View
75
Download
0
Category
Preview:
Citation preview
Fbio de Marchi Pintos
VIDA TIL DE PINTURAS LTEX EM FACHADAS DE
EDIFCIOS RESIDENCIAIS
Trabalho de Concluso de Curso
apresentado pelo acadmico Fbio de
Marchi Pintos banca examinadora do
Curso de Graduao em Engenharia
Civil da Universidade Federal de Santa
Catarina como requisito parcial para
obteno do ttulo de Engenheiro Civil.
Florianpolis
2013
2
Ficha de identificao da obra elaborada pelo autor
atravs do Programa de Gerao Automtica da Biblioteca Universitria
da UFSC. FICHA CATALOGRFICA
Pintos, Fbio de Marchi, 1991-
Vida til de pinturas de ltex em fachadas de edifcios residenciais 2013 130 f. il. color. ; 21cm.
Orientador: Ivo Jos Padaratz
Co-orientador: Acio de Miranda Breitbach
Trabalho de concluso de curso (graduao) Universidade Federal de Santa Catarina, Curso de Graduao em Engenharia Civil, 2013.
1.Vida til 2.Durabilidade 3.Fachadas externas 4.Pintura ltex. I. Padaratz,
Ivo Jos. II. Breitbach, Acio de Miranda. III. Universidade Federal de
Santa Catarina. Curso de Engenharia Civil. IV. Ttulo.
3
Fbio de Marchi Pintos
VIDA TIL DE PINTURAS LTEX EM FACHADAS DE
EDIFCIOS RESIDENCIAIS
Este Trabalho de Graduao foi julgado adequado para a obteno do ttulo de
Engenheiro Civil e aprovado em sua forma final pela Comisso Examinadora e
pelo Curso de Graduao em Engenharia Civil da Universidade Federal de
Santa Catarina.
Florianpolis, 09 de dezembro de 2013.
Prof. Luis Alberto Gmez, Dr.
Coordenador do Curso
Banca Examinadora:
Eng. Acio de Miranda Breitbach, MSc.
Co-orientador
Prof. Wellington Longuini Repette , Dr.
Universidade Federal de Santa Catarina
________________________
Prof. Ivo Jos Padaratz, Dr.
Orientador
Universidade Federal de Santa Catarina
4
5
Quero que a estrada venha sempre at voc E que o vento esteja sempre a seu favor.
Quero que haja sempre uma cerveja em sua mo
E que esteja ao seu lado, seu grande amor! Matanza
6
7
AGRADECIMENTOS
Agradeo ao Professor Ivo Padaratz, por aceitar ser o orientador, guiar e
auxiliar na escolha do tema deste trabalho e por ser um timo educador
no curso de Engenharia Civil da UFSC.
Agradeo ao engenheiro e amigo Acio Breitbach, por mostrar me
mostrar em que direo seguir, por auxiliar tecnicamente neste trabalho
e fornecer as informaes necessrias para o seu desenvolvimento. Pela
oportunidade de trabalhar ao seu lado e adquirir experincia e
conhecimento.
Agradeo a todos os entrevistados nessa pesquisa. Jacob, da fabrica
Plastimper, cio, da Revestir, Armando, da empresa Tech New,
Rodolfo, da Engepool, Baron, da Solidez, Jos, da Schnel Empreiteira, e
a todos os funcionrios e sndicos de condomnios que possibilitaram a
realizao desse trabalho.
Agradeo ao Programa de Educao Tutorial, que foi a minha segunda
casa em Florianpolis. Agradecimentos especiais ao tutor, professor e
amigo querido, Cludio Zimmermann, que foi um segundo pai para
mim, e que fez dos integrantes do PET uma famlia.
Agradeo a todos os professores que contriburam para minha formao
e que tem como objetivos de vida melhorar a educao neste pas.
Agradeo ao meu irmo Leandro e meus amigos, pela convivncia e
experincia de vida, que me transformaram na pessoa que sou hoje.
Agradeo minha namorada Camile, pela motivao, cobranas e por
sempre esperar o melhor de mim. E principalmente, por estar ao meu
lado.
E finalmente, agradeo aos meus pais, Luis Alberto e Maria Isabel, por
mostrarem aos seus dois filhos que o caminho do conhecimento e dos
estudos o que vale a pena; que uma pessoa no feita pelas coisas que
tem, e sim pelas suas aes; e que no rduo processo de criao de seus
filhos tiveram calma e pacincia, souberam nos educar dar todo o amor
incondicional que s os pais podem nos dar.
8
9
RESUMO
Este trabalho avalia a vida til da pintura de fachadas externas de
edifcios residenciais na cidade de Florianpolis/SC. A pintura das
fachadas dos edifcios com tintas ltex o revestimento mais empregado
no Brasil, e por ser a camada mais externa das edificaes, est sujeita a
deteriorao por agentes agressivos presentes no meio no qual est
inserida. A durabilidade e vida til das pinturas externas de fachadas so
determinadas por vrios fatores, os quais esto diretamente vinculados
s condies ambientais e mtodos de aplicao, qualidade dos produtos
utilizados na construo, dos nveis de agressividade ambiental e das
aes de manuteno. Para determinar e avaliar os principais fatores de
regem a durabilidade e vida til da pintura de fachadas externas foram
realizadas entrevistas com empresas fabricantes de tintas, empresas de
manuteno, repintura e reformas de edifcios imobilirios e com
sndicos ou funcionrios encarregados de administrar condomnios
residenciais. Ao total, as amostras foram de duas fabricantes de tintas,
quatro empresas de manuteno e repintura e oito condomnios
residenciais. A partir das respostas fornecidas por essas empresas e
condomnios, foi possvel determinar que os principais fatores que
reduzem a vida til da pintura so a falta de manuteno preventiva nos
edifcios residenciais, a falta de instruo e conhecimento tcnico em
tintas e pinturas de fachadas por parte dos sndicos e moradores, a
escolha das tintas no recomendadas para aplicao em fachadas
externas baseadas apenas no preo do produto, a baixa disponibilidade
de profissionais capacitados e de qualificao da mo-de-obra no setor
de execuo de pintura, e a falta de especificao e classificao
normativa de tintas para aplicaes em meios mais agressivos, como
regies litorneas. Tambm foi observado que as manifestaes
patolgicas mais frequentes nas pinturas das fachadas em Florianpolis
so fissuras e surgimento de bolor por colonizao de fungos e algas.
Palavras-chave: Vida til. Durabilidade. Fachadas externas. Pintura
ltex.
10
11
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 - Processo de fabricao de tintas em bateladas ..................................30 Figura 2 - Processo contnuo de fabricao de tintas .........................................30 Figura 3 - Processo produtivo SelfColor............................................................31 Figura 4 - Ilustrao da coalescncia: processo de formao do filme ..............34 Figura 5 - Influncia no desempenho de sistemas de pintura.............................36 Figura 6 - Composio tpica de uma tinta ltex ................................................45 Figura 7 - Espessura do filme mido e seco ......................................................46 Figura 8 - Relao entre a perda de desempenho das propriedades de um
elemento e os mnimos aceitveis, com identificao daquela que condiciona o
fim da vida til ...................................................................................................49 Figura 9 - Desempenho ao longo do tempo .......................................................51 Figura 10 - Expectativa de vida til relacionada ao tipo de manuteno ...........52 Figura 11 - Efeito das salincias na superfcie dos edifcios ..............................53 Figura 12 - Efeito da geometria da pingadeira na expulso de fluxos de gua
sobre a pintura de edifcios ................................................................................54 Figura 13 - Aspecto da biodeteriorao .............................................................56 Figura 14 - Aspecto da calcinao .....................................................................57 Figura 15 - Aspecto da desagregao ................................................................58 Figura 16 - Aspecto de descascamento ..............................................................59 Figura 17 - Aspecto de eflorescncia .................................................................60 Figura 18 - Aspecto de fissuras mapeadas .........................................................61 Figura 19 - Aspecto de bolhas na pintura ..........................................................62
12
13
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 - Agentes de degradao .....................................................................37 Tabela 2 Propriedade de diversas superfcies ....................................................39 Tabela 3 - Limite mnimo de requisitos de tinta ltex........................................42 Tabela 4 - Normas tcnicas de tintas .................................................................43 Tabela 5 - Pintura externas sobre reboco ...........................................................48
14
15
Glossrio
ABNT: Associao Brasileira de Normas Tcnicas.
ABRAFATI: Associao Brasileira dos Fabricantes de Tintas.
Algas: as algas so organismos fotossintticos providos de clorofila
com capacidade de libertar oxignio, que vivem na gua ou em
locais hmidos e cujo corpo um talo, desprovido de raiz, caule e
folhas.
Biocida: agente inibidor do desenvolvimento de organismos vivos.
Biodeteriorao: processo natural de degradao biolgica dos
materiais.
Coalescncia: processo de aglutinao por justaposio dos
componentes de uma tinta que ocorre aps a evaporao da gua,
criando um filme seco e continuo.
Custo global: custo total de uma construo, levando-se em conta todos
os custos de obteno, operao, manuteno e deposio final.
Demo: camada de tinta que se estende numa superfcie.
Desempenho: comportamento em uso de uma edificao e seus
sistemas.
Durabilidade: capacidade de um item ou produto de desempenhar a sua
funo durante um perodo de tempo, considerando um determinado
conjunto de condies especficas.
Fungos: os fungos so micro-organismos que se estabelecem em
colnias sobre a superfcie do filme, nutrindo-se do carbono livre
(componente da prpria tinta) e gua, criando um biofilme
promovendo a biodeteriorao e degradao do revestimento.
Eflorescncia: migrao de sais da parte interna de um substrato para a
superfcie.
Empolamento: formao de bolhas em filmes de tinta pela ao da
gua.
Fungicidas: agentes inibidores de crescimento fngico.
Manuteno Corretiva: manuteno efetuada aps a ocorrncia de
uma pane destinada a recolocar um item em condies de executar
uma funo requerida.
Manuteno Preventiva: manuteno efetuada em intervalos
predeterminados, ou de acordo com critrios prescritos, destinada a
reduzir a probabilidade de falha ou a degradao do funcionamento
de um item.
PVA: Polivinil Acetato ou Acetato de Polivinila.
Reologia: o estudo do comportamento deformacional e do fluxo de
matria submetido a tenses, sob determinadas condies
16
termodinmicas ao longo de um intervalo de tempo. Inclui
propriedades como elasticidade, viscosidade e plasticidade.
