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Trabalho relativo a disciplina de Jornalismo mpresso Ii
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Velhos tempos, novos dias. A realidade de ser idoso no Brasil
Aluska, Kelly, Jeani e Rosiene
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Velhos tempos, novos dias. A realidade de ser idoso no Brasil
Aluska, Kelly, Jeani e Rosiene
2
V ,
: A
B .
Velhos tempos, novos dias. A realidade de ser idoso no Brasil
Aluska, Kelly, Jeani e Rosiene
3
“Nós ainda somos os mesmos e vivemos, como os
nossos pais”.
Elis Regina
À
Aqueles que têm mãos calejadas, marcas de uma vida
de trabalho, e aquelas que souberam ser mãe, antes mesmo das nossas.
Vô e Vô.
Velhos tempos, novos dias. A realidade de ser idoso no Brasil
Aluska, Kelly, Jeani e Rosiene
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Sumário
Capítulo I – SER IDOSO
Idoso e velho ------------------------------------------------- 05
Uma população que cresce e consome ---------- 10
Capítulo II – EU TENHO DIREITO!
Idoso: Direito a vida, ao sorriso e a dignidade de ser reconhecido.---------------------------------------------------- 12
Capítulo III – NÃO É SÓ ENVELHECER
Idoso e família ------------------------------------------------ 16
Vida nos asilos------------------------------------------------- 19
O cuidado fora dos asilos -------------------------------- 21
A relação cuidador e Idoso----------------------------- 23
Capítulo IV – PERFIS
E as rugas engradecem o sorriso---------------------- 26
Quem tem a vida comprida puxa por ela. -------- 29
Pra viver o que eu vivi, só vivendo 80 anos.------- 34
Velhos tempos, novos dias. A realidade de ser idoso no Brasil
Aluska, Kelly, Jeani e Rosiene
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Capítulo I
Idoso e Velho
“IDOSA é a pessoa que tem muita Idade;
Velha é a pessoa que perdeu a jovialidade.
A idade causa degeneração das células;
A velhice causa degeneração do espírito.
Por isso, nem todo idoso é velho e há velho que
nem chegou a ser idoso.
O mesmo ocorre com as coisas: há coisas que são
idosas (antigas) e há coisas que são velhas. Um
vaso da dinastia Ming (1368-1644) pode ser uma
antigüidade, uma relíquia que não tem preço;
outro de apenas 50 anos ou menos, pode ser um
vaso velho a ser relegado a um depósito.
Você é idoso quando pergunta se vale a pena;
Você é velho, quando sem pensar responde que
não.
Você é idoso quando sonha;
Você é velho quando apenas dorme.
Você é idoso quando ainda aprende;
Você é velho quando já nem ensina.
Você é idoso quando pratica esporte ou de
alguma forma se exercita;
Velhos tempos, novos dias. A realidade de ser idoso no Brasil
Aluska, Kelly, Jeani e Rosiene
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Você é velho quando apenas descansa.
Você é idoso quando ainda sente AMOR;
Você é velho quando só sente ciúmes e
possessividade.
Você é idoso quando o dia de hoje é o primeiro do
resto de sua vida;
Você é velho quando todos os dias parecem o
último da longa jornada;
Você é idoso quando seu calendário tem
amanhãs;
Você é velho quando seu calendário só tem
ontem.
Idosa é aquela pessoa que tem tido a felicidade
de viver uma longa vida produtiva, de ter
adquirido uma grande experiência; ela é uma
porta entre o passado e o futuro e é no presente
que os dois se encontram.
O velho é aquele que tem carregado o peso dos
anos; que em vez de transmitir experiência às
gerações vindouras, transmite o pessimismo e a
desilusão. Para ele, não existe ponte entre o
passado e o presente, pois lá existe um fosso que o
separa do presente, pelo apego ao passado.
O idoso se renova a cada dia que começa,
O velho se acaba a cada noite que termina,
Pois enquanto o idoso tem seus olhos postos no
horizonte, de onde o sol desponta e a esperança
se ilumina, o velho tem sua miopia voltada para os
tempos que passaram.
O idoso tem planos, o velho tem saudades.
O idoso se moderniza, dialoga com a juventude,
procura compreender os novos tempos;
Velhos tempos, novos dias. A realidade de ser idoso no Brasil
Aluska, Kelly, Jeani e Rosiene
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O velho se emperra no seu tempo, se fecha em sua
ostra e recusa a modernidade.
O idoso leva uma vida ativa, plena de projetos e
preenche de esperança. Para ele o tempo passa
rápido e a velhice nunca chega.
O velho cochila no vazio de sua vidinha e suas
horas se arrastam, destituídas de sentido.
As rugas do idoso são bonitas porque foram
marcadas pelo sorriso; as rugas do velho são feias,
porque foram vincadas pela amargura.
Em suma, o idoso e o velho são duas pessoas que
até podem ter, no cartório, a mesma idade
cronológica, mas o que têm são idade diferentes
no coração.”
- Autor desconhecido
No Brasil, segundo o Estatuto do Idoso (Lei
10.741, de 1º de outubro de 2003) considera-se
idoso aquele que tem 60 anos ou mais, já para
organização mundial da saúde esta classificação
segue a seguinte ordem: 6O anos nos países em
desenvolvimento e mais de 65 nos países
desenvolvidos; dessa forma poderíamos dizer que
os idosos do nosso país, considerado em
desenvolvimento se enquadram na proposta da
OMS1.
