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A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO
DE 9 A 12 DE OUTUBRO
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VARIAÇÃO DAS TEMPERATURAS NO INTERIOR DE RESIDÊNCIAS DO ESPAÇO URBANO DE LONDRINA - EPISÓDIO DE VERÃO.
FABIANA BEZERRA MANGILI1 DEISE FABIANA ELY2
Resumo: A segregação territorial, fruto da produção capitalista do espaço urbano, pode ser
evidenciada através da diferença locacional entre moradias. Este fato altera o balanço de energia recebido por cada morador. O objetivo do presente artigo é analisar a influência da produção e organização do espaço urbano de Londrina (PR) no conforto térmico do interior das residências urbanas. Para tanto, foram instalados termo - higrômetros que armazenaram dados de temperatura entre os dias 03 a 23 de janeiro de 2015, em três residências com estruturas e localizações distintas. Foi possível observar que há diferença de até 3ºC das médias de temperatura diária, entre as residências, verificando assim que o ambiente e construções diferenciadas influenciam nos padrões de variação desses valores, o que pode afetar a qualidade de vida dos residentes.
Palavras-chave: Produção do espaço urbano; clima urbano; conforto térmico.
Abstract: The territorial segregation, fruit of the capitalist production of urban space, can be seen
through the locational difference between habitations. This fact changes the energy balance received by each dweller. The goal of this article is to analyze the influence of production and organization of the urban space of Londrina (PR) in the thermal comfort on the inside of urban homes. To do so, thermohygrometers that stored temperature data from January 3 to 23, 2015, were installed in three households of different structures and locations. It was possible to observe that there is a difference of up to 3ºC in the average daily temperature between the households, thus verifying that the environment and different constructions have influence over the variation patterns of these values, which can affect the life quality of the residents.
Key-words: Production of urban space; urban climate; thermal comfort.
1 – Introdução
As modificações/produções no espaço derivam do processo imposto pelo
modo de produção vigente, ou seja, a organização espacial provém da "ideologia
dominante quando concebem uma casa, estrada, um bairro, uma cidade. O ato de
construir está submetido a regras que procuram nos modelos de produção e nas
relações de classe suas possibilidades atuais (SANTOS, 2004, p. 37)". Essa
1 Acadêmica do Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Estadual de Londrina.
E-mail de contato: fabianamangili@gmail.com 2 Docente do programa de pós-graduação da Universidade Estadual de Londrina. E-mail de contato:
deise@uel.br
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organização gera feições e formas distintas, demonstrando não somente a mudança
da paisagem urbana; os diferentes tipos de uso do solo, mas também as alterações
no balanço de energia por meio de determinados materiais construtivos empregados
nas edificações (residências, empresas, prédios, etc) que absorvem e refletem a
energia diferencialmente.
Dessa forma, há as distribuições espaciais distintas da temperatura por todo o
espaço urbano, pois "o efeito dos tipos de tempo sobre um espaço construído de
maneira desigual gera problemas de origem climática também desiguais
(SANT'ANNA NETO, 2001, p. 58)". Considerando essa afirmação, a presente
pesquisa pretendeu estabelecer a influência da produção e organização do espaço
urbano dos bairros de Londrina (PR), nos padrões dos valores de temperatura e
umidade no interior de residências, procurando determinar a população mais
vulnerável aos efeitos do clima urbano.
Para tanto, foram instalados datallogers que armazenaram dados referentes à
temperatura e umidade relativa do ar no interior de três residências, durante vinte
dias, em período de verão. As residências escolhidas apresentam condições de
construção e localização espacial diversas, sendo: uma residência pertencente a um
Conjunto Habitacional (do programa federal Minha Casa Minha Vida); uma
residência locada na região central da cidade; e uma residência assentada em um
loteamento exclusivamente residencial.
2 – O espaço urbano de Londrina
A produção do espaço urbano em uma sociedade capitalista se dá de
maneira “[...] desigual, e isto aparece claramente na paisagem através do uso do
solo decorrente do acesso diferenciado da sociedade à propriedade privada da terra
(CARLOS, 1992, p. 122)”. Londrina, município com pouco mais de 80 anos, e
população de mais de meio milhão de habitantes, representa essa dinâmica de
expansão do seu espaço urbano.
