visões de Esparta, Atenas e Roma - estudogeral.sib.uc.pt · Plutarco, Atenas, Esparta, Roma,...

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  • Pilar Gmez Card, Delfim F. Leo, Maria Aparecida de Oliveira Silva (coords.)

    Plutarco entre mundosvises de Esparta, Atenas e Roma

    IMPRENSA DA UNIVERSIDADE DE COIMBRACOIMBRA UNIVERSITY PRESS

    ANNABLUME

    NelsonTypewritten Text
  • HVMANITAS SVPPLEMENTVM ESTUDOS MONOGRFICOSISSN: 2182-8814

    Apresentao: esta srie destina-se a publicar estudos de fundo sobre um leque variado de

    temas e perspetivas de abordagem (literatura, cultura, histria antiga, arqueologia, histria da

    arte, filosofia, lngua e lingustica), mantendo embora como denominador comum os Estudos

    Clssicos e sua projeo na Idade Mdia, Renascimento e receo na actualidade.

    Breve nota curricular sobre os coordenadores do volume

    Coordenadores

    Pilar Gmez Card es profesora titular de Filologa Griega en la Universidad de Barcelona,

    donde imparte docencia e investiga desde 1981. Doctora en Filologa Clsica desde 1987,

    con una tesis sobre la tradicin ymbica y la fbula (La Vida dIsop entre el iambe, la faula i

    la novella) es autora de numerosos artculos y captulos de libros sobre la literatura griega

    de poca imperial romana, en especial sobre Segunda Sofstica y novela, ha estudiado

    principalmente autores como Luciano (en cuya edicin y traduccin al castellano para la

    coleccin Alma Mater participa), Plutarco, Din de Prusa o Elio Arstides. Es miembro del

    grupo de investigacin Graecia Capta de la Universidad de Barcelona.

    Delfim F. Leo Professor Catedrtico da Instituto de Estudos Clssicos e investigador

    do Centro de Estudos Clssicos e Humansticos da Universidade de Coimbra. As suas

    principais reas de interesse cientfico so a histria antiga, o direito e a teorizao poltica

    dos Gregos, a pragmtica teatral e a escrita romanesca antiga.

    Maria Aparecida de Oliveira Silva professora visitante do Programa de Ps-Graduao

    em Letras Clssicas da Universidade de So Paulo e Professora Pesquisadora do Programa

    de Ps-Graduao em Histria da Universidade Federal de So Paulo. Lder do Grupo CNPq

    LABHAN Laboratrio de Histria Antiga da Universidade Federal do Amap. Pesquisadora

    do Grupo CNPq Linceu - Vises da Antiguidade Clssica da Universidade Estadual Paulista.

    Pesquisadora do Grupo Retrica, Texto y Comunicacin da Universidad de Cdiz. Membro

    do Conselho Acadmico do Seminrio de Histria e Filosofia das Religies da Universidad

    Autnoma de Ciudad Jurez Mxico. Pesquisa e publica trabalhos sobre Esparta,

    Plutarco e biografia antiga.

  • Srie Humanitas SupplementumEstudos Monogrficos

  • Estruturas EditoriaisSrie Humanitas Supplementum

    Estudos Monogrficos

    ISSN: 21828814

    Diretor PrincipalMain Editor

    Delfim LeoUniversidade de Coimbra

    Assistentes Editoriais Editoral Assistants

    Elisabete Cao, Joo Pedro Gomes, Nelson Ferreira Universidade de Coimbra

    Comisso Cientfica Editorial Board

    Arnaldo do Esprito SantoUniversidade de Lisboa

    Aurelio Prez JimnezUniversidad de Mlaga

    Cludia TeixeiraUniversidade de vora

    Frederico LourenoUniversidade de Coimbra

    Israel Muoz GallarteUniversidad de Crdoba

    Jos Ribeiro FerreiraUniversidade de Coimbra

    Jos Vela TejadaUniversidad de Zaragoza

    Maria do Cu FialhoUniversidade de Coimbra

    Nuno Simes RodriguesUniversidade de Lisboa

    Todos os volumes desta srie so submetidos a arbitragem cientfica independente.

  • Pilar Gmez Card, Delfim F. Leo, Maria Aparecida de Oliveira Silva (coord.)Universitat de Barcelona, Universidade de Coimbra, Universidade de So Paulo

    Plutarco entre mundos:vises de Esparta, Atenas e Roma

    IMPRENSA DA UNIVERSIDADE DE COIMBRACOIMBRA UNIVERSITY PRESS

    ANNABLUME

  • Conceo Grfica GraphicsRodolfo Lopes, Nelson Ferreira

    Infografia InfographicsNelson Ferreira

    Impresso e Acabamento Printed bySimes & Linhares, Lda. Av. Fernando Namora, n. 83 Loja 4. 3000 Coimbra

    ISSN21828814

    ISBN9789892609201

    ISBN Digital9789892609218

    DOIhttp://dx.doi.org/10.14195/9789892609218

    Depsito Legal Legal Deposit 384761/14

    Ttulo Title Plutarco entre mundos: vises de Esparta, Atenas e RomaPlutarch between worlds: visions of Sparta, Athens and Rome

    Coord. Ed.Pilar Gmez Card, Delfim F. Leo, Maria Aparecida de Oliveira Silva

    Editores PublishersImprensa da Universidade de CoimbraCoimbra University Presswww.uc.pt/imprensa_ucContacto Contact imprensa@uc.ptVendas online Online Saleshttp://livrariadaimprensa.uc.pt

    Annablume Editora * Comunicao

    www.annablume.com.brContato Contact @annablume.com.br

    Coordenao Editorial Editorial CoordinationImprensa da Universidade de Coimbra

    Dezembro 2014

    Trabalho publicado ao abrigo da Licena This work is licensed underCreative Commons CCBY (http://creativecommons.org/licenses/by/3.0/pt/legalcode)

    POCI/2010

    Annablume Editora * So PauloImprensa da Universidade de CoimbraClassica Digitalia Vniversitatis Conimbrigensis http://classicadigitalia.uc.ptCentro de Estudos Clssicos e Humansticos da Universidade de Coimbra

    Srie Humanitas SupplementumEstudos Monogrficos

  • Plutarco entre mundos: vises de Esparta, Atenas e Roma Plutarch between worlds: visions of Sparta, Athens and Rome

    Coord. Ed.Pilar Gmez Card, Delfim F. Leo, Maria Aparecida de Oliveira Silva

    Filiao AffiliationUniversitat de Barcelona, Universidade de Coimbra, Universidade de So Paulo

    ResumoA vasta e variada obra de Plutarco permite sempre uma abordagem a partir de distintas perspetivas, com diferentes intenes e propsitos variados. No entanto, importante identificar tambm fios comuns nessa abordagem, porque permitem demonstrar, tanto a nvel formal como de contedo, que h muitos elementos comuns que permeiam o trabalho de Plutarco. Os treze contributos para este volume tm como elo comum o nome de trs cidades: Esparta, Atenas e Roma. Elas representam espaos polticos e institucionais diversos, dada a sua extenso geogrfica e cronolgica, mas simbolizam igualmente diferentes modelos de organizao social atravs dos quais a Grcia pode ser contrastada com Roma ou Atenas comparada com Esparta ainda que o seu verdadeiro interesse na obra de Plutarco seja que representam sempre locais paradigmticos onde vivem e convivem pessoas. Por isso, os estudiosos de Plutarco que contriburam para este volume procuram analisar em cada uma dessas cidades, seja por assimilao ou por contraste, a forma como o autor de Queroneia aborda a ligao entre indivduo e comunidade a partir do exerccio do poder e da experincia religiosa; qual o papel da educao e do domnio privado na projeo pblica dos protagonistas retratados por Plutarco; ou at que ponto a imagem dos primeiros legisladores e fundadores mticos foi condicionada pela evoluo histrica destas mesmas cidades.

    PalavraschavePlutarco, Atenas, Esparta, Roma, educao, religio, poder.

    Abstract The vast and varied work of Plutarch naturally allows an approach from different perspectives, with a variety of intentions and plural purposes. However, it is also important to identify common lines of approach, because they demonstrate, both formally and in terms of content, that there are many customary elements underlying his work. The thirteen contributions to this volume are linked by the names of three cities: Sparta, Athens and Rome. They represent diverse political and institutional spaces because of their geographical extension and chronology, and they symbolize as well different models of social organization through which Greece can be contrasted with Rome, or Athens compared to Sparta but perhaps their most interesting feature in Plutarch's work is that they are paradigmatic places where men live and coexist together. Therefore, the Plutarchists who contributed to this volume analyze for each of these cities, by assimilation or contrast, the way the author from Chaeronea envisages the connection between individual and community as reflected in the exercise of power and the living of religious experiences; the role played by education and private affairs in the public image of Plutarchs protagonists; or the extent to which the image of the first lawgivers and mythical founders was conditioned by the historical development of these cities.

    KeywordsPlutarch, Athens, Sparta, Rome, education, religion, power.

  • Coordenadores

    Pilar Gmez Card es profesora titular de Filologa Griega en la Universidad de Barcelona, donde imparte docencia e investiga desde 1981. Doctora en Filologa Clsica desde 1987, con una tesis sobre la tradicin ymbica y la fbula (La Vida dIsop entre el iambe, la faula i la novella) es autora de numerosos artculos y captulos de libros sobre la literatura griega de poca imperial romana, en especial sobre Segunda Sofstica y novela, ha estudiado principalmente autores como Luciano (en cuya edicin y traduccin al castellano para la coleccin Alma Mater participa), Plutarco, Din de Prusa o Elio Arstides. Es miembro del grupo de investigacin Graecia Capta de la Universidad de Barcelona.

    Delfim F. Leo Professor Catedrtico da Instituto de Estudos Clssicos e investigador do Centro de Estudos Clssicos e Humansticos da Universidade de Coimbra. As suas principais reas de interesse cientfico so a histria antiga, o direito e a teorizao poltica dos Gregos, a pragmtica teatral e a escrita romanesca antiga.

    Maria Aparecida de Oliveira Silva professora visitante do Programa de PsGraduao em Letras Clssicas da Universidade de So Paulo e Professora Pesquisadora do Programa de PsGraduao em Histria da Universidade Federal de So Paulo. Lder do Grupo CNPq LABHAN Laboratrio de Histria Antiga da Universidade Federal do Amap. Pesquisadora do Grupo CNPq Linceu Vises da Antiguidade Clssica da Universidade Estadual Paulista. Pesquisadora do Grupo Retrica, Texto y Comunicacin da Universidad de Cdiz. Membro do Conselho Acadmico do Seminrio de Histria e Filosofia das Religies da Universidad Autnoma de Ciudad Jurez Mxico. Pesquisa e publica trabalhos sobre Esparta, Plutarco e biografia antiga.

  • Editors

    Pilar Gmez Card is Professor of Greek Studies at the University of Barcelona, where she has been teaching and conducting research in 1981. She obtained a PhD in Classical Philology in 1987, with a thesis on the iambic tradition and fable (La Vida dIsop entre el iambe, la faula i la novella), and is the author of numerous articles and book chapters on the Greek literature of the Roman Imperial period, especially on the Second Sophistic and the novel. She has studied mainly writers like Lucian (collaborating in the edition and translation of his works into Spanish for the Alma Mater collection), Plutarch, Dio of Prusa and Aelius Aristides. She is a member of the research group Graecia Capta of the University of Barcelona.