Reparo: parte da manuteno corretiva na qual so efetuadas as aes
de manuteno efetiva sobre o item, excluindo-se os atrasos tcnicos.
Recuperao: correo dos problemas.
Resilincia: propriedade dos materiais de acumular energia quando
exigidos ou submetidos a estresse sem ocorrer a ruptura.
Selador: produto que proporciona uniformidade na absoro e devido
ao seu alto poder de enchimento e diminui a porosidade do substrato
proporcionando maior rendimento dos produtos de acabamento.
SENAI: Servio Nacional de Aprendizagem Industrial.
Solventes: so lquidos volteis, cujas principais funes so facilitar a
formulao, conferir viscosidade adequada para aplicao da tinta e
contribuir para o nivelamento e secagem.
Surfactante: um composto capaz de alterar as propriedades
superficiais e interfaciais de um lquido.
Termofixo: polmero que, com o aquecimento, sofre um amolecimento
inicial seguido de um processo de cura ao fim do qual se torna
rgido. Uma vez curado, o polmero torna-se infusvel e insolvel,
no amolecendo mais com aquecimento.
Tinta ltex: tintas com base em produtos aquosos capazes de formar
filme seco elstico.
Tinta ltex acrlica: tinta ltex formulada com resina polimrica
acrlica.
Tinta ltex PVA: tinta ltex formulada com resina a base de PVA acetato de polivinila.
Vida til: perodo de tempo em que um edifcio e/ou seus sistemas se
prestam s atividades para as quais foram projetados e construdos.
17
SUMRIO
1. INTRODUO ..................................................................................... 19
1.1. OBJETIVOS ........................................................................................ 20
1.1.1. Objetivo geral ...................................................................................20
1.1.2. Objetivos especficos .......................................................................20
1.1.3. Justificativa .......................................................................................20
1.1.4. Delimitao do trabalho...................................................................21
1.2. Estrutura do trabalho ............................................................................ 21
2. REVISO BIBLIOGRFICA ............................................................. 23
2.1. TINTAS ................................................................................................23
2.1.1.TINTAS LTEX ..............................................................................23
2.2. COMPONENTES DAS TINTAS ........................................................ 24
2.2.1. PIGMENTOS ...................................................................................24
2.2.2. RESINAS .........................................................................................24
2.2.3. SOLVENTES ...................................................................................25
2.2.4. CARGAS ..........................................................................................26
2.2.5.ADITIVOS ........................................................................................26
2.3.PROCESSOS DE PRODUO DE TINTAS ...................................... 28
2.4.FORMAO DO FILME SECO ......................................................... 31
2.5.DESEMPENHO DAS TINTAS E SISTEMAS DE PINTURAS ......... 35
2.5.1.SUBSTRATO ...................................................................................39
2.5.2.CONDIES E FATORES AMBIENTAIS ..................................40
2.5.3.QUALIDADE DAS TINTAS ..........................................................41
2.5.4.TCNICA GERAL DE APLICAO ...........................................46
2.5.5.VIDA TIL DE PINTURAS ...........................................................48
2.5.6.PROJETO ARQUITETNICO DAS FACHADAS ......................52
2.6.MANIFESTAES PATOLGICAS EM PINTURAS ...................... 54
3.METODOLOGIA DO TRABALHO ................................................... 63
18
3.1.QUESTES DIRECIONADAS A FABRICANTES DE TINTAS ...... 63
3.2.QUESTES DIRECIONADAS A EMPRESAS DE MANUTENO E
REPINTURA .............................................................................................. 64
3.3.QUESTES DIRECIONADAS AOS SNDICOS DE CONDOMNIOS
RESIDENCIAIS ......................................................................................... 66
4.APRESENTAO DOS RESULTADOS E DISCUSSO ................ 71
4.1.DISCUSSO DAS RESPOSTAS OBTIDAS NAS ENTREVISTAS .. 71
4.1.1 REDUO DA VIDA TIL DEVIDO FALTA DE
MANUTENO PREVENTIVA ............................................................ 71
4.1.2.A PREOCUPAO DOS CONDOMNIOS RESIDENCIAIS
COM RELAO PINTURA DAS FACHADAS ............................... 73
4.1.3.MANIFESTAES PATOLGICAS MAIS ECONTRADAS... 75
4.1.4.A QUALIDADE DOS MATERIAIS UTILIZADOS NO
REVESTIMENTO DE FACHADAS ....................................................... 77
4.1.5.AS NORMAS DE DESEMPENHO NO AVALIAM A
CARACTERSTICAS ESPECFICAS DE DURABILIDADE ............. 78
4.1.6.DIFICULDADES EM GARANTIR UMA PINTURA DURVEL
......................................................................................................................79
5.CONCLUSO ........................................................................................ 83
6.REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS ................................................. 86
7.APNDICES ........................................................................................... 91
19
1. INTRODUO
O mercado brasileiro de tintas e vernizes bastante consolidado.
O Brasil o quarto maior produtor mundial de tintas, com um mercado
formado por mais de 400 indstrias, composto por grandes empresas
nacionais e multinacionais e fabricantes de mdio e pequeno porte. As
tintas so utilizadas em uma vasta gama de produtos manufaturados
(ABRAFATI, 2006).
Segundo Breitbach (2009), a pintura de fachadas externas com tintas ltex acrlicas base de gua, sobre revestimentos de argamassa
cimentcia continua sendo o acabamento final de maior utilizao
atualmente no Brasil. A funo das tintas ltex utilizadas como revestimento nas fachadas de proteo para prevenir a degradao do
substrato. Alm da funo protetora, a pintura das fachadas fornece um
aspecto esttico decorativo. A pintura das fachadas com tintas ltex
um processo de baixo custo, quando comparado a outros sistemas de
revestimento, e apresenta uma relao custo/benefcio muito acessvel
em contrapartida a seu desempenho satisfatrio. Por ser um
procedimento de simples execuo, acaba utilizando-se de mo-de-obra
pouco qualificada, o que muitas vezes pode reduzir a durabilidade e o
desempenho para o qual a pintura foi projetada.
A cidade de Florianpolis situa-se no litoral de Santa Catarina,
com cerca de 95% de seu territrio situado em ilha e 5% em sua parte
continental. banhada pelo Oceano Atlntico, e devido a essa
proximidade com o mar, apresenta um alto grau de agressividade
ambiental para construes nessa localizadas regio. Os agentes
agressivos presentes nessa atmosfera agem sobre as edificaes e
intensificam a deteriorao dos seus componentes por corroso.
As normas tcnicas nacionais sobre tintas prediais foram
publicadas recentemente, a partir de 1992, e muitas ainda esto em
elaborao. A ltima verso da norma NBR 15079 publicada em 2011,
que especifica requisitos mnimos de desempenho para coloraes claras
de tintas ltex no industriais, classifica esses produtos em trs nveis de
qualidade: econmica, standard e premium. Essa classificao baseia-se
no poder de cobertura e resistncia abraso das tintas mida e seca,
no considerando tintas com propriedades de maior resistncia ao
surgimento de fungos e algas e resistncia a fissurao.
A durabilidade e vida til da pintura das edificaes so
determinadas pelas condies ambientais durante a aplicao da tinta, a
agressividade do meio, a qualidade do substrato, o processo de execuo
da pintura e a qualidade de materiais utilizados, como tintas e seladores.
20
Levando em conta que em Florianpolis os nveis de agressividade
ambiental so elevados, as normas tcnicas atuais no atendem as
necessidades e exigncias solicitadas para a execuo da pintura nesse
meio e a utilizao, muitas vezes, de mo-de-obra pouco qualificada, a
durabilidade e vida til da pintura das fachadas nessa regio algo que
merece ateno e deve ser estudado mais afundo.
Deste modo, este trabalho visa identificar os principais fatores de
reduo da durabilidade e da vida til das pinturas aplicadas em
fachadas externas de edifcios localizados na cidade de
Florianpolis/SC.
1.1. OBJETIVOS
1.1.1. OBJETIVO GERAL Avaliar, com base em informaes obtidas de fabricantes de
tintas, empresas de manuteno e administrao de condomnios, a vida
til das pinturas externas de fachadas em edifcios residenciais da cidade
de Florianpolis/SC.
1.1.2. OBJETIVOS ESPECFICOS Teve-se por objetivos especficos:
Analisar a influncia da manuteno preventiva da pintura
das fachadas externas sobre a durabilidade e vida til do
filme;
Observar se as normas de qualidade e classificao dos
requisitos mnimos de desempenho de tintas no industriais
atendem s exigncias e necessidades de aplicao em
cidades litorneas;
Verificar as dificuldades de obter pinturas eficientes e
durveis;
Verificar os problemas mais frequentes em pinturas de
fachadas.
1.1.3. JUSTIFICATIVA O tema deste trabalho surgiu a partir das observaes feitas pelo
autor das frequentes ocorrncias de manifestaes patolgicas nas
pinturas das fachadas de edifcios e condomnios residenciais na cidade
de Florianpolis. Aps consultorias de investigao e diagnstico de
patologias em edificaes feitas pelo autor, em parceria com o Escritrio
21
Piloto de Engenharia Civil da UFSC, observou-se que a correo dos
problemas de pintura nas fachadas apresentava um alto custo financeiro,
superior ao valor de todas outras recuperaes indicadas nas
consultorias. Custo esse que poderia ser minimizado se aes
preventivas tivessem sido realizadas nesses condomnios.
A facilidade de se encontrar problemas nas fachadas dos edifcios
em Florianpolis motivou o autor a investigar as principais origens
desses problemas, para que futuramente se possa evitar a ocorrncias
dessas manifestaes patolgicas e garantir a durabilidade e o bom
desempenho das fachadas, evitando gastos desnecessrios.
1.1.4. DELIMITAO DO TRABALHO A pesquisa apresentada neste trabalho est restrita s condies
ambientais de Florianpolis, SC. Concluses aqui obtidas no podero
ser tomadas como validas em outras regies de fatores climticos
diferentes.
A pesquisa baseou-se apenas em entrevistas realizadas com empresas
fabricantes de tintas, empresas de manuteno, repintura e reformas de
condomnios e edifcios residenciais e as entrevistas com funcionrios e
sndicos de condomnios. No foram realizados estudos de caso nem
anlises estatsticas para a concluso dos resultados.
1.2. ESTRUTURA DO TRABALHO O presente trabalho est estruturado em cinco captulos:
INTRODUO, REVISO BIBLIOGRFICA, METODOLOGIA DO
TRABALHO, APRESENTAO DOS RESULTADOS E
DISCUSSO, e REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS.