O crescimento populacional resultou na expansão da área urbana que, a
princípio somava 4 km² e, totaliza no início do século XXI 105,43 km², representando
uma expansão de 26,35 vezes (CASARIL, 2009, p. 91). Atualmente, de acordo com
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IPARDES (2013), a densidade demográfica de Londrina é de 324,50 hab/km², sendo
que 97,40% da população reside na área urbana do município.
Devido a esse processo de crescimento populacional, a expansão físico-
territorial do espaço urbano de Londrina foi
[...] resultado imediato da lógica dos interesses imobiliários e das práticas especulativas, da valorização do preço da terra urbana, do caráter cíclico do mercado imobiliário, da oferta de terrenos em novos loteamentos, da construção civil em geral, consoante a conjuntura econômica e financeira brasileira, e da ação do Estado ao localizar os conjuntos habitacionais em áreas desvalorizadas, proliferando áreas de afastamento socioespacial e vazios urbanos (AMORIM, 2011, p. 48).
Dessa forma, o processo de produção do espaço urbano acelerado, resultou
em diferentes tipos de feições geográficas e, consequentemente em segregação
socioespacial bastante demarcada em toda área da cidade, o que resulta em
populações com diferentes tipos de vulnerabilidade, pois “[...] ser vulnerável é estar
fisicamente exposto a uma álea (natural ou outra), é apresentar certa fragilidade
diante do sinistro [...] É, de igual modo, não ter em vista meios disponíveis para
enfrentar a crise que pode sobrevir (VEYRET, 2007, p. 43)”.
A álea ao qual Veyret (2007) se refere, será tratado aqui como risco climático,
pois “[...] Estes fenômenos, embora causados por fatores naturais, devido às
disritmias no sistema meteorológico, vêm sendo influenciados pela ação do homem,
que contribui para a sua maior frequência e intensidade (SILVEIRA, 2014, p. 60)”.
Assim, têm-se os fenômenos climáticos, extremos ou não, repercutindo em
um espaço que é produzido, e interage no balanço de energia do sistema natural e,
de acordo com Monteiro (1976), o resultado dessa interação pode ser percebido por
meio de diferentes canais de percepção.
Dentre os quais, o canal do conforto térmico, que propicia a investigação da
relação do processo de produção do espaço urbano como gerador de conforto da
população residente, possibilitando um entendimento de como esse processo
influencia no conforto da população e como podem ser desenvolvidas estratégias
que permitam que a população conviva ou revertam seus efeitos negativos.
Conforme objetivo da presente pesquisa, que pretendeu relacionar o conforto
térmico no interior de algumas residências com o processo de produção do espaço,
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considerado desigual, foi escolhida três residências para servirem como exemplo,
conforme figura 01.
Figura 01 - Localização das residências de estudo, Londrina – PR.
As residências foram propostas para a pesquisa de acordo com o seu
processo histórico e localização, pois esses critérios evidenciam as diferenças nos
padrões construtivos dos domicílios.
3 - Procedimentos Metodológicos
Primeiramente optou-se por entender como o espaço urbano de Londrina foi
(e é) configurado, por meio de levantamento bibliográfico e compreensão de suas
atuais leis. O levantamento bibliográfico subsidiou também a compreensão das
análises realizadas sob o canal de percepção do conforto térmico.
Para a compreensão do padrão de variabilidade das temperaturas e umidade
no interior das residências, foram instalados termo-higrômetros (datallogers) nas
mesmas. Os aparelhos foram programados para coletar dados de temperatura e
umidade do ar, a cada hora.
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O período de coleta de dados corresponde aos dias entre 03 a 23 de janeiro
de 2015. Optou-se por esse período de dias, para elucidar a condição térmica das
residências em período de verão.
Para a presente análise, os dados são demonstrados por meio das suas
respectivas médias diárias, para que se possa comparar também com a situação
padrão diária de Londrina. Para tanto, foi utilizado os dados das médias diárias
registradas pelo Instituto Agronômico do Paraná (IAPAR).