Todas as definições partem do pressuposto
de faixa etária do indivíduo associando-se aos
1 A Organização Mundial da Saúde (OMS) é uma agência especializada em saúde, fundada em 7 de abril de 1948 e subordinada à Organização das Nações Unidas.
Velhos tempos, novos dias. A realidade de ser idoso no Brasil
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processos biológicos. Geralmente é nessa idade
que os sinais do avanço da idade começam a
aparecer, muitos já não seguem a mesma rotina
de trabalho, a realidade começa a mudar, o
cansaço, a aposentadoria, os netos e a memória
de uma vida inteira de luta começa a se fazer
presente nessa fase da vida.
Para Camarano (2004) O conceito de idoso,
portanto, envolve mais do que a simples
determinação de idades-limite biológicas e
apresenta, pelo menos, três limitações. A primeira
diz respeito à heterogeneidade entre indivíduos no
espaço, entre grupos sociais, raça/cor e no tempo.
A segunda é associada à suposição de que
características biológicas existem de forma
independente de características culturais e a
terceira à finalidade social do conceito de idoso.
Daí muitos passam a utilizar o termo terceira
idade, para definir esse período, depois de
ultrapassar a infância e a fase adulta, o indivíduo
chega à terceira idade o melhor idade como é
denominada atualmente, mas será que estas pessoas estão de fato na terceira idade?
Muitas vezes ao usarmos esse termo
pensamos apenas nas características gerais dessa
fase da vida, velhice cabelos brancos a fragilidade
e a incapacidade do outro após atingir certo
tempo de vida, e não atentamos para perceber
que são pessoas normais, que estão em todas as
camadas da população, afinal o envelhecimento
Velhos tempos, novos dias. A realidade de ser idoso no Brasil
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é um processo comum a todos os seres humanos
que conseguem alcança-lo.
Ao questionar: ‘Será que todas as pessoas
que tem mais de 60 anos estão na terceira idade?
’, é aberto um espaço para a discussão onde nós
podemos perceber, que não é necessariamente a
idade de você possui, ou as marcas que foram
deixadas durante uma vida e que se tornam visíveis
com o passar dos anos, que vai determinar o seu
grau de velhice. Hoje em dia, há muitos jovens no
sedentarismo, presos a uma vida cansada e
desgastada, enquanto que a terceira idade luta
para alcançar seus direitos, são exemplos de
coragem e determinação e fazem valer o termo
melhor idade. É preciso acreditar que nessa
vontade de viver dos idosos esteja a resposta para
muitas das nossas perguntas, é preciso enxergar o
passado como algo prazeroso, pois o idoso
aprende a elencar os fatos relevantes, positivos, do
passado como matéria-prima para o dia a dia
visando um futuro bem sucedido.
Com isso o idoso tem sido encarado de
formas diferentes a o longo do tempo e nas
diversas culturas, há quem veja a terceira idade
com olhos de respeito amor e dedicação à uma
pessoa que carrega consigo inúmeras
experiências de vida, como também há quem
acredite que o ser humano ao chegar na fase
idosa torna-se um objeto, que com um passar do
tempo tende a ser descartado após o uso, seja
pela perda da autonomia física e funcional,
dificuldade de comunicação e interação com as
Velhos tempos, novos dias. A realidade de ser idoso no Brasil
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gerações mais recentes ou pelo simples fato de
acreditar que o que é velho não há valor.
Investigando um pouco mais sobre o
cotidiano dessas pessoas é possível enxergar, as
contribuições, os desafios, as dificuldades e a
realidade positiva ou não, enfrentada pelo idoso
atualmente, e perceber a importância dos
‘cabelos brancos’ na nossa pauta diária e no
cotidiano de uma sociedade como um todo.
Uma população que cresce e consome
O dados demográficos nos mostram que
segundo o resultados das pesquisas do IBGE,
pode-se observar um crescimento na participação
relativa da população com 65 anos ou mais, que
era de 4,8% em 1991, passando a 5,9% em 2000 e
chegando a 7,4% em 2010. O crescimento absoluto
da população do Brasil nestes últimos dez anos se
deu principalmente em função do crescimento
da população adulta, com destaque também
para o aumento da participação
da população idosa, na distribuição por região a
população idosa se concentra em sua maioria na
região sul e sudeste com 8,1 % da população e em
seguida o nordeste, com 7,2%.
A população idosa brasileira também
movimenta a economia do país, os idosos de hoje
não podem ser comparados aos idosos de
décadas atrás, com o crescimento dos números de
benefícios da previdência social nos últimos 30
anos, o Brasil praticamente erradicou a pobreza
Velhos tempos, novos dias. A realidade de ser idoso no Brasil
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entre idosos, no início da década de 80 até o final
da passada, a proporção de brasileiros entre 60 e
74 anos vivendo com menos de US$ 2 por dia (linha
de pobreza segundo o Banco Mundial) caiu de
45% para 2%.
Aumentaram
também o
consumo por
parte destes,
que a cada
ano são vistas
como um
mercado
consumidor
solidificado.
Como o exemplo de mercado que cresceu graças
aos consumidores com mais de 60 anos podemos
citar, o farmacêutico, pois grande parte da
população idosa brasileira utiliza alguma
medicação contínua como medicamentos para
hipertensão, diabetes, Alzheimer entre outros. E
crescem também as opções para aqueles que não
possuem crédito suficiente pra atender a demanda
do consumo, ou que necessitam de uma renda
extra para atender necessidades especiais, estão
sendo liberados cada vez mais, créditos
consignados, os famosos empréstimos, que
também fazem parte da realidade da terceira
idade brasileira, porém o grande risco apresentado
em relação a esses empréstimos e um possível
Velhos tempos, novos dias. A realidade de ser idoso no Brasil
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endividamento, problema questionado entre
muitos idosos aposentados.