O captulo 1 INTRODUO contm uma abordagem mais ampla
sobre o tema do trabalho, fazendo a introduo sobre o assunto que
discutido. Nos subitens so apresentados as justificativas e os objetivos
da pesquisa, a delimitao da pesquisa e a estruturao do trabalho.
O captulo 2 REVISO BIBLIOGRFICA aborda a composio
das tintas ltex, fazendo uma breve descrio sobre pigmentos, resinas,
solventes, cargas e aditivos; o processo de produo contnuo e por
bateladas, o processo de formao do filme seco; o desempenho das
tintas e sistemas de pinturas, comentando sobre o substrato, condies
ambientais, qualidade das tintas, tcnicas de aplicao e vida til da
pintura. Tambm esto descritas as manifestaes patolgicas
comumente encontradas em pinturas de fachadas externas de edifcios.
O captulo 3 METODOLOGIA DO TRABALHO apresenta os
mtodos e questionrios utilizados para as entrevistas com as empresas
22
fabricantes de tintas, empresas de manuteno, repintura e reformas de
condomnios e edifcios residenciais e as questes aplicadas a
funcionrios e sndicos de condomnios.
No captulo 4 APRESENTAO DOS RESULTADOS E
DISCUSSO so apresentadas as respostas fornecidas pelas empresas e
condomnios entrevistados neste trabalho. Tambm so discutidas as
entrevistas, comentando sobre a influncia da manuteno na
durabilidade e vida til das fachadas, apresentando as principais
manifestaes patolgicas que ocorrem na pintura das fachadas,
comentando sobre a norma de requisito mnimo desempenho para uso de
tintas em pinturas de fachadas externas, a situao da mo de obra do
setor.
No captulo 5 CONCLUSO so apresentadas as concluses
obtidas por meio das entrevistas realizadas nesse trabalho. comentado
sobre como falta de manuteno preventiva da pintura das fachadas
acarreta um processo acelerado de perda de desempenho e reduo da
durabilidade e vida til das pinturas externas, como a baixa qualificao
da mo-de-obra afeta a durabilidade e vida til da pintura, como a
tentativa de diminuir os gastos com a escolha de produtos baratos e de
baixa qualidade acaba resultando em maiores custos ao longo da vida
til da fachada e a falta de especificaes normativa para qualificao
das tintas no mercado.
No captulo 6 REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS
apresentada a lista de referncias bibliogrficas utilizadas como base
pare este trabalho.
23
2. REVISO BIBLIOGRFICA
2.1. TINTAS Segundo Carvalho (2006 apud SILVA, 2009) a tinta um
produto que resulta em um revestimento slido estvel (filme seco) cuja
aplicao se da em camadas, sendo formado pela polimerizao de leos
secativos ou pela evaporao de um solvente.
Aps o processo de cura, aps ser aplicada e estendida formando
uma fina camada, a tinta torna-se uma pelcula aderente ao substrato
(FAZENDA; DINIZ, 1993), a qual tem por finalidade fazer a proteo e
embelezamento da superfcie em que for aplicada (CUNHA, 2012).
De modo geral, as tintas so compostas por veculos volteis (os
solventes), veculos no volteis (pigmentos, cargas e resinas) e aditivos.
Os aditivos, embora representando uma pequena percentagem da
composio, so responsveis pela obteno de propriedades
importantes tanto na tinta como nos revestimentos (ABRAFATI, 2006).
Dessa forma, a tinta resultante da formulao de diversos
insumos slidos e volteis capazes de definirem as propriedades de
resistncia e aspecto, bem como o tipo de aplicao e o custo do produto
final (ABRAFATI, 2006 apud BREITBACH, 2009).
2.1.1. TINTAS LTEX De acordo com o Guia Tcnico Ambiental Tintas e Vernizes da
ABRAFATI (2006), as tintas utilizadas no setor imobilirio (construo
civil) podem ser subdivididas em dois grupos: os com base em produtos
aquosos, denominados ltex (ltex acrlicos, vinlicos, vinil-acrlicos), e produtos com base em solvente orgnico (tintas a leo, esmaltes,
sintticos, etc.).
As tintas ltex so um exemplo marcante, pois representam 80%
de todas as tintas consumidas pelo setor da construo civil
(ABRAFATI, 2006). Essas tintas, cuja designao deriva do aspecto das
emulses utilizadas no processo de fabricao, que se assemelham ao
produto da seringueira conhecido como ltex (SILVA; UEMOTO, 2005), possuem dois subgrupos: as tintas ltex acrlicas e as tintas ltex
vinlicas/PVA. A principal diferena entre elas o polmero utilizado
na sua composio, sendo a primeira formulada com polmeros
acrlicos, obtidos por esterificao dos cidos acrlicos com alcois, e a
segunda formulada com poliacetado de vinila (BREITBACH, 2009).
24
2.2. COMPONENTES DAS TINTAS
2.2.1. PIGMENTOS Os pigmentos so partculas slidas insolveis com objetivo de
conferir cor, opacidade e algumas caractersticas de resistncia entre
outros efeitos (FAZENDA, 1993), sendo fundamentais para tintas de
revestimento (ABRAFATI, 2006).
A insolubilidade uma caracterstica importante, pois de forma
alguma deve ocorrer qualquer tipo de reao qumica com os demais
compostos envolvidos na formulao da tinta, sendo suas propriedades
aproveitadas na totalidade se o pigmento apresentar-se disperso no meio
(SILVA et al, 2005; CARVALHO, 2002 apud SILVA, 2009).
Os pigmentos esto divididos em duas classes: os orgnicos, que
apresentam predominncia de carbono na sua composio; e os
inorgnicos, que apresentam uma predominncia de elementos metlicos
na sua composio (BREITBACH, 2009). Os pigmentos orgnicos
(ftalocianinas azul e verde, quinacridona violeta e vermelha, perilenos
vermelhos, toluidina vermelha, entre outros) possuem maior facilidade
de desbotamento em exposio aos raios solares, seu custo
relativamente mais elevado quando comparado com os inorgnicos e
possuem alto poder de tingimento. J os pigmentos inorgnicos (dixido
de titnio, amarelo xido de ferro, vermelho xido de ferro, cromatos e
molibidatos de chumbo, negro de fumo, entre outros) so mais estveis,
ou seja, mais resistentes (ABRAFATI, 2006; NETO, 2007; UEMOTO,
2005; QUALIMATI SINDUSCON, 2010; IBRACON, 2009 apud
CUNHA, 2011).
2.2.2. RESINAS A resina o veculo, suporte ou ligante, responsvel pela
formao da camada de filme, sendo o agente da reteno de cor, brilho,
resistncia ao da gua e agentes qumicos, resistncia abraso e
flexibilidade, influenciando a aplicabilidade, secagem e durabilidade
(BREITBACH, 2009). uma parte no voltil da tinta, que aglutina e
adere s partculas dos pigmentos, formando uma pelcula ntegra
(CUNHA, 2011).
Antigamente as resinas eram base de compostos naturais,
oriundas da secreo de algumas plantas, fsseis ou insetos
(ABRAFATI, 2006; CUNHA, 2011). Atualmente, as resinas so
sintticas e obtidas atravs da indstria qumica ou petroqumica por
meio de um processo de polimerizao, que consiste na ligao de duas
ou mais molculas originando um polmero de alto peso molecular
25
(GUI QUMICA, 2011). Os principais tipos de resinas so resinas
PVA, acrlica estirenada, vinil acrlica, acrlica pura, alqudica, epxi,
entre outras. A resina tambm d nome ao tipo de tinta empregada, ou
seja, temos as tintas acrlicas, alqudicas, epoxdicas, etc. Todas levam o
nome da resina bsica que as compem (FAZENDA, 1993).
As resinas acrlicas so obtidas por esterificao dos cidos acrlicos
com alcois, apresentam dureza, flexibilidade e resistncia a agentes
qumicos e degradantes do intemperismo, reteno de calor e brilho,
reduzindo seu custo sensivelmente e viabilizando sua utilizao
comercial. Resinas acrlicas apresentam desempenho superior resina a
base de PVA - poliacetato de vinila, conferindo reduo de
permeabilidade (BREITBACH, 2009).
2.2.3. SOLVENTES Os solventes so lquidos volteis com baixo ponto de ebulio,
de origem orgnica ou a base de gua (SILVA, 2009), cujas principais
funes so facilitar a formulao, conferir viscosidade adequada para
aplicao da tinta e contribuir para o nivelamento e secagem
(BREITBACH, 2009).
Solventes orgnicos so lquidos com teores de compostos
orgnicos volteis (COV) e nocivos ao meio ambiente. Eles podem ser
hidrocarbonetos aromticos ou alifticos, ou oxigenados como os
alcois, acetatos, cetonas e teres (UEMOTO; IKEMATSU;
AGOPYAN, 2006).
As principais vantagens dos solventes orgnicos so a melhor
cobertura j na primeira demo, maior poder de aderncia, resistncia
abraso e tempo de abertura maior, possibilitando melhor
trabalhabilidade, principalmente nos reparos (ABRAFATI, 2006;
NETO, 2007; UEMOTO, 2005; IBRACON, 2009 apud CUNHA, 2011).
Solventes aquosos so constitudos por uma grande parte de gua
adicionada de uma pequena quantidade de lquidos orgnicos
compatveis. So utilizados em tintas com base gua, ltex, onde a gua
a fase dispersora do polmero responsvel pelo revestimento
(ABRAFATI, 2006).
As principais vantagens no uso de solventes aquosos a melhor
condio de salubridade dada ao pintor, pois inodoro e no
inflamvel, e tintas base de gua oferecem melhor flexibilidade em
longo prazo, maior resistncia ao craqueamento, amarelamento e
proliferao de microrganismos biolgicos, podem ser limpas com gua
e oferecem maior variedade de cores (ABRAFATI, 2006; NETO, 2007;
UEMOTO, 2005; IBRACON, 2009 apud CUNHA, 2011).
26
2.2.4. CARGAS Cargas so agregados de origem mineral que apresentam
granulometria reduzida ou micronizada, sendo que o balanceamento de
cargas de diferentes granulometrias de modo a obter uma curva
granulomtrica mais contnua para utilizar na formulao de uma tinta
pode reduzir o teor de vazios, por meio de melhor preenchimento,
formando uma barreira mais compacta reflexo da luz, melhorando o
poder de cobertura (BREITBACH, 2009).