4 – Resultados
O modo de produção capitalista territorializa distintas formas de uso e ocupação do espaço, definidas por uma lógica que não atende aos critérios técnicos do desenvolvimento (ou sociedades) sustentáveis. Assim, o efeito dos tipos de tempo sobre um espaço construído de maneira desigual gera problemas de origem climática também desiguais. A entrada de um sistema atmosférico, como uma frente fria (frente polar atlântica), por exemplo, se espacializa de maneira mais ou menos uniforme num determinado espaço, em escala local. Entretanto, em termos socioeconômicos, este sistema produzirá diferentes efeitos em função da capacidade (ou da possibilidade) que os diversos grupos sociais têm para defender-se de suas ações (SANT’ANNA NETO, 2001, p 58).
À vista disso, é necessário ressaltar as diferentes configurações espaciais de
cada residência, e suas formas.
4.1 - Conjunto Habitacional Vista Bela
No Conjunto Habitacional, que recebeu a nomeação de Vista Bela, foram
construídos casas e prédios, ambos com padrão de tamanhos, sendo as casas
divididas em duas águas, e cada uma possuindo 36, 92m², e os apartamentos são
de 42m². O loteamento designado para esse Conjunto Habitacional, recebeu o
zoneamento urbanístico residencial 3 (ZR3), que de acordo com o Art. 27 da lei nº
12.236/2015 que dispõe do Uso e Ocupação do Solo, este zoneamento permite os
usos:
I. Residencial Unifamiliar (RU); II. Residencial Agrupada (RA); III. Residencial Multifamiliar Sobreposta (RMS); IV. Residencial Multifamiliar Horizontal Isolada (RMHI); V. Residencial Multifamiliar Horizontal Agrupada (RMHA); VI. Residencial Multifamiliar Horizontal em Vilas (RMHV);
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VII. Nas vias Estruturais, Arteriais e Coletoras A, com largura mínima de 18,00m (dezoito metros): Residencial Multifamiliar Vertical (RMV); Comércio (CL-l, CL-2), Serviço (SP-2, SL-l, SL-2A, SL-3, SL-6), Indústria (IND-D), Institucional (INS-L); VIII. Nas vias coletoras B, com largura de 15,00m (quinze metros): Comércio (CL- 1 e CL-2) e Serviço (SP-2, SL-1,SL-2A); e IX. Serviço (SP-1) e Institucional (INS-L).
Por ser um loteamento distante dos serviços urbanos da cidade, o
zoneamento permite a instalação de todos os tipos de serviços e comércios, o que
resulta no adensamento de construções e valorização do espaço urbano.
A casa escolhida está alocada em um lote que possui uma área de solo
exposto aos fundos da casa, e na parte da frente do terreno, área cimentada. Nesta
residência, assim como em todo o conjunto habitacional, não possui cobertura
vegetal rasteira nem arbustiva (figura 02).
Figura 02: Mapa de localização do Conjunto Vista Bela e destaque para a residência escolhida.
A habitação é dividida em estrutura radier. A casa foi construída sobre os
padrões do programa Minha Casa Minha Vida, portando é constituída de alvenaria
de tijolos cerâmicos, cobertura em madeiramento convencional coberto por telha
cerâmica cor laranja, laje de piso de concreto revestido com cerâmica, e o forro é
branco de PVC.
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A residência possui acabamento de pintura verde na sua parte externa e
interno. A ventilação no interior da residência fica por conta das janelas existentes,
uma janela em cada cômodo, e da porta de entrada.
O espaço interno da casa é divida entre dois quartos, um banheiro, e uma
sala e cozinha compartilhada. Esse último espaço foi o local escolhido para a
instalação do termo-higrômetro, pois é o local onde os moradores permanecem por
mais tempo. Devido ao compartilhamento dos cômodos, há um adensamento de
móveis, e não foi observado a instalação de ar-condicionado ou ventiladores. O
espaço da casa é divido por seis moradores.