Capítulo II
Idoso: Direito a vida, ao sorriso e a dignidade de ser reconhecido.
De acordo com a lei no Art. 3°, título I,
Disposições Preliminares, todo idoso possui direito
de ser reconhecido pela família, comunidade,
sociedade e poder político, a prática de esporte,
direito a saúde, á alimentação, educação, cultura e lazer.
Embora existam atos de autoridades que
ordenam os direitos aos idosos, ainda se percebe
uma carência e descumprimento dessas leis, não
se precisa apenas visibilizar um adulto com mais de
60 anos, perseverando o respeito de não
discriminá-lo, porém pequenos gestos como,
atendimentos preferenciais em filas de bancos,
assentos públicos ou até ajudar a atravessar de
uma rua para outra se necessário, são atitudes que
se remetem não apenas ás regras, mas ao bom senso.
Velhos tempos, novos dias. A realidade de ser idoso no Brasil
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No Art. 9° do Capítulo I, Direito à Vida, a lei
aborda a obrigação do estado, garantir e da
sociedade assegurar á pessoa idosa a liberdade, o respeito e a dignidade, como pessoa humana o
sujeito de direitos civis, políticos, individuais e sociais garantidos na Constituição e nas leis.
No Brasil a todo instante nos deparamos
com as dificuldades no atendimento público,
principalmente quando se trata de saúde e da
espera por um serviço á exemplo do SUS, onde no
Art. 15° do Capítulo IV, do Direito á Saúde, a lei
afirma “É assegurada a atenção integral a saúde
do idoso, por intermédio do Sistema Único de
Saúde – SUS2, garantindo-lhe o acesso universal e
igualitário, em conjunto articulado e contínuo das
ações e serviços para a prevenção, promoção,
proteção e recuperação da saúde, incluindo a
atenção especial ás doenças que afetam
preferencialmente os idosos”. Todavia embora seja
oficial na Constituição ainda existem lacunas que
contrariam essa imposição exemplo dessa
afirmação a senhora Maria das Dores Pessoa de 64
anos, que espera uma cirurgia cardiovascular há
2 O Sistema Único de Saúde (SUS) foi criado pela Constituição Federal de 1988 para que toda a população brasileira tenha acesso ao atendimento público de saúde. Os princípios da universalidade, integralidade e da equidade são às vezes chamados de princípios ideológicos ou doutrinários, e os princípios da descentralização, da regionalização e da hierarquização de princípios organizacionais, mas não está claro qual seria a classificação do princípio da participação popular.
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um ano e até agora nada foi solucionado, e onde
se fica a atenção especial? Será que em um ano o
SUS não conseguiria um cardiologista para
solucionar o problema? Seria essa a proteção e o
direito a saúde de qualidade que os governos disponibilizam para uma população idosa?
É necessário analisar que não é viável
apenas á escrita em um papel, porém a prática
dessas regras, os idosos precisam ser vistos como
seres humanos que necessitam de cuidados
especiais, iniciando da família até os demais que
compõem um âmbito social, não se pode
desprezar alguém tão importante e que possui
uma parcela de contribuição na construção de uma sociedade atual.
Para a secretária de Ação Social do
município de Cubati, a senhora Valquiria Lopes
(38), o idoso é um retrato experiente de todas as
lutas passadas, “A terceira idade é um dos públicos
mais importante da sociedade, pessoas que são
fiéis em suas decisões e que se tornam ponto de
amadurecimento e exemplo para todos que os
rodeiam”, afirma a secretária exemplificando
ainda que no seu âmbito de trabalho o CRAS3
existe Grupo de idosos onde se encontram
3 O Centro de Referência de Assistência Social (Cras) é uma unidade pública estatal descentralizada da Política Nacional de Assistência Social (PNAS). O Cras atua como a principal porta de entrada do Sistema Único de Assistência Social (Suas), dada sua capilaridade nos territórios e é responsável pela organização e oferta de serviços da Proteção Social Básica nas áreas de vulnerabilidade e risco social.
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semanalmente chamado “A vida continua” e há 3
anos vivenciam esses encontros, participando de
peças teatrais e eventos juninos como dançar em
quadrilhas. Percebe-se que essas ações são
deveres que o município tem que cumprir, haja
visto que os idosos por lei são acobertados e
querem demonstrar que ainda possuem
capacidade de ser úteis e produtivos. Esperam
assumir um lugar mais digno em sua comunidade.
Só esperam de cada um de nós um cuidado e um
olhar mais generoso para essa ideia; ainda
persistente, de terceira idade como sinônimo de
improdutividade, de pessoas fracas, amarguradas
e aborrecidas, que só atrapalham; ser finalmente abolida.
É preciso que os órgãos políticos, assim
como a sociedade perseverem nesses direitos,
fazendo uso do conhecimento exato de que a
qualidade de vida é um direito de cada ser vivo,
sem preconceito, maus tratos e exclusão social. Se
cada um refletisse sobre como se dá sua existência
no mundo perceberia, com responsabilidade os
efeitos
causados
por suas
ações.