    Delfim F. Leo is Full Professor at the Institute of Classical Studies and researcher at the Centre for Classical and Humanistic Studies at the University of Coimbra. His main areas of scientific interest are ancient history, law and political theory of the Greeks, theatrical pragmatics, and the ancient novel.

    Maria Aparecida de Oliveira Silva is a visiting professor of the Postgraduate Programme in Classics at the University of So Paulo, and Research Professor of the Postgraduate Programme in History at the Federal University of So Paulo. Leader of the CNPq LABHAN Group Labotarory of Ancient History at the Federal University of Amap. Researcher of the CNPq Linceu Group Visions of Classical Antiquity, at So Paulo State University. Researcher of the Group Retrica, Texto y Comunicacin of the University of Cdiz. Member of the Academic Council of the Seminar in History and Philosophy of Religions at the Autonomous University of Ciudad Jurez Mexico. Her research interests are mainly directed to Sparta, Plutarch and ancient biography.

  • NelsonText Box (Pgina deixada propositadamente em branco)
  • Sumrio

    Apresentao de Plutarco entre Mundos: vises de esparta, atenas e roma 11(Presentation of Plutarch between worlds: visions of Sparta, Athens and Rome)

    Introduccin(Introduction) 13

    Pilar Gmez Card

    O jovem Teseu: do reconhecimento paterno ao reconhecimento poltico. (Young Theseus: from paternal recognition to political recognition) 31

    Loraine Oliveira

    Legislar tena un precio (The price to pay for legislating) 49

    M Teresa Fau Ramos

    O legislador e suas estratgias discursivas: teatralidade e linguagem metafrica na vida de slon

    (The statesman and his discourse strategies: theatricality and metaphorical language in the Life of Solon) 71

    Delfim F. Leo

    A figura do legislador em Plutarco: Recepo de um mito poltico (The figure of the lawgiver in Plutarch: reception of a political myth) 85

    lia Rodrigues

    Un mentor limpio de pasiones. El filsofo y la actuacin poltica segn el de genio socratis

    (A mentor without passions: the philosopher and political action according to the De genio Socratis) 103

    Jos M. Candau

    O valor da filosofia e da paideia: a construo moral e retrica de Plutarco(The value of philosophy and of paideia: Plutarchs moral and rhetorical constructions) 119

    Joaquim Pinheiro

    De Roma a Alejandra y viceversa. mimesis del motivo del viaje en la vida de antonio de Plutarco.(From Rome to Alexandria and vice versa: mimesis of the travel motif in Plutarchs Life of Antony) 137

    Ivana S. Chialva

    A Esparta de Plutarco entre a guerra e as artes(Plutarchs Sparta between war and the arts) 159

    Roosevelt Rocha

    Msica e educao em Atenas, segundo as biografias de Plutarco(Music and education in Athens according to Plutarchs biographies) 173

    Fbio Vergara Cerqueira

  • Por trs de um grande homem h sempre uma grande mulher? A influncia de esposas e amantes sobre homens de Estado

    (Is there always a great man behind a great woman? The influence of wives and lovers over statesmen) 191

    Ana Ferreira

    Heteras, concubinas y jvenes de seduccin: la influencia femenina en las vidas plutarqueas de Soln, Pericles y Alcibades

    (Hetairai, concubines and seducers: the influence of women in Plutarchs Lives of Solon, Pericles and Alcibiades) 209

    Guillermina Gonzlez Almenara

    Esparta e os orculos: uma leitura plutarquiana(Sparta and the oracles: a Plutarchan reading) 219

    Maria Aparecida de Oliveira Silva

    Plutarco y la crisis oracular del final del mundo antiguo(Plutarch and the crisis of the oracles at the end of the ancient world) 233

    JessM Nieto Ibez

    Index nominvm 251

    Index locorvm 259

    Notas biogrficas dos autores 267

  • 11

    Apresentao de Plutarco entre Mundos: vises de esparta, atenas e roma

    (Presentation of Plutarch between worlds: visions of Sparta, Athens and Rome)

    Um grego nascido poca da dominao romana, Plutarco vive entre mundos, circulando entre Grcia e Roma, tecendo reflexes sobre gregos e romanos. Descendente de uma tradicional famlia becia, nosso autor educado conforme os preceitos da paideia grega, a mesma que prescreve em seus tratados e biografias como sendo a mais indicada para a formao de um homem virtuoso. Plutarco entrelaa conhecimentos acumulados pela tradio grega com os da romana, registra suas impresses sobre o modo de ser grego, em um movimento de partida do seu presente de dominado para retornar ao passado glorioso de seu povo, sem negligenciar suas anlises sobre o modo de ser romano. Reflexes que se fazem perceptveis, principalmente na escrita de suas biografias de gregos e romanos, onde vemos as comparaes de suas personagens, ora criticando a ao de um grego, ora a de um romano, demonstrando os aspectos positivos e negativos de cada um, embora deixe clara a sua preferncia pela cultura grega.

    Pela erudio peculiar a sua extensa obra, Plutarco um autor que se insere em diversos perodos da nossa histria, vemos sua influncia em escritos bizantinos, renascentistas, nos produzidos entre os sculos XVI e XVII, em que italianos, franceses, ingleses e espanhis se dedicam a verter suas biografias e tratados para vernculos modernos. A disseminao dessas obras concorre para influenciar artistas, poetas, filsofos, historiadores do sculo XVIII em diante.

    Se por muitos sculos nosso autor se v circunscrito ao espao geogrfico da bacia mediterrnica, hoje notamos que suas ideias atravessam o Oceano e alcanam o chamado Novo Mundo. Ento, a perspectiva de entre mundos para o nosso autor se expande mais, sua obra atravessa pocas e espaos e se transforma em um clssico, como tal, atemporal e sem fronteiras. Imbudos desse esprito da obra plutarquiana, apresentamos ao leitor este livro com artigos redigidos por espanhis, latinoamericanos e portugueses, revelando a

  • 12

    mesma pluralidade vista tambm nas interpretaes que cada autor faz da obra de Plutarco.

    Um agradecimento especial devido ao Manuel Trster, pelo apoio dado na reviso de elementos formais da obra, bem como ao Nelson Henrique, pelo exigente trabalho de formatao e, por extenso, a toda a equipa dos Classica Digitalia e da Imprensa da Universidade de Coimbra, sem cujo empenho no teria sido possvel publicar este livro.

    Os organizadores

  • 13

    Introduccin

    Introduccin (Introduction)

    Pilar Gmez Card (pgomez@ub.edu)Universitat de Barcelona

    Plutarco es uno de los principales agentes de lo que Lamberton ha denominado una segunda romanizacin1, si se atribuye al escritor de Queronea un papel ante todo poltico en una nueva va en la relacin entre griegos y romanos, junto a su tarea como educador y moralista, aspecto este ltimo en el que se ha focalizado, quiz en exceso, la misin de Plutarco, l mismo ciudadano romano. La ingente obra de Plutarco va dirigida al pblico del s. III d. C., plural y diverso, pero interesado en una misma cultura, educado en una misma civilizacin y en unos mismos valores, aunque no deben olvidarse nunca los elementos que pueden delimitar explcita y especficamente la identidad de lo griego helnico, ateniense, espartano, tebano... y la de lo romano. Aquello que otros hacen y defienden a travs de la accin, Plutarco lo vive a travs del relato, del ; y escribiendo describe cmo ambas culturas se presentan, como en un juego de espejos, cada una frente a la otra: Grecia y Roma, cuando Grecia forma ya parte del imperio romano.

    El hecho histrico, que nutre el relato de Plutarco, solo adquiere valor ejemplar al ser filtrado por la conducta y la actitud de sus protagonistas, individuos particulares siempre condicionados por las circunstancias2. Si Plutarco no se ha propuesto buscar la superioridad de los griegos o de los romanos y, en consecuencia, no se trata de justificar al vencedor frente al vencido, ni de ensalzar a ste frente a aqul , quiz con su ambicioso proyecto narrativo Vidas y Moralia habra intentado solo buscar y describir elementos parangonables entre griegos y romanos. Sus vidas, sus tradiciones, sus creencias deben ser entendidas como complementarias y, por ello, las Vidas son puestas en paralelo: la dualit de ce type dcrit permet daller audel des rhabilitations symtriques aux vertus pacifiantes. Elle incite chercher une nouvelle unit.3

    En efecto, Plutarco reserva la comparacin a los individuos porque considera que el pasado colectivo de uno y otro pueblo no admite comparacin4, pues

    1 Cf. R. Lamberton, Plutarch and the Romanization of Athens, en M. D. Hoff & S. I. Rotroff (eds.), The Romanization of Athens, Oxford, 1997, p. 153.

    2 Ph. Stadter, Plutarchs Lives and Their Romans Readers , en E. N. Ostenfeld (ed.), Greek Romans and Roman Greeks, Aarhus, 2002, pp. 123135, argumenta que la audiencia de Plutarco consiste tanto en griegos como en romanos, siendo, en ltima instancia, las circunstancias polticas y sociales las que se sobreponen a la naturaleza y educacin del individuo y determinan su comportamiento, de modo que la complejidad de la accin poltica se da tanto en el imperio de Roma como en las poleis griegas.

    3 J. Boulogne, Plutarque, un aristocrate grec sous l occupation romaine, Lille, 1994, p. 57.4 Cf. J. Sirinelli, Plutarque, Paris, 2000, pp. 273280.

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    Pilar Gmez Card

    sta solo podra fundamentarse en una genrica e incluso demasiado tpica especificidad para justificar su complementariedad: las poleis griegas en lucha constante solo crean imperialismos efmeros, mientras que Roma es una ciudad destinada a construir un gran imperio por la progresiva integracin de las elites y los pueblos conquistados5. Una contraposicin de este tipo empobrece, sin duda, la realidad de los hechos, del complejo entramado de situaciones que configuran el devenir histrico, sin olvidar, adems, que Plutarco como sus coetneos hombres de letras son, por la formacin recibida, todos ellos igualmente deudores de tpicos retricos, en la medida que servirse de argumentos como los antes apuntados para explicar la contraposicin y las diferencias entre Grecia y Roma se encuentran, por citar algn paralelo, en el discurso A Roma de Elio Arstides6. No obstante, incluso en ese contexto muy marcado por una especfica formacin retrica y tradicin literaria, Plutarco prioriza siempre como determinante la accin del individuo, aunque sea para incidir tambin l mismo en esos tpicos. As lo ilustra, por ejemplo, la Vida de Marcelo:

    , , .

    Ante los extranjeros los romanos son tenidos por hombres hbiles en la guerra y temibles en los combates, y que jams han dado ejemplo de bondad, de humanidad ni, en general, de virtud poltica. Marcelo fue, al parecer, el primero en demostrar a los griegos que los romanos son muy respetuosos con la justicia7.