As cargas, ou extensores, tm como principal objetivo substituir
os pigmentos brancos e coloridos que possuem custos mais elevados.
Tambm contribuem para algumas propriedades importantes das tintas,
como reologia, estabilidade (anti-sedimentao), resistncia e
durabilidade. Assim, alm de baratearem as tintas e torn-las
economicamente vivel, melhoram suas propriedades no estado viscoso
e aps a formao do filme seco (ABEL, 1999). Em tintas imobilirias,
as cargas so utilizadas para encorpar a tinta, melhorando a resistncia
s intempries e lavabilidade (BREITBACH, 2009).
Alguns exemplos so: carbonato de clcio (CaCO3), obtido por
meio da calcinao do calcrio; aluminossilicatos (Al2O3.SiO2.2H2O),
derivados da decomposio do granito e rochas magmticas; silicato de
magnsio hidratado (3MgO.4SiO2.H2O), obtido por meio da triturao e
moagem de rochas com talco; sulfato de brio (BaSo4), obtido
naturalmente pela micronizao da barita e sinteticamente por reaes
entre compostos de brio e cido sulfrico ou sais de sulfato solveis,
entre outros (ABEL, 1999).
2.2.5. ADITIVOS Aditivos so substncias capazes de fornecer caractersticas
especiais ou melhorar algumas das propriedades das tintas, mesmo
utilizados em uma pequena proporo, que geralmente no excede 5,0%
da composio da tinta (UEMOTO, 2002).
Segue uma lista de alguns aditivos e suas caractersticas:
Anticorrosivos: concedem propriedades anticorrosivas ao
revestimento;
Antiespumantes: so aditivos utilizados para impedir a
formao de bolhas de ar ou espuma durante o processo de
fabricao ou mesmo durante a aplicao (FAZANO, 1998);
27
Biocidas: so aditivos de preservao que tem por objetivo
eliminar os micro-organismos, impedindo a proliferao de
colnias de bactrias e o crescimento de fungos e algas na
pintura (BREITBACH, 2009);
Coalescentes: so aditivos que ajudam na formao de um filme
contnuo sem fendilhamento, reduzindo a temperatura mnima
de formao do filme, permitindo o processo de coalescncia
em temperaturas ambientes prximas a 10C, e prolongando o
tempo de secagem (BREITBACH, 2009);
Dispersantes: so aditivos tensoativos aninicos ou catinicos
que agem diminuindo a tenso superficial das cargas minerais e
desmanchando aglomerados das partculas slidas, facilitando a
sua distribuio uniforme na fase lquida (FAZANO, 1998);
Emulgadores e Umectantes: so aditivos que apresentam
propriedade tensoativa reduzindo o ngulo de contato entre a
gua e os componentes slidos presentes na tinta, facilitando,
assim, a incorporao da carga ao meio lquido, impedindo a
separao entre as fases lquida e slida, e ajudando a
emulsionar toda a formulao (BREITBACH, 2009);
Espessantes: so aditivos usados para modificar a viscosidade e
facilitar a aplicao, fornecendo s tintas caractersticas de um
fludo no-newtoniano tixotrpico, sou seja, a viscosidade
diminui quando aplicada uma tenso. Assim, quando a tinta esta
em repouso na embalagem, apresenta uma viscosidade elevada
mantendo as cargas minerais em suspenso. Porm, durante a
aplicao, a viscosidade diminui tornando mais fcil o
espalhamento, reduzindo a quantidade de respingos ou perdas
(BREITBACH, 2009);
Estabilizantes: a amnia torna o meio alcalino com o objetivo
de estabilizar o espessante, impedindo a reao das cargas
minerais de carbonato de clcio, que em meio cido podem
liberar gs carbnico e formar um gel capaz de aumentar a
consistncia da tinta (BREITBACH, 2009);
Estabilizantes de ultravioleta: so aditivos cuja funo
amenizar o efeito destrutivo da ao dos raios ultravioleta sobre
28
os materiais polimricos, prolongando consideravelmente a
durabilidade das tintas e vernizes. Os estabilizantes geralmente
usados em tintas so absorvedores de ultravioleta, cuja ao
protetora baseada principalmente na absoro da radiao e
sua converso em calor (KAIRALLA; FERRACIOLI; FILHO,
1993);
Inibidores de pele: so aditivos antioxidantes volteis utilizados
para retardar a formao de um estado gel que ocorre na
superfcie do revestimento acondicionado e que lentamente
torna-se endurecido, conhecido como pele (FAZANO, 1998);
Plastificantes: so aditivos que atuam aumentando a
flexibilidade do revestimento, tornando-o apto a suportar as
deformaes do substrato, adequando-o s condies de
aplicao e desempenho. Geralmente so derivados de leos
vegetais, resinas polimricas ou polmeros no-secantes de
baixo peso molecular e plastificantes qumicos (FAZANO,
1998);
Sequestrantes: so aditivos que atuam como permutadores de
ons, retirando ctions presentes nas tintas, provenientes de
alguns pigmentos que liberam sais solveis ou da prpria gua,
quando esta apresenta concentraes catinicas
(FAZANO,1998).
2.3. PROCESSOS DE PRODUO DE TINTAS A indstria de tintas para revestimento utiliza uma grande
quantidade e diversidade de matrias primas para produzir uma elevada
variedade de produtos, buscando atender as exigncias e necessidades
do mercado consumidor. Observando a vasta lista de aplicabilidade das
tintas, assim como todas as variveis que podem afetar e comprometer o
seu desempenho, torna-se fcil descobrir o porqu de se produzir uma
grande variedade desse produto (ABRAFATI, 2006).
Visando atender aos diversos setores do mercado com mais agilidade e qualidade, como os setores automotivo, imobilirio e
industrial, o processo de fabricao de tintas recebeu um avano
tecnolgico, modernizando o maquinrio e as tcnicas de produo. A
29
produo, que funcionava em forma de bateladas, tornou-se um
processo contnuo e automatizado.
O movimento de melhorias de qualidade e produtividade foi
idealizado por volta de 1988 pelo grupo Renner Herrmann S.A., que
destinou investimentos para a melhoria do processo de fabricao,
criando o conceito do regime contnuo totalmente automatizado. Aps
trs anos de pesquisa e desenvolvimento de instrumentao analtica de
controle avanado, o processador contnuo e a estrutura de controle e
superviso j estavam em funcionamento.
Segue abaixo a descrio do processo em forma de batelada e o
processo contnuo automatizado.
Processo em batelada: o processo em forma de batelada inicia-
se com a pesagem e separao dos insumos necessrios para a
fabricao, de acordo com a quantidade de tinta que ser
produzida. Aps a pesagem vem a pr-mistura em dispersores
de alta rotao, onde so misturados os pigmentos, alguns
aditivos e solventes, deixando-os finamente divididos,
formando uma mistura homognea. Depois, essa mistura segue
para os moinhos (de areia, de rolos, de bolas, entre outros) onde
feita a moagem ou disperso da mistura obtida na fase
anterior. O produto resultante da moagem uma pasta
concentrada, na qual ser adicionado o restante das matrias
primas, como resinas, solventes e aditivos. Essa etapa de adio
conhecida como completagem, onde a pasta diluda em
tanques providos de agitadores especiais. A mistura segue agora
para o tingimento, onde os coloristas acertam a cor da tinta
mediante um padro de cor definido utilizando misturadores. Os
pigmentos no dispersos so removidos por centrfugas,
peneiras ou filtros a presso. A tinta ento enviada para o
laboratrio e submetida a diferentes testes para a determinao
da viscosidade, brilho, poder de cobertura, aderncia, etc. Se os
resultados forem satisfatrios, feito o acerto de viscosidade e a
tinta segue para o envasamento (CASTRO, 2009).
30
Figura 1 - Processo de fabricao de tintas em bateladas
Fonte: Tintas e Vernizes: Cincia e Tecnologia, 1993, adaptado pelo autor
Processo contnuo automatizado: o processo de produo de
tinta de forma contnua e automatizada utiliza um tanque
misturador em linha, onde todos os insumos utilizados para a
fabricao sero conduzidos at esse misturador. As matrias
primas so armazenadas separadamente em silos que iro
alimentar por meio de bombas e vlvulas, de forma alternada e
independente, o tanque de mistura com aditivos, pigmentos,
resinas e solventes, todos dosados automaticamente. Um duto
de sada inferior conduz essa mistura para o misturador
principal, e em seguida, a tinta produzida levada para o tanque
de armazenamento. Parte da tinta produzida vai para uma clula
que realiza o controle de qualidade durante o processo de
fabricao. Os dados so comparados com os dados da tinta
padro, para eventuais acertos de cor, cobertura e viscosidades,
e caso estejam dentro dos padres exigidos, a tinta
direcionada para o envase e rotulao.
Figura 2 - Processo contnuo de fabricao de tintas
Fonte: Autor
Processo SelfColor: o processo de produo SelfColor foi
lanado em 2004, pela empresa fabricante de tintas Suvinil.
Trata-se de uma mini fbrica de tintas composta por uma
31
mquina dispersora automtica e equipamentos tintomtricos de
alta tecnologia, controlados por um software operacional. O
equipamento, instalado no prprio ponto de vendas, faz o
tingimento de uma tinta base e tem a capacidade de reproduzir
mais de 2000 cores do catlogo de tintas Suvinil. Esse processo
produtivo, alm de reduzir a quantidade de produtos estocados
pelo vendedor, fornece ao comprador uma tinta na colorao e
tonalidade desejada (SUVINIL, 2013).
Figura 3 - Processo produtivo SelfColor
Fonte: Ntintas, 2013
2.4. FORMAO DO FILME SECO Em Avaliao da influncia das cores sobre a biodeteriorao de
pintura externa, Breitbach (2009) descreveu que o processo de formao do filme seco em tintas a base de emulso ocorre por um
fenmeno fsico chamado coalescncia, e um fenmeno fundamental
em tintas a base de emulso, pois determinante de suas propriedades
finais.
Aps a aplicao da tinta sobre o substrato, a gua, solvente no
caso das tintas ltex, evapora e a resina forma um filme polimrico
termofixo que manter as cargas e pigmentos unidos conferindo
aderncia ao substrato. A formao desse filme ocorre resumidamente
em quatro estgios. So eles:
32
Primeiro estgio: ocorre a perda de gua da tinta por
evaporao, fenmeno de superfcie em exposio com o ar, e
absoro de gua pela face em contato com o substrato. Com a
perda de gua, a camada de tinta aplicada sobre a superfcie se
compacta e as partculas polimricas tendem a se fundir entre si,
ou seja, coalescer. Forma-se ento um gel irreversvel, no mais
emulsionvel pela gua. Para regularizar a absoro pelo
substrato e impedir que a gua seja absorvida rapidamente e
prejudique o fenmeno da coalescncia, necessria a
aplicao prvia de um selante, garantindo assim a formao de
um filme homogneo.
