade. Apesar de ser um espaço bem antigo, até hoje ainda é o único
ginásio de Currais Novos que possui piso de madeira, considerado o ideal para a
prática do futsal. Localizado exatamente no centro da cidade, o lugar é bastante
procurado pelos praticantes de esportes como o futsal, o vôlei e o handebol, e os
horários para utilizar o espaço são bastante concorridos. Além disso, o ginásio
também abriga várias competições escolares como o JOMEC e o JERNs, como
também festas sociais, aniversários e eventos corporativos.
53
CAPÍTULO 3
O FUTEBOL E A CONSTRUÇÃO DO ESPAÇO URBANO
A partir da leitura dos capítulos anteriores foi possível perceber como a massiva
popularização do futebol o colocou a frente de todos os outros esportes, fazendo com
que ele envolva inúmeros interesses políticos e principalmente econômicos, além de
atuar na integração dos povos e nações e de ser parte central na cultura de vários
países, estados e cidades (CAMPOS, 2008). Dessa forma, é importante estudar a
atuação do futebol na cidade de Currais Novos, destacando de que forma ele atua no
âmbito urbano, seu papel cultural e principalmente como sua prática promove ou não
a transformação e a construção do espaço urbano da cidade.
3.1 O futebol e o seu papel cultural em Currais Novos
Como vimos, o futebol é parte central da cultura brasileira, mais do que em
outros países. Isso se deve a todo um processo histórico de popularização e
massificação desse esporte no nosso país, que o transformou em patrimônio cultural,
junto ao samba e ao carnaval, tornando-se um traço marcante de identificação
brasileira perante o mundo. O futebol no Brasil é "um fenômeno que está
presentemente sendo exposto na mídia, nos bares, nas esquinas ou onde quer que
você chegue" (SOUZA; ARAÚJO, 2007). Sobre cultura, ela pode ser definida como a
“soma dos comportamentos, dos saberes, das técnicas, dos conhecimentos e dos
valores acumulados pelos indivíduos durante suas vidas e, em uma outra escala, pelo
conjunto dos grupos de que fazem parte” (HOLGADO; TONINI, 2012, p. 02 apud
CLAVAL, 2007).
O brasileiro é capaz de associar tudo o que acontece no país com o futebol,
passando a tratar de temas importantes, e as vezes delicados, que dividem a opinião
54
da população, como uma espécie de disputa esportiva. Se duas pessoas têm opiniões
diferentes sobre determinado assunto, é como se uma torcesse para o time de futebol
rival da outra. Barreto e Nascimento confirmam esse fenômeno ao afirmar que:
[...] o Brasil desenvolveu uma relação muito íntima entre o futebol e os mais variados aspectos da sua sociedade. Tal processo levou à construção não de uma só cultura futebolística hegemônica, mas de variadas maneiras de se relacionar com o futebol – inclusive perceptíveis nos diversos “modos de torcer” do brasileiro (BARRETO; NASCIMENTO, s.d., p. 08).
Essa associação de temas do cotidiano brasileiro como o futebol é muito
comum durante as campanhas eleitorais, quando uma grande parcela da população
passa a tratar como clubes de futebol os partidos políticos e a torcer por eles, sem
levar em consideração os ideais pregados e defendidos ou os candidatos que a
representa, ignorando os antecedentes ou as posições tomadas.
O papel cultural do futebol em Currais Novos é um reflexo do que acontece no
Brasil. Um bom exemplo disso, usando como ponte essa relação entre futebol e
política, é a forma como os dois times de futebol profissional da cidade assumiram
uma ligação com oligarquias políticas que historicamente se alternam no poder
municipal ao longo dos anos. Fundado no início dos anos 1990, o Currais Novos E.C.
surge como forma de fazer frente ao tradicional Potyguar, mas os constantes
fracassos levaram o time a paralisar suas atividades. A reativação acontece em 2011.
O time, agora cercado de apoio político, volta completamente reinventado. Mantendo
o nome da cidade e a cor a azul em seu uniforme, trouxe também símbolos tradicionais
para formar sua nova identidade, acrescentando ao seu distintivo a representação de
uma flor de algodão, símbolo também presente na bandeira do município, e a imagem
do “Cristo Redentor”, cartão postal de Currais Novos. O azul agora se contrapõe ao
vermelho do rival Potyguar, cores essas que também representam os grupos que
disputam o controle político da cidade. Discussões sobre qual time era melhor agora
também incluíam qual grupo político que eles representam era melhor.