Grupo de idosos do
CRAS do município de
Cubati -PB
Velhos tempos, novos dias. A realidade de ser idoso no Brasil
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Capítulo III
Idoso e Família
A família é a primeira base de apoio do ser
humano, não há dúvidas que as relações
construídas no ambiente familiar em sua maioria,
contribuem para o desenvolvimento pessoal, social
e psicológico dos indivíduos, é através deste
habitat que o ser humano cresce e se desenvolve,
atingindo a vida adulta, onde sai do ninho para
construir a sua própria família. O ciclo; infância,
adulto, e velhice é algo comum a todas as famílias,
onde podemos observar o papel dos idosos como
pais e avós na importância dessa construção da identidade dos seus familiares.
A relação idoso x família pode ser
apresentada de várias formas, primeiramente
podemos observar a velhice como um processo
doloroso; os idosos que se enquadram neste caso
podem ser chamados de ‘idosos dependentes’
que apresentam algum tipo de dependência
física, financeira, ou funcional. Nesse grupo, a
maioria das pessoas já apresenta um desgaste
significativo e residem com família, nestes casos os
cuidados caseiros são mais viáveis, uma vez que
estas pessoas necessitam de cuidados específicos
em atividades relativamente simples, como um
Velhos tempos, novos dias. A realidade de ser idoso no Brasil
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banho por exemplo. O segundo grupo que pode
ser analisado, são aqueles idosos independentes,
que moram em sua própria casa, e apesar de sua
idade avançada conseguem realizar sua
atividades com autonomia, sem necessitar de
cuidados específicos dos familiares, porém a
autonomia destes em relação aos idosos
dependentes não representa um fator decisivo
para a ausência familiar.
Em linhas gerais podemos afirmar que
independente do tipo de idoso, a família que age
direta ou indiretamente é um indicativo de suma
importância, pois é nela que o idoso necessita de
cuidados, apresenta as suas manias e acaba por
envolver a família em torno de si, levando os mais
jovens a olhar não só para si como também para
tudo a sua volta. Porém atualmente essa relação
vem sendo reconfigurada, a ausência dos
parentes tornou-se algo comum na realidade
vivida por essas pessoas, a função social da família
na vida dos idosos vem sendo cada vez menos
exercida, hoje a família é considerada nuclear
onde convivem pais e filhos e as vezes até mesmo
mães e filhos sem a figura dos avós.
A questão da ausência passa a se
problematizar quando apresenta resultados
negativos, principalmente em relação a problemas
psicológicos desenvolvidos na terceira idade, em
conversa com a psicóloga Rebecca Athayde, ela
afirma que o apoio social é uma variável que está
diretamente relacionada com o bem estar
subjetivo, e existem estudos que mostram que
Velhos tempos, novos dias. A realidade de ser idoso no Brasil
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quanto maior o apoio familiar, menor as
tendências depressivas, os pensamentos de morte, ou a insatisfação com a vida.
Como exemplo temos o relato da senhora
Isaura Fábio, que tem 80 anos e há 25 tornou-se
vizinha da sua filha Socorro, ela afirma que estar
perto de família foi a melhor coisa que ela fez, em
todos os momentos alegres e tristes dos últimos
anos, pois ela teve filhos e netos para compartilhar,
e nunca passou pela cabeça algum desejo
negativo porque a família é o bem mais precioso
que ela
possui.
Dona Izaura
Fábio, 80.
Quanto maior o apoio maior será qualidade
de vida dessas pessoas, apesar das dificuldades
enfrentadas, a família torna-se o personagem
primordial na terceira idade, conforme nos mostra
o artigo 3º do Estatuto do Idoso: “É obrigação da
família, da comunidade, da sociedade e do Poder
Público assegurar ao idoso, com absoluta
prioridade, a efetivação do direito à vida, à saúde,
à alimentação, à educação, à cultura, ao esporte,
ao lazer, ao trabalho, à cidadania, à liberdade, à
Velhos tempos, novos dias. A realidade de ser idoso no Brasil
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dignidade, ao respeito e à convivência familiar e
comunitária”. Portanto, pode-se concluir que, para
a família prevenir, proteger, promover e incluir seus
membros, é preciso garantir condições de
sustentabilidade, é preciso que todos estejam
empenhados em inserir estes membros na
realidade social que eles vivenciam e que essas condições favoráveis sejam aplicadas.
Vida nos Asilos
Ser idoso é uma arte. Arte de ser bem
cuidado, de merecer uma atenção maior, de ter
longas histórias para contar, e de agora descansar, apenas descansar.
Para alguns idosos que não tem o privilégio
desses, uma das opções é procurar asilos, lugares
onde pessoas se dispõem a fazer atos tão
grandiosos e solidários. Em Campina Grande-PB o
Asilo São Vicente de Paulo abriga pessoas da
terceira idade, que
por algum motivo
optaram por não
mais levar a vida
em casa.
É o caso da
Senhora Marli
Gonzaga, uma
senhora de 90
anos, que vive no
Asilo a quase dois. Marli perdeu os pais ainda muito
jovem, teve apenas uma irmã e nunca casou, na
Velhos tempos, novos dias. A realidade de ser idoso no Brasil
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juventude era enfermeira, hoje habita o asilo por
opção da sobrinha, que por sua vez via a tia
sozinha e com medo da violência, tomou a decisão.
“No asilo Nós somos muito bem tratados,
elas agem com uma delicadeza grande e
podemos dormir tranquilos”, acrescenta Marli Gonzaga.