Segundo estgio: a temperatura ambiente para que ocorra a
adequada formao da pelcula deve ser superior temperatura
mnima de formao do filme (TMFF). A TMFF depende da
composio polimrica, da presena de plastificantes e
coalescentes, e deve sempre ser inferior a temperatura
ambiental na qual a tinta esta sendo aplicada.
Terceiro estgio: coalescncia ao das foras eletrostticas e
de tenso superficial, que atravs dos glicis reduzem a
velocidade de evaporao, fazendo com que a emulso adquira
estrutura de gel, imobilizando e aproximando as partculas entre
si, tornando a partir de ento irreversvel o processo.
Quarto estgio: o tamanho das partculas afeta diretamente a
formao de filme, pois interfere na capilaridade, ou formao
de vazios, sendo inversamente proporcional velocidade de
evaporao da gua. Solventes miscveis em gua, com menor
velocidade de evaporao, como etilenoglicol, propilenoglicol e
hexilenoglicol, ajudam a manter a superfcie aberta para a
sada da gua proveniente do interior da pelcula em formao.
A formao homognea do filme e sua consequente estabilidade
mecnica devem ocorrer em temperaturas inferiores
temperatura de transio vtrea (Tg) do polmero. Tg significa a
33
temperatura de passagem do estado vtreo ou quebradio para o
estado fsico semelhante ao da borracha, sem mudana de fase,
e fornece indicaes quanto dureza e flexibilidade das
pelculas (UEMOTO, AGOPYAN, 1997 apud BREITBACH,
2009). Se a temperatura da tinta durante sua aplicao supera a
temperatura de transio vtrea, componentes de baixo peso
molecular presentes no filme que, efetivamente no interagiram
totalmente na composio, como plastificantes ou outros
aditivos se volatilizam. Ento, comea a surgir um grande
envolvimento molecular associado a um aumento de volume
que facilita a liberao de gases. Nesta etapa, os filmes
termofixos (caracterstica de filmes de tinta ltex) entram em
processo de fragilizao com a perda das ligaes com os
plastificantes e das ligaes cruzadas oxidativas. Isso resulta do
endurecimento do filme, que o torna frgil, causando a
carbonizao e degradao por fendilhamento (RECUPERAR,
2002). Quando ocorre absoro muito rpida de gua pelo
substrato pode ser gerado um filme descontnuo, fissurado ou
at mesmo ocasionar dificuldade de aplicao.
34
Figura 4 - Ilustrao da coalescncia: processo de formao do filme
Fonte: BREITBACH, 2009, adaptado pelo autor
35
2.5. DESEMPENHO DAS TINTAS E SISTEMAS DE PINTURAS O emprego de tintas ltex em fachadas externas sobre
revestimento argamassado cimentcio o acabamento final de maior
utilizao em edifcios imobilirios no Brasil. A pintura tem a funo de
proteger e prevenir a degradao do substrato e ainda prover um
acabamento esttico e decorativo. Mas para isso, a pintura possuir
caractersticas que atendam as condies de desempenho necessrias
para o meio na qual foram aplicadas. O desempenho de um edifcio
habitacional em uso normal deve atender s exigncias dos usurios de
forma qualitativa assim como deve atender os conjuntos de requisitos e
critrios estabelecidos por novas normas de avaliao (CONSOLI,
2006).
A tinta deve possuir uma boa adeso ao substrato, pois, sem isso,
todas as outras propriedades de proteo perdem o significado. Alguns
fatores que influenciam diretamente na adeso da tinta superfcie
dependem da resina utilizada na sua formulao, o nvel sensibilidade
gua de ingredientes afinadores e surfactantes e as condies do prprio
substrato a ser pintado.
A camada de tinta deve impedir a penetrao de gua para evitar
a degradao substrato, evitando tambm a perda de adeso entre essas
duas partes, pois a presena de umidade no substrato pode acarretar no
desprendimento do filme. A estanqueidade da pintura depende de
agentes promotores de hidrorrepelncia, sendo os principais deles a
resina acrlica estirenada e a parafina. O filme de tinta seco
semipermevel, permitindo apenas a passagem de vapor dgua. A resina tambm confere s tintas ltex alto grau de adesividade e
flexibilidade, proporcionando ao filme uma boa resistncia ao
craqueamento. Isso faz com que o filme seco seja capaz de acompanhar
minimamente as deformaes do substrato devido s variaes de
temperatura e umidade.
A tinta deve apresentar resistncia alcalinidade para prevenir a
degradao da resina, pois as argamassas cimentcias contm elevada
concentrao de hidrxido de clcio resultante do processo de
hidratao dos silicatos de clcio, proporcionando um substrato de
elevada alcalinidade (pH entre 12 e 13). Tambm deve apresentar
resistncia contra a ao da radiao ultravioleta, que pode provocar a
quebra das ligaes polimricas da resina estirenada acarretando na
calcinao da pelcula externa que ser facilmente lixiviada pela gua
das chuvas, degradando o revestimento. A natureza dos pigmentos, a
qualidade da resina utilizada e a utilizao de aditivos absorvedores de
36
radiao ultravioleta melhoram o desempenho das tintas nesse aspecto
(BREITBACH, 2009).
Assim, o desempenho do sistema de pintura vai alm das
propriedades e da qualidade do tipo de tinta utilizada. Para a pintura ser
eficiente, so necessrios que o substrato esteja preparado para a
aplicao da tinta, as condies ambientais sejam propcias, a tinta seja
de boa qualidade e apresente caractersticas adequadas para o local da
aplicao, o processo de pintura seja bem executado e o projeto
arquitetnico seja adequado para garantir maior durabilidade da pintura
(UEMOTO, 2002).
Figura 5 - Influncia no desempenho de sistemas de pintura
Fonte: POLITO, 2010 adaptado por CUNHA,2011
Segundo Resende, Barros e Medeiros (2002), os critrios de
durabilidade da pintura so determinados pela capacidade de resistncia
a agentes que normalmente afetam o desempenho durante a vida. Esses agentes, denominados pela ASTM E632-82 (1996) como fatores de
degradao, so quaisquer fatores externos que afetam de maneira
desfavorvel o desempenho de um edifcio, de seus subsistemas ou
componentes, e so separados, segundo essa norma, em 5 diferentes naturezas: fatores atmosfricos, que compreende todos os grupos de
fatores associados com o ambiente natural, incluindo radiao,
temperatura, chuva e outras formas de gua, gelo, degelo, constituintes
normais do ar e seus poluentes e vento; fatores biolgicos, como
colonizao por fungos, algas e lquens; fatores de carga, representados
pela ao fsica da gua e vento; fatores de incompatibilidade qumica
37
ou fsica do sistema filme-substrato; e fatores de uso, determinados pela
influncia direta dos usurios sobre os materiais e componentes da
edificao, como uso, operao e manuteno.
Segundo Romrio (1995, apud RESENDE, BARROS,
MEDEIROS, 2002), alm dos fatores de degradao anteriormente
destacados, aes prprias da fase de projeto podem contribuir para o
decrscimo da durabilidade dos componentes e das partes do edifcio,
destacando a prpria ausncia de projetos, concepo inadequada,
insuficincia de detalhes, especificao incorreta de materiais e tcnicas
construtivas. Em relao aos revestimentos de fachada de edifcios
habitacionais, um projeto que apresente detalhes construtivos que
reduzam a penetrao de gua, por exemplo, possibilita o acrscimo da
durabilidade do revestimento, uma vez que evita seu acentuado processo
de deteriorao causado pela a gua.
J Flauzino (1984) e John, et al. (2002, apud CONSOLI, 2006),
apresentam uma classificao dos agentes de degradao com base em
sua natureza e procedncia, como apresentado na Tabela 1.
Tabela 1 - Agentes de degradao
Natureza Classe
Agentes
mecnicos
Gravidade;
Esforos e deformaes impostas ou
restringidas;
Energia cintica;
Vibraes e rudos.
Agentes
eletromagnticos
Radiao;
Eletricidade;
Magnetismo.
Agentes trmicos Nveis extremos ou variaes muito rpidas de
temperatura
38
Natureza Classe
Agentes
qumicos
gua e solventes;
Agentes oxidantes;
Agentes redutores;
cidos;
Bases;
Sais;
Quimicamente neutros.
Agentes
biolgicos
Vegetais e microrganismos;
Animais.
Procedncia Classe
Provenientes da
atmosfera
gua no estado lquido;
Umidade; Temperatura;
Radiao solar radiao ultravioleta; Gases de oxignio (O, O2, O3);
cido sulfrico (H2SO4); Gases cidos;
Bactrias, insetos;
Vento com partculas em suspenso.
Provenientes do
solo
Sulfatos;
Cloretos;
Fungos;
Bactrias;
Insetos.
Provenientes ao
uso
Esforos de manobra;
Agentes qumicos normais em uso domstico.
Provenientes do
projeto
Compatibilidade qumica; Compatibilidade fsica; Cargas permanentes e peridicas.
Fonte: Flauzino, 1984; John, et al., 2002, apud Consoli, 2006
39
Deve-se salientar que esses agentes de degradao, quando agem
simultaneamente sobre um componente, so somveis para a
quantificao do grau de agressividade, portanto, isso deve ser
considerado nas anlises de durabilidade.
Os prximos tpicos tratam de uma maneira mais detalhada os
fatores classificados pela ASTM E632-82 supracitados.
2.5.1. SUBSTRATO Segundo Uemoto (2002), os tipos de superfcies mais comuns
encontradas nas edificaes so alvenarias revestidas com argamassa de
cimento e/ou cal, concreto, madeira e metais ferrosos e no ferrosos, e cada uma dessas superfcies possuem caractersticas prprias de sua
natureza, as quais influem no desempenho da tinta aplicada. De acordo
com Diniz (1993), as tintas aplicadas sobre superfcies de alvenaria, que
so alcalinas, possuem durabilidade inferior quelas cujo substrato
inerte. Segue abaixo a Tabela 2 Propriedade de diversas superfcies, onde esto apresentadas as caractersticas de superfcies comumente
encontradas no setor da construo civil.