Outra influência cultural do futebol na sociedade é a forma como os times
assumem o papel de ser uma espécie de representante da cidade. Apesar dos clubes
serem entidades de iniciativa privada, é muito comum eles receberem patrocínio da
prefeitura municipal, principalmente em cidades menores e que contam apenas com
um time profissional. Isso sempre aconteceu em Currais Novos, e esse poder de
55
representatividade foi mais forte durantes os anos em que apenas um dos times
estava em atividade, nesse caso o Potyguar. Era muito comum em jogos contra times
de cidades vizinhas, como Santa Cruz e principalmente Caicó, gritos em alusão à
Currais Novos e provocações dirigidas aos habitantes e a própria cidade do time
adversário, como se as equipes despertassem nos torcedores um sentimento de
territorialidade.
Como já vimos, o futebol é um elemento presente no cotidiano das pequenas e
grandes cidades do Brasil, dessa forma sua influência na sociedade é enorme, o
tornando parte de nossa cultura enquanto brasileiros. "O futebol é um importante
elemento cultural do país, por movimentar a vida das pessoas, criando vários
marcadores significativos em diversos locais" (HOLGADO; TONINI, 2012). Como
resultado, mesmo que algumas pessoas não gostem do esporte, ele está presente no
nosso dia-a-dia, se manifestando de várias formas, não só quando uma partida está
acontecendo. Além dos exemplos que foram relatados, o futebol se manifesta também
como elemento cultural através daquele torcedor que anda com a camisa do seu time
pelas ruas, das rodas de conversa na esquina, na escola ou no bar, das notícias
veiculadas diariamente no rádio, na TV e na internet, da lojinha que comercializa os
produtos dos clubes futebol e das crianças que, influenciadas por todos esses fatores,
vão para a rua com materiais improvisados para jogar futebol, alimentando o sonho
de um dia se tornar um ídolo do esporte e mudar a vida de toda sua família.
3.2 O futebol na escola e os projetos sociais
Historicamente as crianças brasileiras iniciavam no futebol praticando o esporte
nas ruas e nos campos de várzea. Com o processo de urbanização, o futebol
descompromissado na rua e as partidas jogadas nos campinhos improvisados em
terrenos baldios foram perdendo espaço. Os campos de várzea foram sumindo, os
automóveis tomaram conta das ruas, impossibilitando as famosas “peladas”, como é
chamado popularmente o futebol jogado na rua. Em compensação, as escolas
passaram a surgir como opção, uma vez que perceberam a importância da prática
esportiva e dos benefícios promovidos pelo esporte, investindo cada vez mais em
56
estruturas adequadas à prática e em profissionais capacitados para orientar os jovens
atletas. Aliado a isso, está o fato de que a maior parte da população não tem acesso
à clubes e a complexos esportivos particulares, então buscam na escola um lugar para
iniciar sua prática no futebol, mesmo que a maioria das escolas públicas ainda
apresentem estruturas precárias.
Difundido amplamente nas escolas de Currais Novos, sejam públicas ou
privadas, o futebol escolar reúne um número enorme de praticantes. É na escola,
geralmente nas aulas de educação física, onde a maioria das crianças tem o primeiro
contato com esse esporte. A força e tradição das competições escolares são um
incentivo a mais para a iniciação no futebol. Em Currais Novos, os Jogos Municipais
Esportivos e Culturais - JOMEC e os Jogos Escolares do Rio Grande do Norte -
JERNs, são as principais competições esportivas a nível escolar na cidade e região.
Essas competições, disputadas anualmente, funcionam nos mesmos moldes dos
Jogos Olímpicos, com a disputa de diversas modalidades, entre elas o futsal e futebol
society. Cada modalidade é dividida por categorias de acordo com a idade (mirim,
infantil e juvenil).
O JOMEC, disputado desde 2001, e o JERNs, disputado desde 1970, são
competições grandiosas, e apesar de já terem vivido dias mais gloriosos, ainda é o
sonho de qualquer jovem atleta representar sua escola nessas competições. Elas
reúnem em Currais Novos centenas de atletas e espectadores, além de chamar a
atenção da mídia local. Todas as partidas de futebol society acontecem no Estádio
Municipal Coronel José Bezerra, enquanto os jogos de futsal acontecem em diversas
escolas e ginásios públicos do município.