Para os senhores de
idade, os asilos servem
como uma opção para
quem não tem família,
para quem sofre maus
tratos e até mesmo por
nenhum desses e sim, por
uma escolha de um idoso
que precisa de cuidados e
não encontram em suas casas.
Dona Marli, diz ser
feliz e ter vários amigos,
desde a juventude, foi
uma pessoa alegre e
calma que hoje sente falta da família e lembra com alegria de seu passado.
O Asilo São Vicente de Paulo abriga
senhoras e senhores de todas as idades e de várias
cidades do estado, o espaço é coordenado por
freiras, eles têm o tratamento adequado para a
Velhos tempos, novos dias. A realidade de ser idoso no Brasil
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idade, com cuidados médicos horários marcados
para refeições e tudo que um idoso precisa.
Levam uma vida tranquila, com a presença
de vários amigos, aqueles que chegam e aqueles
que por uma vontade maior vão embora, deixando tristeza e um vazio aos que ficam.
O cuidado fora dos asilos.
É importante relatar, aqui, a vida do idoso
fora dos asilos. A presença da família é primordial
na vida dos idosos, porém, muitos hoje em dia, por
falta de tempo e ou paciência tem entregado os
cuidados nas mãos de segundos.
É preciso fazer uma seleção muito rígida
antes de confiar a pessoa de melhor idade a
alguém desconhecido. Muitos aceitam cuidar por
que necessitam mesmo do salário, outros
simplesmente por questão de solidariedade. Aí
pergunto. A pessoa que está sendo paga é mesmo
de confiança? Ou seria mais de confiança do que
um próprio parente? A família pode ou consegue
contribuir nessa faixa etária? Ou contribuem
apenas com os custos? Hoje em dia pouco se ver
um filho (a), uma nora, ou qualquer que seja o grau
de parentesco, tomando para si os cuidados que
um idoso necessita.
Velhos tempos, novos dias. A realidade de ser idoso no Brasil
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As histórias de maus tratos contra a terceira
idade são constantes no nosso cotidiano. Para isso
existe a Lei que protege o idoso, o Art.226,
parágrafo 8º defende a coibição de violência no
seio familiar. O estatuto define diversas medidas de
proteção às pessoas com melhor idade, dentre
elas a punição de seis meses a 12 anos de cadeia
por maus tratos aos idosos.
Tanto como uma criança precisa de
cuidados e atenção, assim também são os idosos.
Levando em conta que todos vão envelhecer um
dia, não há explicação para humilhar e mal tratar
quem nos carregou em seus braços, nos deu
carinho, nos ensinou e nos privou de tantas coisas
ruins na vida. Seja por necessidade ou
solidariedade, quem se dispõe a cuidar, deve fazê-
lo com respeito, dignidade e amor.
Relação entre cuidador e idoso
Geruza Barbosa de Medeiros de trinta anos
é cuidadora de idosos desde os 17 anos de idade.
Há um ano e meio, cuida de Maria Helenira
Almeida da Silva, 78 e Francisco Adão José da
silva, 80, cadeirante. Apesar da atenção que
recebem da família, é preciso todo um cuidado
com a higiene, alimentação e remédio, por isso se
fez necessário à presença da cuidadora. Geruza
mora no sítio Mãe Joana, mas passa a semana em
Velhos tempos, novos dias. A realidade de ser idoso no Brasil
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Campina Grande, diz que
não é fácil deixar a família
e que sente muita
saudade de todos, mas o
que ela pode fazer pelo
seu filho através do seu
trabalho já compensa o
tempo que eu passa
longe deles.
Em depoimento, conta emocionada que
quando começou a cuidar deles fazia quatro
meses que seus avós tinham falecido, então se
apegou muito aos dois. “Eu já estava entrando
numa depressão que não me fazia bem, então
Deus colocou eles no meu caminho e eu no
caminho deles, pois naquele momento eu estava
necessitando de dá carinho e receber também.”
Fala que sente o maior prazer no que faz e que se
um dia Deus tirasse um da vida do outro, ela não
abandonaria a profissão, pois não gosta de
trabalhar para gente nova. “Aqui existe uma
relação de pais e filho, preciso sim do salário que
ganho, mas amo o que faço, sempre amei.
Quando a gente trabalha com amor tudo vai bem,
tudo dá certo.”
Todo esse carinho é recíproco, dona
Helenira e seu Francisco expressam o que sente
pela sua cuidadora. “É mais que uma filha para
Velhos tempos, novos dias. A realidade de ser idoso no Brasil
Aluska, Kelly, Jeani e Rosiene
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nós, confiamos muito nela, no que podemos ajudar
a gente ajuda, pois o que recebemos em troca é
muito mais do que fazemos por ela. Todo final de
semana ela vai embora e só vem na segunda, mas
nossa vontade era ter ela sempre por perto, só pra
gente [risos]. E é isso. Não permitimos nada de
errado com ela, mexeu com ela mexeu com a
gente também.”
Mas esta relação existe de igual forma na vida
de todos?
Por toda parte sempre podemos tomar
conhecimento de alguma história como essa, o
lamentável é que essa relação não existe em todo
lugar, há casos de maus tratos que nos indignam
bastante. Segundo os dados da Fundação Perseu
Abramo4, são 18 milhões de idosos vivendo no país
atualmente. Destes, 35%, ou seja, três em cada dez,
já foram vítimas de humilhação, ameaças,
abandono, agressão física, discriminação,
exploração financeira e até mesmo abuso sexual.