Tabela 2 Propriedade de diversas superfcies
PROPRIEDADES SUPERFCIES
ALVENARIA MADEIRA METAIS
Porosidade Alta Alta Nula
Permeabilidade Alta Alta Nula
Reatividade qumica Mdia Baixa
Muito alta p/
metais
ferrosos
Resistncia a
radiaes solares Alta Baixa Alta
Caracterstica bsica
peculiar Alcalinidade Higroscopia
Sensibilidade
corroso
Fonte: Pintura na construo civil, BRAUSTEIN, citado por DINIZ em Tintas
e Vernizes: Cincia e Tecnologia, p.780
Neste trabalho, as superfcies estudadas so de alvenaria revestida
com argamassa de cimento e/ou cal (ou pinturas antigas, quando se trata
de um processo de repintura). Trata-se de um substrato mineral poroso
que quando recm executado apresenta alto teor de umidade e
alcalinidade. Tais condies so imprprias para a aplicao de tintas
40
ltex e muitos outros tipos de tintas. Tambm, os sais solveis presentes
na argamassa de cimento migram para a superfcie do revestimento
durante a secagem do substrato, formando depsitos de sais brancos,
fenmeno conhecido como eflorescncia (UEMOTO, 2002).
Para receber a pintura, necessria boa preparao da superfcie,
pois o estado do substrato durante a aplicao da tinta fator to
importante quanto escolha de bons produtos para sua pintura (DINIZ,
1993). O substrato deve estar firme e coeso, uniforme e desempenado,
sem sinais de umidade, sujeira, poeira, eflorescncias ou partculas
soltas, isento de leo, gorduras ou graxas e microrganismos biolgicos,
como mofo, fungos, algas, liquens, entre outros. Para superfcies recm-
executadas deve-se esperar no mnimo uma cura de 30 dias (UEMOTO,
2002).
O substrato pode apresentar incompatibilidade qumica com o
filme. A incompatibilidade qumica ocorre, principalmente, devido
adio de materiais que reagem entre si formando um material com
propriedades no desejveis, por exemplo, adio de gesso na argamassa
de revestimento. A incompatibilidade fsica apresentada nos trabalhos
de Resende, Barros e Medeiros (2002) e Consoli (2006) faz referncia a
revestimentos de peso mais elevado, comparados ao filme de tinta, como
o emprego de peas cermicas como revestimento de fachadas, tema no
abordado neste trabalho.
2.5.2. CONDIES E FATORES AMBIENTAIS Recomenda-se planejar que a atividade de execuo da pintura
seja realizada nas estaes do ano menos chuvosas, com temperatura
ambiente entre 10C a 40C para a aplicao da tinta, sem incidncia
direta do sol e condensao de umidade. Todas as demos devem ser
aplicadas na ausncia de ventos fortes, de partculas em suspenso na
atmosfera, de chuvas, de umidade relativa do ar inferior a 80%.
A temperatura ambiente durante o processo de aplicao das
tintas no deve estar abaixo de 10C, pois temperaturas muito baixas
dificultam as pinceladas e/ou passadas de rolo, alm de prologar o
tempo de secagem, fazendo com que a tinta fique mais sujeita a adeso
de partculas de poeira. Tambm no deve estar acima de 40C, pois
temperaturas muito elevadas podem fazer com que o solvente presente
na tinta evapore rapidamente, prejudicando o fenmeno da coalescncia,
comprometendo a durabilidade da pintura. A umidade relativa do ar
deve ser inferior a 80%, pois acima disso o processo de formao do
filme pode no ser iniciado, ou seja, a tinta permanecer no estado
fresco (ver tpico 2.4 FORMAO DO FILME SECO, pgina 31).
41
Agentes atmosfricos interferem e prejudicam a vida til e
consequentemente levam a uma reduo do desempenho inicial, at
atingir uma deficincia ou manifestao patolgica (CONSOLI, 2006).
Superfcies expostas em ambientes com elevada poluio atmosfrica
devem ser muito bem limpas antes da aplicao da pintura, e o intervalo
de aplicao de demos deve ser o menor possvel (UEMOTO, 2002;
NBR 13245, 1995).
2.5.3. QUALIDADE DAS TINTAS Em junho de 2004, a Associao Brasileira de Fabricantes de
Tintas criou o Programa Setorial da Qualidade de Tintas Imobilirias,
vinculado ao Programa Brasileiro da Qualidade e Produtividade do
Habitat. Assim, com a publicao da NBR 15079, iniciou-se a
especificao dos requisitos mnimos de desempenho de tintas para
edificaes no industriais de tinta ltex nas cores claras, pela
Associao Brasileira de Normas Tcnicas, ABNT, definindo padres
legais de qualidade. Vale ressaltar que, de acordo com o Cdigo de
Defesa do Consumidor, artigo 39, vedado ao fornecedor de produtos e
servios inserir no comrcio qualquer tipo de produto e/ou servio que
esteja em desacordo com as normalizaes expedidas pelos rgos
oficiais competentes (PROGRAMA SETORIAL DE QUALIDADE DE
TINTAS, 2013).
A NBR 15079:2011 categoriza as tintas ltex de quatro maneiras:
econmica, standard, premium e para especialidades. Estabelece requisitos e critrios mnimos de desempenho para a identificao de
cada classe de tinta e obriga, com exceo das tintas ltex para
especialidades, que essa classificao esteja no rtulo da embalagem,
fazendo referncia a essa norma (NBR 15079, 2011).
Hoje, so analisadas se as tintas esto em conformidade com sua
classificao na norma NBR 15079/2011 submetendo amostras de aos
seguintes ensaios de controle:
Determinao do poder de cobertura de tinta seca atravs de
ensaio, regulado pela NBR 14942/2003, medindo a rea
mxima aplicada por um litro de tinta que deve ser de no
mnimo 4,00 m2/litro para tinta ltex econmica, 5,00 m2/litro
para ltex standard e 6,00m2/litro para ltex premium.
Determinao do poder de cobertura de tinta mida atravs de
ensaio regulado pela NBR 14943/2003, medindo a capacidade
42
de uma pelcula de tinta impedir a visualizao do substrato
imediatamente aps sua aplicao sobre cartela, devendo ser no
mnio 55% para tinta ltex econmica, 85% para ltex standard
e 90% para ltex premium.
Determinao da resistncia abraso mida sem pasta
abrasiva, segundo a NBR 15078/2004, medindo o nmero de
ciclos necessrios para a remoo da tinta em no mnimo 80%
da rea percorrida pela escova, devendo alcanar no mnimo
100 ciclos para tinta ltex econmica.
Determinao da resistncia abraso mida com pasta
abrasiva, segundo NBR 14940/2004, medindo o nmero de
ciclos necessrios para obteno de um desgaste na forma de
uma linha continua sobre um ressalto na pelcula de tinta,
devendo alcanar no mnimo 40 ciclos para ltex standard e
100 ciclos para ltex premium.
Tabela 3 - Limite mnimo de requisitos de tinta ltex
Requisitos Mtodo de
ensaio Unidade
Limites mnimos dos requisitos
de desempenho
Tinta ltex
econmica
Tinta
ltex
standard
fosca
Tinta
ltex
premium
fosca
Poder de
cobertura
da tinta
seca
ABNT
NBR14942 m/L 4,0 5,0 6,0
Poder de
cobertura
da tinta
mida
ABNT
NBR14943 % 55,0 85,0 90,0
Resistncia
abraso
mida sem
pasta
abrasiva
ABNT
NBR
15078
Ciclos 100 - -
43
Resistncia
abraso
mida com
pasta
abrasiva
ABNT
NBR
14940
Ciclos - 40 100
Fonte: NBR 15079:2011
Segue abaixo a Tabela 4 com as principais normas tcnicas
nacionais para controle das tintas imobilirias e do sistema de pintura,
publicadas pela ABNT.
Tabela 4 - Normas tcnicas de tintas
Cdigo ABNT Ttulo das normas Tintas para
edificaes no industriais Publicao
NBR 12.554 Terminologia 1992
NBR 11.702 Classificao 1995
NBR 13.245 Procedimentos 1995
NBR 14.941 Determinao de resistncia a
fungos em placas de Petri 01/04/2003
NBR 14.942 Determinao poder de cobertura
de tinta seca 01/04/2003
NBR 14.943 Determinao poder de cobertura
de tinta mida 01/04/2003
NBR 14.944 Determinao da porosidade em
pelcula de tinta 01/04/2003
NBR 14.945 Determinao do grau de
craqueamento 01/04/2003
NBR 14.946 Determinao de dureza Konig 01/04/2003
NBR 15.077 Determinao da cor e diferena
de cor por medida instrumental 31/05/2004
NBR 15.078 Determinao da resistncia
abraso mida sem pasta abrasiva 31/05/2004
NBR 15.079
Requisitos mnimos de
desempenho tinta ltex econmica
nas cores claras
31/05/2004
44
NBR 15.299 Determinao de brilho 30/12/2005
NBR 15.301
Determinao de resistncia ao
crescimento de fungos em cmara
tropical
30/12/2005
NBR 15.302 Determinao do grau de
calcinao 30/12/2005
NBR 15.303 Determinao de absoro de gua
de massa niveladora 30/12/2005
NBR 15.304 Avaliao de manchamento por
gua 30/12/2005
NBR 15.311 Determinao do tempo de
secagem por medida instrumental 30/12/2005
NBR 15.312 Determinao da resistncia
abraso da massa niveladora 30/12/2005
NBR 15.313
Procedimentos bsicos para
lavagem, preparo e esterilizao
em anlises microbiolgicas
30/12/2005
NBR 15.314
Determinao do poder de
cobertura em pelcula de tinta seca
por extenso
30/12/2005
NBR 15.315 Determinao do teor de slidos 30/12/2005
NBR 15.348 Requisitos massa niveladora 30/04/2006
NBR 15.380
Resistncia radiao
UV/condensao de gua por
mtodo acelerado
24/07/2006
NBR 15.381 Determinao do grau de
empolamento 17/07/2006
NBR 15.382 Determinao da massa especifica 17/07/2006
NBR 15.458 Avaliao microbiolgica de tintas 15/01/2007
Fonte: UEMOTO, 2007, apud BREITBACH, 2009
A qualidade da tinta varia de acordo com a quantidade e o tipo de
resina, pigmento, proporo slidos-lquidos e aditivos. Com a variao
desses insumos pode-se criar uma vasta variedade de tintas, de
diferentes qualidades e preos. O teor de slidos, o contedo de
pigmentos e a qualidade de xido de titnio so os trs indicadores da
qualidade de uma tinta. Quanto maior a porcentagem de slidos no
45
volume da tinta, maior espessura da pelcula, considerando-se uma
determinada taxa de espalhamento. Isso acarreta em uma melhor
cobertura e, obviamente, maior proteo da superfcie, ou seja, maior
durabilidade.