Durante os dias de competição, cada evento dura em média dez dias, os locais
das partidas ficam bastante movimentados e recebem um grande público para
acompanhar os jogos, geralmente a comunidade escolar, que busca torcer e
incentivar a sua escola. A circulação de veículos e pessoas no entorno dos locais de
jogos é intenso, mas nada que altere drasticamente a dinâmica do lugar. A grande
parte dos ginásios estão localizados em locais com ótimas vias de acesso, com ruas
largas, o que dificulta surgimento de engarrafamentos, que são raros. A circulação de
pessoas nesses locais também não é grande o suficiente para levar a interdição das
vias imediatamente próximas aos ginásios, o que impediria o tráfego de veículos e
facilitaria o fluxo das pessoas.
57
Figura 09 - Ginásio recebe partida de futsal válida pelo JOMEC
Fonte: http://jornalanoticia.com/portal. Acesso em 12 nov. 2015.
Os ginásios que são a exceção e estão localizados em ruas estreitas ou de
difícil acesso, também não sofrem mudanças significativas em sua dinâmica espacial
devido aos jogos. Por estarem afastados do centro, o público nesses ginásios se
resume praticamente a comunidade escolar local e os próprios atletas, fazendo com
que o tráfego de veículos e de pessoas seja muito menor do que em outras praças
esportivas, minimizando ainda mais o efeito que os jogos proporcionam a dinâmica do
lugar.
Em Currais Novos, a maioria das escolas possuem sua própria quadra, ginásio
ou campo, o que facilita o desenvolvimento do esporte, além de garantir às crianças
um lugar apropriado e seguro. Das cinco escolas particulares da cidade, todas
possuem alguma estrutura para a prática do futebol. Em janeiro de 2016, a única
escola particular que ainda não possuía um espaço adequado para a prática de
futebol, inaugurou um ginásio poliesportivo em suas dependências. O espaço é
utilizado pela comunidade escolar e alugado ao público em geral nos horários em que
58
está vago. Localizado em uma região que dispunha de poucas opões para a pratica
do futebol, a procura de horários livres é bastante concorrida. Além disso, o ginásio
recém construído já foi utilizado como uma das sedes do JERNs, recebendo partidas
de futsal. A construção do ginásio tem acelerado o processo para a melhoria das vias
de acesso à escola, que não possui pavimentação. O grande movimento de pessoas
em torno da escola, que já era grande durante o dia, aumentou ainda mais com o
ginásio, principalmente à noite. A escola que quase sempre se encontrava fechada no
período noturno, hoje recebe atletas de várias partes da cidade. Esse movimento de
pessoas à noite, provocado pela construção do ginásio, também passou a beneficiar
bares, lanchonetes e outros comércios do entorno que antes, assim como a escola,
também se encontravam fechados durante a noite, mas que agora se aproveitam do
considerável fluxo de pessoas que circulam em direção à escola para praticar, entre
vários esportes, o futebol.
Todos os ginásios e campos de futebol que pertencem as escolas particulares
apresentam ótimas condições estruturais e de conservação. Em sua maioria, são
espaços modernos, bem cuidados e seguros. Justamente o oposto da situação das
escolas públicas. Atualmente, em Currais Novos, nem todas as escolas públicas
possuem seu próprio ginásio ou campo de futebol. Das 20 instituições públicas de
ensino localizadas na zona urbana, 11 possuem alguma estrutura adequada para a
prática do futebol. Em sua maioria, esses espaços apresentam estruturas bastante
antigas e em péssimo estado de conservação, muitas vezes oferendo riscos a quem
faz uso do local. Os reparos feitos pela própria escola e pelo poder público municipal
ou estadual são mínimos e geralmente acontecem quando há alguma avaria que
acaba causando a interdição do espaço. Devido a isso, muitas escolas públicas
acabam transferindo suas atividades esportivas para outras escolas ou para os
ginásios públicos municipais. Existe também parcerias com algumas escolas
particulares, que acabam cedendo seus espaços para que as escolas que não
possuem um campo de futebol ou um ginásio possam desenvolver sua prática
esportiva.
Atualmente, em Currais Novos, apenas um ginásio público encontra-se em
construção. Financiado por recursos do Governo Federal por meio do Programa de
Aceleração do Crescimento – PAC, a obra, que acontece da Escola Municipal
Professora Trindade Campelo, se encontra em avançado estágio de conclusão. A
59
Escola Municipal Professora Trindade Campelo era uma dessas escolas públicas que
não dispunham de um espaço próprio e adequado para a prática de esportes, entre
eles o futebol. Localizada em um bairro periférico da cidade, a escola é a principal
referência para sua comunidade e precisava fazer uso de um ginásio público para
realizar suas atividades esportivas.