    As, la polidrica aproximacin al pasado que Plutarco hace a travs de sus biografiados8 no permite establecer lneas absolutas, infranqueables, entre griegos y romanos en el conjunto de las Vidas paralelas. Hay matices, gradacin e incluso ausencias significativas, pero nunca queda invalidado el valor ejemplar

    5 Cf. Verg. A. VI 851853: Tu regere imperio populos, Romane, memento / (hae tibi erunt artes), pacique imponere morem, / parcere subiectis et debellare superbos.

    6 cf. Aristid. Or. XXVI 69, 94, 96.7 Cf. Plu. Marc. 20. Plutarco aade que el general romano, tras su campaa en Sicilia, llev

    a Roma numerosas estatuas y ofrendas votivas para engrandecer su triunfo y ornamentar la ciudad, jactndose ante sus conciudadanos de que los romanos deca no saban honrar ni admirar las bellezas y las maravillas de Grecia; y yo se lo he enseado (ibidem 21.7).

    8 Solo hay en el conjunto de las Vidas una pareja de hombres coetneos, y stos son precisamente Filopemen, llamado por los romanos el ltimo de los griegos de nacimiento, y Flaminio, considerado el primero de los griegos de adopcin, ya que haba liberado Grecia del yugo macedonio.

  • 15

    Introduccin

    de cada uno de los protagonistas: los hombres tienen los mismos sentimientos, los mismos valores, el mismo destino. Plutarco crea un universo moral coherente, donde la contemplacin del pasado invita a trascender los particularismos etnocntricos: la causalidad histrica es reemplazada por una construccin narrativa donde esa misma causalidad se confunde con las motivaciones psicolgicas y morales de los biografiados. En ese nuevo marco Atenas, Esparta, Siracusa o Roma pierden parte de su especificidad e incluso las pocas solo se distinguen en funcin de las condiciones, ms o menos favorables segn el estado de la moralidad pblica, que ofrecen a la accin del protagonista9, aunque la ciudad sigue jugando un doble papel: sirve como teln de fondo moral sobre el que contrastar las acciones del personaje plutarqueo y de sus adversarios; y es la referencia ltima, el lugar de toda vida y de todo valor, aquella a quien se debe sacrificar todo.

    No obstante, aunque Plutarco no se interesa por la historia, segn l mismo declara10, el modo como pone en paralelo a griegos y romanos evidencia quizs una percepcin y una intencionalidad distinta en los acontecimientos narrados desde su propria poca y circunstancias. Plutarco a travs de sus romanos habla de Roma, una ciudad cuya entidad poltica y actualidad histrica es presentada como el resultado de las acciones acometidas a lo largo de los siglos y puede tomarse como referencia la ininterrumpida secuencia cronolgica entre Rmulo y Numa que Plutarco presenta al inicio de la Vida de Numa11. En cambio, a travs de los griegos habla de Grecia, que en poca de Plutarco simboliza el pasado y la tradicin, pero, al mismo tiempo, lejos de poder ser definida por su unidad poltica, aparece, a travs de los personajes de las Vidas, como una manera de ser que identifica y cohesiona la singular individualidad de unos hombres: junto al ateniense Teseo, el espartano Licurgo, el tebano Epaminondas o el macedonio Alejandro.

    Las reflexiones hasta aqu apuntadas pretenden solo dar un contexto donde situar las contribuciones de este volumen en su individualidad, y tambin justificar, aunque sea a grandes trazos, los tres bloques temticos en que se ha orientado su disposicin. En ellos, aunque desde pticas distintas, se aborda la concepcin histrica, legal, poltica, ideolgica, social, literaria, e incluso de pervivencia..., que sustenta e identifica los nombres de Esparta, Atenas, Roma, pues los mundos de Plutarco, no solo son Roma y Grecia, sino que tambin en esta cabe distinguir entre Atenas y Esparta.

    En el relato biogrfico elaborado por Plutarco la polis griega es el escenario donde se sita la actuacin de sus protagonistas griegos cuya accin no incumbe

    9 Cf. F. Frazier, propos de la composition des couples dans les Vies Parallles de Plutarque, RPh 61 (1987) 6575.

    10 Cf. Plu. Alex. 1.2.11 Cf. Plu. Num. 2.

  • 16

    Pilar Gmez Card

    solo al individuo, sino al conjunto de los ciudadanos. Esta es la tarea que define la esencia del hombre poltico, y se impone tambin a los contemporneos del queronense, quienes pueden reconocer, en los obstculos que debieron superar los biografiados por Plutarco, tambin los defectos de la ciudad del s. I d. C., y extraer de su grandeza razones para superarlos y consagrarse al ideal cvico inherente a la tradicin grecolatina.

    En la tradicin griega la contraposicin entre el pasado colectivo de griegos y romanos estuvo, sin duda, condicionada por el relato historiogrfico de Polibio, quien present como inevitable el ascenso de Roma el imperio haba surgido de la accin de una ciudad en un modelo que margin poltica y militarmente a Grecia. La Atenas democrtica haba aspirado a convertir sus instituciones en instituciones panhelnicas, pero tales expectativas se vieron truncadas con la conquista macednica y el modelo ateniense qued fosilizado en una paideia, definitivamente sancionada como cultura internacional por la expansin y el imperio de Roma12. La Pax Romana de los Antoninos ofrece un nuevo contexto en el que AtenasGrecia puede aparecer en trminos de igualdad con RomaImperio. Si este surge de una ciudad, Grecia no cabe duda de que fue ante todo Atenas: una ciudad frente a las restantes poleis griegas. A finales del s. I d. C. las Vidas paralelas constituyen un escenario para revivir el pasado griego facetoface13 con el pasado romano con un papel determinante de Atenas como motor de la identidad griega. Si esta es la intencin de Plutarco, quiz se explica as que, en su conjunto, los protagonistas griegos de las Vidas paralelas den razn de la ciudad tica desde su fundacin hasta la conquista romana, pasando por su crecimiento, aspiraciones imperialistas, defensa ante el ataque de Filipo y pervivencia bajo la dominacin macednica.

    Desde esta perspectiva, personajes de cualquier perodo de la historia de Grecia pueden servir a los intereses de Plutarco, pero no cabe duda de que en la intencin de Plutarco juegan un papel determinante aquellos individuos tanto si se trata de figuras meramente legendarias y envueltas en el mito como histricas que participaron en la fundacin de la ciudad Atenas, Roma o

    12 La Vida de Lculo ejemplifica cmo la falta de un proyecto comn cuando el estado deja de estar controlado por una oligarqua y pasa a ser el poder de un solo hombre debe ser necesariamente compensado por los valores e ideales del individuo a cuyo enaltecimiento contribuye de un modo muy especial el poder ser considerado fruto de ese bien irremplazable que es la paideia, en la cual se fundan la conservacin del pasado y las respuestas a las cuestiones presentes: el mismo Iscrates (Evag. 4750.) ya haba enseado que la supremaca sobre el mundo heleno solo podra ser ejercida por quien poseyera una paideia griega; y desde ese momento la distincin entre griego y brbaro se haba convertido en un hecho de civilizacin, y ms concretamente de posesin o no de una paideia helnica.

    13 Cf. R. Lamberton, op. cit., p. 154, entiende, en este juego de contrastes, el proyecto literario de las Vidas paralelas como la base terica de un hecho histrico acaecido el ao 130 d. C.: la instauracin en Atenas, por obra del emperador Adriano, del Panhellenion que converta a la ciudad tica en el centro del mundo griego.

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    Introduccin

    bien contribuyeron a su consolidacin otorgndole sus reglas de organizacin y estableciendo sus leyes.

    I. Esparta, Atenas e Roma:luz e sombra na caracterizao de legisladores e fundadores(Sparta, Athens and Rome: light and shadows in the characterization of lawgivers and founders)

    En este primer bloque se han reunido cuatro trabajos focalizados en la figura de fundadores y legisladores.

    El primero de ellos (O jovem Teseu: do reconhecimento paterno ao reconhecimento poltico), firmado por Loraine Oliveira (docente en el Departamento de Filosofia, de la Universidade de Braslia), nos presenta la trayectoria recorrida por el hroe ateniense Teseo, desde su adolescencia hasta la edad adulta en busca de su identidad personal el reconocimiento paterno. El inters del trabajo de Oliveira radica no solo en el anlisis de los elementos mticos, legendarios, que envuelven la concepcin y nacimiento de Teseo, sino sobre todo en explicar cmo la legitimacin de Teseo como hijo de Egeo no es ms que el paso necesario para que de dicho reconocimiento se derive tambin el consiguiente reconocimiento poltico que culminar en su particular acto fundacional de Atenas, en el que, a diferencia de Roma, no se trata de trazar una nueva ciudad, sino de organizar como ciudad y de reunir como ciudadanos de una misma identidad, grupos humanos hasta entonces dispersos: la polis no es una ciudad en sentido urbanstico, sino un sistema identitario de agrupacin humana14. En el plutarqueo sobre Teseo se definen diversos rasgos que caracterizan al hroe como un individuo que crece conquistando espacio y el respeto de los dems: es un hombre intrpido, lleno de coraje, justo y piadoso con los dioses. Por todo ello, es merecedor de poner los cimientos de Atenas y del sistema democrtico no contentndose explica Oliveira con heredar una monarqua, sino que su accin poltica es el sinecismo (), con el que se inaugura la democracia ateniense, pues as estaba predestinado en su nombre, tal como explica Plutarco al relacionarlo con el radical del verbo 15. La sombra que Plutarco arroja en la biografa de Teseo corresponde a su incapacidad de dar verdadera cohesin a la ciudad nuevamente fundada, como revela su muerte.

    Precisamente de la muerte de fundadores y legisladores se ocupa Teresa Fau (profesora en la Universitat de Barcelona) cuya contribucin lleva por ttulo Legislar tena un precio. Este trabajo explica cmo Plutarco integra en

    14 Teseo, al ser nombrado rey tras la muerte de Egeo, se propuso reunir a todos los habitantes del tica en una sola ciudad, y proclam un solo pueblo en un solo estado al que dio el nombre de Atenas (Thes. 24.4).

    15 Cf. Plu. Thes. 4.1.

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    la biografa de los griegos y romanos, fundadores y legisladores, el relato de su muerte, las causas y las consecuencias de esta, pues la tarea que han llevado a cabo en beneficio de sus conciudadanos no suele ser correspondida por parte de estos con signos de reconocimiento y honores, al menos inmediatos. Por el contrario, los ejemplos de Licurgo, Soln, Numa, Publcola, Teseo y Rmulo es decir, sin distincin entre griegos, atenienses o espartanos, y romanos, de pocas distintas y tanto si se trata de figuras histricas como envueltas en un aureola mtica o legendaria ilustran el amplio repertorio de ingratitudes que padecieron esos personajes antes morir, pasando incluso por el exilio, voluntario u obligado, por haber osado fijar o modificar el marco de convivencia de su comunidad, aunque algunos de ellos, alcanzan la condicin de hroe, identificada esta con la existencia de una tumba16 como es el caso de Teseo, aunque sea mucho tiempo despus y gracias a Cimn17 , mientras que otros son asimilados a divinidades como los romanos Rmulo y Numa18, y el propio Licurgo. Por lo que a Esparta se refiere, el anlisis de Fau permite ver cmo Licurgo es uno de los personajes favoritos de Plutarco, pues en l puede reconocer el valor de la educacin para el buen funcionamiento del estado, y la proteccin de la divinidad como garanta de una buena accin; dos aspectos que el de Queronea defiende siempre. Por ello, el

    16 Para A. Brelich (Heros. Il culto greco degli eroi e il problema degli esseri semidivini, Roma, 1958) la existencia de la tumba del hroe, donde este pueda recibir culto, es el elemento distintivo del mito heroico en relacin a los mitos de los dioses, ya que estos por ser inmortales no pueden tener tumba.