A Figura 6 apresenta algumas variaes nas propores de
slidos e lquidos de diferentes tipos de tintas ltex, com as respectivas
classificaes baseadas no brilho do filme seco.
Figura 6 - Composio tpica de uma tinta ltex
Fonte: Polito, 2006, adaptado pelo autor
Ao se pintar uma superfcie com uma tinta de alta qualidade e
uma tinta comum, considerando um mesmo espalhamento e espessura
do filme de tinta, obtm-se um filme seco mais espesso com a tinta de
alta qualidade, pois o teor de slidos desta maior (ver Figura 7).
Assim, essa pelcula fornecer maior proteo ao substrato (POLITO,
2006).
46
Figura 7 - Espessura do filme mido e seco
Fonte: Polito, 2006, adaptado pelo autor
valido ressaltar que, como visto na introduo do item 2.5, a
durabilidade de uma pintura no depende apenas da qualidade da tinta.
Um filme de maior espessura pode proteger com mais eficincia o
substrato, porm no a nica varivel que deve ser considerada. A
porosidade do reboco e a compatibilidade qumica da tinta com o
substrato esto ligadas diretamente com as caractersticas de proteo do
filme. Tambm vale salientar que as escolha das tintas deve levar em
considerao a agressividade ambiental. Tintas formuladas com aditivos
de preservao so indicadas para ambientes onde a degradao por
agentes microbiolgicos intensificada devido a proximidade com o
mar.
2.5.4. TCNICA GERAL DE APLICAO Os diferentes tipos de tintas e substratos requerem diferentes
tratamentos antes da aplicao. Mas de modo geral, todas as tintas
viscosas seguem um mesmo mtodo de aplicao. O trecho a seguir foi
extrado do livro Projeto, Execuo e Inspeo de Pinturas (2002),
escrito pela pesquisadora e doutora em engenharia civil Kai Loh
Uemoto:
47
A quantidade de material aplicada em cada demo
deve ser a mnima possvel e espalhada ao
mximo, de maneira que a cobertura da superfcie
seja obtida atravs da aplicao de vrias demos.
Cada demo deve ser aplicada com espessura
uniforme e livre de poros, escorrimentos, etc.
Quaisquer falhas de pintura devem ser corrigidas,
respeitando-se o tempo de secagem previsto antes
da aplicao da demo subsequente. Cada demo
deve ser aplicada quando a anterior estiver
suficientemente seca, de modo a no provocar
enrugamento, descolamento, etc. A ltima demo
deve propiciar superfcie uma pelcula uniforme,
sem escorrimentos, sem falhas ou imperfeies.
Escorrimentos ou salpicos de tinta nas superfcies
no destinadas pintura (vidros, pisos, concreto
aparente, etc.) devem ser evitados. Os salpicos
devem ser removidos quando frescos,
empregando-se pano mido embebido em
produtos base de gua com removedor
apropriado em produtos de base solvente.
Para melhor proteo do substrato, deve ser
aplicado um nmero maior de demos de tinta em
superfcies muito porosas, ou contornos angulosos
ou com certa inclinao.
A pintura recm-aplicada deve ser protegida
contra a incidncia de poeira e agua, ou mesmo
contra contatos acidentais, durante a secagem.
De modo geral, cada demo do sistema deve estar
seca antes da aplicao da demo subsequente.
Como as condies atmosfricas influem no
tempo de secagem e consequentemente no
intervalo entre demos, este no deve ser inferior
quele recomendado na embalagem do fabricante.
Tintas de base gua no exigem longos perodos
de secagem, podendo a demo seguinte ser
aplicada algumas horas aps a primeira.
Segue abaixo uma tabela resumida do esquema de pinturas
externas sobre o reboco, utilizando tintas ltex acrlica.
48
Tabela 5 - Pintura externas sobre reboco
TIPO DE
ACABAMENTO
ESQUEMA DE
PINTURA
OBSERVAES
LTEX
ACRLICO
Preparao da
Superfcie:
Lixar toda a superfcie
para remover
salincias.
Remover a poeira por
escovamento.
Pintura:
Aplicar uma demo de
selador acrlico base-
gua.
Para acabamentos de
alto padro, aplicar
duas a trs demos de
massa corrida de base
acrlica, lixando at
obter o nivelamento
desejado.
Remover a poeira.
Aplicar tinta ltex
acrlico em duas ou
trs demos, de
aspecto fosco,
semibrilhante ou
acetinado.
Pintura de nova gerao, que
vem gradativamente
substituindo o ltex de base
PVA em exteriores. Possui
excelentes propriedades de
resistncia ao intemperismo e
abraso mida (tima
resistncia lavabilidade) e
grande poder de adeso ao
substrato.
Fonte: Tintas e Vernizes: Cincia e Tecnologia, 1993, adaptado pelo autor
2.5.5. VIDA TIL DE PINTURAS De acordo com a NBR 15575-1:2013, a vida til (VU) definida
como perodo de tempo em que um edifcio e/ou seus sistemas se prestam s atividades para as quais foram projetados e construdos
considerando a periodicidade e correta execuo dos processos de
manuteno especificados no respectivo Manual de Uso, Operao e
Manuteno, ou seja, o perodo de tempo entre a aplicao o ponto em que conjunto analisado passa a ter desempenho inferior as requisitos
49
mnimos de utilizao. Vale ressaltar que, conforme apresentado no item
2.5, a determinao da vida til implica na definio das exigncias ou
requisitos de desempenho pretendidos para um determinado material ou
componente.
Segundo Moser (2004, apud CHAI, 2011), a vida til
influenciada por critrios de segurana, de funcionalidade e de
aparncia, para elementos construtivos em geral. Este processo
expressa-se graficamente na Figura 8 por meio da comparao entre a
degradao esttica, a perda de funcionalidade e a diminuio dos nveis
de segurana de uma construo, e simultaneamente pela indicao dos
nveis de exigncia para cada um destes aspectos.
Figura 8 - Relao entre a perda de desempenho das propriedades de
um elemento e os mnimos aceitveis, com identificao daquela que
condiciona o fim da vida til
Fonte: Moser, 1999 apud Chai, 2011
Para Garrido (2010), no caso de pinturas de fachadas, as
exigncias funcionais que estas devem satisfazer so, essencialmente,
duas:
garantir, tanto quanto possvel, a proteo do substrato face a
agentes de degradao externos;
apresentar qualidades estticas compatveis com as exigncias
definidas na concepo.
50
A vida til de projeto um perodo de tempo estimado
teoricamente durante a fase de projeto, para o qual o desempenho do
conjunto ou elemento esteja acima dos requisitos mnimos de
desempenho estabelecidos pela NBR 15575-1:2013. A definio da vida
til de projeto uma previso que considera o cumprimento da
periodicidade e processos de manuteno estabelecidos no manual de
uso, operao e manuteno.
O interesse na temtica da previso da vida til de materiais e
componentes de edifcios foi impulsionado pelo crescimento da
preocupao politica e social com o conceito da sustentabilidade e
desenvolvimento sustentvel. A existncia de dados relativos vida til
de materiais e componentes essencial para se alcanar maior
longevidade das construes, permitindo uma correta seleo, uso e
manuteno destas (MASTERS et al., 1987, apud GARRIDO, 2010).
O perodo de vida til depende do correto uso e operao da
edificao e de suas partes, de aes de manuteno, das variaes
ambientais e da ocupao no entorno da edificao. Seu valor real, em
tempo, uma composio do valor terico da vida til de projeto
influenciado pela fora das aes de degradao implicadas pelo uso da
edificao e exposio ao intemperismo, e pelas aes de manuteno e
reparo. A manuteno visa recuperar o desempenho previsto de
elementos e sistemas e constitui um dos fatores contribuintes e
necessrios para que a vida til de projeto seja alcanada. As
negligncias no atendimento integral dos programas definidos no
manual de uso, operao e manuteno da edificao, bem como aes
anormais do meio ambiente, iro reduzir o tempo de vida til, podendo
este ficar menor que o prazo terico calculado como vida til de projeto.
A Figura 9 apresenta a influncia de aes de manuteno na vida til
da edificao.
51
Figura 9 - Desempenho ao longo do tempo
Fonte: Neto, 2013, adaptado pelo autor
O grfico da Figura 9 representa qualitativamente a queda de
desempenho de um componente associada a aes degradantes ao longo
do tempo. A vida til, quantificada pelo tempo em que o elemento de
estudo apresenta desempenho satisfatrio, prestando s atividades para o
qual foi projetado e construdo, chega ao fim quando manutenes
preventivas ou corretivas no so capazes de recuperar o desempenho
perdido por um perodo de tempo que justifique os gastos com essas
aes.
No trabalho de Estratgias de manuteno - Elementos da envolvente de edifcios correntes, Flores (2002, apud CHAI, 2011) fez uma investigao relativa a estratgias de manuteno e atribuiu o
tempo de vida til projetada consoante o tipo de manuteno realizada
em pinturas, realando a importncia destas no projeto de vida til de
pinturas externas (ver Figura 10).
52
Figura 10 - Expectativa de vida til relacionada ao tipo de manuteno
Fonte: Flores, 2002, apud Chai, 2011
Durante a fase de planejamento da obra, cabe ao construtor
escolher os tipos de materiais que sero utilizados e identificar os riscos
previsveis e interferncias na vizinhana, fornecendo informaes
adequadas aos seus projetistas. Quanto qualidade dos materiais, cabe
aos fabricantes e fornecedores caracterizar o os seus produtos e garantir
requisitos mnimos de desempenho de acordo com as normas em vigor.
Na fase de execuo da obra, caber ao construtor garantir o
emprego de materiais e produtos de qualidade, bem como capacitar a
mo de obra para executar a edificao segundo os projetos e memoriais
disponibilizados (NETO, 2013).
2.5.6. PROJETO ARQUITETNICO DAS FACHADAS Segundo Uemoto (2002), alguns aspectos do projeto influem na
qualidade e durabilidade da pintura, tanto na facilidade de aplicao
inicial como na sua manuteno ao longo da vida til dos edifcios,
principalmente em fachadas externas. Pequenos detalhes de projeto muitas vezes podem provocar prejuzos estticos na pintura, levando
reduo da durabilidade, alm de ocasionar frequentes intervenes na
manuteno do edifcio.