Além de suprir a carência da escola e da comunidade em geral, a construção
do ginásio, antes mesmo de sua conclusão, tem apresentado benefícios. Obras de
drenagem e saneamento estão sendo realizadas no entorno do futuro complexo
esportivo da escola. Somado a isso está o fato de que o ginásio foi construído em um
terreno que antes encontrava-se desocupado e sem função dentro do contexto urbano
do bairro. Todo o entorno foi revitalizado, passando a ficar mais atrativo e dessa forma
valorizando os imóveis da região, atraindo novos moradores e também pequenos
comerciantes.
Avaliando o impacto que uma obra como a construção de um ginásio tem para
a comunidade, vemos o quanto é preciso investir nesses espaços, uma vez que eles
não trazem apenas benefícios no âmbito esportivo. É preciso também cuidar dos
espaços já existentes para que eles não se tornem obsoletos e passem a trazer
prejuízos para a sociedade. Em Currais Novos, alguns ginásios públicos passam por
essa situação e, principalmente durante a noite, são evitados pela população em geral
por já terem se caracterizado como um lugar onde há consumo e venda de drogas,
prostituição e outras práticas criminosas. Os projetos sociais que usam o futebol como
atividade principal em suas ações têm um papel importante no processo de
revitalização de quadras, ginásios e campos de futebol públicos do município,
principalmente aqueles localizados nas periferias.
Apesar de enfrentar muitas dificuldades financeiras, os projetos sociais,
exclusivamente aqueles que fazem uso do futebol, acabam assumindo uma função
que deveria ser do governo municipal, que é zelar e garantir a manutenção dos
ginásios e campos de futebol públicos. É importante destacar também o trabalho de
recuperação e assistência prestados pelos projetos sociais àquelas pessoas mais
desfavorecidas e discriminadas. É bem comum casos de jovens que conseguiram se
destacar jogando futebol em projetos sociais e acabaram conquistando condições
melhores de vida. Além disso, a prática do futebol nos projetos sociais, aliado a ações
educativas, ajudam diversas crianças e adolescentes do município a se tornarem
60
pessoas melhores, fazendo com que elas se interessem pelos estudos, ocupem seu
tempo livre com atividades produtivas e evitem se envolver com no mundo do crime e
das drogas, além cuidarem da saúde ao praticar o esporte. Pode parecer pouco, mas
para as crianças que são atendidas por esses projetos, muitas vivem em situação de
alto risco, ações como essa fazem enorme diferença, proporcionando com que essas
crianças tenham consciência do seu papel na sociedade e se sintam estimuladas ao
convívio social e coletivo.
Figura 10 - Crianças participam de projeto social em Currais Novos
Autoria: Antônio Marciel Feitosa, 2015.
Aqueles projetos sociais que utilizam as dependências de alguma escola para
realizar suas atividades, atuam como um parceiro da instituição, fazendo com que a
criança permaneça na escola praticamente em tempo integral. As crianças assistem
aula em um turno e realizam atividades complementares promovidas pelo projeto
social, entre elas o futebol, no contra turno.
Os projetos sociais atuam também resgatando espaços que antes se
encontravam em péssimo estado e que muitas vezes não ofereciam condições para
61
serem usados pela comunidade. A partir de verbas adquiridas através de doações,
esses projetos sociais realizam o trabalhado de zelar e manter as quadras e campos
da qual fazem uso, beneficiando assim não só as crianças que fazem parte do projeto,
como toda a comunidade em torno desses lugares. A partir dessas ações o que era
desvalorizado e esquecido, gerando a rejeição da comunidade e a presença de
práticas inapropriadas e muitas vezes ilícitas, passa a ser um local de vivência e
convivência, fazendo com que o ginásio ou campo volte a exercer sua função original
de quando foi construído.
3.3 A precariedade dos espaços públicos do futebol
Para Silva (2012), “o espaço público desempenha relevante papel na qualidade
de vida da população, por se constituir em espaço aberto, livre e acessível a todos”.
Infelizmente, é quase uma regra em todo o país que espaços públicos, entre eles
estão aqueles dedicados ao esporte, são sinônimo de abandono e descaso. Em
Currais Novos não é diferente, como ficou constatado durante o trabalho de pesquisa.