    17 Por quien Plutarco siente notable simpata ( , Cim. 19.5). Cuando Cimn conquist la isla de Esciros, descubri una tumba con restos humanos de gran tamao, acompaados de una lanza de bronce y una espada. Al ser identificados esos despojos como los de Teseo, Cimn mand entonces trasladarlos a Atenas, donde los atenienses lo acogieron con procesiones magnficas y sacrificios, y los enterraron en el centro de la ciudad. La tumba se convirti, segn Plutarco, en lugar de asilo para cuantos teman a los poderosos porque Teseo haba escuchado los ruegos de la gente sencilla. As la figura de Teseo, a la que Plutarco reconoce mritos indudables, pero que posee rasgos que no le acaban de satisfacer, como es su conducta sexual, excesiva a todas luces, queda rehabilitada por su ayuda a los griegos contra los persas, despus de sufrir su cadver un perodo de exilio, y tambin por su asociacin con Cimn.

    18 Con la muerte de Rmulo, Plutarco reflexiona, siguiendo influencias pitagricoplatnicas, sobre la progresin del alma a travs de la virtud: las almas de hombres buenos, como Rmulo, de acuerdo con la lgica natural, a dioses remontan, alcanzando la meta ms perfecta y dichosa (Rom. 28.10). Asimismo, el bigrafo advierte sobre las funestas consecuencias de una monarqua impopular, como fue la de Rmulo en los ltimos momentos, al no tener en cuenta la opinin del Senado, de modo que este rgano poltico habra participado activamente en la misteriosa desaparicin de Rmulo, cuyo cadver jams apareci. El argumento defendido por los nobles era que Rmulo haba sido arrebatado hacia los dioses para ser un dios favorable en vez de un buen rey, y como un dios de la guerra o lancero, recibi el nombre de Quirino (Rom. 29.1). No hay que descartar, adems, que la deificacin del fundador de Roma un asunto del pasado interesara a Plutarco como referente de otro asunto, relevante en el presente, como es el culto imperial; cf. P. Gmez & F. Mestre, Lo religioso y lo poltico: personajes del mito y hombres de la historia, en A. Prez Jimnez & F. Casadess Bordoy (eds.), Estudios sobre Plutarco: misticismo y religiones mistricas en la obra de Plutarco, Madrid/Mlaga, 2001, pp. 365378.

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    episodio de la muerte de Licurgo no es ms que una consecuencia de su conducta ejemplar: Licurgo se deja morir de hambre, con el objetivo de sellar a perpetuidad la gloria y el bienestar de Esparta19. No obstante, algunas perceptibles diferencias en el tratamiento que Plutarco da a las penosas vicisitudes padecidas por los legisladores y/o fundadores segn sean griegos o romanos, permite a Fau apuntar sobre el hecho de que quiz Plutarco quiera enfatizar el valor ejemplar de la actividad de estos protagonistas como representantes de dos modos y modelos de entender la vida pblica, cvica o religiosa, identificables, respectivamente, con Grecia y Roma.

    El relato de la muerte de Teseo y Rmulo brinda, sin duda, a Plutarco una ocasin para dibujar semblanzas y diferencias entre Grecia y Roma, ahora a travs de la contraposicin democracia versus tirana, aunque ambos, a juicio del escritor, abandonaron la compostura regia, pues el uno realiz un giro democrtico y el otro tirnico, cometiendo el mismo error a partir de sentimientos opuestos (Thes.Rom. 2.3). No obstante, Plutarco imputa la actitud de Teseo a benevolencia y humanidad ( ), mientras que la de Rmulo es condiderada un yerro de egosmo y de dureza ( ).

    No es el caso de Soln, cuya muerte es irrelevante para Plutarco, quien destaca el exilio voluntario del legislador y su posterior regreso a Atenas; todo ello como consecuencia de las reformas legislativas y sociales introducidas en la ciudad. En el trabajo O legislador e suas estratgias discursivas: teatralidade e linguagem metafrica na Vita Solonis, Delfim Leo (professor en la Universidade de Coimbra) explora precisamente el modo de actuar del legislador ateniense. Si este es reconocido como uno de los Siete Sabios por la tradicin griega, el retrato que de l hace Plutarco se tie tambin de tintes sofsticos, pues Soln es presentado como un hombre dotado de recursos y estratagemas casi podramos decir que dotado de cierta para alcanzar sus objetivos polticos. Para ello, Leo se centra en el anlisis de tres episodios del relato biogrfico que demuestran esa capacidad del legislador para adaptarse a las circunstancias: Salamina, la y la relacin con Pisstrato. Durante la disputa ateniense por Salamina Soln recita su clebre elega una nueva forma, sin duda, de dirigirse a sus conciudadanos , pero no descarta recurrir incluso a los poemas homricos no olvidemos que estos constituyen la base de la educacin griega , y complementa dicha performance con su fingida y, por lo tanto, teatral locura. Sin embargo, todo ese aparejo escnico sirve a sus intenciones, pues Soln resulta polticamente reforzado, asegurndose un liderazgo poltico que le va a

    19 Plutarco confirma la condicin de mediador divino del espartano, hacindose eco de la tradicin de que un relmpago cay sobre su tumba cuando su cuerpo era trasladado a Esparta; cf. Lyc. 31.5.

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    permitir llevar a cabo sus reformas sociales y polticas. Leo analiza con detalle el significado y funcionalidad del trmino nombre con el que se conocen ese conjunto de medidas legislativas preliminares adoptadas por Soln , y es de destacar sobre todo la valoracin de la actividad del poeta y legislador como un cierto engao desenfocado de la realidad con fines positivos. Plutarco utiliza el trmino y es reseable la atencin que a l hace tambin Leo, pues guarda estrecha relacin con el tercer episodio estudiado en el que ser clave la importancia de la palabra, teniendo en cuenta que Soln es l mismo un notable representante de la poesa arcaica griega, pero sobre todo el prestigio y valor de la palabra en poca de Plutarco. Soln regresa a Atenas, an a riesgo no de ser acogido en olor de multitudes, sino de ser fagocitado por la tirana de Pisstrato, en contra de la cual pronunci sus ltimas palabras en pblico, aunque nadie le hizo caso y, a partir de entonces, se dedic a criticar a los atenienses en sus poemas20.

    Al final de la Vida de Soln Plutarco compara la obra truncada e inacabada del legislador con Platn y la Atlntida21. Quiz sea esta una buena metfora y referencia para introducir el ltimo trabajo de este bloque. Se trata de un artculo firmado por lia Rodrigues (Universidade de Coimbra) que nos aproxima a la figura del nomothetes desde una ptica diacrnica: A figura do legislador em Plutarco: Recepo de um mito poltico. La autora divide netamente su aportacin en dos apartados: analizar cmo se va fijando en la tradicin griega lo que ella denomina mito poltico, y considerar la validez de ese mito en poca romana. Una situacin histrica de crisis identifica la aparicin de la figura del legislador en paralelo, como consecuencia o en contraposicin a la tirana y a la figura del tirano, como pone de manifiesto que dicha comparacin se convirtiera en un tpico literario. Es interesante destacar de nuevo la importancia de la palabra en el anlisis de Rodrigues: tiranos y legisladores, unos y otros lderes carismticos, no descuidaron la actividad potica; pero tambin cmo en la cristalizacin de ese mito jug la oratoria un papel decisivo al convertir la figura del nomothetes en un argumento poltico eminentemente manipulvel na medida em que esta figura surge associada agenda do prprio orador, como afirma Rodrigues. Bien conocido es el papel significativo que tuvo la oratoria en la construccin del ideario de la polis22; y, si a ello se suma la dimensin tica y moral con la que Platn vigoriza el concepto de legislador, queda garantizada la pervivencia de tal mito. Rodrigues lo ilustra no solo en la tradicin estrictamente helnica clsica, sino que explica cmo ese discurso perfectamente elaborado en sus elementos tpicos el legislador es caracterizado mediante adjetivos como , , ,

    20 Cf. Plu. Sol. 30.68.21 Cf. Plu. Sol. 32.12.22 A travs del logos epitaphios, por ejemplo, como estudi exhaustivamente N. Loraux,

    Linvention dAthnes, Paris, 1991.

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    cuyas armas de actuacin son la fuerza y la persuasin a propsito del nomothetes es asimismo utilizado por autores de poca imperial para definir figuras de la tradicin judaica. Plutarco tampoco se sustrae a la influencia platnica, pero su propio contexto trasluce en el hecho de que abunda en la idea del legislador como educador y soberano que intenta legitimar su accin poltica amparndose en la racionalidad y prescindiendo de la supersticin. Con los ejemplos de Numa, Licurgo y Soln, Rodrigues matiza modos distintos de ejecutar esa accin, que Plutarco encamina, no obstante, a un mismo fin: sancionar la autoridad moral y tica del legislador sin menoscabar el poder poltico. Una reflexin importante en el contexto poltico del Imperio que pervivi en modelos constitucionales del s. XVIII.

    II. A Filosofia, o homem e a cidade em Plutarco:os exemplos de Esparta, Atenas e Roma(Philosophy, the individual and the city in Plutarch: cases from Sparta, Athens and Rome)

    Frente al fundador y al legislador hay espacio en la obra de Plutarco para pensar en el individuo, que es ciudadano de una polis o de un imperio, como tienen por objeto discutir, desde perspectivas paralelas y complementarias, los cuatro trabajos de este segundo bloque.

    En primer lugar, el trabajo de Jos M. Candau (profesor de la Universidad de Sevilla), Un mentor limpio de pasiones. El filsofo y la actuacin poltica segn el De genio Socratis, nos sumerge en la accin de una figura histrica que Plutarco convierte en protagonista no de un , sino de una de sus obras morales y de costumbres: el tebano Epaminondas. La liberacin de la Cadmea es el escenario elegido por Plutarco para reflexionar sobre la implicacin del ciudadano y del filsofo en particular en la actuacin pblica, y la conclusin es clara: el compromiso debe ser distante y sin una participacin directa en el torbellino de la vida poltica. En el anlisis de Candau del De genio Socratis resultan especialmente interesantes sus observaciones y alertas continuadas a lo largo del texto de cmo ese conflicto civil en el que se encuentra involucrado Epaminondas sirve para construir una determinada figura del tebano, a travs de la cual Plutarco filsofo mentor del poltico, pero fuera l mismo del trfago de la poltica23 proyecta su propio posicionamiento ante cuestiones concernientes a su propia persona y al horizonte cultural de su poca, renunciando a conceptos y discusiones tericas para exponer su visin de la poltica y, por el contrario, recurriendo a figuras y modelos personales, tal como hace tambin en las Vidas24. No es

    23 infra p. 115.24 Esa interaccin entre Vidas y Moralia fue el tema central del VII International Congress

    of the International Plutarch Society, celebrado en Rethymno (Creta) en mayo de 2005, cuyos

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    extrao, pues, que ese centro ausente de la obra como es Epaminondas se haga presente, precisamente a travs de la palabra como sealamos tambin para los legisladores y fundadores antes demostrando as su habilidad y capacidad para exponer sus ideas mediante categoras filosficas y de forma razonada25, una muestra ms de que Plutarco pone la filosofa al servicio de sus aspiraciones. Junto a un complejo planteamiento dramtico que forma parte afirma Candau de las estrategias persuasivas de Plutarco, el de Queronea no renuncia a presentar esa actuacin desde la aureola divina que envolvi al mismo Scrates y de ah el ttulo del tratado cuyo daimon lo gui a lo largo de su vida e iluminaba sus decisiones en materias inciertas e impenetrables para la inteligencia humana. De nuevo tambin ahora la educacin es el factor decisivo segn Plutarco para que el alma sea capaz de percibir con prontitud las indicaciones de su daimon, pero sobre todo lo ser la del hombre que pueda alejarse de los avatares del acontecer: el filsofo.