53
Para Consoli (2006), o planejamento da fachada no projeto arquitetnico, tanto das paredes quando das aberturas, fundamental
para os resultados de conforto ambiental, de manuteno da edificao
no decorrer dos anos e de salubridade do espao interno. As solues arquitetnicas de fachadas devem considerar as dificuldades de
manuteno e os fatores que atuam como agentes de degradao.
Na concepo do projeto, sempre que possvel, as fachadas
devero apresentar dispositivos que facilitem o escoamento do filme de
gua, como frisos, pingadeiras, calhas e beirais. A presena de pequenas
salincias, projees ou outros detalhes arquitetnicos na superfcie das
paredes contribui para a dissipao dos fluxos da gua que escorre sobre
elas, devendo ter geometria, dimenses e posicionamento adequados
(ver Figura 11).
Figura 11 - Efeito das salincias na superfcie dos edifcios
Fonte: Perez, 1986, apud Uemoto, 2002
As pingadeiras so detalhes construtivos que tem a funo de
quebrar a linha de fluxo dgua, podendo ser componentes do peitoril. Se no houver nenhum tipo de pingadeira ou coletor de gua, as guas
54
provenientes das chuvas podem escorrer pela superfcie da fachada,
percorrendo toda a altura do edifcio, depositando sujeira e manchando a
pintura na direo em que a gua escorre (CONSOLI, 2006). As
pingadeiras devem ser projetadas com geometria que expulse os fluxos
de gua da fachada, conforme apresentado na Figura 12.
Figura 12 - Efeito da geometria da pingadeira na expulso de fluxos de
gua sobre a pintura de edifcios
Fonte: Perez, 1986, apud Uemoto, 2002
Concluindo, o escorrimento e acumulo de gua pela fachada deve
ser minimizado com projetos arquitetnicos de fachada com dispositivos
que possibilitem a expulso dos fluxos de gua, pois, segundo Consoli
(2006), as manifestaes patolgicas de fachadas esto associadas ao
elevado teor de umidade do substrato.
2.6. MANIFESTAES PATOLGICAS EM PINTURAS A manifestao de problemas patolgicos em fachadas de
edifcios resulta na perda de desempenho e reduo da durabilidade e
vida til dos componentes do sistema de pintura. Grande parte das
manifestaes patolgicas tem origem relacionada com alguma falha na
realizao de uma ou mais atividades no processo construtivo, sendo
55
que os maiores problemas ocorrem devido a omisses de planejamento,
falhas de projeto e falta de especificaes, levando as atividades do
processo executivo a serem concludas sem a devida tcnica construtiva
adequada e/ou insuficincia de elementos e materiais para formar o
componente construtivo (CONSOLI, 2006).
Alm de prejudicar a esttica e desvalorizar o empreendimento,
as manifestaes patolgicas no revestimento de fachadas pode
prejudicar a funo protetora que a pintura exerce sobre o substrato,
deixando-o mais suscetvel a ataques por agentes agressores.
Geralmente, a maioria das manifestaes patolgicas apresenta sintomas
caractersticos que permitem ao especialista determinar a sua origem, as
causas que conduziram ao seu aparecimento e as consequncias que
podero advir caso no seja devidamente corrigida.
A patologia em edificaes analisa os sintomas evidenciados
pelos defeitos que se manifestam, pesquisa sua origem e as provveis
causas e mecanismos de ao dos agentes envolvidos. Assim, o estudo
das doenas em edificaes tem o objetivo de impedir ou minimizar a
gravidade desses problemas, bem como saber como corrigi-los quando
se manifestam (AZEVEDO, 2011).
A seguir esto relacionados os principais tipos de manifestaes
patolgicas em pinturas de fachadas de edificaes, como suas
provveis causas e mtodos de reparo.
Bolor: O bolor ou mofo a formao de colnias de fungos,
algas, lquens, entre outros, que se desenvolvem no filme,
resultando em manchas esverdeadas, avermelhadas ou escuras.
Ocorre em ambientes de umidade constante e elevada,
associada presena de materiais orgnicos em decomposio
ou parasitas de plantas. O desenvolvimento dessas colnias
favorecido quando a temperatura ambiente se encontra entre
0C e 40C e quando a fachada no recebe incidncia de raios
solares diretamente (CINCOTTO, 1988; DINIZ, 1993).
56
Figura 13 - Aspecto da biodeteriorao
Fonte: Breitbach, 2009
A maneira mais fcil para prevenir a pintura das fachadas
contra a formao de bolor evitar o escorrimento e acumulo
de gua pela fachada por meio de um projeto arquitetnico com
dispositivos construtivos capazes de desviar a gua e conduzi-la
para fora da fachada. Para restaurar o problema, deve-se lavar a
superfcie com soluo de hipoclorito de sdio, eliminar a
infiltrao de umidade, usar tintas que contenham agentes
biocidas, diminuir a umidade aquecendo o ambiente interno e
aumentando a ventilao, aplicar sistemas de pintura que
tornem a superfcie nivelada, livre de microcavidades e
imperfeies onde os fungos possam se alojar, e quando a
superfcie da pintura estiver pulverulenta, fazer o reparo do
revestimento (CINCOTTO, 1988; DINIZ, 1993).
Calcinao: A calcinao um efeito que se origina pela
degradao da resina das tintas sob o efeito de raios solares e
uso de pigmento (dixido de titnio) inadequado, no caso de
tintas brancas e pastis. caracterizado pela pulverulncia
superficial da camada de tinta, resultante envelhecimento
superficial da pintura (DINIZ, 1993).
57
Figura 14 - Aspecto da calcinao
Fonte: Tintas Colorin, 2013
Para prevenir a calcinao do filme, devem-se escolher tintas
com formulao adequada para garantir boa resistncia
radiao ultravioleta e intempries (DINIZ, 1993). Para corrigir
o problema deve-se raspar, escovar ou lixar a superfcie
eliminando as partes soltas e a poeira, aplicar fundo selador
para paredes e aplicar tinta adequada (NETO, 2007).
Desagregao: A desagregao ocorre quando a tinta for
aplicada antes que o reboco estivesse curado ou pela presena
de umidade na superfcie; e quando ao trao da argamassa de
reboco pobre em teor de cimento e no apresenta boa coeso.
Caracteriza-se pela destruio da pintura, que se esfarela,
destacando-se da superfcie juntamente com partes do reboco
(ver Figura 15).
58
Figura 15 - Aspecto da desagregao
Fonte: Manual Tcnico de Pintura - Hidracor, 2010
Para prevenir a desagregao do filme e da argamassa de
reboco, quando se tratar de um reboco novo, deve-se aguardar
cerca de 28 dias para aplicar a tinta, para que a superfcie
argamassada esteja curada e completamente seca quando a
pintura for executada. Para corrigir a desagregao, deve-se
raspar as partes soltas, corrigir as imperfeies profundas com
reboco e aplicar uma demo de fundo preparador base d'gua e
aplicar acabamento (SUVINIL, 2013).
Descascamento: O descascamento da pintura ocorre quando a
aplicao da tinta foi executada sem que o substrato fosse
devidamente preparado, ou seja, sobre uma superfcie
empoeirada ou contendo partculas soltas (NETO, 2007).
59
Figura 16 - Aspecto de descascamento
Fonte: Neto, 2007
Para evitar o descascamento da pelcula, deve-se lixar a
superfcie para remover todas as partculas soltas e limpa-la,
removendo a poeira. Aps isso, aplicar um fundo selador e
antes de iniciar o processo de aplicao da tinta. Para corrigir o
problema, deve-se raspar a superfcie retirando as partes soltas
do filme e seguir os passos descritos acima (MANUAL
TCNICO DE PINTURA HIDRACOR, 2010).
Eflorescncia: Santos e Filho (2008) descreveram eflorescncia
como depsitos cristalinos de cor branca que surgem na
superfcie do revestimento, resultantes da migrao e posterior
evaporao de solues aquosas salinizadas. A migrao dessas
solues para a superfcie ocorre quando os sais solveis
presentes nos componentes da construo, como alvenarias,
argamassas, concreto, so transportados pela gua utilizada na
hidratao do cimento, na limpeza ou de infiltraes. Quando a
soluo entra em contato com o ar, a gua evapora e os sais
solidificam-se formando depsitos (ver Figura 17), que podem,
inclusive, romper a pelcula de tinta. Assim, para a formao da
eflorescncia necessria a existncia concomitante de trs
60
fatores: sais solveis nos materiais ou componentes; presena
de gua para solubiliz-los; e presso hidrosttica para que a
soluo migre para a superfcie por capilaridade (UEMOTO,
1988, apud RESENDE; BARROS; MEDEIROS, 2002).
Figura 17 - Aspecto de eflorescncia
Fonte: Neto, 2007
Para evitar a formao de eflorescncias deve-se aguardar a
secagem da superfcie a ser pintada antes da aplicao da tinta e
corrigir pontos de infiltrao de gua. Para reparar o problema,
deve-se raspar o substrato e aguardar a cura completa do
mesmo, utilizar um fundo selador resistente a lcali e repintar a
superfcie com tinta ltex acrlica, no caso de fachadas externas
(DINIZ, 1993).
Fissuras: As fissuras podem ser classificadas de acordo com a
sua forma como fissuras horizontais e fissuras mapeadas. As
fissuras horizontais ocorrem devido expanso da argamassa
de assentamento por hidratao retardada do xido de magnsio
da cal presente na argamassa ou devido expanso da
argamassa de assentamento por reao cimento-sulfatos ou
presena de argilo-minerais expansivos no agregado,
61
apresentando-se ao longo de toda a parede. As fissuras
mapeadas ocorrem devido retrao da argamassa de base, e
apresentam-se de forma variada, distribuindo-se por toda a
superfcie (CINCOTTO, 1988).
Figura 18 - Aspecto de fissuras mapeadas
Fonte: Neto, 2007
Para corrigir as fissuras, deve-se fazer a renovao do
revestimento e repintar a superfcie (CINCOTTO, 1988).
Vesculas: O empolamento da pintura ocorre quando a tinta
aplicada prematuramente sobre uma superfcie mida,
resultando em uma perda localizada de adeso e levantamento
do filme da superfcie, formando bolhas/vesculas. Quando o
interior das bolhas apresenta cor branca, significa que ocorreu a
hidratao retardada de xido de clcio pre
Recommended