A pesquisa foi realizada recentemente nas cinco
regiões do país.
4 Fundação criada pelo Partido dos Trabalhadores (PT) tem por objetivos a pesquisa, a elaboração doutrinária e a contribuição para a educação política dos filiados do PT.
Velhos tempos, novos dias. A realidade de ser idoso no Brasil
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Numa matéria investigativa, em 23 de
agosto de 2010, o Repórter Record5 mostra os
diversos tipos de maus tratos. As agressões de
enfermeiros, enfermeiras e empregadas, pessoas
que recebem dinheiro para ministrar cuidados e
que, algumas vezes, usam de violência contra seus
pacientes. Dão socos, pontapés, puxam os
cabelos... As agressões são tantas e tão fortes, que
alguns idosos acabam morrendo, vítimas do
espancamento.
Com uma câmera escondida, os produtores
entraram em asilos clandestinos. Flagraram
geladeiras vazias, remédios vencidos, velhos
mijados e largados. Flagraram também o
abandono de velhinhos pela família. A dor de
quem cuidou de seus filhos a vida toda e agora
não recebe os mesmos cuidados. A dor de quem
lutou a vida inteira para receber uma
aposentadoria pequena e, mesmo assim, acaba
sendo roubado pelos próprios parentes. A dor dos
velhinhos que não têm onde morar, que vivem nas
ruas, pedindo esmolas e em abrigos da prefeitura,
em fim, que foram completamente esquecidos.
5 Programa jornalístico temático e semanal.
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Capítulo IV - Perfis
Muitos deles são responsáveis pelo sustento
dos seus familiares e concentram a renda em
muitos domicílios brasileiros, idosos que cuidam de
filhos, netos e acabam invertendo a cena comum
de incapacidade que nos é apresentada. Todos
desejam amar e ser amados, distribuir esse amor,
poder compartilhar momentos importantes de suas
vidas, chegar à determinada idade com
perseverança de quem viveu, e a jovialidade de
quem ainda tem muito pra mostrar e que o
passado tornou-se algo tão rico quanto a
satisfação e a emoção de relembrar e reviver isso
no presente. A seguir serão apresentados perfis de
pessoas que passaram dos 60 com uma certeza:
“Se chorei ou se sorri o importante, é que emoções eu vivi”.
E as rugas engrandecem o sorriso
A senhora Maria da Paz Pessoa de 62 anos é
personagem da vida real que nos narra com
demonstração e orgulho em uma manhã de
Domingo no balanço da cadeira, ao canto dos
pássaros a sua trajetória de vida até os dias atuais.
Velhos tempos, novos dias. A realidade de ser idoso no Brasil
Aluska, Kelly, Jeani e Rosiene
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Nascida em 16 de Março de 1950, no sítio
Praia Nova, região do município de Cubati, dona
Maria dividiu sua infância e adolescência com 26
irmãos, desde criança trabalhou na zona rural no
setor de agricultura, e depois se tornou professora
do ensino primário como era identificado na
época, onde permaneceu 12 anos educando e perseverando em prol do conhecimento.
Casou-se com
23 anos, onde teve três
filhos, Jakson Pessoa,
Laudienne Pessoa e
Jaqueline Pessoa, esta
última veio a falecer
ainda recém nascida.
Mesmo com
problemas pessoais,
familiares e de saúde
já que ela foi internada
várias vezes vítima de
derrames cerebral,
dona Maria não se
conteve e após sua
separação
matrimonial, ela
demonstrou um espírito
de fortaleza, criando
seus dois filhos; por consequência de tantas
dificuldades, abandonou a sala de aula e nos anos
90 retorna as atividades não mais atuando como
educadora e sim como doméstica e trabalhou
durante 10 anos. “A vida sempre foi dura comigo,
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mas hoje percebo que valeu a pena, o que é fácil
se vai depressa, o que nos custa sacrifício
permanece conosco”, relata dona Maria após um
silêncio que prevaleceu alguns segundos durante a
conversa, dando a entender que a reflexão de sua
história permanece a emocionar em cada palavra
pronunciada, coisas que não se veem pelas rugas,
porém são percebidas em cada palavra de
amadurecimento.
Atualmente a senhora Maria da Paz vive em
um sítio próximo a cidade de Cubati e para ela
lugar melhor não há, a rotina da zona urbana
estressa, o conveniente é morar em um lugar onde
se “reine” paz e oportunidade para trabalhar com
a agricultura. Avó de cinco netos explica quando
indagada sobre o que significa a família “Batalhei
muito para criar os meus filhos, rezo todos os dias
para que Deus conceda a mesma alegria ao ver
meus netos, homens e mulheres de bem, me
orgulho da família que tenho e que eles possam
acreditar nos planos de Deus, e os digo sempre
que já sou senhora e nunca usei isso como pretexto
para acomodar e não buscar aquilo que quero, a
vida ensina, mas a determinação transforma”.
Dona Maria causa orgulho, porque existem
tantos que criticam a vida e se quer pararam para
pensar no que ela pode representar e no quanto
os idosos são reflexos e exemplos disso, “Tenha
sempre a convicção que a pele se enruga, o
cabelo embranquece, os dias convertem-se em
anos e atrás de cada conquista um aprendizado”.
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Quem tem a vida comprida puxa por ela
A casa simples na ladeira, cheia de janelas
numa tarde ensolarada, foi o cenário de uma
conversa com uma mulher dona de uma história
de vida incrível. Claudina Ferreira Silva nos relata
com uma boa dose de sinceridade, emoção, e bom humor, momentos inesquecíveis.