    La actuacin poltica debe tener como fin el bien comn, aunque este tenga una escala de referencia distinta para los lectores de Plutarco que viven bajo el dominio y control de Roma, pues en ese momento y desde la ptica de la ciudad griega el objetivo del hombre de estado se cifra en conseguir la concordia en el seno de la comunidad entre los miembros de la clase dirigente y entre todos los ciudadanos y mantener el orden interno como la nica garanta para evitar la intervencin de Roma en los asuntos internos de las ciudades26. Como acabamos de resear, a partir del trabajo de Candau, el filsofo puede jugar un papel decisivo.

    Por ello, Joaquim Pinheiro (profesor en la Universidade da Madeira) en su artculo O valor da filosofia e da paideia: a construo moral e retrica de Plutarco, tomando como punto de partida el valor irreemplazable de la paideia en la configuracin del ethos del individuo, define las cualidades y la paideia del filsofo en aras de una activa participacin cvica. Pinheiro utiliza un amplio elenco de textos plutarqueos tanto de Vidas como de Moralia para explorar la relacin entre saber filosfico y paideia en lo que l define como un cuadro literario marcado por una evidente intencin retrica, pero que, a su juicio, permite considerar que a obra de Plutarco tem uma dinmica social muito interessante,

    resultados constituyen el volumen publicado por A. G. Nikolaidis (ed.), The Unity of Plutarchs Work. Moralia Themes in the Lives, Features of the Lives in the Moralia, Berlin, 2008.

    25 Cf. Plu. Gen. Socr. 583D585D.26 P. Veyne (Lempire grcoromain, Paris, 2005, pp. 210231) reconoce que lo ms urgente

    en este contexto era predicar la concordia entre las ciudades. Sin embargo, seala que la voz de los intelectuales no coincida con el sentir popular, ya que la actitud del pueblo hacia Roma era doble: Roma suscita envidia y vituperio, pero tambin deseo de imitacin. As, la Grecia conquistadora de su conquistador, estaba conquistada por la cultura popular y cotidiana de Roma, la que ms poda exasperar a los hombres de letras por su vulgaridad.

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    alicerada numa filosofia bastante pragmtica27. Al respecto son particularmente interesantes las observaciones y reflexiones que Pinheiro ofrece a propsito de textos como Ad principem indoctum (779D782F) o Maxime cum principibus philosopho esse disserendum (776B779C), donde Plutarco recupera los principios de la educacin filosfica de los hegemonikoi, tales como fueron expresados por Platn, Iscrates o los estoicos, en el sentido de que para gobernar bien a los dems es preciso ser soberano de uno mismo, o advierte sobre el uso que el individuo debe hacer de la riqueza, de la gloria o del poder, siendo la filosofa clave para imprimir hbitos de justicia y recto proceder en los gobernantes. Sobre el papel de la retrica en la educacin del individuo y del hombre de estado, Pinheiro explora un texto fundamental para entender qu significaba la retrica en el seno de la tradicin griega vista, no obstante, desde la ptica romana a travs del de Catn el Viejo, un Demstenes romano28, habida cuenta de que el tema de la educacin recurre en diversos momentos de esa Vida pero contiene una dura crtica contra el censor romano por su desprecio de la cultura griega29.

    Grecia frente/junto a Roma. La reflexin poltica de Plutarco, aunque alimentada por la herencia griega, solo se justifica como al servicio de la actualidad. Decir Grecia es, en muchos casos, decir Atenas, la ciudad del pasado por antonomasia. En el caso de Roma, una urbs da nombre al Imperio. La contribucin de Ivana S. Chialva (profesora en la Universidad Nacional del Litoral) nos lleva hasta una ciudad helena de origen Alejandra , que jug un papel importante en los acontecimientos que precipitaron el final de la Repblica romana. El trabajo De Roma a Alejandra y viceversa. del motivo del viaje en la Vida de Antonio de Plutarco permite ahondar en el significado de paideia, entendida tanto en el sentido de enseanza moral en el contexto del gobierno imperial como de elemento de creacin literaria, tomando como referente la realidad de la existencia del triunviro romano y la Vida de Antonio, cuyo anlisis es abordado desde lo que Chialva define como tratamiento libresco de los hechos histricos. Antonio es un personaje histrico que, junto a su pareja biografiada, Demetrio, representa el exceso, la pasin y el abuso del poder. No obstante, ello no es bice para que formen parte de la galera de ilustres hombres, pues en la intencin de Plutarco prima la creacin retrica del pasado, al aplicar en sus Vidas la doctrina de la mmesis al motivo trgico o al discurso potico, que se convierte as en un modelo ficcional. La interaccin de ste con el hecho histrico, en paralelo con la vida real de los protagonistas, sirve a Plutarco, atento al efecto pattico (de ) del lenguaje, para construir un discurso biogrfico cuya eficacia literaria

    27 infra p. 120.28 Cf. Plu. Cat. Ma. 4.1. Hasta qu punto este apelativo es un elogio autntico por parte de

    Plutarco o se trata solo de aceptar el canon de la oratoria griega, puede deducirse de la valoracin que el de Queronea hace de la figura del orador ateniense en el a l dedicado.

    29 Cf. Plu. Cat. Ma. 2223.

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    consiste en elaborar un retrico sobre la vida del personaje que encierra un programa narrativo en el que, a menudo diluyndose la historia, prima el arte de la palabra propio de la Segunda Sofstica aqu en forma de discurso narrativo como vencedor de la realidad. La originalidad del trabajo de Chialva reside en tomar el viaje como motivo que da consistencia al objetivo narrativo de la Vida, y en ese viaje la ciudad de Alejandra punto de interseccin de un mundo plural se erige siempre a lo largo del relato biogrfico como referente ineludible en la trayectoria vital del triumviro donde se modela de forma determinante el del personaje, cuya codicia y ambicin forman parte de la naturaleza humana; de ah su cabida en el proyecto Vidas paralelas: no son retratos idealizados de hombres ilustres, sino que pretenden sobre todo esbozar, en una imagen hecha con palabras30, el equilibrio necesario entre como es un hombre y como debera y/o podra ser. El relato biogrfico, literario, es ms digno de imitacin que la propia existencia de un individuo, pues mueve a emular las acciones debidas a la virtud, habida cuenta de que la naturaleza humana no permite presentar irreprochable y pura la vida de un hombre31.

    El trabajo de Roosevelt Rocha (Universidade Federal do Paran), A Esparta de Plutarco entre a guerra e as artes, nos acerca a comprender cmo imagin Plutarco la relacin del individuo con su ciudad desde la perspectiva de una polis que, a partir de la obra del queronense, puede ser tambin reivindicada como un espacio donde sus ciudadanos no solo se adiestraban para la guerra. La historiografa griega fue atenocntrica y quiz esa ptica desvirtu la realidad; son, al respecto, significativas las palabras de Rocha: preciso lembrar que Esparta no foi destruda nas Guerras Mdicas como Atenas foi. A capital da tica foi reconstruda e uma grande soma de dinheiro afluiu para ela por causa das contribuies dos aliados da Liga de Delos. Isso no aconteceu com a principal cidade da Lacnia. Desse modo, nela foram conservados edifcios antigos, do sculo VI a. C., que apresentavam outro estilo de construo, mais arcaizante do que clssico. Dependendo do ponto de vista, um estilo pode ser mais valorizado do que o outro32. A partir de los textos analizados por Rocha Vidas de espartanos y tambin tratados de Moralia puede apreciarse bien que la idealizacin plutarquiana del modelo espartano no se agota estrictamente en la admiracin del autor griego por el rigor legislativo, la organizacin cvica o el innegable

    30 Cf. D. Th. Benediktson, Literature and the Visual Arts in Ancient Greece and Rome, Oklahoma, 2000, pp. 159161.

    31 Cf. Plu. Cim. 2.5: los errores y los defectos que por alguna pasin o necesidad poltica se extienden sobre las acciones de un hombre, hay que considerarlos como imperfeccin de alguna virtud ms que autnticos vicios. En este sentido hay que entender la afirmacin de J. Boulogne, Plutarque, un aristocrate grec sous l occupation romaine, Lille, 1994, p. 61, de que, segn Plutarco, la virtud y su contrario no varan con los lugares y las poca, y de ah el carcter ejemplar de sus Vidas Paralelas.

    32 infra p. 165.

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    Introduccin

    dominio militar de la ciudad laconia33, sino que en las obras de Plutarco puede descubrirse tambin una faceta distinta de Esparta por ser esta tambin y as tambin siempre debe entenderse con relacin a Atenas y a otras poleis griegas un lugar donde convivieron, junto a los ideales guerreros, actividades artsticas de diversa ndole msica, poesa, festivales, arquitectura, escultura... como muestran igualmente las fuentes arqueolgicas o la cermica de factura espartana. Plutarco, sin duda, valora en todo momento la educacin en Esparta, el estilo de vida austero, poco contaminado por los extranjeros. Si Licurgo es el paradigma de legislador perfecto y Agesilao es presentado como adalid de la justicia espartana segn los respectivos relatos biogrficos de Plutarco por citar solo dos ejemplos de los analizados en este trabajo , la visin de Esparta resulta incompleta si, paralelamente, no se toman en consideracin como hace Rocha los pasajes plutarqueos que ayudan a relativizar la imagen demasiado tpica sobre una Esparta aislada y ajena a cualquier refinamiento esttico.

    III. Poder e bastidores de poder: artes e estratgias de persuaso[Power and backstage power: arts and persuasion strategies]

    Si los dos primeros bloques de este volumen giran prioritariamente en torno a protagonistas concretos por su papel pblico, o bien se fijan en qu contexto y de qu modo llevan a cabo su accin, este tercer bloque rene cinco trabajos que, desde tres perspectivas distintas formacin, familia y religin , analizan algunas circunstancias y tambin agentes que Plutarco considera igualmente determinantes en el desarrollo del individuo y, por ende, de la sociedad y del momento en que vive.