4.2 - Centro Histórico
A residência do Centro Histórico, se enquadra no zoneamento urbanístico
comercial 3 (ZC3), que de acordo com o Art. 95 da lei nº 12.236/2015 que dispõe do
Uso e Ocupação do Solo, este zoneamento permite os usos:
I. Residencial Unifamiliar (RU); II. Residencial Multifamiliar Horizontal em Vilas (RMHV); III. Residencial Multifamiliar Vertical (RMV); IV.Misto (M); V. Comércio: CL-1, CL-2, CG-1, CA-1, CA-2, CG-3; VI. Serviço: SP-1, SP-2, SL-1, SL-2, SL-3, SL-4, SL-5, SG-1, SG-2A, SG-2B, SG- 3, SG-4, SG-5, SG-6, SG-7, SG-8, SG-9, SG-10, SE-2, SL-6; VII. Indústria: IND-D; e VIII. Institucional: INS-L, INS-G.
Esse zoneamento urbano imprime um caráter comercial, que resulta em um
maior adensamento populacional, fluxo constante de pessoas e veículos, e
construções de diferentes épocas, portanto de diferentes materiais construtivos,
conforme figura 03.
A consolidação do município de Londrina ocorre em 1934 e deixou
demarcado no espaço urbano londrinense, os padrões construtivos daquela época,
ou seja, casas de madeiras, provindas da exploração da peroba da região, assim
como a habitação escolhida que é uma casa antiga de madeira com mais de 60
anos, alocada em um terreno com pouca área permeável e pouca vegetação
arbustiva, e áreas externas cobertas de concreto. O lote possui um amplo espaço
externo a casa, com quintal e garagem, sem cobertura e expostos.
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Figura 03: Mapa de localização do Centro Histórico e destaque para a residência escolhida.
A casa é estruturada com pé direito alto, de aproximadamente 3 metros,
paredes portantes externas e internas de madeira em tábuas unidas através de ripas
de madeira. O forro também é construído de madeira, e a cobertura é de telha
cerâmica. O piso é de assoalho de madeira, e é elevado do solo por meio de
embasamentos perimetrais de viga baldrame de concreto contínuo.
O interior da casa é dividido em três quartos, 2 salas, um escritório, uma
cozinha, um banheiro, e uma lavanderia. Em cada cômodo há uma janela, grandes,
devido a idade da casa. Portanto a ventilação é oriunda dessas janelas, duas portas
de entrada e dos ventiladores de teto.
O termo-higrômetro foi instalado na sala principal, onde os três moradores
circulam frequentemente, e durante a noite, há a permanência nesse cômodo. Esta
sala está densamente ocupada por móveis, e há um ventilador de teto, como forma
de mitigar as altas temperaturas.
4.3 - Parque Mediterrâneo
A residência do Parque Mediterrâneo, se enquadra no zoneamento
urbanístico residencial 1 (ZR1), que de acordo com o Art. 15 da lei nº 12.236/2015
que dispõe do Uso e Ocupação do Solo, este zoneamento permite os usos:
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I. Residencial Unifamiliar (RU); II. Residencial Multifamiliar Horizontal Isolada (RMHI); III. Nas Vias Estruturais, Arteriais e Coletoras A: Comércio (CL-1), Serviço (SP-2); e IV. Serviço (SP-1).
Este zoneamento garante o perfil residencial desse loteamento, indicando que
este seja menos adensado. Os zoneamentos ZR1 e ZC3 (anteriormente citado)
permitem que o potencial construtivo seja maior do que a residência do conjunto
habitacional (ZR3), ou seja, a legislação para esses zoneamentos apresentam a
data mínima de 500, 00m², enquanto que na ZR3, a data mínima é de 250m².
A residência (figura 04) está locada em um terreno com grande parte coberto
por gramíneas, de alvenaria de tijolos cerâmicos, paredes internas com acabamento
em pintura branca, e externas cor amarelo claro, cobertura em madeiramento
convencional coberto por telha cerâmica tipo colonial e revestimento de piso com
tacos de madeira.
Figura 04: Mapa de localização do Parque Mediterrâneo e destaque para a residência escolhida.