Bisavó, avó, e mãe; Dona Dina, como
prefere ser chamada, é nada mais nada menos
que avó de 32 netos, bisavó de 34, e mãe de 22
filhos e mais um adotivo. Na simplicidade de suas
histórias, em meio a tantas dificuldades, ela
conseguiu formar essa família numerosa que “se
fosse juntar todo mundo, essa casinha aqui não
cabia nem a metade do povo”, declara Dona
Dina.
Herdou o nome Claudina, da própria
assinatura da família de sua mãe, pertencia à
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família Claudino, formada por marceneiros da
região. Nascida em 01 de julho de 1924, no sítio
Logradouro, onde hoje está localizada as
proximidades da BR 230, aos 87 anos ela é dona de
uma memória invejável, lembra detalhadamente
da maioria dos períodos de sua vida, desde os seus
sete anos de idade quando ficou órfã e teve que
percorrer vários lugares do interior da paraíba ao
lado de 6 irmãos; dois mais velhos e quatro
menores, até os dias atuais, nos momentos em que
ela segura os seus bisnetos no colo para contar
essas histórias. E quem disse que velho não
consegue fazer mais nada? Como uma boa
agricultora e dona de casa, lavar roupa e capinar
as plantações de fava no quintal não é problema para Dona Dina.
Mas por trás de uma história de alguém que
lutou e batalhou a vida inteira, Dona Claudina
relembra fatos tristes que ficaram marcados, como
uma infância sofrida com a ausência dos pais
“foram épocas de dificuldades, não cheguei a
aprender a ler e ter essas oportunidades que vocês
tiveram na vida, o que eu sinto mais falta é do meu
estudo, na idade que vocês estão hoje, eu já tinha
vivido muita coisa, já tinha trabalhado demais pela
casa dos outros” declara dona Dina emocionada.
Como alguém que percorreu muitos lugares
da Paraíba, Dona Dina sai do sítio Cafula onde foi
criada, e passa a morar em outras comunidades
rurais da redondeza, residiu na cidade de Riachão
do Bacamarte, depois na Capital, onde passou seis
meses e lembra com alegria “foi um dos melhores
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lugares que vivi, já não tinha tanta dificuldade, me
recordo bastante de uma amiga chamada
Lourdes que eu tinha lá”, depois de João Pessoa foi
à vez de peregrinar pelo Cariri Paraibano, onde
passou seis meses, três deles, sem andar por um
problema de saúde, quando perguntamos o
motivo ela nos surpreende com a resposta:
__ Fui picada por uma cobra cascavel na
perna e quase morri,
__ E o veneno, trouxe alguma sequela?
__ Sim trouxe, mas o poder de Deus é maior,
‘Quem tem a vida comprida, puxa por ela’, estou aqui contando a história.
__ E como a senhora conseguiu se curar sem
os recursos que temos hoje?
__ Rapadura minha filha, comi até abusar, por isso
que até hoje tenho abuso, e um pouquinho de diabetes [risos].
Essa é apenas uma das muitas histórias que
Dona Dina nos conta com muita alegria e
sinceridade em nossa conversa. Perguntando sobre
a coisa mais inusitada que ela já fez ela nos
respondeu: “foi fazer uma promessa que se um
feijão que eu tinha lucrado na última safra
aparecesse, por que ele estava sumido, eu
colocava o nome de todas as filhas que eu tivesse
de Maria, meu feijão apareceu, na época eu era solteira, mas eu tive que cumprir”.
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De fato dona Claudina cumpriu sua
promessa, dos seus 22 filhos, hoje ela tem sete
Marias, todas nascidas e criadas num casinha de
taipa simples na zona rural de Massaranduba, viveu
a vida toda basicamente da agricultura, do
trabalho no campo, e da produção de alguns
artesanatos como objetos em argila, as famosas
panela de barro, e os bordados em labirinto,
herança que deixou para algumas de suas filhas.
Em 1983, Dona Claudina se muda para a
cidade de Massaranduba onde reside até hoje, um
ano depois perde seu esposo, senhor Severino
Venâncio, e passa a morar com a filha caçula que
lhe deu 4 netos e 1 bisneto, o que permitiu que
dona Claudina nunca saísse do clima de família,
de casa cheia. Perguntado aos seus familiares
como eles definiriam essa mulher eles respondem:
Um exemplo de vida, ela é incrível. E não são só
netos biológicos que demostram esse amor por ela,
dona Dina também e rezadeira e 90% dos bebês
recém nascidas, jovens e adultos, já passaram
pelas bênçãos contra mal olhado da “vó Dina” como alguns chamam.
Ela ainda afirma que seu hobby é não ficar
parada e que se sente útil quando pode fazer
alguma coisa; sempre bem disposta, facilmente a
encontramos pelo quintal cantarolando com uma
voz de fazer inveja “Você foi embora, nunca mais
voltou, eu sei que você tem um novo amor”, e se
você pensa que ela só gosta de música antiga,
tem que ter pique pra ouvir Paula Fernandes, comer Pizza e tomar Coca-Cola com ela.