    En primer lugar, la educacin. Bien sea denominada o , junto a la naturaleza y a la prctica ( y ), la educacin es uno de los tres factores que condicionan, a juicio de Plutarco, la vida del hombre, pues puede corregir una naturaleza deficiente y resistir las peores calamidades34. Parece razonable, entonces, imaginar que la educacin debera ser un elemento capital para el queronense al trazar el perfil biogrfico de sus personajes, si bien un anlisis detallado revela cun escasa es la informacin que sobre este aspecto contiene el conjunto del corpus, pues solo cinco Vidas las de Pericles, Alcibades, Alejandro, Demstenes y Cicern describen de manera amplia y pormenorizada la formacin que stos recibieron, mientras que dos quintas partes de los relatos biogrficos carecen de informacin alguna sobre la instruccin de sus protagonistas35.

    33 Incluso fuera de Esparta, la orientacin filolaconia de Cimn no es valorada negativamente, sino que Plutarco la aprovecha como factor favorable para caracterizar al ateniense; cf. P. Gmez, Laconismo como virtud en la Atenas del s. V a. C., Myrtia 22 (2007) 6981.

    34 Cf. Plu. Lib. educ. 4.35 Cf. A. E. Velzquez, Presencia y ausencia del educador en las Vidas de Plutarco, en

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    Precisamente en la Vida de Alcibades encuentra Fbio Vergara Cerqueira (Universidade Federal de Pelotas) un punto de referencia ineludible para su trabajo Msica e educao em Atenas, segundo as biografias de Plutarco, en el que analiza hasta qu punto la educacin musical es un elemento caracterizador en la biografa de los generales atenienses que merecieron ser biografiados por Plutarco. El anlisis de Cerqueira parte del texto plutarqueo, pero este es cotejado con muestras iconogrficas aportadas por la cermica griega del perodo tardoarcaico y clsico. Cerqueira se aproxima cronolgicamente al papel de la msica en el curriculum formativo de los jvenes atenienses con alguna extensin por comparacin y contraste con otras poleis y, por ello, analiza con especial detalle el cambio de valor de la educacin musical a finales del s. V a. C. cuando entra en competencia con una educacin de corte filosfico y retrico. La obligatoriedad de la enseanza musical tiene que ver apunta Cerqueira con el prestigio y reconocimiento social de que gozaron en Atenas los profesores de msica. No obstante, si Alcibades es foco de atencin prioritario para Cerqueira lo es como prueba de la distorsin que puede sufrir la realidad cuando esta es puesta al servicio de un determinado inters ideolgico, pedaggico o literario, pues los testimonios iconogrficos de la enseanza musical en Atenas evidencian la coexistencia y la compatibilidad en el aprendizaje del aulos y de la lyra. En cambio, el Alcibades de Plutarco igual que el testimonio de Platn y de Aristteles llevara a pensar en un verdadero rechazo del aulos en favor de la lyra por supuestas cuestiones de identidad nacional auletai extranjeros religiosa y cultural la lyra es un instrumento divino y preferido tambin por los hroes , pero que sirven a Plutarco para singularizar la personalidad de sus biografiados. Tal vez no sea entonces casual que hombres decisivos en la lucha contra los brbaros, como Temstocles o Cimn, sean caracterizados por Plutarco como carentes de instruccin y, por lo tanto, no haban recibido ningn tipo de formacin musical. El hroe de Salamina se vanagloriaba de no saber afinar una lira, pero s de tomar una ciudad pequea y hacerla grande, pues confiaba ante todo y por todo en su propia naturaleza36.

    En segundo lugar, la familia, concretada en los vnculos de la mujer con el poder, es decir con el elemento masculino, que era quien lo detentaba. Aunque en las Vidas las mujeres no son protagonistas directas del relato biogrfico, la amplia obra del queronense ofrece material variado para poder estudiar la fuerza de la seduccin y sus consecuencias en la relacin hombremujer.

    Ana Ferreira (Universidade do Porto) con un trabajo titulado Por trs de um grande homem h sempre uma grande mulher? A influncia de esposas e

    A. Prez Jimnez & F. Casadess Bordoy (eds.), Estudios sobre Plutarco: misticismo y religiones mistricas en la obra de Plutarco, Madrid/Mlaga, 2001, pp. 441450 (especialmente pp. 448449).

    36 Cf. Plu., Them. 2.67.

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    Introduccin

    amantes sobre homens de Estado, ofrece un amplio panorama de la consideracin de la mujer en la obra plutarquiana con una conclusin contundente: Plutarco louva o ascendente que as mulheres bem formadas e bem intencionadas tm sobre os seus maridos, pois sua misso contribuir para a felicidade e realizao pessoal deles e assim, indirectamente, zelar pelo bemestar da comunidade37. Esta conclusin viene avalada por una extensa seleccin de textos tanto de Moralia como de Vidas paralelas a partir de los cuales la autora puede inferir que para el de Queronea no hay apenas diferencia entre Atenas, Esparta y Roma, en cuanto a la ascendencia positiva que una mujer sabia y prudente esposa o amante pueda ejercer sobre un hombre, bien sea en beneficio de la familia o de la comunidad. No obstante, Ferreira seala que em diversos aspectos da vida humana, nada totalmente linear y podramos aadir menos en Plutarco , pues en las Vidas siempre el desarrollo de los acontecimientos acaba determinado por la naturaleza y por la paideia del individuo que los protagoniza; y en el mbito amoroso o de relacin con las mujeres debe traducirse en la capacidad del hombre de saber moderar su comportamiento o de no dejarse influir en exceso por los asuntos amorosos. De este modo, las virtudes que adornan a una mujer de verdad, tales como prudencia, moderacin, modestia, dignidad, recato38, estarn siempre supeditadas a la actuacin del hombre esposo o amante puesto que la influencia de la mujer, incluso cuando es positiva, puede ser considerada una falta en el comportamiento del protagonista plutarqueo: Para Plutarco, o poltico de excelncia tem de ter essa capacidade de fazer dos interesses do Estado a sua principal prioridade, mesmo que para isso tenha de relegar a vida pessoal e familiar para segundo plano39.

    En este mismo contexto, Guillermina Gonzlez Almenara (Universidad de La Laguna) y Vicente M. Ramn Palerm (Universidad de Zaragoza) se centran en el mbito ateniense y en dos figuras femeninas y cuya condicin social y estatus las deja fuera del matrimonio. En Heteras, concubinas y jvenes de seduccin: la influencia femenina en las Vidas plutarqueas de Soln, Pericles y Alcibades se reconoce la posicin reivindicativa de Plutarco respecto a la funcin y papel de la mujer en la misma lnea apuntada por Ferreira , pero el anlisis de estos tres textos plutarqueos est orientado desde una perspectiva social y jurdica. De este modo, los autores asocian la presencia o la ausencia de heteras y de concubinas en las Vidas respectivas de los tres estadistas atenienses con una clara lectura sociopoltica que guarda estrecha relacin con la intencionalidad moral siempre presente en la obra de Plutarco, ya que a juicio de los autores a travs del elemento femenino el de Queronea puede tambin ilustrar

    37 infra p. 207.38 Algunos de los Moralia analizados por Ferreira son: Consolatio ad uxorem suam, Mulierum

    Virtutes, Amatoriae Narrationes, Amatorius, Praecepta Coniugalia.39 infra p. 199.

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    la evolucin de la propia ciudad de Atenas y de sus protagonistas desde los modos sobrios de poca soloniana frente a las costumbres sensiblemente relajadas de la Atenas finisecular40. En el de Soln la relacin de estas mujeres con el protagonista se cie a su situacin legal y novedades que respecto a ellas fueron introducidas por el legislador, mientras que en las otras dos Vidas prima sobre todo tambin el propio carcter de los biografiados: el lascivo Alcibades gusta del trato con todo tipo de mujeres; Pericles, aunque frecuentaba tambin heteras, est plenamente dominado por el amor de la concubina Aspasia, a quien Plutarco reconoce lcida en asuntos polticos.

    En tercer lugar, el mbito religioso, representado aqu por el arte de la mntica. Maria Aparecida de Oliveira Silva (Universidade de So Paulo) en su trabajo Esparta e os orculos: uma leitura plutarquiana analiza la importancia de los orculos en la construccin del discurso poltico en Esparta tomando como referencia las Vidas espartanas Licurgo, Lisandro, Agesilao, Agis y Clemenes. La tesis sostenida por Silva es que tanto el legislador Licurgo como los reyes espartanos recurrieron a la consulta oracular en momentos de crisis siempre con el fin de convencer a la ciudadana. No obstante, la orientacin diacrnica de este trabajo permite a Silva establecer dos ideas clave el respeto por las palabras del dios y la credibilidad de Delfos para poder comprender el mensaje de Plutarco respecto al valor y uso de la profeca puesta al servicio de la accin pblica y poltica en relacin a la historia de Esparta tal como el de Queronea la presenta travs de sus biografiados, desde el arcasmo a la poca helenstica. Plutarco vincula la decadencia moral de los lderes espartanos y, en consecuencia, de la propia Esparta con el uso indebido que aquellos hicieron de los orculos. Estos representan el orden cuando van asociados a la educacin y a la disciplina militar: las leyes de Licurgo son sancionadas directamente por Apolo. En cambio, los orculos al servicio de la poltica son signo de decadencia moral cuando reyes como Clemenes substituyen las palabras de la Pitia por las del santuario de Pasfae No podemos nos esquecer do empenho de Plutarco, um sacerdote de Apolo por mais de vinte anos, em restaurar o prestgio de Delfos no Imprio romano, apunta Silva41; o bien cuando para satisfacer la propia ambicin hombres como Lisandro y Agesilao fuerzan y distorsionan las profecas corrigindolas en beneficio propio, desacreditando la palabra divina para dar prevalencia a la palabra del hombre. Por ello, tal vez no sea casual constata Silva que Plutarco dibuje una Esparta sumida en el caos con la muerte de Agis y que, a partir de esta, el orculo de Delfos no aparezca en las biografas espartanas.

    La larga tradicin de la actividad proftica en el seno de la cultura griega determina que las creencias, utilidad e incluso peligro de los orculos sea un tema

    40 infra p. 216.41 infra p. 230.

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    Introduccin

    sobre el que fijen su atencin los pensadores cristianos, para quienes Plutarco es un testimonio de excepcin, habida cuenta de la importancia que en su obra tienen los orculos, bien sea en las Vidas, bien sea en los tratados de Moralia que el queronense dedica a la mntica. En estos ltimos se centra el trabajo Plutarco y la crisis oracular del final del mundo antiguo de JessM Nieto Ibez (profesor en la Universidad de Len), en el que analiza cmo los tratados pticos de Plutarco son instrumentalizados por los autores cristianos. Plutarco, sacerdote de Delfos, era autoridad innegable en materia oracular y, tanto por sus propias ideas religiosas como filosficas, estuvo atento al ambiente religioso de su poca, en la que hubo un efervescente florecimiento de corrientes misticistas y teosficas, cuando junto a nuevos ritos orientales persistan las prcticas adivinatorias y profticas tradicionales. La reconversin del pensamiento de Plutarco en torno a los orculos por parte de los cristianos apunta intenciones diversas, pero siempre puestas al servicio de la fe cristiana y del nico Dios verdadero: para criticar la creencia pagana en las respuestas oraculares de un falso diosprofeta, como Apolo; para descubrir en los textos plutarqueos ya indicios de monotesmo que demuestran el espritu verdaderamente religioso del autor42; para constatar que los orculos son fruto de dmones malignos; o para mostrar el contenido teolgico de las profecas paganas. No se trata ahora de un uso poltico del orculo que afecte a la comunidad, sino religioso y, por lo tanto, tal vez ms orientado al individuo como bien pondera Nieto al confrontar textos del queronense con los de los Padres de la Iglesia y apologetas; pero esta tergiversacin es posible, en buena medida, por la reflexin que el propio Plutarco leg en su obra sobre los cambios importantes que la mntica experiment en vida del queronense.