A Secretaria Municipal de Infraestrutura e Serviços Urbanos – SEMOSU é o órgão
público responsável por colocar em prática projetos de ordem urbanística, e tem como
responsabilidade cuidar da manutenção das praças, canteiros, ginásios, e dos
equipamentos públicos de lazer da cidade em geral. Com exceção das recém
construídas, todos as praças esportivas públicas da cidade sofrem com o abandono e
a falta de manutenção.
O trabalho de revitalização desses espaços desenvolvido por projetos sociais
ligados ao esporte não é o suficiente, devido à falta de dinheiro, já que os projetos
trabalham com uma margem bem pequena de arrecadação, sobrevivendo
principalmente de doações. Além disso, esse trabalho não consegue alcançar a
maioria dos espaços públicos destinados ao esporte, pois os projetos concentram
suas atividades e esforços no bairro ou comunidade onde está inserido.
Ao visitar quadras e ginásios públicos da cidade, além do Estádio Municipal, os
problemas estruturais surgem à primeira vista, começando pela parte externa, desde
problemas mais simples como uma pintura desgastada e a falta de iluminação, a
62
problemas mais sérios como ferragens à mostra. Na parte interna, os problemas
seguem. Entre os problemas mais comuns nos locais visitados está o desgaste da
pintura, como já citado, desgaste do piso e das paredes, portões e grades
enferrujados, ferragens à mostra, buracos no teto naqueles espaços que possuem
cobertura, portas quebradas, banheiros com vasos sanitários, pias, torneiras e
chuveiros danificados, entre outros problemas mais pontuais.
Figura 11 - Ginásio público sobre com o abandono (2017)
Autoria: Tonivaldo Antônio de Medeiros Junior, 2017.
Além desses problemas físicos, é possível constatar também problemas de
outra natureza. O acúmulo e depósito de lixo no entorno de algumas quadras e
ginásios é um deles. É comum a população depositar lixo nos muros dos ginásios para
que seja feito a coleta pela equipe de limpeza da cidade. Isso acontece principalmente
por que o ginásio geralmente é um ponto de referência e ao concentrar o lixo em um
só lugar, isso facilita a coleta. Ao mesmo tempo em que o acúmulo de lixo provoca
63
mau cheiro e pode provocar doenças, atrai insetos, animais peçonhentos e a presença
constante de cães e gatos de rua que vasculham o lixo em busca de comida. As
pessoas que antes faziam uso desses espaços para jogar futebol e praticar outros
esportes acabou se afastando, pois, devido a todas essas dificuldades e problemas
relatados, esses lugares acabaram se tornando pouco convidativos.
A medida que as pessoas vão deixando de frequentar as praças esportivas,
essas praças passam a abrigar um novo “público”, que vai até esses locais para
praticar atos ilícitos. Beneficiados pela falta de iluminação e a pequena circulação de
pessoas durante à noite, é muito comum, segundo relatos dos próprios moradores
que residem próximo aos ginásios, o consumo e venda de drogas, a prostituição e a
ação de pichadores. Com a falta de interesse da população em utilizar as praças
esportivas públicas devido os problemas apresentados, e que são ocasionados
principalmente pela falta de manutenção, as pessoas recorrem a outra alternativa,
também gratuita e de fácil acesso, a rua.
A rua é originalmente o palco das primeiras brincadeiras de criança envolvendo
o futebol. É muito comum em todo o brasil a criançada do bairro se reunir em uma rua
ampla e de pouco movimento para jogar futebol. E essa prática não fica restrita só as
crianças. O baixo custo e proximidade de casa são fatores que fortalecem ainda mais
a prática do futebol na rua. Em contrapartida, parte da população tenta coibir essa
prática. O barulho provocado durante as partidas e os danos que geralmente são
causados quando a bola adentra residências ou estabelecimentos comerciais, estão
entre as principais reclamações. A proibição dos jogos de futebol na rua é uma
realidade no Brasil, como nos confirma Giulianotti (2002, apud HÖFIG; BRAGUETO,
2013, p. 82) ao falar que “avisos como 'proibido jogar bola', comuns na Europa,
gradativamente tornam-se naturais no Brasil e, com isso, a organização informal do
futebol de rua perde força. Em Currais Novos isso não é diferente. É bastante comum
moradores acionarem a polícia alegando “perturbação do sossego” e cobrando a
intervenção policial para encerrar o que na maioria das vezes não passa de uma
brincadeira inocente e sadia.