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Exemplo de determinação, Dona Claudina
tornou-se uma pessoa especial na vida de muitos,
levando uma alegria que nem todos os jovens de
20 ou 30 anos possuem. Definir alguém desse tipo
em apenas uma conversa ou em palavras de um
texto seria impossível, mas ela nos deixa a lição que
é uma idosa, mas não velha. “O velho é aquele
que tem carregado o peso dos anos; que em vez
de transmitir experiência às gerações vindouras,
transmite o pessimismo e a desilusão, já idosa é
aquela pessoa que tem tido a felicidade de viver
uma longa vida produtiva, de ter adquirido uma
grande experiência; ela é uma porta entre o
passado e o futuro e é no presente que os dois se
encontram”. E basta olhar pra vida de Dona
Claudina e perceber nitidamente o que é ser idoso.
Dona Claudina 87,e seu bisneto Renan,3.
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Para viver o que eu vivi, só vivendo 80 anos
como eu.
Francisco Adão da Silva nasceu em Souza,
no Sertão da Paraíba, no dia 05 de setembro de
1931. Em 1949 veio para campina Grande. “Vim
morar com minha avó e meu avô com 17 anos de
idade, nunca gostei desse negócio de sítio. Um dia
ganhei um cavalo lindo, mas acabei dando ao
padre, preferia uma bicicleta quebrada [risos].”
Tinha 26 anos quando se casou com Maria
Helenira. Segundo seu Francisco, sua esposa
morava em Lagoa Nova e veio para Campina
grande estudar no Colégio Alfredo Dantas,
terminou contabilidade, trabalhou numa farmácia
e fez um curso de costureira, mas só costurava
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para família. Na verdade ela sempre foi uma boa
dona de casa, diz.
Na sua atual casa moram as lembranças
de uma vida feliz. No primeiro andar, onde
funcionava uma boate, guarda discos da época e
lindos quadros, tem em média de 400 retratos que
ele mesmo pintava da família e de amigos. No
quintal, as paredes são uma verdadeira arte, tem
diversas pinturas de capa de discos de cantores e
artistas como Orlando Silva, Vicente Celestino,
entre outros em que se considera fã. “Eu sei a
história desses artistas, o dia que nasceu e morreu
e, de cabeça, todas as músicas [...] esse é um
espaço de muitas boas recordações [...] colocava
mesas aqui e cantava até o dia amanhecer com
amigos.”
Dona Helenira conta que a maior perdição
da vida de seu Francisco foi o vício em uísque e
cigarro, mas já não pode mais beber por conta dos
remédios que toma. Fala que ele sempre foi
inteligente e era considerado um dos homens mais
elegantes de Campina Grande, até hoje se acha
[risos]. Foi um boêmio cantava e tocava na rádio
Borborema que hoje é Rádio Clube e toda sexta-
feira fazia seresta com amigos no quintal de casa,
tem cerca de 70 DVD’S gravados. Amava cinema
e já frequentou de tudo – igreja, cabaré. Em fim,
aproveitou bem a vida.
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Hoje é aposentado, tem dois filhos – um
mora em Manaus e o outro é professor de
engenharia na UFCG. Viveu um momento triste da
sua vida, quando, com 79 anos de idade, teve que
amputar a perna direita, consequencia de uma
má circulação por falta de exercícios físicos.
Depende de uma cadeira para cada
necessidade, mas ainda assim carrega um sorriso
no rosto. “Depois de tanta coisa resolvi me
aquietar, vendi meus imóveis e ainda me restam
duas casas que também pretendo vender, pois
quero tranqulidade agora. Tenho a sensação que
já vivi tudo que podia”.
Poema do idoso
Se meu andar é hesitante e minhas mãos trêmulas,
ampare-me.
Se minha audição não é boa e tenho de me
esforçar para ouvir o que você está dizendo,
procure entender-me.
Se minha visão é imperfeita e o meu entendimento
escasso, ajude-me com paciência.
Se minha mão treme e derrubo comida na mesa
ou no chão, por favor, não se irrite, tentei fazer o
que pude.
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Se você me encontrar na rua, não faça de conta
que não me viu. Pare para conversar comigo.
Sinto-me só.
Se você, na sua sensibilidade, me ver triste e só,
simplesmente partilhe comigo um sorriso e seja
solidário.
Se lhe contei pela terceira vez a mesma história
num só dia, não me repreenda, simplesmente
ouça-me.
Se me comporto como criança, cerque-me de
carinho.
Se estou doente e sendo um peso, não me
abandone.
Se estou com medo da morte e tento nega-la, por
favor, ajude-me na preparação para o adeus.
- Autor Desconhecido
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Referências Bibliográficas
CAMARANO, Ana Amélia; Kanso, Solange; Mello,
Juiana Leitão e. Como vive o Idoso Brasileiro?
CAMARANO, Ana A. (orgs.) Os Novos Idosos
Brasileiros: muito além dos 60? Rio de Janeiro, IPEA,
2004. 604p. (Instituto de Pesquisa Econômica
Aplicada – IPEA – set/2004).
OLIVEIRA, M.M; RENTE, E. C. A terceira idade: a
melhor fase da vida? Trabalho de graduação
apresentado ao curso de Psicologia do Centro de
Ciências Biológicas e da Saúde da Unama como
parte dos requisitos necessários à obtenção do
grau de Bacharel em Psicologia. Belém, Unama
(Universidade da Amazônia), 2002. 33p.
Maus tratos contra Idosos – Portal do
Envelhecimento, Disponível
em<<http://portaldoenvelhecimento.org.br/noticia
s/violencias/maus-tratos-contra-idosos.html >>
Acesso em 15 de junho de 2012.
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