    Plutarco entre mundos. Individuos, ciudades, educacin, poltica, religin o artes son temas que ocuparon y preocuparon a Plutarco, consciente de vivir, efectivamente, entre dos mundos que no son Grecia y Roma, sino el pasado y el presente griegos y romanos a un tiempo. La pluralidad de sus enfoques, los diversos matices que en su obra pueden encontrarse incluso a propsito de un mismo tema nos obligan tambin a nosotros, lectores del s. XXI, a aproximarnos siempre con cautela y desde vas distintas, complementarias, pero bien seguros de que Plutarco en sus escritos reserv el mejor lugar para el hombre: de ah la humanitas que destila siempre su lectura.

    42 infra p. 242.

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    NelsonText Box (Pgina deixada propositadamente em branco)
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    O jovem Teseu: do reconhecimento paterno ao reconhecimento poltico.

    O jovem Teseu: do reconhecimento paterno ao reconhecimento poltico.

    (Young Theseus: from paternal recognition to political recognition)

    Loraine Oliveira (loraineoliveira13@gmail.com)Universidade de Braslia

    Resumo Este artigo discute os caminhos percorridos por Teseu, na Vida de Teseu, de Plutarco, da adolescncia at a idade adulta, em busca do reconhecimento paterno, e consequentemente, do reconhecimento poltico. Assim, comea problematizando a interpretao de um orculo feita por Piteu, av materno de Teseu, que determina as circunstncias do nascimento do heri. A seguir, analisa o poder e o conhecimento adquiridos por Teseu ao longo do percurso terrestre, de Trezena a Atenas, e depois, na luta contra o Minotauro, em Creta. Finalmente, mostra como Teseu institui a democracia ateniense, relacionando isso aos caminhos por ele percorridos.Palavras chave Plutarco, Teseu, reconhecimento paterno, poder, conhecimento, democracia.

    Abstract This paper discusses the paths taken by Theseus in Plutarchs Life of Theseus, from adolescence to adulthood, searching for paternal recognition and, consequently, political recognition. It starts by questioning the interpretation of an oracle by Pittheus, Theseus maternal grandfather, which determines the circumstances of the heros birth. Then, it analyzes the power and knowledge acquired by Theseus in his terrestrial journey from Troezen to Athens and, afterwards, in his fight against the Minotaur in Crete. Finally, the paper shows how Theseus instituted the Athenian democracy relating this to the paths he had taken earlier on.Keywords Plutarch, Theseus, paternal recognition, power, knowledge, democracy.

    Na Vida de Teseu, de Plutarco, vinte e quatro captulos dentre trinta e seis, so dedicados juventude de Teseu, at o momento em que, adulto, ele se torna governante e institui o sinecismo em Atenas. Mas e os dois teros da narrativa que precedem a este momento? De que fala Plutarco nesta larga parte da Vida de Teseu? Com efeito, Plutarco dedicase a narrar os fatos que, do nascimento at a entrada na idade adulta, formam Teseu, o tornando o heri arrojado que d continuidade aos feitos de Hracles, reconhecido como o matador de monstros. Ao mesmo tempo, ele mostra que Teseu astuto e inteligente para afrontar Medeia e os Palntidas e congregar os ticos. O que move Teseu neste perodo da sua vida a busca pelo reconhecimento paterno: ele deve procurar o pai, Egeu, rei de Atenas. Porm, ele no quer reivindicar seus direitos de herdeiro apenas se servindo dos smbolos de reconhecimento deixados pelo gerador para a me, Etra, entregar ao filho. Ele quer mereclos por sua bravura. Ento Teseu precisa adquirir o poder, assim como o conhecimento necessrio para realizar feitos heroicos, o que se d

    http://dx.doi.org/10.14195/9789892609218_1

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    por meio de provas a que ele prprio, na maioria dos casos, se submete. Todavia, h algo fundamental que precisa ser compreendido: o impacto das palavras de um orculo. Palavras enigmticas, que marcam tanto as circunstncias do nascimento do heri, quanto a necessidade do reconhecimento paterno em vrios nveis, at que ele conquiste o reconhecimento poltico.

    1. Piteu, intrprete do orculo que marca o nascimento de Teseu

    Egeu, o pai biolgico de Teseu, rei de Atenas, no tinha filhos e ansiava por tlos. Nas palavras de Plutarco: Dizse que Egeu, ansioso por ter descendncia, recebeu da Ptia o famoso orculo que o aconselhava a no ter relaes com mulher alguma antes de chegar a Atenas (Thes. 3.5). Ora, dito assim, parece claro o significado do orculo. Plutarco, todavia, o est interpretando. Pois de fato, a Egeu no pareceram suficientemente claras estas palavras (Thes. 3.5). Acontece que Egeu dirigiase para o norte, e tendo chegado s imediaes de Trezena, sem saber ao certo o que as palavras da Ptia significavam, pediu ao rei daquela cidade, Piteu, que o ajudasse a interpretar o orculo.

    Piteu era reputado o homem mais sbio e mais douto da poca, possuidor de dons divinatrios. Plutarco o compara em carter e sabedoria a Hesodo, especificamente no que concerne aos Trabalhos e os Dias1. Ora, isso parece indicar que Piteu era um homem justo. Com efeito, o que mais se pode depreender da relao com os Trabalhos e os Dias? Tratase, em suma, de uma obra na qual o conflito privado alargado s dimenses da justia e da ordem universais, como diz Vernant (1979: 55). Nela, o poeta defende a boa eris, aquela que se d pelo trabalho agrcola, no pela guerra, nem pela persuaso, que so ambas aspectos da m eris2. Em suma, seguindo ainda a anlise de Vernant (1979: 55 sq.), do ponto de vista humano, h duas eris, uma boa e uma belicosa, a segunda apresentando dois aspectos. Este desdobramento da eris mostra que ela consubstancial vida humana, ambgua, cheia de contrastes, desdobrada em mltiplos aspectos. Indica tambm que a filha da Noite exerce todo o seu poder sobre

    1 O carter e o grau de sua sabedoria eram da mesma ndole, ao que parece, do da sabedoria que Hesodo manifestou e que o tornou famoso, sobretudo no que diz respeito s sentenas dos seus Trabalhos. Uma dessas sentenas, ao que se diz, da autoria do prprio Piteu: seja dado ao teu amigo salrio certo (Thes. 3.34). A sentena em questo parece aludir ao carter justo de Piteu.

    2 No h origem nica de Lutas, mas sobre a terra/ duas so! Uma louvaria quem a compreendesse,/ condenvel a outra ; em nimo diferem ambas./ Pois uma guerra m e o combate amplia,/ funesta! Nenhum mortal a preza, mas por necessidade,/ pelos desgnios dos imortais, honram a grave Luta./ A outra nasceu primeiro da Noite Tenebrosa/ e a ps o Cronida altirregente no ter,/ nas razes da terra e para os homens ela melhor./ Esta desperta at o indolente para o trabalho/. (Hesodo, Os Trabalhos e os Dias, v. 1120, traduo Lafer). No presente texto se usa eris em minscula, no em referncia ao nome divino, mas luta, tanto entendida como labor, ou como disputa quotidiana, implicada aqui.

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    a vida dos homens, estando presente constantemente, tanto para o bem, como para o mal. Efetivamente a m eris tem uma dupla face: a guerra ao estrangeiro, e as discrdias internas comunidade que se manifestam no uso da linguagem, na praa pblica, atravs das astcias do pensamento. Que se sirvam da fora ou da palavra, as duas faces tm o mesmo objetivo: pr a mo sobre o butim. Por outro lado, a boa eris surge de um acordo com a ordem Olmpia. Nascida antes da eris que preside as querelas, esta outra eris o fundamento de toda a riqueza e de todo bem adquirido pelo trabalho. Ela desperta a humanidade para o trabalho, precisamente para o duro labor agrcola, que dar prosperidade. Ora, uma conjetura possvel que Piteu, associado aos Trabalhos e os Dias, algum conhecedor das duas eris, incluindo a dupla face da belicosa eris. Ora, isso pode servir para compreender o modo como Plutarco, atravs de um recurso narrativo retorcido, d a entender que Piteu tramou para que Egeu lhe desse um neto, instigandoo a executar deliberadamente ao contrrio as palavras do orculo.Esta parece ser justamente a eris retrica. Mas Plutarco no claro, at mesmo porque elogia o carter de Piteu, como ser visto a seguir. Alm disso, notase que Piteu no d a interpretao do orculo; ele apenas oferece a soluo.

    Com efeito, Piteu induz Egeu a unirse a Etra, sua jovem filha, sem que Egeu saiba de quem se trata. Consumada a unio, Egeu descobre quem Etra e suspeita que ela possa estar grvida. Deixalhe ento as sandlias e a espada, ocultas debaixo de uma pedra, recomendando que caso ela gerasse um filho deles, quando este chegasse a certa idade, se fosse capaz de erguer a pedra e recuperar os objetos ali guardados, os levasse sua presena, s ocultas de toda gente. Egeu de fato temia os Palntidas, filhos do seu irmo Palante, que conspiravam contra ele (Thes. 3.67). Descobrindo que ele tinha um filho, poderiam tramar o assassinato do primo, a fim de garantir a posse do trono. Voltando figura do av, teria Plutarco imaginado que ao induzir a gravidez da filha, na verdade ele protegeria o neto, que ento seria criado longe dos inimigos do pai? Ou, voltando hiptese do uso da beligerante eris, que o av na verdade apenas desejasse ampliar seus domnios, atravs da descendncia da filha, que herdaria o trono de Atenas? Esta soluo, todavia, contrria ao significado do orculo, pois o prprio Plutarco antes de anunciar o vaticnio, j forneceu a interpretao correta: Egeu no deveria ter relaes com mulheres antes de chegar a Atenas. De modo que se assim for, Piteu induz Egeu a agir contra a vontade divina.