Outra alternativa a falta de espaços públicos adequados e ao futebol de rua que
é reprimido por parte da população, é o futebol de várzea. O futebol de várzea se
utiliza de espaços de terra desocupados, geralmente terrenos baldios. Esses lugares
muitas vezes são utilizados de forma irregular, já que não há uma vistoria por parte
64
dos órgãos públicos para adequar o espaço para receber as partidas de futebol. Em
Currais Novos, assim como na maioria das cidades brasileiras, esse tipo de prática é
mais comum nas regiões periféricas, pois no centro da cidade o processo de
urbanização praticamente eliminou os terrenos sem calçamento ou cobertura de
asfalto. Em Currais Novos existem dois campos de futebol que surgiram a partir do
improviso em um terreno desocupado e depois, com o processo de urbanização
passaram a fazer parte de configuração da cidade. Esses campos ganharam
demarcações, traves e outros equipamentos necessários para a prática e todo o
processo de ocupação ao seu redor aconteceu respeitando uma nova configuração.
Ramos (2001) fala que esses campos de futebol que surgem do improviso e da
necessidade “são resultado do processo social de produção do espaço e de modos
de vida específicos”.
Trabalhando com Silva, é possível concluir que é preciso um olhar especial do
poder público para as praças esportivas, uma vez que:
[...] o espaço público e os equipamentos de lazer, praças, quadras de esportes, ginásios, campos de futebol, entre outros, desempenham importante papel na qualidade de vida da população, sendo, portanto, fundamental analisar em que grau e medida o Estado tem participado da gestão destes espaços para o uso do cidadão (SILVA, 2012, p. 54).
3.4 A decadência do futebol profissional em Currais Novos
Para entender o panorama atual do futebol profissional em Currais Novos é
preciso volta um pouco ao tópico anterior que trata do estado de conservação das
praças esportivas da cidade. O Estádio Municipal Cel. José Bezerra, praça que abriga
os jogos de futebol, é o retrato do descaso e abandono dos espaços públicos
destinados ao esporte. Uma consequência direta disso é a falência dos times de
futebol profissional, a Associação Cultural e Desportiva Potyguar Seridoense e o
Currais Novos Esporte Clube.
Construído em 1967, o Estádio Municipal possui até hoje praticamente a
mesma estrutura física. Quase cinquenta anos depois de sua construção o estádio
está mais do que ultrapassado para os padrões atuais, em todos os sentidos, seja na
parte de vestiário, arquibancadas, espaço para a imprensa, banheiros, capacidade de
65
público, sistema de iluminação e dimensões do campo de jogo. Todos esses fatores,
somado a falta de manutenção periódica foram empecilhos enfrentados pelos dois
times durante décadas, minando os cofres a cada ano para se adequar as normas
exigidas pela Confederação Brasileira de Futebol – CBF e a Federação Norte-rio-
grandense de Futebol – FNF.
Figura 12 - Cabines de rádio e TV apresentam portas e janelas danificadas (2017)
Autoria: Tonivaldo Antônio de M. Junior, 2017.
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Figura 13 - Banheiros do estádio estão praticamente inutilizáveis (2017)
Autoria: Tonivaldo Antônio de M. Junior, 2017.
Além disso, a falta de estrutura para os jogos e treinos acabou ano a ano
afastando não só os bons jogadores, pois estes não tinham interesse em jogar em um
time com uma estrutura que não oferecia o mínimo de condições de trabalho, como
também os torcedores, que foram perdendo o interesse de ir aos jogos à medida que
os times não tinham mais condições de montar bons elencos, passando a acumular
maus resultados e a frequentar as divisões inferiores dos campeonatos que
disputavam. Com tudo isso, a condição financeira e o poder de investimento dos times
foi ficando cada vez mais comprometido, levando ao pior cenário possível, a
paralização das atividades em 2013. Naquele ano o Potyguar foi rebaixado para a 2ª
divisão do Campeonato Potiguar depois de fazer a pior campanha dentre todos os
times do torneio. Uma derrota não só para o time como para todo o futebol de Currais
Novos. Em 2014 houve o último suspiro do futebol profissional. O Currais Novos
Esporte Clube disputou pela última vez a 2ª divisão do Campeonato Potiguar, mas
como o Estádio Municipal não conseguia mais se adequar as exigências do Corpo de
Bombeiros e da FNF, o Currais Novos E.C. foi obrigado a realizar os seus jogos na
cidade de Santa Cruz, na região do Trairi, distante 65 Km de Currais Novos.