A casa é constituída por três suítes, sendo que duas delas possuem varadas
com porta - janelas, garantindo melhor circulação de vento nesses cômodos. Há
uma cozinha, que fica ao lado da sala com uma janela e porta que dá acesso a
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lavanderia. Há também uma sala, que tem o pé direito de aproximadamente 4, 5
metros, com uma grande janela. Nesta sala, está a porta de entrada da casa,
portanto há constante circulação de pessoas e dos três moradores. Neste cômodo
foi instalado o termo-higrômetro, e não havia instalação de aparelhos de ventilação.
4.4 – Variações das temperaturas e umidade
Os dados coletados de cada residência estão apresentados no gráfico 01. No
período dos dias 03 a 23 as temperaturas se mantiveram elevadas, em média,
acima dos 25°C, e a umidade relativa do ar com valores acima dos 50%, no interior
das residências, assim como os registros do IAPAR (gráfico 01), valores típicos de
verão.
Gráfico 01 – Média diária das temperaturas e umidade relativa do ar do interior das residências e do IAPAR, do período do dia 03 a 23 de janeiro de 2015. Fonte: Próprias autoras. Adaptado de IAPAR, 2015.
O padrão das temperaturas segue um ritmo similar entre as residências e a
temperatura do ar. Já em relação a umidade, o padrão observado é de crescimento
inversamente proporcional, entre os registros das casas e os do IAPAR. Há de se
observar ainda, que o aumento das temperaturas é inversamente proporcional ao
aumento dos valores de umidade, no que se refere aos dados internos e externos.
0
5
10
15
20
25
30
35
50
55
60
65
70
75
80
85
90
95
100
3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23
°C
%
Dias
Mediterrâneo (%) Centro (%) Vista Bela (%) IAPAR (%)
Mediterrâneo (°C) Centro (°C) Vista Bela (°C) IAPAR (°C)
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A residência localizada na área central e a residência localizada na área sul
da cidade, apresentam valores de média das temperaturas abaixo das registradas
pelo IAPAR, já no interior da residência localizada na área norte da cidade, as
médias são as mais elevadas. Já a comparação com os dados de umidade, não há
um padrão definido.
É necessário destacar que a diferença dos registros da casa do Vista Bela,
com a casa do Parque Mediterrâneo (menores valores de médias de temperaturas),
são de 3°C diários, em média.
5 – Considerações Finais
A atual organização do espaço urbano londrinense é regida por meio da lei de
zoneamento urbano (Lei n° 12.236/2015 que dispõe do Uso e Ocupação do Solo).
No que se refere às considerações da presente pesquisa, esta lei determina a
densidade e potencial construtivo das áreas do estudo.
No caso da moradia do Parque Mediterrâneo, esta lei permite que os lotes
sejam maiores, possibilitando a construção de áreas verdes na área externa a
residência. O zoneamento imposto por essa lei atribui características residenciais a
este loteamento, o que compete menor densidade de construções e menor
variedade dos tipos destas (galpões, barracões, indústrias, entre outros), e menor
fluxo de pessoas e carros.
Já a moradia do Centro Histórico, possui um zoneamento que resulta em fluxo
constante de carros, caminhões, ônibus e pessoas, cujo deslocamento são para
locais com portes e materiais construtivos distintos. As áreas dos lotes do Centro
Histórico também podem ser melhores explorados.
E por último, a lei de zoneamento atribui ao loteamento do Conjunto
Habitacional Vista Bela, o caráter residencial, porém, com a possibilidade de
construções que ofereçam serviços comercial e até industrial. Dessa forma, há a
possibilidade deste loteamento oferecer serviços urbanos em um local marginalizado
e distante dos serviços já existentes. Neste caso, a lei determina menores lotes, o
que dificulta a maior adaptação dos moradores em uma área sem vegetação alguma
e com características agrícolas ao redor.
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Portanto, a cidade de Londrina é organizada de forma que há determinadas
populações que estão mais vulneráveis a determinados tipos de riscos. No caso da
presente pesquisa, se observa que a população do Vista Bela está mais vulnerável
aos riscos climáticos, pois apresenta temperaturas internas superiores às médias
diárias registradas na cidade, resultando em maior necessidade de adaptação ao
meio, que é dependente das condições financeiras dos moradores.
6 – Referências Bibliográficas
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