    No obstante, Plutarco esforase para pintar um retrato favorvel de Piteu. Segundo ele, tanto Aristteles como Eurpides defendem a boa fama de Piteu (Thes. 3.3). Tratase, portanto de um personagem reconhecidamente bom. Ele havia fundado Trezena, uma pequena cidade separada de Atenas pelo Golfo Sarnico ou Golfo de Egina. Piteu contava com tais atributos, ento natural que Egeu, confuso com as palavras do orculo, o consultasse. A Ptia vaticinara: Tu, que s o mais poderoso dos homens, no soltes o p que te sai do odre antes de chegar a Atenas (Thes. 3.5). Plutarco, que antes de mencionar as palavras do

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    orculo, j expusera a sua interpretao, levanta ento uma dvida acerca daquela exegese que Piteu faz do mesmo vaticnio: No se sabe como Piteu ter entendido estas palavras, mas fosse pela persuaso, fosse pelo engano, levou Egeu a unirse a Etra (Thes. 3.5). O que ter Piteu dito a Egeu, nunca ser conhecido. Mas lcito indagar: como pode um homem sbio enganarse? Talvez no se tenha enganado, mas sim tirado proveito da nescincia de Egeu. Ento como possvel um homem de boa ndole distorcer o sentido das palavras e levar Egeu a realizar exatamente o contrrio do orculo, que bom lembrar, dizia que Egeu no deveria manter intercurso sexual com mulher alguma antes de retornar a Atenas? A estas duas questes, eis a resposta de Flacelire (1948: 74): Piteu compreendeu claramente as palavras do orculo. A bem da verdade elas consistem em uma interdio divina. plausvel supor que a inteno segundo a qual Piteu leva Egeu a desobedecer a proibio dos deuses, seja a seguinte: pensando que o orculo ameaava Egeu de perecer cedo caso ele tivesse um filho contra a vontade divina, uma vez que o filho cedo reinaria, Piteu calculou que seria vantajoso para ele que este filho fosse seu neto. Esta interpretao reconduz ideia de que Piteu se valeu de astcia e persuaso em benefcio prprio, ao invs de terse enganado3.

    Deste modo, temse que o av de Teseu decide sobre seu nascimento, e cria o neto sob sua proteo, divulgando que Etra dera luz um filho de Poseidon, a quem a cidade de Trezena era consagrada (Thes. 6.1). Isso resulta do problema da interpretao de um orculo. Ora, se o orculo veicula a palavra divina, a ao contrria ao orculo uma ao de desobedincia divindade. neste sentido que segue a interpretao de Flacelire (1948) mencionada pouco acima. O texto em que ele baseia a argumentao , com efeito, Comparao entre Teseu e Rmulo 6.7: O orculo dado a Egeu, que o proibia de aproximarse de uma mulher enquanto estivesse em terra estrangeira, parece demonstrar que o nascimento de Teseu se verificou contra os desgnios divinos. O que espanta Flacelire (1948: 72) com esta passagem, que Plutarco tenta usar este nascimento contrrio vontade dos deuses para explicar os infortnios privados de Etra e os pblicos de Atenas. Mas em momento algum, segue o estudioso, Plutarco responsabiliza Egeu pela desobedincia aos deuses. Ora, parece evidente que Egeu no o responsvel, porquanto ele no consegue interpretar sozinho o orculo. Podese, contudo, considerar que a responsabilidade deve recair sobre o av, Piteu, que, alis, desaparece da narrativa logo que Teseu ruma a Atenas, j adolescente. Assim como cabe ao av tambm a responsabilidade pela dupla paternidade de

    3 O que, por outro lado, incide em certo benefcio para o prprio Teseu, como se pode ler a seguir: sobre a educao de Teseu, pouco nos diz Plutarco. Apenas que esteve aos cuidados do av paterno, Piteu, sophotatos, mas detentor de uma sabedoria prtica que, certamente, no alheia ao engenho com que persuadiu Egeu a aproximarse de Etra, e que teria transmitido ao neto. Como metis, demonstrada nos feitos em Creta e mais prpria do prottipo do heri inico; Fialho (2002) 73.

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    Teseu, ou, visto de outro ngulo, da dupla filiao bastarda. Piteu inventa que Teseu filho de Poseidon, um pai divino. Mas ele havia promovido a paternidade biolgica, oculta. Teseu ento duplamente bastardo do ponto de vista paterno4. A concepo do heri situase, portanto, fora da norma sob diferentes pontos de vista, dos quais cabe notar o jurdico, pois est fora dos laos legais do casamento, e o social, por situarse fora dos valores recomendados idade adulta. Nas palavras de Calame (1996: 70), no h nenhuma surpresa em encontrar a legitimidade no centro das provas que conduziro o heri de Trezena a Atenas para confrontlo com seu pai humano.

    2. O longo caminho para o reconhecimento paterno

    Teseu cresce em Trezena, sob a proteo do av, tornandose um jovem robusto. Seu nome remete ao problema do reconhecimento paterno: Teseu, segundo Plutarco, se deve forma como foram depositados os sinais de reconhecimento (Thes. 4.1). O termo grego thesis, cujo genitivo theseos significa ao de depositar, de colocar, o que resulta na traduo lusfona que se tem aqui. Mas no s isso: thesis tambm significa ao de instituir, de estabelecer leis, impostos, concursos, e por consequncia, costume, conveno. Significa, ainda, propor uma tese, estabelecer um princpio, fazer uma afirmao. E, algo interessante para esta anlise: adoo de uma criana, ou de um cidado em um Estado estrangeiro. Atentando, portanto para a polissemia do termo, podese alargar o sentido do nome do heri: tratase do modo como foram depositados, mas tambm convencionados, afirmados, estabelecidos os sinais de reconhecimento. A seguir, Plutarco alude ao outro significado do nome, indicando a adoo de Teseu pelo pai: Outros afirmam que s mais tarde, em Atenas, ele recebeu o seu nome, quando Egeu o adotou (themenou) como filho (Thes.4.1). Tratase da adoo paterna, mas tambm, subliminarmente, da adoo de um estrangeiro, afinal Teseu atravessa um longo percurso de Trezena a Atenas, em busca do reconhecimento paterno. Esta trajetria se inicia marcada na narrativa pelo jogo etimolgico do nome de Teseu, e pontuada por um fato fundamental: a revelao da verdade, pela me, seguida pela tomada dos objetos de reconhecimento.

    Mas quando Teseu chegou adolescncia e revelou que, aliada a fora fsica, possua coragem e uma declarada nobreza de esprito, assim como inteligncia e compreenso, ento Etra conduziuo at junto da rocha e, depois de lhe dar a

    4 Como observa Walker (1995) 8485, esta ambiguidade da dupla paternidade diz respeito ao mito da autoctonia, que para a famlia, garantia legitimidade da herana na linha masculina, e para a cidade, preserva a crena na pureza do corpo do cidado. Ou seja, quando a criana nasce no lar do pai, no solo, no restam dvidas quanto sua origem. Mas este mito mostra, justamente, que os gregos ficavam alarmados quando a paternidade de uma criana no podia ser identificada. Ora, a atribuio da paternidade de Teseu a Poseidon nega completamente a autoctonia.

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    conhecer a sua origem, ordenoulhe que tomasse os sinais de identificao do pai e navegasse rumo a Atenas (Thes. 6.2).

    Nesta passagem, Plutarco fala do momento em que a me revela ao filho quem seu pai biolgico, e manda o jovem pegar os sinais de reconhecimento deixados pelo pai debaixo de uma rocha, uma espada e um par de sandlias5. Aqui Teseu cumpre a primeira prova que confirma sua competncia: eleva a pedra e toma posse dos objetos. A espada e as sandlias, a bem dizer, so smbolos que vo estimular o cumprimento de uma nova performance, que realiza o significado indireto ao qual eles remetem, alm do seu valor intrnseco: a legitimidade paterna (Calame 1996: 71).

    Quanto aos smbolos propriamente falando, no h nada de surpreendente que um rei deixe a espada para seu filho. Mas por que deixar as sandlias? Plutarco no explica diretamente o significado disso, mas aponta para ele, quando menciona a escolha de Teseu: seguir por terra e no por mar at Atenas. Isso problemtico, primeiro, porque o jovem est decidido a no dar ouvidos me, que como se viu, o aconselha a navegar6. Com efeito, a viagem martima mais segura, porquanto o caminho por terra est infestado de malfeitores e de monstros (Thes. 6.3). A deciso de Teseu importante, pois a viagem por terra adquire um significado simblico que refora o herosmo e o valor de Teseu: tratase de uma viagem de iniciao, na qual ele vai se tornar um heri excepcional, tanto pela fora e coragem, como pela capacidade de livrar o mundo da desordem insuportvel que causam os monstros7.

    Heris que matam monstros seguem o exemplo de Zeus, livrando o mundo da desordem, do ressurgimento das antigas foras do caos. Estes heris combatem em nome da justia (dike), e dentre eles encontramse Teseu e Hracles. A primeira referncia ao nome de Hracles na Vida de Teseu ocorre justamente nesta passagem, em que Plutarco explica porque o caminho terrestre para Atenas

    5 Ver Thes. 5.6: Egeu deixou a sua espada e as suas sandlias escondidas sob uma enorme pedra que possua cavidade interior, com dimenso suficiente para abrigar estes objetos.

    6 De fato, mais adiante, me e av lhe pedem para navegar (Thes. 6.3). 7 Ferry (2008) 226 observa que se trata de uma viagem de iniciao. Valem as palavras de

    Fialho (2002) 7273: Se a expedio a Creta pode, de facto, ser projeo de um ritual inicitico, centrfugo, a partir de Atenas, para depois cidade regressar, na plena afirmao e pujana dos jovens, no me parece que o seja menos o caminho de Trezena at Atenas, do espao da infncia e da esfera materna at presena paterna e ao reconhecimento. Caminho feito sem um nome assumido, como Plutarco assinala, em que vrias provas se pem ao jovem, que com elas se confronta e as vence, para, finalmente, ostentar perante Egeu, numato pblico o banquete , a arma paterna, sinal que o levar a ser reconhecido, sem que ele necessite darse a conhecer. Por sua vez, Ampolo (1993) xxvi afirma que os mltiplos aspectos da figura de Teseu deram origem a mltiplas explicaes, por exemplo, a de um heri jnico, ou de uma rplica de Hrcales, dentre outras. A dimenso inicitica, ligada passagem da adolescncia idade adulta, uma delas. Aqui se prope uma interpretao do heri inicitico, no sendo possvel, dados os limites do estudo, analisar as demais interpretaes.

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    estava crivado de monstros. Hracles havia combatido e eliminado diversos monstros, at cair em desgraa na Ldia, servindo de escravo a nfala. Ora, a Hlade fica ento desprotegida com a partida de Hracles, e atos de violncia proliferam sem que ningum os reprima(Thes. 6.56). Acontece que, por um lado, Teseu v em Hracles um modelo a seguir; o jovem deseja realizar feitos como os do heri (Thes. 6.89)8. Por outro lado, laos de parentesco unem um ao outro, uma vez que as mes de ambos eram primas (Thes. 7.1). Destarte, Teseu considera vergonhosa a ideia de se apresentar ao pai como quem foge dos perigos:

    Parecialhe, ento, indigno e intolervel que, enquanto Hracles andava a perseguir, por toda a parte, os malfeitores, a fim de expurgar a terra e o mar, ele mesmo evitasse os confrontos que se lhe podiam deparar no caminho e empreendesse viagem por mar, como quem foge, envergonhando, assim, aquele que, de acordo com o que se dizia e como que era voz corrente, era seu pai. E presena do seu verdadeiro pai iria levar, como sinais de reconhecimento, umas sandlias e uma espada limpa de sangue, sem lhe apresentar, partida, nem por atos nem por faanhas valorosas, sinais evidentes do seu nobre nascimento. Com esta disposio e estes pensamentos se ps a caminho, no propsito de no cometer ofensas contra que

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