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Apesar de sempre enfrentar dificuldades quanto ao estádio e sua estrutura, o
futebol profissional teve seus bons momentos em Currais Novos, principalmente no
início dos anos 1990 e início dos anos 2000. Mais antigo e tradicional que o rival
Currais Novos E.C., o Potyguar realizou grandes campanhas que mexeram com toda
a cidade. Nesses períodos era possível perceber o papel cultural que o futebol exercia,
despertando o interesse naqueles que não acompanhavam de perto o esporte.
Homens, mulheres e crianças só comentavam sobre o time da cidade. O Potyguar
era o assunto mais comentado nas mesas e bar, nas rodas de conversa, nas escolas,
nas praças, nos jornais, no rádio e na TV. Apesar da pouca expressão do time no
cenário nacional, as boas campanhas eram capazes de mexer com toda a população,
pois o time assumia um papel de representatividade da cidade perante o resto do
estado. Algo que provocava orgulho não só dos torcedores e seguidores do time.
Apesar da inatividade dos times nos últimos três anos, ainda é possível fazer
um estudo do papel dos jogos de futebol profissional na transformação do espaço
urbano em Currais Novos durante o período em que eles aconteciam. É importante
destacar que os times não tinham um calendário de jogos que se estendia pelo ano
inteiro, pois estes nunca se credenciavam para a disputas das competições nacionais,
concentrando as disputas no Campeonato Estadual, que variava o calendário de jogos
de acordo com a divisão. Os jogos da 1ª divisão aconteciam de janeiro a abril e os
jogos da 2ª divisão aconteciam de julho a setembro.
Em dia de jogo, as principais transformações podiam ser notadas
principalmente no entorno do estádio e em ruas adjacentes. Localizado exatamente
no centro da cidade, o acesso ao estádio é facilitado por rotas de acesso amplas, o
que facilita o fluxo no trânsito de veículos. Apesar disso, os engarrafamentos eram
sempre recorrentes, principalmente depois do termino das partidas, quando todo o
público precisa sair ao mesmo tempo. Aliado a isso está o fato de que o estádio não
possui estacionamento, o que obriga os motoristas a estacionarem ao longo das ruas
que dão acesso e ruas adjacentes. Isso obriga aos expectadores que chegam próximo
do horário do jogo a ter que estacionar o seu veículo longe do estádio e seguir
caminhando por não haver mais espaço para estacionar.
Em frente ao estádio, a concentração de pessoas é enorme e por mais que as
ruas que dão acesso não sejam interditadas pelo policiamento de trânsito, fica
praticamente impossível o trânsito de veículos. Esse acumulo de pessoas, que é
68
comum antes dos jogos em qualquer estádio, é maior em Currais Novos, guardadas
as devidas proporções. Isso acontece por que o estádio, por causa de sua
configuração antiga, só possui um portão de acesso para a torcida local. Esse portão
fica imediatamente ao lado da bilheteria e a poucos metros do portão de acesso para
a torcida visitante. A presença de vendedores ambulantes, que comercializam desde
comidas e bebidas até camisetas e bandeiras, potencializa ainda mais a concentração
de pessoas em frente ao estádio. Por causa desse fluxo de pessoas, também é difícil
o acesso ao estádio dos ônibus que levam os times.
Ao lado do estádio existem duas escolas. Como a maioria dos jogos acontece
durante a noite ou aos finais de semana, essas escolas na maioria das vezes estão
fechadas ou funcionando somente com suas funções administrativas, então, apesar
do acesso ficar dificultado por causa da realização do jogo de futebol no estádio, as
atividades desenvolvidas na escola não são comprometidas.
Apesar de estar localizado no centro da cidade, o estádio fica em uma área
residencial, e em dias de jogo, os moradores dessa região tem muitas dificuldades
para sair de carro, seja pelo congestionamento de pessoas e veículos nas ruas que
dão acesso ao estádio, ou pelo fato de que muita gente que não quer estacionar
distante e ter que caminhar, buscam um lugar mais próximo, mesmo que seja irregular.
É muito comum as pessoas estacionarem os seus veículos na entrada de garagens,
impossibilitando que os proprietários da garagem saiam ou entrem com seus carros.
Segundo o relato daqueles moradores que não frequentavam os jogos, era mais
cômodo ficar em casa durante a realização da partida sempre que possível para evitar
transtornos ao ter que sair.
Fazendo uma análise do impacto da realização de uma partida de futebol em
Currais Novos, é possível notar que algumas áreas, principalmente aquelas
imediatamente próximas ao estádio de futebol, ou as que levam a ele, vão sendo
adaptadas e modificadas pontualmente, de acordo com as necessidades e interesses,
seja do público que frequenta os jogos, dos times que promovem o jogo, dos
vendedores ambulantes que atuam ao redor do estádio, ou dos próprios moradores
que dividem a vizinha com o estádio. Essas transformações são passageiras. Vão
desde as horas que antecedem a partida até a dispersão do pública depois do fim
dela. E esse ciclo se renova a cada jogo realizado, a cada campeonato disputado,
69
tendo seus efeitos alterados de acordo com a demanda de público e o interesse
gerado pela partida.
Ainda sobre a situação atual dos clubes de futebol profissional de Currais
Novos, é discutido que a construção de um novo estádio, moderno e com uma
capacidade de público maior que o atual, é o fator necessário para que os times
retomem suas atividades e voltem a ser protagonistas novamente no cenário do
futebol do Rio Grande do Norte. Além de dar condições de estrutura para os clubes
desenvolver o seu trabalho técnico da melhor forma, a construção de um novo estádio
em uma região da cidade estrategicamente escolhida, iria impulsionar não só a
povoação do entorno do estádio, como também provocar uma valorização destes
imóveis, empreendimentos e terrenos, gerando oportunidades não só para a
população, como também para os clubes que ganhariam a confiança de possíveis
parceiros e patrocinadores.
A construção de um novo estádio em Currais Novos esbarra principalmente na
falta de interesse político, que não reconhece a importância de uma obra como esta,
como também na falta de verbas e recursos públicos, visto a crise econômica que vive
o Brasil. Além disso, a recente crise hídrica tem sido um outro entrave, visto que com
a falta de água, o abastecimento da população é uma prioridade.
Em 2015, a discussão sobre a construção de um novo estádio voltou a
esquentar os debates entre os amantes desse esporte, pois foi noticiado que um grupo
de investidores ofereceu uma proposta a prefeitura municipal para adquirir o terreno
onde atualmente está situado o estádio municipal para a construção de um shopping
center e em troca seria construído um novo e moderno estádio em uma nova
localização. Os órgãos públicos do município responsáveis por esse assunto não
deram muitos detalhes sobre esse possível acordo, mas a discussão tem divido
aqueles que gostam de futebol, principalmente os mais saudosistas, que fazem
questão de ver a memória do antigo estádio preservada.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
A partir da realização desse estudo, aprendemos que o esporte é um elemento
presente no cotidiano das cidades, alcançando os mais diferentes grupos de pessoas
e presente nos mais variados locais. O futebol, como sendo o esporte mais popular
do mundo, atribui para si aspectos culturais e socioeconômicos. Com a análise sobre
a prática do futebol na cidade de Currais Novos, foi possível avaliar a importância
dessa atividade esportiva e o seu papel como agente produtor dos espaços urbanos.
Em um primeiro momento, a pesquisa tentou fazer um apanhado histórico do
esporte, mostrando desde o seu surgimento, a formalização das regras, como ele
desembarcou no nosso país e se popularizou por aqui, e como se caracteriza o seu
panorama atual. Foi importante também destacar qual a relação do futebol com a
Geografia, mostrando que uma análise geográfica do futebol passa pela abordagem
cultural e espacial do esporte.
Compreender o local a ser estudado, a cidade de Currais Novos, foi um passo
importante para a pesquisa, que buscou entender como se deu o processo de
povoamento, seus ciclos econômicos, seu panorama atual, e principalmente, o que a
cidade tem a oferecer em relação a prática do futebol, no que diz respeito a situação
e distribuição dos seus campos e ginásios. Através de um mapeamento feito dos
espaços do futebol em Currais Novos, criou-se condições de analisar e estudar qual
a influência da prática do futebol na produção dos espaços urbanos.
Junto a tudo isso, o estudo do futebol como elemento central da cultura
brasileira nos leva a entender o seu valor cultural para Currais Novos, destacando sua
atuação no processo disciplinar no dia-a-dia escolar e como carro-chefe de programas
sociais de sucesso, proporcionando com que crianças e jovens tenham consciência
do seu papel na sociedade e se sintam estimuladas ao convívio social e coletivo.
Esse trabalho se mostrou como uma grata oportunidade de conhecer a cidade
de Currais Novos, mas não da forma como estamos acostumados, e sim de um ângulo
diferente, tomando a prática do futebol como base, em todas a suas esferas, para se
chegar a novos horizontes.
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